Adnayara Medeiros
Amor por um fio
Amor por um fio
Trabalho de Conclusão de Curso 2018.2 Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza - Unifor Centro de Comunicação e Gestão (CCG) Diretora do CCG Profa. Candice Nobrega Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Wagner Borges Texto Adnayara Medeiros Fotografia Adnayara Medeiros Orientador Prof. Jari Vieira Projeto gráfico e diagramação Ravelle Gadelha Revisão Prof. Jari Vieira Impressão Gráfica da Unifor
Adnayara Medeiros
Amor por um fio Fortaleza 2018
Ao meu amado marido e nosso precioso filho, que sĂŁo meus maiores apoiadores. E a todas as mulheres que um dia duvidaram do poder das suas raĂzes, saibam que somos incrĂveis em nossas singularidades.
Introdução
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uito se falou ultimamente sobre a transição capilar e o que esse processo pode mudar nos cabelos das pessoas que o fazem. Uma pesquisa feita pelo Google BrandLab mostrou que a busca pelo cacheados aumentou em 233% apenas no ano de 2017. Segundo Sabrinah Giampá (2016), autora do “O livro dos cachos”, os adeptos da transição capilar buscam cuidar de seus cabelos de forma natural, por razão de auto aceitação de sua identidade, ou por conta dos danos causados pelas químicas para a saúde capilar. Além disso, a transição é um momento que pode ser delicado, pois lidar com um cabelo que apresenta química em sua composição já é difícil e acrescentar o cabelo natural ao processo pode fazer esse momento se tornar ainda mais complicado. A transi6
ção capilar não se resume apenas ao ato de parar de alisar e fazer procedimentos químicos nos cabelos por conta de uma tendência, ou raspar os cabelos porque é isso que se faz para conseguir cabelos naturais de forma rápida. Ela aparece como um instrumento de expressão de liberdade, como um ato de resgate a autoestima de pessoas, além de levar homens e mulheres a se aceitarem como indivíduos em suas singularidades. É, ainda por cima, um grito desesperado de preservar uma negritude que luta para ser vista espontaneamente e não domada. Este fotolivro é um Trabalho de Conclusão do curso de Jornalismo e tem o intuito de abrir nosso olhar de que a transição capilar está longe de ser um processo puramente estético, a transição é uma viagem de volta ao que se é realmente.
Sobre a autora
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e chamo Adnayara Medeiros Gonçalves dos Santos, tenho 26 anos, sou do Rio Grande do Norte, mais especificamente de Natal, mas já moro no Ceará desde os nove anos. Sou graduanda em Jornalismo pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Apesar da pouca idade já sou casada com o Rafael, meu companheiro de vida e temos um filhote, nosso amor Davi. Trabalhei como professora de inglês em um projeto voluntário no ano de 2013, hoje me dedico a assessoria de imprensa, mas estou sempre com um pézinho na fotografia, por isso a ideia de fazer um fotolivro, para ter tempo e prazer com algo que me alegra. Decidi que queria captar pelas minhas lentes todo o amor e força que era intrínseco ao processo da transição capilar. Além
disso, esse trabalho visa contribuir com a discussão do atual momento de força e aceitação da identidade singular de cada pessoa. Situações de exposição de atitudes preconceituosas em relação aos cabelos cacheados e crespos começaram a aparecer na mídia, relatos como o de Bia Andrade, no OPOVO Online (2018): “Prenderam o cabelo black power da minha filha na escola sem minha autorização”. O site UniversaUol (2015) também abordou a situação de mulheres que não conseguiam emprego por conta do cabelo afro: “Faz chapinha para ver os clientes”. Percebe-se que as mulheres, principalmente, eram alvo de um certo preconceito e também desencorajadas a amar o que são desde a raiz de seus cabelos. Para falar comigo, entre em contato pelo e-mail: medeirosady@gmail.com 7
Beatriz Araújo
“Queria descobrir se gostava do meu cabelo ou não, pois comecei a alisar o cabelo muito cedo, com 11 anos, então não sabia mais como ele era, pois só conhecia de fato meu cabelo alisado”.
20 anos, estudante
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“Por mais que seja um processo difícil e longo, desapegue do comprimento do cabelo e faça a transição capilar. Enfrente! Se não gostar, volte, não tem problema”.
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“Quando decidi fazer a transição, eu não deixava meu cabelo natural. Então fazia chapinha no início do processo, porque na minha cabeça eu jamais aguentaria ficar com duas texturas de cabelo”.
“O melhor resultado da transição capilar não foi a mudança do cabelo, mas da aparência em si. Aprendi a me amar muito mais, minha autoestima cresceu. Aprendi a confiar mais em mim”.
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“Em um momento eu me desesperei. Vi uma ponta do cabelo liso e já quis cortar. Eu ia cortando meu próprio cabelo para ver o resultado da transição capilar cada vez mais rápido”.
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Beatriz Irineu
“Para mim foi muito engrandecedor, eu pude conhecer mais quem eu era, pude conhecer as minhas raízes, minha negritude. Entendi que meu cabelo nunca foi ruim”.
20 anos, estudante
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“Comecei a fazer alisamento no cabelo com 11 anos, e esse também é o histórico de muitas meninas. Tenho histórico de amigas que começaram com sete anos, nove anos...”.
“Escutava muito que ‘parece que você não tem pente em casa, olha esse frizz’. Escutei isso da pré-escola à faculdade. Hoje tenho identidade e força para combater o preconceito”.
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“Tem muito esse tabu de que mulheres crespas e de tranças não podem ter posições privilegiadas no trabalho. Quando comecei a trabalhar foi justamente na época que estava aceitando meu cabelo e pensava ‘Meu deus, hoje tenho uma reunião importante, será que vou com cabelo cacheado?’. As pessoas criam um paradigma na sua cabeça de que isso não é normal, nem chique e apresentável”.
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“Minha mãe alisava o cabelo, pois era professora e precisava parecer bem. Até hoje escuto histórias que minha mãe contava que precisavam de três pessoas pra pentear meu cabelo, porque ele era ruim”.
“Não é um processo estético, é voltar para quem você realmente é”.
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Brenda Menezes
“Eu vivi momentos de não ter representatividade, na TV, nas revistas… Eu decidi, a partir do momento em que minha mãe resolveu fazer a transição também, acompanhar o processo dela. [Isso] me fez pensar como seria ter cabelo cacheado de novo”.
23 anos, estudante
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“O processo de transição foi muito difícil, porque na época não tinham artifícios para facilitar e durou em média um ano. Passei a maior parte do processo de tranças, bandanas, cabelos presos para esconder os dois tipos de textura que estavam no meu cabelo”.
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“Apesar do processo de transição capilar ser muito sofrido e da vontade de desistir, te digo que pense na liberdade que você pode ter com seu cabelo natural”.
“Todo processo de dor te molda, te estrutura, o importante é você passar por isso e refletir se você se gosta assim. Você é dona de si”.
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“Sempre sofri com problemas de autoestima. No processo da transição isso piorou 200%. Eu não queria sair, sempre achava que meu cabelo estava ridículo, me deu vontade de desistir várias vezes. O que me mantinha firme era ver outras meninas que começaram a me representar. Vi várias blogueiras, atrizes e modelos aparecendo de cabelo afro e isso foi me motivando”.
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Cintia Martins
“Decidi fazer a transição porque meu cabelo estava muito fragilizado pela química. Tive um corte químico que acabou com a parte da frente do meu cabelo. Eu tinha muita vergonha e minha autoestima estava lá embaixo”.
24 anos, estudante
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“Escolher fazer a transição não foi tanto uma questão de empoderamento e reafirmação da minha identidade, foi mais porque eu não me sentia bem com a minha aparência por conta do estado que meu cabelo estava, e ele era importante pra minha autoestima”.
“Eu percebi que hoje é mais fácil lidar com meu cabelo, achava que ter o cabelo liso era mais fácil, mas não é. Era mais cômodo, mas não mais fácil”.
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“A transição é um processo doloroso de você se rever e de se reafirmar, então é preciso ter muita paciência”.
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O fotolivro “Transição capilar: O cabelo como expressão de autoestima” é um Trabalho de Conclusão de Curso que faz uso da fotografia como principal método de narrativa sobre o processo de transição capilar em mulheres de Fortaleza. O fotolivro é composto por um ensaio fotográfico produzido no segundo semestre de 2018 que se constrói por meio de depoimentos de mulheres que vivenciaram a transição capilar.