Guia impresso

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GUIA IMPRESSO Edição I, Ano I Campina Grande, julho de 2013

Será o fim da imprensa de papel?

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a última década, com o advento das novas tecnologias, em especial a internet, o jornal impresso tem sido alvo de comentários que alegam o fim dos seus dias. Essa é uma questão controversa, na qual discutem comunicadores, estudantes e empresários da área: “O jornalismo impresso vai acabar?” A dúvida que está rondando os profissionais da comunicação, não é de hoje. De acordo com Ricardo Noblat, pesquisador e jornalista conceituado que fez sua carreira no Correio Braziliense, diz em seu livro “A arte de fazer um jornal diário”, publicado em 2008, que o atestado de óbito do jornal impresso já foi assinado e lavrado em cartório pelo menos umas quatro vezes no passado. A primeira vez, quando se inventou o rádio; a segunda, quando a televisão entrou no ar; a terceira, quando surgiu a internet e a quarta, quando a revolução digital juntou num único sistema o que antes existia em separado – a escrita, o som e a imagem. Na Europa e em países como os Estados Unidos, os jornais vêm perdendo espaço para as mídias digitais. De acordo com a PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro, mais da metade dos adultos americanos usam aparelhos digitais para buscar notícias e a indústria dos jornais impressos teve uma queda significativa, cerca de 43%, desde o ano 2000. Ao contrário do que vem ocorrendo nos “países de primeiro mundo”, no Brasil, nação emergente, a situação é inversa. Considerando o número de publi-

cações impressas (que dobrou na última década), a uma notícia torna-se algo mais complexo, é um trapesquisa da Associação Nacional de Jornais (ANJ), balho bastante complicado e exige horas de trabarealizada em 2012, mostra que houve um aumento lho para o mesmo ficar pronto e depois de impresso de 1,8% na circulação de jornais em relação a 2011. não se pode fazer mais nenhuma mudança. De qualquer maneira, para alguns jornalistas, Um grande problema existente no jornalismo uma das causas do declínio da “imprensa de papel” online é a falta de profissionais especializados na no mundo seria a chegada do área. Apenas nos últimos oito jornalismo digital, ou web joranos, a disciplina “jornalismo nalismo, que é o responsável por digital” passou a ser ministradeixar o público preguiçoso acosda em algumas das principais o atestado de tumado a ter acesso fácil a tudo o de comunicação óbito do jornal impresso faculdades que precisa. do país. E a maioria das reO que diferencia o jornalismo já foi assinado e lavrado dações dos portais está sob impresso do online é justamen- em cartório pelo menos os cuidados de jornalistas que umas quatro vezes no migraram do impresso para te o dinamismo que torna o indivíduo comum participante da esta nova área, mas não se passado” notícia, detendo a oportunidade dão conta que no online tudo de optar pelo conteúdo a ser exié diferente, o que prevalece é bido. Na verdade, a web permite que o jornalista e o a notícia enxuta, e a estrutura do texto é diferente. público se tornem cúmplices da reportagem. E é por Talvez o fim do jornal impresso não esteja prócausa dessa cumplicidade que muitas empresas de ximo. Na verdade, este meio ainda terá uma vida notícias passaram a considerar a web como princi- longa até sua extinção. Mas, apesar da grande impal meio de comunicação. portância que a chamada imprensa de papel tem na história da comunicação, não podemos fechar Público hoje está mais exigente os olhos para a revolução midiática que transforDentre tantas outras situações que diferenciam o mou a internet em algo indispensável para qualjornal online do impresso, uma deve ser levada em quer jornalista. É preciso saber que o público hoje consideração: a versatilidade dessa “nova mídia”, está mais exigente e não procura apenas se infora potencialidade de atualizar notícias e quaisquer mar sobre os acontecimentos de sua região, mas outras páginas simultaneamente, minuto a minuto. sobre os fatos que ocorrem em esfera global e soEnquanto isso, na mídia tradicional a publicação de bre várias categorias.

Doutor em cultura contemporânea pela UFBA, o professor Fernando Firmino, também pesquisador em jornalismo móvel, expõe sua opinião acerca do futuro do jornal impresso, sugerindo mudanças para que este se adeque ao novo meio em que está inserido. O jornal impresso está diante de um cenário de multiplataformas. As pessoas hoje não consomem informações apenas em meios massivos. Além disso, os novos suportes oferecem uma informação mais dinâmica, mais instantânea e interativa. Diante disto não resta outra opção ao jornal impresso que se reinventar, se aproximar (com inovações) do público mais jovem, comporá o grupo de leitores do futuro. O modelo de negócios precisa mudar. O jornalismo que perdurou para o jornalismo impresso precisa se transformar (no conteúdo e no visual). Não é fácil porque por trás disto tudo está uma história de mais de 500 anos. Não é de uma hora para outra, mas é preciso que o jornal impresso encontre o seu nicho de mercado, o seu ponto forte no meio de todas essas mídias. Não tenho receita, mas creio que o mais importante é que o impresso se diferencie como, por exemplo, explorar menos o factual e mais o jornalismo interpretativo, de entrevistas exclusivas, do uso de infografias, de primeiras páginas mais atrativas. Então a participação do impresso na divulgação de notícias hoje depende dessa mudança de postura.


Por muitos anos o Diário da Borborema foi considerado o “Jornal de Campina”. Hoje, jornalistas e pesquisadores lutam para que o arquivo do jornal não seja levado para Brasília.

Sonho roubado O fechamento de jornais influencia diretamente na vida profissional dos jornalistas. Muitos chegam a abandonar a carreira devido ao trauma de ver seus empregos ruírem junto a imprensa de papel.

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uito comunicativa e desinibida, sempre considerou o fato de noticiar sendo um compromisso com a ética e de suma importância social. Aos 17 anos decidiu que deveria contribuir de alguma forma com a sociedade e por isto escolheu seguir a carreira de jornalista. Ainda na faculdade teve experiências práticas, trabalhando em projetos de extensão como o Repórter Junino e estagiando na assessoria de imprensa da Companhia de Água e Esgoto da Paraíba – Cagepa. Logo que concluiu o curso de Comunicação Social, na UEPB, conseguiu um emprego no extinto Diário da Borborema _ que fechou as portas em fevereiro de 2012 _ onde por um ano desempenhou a função de diagramadora. Considera que o jornalismo é uma profissão que acima de tudo é desempenhada com muito amor pelos profissionais e lembra que apesar de toda a dificuldade financeira e redução do quadro funcional devido ao advento das novas tecnologias da comunicação, os jornalistas com quem teve a oportunidade de trabalhar se dedicavam com todo o amor e afinco ao que faziam, buscando sempre desempenhar sua função e levar a notícia aos leitores da melhor forma possível, mesmo quando os rumores de fechamento do DB eram iminentes. Enxerga grandes dificuldades atuais e futuras para a inserção dos profissionais que todo semestre saem das faculdades loucos por alguma oportunidade profissional. “Acredito que temos muitas instituições que oferecem os cursos da área de comunicação e porque não englobar aí os da área

de marketing e publicidade, para poucas empresas de comunicação que dispomos em nosso estado. Alguns profissionais têm, e acredito que continuarão a ter no futuro, a oportunidade de atuar dentro da área de assessoria de imprensa, mas ainda é a grosso modo uma parte muito pequena em relação a quantidade de profissionais que formamos todos os anos”. Para ela o futuro do jornal impresso depende primordialmente de uma reformulação em como se faz o segmento. “Ele pode sim está com os dias contados. Pelo que continuo acompanhando nos veículos impressos, percebo que todos mantêm um formato muito engessado de notícia com informações meramente factuais e sem contextualização, tendo seu espaço ocupado em grande parte por publicidades onde deveriam estar as notícias”. Inimiga dos grandes espaços cedidos às publicidades no jornal impresso se orgulha pelo fato do DB sempre valorizar as grandes reportagens, mesmo com o número reduzido de profissionais. Lembra-se emocionada da série de reportagem “Mutilados”, que foi inclusive ganhadora de prêmio, que contava a história dos trabalhadores das mais diversas áreas que sofrem acidentes de trabalho gravíssimos e que deixam sequelas irreparáveis. Na sua opinião os sites e blogs paraibanos ainda não conseguiram utilizar tudo que a rede pode oferecer para tornar cada vez mais atrativo esse meio de informação. Acredita que talvez a utilização de mais hipertextos e hiperlinks, falando de uma forma bem simplificada e até leiga mesmo, tornaria as matérias mais atrativas e informativas.

Expediente: Faculdade Centro de Educação Superior Reinaldo Ramos (CESREI) Pós -Graduação em Mídias Digitais, Comunicação e Mercado Jornalismo na Era Digital Professor Msc. Rodrigo Apolinário Alunas: Luanna Farias Raylane Barros

Alba Rossana na redação do Jornal Diário da Borborema

O relato que acompanhamos narra brevemente a trajetória da jovem Alba Rossana Vieira Costa, 25 anos, graduada em jornalismo, em 2010, pela UEPB e que durante um ano viveu o sonho de estar trabalhando numa redação de jornal e o pesadelo de receber a notícia que o matutino para o qual dedicara boa parte do seu dia havia fechado as portas. Funcionária pública da Prefeitura Municipal de Campina Grande, dedica-se ao curso de Enfermagem para o qual foi aprovada no último vestibular e considera remotas as chances de voltar a atuar na profissão que um dia esteve completamente apaixonada.


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