Revista RG News vol 2 n°2 2016

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Revista RG News 2 (1) 2016 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

Revista

Revista RG News V2 (1) 2016 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

RG NEWS V.2

N.2

Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

2016


Revista RG News 2 (2) 2016 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

Revista RG News Publicação oficial, virtual, da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos COMISSÃO EDITORIAL DA REVISTA Editor Chefe: Renato Ferraz de Arruda Veiga Conselho Editorial Técnico Científico: Área Animal: Afrânio Gonçalves Gazolla Área Micro-organismos: Maira Halfen Teixeira Liberal Área Vegetal: Manoel Abílio de Queiróz DIRETORIA DA SBRG Presidente: Marcos Aparecido Gimenes Diretor Financeiro: Alexandre Floriani Ramos Diretora de Eventos: Rosa Lia Barbieri Diretor Científico e de Divulgação: Miguel Luiz Menezes Freitas Secretária Executiva: Tammy Aparecida Manabe Kiihl


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Revista Recursos Genéticos News - RG News Brasília, DF V2 (2) 2016 Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

A eventual citação de produtos e marcas comerciais, não expressa, necessariamente, recomendações de seu uso pela SBRG. É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte.

“Algunos autores, que están por la opinión comun de la senectude del mundo, alegan lo primero, que faltan oy algunas espécies en el Universo, que hubo en los passados siglos.” Frei Benedito Geronymo Feijoò (1752) ...sobre a extinção de espécies...

Editada pela SBRG


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Revista RG News v.2, no. 2., 2016 APRESENTAÇÃO A revista iniciou sua empreitada em 2015, publicando o primeiro volume virtual. Este é o segundo volume, segundo número do ano de 2016, da revista RG News que é editada pela SBRG, contendo tanto os trabalhos de pesquisa e extensão como ações diversas desenvolvidas com manejo de recursos genéticos. Destina-se a atender, em especial, aos seus sócios, mas também aberta aos colegas de outras Sociedades Científicas, do país e exterior. Tem a pretensão de alcançar os especialistas em biodiversidade e meio-ambiente, das Redes e/ou Curadorias, de Bancos Ativos de Germoplasma e de Coleções Científicas, das áreas Animal, Micro-organismo e Vegetal

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CONTEÚDO I –APRESENTAÇÃO

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II - ARTIGOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

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1) A nova lei de acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado e sua interface com as atividades de pesquisa e desenvolvimento e de exploração econômica

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2) Equinos em Conservação na Ilha de Marajó, Amazônia, Brasil.

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3) Uso de Recursos Genéticos de Algodão Gera Produtos de Vestuário para Comercio Interno e Externo

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4) Sobre o Mercado onde se Comercializa Atualmente as Confecções e os Artefatos com Recursos Genéticos de Algodão colorido 36 5) Riscos da Biossabotagem à Agricultura Nacional

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6) Amazonizar o Brasil é premente: Trinta e três regras para a sustentabilidade dos recursos genéticos da Amazônia

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7) Mecanismos genéticos da resistência de plantas às doenças

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8) Reprodução em plantas de espécies tropicais e implicações na seleção de matrizes

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9) Conservação de germoplasma e genética evolutiva

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10) Tecnologia apropriada e agricultura familiar

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11) O Jogo do Germoplasma: Uma alternativa de ensino para potencializar a aprendizagem em disciplinas sobre Recursos Genéticos 74 12) Importância da Criopreservação de Grãos de Pólen em Gramíneas Forrageiras

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13) Influência do sequenciamento de nova geração no futuro da genética da conservação

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14) Alelo Animal (Animal GRIN) – Sistema de informação de recursos genéticos animais

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15) Importance of plant mating systems for conservation and plant breeding

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16) Banco Ativo de Germoplasma de Stylosanthes spp. da Universidade Estadual de Feira de Santana - BA

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III - EXPRESSE A SUA OPINIÃO 1) O que é a Convergência de Tecnologia na Biologia da Conservação?

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2) Termos técnicos auxiliares na elaboração de documentos sobre gestão estratégica de atividades de PD&I e CT&I 134 3) O sexto segredo da Amazônia “Encantada”

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4) Caminho das Inteligências

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5) Uma Singela Contribuição Educacional

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6) A Educação Ambiental em Recursos Genéticos

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IV – ENTREVISTADO DA VEZ: ÁREA ANIMAL

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V – EVENTOS

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IV Workshop de Curadores do Brasil

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IV Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos

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VI – MEMÓRIA

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Memória Internacional

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Memória Nacional

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VIII – INSTITUIÇÃO HOMENAGEADA

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IX – APOIO

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I –Apresentação O Tempo também passa para a Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos!

Marcos Aparecido Gimenes Pesquisador Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Presidente - SBRG

Alexandre Floriani Ramos Pesquisador Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Diretor Financeiro - SBRG

Rosa Lia Barbieri Pesquisadora Embrapa Clima Temperado Diretora Eventos - SBRG

Miguel Luiz Menezes Freitas Pesquisador Instituto Florestal de São Paulo Diretor Científico e de Divulgação - SBRG

Tammy Aparecida Manabe Kiihl Pesquisadora Embrapa Trigo Secretária Executiva - SBRG

A Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos (SBRG) irá completar oito anos de existência em novembro próximo! Apesar de seu registro ter sido realizado em 2009, a decisão para sua criação foi tomada em assembleia realizada no II Simpósio Brasileiro de Recursos Genéticos realizado em Brasília em 2008. Somos uma sociedade nova, em relação a algumas que existem há mais de 50 anos, mas já temos tempo suficiente de existência para fazermos algumas reflexões, como por exemplo: O que mudou desde a fundação da SBRG?

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Será que precisamos de uma associação de pesquisadores que trabalham com recursos genéticos? Existem demandas que estão reprimidas e poderíamos ter participação ativa? As mudanças foram muitas, indo desde uma presença coordenada em mídias sociais à atuação junto a parlamentares e ministérios responsáveis por políticas públicas. Uma das missões de uma Sociedade Científica, sem dúvida, é a realização de eventos científicos. Antes da criação foram realizados vários eventos de muita qualidade, cuja importância foi rapidamente reconhecida, tanto é que um deles deu origem ao primeiro evento de recursos genéticos internacional realizado regularmente, o Simpósio de Recursos Genéticos para América Latina e Caribe, o SIRGEALC. Com a internacionalização, o evento foi para outros países, ficando fora do Brasil até o ano passado quando foi realizada sua décima edição em Bento Gonçalves (RS), promovido pela Embrapa Clima Temperado e a Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos. Com a criação da SBRG foi possível retomar definitivamente a realização de eventos sobre recursos genéticos de abrangência nacional. A SBRG tem organizado a cada dois anos o Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos (CBRG), cuja quarta edição acontecerá em Curitiba de 8 a 11 de novembro de 2016 e esta tem como parceiro o Instituto Agronômico do Paraná, representado pela Dra. Vânia Moda Cirino, presidente dessa edição. A realização do CBRG pela sociedade tem muitas vantagens. Entre elas destacamos a periodicidade, a multidisciplinaridade exigida pelo tema, a divulgação do tema regionalmente e nacionalmente, a sensibilização de autoridades em nível federal e estadual e a organização de um cadastro nacional de pessoas que trabalham no tema. A organização do CBRG exige bastante tempo e uma boa dose de coragem, pois quando se inicia a organização muitas vezes os recursos ainda estão em fase de captação. Apesar disso a SBRG tem assumido desafios tão grandes e importantes quanto a organização do CBRG. A SBRG tem trabalhado para o maior reconhecimento do profissional que trabalha com recursos genéticos, fato esse que é demonstrado pelo aumento do interesse em pesquisas em conservação ex situ e in situ e, consequentemente, na formação e participação cada vez maior de profissionais na área. Fizemos reuniões com alguns deputados e enviamos notas técnicas para ministérios e agências federais que atuam no financiamento de projetos e formação de recursos humanos para levar a necessidade de mais receitas para manutenção dos bancos, para formação de recursos humanos e para pesquisa e documentação em recursos genéticos. Temos alertado também que a visão multidisciplinar para o tema é fundamental, porque, no geral, apoio aos recursos genéticos vem de maneira pontual, isto é, focando em tema (disciplina) sem uma preocupação no processo todo, incluindo o armazenamento e disponibilização da informação associada ao germoplasma.

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Necessitamos também de uma maior valorização e isso sem dúvida passa pelo reconhecimento por parte das agências de fomento, por meio de comitês assessores específicos para área, para a visão multidisciplinar necessária que o tema exige. O futuro da SBGR será a consolidação das redes regionais de recursos genéticos e a identificação de atores com objetivos em comuns que hoje atuam de maneira individual. A região Nordeste e a região Sul do Brasil já têm suas redes regionais estabelecidas. A SBRG e o CBRG podem ser o ponto focal aglutinador/facilitador/catalizador de várias iniciativas individuais, como workshops e simpósios relacionados a recursos genéticos, que acontecem e que podem ser beneficiados pela estrutura jurídica da SBRG. Para que as ações futuras e presentes aconteçam, temos que ter uma SBRG forte e representativa em termos de números. Para tanto temos todos que nos associar à SBRG!

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II - Artigos de divulgação científica 1) A nova lei de acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado e sua interface com as atividades de pesquisa e desenvolvimento e de exploração econômica Rosa Miriam de Vasconcelos Advogada pelo Centro Universitário de Brasília (1981) e Dra. Pela The University of Queensland Brisbane– Austrália (2007). Atualmente é Coordenadora de Assuntos Regulatórios na Embrapa Sede, e representante do MAPA no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito de Propriedade Intelectual.

Introdução Ao entrar em vigor no dia 17 de novembro de 2015, a Lei nº 13.123 revogou a Medida Provisória nº 2.186-16, de 2001, e passou a regular o acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado bem como à exploração econômica de produto acabado e material reprodutivo, desenvolvidos após essa data, a partir do acesso realizado, bem como às atividades de acesso e de exploração econômica, antes regida pela Medida Provisória nº 2.18616 de 2001. Apesar de, aparentemente, ter adotado procedimentos um pouco mais simplificados, do que aqueles previstos na Medida Provisória, como por exemplo a substituição das três autorizações por um cadastro ou uma autorização, conforme o caso, a Lei nº 13.123, de 2015 tem escopo mais amplo porque alcança materiais biológicos, atividades e públicos alvos antes não alcançados pela Medida Provisória. Ainda, além de ter ampliado o rol dos provedores do conhecimento tradicional associado, incluindo o agricultor tradicional, além daqueles já mencionados pela Medida Provisória, a referida Lei passou a exigir também cadastro ou autorização para o acesso ao conhecimento tradicional obtido de fontes secundárias, tais como feiras, publicações, inventários, filmes, artigos científicos, cadastros e outras formas de sistematização e registro desse conhecimento. Em relação ao público alvo da nova Lei, é importante destacar que, enquanto a Medida Provisória era dirigida, exclusivamente, às instituições de pesquisa, a Lei nº 13.123, de 2015, dirige-se também ao fabricante, e ao produtor ou viveirista, que exploram economicamente, respectivamente, produto acabado ou material reprodutivo, desenvolvido a partir de patrimônio genético incluído em seu escopo.

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Além disso, destaca-se que o cumprimento das exigências da Lei nº 13.123, de 2015, relacionadas com o cadastro ou a autorização do CGen, para execução de atividade de pesquisa ou desenvolvimento tecnológico, não elimina a obrigatoriedade de observância pelo usuário de outras exigências legais pertinentes, tais como a obtenção, quando for o caso, de prévia autorização ou licença do Instituto Chico Mendes – ICMbio para a coleta das amostras. O processo adotado pela Lei nº 13.123, de 2015, envolve num primeiro momento o cadastro da atividade no SisGen, ou a obtenção de prévia autorização do CGen, conforme o caso. Em seguida, na fase de exploração econômica, o sistema prevê a notificação ao CGen. Finalmente, ambos, o cadastro e a notificação, serão objetos de verificação pelo CGen.

Figura 1. Fluxograma elaborado pela Dra. Rosa Miriam de Vasconcelos, para facilitar o entendimento da Lei nº 13.123, de 2015.

A Lei nº 13.123, de 2015, regula o acesso e a exploração econômica de produto acabado e material reprodutivo de patrimônio genético de: 1) Espécie vegetal, animal ou de outra natureza, inclusive domesticada, encontrada em condições in situ ou obtida de condições ex situ, desde que coletada em condições in situ no território nacional, na plataforma continental, no mar territorial e na zona econômica exclusiva; 2) Microrganismo isolado de substrato obtido no território nacional, no mar territorial, na zona econômica exclusiva ou na plataforma continental; 3) População espontânea de espécie introduzida que tenha adquirido característica distintiva no País; 4) Variedade tradicional, local ou crioula; e 5) Raça localmente adaptada ou crioula. 9


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Para os efeitos da Lei nº 13.123, de 2015 considera-se: Produto acabado: Produto cuja natureza n ão requer nenhum tipo de processo produtivo adicional, oriundo de processo ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado, no qual o componente do patrimônio genético ou do conhecimento tradicional associado seja um dos elementos principais de agregação de valor ao produto, estando apto à utilização pelo consumidor final, seja esta pessoa física ou jurídica. Material reprodutivo: Material de propagação vegetal ou de reprodução animal de qualquer gênero, espécies ou cultivo proveniente de reprodução sexuada ou assexuada. Depende de cadastro no Sistema de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado – SisGen/CGen: O acesso, a remessa ou envio de amostras realizado, por: 1) Pessoa física ou jurídica nacional, pública ou privada; 2) Pessoa jurídica sediada no exterior, associada à instituição nacional de pesquisa científica e tecnológica, pública ou privada. Ao preencher o formulário eletrônico do SisGen, o usuário deve atentar-se para o fato de que as informações inseridas no sistema estarão sujeitas à verificação pelo CGen. Depende de autorização prévia do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético - CGen: O acesso ou a remessa realizada, em áreas indispensáveis à segurança nacional ou em águas jurisdicionais brasileiras, na plataforma continental e na zona econômica exclusiva, por: 1) Pessoa jurídica nacional cujos acionistas controladores ou sócios sejam pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras; 2) Instituição nacional de pesquisa científica e tecnológica, pública ou privada, quando o acesso for feito em associação com a pessoa jurídica sediada no exterior; ou, 3) Pessoa física brasileira associada, financiada ou contratada por pessoa jurídica sediada no exterior. No caso de acesso ao conhecimento tradicional associado de origem identificável, o cadastro ou a autorização deve ser instruído com o Consentimento Prévio Informado de seu provedor, que pode ser uma população indígena, uma comunidade tradicional ou um agricultor tradicional. O conhecimento tradicional associado é considerado como sendo de origem identificável, devendo assim, sempre que for possível, identificar pelo menos uma: população indígena, comunidade tradicional ou agricultor que cria, desenvolve, detém ou conserva o conhecimento. Não é exigido o Consentimento Prévio Informado para acesso ao conhecimento tradicional associado de origem n ã o identificável ou para o acesso à variedade tradicional local ou crioula

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ou à raça localmente adaptada, quando a variedade ou raça for utilizada para fins de atividade agrícola. Exceções à obrigação de cadastrar a atividade de acesso: Não é exigido cadastro no SisGen ou autorização prévia do CGen para a execução dos seguintes testes, exames e atividades, quando não forem parte integrante de pesquisa ou desenvolvimento tecnológico: 1) Teste de filiação ou paternidade, técnica de sexagem e análise de cariótipo ou de ADN e outras analises moleculares que visem à identificação de uma espécie ou espécime; 2) Testes e exames clínicos de diagnóstico para a identificação direta ou indireta de agentes etiológicos ou patologias hereditárias em um indivíduo; 3) Extração, por método de moagem, prensagem ou sangria que resulte em óleos fixos; 4) Purificação de óleos fixos que resulte em produto cujas características sejam idênticas às da matéria prima original; 5) Teste que visa aferir taxas de mortalidade, crescimento ou multiplicação de parasitas, agentes patogênicos, pragas e vetores de doenças; 6) Comparação e extração de informações de origem genética disponíveis em bancos de dados nacionais e internacionais; 7) Processamento de extratos, separação física, pasteurização, fermentação, avaliação de pH, acidez total, sólidos solúveis, contagem de bactérias e leveduras, bolores, coliformes fecais e totais das amostras de patrimônio genético; e 8) Caracterização física, química e físico-química para a determinação da informação nutricional de alimentos. Momento para a autorização do CGen: •

A autorização do CGen, quando exigida, deve ser requerida antes do início da execução das atividades ou da remessa;

Não precisa ser prévio ao início da execução das atividades de acesso, porém, deve ser efetivado obrigatoriamente antes da realização de qualquer uma das seguintes ações, que ocorra em primeiro lugar:

1) Remessa de amostras para terceiros; 2) Requerimento de direito de propriedade intelectual sobre processo, produto ou cultivar desenvolvida a partir do acesso; 3) Notificação ao CGen do produto acabado ou do material reprodutivo desenvolvido em decorrência do acesso; 4) Comercialização de produto intermediário; 5) Divulgação de resultados, finais ou parciais, em meios científicos ou de comunicação.

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Comprovante de cadastro: Concluído o cadastro do acesso ou da remessa, o SisGen emitirá, automaticamente, conforme o caso, o Comprovante de Cadastro de Acesso ou de Remessa. Os referidos comprovantes constituem documentos hábeis para demonstrar que o usuário prestou as informações exigidas pela Lei e estabelecem o início do procedimento de verificação, que será realizado pelo CGen. O usuário não precisa aguardar o término da verificação para realizar o acesso ou a remessa. Notificação e exploração econômica: Devem ser notificados os produtos intermediários, acabados ou materiais reprodutivos desenvolvidos a partir do acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado. Comprovante da notificação: Após a notificação, o SisGen emitirá, automaticamente, o Comprovante de Notificação. O referido comprovante é documento hábil para demonstrar que o usuário prestou as informações exigidas pela Lei e para estabelecer o início do procedimento de verificação. Não é necessário aguardar o término do procedimento de verificação para iniciar a exploração econômica. Quem é obrigado a repartir benefícios: A obrigação de repartir benefícios recai sobre o: 1) Produtor responsável pelo último elo da cadeia produtiva do material reprodutivo, quando utilizado para fins de atividade agrícola. Para os efeitos da Lei, considera-se último elo da cadeia, o produtor responsável pela venda de material reprodutivo para a produção, processamento e comercialização de alimentos, bebidas, fibras, energia e florestas plantadas; 2) Fabricante do produto acabado, cujo patrimônio genético ou conhecimento tradicional associado seja um dos elementos principais de agregação de valor; e 3) Fabricante do produto acabado desenvolvido a partir de material reprodutivo. Para os efeitos do enquadramento do produto acabado na obrigação de repartir benefícios, a presença do patrimônio genético ou do conhecimento tradicional associado no produto acabado deve ser determinante para a existência das características funcionais ou para a formação do apelo mercadológico, considera-se: 1) Apelo mercadológico: referência, em quaisquer meios de comunicação visual ou auditiva, ou destaque no rótulo do produto ou marca do patrimônio genético ou do conhecimento tradicional associado, da sua procedência ou de diferenciais deles decorrentes; e 2) Características funcionais: as que determinam as principais finalidades, aprimoram a ação do produto ou ampliam o seu rol de finalidade. Isenção da obrigação de repartir benefícios: Está isenta da obrigação de repartição de benefícios, a exploração econômica de: 12


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1) Produto acabado ou material reprodutivo por: a) Agricultores tradicionais e suas cooperativas, com receita bruta anual igual ou inferior a R$ 3.600.000,00; b) Microempresas e por microempreendedores individuais; 2) Operações de licenciamento, transferência ou permissão de utilização por terceiros, de qualquer forma de direito de propriedade intelectual, sobre produto acabado, processo ou material reprodutivo; 3) Produtos intermediários ao longo da cadeia produtiva, incluindo os insumos utilizados nas atividades agrícolas. 4) Material reprodutivo ao longo da cadeia produtiva, exceto a exploração econômica realizada pelo último elo da cadeia produtiva; 5) Produto acabado ou material reprodutivo, desenvolvido a partir de população espontânea de espécie introduzida, que não tenha adquirido característica distintiva própria no País. A isenção da obrigação de repartição de benefícios, para as operações comerciais acima listadas, não afasta a obrigação do usuário de notificar o produto acabado ou material reprodutivo e de cumprir as demais exigências da Lei nº 13.123, de 2015. Modalidades e valores para repartição de benefícios: A repartição de benefícios poderá constituir-se nas seguintes modalidades: 1) Monetária; ou 2) Não monetária, incluindo, entre outras: a) Projeto para conservação ou uso sustentável de biodiversidade, ou para proteção e manutenção de conhecimento, inovação ou prática de população indígena, comunidade tradicional ou agricultor tradicional; b) Transferência de tecnologia; c) Disponibilização em domínio público do produto acabado ou material reprodutivo; d) Licenciamento, livre de ônus, do produto acabado ou material reprodutivo; e) Capacitação de recursos humanos em temas relacionados à conservação e ao usosustentável de patrimônio genético ou conhecimento tradicional associado; e f) Distribuição gratuita em programas de interesse social do produto acabado ou material reprodutivo. Se não houver acesso ao conhecimento tradicional associado, é possível que o usuário escolha a modalidade de repartição de benefícios. Em caso de produto acabado ou material reprodutivo, desenvolvido a partir acesso ao conhecimento tradicional associado, de origem não identificável, é obrigatória a aplicação da modalidade monetária. Já em caso de acesso a conhecimento tradicional, de origem identificável, a modalidade aplicável e os valores devidos 13


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à titulo de repartição de benefícios serão livremente negociados entre o provedor do conhecimento e o usuário responsável pelo acesso. Nesse caso, além disso, o usuário ficará também obrigado a depositar no FNRB valor equivalente à metade do valor previsto para a modalidade monetária, ou igual à metade do valor que vier a ser negociado em acordo setorial. Na modalidade monetária, a repartição de benefícios decorrente da exploração econômica do produto ou material reprodutivo, desenvolvido a partir de patrimônio genético ou conhecimento tradicional, de origem não identificável, será de 1% (um por cento) da receita líquida anual obtida com a exploração econômica do produto ou material reprodutivo; ressalva à hipótese de redução do valor devido para até 0,1% (um décimo por cento), no caso de celebração de acordo setorial entre o setor produtivo e a União, na forma prevista na legislação. Nas situações listadas acima nas Alíneas “A”, “E” e “F” do Inciso 2, que trata da modalidade não monetária, o valor devido à título de repartição de benefícios será equivalente a 75% (setenta e cinco por cento) do valor previsto para a modalidade monetária, conforme critérios a serem definidos pelo CGen. Para as demais situações, a repartição será equivalente ao valor previsto para a modalidade monetária. No caso de exploração econômica do produto, ou material reprodutivo, desenvolvido a partir de acesso ao conhecimento tradicional, de origem identificavel, a modalidade aplicável e os valores devidos, a titulo de repartição de benefícios, serão livremente negociados entre o provedor do conhecimento e o usuário responsável pelo acesso. Além disso, o usuário ficará, também, obrigado a depositar no FNRB valor equivalente à metade do valor previsto para a modalidade monetária, ou igual à metade do valor que vier a ser negociado em acordo setorial. O cálculo da receita líquida deve ser feito de acordo com as regras estabelecidas pelo § 1º do Art. 12 do Decreto-Lei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977. Verificação: O CGen procederá à verificação das informações, constantes do cadastro de acesso e de remessa ou da notificação, a fim de averiguar se estão corretas e apropriadas, para caracterizar o fiel cumprimento das exigências legais e respaldar a emissão pelo CGen do Atestado de Regularidade. Durante o período de verificação, qualquer conselheiro do CGen, que venha a detectar indícios de irregularidades, poderá apresentar requerimento de verificação, formal e fundamentado, ao plenário do CGen. O CGen pode ou não aceitar o requerimento de verificação. Se não aceitar, o requerimento será arquivado e o cadastro ou a notificação será efetivado. Caso o requerimento seja aceito pelo CGen, o usuário responsável pelo cadastro ou notificação será informado para possibilitar a apresentação de sua defesa. Em seguida, o CGen julgará o processo e decidirá sobre a existência ou não de indícios de irregularidades. Caso o CGen detecte a existência de irregularidades passíveis de saneamento, o usuário será notificado para proceder aos ajustes necessários. Se as irregularidades forem consideradas insanáveis, o cadastro ou a notificação será cancelado e o CGen notificará a existência de indícios de irregularidades insanáveis aos órgãos de fiscalização e aos órgãos responsáveis pela concessão de direito de propriedade intelectual. 14


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São consideradas irregularidades insanáveis: 1) A existência de conhecimento tradicional associado, de origem identificável, quando o cadastro ou a notificação indicar apenas a previsão de acesso ao patrimônio genético; 2) A existência de conhecimento tradicional associado, de origem identificável, quando o cadastro ou a notificação indicar apenas a previsão de acesso conhecimento tradicional associado de origem não identificável; ou 3) A obtenção de consentimento prévio informado em desacordo com o disposto na Lei nº 13.123, de 2015, e no Decreto nº 8.772, de 2106. Certidão e Atestado de Regularidade: Após o decurso do prazo para verificação, em atendimento à solicitação do usuário, o CGen, ou sua Secretaria Executiva, conforme o caso, emitirá os seguintes documentos: 1) Certidão, emitida pela Secretaria Executiva do CGen declarando que: a) não foram admitidos requerimentos de verificação no decurso do prazo para verificação; ou b) que o requerimento de verificação apresentado não foi acatado pelo CGen. 2) Atestado de Regularidade, emitido pelo CGEN, declarando o cumprimento dos requisitos da Lei nº 13.123, de 2015. No caso de autuação, por qualquer um dos órgãos de fiscalização, relacionada com atividade objeto do cadastro ou da notificação, a apresentação pelo usuário, da certidão acima, faz com que o órgão fiscalizador aplique a pena de advertência, antes de aplicar qualquer outra sanção administrativa. A apresentação do Atestado de Regularidade impedirá a aplicação de sanções administrativas por órgão fiscalizador em relação às atividades de acesso realizadas até a emissão do referido Atestado. Adequação e regularização: A Lei nº 13.123, de 2015, estabelece regras para a adequação e regularização de atividades. O termo “adequação” é utilizado para referir-se às atividades de acesso e de exploração econômica realizadas com respaldo na Medida Provisória nº 2.186-16, de 2001. O termo “regularização” é utilizado para referir-se às atividades executadas, sem a observância da referida Medida Provisória. A adequação, ou a regularização, deve ser efetivada no prazo de um ano, contado a partir da data do início do funcionamento do SisGen. Devem ser adequados aos termos da supracitada, o (a): 1) Pedido de autorização formulado no âmbito da Medida Provisória nº 2.186-16, de 2001, ainda em tramitação junto ao CGen, ou instituição credenciada; e 2) Exploração econômica de processo ou produto desenvolvido, no âmbito de projeto autorizado pelo CGen, ou instituição credenciada, nos termos da Medida Provisória nº 2.18616, de 2001.

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Devem ser regularizadas, aos termos da Lei nº 13.123, de 2015, as atividades iniciadas ou concluídas de 30 de junho de 2000 até a entrada em vigor desta Lei, sem o devido cumprimento das exigências da Medida Provisória nº 2.186-16, de 2001: 1) Acesso a patrimônio genético ou a conhecimento tradicional associado; 2) Exploração econômica, de produto ou processo, oriundo do acesso a patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado; 3) Remessa ao exterior de amostra de patrimônio genético; ou 4) Divulgação, transmissão ou retransmissão de dados ou informações que integram ou constituem conhecimento tradicional associado. Para a regularização de acesso ao patrimônio genético, ou ao conhecimento tradicional associado, realizado para fins de pesquisa científica, o usuário deverá cadastrar a atividade ou obter a autorização, conforme for o caso, seguindo as regras fixadas pela Lei nº 13.123, de 2015. Nesse caso, a regularização da atividade extinguirá a exigibilidade das sanções administrativas especificadas nos Arts. 15 e 20 do Decreto no 5.459, de 7 de junho de 2005. A regularização das atividades de bioprospecção e desenvolvimento tecnológico, considerando as definições contidas na Medida Provisória nº 2.186-16, de 2001, bem como exploração econômica de produto ou processo, requer a celebração de Termo de Compromisso entre o usuário e a União, representada pelo Ministro de Estado do Meio Ambiente. O cumprimento do Termo de Compromisso produz os seguintes efeitos: 1) Suspende a aplicação das sanções administrativas previstas nos Arts. 16, 17, 18, 21, 22, 23 e 24 do Decreto nº 5.459, de 2005; 2) Extingue a exigibilidade das sanções administrativas previstas nos Arts. 16 a 18 do Decreto nº 5.459, de 2005, e 3) Redução em 90% (noventa por cento) do valor das multas aplicadas com base nos Arts 19, 21, 22, 23e 24 do Decreto no 5.459, de 2005, atualizadas monetariamente. O saldo remanescente poderá, a pedido do usuário, ser convertido em obrigação, de executar uma das modalidades de repartição de benefícios, não monetária, prevista na Lei nº 13.123, de 2015. A regularização da atividade permite ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial INPI conceder, se for o caso, a patente requerida. Infrações e penalidades: As infrações contra a Lei nº 13.123, de 2015, estão tipificadas nos Arts 78 a 91 do Decreto nº 8.772, de 2016, e as penalidades cabíveis variam desde advertência, multa, apreensão das amostras de patrimônio genético ou dos produtos derivados dessas amostras e/ou de conhecimento tradicional associado, cancelamento de registro, patente, etc. O tipo de sanção a ser aplicada, bem como o valor da multa, quando for o caso, serão apuradas por meio de processo administrativo a ser instaurado pela autoridade competente, considerando a gravidade da infração.

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O valor da multa será arbitrado pela autoridade competente, por infração cometida e pode variar, dependendo do tipo de infração, de R$ 1.000,00 a R$ 100.000,00, quando praticada para pessoa física e de R$ 10.000,00 a R$ 10.000.000,00, no caso de pessoa jurídica.

Bibliografia BRASIL. Lei 13.123, de 20 de maio de 2015. Regulamenta o inciso II do § 1o e o § 4o do art. 225 da Constituição Federal, o Artigo 1, a alínea j do Artigo 8, a alínea c do Artigo 10, o Artigo 15 e os §§ 3o e 4odo Artigo 16 da Convenção sobre Diversidade Biológica, promulgada pelo Decreto no 2.519, de 16 de março de 1998; dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade; revoga a Medida Provisória no 2.186-16, de 23 de agosto de 2001; e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 14 de maio de 2015. BRASIL. Decreto 8.772, de 11 de maio de 2016. Regulamenta a Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015, que dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 12 de maio de 2016.

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2) Equinos em Conservação na Ilha de Marajó, Amazônia, Brasil. José Ribamar Felipe Marques Zootecnista - UFRPE (1974); Extensionista - EMATER - PA (1976 - 79), Me. Produção Animal EV/UFMG (1984), Dr. Genética - IB/UNESP - Botucatu, SP (1991), Pós Doc. Genética - (UCO) ES (2005-2006). Especialista em Conservação de RGs Animais - UCO - ES (2006); Prêmio Prof. OTÁVIO DOMINGUES - CFMV 2010. Atua na Embrapa Amazônia Oriental - Belém - PA.

Marivaldo Rodrigues Figueiró Graduado em Medicina Veterinária pela UFR da Amazônia (2000) e Me. em Medicina Veterinária (Cir. e Clínica Veterinária) pela UF Fluminense (2004). Atualmente é Analista A - Medicina Veterinária da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Embrapa Amazônia Oriental.

Naiara Zoccal Saraiva Graduação em Medicina Veterinária pela UE de Londrina (2003), Me. (2006), Dr. (2010) e Pós-Doc. em Medicina Veterinária (Área de Concentração: Reprodução Animal) pela UNESP - Campus de Jaboticabal. Atualmente é Pesquisadora A da Embrapa Amazônia Oriental.

Relionan Pimentel Leal Tec. Agr. Escola Agrotécnica Federal de Castanhal – PA (1999). Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Extensão Rural. Trabalha na Embrapa Amazônia Oriental.

Rodrigo Lima Sales Tec. Agr. (1999), Eng. Zootecnista pela UEMS (2005). Me. Ciência Animal pela UF Mato Grosso do Sul (2010). Atuando na Embrapa Pecuária Sudeste.

Maria Rosa Costa Eng. Agr. UFR da Amazônia, Me. Genética e Melhoramento de Plantas pela UFLA e Dr. em Genética e Biologia Molecular pela Universidade de Córdoba-UCO na Espanha e em sanduíche com a UFPA. Atualmente é pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, atuando na Embrapa Amazônia Oriental. Foi curadora do Banco de Germoplasma de Equinos das raças Marajoara e Puruca da Embrapa Amazônia Oriental.

Resumo Os recursos genéticos do cavalo Marajoara e do mini cavalo Puruca tem particularidades que justificam sua conservação em Bancos Ativos de Germoplasma, dada sua importância regional, no dia a dia das fazendas, sendo fundamental para o desenvolvimento da pecuária, no manejo intensivo, em sistemas extensivos.com búfalos e bovinos, em função da sua grande resistência e adaptação às condições adversas da ilha de Marajó. Além de possuir velocidade a 18


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galopes curtos, rusticidade e versatilidade, ainda apresenta comportamento enérgico, vivo, ativo e dócil, tomando-se como perfil para novas atividades como turismo e uso em manejo/contato com crianças. Supre com qualidade as necessidades de tração (carroças, similares e outros apetrechos e/ou equipamentos e até pequenas embarcações) em trabalhos rotineiros, com baixo custo operacional, revelando condições de suportar intensas cargas de trabalho. Através dessa adaptação ao ambiente adverso, desenvolveu e fixou características de força, resistência e rusticidade. Já o Puruca, apesar de pequeno (1,18 m de altura), é bastante requisitado pelos vaqueiros para o trabalho com gado pela sua destreza, agilidade e tamanho, facilitando o trânsito em lugares pouco acessíveis, sendo de fácil manipulação, mas necessitando ser domado adequadamente por temperamento inquieto; vem sofrendo ameaças de descaracterização, devido aos cruzamentos indiscriminados, embora ainda se encontrem núcleos com características fenotípicas da Raça. Introdução Os equinos das raças Marajoara e Puruca, pertencentes à espécie Equus caballus L., estão submetidos a cruzamentos desordenados, correndo sérios riscos de descaracterização, principalmente, porque os criadores priorizam as características fenotípicas, renegando a plano secundário a rusticidade e adaptação ao meio ambiente, por vez hostil da ilha de Marajó - PA. Ambas as raças estão constituídas em Associações de Criadores, distintas, porém em momento de pouca atuação. A região numa época do ano apresenta-se com grandes inundações, no inverno amazônico, com pico de janeiro a maio, e em outra, principalmente de agosto a novembro, um período seco que chega a rachar o solo, advindo as “terroadas”, que são buracos e torrões construídos pelas rachaduras do solo e pelas patas dos animais, as quais dificultam o deslocamento de pessoas, animais e veículos. O cavalo Marajoara, apesar de constituir uma população considerável, sofre muita pressão dos cruzamentos mal dirigidos, que ameaçam a raça pela grandeza com que ocorre tal prática; já o mini cavalo Puruca constitui uma pequena população, sendo a ameaça muito maior, pois, além de ser cruzado com as raças exóticas o é, também, com a Marajoara, de maneira desordenada, havendo uma paulatina substituição da Puruca pela de maior porte. A Embrapa Amazônia Oriental implantou o Núcleo de Conservação de Cavalos Marajoaras e Purucas, no Banco Ativo de Germoplasma Animal da Amazônia Oriental - BAGAM, com o objetivo de conservar esses genótipos, além de efetuar avaliações e estudos de caracterização morfológica e genética que permitam elucidar as características de comportamento e dispor de informações da biologia desses grupos genéticos, visando subsidiar o manejo, além de viabilizar outras pesquisas, além de subsidiar os órgãos de fomento e desenvolvimento, nos seus planejamentos. O BAGAM está localizado à margem direita do Rio Paracauari, nas coordenadas 48º 30’ 54’’ de longitude W e 00º 45’ 21’’ de latitude S, no Sul da ilha de Marajó - PA. O Núcleo mantém os grupos com 43 animais 19


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Marajoaras e 17 minis cavalos Purucas. Os resultados dos estudos de caracterização genética, com marcadores de DNA, sugerem que a raça Marajoara representa um grupo genético claramente distinto de outras raças do País e das exóticas, excetuando-se a Puruca, pois constituem o mesmo genótipo. Assim, esses estudos demonstram que as raças Marajoara e Puruca necessitam de isolamento reprodutivo para maior fixação de suas características raciais e genéticas, bem como a raça Puruca pode ser utilizada como reserva biológica para a raça Marajoara e vice-versa. Origem e história A origem do cavalo Marajoara mais provável é a península ibérica, dos cavalos Árabe ou Berbere que, por sua vez, originaram o Andaluz, hoje PRE (Pura Raça Espanhola), introduzidos pelos portugueses na região de Belém, tendo como fonte de genes os cavalos Lusitano e Alter, tendo como base os primeiros cavalos trazidos em 1535, por Duarte Coelho, para ajudar nas moendas de cana-de-açúcar, no Estado de Pernambuco. Também, há a versão da introdução em 1549, quando Tomé de Souza, primeiro governador geral do Brasil, trouxe animais oriundos da Península Ibérica para a Bahia e Pernambuco, com o mesmo objetivo. Ou, ainda, a hipótese de que alguns animais oriundos do Centro-Oeste do Brasil (como o cavalo Ibérico que deu origem ao cavalo pantaneiro) tenham migrado para o extremo Oeste, originando os cavalos selvagens de Rondônia, Roraima, Acre e Amapá. Credita-se como cavalo ibérico o Andaluz, hoje denominado Pura Raça Espanhola (PRE). O criatório iniciado em Belém, em virtude da alta prolificidade dos equinos e bovinos, aumentou assustadoramente, e os animais devastavam as roças e plantações existentes na época, na capital. A remoção para outro local tornou-se necessária, decidindo-se pela a ilha Grande Joanes, hoje ilha de Marajó. Com o passar do tempo e a vocação pastoril de grande parte da ilha esses animais se tornaram imprescindíveis para o desenvolvimento da pecuária de todo a região, pois são utilizados na "lida” diária no campo, graças às aptidões que desenvolveram como: grande resistência às adversidades do meio e rusticidade, velocidade nos galopes curtos e versatilidade aos ambientes diversificados. São indispensáveis para suprir as necessidades de tração (de carroças), nos trabalhos rotineiros das fazendas regionais, com baixo custo operacional. Além disso, são utilizados na programação turística de esporte e lazer da Ilha, anualmente, visto que participam de “provas” de resistência, enduros e corridas. Contudo, ao longo desse tempo, o aumento demasiado da população de cavalares, mesmo na imensidão da ilha, tornou-se um problema, pois devoravam as pastagens, que não mais cresciam o suficiente para o uso dos bovinos, fazendo com que se procedessem abates de éguas, das quais aproveitavam-se as peles e as crinas. De acordo com a Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos da Raça Marajoara ABCCRM, criada em 1979, o exército precisou de cavalos para sela em 1980, dada a importância desses animais, fundou um núcleo de reprodução em Soure e outro em Cachoeira do Arari, introduzindo-se uma estação de monta, utilizando-se o cavalo Árabe e o Anglo-árabe para cruzamentos com os cavalos locais. 20


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Assim, pode-se inferir, portanto, que o cavalo Marajoara é o resultado desses cruzamentos entre essas duas raças, desenvolvendo, ao longo dos anos, um ecotipo próprio que culminou com o estabelecimento de um padrão racial específico, contudo as características atuais demonstram que ocorre um processo de descaracterização, principalmente pelos cruzamentos indiscriminados que ocorreram com outras raças como: Mangalarga, Quarto de Milha, e outras, alterando o padrão do cavalo Marajoara. Atualmente, não há muitos machos e fêmeas padronizados dentro das características do cavalo Marajoara original, conforme o padrão estabelecido pela ABCCRM. Por sua vez, o mini cavalo Puruca é o resultado de cruzamentos do cavalo Marajoara com pôneis da raça “Shetland”, de origem inglesa, oriundos da França, na penúltima década do século XIX. Desses cruzamentos foram selecionados animais, cuja principal característica era a altura padrão de, no máximo, 1,18 m, formando-se, desse modo, um plantel considerável que levou à formação de uma Associação própria. A Conservação do cavalo Marajoara e do mini cavalo Puruca Ambas as raças tem particularidades importantes para serem conservadas, pois são populações ameaçadas, principalmente por serem pequenas, destacando-se o Puruca, onde os números devem ser alarmantes, pois são poucos os criatórios puros que conservam a raça; Há necessidade de se conservar esse germoplasma diferenciado pelas várias características que apresenta, através da adaptação ao ambiente adverso, desenvolveu e fixou características como: resistência às inundações / umidade amazônicas, com água, lama e pântano nos cascos, durante meses na estação chuvosa e, na outra suportando um fortíssimo verão, com ventos poeirentos e altas temperaturas, que recortam as savanas com “terroadas”, dificultando a locomoção de qualquer ser vivo não adaptado, além da força, resistência e rusticidade, tornando-se indispensável nas atividades pecuárias do arquipélago, na lida diária das fazendas, sendo fundamental para o desenvolvimento da pecuária, no manejo intenso, quase sempre em sistemas extensivos de búfalos e bovinos. Apesar de todas essas características positivas o cavalo Marajoara sempre esteve sob pressão para aumentar o porte, a postura e melhorar a aparência, sendo submetido a cruzamentos sem planejamento adequado, colocando em risco de descaracterização e, mesmo de extinção, um germoplasma que necessita ser conservado. Entendendo o momento de risco desse germoplasma nativo da ilha, a Embrapa Amazônia Oriental implantou, em 1998, o BAGAM, em parceria com a SUDAM / Rede de Recursos Genéticos Animais da Amazônia (GENAMAZ), para efetuar a conservação do Marajoara e do Puruca. Assim, no BAGAM, devidamente assistidos pelo Sistema de Curadorias da Embrapa, são abrigadas as duas coleções biológicas do cavalo Marajoara e do mini cavalo Puruca, localizados no Campo Experimental “Ermerson Salimos” - CEMES, da Embrapa Amazônia Oriental, na ilha de Marajó, coordenadas 00°45’21” Latitude S e 48°30’54” Longitude W, Mesorregião geográfica (12) Marajó, à margem direita do rio Paracauari inclusive, visando subsidiar programas de melhoramento genético, permitindo a consolidação deste grupo genético, bem como estudar a sua funcionalidade, as correlações de tamanho e conformação corporal, associados à destreza, que o tornam imbatíveis para a região, ressaltando-se, ainda, a docilidade e temperamento. 21


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Também para intensificar os estudos de caracterização genética, objetivando elucidar dúvidas sobre a origem da raça, fornecendo informações sobre a estrutura genética dos rebanhos. Hoje, as coleções mantêm 43 animais Marajoaras e 18 Purucas, abrigadas em planos de ação do Portfólio Gestão Estratégica de Recursos Genéticos para Alimentação, a Agricultura e a Bioindústria – RGPORT. Os animais de ambas as raças são oriundos de criadores das áreas do Retiro Grande, Cachoeira do Arari, Soure, Salvaterra e Chaves, que conservam essas raças na ilha de Marajó. As principais ações desenvolvidas e previstas para o BAGAM para a conservação das raças em questão são: conscientização sobre o manejo adequado e, neste caso, entram as práticas de manejo adequado, onde os cuidados básicos com os cascos e dentes, a identificação / marcação, castração, doma são observados, além da alimentação / nutrição e pastejo com a suplementação mineral; No manejo reprodutivo observa-se o garanhão, as éguas em produção e os recémnascidos e no manejo sanitário, as principais afecções observadas são: garrotilho, anemia infecciosa equina (AIE), encefalomielite equina a vírus (mal-da-roda), brucelose (mal-da-nuca), tétano, tripanossomose (mal-das-cadeiras), laminite, cólica, dentre outras.

Figura1 – Animais adultos da raça Marajoara e o mini cavalo Puruca em conservação no BAGAM ((Foto: Ronaldo Rosa)

A descaracterização / Extinção Apesar de todas as características positivas esses grupos raciais vêm se descaracterizando ao longo do tempo, ainda que seja possível identificar núcleos com características fenotípicas da raça, conforme os padrões estabelecidos pela ABCCRM e pela ABCP. 22


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Ambas as raças vêm sofrendo, há tempos, um processo de descaracterização pelos cruzamentos desordenados com as raças mais modernas, podendo levá-las à extinção da sua real composição genética e, hoje, é muito difícil se encontrar rebanhos puros, fato que só será revertido com trabalhos sérios de melhoramento genético e estudos de sua biologia e funcionalidade. Com o mini cavalo Puruca os cruzamentos com os cavalos puros de outras raças introduzidas e seus mestiços e, por se constituírem pequenas populações podem desaparecer mais rapidamente. Tudo isso é agravado pela inativação das duas associações de classe que, há mais de dez anos, se encontram desativadas, perdendo-se dados e história ao longo do tempo. No caso do Marajoara a ABCCRM, após ações da Embrapa Amazônia Oriental, que solicitou a interferência do MAPA - Coordenadoria da Produção Integrada da Cadeia Pecuária / CPIP; Departamento de Sistemas de Produção e Sustentabilidade / DEPROS, está sendo reativada, porém com relação ao Puruca, há uma total inacessibilidade de se saber a real situação da ABCP. É urgente que se reative o serviço de registro genealógico de ambas as raças para que o processo de manutenção do germoplasma se perpetue e que prossiga o melhoramento genético. O cavalo Marajoara e o mini cavalo Puruca O cavalo Marajoara tem mais de três séculos de história e de formação de seu grupo genético. Já o mini cavalo Puruca, em conservação no BAGAM, constitui uma pequena população, sendo resultado do cruzamento de fêmeas da raça Marajoara com um pônei da raça Inglesa “Shetland”, sendo os produtos selecionados para atingirem uma altura padrão de 1,18m. A raça Puruca é o único mini cavalo do Brasil, não é um pônei como muitos a denominam, por desconhecimento. A associação de criadores registrada no Ministério da Agricultura, ABCRP,

Figura2 – Garanhão Marajoara do rebanho em conservação no BAGAM (Foto: JRF Marques)

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com sede em Belém-PA, defende que a raça possui inúmeras características morfológicas o que a torna um grupo diferenciado. Apresenta temperamento enérgico, vivo, ativo e dócil, com o andamento na forma de trote. As suas principais características e funções são de: animal de serviço, atrativo nas fazendas, com grande resistência nos locais pantanosos, adaptação ao clima da região e velocidade a galopes curtos.

Figura3 – Mini cavalos Purucas em conservação no BAGAM (Foto: Ronaldo Rosa)

A ABCRP cita que o Puruca é uma subespécie distinta, possuindo inúmeras características morfológicas que o diferenciam de outras raças. Contudo, estudos preliminares, com base em marcadores microssatélites, indicam que é mais provável que a raça Puruca seja uma variedade de menor porte da raça Marajoara, em decorrência de mais de um século de cruzamentos entre os dois grupos genéticos. Aptidão e Sistema de criação Tanto o cavalo Marajoara quanto o mini cavalo Puruca tem como grande aptidão o manejo do gado no campo, na lida diária das fazendas, sendo fundamental para o desenvolvimento da pecuária, no manejo intensivo, quase sempre em sistemas extensivos de 24


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búfalos e bovinos, em função da grande resistência, adaptação e condições adversas da ilha, velocidade a galopes curtos, rusticidade e versatilidade. É, ainda, utilizado para suprir as necessidades de tração (carroças, similares e outros apetrechos e/ou equipamentos e até pequenas embarcações) em trabalhos rotineiros, com baixo custo operacional, revelando condições de suportar intensos cargas de trabalho, competindo com os fortíssimos búfalos da ilha de Marajó nessa função. Através dessa adaptação ao ambiente adverso, desenvolveu e fixou características de força, resistência e rusticidade, tornando-se indispensável nas atividades pecuárias do arquipélago. Segundo a ABCP, esta raça possui características morfológicas que o diferenciam de outros equinos. Apresenta temperamento enérgico, vivo, ativo e dócil, com o andamento na forma de trote. São animais versáteis, resistentes, inteligentes e de grande rusticidade e que nunca foram trabalhados para a melhoria de suas funções, tampouco para o melhoramento genético. Rústicos e resistentes o Cavalo Marajoara apresenta grande adaptação ao seu meio ambiente, destacando-se a época chuvosa, com pântanos e rios caudalosos e a seca, onde a poeira fina e as “terroadas”, desafiam quaisquer seres vivos, com temperatura perto dos 40 graus. O reconhecimento oficial, a conservação, o controle genealógico e a divulgação dessa raça, eminentemente nacional mostram a sua importância para a Amazônia. Esta raça apresenta-se hoje com mais de cem mil cabeças, sendo que o Brasil possui o terceiro maior rebanho equino do mundo, com 5,9 milhões de cabeças, segundo números da Food and Agriculture Organization FAO, de 2002, perdendo apenas para México e China. Na Amazônia, especificamente na ilha do Marajó, o cavalo Marajoara predomina, sendo importante por estar adaptado às condições climáticas e ao relevo plano e alagado que caracterizam a Ilha. Esses animais são imprescindíveis para o desenvolvimento da pecuária da região, pois são utilizados na “lida” diária no campo, graças às características que desenvolveram como: grande resistência às adversidades do meio e rusticidade, velocidade nos galopes curtos e versatilidade aos ambientes diversificados. São indispensáveis para suprir as necessidades de tração (de carroças), nos trabalhos rotineiros das fazendas regionais, com baixo custo operacional. Além disso, são utilizados na programação turística de esporte e lazer da Ilha, anualmente, visto que participam de “provas” de resistência, enduros e corridas. Caracteriza-se por ser coadjuvante de outras criações, como a bovinocultura e a bubalino cultura, sendo fundamental para o manejo extensivo em toda a ilha. A criação é extensiva e não são observadas as práticas de manejo essenciais, sendo geralmente muito rudimentares, inclusive as técnicas de doma e lida. Isso significa que os animais equinos estão sempre em segundo plano por “não gerar renda” direta e o produtor, geralmente só dá valor ao cavalo quando tem gastos com ele, principalmente para adquiri-lo ou repô-lo. Resultados de pesquisa com as raças Os estudos durante esses anos detiveram-se em coleta de dados e observações comportamentais, ressaltando-se as medidas corporais mais importantes como: Alturas da garupa (AG), Cernelha (AC), Costados (ACO) e Dorso (AD); Comprimentos da Cabeça (CC), 25


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Pescoço (CP), Dorso (CDO), Dorso – Lombo (CDL), Garupa (CG), Espádua (CE), Corpo (CCP); larguras da Cabeça ( LC), Peito (LP), Ancas (LA); perímetro Torácico (PT), Canela (PC), bem como os pesos em idades padrões e dados de eficiência reprodutiva, são os principais descritores dos equinos, para formação de bases/bancos de dados. Foram, também, realizados estudos genéticos para a caracterização da população do cavalo Marajoara, estudando-se a variabilidade genética do grupamento racial através de microssatélites, chegando-se ao seguinte (Costa et al., 2011): Foram estudados microssatélites para os locus HTG4, AHT4, HMS7, ASB2, ASB17, HMS6, ASB23, HTG10, HMS3, LEX33, e detectados o padrão dos alelos na raça Marajoara; com relação ao número total de alelos foram detectados 236 alelos para os 22 microssatélites estudados; foram, ainda, calculados os valores de PIC para cada microssatélite, oscilando entre 0,8396 e 0,5872; foram calculados os valores de PIC e os valores de Heterozigosidade (He) variaram entre um máximo de 0,80 a um mínimo de 0,65; pelos valores de GST e a estatística F- Fis (f), Fst (Ө) e Fit(F) pode-se deduzir que, apesar das raças equinas apresentarem fenótipos diversos e viverem nos mais variados ambientes em todo o mundo, apresentam-se bem semelhantes no genótipo, evidenciando que formam grupos homogêneos bem fixados; pode-se afirmar que a diferenciação genética entre as populações é maior do que dentro de cada uma delas. Disto deduz-se que, apesar das raças equinas, em geral, estarem muito próximas geneticamente, conseguiram fixar grupos genéticos ou ecotipos bem característicos, de acordo com as condições ambientais de cada local, onde se desenvolveram e receberam manejo diferenciado. No mesmo estudo, observa-se as frequências alélicas por população e marcador, e o Marajoara apresenta uma distribuição de frequências uniforme, em muitos casos; estimou-se o equilíbrio de HW e, calculou-se, ainda as distâncias genéticas e, os resultados indicam que a raça Marajoara iniciou um processo de diferenciação genética do cavalo árabe há bastante tempo, não obstante esse compartilhar do conjunto gênico que lhe deu origem. Por sua vez, os dados sugerem que a raça Mangalarga tem formação recente no genoma da raça Marajoara, o que é comprovado pela pouca diferenciação observada em todos os casos. Já a raça Puruca aparece, constantemente, muito próxima da Marajoara, sugerindo que repartem o mesmo ou grande parte do mesmo conjunto gênico, isto é, não se encontra divergências entre o cavalo Marajoara e o mini cavalo Puruca, pelo contrário, observa-se que estes grupos estão muito próximos geneticamente. Assim, observa-se, claramente, grande proximidade genética entre as raças Marajoara e Puruca, com alta confiabilidade, mostrando pouca diferença dos genomas, onde os cruzamentos absorventes na raça Puruca fizeram com que, hoje, se possa considerar esta raça como um verdadeiro reservatório de genes para a raça marajoara e vice-versa.

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Figura 4 - Árvore de Distância Genética. Nota: PSI-BRA= PSIBR; PSI-ESP= ING.

Através dessas informações é possível realizar uma boa gestão dos rebanhos e elaborar um programa de melhoramento, recuperação e conservação que impeça que essas duas populações de cavalos da Amazônia possam desaparecer e, ainda, otimizar os acasalamentos entre indivíduos que sejam geneticamente mais distintos, reduzindo-se o risco de aumentar a endogamia o que seria drástico para o manejo dos grupos, em função da pouca informação que os criadores dispõe, o que os leva às decisões equivocadas, ocasionando aos grupos perda da identidade genética e, por último, as análises moleculares mostram que pelos resultados da Análise dos Componentes Principais que há um claro agrupamento das raças brasileiras, confirmando os resultados anteriores que mostram, claramente, que as raças Marajoara e Puruca estão mais próximas entre si que as demais, demonstrando, como se observa na análise de distância genética, a proximidade dos genomas. As mais divergentes nesse estudo foram o Puro Sangue Inglês e o Árabe, que formaram grupos distantes e bem definidos. O estudo conclui o seguinte: que a raça Marajoara mostrou-se bem estruturada geneticamente, muito próximo geneticamente da Puruca e, claramente distinta das outras raças, mostrando o cavalo Marajoara bastante diferenciado das outras raças e com identidade genética própria; Demonstra, ainda, que há grande variabilidade a ser trabalhada no conjunto genético; que o mini cavalo Puruca pode ser utilizado como reservatório genético para a raça Marajoara e vice-versa e, que os grupos genéticos Marajoara e Puruca devem continuar nos programas de conservação genética para proteção do germoplasma.

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Bibliografia ASSOCIAÇÂO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE CAVALOS DA RAÇA MARAJOARA. Serviço de Registro Genealógico da Raça Marajoara. Estatuto e regulamento. Belém, 1998. 35p. BRAGA, R. M. Cavalo lavradeiro em Roraima: aspectos históricos, ecológicos e de conservação. Brasília: Embrapa - CTT, 2000. 119p. COSTA, M. R. A ilha de Marajó, o cavalo Marajoara e o mini cavalo Puruca. Amazônia, v. 1, p. 50-55, 2008. COSTA, M. R.; MARQUES, J.R.F.; EGA-PLA, J.L.; BERMEJO, J. V. D.; SAMPAIO, M. I. da C.; RODRÍGUEZ GALLARDO, P. P. Variabilidade genética e equinos da Amazônia brasileira. Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento, v.8, n.35, p.1-10, jul. dez. 2005. Disponível em: http://www.biotecnologia.com.br/ Acesso em set. de 2005. DEGRANDI, T. M.; MARQUES, J. R. F.; COSTA, M. R. VINADE, L.; GUNSKI, R. J. Cytogenetic Characterization of Brazil Origin Marajoara Horses. International Journal of Veterinary Medicine: Research & Reports, p. 1-8, 2013. DEGRANDI, T.; MARQUES, J. R. F.; COSTA, M.R; GUNSHI, R.. Cytogenetic Characterizathion of marajoara horses candidates for reproduction in a genetic conservation programon the island of Marajó, Brazil. International Journal of Applied Research in Veterinary Medicine, 2013. MARQUES, J. R. F; MARTINEZ, G. B &LOPES, C. A. Produção animal nas várzeas do rio Amazonas. Belém. Embrapa Amazônia Oriental, 2003. 359 p. MARQUES, J. R. F.; FIGUEIRÓ, M. R.; COSTA, J. S.; MARQUES, L. C.; COSTA, M. R. T. R. O mini-cavalo (Equus caballus) Puruca da ilha de Marajó - Brasil. In: II Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos, 2012, Belém.PA. II Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos, 2012. MCNANUS, C. M.; MARQUES, J. R. F.; PAIVA, S. R.; SEIXAS, L. Cavalos Marajoara e Puruca. Brasília: UNB, 2010 (Documentos). TEIXEIRA, J.C.O. O cavalo: origem e evolução. Cavalo Marajoara, v.11, p.8,1985. RIBEIRO, D. B.; MARQUES, J. R. F.; COSTA, M. R.; CAMARGO JÚNIOR, R. N.; MARQUES, L. C. Cavalo marajoara. Produção animal na ilha de Marajó. 2ed.BELÉM: EMBRAPA, 2011, v. 2, p. 125-140.

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3) Uso de Recursos Genéticos de Algodão Gera Produtos de Vestuário para Comercio Interno e Externo

Luiz Paulo de Carvalho Eng. Agr. (1975), Me. (1977) e Dr. (1992) pela Universidade Federal de Viçosa. É pesquisador na Embrapa Algodão (desde 1978), em melhoramento genético do algodoeiro; dentre suas Cvs. de algodão, há quatro de fibra colorida. Possui 50 trabalhos publicados em periódicos científicos, nacionais e internacionais, dos quais, 40 como primeiro autor, 97 trabalhos científicos em Congressos e similares. Bolsista do CNPq. Publicou 5 capítulos de livros. Foi chefe adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Algodão por duas gestões.

Introdução O algodão naturalmente colorido tem origem na América, onde tecelões já fiavam e tecíamos algodões de cor marrom e verde, desde sua domesticação há 4.500 anos (NARAYANAN & SUNDARAM,1996). As fibras coloridas têm sido produzidas e usadas em produtos têxteis pelas populações indígenas das Américas por séculos (VREELAND Jr., 1987). A maioria dos materiais de algodão naturalmente colorido cultivados no mundo é descendente de germoplasma pré-colombiano selecionado pelos povos antigos das Américas, (STEPHENS,1975). O uso deste material evita ocorrências de distúrbios ecológicos, a poluição ambiental pelo uso de tintas sintéticas, eliminando custos para o branqueamento e para o tingimento, e reduzindo o consumo de energia. Ele tem sido cultivado desde tempos antigos, em torno de 2.500 AC. O línter e a fibra dos algodões tetraplóides ocorrem em cores que vão do branco a várias tonalidades de verde e marrom. Os genes que conferem essas cores estão relatados na literatura (HARLAND,1935; KOHEL,1985; WARE, 1932). As cores mais comuns são o marrom e o verde. Gossypium hirsutum L. frequentemente tem fibra branca e G. barbadense L. fibra creme (PERCY & KOHEL, 1999). As duas espécies diplóides cultivadas na Ásia também apresentam cultivares com coloração na fibra além do branco. Considerando as espécies diplóides existem cvs. de fibra colorida na Ásia, particularmente na Índia, China e Repúblicas Asiáticas da antiga União soviética, desde muito tempo. Na Índia existem cultivares com fibra colorida em cultivo comercial (G. arboreum L.), sendo predominante as de fibra vermelha, pela sua qualidade e firmeza na cor Singh et al. (sem data). A evolução das técnicas de tingimento desencorajou o uso dos algodões naturalmente coloridos e estes foram abandonados na última metade do século 20. Além disso, as cvs. com fibras coloridas tinham baixa produtividade, pobres qualidades de fibra e desuniformidade das cores. Com o crescimento da população mundial, a necessidade era 29


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aumentar a produção de algodão para vestimenta. O avanço da tecnologia de fiar e tecer e da tecnologia de tingimento, especialmente com o advento de tintas sintéticas, deu ênfase na alta produção de fibra de qualidade, o que resultou na substituição do algodão colorido pelo branco. O melhoramento feito no algodão de fibra branca durante todo o século 20 aumentou a diferença de qualidade da fibra deste para os coloridos. Por ser ecologicamente mais indicado, o algodão naturalmente colorido somente retomou sua importância em anos recentes. A percepção sobre a toxicidade e poluição causada pelas fibras sintéticas fez reviver o interesse por cultivos orgânicos, nicho no qual se encaixa somente o algodão de fibras coloridas. Escavações arqueológicas em Huaca Prieta, no Peru, mostram que o algodão colorido já era cultivado desde 2.500 anos AC. Análises destes fragmentos mostraram que, provavelmente, eram formas primitivas de G. barbadense. Tais fragmentos tinham as cores azul, roxa, rosa, marrom, verde, bronze e vermelha, algumas das quais ainda existem, mas infelizmente outras nem chegaram a ser descritas na literatura botânica (CHAULDRY,1992). Em bancos ativos de germoplasma (BAGs) espalhados pelo mundo encontram-se acessos com fibra colorida em tons de marrom (de chocolate escuro a creme, amareladas, cinza, laranja e púrpura, em G. barbadens; porém, sabe-se que outras espécies silvestres, a maioria diploides, também possuem fibra colorida, especialmente em tons de marrom). Há duas fontes de fibras coloridas em algodão: BAGs de germoplasma cultivado e BAGs de espécies silvestres.

Banco Ativo de Germoplasma Cultivado Em alguns países há BAGs com materiais locais conservados de G. hirsutum, juntamente com acessos oriundos de países como: Brasil, Israel, México, Peru, USA, e USSR, entre outros, sendo a fibra, na maioria, marrom e verde. Na Tabela 1 está listado parte do germoplasma de G. hirsutum com fibra colorida, preservado no mundo. No Brasil tem sido utilizado, em programas de melhoramento, alguns desses acessos de G. hirsutum da coleção dos EUA (Tabela 1) e (Figura 1), de onde já foram desenvolvidas 5 cultivares elite, como apresentado na Figura 2. Em G. arboreum podem ser citados alguns acessos de germoplasma como coloração marrom-médio: SP 3936, e Malvencis; marrom: 7869, e caqui: 8631.

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Tabela 1 - Germoplasma de algodão com fibra colorida de Gossypium hirsutum L. selecionado, onde os acessos marcados com asterisco são cultivares lançadas pela Embrapa Algodão

Figura1 – Acessos de Gossypium hirsutum L. introduzidos da coleção de germoplasma Americana e preservados na coleção da Embrapa Algodão. A cor da fibra é semelhante à do linter apresentado.

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Figura 2- Cultivares de fibras coloridas lançadas ela Embrapa Algodão, BRS Verde, BRS Jade, BRS Topázio, BRS Safira e BRS Rubi.

Banto Ativo de Germoplasma de Espécies silvestres As espécies silvestres de algodão são importantes fontes de fibra colorida como mostrado na Tabela 3. O Brasil também possui uma espécie nativa, a Gossypium mustelinum Miers ex G. Watt, de fibra marrom, como mostra na Tabela 3. O Peru é considerado como o centro de diversidade de G. barbadense, com vários acessos sendo conservados no BAG dos Estados Unidos e outros na coleção da Embrapa Algodão. Outros Países, como Equador, também possuem G. barbadense silvestre com fibra colorida. No Brasil, o uso de espécies silvestres no melhoramento genético, no caso G. barbadense, tem sido realizado visando introgredir genes de colorações diferenciadas da fibra para G. hirsutum e são um belo exemplo do uso da diversidade genética em prol do melhoramento genético. Na Figura 2 encontram-se exemplos de alguns acessos silvestres de G. barbadense do Peru usados no melhoramento genético. Na Figura 3 estão algumas novas linhagens desenvolvidas, do cruzamento de G. barbadense silvestre com G. hirsutum de fibra branca e que deverão se constituir em cultivares elite.

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Tabela 3- Cor da fibra em espécies silvestres de Gossypium spp. Continente

Espécie

Genoma

Coloração do linter e fibra

América

G. aridum

D4

amarronzada

G. armorianum

D2-1

amarronzada

G. darwinii

AD

amarronzada

G. mustelinum

AD

amarronzada

G. gossypioides

D6

acinzentada

G. harknessii

D2-2

acinzentada

G. laxum

D9

bronzeada

G. lobatum

D7

bronzeada, esbranquiçada

G. trilobum

D8

bronzeada

G. lanceolatum

AD

esbranquiçado

G. tomentosum

(AD)3

amarronzado, avermelhado

G. hirsutum

(AD)1

amarronzado,bronzeado,esbranquiçado, esverdeado

G. barbadense

(AD)2

cremosa, esbranquiçado

G. anomalum

B1

amarronzado

G. captis viridis

B4

amarronzado

G. somalense

E2

amarronzado

G. herbaceum

A1

acinzentado, esbranquiçado

G. longicalyx

F1

acinzentado

G. triphyllum

B2

bronzeado, cremosa

G. arboreum

A2

amarronzado, bronzeado, esbranquiçado

G. stocksii

E1

amarronzado

G. areysianum

E3

cinza amarronzado

G. incanum

E4

bronzeado

G. australe

C3

amarronzado

G. sturtianum

C1

amarronzado

G. robinsonii

C2

acinzentado

G.sturtianum var.nandewarense

C1-n

acinzentado

África

Afro-Ásia

Arábia

Austrália

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Figura 3 - Alguns acessos silvestres do Peru de G. barbadens e usados no melhoramento genético na Embrapa algodão.

A

B

C

D

E

F

Figura 4 - Linhagens diferenciadas, obtidas utilizando G. barbadense silvestre em cruzamentos com G. hyrsutum L. com coloração Amarelada-clara (A), Rosada (B), Alaranjada (C), Rosada (D), Cremosa-clara (E e F).

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O uso do germoplasma conservado no BAG-Algodão, da Embrapa Algodão, se mostrou extremamente útil para a disponibilização de cultivares elite com coloração de pluma diferenciada, ecologicamente correta, tão útil à indústria agrícola brasileira.

Bibliografia HARLAND,S.C. The genetics of cotton. XIV. Thein heritance of brown lintin New World cotton. Journal genetics, Bangalore, v.31, p.27-37, 1935. KOHEL, R. J. Genetic analysis of fiber color variants in cotton. Crop Science, Madison, v. 25, n. 5, p. 793-797, 1985. PERCY, R. G. & KOHEL, R.J. Qualitative genetics. In: SMITH C.W. & COTHREN J.T.(eds). Cotton: Origin, History, Tecnology, and production. John Willey and sons, New York, p.319-360.1999. SING, P. Naturally coloured cotton. Circ. Technical Bulletin Nº. Central Institute for Cotton research. Nagpur. STEPHENS, S. G. AR e-examination of the cotton remains from Huaca Prieta, north coastal Peru. American Antiquity, v. 40, n. 4, p.406-418, 1975. VREELAND, J.R. Coloured cotton: return of the native. International Development Research Center Reports 10 : 4-5 1987 WARE, J.O. Inheritance of lint color sinupland cotton. Journal of the America Society of Agronomy, Madison, v.24, p.550-562, 1932.

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4) Sobre o Mercado onde se Comercializa Atualmente as Confecções e os Artefatos com Recursos Genéticos de Algodão colorido Gilvan Alves Ramos

A demanda por artefatos, ecologicamente corretos, oriundos dos recursos genéticos, prossegue em crescimento sustentado nas últimas décadas, quando a divulgação da relevância do algodão colorido comumente vem sendo feita através de feiras de modas e exposições de artigos e tecidos “orgânicos”. A abordagem, e a conquista, de clientes potenciais e efetivos tem acontecido em tais eventos. Gilvan Alves Ramos Eng. Agr. (UFPB - 1985), especialista em agribusiness (UFPB e PENSA-USP, 1996). Bolsista do CNPq, modalidade DTI, no PEASA-UFCG; e no PTA, do Governo do Estado da Paraíba. Trabalhou no Instituto Xingó com cadeias produtivas agroindustriais da região fronteiriça entre Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Consultor técnico de projetos implementados pela FBB, na Bahia, Ceará e Piauí, e outros empreendimentos amparados pela FAOONU no Brasil. Consultor júnior do PNUDONU, junto à SAF-MDA. Consultor na Coordenação de Agroextrativismo, da SEDRS, do MMA, para carnaúba e babaçu. Consultor credenciado do SEBRAE para APL's. Analista da Assessoria de Inovação Tecnológica da Embrapa, em Brasília-DF. Consultor ad hoc para projetos de pesquisa com APL's. Atua na área de Economia da Embrapa Algodão. Integra a Rede FertBrasil, com avaliações econômicas de novos fertilizantes, e a Rede de Pesquisa em Avaliação de Ciclo de Vida - ACV da Embrapa.

Ainda se configura o mercado do algodão colorido como “um nicho de mercado”, que vem sendo pouco explorado apesar de estar em franca expansão, como demonstram pesquisas de mercado feitas recentemente em diversas partes do mundo.

Para atrair mais a atenção dos clientes potenciais devem ser demonstradas as vantagens de se usar fibras ecologicamente corretas, expor modelos de peças confeccionadas com design moderno, e de acordo com as exigências do mercado, quer seja pela qualidade do tecido ou pela criatividade do desenho. Neste particular, diante do caso têxtil, o setor de corte e design dos tecidos faz com que o mercado brasileiro siga forte e desponte pela qualidade de desenho e aperfeiçoamento dos produtos. Isso é defendido também pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que acredita que esse fato seja uma salva guarda extraoficial para a competitividade dos produtos têxteis brasileiros. A ressalva de desenho industrial têxtil brasileiro tem se destacado no desenvolvimento e abastecimento de mercados de moda, de grande referência no cenário mundial, como o milanês italiano e os designers californianos. O que está surgindo no mercado brasileiro e, em particular na Região Nordeste, faz com que o preço agregado de matéria-prima, incluso no trabalho de corte e costura, mantenha-se competitivo e com alta qualidade no mercado mundial da moda sustentável. Muitos eventos internacionais têm apresentado seções ou dias específicos para tratar dessa moda muito atual, 36


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como é o caso da London Fashion Week, que abriga a Semana de Moda Ética Londrina (Esthética); ou o The Green Shows (“A Mostra Verde”) em Nova Iorque, que tem calendário oficial. No Brasil, apesar de fazer parte do calendário mundial da moda, as ações “verdes” na São Paulo Fashion Week e na Rio Fashion não contam ainda com seções especiais dedicadas a essa causa. Em 2009, na edição primavera/verão da Prêt-à-Porter de Paris, a mais importante feira internacional de moda do mundo (ECOFASHIONMAG, 2012). Em 2004, pela primeira vez o algodão colorido entrou na São Paulo Fashion Week e, em 2009, participou da edição primavera/verão da Prêt-à-Porter de Paris, a mais importante feira internacional de moda do mundo (ECOFASHIONMAG, 2012). Em 2016, novamente, o algodão naturalmente colorido brasileiro entrou na São Paulo Fashion Week, e desta feita de forma expressiva com a arte do estilista mineiro João Pimenta (vide referência bibliográfica). Desde o início da formação do APL de confecções e artefatos de algodão colorido do estado da Paraíba se promove a qualificação para os diversos agentes envolvidos no processo. E, em conjunto com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos – Apex-Brasil, o Comitê Gestor do APL continua dando apoio à realização de feiras e eventos de divulgação dos produtos, nacionais e internacionais, além de cursos técnicos para artesãos, costureiras e bordadeiras. O conceito de APL representa uma melhoria da compreensão do que seja uma cadeia produtiva agroindustrial, acrescentando-lhe as influências da cultura do local/território como definidora do comportamento empresarial dos integrantes dos diversos segmentos produtivos e comerciais. No caso do algodão naturalmente colorido, em vista de que os contornos da cadeia produtiva agroindustrial coincidem com os de um APL de âmbito estadual, ou seja, cultiva-se em todo o território paraibano, isto é: descaroça-se a pluma em Patos ou Juarez Távora, fia-se em Campina Grande, confecciona-se tecidos em São Bento, e em Galante distrito de Campina Grande, confecciona-se malhas em João Pessoa, faz-se artesanato em todas as regiões, produzse confecções em diversas cidades do Alto Sertão, do Agreste e do Litoral, o que demonstra que, nesse caso do algodão colorido, um conceito está imbricado no outro, de forma que é mais correto dizer mesmo que no estado da Paraíba existe, sim, um Arranjo Produtivo Local de Confecções e Artefatos de Algodão Colorido. Esse método de trabalho tem como fundamentos básicos a transparência, a simplicidade e a flexibilidade, e serviu para reunir facilmente diversos parceiros para o trabalho conjunto, tais como: a Emater - PB, a Associação Municipal de Desenvolvimento de Campina Grande(AMDE), o Sindicato das Indústrias de Vestuário da Paraíba (SINDIVEST), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI – PB), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequena Empresas (SEBRAE – PB), a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB – PB), além dos que já foram anteriormente citados.

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Toda a Europa e a Califórnia representam importantes mercados para a tecnologia algodão colorido brasileiro. Por sinal, é na Alemanha que acontece, desde 1997, o maior evento mundial do setor de “orgânicos”, a Feira BioFach. Ao mesmo tempo, no Reino Unido o mercado de “orgânicos” vem apresentando um crescimento anual substancial e já acumula um crescimento de 40% desde 1996. A Feira BioFach reuniu cerca de 1.457 expositores e um público de 17.841 visitantes no ano 2.000, e hoje, essa feira já tem 2.300 expositores e um público de 44.000 visitantes. Além da BioFach, na Alemanha, e suas versões no Japão e no Brasil, atualmente um grupo de empresas formado pela Rede Santa Luzia Ltda., Casulo e Natural Cotton Color participa da Expo West, em Anahein, na Califórnia. Em 2016 a Natural Cotton Color e a Redes Santa Luzia Ltda. estiveram representando o Brasil na Maison d’Exceptions, área especializada da Première Vision, de Paris. Esse fato foi pioneiro, tratando-se do primeiro empreendimento de moda brasileira convidado para o evento, estando registrado em vídeo (VÍDEO, 2016). São os recursos genéticos, nativos ou exóticos, mas conservados nos Bancos Ativos de Germoplasma do Brasil, que abrem portas para um mercado sustentável de produtos naturais, que sustentam pessoas e consequentemente o país, servindo de exemplo o nicho do algodão colorido. Bibliografia ECOFASHIONMAG. Moda sustentável 2012. Vamos fazer juntos? Available http://www.ecofashionmag.com/portal/tag/sustentabilidade-na moda/. Accessed on July, 2016.

at

FREIRE, E. C. – Algodão Colorido. In: BIOTECNOLOGIA CIÊNCIA & DESENVOLVIMENTO- Ano 2, Número 9 – julho/agosto 1999. Disponível em <http://www.biotecnologia.com.br/edicoes/ed09.php>Acesso em 06/07/2016, às 09:55h. INSTITUTO DAS INDÚSTRIAS CRIATIVAS & MINISTÉRIO DA CULTURA. Pesquisa Economia e Cultura da Moda no Brasil: Perspectivas para o Setor. São Paulo: Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC) / Secretaria Executiva e Secretaria de Políticas Culturais do Ministério da Cultura. Dezembro de 2011, 247 páginas (ilustr.). MARTINS, G.B.H. Práticas Limpas Aplicadas às Indústrias Têxteis de Santa Catarina. Florianópolis, 1997. Dissertação de Mestrado–Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, 1997. Disponível em <http://www.bvsde.paho.org/bvsacd/abes97/practicas.pdf> Acesso em 06/07/2016, às 09:58h. VÍDEO: disponível em <http://www.maisondexceptions.com/en/francisca-vieira-natural-cotton-color-atthe-maison-dexceptions-show-22/?macateg=>Acesso em 06/07/2016, às 17:29h.

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5) Riscos da Biossabotagem à Agricultura Nacional Afonso Celso Candeira Valois Eng. Agr. pela UFR da Amazônia (1967), Me e Dr em Genética (1973 e1982), na ESALQ/USP, Pós-Doc. na U.E. do Novo México (EUA-1991). Foi Diretor Executivo Interino da Embrapa, Assessor da Diretoria Executiva da Embrapa, Chefe-Adjunto Técnico do Centro Nacional de Pesquisa de Seringueira e Dendê da Embrapa (ManausAM), Chefe-Geral do CNPSD, Chefe-Adjunto Técnico de Recursos Genéticos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen, Brasília-DF), Chefe-Geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

Contextualização Em 20/05/1998, em visita à sede da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para inaugurar a vitrine de tecnologia, o ex-ministro da agricultura, pecuária e abastecimento, Dr. Francisco Turra, proferiu uma frase de grande efeito e valor premonitório e real, dizendo que o mundo estava na fase da terceira guerra mundial, ou seja, “da bioglobalização da economia’’, onde o vencedor seria aquele que tivesse o “domínio da tecnologia”. Com este acontecimento assistido por mim, “in loco”, é que coloco este singelo artigo à disposição dos nobres leitores interessados no tema, para uma ampla reflexão. Devo acrescentar que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), dentro de um compromisso puramente nacionalista e responsável, teve grande influência indireta no delineamento desta publicação de elevado significado institucional e de segurança nacional. Na época este autor, na qualidade de Chefe-Geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, e depois como Assessor da Diretoria Executiva da Embrapa, mantinha uma profícua articulação de cunho técnico-institucional, sem interesse particular ou privado, com aquela egrégia instituição federal de inteligência. Nesse processo de competição comercial internacional por significativas fatias do agronegócio, a luta ética com dignidade, lisura, independência e integridade institucional continua. Só para lembrar, o agronegócio brasileiro continua sendo estratégico e de segurança nacional, responsável por mais de 51% das exportações brasileiras em 2015 (único setor que mostrou cifras positivas), cujo fulcro representou no citado ano, o volume histórico de 204,6 milhões de toneladas de grãos, sendo 96,4 milhões de soja, gerando trabalho, emprego, serviços, renda, impostos lícitos etc., como substância para a agregação de valores, sendo mesmo o único a absorver mão-de-obra significativa. Toda atenção e atuação têm que ser dispensadas por todos, sem solução de continuidade, para o sucesso continuado do agronegócio brasileiro! Mas, se houver qualquer descuido quanto à nefasta ação de pragas (insetos, fungos, bactérias, vírus etc.), sejam elas autóctones ou exóticas, todos os hercúleos esforços serão desperdiçados! Objetivo geral deste artigo Identificar vulnerabilidades, a fim de proteger as instalações relacionadas ao agronegócio contra a agrossabotagem e biossabotagem (bioterrorismo). Prevenir infraestruturas críticas do

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agronegócio brasileiro contra a sabotagem. Proteger nossos recursos genéticos e a participação brasileira nos mercados interno e externo referentes aos produtos agrícolas. Justificativa Deve-se lembrar, que a biossabotagem é efetivada utilizando-se de recursos genéticos como praga ou como seu vetor. O agronegócio é, historicamente, umas das principais bases da economia brasileira, desde os primórdios da colonização até ao século XXI, representando mais de 25% do PIB brasileiro. Este setor tem sido o principal responsável pelo superávit do país durante os últimos anos. O intercâmbio de recursos genéticos pode levar atrelado um risco sanitário ao país, através da biossabotagem. As profundas transformações pelas quais vem passando a humanidade, principalmente nesta década, denominadas como processo de globalização vem trazendo novos desafios que exigem pensar numa nova realidade e agir de forma premonitória. Dentre esses desafios são encontradas diversas ameaças ao setor agrícola. Agentes químicos, biológicos e radiológicos podem constituir-se em ameaças quando introduzidos na cadeia produtiva do agronegócio. Estes atos podem ser perpetrados por grupos diversos, como grupos terroristas com motivações diversas, seja econômica (agindo em favor de determinada empresa e/ou país), ideológica (grupos contrários ao uso de OGM- organismos geneticamente modificados) ou de defesas dos direitos dos animais, política/religiosa (grupos terroristas) e outros. Vale ainda mencionar o perigo constante ao qual o Brasil está submetido à entrada das espécies invasoras exóticas (EIE) danosas ao agronegócio, através dos mais de 17 mil km de fronteira, considerando que só na Amazônia esse total é de 11,3 mil quase que totalmente desprotegidos quanto á entrada de patógenos da agricultura, além de outros perigosos ilícitos como os mais variados tipos de drogas! Isso requer uma forte vigilância estratégica constante contra as introduções intencionais e não intencionais de condicionantes biológicos à agricultura, pecuária e florestas no Brasil. Principalmente na Amazônia, a firme articulação com os cinco países e Guiana Francesa limítrofes é da maior importância para evitar a entrada das EIE no Brasil, inclusive exercitando a prática de inteligências ligadas à estratégica, gestão tática e operacional, territorial, transfronteiriça, emocional, ambiental, hídrica, climática, ecológica, biológica, artificial, organizacional, convergência institucional, políticas públicas complementares, segurança pública, segurança alimentar e dos alimentos, desenvolvimento social etc. Para isso, é de grande relevância a ação integrada envolvendo a ABIN. OTCA e outras organizações estratégicas. No entanto, nada justifica as agressões às pesquisas com OGM que, por incrível que pareça, desavisadamente atualmente ainda ocorrem no Brasil, como o acontecido em 05/03/2015, quando ativistas do MST invadiram mais uma vez e destruíram infraestrutura e plantas modificadas geneticamente de eucalipto com características de precocidade e maiores produção e produtividade de madeira. Todos devem se conscientizar que no país atua a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) que está atenta e exige profundos testes antes da autorização da liberação na natureza de OGM, como precaução à ocorrência de danos de ordem biótica e abiótica. 40


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De maneira geral, para a liberação de OGM, como exemplo, têm sido consideradas as seguintes análises e vantagens propriamente ditas: análises genéticas (proteínas e DNA), segurança alimentar e nutricional, segurança dos alimentos (livres de perigos físicos, químicos, biológicos e ambientais), sanidade humana e animal, segurança ambiental, saneamento básico (biorremediação), uso de insetos OGM (como o mosquito transmissor da dengue e febre chikungunya), políticas públicas, certificação da cadeia produtiva de OGM, rotulagem que permita a escolha pelo consumidor, reconhecimento e análise do efeito danoso intertrófico ou tritrófico, dentre outros. Em recursos genéticos, na atividade de intercâmbio, o fenômeno denominado bioinvasão (invasão biológica) pode colocar em risco todo o complexo de negócios e abalar as economias nacional e mundial. A bioinvasão pode ser realizada de forma intencional, denominando-se bioterrorismo, ou o uso intencional de agentes biológicos usados para promover instabilidades econômica, social e ambiental. A agrossabotagem é uma das ações do bioterrorismo e está diretamente relacionada à introdução maliciosa e intencional de pragas e doenças em uma dada região, com o objetivo de evitar um malefício e desestabilização econômica para um povo ou nação. Histórico Entre os anos de 1977 a 1979, terroristas palestinos contaminaram laranjas produzidas em Israel por mercúrio líquido, ocasionando a interrupção da exportação daquele país para Europa em 40 %. Em 1997, uma epidemia de febre suína na Holanda causou prejuízos de US$ 2,3 bilhões. Em 1999, a introdução de substâncias conhecidas como dioxinas na ração animal de gado bovino e suínos na Bélgica ocasionou o banimento temporário de exportações de produtos agrícolas daquele país. Diversos organismos prejudiciais à agricultura têm sido introduzidos no Brasil nestes últimos anos, de forma intencional ou não intencional. Considerando a Amazônia, pode ser citada como exemplo a sigatoca negra da bananeira causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis, que entrou pela Venezuela ou pela Colômbia; a mosca-das-frutas, Bactrocera carambolae (Diptera, Tephritidae), vulgarmente conhecida como mosca-da-carambola, mas que também ataca cerca de 100 outras fruteiras, a qual entrou pela Guiana Francesa e encontra-se instalada no Amapá; a mosca-negra dos-citros, Aleurocanthus woglumi (Hemiptera, Aleyrodidae), cuja porta de entrada talvez tenha sido a Colômbia ou outros países vizinhos nos quais há relatos da presença da praga; além de outros exemplos já ocorridos no Brasil, como o bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis (Coleoptera, Curculionidae) e mosca-branca, Bemisia spp. (Hemiptera, Aleyrodidae), Helicoverpa armigera, que ataca hortaliças, soja, milho, algodão e outros produtos. A cacauicultura brasileira está muito ameaçada pela entrada da monília, doença causada pelo fungo Moniliophthora roreri. A monília já se encontra no Peru, em região fronteiriça ao Estado do Acre. Existe ainda o receio da entrada do besouro asiático, praga de espécies florestais. A cochonilha rosada ataca mais de 100 espécies de frutas e o ácaro do arroz pode exterminar as tradicionais plantações do sul do país. Na área animal, o registro de "vaca louca", que atinge o 41


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sistema nervoso dos animais e tem uma variante humana (o mal de Creutzfeldt-Jacob), fecharia todos os mercados para a carne bovina nacional e teria um impacto brutal nas vendas internas. As gripes aviária e suína, que ameaçam virar uma pandemia, seriam um desastre à produção nacional. Segundo o pesquisador aposentado da Embrapa e ex-professor da UEA (Universidade do Estado do Amazonas), Dr. Afonso Celso Candeira Valois, existem vários casos de invasão provavelmente intencional praticados contra o Brasil: Nos anos 70 entrou no país o inseto bicudo-do-algodoeiro, praga que dizimou as lavouras de algodão no Paraná e no Nordeste brasileiro. Segundo o referido pesquisador "O bicudo entrou, de forma intencional, pelo aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), direto dos Estados Unidos". "Não foi um caso de um país produzir mais e tomar o mercado brasileiro, mas para vender mais defensivos agrícolas". No dia 22 de maio de 1989, durante uma inspeção de rotina, um grupo de técnicos descobriu o primeiro foco de uma infecção devastadora conhecida como vassoura-de-bruxa numa plantação de cacau no sul da Bahia. A praga é mortal para os cacaueiros. Em menos de três anos, de forma espantosamente veloz e estranhamente linear, a vassoura-de-bruxa destruiu as lavouras de cacau na região – e fez surgir um punhado de explicações para o fenômeno, inclusive a de que o Brasil poderia ter sido vítima de uma sabotagem agrícola por parte de países produtores de cacau da África, como Costa do Marfim e Gana. Reforçando, então, as suspeitas de sabotagem, técnicos encontraram ramos infectados com vassoura-de-bruxa amarrados em pés de cacau – algo que só poderia acontecer pela mão do ser humano, e nunca por ação da própria natureza. A sabotagem produziu um desastre econômico, derrubando a produção nacional para menos da metade, desempregando cerca de 200.000 trabalhadores e fazendo com que o Brasil, então o segundo maior produtor mundial de cacau, virasse importador da fruta. Um estudo da Universidade Estadual de Campinas, elaborado em 2002, estima que a devastação do cacau na Bahia provocou, nos últimos quinze anos, um prejuízo que pode chegar à astronômica cifra de 10 bilhões de dólares. Um dado histórico relevante também citado por Afonso Valois em 2003, em seu artigo “Possibilidades de Uso de Genótipos Modificados e Seus Benefícios, Embrapa- Texto para Discussão, página 23”, traz o drástico exemplo ocorrido na Irlanda em 1845, quando houve a grande redução da população humana naquele país, causada pela ocorrência de uma doença epidêmica em batata (denominada requeima, causada pelo fungo Phytophthora infestans), que era o principal alimento daquela população. Há quem relate que esse nefasto acontecimento ensejou a mudança da família Kennedy para os Estados Unidos da América do Norte! Em 2003, a introdução da ferrugem asiática da soja causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, tudo indica que também foi intencional, segundo Afonso Valois. "Havia registros de esporos do fungo no Paraguai, a 200 quilômetros da fronteira com o Brasil. Depois, sem explicação, apareceu no meio do Estado de Mato Grosso". Na época foi detectada a presença de um norte-americano flagrado em uma plantação de soja sem autorização do governo brasileiro. Ele carregava um detector de esporos, que são os causadores da doença ferrugem da soja. O Brasil perdeu mais de US$ 2 bilhões em vendas e gastou-se cerca de R$ 500 milhões com agrotóxicos", afirmou o pesquisador. 42


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Afonso Valois classifica também como agrossabotagem a interferência de um terceiro país para dificultar uma transação entre dois parceiros comerciais. Valois citou como exemplo, o embargo chinês à soja brasileira por causa de grande número de sementes tratadas com agrotóxicos. "Os EUA influíram diretamente nessa decisão para ganhar mercados", disse o destemido e competente pesquisador, que pela primeira vez classificou este triste episódio de “agroterrorismo ou agrossabotagem”. Com essa convicção, o mesmo pesquisador concedeu uma entrevista ao “Jornal Valor Econômico”, em 18/10/2005, com a segurança adicional de que representante do Sistema S efetuou diligências nos Estados Unidos e constatou tamanha não conformidade! Deve-se ainda acrescentar que anos atrás, Afonso Valois, na qualidade de Chefe-Geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em articulação com a Universidade de Maryland (EUA), promoveu um evento naquela egrégia universidade com a participação de professores e 18 produtores norte-americanos, cujo principal objetivo foi obter genótipos de soja, visando ao enriquecimento do banco de germoplasma de soja da Unidade da Embrapa. Infelizmente, não houve acordo, pois segundo eles, o Brasil era um forte competidor e poderia ultrapassar os EUA na competição do comércio internacional, aliás o que já aconteceu em várias oportunidades (tinham razão!). Porém, logo em seguida, para não esquecer, conseguiu-se a introdução de 1.300 acessos de soja enviados oficialmente pelo próprio USDA, na qualidade de excelente parceiro da Embrapa naquele país. Grato exemplo de persistência, perseverança e determinação para o benefício do agronegócio brasileiro! No referente às EIE, recentemente foi realizado um levantamento e identificados os vetores. De 171 espécies invasoras exóticas identificadas, 76% foram introduzidas propositalmente no país, na maior parte com objetivos econômicos. Exemplos dessas espécies são o caramujo gigante africano (Achatina fulica), javali (Sus scrofa), e o capim anone (Eragotis plana). A importação de plantas de uso ornamental e de animais de estimação é a principal causa de introdução de espécies exóticas (24%). Programas de melhoramento genético de forrageiras foram responsáveis por 13% de espécies invasoras, e os de uso florestal por 9%. No ambiente marinho, em 2008 foram identificadas 58 espécies exóticas, sendo nove espécies (16%) consideradas invasoras, 21 (36%) estabelecidas e 28 (48%) detectadas no ambiente natural. Em condições de habitat de água doce foram registradas pelo menos 51 espécies invasoras exóticas. Além do impacto direto nos produtores, um ataque ao setor agrícola traria importantes impactos negativos a outras indústrias, como exportadores, setor de distribuição, turismo e outros. Além disto, impactos sociais, políticos e de saúde pública também devem ser considerados. Vulnerabilidades Alguns fatores contribuem para o sucesso de um ataque deste tipo. Dentre estes, pode-se citar os seguintes: a) Facilidade de obtenção e construção de armas biológicas a partir de patógenos agrícolas; b) Facilidade de realização de ações sem a necessidade de equipamentos ou conhecimentos sofisticados;

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c) No caso da ocorrência de uma ação desta natureza, somente uma pequena quantidade do agente seria necessária, pois os agentes biológicos são facilmente transmissíveis entre animais ou, no caso de plantas, através do ar; d) Plantações são expostas e altamente vulneráveis a ataques; e) Criações de animais são realizadas frequentemente em condições que envolvem uma grande quantidade de animais; f) Certos setores da indústria de produção de alimento são concentrados geograficamente. Assim, um ataque em um determinado setor poderia impactar dramaticamente um estado ou região; g) Métodos utilizados para o encarceramento de animais aumentam o estresse destes, aumentando a vulnerabilidade a infecções; h) A diversidade genética limitada promove a susceptibilidade a patógenos específicos; i) Produtos animais são dispersos para muitas localidades diferentes em um curto período de tempo, aumentando o potencial de contaminação dos agentes; j) Patógenos de plantas são mais fáceis de serem usados do que outras armas de destruição em massa. k) Outra ameaça relaciona-se a atos de vandalismo, como o ocorrido em 2006, no Rio Grande do Sul, quando mais de 800 hectares foram queimados de forma provavelmente intencional, além desse citado acima referente ao eucalipto transgênico. Necessidades 1. Curso de atualização sobre Análise de Risco em Segurança Alimentar, podendo ser oferecido pela Embrapa e Abin; 2. Verificar, adaptar ou extrapolar experiências desenvolvidas em outros países sobre programas de prevenção contra agrossabotagem e biossabotagem; 3. Colocar em evidência as inteligências estratégicas, transfronteiriça, artificial, ecológica, biológica e alimentar;

territorial,

ambiental,

4) Maior segurança no intercâmbio de recursos genéticos. Proposta de implementação 1) Alimentos podem ser contaminados deliberadamente em qualquer ponto da cadeia de produção. Assim, programas de defesa alimentar devem considerar as relações entre o sistema de produção, pessoal, equipamentos etc., a fim de identificar as falhas críticas que podem ocorrer. Método de sabotagem e a extensão de uma ameaça podem ser identificados como parte desta análise, que forneceria a base para a análise de risco; 2) Dentro da proposta aqui exposta, propõe-se a criação de um grupo de estudo, que iria arquitetar um Plano Estratégico Inteligente de Vigilância para a segurança biológica da agricultura, pecuária, florestas. Neste Plano poderiam ser delineadas as ações a serem 44


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implementadas. Como modelo, o autor deste artigo e colaboradores elaboraram e publicaram um plano desse tipo para o Estado do Maranhão. Esforços e ações para implementação a) Identificação e priorização dos setores mais críticos e de recursos para o estabelecimento do programa de proteção, vigilância e barreira sanitária, além de estações quarentenárias; b) Identificação e priorização das etapas e setores mais vulneráveis, onde deve-se considerar: os produtos alimentares e processos de produção mais acessíveis, os produtos mais vulneráveis a atos de difícil detecção, produtos mais disseminados e áreas de produção e processos menos supervisionados; c) Desenvolvimento de sensibilização e aviso antecipado para o reconhecimento de ameaças; d) Aplicação de consistentes planos de contingência para debelar o risco, perigo e dano de ordem biótica ao agronegócio; e) Estabelecimento de um programa de diagnóstico, podendo-se partir das bases do Programa Nacional de Proteção ao Conhecimento (PNPC) da Abin, para ser aplicado na cadeia produtiva agrícola.

Bibliografia FAO. Principles of plant quarantine as related to international trade. Rome, 1995.21 p. (ISPM, n. 1). FAO. Pest risk analysis for quarantine pests. Rome, 2002.27 p. (ISPM, n. 11). KAHN, R.P. Plant protection and quarantine. Boca Raton: CRC Press, c1989. v. 1. 226 p. McNEELY, J. A.; MOONEY, H. A.; NEVILLE, L. E.; SCHEI, P. J.; WAAGE, J. K. (Ed.). A global strategy on Invasive alien species. Cambridge: International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources, 2001. 50 p. (ISBN-10: 2831706092). OLIVEIRA, M. R. V.; NEVILLE, L. E.& VALOIS, A. C. C. Importância ecológica e econômica e estratégias de manejo de espécies invasoras exóticas. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2001. 6 p. (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Circular Técnica, 8). OLIVEIRA, M. R. V.& PAULA, S. V. Análise de risco de pragas quarentenárias: conceitos e metodologias. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2002. 144 p. (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Documentos, 82). REJMÁNEK, M.& RICHARDSON, D. M. Invasiveness of conifers: extent and possible mechanisms. Acta Horticulturae, n. 615, 2003.Edition of proceedings of the Fourth International Conifer Conference.V. 1. P. 375378. (ISBN 9066053801). VALOIS, A. C. C. Benefícios e estratégias de utilização sustentável da Amazônia. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica: Embrapa-Secretaria de Administração Estratégica, 2003. 78 p. (Embrapa-Secretaria de Administração Estratégica. Texto para discussão, 18). VALOIS, A. C. C.& OLIVEIRA, M. R. V. Segurança biológica para o agronegócio. Agrociência, Montevideo, Uruguai, v.9, n. 1/2, p. 203-211, 2005. VALOR ECONÔMICO. Governo brasileiro se arma contra “agroterrorismo”- entrevista concedida pelo Dr. Afonso Celso Candeira Valois. Terça-feira, 18 de outubro de 2005, página B 12. WEIGAND, R.; SILVA, D. C.& SILVA, D. O. Metas de Aichi: Situação atual no Brasil. Brasília, DF: UICN, WWF- Brasil e IPÊ, 2011. 67 p.

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6) Amazonizar o Brasil é premente: Trinta e três regras para a sustentabilidade dos recursos genéticos da Amazônia Afonso Celso Candeira Valois Eng.Agr., Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador Aposentado da Embrapa.

Contextualização Vale aqui refletir sobre a Amazônia pelo que ela representa por sua grande dimensão territorial, repleta de riquezas em biodiversidade e meio ambiente, estratégica e de segurança nacional para o Brasil, inclusive pela fronteira com os demais países amazônicos (Colômbia, Venezuela, Peru, Bolívia, Suriname e Guianas), exceção apenas ao Equador. Possui uma rica biodiversidade, que ajuda a posicionar o país como o de maior megabiodiversidade no planeta, cujos recursos biológicos e genéticos, (animais, microrganismos e plantas,), são relevantes sob vários aspectos em benefício da humanidade, incluindo seu potencial alimentício e sustentáculo ecológico com destaque climático, edáfico e topográfico. Diante dessa enorme riqueza é de bom alvitre estabelecer regras gerais que possam servir como modelo padrão para a sustentabilidade da Amazônia.

As regras enunciadas 1 - Coexistência harmônica entre os grandes empreendimentos empresariais e pequenos projetos de produção familiar, como a produção de biocombustível do dendê (Elaeis guineenses Jacq), produção de borracha da seringueira (Hevea brasiliensis L.), produção de frutas e outros produtos da agroindústria; 2 - Nesse sentido, um grande desafio na Amazônia é articular os pequenos, médios e grandes produtores rurais, incluindo-se o extrativismo, através da convergência das ações do planejamento adequado, adoção de políticas públicas compatíveis e tecnologias apropriadas complementares; 3 - A Amazônia, na condição de possuir o maior ativo ambiental do Planeta, tem outro grande desafio que está concentrado no exercício da gestão apropriada da abundância do seu capital biótico e abiótico; 4 - Uma oportunidade de grande relevância na Amazônia refere-se ao uso sustentável da biodiversidade para os diversos fins, como a bio-alfabetização, agrobiodiversidade e neoextrativismo; 5 - Dentro de uma visão holística, um aspecto que deve ser muito bem monitorado na Amazônia é a mitigação e controle das várias causas responsáveis pela perda de espécies da 46


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biodiversidade ou mesmo pela erosão genética nas espécies e degradação ambiental, com destaque para a fragmentação de habitats, espécies invasoras exóticas danosas, uso excessivo dos recursos naturais e efeito das mudanças climáticas, com atenção redobrada às influências antrópicas maléficas do desflorestamento; 6 - A bioprospecção de espécies e genes de interesse é de grande relevância na Amazônia, tendo em vista encontrar espécies comuns, raras e extremamente raras, além dos alelos tropicais comuns e raros que compõem genomas funcionais; 7 - Atenção especial deve ser dada à desigualdade entre ecossistemas e etnias amazônicas e à grande lacuna na oferta de tecnologia apropriada, levando em conta o correto significado dos termos conservação, preservação e proteção da Hileia, bem como ao bem-estar dos povos, onde o bom senso deve sempre prevalecer; 8 - Atentar na Amazônia para o eficaz monitoramento da expansão de cultivos em detrimento da derrubada da floresta nativa, exploração ilegal da madeira e de outros ilícitos, além do plantio extensivo de pastagens sem a devida reposição de nutrientes ao solo e da vegetação; 9 - Proposta viável para a Amazônia: revolução científica e tecnológica com inovação (CT&I), com a adoção de forte programa harmônico de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) e de consistente ação de transferência e adoção de tecnologia apropriada; 10 - Na Amazônia existe a premente necessidade da regularização de negócios do ar (Protocolo de Kyoto), da água, e da biodiversidade, além dos serviços ambientais; 11 - Na grande região, deve-se agir no sentido da sustentável agregação de valores no âmago da floresta, para o benefício das populações tradicionais, habitantes ribeirinhos, indígenas e demais moradores, nos direitos aos recursos genéticos, com inclusão social, evitando a todo custo a expressão e condição desumana de “escravos na floresta”; 12 - Uma outra enorme reivindicação para a Amazônia é a consistente presença do Estado Brasileiro, principalmente considerando os seus 11,3 mil quilômetros de fronteira com outros países; 13 - Na Amazônia não deve ser permitido que áreas oficiais de preservação e conservação ambiental sejam financiadas por capital externo de ONGs de cunho duvidoso e malintencionadas, para a integral proteção da soberania nacional na extensa região brasileira; 14 - Mitigar ou mesmo evitar na Amazônia, os inúmeros conflitos evidentes entre agricultores de produção familiar, ambientalistas, desenvolvimentistas e sustentabilistas, pois todos devem ir ao encontro de tudo aquilo que for vantajoso para o benefício sustentável da grande região e do seu povo; 15 – Um outro grande momento na Amazônia é para um pragmático ordenamento territorial, com destaque para realmente efetivar o Zoneamento Ecológico e Econômico (ZEEP) em escala de boa definição para uso popular, com a consistente participação de representantes das comunidades locais; 47


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16 - A criação e consistente operacionalização de uma rede de educação, saúde, tecnologia apropriada, meio ambiente, recursos genéticos e desenvolvimento social são relevantes para a integração de esforços e ações para o benefício sustentável da Amazônia; 17- Na Amazônia é relevante a colocação em prática da sustentabilidade do ensino formal, educação ambiental, educação alimentar e educação continuada presencial e semipresencial para a orientação racional dos amazônidas, sem solução de continuidade; 18- Explorar na Amazônia, os resultados advindos de ações e esforços de consistentes programas, planos e projetos governamentais implantados na grande região como o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM), Plano da Amazônia Sustentável (PAS) e Banco Compartilhado de Dados (BCDAM), dentre outros; 19- Explorar de maneira consistente todas as alternativas compatíveis com a busca de uma Amazônia sustentável, sendo uma das bases, o cadastramento e regularização fundiária dos produtores de base familiar e empresarial, além de outras; 20- Exercitar na Amazônia a prática de novos modelos de desenvolvimento regional, como a implantação e manutenção de rodovias, ferrovias e transporte fluvial e aéreo; 21- Outra grande necessidade na Amazônia é a geração de tecnologia regionalizada para áreas de rodovias, ferrovias e ribeirinhas, para o especial benefício dos pequenos produtores assentados; 22- Na Amazônia é prioritária a colocação em prática do fortalecimento da integração regional nas áreas de fronteira com os outros países amazônicos, considerando que o Brasil ostenta cerca de 80% da Amazônia Continental, mas que estão concentrados na “Amazônia Baixa”, com as cabeceiras dos rios localizadas em outros países a necessitarem de premente proteção, a proteção aos recursos genéticos, além dos demais aspectos de segurança nacional merecedores de toda atenção para uma consistente articulação regional com a participação da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e outros meios planejamento, avaliação e controle; 23- A segurança biológica na Amazônia deve se constituir em valiosa ferramenta para a manutenção da biodiversidade sustentável e de seus recursos genéticos para a prática da agrobiodiversidade rentável e funcional, com o cunho social, econômico, ambiental, político, cultural, ético e histórico, além de outras vantagens adicionais; 24- Assegurar uma maior coordenação e coerência entre as várias iniciativas, programas, planos e projetos atuais e futuros, estratégicos na grande região, é também da mais alta relevância; 25- Na Amazônia existe a grande necessidade da integração sistemática das dimensões ambiental e social às ações de crescimento e desenvolvimento econômico no plano federal, estadual e municipal, incidindo nas próprias comunidades; 26 - Na região deve ser concretizada uma estratégia tática e operacional de desenvolvimento sustentável com a atuação convergente de muitos atores, que leve em consideração as oportunidades de aprimoramento da educação, saúde, tecnologia e meio 48


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ambiente, institucionais e políticas em toda a sua amplitude, que inclua a infraestrutura e apoio logístico às prioridades de desenvolvimento ambiental, social, econômico e cultural, tanto nas áreas urbanas como rurais; 27 - Na Amazônia é premente a colocação em prática da utilização de uma série de novos instrumentos de financiamento, considerando o apoio ao manejo florestal sustentável, sistema agroflorestal, manejo de ecossistemas agrossilvipastoris, plano ABC (agricultura com baixa emissão de carbono) e o pagamento por serviços ambientais especialmente o sequestro de carbono levando em conta o “Fundo Protótipo de Carbono”; 28 - Na Hileia, torna-se imperativa a elaboração de projetos multi participativos para o desenvolvimento de estratégia e tática operacional sustentáveis mais abrangentes e voltadas para os vários países da Bacia, de modo a expandir de forma substancial, o intercâmbio de conhecimento e experiência entre os mesmos. Para isso, a OTCA teria uma relevante contribuição; 29 - Na Amazônia são definitivamente prioritários o cadastramento, a avaliação e o monitoramento de todos os tipos de ONG que atuam na região, principalmente para evitar o processo de fortalecimento de interesses internacionais na grande região, bem como da biopirataria; 30 - Nesse processo de amazonização do Brasil, na região deve merecer atenção a recomendação emanada da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e de outros importantes fóruns regionais sobre a elevação da competência regional em vários aspectos, com ênfase no avanço educacional inclusive em disciplinas tomadas como estratégicas e de segurança nacional, como é o caso de recursos genéticos, além da geração de tecnologia apropriada; 31 - No referente ao “aquecimento global” é de fundamental importância a disponibilização de vasta orientação aos habitantes da Amazônia no sentido de como proceder para contribuir para a mitigação ou mesmo evitar esse efeito danoso, tanto com recursos genéticos in situ como ex situ; 32 - Na Amazônia deve ser harmonizada a atuação das diversas instituições nacionais, estrangeiras e internacionais de interesse do Brasil, para evitar o paralelelismo e desperdício de válidos esforços e ações; 33 - Finalmente, para “amazonizar o Brasil” é premente a adoção de diversos princípios para serem seguidos pela população brasileira, como o ordenamento territorial, racionalidade, sustentabilidade, multifuncionalidade, transversalidade fronteiriça, enfoque sistêmico, percepção pública da grande importância da região para o Brasil e para o mundo, segurança biológica, segurança dos recursos genéticos, soberania e segurança nacional, exercício do imperativo ético, direitos humanos por uma vida digna e decente, desenvolvimento social inclusivo, CT&I e tecnologia apropriada, biodiversidade, recursos genéticos e propriedade intelectual, exercício de patamares de inteligência (estratégica, territorial, transfronteiriça, ambiental, edáfica, hídrica, climática, convergência institucional, políticas públicas complementares, emocional, desenvolvimento social, energética, ecológica, artificial, biológica, alimentar), mitigação da emissão de gases maléficos, sistemas agroflorestais, neoextrativismo 49


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sustentável, reflorestamento de áreas degradadas, educação ambiental, agrícola e alimentar, cadastramento, instrução, conscientização e monitoramento de produtores e empresários rurais, planejamento estratégico e plano diretor, adoção de políticas públicas adequadas e turismo responsável, além de outros.

Conclusão Diante da visão holística das regras sugeridas pode ser notado que o Bioma Amazônia justifica este texto, bem como as regras sugeridas, sendo merecedor de atenção redobrada por parte da Sociedade Brasileira e Rede Regional de Recursos Genéticos, de instituições públicas e privadas, comunidades em geral e planejadores/executores de planos, programas e projetos sem solução de continuidade, dentre outros, de modo que a vasta região possa ser explorada com sustentabilidade, onde couber, em especial com seus recursos genéticos, para o benefício da sociedade, em observância às exigências das suas nuanças ambientais!

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7) Mecanismos genéticos da resistência de plantas às doenças Afonso Celso Candeira Valois Engenheiro Agrônomo, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador Aposentado da Embrapa.

Importância do Tema De maneira geral, os fungos têm sido apontados como os condicionantes biológicos que mais afetam as plantas tanto no sentido endêmico como no epidêmico, embora sejam benéficos em sua grande maioria, daí merecerem o devido destaque neste artigo. Os fungos são microrganismos eucarióticos, isto é, apresentam células com um núcleo típico, com cromossomos que se dividem como acontece em plantas e animais, agrupados em um único reino, o dos Fungi, abrangendo dentre muitos tipos, os fungos filamentosos, as leveduras e os cogumelos de chapéu. Dentre outros microrganismos (bactérias, algas, vírus, protozoários), os fungos se destacam não só pela grande quantidade de espécies conhecidas, como também pelas inúmeras aplicações onde são utilizados, como na área de saúde, nutrição, agricultura, energia e meio ambiente. Atualmente existem cerca de 80.000 espécies de fungos descritas e conservadas em coleções de culturas em todo o mundo. Estima-se, entretanto, que exista mais de 1,5 milhão de espécies, muito superior a todos os outros seres vivos agrupados, com exceção dos insetos, pois são mais numerosos do que os fungos. De qualquer modo, apenas 5% das espécies fúngicas são conhecidos, faltando ainda muitas descobertas, o que aumenta sobremaneira, a importância dos fungos para a humanidade. Embora possam ser vistos por parte da sociedade leiga como prejudiciais, pois são responsáveis por inúmeras doenças em plantas e animais, incluindo a espécie humana, a grande maioria é benéfica e pode-se mesmo afirmar que sem os fungos dificilmente espécies de plantas e animais poderiam existir. Para o caso específico da minoria dos fungos que causa estragos à agricultura, principal objeto do presente artigo, na Amazônia, por exemplo, cada grande cultura possui uma séria doença, como é o caso do mal-das-folhas em seringueira, vassoura-de-bruxa em cacaueiro e cupuaçuzeiro, fusariose em pimenta-do-reino e dendezeiro, queima-das-folhas em coqueiro e antracnose em guaranazeiro e cajueiro, dentre outras. Na grande região esse fato é ajudado pela natural ocorrência de elevada umidade, temperatura e luminosidade que favorecem sobremaneira o desenvolvimento de patógenos, pois como é sabido, além da presença do hospedeiro e do patógeno, o meio ambiente é determinante para a ocorrência de uma determinada doença. 51


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Os mecanismos genéticos da resistência de plantas a doenças fúngicas é um tema de grande relevância para o agronegócio, principalmente por explorar os conhecimentos disponíveis com o objetivo da obtenção de genótipos que possam vegetar, conviver e produzir economicamente em presença ou não dos seus condicionantes biológicos do citado reino. Bases Genéticas da Resistência de Plantas a Doenças De modo geral, a resistência de plantas a doenças é dividida em oligogênica quando a resistência é governada por poucos genes e poligênica quando o controle for efetuado por muitos pares de genes. Há várias características próprias de cada tipo de resistência. Assim, a oligogênica pode ser estudada em detalhe, inclusive com a identificação do efeito de cada gene. A dominância ou recessividade do caráter são facilmente determinadas, os segregantes com facilidade são agrupados em classes devido à variação descontínua, a resistência é pouco influenciada pelo meio ambiente e ocorre a interação patógeno x hospedeiro, além de outros fatores determinantes. Na resistência poligênica, a variação dos segregantes é contínua, onde somente o efeito do conjunto de genes é considerado. Essa resistência com frequência é um efeito indireto de outros fatores, além de ser fortemente influenciada pelo meio ambiente, o que dificulta ainda mais os trabalhos com este tipo de resistência de plantas a doenças. Como ilustração existem doenças de juros simples (crescimento aritmético), geralmente afetando as raízes dos hospedeiros e doenças de juros compostos (crescimento exponencial) que afetam as partes aéreas das plantas. Nesses casos pode funcionar tanto a resistência oligogênica como a resistência poligênica, dependendo do caso, embora a resistência oligogênica seja de maior aplicação para o caso de doenças de juros simples.

Formas de Resistência de Plantas a Doenças Para um melhor entendimento das formas pelas quais uma planta pode resistir geneticamente ao ataque de doenças é de bom alvitre a introdução de alguns conceitos básicos que possam auxiliar na explicação dos fenômenos. Dentre esses conceitos merece destaque a hipótese gene-para-gene, que enfoca a existência de uma relação específica entre genes de resistência na planta e genes de virulência no patógeno. Em outras palavras, para cada gene de resistência no hospedeiro há um gene específico de virulência no patógeno e vice-versa. Esta teoria tem se mostrado bastante geral e hoje se sabe que é de ocorrência comum, aplicada em especial para a resistência monogênica (causada por um par de genes), que é um tipo de resistência oligogênica. A resistência inicialmente apresentada pode ser superada, inclusive considerando a coevolução patógeno-hospedeiro. Outra teoria bastante válida nesse contexto dos mecanismos genéticos de resistência é a virulência desnecessária, útil para o caso da resistência comandada por poucos genes. Pesquisas têm demonstrado que raças de patógenos com genes desnecessários para a virulência são menos aptas em sobreviver na população. Por exemplo, supondo-se a existência de uma variedade de planta com um gene R1 de resistência, pela hipótese gene-para-gene qualquer raça do patógeno com o gene (1) de virulência conseguirá vencer a resistência conferida pelo gene R1 do 52


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hospedeiro. Assim, tanto a raça (1) como uma outra raça (1,2) causarão doença nessa variedade, mas a última raça terá menor capacidade de sobreviver no hospedeiro R1 devido possuir um gene desnecessário de virulência. No entanto, isso depende se o gene de resistência no hospedeiro for do tipo forte ou do tipo fraco, conforme será explicado mais adiante. Após esse breve comentário, pode-se agora enfocar que as principais formas de resistência de plantas a doenças que têm sido definidas são as seguintes: a) resistência vertical- é específica, oligogênica, as raças do patógeno são virulentas e possui a capacidade de evitar a infecção e/ou atividade do condicionante biológico, mas pode ser superada; b) resistência horizontal ou de campo- é não específica, poligênica, as raças do patógeno são agressivas e possui a capacidade de restringir a infecção e/ou atividade do condicionante, sendo muito difícil de ser superada ; c) resistência completa- é aquela resistência que não proporciona nenhum nível de reprodução do patógeno, não é permanente, pois pode ser superada; d) imunidade- é a resistência completa e permanente; e) tolerância- refere-se à comparação entre a quantidade de doença e o efeito no rendimento, isto é, se uma variedade A produzir mais grãos que uma outra variedade B sob às mesmas condições ambientais, então ela é considerada mais tolerante; f) hipersensibilidadetrata-se de reação química, geralmente causada por substâncias fenólicas denominadas de fitoalexinas, que se manifestam em partes de plantas (folhas, por exemplo) atacadas por patógenos, matando as células ao redor da lesão, não deixando assim que o condicionante biológico se alastre. Em algumas situações, o patógeno produz substâncias denominadas de aliciadoras que induzem ao hospedeiro produzir a fitoalexina específica que irá evitar a ação do próprio condicionante biológico. A hipersensibilidade tem especificidade, porém é muito influenciada pelo meio ambiente, daí não poder ser confundida com a resistência vertical ou resistência horizontal. Vale ressaltar que de todas as espécies de plantas que naturalmente ocorrem na Amazônia, a seringueira (Heveaspp.) é aquela mais didática, pois nas pesquisas efetuadas tem sido possível encontrar todos esses tipos de mecanismos genéticos no sistema de resistência à doença mal-dasfolhas, cujo agente etiológico é o fungo Microcyclus ulei, o mais tenaz condicionante biológico da espécie. Resistência Vertical e Resistência Horizontal De acordo com as pesquisas até então realizadas, a resistência vertical e resistência horizontal são os dois principais mecanismos de resistência genética de plantas ao ataque de patógenos. A resistência vertical não deve ser aplicada para plantas perenes, pois pode ser superada e causar sérios prejuízos ao empreendimento, enquanto que a resistência horizontal é segura e duradoura, sendo que o patógeno ocorre, mas em baixas taxas de infecção, sem causar epidemia ou danos consideráveis. Para uma melhor visualização quanto aos dois tipos de resistência do hospedeiro e os dois tipos de raças do patógeno, pode-se examinar as Tabelas 1 e 2, a seguir. Nessas tabelas, o índice de doença é dado por uma nota que varia de 0 a 5, sendo que 0 significa imunidade e 5 o mais alto grau de suscetibilidade do hospedeiro.

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Analisando a Tabela 1, pode ser visto que a raça (1) do patógeno causa doença na variedade A, mas não causa nas variedades B e C. A raça (2) causa doença na variedade B, mas não causa nas variedades A e C e a raça (3) causa doença na variedade C e não causa nas variedades A e B. Percebe-se assim, que houve uma clara interação diferencial entre raças e variedades. A Tabela 2, por seu lado, apresenta uma situação totalmente diferente. Logo ao primeiro exame pode-se notar que não há interação diferencial entre raças e variedades, pois a raça (4) causa menor índice de doenças nas três variedades pesquisadas, a raça (6) causa o maior índice de doença nas 3 variedades e a raça (5) situa-se entre as raças (6) e (4) em todas as variedades testadas. Na análise dessa Tabela pelo lado do hospedeiro, pode-se notar que a variedade D mostra o maior nível de resistência às 3 raças do patógeno considerado e a variedade F é a mais suscetível às 3 raças, enquanto que a variedade E apresenta um nível de resistência intermediário entre as variedades D e F. Visto isso, por definição pode-se afirmar que as raças e variedades que apresentam interação diferencial são chamadas de raças virulentas e variedades com resistência vertical, e as raças e variedades que não apresentam interação diferencial são chamadas de raças agressivas e variedades com resistência horizontal. Outra maneira de visualizar esse fenômeno é através da adequada análise estatística da variância, onde se a interação hospedeiro x patógeno for significativa, a resistência da planta é do tipo vertical, sendo as raças do patógeno virulentas. Caso não seja significativa, então, a resistência é horizontal e as raças agressivas. Para efeito da utilização da resistência vertical em programas de melhoramento genético, os seguintes pontos devem ser considerados: a) provavelmente não tem valor para o caso de hospedeiros perenes; b) tem maior valor para doenças de juros simples do que para doenças de juros compostos; c) é mais valorosa contra patógenos com baixa mutabilidade vertical; d) provavelmente não tem valor quando empregada em espécies geneticamente uniformes e que são cultivadas em grandes áreas com a mesma variedade; e) tem mais valor quando a seleção estabilizadora (ver a seguir) pode ser explorada; f) contra parasitas não obrigados, um gene forte é suficiente para a exploração da seleção estabilizadora, enquanto que contra parasitas obrigados, pelo menos dois genes fortes são necessários; g) o uso de variedades multilinhas (ver 54


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adiante) é aconselhável para doenças de juros compostos; h) a rotação de culturas é aconselhável para doenças de juros simples; i) tem menor valor para doenças cuja disseminação é passiva direta (propagação vegetativa); j) é mais facilmente vencida (suprada) quando a proteção conferida por ela for incompleta; l) tem mais valor em regiões com estação seca bem definida; m) tem maior valor onde normas fitossanitárias são aplicadas sem solução de continuidade; n) o colapso da resistência vertical complexa pode resultar em menor quantidade de doenças do que no colapso da resistência simples; o) tem maior valor quando reforçada com níveis adequados de resistência horizontal. Para o caso da resistência horizontal, mais confiável em relação à resistência vertical, a mesma pode se expressar das seguintes formas: a) redução do número e frequência de infecções; b) redução da taxa de expansão da lesão; c) alongamento do período latente ou de incubação; d) redução da deposição de esporos; e) diminuição do período de infecção; f) diminuição do número de propágulos necessários para o estabelecimento da infecção. Seleção Estabilizadora Estudos têm evidenciado que se uma proporção de genótipos de uma população de plantas se altera em resposta a uma pressão seletiva introduzida, ela tenderá a se reverter para a população original quando a pressão seletiva for removida. Desta maneira, se uma variedade R1 estiver sendo cultivada, a maioria da população do patógeno será da raça (1). Se uma variedade R1R2 for agora introduzida, a população do patógeno, por seleção, passará a se constituir da raça (1,2). Voltando-se a cultivar a variedade R1, a população do patógeno também voltará a ser predominantemente da raça (1). A razão é que, como já foi comentado, raças com genes desnecessários de virulência são menos aptas em sobreviver. A seleção em direção à virulência que ocorreu na passagem da raça (1) para a raça (1,2) é chamada de Seleção Direcional. A seleção em direção à população original, quando a pressão seletiva foi removida é chamada de Seleção Estabilizadora. Assim, a base teórica dessa última seleção é a menor capacidade de sobrevivência de raças do patógeno com genes de virulência desnecessária.

Genes Fortes e Genes Fracos Como já foi visto, a seleção estabilizadora é o retorno à população original do patógeno quando a pressão de seleção for removida. Essa volta pode se dá em diferentes intensidades, desde uma seleção estabilizadora nula até uma seleção estabilizadora fortíssima. É essa maior ou menor intensidade na volta à população original do patógeno que é usada na conceituação de gene forte e gene fraco no hospedeiro. Em outras palavras, um gene de resistência no hospedeiro é forte quando a seleção estabilizadora é drástica contra a raça do patógeno com o gene complementar de virulência. É fraco quando a seleção estabilizadora atua suavemente contra a raça do patógeno com o gene complementar de virulência.

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Exemplificando: se houver uma população de plantas R1 e for passada para uma população R1R2, a raça predominante do patógeno também passará de (1) para (1,2). Caso os hospedeiros R1 voltarem a ser plantados, dois aspectos poderão acontecer, isto é, ou o patógeno volta a ser (1) ou continua sendo predominantemente (1,2). No primeiro caso, o gene de resistência no hospedeiro é forte e no segundo é fraco. É evidente que ao melhorista de plantas só deverão interessar genes fortes de resistência, pois são somente genes desse tipo que produzem a seleção estabilizadora. Variedades Multilinhas Um outro tema de grande relevância no mecanismo de resistência de plantas a doenças é que qualquer variedade é suscetível a um inóculo vindo de um campo no qual a mesma variedade é cultivada. O correto uso da seleção estabilizadora visa a evitar justamente que isso ocorra. Para tal deve-se obrigar o patógeno a passar por plantas com diferentes genes de resistência e, então, nessa passagem por plantas diferentes agirá a seleção estabilizadora. Diversos caminhos podem levar a que isso ocorra, como o emprego de variedades multilinhas. Uma variedade multilinha consiste em uma mistura de linhagens com idênticas características agronômicas, mas que diferem entre si unicamente em genes fortes de resistência vertical. Nesta condição, para melhor entendimento exemplifica-se a seguir, o uso de uma variedade multilinha composta por quatro linhagens, com cada uma delas contendo um gene diferente de resistência, ou seja, R1, R2, R3 e R4. Quando essa multilinha for plantada, ela vai obrigar a determinada raça que colonizou R1, por exemplo, a passar por R2, R3 e R4 que foram plantadas ao lado. Logicamente, pela hipótese gene-para-gene, a raça que colonizou o hospedeiro R1 será (1) e ela não terá condições de colonizar os demais hospedeiros. Assim, cada esporo do patógeno que sair de uma planta só poderá voltar a causar doenças em 1/4 da população e assim por diante. Se a multilinha fosse composta por cinco linhagens, cada raça poderia atacar apenas 1/5 da população e assim sucessivamente. Desta maneira, nunca haverá uma epidemia dentro de uma multilinha e sim endemia, não causando prejuízos significativos. No entanto, se na variedade multilinha considerada aparecer a atuação de uma super raça (1, 2, 3, 4), esta poderá liquidar a variedade composta dos genes R1, R2, R3 e R4. Mas, se os genes de resistência forem fortes, jamais a super raça será selecionada em virtude da forte seleção estabilizadora que atuará contra ela e ainda da nenhuma seleção direcional que haverá a seu favor, e assim não sobreviverá na população de plantas. A raça (1,2,3,4) terá na população multilinha sempre três genes de virulência desnecessária, pois os hospedeiros terão, cada um, apenas um gene forte de resistência. Raciocínio semelhante pode ser aplicado para o caso do aparecimento de outras variações de raças do patógeno, dentro do sistema considerado. Então será o caso espetacular de uma resistência para sempre? O mais famoso exemplo real da geração de uma multilinha foi a criação da variedade de trigo Miramar 63, resistente à ferrugem do colmo causada pelo fungo Puccinia graminis, que persiste até aos dias atuais e que ajudou ao seu criador, o Engenheiro Agrônomo Norman Borlaug, pesquisador americano, a ganhar o “Prêmio Nobel da Paz” de 1970, pois a Academia reconheceu o seu relevante papel humanitário em contribuir para a magnífica revolução verde ocorrida no México naquela época!

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8) Reprodução em plantas de espécies tropicais e implicações na seleção de matrizes Afonso Celso Candeira Valois Engenheiro Agrônomo, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador Aposentado da Embrapa.

Introdução Espécies arbóreas tropicais apresentam uma ampla variedade de sistemas de reprodução, incluindo cruzamentos, cruzamentos correlacionados, cruzamentos endogâmicos, autofecundação, apomixia, partenocarpia e combinações destas, além de outros. O conhecimento do sistema de reprodução das espécies é de fundamental importância quando se pensa em coletar sementes de polinização aberta, dado que este é responsável pela transferência das informações genéticas de uma geração para outra. O sistema de reprodução determina os níveis de endogamia e a coancestria na geração descendente e, portanto, afeta o seu tamanho efetivo da variância. Por exemplo, se uma população se reproduzir por misturas de autofecundações e cruzamentos multiparentais e biparentais, suas progênies apresentam algum grau de endogamia assim representada: Fo=0,5s (1+Fp), onde s é a taxa de autofecundação e Fp o coeficiente de endogamia nas árvores autofecundadas. Com a representação acima exposta, as populações serão compostas por mistura de irmãos de autofecundação, meios-irmãos, irmãos completos e irmãos de autofecundação e cruzamentos, enquanto que a coancestria média dentro das progênies será maior do que a esperada em populações panmíticas. Ainda, se os cruzamentos ocorrerem entre indivíduos parentes haverá adicionalmente, a endogamia biparental e a coancestria será ainda maior do que se não houvesse cruzamentos entre parentes, reduzindo ainda mais o tamanho efetivo da variância. A coleta de sementes para reflorestamento ambiental requer a retirada de amostras representativas da variabilidade genética de uma ou várias populações para evitar endogamia nas futuras gerações e conservar o potencial evolutivo das espécies. Isso irá permitir que os plantios, depois de estabelecidos, mantenham-se por tempo indefinido a partir de sementes originadas dos cruzamentos dos próprios indivíduos da população plantada. Uma grande população de plantas no seio da floresta é composta por diversos demes, que representam as subunidades de cruzamentos entre genótipos alógamos. Nessa diversidade genética, os genes na população podem se apresentar das seguintes maneiras: comuns dispersos, comuns localizados, raros dispersos e raros localizados. Na estratégia e tática de coleta de germoplasma é tecnicamente recomendado que as ações e esforços sejam efetuados na situação em que os genes comuns localizados possam estar presentes para que as amostras melhor representem a população. 57


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Pequenos tamanhos amostrais podem sofrer a perda de alelos raros por deriva genética, sendo essa perda tanto maior quanto menor for o tamanho amostral. No entanto, alelos raros podem contribuir para a adaptação em condições de estresse ambiental ou mesmo alterações bruscas do ambiente, além de outras vantagens. A base genética restrita aliada à perda de alelos que possam futuramente ter valor adaptativo, pode reduzir as chances de sucesso na autorregeneração pelo aumento da endogamia e coancestria da população plantada, tendo como consequência, a depressão endogâmica. Por isso, para garantir um mínimo de variabilidade genética nos plantios é necessário coletar sementes de um número adequado de árvores matrizes. Este texto foi adaptado, discutido e ampliado pelo autor, de SEBBEN, A.M., 2016. Sistema de Reprodução O sistema de reprodução refere-se à forma como as populações de uma espécie recombinam seus genes a cada geração para compor a população descendente. O cruzamento entre diferentes flores é definido como alogamia, sendo que se envolver flores de diferentes plantas será classificado como xenogamia, e entre diferentes flores de mesmas plantas por geitogamia. O cruzamento entre órgãos masculinos e femininos da mesma flor, por sua vez, é definido como autogamia. O sistema de reprodução determina como a variabilidade genética de uma espécie se origina no espaço e no tempo. Espécies que se reproduzem predominantemente por cruzamentos geralmente apresentam menor divergência genética entre populações do que espécies que se reproduzem principalmente por autofecundação. Isto é devido aos cruzamentos recombinarem a variabilidade genética a cada geração e favorecerem a dispersão dos genes via pólen para maiores distâncias do que espécies de autofecundação. A recombinação dos gametas de uma população de uma espécie de cruzamento reduz a taxa de homozigose e o aparecimento de combinações homozigóticas deletérias nos descendentes, a não ser que a população esteja geneticamente estruturada no espaço e ocorram cruzamentos entre indivíduos parentes. Espécies de cruzamento geram indivíduos com parte dos seus locos polimórficos em heterozigose (pelo menos 50%) e mantêm a variabilidade genética nas populações distribuídas entre locos dentro dos indivíduos e entre indivíduos (heterozigoto tem sempre dois diferentes alelos). Por outro lado, espécies de autofecundação geram indivíduos com altas taxas de homozigose e mantêm a variabilidade genética nas populações distribuídas apenas entre indivíduos. Sistema Sexual O sistema de reprodução depende de uma ampla gama de fatores genéticos (genes controlando a autoincompatibilidade, determinando o sistema sexual, a maturidade reprodutiva e a depressão endogâmica) e ambientais (fatores influenciando a fenologia de florescimento e o comportamento dos polinizadores).

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Considerando que o sistema sexual é de importância primária, as espécies arbóreas podem ser assim classificadas: a) Unissexuais, dioicas ou diclinas: espécies que apresentam flores com sexos separados nas plantas, ou seja, apresentam plantas masculinas e plantas femininas. Exemplos: Araucaria angustifolia, Genipa americana, Myracrodruon urundeuva. b) Bissexuais: b1- hermafroditas (espécies que apresentam ambos os sexos na mesma flor, ou seja, órgãos femininos e masculinos na mesma flor). Exemplos: Manilkara huberi, Eucaliptus spp.; b2- monóicas (espécies que apresentam os sexos em diferentes flores da mesma planta). Exemplos: Carapa guianensis, Hevea spp., Pinus spp.; c- trióicas (espécies que apresentam tanto plantas unissexuais como bissexuais, ou seja, apresentam plantas só com flores masculinas, só com flores femininas e plantas com flores masculinas e femininas- hermafroditas ou monóicas). Exemplo: Fraxinus excelsios; d- ginodióicas (espécies que apresentam tanto plantas bissexuais com flores femininas e masculinas- hermafroditas ou monóicas- como unissexuais femininas). Exemplo: Rhizophora mangle; e- androdióicas (espécies que apresentam tanto plantas bissexuais com flores femininas e masculinas- hermafroditas ou monóicas- como unissexuais masculinas). Exemplo: Bauhinia ungulata. Em função do seu sistema sexual, as plantas poderão produzir gametas masculinos ou femininos, ou ambos. Em espécies dioicas, a reprodução sexual ocorre somente por cruzamentos, que por sua vez podem ser classificados em maternos multiparentais, paternos multiparentais e cruzamentos biparentais. Cruzamentos maternos ou paternos multiparentais podem ser definidos como o cruzamento de um indivíduo com diferentes outros e dão origem a descendentes parentes no grau de meios-irmãos. Cruzamentos biparentais são aqueles simultâneos entre dois indivíduos, dando origem a descendentes parentes no grau de irmãos completos. Por sua vez, plantas bissexuais podem reproduzir-se por misturas de autofecundação (dão origem a irmãos de autofecundação) e cruzamentos, sendo que a parte referente aos cruzamentos pode ocorrer da mesma forma como a descrita para plantas unissexuais. Assim, sementes coletadas de uma árvore dioica, produzidas por polinização aberta pode ocorrer, sendo possível apresentarem misturas de meios-irmãos e irmãos completos, enquanto que a descendência de plantas bissexuais auto compatíveis pode apresentar misturas de irmãos de autofecundação, meios-irmãos, irmãos completos, irmãos de cruzamento e autofecundação. A reprodução também pode ocorrer por apomixia, que é o exemplo da reprodução partenogênica, na qual um indivíduo é gerado a partir de um óvulo não fertilizado ou de uma célula somática, sem contribuição genética paterna, embora os órgãos sexuais estejam presentes, 59


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o que resulta em um indivíduo de genótipo idêntico ao genótipo materno. Já na partenocarpia, o fruto é formado na ausência da polinização, sendo que as sementes não se desenvolvem ou são abortivas, cujo fenômeno é de comum ocorrência na pupunha (Bactris gasipaes). A apomixia permite a produção maciça de sementes de genótipos semelhantes e preserva um estoque de variabilidade potencial que, mais tarde, pode ser liberado através da produção ocasional de sementes sexuadas. Contudo, plantios com sementes apomíticas da mesma planta materna terão consequências indesejáveis já na primeira geração, como, por exemplo, o aumento da endogamia, dado que o cruzamento entre indivíduos idênticos pode ser traduzido como autofecundação. A coleta de grande quantidade de sementes em várias árvores e posterior mistura destas pode reduzir a probabilidade de se estabelecer grande número de indivíduos apomíticos próximos entre si nos plantios. A reprodução também pode envolver sistemas não sexuais como a propagação vegetativa, dando origem a descendentes idênticos ao genótipo de origem (clones). As consequências populacionais são as mesmas apresentadas para a apomixia (cruzamentos entre parentes, dando origem à endogamia biparental, que, por sua vez, pode desencadear a depressão endogâmica). Sistemas de Reprodução em Espécies Arbóreas O sistema de reprodução pode apresentar grande variação entre espécies e dentro de populações de uma espécie, devido ao seu controle estar sob influência genética e ambiental. Por exemplo, a taxa de cruzamento pode variar entre populações, entre plantas, entre eventos reprodutivos da mesma população e entre flores de uma mesma árvore. Os níveis de cruzamentos dependem das características genéticas das plantas, que possibilitam ou impedem a autofecundação (como a estrutura da flor e os sistemas de autoincompatibilidade) e de fatores ecológicos (variações climáticas, causando alterações no comportamento dos polinizadores ou variação na fase reprodutiva das flores masculinas e femininas). Essa variação pode ocorrer de diferenças entre populações nos níveis de carga genética (depressão endogâmica, causando variação na taxa de cruzamento entre populações), diferenças no histórico de colonização de novos sítios, causando alterações no sistema de reprodução ou efeitos antropogênicos como fragmentação e corte seletivo de árvores, alterando a demografia e o tamanho da população reprodutiva e, consequentemente, o seu sistema de reprodução. A variação ambiental como entre anos pode influenciar na variação fenológica de florescimento, bem como na abundância e comportamento dos polinizadores. A variação na taxa de cruzamento tem fortes implicações na coleta de sementes para reflorestamento ambiental. O mais importante é que os tamanhos amostrais, em termos do número de árvores para a coleta de sementes podem variar de população para população ou entre eventos reprodutivos. Por isso, é importante conhecer essa variação para a determinação dos tamanhos amostrais compatíveis. 60


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Quantificação do Sistema de Reprodução Estudos sobre o sistema de reprodução podem ser conduzidos para se conhecer qual é a taxa de autofecundação, a proporção dos cruzamentos que ocorrem entre indivíduos parentes (cruzamentos endogâmicos) ou que envolvam os mesmos parentais mais de uma vez (cruzamentos biparentais), o número de parentais paternos envolvidos na reprodução de uma planta, o tamanho e a área de vizinhança reprodutiva, a divergência no pólen cruzado entre plantas, a distância de dispersão de pólen e as proporções de pólen que vêm de dentro e de fora da população (fluxo gênico). Tais estudos podem ser eficientemente realizados com a utilização de marcadores genéticos, em especial os de herança codominante e altamente polimórficos, como os microssatélites, desde que se adote uma amostragem delineada adequadamente para os objetivos do estudo. Nesse sentido, a coleta de sementes pode ser efetuada em pelo menos 25 árvores por população não muito distantes entre si, para não envolver diferentes vizinhanças reprodutivas e violar a pressuposição do modelo misto de reprodução de homogeneidade nas frequências alélicas do pólen cruzado e tipificar pelo menos 20 sementes por planta. As sementes devem ser coletadas de vários frutos, e preferencialmente, deve-se manter a identidade do fruto de origem de cada semente para estudos detalhados entre e dentro de frutos, embora, para isso, sejam desejáveis maiores tamanhos amostrais por planta materna (50 sementes por planta). Por seu turno, o uso de marcadores genéticos para o estudo do sistema de reprodução requer a utilização de modelos genéticos para descrever padrões de reprodução, como o modelo misto de reprodução e modelo de cruzamentos correlacionados. Ainda, as estimativas da correlação de paternidade indicam que progênies de polinização aberta sempre apresentam certa proporção de irmãos completos (variando de 0,09 a 0,93, com média e 0,45). Isto significa que parte das sementes produzidas por uma simples árvore é originada de uma pequena população reprodutiva, com pólen advindo de poucos genitores (variando e 2 a 12, como média de apenas 3) e as sementes podem incluir diferentes graus de parentescos, como meios-irmãos, irmãos completos e irmãos de autofecundação. O assincronismo no florescimento das plantas, pequeno tamanho da população reprodutiva e o comportamento dos polinizadores visitando sistematicamente árvores próximas podem explicar os cruzamentos biparentais. A constatação de que muitas espécies arbóreas apresentam sistema misto de reprodução ou reproduzem-se por misturas de cruzamentos multiparentais e biparentais é um fato de grande importância para a conservação genética, melhoramento florestal e nas atividades de coleta de sementes para reflorestamento ambiental. Espécies de sistema misto de reprodução requerem maiores tamanhos amostrais para reter tamanhos efetivos alvos ou de referência, em programas de conservação, melhoramento florestal e nas atividades de coleta de sementes para reflorestamento ambiental do que se os cruzamentos fossem perfeitamente aleatórios. 61


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Área da Vizinhança Reprodutiva A área da vizinhança reprodutiva refere-se ao local onde ocorre grande parte dos cruzamentos (por exemplo, mais de 90% dos cruzamentos). Ela depende da densidade populacional e da capacidade dos polinizadores de percorrerem as distâncias, separando as árvores. É importante ressaltar que grandes áreas de vizinhança reprodutiva não significam grandes tamanhos de populações reprodutivas. Uma espécie pode ter uma grande área de vizinhança reprodutiva, mas os cruzamentos podem ocorrer predominantemente entre dois ou três vizinhos próximos. Em termos práticos, espécies com grandes áreas de vizinhança reprodutiva podem ser menos afetadas pelo corte seletivo de árvores e fragmentação, visto que os indivíduos podem reproduzir-se por cruzamentos, mesmo estando localizados a grandes distâncias. Outro ponto diz respeito à redução no tamanho das populações e ao aumento da distância entre os indivíduos pelo corte de árvores e fragmentação, que, possivelmente, conduza a um aumento na área de vizinhança reprodutiva como uma resposta adaptativa dos polinizadores à necessidade de obter alimento. Distância do Fluxo de Pólen em Espécies Arbóreas O fluxo de pólen é um componente de destaque do sistema de reprodução. A distância do movimento de pólen é um importante determinante da área de vizinhança de populações de plantas. O modo como as árvores se estruturam no espaço e o fluxo de pólen conectando os indivíduos são fatores primordiais do sistema de reprodução de populações de espécies arbóreas. Isto, por sua vez, tem um profundo efeito nas características genéticas da população. O pólen é o vetor dominante da troca de gametas (células reprodutivas que normalmente contêm metade dos cromossomos característicos da espécie) em muitas espécies arbóreas de clima tropical e temperado. Devido ao movimento do pólen influenciar a criação, manutenção e erosão da estrutura genética da população adulta é importante entender quais fatores influenciam o movimento do pólen. O isolamento por distância na população doadora de pólen pode criar forte estrutura no conjunto de grãos de pólen pelo aumento amostral de pais locais. A baixa densidade populacional, característica de muitas espécies arbóreas tropicais pode favorecer a heterogeneidade no conjunto do pólen dentro das populações. Processos antropogênicos, como fragmentação e corte seletivo de árvores podem também alterar o processo de reprodução e fluxo de pólen entre e dentro de populações, levando a uma diferenciação genética no conjunto de pólen compartilhado por árvores localizadas espacialmente distantes, tornando pequenas populações sujeitas aos efeitos negativos da deriva genética, como aumento da endogamia e do parentesco interno e, consequentemente, da depressão endogâmica. Um ponto importante, como já ressaltado na discussão da área de vizinhança reprodutiva, é que grandes distâncias de fluxo de pólen e área de vizinhança não significam obrigatoriamente grande tamanho de vizinhança reprodutiva. Uma espécie de baixíssima densidade populacional (por exemplo, 1 árvore a cada 50 ha) pode ter um vetor de polinização capaz de viajar longas distâncias, mas os cruzamentos podem envolver apenas uma ou duas árvores. 62


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Estrutura Genética Espacial As populações de espécies arbóreas são muitas vezes estruturadas em famílias, formando subpopulações ou demes em forma de manchas, onde as frequências alélicas tendem a ser homogêneas dentro das subdivisões, e o parentesco interno está acima do esperado pelas suposições de distribuição aleatória de genótipos. A causa é a dispersão de sementes próximas à árvore matriz e a sobreposição de gerações advindas do longo ciclo de vida dessas espécies, aumentando a probabilidade de estabelecimento de filhos próximos a esta. No processo de coleta é recomendável colher sementes em árvores distantes entre si em pelo menos 100m, ou, pelo menos, duas vezes a altura das árvores. Ressalta-se que esta recomendação reduz a probabilidade de se coletar sementes de árvores matrizes aparentadas, mas não evita que sementes endogâmicas originadas do cruzamento entre parentes maternos e paternos, dentro das manchas, sejam incluídas na amostra, o que se traduz em outro bom motivo para sua adoção. Endogamia e Coancestria dentro de Progênies de Polinização Aberta Coancestria e endogamia são parâmetros intimamente relacionados pelo conceito de identidade por descendência dos alelos. Alelos idênticos por descendência são alelos que representam cópias idênticas de um mesmo alelo presente em um antecessor (parente) recente. O coeficiente de coancestria mede a probabilidade de se amostrar aleatoriamente dois alelos homólogos, em um mesmo loco, e ambos alelos serem idênticos por descendência, ou seja, ambos serem cópias de um mesmo alelo de um antecessor recente. O coeficiente de endogamia, por sua vez, mede a probabilidade de se amostrar dois alelos homólogos, em um mesmo loco, em um mesmo indivíduo e ambos alelos serem idênticos por descendência, ou seja, ambos alelos serem cópias de um mesmo alelo presente em algum parente recente. Portanto, só haverá alelos idênticos por descendência na progênie se existir identidade por descendência entre os alelos presentes nos parentais, de forma que a coancestria entre dois indivíduos que se cruzam está diretamente correlacionada com a endogamia na descendência desses cruzamentos. Existem métodos especiais para a estimação tanto da endogamia como da coancestria, cuja aplicação tem sido bem-sucedida em diversas pesquisas dessa natureza. Número de Árvores Matrizes para a Coleta de Sementes O número de árvores matrizes para a coleta de sementes pode ser calculado, assumindo que um grande número de sementes é coletado de cada árvore matriz, de modo que seja retido na amostra total, o tamanho efetivo populacional (Ne) de referência de 100 a 150. Por tamanho efetivo entende-se que é a medida da representatividade genética contida na amostra em relação à geração imediatamente anterior, atentando para a contribuição com genes favoráveis para a formação das progênies posteriores. Assim, é muito importante considerar o número daquelas plantas que irão contribuir para a formação da próxima população.

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De maneira geral podem ser efetuadas estimativas para o número de árvores matrizes para a coleta de sementes, tanto para o reflorestamento florestal como para a formação de pomares de sementes. É recomendável plantar novas populações usando o tamanho efetivo de referência de pelo menos 100, e produzir sementes em pomares de sementes com ampla base genética, visto que essas sementes poderão ser utilizadas para reflorestamento ambiental de grandes áreas, requerendo um maior potencial evolutivo. A estimativa do número de árvores para a coleta de sementes, visando ao reflorestamento de áreas específicas pode variar entre 29 e 76, com média de 45 árvores matrizes, ao passo que para a implantação de pomares de sementes, o número pode variar entre 44 e 114, tendo como média 67 árvores matrizes. Recomendação Geral para a Coleta de Sementes 1. Marcar matrizes distanciadas entre si em pelo menos 100 metros, ou duas vezes a altura da árvore, para evitar coletar sementes de árvores parentes. 2. Coletar sementes em pelo menos 30 árvores matrizes para reflorestamento ambiental e em pelo menos 45 para a implantação de pomares de sementes, para evitar populações com o mínimo de variabilidade genética e potencial evolutivo. 3. Marcar muito mais árvores matrizes do que se pretende coletar de sementes (exemplo: para 30 árvores matrizes marcar 50 a 60), para garantir a coleta em um número de matrizes desejado em todos os eventos reprodutivos. 4. Marcar matrizes dentro da mesma subunidade populacional, com divergência genética menor que 5%, para aumentar a probabilidade de sucesso do reflorestamento em termos de sobrevivência, desenvolvimento dos genótipos e representatividade genética. 5. Coletar sementes preferencialmente na parte superior da copa das árvores para reduzir a possível proporção de sementes advindas da autofecundação. 6. Coletar quantidade adequada de sementes de um número representativo de árvores e misturá-las em proporções iguais ou aproximadamente iguais por matriz (controle gamético), para maximizar o tamanho efetivo da amostra. 7. Dados adicionais sobre o tamanho efetivo da população (Ne): Pontos a considerar no processo de coleta e preparo de amostras de sementes, levando em conta o tamanho efetivo com adequada representatividade genética: a) Cuidado especial deve haver para não comprometer o tamanho da amostra pela “ação danosa” da oscilação genética pelo efeito do afunilamento, fundador e pequeno tamanho da amostra por várias gerações (perda de alelos favoráveis na população). b) Influência da endogamia: F=1/2Ne c) Tamanho mínimo da amostra de sementes em plantas alógamas: 200 a 500 sementes. d) Tamanho mínimo da amostra de sementes em plantas autógamas: 1000 a 1500 sementes. 64


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e) Tamanho mínimo da amostra de sementes para conservar alelos raros (baixa frequência gênica: Ne=1000 a 2000 sementes). f) Número mínimo de plantas de uma espécie florestal: 50 a 100 plantas, sendo 50 sementes de cada matriz por população. g) Estratégia de coleta de germoplasma. h) Considerando que o tamanho efetivo (Ne) é função do número de indivíduos que contribui para gerar a população seguinte e não necessariamente do número de plantas no campo, pode-se considerar as seguintes situações: a) progênies de autofecundação: Ne= 1n; b) progênies de irmãos germanos: Ne= 2n; c) progênies de meios irmãos: Ne= 4n. (representatividade da frequência gênica ou frequência dos alelos favoráveis). i) Número mínimo de indivíduos representativos da população: 49. j) Estratégia de coleta de germoplasma: a) 2500 sementes colhidas de 100 plantas (Ne= 345); b) 2500 sementes colhidas de 150 plantas (Ne= 484) - maior representatividade genética. k) Processo sem controle de gametas femininos e masculinos: Ne= 4Nf x Nm/Nf+Nm, onde Nf é o número de gametas femininos e Nm o número de gametas masculinos.

Considerar que na distribuição geográfica dos alelos na população as seguintes situações podem ocorrer: alelos comuns dispersos, alelos raros dispersos, alelos comuns localizados e alelos raros localizados, levando em conta a variação genética livre das plantas autógamas e a variação genética potencial das plantas alógamas. Na estratégia de coleta do germoplasma é mais efetivo obter sementes da situação em que ocorram alelos comuns localizados, sem desprezar a possibilidade de recolher alelos raros localizados (baixa frequência), devido à alta resposta genotípica que podem representar.

Referências Bibliográficas SEBBEN, A. M. Sistemas de Reprodução em Espécies Arbóreas Tropicais e Suas Implicações para a Seleção de Árvores Matrizes para Reflorestamento Ambiental. In: HIGA, A. R.; SILVA, L. D. Pomar de Sementes de Espécies Florestais Nativas: FUPEF, 2006. p:93-105. VILELA-MORALES, E. A.; VALOIS, A. C. C.; NASS, L. L. Recursos Genéticos Vegetales. Brasília: EmbrapaSPI/Embrapa-Cenargen, 1977. 78p.

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9) Conservação de germoplasma e genética evolutiva Afonso Celso Candeira Valois Engenheiro Agrônomo, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador Aposentado da Embrapa.

A Genética Evolutiva que se constitui em uma síntese entre a genética e a ecologia de populações vem contribuindo para o desenvolvimento de princípios que têm grande aplicação na conservação e uso de recursos genéticos, especialmente em condições naturais. Embora se conheça a necessidade do estabelecimento de bancos de germoplasma através da coleção de sementes, indivíduos adultos ou cultura de tecidos, a implantação de reservas genéticas precisa ser considerada como parte de uma estratégia global de conservação. Esta necessidade é premente tendo em vista a velocidade com que os habitats vêm sendo perdidos, fragmentados ou transformados pelas diversas atividades humanas. As consequências disto são a redução drástica da variabilidade genética ou mesmo extinção de espécies, a subdivisão de habitats, a formação de novos ambientes, o aumento das condições de estresse, a mistura de conjuntos gênicos antes isolados, a intensificação da hibridação introgressiva (cruzamento interespecífico repetido ou

mesmo contínuo, ocasionando infiltração de genes de uma espécie para outra, em decorrência de falhas do mecanismo de isolamento reprodutivo, podendo ainda ocorrer segregação transgressiva, isto é, aparecimento de gerações segregantes com fenótipos diferentes dos progenitores com relação a um ou mais caracteres) e mesmo, a origem de novos taxa. Todas essas mudanças no ecossistema envolvem processos evolutivos. Dentro deste contexto, a Genética Evolutiva oferece o instrumental necessário para os estudos desses processos a curto e longo prazo, e a possibilidade de se prever as consequências genéticas e ecológicas dessas alterações tanto no nível de populações como de comunidades. Consequentemente, a Genética Evolutiva vem oferecendo embasamento teórico para a discussão de tópicos como a manutenção da variabilidade dentro e entre populações, sobrevivência e extinção, estabilidade da densidade populacional e diversidade dentro de comunidades, entre outras. Esta discussão é fundamental tendo em vista que o objetivo básico da conservação in situ é a manutenção da variabilidade genética suficiente para possibilitar a evolução contínua em ecossistemas que vêm sendo modificados no espaço e no tempo. Essa conservação envolve tanto comunidades inteiras como populações de espécies selvagens, bem como, os complexos de espécies “cultivadas-invasoras66


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selvagens” comuns em muitos centros de origem. Como é sabido, as espécies vegetais podem apresentar distribuição geográfica ampla ou ocorrer de forma endêmica em uma área restrita e, dentro da sua amplitude de distribuição podem ocorrer de forma esparsa ou concentrada, formando colônias. Além disso, as populações podem apresentar variações periódicas ou estacionais de densidade. As primeiras consequências das alterações causadas pelo ser humano nos ecossistemas ocorrem normalmente sobre os padrões de distribuição geográfica e de abundância, podendo levar tanto à extinção (caso de espécies endêmicas) como a descontinuidade na distribuição geográfica, criando várias “ilhas ou demes” de tamanho e densidade variáveis, alterando o padrão de variação genética. O processo de quebra da distribuição contínua de espécies em “ilhas” ocorreu em áreas extensas no passado devido a mudanças ambientais ou mesmo atividades antrópicas extrativistas, pastoris e agrícolas que vêm ocorrendo aceleradamente no presente. Um exemplo bem marcante quanto à ocorrência dessas “ilhas” na Amazônia é aquele que ocorre nos lavrados de Roraima, onde maciços de florestas estão em meio à vegetação de cerrados. Pelo lado oposto, no Acre foram abertas clareiras em meio à floresta para o estabelecimento artificial da seringueira, visando ao enriquecimento! Essas alterações drásticas dos padrões de distribuição têm implicações na estrutura demográfica (flutuação e redução da

densidade) e na estrutura genética (manutenção da variabilidade e sobrevivência) e se constituem em ameaças centrais tanto para a conservação in situ (estratégias de manejo) como ex situ (estratégias de amostragem). O desenvolvimento dos aspectos teóricos relacionados à diversidade de espécies em “ilhas” recebeu grande impulso a partir da “teoria de biografia de ilhas” em 1967. Segundo esta teoria, a diversidade de espécies aumenta proporcionalmente ao tamanho da “ilha” a das taxas de imigração, porém a composição de equilíbrio depende das relações entre as taxas de colonização e extinção, da diversidade ambiental e dos resultados da evolução dos nichos. Por outro lado, as taxas de colonização dependem das taxas relativas de nascimento e morte (tabelas vitais), da capacidade de dispersão e das alterações evolutivas nesses parâmetros, considerando que o efeito de dispersão entre “ilhas” é função do tamanho e distância entre as mesmas. Essa teoria tem implicações nas estratégias de amostragem do material genético dentro e entre “ilhas” e no manejo de reservas genéticas que podem ser formadas por uma grande área, porém com inúmeros habitats ou “ilhas” internas, ou serem constituídas por diversas pequenas áreas isoladas dentro de uma região. A variação genética dentro de uma espécie subdividida em “ilhas” foi extensivamente pesquisada, principalmente em relação às características de mudanças evolutivas. Assim foi mostrado que o balanço dos vários fatores evolutivos (mutação, 67


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migração, recombinação, seleção natural e deriva genética) é quem determina o padrão de variação, e não um único fator isolado. Por exemplo, na ausência da seleção natural, a deriva genética tende a produzir grande diferenciação genética, enquanto a migração entre populações tende a diminuir o efeito da deriva. Deve-se chamar a atenção para o fato de que a variação genética pode oferecer um importante instrumento para pesquisas ecológicas, principalmente para monitorar as estratégias de manejo a serem empregadas na conservação de espécies em reservas naturais. Nesse sentido, estudos experimentais envolvendo polimorfismo genético são essenciais na determinação do tamanho efetivo da população, da condição da estabilidade demográfica, da quantidade da variabilidade genética para a evolução contínua, das ameaças resultantes do isolamento reprodutivo e da endogamia depressiva. Esse polimorfismo pode ser expresso no nível morfológico (marcadores genéticos fenotípicos), marcadores moleculares ou mesmo com o uso da técnica do DNA recombinante. Dentro da necessidade da reconstrução de nichos alterados pela implantação de áreas de conservação de recursos genéticos in situ, aparece a restauração ecológica na qualidade de uma nova estratégia de se estabelecer reservas genéticas em áreas degradadas. Neste caso, a Genética Evolutiva tem a oferecer princípios que permitem entender as ameaças relacionadas à adaptabilidade,

persistência das populações, padrões espaciais de distribuição e abundância, além da dinâmica de sucessão, essenciais na restauração ecológica para a conservação in situ. Portanto, a Genética Evolutiva que nestes últimos anos vem buscando uma síntese entre a genética e a ecologia de populações, tem a oferecer aos pesquisadores envolvidos na conservação de recursos genéticos e outros interessados, um conjunto de princípios fundamentais no equacionamento de estratégias de conservação que visam fundamentalmente, a manutenção ou estabelecimento de condições que permitam a continuidade dos processos evolutivos. A possibilidade dessa continuidade e da evolução de novas estratégias adaptativas aos ambientes que vêm sendo alterados rápida e profundamente através de ações antrópicas é condição essencial não só para a sobrevivência das plantas, animais e microrganismos, como também do próprio ser humano. Isso não é diferente no Estado do Amazonas, por exemplo, antes tido como uma Unidade da Federação Brasileira que bem cuidava das suas florestas naturais, se for observado o grande antropismo que vem ocorrendo em muitas das suas regiões, especialmente no sul do Estado, onde os recursos madeireiros vêm sendo explorados de maneira ilegal. Neste e em outros contextos é também importante considerar aspectos da Genética Ecológica em articulação com a Conservação de Recursos Genéticos e com a Genética Evolutiva. 68


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Em Genética Ecológica podem ser considerados os seguintes temas: distribuição espacial e abundância, fixação de nitrogênio e micorrizas, dormência de sementes, tolerância de genótipos à seca, populações estrategistas r e K, fixação de carbono fotossintético e análise de proteínas, dentre outros.

originados de fatores como: a) tendência dos descendentes se arranjarem em volta dos pais, como resultado da dispersão de sementes próximo à planta-mãe ou mesmo da reprodução vegetativa; b) dispersão uniforme ou aleatória, porém em agrupamento de habitats favoráveis à colonização pelas espécies.

Para o caso da distribuição espacial e abundância, pode-se citar plantas como leguminosas forrageiras de hábito de crescimento rasteiro que têm distribuição aleatória, fixa (colonial) e uniforme.

A distribuição espacial de espécies em um nicho pode ser gerada pela heterogeneidade do habitat. Para o conhecimento das densidades existem determinações absolutas e relativas.

A distribuição aleatória é quando a presença de um indivíduo em um ponto não influi na chance de aparecimento de outro indivíduo da mesma população nas adjacências. Já na forma colonial, a ocorrência de um indivíduo em um ponto aumenta a probabilidade de ser encontrado outro membro da mesma população naquele ponto. Na distribuição uniforme, a presença de um componente de uma população em um determinado ponto diminui a chance de ocorrência de outro componente da mesma população em um ponto adjacente.

A medida absoluta pode ser feita por contagem direta ou por amostragem, e neste último caso existem vários métodos, onde se destaca o método do quadrado (mais para planta) e o método da captura, marcação e recaptura (mais para animais).

A distribuição aleatória e colonial é influenciada pela forma de reprodução da planta, isto é, se de autofecundação geralmente a distribuição é colonial (agregada), enquanto que se a forma de reprodução sexuada for cruzada, a tendência é para a distribuição aleatória. Para o caso da distribuição colonial, trata-se de uma forma mais comum de ocorrência de espécies, sendo os agregados

O método do quadrado pode ser aplicado tanto pelo processo de isomonas como pelo processo do “transect”, não havendo diferença significativa entre os dois. O processo de isomonas é feito a partir do estabelecimento de uma área que pode ser de 10m x 10m dividida em pequenos quadrados de 0,5m x 0,5m, totalizando 400 quadrados. No processo do “transect” são alocados quadrados de 0,5m x 0,5m, a cada cinco metros, ao longo de linhas que partem de um mesmo ponto em quatro direções. Deste modo, a aplicação de métodos utilizados na Genética Ecológica também oferece bons subsídios para o sucesso da conservação de recursos fitogenéticos.

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10) Tecnologia apropriada e agricultura familiar Afonso Celso Candeira Valois Engenheiro Agrônomo, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador Aposentado da Embrapa.

Um dos grandes desafios das tecnologias apropriadas geradas para o desenvolvimento da agricultura sustentável é de como as mesmas poderão ser úteis para a agricultura familiar, no sentido de tirá-la da subsistência e inseri-la no ramo do agronegócio, especialmente em países emergentes. Para isso, primeiramente devese considerar as principais bases para a geração dessas tecnologias, que são a biodiversidade no sentido holístico e os recursos genéticos de plantas, animais e microrganismos componentes da mesma. Levando-se em conta que o Brasil é possuidor da maior biodiversidade do Planeta, com cifras ao redor de 20%, os pequenos agricultores, incluindo as populações tradicionais, os povos indígenas, as quebradeiras de coco, os quilombolas, os ribeirinhos e outros, devem considerar os recursos genéticos autóctones e exóticos na formação e manutenção das suas propriedades, praticando assim, a conservação in situ e uso sustentável, além da agrobiodiversidade. A prática da conservação ex situ é também apropriada. Desse modo podem não só utilizar continuadamente as espécies adaptadas ao meio ambiente com claras vantagens comparativas, como também explorá-las quanto à repartição justa e equitativa dos benefícios oriundos do uso para fins da geração de novas tecnologias, considerando ainda os retornos monetários devidos aos conhecimentos tradicionais associados e aos possíveis serviços ambientais. É a prática do direito do agricultor, levando em conta as leis de propriedade intelectual! Dentro de uma discussão que não tem sido muito usual, considerando as várias camadas dos agricultores familiares, pode-se estabelecer uma comparação ética e respeitosa incluindo a palavra epistemologia, que literalmente significa o tratado ou teoria do conhecimento científico ou da ciência inovadora. Esse termo técnico-científico também poderia ser utilizado no sentido da teoria do conhecimento natural, envolvendo a sabedoria dos agricultores e os saberes cotidianos, também chamados de conhecimento local, tradicional ou autóctone. A única diferença entre o conhecimento científico e os saberes locais populares é que estes últimos geralmente não são repetidos ou mesmo não devem ser extrapolados, pois podem conduzir a enganos irreparáveis. Mas, na medida do bom senso, podem ser levados em conta em casos 70


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específicos. Por exemplo, a sabedoria natural de um pajé em uma tribo indígena é da maior utilidade para a cura de doenças humanas pelo uso de plantas medicinais. No entanto, a posologia desses medicamentos não deve ser horizontalizada para todas as drogas e usuários devido às diferenças intrínsecas e extrínsecas, pois os testes biológicos são essenciais, se valendo de práticas laboratoriais e de métodos estatísticos empíricos. Em extensão, não se deve olvidar a bela história do pássaro João de Barro, que aprendeu a construir a sua casa na “universidade natureza”, o que também é o caso do Japiim que faz o seu ninho de maneira arquitetônica! No sentido amplo, vale ressaltar para o caso específico do Nordeste, diante da atual disponibilidade de tecnologias de ponta existente no País, cuja transferência pode ser facilitada através do pleno desenvolvimento de atividades de PD&I e ATER em instituições públicas e privadas, onde por exemplo ocorrem recursos genéticos muito especiais em face da existência da sobreposição de biomas (grandes áreas geográficas com a predominância de um tipo de vegetação bem marcante). Em decorrência, os genótipos existentes são possuidores de uma considerável plasticidade fenotípica e homeostase do desenvolvimento, que os conduzem a ser possuidores de uma grande capacidade de adaptação em mais de um bioma, fator muito importante para uso em programas de melhoramento genético. Nos vários nichos ecológicos regionais é notória a ocorrência de importantes recursos genéticos autóctones e naturalizados, inclusive como suporte ao desenvolvimento territorial rural regional e local, servindo ainda para a adesão de outros fatores de agregação de valores como o artesanato e o turismo científico e ecológico. Além disso, é notável a presença de recursos genéticos marinhos e aquáticos como sustentáculos para a prática da pesca sustentável e para a própria aquicultura. Em termos da manutenção de um ambiente sadio, livre dos malefícios causados pelos efeitos residuais de defensivos agrícolas, a prática do controle biológico no manejo integrado de pragas e doenças da agricultura, por exemplo, é um caminho que vislumbra inúmeras e importantes oportunidades, inclusive para a produção de alimentos seguros para a nutrição e saúde do consumidor, especialmente em um País que anualmente despeja grandes volumes de agrotóxicos na sua agricultura. Na visão estratégica e gestão tática e operacional é muito importante a adoção do propalado plano ABC (agricultura com baixa emissão de carbono), cujas tecnologias de ponta envolvidas correspondem à execução de uma agricultura sadia, promissora, rentável e sustentável. Considerando as vantagens da produção mais econômica, a diminuição dos impactos ambientais, o aumento da segurança alimentar e dos alimentos livres de perigos biológicos, químico, físicos e ambientais para o benefício dos consumidores, além da redução da exposição dos trabalhadores rurais a substâncias tóxicas, hoje existem inúmeras tecnologias de controle biológico perfeitamente adaptáveis ao uso pelos pequenos produtores rurais. Dentre essas tecnologias, destacam-se: o controle da lagarta da soja com Baculovirus, o controle da vassourade-bruxa do cacaueiro com Trichoderma, o controle do percevejo da seringueira com Sporotrix, o controle do mal-das-folhas da seringueira com Dycima, o controle de condicionantes biológicos de hortas e pomares, da lagarta do milho e de plantas daninhas, dentre outras, que encontram 71


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no controle biológico um meio eficaz e econômico, de cunho preventivo e curativo, socialmente justo, ambientalmente correto e politicamente ético, legal e transparente. Outro ponto a destacar é o emprego de biotécnicas em prol do pequeno produtor agrícola. Em termos de tecnologias de ponta, uma das grandes prioridades da biotecnologia é a sua aplicação em benefício da agricultura familiar. Para isso, primeiramente tem que ser perenizado o compromisso governamental com o componente social, com ênfase no “desenvolvimento social inclusivo”, para redução da enorme “apartação” existente no Brasil. Isso dará margem ao fortalecimento da geração, adaptação, extrapolação e direcionamento de tecnologias de ponta apropriadas para emprego na pequena agricultura. Dentre essas já podem ser citadas as seguintes: variedades transformadas geneticamente contendo genes que conferem resistência a pragas e doenças e que são produtivas; o “arroz dourado”, rico em vitamina A (prevenção contra cegueira) e em ferro (previne contra anemia); arroz aromático, de excelente qualidade e inovador culinário; cultivares de estévia, que produzem edulcorantes (substâncias extremamente doces, não absorvidas pelo corpo humano), úteis para uso por pessoas diabéticas; cultivares com limpeza varietal, livres de patógenos, empregando técnicas de cultura de tecidos; kits para o monitoramento da ocorrência de doenças na agricultura; cultivares apomíticas, que permitem aos agricultores o plantio de suas próprias sementes ano após ano, que reproduzem as características da plantas originais, evitando a aquisição de novas sementes; tecnologia de genética genômica, que permite maior velocidade na geração de novas variedades para uso pelo pequeno agricultor; variedades de algodão colorido que possuem alto valor de comercialização por dispensar o uso de corantes artificiais em confecções; variedades de mandiocas especiais produtoras de açúcar em sua rota metabólica; mandiocas e melancias de polpa amarela, ricas em betacaroteno (precursor da vitamina A); cultivares de bananas ricas em vitamina A e silício (promove a elasticidade da pele, evitando rugas e outros efeitos indesejáveis), resistentes à sigatoka negra (séria doença fúngica); cultivares de mangas de elevado valor comercial ricas em vitamina A e silício; clones de cupuaçu resistentes à doença vassoura-de-bruxa; variedades de açaí com maior conteúdo de polpa, ricas em antocianinas (antioxidantes- previnem contra o envelhecimento precoce de células) e ferro; diversos outros alimentos funcionais, ricos em substâncias que promovem efeitos benéficos à saúde dos consumidores; biorremediação para descontaminação de mananciais de água e o uso da bioinformática e de outros programas computacionais para a modernização do gerenciamento do agronegócio familiar, além de outras. Ainda mais, à agricultura familiar poderão ser acrescentadas outras atividades paralelas, mais modernas e capazes de elevar a renda dos pequenos empreendimentos, como é o caso da produção caseira de cogumelos comestíveis e nutracêuticos, com efeitos medicinais positivos. Nesse sentido, nos dias atuais estão disponíveis tecnologias simples, baratas e extremamente eficazes para a produção e comercialização desses alimentos funcionais. Além disso, o plantio de áreas com espécies florestais em sistemas agroflorestais, em módulos mínimos econômicos, usando espécies de alto valor de retorno como o mogno, teca, nim e eucalipto em associação com outras espécies de plantas e pequenos animais, além de 72


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espécies medicinais para serem usadas em farmácias vivas poderão acrescentar novos ganhos à renda familiar. Nesse sentido, a biotecnologia tem disponibilizado tecnologias de ponta apropriadas. Outro ponto de destaque para o pequeno agricultor/criador é o uso de animais naturalizados que possuem imunidade a fatores bióticos e tolerância a condicionantes abióticos, que influem negativamente na pecuária. No Brasil existem diversas espécies de animais que podem ser utilizadas na criação familiar com plenas vantagens comparativas, como: gado bovino pantaneiro, gado bovino curraleiro, cavalo pampeiro, cavalo pantaneiro, cavalo lavradeiro, cavalo marajoara, cavalo baixadeiro e raças de búfalos apropriadas, além de raças de suínos (exemplo do porco “focinho de garrafa” e porco monteiro), ovinos e caprinos, dentre outras. Caso os pequenos produtores venham a se organizar em associações e/ou cooperativas é possível ainda a utilização de refinadas tecnologias de reprodução animal com destaque para os bovinos, referentes à inseminação artificial, bipartição e transferência de embriões, punção folicular (PF) e fecundação in vitro (FIV). Somente na junção PF-FIV é possível a obtenção do formidável número de cerca de 40 bezerros a partir de uma única vaca matriz ao longo do seu ciclo produtivo ativo, através da utilização de outras vacas “mães de aluguel”. Para se ter uma ideia da importância da PF-FIV, uma vaca bovina em condições naturais não ultrapassa de 15 parições em todo o ciclo sexual ativo. Essa tecnologia (PF-FIV) foi adaptada e aprimorada na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), já estando disponível, ao alcance e domínio dos pecuaristas interessados na melhoria quantitativa e qualitativa dos seus rebanhos.

Na atual disputa no âmbito dos mercados globalizados da economia vencerão aqueles que acreditarem no uso das tecnologias de ponta apropriadas e competitivas com amplas vantagens comparativas, e nesse sentido muito ainda tem que ser feito em benefício do sucesso do agronegócio familiar, que é aplicado em cerca de 85% dos mais de cinco milhões empreendimentos agrícolas brasileiros.

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11) O Jogo do Germoplasma: Uma alternativa de ensino para potencializar a aprendizagem em disciplinas sobre Recursos Genéticos

Tiago Maretti Gonçalves Licenciado em Ciências Biológicas, UNIFAL – MG, Me. em Genética e Melhoramento, UEM – PR, Doutorando em Genética Evolutiva e Biologia Molecular - UFSCar – SP.

Alessandra Pereira Fávero Eng.Agr., UnB – DF., Me. em Ciências Biológicas – AC: Genética, UNESP/Botucatu – SP, Dra. em Agronomia – AC: Genética e Melhoramento de Plantas, ESALQ/USP – SP. Pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste. É credenciada no Programa de Pós-Graduação em Genética Molecular e Biologia Evolutiva (PPGGEV) da Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR, como orientadora de mestrado e doutorado. Ministra a disciplina "Recursos Genéticos" para alunos de pós-graduação do PPGGEV-UFSCAR. Especialista em Arachis e Paspalum.

Naiana Barbosa Dinato Licenciada em Ciências Biológicas, ULBRA – GO., Me. em Genética Evolutiva e Biologia Molecular – UFSCar – SP, Doutoranda em Genética Evolutiva e Biologia Molecular - UFSCar – SP.

Introdução O Brasil está entre os países com maior diversidade biológica, por seu número de espécies vegetais, animais e microrganismos descritos taxonomicamente. É importante destacar que, somente em plantas superiores, o Brasil possui cerca de 55 a 60 mil espécies, correspondente a algo em torno de 22% do total aproximado de 250 mil existentes em todo o globo terrestre. O Pantanal, a Caatinga, Cerrado e a Amazônia, por exemplo, são biomas que possuem verdadeiros bancos naturais de recursos genéticos ainda em descobrimento (GIACOMETTI, 1993; VALOIS, 2016). Contudo, a realidade mais preocupante é que habitats naturais têm sido degradados, independentemente do bioma. Os recursos genéticos em condições in situ estão reduzindo em área e sofrendo erosão genética em diversidade devido à ação antrópica, destinando o uso das áreas à agropecuária, à formação e expansão de cidades etc. O estudo em temas relacionados a Recursos Genéticos, sua conservação e uso pode ser uma das formas de compreensão e redução do impacto da destruição de grandes áreas naturais. 74


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Dentro da ementa dos cursos stricto sensu, principalmente os de pós-graduação em Genética, o ensino de tópicos voltados aos Recursos Genéticos tem sido cada vez mais frequente. Com reconhecida importância dentro da Genética, a área de Recursos Genéticos envolve uma ampla quantidade de informações e conceitos que devem ser muito bem assimilados pelos alunos. Atualmente, em diversos cursos de pós-graduação, a disciplina de Recursos Genéticos é ministrada a partir de aulas expositivas, práticas, com visitas a Unidades de Pesquisa, etc. Desta maneira, propomos a construção e utilização de um jogo de perguntas e respostas que abordem desde conceitos básicos até mesmo estudos de caso, para que os professores possam ter à disposição mais esta ferramenta para promover maior interesse dos alunos no tema, tornando a aula mais dinâmica, interativa e facilitando o processo de ensino e da aprendizagem. Acreditase que com esta abordagem e tipos de perguntas, os alunos poderão simular situações em que são responsáveis pela preservação in situ e/ou conservação ex situ de recursos genéticos e testarem suas reações frente aos desafios. Vale ressaltar que o tema do jogo pode ser escolhido e alterado facilmente de acordo com a realidade do grupo e temas abordados. É possível adaptálo inclusive para assuntos relacionados especificamente a Recursos Genéticos Vegetais, Animais ou de Microrganismos, às atividades específicas (coleta, intercâmbio, caracterização, identificação, documentação, informatização, preservação, conservação, educação ambiental e uso). É possível adaptar as perguntas específicas ou genéricas. Objetivo da atividade: Assimilar conceitos dentro da disciplina de Recursos Genéticos, utilizando um jogo de tabuleiro. Sobre o Tabuleiro: O tabuleiro é composto por 16 casas das quais, 2 casas são de posição (entrada no jogo e saída), 10 casas de perguntas e 4 casas com a temática “Sorte ou Azar”. É recomendado, a sua elaboração a partir de um programa de gráfico que pode ser projetado durante a aula. Na Figura 1 encontra-se um modelo proposto do tabuleiro.

Figura 1. Modelo proposto para o tabuleiro do jogo

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Instruções para o jogo: Os jogadores serão distribuídos em dois grupos. O início pode se dar por sorteio simples dos grupos, com tempo aproximado da atividade, de 60 minutos. As perguntas devem ser lidas, em voz alta, pelo instrutor, dirigida aos alunos jogadores (* O professor fica livre para elaborar outras ou mais questões, e julgar os erros e acertos). Ao errar a resposta à uma questão o grupo sofrerá alguma penalidade que estará discriminada nas cartas. Acertando a resposta o grupo avança uma casa no jogo. A temática “Sorte ou Azar” no tabuleiro corresponde a cartas que poderão conter algum prêmio “SORTE” ou penalidade “AZAR” que deverão ser retiradas pelo instrutor ou algum membro da equipe jogadora aleatoriamente (Figura 2). Vence o jogo, a equipe que responder corretamente ao maior número de perguntas chegando, portanto, em primeiro lugar no fim do percurso. Cartas do jogo: Abaixo encontram-se as perguntas que poderão ser impressas e lidas pelo professor em voz alta para a turma no momento da realização da atividade e as ações da casa “Sorte ou Azar” no tabuleiro do jogo (Figura 2).

Exemplos de questões que podem ser propostas em um jogo: No caso sugere-se um número de 18 a 20 perguntas, que seriam suficientes para completar o jogo no tempo estimado para uma aula. Ex.: Pergunta 1: Quais são os principais métodos de conservação de germoplasma para uma coleção biológica de microrganismos? Errar: Perde uma jogada. Pergunta 2: Você e sua equipe são responsáveis por um núcleo de conservação de uma raça de cavalos pantaneiros. Desejando conservar por um longo período o sêmen de alguns animais, qual tipo ideal de conservação de germoplasma seria proposto? Explique. Errar: Perde uma jogada. Pergunta 3: Houve uma tempestade, e alguns acessos do seu Banco Ativo de Germoplasma (BAG), conservado a campo, foram perdidos. Como você deverá proceder para recuperar o germoplasma? Errar: Perde duas jogadas. Pergunta 4: Você e sua equipe gostariam de realizar a caracterização do BAG. Sabendo que existem poucos recursos financeiros, qual o tipo de caracterização inicial seria o mais recomendado? Justifique sua resposta. Errar: Volte uma casa. Pergunta 5: Você e sua equipe conseguiram realizar a caracterização fenotípica do BAG, como vocês procederiam para documentar essas informações? Errar: Perde uma jogada. Pergunta 6: Um pesquisador de uma instituição pública visitou seu BAG e perguntou a você e sua equipe qual seriam as definições de Preservação “in situ”, Conservação “ex situ” e Preservação/Conservação “on farm”. Como você explicaria cada uma delas? Errar: Perde duas jogadas. 76


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Pergunta 7: O que é Coleção Nuclear e o que deve ser feito para estabelecer essa coleção? Errar: Volte duas casas. Pergunta 8: Você e sua equipe decidiram constituir um laboratório de conservação in vitro. Quais os pontos positivos e negativos deste tipo de conservação? Explique. Errar: Perde uma jogada. Pergunta 9: Você e sua equipe receberão sementes de acessos provenientes de outro país que serão incorporados no BAG. O que é necessário fazer antes da incorporação deste material? Explique. Errar: Volte uma casa. Pergunta 10: Cite as principais diferenças entre: Patrimônio Genético, Recursos Genéticos e Germoplasma. Errar: Fique uma vez sem jogar. Pergunta 11: Explique a frase: Todo germoplasma é um recurso genético, mas nem todo recurso genético é um germoplasma. Errar: Volte uma casa. Pergunta 12 O que é um Banco Base de Germoplasma? Explique fornecendo exemplos. Errar: Volte uma casa. Pergunta 13: Foram isolados embriões do BAG Caprinos e grãos de pólen do BAG Citros. Você gostaria de conservar estes materiais utilizando a técnica de criopreservação. Explique os pontos positivos e negativos desta técnica? Errar: Fique uma vez sem jogar. Pergunta 14: Defina pré-melhoramento e qual sua importância para um BAG e para o melhoramento? Errar: Volte uma casa. Pergunta 15: Defina conhecimento tradicional associado a um determinado acesso de um BAG e qual seu impacto na conservação e uso do germoplasma? Errar: Volte uma casa. Pergunta 16: Você e sua equipe desejam enviar sementes de vários acessos do BAG Feijão para o Banco Base da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – DF. Quais são os principais cuidados a serem tomados para o envio destas sementes? Errar: Fique uma vez sem jogar. Pergunta 17: Quais são os pontos fortes e fracos da preservação in situ de germoplasma? Errar: Volte uma casa. Pergunta 18: Quais os pontos fortes e fracos da conservação ex situ de germoplasma? Errar: Volte uma casa.

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Ações com temática “SORTE” ou “AZAR”:

CARTA SORTE:

CARTA AZAR:

Sua coleta foi bem-sucedida. Avance duas casas!

Seu banco de germoplasma foi tomado por pragas. Volte uma casa!

CARTA SORTE:

CARTA AZAR:

Você e sua equipe conseguiram mais recursos financeiros para a conservação do BAG. Avance uma casa!

Você documentou de maneira errônea vários acessos do BAG. Fique uma vez sem jogar!

Figura 2. Cartas de sorte e azar.

Conclusão Tal jogo se mostrou muito eficiente e útil para avaliação pelo professor do que foi realmente assimilado por seus alunos, assim como para motivação pelo tema de recursos genéticos, sendo, portanto, recomendado pelos autores.

Bibliografia GIACOMETTI, D. C. Recursos genéticos de fruteiras nativas do Brasil. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE RECURSOS GENÉTICOS DE FRUTEIRAS NATIVAS, 1992, Cruz das Almas, BA. Anais, Cruz das Almas: EMBRAPA-CNPMF, 1993. p. 93-99. VALOIS, A.C.C. A biodiversidade e os recursos genéticos. In Recursos genéticos e Melhoramento de plantas para o Nordeste Brasileiro. Disponível em: http://www.cpatsa.embrapa.br/catalogo/ livrorg/biodiversidade.pdf. Acesso em: 31 maio 2016.

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12) Importância da Criopreservação de Grãos de Pólen em Gramíneas Forrageiras

Naiana Barbosa Dinato Licenciada em Ciências Biológicas, ULBRA – GO. Me. em Genética Evolutiva e Biologia Molecular – UFScar – SP. Doutoranda em Genética Evolutiva e Biologia Molecular - UFSCar – SP.

Alessandra Pereira Fávero Eng. Agr., UnB – DF. Me. em Ciências Biológicas – AC: Genética, UNESP/Botucatu – SP. Dr. em Agronomia – AC: Genética e Melhoramento de Plantas, ESALQ/USP – SP. Pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste. É credenciada no Programa de Pós-Graduação em Genética Molecular e Biologia Evolutiva (PPGGEV) da Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR, como orientadora de mestrado e doutorado. Ministra a disciplina "Recursos Genéticos" para alunos de pós-graduação do PPGGEV-UFSCAR. Especialista em Arachis e Paspalum.

Izulmé Rita Imaculada dos Santos Bióloga, UFU – MG. Me. em Botânica, USP – SP. Dr. em Fisiologia do Estresse Vegetal, CSU (Colorado State University) – CO. Pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (CENARGEN), especialista em criopreservação de recursos fitogenéticos.

Tiago Maretti Gonçalves Licenciado em Ciências Biológicas, UNIFAL – MG. Me. em Genética e Melhoramento, UEM – PR. Doutorando em Genética Evolutiva e Biologia Molecular - UFSCar – SP.

Introdução No Brasil, a atividade com maior expressão no uso da terra é a pecuária, com o maior rebanho bovino comercial do mundo, estimado em 180 milhões de cabeças (PAULINO et al., 2008). Este rebanho tem a pastagem como base alimentar (99% de sua dieta), (BÜRGI& 79


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PAGOTO, 2002) movimentando um mercado anual de mais de 100 bilhões de dólares, representando 30% do PIB do agronegócio e aproximadamente 7% do PIB brasileiro (ABIEC, 2015). Segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE (2007), aproximadamente 20% do território brasileiro e 70% de sua área agricultável é composto por áreas pastoris, somando mais de 170 milhões de hectares direcionados apenas para pastagens. Este número é maior até mesmo que os 99,9 milhões de hectares ocupados com matas e florestas e os 76,7 milhões de hectares usados para lavoura. Como característica das áreas destinadas à pastagem, destaca-se a monocultura de gramíneas de origem africana, estabelecidas após o desmatamento de floresta ou em substituição a outros tipos de vegetação nativa (MOREIRA, ARAUJO & FRANÇA, 2006). As principais espécies utilizadas são dos gêneros Andropogon L., Brachiaria (Trin.) Griseb., e Panicum L. (BATISTA & GODOY, 2000), sendo que cerca de 85% da área de pastagens é ocupada com o gênero Brachiaria (MACEDO, 2006). Como alternativa de cultivo com espécies nativas, a família Poaceae (R.Br.) Barnh. apresenta notável importância para o Brasil, pois engloba diversos gêneros com um alto valor forrageiro. Dentro desta família temos o gênero Paspalum, considerado como o mais importante dentro da nas Américas (ALISCIONI, 2002; BARRETO, 1974; CHASE, 1929; GOMES, 1995), sendo diversas espécies nativas do Brasil com um alto valor forrageiro. Compreende cerca de 330 espécies distribuídas em regiões tropicais, subtropicais e temperadas, basicamente no continente americano (ZULOAGA& MORRONE, 2005). Ocorrem em todo o Brasil, no leste da Bolívia, Paraguai, norte da Argentina e Uruguai (QUARÍN, VALLS& URBANI, 1997). Apesar de o Brasil estar entre os países com maior diversidade genética de Paspalum disponível, sendo considerada sua ocorrência extremamente relevante na flora nativa dos Pampas do Rio Grande do Sul, o seu uso como forrageira em monocultivo é ainda raro. As poucas variedades de Paspalum disponíveis no mercado mundial foram obtidas por meio da seleção de germoplasma nativo (BURTON; GATES& GASH, 1997). Com o objetivo de conservar e utilizar espécies do gênero, a Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos - SP, abriga o Banco Ativo de Germoplasma de Paspalum (BAG), que conta com mais de 300 acessos de 49 espécies distintas, distribuídas em 17 grupos informais. Neste banco há diversas espécies com grande potencial como forrageira (BATISTA & GODOY, 2000; BATISTA; GODOY & REGITANO NETO, 1999) ou como cobertura vegetal (CASTRO et al., 2015). Assim, com a demanda que há por plantas forrageiras, o interesse e necessidade por pesquisas sobre materiais potenciais e melhoramento genético tem se intensificado significativamente no Brasil e em toda a América do Sul. No Brasil, é relativamente recente a pesquisa em melhoramento genético de forrageiras, especialmente quando se compara com o melhoramento de forrageiras subtropicais como: alfafa, azevém e trevo. As pesquisas com melhoramento de forrageiras tropicais são realizadas principalmente em instituições públicas, com o objetivo de selecionar cultivares mais produtivas e melhor adaptadas às condições dos diversos ecossistemas sul americanos (SCHULTZE-KRAFT, 1980). Primeiramente, os programas de melhoramento visavam à seleção de genótipos per se, e mais recentemente ainda, 80


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são realizados cruzamentos e obtenção de novas cultivares de forrageiras híbridas no Brasil como por exemplo, Panicum maximum Jacq. cv. BRS Tamani (BRS TAMANI, 2015). No entanto há vários desafios a serem enfrentados, que limitam as pesquisas sobremaneira; como diferentes ploidias e falta de sincronismo fenológico. Então, não raro, antes de iniciar programas de melhoramento genético de forrageiras, é necessário acumular conhecimento básico dos aspectos biológico das espécies, para a obtenção de indivíduos sexuais tetraplóides e o cruzamento destes com acessos apomíticos, tendo assim a possibilidade de unir características de interesse como: alta produção, baixa estacionalidade, e alta qualidade bromatológica; atividades estas que estão longe de serem triviais. Uma ferramenta aplicável à falta de sincronização de florescimento entre os potenciais genitores é a criopreservação, na qual busca-se o armazenamento de grão de pólen, visando conservar a viabilidade dos gametas masculinos por diferentes períodos (FERREIRA et al., 2007). Neste método, coloca-se o pólen em nitrogênio líquido (–196ºC) ou em sua fase de vapor (–150ºC). A capacidade de sobrevivência dos tecidos vegetais à criopreservação depende de sua tolerância à desidratação e à temperatura (SANTOS, 2000). O sucesso da criopreservação independe do tempo de armazenamento, mas depende da umidade e da temperatura (DEAN, 1965; GANESHAN, 1986; LINSKENS, 1964). Contudo, há poucos relatos na bibliografia de estudos de conservação em longo prazo utilizando criopreservação de grãos de pólen de gramíneas. Encontrou-se trabalhos apenas com milho (KERHOAS, GAY& DUMAS, 1987; BARNABAS et al., 1988; ALVIM, 2008, DAVIDE et al., 2009) e Paspalum (DINATO, 2016), contudo acredita-se no grande potencial de adaptação de metodologias utilizadas com sucesso nestes gêneros que podem ser também utilizadas para outros gêneros de gramíneas. Para que o estudo da criopreservação de pólen seja eficiente, é necessário conhecer a fenologia reprodutiva das espécies de interesse. Esses estudos avaliam a relação entre a frequência, duração e regularidade das fenofases das plantas, relacionando-as com os fatores abióticos, (temperatura, umidade, precipitação e fotoperíodo bióticos, endógenos e filogenéticos (WILLIAMS–LINERA & MEAVE, 2002). A floração é a primeira fenofase reprodutiva expressa pela planta, por isso, presume-se que a indução do período reprodutivo ocorra primeiro nesse ponto. (IMAIZUMI & KAY, 2006). Segundo Almeida (1995) há três padrões fenológicos em gramíneas do cerrado: as precoces de ciclo curto (ciclo reprodutivo muito curto, de novembro a janeiro); as precoces de ciclo longo (reprodução entre novembro e agosto) e tardias (com período reprodutivo do meio ao final da estação chuvosa). Paspalum atratum Swallencv. Pojuca tem comportamento fenológico reprodutivo tardio, na região central do Brasil, com o florescimento ocorrendo entre os meses de fevereiro e março, com a colheita das sementes nos meses de março e abril (KARIA & ANDRADE, 2001). Pizarro & Carvalho (1992), avaliaram 42 genótipos de Paspalum spp., e encontraram uma grande irregularidade quanto à época de florescimento desses genótipos. Eles observaram que 60% dos genótipos apresentaram comportamento precoce (florescimento menor que 30 dias), 32% comportamento intermediário (florescimento entre 30 e 60 dias) e 8% apresentaram comportamento tardio (florescimento após 60 dias). 81


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Assim como em Paspalum, em Megathyrsus (Pilg.)B.K.Simon & S.W.L. Jacobs spp. (syn. Panicum spp.) e Urochloa P.Beav. spp. (syn. Brachiaria spp.) também ocorre florescimento em distintas épocas. No BAG Panicum, localizado na Embrapa Gado de Corte, a coleção tem 47% dos genótipos com comportamento de florescimento tardio e 43% que floresce o ano todo (JANK et al., 2008). Estudos de Conservação de Grãos de Pólen O desenvolvimento de tecnologias de conservação de grãos de pólen, não só de gramíneas, mas de várias espécies de outras famílias, pode ser de grande importância no aumento da eficiência dos programas de melhoramento e na promoção do intercâmbio e conservação de germoplasma (EINHARDT, CORREA & RASEIRA, 2006; HANNA, 1994), com o objetivo de manutenção da diversidade genética (CONNOR & TOWILL, 1993). Além disso, uma das possibilidades da utilização dos grãos de pólen conservados é no auxílio dos agentes polinizadores, pouco eficientes ou inexistentes, e também para sincronia artificial entre a dispersão de pólen e a receptividade floral, que pode ser de dias ou de meses, uma vez que o pólen pode ser utilizado a qualquer momento (TIGHE, 2004). Dafni (1992) afirma que avaliar a viabilidade dos grãos de pólen, é o primeiro passo para verificar as chances de germinação no estigma da flor, fator fundamental à fertilização (DAMASCENO Jr. et al., 2008). Para o sucesso do armazenamento do pólen, fatores como umidade e temperatura de armazenamento devem ser controlados, já que a o metabolismo do pólen e a contaminação por microrganismos estão diretamente relacionados a esses fatores. A temperatura é o principal fator externo a ser considerado, pois ela influencia negativamente na longevidade do pólen. Logo, a limpeza e a aplicação de baixas temperaturas e baixos teores de umidade normalmente encontram-se ligados à redução do metabolismo do pólen, o que permite maior longevidade do mesmo (SOUSA, 1996). Além da temperatura ideal, o sucesso da conservação do pólen, depende de outros fatores, como umidade relativa do ambiente de armazenamento e do grau de umidade do pólen e independe da duração do período de armazenamento (DEAN, 1965; LINSKENS, 1964), porém não há um acordo sobre qual é o nível de umidade mais favorável para o armazenamento do pólen até mesmo dentro da mesma cultura (GEORGIEVA & KURELEVA, 1994). Para armazenar o grão de pólen, é necessário desidratá-lo para que o mesmo possa ser melhor conservado, não ocorrendo o estouro dos grãos de pólen pela cristalização da água no interior dos tecidos. Caso haja formação desses cristais, ocorre o rompimento da membrana celular, destruindo o pólen (ALMEIDA et al., 2011). Esse teor de umidade considerado ótimo reduz o metabolismo do pólen a praticamente zero, permitindo, teoricamente, a manutenção de sua viabilidade por um período indefinido (SOUSA, 1996), porém quando úmido, o grão de pólen pode formar cristais de gelo durante o armazenamento, inviabilizando-os por danificar seus tecidos. Contudo, a dessecação demasiada do pólen pode reduzir sua capacidade germinativa por perder água de constituição (FRANÇA, 2008). 82


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Barnabas et al. (1988) afirmam que a capacidade de fertilização de grãos de pólen de milho após armazenamento em nitrogênio líquido foi mais elevada nas amostras com teor de água de 13%, enquanto Kerhoas et al. (1987) asseguram que, se o pólen de milho conter menos de 15% de água, a sua viabilidade cai drasticamente. Portanto, geralmente é aceita hipótese de que a redução da umidade do grão de pólen permite o sucesso no armazenamento em longo prazo, porém a qualidade do pólen parecer estar relacionada com a capacidade de tolerar o processo de desidratação (GUILLUY et al., 1990). O baixo teor de umidade do pólen de 8 a 10% quando armazenado, propicia boa longevidade, pelo fato de evitar a formação de cristais de gelo no processo de congelamento, independentemente do método de armazenamento (SPRAGUE & JOHNSON, 1977). Já Yates et al. (1991) afirmam que para obter sucesso na conservação é necessário que o teor de água esteja entre 7% a 20% para o armazenamento em temperaturas entre – 5ºC a – 196ºC. O teor de água no grão de pólen pode ser ajustado de acordo com soluções salinas saturadas conhecidas e dentre estas destacam-se: cloreto de magnésio hexa hidratado (MgCl2.6H2O); cloreto de sódio (NaCl); cloreto de lítio hidratado (LiCl.H2O); (CONNOR& TOWILL, 1993; HONG et al., 1999), sílica gel, dessecação a vácuo ou vapor de nitrogênio líquido (ALMEIDA et al., 2011). Trabalhos já foram descritos, utilizando armazenamento de grãos de pólen obtendo resultados de sucesso e outros não. Alvim (2008) obteve 72% de germinação de milho conservados a baixas temperaturas, de 4°C – 196 °C, com umidade de 29%. Davide et al. (2009) analisaram a conservação de pólen de milho na temperatura de –10 °C e os resultados mostraram a baixa viabilidade na germinação do tubo polínico. Nesse sentido, os resultados mostraram que a temperatura de estocagem de 4 °C, com pólen desidratado com sílica gel azul proporcionam maior viabilidade de pólen, podendo este método ser empregado em programas de melhoramento para permitir cruzamentos entre genótipos com assincronia de florescimento. Já em Paspalum notatum Flüggé, Dinato (2016) observou que a criopreservação se apresentou adequada para a manutenção da viabilidade de grãos de pólen quando desidratados com cloreto de lítio por 30 minutos (70,06%) ou sílica gel azul por 120 minutos (66%). Em ambos os tratamentos, a viabilidade de pólen foi igual à da testemunha (pólen fresco) (68,52%). A conservação de pólen também tem sido estudada em muitas outras famílias. Pólens de cactos do gênero Hylocereu (Berger) Britton & Rose, armazenados a 4, -18, -70 e -196ºC por um período de três e nove meses teve sua viabilidade reduzida quando mantido a uma temperatura de 4ºC, enquanto que o pólen congelado manteve seu índice de germinação semelhante ao do pólen fresco (METZ, NERD, & MIZRAHI, 2000). Casali, Pádua & Braz (1984) afirmam que a redução da temperatura no armazenamento prolonga a viabilidade do grão de pólen de Capsicum L., enquanto que Gomez et al. (2000), analisando pólen de amendoeiras durante oito semanas de armazenamento a temperaturas de 4 e 22ºC, verificaram que a capacidade de germinação diminuiu drasticamente na temperatura de 22ºC após a segunda semana, mas manteve 50% de viabilidade quando conservado a 4ºC. Luza & Polito (1985), trabalhando com grãos de pólen 83


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de plantas de noz europeia, concluíram que o aumento da temperatura e da umidade relativa no ambiente de armazenamento diminuíram drasticamente a viabilidade polínica. Esses trabalhos demonstram que a criopreservação (armazenamento em nitrogênio líquido - NL a -196 º C) é um método eficiente para conservação de pólen, já que este pode ficar armazenado por período de tempo indeterminado. Os outros métodos de conservação somente adiam a deterioração por um período de tempo determinado e específico, de acordo com o material e a espécie em questão. Entretanto, cada espécie se comporta diferentemente frente aos referidos processos, por isso é primordial que mais pesquisas e metodologias referentes a esta técnica sejam desenvolvidas (SOUSA, SCHEMBERG & AGUIAR, 2010). Para o melhorista de plantas, a criopreservação de pólen é um aspecto importante, pois ele não necessita esperar pelo crescimento e florescimento da planta para obter o parental masculino, uma vez que a criopreservação de pólen permite: o cruzamento entre plantas que florescem em épocas diferentes; o cruzamento entre plantas que crescem em locais diferentes e distantes; menor transmissão de doenças que podem ter como vetores os próprios polinizadores e conservação do germoplasma por longos períodos de tempo (BAJAJ, 1995). Além disso, há vários benefícios principalmente para espécies que tenham longo período vegetativo, ou que floresçam poucas vezes ao ano, ou ainda para algumas plantas que são propagadas vegetativamente. Melhoristas de plantas podem ter armazenado pólen em NL como forma de aperfeiçoamento dos programas de melhoramento genético. A conservação de pólen deve, por essas razões, ser integrada aos BAGs. Para que o material genético do genitor feminino não seja perdido, a conservação de pólen deve ser uma alternativa adicional para a conservação de germoplasma e não um substituto para o armazenamento de sementes ou clones (TOWILL, 2000). A criopreservação de pólen é um método simples e eficaz de armazenamento de pólen em longo prazo, pois o mesmo pode ser mantido em NL por muitos anos sem perda de suas capacidades essenciais para polinizar, fertilizar e frutificar quando utilizado em melhoramento de plantas, polinização controlada, ou para a conservação dos recursos genéticos vegetais (AKIHAMA, OMURA & KOSAKI (1979); TOWILL (1985)).

Bibliografia ABIEC. 5 razões para valorizar a pecuária bovina do Brasil. http://www.abiec.com.br/noticia.asp? id=1378, 2015. Acessado em 03/08/2016. AKIHAMA, T.; OMURA, M.& KOSAKI, I. Long-term of fruit tree pollen and its application in breeding.Tropical Agriculture Research.v. 13, n. 4, p. 238-241, 1979. ALISCIONI, S. S. Contribución a la filogenia del gênero Paspalum (Poaceae: Panicoideae: Paniceae.) Annals of the Missouri Botanical Garden.v. 89, n. 4, p. 504-523, 2002. ALMEIDA, C.; AMARAL, A. D.; NETO, J.; SERENO, M. D. M. Conservação e germinação in vitro de pólen de milho (Zea mays subsp. mays). Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v. 34, n. 4, p. 493-497, 2011. ALMEIDA, S. P. de. Grupos fenológicos da comunidade de gramíneas perenes de um campo cerrado no Distrito Federal, Brasil. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 30, n. 8, p. 1067-1073, 1995.

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13) Influência do sequenciamento de nova geração no futuro da genética da conservação

Juliana Giusti Doutora em Genética pelo Departamento de Genética da UNESP-Botucatu, SP, Brasil. Bacharel em Zootecnia pela UNESP-Botucatu.

Karine Kettener Dra. em Genética pelo Departamento de Genética da UNESP-Botucatu, SP, Brasil. Licenciada e bacharel em Ciências Biológicas pela UNESP-Botucatu.

Maria Cecília Perantoni Fuchs-Ferraz Dra. em Genética pelo Departamento de Genética da UNESP-Botucatu, SP, Brasil. Licenciada e bacharel em Ciências Biológicas pela UF de Juiz de Fora.

Resumo Nos últimos anos, houve um rápido avanço no desenvolvimento de tecnologias de sequenciamento, o que permitiu novas abordagens e estratégias de estudo nas diversas áreas da biologia. Nesse artigo, discute-se alguns dos avanços mais importantes que as novas tecnologias de sequenciamento trouxeram para os campos da genética de populações e de diversidade genética. A mensagem geral é que a análise de dados oriundos de NGS (Next Generation Sequencing) deve ser abordada com uma profunda compreensão dos modelos teóricos subjacentes às análises, e com métodos adequados para cada pergunta biológica a ser respondida. Quando analisados adequadamente, os dados de NGS fornecem ferramentas extremamente poderosas para responder as perguntas cruciais em campos que vão desde a evolução e ecologia para conservação e preservação até pontos importantes para a agricultura, 88


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incluindo as questões que não puderam ser respondidas antes do desenvolvimento dessa tecnologia. O objetivo foi chamar atenção para as diferentes possibilidades de estudo que essa tecnologia propicia a área da genética da conservação, e também comparar os marcadores moleculares do tipo microssatélites (os mais utilizados nessa área) com os marcadores de variação em um único nucleotídeo, chamados de SNP (Single Nucleotide Polymorphism).

Introdução A maioria dos artigos destacam o quão revolucionários são os dados gerados pelas técnicas de NGS nas áreas de genética de populações, ecologia molecular e biologia da conservação, mas não demonstram o desafio em se trabalhar com essa metodologia, devido às rápidas mudanças nas técnicas e a dificuldade de análise de dados. Outra grande dificuldade está no momento da escolha de qual método de NGS é o mais adequado para a pergunta biológica que se deseja responder. Estamos vivendo a era em que primeiro escolhemos a técnica e depois, o problema biológico que vamos responder. Uma grande dúvida dos pesquisadores dessa área diz respeito a qual marcador molecular é o mais adequado: SSRs (microssatélites) ou SNPs? Muitos pesquisadores receiam utilizar os SNPs em detrimento aos SSRs devido a falta de conhecimento sobre sua aplicação em estudos de genética da conservação. Nesse sentido, nosso objetivo foi demonstrar as diversas aplicações das diferentes técnicas de NGS e o quão elas podem ser úteis para a área da conservação.

Discussão Sequenciamento de DNA - De Sanger a Next Generation Sequencing Duas técnicas foram as precursoras na corrida pelo entendimento da sequência do material genético, o método químico de degradação de bases (MAXAM & GILBERT, 1977) e o método didesoxi ou terminação do fragmento (SANGER et al., 1978). Os dois métodos são baseados na produção de um conjunto de fitas simples de DNA que são separadas pelo princípio de eletroforese (OKUBO et al., 1992). Quando comparadas as duas técnicas, o método de Sanger gera dados que são mais facilmente interpretados, por isso essa técnica tem sido utilizada até os dias atuais. Na época em que foi criada, a técnica de Sanger era feita de forma rudimentar, onde, a sequência de bases do DNA era lida manualmente após a exposição das bases identificadas em um filme de raio-X. Eram preparados 4 tubos de reação, cada um contendo o DNA molde, a enzima DNA polimerase e um primer (iniciador). Em cada tubo é adicionado uma pequena quantidade de um dos ddNTPs (didesoxinucleotídeos: ddATP, ddTTP, ddCTP e ddGTP), marcados com fósforo radioativo (P32), junto aos dNTPs (desoxinucleotídeos: dATP, dTTP, dCTP ou dGTP) da reação. Os didesoxinucleotídeos não possuem o grupo hidroxila (OH) no carbono 3', necessário para a ligação do próximo desoxinucleotídeo (dNTP) (Figura 1a). Dessa forma, em cada um dos 4 tubos eram produzidos vários comprimentos de fragmento, cada um correspondente ao ponto no qual o respectivo ddNTP desse tubo foi incorporado, ocasionando o término do crescimento do fragmento. As amostras de cada tubo eram 89


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submetidas à eletroforese e posterior exposição em filme de raio-X para que a posição das bases correspondentes pudesse ser determinada. A leitura do gel era realizada ao longo das quatro colunas, correspondentes aos quatro tubos de reação (Figura 1b). Essa metodologia era demorada e passível de erro e, para sanar esses pontos negativos, sequenciadores automáticos foram desenvolvidos.

Figura 1. (a) Esquema representando desoxinucleotídeo e didesoxinucleotídeos, que se diferenciam pela ausência da hidroxila (OH) no carbon 3’ do didesoxinucleotídeo; (b) Representação do sequenciamento pelo método de Sanger, no quale m cada tubo é adicionado um tipo de didesoxinucleotídeo marcado junto com os demais desoxinucleotídeos. Após vários ciclos de reação de amplificação, os produtos dos tubos são submetidos à eletroforese, permitindo a leitura das sequências.

O primeiro deles foi o sequenciador por eletroforese vertical em placa (ABI377 Applied Biosystem) (SMITH et al., 1986) ou eletroforese em capilar (ABI3100 Applied Biosystem) (SMITH, 1991), no qual os ddNTPs possuem marcação por fluorescência. Para a geração de fragmentos durante a reação de sequenciamento, em cada ciclo, os dNTPs são adicionados à nova fita e no 90


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momento da adição de um ddNTP, a extensão do fragmento é interrompida e, consequentemente, marcada com o último didesoxinucleotídeo incorporado. No final de vários ciclos tem-se vários fragmentos de DNA de diferentes tamanhos terminadas com os diferentes ddNTPs, marcados com fluoróforos distintos, que posteriormente serão identificados (lidos em sequenciador automático). A reação de sequenciamento ocorre em termociclador e é caracterizada por várias etapas ou ciclos em diferentes temperaturas, repetidos por várias vezes por um determinado período de tempo. Após a reação de amplificação, os produtos são purificados, evitando interferências na leitura realizada pelo sequenciador automático. Os produtos purificados são submetidos ao sequenciador automático, cujo princípio é o da eletroforese. Os fragmentos marcados com fluorescência migram de acordo com o tamanho, no interior dos capilares. A medida que os fragmentos são excitados por um feixe de laser, estes emitem luz em diferentes comprimentos de onda, correspondente ao fluoróforo do ddNTP do final do fragmento, que são detectadas por um fotomultiplicador. Em seguida, essa informação é transmitida ao computador e processada para que ao final da corrida, os dados possam ser recuperados em formato de eletroferograma ou de texto (fasta), seguindo-se da análise de bioinformática. Apesar da eficiência do método Sanger, em 2005, foram obtidos os primeiros resultados dos esforços dos engenheiros em produzir máquinas ainda mais eficientes no sequenciamento de DNA (MARGULIES et al., 2005). Foi lançado o sequenciador 454 (Life Sciences) que anunciou a técnica de sequenciamento por síntese, onde cada base era lida à medida que fosse adicionada ao fragmento de DNA recém-formado (SCHUSTER, 2008), diferentemente do método de Sanger, onde a base lida era verificada pela marcação fluorescente e pelo peso molecular da molécula contendo a sequência parcial do DNA através de uma análise eletroforética. O 454 era capaz de produzir 25 milhões de pares de bases com precisão de 99% ou mais em apenas uma análise de quatro horas na máquina. Isso representava um aumento de 100 vezes na produção de sequências de DNA, quando comparado à tecnologia mais moderna existente no momento, sem perder a acurácia (MARGULIES et al., 2005). Apesar dos grandes benefícios da técnica de sequenciamento de nova geração (Next generation sequencing), como foi chamado, alguns pontos ainda apresentavam desvantagens. A nova técnica produzia sequências pequenas e de difícil análise (WOMMACK, BHAVSAR & RAVEL, 2008). Enquanto a técnica de Sanger produzia sequências de aproximadamente 750 pares de bases; a nova técnica gerava sequências contendo apenas cerca de 100 ou 200 pares bases de DNA (MARGULIES et al., 2005). No entanto, em 2006, novos trabalhos publicados, principalmente na área da metagenômica, demonstravam a versatilidade e eficácia da nova técnica de sequenciamento, ao amostrar a diversidade microbiana em diferentes ambientes (ANGLY et al., 2006; EDWARDS et al., 2006; SOGIN et al., 2006). A tecnologia vem sendo aprimorada, com o principal avanço feito em relação ao tamanho médio dos fragmentos de DNA gerados (reads) por NGS, que atualmente, alcançam o tamanho médio dos fragmentos obtidos pelas técnicas baseadas no método de Sanger, ou seja, 750 pares de bases. 91


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Aplicações do NGS na genética de populações As plataformas de NGS trouxeram uma enorme quantidade de informações para a área de genética de populações e conservação. Muitos pensaram que essa grande quantidade de informações poderia resolver diversos problemas teóricos pertinentes à conservação, porém, embora tenhamos muitos dados e softwares disponíveis para as análises, não podemos realizar uma genética populacional empírica, sem uma forte compreensão da teoria e dos modelos subjacentes às análises computacionais realizadas por estes pacotes de softwares específicos, para estudos de genética de populações. Para uma pesquisa adequada de genética de populações, deve-se ter uma compreensão das teorias clássicas de genética de populações, coleta de dados apropriada para abordar as questões de investigação e a implementação correta das análises estatísticas (ALLENDORF, LUIKART & AITKEN, 2013). Diversas tem sido as abordagens de pesquisa que se utilizam das plataformas de NGS. Nessa revisão apresentamos, em especial, a utilização de NGS para a caracterização do transcriptoma, genotipagem em larga escala, através das técnicas de Restriction-site associated DNA sequencing (RADseq) e sequenciamento do genoma inteiro (Whole genome sequencing). Análise de Transcriptomas em larga-escala Um dos objetivos de pesquisadores que se utilizam da técnica de NGS é a identificação dos RNAs expressos em um dado organismo ou tecido. A abordagem global permite também, a comparação do perfil de expressão gênica em diferentes condições ambientais, estados patológicos, fisiológicos ou de desenvolvimento, bem como, caracterização de polimorfismos associados aos genes transcritos, formas alternativas de splicing e SNPs, por exemplo. Tais análises são um mecanismo fantástico para abordagens como a identificação de genes e vias moleculares envolvidas em processos biológicos, identificação de marcadores para diagnóstico molecular de doenças, eventos de regulação em cis e em trans e alterações no proteoma e/ou metaboloma. Uma vez que o volume de dados provenientes desse tipo de técnica é enorme, há limitações na análise desses dados. A montagem do trancriptoma a partir dos reads, que podem ser de diferentes tamanhos dependendo da plataforma escolhida, pode ser muito difícil sem um modelo para ancoragem. Uma opção tem sido a utilização de mais de uma plataforma de NGS para analisar uma mesma amostra. Essa combinação de benefícios de diferentes plataformas, permite que a montagem das peças do quebra-cabeça seja a mais fiel possível. Restriction-site associated DNA sequencing (RADseq) RADseq (Figura 2) é uma técnica de sequenciamento que reduz a complexidade dos dados obtidos a serem analisados (ROWE, RENAUT & GUGGISBERG, 2011), que pode ser utilizado para descobrir e genotipar milhares de SNPs, de todo o genoma, sequenciando regiões curtas adjacentes aos locais de corte das enzimas de restrição (BAIRD et al., 2008; MILLER et al., 2007). RADseq não requer informação prévia do genoma e, portanto, pode ser utilizada em qualquer espécie. No entanto, caso haja alguma informação referente ao genoma da espécie de estudo, isso pode melhorar vários aspectos da análise dos dados de RADseq, tais como a 92


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identificação de parálogos. Além disso, um genoma de referência fornece acesso a informações sobre as posições genômicas dos loci e, portanto, facilita a identificação dos loci que estão juntos no genoma devido à ligação. A identificação de loci ligados também pode facilitar um dos recursos mais interessantes da análise de dados genéticos de populações via RADseq, que é a identificação de grupos de ligação ou regiões genômicas sob seleção divergente ou balanceamento, como demonstrado por Hohenlohe et al. (2010).

Figura 2. Esquema demonstrando os processos para o sequenciamento pelas metodologias shotgun e RAD-seq; (a) Clivagem da molécula de DNA com enzimas de restrição específicas (RAD-seq) ou fragmentação aleatória da molécula DNA por meio de sonicação, nebulização ou endonucleases (shotgun); (b) ligação de adaptadores às extremidades dos fragmentos obtidos, preparando-os para a amplificação e, assim, obtenção dos reads; (c) montagem dos reads na metodologia RAD-seq, no qual reduz a complexidade dos dados com os reads tendo o mesmo ponto de início do sequenciamento (sítio de restrição da enzima); (d) montagem dos reads na metodologia shotgun, no qual os fragmentos são obtidos de forma aleatória do genoma.

Sequenciamento do genoma completo (WGS) No sequenciamento do genoma completo (WGS), sequências curtas (<500 pb) geradas a partir do sequenciamento shotgun (sequenciamento de fragmentos aleatórios) são montadas formando um genoma inteiro (Figura 2). De todos os métodos de NGS, o WGS gera a maior quantidade de dados. No entanto, o WGS também é substancialmente mais caro do que os outros métodos. Muitos problemas biológicos de genética de populações não exigem essa técnica para que sejam resolvidos, o que contribui para este método ser raramente usado em genômica populacional (ALLENDORF, HOHENLOHE & LUIKART, 2010). No entanto, WGS pode responder a algumas perguntas que outros métodos não são capazes. Por exemplo, a presença de inversões cromossômicas não pode ser detectada com outras técnicas, sendo seu 93


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estudo importante devido à sua influência no fitness e fluxo gênico (SKOVGAARD et al., 2011). Além disso, o WGS pode ser usado para gerar um genoma rascunho, o que auxilia as análises genéticas de populações pelas técnicas de RADseq, RNA-Seq ou captura de éxons, por causa das vantagens obtidas nestas análises quando um genoma de referência está disponível. Portanto, o WGS para uma ou algumas amostras pode ser uma opção de baixo custo, para contribuir com os outros métodos analíticos de NGS. Marcadores Moleculares de DNA Os marcadores são definidos como qualquer fenótipo molecular oriundo de um gene expresso ou de um segmento específico de DNA (FERREIRA & GRATTAPAGLIA, 1998), ou características de DNA que diferenciam dois ou mais indivíduos relacionados, além de serem herdados geneticamente (MILACH, 1998). São amplamente utilizados para estudo populacional, mapeamento e análises de similaridade, bem como para determinar distâncias genéticas. Ao longo do tempo, a necessidade de detecção de polimorfismos genéticos presentes no DNA, levou ao desenvolvimento de novas técnicas que caracterizassem tais sequências. Marcadores Moleculares Microssatélites Os genomas de eucariotos são densamente povoados por microssatélites ou sequencias simples repetitivas (SSRs), as quais consistem de 1 a 6 nucleotídeos replicados em tandem, e são classificadas pela frequência, podendo ser mono, di, tri, tetra, penta e hexanucleotídeos e, também, pelo tipo de sequência repetitiva, como microssatélites perfeitos, imperfeitos, interrompidos ou compostos. As principais vantagens desses marcadores são a natureza codominante e multialélica que apresentam; são altamente polimórficos, permitindo discriminações precisas, mesmo de indivíduos altamente relacionados; são abundantes e uniformemente dispersos em todo o genoma dos indivíduo; podem ser eficientemente analisados por PCR (Polimerase Chain Reaction); e a informação do marcador, baseada nas sequencias dos iniciadores, podem ser facilmente publicadas e trocadas entre laboratórios, melhorando os esforços cooperativos em pesquisa e desenvolvimento. Estudos tem demonstrado diversas funções dos microssatélites, tanto na organização da cromatina quanto na regulação dos processos metabólicos do DNA e da atividade gênica. Como consequência se têm, por exemplo, o surgimento de doenças humanas, a ativação ou inativação de genes e a produção de proteínas truncadas. Há padrões específicos de distribuição dos diferentes motivos repetidos nos distintos tipos de sequências: codantes, não codantes, íntrons e regiões intergênicas. Por todas essas razões, os microssatélites vêm sendo utilizados em diversos estudos, principalmente na construção de mapas genéticos, associação entre instabilidade do número de repetições e doenças genéticas humanas, estrutura genética de populações e análises de paternidade. Nos estudos de microssatélites, vários alelos podem ser determinados para uma determinada população. Nos Indivíduos homozigóticos existe o mesmo número de repetições nos cromossomos homólogos, enquanto que em indivíduos heterozigóticos o número de 94


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repetições é diferente nos dois homólogos. Portanto, o loci é definido pelo par de iniciadores e os vários alelos, pelo tamanho das bandas amplificadas. Cada loci de microssatélite, ou mais de um loci, podem ser analisados individualmente. (FERREIRA & GRATTAPAGLIA, 1998; GAFÀ et al., 2000). A maior limitação do uso de microssatélites é o desenvolvimento dos marcadores, pois trata-se de procedimento muito trabalhoso e que exige uma equipe especializada, além de equipamentos caros para efetivar o sequenciamento (FERREIRA & GRATTAPAGLIA, 1998). Marcadores Moleculares Single Nucleotide Polymorphism (SNP) Os marcadores de polimorfismo de nucleotídeo único (SNP) tem como alicerce mutações em bases únicas do fragmento de bases nitrogenadas (Adenina, Citosina, Timina e Guanina). As mutações mais comuns são as transições, onde ocorrem trocas de uma purina por outra purina (A por G) ou de uma pirimidina por outra pirimidina (C por T). Menos frequentes, as transversões ocorrem quando há troca de uma purina por uma pirimidina, ou vice-versa (C/T por A/G). Normalmente, os marcadores SNP são bi-alélicos, ou seja, geralmente são encontradas apenas dois variantes em uma espécie (Ex: um alelo corresponde a um par de bases A/T e o outro a um G/C). Os SNPs podem ocorrer em regiões codificadoras ou com função regulatória, porém, na maior parte das vezes são encontrados em espaços intergênicos, sem função determinada. Esses tipos de polimorfismos são extremamente abundantes e distribuídos de forma homogênea nos genomas de espécies não endogâmicas. A utilização desses marcadores é muito frequente em estudos de associação e mapeamento genético, assim como em ensaios diagnósticos para confirmação de paternidade, rastreabilidade, detecção de doenças genéticas e/ou polimorfismos associados a características de produção e em genotipagem em massa. Até recentemente o método padrão de prospecção de marcadores SNP era baseado no método de sequenciamento Sanger. Porém, esse processo é limitado pela capacidade de geração e análise de sequencias de um laboratório, assim como pela necessidade da existência de uma sequência referência. Apesar de funcionarem, as metodologias utilizadas para a detecção dos SNPs eram relativamente custosas. Com o desenvolvimento das novas metodologias de sequenciamento, houve uma mudança substancial nesse cenário, tornando as análises mais baratas e mais rápidas. As chamadas tecnologias de sequenciamento de segunda geração (Roche 454 - MARGULIES et al., 2005; Solexa-Illumina - BENNETT, 2004; ABI Solid - VALOUEV et al., 2008) foram capazes de produzir vastos conjuntos de dados, em um único experimento altamente automatizado, com duração de horas. Metodologias que utilizam sequenciadores automáticos, para a realização da eletroforese, de produtos de PCR marcados com corantes fluorescentes, permitiam a genotipagem de mais de um SNP em um mesmo fragmento, ou em fragmentos diferentes. Embora essa metodologia tenha trazido grandes avanços, ainda era necessária grande quantidade de trabalho para 95


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viabilizar a geração de dados. A fim de otimizar a obtenção de dados, foram criadas metodologias para genotipar SNPs utilizando-se de equipamentos de PCR em Tempo Real (qPCR), que até então haviam sido concebidos para quantificação de RNA mensageiros, muito utilizados em estudos de expressão gênica. Outra metodologia criada para genotipagem de SNPs baseia-se em microarranjos de DNA. Lâminas de vidro fabricados através da impressão de oligonucleotídeos (HACIA & COLLINS, 1999) trouxeram novos avanços. Essa tecnologia permite a genotipagem de dezenas de marcadores, no mesmo ensaio, com uma diminuição significativa de mão-de-obra. Porém, o sucesso da implementação desse método requer grande expertise e não é simples de ser padronizada. Recentemente, várias novas tecnologias para genotipagem de SNPs, em larga escala, têm sido apresentadas por diferentes empresas (Illumina - BeadExpress, ABI/BioTrove OpenArrary, ABI-SNPlex, ABI-TaqMan, etc.). Cada uma dessas apresenta vantagens e desvantagens técnicas, além custos variados. O ponto em comum, entre todas elas, é que os ensaios específicos para SNPs podem ser adaptados a todas as tecnologias, permitindo que a mesma informação genotípica seja acessada, independentemente da tecnologia utilizada.

Qual tipo de marcador deve-se utilizar? Tendo como base esse apanhado de informações, podem ser observados alguns pontos relevantes com relação aos SSRs. As principais vantagens desses marcadores são a natureza codominante e multialélica que apresentam, uma vez que por serem altamente polimórficos, permitem discriminações precisas, mesmo em indivíduos altamente relacionados, além de serem abundantes e uniformemente dispersos, em todo o genoma dos indivíduos, e analisados por PCR. Os SNPs, por sua vez, são bi-alélicos e podem ocorrer em regiões codificadoras ou não. Porém, sua maior vantagem é a abundancia homogênea nos genomas de espécies não endogâmicas, permitindo a sua utilização na resposta às perguntas biológicas de diversas áreas, desde diagnósticos clínicos até a rastreabilidade zootécnica. Comparando os dois tipos de marcadores, chega-se a pontos importantes de avaliação (Tabela 1). A abundância dos SNPs nos genomas permite uma abrangência maior dos dados, além de ser comparativamente mais econômico, uma vez que esta técnica é automatizada. Tal redução de custo aliada ao grande volume de informações geradas, torna as análises mais eficientes, sem perder a robusticidade, uma vez que a informação por locus e a reprodutibilidade tem sido consideradas boas.

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Tabela 1. Comparação entre marcadores moleculares SSR e SNP Microssatélites (SSR)

Single Nucleotide Polymorphisms (SNPs)

Definição

Sequências curtas (1 a 6 bases) repetidas em tandem

Polimorfismos de nucleotídeo único

Presentes em procariotos e eucariotos

Sim

Sim

Presentes em regiões codificantes e não codificantes

Sim

Sim

Automação

Sim

Alta

Baseado em PCR

Sim

Sim

Necessita de primers específicos

Sim

Não

Número de alelos por loco

Locos simples e multialélico; maioria das repetições são dinucleotídeos (AC)n, (AG)n, (AT)n

Bialélico

Qualidade do DNA Necessário

Razoável

Boa

Radioatividade

Sim/Não

Não

Custo de desenvolvimento

Alto

Baixo

Reprodutibilidade

Boa

Boa

Informatividade por loco

Ótima

Boa

Multiplex

Sim

Sim

Abundância/distribuição pelo genoma

Milhares

Milhões

Custo por dado gerado

Baixo

Muito baixo

Quantidade de DNA necessária

50ng

50ng

Conclusões e Prospecções Futuras A mensagem geral mostra que a análise dos dados de NGS requer atenção à teoria e aos pressupostos computacionais para evitar conclusões errôneas. Também deve-se ter o cuidado de não filtrar e/ou ignorar as informações, biologicamente interessantes, presentes nos dados. Cada projeto de NGS exige um apanhado exclusivo de análises para o conjunto de dados e questões da pesquisa. Tendo esses pontos por premissas, e conscientizando-se das limitações dos métodos analíticos, os dados gerados por NGS trarão novas e interessantes descobertas, além de melhor compreensão de pontos ainda obscuros nos campos da genômica populacional, ecologia 97


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molecular e biologia da conservação, além de direcionar qual marcador molecular irá gerar dados mais conclusivos para as perguntas a serem respondidas. Bibliografia ALLENDORF, F. W., HOHENLOHE, P. A. & LUIKART, G. (2010). Genomics and the future of conservation genetics. Nature reviews genetics, 11 (10), 697 - 709. ALLENDORF, F. W., LUIKART, G. H. & AITKEN, S. N. (2013). Conservation and the Genetics of Populations (2ª ed.). West Sussex: Wiley-Blackwell. ANGLY, F. E., et al. (2006). The marine viromes of four oceanic regions. PLoS biol, 4 (11). BAIRD, N. A., et al. (2008). Rapid SNP discovery and genetic mapping using sequenced RAD markers. PloS one, 3 (10). BENNETT, S. (2004). Solexa ltd. Pharmacogenomics, 5 (4), 433 - 438. EDWARDS, R. A., et al. (2006). Using pyrosequencing to shed light on deep mine microbial ecology. BMC genomics, 7 (1). FERREIRA, M. E. & GRATTAPAGLIA, D. (1998). Introdução ao Uso de Marcadores Moleculares Em Análise Genética (3ª ed.). Brasília: Embrapa. GAFÀ, R., et al. (2000). Sporadic colorectal adenocarcinomas with high‐frequency microsatellite instability. Cancer, 89 (10), 2025 - 2037. HACIA, J. G. & COLLINS, F. S. (1999). Mutational analysis using oligonucleotide microarrays. Journal of medical genetics, 36 (10), 730 - 736. HOHENLOHE, P. A., BASSHAM, S., ETTER, P. D., STIFFLER, N., JOHNSON, E. A., CRESKO, W. A. (2010). Population genomics of parallel adaptation in threespine stickleback using sequenced RAD tags. PLoS Genet, 6 (2). MARGULIES, M., et al. (2005). Genome sequencing in microfabricated high-density picolitre reactors. Nature, 437 (7057), 376 - 380. MAXAM, A. M. & GILBERT, W. (1977). A new method for sequencing DNA. Proceedings of the National Academy of Sciences, 74 (2), 560 - 564. MILACH, S. C. (1998). Marcadores moleculares em plantas. Porto Alegre: UFRGS. MILLER, M. R., DUNHAM, J. P., AMORES, A., CRESKO, W. A., JOHNSON, E. A. (2007). Rapid and costeffective polymorphism identification and geno- typing using restriction site associated DNA (RAD) markers. Genome research, 17 (2), 240 - 248. OKUBO, K., et al. (1992). Large scale cDNA sequencing for analysis of quantitative and qualitative aspects of gene expression. Nature genetics, 2 (3), 173 - 179. ROWE, H. C., RENAUT, S. & GUGGISBERG, A. (2011). RAD in the realm of next‐generation sequencing technologies. Molecular Ecology, 20 (15), 3499 - 3502. SANGER, F., et al.(1978). The nucleotide sequence of bacteriophage phiX174. Journal, 125 (2), 225 - 246. SCHUSTER, S. C. (2008). Next-generation sequencing transforms today’s biology. Nature, 200 (8), 16 - 18. SKOVGAARD, O., BAK, M., LOBNER-OLESEN, A. & TOMMERUP, N. (2011). Genome-wide detection of chromosomal rearrangements, indels, and mutations in circular chromosomes by short read sequencing. Genome research, 21 (8), 1388 - 1393. SMITH, L. M. (1991). High-speed DNA sequencing by capillary gel electrophoresis. Nature, 349 (6312), 812 813. SMITH, L. M., et al.(1986). Fluorescence detection in automated DNA sequence analysis. Nature, 321 (6071), 674 - 679. SOGIN, M. L., et al. (2006). Microbial diversity in the deep sea and the underexplored “rare biosphere”. Proceedings of the National Academy of Sciences, 103 (32), 12115 - 12120.

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VALOUEV, A., et al. (2008). A high-resolution, nucleosome position map of C. elegans reveals a lack of universal sequence-dictated positioning. Genome research, 18 (7), 1051 - 1063. WOMMACK, K. E., BHAVSAR, J. & RAVEL, J. (2008). Metagenomics: read length matters. Applied and environmental microbiology, 74 (5), 1453 - 1463.

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14) Alelo Animal (Animal GRIN) – Sistema de informação de recursos genéticos animais

Patrícia Ianella Bacharel em Ciências Biológicas (2001), Mestrado (2004) e Doutorado (2008) em Genética, pela UNESP/Ibilce. Pesquisadora da Embrapa desde 2010, onde já atuou como Coordenadora Técnica do Macroprograma 1 – Grandes Desafios Nacionais (2011 – 2014). Atualmente pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia - grupo de Recursos Genéticos Animais - desenvolvendo projetos de caracterização e estudos genômicos em espécies localmente adaptadas e peixes nativos.

Eduardo Vaz de Mello Cajueiro Graduado em Processamento de Dados pela UNB, Mestrado em Engenharia de Sistema e Computação pela UFRJ. Atua como Analista de Sistemas da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, foi Coordenador do Sistema Brasileiro de Informação de Recursos Genéticos Vegetais (2000 a 2007) e Gerente de Tecnologia de Informação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (2001 a 2008). Atualmente é o Coordenador de Tecnologia de Informação do Sistema de Informação de Recursos Genéticos Animais na Embrapa (Alelo Animal), e membro da equipe de desenvolvimento do Sistema GRIN Animal (Alelo Animal), em parceria com o ARS/US e o AAFC/CA.

Arthur da Silva Mariante Graduado em Agronomia (1969), pela Universidade Federal de Pelotas; Mestrado em Produção Animal (1974), pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Doutorado em Genética e Melhoramento Animal (1978), pela Universidade da Flórida, USA. Pesquisador da Embrapa desde 1974, atualmente está lotado na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, onde lidera o Portfólio de Projetos "Gestão Estratégica de Recursos Genéticos para a Alimentação, a Agricultura e a Bioindústria". Atua na conservação, caracterização e agregação de valor a recursos genéticos animais. Além disso, é o Coordenador Regional de Recursos Genéticos Animais para a América Latina e o Caribe junto à FAO.

Samuel Resende Paiva Graduado em Ciências Biológicas (1999), Mestrado (2001) e Doutorado (2005) em Genética e Melhoramento pela UFV. Foi Pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia de 2002 a 2012. Em 2013 passou para a Embrapa Sede - Secretaria de Relações Internacionais, Brasília-DF, programa da EMBRAPA LABEX-EUA, na área de Recursos Genéticos (Fort Collins, Colorado, EUA). Tem experiência na área de Genética Molecular Animal, com ênfase em Diversidade Genética Animal, Genômica, Conservação de Recursos Genéticos e Sistemática Molecular. Dentre as espécies que trabalha o foco é para as raças localmente adaptadas de animais domésticos de produção, peixes e fauna cinegética.

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Resumo O uso efetivo de recursos genéticos somente pode ser alcançado se o material genético conservado e sua informação associada estiverem disponíveis para os mais diversos públicos. O sistema de informações conhecido no Brasil como Alelo Animal (originalmente chamado Animal GRIN), foi desenvolvido a partir de uma parceria entre Estados Unidos (USDA-ARS), Brasil (Embrapa) e Canadá (AAFC), é um sistema de armazenamento e gerenciamento de dados relacionados à recursos genéticos animais, que está disponível dentro do Portal Alelo, desenvolvido pela Embrapa. Dentre as principais funcionalidades do sistema destacam-se o total acesso via web, módulos de gerenciamento de material biológico, pedigree e dados fenotípicos e genômicos. O sistema foi desenvolvido para atender demandas de organização de informações de espécies domésticas de produção, mas pode ser customizado para qualquer espécie animal. O Alelo Animal é aberto a consulta pública e possui formulários específicos para depósito e requisição de amostras. Atualmente o sistema está sendo usado pela Embrapa, porém ele está aberto a utilização por Instituições de Pesquisa Estaduais e Universidades.

Sistemas de gerenciamento de informações para programas de conservação. Grande parte das pesquisas básicas e aplicadas, relacionadas ao agronegócio, depende da existência de diversidade genética entre e dentro das espécies. Os programas de conservação de recursos genéticos são, em última análise, fundamentais para garantir o progresso destas pesquisas visto que eles devem se preocupar não somente com o material atualmente usado pela indústria, mas como também do material que poderá vir a ser usado. As ações de documentação e disponibilização de informação de germoplasma conservado tem assim um papel estratégico uma vez que permitem acompanhar os esforços realizados e disponibilizar as informações aos mais diversos usuários dos setores público e privado. O uso e agregação de valor a recursos genéticos pressupõe conhecer a variabilidade do que se tem conservado e dispor dessa informação catalogada e documentada com qualidade e organização. Dois grandes gargalos para o efetivo uso de recursos genéticos encontram-se na disponibilização de informação organizada sobre o material conservado, e no gerenciamento adequado das coleções. Da mesma forma, um dos maiores desafios da pesquisa genética da atualidade é o armazenamento e gerenciamento de uma quantidade enorme e crescente de dados genômicos que são gerados. De modo geral, a catalogação de material genético das coleções e dos dados genômicos de animais é geralmente executada pelo pesquisador que os gerou, criando bancos pontuais que não estão integrados e que correm o risco de sumirem com o desligamento (aposentadoria e/ou mudança de emprego) do pesquisador responsável pelas atividades de conservação de Recursos Genéticos. Pensando em garantir tanto a unificação, a uniformização e o intercâmbio dessas informações, bem como aperfeiçoar as pesquisas em Recursos Genéticos Animais, a Embrapa (Brasil), a ARS (Estados Unidos) e a AAFC (Canadá) articularam a adoção de um sistema único de dados para conservação de seus recursos genéticos animais. Trata-se do 101


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primeiro sistema internacional intercontinental para armazenamento de informações genéticas, produtivas, e de árvore genealógica. Chamado no Brasil de Alelo Animal (Animal GRIN em inglês), ele proporciona acesso ágil e padronizado aos bancos de germoplasma (BAGs) e às informações genômicas animais dos três países.

Sistema de Informação Alelo Animal (Animal GRIN) - Informações para unir o Mundo Até a implementação do Alelo Animal, o Brasil não contava com um sistema similar para área animal, e os dados encontravam-se, em sua maioria, sistematizados em planilhas digitalizadas ou em papel. A necessidade de uma ferramenta gerencial para recursos genéticos era uma demanda real, uma vez que poderia fornecer subsídios para avaliar a diversidade genética, estruturar estratégias de enriquecimento, comparar coleções da mesma raça entre países entendendo como eles podem ser geneticamente similares ou diferentes, e desenvolver ferramentas para auxiliar atividades de conservação ex situ e preservação in situ. No Brasil, o Alelo Animal encontra-se hospedado no portal Alelo (Figura 1), uma plataforma de serviços e gestão de dados e informações de pesquisa com Recursos Genéticos. Esta plataforma reúne: informações gerais sobre Recursos Genéticos, os programas de conservação e preservação associados, legislação ligada à Recursos Genéticos, e os sistemas de documentação de Recursos Genéticos Animais, Microbianos e Vegetais. O Sistema Alelo Animal (Animal GRIN – Figura 2), produto da parceria entre as empresas estatais de pesquisa agropecuária dos Estados Unidos (Agricultural Research Service ARS), do Brasil (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa) e do Canadá (Agricultural and Agri-Food Canada), tem por objetivo realizar uma gestão eficiente das informações produzidas pelas atividades de conservação de recursos genéticos animais. Em março de 2015 (Diário Oficial da União - Seção 3 - Edição n. º 41 de 03/03/2015 Pag. 6) foi assinado Acordo de Cooperação bilateral entre as empresas estatais de pesquisa agropecuária dos Estados Unidos (ARS) do Brasil (Embrapa). O sistema foi desenvolvido de forma customizada para cada um dos países envolvidos, como por exemplo, no caso do Brasil, a possibilidade de se documentar recurso genético mantido in situ.

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Figura 1 – Portal Alelo (http://alelo.cenargen.embrapa.br/), A: destaque link que leva à página de consulta pública do Alelo Animal; B. destaque link que leva para página restrita à usuários cadastrados.

Figura 2 – Página de Acesso ao Alelo Animal (Animal cenargen.embrapa.br/> e/ou <http://nrrc.ars.usda.gov/A-GRIN/>

GRIN).

<http://aleloanimal.

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O sistema foi desenvolvido com ferramentas de software livre, sendo Ruby on Railsa linguagem de programação, o Apache como servidor Web e o MySQL é o Sistema Gerenciador de Banco de Dados. O Alelo Animal pode ser hospedado tanto no Sistema Operacional Linux como Windows. No caso do Brasil está instalado em Servidor Windows. Cada país participante possui seus próprios servidores, os quais mantém seus dados atualizados em tempo real, ou seja, atualizados à medida que os mesmos são inseridos pelos curadores. A atualização entre as bases de dados dos países é realizada de forma sistemática pelos administradores do sistema. Estas informações são enviadas periodicamente via Web Hosting (Figura 3) com os devidos filtros, respeitando o acordo firmado entre as partes e a legislação Brasileira vigente. Para gestão dos dados brasileiros o sistema está instalado na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasília-DF.

Figura 3 – Representação esquemática do Sistema com Banco de Dados descentralizado.

O sistema permite diferentes níveis de acesso para garantir segurança das informações, havendo acesso hierarquizado de administradores e de curadores, com restrições próprias para cada um deles. O acesso pelo curador, por exemplo, permite somente a inserção, edição e completa visualização dos dados referentes a espécie/raça dos quais este seja responsável. 104


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Informações sensíveis podem ser incluídas no sistema com a segurança de que serão divulgadas somente quando o responsável permitir. Para os usuários cadastrados, o sistema possui inúmeras funcionalidades, provendo uma ferramenta poderosa e crítica que assegura a segurança de informação, e facilita o intercâmbio de germoplasma entre Instituições do país e exterior. A Base de Dados contém informações como: dados sobre o cadastro e dados de passaporte dos animais, taxonomia, intercâmbio de material, inventário do material conservado, descritores ambientais, fenotípicos, e genotípicos, pedigree, além de imagens. Focando no treinamento do curador, serão publicados dois Manuais do usuário (versões em Inglês e Português) que irão auxiliar no uso do sistema. As consultas públicas são realizadas por meio da página do sistema na internet (Figura 4). Qualquer pessoa pode acessar dados sobre material genético animal (sêmen, embriões, DNA, etc.) armazenados nos BAGs do Brasil e dos Estados Unidos. Caso exista interesse em utilizar o material encontrado para fins de pesquisa, comerciais ou outros, o interessado deve preencher o formulário da página de solicitação do germoplasma que será analisado por um comitê gestor, o qual poderá cedê-lo, rejeitá-lo ou disponibilizá-lo sob determinadas condições.

Figura 4. Página pública do Sistema Alelo Animal base de dados internacional. Disponível em: http://aleloanimal.cenargen.embrapa.br/database_collaboration_page

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Mesmo um usuário não cadastrado pode obter várias informações sobre o repositório por meio do ícone “Consulta” (Figura 5). Por exemplo, na página de Visão Geral da coleção (Figura 5 – seta), o usuário pode obter informações por refinamentos sucessivos de grupo de animal, espécie, raça e indivíduo, o que lhe dará uma visão do número de animais envolvidos e a quantidade de material disponível, de forma textual e gráfica (Figura 6).

Figura 5. Página pública do Sistema Alelo Animal. Disponível em: http://aleloanimal.cenargen.embrapa.br/ main_webpage/embrapa?record_source=BR. Seta – ícone para entrar na página “Visão Geral” – filtros por taxonomia.

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Figura 6 – Visão Geral da Coleção de DNA purificado da Embrapa.

Foco em tendências Outro ponto que merece ser destacado, é o desenvolvimento do módulo e armazenamento de informações genômicas (Figura 7) proveniente, principalmente, de chips de marcadores de polimorfismos único ou mais conhecidos como SNPs (por exemplo os comercializados pelas empresas Illumina e Affymetrix). O sistema poderá acomodar dados de chips de baixa (centenas), média (dezenas de milhares) ou alta densidade (centenas de milhares). Em uma atualização subsequente pretende-se estender essa funcionalidade para dados de sequenciamento de nova geração.

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Figura 7 – Página de acesso de usuário ao módulo Genômica do Sistema Alelo Animal.

A redução do custo para geração destes dados, implicou em que grandes quantidades de genótipos têm sido geradas tanto pela iniciativa privada como pelos órgãos públicos. O uso destas ferramentas de geração de dados é uma realidade, uma vez que já vem sendo amplamente usado no mundo todo, e no Brasil, tanto em raças comerciais como nas localmente adaptadas e nas nativas. Trabalhos de marcadores SNPs em bovinos, por exemplo, podem facilmente usar 800 mil marcadores para cada animal analisado. Essa tendência de uso rotineiro deste tipo de ferramenta, gera um volume gigantesco de informação, que não é aproveitado em sua totalidade e muitos cientistas têm dificuldade em encontrar espaço para guardar todos os resultados, pois grande parte desses atores não tem uma ferramenta de armazenamento e organização desses dados. Essa ferramenta pode auxiliar e otimizar os programas de melhoramento genético e de conservação de recursos genéticos vigentes, ao centralizar e disponibilizar essas informações. Além disso, dados sobre marcadores moleculares de interesse pecuário, como genes de conversão alimentar ou resistência a doenças, de posse de instituições de pesquisa, empresas privadas ou mesmo associação de produtores, atualmente armazenadas localmente, poderão ser 108


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guardadas com maior segurança em hardwares com backup remoto, e acesso exclusivo ao público autorizado pelo das informações. O USDA-ARS já está incentivando a utilização desse serviço: projetos financiados por uma de suas agências prevê que parte dos recursos sejam destinados ao centro da ARS de Fort Collins (Local do Banco genético americano) a fim de que os dados gerados sejam lá armazenados por meio do sistema Alelo Animal. Por estabelecer um padrão para acesso e armazenamento de dados genéticos, o Alelo Animal é um potencial candidato a servir de modelo para uma base compartilhada mundialmente.

Considerações Finais e Perspectivas O sistema Alelo Animal veio para suprir uma deficiência de anos do programa de conservação de recursos genéticos animal da Embrapa, e consequentemente do Brasil, cujas informações estavam organizadas de forma deficiente e com diferentes lógicas de gerenciamento. Atualmente, o sistema se encontra na fase de migração dos dados de todos Bancos ativos de germoplasma e Núcleos de Conservação da Empresa, e espera-se que todas Unidades da Embrapa dentro do Projeto vigente de conservação já estejam usando o sistema no período 2016 - 2018. A principal perspectiva do sistema, além da implementação nacional, é servir de modelo para outros países das Américas e quiçá de outros continentes. Dessa forma, caso o mesmo seja integralmente adotado, teremos uma poderosa base de informações que visa padronizar e disponibilizar as informações relativas aos recursos genéticos animais.

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15) Importance of plant mating systems for conservation and plant breeding Marines Marli Gniech Karasawa Atual: PhD Genetics and Plant Breeding (USP)/Post doc Haploid Technology – Gametic embryogenesis (UNIPA-IT). Anteriores: Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL-MG, Universidade de São Paulo (USP/ESALQ), Universidade Estadual de Feira de Santana. Formação acadêmica: Universidade de São Paulo (USP/ESALQ).

Introduction Generally plant reproductive systems are classified as sexual and asexual. Asexual mode of reproduction will produce progeny identical to the mother plant. On other hand, sexual mode of reproduction presents different degrees of crossing rates, which are: more than 95% (outcrossing), from 5% - 94% (mixed mating), and less than 5% (self-fertilization) (GNIECH KARASAWA, 2015). The species mating system present direct effect over the genetic composition of its populations (HAMRICK, 1982), because is it who defines the way that genes are spread from one to other generation. Plant species falls in one of these four reproduction mode: allogamous (cross-fertilization/outcrossing/panmitic), autogamous (self-fertilization), mixed mating (self-fertilization and cross-fertilization), and asexual (apomitic or vegetative reproduction).

Picture 1: Frequency of Angiosperms reproductive systems according to Fryxel (1957).

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In Angiosperms the different sexual mating systems adopt different reproductive strategies (Picture 2) that in certain way will optimize these systems. The great majority of the Angiosperms present hermaphroditic flowers (72%), being only 11% unisexual, 7% monoecious and 4% dioecious while the intermediary forms of sexual dimorphism (ginodioecious and androdioecious) will represent 7%, and the plants with both bisexual and unisexual strategies comprise 10% (AINSWORTH, 2000). The knowledge of plant reproductive system is not only important for plant producers and plant breeders but also in germplasm conservation issues because the mode of reproduction of the species determines how the genetic diversity will be structured (Picture 3) and maintained along the generations with none action of external factors. Still, it will establish how the product of breeding is maintained being determinant in the choice of the breeding method (ACQUAAH, 2007).

Picture 2: Angiosperms reproductive strategies (Ainsworth, 2000 modified by Karasawa, 2005).

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Plant reproductive system (sexual or asexual) present the greatest effect on the patterns of polymorphism (GLÉMIN, BAZIN & CHARLESWORTH, 2006) being the primary factor in establishing how the genetic diversity will be distributed (within or between populations) defining the population genetic structure (Picture 3). The reproduction mode will define if the gametes will be produced or not (sexual and asexual mode, respectively) and how they will be joined in the next generation (by outcrossing, by selfing, or by mixed mating). The control produced by both will affect the distribution of genotypic frequencies and the potential of population recombination, being able to reduce or accelerate the way in that new gene combinations are produced (ZANETTINI & CAVALLI, 2003). For example, species with cross-fertilizing systems will retain a big genetic diversity within populations (FRANKHAM, 2003) while self-fertilizing species will maintain the diversity between populations with family structure completely homozygous. In this last one, the fixation of specific allele’s can reduce and/or stop the response to environmental changes, and in extreme circumstances, the loss of diversity can drive the population to extinction (RICHARDS, 1997; HOLSINGER, 2000; HEDRICK, 2001; HERLIHY & ECKERT, 2002). Nowadays, evidence has been shown that the transition to self-fertilization is driven by genetic drift (SQUIRRELL et al., 2002) and by speciation being considered a dead end (WRIGHT, KALISZ & SLOTTE, 2013).

Picture 3: Genetic structure of different reproductive systems

Considering the final step of different reproductive systems presented (Picture 3) and evaluated in Table 1, we conclude that the observed heterozygosis (Ho) within each population is different, but the (He) genetic diversity is the same. So the difference is achieved in the population’s genetic structure. To understand better what is going on, we will compare the examples of different mating systems (Picture 3 and 4). Looking to them we can observe that it doesn’t matter if we let all 112


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sexual populations with the same genetic structure at the beginning (ancient population) because as time goes on the different mating systems and different outcrossing rates between individuals will bring them to the correct genetic structure if none external factor (drift, migration, selection, etc) act over there. The outcrossing individuals, for example, will maintain high genetic diversity within populations (by exchanging pollen between not related individuals) while the other one with successive self-fertilization steps will reduce the diversity within populations and increase the endogamy level step by step. However, the mixed mating populations with successive selffertilization and outcrossing steps will produce intermediary diversity levels according to the population’s selfing rate. In the other hand, the apomitic and/or asexual species will maintain the initial structure along the generations.

Table 1: Genetic diversity expected (He) and observed (Ho) of different mating systems and pure line.

Picture 4: Genetic diversity of different reproductive systems and the pure line.

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The example in Picture 4 illustrates well how different mating systems will define primarily the species genetic structure, and Picture 3 shows how the amount of genetic diversity (h = He) will be structured in each population after they reach genetic stability (final step). In theory, with no action of external factors, we expect is that the structure of an ancient population with no endogamy (F = 0), will remain in the original structure along the time (pink circle) exchanging alleles in equal proportion (LOWE, HARRIS & ASHTON, 2007) while the populations with mixed mating will evolve achieving stable position according to its crossing rate (0 < F < 1) and the self-fertilizing species will continue until they have all loci completely fixed (F = 1) that match with the red and the blue circle (Picture 4, Table 2).

Table 2: Genetic structure of different sexual reproductive systems.

How is it possible the outcrossing populations exchange pollen only between not related individuals? According to GNIECH KARASAWA et al. (2015) the outcrossing populations (called allogamous/cross-fertilization) show several mechanisms like, chemical systems (selfincompatibility), physical (unisexuality: monoecy and dioecy) and temporal systems (protogyny and protandry) that promote allogamy and assure the outcrossing between not related individuals. However, sometimes when we are evaluating genetic diversity and genetic structure in obligatory allogamous species (ex. dioecious plants) a considerable or high endogamy level is found.

How to explain this high endogamy in obligatory outcrossers in protected nature? Well, firstly we need to remember that between the systems that promote allogamy the self-incompatibility is the most effective because this system prevent efficiently the crossing between related individuals (by gametophytic or sporophytic system). However, along the time in some situations the self-incompatibility system also can be broken. But, normally high endogamy level is commonly found in species who present physical unisexual (monoecy and dioecy) or temporal systems (protogyny and protandry) to promote allogamy because these systems doesn’t avoid the crossing between related individuals and this will increase the endogamy level in the progeny (GNIECH KARASAWA et al., 2015). 114


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And, why all this information around the plant mating system is important for germplasm conservation and plant breeding? Because the genetic structure of the population is the main consequence of the species mating system. But, the genetic structure also can be consequence of sampling, management and the effective size (Ne). If the genetic structure follows the way that the genetic diversity (heritable portion of the observed phenotypic variation) is structured at species level (if it is localized within or between populations) then the knowledge of the genetic structure and genetic diversity is essential to determine the way that the species evolve (WEIR, 1990), to understand the genetics of native populations, adopt prospection and collecting practices, for management, for in-situ and ex-situ conservation, and for plant breeding. But, together with the mating system attention should be paid on several other factors like ecological and historical factors (SEGARRA-MOGARES et al., 2015), natural selection, migration, genetic drift, gene flow (SHABIR et al., 2015) and mutation because they will act on the presence and content of genetic diversity within populations establishing the genetic structure (WRIGHT, 1951). Still, anthropogenic factors like habitat fragmentation also can change the level and the distribution of the population genetic diversity isolating and reducing the population size by allele’s loss, specially rare alleles, reducing the heterozygosis (Ho) and population effective size (Ne), and increasing the endogamy and the genetic differentiation between populations (HAMRICK, 2004). Beside of this, the natural environment is typically merged with favorable and adverse areas. Even favorable and uniform areas may be changed by natural disaster such as flood, fire and other hazards. With the subdivision of the population in smaller groups it is inevitable the genetic differentiation between them changing the allele’s frequency. This differentiation may result from the natural selection or from the genetic drift as consequence of the founder effect or due the random effect on the establishment and mortality (HARTL & CLARK, 1997). So, understand the population genetic structure is important for establish sampling strategies in conservation and plant breeding (EPPERSON, 1990). If ignored in population genetic studies it can lead to misinterpretations in improvement or selective significance of the genotypes. For example, samples collected in areas where the allelic frequencies of the different loci are correlated in space will produce linkage disequilibrium. Moreover, the measurement of the standard error several estimative (like: F, θ e p) need independence of samples and this statement is violated by the degree of population genetic structure (Vencovsky et al., 2007).

How problems in sampling alleles in the nature, sampling size, crossing between relatives, death, pest and disease attack, etc., can reduce the genetic diversity in germplasm regeneration? The occurrence of these problems will reduce the effective size (Ne) of the sample reducing the genetic diversity within population reducing the ability to adapt in a changing environment being more susceptible to extinction. Still, conserve genetic diversity in populations means conserve genes that promotes resistance to pests, disease, drought, etc, that will be useful in 115


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breeding domesticated species increasing food production. According Khoury, Laliberté & Guarino, (2010) the first limitation affecting planning, conservation and use are the quality and accessibility of germplasm information, and accessibility of resources for regeneration, collecting and research. Also, we add that the shortage of financial support and qualified human resources, and lack of continuity in administration polices of institutions can affect the germplasm ex situ conservation. In this sense, the correct conservation of plant genetic diversity in gene bank will fortify the future of agriculture and food production being decisive to guarantee the ability of future generations (DULLOO, 2015). So, during the regeneration step of germoplasm it is important maintain the genetic integrity and representativeness of the sample collected in the nature taking into account the species reproductive system in order to reduce the genetic drift (VENCOVSKY et al., 2007). Considering the different mating systems we would like to address that cross-fertilizing (panmitic) species will present greater management difficulties during regeneration because of their ability to easy cross with their neighbor being common special and temporal isolation and hand pollination (KHOURY, LALIBERTÉ & GUARINO, 2010). Still, that recent research evidence point out that plant mating system can produce different influence on the degree of seed dormancy. In the Leontondon autumnalis (Asteraceae) was found that the cross-pollinated had contrary effect in inner and outer forest showing faster germinantion in self-pollinated seeds than in cross-pollinated seeds (PICÓ & KOUBEK, 2003), and in the Hypericum elodes (Hypericaceae) a mixed mating system species CARTA et al., (2015) found that the degree of primary seed dormancy was affected by the pollination mode. So, the breeding system should be considered as variation source of dormancy according to the selfing rate within population. Still, interesting information was made by SQUIRRELL et al. (2002) about the conservation genetics of the Epipactis leptochila complex (Orchidaceae) where they point out that drift more than mutation was the main force responsible for the genome differences between crossfertilizing and self-fertilizing taxa. So we conclude that plant mating system is important in establishing how genetic diversity will be structured in the populations of each species and it seems that the reproduction mode will determine how long the seed will be maintained dormant. This recent information will affect directly the germplasm management procedures and plant breeding. Another important point to be considered is that genetic drift during the sampling procedure can produce allele’s loss, and at least, along the time, can produce changes in the plant mating system. In this sense, procedures in collecting and management of plant germplasm are much more complex than expected.

Acknowledgements Thanks to the Professor Roland Vencovsky (in memoriam) for encourage and teaching this important topic. Thanks also to the Palermo University for help me to improve the pollen

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biology, at microscopical level, to reviewer Manoel Abilio Queiroz for the precious suggestions, and to Renato Ferraz Arruda Veiga for the opportunity in publishing this article.

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16) Banco Ativo de Germoplasma de Stylosanthes spp. da Universidade Estadual de Feira de Santana - BA

Ronaldo Simão de Oliveira Eng. Agr. pela UE Bahia (2009), Me. pela UF do Recôncavo da Bahia (2011) e Dr. em Recursos Genéticos Vegetais pela UE de Feira de Santana - BA(2015). É professor da Universidade Estadual de Feira de Santana onde leciona no curso de Engenharia Agronômica e na Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais atuando nas áreas de Recursos Genéticos Vegetais, Melhoramento Genético Vegetal e Fitotecnia. Vêm desenvolvendo pesquisas nas respectivas áreas com espécies forrageiras nativas do Semiárido brasileiro.

Manoel Abílio de Queiróz Eng. Agr. UFRP (1967), Me. em Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas) pela USP (1969) e Dr. em Genetics and Plant Breeding - University of Cambridge, Inglaterra (1984). É Prof. Titular da UNEB, Docente Permanente do Curso de Mestrado em Horticultura Irrigada e também da UEFS no curso de PósGraduação em Recursos Genéticos Vegetais. Tem experiência na área Recursos Genéticos Vegetais e Melhoramento de Plantas, atuando principalmente nos seguintes temas: cucurbitáceas, plantas nativas do semiárido.

Introdução O Semiárido brasileiro corresponde a um pouco mais de 10% do território nacional e apresenta ecossistema xerófilo, grande variação em relação aos tipos de solos e principalmente irregularidade das chuvas, tanto no volume como na distribuição, determinando longos períodos de secas, com fortes deficiências hídricas (IBGE, 2010). Por apresentar características adversas da maioria das regiões brasileiras, durante muito tempo, subestimou-se que esta região era um ambiente hostil e com poucas possibilidades econômicas. Entretanto, essa visão está sendo paulatinamente modificada, pois o problema fundamental não reside na escassez de recursos naturais, mas sim no pouco conhecimento desses, levando ao insuficiente aproveitamento de seu potencial no desenvolvimento de formas de produção sustentáveis e menos agressivas ao meio ambiente. 119


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No que tange à agricultura, a escassez de chuvas tem sido um problema, pois o cultivo de espécies exóticas anuais, como feijão (Phaseolus vulgaris L.) e milho (Zea mays L.) proporciona perdas irreversíveis nas lavouras gerando problemas econômicos para os agricultores. Por outro lado, a pecuária tem sido ao longo dos anos a atividade econômica mais estável nesta região. Entretanto, tem causado impactos negativos na conservação da biodiversidade, pois durante a estação seca, os animais pastejam nas áreas de caatinga e não deixam as plantas se desenvolverem, contribuindo desta forma para elevar o grau de degradação ambiental. Assim, as estratégias atuais para o desenvolvimento e aproveitamento da riqueza vegetal, incluindo a utilização dos seus recursos genéticos vegetais, tem sido conhecer a imensa variabilidade genética existente visando melhorar o seu uso no desenvolvimento de alternativas sustentáveis para as populações locais que executam atividades agropecuárias e também contribuir para a conservação da biodiversidade. Muitas espécies existentes no semiárido são exploradas de forma extrativista, como as fibrosas, forrageiras, fruteiras, oleaginosas, ornamentais, entre outras. Esse extrativismo tem causado sérios danos para a espécie, como ocorre com a exploração das cactáceas ornamentais que são retiradas da natureza, as flores da planta “sempre-viva” (Helichrysum bracteatum (Vent.) Willd.) na Chapada Diamantina, a retirada de casca de algumas árvores taníferas como o angico (Anadenanthera colubrina Vell.), aroeira (Myracrodruon urundeuva Engl.) em várias áreas do bioma Caatinga, entre outras. No caso das forrageiras, apesar da região apresentar uma grande diversidade de espécies nativas, observa-se que a maioria das pastagens são cultivadas com plantas exóticas, podendose citar entre os principais, as espécies pertencentes aos gêneros Brachiaria (Trin.) Griseb., Panicum L., e Cynodon Rich. Esta prática agrícola tem gerado instabilidade na produção de forragem devido a interação G x A dificultando assim, a alimentação dos rebanhos (caprinos, ovinos e bovinos). No Brasil, existem alguns programas de melhoramento genético em forrageiras tropicais (gramíneas e leguminosas forrageiras) que apresentam resultados satisfatórios. A Embrapa há mais de três décadas lidera as pesquisas com estas espécies tropicais (JANK et al., 2011) e tem contribuído com mais de 70% das cultivares em uso no país (VALLE et al., 2009). Entre os destaques pode-se citar os programas desenvolvidos com Arachis spp. (VALLS, 2006; ASSIS et al., 2008), Brachiaria spp. (MILLES & VALLE, 1996; MILES, 1999; VALLE et al., 2009, 2010; SOUZA et al., 2010), Panicum maximum Jacq. (RESENDE et al., 2004; JANK et al., 2005, 2008), Pennisetum spp. (PEREIRA & LÉDO, 2008) e Stylosanthes spp. (SIMEÃO et al., 2006; EMBRAPA GADO DE CORTE, 2007, SANTOS – GARCIA et al., 2011, 2012, SIMEÃO et al., 2013, 2014). Entretanto, todos estes programas têm desenvolvido cultivares para outras regiões do país (Centro-Oeste, Norte e Sudeste), que apesar de se mostrarem superiores, tem sido pouco adotada no Semiárido brasileiro por falta de características que facilitem sua ampla utilização, adequação às condições edafoclimáticas e aos sistemas de produção existentes. Desta forma, estudos sobre 120


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as forrageiras nativas, naturalmente adaptadas às condições edafoclimáticas da região devem ser priorizados. Entre as espécies forrageiras, o gênero Stylosanthes Sw. (leguminosa forrageira) nativo das regiões tropicais e subtropicais (COSTA, 2006) tem demonstrado potencial para a produção de massa verde, tolerância à seca e alto valor nutricional em países que apresentam condições semelhantes às observadas no Semiárido brasileiro (CHAKRABORTY, 2004) e também no Cetro-Oeste brasileiro (JANK et al., 2011). Aliás, a Bahia, que contém 70% de seu território inserido na região semiárida, apresenta grande diversidade de plantas dessa leguminosa. Porém, ainda não tem um programa de prémelhoramento e melhoramento genético vegetal que busque desenvolver cultivares adaptadas às condições de clima e solo e que atendam às necessidades da pecuária regional. Assim, este trabalho objetivou formar um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Forrageiras para desenvolver trabalhos de pré-melhoramento e melhoramento vegetal com espécies de forrageiras tropicais nativas, iniciando pelo gênero Stylosanthes. Material e métodos As atividades para a formação do BAG-Forrageiras da Universidade Estadual de Feira de Santana (BGF-UEFS) iniciaram a partir do levantamento das instituições do Brasil e Nordeste brasileiro que trabalham e conservam forrageiras tropicais. Como embasamento utilizou-se a literatura e a base de dados da Plataforma Nacional da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. A partir da identificação das instituições que trabalham com forrageiras tropicais, realizouse o levantamento nos herbários das instituições, detalhando mais precisamente as instituições do estado da Bahia. Em posse desses dados iniciaram-se as coletas de germoplasma e ampliação do BGF-UEFS. As rotas para a realização das expedições de coleta foram definidas com a utilização do mapa político da Bahia adotando-se como prioridade as regiões Semiáridas do Estado, de maior ocorrência e que apresentavam a maior diversidade de espécies por região tendo como base os pontos de ocorrência levantados nos herbários. As regiões contempladas inicialmente para as expedições de coleta foram a Centro Norte, Nordeste, Centro Sul, Vale São Franciscano da Bahia e extremo Oeste da Bahia. As coletas iniciaram no ano de 2008 nos meses de março, junho, agosto, setembro e dezembro procurando sempre priorizar o zoneamento agrícola de cada região, pois os estudos de base mostraram que as épocas escolhidas são os períodos onde a maioria das plantas da caatinga estão produzindo sementes, inclusive as de Stylosanthes. As informações sobre os pontos coletados foram georreferenciadas utilizando GPS (Global Position System) com precisão de sete metros e todas as informações sobre a área foram registradas em uma caderneta de campo. 121


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Em algumas situações os princípios de tamanho efetivo populacional para a representação na frequência alélica não puderam ser empregados (VENKOVSKY et al., 2007), porque em alguns locais existiam poucas plantas, principalmente devido ao superpastejo de animais na área. Entretanto, pelo elevado número de locais amostrados, as coletas atenderam aos princípios de amostragem (WALTER & CAVALCANTI, 2005), onde foi possível amostrar o maior número de locais em relação ao número de plantas amostradas em cada local de coleta. Foram colhidos frutos e material vegetal para confecção das exsicatas. O material vegetal foi previamente prensado e depositado no herbário da UEFS onde parte das amostras já foi identificada por um especialista em leguminosas e as demais exsicatas foram depositadas no herbário para posterior identificação. Os frutos armazenados em sacos de papel foram identificados com o número do ponto de coleta do acesso e encaminhados ao Laboratório de Ecologia Evolutiva - LEE da Universidade Estadual de Feira de Santana para beneficiamento manual, que consistiu na remoção do lomento por meio de fricção utilizando emborrachados de 4 mm de espessura. As sementes obtidas de cada acesso foram alocadas em envelopes etiquetados com identificação de três letras, ano de coleta e número de identificação do acesso que será registrado na formação do BAG (ex. BGF 08-001), fechadas com grampo galvanizado e acondicionadas em vasos herméticos contendo sílica gel como indicador de umidade e mantidas em temperatura ambiente em torno de 26 ºC (GÓMEZ - CAMPO, 2006). Após as coletas foram e, continuam sendo desenvolvidas etapas de identificação do material coletado, caracterização morfológica, multiplicação das sementes, análise bromatológica e avaliação preliminar e aprofundada dos acessos. As sementes oriundas de multiplicação estão sendo limpas e armazenadas para conservação em curto e médio prazos.

Resultados e discussão As coletas botânicas de germoplasma de Stylosanthes spp., na Bahia, foram iniciadas em 1971 e até o momento foram catalogadas 1.305 exsicatas, sendo que os herbários HUEFS – Herbário da Universidade Estadual de Feira de Santana, ALCB – Alexandre Leal Costa da Universidade Federal da Bahia e CEPEC - Herbário André Maurício Vieira de Carvalho do Centro de Pesquisas do Cacau foram os que apresentaram as maiores representatividades 491, 293 e 272, respectivamente. Os demais herbários pesquisados apresentaram as seguintes amostras: CEN – Herbário da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (CENARGEN) (203), BAH - Herbário Antônio Nonato Marques da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) (24), HUESC – Herbário da Universidade Estadual de Santa Cruz (12), HUESB – Herbário da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (07), HVASF – Herbário Vale do São Francisco da Universidade Federal do Vale do São Francisco (03) e HURBHerbário do Recôncavo da Bahia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (0). Pode-se inferir que estendendo essa análise para os demais herbários existentes no Semiárido brasileiro, o número de pontos de ocorrência irá aumentar, pois existem outras instituições no Nordeste 122


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brasileiro que apresentam herbários com grandes quantidades de amostras herborizadas; por exemplo, o herbário do Instituto Agronômico de Pernambuco, em Recife. Já foram catalogadas 25 espécies (Tabela 1), sendo que a S. viscosa apresentou o maior número de exsicatas, seguida de S. guianensis e S. gracilis. Observou-se que a S. scabra, além de apresentar elevado número de exsicatas, exibiu o maior número de locais de ocorrência.

Tabela 1. Levantamento, número de exsicatas (NE) depositadas nos herbários pesquisados e número de municípios ocorrentes (NMO) com Stylosanthes spp. no estado da Bahia

Espécie

NE

NMO

Stylosanthes spp.

190

67

Stylosanthes acuminata M. B. Ferreira & Souza Costa

2

2

Stylosanthes angustifólia Vogel

23

14

Stylosanthes bahiensis L. 't Mannetje & G. P. Lewis

2

1

Stylosanthes campestris M. B. Ferreira & Sousa Costa

1

1

Stylosanthes capitata Vogel

87

45

Stylosanthes debilis M. B. Ferreira & Sousa Costa

23

14

Stylosanthes gracilis Kunth

116

42

Stylosanthes grandifolia M. B. Ferreira & Sousa Costa

4

2

Stylosanthes guianensis (Aubl.) Sw.

123

51

Stylosanthes guianensis var. gracilis (H. B. K) Vog.

1

3

Stylosanthes guianensis var. microcephala M. B. Ferreira & Sousa Costa Stylosanthes guianensis var. canescens M. B. Ferreira & Sousa Costa

1

1

3

1

Stylosanthes guianensis var. guianensis (Aubl.) Sw.

9

6

Stylosanthes guianensis var. pauciflora M. B. Ferreira & Sousa Costa

48

21

Stylosanthes guianensis var. vulgaris M. B. Ferreira & Sousa Costa

4

4

Stylosanthes hamata (L.) Taub.

5

10

Stylosanthes humilis Kunth

10

9

Stylosanthes leiocarpa Vogel

9

11

Stylosanthes longicarpa Brandão & Sousa Costa

1

1

Stylosanthes macrocephala M. B. Ferreira & Sousa Costa

60

36

Stylosanthes nunoi M.B.Ferreira & Sousa Costa

4

4

Stylosanthes pilosa M.B.Ferreira & Sousa Costa

19

13

Stylosanthes scabra Vogel

101

89

Stylosanthes seabrana B.L.Maas & 't Mannetje

9

10

Stylosanthes viscosa Sw.

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81

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Os dados de levantamento realizados nos herbários mostraram que existe uma grande diversidade do gênero em diferentes regiões do estado representada por pontos de ocorrência georreferenciados em mais de 100 municípios. Esses dados corroboram com os observados por Giulietti et al. (2004), que ao avaliaram a diversidade da vegetação nativa do bioma caatinga, encontraram elevada ocorrência de forrageiras leguminosas, principalmente no estado da Bahia, entretanto, observaram que o germoplasma existente foi pouco explorado para fins de melhoramento genético e que a maioria das pastagens cultivadas da região são implantadas com espécies exóticas. Dessa forma, o resgate de germoplasma de Stylosanthes spp. poderá ajudar o programa de pré-melhoramento e melhoramento dessa forrageira e, se tiver continuidade e sucesso poderá desenvolver cultivares que podem proporcionar a melhoria das pastagens no Semiárido baiano. Até o momento foram realizadas cinco expedições, que possibilitaram resgatar 225 acessos de Stylosanthes spp. de cinco mesorregiões da Bahia, dos quais 61 foram no Nordeste baiano onde foram amostrados 17 municípios, 58 acessos foram originários do Centro Norte baiano sendo coletados em 14 municípios, 59 acessos foram oriundos do Vale São Franciscano da Bahia com 9 municípios amostrados, 24 foram resgatados no Centro Sul Baiano em 7 municípios e 23 acessos no extremo Oeste Baiano sendo representados 3 municípios. Devido à diferenciação de clima, em determinados locais algumas espécies estavam com frutos verdes e secos na mesma planta e em outros pontos, as plantas já estavam mortas, mas apresentavam frutos. Assim, os pontos de ocorrência, a observação do período chuvoso das regiões de coleta, a variação e o período de frutificação das espécies do gênero foram determinantes para o sucesso das expedições de coleta. Foi observado também, principalmente no extremo oeste baiano a substituição das áreas nativas de cerrado por monocultivos, principalmente de algodão (Gossypium hirsutum L.), milho, soja (Glycine max L.), e sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench), comprovando a grande erosão genética que vem ocorrendo na região. Em algumas situações durante as expedições de coleta, chegou-se a percorrer mais de 70 km de estradas e áreas de cultivo até a divisa com o estado do Tocantins (Taguatinga-TO) e não foi possível resgatar nenhuma amostra do gênero Stylosanthes. Assim, torna-se essencial, o direcionamento das expedições de coleta para essa mesorregião, no intuito de amostrar populações que possam ainda existir nas áreas adjacentes às áreas de cultivo pensando em diminuir a erosão genética desta região. Algumas regiões ainda precisam ser amostradas. Entretanto, devido a fatores climáticos, as expedições de coleta estão suspensas. Entre as regiões que serão amostradas encontram-se o Semiárido do Sudoeste da Bahia, onde apresenta grande diversidade do gênero. Coletas de germoplasma de forrageiras leguminosas autóctones iniciaram desde o século XIX no Brasil. A partir dos anos 70 a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia realizou coletas de germoplasma por todas as regiões brasileiras (WALTER & CAVALCANTI, 2005), entretanto, no Semiárido brasileiro, especificamente no estado da Bahia, as coleções de 124


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forrageiras leguminosas praticamente não foram contempladas, apesar de existir amostras na coleção base da Embrapa em Brasília. Em estudo realizado nas instituições do Nordeste brasileiro observou-se a existência de apenas 11 espécies forrageiras conservadas, considerando gramíneas e leguminosas forrageiras, constatando que as espécies: mororó (Bauhinia spp.) e a jureminha (Desmanthus virgatus (L.) Willd.) são as únicas nativas, o que representa muito pouco de todo patrimônio genético de forrageiras existente e armazenado na região (RAMOS et al., 2008). Até o momento, não havia nenhuma informação sobre espécies do gênero Stylosanthes, o que torna o aumento do número de expedições essencial para o resgate de germoplasma de espécies desse gênero, no intuito de conservar o patrimônio vegetal existente, evitar a erosão genética (RAMOS et al., 2008) e possibilitar o surgimento de programas de pré-melhoramento e melhoramento voltados para o desenvolvimento de cultivares forrageiras adaptadas à região Semiárida do Brasil, que até o momento é inexistente. Dos acessos coletados, 35 já foram identificados botanicamente até o momento, observando-se a existência de quatro espécies (S. scabra, S. humilis, S. capitata e S. viscosa), embora os materiais oriundos das últimas coletas encontrem-se em fase de identificação, possivelmente o número de espécies ocorrentes no estado da Bahia irá aumentar. Além da elevada ocorrência de diferentes espécies, as coletas possibilitaram identificar grande variação entre e dentro dos acessos, nas diferentes regiões para vários descritores. Das amostras coletadas, 85 acessos já foram multiplicados, caracterizados e avaliados preliminarmente. Observou-se que existe uma grande variabilidade genética entre e dentro das espécies identificadas (Figura 1). Os acessos têm mostrado superioridade para características importantes para a produção animal como: relação folha/caule, produção de massa fresca e seca, teores nutricionais e resistência a estresses bióticos e abióticos. Como a ocorrência de espécies desse gênero tem histórico de presença muito amplo, no estado da Bahia existe potencial para ampliar as coletas, identificar os melhores indivíduos, possibilitando selecionar materiais superiores para diminuir a escassez de forragem para os animais do Semiárido brasileiro, já que essa região conta com um número expressivo de bovinos e apresenta o maior rebanho de caprinos e ovinos do país.

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A

B

C

D

Figura 1. Variabilidade genética do germoplasma de Stylosanthes spp. conservado/preservado no BGF-UEFS: Variação no hábito de crescimento e cor da planta (A) porte ereto e planta arroxeada e (B) porte prostrado e planta verde; (C) e (D) – Variação para a cor da flor.

Aliado a isso, a formação deste BAG tem possibilitado aperfeiçoar recursos humanos nas áreas de Recursos Genéticos Vegetais e desenvolver pesquisas com estudantes de graduação. Já foram desenvolvidos dois trabalhos de mestrado (SANTANA, 2010 e AMÉRICO, 2015) e um de doutorado (OLIVEIRA, 2015) com o gênero Stylosanthes. Trabalhos científicos estão sendo publicados em revistas nacionais (SANTANA et al., 2012; OLIVEIRA et al., 2016) e internacionais (OLIVEIRA et al., 2015). Além disso, a parceria entre as universidades públicas do estado – Universidade Estadual de Feira de Santana, BA (UEFS) e a Universidade do Estado da Bahia, campus de Juazeiro, BA (UNEB-DTCS) tem possibilitado a interação entre professores pesquisadores de diferentes subáreas das Ciências Agrárias como Recursos Genéticos Vegetais, Melhoramento Genético Vegetal, Forragicultura e também a inserção de alunos de graduação em agronomia no desenvolvimento deste projeto, possibilitando a realização de estágios voluntários e de iniciação científica com as espécies armazenadas. Essa parceria entre instituições tem permitido o avanço no estudo de caracterização morfológica, avaliação bromatológica e avaliação do desempenho dos acessos em diferentes ambientes (interação G x A) (Figura 2), consequentemente maior conhecimento sobre as espécies nativas do Semiárido brasileiro. Outras instituições do Nordeste estão mostrando-se interessadas em estudar o gênero e tem acessado o BAG com o intuito de realizar parcerias para aumentar o conhecimento a respeito destas plantas nas áreas de citogenética, microbiologia e biologia molecular, já que são adaptadas às condições de semiárido e apresentam elevado potencial para produzir forragem de qualidade. 126


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A

B

Figura 2. Desempenho dos acessos nos ambientes de Feira de Santana, BA (A) e Juazeiro, BA (B).

Conclusões O estudo com o gênero Stylosanthes tem avançado e os resultados obtidos até o momento são promissores, pois mostram que existem acessos com grande potencial para produtividade de massa bem como para teores nutricionais que podem ser utilizados em programas de melhoramento genético vegetal direcionados para o Semiárido brasileiro. Novas coletas estão sendo programadas a fim de representar todo o estado da Bahia e resgatar a variabilidade existente para ser conservada em curto, médio e longo prazo. Assim, espera-se que a continuidade deste trabalho prossiga formando recursos humanos em Recursos Genéticos Vegetais e melhoramento vegetal e também permita o desenvolvimento de cultivares para a região Semiárida brasileira.

Bibliografia AMÉRICO, F. K. A. 2015. Germinação e armazenamento de sementes de Stylosanthes sw. em diferentes ambientes. Dissertação (Mestrado em Recursos Genéticos Vegetais). Universidade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana, Brasil. CHAKRABORTY, S. High-yielding anthracnose resistant Stylosanthes for agricultural systems. Australian Centre for International Agricultural Research, ACIAR, Canberra, 2004. 268p. COSTA, N. M. S. 2006. Revisão do gênero Stylosanthes Sw. 469 f. Tese (Doutorado em Engenharia Agronômica), Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, Portugal. EMBRAPA CAMPO GRANDE. Cultivo e uso do Estilosantes Campo Grande. Campo Grande, MS: Embrapa Gado de Corte, 2007. 11p. (Comunicado técnico, 105). GIULIETTI, A. M. et al. Diagnóstico da vegetação nativa do bioma Caatinga. 2004. Disponível em: <http://www.uefs.br/ppbio/cd/português/introdução.htmhttp://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/ bitstream/item/18267/1/Biodiversidade_Caatinga_parte2.pdf >. Acesso em: 27 jul. 2016.

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GOMEZ CAMPO, C. Long term seed preservation: updated standards are urgent. Madrid: Universidad Politécnica de Madri, 2006. 4p. (Monographs ETSIA, 168). IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estastística. Indicadores IBGE. Censo Demográfico 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatística/população/default.shtm>. Acesso em 20 jul. 2016. JANK, L; VALLE, C. B. & RESENDE, R. M. S. Breeding tropical forages. Crop Breeding and Applied Biotechnology, v. 1, p. 27-34, 2011. OIVEIRA, R. S. 2015. Coleta, Caracterização e Avaliação Preliminar de Acessos de Stylosanthes spp. 112f. Tese (Doutorado em Recursos genéticos Vegetais). Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Brasil. OLIVEIRA, R. S.; QUEIRÓZ, M. A.; ROMÃO, R. L.; ALMEIDA, B. A. S.; MISTURA, C.; QUEIRÓZ, L. P. Genetic parameters in Stylosanthes using different statistical methods. African Journal of Agricultural Research, v. 10, p. 4222-4230, 2015. OLIVEIRA, R. S.; QUEIROZ, M. A.; ROMÃO, R. L.; SILVA, G. C; BRASILEIRO, B. P. Genetic diversity in accessions of Stylosanthes spp. using morphoagronomic descriptors. Revista Caatinga, v. 29, p. 101-112, 2016. SANTANA, A. S. 2010 Resgate, Caracterização Morfométrica e Avaliação Bromatológica de Acessos de Stylosanthes sp. do Semiárido Baiano. 97f. Dissertação (Mestrado em Recursos Genéticos Vegetais. Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Brasil. SANTANA, A. S.; OLIVEIRA, R. S.; ROMÃO, R. L.; BRASILEIRO, B. P e GENEROZO, D. B. Divergência genética entre acessos de Stylosanthes Sw. (Fabaceae) coletados no Semiárido Baiano. Magistra, v.24, p.304313, 2012. RAMOS, S. R. R.; QUEIROZ, M. A.; ROMÃO, R. L; JÚNIOR, J. F. S. J. Germoplasma vegetal conservado no Nordeste brasileiro: situação atual, prioridades e perspectivas. Magistra, v. 20, p. 205-217, 2008. VENCOVSKY, R.; NASS, L. L.; CORDEIRO, C. M. T.; FERREIRA, M. A. J. F. Amostragem em recursos genéticos vegetais. IN: NASS, L. L. (Ed.). Recursos Genéticos Vegetais. Brasília - DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2007. p.231-280. WALTER, B. M. T. & CAVALCANTI, T. B. Fundamentos para coleta de germoplasma vegetal. 1ª ed. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2005. 778p.

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III - Expresse a sua opinião 1. O que é a Convergência de Tecnologia na Biologia da Conservação? Afonso Celso Candeira Valois Engenheiro Agrônomo, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador Aposentado da Embrapa.

No Brasil, é premente a constância de propósitos de pesquisa sobre a convergência de tecnologia na biologia da conservação de germoplasma na condição in situ e ex situ, através dos esforços e ações de centros e institutos de pesquisa, universidades e outras instituições. Trata-se de uma moderna disciplina que procura sistematizar e harmonizar a convergência e complementaridade dos conhecimentos, tecnologia apropriada e das inovações disponíveis na busca do melhor entendimento e aplicação das alternativas plausíveis de manutenção e utilização dos genótipos de plantas, animais e microrganismos, além da adequação da estrutura física e apoio logístico. Para isso, antes da execução da pesquisa pretendida, torna-se necessário aprofundar a revisão bibliográfica no sentido de aprimorar os estudos e levantamentos sobre a existência de tecnologias convergentes sobre o tema em questão que estejam à disposição e que sejam compatíveis com esse novo enfoque temático. Dentro de um pragmatismo cabal, no processo do desenvolvimento de uma ciência como a biologia da conservação de germoplasma pode ser visto que existem momentos em que há uma fragmentação que facilita a compreensão dos fenômenos mais intrínsecos de um determinado enfoque, além de outros, onde ocorre um agrupamento ou uma convergência, com a atuação de tecnologias complementares apropriadas. Essa alternância é fundamental para o alcance dos avanços pretendidos, onde, por exemplo, pode ser citada a biologia da conservação, que por seu turno passou por um período de fragmentação e divisão em várias disciplinas, com aperfeiçoamento dos conhecimentos, mas que atualmente necessita dessa convergência para tornar o processo mais atrativo e aplicável, dentro de um aceitável enfoque sistêmico. Assim, de forma concentrada são apresentados os seguintes temas que completados por outros podem ser úteis a esse propósito do melhor entendimento e da busca da convergência da tecnologia em benefício da biologia da conservação: 1) Tamanho ideal das unidades de conservação; tamanho efetivo mínimo viável da população para tornar os procedimentos mais pragmáticos; amplitude da convergência harmônica entre plantas, animais e microrganismos em interação com o ambiente em que 129


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vivem; inventário, domesticação e enriquecimento dos recursos genéticos; valoração da biodiversidade e da agrobiodiversidade; processos dinâmicos de conservação de germoplasma; aplicação dos fundamentos da coleção nuclear; complexo gênico; fisiologia do desenvolvimento e sistemas reprodutivos de genótipos; sanidade vegetal e animal; homeostase genética e do desenvolvimento; efeitos pleiotrópicos; efeitos endogâmicos; efeitos de perigos e danos naturais e antrópicos que atuam para a vulnerabilidade da biodiversidade; 2) Citogenética; botânica e taxonomia; conceito tipológico versus conceito genético na caracterização de germoplasma, genética qualitativa; genética quantitativa; genética de populações; genética evolutiva, demes, clines e ecótipos; genética estatística; genética de microrganismos; genética genômica, proteômica, metabolômica, epigenômica e transcriptômica; genética sintética; etnobotânica; etnobiologia; ecologia e evolução levando em consideração as forças evolucionárias da mutação, migração, recombinação, oscilação genética e seleção (natural, estabilizadora, direcional e disruptiva); seleção artificial versus seleção natural; conceito evolutivo versus conceito do equilíbrio de ligação, diversidade funcional de ecossistemas; populações simpátricas, populações alopátricas e isolamento reprodutivo; efeitos alelopáticos; efeitos heteróticos; 3) Erosão genética e perigo de extinção de espécies considerando os seguintes critérios com o objetivo de estabelecer prioridades para a conservação e resgate da diversidade e variabilidade genética: com risco, vulnerável, raro, sem perigo, indeterminado, desconhecido e fora de perigo; 4) Biologia molecular, mapeamento e análise genômica; funcionalidade dos genomas; sequenciamento de DNA; bioinformática e modelagem molecular; regulação e expressão gênica; bioquímica do metabolismo; estresses bióticos e abióticos na presença das atuais ameaças de mudanças climáticas; bioprospecção e engenharia de genes e proteínas; marcadores moleculares; tipificação de genótipos; 5) Biologia celular; cultivo in vitro e estabilidade genética dos acessos conservados; mutação e efeitos epigenéticos; regeneração e transformação; micro-propagação e diferenciação celular; fisiologia de sementes ortodoxas, intermediárias e recalcitrantes; criopreservação. 6) A união desses e de outros procedimentos com a aplicação da convergência de tecnologia é de fundamental importância para o constante aperfeiçoamento requerido para o pleno sucesso da biologia da conservação de germoplasma. 7) Dentro dessa auspiciosa convergência de tecnologias, encontra-se um enorme desafio para os melhoristas de plantas que é estabelecer um ideótipo levando em consideração os deferentes genótipos existentes no âmbito de uma dada espécie vegetal. 8) Para o pleno desenvolvimento desse modelo pode ser considerado o milho (Zea mays), por ser uma das espécies mais estudadas no Reino Plantae, que por ser alógama favorece uma larga variação genética entre os descendentes e exploração da herança, como fundamentos das leis da genética.

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9) A ideia básica é tentar a obtenção de um ideótipo de planta que possa congregar o máximo de características genéticas convergidas para um só conjunto de indivíduos meiosirmãos, advindo das várias pesquisas divergentes executadas em diferentes genótipos, considerando os caracteres de interesse, com o uso da ferramenta da seleção artificial funcional. 10) Nesse sentido é relevante considerar a herdabilidade do caráter no sentido restrito para explorar a variância genética aditiva, bem como, a própria resposta correlacionada, capacidade geral e específica de combinação, pré-melhoramento, índice de seleção, estimativa de parâmetros genéticos sem o emprego de progênies e valoração genética, dentre outros. 11) Dentro desse propósito desafiador, estima-se que para isso primeiramente haveria uma revisão bibliográfica circunstanciada sobre as pesquisas já desenvolvidas, tomando-se como base cada parte do corpo da planta, isto é, raiz, caule (colmo), folha, flor e fruto (espiga). Logicamente que esse minucioso levantamento abrangeria os caracteres qualitativos e quantitativos. 12) Para o início de uma discussão no sentido holístico, nesse levantamento seriam incluídos os seguintes parâmetros: Raiz A amplitude e ritmo de desenvolvimento da cabeleira radicular, área de ocupação no solo, profundidade, emissão de adventícias para fortalecer a tolerância ao acamamento, além de outros; Colmo Circunferência a 5 cm do solo, distância entre os nós, altura da planta, inserção de raízes adventícias etc.; Folhas Número, tamanho médio, intensidade da clorofila, área foliar, ângulo de inserção no colmo, disposição ao longo do colmo, resistência e tolerância ao desfolhamento natural, capacidade de externar deficiência mineral, resistência a fatores bióticos e tolerância a impedimentos abióticos etc.; Flor Floração masculina- tamanho do pendão, número de estames, grau de dispersão do grão de pólen, estimativa da quantidade de grãos de pólen, dispersão e alcance de grãos de pólen, presença de espiguetas etc.; Floração feminina- tamanho da inflorescência, tamanho do estilo-estigma, distribuição ao longo do colmo, altura da primeira inflorescência etc.; Fruto Frutificação feminina- altura da primeira espiga, número de espigas por planta (prolificidade), distribuição das espigas no colmo, formação das espigas, qualidade do grão, tipo de grãos, coloração de grãos, presença de milho opaco, existência de lisina, triptofano e aleurona múltipla nos grãos, número de grãos por espiga, maturação uniforme dos grãos, poder germinativo dos grãos etc.

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13) De posse de todas as informações disponíveis, o próximo passo seria recolher os genótipos tomados como superiores por apresentar um ou mais caracteres desejados e colocálos em um composto sintético para a subsequente seleção de genótipos superiores, seguindo os passos relacionados, com destaque para a produção de grãos: a) Escolha de populações contrastantes adaptadas à região, com características genéticas de interesse; b) Possuidoras de caracteres agronômicos de relevância; c) Tivessem bom nível de heterose; d) Apresentassem média alta para os caracteres envolvidos; e) Possibilitassem boa proporção da variância genética aditiva; f) Alcançassem excelente homogeneidade quanto à qualidade dos grãos e de outras características de importância agronômica, com distinguibilidade, homogeneidade, estabilidade e novidade (DHE-N); g) Atingissem o equilíbrio de Hardy-Weinberg na primeira geração de síntese (na ausência da mutação, migração, seleção e oscilação genética); h) Obtivessem bom grau de homogeneidade fenotípica após n gerações de intercruzamento ao acaso; Nesse composto sintetizado a partir de n populações progenitoras, a média é a seguinte: co= p + (n-1/n) x h, onde: p- média do caráter em todas as n populações; h- heterose média de todos os 0,5 n (n-1) cruzamentos possíveis entre elas. Pode-se notar que em compostos maiores é retida uma porção considerável (n-1/n) da heterose média de cada população cruzada. 14) Para este caso do milho, o ideótipo ideal é aquele onde as plantas são baixas, pendão pequeno, plantas prolíficas, precocidade, colmos vigorosos, boa inserção das espigas, baixa altura da inserção da primeira espiga, boa formação das espigas, boa qualidade e quantidade de grãos, bom tipo de grãos, maturação uniforme dos grãos, presença de lisina, triptofano e aleurona múltipla nos grãos, boa formação de raízes, presença de raízes adventícias, tolerância ao acamamento, boa qualidade do grão, resistência a pragas e doenças, tolerância à seca e ao frio, tolerância à irrigação natural e artificial, boa capacidade geral e específica de combinação, bom vigor heterótico, baixa exigência nutricional e homeostase do desenvolvimento adequada, dentre outros caracteres de interesse. 15) Pode-se ainda fazer um bom exercício pela integração ao estudo holístico de casos utilizando outras espécies de importância, tendo como destaques a seringueira (Hevea brasiliensis) e o dendêafricano (Elaeis guineenses). 16) Por exemplo, em seringueira, entre outros caracteres desejáveis é da mais alta valia que os clones sejam altamente produtivos em borracha seca, precoces quanto ao início da produção de borracha, apresentem baixo índice de obstrução dos vasos laticíferos para produção do látex, boa renovação da casca, boa qualidade da borracha, boa regeneração do látex, tenham os folíolos voltados para cima com o fito da maior eficiência fotossintética, arquitetura de copa voltada para cima para melhor absorção dos raios solares, boa qualidade da madeira, resistentes 132


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a doenças como o mal das folhas, antracnose, cancro do painel e podridão da raiz, resistentes a pragas como o mandarová, mosca de renda e mosca branca, tolerantes à seca e ao frio, apresentem boa homeostase do desenvolvimento e boa capacidade combinatória, entre outras características. 17) Para o dendê, a alta produção de óleo, boa qualidade do óleo, precocidade, resistência a pragas e doenças, tolerância ao amarelecimento fatal, tolerância a áreas alagadas, boa capacidade geral e específica de combinação com o dendê amazônico (Eleais oleifera) para a obtenção de híbridos interespecíficos, boa capacidade de combinação entre os tipos dura e pisífera para obtenção de tenera, bom vigor heterótico, tolerância à seca, boa resposta à irrigação, boa homeostase do desenvolvimento e outras características recomendadas são desejáveis. 18) Para o caso das outras plantas, especialmente de interesse do agronegócio, outros objetivos e metas podem ser perseguidos, de modo que o melhorista possa alcançar aos desejos buscados em seus planos, programas e projetos. 19) Diante do exposto, pode ser visto que é bastante ampla a oportunidade oferecida pela biologia da conservação, considerando a divergência e convergência do conhecimento, técnica, tecnologia apropriada e know-how disponíveis.

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2) Termos técnicos auxiliares na elaboração de documentos sobre gestão estratégica de atividades de PD&I e CT&I Afonso Celso Candeira Valois Engenheiro Agrônomo, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador Aposentado da Embrapa.

No planejamento para o desenvolvimento de atividades de PD&I e CT&I deve ser considerada a visão e gestão estratégicas das ações a serem tomadas, levando em conta a fase de maturação para culminar com as decisões corretas no sentido de promover as mudanças onde for preciso, de maneira tática e operacional. Nesse sentido, vários termos técnicos auxiliares podem ser considerados na descrição das diversas atividades da gestão estratégica de PD&I e CT&I, como por exemplo, na agricultura, pecuária, florestas, biomas, meio ambiente, tecnologias apropriadas, sustentabilidade da educação e outras áreas e temas afins, com destaque para os seguintes: 1-Zoneamento ecológico e econômico; 2- Ordenamento territorial; 3- Racionalidade; 4Sustentabilidade; 5- Multifuncionalidade; 6- Agroecologia; 7- Pluriatividade e oportunidades positivas; 8- Transversalidade fronteiriça; 9- Enfoque sistêmico; 10- Políticas públicas apropriadas; 11- Convergência de políticas públicas integradas; 12- Conscientização pública; 13Segurança biológica; 14- Segurança alimentar e nutricional (quantidade); 15- Segurança dos alimentos e saúde (qualidade) livres de perigos físicos, químicos, biológicos e ambientais; 16Segurança nacional; 17- Soberania nacional; 18- Direitos humanos por uma vida digna e decente; 19- Desenvolvimento social includente; 20- Imperativo da ética; 21- Ciência, tecnologia e inovação; 22- Pesquisa, desenvolvimento e inovação; 23- Tecnologia apropriada; 24Planejamento estratégico- indica o rumo ou destino; 25- Plano diretor; 26- Gestão social, ecológica, econômica, ética, histórica e cultural; 27- Conhecimento, habilidade, atitude, valor e ética (CHAVE); 28- Planejar, desenvolver, checar, ajustar (PDCA); 29- Modelo de gestão estratégica (MGE)- indica o caminho, recursos a serem utilizados, iniciativas e ações a serem desenvolvidas para chegar ao destino; 30- Rede de educação, saúde, tecnologia e meio ambiente (RESTAM); 31- Segurança ambiental; 32- Mitigação da emissão de gases de efeito estufa; 33Mecanismos para o controle dos danos oriundos da emissão de gases de efeito estufa causada por desflorestamento e degradação ambiental (REDD); 34- Serviços ambientais ou ecossistêmicos; 35- Cadastramento de produtores rurais; 36- Cadastro ambiental rural (CAR) dos produtores rurais e código florestal; 37- Conscientização e sensibilização de produtores rurais; 38- Neoextrativismo; 39- Agrobiodiversidade; 40- Tecnologias ambientais; 41Avaliação de impactos ambientais- EIA/RIMA; 42- Licenciamento ambiental; 43Compensação ambiental; 44- Sistemas agroflorestais; 45- Monitoramento de atividades 134


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agrícolas; 46- Monitoramento de empresários rurais; 47- Inteligência biológica; 48-Inteligência territorial e inteligência ambiental; 49- Inteligência estratégica; 50- Inteligência artificial; 51Inteligência espacial; 52- Inteligência alimentar; 53- Sistemas especialistas; 54- Regionalização de tecnologias; 55- Gestão integrada regional; 56- Agricultura de base familiar; 57Desenvolvimento regional; 58- Agricultura de subsistência; 59- Agricultores familiares; 60Agronegócio comercial; 61- Agronegócio familiar; 62- Agricultura mercantil; 63- Teia mercantil; 64- Pegada ecológica ou ambiental; 65- Urbanização da floresta e estradas na colocação de seringueiros e castanheiros; 66- Visão estratégica; 67- Agroindústrias; 68- Viabilidade econômica, social, ambiental e política; 69- Biologia da conservação; 70- Agroterrorismo e agrossabotagem; 71- Bioalfabetização; 72- Bioburla (fraude à vigilância e leis ambientais em ações criminosas contra a biodiversidade); 73- Biomas e áreas de “sombreamento” entre biomas; 74- Biotecnologia aplicada; 75- Pesquisa participativa; 76- Aptidão edafoclimática; 77- Sanidade em geral; 78- Sucesso de um empreendimento (organização, planejamento, equilíbrio, investimento e segurança); 79- Princípios da qualidade total (satisfação total do cliente, planejamento e controle, capacitação de recursos humanos, constância de propósitos, delegação de competência com monitoramento, organização e métodos, melhoria de processos, comunicação e articulação com a comunidade de abrangência, ações com eficiência, eficácia e efetividade, erro zero); 80- Resíduos secos e úmidos (5r- reduzir, reciclar, reutilizar, repensar, recusar); 81- Manutenção de ambientes saudáveis (5s- seleção/utilização- seiri, ordenaçãoseiton, limpeza- seisoh, saúde- seiketsu e autodisciplina- shitsuke); 82- Nunca descartar, sempre destinar o lixo; 83- Evitar a subjetividade e incrementar a institucionalização; 84- Sair da ingenuidade e do amadorismo e entrar no profissionalismo; 85- Zoneamento e planejamento ambiental; 86- Sistematização da produção da documentação e informação sobre meio ambiente; 87- Agricultura do plano ABC (agricultura com baixa emissão de carbono); 88- Boas práticas de manipulação de alimentos; 89- Boas práticas agrícolas/pecuárias; 90- Boas práticas de laboratório; 91- Procedimento padrão de higiene operacional (PPHO); 92- Análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC); 93- Análise de riscos, perigos e danos; 94- Matriz FOFA (pontos fortes, pontos fracos, ameaças e oportunidades); 95- Educação da alternância; 96Sustentabilidade da educação e municipalização das atividades; 97- Regionalização de tecnologias apropriadas; 98- Direito individual e coletivo de propriedade intelectual; 99Proteção de cultivares e patentes; 100- Conforto animal; 101- Sofrimento e abuso de animais; 102- Ecologia ética; 103- Bioética; 104- Aquicultura, piscicultura e ranicultura; 105- Relação biodiversidade, recursos genéticos e biomassa; 106- Relação biodiversidade, recursos genéticos e propriedade intelectual; 107- Relação recursos genéticos e recursos biológicos; 108- Relação biodiversidade, ecologia e ecossistema; 109- Biodiversidade de plantas, animais e microrganismos; 110- Unidades de conservação e reservas genéticas; 111- Atividade socialmente justa, economicamente viável, ambientalmente sustentável e politicamente ética, legal e transparente; 112- Áreas de preservação e conservação ambiental (Proteção); 113- Conservação in situ e ex situ; 114- Manejo de recursos genéticos; 115- Energias alternativas de primeira, segunda e terceira geração; 116- Biorrefinarias; 117- Vigilância ambiental e vigilância alimentar; 118- Mudança paulatina de hábito, atitude, postura, cultura e costume; 119- Definição de linhas 135


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de pesquisa e capacitação de recursos humanos; 120- Modelo de gestão e governança corporativa; 121- Biorremediação; 122- Biomimética (medicina regenerativa); 123- Princípio da precaução; 124- Plantas miméticas e plantas biônicas; 125- Organismos geneticamente modificados; 126- Controle biológico (cairomônios, alomônios, feromônios e armadilhas apropriadas); 127- Espécies invasoras exóticas danosas (EIE) e avaliação, gestão e comunicação do risco; 128- Boas práticas de fabricação de alimentos; 129- Fixação biológica do nitrogênio; 130- Agricultura de precisão; 131- Agricultura ecológica; 132- Agricultura orgânica; 133Permacultura; 134- Agrobiodiversidade; 135- Neoextrativismo; 136- Mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL); 137- Manejo integrado de pragas; 138- Metabólitos secundários (terpenóides, compostos fenólicos e compostos de nitrogênio); 139- Biossegurança; 140- Fungos micorrízicos arbusculares; 141- Fungos fitófagos; 142- Fungos endofíticos e fungos lignocelulósicos; 143- Plantas biorreatoras; 144- Equipamentos biorreatores de imersão permanente e temporário para a produção de mudas; 145- Biologia sintética; 146- Plantas halófitas; 147- Contaminantes e poluentes de ambientes; 148- Resistência e tolerância; 149- Não preferência; 150- Antibiose; 151- Fatores bióticos e abióticos; 152- Substâncias eliciadoras; 153Reação por hipersensibilidade; 154- Reação por alelopatia; 155- Resistência horizontal, vertical, parcial, completa e por imunidade; 156- Raças agressivas e raças virulentas; 157- Resistência monogênica, oligogênica e poligênica; 158- Penetrância e expressividade; 159- Ecótipos, demes, clines, populações alopátricas e populações simpátricas; 160- Isolamento reprodutivo (prézigótico e pós-zigótico); 161- Plantas autógamas, alógamas e intermediárias; 162- Variação genética livre (plantas autógamas) e variação genética potencial (plantas alógamas); 163- Plantas monóicas, dióicas, trióicas, hermafroditas, ginodióicas e androdióicas; 164- Híbridos simples, duplos e triplos; 165- Heterose e heterobeltiose; 166- Genética quantitativa, qualitativa, molecular, ecológica e evolutiva; 167- Hibridação no nível molecular, marcadores moleculares e promotores específicos; 168- DNA recombinante; 169- Plantas, animais e mosquitos transgênicos; 170- Animais clonados e bipartição de embriões; 171- Células-tronco; 172- Punção folicular e fecundação in vitro em animais; 173- Sementes ortodoxa, recalcitrante, intermediária, básica, botânica, certificada, genética, registrada e assexuada; 174- Frutos (bagas e drupas); 175Botânica criptogâmica (briófitos e pteridófitos); 176- Conceito tipológico e conceito genético; 177- Convergência e divergência de fenômenos biológicos; 178- Resposta correlacionada; 179Homeostase genética e homeostase do desenvolvimento; 180- Índice de seleção; 181- Índice de controle biológico; 182- Índice de limpeza pública; 183- Coleta seletiva de resíduos sólidos secos e úmidos; 184- Coleta de lixo por logística reversa; 185- Seleção de plantas autógamas, alógamas e intermediárias; 186- Método da seleção genealógica e método da população em plantas autógamas; 187- Método da seleção massal estratificada em plantas alógamas; 188- Coeficiente de herdabilidade e coeficiente de repetibilidade de um caráter; 189- Coeficiente de caminhamento; 190- Coleção nuclear; 191- Pré-melhoramento; 192- Banco genômico e banco proteômico; 193- Coleção de base, trabalho, campo e in vitro; 194- Forças evolucionárias (mutação, migração, recombinação, seleção natural e deriva ou oscilação genética- princípio fundador, efeito do afunilamento e manutenção de pequenas populações ao longo de várias gerações); 195- Consanguinidade e albinismo; 196- Endogamia, coeficiente de endogamia e 136


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exogamia; 197- Seleção estabilizadora, seleção direcional e seleção disruptiva; 198- Evolução filética, especiação primária e especiação secundária- 199- Espécies crípticas e espécies polimórficas; 200- Euploidia e aneuploidia; 201- Genes comuns dispersos, genes comuns localizados, genes raros dispersos e genes raros localizados na população; 202- Multiplicação de bactérias (conjugação, transformação e transdução); 203- Integração agricultura-pecuáriafloresta; 204- domesticação de plantas e animais; 205- Florestas e sumidouro de carbono; 206Relação entre o sequestro e emissão de carbono pelas florestas; 207- Ecologia (autoecologia, sinecologia e fitossociologia); 208- Fitorreguladores de crescimento (auxinas, giberelinas, citocininas, etileno e ácido abscísico); 209- Valoração de recursos genéticos; 210- Erosão genética e perda de espécies; 211- Perda e fragmentação de habitats; 212- Código genético (propriedades: três nucleotídeos por códon, formado em trincas, sem vírgula, não sobreposto, degeneração e oscilação, ambiguidade, tem ponto inicial, tem ponto final, é universal- exceção: ocorre em mitocôndrias do ser humano, leveduras e várias outras espécies); 213- Bases nitrogenadas (adenina, guanina, citosina, timina/uracil), 214- Prospecção da biodiversidade e genes tropicais; 215- Prospecção de demandas; 216- Mercado inovador (aromáticos, essências, fármacos, biocidas, fitoterápicos, cosméticos); 217- Rastreabilidade de produtos da agricultura e pecuária; 218- Nanotecnologia; 219- Bioinformática; 220- Citogenética; 221- Botânica e taxonomia; 222- Fitopatologia e entomologia; 223- Automação; 224- Isolamento de extratos e moléculas; 225- Sistemas florestais nativos e exóticos, e etnobiologia; 226- Consorciação e associação de produtos; 227- Rotação e sucessão de culturas; 228- Recuperação de áreas degradadas; 229- Desertificação de habitats; 230- Biomas (Amazônia, Mata Atlântica, Cerrados, Pantanal, Pampas, Caatinga, Áreas Costeiras e Áreas Marinhas), 231- Cultura de células, tecidos e órgãos; 232- Isolamento, expressão e clonagem de genes; 233- Fusão de protoplastos e cíbridos; 234- Genomas funcionais; 235- Genes tropicais e genes subtropicais; 236- Transgenia; 237- Biofábricas; 238- Vigilância sanitária; 239- Sistemas de produção; 240Gestão e avaliação de projetos; 241- Inventário de recursos genéticos; 242- Pilares do agronegócio brasileiro (renda agrícola, crédito rural, pesquisa agropecuária, assistência técnica e extensão rural); 243- Planos de contingência; 244- Estímulo ao empreendedorismo; 245Marketing e comercialização; 246- Pontos de venda de produtos agrícolas; 247- Prevenção de acidentes; 248- Clima organizacional; 249- Equipe multidisciplinar e multi-institucional; 250Modelo de gestão premonitório (antecipador de tendências); 251- Isocromossomos; 252Transposons; 253- Efeito de xênia; 254- Segregação transgressiva e hibridação introgressiva; 255- Apomixia e partenocarpia; 256- Fotossíntese e eficiência fotossintética; 257- Mapa citológico, mapa citogenético e mapa genético; 258- Leis de Mendel (herança monogênica, princípio da distribuição independente e ligação gênica); 259- Acidentes citológicos e variegação; 260- Diversidade genética, variabilidade genética e variância genética; 261- Plantas de ciclo C3 e C4; 262- Evolução (fenômeno natural e gradativo); 263- Sindrome de Down ( trissomia no cromossomo 21), síndrome de Edwards (trissomia no cromossomo 18) e síndrome de Patau (trissomia no cromossomo 13); 264- Hiléia amazônica (imenso bosque ou coleção de plantas); 265- Variação biológica; 266- Tipos climáticos (Afi, Ami, Awi); 267- Graus de liberdade; 268- Herança extracromossômica; 269- Cromossomo, genóforo, plasmone e 137


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plastoma; 270- Macho-esterilidade citoplasmática; 271- Cruzamentos recíprocos e cruzamentos dialélicos; 272- Ensaios biológicos; 273- Epistemologia; 274- Bactérias diazotróficas (Rhizobiales- rizóbios); 275- Estatística empírica; 276- Dicogamia (protandria e protoginia); 277Monopólio e oligopólio; 278- Genética, gene, pseudo gene, célula viva e divisão celular; 279Procariotos e eucariotos; 280- Cromátide, centrômero, complexo sinaptonêmico, quiasma, permuta, sinapse e assinapse; 281- Metástase e melanoma; 282- Distribuição de populações de leguminosas (aleatória, colonial, uniforme e espacial); 283- Amostragem e tamanho efetivo da população; 284- Aminoácidos essenciais (não produzidos pelo organismo humano)Fenilalamina, Isoleucina, Leucina, Metionina, Arginina, Serina, Valina e Triptofano; Aminoácidos produzidos pelo organismo humano- Alamina, Cisteína, Ácido Aspártico, Ácido Glutânico, Glicina, Histidina, Lisina, Asparagina, Prolina, Glutamina, Treonina e Tirosina ; 285- Eletroforese, bandas (padrão de segregação de alelos) e eletroporação de protoplastos; 286Harmonia ponderada integrada (HPI); 287- Dogma central da biologia; 288- Dogma central dos recursos genéticos; 289- Transcriptase reversa; 290- Herança quantitativa e herança qualitativa; 291- Caráter monogênico, oligogênico e poligênico; 292- Genótipo e fenótipo; 293- Número haplóide e número básico de cromossomos; 294- Homozigoto, hemizigoto e heterozigoto; 295Efeitos pleiotrópicos; 296- Mitocôndrias e cloroplastos; 297- Desenvolvimento das plantas (crescimento, morfogênese, diferenciação, alongamento e especialização); 298- Flexibilidade morfofisiológica; 299- Plasticidade fenotípica e homeostase genético-fisiológica; 300Plasticidade fenotípica e homeostase do desenvolvimento; 301- Evolução filética e morfofisiologia vegetal; 302- Aberrações cromossômicas; 303- Sementes fotoblásticas; 304Plantas caducifólias; 305- Plantas angiospermas e gimnospermas; 306- Mutação espontânea e mutação induzida; 307- Equilíbrio de ligação (Hardy e Weinberg); 308- Melanismo; 309Ginogênese e androgênese; 310- Macronutrientes (N-P-K-Ca-Mg-S); 311- Micronutrientes (CuCo-Cl-Mn-Mo-Zn-Fe-Bo); 312- Floração e frutificação ; 313- Gametas e cromátides; 314Sesquidiplóides; 315- Fruticultura tropical; 316- Melhoramento genético preventivo; 317Fitomelhoramento; 318- Dormência de sementes e germinação epígea e germinação hipógea; 319- Reservatório gênico; 320- Herança multifatorial; 321- Exsicata; 322- Mapoteca; 323Cariótipo; 324- Lato sensu; 325- Stricto sensu; 326- Meiose e mitose; 327- Citocinese; 328- Rotas metabólicas; 329- Marcadores genéticos; 330- Isoenzimas; 331- Locos quantitativos; 332Modelo misto; 333- Modelo aleatório; 334- Análise da variância; 335- Esperança do quadrado médio; 336- Análise genética; 337- Soma de quadrados e método do quadrado mínimo; 338Modelo matemático; 339- Modelo estatístico; 340- Estratégia de coleta de germoplasma; 341Coancestria; 342- Xenogamia e geitogamia- 343- Auto incompatibilidade; 343- Efeito antropogênico; 344; Fenologia; 345- Vizinhança reprodutiva; 346- Fluxo de grão de pólen; 347Polinização aberta; 348- Polinização fechada; 349- Mutação gênica (inversão, duplicação, deleção, translocação); 350- Autopoliploidia e alopoliploidia. Como fruto da experiência do autor na elaboração de artigos, trata-se de uma espécie de lista de verificação auxiliar ou mesmo ajuda-memória sobre tópicos que podem ser abordados em um determinado projeto ou mesmo no preparo de ementas de aulas didáticas, onde é desejada a exploração da visão e gestão estratégica, isto é, tomar a decisão correta no processo de mudança, quando for conveniente.

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3) O sexto segredo da Amazônia “Encantada” Afonso Celso Candeira Valois Engenheiro Agrônomo, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador Aposentado da Embrapa.

Introdução Em memorável entrevista com o título “O pó de fadas da Amazônia” divulgada em Link publicado no Facebook em 21/10/2015, o pesquisador biogeoquímico do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) Dr. Antônio Nobre, revelou os cinco segredos da floresta amazônica e alertou sobre o perigo do seu desmatamento. Esse exemplar pronunciamento foi efetuado por ocasião do “III Encontro Panamazônico” realizado em Lima (Peru), nos dias 6 e 7 de agosto de 2014, conforme RAMIRO ESCOBAR LA CRUZ (Lima – Peru, nos dias 6 e 7 de agosto de 214 - 14:50 BRT).

Primeiro Segredo: Os jatos de água verticais. As árvores da Amazônia são como “bombas” que lançam no ar 1.000 litros de água por dia. Elas a retiram do solo, a evaporam e a transferem para a atmosfera. A floresta amazônica inteira coloca 20 bilhões de toneladas de água na atmosfera a cada dia. O rio Amazonas, o mais volumoso do mundo, joga no Atlântico 17 bilhões de toneladas de água doce no mesmo intervalo de tempo.

Segundo Segredo: A magia produzida pelas árvores amazônicas. Como é possível que caia tanta chuva, se o ar da Amazônia é tão limpo, já que o tapete verde cobre o solo? Comparativamente, o oceano também tem um ar limpo, mas não chove muito sobre ele. Os cientistas desvendaram o mistério! Para formar uma nuvem de chuva, que são gotas de água em suspensão, é preciso transformar o vapor baixando a temperatura. Mas se não houver uma superfície de partículas,

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sólida ou líquida, para gerar essas nuvens, o processo não começa - Resultado: “ A floresta amazônica coloca 20.000 milhões de toneladas de água na atmosfera por dia” Assim, ela produz o que é chamado “pó de fadas” que são gases que saem das árvores e que se oxidam na atmosfera úmida para precipitar um pó finíssimo, que é muito eficiente para formar chuvas. Terceiro segredo: A “bomba” natural e os rios “voadores” Nessas regiões estão incluídos os Andes no Peru, os páramos da Colômbia etc. Isso pode ser visto no mapa mundi, onde existe um cinturão úmido que passa pelo Equador, pela África e pelo sudeste asiático. É na linha dos trópicos, o de Câncer ao norte e o de Capricórnio, ao sul, que estão todos os desertos. O do Atacama, no Chile, o da Namíbia, na África. Mas essa área que concentra 70% do PIB da América do Sul - que vai de Cuiabá a Buenos Aires, de São Paulo aos Andes – é úmida! Apesar de estar na linha dos desertos. O mistério dessa área chama-se “rios voadores”. É uma grande massa de ar úmido bombeada pela Amazônia contra os Andes, que forma uma parede de mais de 6.000 metros de altura. É assim que essa massa chega a áreas onde deveria haver deserto. Por isso chove na Bolívia e no Paraguai. Quarto Segredo: É a transferência dessa umidade amazônica para outras regiões Na Amazônia, o ar que vem do hemisfério norte cruza do Equador, entra e vai até à Patagônia. Até lá chega esse ar úmido, que vem do Atlântico Equatorial. Os ventos alísios do oceano sul sopram para o norte. O que faz esses ventos irem contra a tendência de circulação global? Dois físicos russos responderam a essa pergunta ao estudar o efeito do vapor dos jorros verticais amazônicos. Eles descobriram que, pela física fundamental dos gases, essas condensações de vapor puxam o ar dos oceanos para dentro do continente e criam uma espécie de buraco de água. É como uma bomba natural. A floresta traz sua própria umidade do oceano. Quinto Segredo: A ausência de furacões, ciclones etc. Se for colocado em um gráfico todos os furacões que já aconteceram na história, na região das florestas equatoriais não há nenhum deles. E essa região é a que tem mais energia porque a radiação solar é muito intensa. Os ciclones não existem como na Índia e Paquistão porque o topo da floresta, onde estão as copas das árvores, é áspero e faz com que os ventos sejam obrigados a dissipar sua energia, o que acalma a atmosfera. 140


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É verdade que ocorrem tempestades, mas elas não costumam ser tão destruidoras. Onde há florestas não há secas, nem excesso de água, nem furacões, nem tornados. É como uma apólice de seguros contra os fenômenos atmosféricos extremos. A “guerra” contra a ignorância Esses cinco segredos estão em risco, cuja evidência nefasta se chama desmatamento. Se tirarem a metade do fígado de um bêbado, vai ser difícil para ele lidar com o álcool. É isso o que está acontecendo com a Amazônia. Está sendo retirado um “órgão vital” do sistema terrestre. A Amazônia é chamada de “o pulmão” do planeta, apesar de possuir função inversa, mas poderia ser considerado “o fígado”, ou “o coração” e tudo mais do Planeta! Essa “bomba” natural acima referida é como um “coração” que pulsa constantemente. O “pó de fadas” também funciona como uma “vassoura química” contra substâncias poluentes, como o óxido de enxofre. O ar mais puro é o da Amazônia! Apesar disso, a destruição da floresta continua ano a ano! Quando há uma ação devastadora através de motosserras, de tratores ou do uso de fogo, a Amazônia não pode se defender. As intervenções do ser humano podem tanto ser benéficas, como na medicina, como também terríveis, como nos exemplos anteriormente citados. Por isso é premente um esforço geral, de cada indivíduo que se considere brasileiro, bem como dos indivíduos dos demais países premiados com a presença da Amazônia, o que pode ser chamado como um esforço de “guerra” contra a ignorância. Essa “guerra” é seria uma concentração de forças para resolver um impedimento que ameaça tudo. Hoje, a ciência permite que se saiba que a situação é gravíssima, e a proposta é lutar contra a ignorância, o principal motivo da destruição da floresta amazônica e consequentemente do País. Comentários Até neste ponto do presente artigo, este autor transcreveu o interessante teor da entrevista concedida pelo Dr. Antonio Nobre, apenas ajustando alguns textos, sem influência relevante ao bom entendimento por parte dos nobres leitores. Daqui para frente seguem meus singelos comentários: Geralmente nesses esforços e ações audaciosos no bom sentido, sobre os mistérios ambientais que envolvem a Hileia, os pesquisadores geofísicos geralmente olvidam a excelência da parte biológica para a melhor explicação das nuanças amazônicas, apesar de serem criteriosos nos temas que lhes concernem. Certa vez este autor se viu na obrigatoriedade ética de contestar uma premissa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de que nos próximos 50 anos, a Amazônia dentro de uma visão pessimista teria um aumento de 6 a 8ºC de temperatura com a redução de 20% na quantidade de chuvas, e previsão otimista do aumento de 4 a 5°C de temperatura e redução de 10 a 15% na quantidade de chuvas. Na época, através do artigo de título “ Cobiça versus soberania da Amazônia e suas relações com o aquecimento global”, comentou-se que tal premissa talvez necessitasse de uma revisão, com a certeza de que a biodiversidade estaria bem 141


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viva, desde que fossem afastados os males do antropismo desastroso, pois este sim é o maior risco, perigo e dano que constantemente estão afetando a floresta amazônica! Acrescentou-se ainda que a sociedade que vive na Amazônia teria que assumir o seu papel e compromisso para com a região nesse grande desafio, e não simplesmente transferir para as mudanças climáticas os riscos de extermínio da biodiversidade na Hileia. Aliás, essa preocupação com o antropismo desastroso vai ao encontro daquilo que o Dr. Antônio Nobre denominou de “a guerra contra a ignorância”. Depois, para o bem de todos e felicidade geral da grande região, foi amplamente publicado houve um esclarecimento no sentido de que teria havido um grave engano nas exalações presumidas, pois o modelo empregado pelo INPE para as premissas acima não era adequado para a Amazônia e sim para áreas de clima temperado! O fundamento para a contestação acima referida, justamente se encaixa nos cinco segredos sabiamente e didaticamente referidos na entrevista do Dr. Nobre, isto é, implicitamente remete para a necessidade da inclusão do “sexto segredo”, que considera a enorme variância e hereditariedade da biodiversidade amazônida, ou seja, a ampla variabilidade dos recursos genéticos acolhidos pela floresta, como também dos recursos biológicos, não considerados na entrevista do Dr. Nobre! No seio da biodiversidade, em comparação com animais e microrganismos são as plantas aqueles componentes teoricamente mais vulneráveis às ações do aquecimento global por serem mais estáticas, apesar de comporem um sistema dinâmico intrínseco e extrínseco na natureza. A observação de uma planta pelo seu fenótipo (F) identifica que se trata do resultado do somatório de uma parte genética chamada genótipo (G) que pode ser representado por suas variâncias genéticas aditiva, dominante e epistática, além do componente ambiental (A) e interação GA. Assim, a expressão F=G+A+GA mostra que o meio ambiente é fator preponderante no ciclo vital de uma planta, daí os geneticistas sempre se preocuparem com o estudo da interação genótipo x ambiente, determinação das fontes de variação e decomposição de graus de liberdade, em busca da estabilidade genética dos genótipos em vários ambientes e explicações sobre a homeostase do desenvolvimento (diferente da homeostase genética) ou mesmo da plasticidade fenotípica em relação às variações climáticas, edáficas, topográficas e demais características de nichos ecológicos aos quais as plantas estão submetidas. Dentro de uma visão holística é muito importante para sobrepujar o enorme desafio, que se caracterize as espécies de plantas que são acolhidas no seio da floresta tropical úmida da Amazônia, que por sua vez abarca a maior ocorrência florestal natural contínua do mundo. Antes, porém, se faz necessário que seja oferecida uma visão geral sobre alguns tipos de plantas para o nivelamento do conhecimento dos nobres leitores, para se chegar de forma didática ao foco principal da discussão requerida neste singelo artigo. De maneira geral, as plantas existem com as seguintes características, entre outras: a) plantas alógamas (polinização aberta- exemplos: seringueira e milho), plantas autógamas (polinização fechada- exemplos: arroz e soja) e plantas intermediárias entre os dois primeiros tipos (exemplo: algodão e café); b) plantas com variação genética livre (autógamas) e plantas 142


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com variação genética potencial (alógamas). No primeiro caso nenhum genótipo terá todos os alelos, enquanto no segundo caso aparece a grande vantagem das plantas alógamas por conterem na população a presença do heterozigoto, que permite maior homeostase do desenvolvimento em relação às mudanças do meio ambiente (grande justificativa para incluir o “sexto segredo” que rege a Hileia, ou seja, o segredo genético!); c) plantas estrategistas K em relação à partição do uso de energia, onde o maior uso é para a formação do sistema vegetativo (específico das plantas perenes- explica o fato de a castanheira (Bertholletia excelsa Humb. & Bonpl.), por exemplo, produzir mais frutos em um ano e menos no outro nas condições naturais da floresta), e plantas estrategistas r, específico de plantas anuais, onde a energia é principalmente para a formação do sistema reprodutivo (exemplos: arroz, feijão e milho); d) plantas que produzem sementes recalcitrantes, que não suportam ser armazenadas com pouca umidade em ambientes com baixas temperaturas (exemplos: seringueira, cacau, cupuaçu, castanha-do-brasil e guaraná, daí a obrigatoriedade da manutenção das coleções em condições de campo), plantas que produzem sementes ortodoxas, que suportam o armazenamento com pouca umidade em ambientes com baixas temperaturas (exemplos: arroz, soja, milho, trigo e feijão, daí poderem ser guardadas em câmaras frias), além de plantas com sementes intermediárias entre os dois primeiros tipos (exemplo: café); e) plantas que não suportam sombra (exemplo: seringueira) e plantas que suportam sombreamento (exemplo: cacaueiro); f) plantas que carregam em seus genomas os genes tropicais, de mais fácil adaptação a diferentes condições climáticas e edáficas (a grande maravilha presente nos trópicos!) e plantas que ostentam genes adaptados a climas temperados, de difícil adaptação em outras condições climáticas; g) plantas que compõem um ecossistema bastante dinâmico em interação com variadas espécies de outras plantas, animais e microrganismos (exemplo: floresta sempre úmida da Amazônia) e plantas que ocupam ecossistema com poucas espécies (exemplo: floresta de clima temperado); h) plantas que possuem o fenômeno da alelopatia (exsudam substâncias químicas através das raízes que afetam outros genótipos vizinhos) e plantas que não apresentam esse fenômeno e que podem ser afetadas dentro do sistema competitivo do ecossistema. Além disso, dentro do bioma (grande área geográfica com a predominância de um tipo de vegetação bem marcante) floresta amazônica ocorre a mais rica biodiversidade da terra, entendida como o conjunto de plantas, animais e microrganismos em interação com o ambiente em que vivem. Dentro dessas vitais condições ocorrem os recursos genéticos, definidos como a variabilidade de plantas, animais e microrganismos integrantes da biodiversidade e que contêm elementos funcionais da hereditariedade, de valor atual e potencial no sentido econômico, social, ambiental, político, ético, cultural e histórico, para uso em programas de melhoramento genético, agrobiodiversidade, extrativismo, biotecnologia e em outras áreas afins. Nesse contexto, ainda que diversidade e variabilidade genética sejam termos alternativos para representar a variação genética, e ainda para efeito do melhor entendimento sobre o grande papel da floresta amazônica para influenciar positivamente nas condições climáticas globais (recente confirmação através dos estudos do “Experimento de Grande Escala da BiosferaAtmosfera na Amazônia- LBA), considerando esse “fantástico e vital binômio floresta-chuva”, 143


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enfatiza-se ainda a definição dos seguintes termos técnicos: a) diversidade genética- indica o somatório das informações genéticas conhecidas ou potenciais (ou ainda desconhecidas); b) variabilidade genética- indica a porção da diversidade genética capturada ou disponível; c) variância genética- é a medida estatística da variabilidade genética; d) centros de diversidade primária- onde, ademais da espécie de interesse ocorrem outras espécies silvestres relacionadas, com grande presença de genes dominantes; e) centros de diversidade secundária- onde ocorre a espécie de interesse em conjunto com poucas espécies relacionadas, com grande presença de genes recessivos. Como é sabido, a Amazônia é centro de origem, diversidade e variabilidade genética de grande número de espécies de plantas, animais e microrganismos de benefício direto da humanidade! A natureza levou milhares de anos para compor os genes, os sistemas alélicos e estruturas genéticas na formação das florestas naturais, daí a grande atenção e o respeito que obrigatoriamente a humanidade tem que dispensar para o tema e para o seu próprio benefício toda vez que alguém estiver praticando a corrupção (uso da força e do poder para auferir vantagens de interesse privado) ou mesmo a bioburla (fraude à vigilância e às leis ambientais em ações criminosas contra os recursos bióticos da natureza), com ênfase na falta do imperativo ético nas práticas nefastas do desflorestamento irracional e ilícito. É premente na Amazônia, a implantação de um consistente programa de reflorestamento nas áreas degradadas, sem solução de continuidade! Ainda dentro desse preâmbulo instrutivo para o nivelamento do conhecimento, deve-se enfatizar que as palavras conservação e preservação não significam a mesma coisa, pois ambas didaticamente reunidas na palavra proteção, remetem para: a) conservação- uso racional de um determinado recurso; b) preservação- não uso. Para o caso da floresta amazônica, ambas as palavras são importantes, pois não se pode conservar toda a Amazônia (há nichos que não podem ser usados, mesmo com a intenção de sustentabilidade), como também não se pode nem pensar em preservar toda a Hileia (deixá-la intocável), principalmente em respeito e consideração às cerca de 30 milhões de pessoas que nela vivem e que têm o magno direito de se desenvolver de maneira digna e decente! Isso significa dizer que ambos os termos são de grande relevância para a Amazônia, com a prevalência do bom-senso! No sentido da conservação, deve-se ainda enfatizar que existe aquela in situ (permanência da população de plantas no ambiente ao qual está adaptado, dentro da comunidade à qual pertence) e a conservação ex situ (manutenção dos genótipos fora dos seus locais de origem). Para os propósitos do vis-à-vis da floresta amazônica com as ameaças das mudanças climáticas, nas intenções do presente documento é de bom alvitre considerar a conservação in situ, mesmo levando em conta a grande importância dos oito tipos de conservação ex situ conhecidos, especialmente nas ações complementares entre os dois tipos de conservação. Em termos gerais, a conservação in situ apresenta as seguintes vantagens: a) continuidade do processo de evolução e adaptação- as espécies estão sempre interagindo com o ambiente físico e com as outras espécies do ecossistema. Para uma espécie existir no futuro ela deve estar apta a competir com outras espécies, e sua capacidade de competição será mantida somente se for permitida a continuidade do processo evolutivo através das forças evolucionárias da 144


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mutação, migração, recombinação, seleção natural e deriva genética, isto é, a plena colocação em prática da teoria sintética da evolução, ou seja, a sobrevivência dos mais adaptados. Os ambientes bióticos e abióticos mudam constantemente, e as interações são primordiais para o sucesso evolucionário de longo prazo, inclusive no aparecimento de novas espécies mais adaptadas aos nichos mais modernos. Esse aspecto é cada vez mais importante em função das mudanças climáticas globais que estão acontecendo como resultado do aquecimento global. Dessa forma, para persistirem em face das mudanças dos padrões climáticos, ao longo do tempo as plantas terão que se adaptar, assim como migrar e colonizar novas áreas, com ênfase no aparecimento de tipos novos; b) conservação de outras espécies de plantas, animais e microrganismos associados; c) facilidade para conservar uma população viável de uma espécie em relação à conservação ex situ; d) conservação de espécies com sementes recalcitrantes- cerca de 75% das espécies da floresta amazônica produzem sementes recalcitrantes; e) controle dos recursos genéticos pelas comunidades tradicionais e técnicas através da condução de reservas extrativistas, reservas de desenvolvimento sustentável, agrobiodiversidade e das reservas genéticas para fins técnico-científicos. O Brasil, além de praticar todos os tipos de conservação in situ conhecidos é possuidor de um bom sistema de unidades de conservação in situ representado principalmente por parques e reservas, com destaque para a alocação de 900 áreas prioritárias para conservação (43% localizadas na Amazônia), bem como ostentar o maior parque nacional do mundo, que é o Tumucumaque, situado no estado do Amapá, com cerca de 3.800.000 hectares. Afora isso, a Reserva do Amanã implantada no estado do Amazonas, com 2,2 milhões de hectares, contígua ao Parque Nacional do Jaú com 2,3 milhões de hectares, juntos formam o maior corredor de florestas tropicais naturais do Planeta. Estima-se que no Brasil estejam algo em torno de 20% de toda biodiversidade de plantas, animais e microrganismos do mundo. Diante desse vasto quadro de nivelamento quanto aos conhecimentos disponíveis sobre as plantas e ambientes físicos da floresta da Hileia e úteis aos propósitos do presente artigo, agora é facilmente detectado que a predominância das plantas da rica floresta são as alógamas, com variação genética potencial, perenes, produtoras de sementes recalcitrantes na grande maioria, estrategistas K, possuidoras do fenômeno da homeostase do desenvolvimento que permite maior capacidade de adaptação a diferentes condições ambientais, migração e colonização de novas áreas e enfrentamento às ameaças dos efeitos danosos das mudanças climáticas, além de outras características de elevada importância para o tema, como a importante capacidade evolutiva dos componentes da biodiversidade. Tudo isso nos conduz facilmente à afirmação de que as mudanças climáticas que vêm ocorrendo ao longo de centenas de anos jamais serão catastróficas para a floresta amazônica, principalmente em face da excelência das populações de plantas que acolhe, que conforme foi visto têm grande capacidade de responder aos perigos das mudanças climáticas. Agora, recordando a entrevista do Dr. Nobre, de nada adiantará essa refinadíssima constituição biológica, física, química e ambiental no sentido holístico se a regra for o uso da 145


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motosserra, como outrora foi cumprida por um ex-governante de um importante estado da Amazônia Brasileira.

Diante do exposto está desvendado o mistério do segredo genético do encantamento da Amazônia e exposta a lógica do: “SEXTO SEGREDO”. “A floresta não sabe reclamar e nem se defender, mas sabe punir”.

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4) Caminho das Inteligências Afonso Celso Candeira Valois Engenheiro Agrônomo, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador Aposentado da Embrapa.

Em maio, do presente ano, tomou posse o novo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Senador José Serra, compondo o atual Governo do Brasil na gestão do Presidente Interino, Michel Temer. Como um dos destaques no discurso do Senhor Ministro foi acentuada a afirmação da integridade institucional do nosso País, elegendo o fortalecimento comercial com países parceiros das Américas, Europa, Ásia, África e Oceania. Outro aspecto que chamou atenção na fala do Senhor Ministro foi a retomada do Governo Federal quanto ao fortalecimento e adequação da vigilância nas fronteiras do Brasil atualmente bastante frágeis e debilitadas, estimadas em cerca de 18 mil quilômetros de extensão (11,3 mil km só na Amazônia). Essa providencial medida é indutiva às boas relações exteriores e transações comerciais de maneira ética, legal e transparente, evitando ou mesmo mitigando as nefastas ações do narcotráfico, invasão de espécies exóticas danosas à agricultura, pecuária e florestas, bem como de outros malefícios, além de privilegiar a proteção ao meio ambiente e a biodiversidade e recursos genéticos de plantas, animais e microrganismos, incluindo a soberania e segurança nacional. A grande novidade vem ao encontro daquilo que temos nos batido em diversas oportunidades, quando reiteradas vezes nos referimos àquilo que nos toca e pode ser incluído nesses objetivos, que é a colocação em prática de um forte sistema de segurança biológica, neste caso representado pelo manejo de riscos bióticos e abióticos associados à agricultura, pecuária, florestas e ciências afins. Com as adequações requeridas nas fronteiras implicitamente o risco, perigo e dano serão controlados. Para isso, uma das grandes alternativas das quais o Brasil tem conhecimento e experiência, mas que foi enfraquecida pela falta de visão estratégica e boa dose de incompetência do Governo que se foi, é a colocação em prática de um consistente sistema de cintilantes inteligências, de maneira holística, incluindo os esforços e ações nas fronteiras. No Brasil seria de bom alvitre que todos fossem ao encontro do pleno exercício dos seguintes patamares de inteligências: estratégica, gestão tática e operacional, territorial, transfronteiriça, ecológica, ambiental, energética, edáfica, hídrica, climática, biológica, artificial, 147


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organizacional, educacional, convergência institucional, políticas públicas complementares, segurança pública, alimentar, bioética e transação comercial, dentre outras. Aqui se faz menção à RESTAM proposta por este autor, que se refere à formulação de uma Rede de Educação, Saúde, Tecnologia Apropriada, e Meio ambiente, que trataria de políticas públicas sociais, segurança pública, saneamento básico e outros temas relevantes para o Brasil, tendo como foco a soberania estratégica e de segurança nacional. É bastante relevante a referência sobre esses temas, onde se torna necessário o fiel desdobramento e elevado significado de cada uma das inteligências acima referidas, talvez em um fórum de discussão especialmente projetado e executado nesse premente sentido, para o pleno exercício da inteligência de cada participante! Se faz referência, ainda, ao livro intitulado "Viva com Esperança", de autoria de Mark Finley e de Peter Landless. Nesse interessante compêndio, além dos demais capítulos muito interessantes, os autores fazem menção à inteligência emocional, citando ainda um conjunto de nove habilidades de inteligência, isto é: naturalista, musical, lógico-matemática, interpessoal, corporal-cinestésica, linguística, intrapessoal, espacial, existencial ou especialista em moralidade. Esse conjunto de habilidades é uma forma diferente e complementar de se reportar às citadas inteligências, de grande aplicação para o estabelecimento de um consistente sistema no Brasil, sem olvidar a importância da atuação da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) nesse processo!

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5) Uma Singela Contribuição Educacional Afonso Celso Candeira Valois Engenheiro Agrônomo, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador Aposentado da Embrapa.

Ao tomar meu rotineiro café da manhã, após uma longa caminhada, na cidade de Brasília (DF), assisti a um bom programa didático da TV Brasil. Naquele dia o assunto era a caótica situação em que se encontrava o ensino público infantil, fundamental e médio do Brasil, contrapondo ao título de “Pátria Educadora”, anteriormente utilizado pelo Governo Federal. No entanto, o programa também apresentou escassos, porém, bons exemplos advindos da bela criatividade e subjetividade de professores e estabelecimentos em prol da educação. Isto me fez lembrar da minha metodologia empregada no ensino universitário. Assim, vou fazer uma breve retrospectiva para que entendam onde pretendo chegar com este texto: Quando me aposentei da Embrapa em fevereiro de 2007, após trabalhar em pesquisa agropecuária pública, desde março de 1968, no tempo do EPE e DNPEA (ambos do Ministério da Agricultura, com posterior incorporação à Embrapa), fui selecionado para lecionar no Centro de Estudos Superiores de Tefé (CEST), pertencente à Universidade do Estado do Amazonas (UEA), graças à minha vasta experiência em pesquisa agrícola. Nessa Universidade colaborei pelo período compreendido entre abril de 2008 a fevereiro de 2012, uma experiência muito gratificante intelectualmente.

Durante tal período no CEST tive a grata oportunidade de lecionar no curso de licenciatura em biologia as disciplinas de genética I, genética II, morfologia e anatomia de vegetais superiores, fisiologia vegetal, estágio supervisionado e biodiversidade de recursos biológicos e genéticos (criada por mim), além de colaborar nos cursos de geografia, química, física e matemática do mesmo centro de estudos superiores. Quando comecei a lecionar no CEST notei uma enorme dificuldade dos alunos, com algumas exceções, em ler e escrever, mesmo cursando o ensino superior, coincidentemente as mesmas preocupações apresentadas durante o, já anteriormente citado, programa da TV Brasil. Naquela oportunidade, diante de minha triste constatação, além de seguir as exigências de praxe na Universidade elaborei e publiquei um artigo de título “sustentabilidade da educação” e outro 149


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sobre “as qualidades de um bom professor”, onde tive como modelo os meus próprios métodos experimentados, aprimorados ao longo das disciplinas oferecidas. Primeiramente, além das exigências de assiduidade, pontualidade, participação, duas provas parciais, prova final e seminários, inicialmente acrescentei nota técnica com o mínimo de 25 páginas e apresentação em classe, seminário proferido por cada aluno com avaliação e nota (não por um representante de um determinado grupo) e provas descritivas (coibindo as respostas através de “x”). Com o tempo foi feito o primeiro aprimoramento, incluindo nota adicional para os alunos sem falta ou com até uma falta nos meses que antecediam à respectiva prova parcial (após progrediu somente para aqueles discentes sem falta) e perguntas inopinadas direcionadas a alunos no decorrer das aulas, valendo nota. Sempre cheguei em classe antes dos alunos, como também colocava os temas em mídia antecipadamente e respeitava o início e fim de cada aula, além de deixar a lousa limpa para o próximo professor. No desenvolvimento do processo de educação, com atividades ligadas ao ensino, pesquisa e extensão, houve mais um aprimoramento, acrescentando a obrigatoriedade de os alunos sempre entrarem em classe portando caderno, caneta ou lápis para anotação de aspectos considerados relevantes durante as aulas. Aos cinco minutos antes do encerramento de cada aula eram distribuídas folhas de papel em branco com o fito de os discentes transcreverem do caderno o que tinham destacado da aula, o que valia uma nota de

reserva para o caso de haver necessidade de utilização nas avaliações das provas parciais e final, o que às vezes acontecia. Diante de todas essas exigências que proporcionavam uma prazerosa atividade hercúlea ao professor, a nota de cada prova era o somatório de todas as oportunidades oferecidas aos alunos, considerando: assiduidade, pontualidade, participação, nota técnica, seminário, trabalhos em grupo, arguição, resumo das aulas e provas parciais e prova final (quando necessária). Sempre tive a dedicação de considerar nas aulas os meus próprios exemplos de pesquisa oriundos de muitos artigos técnicocientíficos publicados, o que muitas das vezes era motivo de admiração por parte dos alunos- “Professor é o senhor mesmo? ”. Ainda como resultado promissor, selecionei mais de 150 notas técnicas e seminários e os transformei em artigos técnico-científicos, dando os devidos créditos aos alunos e me colocando como professor-orientador, efetuando as publicações na página internacional do IICA/Procitropicos (ligado à OEA), além da minha conta do Facebook. Essa atitude ética como reconhecimento às ações e esforços desenvolvidos em muito alegrou aos discentes devido à publicação inédita dos seus trabalhos e enriquecimento dos respectivos currículos. Ainda mais, todos os seminários dos alunos foram disponibilizados internamente no âmbito do CEST como contribuição aos discentes que viriam depois, levando em conta a destinação da nota recebida pelos alunos autores, que assim não poderiam contestar em vista de terem sido informados antecipadamente desse procedimento que 150


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chamei de “fator colaborativo”. Quanto ao professor, destinei ao CEST todas as inúmeras notas de aula elaboradas com o fito de disponibilizar a outros professores interessados. Tive ainda a enorme satisfação de orientar inúmeros trabalhos de conclusão de curso (TCC) e orientação de PD&I, além de participar em diversas bancas examinadoras de graduação e pósgraduação, incluindo a elaboração de monografias. Como resultado auspicioso e memorável em todos os anos que tive a enorme satisfação de lecionar no CEST sempre fui o docente que recebeu as maiores notas advindas do discentes que tive a feliz oportunidade de administrar aulas, sempre ao redor de 9,5 pontos, com bom distanciamento do professor segundo colocado, no total de 74 docentes. Nunca dei nota máxima a qualquer aluno, mas também ninguém tirou zero absoluto, embora alguns tenham sido jubilados por desistência ou outras exigências curriculares. Com esses avanços obtidos, os nobres ex-alunos se motivaram, são atualmente competentes professores em escolas públicas e privadas ou mesmo bons profissionais em institutos de pesquisa, sendo que alguns além da pós-graduação em biologia, se entusiasmaram e ascenderam a outros cursos, como de medicina. Tenho acompanhado e dado sugestões ao desenvolvimento profissional de alguns, sendo motivo de satisfação pessoal receber

na época elogios como: “tenho muito orgulho de ter sido seu aluno” ou “nosso eterno professor” ou “a aula já acabou? ”. Muitas das vezes alguns alunos tinham a gratidão de externar em respostas de questões de provas escritas os seus agradecimentos pelos ensinamentos recebidos! Tive a salutar informação de que professores da biologia e de outros cursos do CEST demonstraram vivo interesse em seguir essa metodologia de educação. Chegavam mesmo a solicitar autorização para utilizar as transparências didáticas, aliás, que já tinham sido colocadas à disposição de todos! Nesse proveitoso período ainda houve tempo disponível para eu coordenar o grupo de sustentabilidade ambiental e a semana nacional de CT&I na Universidade, proferi palestras didáticas na semana de meio ambiente, no dia mundial da água e em outros eventos, participar de reuniões para elaborar linhas de pesquisa e planejamento estratégico da Universidade, além de representar o CEST em reuniões do Centro Estadual de Unidades de Conservação e da Agenda Positiva, tudo para acrescentar novos conhecimentos e experiência ao sistema educacional dos discentes! Com isso quero simplesmente demonstrar que se ao aluno forem oferecidas oportunidades ele responderá adequadamente e corresponderá com nacionalismo. Com a palavra e ação o novo Governo Federal do Brasil!

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6) A Educação Ambiental em Recursos Genéticos Renato Ferraz de Arruda Veiga

Eng. Agr. FAZMACG (1979), Me. (1990) e Dr. (1996) pela UNESP-Botucatu. PqC VI (aposentado) pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), de 1980 a 2015. Membro fundador da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos (SBRG), Editor Chefe da Revista RG News, e Diretor Administrativo da Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola – FUNDAG.

Introdução A Educação Ambiental (EA) em Recursos Genéticos se insere dentro das atitudes educacionais destinadas à proteção do meio ambiente e de sua biodiversidade, já que se indissocia destas quando in situ. Tais atitudes, no que se refere aos recursos genéticos, podem e devem integrar toda a cadeia da área, indo desde as expedições de coleta, do intercâmbio e da quarentena, da preservação, da conservação, da identificação, da caracterização, da avaliação e do uso de recursos genéticos, quer sejam de animal, micro-organismo e vegetal, abarcando a agricultura e pecuária. Na agricultura, deve-se envolver a pesquisa, o ensino, a extensão e os agricultores (como sempre me ensinou o professor Marcos Sorrentino, da ESALQ/USP), em temas relevantes a serem ministrados, tais como o correto manejo dos solos, das áreas de vegetação nativa, de nascentes e cursos d’água na agricultura e pecuária, onde podemos preservar nossos bancos de germoplasma in situ. A agricultura e a pecuária, que são abastecidas por nossos recursos genéticos, estão entre as atividades que mais impactam o meio ambiente no Brasil, decorrentes de sua aplicação incorreta na natureza. Acrescente-se a isto o tão falado incremento da temperatura pelo efeito estufa, advindo do aquecimento global, que decorre na maior parte dos gases que emitimos na atmosfera, e que vem se agravando ano após ano, cujas previsões são catastróficas para o futuro da agricultura, pecuária e da conservação ex situ e da preservação in situ. Temos que pensar no que podemos fazer para amenizar tais impactos nesta área no Brasil, como na atividade da Pesquisa Científica, onde devemos incentivar novas cultivares elite ou mesmo tradicionais (inclusive transgênicas – porque não? Trangenia ocorre também na natureza!), visando o uso de agricultura orgânica, sem o uso de inseticidas e outros produtos prejudiciais ao meio ambiente, mais adaptadas ao novo clima que se avizinha. No Ensino, 152


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incentivar a inclusão dos temas de Recursos Genéticos e de Educação Ambiental, no currículo das escolas agrícolas e universidades, tanto públicas como privadas. E na Extensão Rural, incluir nos trabalhos a transmissão de práticas culturais menos danosas, como o plantio direto, agricultura orgânica, cultivo alternado, rotação de culturas, culturas em faixas, a proteção aos mananciais, a proteção das encostas dos rios, proteção aos topos de morros, o uso de terraços, menor uso de praguicidas, a policultura, etc. Ao verificar minhas aulas, que ministro virtualmente e presencialmente, encontrei exemplos de muitas técnicas, infelizmente sem fontes bibliográficas, me perdoem os autores de onde extraí e perdi a bibliografia, mas que ainda assim podem ser úteis, do ponto de vista didático, para orientar os agricultores e pecuaristas no seu dia a dia, tais como os exemplos abaixo: Palhadas: objetiva minimizar o impacto da chuva e ainda protege o solo do excesso de aquecimento provocado pelos raios solares. As palhadas são resultantes dos restos de culturas e são alimento dos microrganismos úteis quando espalhadas superficialmente. Cobertura vegetal: como produto da biomassa pode ser obtido por consórcio de espécies, rotação de culturas e por cultivo em faixas, sendo úteis durante todo o ciclo e até mesmo posteriormente ao cultivo. Terraço: é o plantio em curvas de nível, sendo a primeira ação necessária, realizada através do trabalho topográfico e acerto do terreno, visando minimizar a erosão do solo causada pelas chuvas. A reserva legal é de 20% da propriedade, sugerindo-se manter áreas naturais ou o replantio de espécies nativas. Tal proteção, além de ser lei federal, é essencial para possibilitar a infiltração das águas das chuvas. Costuma-se utilizar as seguintes espécies, para o plantio por sementes: Angico-jacaré, aroeira, feijão-bravo, mogno, mutamba, sesbania e tamboril. Quebra Vento: objetiva além da proteção às culturas, proporcionar um ambiente mais sombreado e úmido e ainda efetuam a atração de pássaros. “Não é necessário que seja preparado com espécies nativas”. Sugestão de espécies: Anileira, balseiro, copaíba, crotalária, feijão-andu, flor-de-mel, girassol, ingás, mutamba, sesbania e tamboril. O tamanho proposto é o de 5 a 20 m de largura, 50 a 100m entre si, perpendiculares ao vento predominante na época da seca. Culturas em faixas: desmatamento em faixas alternadas, com manutenção de áreas nativas. Os terraços devem cortar tais áreas quando não houver coincidência com as curvas de nível, servindo de quebra-ventos, reserva legal e refúgio de inverno aos inimigos naturais, sendo recomendada para áreas novas em tamanhos de 5 a 20m de largura, distantes 50-100m entre si. Barreiras – utilizadas para impedir que a praga localize a planta hospedeira, através do uso do policultivos, com o uso de plantas de porte bem diferenciado da cultura principal. Como benefícios cita-se o aumento de colheita pela diminuição de pragas e pela otimização da fotossíntese. Algumas espécies sugeridas: Amoreira, anileiras, cana-de-açúcar, crotalárias, flordo-mel, guandu, napier e vinagreira.

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Culturas Atrativas – preparadas para atrair pragas que iriam para a cultura principal, e consequentemente aumentar a população do inimigo natural, onde são plantadas para servir de atrativas, com a incorporação de inimigos naturais da praga alvo. Ex: Percevejos da soja, atraídos pelas anileiras (Indigofera hirsuta). O inimigo natural incorporado, na época da floração, é a vespa Telenomus podisii, e neste caso as anileiras são plantadas com 8 meses de antecedência ao plantio da soja. Refúgios de Inverno: é a manutenção de plantas nativas, ao longo das lavouras, servindo para atrair e refugiar inimigos naturais das pragas alvo. As plantas devem possuir muita folhagem, ter florescimento longo e serem de fácil rebrotamento na época de seca. Algumas espécies sugeridas: Amoreira, Cordão-de-Frade, Flor-de-Mel, Mamona e Napier. Culturas Intercalares: a fim de melhorar o aproveitamento de fertilizantes do solo, disponibilizar boa biomassa para plantio direto ou forragem, servir para a rotação de culturas, reduzir as pragas das culturas, proporcionar renda em períodos diferenciados ao agricultor, atrair polinizadores e inimigos naturais. Podem ser plantadas em faixas alternadas com a cultura principal, tais como: Mandioca-milho-feijão-de-porco, napier-guandu-arroz, mamona-gergelimfeijão, soja-flor-do-mel-cana-de-açúcar e café-mamão-crotalária. Rotação de Culturas – pensando na diversificação de alimentos, cobertura do solo ou adubação verde, utiliza-se de espécies comerciais que produzam grandes quantidades de biomassa e de rápido desenvolvimento, proporcionando a interrupção do ciclo das pragas, controle de plantas daninhas, enriquecimento do solo quanto às suas qualidades físicas, químicas e biológicas, facilidade no plantio direto, melhorando a distribuição de mão de obra e de renda. Sugere-se o uso de plantas forrageiras, gramíneas e leguminosas, anuais ou semiperenes. Ex.: algodão, amendoim, arroz, feijão, girassol, guandu, mandioca, milho, milheto, soja, sorgo, trigo, etc. Ilhas de Vegetação – plantadas para ser um reduto de flora e fauna como mantenedor da biodiversidade, permitindo o escoamento da água das chuvas e servindo de abrigo aos inimigos naturais das pragas, além do aspecto lúdico de mantenedor da paisagem. A vegetação nativa pode permanecer em torno ou dentro das lavouras de grãos ou pastagens. Sistema de Produção Orgânica - A preservação da biodiversidade na agricultura pode ser efetivada através de uma ferramenta essencial: Os chamados os sistemas de produção orgânicos, os quais objetivam a ampliação e a manutenção da biodiversidade, como base da agricultura biológica ou orgânica. Proteção da Fauna - os agricultores também podem manter e até ampliar a biodiversidade de suas fazendas, inclusive da fauna, a qual tem seus habitats compostos por diferentes unidades de uso e ocupação das terras, combinadas com remanescentes de vegetação natural e dos recursos hídricos. Proteção à Microbiota do Solo – a fim de proteger a biota do solo resguardam-se os mananciais d’água, proporcionando a retirada de substâncias tóxicas do meio ambiente, 154


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fornecendo nutrientes essenciais às plantas silvestres e às plantas nativas domesticadas, como por exemplo: amendoim, abacaxi e mandioca, assim como às exóticas agrícolas como por exemplo o café, cana-de-açúcar, frutíferas e leguminosas diversas. Enfim, a Educação Ambiental é atividade essencial no trato com os Recursos Genéticos e o meio ambiente, e inclusive para a sobrevivência da agricultura e pecuária a longo prazo, bem como da flora e fauna nativa, sendo necessário o aprimoramento de técnicas científicas, seu eficiente repasse pelos extensionistas para incorporação no trabalho rural cotidiano, sem se esquecer de que é urgente incluí-la como matéria obrigatória nos diversos níveis de escolaridade nacional.

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IV – Entrevistado da vez: Área Animal GERALDO MAGELA CÔRTES CARVALHO Por: Afrânio Gazolla

Graduado Zootecnista pela Faculdade de Zootecnia de Uberaba (FAZU – 1986); Me. em Zootecnia (1996) e Dr. em Ciência Animal (2000), pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), área de concentração em Genética e Melhoramento Animal. PhD pela ARS/USDA em Fort Collins, Colorado - USA. Desde 2004 é Pesquisador A da Embrapa Centro de Pesquisa Agropecuária do Meio-Norte, Teresina, PI. Pesquisas com ênfase em genética molecular, melhoramento e produção animal, atuando principalmente em conservação e avaliação de recursos genéticos animais, sendo Curador da raça local Curraleiro Pé-Duro na Embrapa Meio-Norte.

1. Qual a sua atuação na área de Conservação de Recursos Genéticos no Brasil? R.- Sou pesquisador da Embrapa, lotado no Centro de Pesquisa Agropecuária do Meio-Norte em Teresina, Piauí, onde sou Curador do rebanho de bovinos Curraleiro Pé-Duro e responsável pelo núcleo de conservação in situ da raça em questão. Participo do Portfólio Gestão Estratégica de Recursos Genéticos para Alimentação, a Agricultura e a Bioindústria (REGEN) em execução pela Embrapa, na vertente animal, que tem como objetivo primordial a manutenção e caracterização dos recursos genéticos animais em risco de extinção no País. O REGEN é constituído pelas Vertentes Vegetal, Animal e Microrganismos. A Vertente Animal é composta pelos Projetos Componentes (PC), que são a “Gestão da Vertente Animal no Portfólio REGEN”, o “Gerenciamento e Curadoria Digital do Sistema Alelo Animal (Animal GRIN)”, a “Conservação ex situ de Recursos Genéticos Animais”, a Conservação in situ de Suínos, Aves e Caititus, “Conservação in situ de caprinos e ovinos” e a “Conservação in situ de Bovideos”. Sou o responsável pela gestão do PC “Conservação in situ de Bovídeos”, que além do Plano de Ação (PA) de Gestão, também acampa os PA’s de conservação de bovinos Curraleiro Pé-Duro no Piauí, (Embrapa Meio-Norte); de bovinos Pantaneiros (Embrapa Panatanal); bovinos Caracu (Embrapa Gado de Corte) e búfalos Carabao e Baio (Embrapa CPATU). O PA de “Conservação "in situ" de Bovinos Curraleiro Pé-Duro” é de minha responsabilidade.

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2. Como é constituído e quais são as principais ações previstas no Projeto Componente (PC) “Conservação in situ de bovídeos” sob sua responsabilidade? R.- O presente PC é composto por cinco Planos de Ação (PA), incluindo o Plano de Gestão (PA1) liderado pela Embrapa Meio-Norte, com a previsão de criação de um Grupo Gestor, formado pelos responsáveis pelos demais PAs. O PA2, que compreende o NC de bovinos Curraleiro Pé-Duro, liderado pela Embrapa Meio-Norte. A raça foi reconhecida recentemente e encontra-se em processo de caracterização fenotípica e avaliação em cruzamentos com raças comerciais com vistas à sua inserção no Agronegócio pecuário, como um taurino tropicalmente adaptado, para uso no Meio-Norte (Maranhão e Piauí) do Brasil. O PA3 é constituído pelo NC de bovinos Pantaneiros, liderado pela Embrapa Pantanal, que vem sendo caracterizado e avaliado para sua inserção no mercado com produtos diferenciado com denominação de origem. O PA4 é formado pelo NC de bubalinos do tipo Baio e da raça Carabao, liderado pela Embrapa Amazônia Oriental e se encontra ainda em fase de caracterização, necessitando de maior apoio. O PA5, compreende o NC de bovinos da raça Caracu, liderado pela Embrapa Gado de Corte, cujos animais apresentam grande variabilidade. A raça também é reconhecida pelo MAPA, estando parcialmente inserida no agronegócio como raça pura ou em cruzamentos. Os mencionados NC se apresentam em diferentes níveis de caracterização justificando a não padronização de todas as atividades a serem executadas nos mesmos. Todavia, os manejos genético, reprodutivo, sanitário e nutricional, o enriquecimento, coleta e organização dos descritores fenotípicos e a documentação (Alelo) deverão ser prioridade na gestão de todos os NC “in situ” de Bovídeos mantidos pela Embrapa. O objetivo principal a ser alcançado nesse PC é manter in situ os Núcleos de Conservação de bovinos Curraleiro Pé-Duro, Pantaneiro, Caracu e bubalinos do tipo Baio e Carabao, com vistas à caracterização, enriquecimento, documentação, divulgação para uso de recursos genéticos bovídeos localmente adaptados. Para tal será necessário manter os respectivos núcleos devidamente documentados, maximizando a variabilidade genética e evitando a endogamia. Assim, nesse Projeto Componente (PC), objetiva-se conservar, caracterizar, enriquecer, organizar e documentar os diversos Núcleos de Conservação (NC) “in situ” mantidos pela Embrapa em diversas Unidades descentralizadas espalhadas pelo País, nos locais e regiões onde esses grupamentos se originaram. 3. Todos os núcleos de conservação em estudo pertencem à Embrapa? R.- Os núcleos de conservação in situ de bovinos Pantaneiro, Curraleiro Pé-Duro, Caracu e búfalos Baio e Carabao pertencem à Embrapa. Todavia, como o objetivo principal dos Projetos é manutenção da variabilidade genética de cada grupamento, é imprescindível que rebanhos associados de outras instituições de pesquisa, de criadores e de associações de Criadores de bovinos dessas respectivas raças participem dos trabalhos e dos objetivos. Um exemplo é a inclusão da raça Crioula Lageana, que vem sendo mantida, caracterizada e avaliada em rebanhos associados com o apoio da Associação Brasileiras de Criadores de Bovinos da Raça Criola Lageana em Santa Catarina, rebanhos associados de Pantaneiro e Caracu no Mato do 157


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Sul e Mato Grosso e ainda também de Curraleiro Pé-Duro no Piauí, Maranhão, Goiás e Tocantins.

4. Porque essas raças entraram em risco de extinção e devem ser conservadas? R.- Em meados do século XX o Brasil possuia diversas raças locais, entre elas o Caracu, Igarapé, Pedreiro, Turino, China, Mocho Nacional, Lageano, Pantaneiro, Junqueira, Franqueiro, Curraleiro e Malabar, sendo que a grande maioria desses bovinos locais eram considerados por técnicos e criadores como sendo de raça “comum”. Esses bovinos ditos “comuns” eram encontrados em todas as regiões do nosso Território e as diferenças de clima, solo, pastagens, sistemas de criação e manejo, entre outras, imprimiram modificações acentuadas formando populações adaptadas localmente. Entretanto, antes de se conhecer o real potencial das raças ditas crioulas ou comuns, a necessidade de raças maiores e mais produtivas para o agronegócio da carne no Brasil levou à importação de raças exóticas, principalmente zebuínas, a partir da metade do século XX. Cruzamentos absorventes, de maneira desordenada, levaram à substituição e erosão genética das raças locais, que mesmo bem adaptadas, apresentavam índices de produtividade inferior. Embora o rebanho Nacional seja numeroso, a intensa seleção de um pequeno número de características genéticas, e o uso de um pequeno grupo de touros selecionados nas raças zebuínas, levou a baixa diversidade genética. Esta baixa variabilidade se torna prejudicial visto que representa um alto risco para a segurança alimentar, pois diminuem as chances dos pecuaristas fazerem frente ao surgimento de novas enfermidades, mudanças climáticas, aquecimento global, mudanças no sistema de produção e responderem às preferências dos consumidores. Muitas vezes estimulados e financiados pelo poder governante, os rebanhos locais atingiram níveis críticos de sobrevivência, chegando à beira da extinção. O vigor híbrido (heterose) apresentado nos produtos resultantes daqueles cruzamentos foram mal interpretados, tendo sido atribuído apenas à introdução do Zebu, desqualificando o pequeno e tardio bovino Nacional. A necessidade de reter a erosão genética de raças em risco de extinção tem sido discutida desde a década de 1940 por agências internacionais de agricultura, pesquisadores e ainda por criadores de raças raras. As razões não foram somente técnicas e tem um forte apelo público devido a fatores culturais e históricos. A diminuição da variabilidade genética pode envolver uma raça inteira ou linhagens da mesma pela perda de genes pela consanguinidade, pressão de seleção e cruzamentos com outras raças, o que se verificou nos grupamentos bovinos locais bem como nos búfalos no tipo Baio e Carabao. A chance de se perder genes se inicia quando uma população ou raça, menos competitiva comercialmente, é reduzida. Fato verificado nas diversas raças locais ou ainda quando a número de animais em reprodução, ou tamanho efetivo de uma raça é reduzido devido à inseminação artificial e transferência de embriões, que tem ocorrido nas raças comerciais. Como a pressão de seleção foi diferente em cada ambiente do Brasil, as raças locais brasileiras apresentam características fisiológicas de adaptação diversas, uma vez que foram formadas em 158


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ambientes tão diversos e adversos como a caatinga, o pantanal e o cerrado. Esses recursos genéticos animais de grande porte são uma “carta” estratégica para a pecuária Nacional em um cenário de aquecimento global e para a manutenção da segurança alimentar da população brasileira em um futuro incerto. Em qualquer caso, pode-se esperar que apenas o germoplasma bem caracterizado seja utilizado visando elevar a adaptabilidade de raças comerciais de alto rendimento.

5. Como está a situação em cada núcleo de conservação de bovídeos? R.- Na região Nordeste a maioria dos bovinos não tem raça definida e estão presentes em praticamente todas as propriedades rurais. No semiárido o desenvolvimento da pecuária bovina encontra sérias limitações à introdução de raças exóticas especializadas em virtude dos fatores climáticos próprios da região como a sazonalidade das chuvas, forragens grosseiras, instalações inadequadas e ausência de programas realistas de melhoramento genético. Os bovinos Curraleiro Pé-Duro poderiam ser utilizados como raça pura e em cruzamentos assistidos para produção de carne e leite nessas parágens, que para ele são boas. O núcleo de conservação in situ está sob a responsabilidade da Embrapa Meio-Norte em seus campos experimentais em São João do Piauí no semiárido, e Campo Maior, transição de cerrado, campos e florestas, com cerca de 200 animais. No pantanal matogrossense as fazendas de criação de gado de corte compreendem cerca de 95% da planície pantaneira, consequentemente, o principal desafio dos tomadores de decisão é a produção de gado de corte de maneira sustentável que não cause grandes impactos ambientais como também o desenvolvimento de boas práticas de manejo associadas com estratégias de marketing que valorizem os produtores provenientes da região. O bovino Pantaneiro apresenta características únicas de adaptação à essa região, que se manifestam na rusticidade, na prolificidade e na habilidade para sobreviver em condições de estresse alimentar, que foram desenvolvidas pela pressão da seleção natural. Estão no Pantanal há quase três séculos, onde se adaptaram plenamente às condições edafoclimáticas da região, reproduzindose e multiplicando-se naturalmente nessa vasta região inundável. Esses animais apresentam características únicas por pastarem debaixo d`água e utilizarem assim todos os recursos vegetais disponíveis na região. São animais dóceis e de fácil manejo e, até o momento, não foi observado comportamento alimentar similar com os zebuínos nas mesmas condições de manejo. O núcleo de conservação in situ está sob a responsabilidade da Embrapa Pantanal em seu campo experimental da fazenda Nhumirim, com cerca de 100 animais. A raça Caracu se formou no Sudeste brasileiro a partir de animais oriundos de Portugal aportados em São Vicente-SP, em 1534. Foram criados durante vários séculos enfrentando todos os tipos de dificuldades como: alimentação, doenças, clima e parasitas. Em 1909 formou-se o posto de seleção de raças nacionais Caracu e Mocho Nacional em Nova Odessa – SP; em 1916 foi fundada a Associação Brasileira de Criadores de Caracu; e posteriormente, o Mocho Nacional foi incluído ao Caracu originando a variedade mocha. A raça teve seu apogeu nas 159


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décadas de 30 e 40 quando se iniciou um período de declínio com a introdução de zebuínos e o mérito dos cruzamentos, que deveria ser das duas raças, foi dado todo para o Zebu, como nas demais raças locais. Assim em 19/11/1969 foi fechada a Associação de Criadores. Paralelamente a este desastre oficial, criadores que acreditavam no potencial destes animais além de preservarem o material genético, promoveram o melhoramento, tanto para o desempenho de crescimento, quanto para a produção de leite. A Associação foi reaberta em 1980 e reconhecida oficialmente em 1983. O rebanho de Nova Odessa foi parcialmente recuperado e com a aquisição de novo material de diversas origens formou-se o rebanho, desta vez no Instituto de Zootecnia (IZ) de Sertãozinho - SP. Com uma visão mais prática e com metodologia adequada, o Caracu vem tendo uma melhora acentuada em desempenho e conformação frigorífica. O rebanho da Embrapa Gado de Corte foi formado a partir de 40 vacas descendentes de matrizes Caracu do IZ que foram registradas, além de mais 115 novilhas que foram adquiridas de 10 criadores diferentes em três estados (PR, MG e SP), filhas de 53 touros diferentes. Hoje o rebanho de vacas submetidas a monta e as novilhas disponíveis (165 fêmeas) são filhas de 73 touros diferentes, tem 40% de animais mochos e a cada safra são utilizados de 12 a 15 touros diferentes com vistas à manutenção da variabilidade genética. A Amazônia, não obstante a sua grande biodiversidade, sofre graves ameaças nos seus nichos naturais, onde espécies animais e vegetais nativos desaparecem antes mesmo de serem conhecidos e catalogados. Isso ocorre também entre os animais domésticos introduzidos, onde a ação antrópica danosa está mais evidente, destacando-se dois grupos de búfalos, a raça Carabao e o tipo Baio, os quais foram introduzidos ou se desenvolveram há, pelo menos, dois séculos, no arquipélago do Marajó, no extremo Norte do Pará. Além de conter a maior ilha flúvio-marinha do mundo, destaca-se pela grande variação de ecossistemas, que vão desde as savanas mal e bem drenadas, até as matas ciliares de rios e manguezais com influência marinha, transformando-a numa região única. O Núcleo de Conservação de Animais de Grande Porte da Amazônia Oriental / Banco de Germoplasma Animal da Amazônia Oriental - BAGAM, localizado na Ilha de Marajó, município de Salvaterra - Pará, constando de 169 búfalos, sendo 57 animais do tipo Baio e 112 da raça Carabao está sob a responsabilidade da Embrapa Amazônia Oriental (CPATU).

6. Como essas raças locais podem ser utilizadas pelo agronegócio e como podem ajudar a tornar a pecuária Nacional sustentável e rentável ao mesmo tempo? R.- Diversos pesquisadores afirmam que elementos importantes nos programas nacionais de conservação incluem o inventário, a caracterização e a documentação dos dados obtidos. Em termos de pesquisa, as prioridades devem ser dadas à caracterização e avaliação das populações locais e a mensuração das diferenças entre e dentro das populações. Além disso, as características qualitativas e quantitativas são essenciais para se estabelecer o real potencial de um germoplasma como alternativa genética para ser usado pelo agronegócio. Caso se confirme as previsões de aquecimento global, o interesse e procura por raças raras adaptadas será 160


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incrementado e levará a uma reavaliação do valor das raças locais e cruzamentos estratégicos poderão ocorrer. No entanto, os resultados de diferentes situações e modelos implicam em diferentes espécies ou disponibilidade de raças adaptadas. Em qualquer caso, pode-se esperar que apenas o germoplasma bem caracterizados seja utilizado visando elevar a adaptabilidade de raças de alto rendimento. Assim, o objetivo principal de projeto é a conservação e manutenção dos núcleos de conservação in situ da Embrapa nos locais e regiões onde esses grupamentos se originaram para continuidade de pesquisa e busca por soluções tecnológicas em prol da pecuária Nacional e segurança alimentar de nosso povo. O exemplo mais recente é o uso do Curraleiro Pé-Duro, como um taurino tropicalmente adaptado, em cruzamentos. Aa criação do boi Tropical (composto com Nelore, Angus e Senepol), com vistas à produção de carne com qualidade nas regiões Norte e Nordeste do Brasil em sistema de integração lavoura-pecuáriafloresta. O uso comercial desses recursos, ora em vias de extinção, é a garantia de sua manutenção para a posteridade.

Nossos sinceros agradecimentos ao amigo Geraldo, pela gentileza em aceitar esta entrevista que muito nos honra e abre possibilidades para se conhecer um pouco mais de nossa área de recursos genéticos animais. Nos consideramos também homenageados através do seu conhecimento!

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V – Eventos

IV Workshop de Curadores do Brasil O evento acontecerá no dia 08 de novembro de 2016, na cidade de Curitiba/PR, durante a realização do IV Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos.

Programação

08 de novembro - Terça-feira 8h - 8h45

Credenciamento IV Workshop de Curadores do Brasil

8h45 - 9h

Abertura

Tema: O impacto da legislação e tratados internacionais no trabalho dos curadores no Brasil Coordenação: Dra. Vânia Moda Cirino - IAPAR (30 minutos cada)

9h - 10h30

Palestra 1: Modificações na legislação brasileira com potencial de impactar o trabalho de curadores Dra. Rosa Míriam, Embrapa Sede Palestra 2: Importância da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) em instituições de pesquisa e ensino a partir da Lei Arouca Dra. Norma Vollmer Labarthe, Fiocruz DISCUSSÃO (30 minutos)

10h30 - 11h

11h - 12h

Coffee-break

Tema: Diferentes abordagens na organização de coleções de germoplasma Coordenação: Dra.Tammy Aparecida Manabe Kiihl - Embrapa Trigo (20 minutos cada) Palestra 1: Organização de coleções nucleares com foco no melhoramento genético

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Dr. Fábio Gelape Faleiro - Embrapa Cerrados Palestra 2: Categorização de coleções microbianas Profa. Dra. Lara Durães Sette - UNESP Rio Claro DISCUSSÃO (20 minutos)

12h - 13h30

Almoço

Tema: Compartilhamento dos recursos genéticos com a sociedade: uma tendência ou realidade para os bancos de germoplasma? Coordenação: Dra. Dulce Alves - Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (20 minutos cada) Palestra 1: Um sistema de Curadorias para a sociedade com participação dos agricultores Dra. Patrícia Goulart Bustamante, DTT Embrapa Sede 13h30 - 15h

Palestra 2: Conservação de germoplasma animal em coleção de base Dr. Arthur da Silva Mariante, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Palestra 3: Conservação de recursos genéticos em coleções de base Dr. Juliano Gomes Pádua, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia DISCUSSÃO (30 minutos)

15h - 15h30

Coffe break

Tema: Os Sistemas de Curadoria no Brasil Coordenação: Dr. Renato Ferraz de Arruda Veiga (15 minutos cada) Palestra 1: O Sistema de Curadorias da Embrapa Dra. Dulce Alves - Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Palestra 2: As curadorias na Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos - SBRG Dr. Marcos Aparecido Gimenes - Presidente da SBRG 15h30 - 17h

Palestra 3: Rede Brasileira de Jardins Botânicos na conservação, popularização e uso de recursos genéticos Dr. João Neves Toledo - Presidente do Comitê Executivo da Rede Brasileira de Jardins Botânicos Palestra 4: Os Sistemas de Curadoria no Brasil Dr. Renato Ferraz Veiga - Editor da RG News DISCUSSÃO (30 minutos)

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IV Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos Com o tema central "Recursos genéticos no Brasil: a base para o desenvolvimento sustentável", a SBRG em pareceria com o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) realizam o IV CBRG, que ocorrerá em Curitiba PR no período de 8 a 11 de novembro de 2016.

Programação

08 de novembro - Terça-feira

14h - 19h

19h - 19h30

Credenciamento do IV Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos

Abertura do IV Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos

Palestra Magna de Abertura 19h30 - 20h30

Tema: Recursos genéticos: a base para o desenvolvimento sustentável Palestrante: Dra. Maria Marleni Ramirez, Regional Representative for Central and South America, Bioversity International, International Potato Center - Peru

20h30 - 22h30

Coquetel

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09 de novembro - Quarta-feira

Minicurso Opção 01 Estudos de Associação Ampla do Genoma (GWAS) aplicados a caracterização de germoplasma Instrutor: Dr. Rafael Medeiros de Oliveira Silva - UNESP Jaboticabal Opção 02 Curadoria e Gestão de Coleções Biológicas 8h - 9h

Instrutor: Dr. Paulo Holanda - Bioquallis, Curitiba Opção 03 Estatística aplicada a caracterização de germoplasma Instrutor: Prof. Dr. Cosme Damião Cruz, Universidade Federal de Viçosa - UFV Opção 04 Uso do Software Alelo na documentação de recursos genéticos Instrutor: Dra. Patrícia Ianella & MSc. Ivo Roberto Sias Costa - Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Palestra transversal: 9h - 10h

Tema: Mudanças climáticas e seus efeitos sobre a biodiversidade Palestrante: Prof. Dr. Marcos Silveira Buckeridge - Universidade de São Paulo - USP Instituto de Biociências

10h- 10h30

Coffee-break

Palestra transversal: 10h30 - 12h

Tema: Regulamentação para o acesso aos recursos genéticos Palestrante: Dra Rosa Miriam de Vasconcelos - Coordenadora de Assuntos Regulatórios - Embrapa

12h - 14h

Almoço

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Apresentação Oral de Trabalhos ANIMAL Sala 1 | Moderador: Dr. Alexandre Floriani Ramos - Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia MICRORGANISMOS 14h - 15h Sala 3 | Moderador: Profa. Dra Lara Duraes Sette - UNESP Rio Claro VEGETAL Sala 5 | Moderadora: Dra. Juliana Sawada Buratto - IAPAR Sala 6 | Moderadora: a confirmar

Palestra Animal Tema: Conservação de animais em sistemas tradicionais integrados: desafios e oportunidades (Sala 1) Palestrante: Prof. Dr. Marson Bruck Warpechowski - UFPR

Tema: Filogenia e manejo genético de espécies nativas de peixes em rios (Sala 2) 15h - 16h

Palestrante: Prof. Dr. Walter Antônio Pereira Boeger - UFPR Microrganismos Tema: Regulação da expressão gênica em Trichoderma e outros fungos celulolíticos (Sala 3) Palestrante: Prof. Dr. Márcio José Poças Fonseca - UNB

Tema: Diversidade e biotecnologia microbiana promovendo sustentabilidade (Sala 4) Palestrante: Prof. Dr. Alexandre Soares Rosado - UFRJ Vegetal

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Tema: 10.000 anos de domesticação de plantas - as origens da agrobiodiversidade da Amazônia indígena (Sala 5) Palestrante: Dr. Charles R. Clement - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia INPA

Tema: Ameaças das pragas quarentenárias aos sistemas produtivos: análise de risco e ações mitigadoras (Sala 6) Palestrante: Dra. Abi Soares dos Anjos Marques - Diretora da Embrapa Quarentena Vegetal

16h - 16h30

Coffe break

Painel Animal Tema: Visão do produtor sobre a contribuição da pesquisa para a valoração dos RGA (Sala 1) Palestra 1: Gargalos para a inserção de raças localmente adaptadas em sistemas de produção comerciais Dr. Edison Martins - Diretor Técnico da ABCCL

16h30 - 18h

Palestra 2: Agregação de valor aos recursos genéticos animais: da produção a comercialização do suíno Moura Vitor Hugo Burko - Produtor de suínos Moura

Tema: Reprodução assistida para auxílio no manejo genético de populações ameaçadas de extinção (Sala 2) Palestra 1: Células multipotentes e pluripotentes induzidas: Estado da arte e potencial uso em espécies selvagens ameaçadas de extinção

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MSc. Luciana Diniz Rola, Doutoranda UNESP Jaboticabal Palestra 2: Reintrodução de embriões como mecanismo de restauração de diversidade genética: O exemplo do cervo-do-pantanal. Prof. Dr. José Maurício Barbanti Duarte - UNESP Jaboticabal Palestra 3: Avanços na criopreservação de germoplasma de espécies aquáticas Dr. Terrence R. Tiersch - Lousiana State University Microrganismos Tema: Microbiologia ambiental - Biorremediação (Sala 3) Palestra 1: Biorremediação e coleção de culturas Dra. Vera Maria Valle Vitali - Instituto de Botânica de São Paulo Palestra 2: Fungos de ambientes marinhos e Antárticos aplicados à biorremediação Profa. Dra. Lara D. Sette - UNESP Rio Claro

Tema: Manutenção e documentação de coleções biológicas (Sala 4) Palestra 1: Manutenção e documentação das coleções microbiológicas da Fiocruz Dra Manuela da Silva - Fundação Oswaldo Cruz Palestra 2: A experiência do INCT-Herba•rio Virtual da Flora e dos Fungos: trabalhando em rede para promover o fortalecimento dos herbários, o compartilhamento de dados e o avanço do conhecimento sobre a biodiversidade brasileira Prof. Dr. João Renato Stehmann - UFMG Vegetal Tema: Uso potencial dos recursos genéticos vegetais dos biomas brasileiros (Sala 5) Palestra 1: Caracterização química de metabólitos secundários de recursos fitogenéticos e prospecção para uso comercial. Profa. Dra. Vanderlan da Silva Bolzani - UNESP, Instituto de Química de Araraquara.

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Palestra 2: Conservação genética de populações naturais e o manejo dessas áreas visando a produção sustentável da floresta. Profa. Dra. Fátima Pinã Rodrigues - UFSCar campus Sorocaba.

Tema: Melhoramento genético participativo (Sala 6) Palestra 1: Melhoramento participativo de milho Prof. Dr. Josué Maldonado Ferreira - UEL Palestra 2: Melhoramento participativo de feijão Dr. Irajá Ferreira Antunes - Embrapa Clima Temperado

18h - 19h

19h

Sessão de Pôsteres

Assembleia Ordinária da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

10 de novembro - Quinta-feira

Minicurso Opção 01 Estudos de Associação Ampla do Genoma (GWAS) aplicados a caracterização de germoplasma Instrutor: Prof. Dr. Fernando Sebastián Baldi Rey - UNESP Jaboticabal Opção 02 8h - 9h Curadoria e Gestão de Coleções Biológicas Instrutor: Dr. Paulo Holanda - Bioquallis, Curitiba Opção 03 Estatística aplicada a caracterização de germoplasma Instrutor: Prof. Dr. Cosme Damião Cruz, Universidade Federal de Viçosa - UFV Opção 04

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Uso do Software Alelo na documentação de recursos genéticos Instrutores: Dra. Patricia Ianella & MSc. Ivo Roberto Sias Costa - Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Palestra transversal: Tema: Association of genomic regions with traits of economic importance based on high 9h - 10h

throughput technologies Palestrante: Dr. Qijian Song - Soybean Genomics and Improvement Laboratory, Beltsville Agricultural Research Center - USDA - ARS

10h- 10h30

Coffee-break

Palestra transversal: Tema: Bioprospecção e desenvolvimento tecnológico Palestra 1: Potencial biotecnológico e agrícola de microrganismos endofíticos e 10h30 - 12h

rizosféricos Prof. Dr. Paulo Teixeira Lacava - UFSCar Palestra 2: Potencial farmacológico de espécies vegetais do Bioma Amazônico Dr. Adrian Martin Pohlit - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA

12h - 12h30

Apresentação dos vídeos selecionados para concorrer a premiação

12h30 - 14h

Almoço

Apresentação Oral de Trabalhos ANIMAL Sala 1 | Moderador: Dr. Alexandre Floriane Ramos - Embrapa Recursos Genéticos e 14h - 15h

Biotecnologia MICRORGANISMOS Sala 3 | Moderador: Prof. Dra Lara Duraes Sette - UNESP Rio Claro

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VEGETAL Sala 5 | Moderador: Dra. Juliana Sawada Buratto - IAPAR Sala 6 | Moderador: a confirmar

Palestra Animal Tema: Métodos inovadores para a conservação Ex situ de germoplasma (Sala 1) Palestrante: Dr. Terrence R. Tiersch - Lousiana State University

Tema: O conflito homem - vida silvestre no Brasil (Sala 2) Palestrante: Dr. Silvio Marchini - USP Piracicaba Microrganismos Tema: A Rede Brasileira de Centros de Recursos Biológicos (CRB-Br) (Sala 3) Palestrante: Dra. Claude Pirmez - FIOCRUZ 15h - 16h

Tema: Cianobactérias da biodiversidade brasileira como fontes de produtos biotecnológicos (Sala 4) Palestrante: Prof. Dr. Ernani Pinto Junior - FCF/USP Vegetal Tema: Epigenética e suas implicações para o uso dos recursos genéticos (Sala 5) Palestrante: a confirmar

Tema: Sistemas de informação e o conhecimento digital acessível da biodiversidade brasileira (Sala 6)

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Palestrante: Dr. Vanderlei Perez Canhos - Centro de Referência em Informação Ambiental - CRIA

16h - 16h30

Coffe break

Painel Animal Tema: Políticas brasileiras para conservação e uso de RGA (Sala 1) Palestra 1: Desenvolvimento de políticas públicas visando a conservação e o uso sustentável dos RGAs MSc. Paola Frassinetti Nunes Machado de Oliveira - MAPA - PI Palestra 2: Registro de raças naturalizadas o que pode ser feito no caso de RGAs em risco de extinção Dr. Luiz Felipe Ramos Carvalho - MAPA - DF

16h30 - 18h

Tema: Políticas brasileiras para mitigação dos conflitos da sociedade com a vida silvestre (Sala 2) Palestra 1: Bioinvasão Méd. Vet. Eunice Lislaine Chrestenzen de Souza - IBAMA | Centro de Triagem de Animais Silvestres - CETAS Tijucas do Sul - PR Palestra 2: Técnicas para a redução dos damos de espécies praga Prof. Dr. Luciano Martins Verdade - Universidade de São Paulo, Centro de Energia Nuclear na Agricultura. Microrganismos Tema: Prospecção: microrganismos da biodiversidade brasileira (Sala 3) Palestra 1: Bioprospecção de leveduras da biodiversidade brasileira para a produção de biocombustiveis

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Prof. Dr. Carlos Augusto Rosa - UFMG Palestra 2: Biossíntese de Metabólitos de Fungos e Bactérias de Origem Marinha Prof. Dr. Roberto G. de Souza Berlinck - USP

Tema: Caracterização, identificação e preservação de recursos genéticos microbianos (Sala 4) Palestra 1: Desafios do DNA barcoding na identificação de fungos Prof. Dr. André Rodrigues - UNESP Rio Claro Palestra 2: Acesso a recursos microbianos autenticados: o que podemos fazer por você Profa. Dra. Derlene A. de Angelis - CPQBA/UNICAMP Vegetal Tema: Recursos genéticos e melhoramento preventivo (Sala 5) Palestra 1: Desenvolvimento de estratégias para resistência a pragas e doenças Dr. Ricardo Vilela Abdelnoor - Embrapa Soja Palestra 2: Emprego de tecnologia genômica e bancos de germoplasma no melhoramento genético preventivo para organismos quarentenários de alto risco. Dr. Marcio Elias Ferreira - Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Tema: Utilização de espécies nativas e silvestres na diversificação de sistemas produtivos agrícolas (Sala 6) Palestra 1: Recursos genéticos florestais Dra Ananda Virginia de Aguiar - Embrapa Florestas Palestra 2: Recursos genéticos de tuberosas e rizomas Prof. Dr. Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira - Universidade do Sagrado Coração.

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18h - 19h

20h30

Sessão de Posteres

Jantar por Adesão - Restaurante Madalosso

11 de novembro - Sexta-feira

Minicurso Opção 01 Estudos de Associação Ampla do Genoma (GWAS) aplicados a caracterização de germoplasma Instrutor: Prof. Dr. Fernando Sebastián Baldi Rey - UNESP Jaboticabal Opção 02 Curadoria e Gestão de Coleções Biológicas 8h - 9h

Instrutor: Dr. Paulo Holanda - Bioquallis, Curitiba Opção 03 Estatística aplicada a caracterização de germoplasma Instrutor: Prof. Dr. Cosme Damião Cruz, Universidade Federal de Viçosa - UFV Opção 04 Uso do Software Alelo na documentação de recursos genéticos Instrutores: Dra. Patricia Ianella & MSc. Ivo Roberto Sias Costa - Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Palestra transversal: Tema: O uso comercial da biodiversidade: o acesso a recursos genéticos e a repartição 9h - 10h

de benefícios Palestrante: MSc. Henry Philippe Ibañez de Novion Ministério do Meio Ambiente - Departamento do Patrimônio Genético - Coordenador de Assuntos Regulatórios e de Repartição de Benefícios

10h- 10h30

Coffee-break

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Conservação de recursos genéticos: relatos de casos Moderador: Moacir Darolt - IAPAR 10h30 - 12h

Panorama mundial da conservação dos recursos genéticos Conservação pelo uso: relatos de agricultores

12h - 13h

Premiação dos melhores trabalhos, fotos e vídeos, encerramento e sorteios

Feira Nacional de Guardiões da Agrobiodiversidade 8h - 19h

Local: Setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rua dos Funcionários, 1540 - Cabral - Curitiba - PR

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VI – Memória Memória Internacional

Alphonse Luis Pierre Pyreme de Candolle

(1806 —1893)

Foi um botânico franco-suíço, filho de Augustin Pyrame de Candolle, de quem foi o continuador da obra científica, coordenando a publicação dos últimos volumes do monumental Prodromus systematis naturalis regni vegetabilis, que por sua vez teve a continuação pelo seu filho Casimir Pyrame de Candolle. Pretendendo seguir uma carreira forense, dedicouse inicialmente a estudos jurídicos formando-se em Direito pela Universidade de Genebra, mas foi-se gradualmente envolvendo nos estudos de Botânica do seu pai, acabando por ser o seu sucessor como professor daquela disciplina científica na Universidade de Genebra e como diretor do Jardim Botânico de Genebra. Embora sem o génio do seu pai, foi um dos botânicos mais marcantes do século XIX. Iniciou outro ambicioso projeto, a descrição de todas as fanerogâmicas conhecidas, que levou à publicação da sua obra Monographiae phanerogamarum, esta em colaboração com o filho. Estudou a origem das plantas cultivadas e a importância dos fatores ambientais no desenvolvimento dos organismos vivos, sendo assim pioneiro dos estudos ecológicos e da fitogeografia. O seu tratado Géographie Botanique Raisonnée, publicado em 1855, contém uma análise pioneira das causas que determinam a distribuição geográfica das espécies vegetais, em especial da influência do regime sazonal de temperatura média do ar. Apesar de manter uma visão criacionista prédarwiniana, a obra mantém atualidade. Colaborou na fixação das normas internacionais de nomenclatura botânica, tendo visto a sua proposta de regulamentação da nomenclatura botânica aprovada pelo Congresso Internacional de Botânica que reuniu em Paris no ano de 1867.Foi o primeiro cientista a reconhecer que as informações botânicas, geográficas e arqueológicas deveriam ser integradas para uma melhor compreensão da origem da agricultura, na sua publicação Origin of Cultivated Plants, de 1883. 176


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Memória Nacional

Hermes Moreira de Souza (1918 – 2011) “O Semeador de Florestas”, como era chamado pela mídia, amigo de Burle Marx e de Harry Lorenzi, outros dois grandes expoentes do uso de recursos genéticos no paisagismo. Formou-se com 24 anos, em 1942, Eng. Agr. pela ESALQ/USP - então com 24 anos - em 1943. Iniciou seus trabalhos na Botânica – IAC; em 1945. Transfere-se para a CATI – Divisão de Fomento Agrícola, em 1951, retornando ao IAC, em 1962, quando assumiu a chefia da Seção de Floricultura, e em 1984 aposentou-se depois de 42 anos de produtivo trabalho de coletas, introduções e implantação de jardins arbóreos e arbustivos. Mas a aposentadoria não impediu que continuasse o seu trabalho e em 1971 fundou a PROAM – Sociedade Protetora do Meio Ambiente, e em 2005 se tornou o Sócio Fundador número 1 da Associação Amigos do Jardim Botânico IAC. Seu curriculum vitae é invejável, com inúmeras palestras, participações em eventos, contribuições em associações, grande número de trabalhos publicados, inclusive uma série no suplemento agrícola do jornal O Estado de São Paulo. Publicou, ainda, uma centena de boletins, livros e artigos técnicos/científicos. Suas obras mais famosas foram as construções de grandes jardins como os da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati/SAA – Campinas-SP), os Jardins da Sede do Instituto Agronômico de Campinas e, na mesma instituição, o Complexo Monjolinho do Instituto Agronômico de Campinas (Primeiro Jardim Botânico do IAC-SP), os Jardins do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron do (MCT- Campinas-SP), os Jardins da Prefeitura de Nova Odessa-SP, e os Jardins da Refinaria de Paulínia-SP (Replan). A arborização urbana brasileira deve muito ao Dr. Hermes, em especial Campinas e região, onde muitas ruas e parques e jardins foram ornamentados com plantas fornecidas de seu Banco de Germoplasma: “O Monjolinho”. Em 2007, este foi visitado pela Presidente da Sociedade de Botânica da Argentina, pesquisadora do Instituto de Botânica do Nordeste, Dra. Carmen Lelia Cristóbal a qual me confidenciou: - “Renato, esta é a coleção de arvores, arbustos e palmeiras mais espetacular que conheci até hoje e se voltar à Campinas um dia, com certeza é aqui que desejo voltar, pois vi plantas que jamais havia visto em minha vida! ”. 177


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VII – Homenagens Póstumas Paulo Yoshio Kageyama (1945 - 2016) Por Renato Ferraz de Arruda Veiga Eng. Agr. (1969), Me. (1977), Dr. (1980), pela Esalq/Usp e Pós Doc. pela North Carolina State University (1991). Foi Diretor de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente do Governo Federal (2003-2007), Prof. Titular da Esalq/Usp desde 1977, e Representante Titular do Ministério do Desenvolvimento Agrário na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio. Membro da FAO/Roma - para Conservação Genética (1988 - 2016). No Ipef, atuou na área de Recursos Genéticos e, atualmente, na área de Agricultura Familiar e Agrobiodiversidade.Dedicou-se à Genética de Espécies Arbóreas, na Conservação de Ecossistemas Tropicais, Restauração de Áreas Degradadas, Sementes Florestais, Variabilidade e Estrutura Genética, assim como em Agrobiodiversidade e Agricultura Familiar.

Descendente de imigrantes japoneses que se tornaram agricultores, na região do Pontal do Paranapanema, onde nasceu em 3 de dezembro de 1945, em Santo Anastácio (SP). Embora tardiamente, tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente no I Simpósio Nacional de Recursos Genéticos, realizado em Campinas (1995), quando compareceu acompanhado de inúmeros alunos seus, abrilhantando o nosso evento. Posteriormente nossos caminhos se cruzaram várias vezes no Brasil e exterior, em eventos diversos de recursos genéticos. Sempre que organizei eventos senti a necessidade de convidá-lo para ministrar palestras envolvendo recursos genéticos florestais e valoração de recursos genéticos, ao que sempre nos atendeu prontamente. Com sua partida em 17 de maio de 2016, em Piracicaba (SP), seus amigos se manifestaram consternados no Facebook enaltecendo a grande perda para a agricultura brasileira, como grande amigo, companheiro, e pesquisador reconhecido internacionalmente no campo da biodiversidade, genética e agroecologia, e acima de tudo por ser um exemplo de compromisso social e de integridade moral na condução da coisa pública. Lembraram também que a Universidade perdeu um grande ativista, docente, extensionista e pesquisador. Fica um vazio na área de recursos genéticos com a ausência deste grande especialista e formador de mentes científicas. Que seu espírito continue iluminando aqueles que prosseguem nesta atividade pelo Brasil. 178


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Por Renato Ferraz de Arruda Veiga Eng.Agr. pela ESALQ/USP (1958), Me em Experimental Statistics - North Carolina State University (1967) e Dr. em Genética e Melhoramento de Plantas pela ESALQ/USP (1960). Foi Prof. visitante na University of Minnesota (1974-1976), na North Carolina State University (1990-1991) e na Universidade Federal de Goiás (2000-2003). Obteve a livre docência (1970) e o de Prof. titular (1994) pela ESALQ/USP. Foi Chefe Geral do Centro Nacional de Milho e Sorgo da EMBRAPA (1979-1984). Comenda da Ordem do Mérito Científico, pelo Presidente da República (2002), Membro titular da Academia Brasileira de Ciências (2005) e Membro titular da Academia de Ciências do estado de São Paulo (2008). Prof. titular Sênior da ESALQ/USP. Pesquisou principalmente: milho, várias hortaliças, cana-de-açúcar, mamoneira, eucaliptos e diversas espécies arbóreas brasileiras. Sua experiência na área de Recursos Genéticos teve ênfase em Genética Quantitativa, Genética de Populações, Melhoramento Genético e Conservação.

Dentre as tristes coincidências para a agricultura nacional, além do Prof. Paulo, agora o Roland também nos deixa. Não tive o prazer de ser seu aluno, mas pude desfrutar de suas palestras, bem como de sua companhia em uma banca de Prof. Dr. realizada na ESALQ, senti muito orgulho sentado ao seu lado naquela oportunidade, em Piracicaba. O fato é que quando se falava em tamanho de populações para efetivar uma coleta ou conservar/preservar recursos genéticos seu nome era a primeira referência, agora, com certeza, não teremos mais este prazer a desfrutar na área de recursos genéticos, mas seu legado é tão fantástico que teremos por muito tempo o que consumir de sua cultura através de seus trabalhos científicos e livros. Obrigado Roland, que Deus o tenha e que continue iluminando os nossos especialistas que aqui permanecem. Gostaria de concluir com 3 frases pinçadas de algumas de muitas manifestações que vi no Facebook sobre este grande mestre: - Luciana Carlini Garcia ...“Eu adorava essas aulas e a forma como o prof. Vencovsky explicava tão claramente tudo para nós, tornando simples conceitos que muitas vezes eram difíceis e abstratos, especialmente para os alunos da graduação...” - Maria Eliza Zagatto Parterniani - ...”foi meu mestre de Quantitativa, colaborou com minha Tese, foi amigo da nossa família. Um cientista de uma inteligência brilhante e grande simplicidade. ”... – Mônica Veneziano Labate .... Triste demais! Tinha um carinho enorme por ele e uma grande admiração! O melhor professor que já tive!... FIM.

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VIII – Instituição Homenageada

INSTITUTO AGRONÔMICO DE CAMPINAS (IAC) Esta instituição de pesquisa agrícola, muito embora tenha sido fundada em 1887 pelo Imperador D. Pedro II (foto), com a denominação inicial de Imperial Estação Agronômica de Campinas, foi somente em 1892 que passou para o Governo do Estado de São Paulo, recebendo seu atual nome: Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Foi criado especificamente para efetivar pesquisas com café (Coffea spp.), mas, passou a trabalhar com recursos genéticos, em geral, principalmente no final da década de 1920, quando iniciou sua diversificação agrícola, montando bancos ativos de germoplasma (BAGs) com as principais culturas agrícolas mundiais, chegando a ter 21 Estações Experimentais, distribuidas estratégicamente nas regiões com aptidão agrícola e condições edafoclimaticas diferenciadas do estado de São Paulo, no século 20. Seus resultados na pesquisa agrícola foram muito relevantes para o Brasil notadamente até a década de 1970, quando as cultivares IAC dominavam os campos do país e o impulsionava como referência internacional, como pode ser visto nas figuras ilustres que o visitavam (Fotos: Rainha Elisabeth II da Inglaterra e o cosmonauta soviético Yuri Alekseievitch Gagarin – primeiro homem a viajar pelo espaço, entre tantos outros), quando a criação da Embrapa, aliada a falta de investimentos na instituição, acabou por sobrepujar a sua relevância nacional. Chegou a trabalhar com mais de 5.000 espécies botânicas, as quais estavam organizadas, na década de 2.010, em um sistema de bancos ativos de germoplasma (Abacate e 180


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manga, abacaxi, algodão, alho, amendoim, anonáceas e banana, goiaba, arroz, bambu, batata, cacau, café, cana-de-açúcar, caqui, cereais diversos, citros, palmeiras, árvores e arbustos, cucurbitáceas, feijão, fibrosas diversas, frutas diversas, frutíferas prunóideas, herbárceas ornamentais, leguminosas diversas, mamona, mandioca, maracujá, milho, milho-pipoca, nozes e castanhas, palmitos e pupunha, plantas aromáticas e medicinais, quiabo e morango, seringueira, soja, solanáceas, uva, e zingiberales) e coleções científicas (Coleções: de Insetos, de Rhizobium, Rhizobactérias, e Fungos Micorrízicos, Herbários de Plantas, e Micológico), compondo 43 curadorias. Um produto nobre do uso dos recursos genéticos pelo IAC logicamente concentra-se em suas cultivares elite, superando o incrível número de mil, em 2014, das seguintes culturas: Abacate, Abacaxi, Abóbora, Açucena, Alface, Algodão, Alho, Ameixa, Amendoim, Antúrio, Arroz, Aspargo, Aveia, Banana, Batata, Batata-doce, Bergamota, Brócolos, Cacau, Café, Cana-de-açúcar, Capim-colonião, Caqui, Cará, Cebola, Cenoura, Cevada, Chá, Citrandin, Citrumelo, Clementina, Couve, Couve-flor, Crotalária, Feijão, Fumo, Gergelim, Girassol, Gladíolo, Goiaba, Grão-de-bico, Juta, Lab-lab, Laranja, Lima-ácida, Lima-doce, Limão, Lírio, Maçã, Macadâmia, Mamona, Mandioca, Manga, Maracujá, Marmelo, Menta, Mexerica, Milho, Milho-pipoca, Moranga, Morango, Mucuna-preta, Nectarina, Nêspera, Pepino, Pêra, Pêssego, Pimenta, Pimentão, Pomelo, Quiabo, Repolho, Seringueira, Soja, Sorgo-vassoura, Tangelo, Tangerina, Tangor, Tomate,Tomate, Trifoliata, Trigo, Triticale, Ume, Videira. Deve-se enfatizar que o IAC (fotos sede e Fazenda Santa Elisa – Campinas - SP) ainda é hoje uma instituição extremamente importante para a agricultura do Estado de São Paulo, e do país, concretizando projetos integrados com outros Institutos, Universidades e Empresas nacionais e internacionais, continuando a conservar ex situ e preservar in situ relevantes recursos genéticos.

Nosso muito obrigado ao famoso IAC, por tudo que representou e representa para a agricultura nacional, em especial para a área de Recursos Genéticos.

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IX – Apoio

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X - Como preparar o seu artigo para nossa revista

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Fale conosco

Revista RG News Renato Ferraz de Arruda Veiga – Editor Chefe E-mail: renatofav53@gmail.com

Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos - SBRG E-mail: sbrg@recursosgeneticos.org Acesse nosso site: www.recursosgeneticos.org

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