Revista RG News Vol 4 n°1 2018

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Revista

RG NEWS V.4

N.1

2018

Sociedade Brasileira de Recursos GenĂŠticos


Revista RG News 2 (1) 2016 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos Revista RG News V4 (1) 2018 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

Revista RG News Publicação eletrônica oficial da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos COMISSÃO EDITORIAL DA REVISTA Editor Chefe Renato Ferraz de Arruda Veiga Editor Chefe-substituto Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira Editor Técnico Científico - Área Animal Afrânio Gonçalves Gazolla Editor Técnico Científico - Área Micro-organismos Maíra Halfen Teixeira Liberal Editor Técnico Científico - Área Vegetal Manoel Abílio de Queiróz

DIRETORIA DA SBRG Presidente - Alexandre Floriani Ramos Vice-Presidente - Rosa Lia Barbieri Diretor Financeiro - Marcos Aparecido Gimenes Vice-Diretor Financeiro- Juliano Gomes Pádua Secretário Executivo - José dos Santos Neto Diretor Técnico e de Divulgação - Renato Ferraz de Arruda Veiga Vice-Diretor Técnico e de Divulgação - Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira Diretor de Curadorias e Redes Regionais - Manoel Abílio de Queiróz Vice-Diretor de Curadorias e Redes Regionais - Semíramis Rabelo Ramalho Ramos Diretora de Eventos - Ana Cecília Ribeiro de Castro Vice-Diretora de Eventos - Fernanda Vidigal Duarte Souza


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Revista Recursos Genéticos News - RG News Brasília, DF V.4 (1) 99 p., 2018 ISSN 2526-8074 Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos Foto Capa: Rosa Lia Barbieri A eventual citação de produtos e marcas comerciais, não expressa, necessariamente, recomendações de seu uso pela SBRG. É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte. “É importante ler os textos bíblicos no seu contexto, com uma justa hermenêutica, e lembrar que nos convidam a «cultivar e guardar» o jardim do mundo (cf. Gn 2, 15). Enquanto «cultivar» quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, «guardar» significa proteger, cuidar, preservar, velar. Isto implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza. Cada comunidade pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de a proteger e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras”. São Francisco de Assis, 1915, Carta Encíclica Laudato SI

Editada pela SBRG


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Revista RG News v.4, no. 1., 2018 APRESENTAÇÃO A RG News é uma revista oficial da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos (SBRG), a qual iniciou o seu primeiro número no segundo semestre de 2015, encontrando-se no seu sétimo número, o primeiro de 2018. É uma revista virtual que objetiva divulgar textos, eventos, artes, etc., visando além da ciência e tecnologia, também à preservação da memória dos recursos genéticos. Abrange desde artigos científicos de pesquisa até textos técnicos de extensão, incluindo-se opiniões, entrevistas, contos, homenagens, etc., quer sejam nas áreas animal, micro-organismo ou vegetal. Seu público original é o dos associados da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos, mas também publica textos de colegas de outras Sociedades Científicas afins, do país e exterior. A língua oficial é o português, mas também são aceitos textos em inglês e em espanhol. Tem a pretensão de alcançar os interessados e, principalmente, os especialistas que trabalham tanto in situ como ex situ, nas Redes e/ou Curadorias, de Bancos Ativos de Germoplasma e de Coleções Científicas (Herbários, Museus, etc.). Lembramos que os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo dos seus textos, não sendo necessariamente a mesma visão ou opinião da Revista e nem da SBRG, inclusive no caso de reprodução de textos de outros autores, sem a devida citação de autoria. Os revisores convidados efetivam correções e sugestões apenas com o intuito de uniformização e aprimoramento técnico-científico, que podem ou não ser aceitas pelos autores. Queremos que você mostre o seu trabalho, aguardamos a sua colaboração, participe enviando o seu texto para o e-mail: revistargnews@recursosgeneticos.org. Aproveitem nossa revista para se instruir e se atualizar com os textos científicos e técnicos, abraços a todos e boa leitura!

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CONTEÚDO I – A Palavra do Presidente ...................................................................................... 5 II - Artigos de divulgação científica ........................................................................ 7 1. Os recursos genéticos de pimentas e o empoderamento dos agricultores de Turuçu ................7 2. Genômica Populacional: técnicas, aplicações e desafios ............................................... 14 3. Hortaliças no Instituto Agronômico de Campinas (IAC): passado, presente e desafios futuros. Parte 1. ................................................................................................................ 25 4. Hortaliças no Instituto Agronômico de Campinas (IAC): passado, presente e desafios futuros: Parte 2. ................................................................................................................ 36 5. Construindo Redes: um breve relato sobre o Grupo Interdisciplinar de Estudos em Agrobiodiversidade ................................................................................................. 48

III - Expresse a sua opinião ..................................................................................... 55 1. Porque devemos repensar a documentação e informatização do “Sistema de Intercâmbio de Germoplasma Vegetal” no Brasil? .............................................................................. 55 2. Publicação de resultados na área de recursos genéticos vegetais na visão da Revista Caatinga 59

IV – Entrevistados da vez ......................................................................................... 64 Entrevista - Área vegetal .......................................................................................... 64 Kyria Bortoleti .......................................................................................................................................... 64

Entrevista - Área Micro-organismo ............................................................................ 72 Dalia dos Prazeres Rodrigues .................................................................................................................... 72

Entrevista - Área Animal ......................................................................................... 81 Edison Martins.......................................................................................................................................... 81

V - Eventos .................................................................................................................. 88 Acontecerá ........................................................................................................... 88 I Workshop de Recursos Genéticos do Mato Grosso ................................................................................. 88 V Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos – 2018 ............................................................................... 89 Third Jack R. Harlan International Symposium Dedicated to the Origins of Agriculture and the Domestication, Evolution, and Utilization of Genetic Resources – 2018. ................................................... 90

VI - Memória dos Recursos Genéticos..................................................................... 91 Memória Nacional .................................................................................................. 91 Dalmo Catauli Giacometti (1922 -1992) .................................................................................................... 91

Memória Internacional ............................................................................................ 93 Otto Herzbert Frankel (1900 – 1998) .......................................................................................................... 93

VII – Instituição Homenageada .............................................................................. 95 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro .......................................................................... 95

VIII - Homenagem Póstuma ..................................................................................... 97 Alberto Alves Santiago (1917-2018) ........................................................................................................... 97

IX – Apoio ................................................................................................................... 98 X – Normas da Revista ............................................................................................. 99

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I – A Palavra do Presidente Alexandre Floriani Ramos - Presidente da SBRG Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Santa Maria (2000), especialização em Produção Animal (2002) pela Universidade do Estado de Santa Catarina, mestrado em Medicina Veterinária (2004) e doutorado em Ciência Animal pela Universidade Federal de Minas Gerais (2006). Atualmente é pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia onde é curador do Banco Brasileiro de Germoplasma Animal. Tem experiência na área de Medicina Veterinária, com ênfase em Biotecnologia da Reprodução voltada a Conservação de Recursos Genéticos Animais, atuando principalmente nos seguintes temas: conservação de recursos genéticos, caracterização produtiva e reprodutiva de raças localmente adaptadas, transferência de embriões, dinâmica folicular e congelamento de sêmen.

Prezados sócios e amigos da SBRG, Este é um ano muito especial para nossa sociedade que está completando 10 anos de existência! Durante esses anos a SBRG tem trabalhado para divulgar a importância do tema recursos genéticos, assim como, pelo reconhecimento dos profissionais que trabalham nessa área. Essa é uma jornada árdua e os desafios são grandes. Manter uma sociedade ativa requer a formação de uma estrutura de associados empenhada em realizar ações que propiciem o alcance de objetivos comuns. Pensando assim, a SBRG tem procurado consolidar as redes regionais de recursos genéticos. A região Nordeste é um bom exemplo dessa parceria. Em 2017, a Rede de Recursos Genéticos Vegetais do Nordeste (RGVN) realizou a terceira edição de seu Simpósio, que pelo segundo ano consecutivo contou com o apoio da SBRG, culminando com a publicação dos anais do evento em nossa revista RG News (Vol. 3 N°2 2017). É importante dar continuidade ao fortalecimento e ampliação das Redes Regionais já existentes, Nordeste e Sul, assim como apoiar a formação de novas Redes Regionais como, por exemplo, a Sudeste e Centro-Oeste, que já começam a dar seus primeiros passos. Outro desafio destes 10 anos tem sido manter a realização do Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos (CBRG). Esse evento, realizado a cada dois anos, já se tornou um marco no calendário científico nacional. Sua realização exige além de muito esforço, doses de coragem e persistência, mas sabemos que só dessa maneira conseguimos dar uma maior visibilidade ao tema recursos genéticos e contribuir para formação de novos profissionais. Realizaremos, nesse ano, a quinta edição do CBRG que acontecerá de 06 a 09 de novembro na cidade de Fortaleza/CE. Aproveito desse espaço para convidá-los a participar e a enviar seus trabalhos. Acessem o site do evento para obter maiores informações: www.cbrg2018.com.br Temos ainda um longo caminho pela frente e sabemos que nem sempre ele se apresentará de uma forma tranquila. Temos consciência da dificuldade que é fazer ciência em nosso país e 5


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nosso desejo Ê que por mais que esse caminho seja longo e tortuoso tenhamos força e acima de tudo vontade de mudar! Juntos podemos realizar muito mais! Nos encontramos em Fortaleza!

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II - Artigos de divulgação científica 1. Os recursos genéticos de pimentas e o empoderamento dos agricultores de Turuçu Juliana Castelo Branco Villela Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Católica de Pelotas (2001), Me. e Dr. em Agronomia, pela Universidade Federal de Pelotas (2005/2008). Pós-Doc/CNPq em Conservação dos Recursos Genéticos Vegetais (2014). Atualmente na Embrapa Clima Temperado.

Rosa Lia Barbieri Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade de Caxias do Sul (1992), Me. e Dr. pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1995/1999), com doutorado-sanduíche na Cornell University (Ithaca, NY, USA). Atualmente é pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS). É Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos e Presidente da Rede de Recursos Genéticos da Região Sul do Brasil.

Henrique Kuhn Massot Padilha Eng.Agr. pela Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (2012), Me. e Dr. Pela Universidade Federal de Pelotas (2014/2017) pela Universidade Federal de Pelotas. Desenvolveu mestrado e doutorado junto à Embrapa Clima Temperado, atuando na área de Recursos Genéticos Vegetais e Melhoramento Genético Vegetal.

Raquel Silviana Neitzke Graduada em Agronomia, Me. e Dr. em Melhoramento Vegetal pela Universidade Federal de Pelotas. Durante o doutorado fez estágio na Alemanha, na Universidade Hochschule Weihenstephan-Triesdorf (Freising), com auxílio do DAAD. Desenvolveu o trabalho de doutorado na Embrapa Clima Temperado com recursos genéticos de pimentas do gênero Capsicum. Trabalha na Prefeitura Municipal do Arroio do Padre.

Gustavo Crizel Gomes Graduado em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (2006), Me. e Dr. em Agronomia, (PPG Sistemas de Produção Agrícola Familiar - UFPel). Criador e coordenador do projeto Flora pelotensis, onde desenvolve pesquisas voluntárias com fauna e flora nos Biomas Pampa e Mata Atlântica.

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Introdução As pimentas do gênero Capsicum (família Solanaceae) são originárias das Américas (Figura 1), e se tornaram conhecidas mundialmente no século XVI, após as expedições de Cristóvão Colombo. Hoje, são cultivadas em todos os continentes e consumidas in natura ou como condimento, agregando sabor, aroma e cor na culinária (BOSLAND & VOTAVA, 2012). Além disso, representam um importante nicho de mercado para as indústrias alimentícia, bélica, cosmética e farmacêutica.

Figura 1. Diversidade genética em pimentas do gênero Capsicum. Foto: Rosa Lia Barbieri

O gênero Capsicum L. é representado por mais de 30 espécies, classificadas em domesticadas, semidomesticadas e silvestres (POZZOBON et al., 2006; MOSCONE et al., 2007; BARBOZA et al., 2011). São cinco as espécies domesticadas: Capsicum annuum L., C. baccatum L., C. chinense Jacq., C. frutescens L. e C. pubescens Ruiz & Pav. (Figura 2).

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Figura 2. A) Capsicum pubescens, B) C. annuum, C) C. baccatum, D) C. chinense, E) C. frutescens. Fotos: Juliana Castelo Branco Villela

No Brasil, muitos agricultores cultivam variedades crioulas de Capsicum, que são resultado de vários ciclos de seleção realizada por eles mesmos. No entanto, ao longo do tempo, essas variedades crioulas sofrem com a erosão genética, ocasionada pela substituição de cultivos ou pelo abandono da atividade agrícola. Como o Brasil faz parte do centro de diversidade de Capsicum, o desenvolvimento de ações voltadas para a conservação e utilização desse germoplasma é estratégico. Para conservar e caracterizar as variedades crioulas de pimentas, a Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) mantém, desde 2002, um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Capsicum (PADILHA, et al., 2016). Os BAGs têm por finalidade reunir e conservar a variabilidade genética de uma espécie ou grupo de espécies, visando evitar a perda de genes ou de combinações gênicas (erosão genética), para assegurar ampla base genética ao seu uso. As atividades realizadas no BAG de Capsicum, da Embrapa Clima Temperado, são: resgate de germoplasma, documentação, multiplicação de sementes, caracterização e avaliação agronômica (Figura 3). O acervo deste banco conta com 427 acessos (a grande maioria de variedades crioulas) das espécies C. annuum, C. baccatum, C. chinense, C. frutescens e C. pubescens. Há uma ampla diversidade genética presente neste banco de germoplasma, com acessos apresentando potencial de uso muito diversificado, incluindo pimentas ornamentais, para consumo in natura e para processamento (VILLELA, et al., 2014; NEITZKE, et al., 2015; ARANHA, et al., 2016; PADILHA, et al., 2016; ACUNHA, et al., 2017). 9


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Figura 3. Caracterização morfológica de acessos de pimentas do Banco Ativo de Germoplasma de Capsicum da Embrapa Clima Temperado. Foto: Juliana Castelo Branco Villela.

A produção de pimentas do gênero Capsicum ocorre em quase todos os estados brasileiros. Os principais produtores são: Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Ceará e Rio Grande do Sul (ONOYAMA et al., 2011). No país, o mercado de pimentas é muito segmentado e diverso, em razão do grande espectro de usos e formas de consumo (HENZ & RIBEIRO, 2008). A exploração de novos tipos de pimentas e o desenvolvimento de produtos com grande valor agregado, a exemplo pimentas ornamentais, conservas, geleias, chocolates com pimenta e outras formas processadas, resulta em modificações nesse mercado (RUFINO & PENTEADO, 2006). O cultivo de pimentas se ajusta perfeitamente aos modelos de agricultura familiar e de integração entre a agricultura familiar e a agroindústria. As pimentas, além de consumidas frescas, podem ser processadas e utilizadas em diversas linhas de produtos na indústria de alimentos. Sua importância socioeconômica é muito grande, por contribuir com a fixação de produtores rurais e seus familiares no campo; a contratação sazonal de mão-de-obra durante o período de colheita e o estabelecimento de novas indústrias processadoras e, consequentemente, favorecendo a geração de novos empregos. As pimentas, em sua maioria, são cultivadas em pequenas unidades familiares, em áreas que variam de 0,5 hectares a 10 hectares, com baixo uso de insumos. O custo de produção, assim como a rentabilidade obtida da comercialização dos frutos, varia principalmente em função do tipo de pimenta, da produtividade e do período de colheita (REIFSCHNEIDER & RIBEIRO, 2008).

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No Rio Grande do Sul, o principal município produtor de pimentas é Turuçu, reconhecido como “Capital da Pimenta Vermelha”. Esse título estava relacionado à produção de pimenta dedo-de-moça (C. baccatum), uma das pimentas mais consumidas no Brasil, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. É muito utilizada para o preparo de molhos e desidratada na forma de flocos com sementes, também chamada de pimenta calabresa. Os agricultores familiares do município de Turuçu cultivam variedades crioulas de pimentas dedo-de-moça há mais de 70 anos. Porém, no início do século 21, a ocorrência de antracnose, somada a problemas de comercialização, levou à substituição desse cultivo por outros, principalmente pelo tabaco. Alguns produtores buscaram variedades de pimentas tolerantes à doença e novas opções de agregação de valor. A partir de 2004, embora a área de cultivo com pimenta tenha diminuído drasticamente, ocorreu um aumento significativo da diversidade genética de espécies e variedades botânicas em cultivo. Com a vontade de permanecer no mercado de pimentas, e contando com o apoio de instituições como: Embrapa, Emater, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia Sul-Rio-Grandense e, Universidade Federal de Pelotas, os agricultores que antes cultivam apenas uma espécie (C. baccatum), passaram a cultivar diferentes variedades botânicas de outras três espécies de pimentas (C. frutescens, C. annuum e C. chinense), com frutos de diferentes tamanhos, formatos, cores e pungências. O aumento da diversidade genética resultou em uma profunda alteração da matriz produtiva. Num primeiro momento a produção era realizada nas cozinhas dos produtores, porém quando perceberam que o processamento de pimentas poderia se tornar uma forma de manter o cultivo e de agregar valor, os agricultores, especialmente as mulheres, se profissionalizaram e buscaram implantar agroindústrias para processar seus produtos com maior qualidade e em maior volume (Figura 4). Hoje o município conta com seis agroindústrias familiares. Os agricultores desenvolveram mais de 100 produtos diferentes a partir dessa diversidade, incluindo vários tipos de conservas, doces, geléias e molhos.

Figura 4. Agroindústria familiar e cultivo de pimentas no município de Turuçu (RS). Fotos: Juliana Castelo Branco Villela e Gustavo Crizel Gomes.

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Grande parte dos produtos processados à base de pimentas é comercializada na Casa da Pimenta, que é mantida pela Cooperativa Cooperturuçu. Este estabelecimento está localizado à margem da BR 116, em Turuçu. Neste local os agricultores cooperados comercializam pimentas in natura, pimentas desidratadas e produtos das agroindústrias (Figura 5). Por estar à margem de uma rodovia federal, que apresenta grande fluxo de veículos, a Casa da Pimenta é uma ótima oportunidade de venda e divulgação dos produtos à base de pimenta. Os compradores são oriundos de diversas regiões do país, e também dos países vizinhos (Argentina e Uruguai). Parte dos produtos confeccionadas com pimentas são comercializados em cidades próximas a Turuçu, e também em outras regiões do Rio Grande do Sul e do país. Conclusões As atividades desenvolvidas por meio de projetos com o Banco Ativo de Germoplasma de Capsicum e a parceria entre diversas instituições de ensino, extensão rural, e pesquisa, contribuem para que os agricultores familiares diversifiquem sua produção e inovem no processamento das pimentas, e em decorrência disto permaneçam no campo. Referências ACUNHA, T. S.; CRIZEL, R.; TAVARES, I. B.; BARBIERI, R. L.; PEREIRA, C. M. P.; ROMBALDI, C. V.; CHAVES, F. C. 2017. Bioactive Compound Variability in a Brazilian Pepper Collection. Crop Science, v. 57, p. 1-13. ARANHA, B. C.; HOFFMANN, J. F.; BARBIERI, R. L.; ROMBALDI, C. V.; CHAVES, F. C. 2017. Untargeted Metabolomic Analysis of Capsicum spp. by GC-MS. PHYTOCHEMICAL ANALYSIS, v. 28, p. 10.1002/pca. 269, BARBOZA G E; AGRA M F; ROMERO M V; SCALDAFERRO M A; MOSCONE E A. 2011. New Endemic Species of Capsicum (Solanaceae) from the Brazilian Caatinga: Comparison with the Re-Circumscribed C. parvifolium. Systematic Botany, 36(3):768-781 BOSLAND, P. W.; VOTAVA, E. J. Peppers: Vegetable and spice Capsicum. CABI. Publishing, 2012. HENZ, G.P.; RIBEIRO, C.S.C. Mercado e comercialização. In: RIBEIRO, C.S.C.; CARVALHO, S.I.C.; HENZ, G.P.; REIFSCHNEIDER, F.J.B. Pimentas Capsicum. Brasília: Embrapa Hortaliças, 2008. p. 15-24. MOSCONE EA; SCALDAFERRO MA; GRABIELE M; CECCHINI NM; GARCÍA YS; JARRET R; DAVIÑA JR; DUCASSE DA; BARBOZA GE; EHRENDORFER F. 2007. The evolution of chili peppers (Capsicum – Solanaceae): a cytogenetic perspective. Acta Horticulturae 745: 137-169. NEITZKE, R.S.; VASCONCELOS, C.S.; BARBIERI, R. L.; VIZZOTTO, M.; FETTER, M. R.; CORBELINI, D. D. 2015 Variabilidade genética para compostos antioxidantes em variedades crioulas de pimentas (Capsicum baccatum). Horticultura Brasileira, v. 33, p. 415-421. ONOYAMA, S.S.; DOS ANJOS, U.G.; REIFSCHNEIDER, F.J.B. DE MELO, W.F.; VALE, L.S.R.; RIBEIRO, R.G.; OLIVEIRA, E.J.S. Coletando, conservando e utilizando a biodiversidade de pimentas em Goiás: agregando conhecimento e valor do bioma à agroindústria. Ateliê Geográfico, Goiânia, v. 5, p. 107-123, 2011. PADILHA, H.M.K., SOSINSKI, E.E., BARBIERI, R.L. 2016 Morphological diversity and entropy of peppers (Capsicum baccatum end Capsicum chinense, Solanaceae) International Journal of Current Research, Vol.8, p. 42758-42766. PADILHA, H.K. M.; VASCONCELOS, C. S.; VILLELA, J. C. B.; VALGAS, R. A.; BARBIERI, R. L. 2016. Agronomic evaluation and morphological characterization of chili peppers (Capsicum annuum, Solanaceae) from Brazil. Australian Journal of Basic and Applied Sciences, v. 10, p. 63-70.

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POZZOBON MT; SCHIFINO-WITTMAN MT; BIANCHETTI LB. 2006. Chromosome numbers in wild semidomesticated Brazilian Capsicum L. (Solanaceae) species: do x= 12 and x=13 represent two evolutionary lines? Botanical Journal of the Linnean Society. 151: 259-269. REIFSCHNEIDER, F.J.B.; RIBEIRO, C.S.C. Cultivo. In: RIBEIRO, C.S.C.; CARVALHO, S.I.C.; HENZ, G.P.; REIFSCHNEIDER, F.J.B. Pimentas Capsicum. Brasília: Embrapa Hortaliças, 2008. p. 11-14. RUFINO, J.L.S.; PENTEADO, D.C.S. Importância econômica, perspectivas e potencialidades do mercado para pimenta. Informe agropecuário EPAMIG, Belo Horizonte, v. 27, n. 235, p. 7-15, 2006. VILLELA, J. C. B.; BARBIERI, R. L.; CASTRO, C. M.; NEITZKE, R. S.; VASCONCELOS, C. S.; CARBONARI, T.; MISTURA, C. C.; PRIORI, D. 2014 Caracterização molecular de pimentas crioulas (Capsicum baccatum) com marcadores microssatélites. Horticultura Brasileira, v. 32, p. 131-137.

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2. Genômica Populacional: técnicas, aplicações e desafios

Marines Marli Gniech Karasawa Eng. Agr. pela Universidade Federal de Pelotas – RS (UFPel, 1993), Me. na Universidade Federal de Lavras – MG (UFLA, 2001), PhD. pela Universidade de São Paulo (ESALQ, 2005), Pós-Doutorado na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - BA (UESB), na Universidade Estadual de Feira de Santana - BA (UEFS) e na Universidade de Palermo – Itália (UNIPA, 2014). Atuou como Professora Convidada na UESB (2007), ministrando biologia geral para graduação e, como Professora Adjunta na Universidade Federal de Alfenas – MG (UNIFAL, 2009-2012), com as disciplinas: genética clássica, genética humana, genética de populações, biologia molecular, e engenharia genética.

Introdução A genômica populacional hoje é tema recorrente em recursos genéticos, se referindo ao estudo de variações das frequências gênicas ou genotípicas que ocorrem em populações em consequência de processos evolutivos como seleção natural, mutação, deriva genética e fluxo gênico, levando em consideração os fatores, tais como: recombinação, estrutura e subdivisão populacional que podem ou não estar associados a fenômenos adaptativos ou de especiação. Ao longo dos anos os geneticistas de populações vinham estudando os padrões de variação na estrutura genética (causadas por seleção, mutação, migração, fluxo gênico e distribuição espacial dentro e entre populações) com base em estudos de um número limitado de marcadores anônimos de genes ou locos gênicos (BRAGG et al., 2015). Carente de ferramentas genômicas, a genética de populações se concentrava na análise de amostras de genes, relativamente pequenas, obtidas de populações naturais. No entanto, a partir dos anos 90’s, ferramentas de análise genômica passaram a ser aplicadas para estudos de polimorfismo genético em seres humanos e, em consequência, o termo “genômica de populações” começou a ser usado para descrever a análise de polimorfismos observados em larga-escala (ELLEGREN, 2014). Desde então, cada vez mais, passou-se a utilizar o termo genômica de populações para designar os estudos de genética de populações que avaliam polimorfismos de DNA em escala genômica. Do que se trata? O termo “genômica populacional” se refere ao estudo abrangente de todos os genes do genoma de um organismo (HARTL & CLARK, 2010). Em seu sentido mais amplo, esta é uma área de estudo que combina os objetivos da genética de populações naturais com a amostragem genômica ampla (GWAS – genome wide association), para compreender a adaptação específica, a evolução, e conhecer a força evolutiva que está afetando a população (GONZÁLEZMARTÍNEZ et al., 2006). Como citado anteriormente, somente recentemente as abordagens da genômica de populações incluíram o sequenciamento de DNA em larga-escala, ensaios sobre abundância de 14


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transcritos e estudos funcionais por meio de eliminação ou inibição sistemática da atividade de cada gene. Ainda, métodos computacionais foram adotados para manejo, comparação e interpretação, com o objetivo de estudar as frequências alélicas, identificar genes polimórficos e definir a sua posição no genoma, verificar a presença de desequilíbrio de ligação gênica, estabelecer a estrutura e a distribuição da diversidade genética, realizar inferências sobre a história demográfica de uma população e definir qual das forças evolutivas (mutação, migração, seleção e deriva genética) está atuando sobre os indivíduos da população em estudo (HARTL & CLARK, 2010). Estudos genômicos de populações também tem permitido acessar questões relativas a conservação das espécies, tais como: efeitos da mudança de habitat sobre a adaptação local, sobre a estrutura e a diversidade genética (ALLENDORF et al., 2010). Além disto, os estudos espaciais e temporais estão ajudando a entender os efeitos da fragmentação de habitat e das atividades humanas sobre a estrutura e a diversidade genética das populações naturais. Estas informações ajudam estabelecer planos de manejo em habitats perturbados e heterogêneos (VEGA et al., 2016), responder questões sobre a relação filogenética entre táxons não resolvidos e determinar os locos gênicos responsáveis pela especiação, adaptação local, interação entre as espécies e a depressão por endogamia (FUENTES-PARDO & RUZANTE, 2017). Em tempos de mudança climática crescente, torna-se muito relevante o estudo da genômica populacional. Compreender a base genética da adaptação e da divergência entre populações é um dos principais objetivos da genética de populações e serve de caminho para entender a evolução (KRUTOVSKY, 2006). Mudanças extremas em variáveis ambientais (tais como: temperatura, humidade, luminosidade) geralmente tem efeito sobre o genoma das espécies que podem ajustar a distribuição da variabilidade genética, caso exista variação ao nível de genoma, ou podem gerar novas variações por meio de mutações que produzam adaptação ou, ainda, serem extintas por não serem capazes de se adaptar. De acordo com Bragg et al. (2015) o estudo da distribuição da variação genômica ao longo de paisagens pode indicar interações complexas entre genes e ambiente, os quais podem determinar e/ou influenciar a distribuição da espécie, podendo ainda indicar a associação/adaptação de determinados fenótipos a condições locais. Deste modo, determinar a direção da evolução e o status adaptativo das espécies pode ajudar a entender melhor como os mecanismos evolutivos afetam genes e causam adaptação (YANG et al., 2017). O desenvolvimento do sequenciamento de última geração (Next Generation Sequence - NGS) utilizando plataformas Illumina (HiSeq ou MiSeq), Roche (454) e Life technologies (Ion Proton, Torrent ou SOLiD) e o desenvolvimento de ferramentas mais robustas na bioinformática, que são capazes de avaliar grande quantidade de polimorfismos de DNA, tem permitido acessar uma vasta gama de questões genéticas e evolutivas em organismos não-modelo, que é o caso das populações nativas, contudo a quantidade de DNA repetido segundo Ellegren (2014) ainda constitui um obstáculo para acessar todo o genoma e afeta a continuidade do sequenciamento. Técnicas de estudo de genomas 15


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Com o advento do sequenciamento de última geração (NGS) foram desenvolvidas técnicas de genotipagem reduzida do genoma em larga escala através da análise de polimorfismos de nucleotídeos isolados (Single Nucleotide Polymorphisms – SNPs). Dentre as técnicas que diminuem a complexidade são descritos os GBS (Genotyping by Sequencing), RAD e ddRAD (Restriction Site Analysis) e a RNAseq (Transcriptômica) que consiste no sequenciamento de cDNA a partir do mRNA. Utilizando estas técnicas, é possível realizar a análise de polimorfismo de genoma completo baseado em grande quantidade de amostras obtidas de populações não-modelo, embora este tipo de estudo possa ser um pouco complicado pela inexistência de um genoma de referência e pelo elevado custo gerado na análise de múltiplos indivíduos (FUENTES-PARDO & RUZANTE, 2017). RAD, ddRAD A técnica RAD (Restriction-Site Associated DNA-Sequencing) proposta por Baird et al. (2008) envolve o uso de enzimas de restrição para fragmentar o DNA, o que promove considerável redução nos custos de genotipagem, se tornou bastante popular por poder ser aplicada a qualquer espécie sem a necessidade de caracterização prévia dos SNPs (Single Nucleotide Polymorphisms). Esta metodologia tem sido utilizada para realizar estudos de estrutura genética, hibridização entre espécies, história demográfica, migração e filogeografia, bem como para detectar locos envolvidos na adaptação e divergência de populações naturais. Modificações na técnica de RAD tem sido feitas para melhorar a eficiência no sequenciamento utilizando uma enzima de corte frequente e uma enzima de corte raro e corte com enzima seguido de sonicação (para inserção de adaptador randômico). Mas, de acordo com Sheben et al. (2017) para o sequenciamento de múltiplas amostras em uma única lane (linha de sequenciamento) adaptadores com código de barras devem ser ligados às extremidades digeridas. E, a biblioteca gerada deve passar por um screening para seleção de fragmentos de tamanho adequado para o sistema de sequenciamento adotado, os quais devem ser amplificados com ambos os adaptadores. Entretanto, para Lowry et al. (2017) embora a técnica RAD seja eficiente e tenha custo baixo, em função dos problemas detectados, ao realizar estudos adaptativos antes de utilizar o sequenciamento baseado na técnica RAD deveriam ser considerados outros métodos, pelo baixo polimorfismo apresentado e pela dificuldade em capturar variações existentes em regiões gênicas envolvidas na adaptação. Um exemplo seria utilizar RNAseq (transcriptômica) ou exoma quando o DNA de referência não estiver disponível. GBS Genotyping by Sequencing é uma variação da técnica RADseq que foi simplificada por Elshire at al. (2011) e se baseia no uso de enzimas de restrição que são sensíveis a metilação, tais como a ApeKI. Estas, são capazes de eliminar regiões repetitivas do genoma o que simplifica muito os problemas computacionais durante o alinhamento em espécies com elevado nível de diversidade genética. Nesta metodologia o DNA dos indivíduos em estudo deve ser cortado com a enzima 16


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ApeKI (Figura 1) que é sensível a regiões metiladas ou qualquer outra enzima que deixa saliências (extremidades coesivas) usadas para ancoragem de barcodes e ligação de adaptadores de 4 a 8 pares de base (pb). Após amplificar o DNA, procede-se a purificação dos fragmentos, verificação de tamanho dos fragmentos, sendo ideal 170 a 350 pares de base (pb), e o sequenciamento. Estudos posteriores, otimizaram a técnica de GBS para genomas altamente repetitivos para espécies sem genoma de referência utilizando um sistema com duas enzimas (PstI/MspI) permitindo à amplificação das sequências forward e reverse. Neste sistema, dois grupos de adaptadores são construídos, um possuindo barcodes e sequências complementares ao primer forward e outro complementar ao primer de sequenciamento reverse (POLAND et al., 2012). Estudos posteriores realizados por Sonah et al. (2013) avaliaram a eficiência das enzimas ApeKI, PstI e MspI verificaram que a enzima ApeKI gerou a maioria dos fragmentos no tamanho desejado, enquanto MspI gerou inúmeros fragmentos muito pequenos que devem dificultar o bom performance durante o sequenciamento na plataforma Illumina, e a enzima PstI, ainda que associada a MspI (estratégia de duas enzimas), foi capaz de acessar poucas regiões genômicas de interesse. Outras adaptações na técnica RAD-GBS têm permitido o sequenciamento pelo sistema Ion torrente em espécies com pouco DNA (LEBORDOUS et al., 2014). CH3

DNA depois do corte

CH3

5’

3’

3’

5’ Adaptador do barcode

Barcode

Inserto de DNA

Adaptador comum

5’- CACTTCTCAGAGGTCxxxCWGCNNN...NNNGCWGTACACTTGCTA - 3’ 3’- GTGAAGAGTCTCCAGyyyGWCGNNN...NNNCGWCATGTGAACGAT - 5’ Sobreposição ApeKI

Primer de sequenciamento

3’-CTTCTCAGAGGTCxxxCWGCNNN 5’-GAAGAGTCTCCAG

NNNGCWGTACACTTGCTA - 3’ ATGTGAACGAT - 5’ Figura 1: Etapas no preparo do DNA pela técnica de GBS utilizando a enzima ApeKI (ELSHIRE at al. 2011).

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O uso desta técnica tem reduzido drasticamente o custo e o tempo de preparo das bibliotecas. Além disto, o uso de barcodes tem permitido que amostras individuais fossem agrupadas para o conjunto comum de primers permitindo amplificar as bibliotecas por PCR, realizar estudos de espécies não-modelo e, ainda, facilitando a identificação das amostras tornando mais precisa a associação entre genótipo e o fenótipo (BATHIA et al., 2013). Assim, a técnica de GBS vem desempenhando papel importante na transição da área de genética de populações para genômica de populações que, associada com caracteres fenotípicos, permite o mapeamento e a rápida identificação de genes para a introgressão no germoplasma de plantas cultivadas (SCHEBEN et al., 2017). Transcriptômica e proteômica A análise de transcriptoma lida com questões que envolvem partes transcritas do genoma e o nível de atividade dos genes transcritos. No passado, estas questões eram avaliadas com os microarranjos (que se baseia na hibridação de sondas de DNA com amostras de RNA). A utilização da abordagem NGS nos estudos de RNA-seq (transcriptômica) não depende da anotação do genoma, pois o sequenciamento do RNA mensageiro (mRNA - genes transcritos) da população permite saber qual parte do genoma está sendo transcrita (WANG, 2016). Para estudos de RNAseq trabalhos clássicos envolvem a extração do RNA total e a separação mRNA por purificação utilizando kits de purificação ou colunas contendo esferas de oligonucleotídeos de timina (T) que separam o mRNA (Figura 2). Em seguida, procede-se a síntese do cDNA por transcriptase reversa. O cDNA obtido passa pela etapa de fragmentação, reparo das extremidades, adição de adaptadores únicos e amplificação por PCR para a formação das bibliotecas que, posteriormente, serão sequenciadas.

Figura 2. Esquema das etapas envolvidas no RNAseq (esquema baseado em Kumar et al., 2012)

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A qualidade superior e a rápida obtenção dos resultados tornaram viável a execução de projetos pequenos e análise da expressão gênica em larga escala, apesar da dificuldade e do custo um pouco elevado na construção das bibliotecas (KUMAR et al., 2012). Uma vantagem do RNA-seq é a capacidade de coletar expressão gênica e polimorfismo gênico (SNP) de um único conjunto de dados. Pela comparação dos resultados do controle com os tratamentos é possível identificar genes ativos e reprimidos em resposta a um tratamento particular (experssão gênica diferencial) em espécies não-modelo (TOOD et al., 2016) e agrupar estes genes em categorias funcionais (GO – Gene Ontology). Assim, é possível descobrir quais processos moleculares estão sendo afetados no organismo pela mudança ambiental (DE WIT et al., 2012). Apesar da técnica ainda ser subutilizados em estudos adaptativos, estas metodologias têm criado ferramentas com potencial de promover significante avanço na compreensão da diversificação adaptativa, além de estar proporcionando insights biológicos sobre o desenvolvimento, função gênica e respostas fisiológicas ao estresse sendo recomenda em estudos que visam melhorar a compreensão sobre evolução e a adaptação (VOECKEL et al., 2017; LOWRY et al., 2017). Estudos de genoma completo Sequências de genoma completo, em contraste às sequências de locos individuais, revelam a biologia do genoma e como o material genético é organizado permitindo verificar a abundância de elementos transponíveis, densidade dos genes no genoma, além de retratar muitas outras características, tais como: composição de bases, RNAs codificadores e, marcas de modificações nos nucleotídeos e na cromatina (ex: taxa de recombinação) que são parâmetros críticos em estudos de genética de populações e evolução. Uma das percepções obtidas dos estudos de genoma completo é que a taxa de recombinação ao longo do genoma é bem mais heterogênea do que se pensava e que existem regiões, tais como as extremidades dos braços do cromossomo, que apresentam um elevado índice de recombinação. Uma das implicações é que a recombinação afeta a eficiência da seleção de sítios ligados e a seleção de sítios locais. Este fenômeno, conhecido como efeito Hill-Robertson, ocorre porque diferentes mutações favoráveis devem surgir em contextos genéticos diferentes e, conforme os alelos favorecidos aumentam de frequência eles produzem desequilíbrio de ligação negativa com alelos de regiões vizinhas fazendo com que o produto das frequências dos gametas que contém um alelo favorável e outro desfavorável seja maior do que o dos gametas que contém ambos os alelos favoráveis ou ambos desfavoráveis, o que dificulta a seleção do alelo favorável (HARTL & CLARK, 2010). Neste caso, a seleção deve favorecer a taxa de recombinação nestas regiões. Assim, a possibilidade de obter estimativas da taxa de recombinação (combinando análises de ligação e sequências genômicas) tem produzido insights sobre a evolução da composição de nucleotídeos e a sua relação com a história evolutiva do organismo (ELLEGREN, 2014). De acordo com Weigel & Nordborg (2015) o problema começa quando algumas características são altamente herdáveis sem que qualquer efeito marginal seja detectado nos polimorfismos, mostrando que a “seleção” mais do que a “deriva” determina o destino do alelo 19


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desde que o seu efeito sobre a adaptação seja maior que o inverso do tamanho efetivo da população (Ne). Organismos grandes que tenham tamanho populacional pequeno também podem sofrer forte efeito da seleção a favor (ou contra) o aumento (ou redução) da aptidão do alelo através de efeitos que jamais possam ser vistos no desenvolvimento, na fisiologia e na morfologia. Além disto, fatores ambientais bióticos e abióticos que jamais são constantes afetam os efeitos da seleção. Entretanto, quando regiões codantes ou genes expressos são afetados pela deleção, mudança na função gênica ou tipo de proteína, é possível caracterizar polimorfismos moleculares com importância adaptativa. Bioinformática aplicada ao estudo de sequências genômicas Para responder qualquer pergunta a nível biológico, os arquivos (no formato FASTA) contendo as informações geradas no sistema NGS devem ser submetidos a verificação de qualidade das leituras que consiste na remoção de bases com escore inferior a 20, remoção dos adaptadores contendo barcodes, elaboração de gráficos contendo informações a respeito da qualidade dos escores e dos nucleotídeos e, cálculo das frações de leituras em duplicata e singleton presente nos dados. Verificada a qualidade das leituras é realizado o alinhamento das sequências para a formação dos contigs (sequências de leitura mais longas) que irão representar cada mRNA transcrito (para estudos de RNAseq). Estabelecer um link entre a variação observada a nível de sequência e a função gênica é um grande desafio para dados de RNAseq oriundos de organismos não-modelo. Neste sentido, utiliza-se a ferramenta de busca para alinhamento básico local (BLAST – Basic Local Alinhament Search Tool) para proceder anotações com base na semelhança de genes/proteínas/funções conhecidas. Consultando as três maiores bases de dados (GenBank, Uniprot Swiss-Protein e TrEMBL) é possível identificar as sequências mais semelhantes para cada um dos contigs e a informação disponível para as sequências identificadas pode ser utilizada para anotar as propriedades mais prováveis dos contigs obtidos no estudo. No caso de coincidências significantes entre os contigs e a base de dados será possível, também, identificar o nome dos genes, obter sua descrição geral e a classificação de agrupamento para categorias específicas de genes (GO - Gene Ontology) baseados na função celular e molecular. Depois disto, é realizado o mapeamento que consiste no alinhamento das leituras a uma sequência de referência. Para realizar o mapeamento das leituras em uma sequencia de referência existem vários programas que diferem nos algorítmos e na velocidade. O objetivo é criar um arquivo conhecido como mapa de alinhamento de sequência (SAM – Sequence Alignment Map) para cada uma das amostras. Este arquivo será composto por uma linha para as leituras de cada amostra chamada de sequencia de referência (gene, contig ou região gênica) para a qual ela foi mapeada, a posição na sequência de referência e o score do mapeamento na escala Phred, entre outros. As informações SAM serão utilizadas para extrair informações sobre a expressão gênica e para identificar o polimorfismo presente nos dados. Vários parâmetros podem ser definidos nesta etapa. Para maiores detalhes acessar http://biobwa.sourceforge.net/bwa.shtml 20


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A etapa sequinte envolverá a contagem do número de leituras, normalização e teste para diferenças e, análise de enriquecimento funcional. A contagem do número de leituras no arquivo de cada amostra (mapeados uma única vez para cada contig ou gene) permite ter uma noção do nível de expressão gênica de cada transcrito, pois ranscritos mais abundantes apresentam um maior nível de expressão. Diferentes populações em geral são geneticamente diversas, o que pode apresentar implicações importantes no potencial de adaptação e na resilência das espécies. Assim, os padrões de diversidade genética detectada no polimorfismo de nucleotídeos (SNP)podem fornecer uma idéia da história demográfica e evolutiva da espécie. Os níveis de polimorfismo observados entre as espécies são bastante variáveis, mas leituras curtas obtidas de uma única lane facilmente identificam aproximadamente 1000 SNPs. Para detectar a variação real é preciso separar os polimorfismos do sequenciamento e alinhamento por meio de uma filtragem dos dados baseada em modelos estatísticos, tal como o modelos mendeliano e o de equilíbrio de Hardy-Weinberg. Espera-se que nível de expressão gênica varie entre amostras e/ou indivíduos devido a fatores externos. Uma vez conhecido o fator que está produzindo a variação (ex.: diferenças na temperatura) este poder ser utilizado para verificar a sua relação com questões relativas a estrutura e diversidade genética das populações, adaptação e fatores evolutivos que afetam a espécie. Estatísticas para estudo das populações naturais Sabe-se que as forças estudadas pela genética de populações clássica, tais como a mutação, migração, deriva e seleção apresentam impacto direto no padrão de variação que pode ser observado ao nível de sequência de nucleotídeos na molécula de DNA. Assim, o conhecimento da sequência completa dos genes fornece um retrato muito mais rico a respeito da variação genética existente nas populações do que as informações obtidas pelo modelo clássico “A” e “a” (onde genes eram entidades quimicamente indefinidas). Em função disto, a genética de populações molecular passou a requerer uma parametrização muito mais detalhada de processos envolvidos na evolução das espécies, tais como a mutação. Assim, sempre que padrões de variação inesperados são observados nas sequências de DNA surgem novas demandas para o desenvolvimento teórico da genética de populações (HARTL & CLARK, 2010). Atualmente, os estudos de genética de populações passaram a ter abordagens em escala de paisagem, onde a frequência de genes e alelos passa a ser olhada dentro da paisagem onde a população se encontra, incorporando aspectos relativos ao ambiente ecológico em que vivem (tais como: altitude, luminosidade, humidade, temperatura, etc.). Para viabilizar inferências biológicas mais amplas foram necessários avanços na estatística de populações afim de permitir o refinamento e ampliação de abordagens, tais como: regressão múltipla de matrizes de distância e o teste de restrições de Mantel, e o desenvolvimento métodos completamente novos (tais como: a teoria dos circuitos, gráficos populacionais, gráficos de componentes principais e matrizes vizinhas). 21


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A vasta gama de questões potenciais geradas no estudo das espécies, da história de vida e o habitat onde vivem fez com que a abordagem robusta utilizada na genética de paisagem tenha resultado no desenvolvimento de estruturas de software que exigem do pesquisador de genética de populações o conhecimento e experiência no uso do programa R e das linguagens de programação Perl e Python (DYER, 2016). Como dados genômicos podem refletir a seleção do passado? De acordo com Clark et al. (2003) os atributos do DNA que refletem a seleção do passado são: • •

• • • • •

Padrão de variação sinônima (dS) e não-sinônima (dN) em genes codificadores de proteínas ( = dN / dS) Espectro de frequências locais (quantos alelos/nucleotídeos polimórficos existem no gene). Excesso de alelos raros indicam seleção purificadora (alelo mutante deletério), excesso de alelos comuns indicam seleção positiva e a vantagem do heterozigoto indica seleçao balanceadora Padrão de desequilíbrio aberrante Haplótipos muito longos Padrão de polimorfismo entre espécies fora dos níveis d e divergência Divergência excepcional entre populações

Problemas no uso de SNPs em estudos de seleção • • •

Viés na identificação do SNP Mistura populacional devido a cruzamentos ou estratificação populacional (quando consideramos uma única unidade panmítica populações subdivididas) História demográfica confunde o teste (ex.: crescimento demográfico muito acelerado gera mais variação nos nucleotídeos)

Conclusões A genômica populacional vem permitido identificar a estrutura e a diversidade genética de populações, indicar os genes responsáveis pela adaptação das espécies e solucionar problemas referentes à mudança climática, conservação e preservação de recursos genéticos, entretanto a mudança de abordagem e a grande quantidade de informações obtidas a partir do estudo direto dos genes existentes no genoma tem tornando urgente a necessidade de reciclagem de pesquisadores desta área oferecendo vários desafios no conhecimento das novas abordagens e metodologias utilizadas no sequenciamento de última geração, na bioinformática e na programação para ser capaz de ajustar programas estatísticos utilizando álgebras mais complexas de modo a atender às necessidades das investigações. 22


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3. Hortaliças no Instituto Agronômico de Campinas (IAC): passado, presente e desafios futuros. Parte 1. Paulo Espíndola Trani Eng. Agr., Me., Dr., na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) (1974, 1980, 1995), IAP-Fertilizantes (1975-1976), CATI (1976-1988), desde 1988 é Pesquisador Científico do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas. E-mails: petrani@iac.sp.gov.br e petrani32@hotmail.com

Introdução Hoje o IAC possui o Centro de Horticultura composto pela junção de quatro antigas Seções: Hortaliças; Raízes e Tubérculos; Plantas Aromáticas e Medicinais; Floricultura e Plantas Ornamentais. O início dos trabalhos e montagens de coleções vêm da década de 1930, com destaque para a criação da Seção de Olericultura em 1937. Atualmente o Centro de Horticultura mantém diversos bancos ativos de germoplasma citando-se dentre estes: tomate, cebola, alface, quiabo, pimenta, couve de folha, batata, mandioca, batata doce, cará, inhame, urucum, manjericão, capim limão, menta, patchouli, espécies ornamentais diversas (como zingiberales, palmeiras, orquídeas) e palmitos diversos (como pupunha, açaí, juçara, palmeira real australiana). As hortaliças constituem um grupo de plantas com características próprias de cultivo, com o uso intensivo do solo e da água de irrigação. Necessitam ainda, receber quantidades elevadas de corretivos e fertilizantes para que sejam alcançadas boas produtividades e qualidade do produto final. Neste momento próximo à minha aposentadoria tomo a liberdade de tentar preservar a história através do relato de fatos e da apresentação de algumas imagens, com as quais espero também homenagear grandes nomes da agricultura brasileira. Os experimentos e atividades pioneiras com hortaliças, no IAC A tradição no cultivo comercial de hortaliças no Brasil estabeleceu-se principalmente a partir da década de 1930. O passado histórico deve sempre ser referenciado, pois é nele que se encontram os alicerces para tudo que foi construído ao longo dos anos, e na pesquisa científica isto não é diferente. O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) é a prova viva disto, assim como a ESALQ/USP, a UNESP-FCAV-Jaboticabal, a UNESP FCA-Botucatu, o Instituto Florestal, Universidade Federal de Viçosa, a UFLA, a UFRRJ, o IPA, o CNPH (atual Embrapa Hortaliças), entre outros. Os engenheiros agrônomos pioneiros da antiga Seção de Olericultura e Floricultura no IAC podem ser vistos na imagem a seguir: 25


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Figura 1. Trabalhos (ao fundo) em forma de pôsteres e exposição de hortaliças moldadas em gesso na Seção de Olericultura e Floricultura do IAC, no início da década de 1940. Da esq. para a dir.: Engs. Agrs. José Botter Bernardi; Leocádio de Souza Camargo; Olympio de Toledo Prado e Hermes Moreira de Souza “o semeador de florestas”.

Figura 2. Estudos do sistema radicular de cebolas jovens (à esquerda) e com o bulbo em fase de colheita (à direita). Informações básicas para pesquisas de espaçamento e localização de fertilizantes em pré-plantio. Fotos: Olympio de Toledo Prado, 1941.

Figura 3. Cultivares de couve-flor avaliadas pelo IAC na década de 1940. Foto: Leocádio de Souza Camargo. Campinas, s.d.

Figura 4. Cultivares de tomate avaliadas pelo IAC na década de 1940. Pintura: José de Castro Mendes. Campinas, s.d.

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Figura 5. Estação Experimental de Tupi do IAC (atual Horto Florestal) em 1946. Experimentos de adubação, épocas de plantio e avaliação de cultivares de hortaliças introduzidas do Exterior. Na foto: Agenor Lopes dos Santos (funcionário de campo).

Nas décadas de 1960 e 1970, os Professores da ESALQ Cyro Paulino da Costa, Hiroshi Ikuta, discípulos de Marcílio Dias e os Professores Keigo Minami e Henrique Paulo Haag prepararam tecnicamente alunos dos últimos anos da Agronomia para, após ingressarem por concurso no IAC, nas Faculdades de Agronomia e na CATI, trabalharem na realização de pesquisas em melhoramento genético, fitotecnia, nutrição, calagem, adubação e na prestação de assistência técnica em hortaliças.

A Figura 6 foi tirada na Estação Experimental da ESALQ em Mogi das Cruzes (que funcionou entre 1960 e 1990). Na foto: Cyro Paulino da Costa (abaixado) e Hiroshi Ikuta (no centro), Professores do Curso de Melhoramento de Hortaliças da ESALQ (1974).

A Figura 7 mostra a repercussão do trabalho da dupla Paulo Tarcísio Della Vecchia e Paulo Eiti Takazaki, pesquisadores em melhoramento genético de hortaliças para campo e cultivo protegido (Empresa Agroflora, Bragança Paulista, 1986).

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Figura 8. Três gerações: Nozomu Makishima (inicialmente na CATI - Depto de Extensão Rural e depois na Embrapa Hortaliças); Gilberto Job B. Figueiredo (CATI) e Paulo E. Trani (IAC), durante o Encontro sobre Inovações Tecnológicas em Olericultura para Engenheiros Agrônomos da CATI. Campinas, 2015.

A Figura 9 é uma pintura da década de 1940, de autoria do funcionário de apoio José de Castro Mendes, mostrando as atividades do IAC na transferência de conhecimento em pós colheita, além da pesquisa científica.

Os estudos de melhoramento genético resultaram na criação de novas cultivares, mais produtivas e resistentes à pragas e doenças, com destaque para o tomate IAC - Ângela, na década de 1970 e o tomate IAC - Santa Clara na década de 1980, as quais predominaram no campo por mais de 15 anos nas principais lavouras do Estado de São Paulo. Estas cultivares serviram também como base genética para o desenvolvimento de híbridos pelas empresas de sementes de hortaliças que surgiram e tiveram notável crescimento nessas décadas. O Pesquisador Cientifico Hiroshi Nagai também naquelas décadas lançou cultivares de alface lisa da “Série Brasil”, e cultivares de pimentões, entre outras espécies de hortaliças, contando com o importante apoio técnico de Francisco Antonio Passos e Arlete Marchi Tavares de Melo, além de uma boa equipe de campo em Campinas, que atuou na Fazenda Santa Elisa. O Pesquisador científico Francisco Antonio Passos contribuiu com o lançamento de novas cultivares de morango e de quiabo e a pesquisadora científica Arlete Marchi Tavares de Melo realizou amplo trabalho de seleção e melhoramento de cultivares de pimenta, abóboras e tomate.

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Figura 10. Esta foto mostra a equipe da Seção de Hortaliças que contava em 1995 com 6 pesquisadores científicos e 8 funcionários de apoio. O Pesquisador Dr. Hiroshi Nagai, na primeira fila, segundo da esquerda para a direita, foi um dos maiores virologistas e geneticistas de hortaliças do Brasil em seu período de trabalho.

Figura 11. À esquerda, frutos de tomate originários das cultivares Ângela e Santa Clara desenvolvidas pelo Dr. Hiroshi Nagai, nas décadas de 1970 e 1980. À direita frutos de tomate em penca representativo de cultivares introduzidas e selecionadas pela Dra. Arlete Marchi Tavares de Melo, na década de 2000.

Figura 12. Avaliação no campo da cultivar de pimenta “biquinho”, destaque da coleção mantida no IAC pela Dra. Arlete M. T. Melo, desde a década de 1990.

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Figura 13. Horta Experimental do Centro de Fruticultura do IAC em Jundiaí (antiga Estação Experimental). Na foto: Pesquisador Científico Dr. Francisco Antonio Passos e Antonio Donadão, funcionário de campo.

Figura 14. Novas seleções de quiabo obtidas por melhoramento genético realizado pelo Dr. Francisco A. Passos. Local: Centro de Fruticultura (antiga Estação Experimental de Jundiaí), em 2009. Foto: Francisco A. Passos.

Figura 15. À esquerda, quiabeiro com produção de frutos roliços. À direita, quiabo de frutos quinados. Este material genético foi melhorado e multiplicado em 3 regiões do ESP, através do trabalho de Francisco A. Passos e Equipe. Centro de Fruticultura de Jundiaí, 2010.

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Figura 16. Morango IAC - Guarani, cultivar para indústria, desenvolvido por Francisco A. Passos. Piedade, 1978.

Figura 17. Morango IAC - Princesa Isabel, desenvolvido por Francisco A. Passos, mostrando ótima produtividade. Piedade, 1978.

Figura 18. Experimento de épocas de plantio do alho vernalizado cv. Roxo Pérola de Caçador, na Estação Experimental de Monte Alegre do Sul (SP), 1991 e 1992.

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Figura 19. Pesquisador Científico Rogério Salles Lisbão, responsável pelos experimentos de épocas de plantio (em 1990, 1991 e 1992) do alho vernalizado ‘Roxo Pérola de Caçador’, na Estação Experimental de Monte Alegre do Sul (SP).

Figura 20. Além do alho Roxo Pérola de Caçador destacaram-se as seguintes cultivares (na foto): ‘Santa Catarina Roxo’ e ‘Assaí’ (não vernalizadas) e ‘Jonas’ (vernalizada), conforme pesquisas realizadas nas Estações Experimentais de Monte Alegre do Sul e Tietê, nas décadas de 1980 e 1990 (Foto: Dulcinéia E. Foltran, 1995.

Experimentos mais recentes do IAC e dos Pólos Regionais (antigas Estações Experimentais) da APTA que contribuíram para a expansão das hortaliças para o Interior Paulista. Principalmente no período de 2006 até a atualidade os Pólos Regionais APTA, como Monte Alegre do Sul, Mococa, Jundiaí, Tietê, Ribeirão Preto, São Roque, Andradina, e Presidente Prudente destacaram-se na manutenção e avaliação das coleções de hortaliças como alho, alface, cebola, couve de folha e jiló. Foram comparadas as cultivares de plantas das 32


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coleções IAC com as cultivares tradicionalmente produzidas naquelas regiões e também selecionadas as melhores quanto à produtividade e qualidade.

Figura 21. Bulbos de cebola no período de pré-cura no campo. Trabalho de validação das melhores cultivares em produtor de cebola, com o apoio técnico do IAC - Campinas, Cooperativa Cooxupé (Núcleo de S. J. do Rio Pardo) e Pólo APTA de Mococa. Foto: Paulo E. Trani, São José do Rio Pardo, 2008.

Figura 22. Avaliação e multiplicação de bulbos da cebola IAC - Solaris. Trabalho realizado pelo produtor de cebola Vedovato, o engenheiro agrônomo regional Breda e o pesquisador científico Tivelli, em São José do Rio Pardo (SP), 2006.

Figura 23. Coleção de couve de folha no Pólo Regional da APTA em Ribeirão Preto, mantida e avaliada pela Pesquisadora Científica Sally Ferreira Blat. A foto mostra plantas prontas para a desbrota e a formação de novas mudas. 2014.

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Figura 24. Avaliação de cultivares de alface da coleção IAC, na UNESP - FCA de Botucatu. Na foto: Humberto Sampaio de Araújo, Pesquisador Científico da APTA Pólo Regional de Andradina, responsável pelo manejo do campo de alface. Botucatu, 2010.

Figura 25. Horta do Pólo Regional APTA de Presidente Prudente (SP). A foto mostra a área experimental para a avaliação de cultivares e estudos de manejo de diferentes espécies hortícolas, trabalho realizado pela Pesquisadora Científica Andréia da Silva Hirata, 2016.

Conclusões Desde o final da década de 1930 até periodos mais recentes o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) introduziu novas cultivares, realizou o intercâmbio, conservação e manejo do germoplasma, utilizando-o no melhoramento genético de inúmeras espécies hortícolas. Isso propiciou o lançamento e adoção pelos olericultores, de cultivares mais adaptadas às condições de solo e clima do estado de São Paulo. Os estudos pioneiros: de espaçamento, de época de plantio e avaliação de fertilizante orgânico, também se destacaram nas primeiras quatro décadas de trabalho. As equipes do Centro de Horticultura do IAC, desde a sua fundação até o final da década de 1990, tiveram boa continuidade, somando a experiência dos colegas mais antigos com o dinamismo dos mais novos, porém os tempos modernos das últimas décadas, tem reduzido 34


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drasticamente as equipes de pesquisadores e de apoio, o que torna incerto o futuro da área no que tange à diversidade específica de seus recursos genéticos.

Referências CAMARGO, L. S. As hortaliças e seu cultivo. Fundação Cargill, Campinas, 1985. NAGAI, H.; LISBÃO, R. S.; MELO, A. M. T.; TRANI, P.E.; PASSOS, F. A.; FORNASIER, J. B. Produção de sementes de hortaliças em pequenas áreas. Campinas, Instituto Agronômico,1994. 17 p. (Documentos IAC, 51). OLIVEIRA, C.R.; BARRETO, E.A; FIGUEIREDO, G.J.B.; NEVES, J.P.S.; ANDRADE, L.A.; MAKIMOTO, P.; DIAS, W.T. Cultivo em ambiente protegido. Campinas, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, 1997. 31 p. (Boletim Técnico, 232). PRELA - PANTANO, A.; TRANI, P. E.; TERAMOTO, J. R. S.; TIVELLI, S. W.; LOPES, F. J. R.; RAMOS, M. M.; CAMARGO FILHO, W. P. Horticultura urbana e periurbana em São Paulo, p.15-26. In. Hortas Comunitárias: experiências do Brasil e dos Estados Unidos. CASTELO BRANCO, M.; ALCANTARA, F. A. editoras técnicas. Brasília D. F. Embrapa, 2012. 120 p. (Hortas Comunitárias,3). RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J. A.; FURLANI, A. M. C. Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo, 2.ed. rev. ampl. Campinas, Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1997. 285 p. (Boletim Técnico, 100) TRANI, P. E.; PASSOS, F. A.; MELO, A. M. T.; TIVELLI, S. W.; BOVI, O. A.; PIMENTEL, E. C. Hortaliças e Plantas Medicinais: Manual Prático. 2.ª ed. rev. atual. Campinas: Instituto Agronômico. 2010. 72p. (Boletim Técnico IAC, 199). http://www.iac.sp.gov.br/publicacoes/publicacoes_online/pdf/boletim_tecnico%20_IAC199.pdf. Acesso em 10 fev., 2018. TRANI, P.E.; TIVELLI, S.W.; CARRIJO, O. A. Fertirrigação em Hortaliças. Campinas, Instituto Agronômico, 2011. 51 p. (Boletim Técnico IAC, 196 – 2a. Ed. Rev. Atual.). Disponível em http://www.iac.sp.gov.br/publicacoes/publicacoes_online/pdf/BT_196FINAL.pdf. Consultado em 18 jan., 2018. TRANI, P. E.; GROPPO, G. A.; SILVA, M. C. P.; MINAMI, K.; BURKE, T. J. Diagnóstico sobre a produção de hortaliças no Estado de São Paulo. Horticultura Brasileira, 15 (1): 15-24, 1997.

Agradecimentos O autor agradece à André Luís Trani, Químico da Petrobras - Refinaria de Paulínia-SP, pela revisão e composição final deste trabalho.

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4. Hortaliças no Instituto Agronômico de Campinas (IAC): passado, presente e desafios futuros: Parte 2. Paulo Espíndola Trani Eng. Agr., Me., Dr., na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) (1974, 1980, 1995), IAPFertilizantes (1975-1976), CATI (1976-1988), desde 1988 é Pesquisador Científico do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas.

Introdução Prosseguimos aqui com nossa contribuição, complementando a Parte 1, anteriormente apresentada nesta revista. Com a diversificação dos sistemas de produção de hortaliças no estado de São Paulo, desde a década de 1990 até a atualidade, novas pesquisas direcionadas principalmente à horticultura sustentável, foram desenvolvidas pelo IAC, também em parceria com outras instituições públicas e privadas, as quais apresentamos a seguir, pois são muito úteis ao manejo de recursos genéticos. Experimentos de nutrição mineral, calagem e adubação: No periodo de 1990 até 2018 foram realizados diversos experimentos de nutrição, calagem, e adubação, conforme os exemplos a seguir:

Figura 1. Vista geral do experimento de calagem em alface no verão, realizada em solo tipo Argissolo muito ácido. Monte Alegre do Sul, 1990.

Figura 2. À esquerda, duas plantas da alface cv. Brasil 221, colhidas de parcela sem calagem e à direita, uma planta colhida de parcela que recebeu o equivalente à 8 t de calcário por ha. Monte Alegre do Sul - SP, 1990.

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Figura 3. No mesmo local, experimentação de calagem com plantio de cenoura cv. Foto: Nantes, no inverno. Monte Alegre do Sul - SP, 1991.

Figura 4. Aspecto da área experimental com o controle da uniformidade de irrigação com o uso de tensiômetros. Monte Alegre do Sul - SP, 1991.

Concluiu-se que estas hortaliças alcançaram maiores produtividades quando a saturação por bases do solo atingiu 80%. Recomenda-se também incorporação do calcário até 20 cm de profundidade para a alface e até 25 a 30 cm de profundidade para a cenoura. Utilizar o corretivo com pelo menos 30 a 40 dias de antecedência ao plantio, irrigando-se logo após a aplicação para proporcionar maior velocidade de reação de correção da acidez do solo.

Figura 5. Frutos de melancia ‘Crimson Sweet’ em lavoura com experimento de adubação de plantio, com 3 doses NPK. Foto: Wilibaldo Villa, Echaporã - SP, 1992.

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Figura 6. Colheita de melancia em área com experimentação de adubação de plantio (3 doses NPK). Foto: Caporanga (Distrito de Santa Cruz do Rio Pardo - SP), 1992.

Figura 7. Melhor relação N: P: K em experimento com adubação de plantio para melancia em Argissolo arenoso. Foto: Wilibaldo Villa, Echaporã - SP. 1992.

Figura 8. Experimento com doses de nitrogênio em cobertura para beterraba em um Argissolo de textura média. Monte Alegre do Sul, 1992.

Figura 9. Experimento com doses de nitrogênio em cobertura para beterraba, em um Latossolo franco - arenoso. Campinas, 1992.

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Figura 10. Plantas de beterraba que receberam diferentes doses de N em cobertura. Campinas, 1992.

Figura 11. Sistema de produção de cebola em plantio tradicional por mudas e irrigação por aspersão, com adubação cerca de 40% menor em relação ao sistema de semeadura direta. São José do Rio Pardo, 2008.

Figura 12. Lavoura de cebola em fase de colheita, cultivada por semeadura direta e irrigação por pivô central. Foto: José Maria Breda Jr., São José do Rio Pardo, 2008.

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Figura 13. Avaliação da produção de cebola no sistema adensado de semeadura direta com adubação intensiva. Foto: José Maria Breda Jr., São José do Rio Pardo, 2008.

Prioridades da pesquisa para a horticultura a partir da década de 1990: Levantamento realizado em 1994 na CATI, com Eng. Agrônomos de 200 Casas da Agricultura do ESP apontou as seguintes prioridades de pesquisa em hortaliças a serem desenvolvidas pelo IAC: a) Obtenção de novas cultivares de hortaliças produtivas e resistentes à pragas e doenças; b) Desenvolvimento de novas tecnologias de produção de hortaliças sob cultivo protegido; c) Estudos de nutrição, calagem e adubação de hortaliças; d) Desenvolvimento de novas técnicas de irrigação para hortaliças; e) Com menor frequência foram citadas pesquisas sobre controle biológico de pragas, produção orgânica, controle do mato e comercialização de hortaliças. Pesquisas em hortaliças sob cultivo protegido com a parceria do IAC e Empresas Rurais: Realizaram-se diversos experimentos científicos em manejo fitotécnico e fertirrigação de hortaliças, cultivadas em estufas agrícolas, após a década de 2.000. Para realização destes experimentos foi fundamental o apoio e a parceria de viveiristas, produtores de hortaliças e empresas rurais das diferentes regiões do Estado.

Figura 14. Viveiro com produção uniforme mudas de pimentão, obtidas através de irrigação e fertirrigação por nebulização. Foto: Oliveiro Bassetto Jr., Hidroceres, Santa Cruz do Rio Pardo-SP, 2012.

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Figura 15. Pepino Japonês bem adaptado para produção em cultivo protegido, em solo de textura média. Foto: Oliveiro Bassetto Jr., Hidroceres, Santa Cruz do Rio Pardo - SP, 2012.

Figura 16. Pimentão Amarelo, sob estufa agrícola, em solo de textura média. Foto: Oliveiro Bassetto Jr., Hidroceres, Santa Cruz do Rio Pardo - SP, 2012.

Figura 17. Tomate Italiano onde se aplicou um bom volume de solo (de textura argilosa) junto às plantas, para possibilitar o pleno desenvolvimento das raízes. Foto: Oliveiro Bassetto Jr., Sítio Luciano Jardim, Santa Cruz do Rio Pardo- SP, 2012.

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A partir de 2000, diversas pesquisas científicas com hortaliças foram realizadas em parceria com os departamentos técnicos de empresas agrícolas e nos Pólos da APTA.

Figura 18. Couve no campo irrigada em subsuperfície do solo com cobertura de plástica proporcionando economia de água e melhor controle do mato. Estudo de economicidade da produção de campo X cultivo protegido. Foto: José Ricardo Giorgetti, Gioplanta, Monte Mor - SP, 2015.

Figura 19. Experimento de sucessão de hortaliças com alface, salsa e couve no Lar de Menores e Prefeitura Municipal. Santa Cruz do Rio Pardo, 2014

Para atender a crescente procura pela produção sustentável de hortaliças, foram realizados experimentos de compostagem utilizando produtos orgânicos como torta de filtro de cana, casca de pinus carbonizada, fibra de coco e a tradicional cama de frango de corte, todos com mais disponibilidade no comércio a partir da década de 1990. Dentre tais produtos, para o cultivo de hortaliças destacou-se o bokashi, composto produzido com resíduos orgânicos vegetais e animais de diferentes origens e ativado com microorganismos úteis que são agentes de fermentação.

Figura 20. Compostagem a céu aberto. Foto: Jairo Hanasiro, Bioland, Saltinho-SP. 2000.

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Figura 21. Alface em estufa agrícola, em parcela (canteiro) testemunha que não recebeu adubo orgânico. Foto: Luciano Grassi Tamiso, IAC Campinas, 2000.

Figura 22. Alface em estufa agrícola, em parcela (canteiro) que recebeu 0,5 kg de bokashi por m2. Foto: Luciano Grassi Tamiso, IAC - Campinas, 2000.

Novas tabelas de calagem, adubação orgânica e mineral a partir de 2010. Foram atualizadas as recomendações de calagem, adubação orgânica e mineral para cerca de 40 hortaliças, tendo como exemplo a tabela para hortaliças folhosas, a seguir. Tabela 1. Adubação mineral de plantio1 para alface, almeirão, agrião d’água, chicória (escarola), coentro, espinafre da Nova Zelândia e rúcula, conforme a análise de solo. Autores da tabela: Paulo E. Trani, Luis Felipe V. Purquério, Gilberto J. B. de Figueiredo, Sebastião Wilson Tivelli, Sally F. Blat. P resina, mg dm-3

K+ trocável, mmolc dm -3

Nitrogênio 0-25

320

180

B, mg dm-3 0-0,20

1

>120

0-1,5

0,21-0,60

1,0

120

>0,60

0-0,2

0,3-0,8

60

1,5

1,0

3,1-6,0

100

60

>6,0

40

Mn, mg dm-3 >0,8

------- Cu, kg ha-1 -------0

1,6-3,0

----------- K2O, kg ha-1 ------------

Cu, mg dm-3

------- B, kg ha-1-------1,5

61-120

------------ P2O5, kg ha-1 ----------

N, kg ha-1

20 a 40

26-60

0

01,3-5,0 1,2

Zn, mg dm -3

>5,0

0-0,5

------- Mn, kg ha-1 ---2

1

20

0

0,6-1,2

>1,2

------ Zn, kg ha-1 ------

3

1,5

0

Aplicar junto com o NPK de plantio, 20 a 30 kg ha-1 de S

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Adubação mineral de cobertura: A seguir, as recomendações de nutrientes em cobertura para alface, almeirão, agrião d’água, chicória, coentro, espinafre e rúcula:

Tabela 2. Doses de nutrientes em cobertura para alface1 no campo e sob cultivo protegido. Nutriente

Dose, kg ha-1

N

60 - 100

P2O5

0 - 30

K2O

20 - 50

1

Cultivares de alface do grupo americana devem receber 30 a 40% a mais de potássio em cobertura em relação às cultivares de alface dos grupos lisa e crespa.

Tabela 3. Doses de nutrientes em cobertura para almeirão, agrião d’água, chicória (escarola), coentro e espinafre, no campo e sob cultivo protegido. Nutriente

Dose, kg ha-1

N

40 - 80

P2O5

0 - 20

K2O

20 - 40

Tabela 4. Doses de nutrientes em cobertura para rúcula, no campo e sob cultivo protegido. Nutriente

Dose, kg ha-1

N

90 -150

P2O5

0 - 30

K2O

30 - 60

As doses menores de nutrientes são recomendadas para áreas que receberam adubação orgânica, em locais de solos férteis, com plantas bem desenvolvidas e altas concentrações de nutrientes nas folhas. Doses maiores de nutrientes devem ser empregadas para cultivares de 44


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maior exigência nutricional, em cultivos adensados e com expectativa de altas produções. Parcelar as coberturas em 2 a 4 aplicações durante o ciclo, a menor frequência quando dos cultivos de primavera-verão, períodos em que as temperaturas mais elevadas encurtam o ciclo destas hortaliças folhosas. As quantidades de nutrientes a serem aplicadas na fase inicial de crescimento, devem ser proporcionalmente menores em relação às quantidades fornecidas da metade do ciclo até a colheita das hortaliças. Distribuir os fertilizantes ao lado das plantas, de maneira que não entrem em contato direto com as mesmas, irrigando-se logo após. No caso do uso da fertirrigação, esta deve ser realizada diariamente ou no máximo a cada dois dias, para que estas hortaliças de ciclo rápido aproveitem melhor os nutrientes aplicados, reduzindo-se ainda, o risco de queima das plantas. Desafios para o futuro da pesquisa com hortaliças no Estado de São Paulo: Os principais desafios da pesquisa em hortaliças para o futuro são: a) Obtenção de cultivares mais produtivas e de melhor qualidade, recomendando-se parceria com Empresas de Sementes para otimização da pesquisa. b) Melhor controle da salinização e da compactação dos solos cultivados com hortaliças principalmente em estufas agrícolas. c) Controle de pragas e doenças com o uso mínimo de agrotóxicos, ou sem a utilização destes (horticultura orgânica). d) Criação de mais tecnologias para a horticultura urbana e periurbana.

Figura 23. À esquerda muda de tomate e à direita plantas de pepino em solos salinizados. Desafio: pesquisar novos fertilizantes e maneiras de aplicação que minimizem tal problema.

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Figura 24. Raízes de pimentão com alta incidência de nematóides formadores de galhas. Desafio: encontrar manejos econômicos para eliminar ou minimizar a ação nociva dos nematóides.

Para se conseguir vencer os desafios aqui apontados é imprescindível a realização de trabalho em equipe por engenheiros agrônomos do IAC e também de outras Instituições de Pesquisa como o Instituto Biológico, em parceria com colegas das Faculdades de Agronomia, CATI, Prefeituras, Cooperativas e Empresas Rurais do estado de São Paulo. Conclusões A partir da década de 1990 até a atualidade concentraram-se no IAC as pesquisas relacionadas à calagem, nutrição mineral, novos fertilizantes orgânicos e minerais, sendo atualizadas as tabelas de adubação. Destacaram-se também nesse período, as pesquisas nas hortaliças de interesse da agricultura familiar como as hortaliças cultivadas em estufa agrícola e no campo, em pequenas áreas. Diversas pesquisas foram realizadas no IAC e Polos da APTA em parceria com instituições públicas e privadas, sistema de trabalho cada vez mais necessário, devido principalmente, à diminuição de recursos humanos em horticultura, no IAC. Esperamos que, com mais esta publicação, possamos ter contribuindo com os colegas que atuam na área de manejo de recursos genéticos de espécies hortícolas.

Referências CAMARGO, L. S. As hortaliças e seu cultivo. Fundação Cargill, Campinas, 1985. NAGAI, H.; LISBÃO, R. S.; MELO, A. M. T.; TRANI, P.E.; PASSOS, F. A.; FORNASIER, J. B. Produção de sementes de hortaliças em pequenas áreas. Campinas, Instituto Agronômico,1994. 17 p. (Documentos IAC, 51). OLIVEIRA, C.R.; BARRETO, E.A; FIGUEIREDO, G.J.B.; NEVES, J.P.S.; ANDRADE, L.A.; MAKIMOTO, P.; DIAS, W.T. Cultivo em ambiente protegido. Campinas, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, 1997. 31 p. (Boletim Técnico, 232). PRELA - PANTANO, A.; TRANI, P. E.; TERAMOTO, J. R. S.; TIVELLI, S. W.; LOPES, F. J. R.; RAMOS, M. M.; CAMARGO FILHO, W. P. Horticultura urbana e periurbana em São Paulo, p.15-26. In. Hortas Comunitárias: experiências do Brasil e dos Estados Unidos. CASTELO BRANCO, M.; ALCANTARA, F. A. editoras técnicas. Brasília D. F. Embrapa, 2012. 120 p. (Hortas Comunitárias,3). RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J. A.; FURLANI, A. M. C. Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo, 2.ed. rev. ampl. Campinas, Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1997. 285 p. (Boletim Técnico, 100)

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TRANI, P. E.; PASSOS, F. A.; MELO, A. M. T.; TIVELLI, S. W.; BOVI, O. A.; PIMENTEL, E. C. Hortaliças e Plantas Medicinais: Manual Prático. 2.ª ed. rev. atual. Campinas: Instituto Agronômico. 2010. 72p. (Boletim Técnico IAC, 199). http://www.iac.sp.gov.br/publicacoes/publicacoes_online/pdf/boletim_tecnico%20_IAC199.pdf. Acesso em 10 fev., 2018. TRANI, P.E.; TIVELLI, S.W.; CARRIJO, O. A. Fertirrigação em Hortaliças. Campinas, Instituto Agronômico, 2011. 51 p. (Boletim Técnico IAC, 196 – 2a. Ed. Rev. Atual.). Disponível em http://www.iac.sp.gov.br/publicacoes/publicacoes_online/pdf/BT_196FINAL.pdf. Consultado em 18 jan., 2018. TRANI, P. E.; GROPPO, G. A.; SILVA, M. C. P.; MINAMI, K.; BURKE, T. J. Diagnóstico sobre a produção de hortaliças no Estado de São Paulo. Horticultura Brasileira, 15 (1): 15-24, 1997.

Agradecimentos O autor agradece à André Luis Trani, Químico da Petrobras - Refinaria de Paulínia -SP, pela revisão e composição final deste trabalho.

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5. Construindo Redes: um breve relato sobre o Grupo Interdisciplinar de Estudos em Agrobiodiversidade

Natália Almeida Eng. Agr. (2008) e Me. (2011) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Dr. pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC - 2015) com período sanduíche no International Maize and Wheat Improvement Center (CIMMYT). Atualmente é pesquisadora de pós-doutorado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba – SP, da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Atua em: agrobiodiversidade e agroecologia, recursos genéticos vegetais, coleta, caracterização e conservação integrada de recursos genéticos vegetais (ex situ e in situ-on farm). E-mail: almeida.rgv@usp.br; nataliacasilva@hotmail.com

Flaviane Malaquias Costa Eng. Agr. pela UFMG e Faculdade de Estudos Administrativos de Minas Gerais (2010), Me. pela UFSC (2013) e doutoranda em Genética e Melhoramento de Plantas pela ESALQ/USP. Áreas de interesse: conservação ex situ e in situ - on farm, coleta, diversidade e uso de recursos genéticos vegetais; evolução e dispersão de plantas cultivadas; e agrobiodiversidade. E-mail: flavianemcosta@hotmail.com

Rafael Vidal Eng. Agr. (1994) e Me. (2009) pela Universidad de la República (UDELAR), Montevidéu Uruguai, e Dr. em Recursos Genéticos Vegetais pela UFSC (2016). Atualmente é Professor Adjunto de Fitotecnia na Facultad de Agronomia na UDELAR. Atua com os seguintes temas: agrobiodiversidade, recursos genéticos vegetais, melhoramento e conservação ex situ e in situ-on farm. Contato: rvidal@fagro.edu.uy

Elizabeth Ann Veasey Eng. Agr. (1981), Me. (1987) e Dr. (1998) em Genética e Melhoramento de Plantas, pela ESALQ/USP. Atualmente é Professora Associada do Departamento de Genética da ESALQ/USP. Atua em: agrobiodiversidade, genética evolutiva, genética de populações, evolução e domesticação de plantas. Contato: eaveasey@usp.br

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Histórico sobre Grupo Interdisciplinar de Estudos em Agrobiodiversidade O Grupo Interdisciplinar de Estudos em Agrobiodiversidade (InterABio) é formado por uma rede de pesquisadores, professores, técnicos, agricultores e estudantes cujo principal objetivo é promover a conservação, manejo e uso da agrobiodiversidade, por meio de projetos que integram ações e atividades de pesquisa, ensino e extensão. Foi criado em 2016, pelos pesquisadores Natália Almeida, Flaviane Malaquias Costa e Rafael Vidal, com o objetivo inicial de formalizar parcerias de trabalho visando articular projetos internacionais, após participarem do mesmo grupo de pesquisa durante a pós-graduação em Recursos Genéticos Vegetais na Universidade Federal Santa Catarina, entre o período de 2011 a 2015. Atualmente o InterABio está inserido em duas Universidades: na Universidade de São Paulo, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq-USP), sob coordenação da Professora Elizabeth Ann Veasey e, na Universidad de la República, na Facultad de Agronomía (Fagro-Udelar), no Uruguai, sob coordenação do professor Dr. Rafael Vidal. O Grupo tem como principal missão desenvolver e incentivar ações de pesquisa, ensino e extensão dentro de quatro eixos temáticos: 1. Evolução e Domesticação de Plantas 2. Conservação de Recursos Genéticos Vegetais 3. Agrobiodiversidade e Agroecologia 4. Melhoramento Genético Participativo de Plantas Projetos de pesquisa do InterABio: Agrobiodiversidade na prática 1) Raças de Milho das Terras Baixas da América do Sul: ampliando o conhecimento sobre a diversidade de milho do Brasil e Uruguai O milho (Zea mays L. subsp. mays) apresenta ampla variabilidade e adaptação, por encontrar-se distribuído em diferentes ambientes e contextos culturais. Sua variabilidade genética é uma das maiores entre as espécies cultivadas, com aproximadamente 300 raças identificadas no mundo (SERRATOS, 2009), sendo que a região das Terras Baixas da América do Sul é considerada centro secundário de diversidade da espécie (BRIEGER et al., 1958; PATERNIANI & GOODMAN, 1977). No entanto, as informações sobre a atual diversidade de milho desta região do continente americano são escassas e a maior parte dos estudos tem se destinado a caracterizar e analisar a diversidade conservada ex situ. Como parte da história dos agricultores, as variedades locais in situ-on farm integram suas formas de vida, relações sociais e representam um patrimônio genético e cultural. Entretanto, os esforços para organizar a informação sobre a conservação in situ-on farm de milho têm sido limitados pela falta de conhecimento dos padrões de diversidade regional. Espera-se que esta lacuna possa ser preenchida a partir do estudo de raças de milho, 49


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onde uma raça pode ser compreendida por um grupo de variedades locais que possuem características em comum para ser reconhecidas como um grupo. Nesse sentido o Projeto Raças de Milho das Terras Baixas da América do Sul (Figura 1), propõe identificar, atualizar e reclassificar as raças de milho preservadas in situ-on farm no Brasil e Uruguai, a partir da caracterização fenotípica e citogenética de variedades locais coletadas em diferentes regiões de ambos os países. Dessa forma pretende-se aportar informações sobre a atual diversidade de raças de milho das Terras Baixas da América do Sul, visando subsidiar a identificação de micro-centros de diversidade como mecanismo de proteção de variedades locais e, consequentemente, identificar áreas prioritárias para preservação in situ-on farm. Metodologia do Projeto, em linhas gerais: i. Reuniões para apresentação do Projeto e o estabelecimento de parcerias. ii. Oficinas com agricultores sobre "Raças de Milho". iii. Entrevistas com agricultores. iv. Coleta de variedades locais. v. Caracterização fenotípica de variedades locais. vi. Caracterização citogenética de variedades locais. vii. Participação em eventos, feiras de sementes, seminários, etc. viii. Divulgação dos resultados do Projeto.

a

b

c

d

Figura 1. Etapas do Projeto Raças de Milho das Terras Baixas da América do Sul: a) reunião para apresentação do Projeto com organizações locais, Rio Grande do Sul; b) dinâmica das espigas durante a oficina com povos indígenas do Acre; c) entrevistas com agricultores durante a 7º Fiesta de las Semillas Criollas, Rocha, Uruguai; d) coleta de variedades crioulas, Paraíba.

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Para o desenvolvimento do Projeto, foi e continua sendo constituída a Rede de Pesquisa Colaborativa, a qual envolve Universidades, Instituições de Pesquisa e Extensão, e organizações que atuam com a agricultura familiar, que tem possibilitado com sucesso a execução das etapas do projeto binacional. As Redes de Pesquisa, segundo o CNPq, visam impulsionar a criação do conhecimento e o processo de inovação resultantes do intercâmbio de informações e, sobretudo, da junção de competências de grupos que unem esforços na busca de metas comuns, podendo ou não haver compartilhamento de instalações. Cumprimos com tal definição, pois a Rede de Pesquisa Colaborativa tem proporcionado a execução do Projeto de forma compartilhada, buscando a interação entre pessoas e instituições para a construção das ações, metodologias e atividades futuras. O Projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Comisión Sectorial de Investigación Científica (CSIC-Uruguai). Conta ainda com as parcerias das organizações e instituições representadas no mapa institucional da Rede de Pesquisa Colaborativa (Figura 2).

Figura 2. Mapa Institucional da Rede Colaborativa de Pesquisa do Projeto Raças de Milho da América do Sul. Fonte: arquivo InterABio.

2) Padrões de Dispersão da Diversidade Genética do Milho nas Terras Baixas da América do Sul O conhecimento sobre a diversidade e estrutura genética de populações cultivadas é fundamental para entender a história evolutiva destas populações ao longo do processo de domesticação e dispersão. A dispersão do milho para diferentes regiões permitiu o surgimento de centros de diversificação da espécie. Além disso, promoveu modificações genéticas para 51


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melhor adaptação às condições ecológicas, agronômicas e aspectos culturais das populações humanas que o cultivavam. A região das terras baixas da América do Sul é considerada centro secundário de diversidade do milho. O objetivo deste projeto é estudar os padrões de dispersão da diversidade genética do milho nas terras baixas da América do Sul, por meio de dados de genômica populacional, localização geográfica de amostras de milho e registros históricos, que poderão elucidar a história do germoplasma da região, orientar futuras prospecções, esforços de preservação/conservação e valoração dos recursos genéticos. As hipóteses das rotas de dispersão do milho propostas pelo presente estudo estão associadas à expansão Arawak (a partir de 5.000 anos AP) e à migração Tupi (a partir de 2.000 anos AP). A partir de um ponto originário no Oeste Amazônico (Figuras 3 e 4) surgiram diferentes rotas migratórias que se dispersaram no Brasil, em diferentes épocas: i) inicialmente, ocorreu uma dispersão, mais antiga, direcionada à região Norte da Amazônia; ii) em seguida, ao Sul do país e que caminhou em direção à região litorânea avançando pela costa no sentido Sul-Norte; iii) e por último, em uma rota mais recente, à região central do país.

Figura 3. Expansão Arawak nas terras baixas da América do Sul. Fonte: Walker e Ribeiro, 2011.

Com base nos resultados, além de propor novas hipóteses de dispersão do milho nas terras baixas da América do Sul, serão identificados micro-centros de diversidade do milho e detectados genes candidatos à seleção, por meio da identificação de locos que apresentam assinaturas de seleção. A comparação dos dados obtidos neste projeto com dados moleculares obtidos de milho arqueológico poderá trazer informações muito úteis para o estudo da dispersão do milho nas terras baixas da América do Sul. O projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e conta as parcerias dos pesquisadores Charles Roland Clement (INPA), Elizabeth Ann Veasey (USP, ESALQ), Fábio de Oliveira Freitas (Embrapa, Cenargen), Flaviane Malaquias Costa 52


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(USP, ESALQ), Logan Kistler (National Museum of Natural History, Smithsonian Institute – Estados Unidos), Maria Imaculada Zucchi (Pólo APTA Centro Sul e UNICAMP), Magdalena Vaio (Udelar/Fagro – Uruguai), Natalia Almeida (USP, ESALQ), Rafael Vidal (Udelar/Fagro – Uruguai), Roberto Fritsche-Neto (USP, ESALQ), Robin Allaby (University of Warwick – Inglaterra); e o apoio técnico laboratorial de Marcos Cella (USP, ESALQ).

Figura 4. Coleta de milho e entrevistas foram realizadas em comunidades ribeirinhas, no Rio Ouro Preto, em Rondônia, região candidata a origem das rotas migratórias do milho nas terras baixas da América do Sul. Fonte: Arquivo InterABio.

Outras atividades e parcerias A construção de uma Rede de Pesquisa Colaborativa traz consigo a oportunidade de participar e contribuir em atividades e projetos de outros grupos, como: o projeto Siembro mi merenda do Programa Huertas en Centros Educativos organizado pela Udelar com atuação em mais de 40 escolas, o Jornadas Regionales da Red de Semillas Criollas y Nativas do Uruguai, as Feiras de Sementes Nativas e Crioulas e de Produtos Agroecológicos do município de Juti, no Mato Grosso do Sul, com o oferecimento de oficinas sobre agrobiodiversidade. Inclui também o apoio ao projeto Bem Viverde em Família para o estabelecimento e manutenção de uma horta comunitária, a qual envolve as crianças da escola e os membros da comunidade, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais.

3)

Destacamos que no início deste ano de 2018 o InterABio ministrou a disciplina denominada Manejo, Uso y Conservación de Agrobiodiversidad no Programa de Pós-graduação em Ciências Agrarias, na Fagro-Udelar. O conteúdo da disciplina vai desde as origens das agriculturas até metodologias participativas voltadas para a conservação, manejo e uso da agrobiodiversidade. A segunda edição será realizada no segundo semestre no Centro Universitário Regional Este da Universidad de la Republica (CURE-Udelar), no departamento de Rocha, Uruguai. Conclusão O caminho até o momento percorrido pelo Grupo permitiu efetivar uma Rede de trabalho, de troca de experiências e de conhecimentos em torno da temática da agrobiodiversidade. Tal rede internacional de pesquisa construída desde a prática tem tido um resultado muito além do esperado. 53


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Para o futuro temos os desafios de desenvolver o potencial e promover o crescimento da Rede e expandir as áreas de pesquisa para outros gêneros e espécies. Para conhecer mais sobre os Projetos do InterABio visite o sítio eletrônico: https://interabiogrupo.wixsite.com/interabio. Referências bibliográficas BRIEGER, F.G., GURGEL, J.T.A., PATERNIANI, E., BLUMENSCHEIN, A., ALLEONI, M.R. (1958). Races of maize in Brazil and other eastern South American countries. Pub. 953. NAS-NRC, Washington, D.C. PATERNIANI, E., GOODMAN, M.M. (1997). Races of maize in Brazil and adjacent areas. 1st ed. Mexico: CIMMYT. SERRATOS, H. J. A. (2009). El origen y la diversidad del maíz en el continente americano. Greenpeace. Ciudad de México, México. WALKER, R.S., RIBEIRO, L.A. (2011). Bayesian phylogeography of the Arawak expansion in lowland South America. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences 278(1718), 2562–2567.

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III - Expresse a sua opinião 1. Porque devemos repensar a documentação e informatização do “Sistema de Intercâmbio de Germoplasma Vegetal” no Brasil?

Renato Ferraz de Arruda Veiga PqC VI, Dr., aposentado pelo IAC, Diretor Administrativo da Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag), Diretor Técnico e de Divulgação da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos (SBRG) e Editor Chefe da Revista RG News.

A razão A visão de um aposentado, como eu, pode ser um tanto míope em relação à dos demais colegas da ativa, porém, sinto-me na obrigação de externar minha opinião sobre uma área pela qual labutei por ininterruptos 32 anos, até 2013, a qual acompanho ainda embora à distância. Conceitualização Em primeiro lugar quero aqui definir o que considero ser a área de Intercâmbio de Germoplasma Vegetal: “Para mim é a área básica de Recursos Genéticos Vegetais que efetiva integradamente a introdução, a quarentena, a aclimatação, o trânsito interno e a remessa de germoplasma”. Portanto, posto o conceito acima, tratase de uma área essencial ao manejo de recursos genéticos vegetais, bem como à segurança alimentar do país.

Figura 1. Vista aérea do Quarentenário do IAC, em Campinas - SP.

Alguns colegas vão dizer que tal conceitualização acima é absurda, já que consideram que a quarentena se refere apenas ao processo posterior à importação e anterior à exportação e que, portanto, estas devem ser atividades independentes. No entanto, para mim, este pensamento não passa de um ledo engano, pois a quarentena é uma das atividades essenciais do intercâmbio de germoplasma, sem a qual este trabalho torna-se desintegrado e de alto risco, tanto na importação, no transito interno, como na exportação e, foi exatamente por isto que elaborei este texto!

Há, também, uma corrente de pensamentos onde se considera que não há necessidade do país de investir na atividade de quarentena de exportação, isto é, na segurança fitossanitária do germoplasma que sai de nosso território durante a atividade oficial de exportação. Fica muito cômodo dizer que o país importador é que tem a responsabilidade de se preocupar com a 55


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fitossanidade na importação por ele efetivada, se isentando assim da responsabilidade enquanto exportador, porém, a verdade é que qualquer pequeno erro fitossanitário, na exportação de plantas, pode provocar terríveis reflexos na confiabilidade à nossa agricultura. Visto isto, considero que temos sim que repensar a estrutura de todo o sistema de intercâmbio na área científica, em busca de uma maior funcionalidade em prol de uma segurança fitossanitária nacional mais efetiva. Espero que entendam que não efetuo aqui uma crítica aos trabalhos dos órgãos citados neste texto, como CDA (Coordenadoria de Defesa Agropecuária do estado de São Paulo), ou à ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária), entre outras, e muito menos às Estações Quarentenárias, que tanto contribuem para a agricultura e pecuária Figura 2. Edifícios onde se encontra a CDA no aeroporto de brasileira, coloco aqui apenas uma Viracopos, em Campinas - SP. proposta de repensar uma reorganização do sistema nacional de intercâmbio! Não consigo compactuar com um sistema divorciado entre introdução, transito interno, aclimatação, exportação e quarentena, como o que ocorre hoje no País, em especial na área vegetal. Vejam que nenhuma das Estações Quarentenárias do Brasil (Tabela 1), credenciadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) realiza a quarentena de exportação, ou estou enganado? Ao menos na área vegetal sei que é assim, mesmo tendo excelentes especialistas e laboratórios. O MAPA credencia laboratórios regionais para as finalidades de inspeção de quarentena para exportação. Como exemplo para a área vegetal, cito o Laboratório do Instituto Biológico (Centro Experimental Central, Fazenda Mato Dentro, na Alameda dos Vidoeiros, 1097 - Gramado, Campinas – SP), que prossegue ativamente e com qualidade, neste trabalho de detecção de pragas, definição de sua taxonomia, e limpeza sanitária, emitindo os Certificados Fiscal de Origem e o Consolidado, faz muitos anos. Tabela 1 – Estações Quarentenárias do Brasil, credenciadas pelo MAPA, em 23/05/2016. ESTAÇÕES CREDENCIADAS PARA VEGETAIS NOME

INSTITUIÇÃO

CLASSIFICAÇÃO/CIDADE

Estação Quarentenária do CENARGEN

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Nível 1/Brasília – DF

Complexo Quarentenário IAC “Emílio Bruno Germek”

Instituto Agronômico de Campinas

Nível 1/Campinas - SP

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Estação Quarentenária de cacau

CEPEC – CEPLAC

Nível 2/Salvador - BA

Estação Quarentenária de culturas diversas

Nidera Semenes Ltda.

Nível 2/Uberlândia - MG

Estação Quarentenária de culturas diversas

Syngenta Seeds Ltda.

Nível 2/ Aracati - CE

Estação Quarentenária de Uberlândia

Monsanto do Brasil Ltda.

Nível 2/ Uberlândia - MG

Estação Quarentenária para milho, soja e sorgo

Dupont do Brasil S.A., Divisão Pioneer Seeds Ltda.

Nível 2/ Tocantins - TO

SGS do Brasil Ltda.

Nível 2/ Piracicaba - SP

Estação Quarentenária de culturas diversas Estação Quarentenária de soja

Monsoy Ltda.

Nível 3/ Morrinhos - GO

ESTAÇÃO QUARENTENÁRIA DE ORGANISMOS ÚTEIS NOME

INSTITUIÇÃO

CLASSIFICAÇÃO/CIDADE

Estação Quarentenária de organismos úteis para o

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Nível 1/Jaguariúna – SP

controle biológico de pragas e outros ESTAÇÃO QUARENTENÁRIA DE ANIMAIS NOME

INSTITUIÇÃO

CLASSIFICAÇÃO/CIDADE

Estação Quarentenária de animais

MAPA

Nível 1 / Cananéia - SP

Já na atividade de controle fitossanitário no trânsito interno, por exemplo, a Permissão de Trânsito de Vegetal (PTV) no estado de São Paulo é fornecida pela Coordenadoria da Defesa Agropecuária, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, localizada em Campinas – SP, na Av. Brasil, no. 2340, junto à CATI. Os pedidos de autorização de importação e de liberação de vegetais e partes de vegetais, destinados à multiplicação, serão dirigidos diretamente pelo interessado, à Superintendência Federal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de São Paulo (Rua Treze de Maio, 1558, Bela Vista CEP: 01.327-002 – São Paulo – SP). Uma vez autorizada a importação (a documentação pode ser encaminhada pela CDA para Brasília, em determinados casos), a Superintendência Federal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de São Paulo, através dos seus pontos de entrada (no nosso caso, o aeroporto de Viracopos, ou correios de Campinas), prescreve, se necessário, a quarentena do material importado e encaminha a documentação ao Centro de Defesa Sanitária Vegetal /Coordenadoria de Defesa Agropecuária – CDA (Av. Brasil, 2340, 57


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Campinas - SP), que por sua vez encaminhará ao Escritório Regional da CDA onde se encontra a propriedade que vai receber o material importado (no nosso caso, o mesmo endereço). No caso da exportação, o Certificado Fitossanitário, além de poder ser emitido no ato da inspeção, em São Paulo, também pode ser emitido pelo escritório da CDA, no Aeroporto de Campinas. Enfim, utilizando os exemplos anteriormente citados para Campinas - SP, onde temos funcionando oficialmente todas as atividades de intercâmbio (introdução/quarentena, trânsito interno, aclimatação e quarentena/exportação), não há integração das informações entre as diversas instituições, podendo-se supor que “inexistem trabalhos conjuntos na área”! Portanto, Figura 3. Imagem de edifício do Instituto Biológico no quesito documentação e informatização não há na Fazenda Mato Dentro, em Campinas - SP. integração dos dados estaduais, quanto mais numa perspectiva nacional, o que considero uma falha que potencializa a ocorrência de erros, e inviabiliza, em parte, o seu acompanhamento e, consequentemente incrementa o risco fitossanitário, o que pode ser um “calcanhar de Aquiles” para a agricultura brasileira, e inclusive para os nossos recursos genéticos nativos, não se esquecendo que somos o país de maior megabiodiversidade do planeta. O que hoje parece ser algo sem relevância, pode se tornar muito importante ao futuro da agricultura brasileira “o celeiro do mundo”, em especial se houver a quebra de um dos elos desta corrente de atividades do intercâmbio de germoplasma, principalmente pela forma estanque como vem sendo tratada pelo País. Conclusões 1. Há necessidade de integração das informações, das mais diversas instituições envolvidas (Laboratórios Quarentenários, Laboratórios Credenciados, CDA), que tratam do trânsito dos recursos genéticos introduzidos no Brasil, desde a sua solicitação, a chegada, a inspeção, a circulação interna no país, bem como da remessa de germoplasma vegetal para outros países; 2. Sugere-se ao MAPA um estudo profundo do tema intercâmbio de germoplasma vislumbrando a integração nos procedimentos das instituições envolvidas, a fim de integrar nacionalmente a introdução, quarentena, trânsito interno, e exportação de recursos genéticos vegetais, em especial nos quesitos documentação e informatização, para fins científicos. Referências VEIGA, R.F.A. & QUEIRÓZ, M.A. (eds.) Recursos Genéticos: a base da agricultura sustentável no Brasil. Viçosa, MG. Ed. UFV, 496pg., 2015. MAPA. Lista de Estações Credenciadas, de 23/05/2016. In: http://www.agricultura. gov.br/assuntos/sanidadeanimal-e-vegetal/sanidade-vegetal/arquivos-quarentena/lista-de-estacoes-das-quarentenariascredenciadas.pdf/view. Obtida em: 25/06/2017.

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2. Publicação de resultados na área de recursos genéticos vegetais na visão da Revista Caatinga Aurélio Paes Barros Júnior Eng. Agr. (2001) pela Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM), atual Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Me. (2004) pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Dr. (2008) em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/FCAV), em Jaboticabal-SP, Pós-Doc. (2009) em Agronomia/Fitotecnia pela UFERSA. Atualmente é Professor Associado I e Professor e Orientador da Pós-graduação em Fitotecnia da UFERSA. Editor Chefe da Revista Caatinga desde 2014 e Bolsista de Produtividade do Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNPq) nível 2. Áreas de experiência: Fisiologia de Plantas Cultivadas e Estatística Experimental, nos temas: manejo e produção, irrigação, nutrição e adubação, sistemas consorciados, cultivo de plantas alimentícias e industriais e recursos genéticos vegetais.

Contextualização Uma máxima que se aprende basicamente desde o momento que se é inserido em um programa de iniciação científica ou no primeiro dia aula em uma pós-graduação, independente da área ao qual se está dedicando, se refere à moeda que realmente tem valor no meio científico. Trabalhos de qualidade, pesquisas bem elaboradas e executadas com primazia são esperadas. Contudo, seu verdadeiro valor será atribuído pelo número de publicações que resultarão do trabalho desenvolvido. Além do número de publicações, a qualidade dos periódicos que aceitam ser veículo de divulgação desses resultados também terá sua cota de peso na hora de atribuir valor a essa moeda. Dessa forma, fazem-se necessários alguns questionamentos: o que é um periódico de qualidade? Que parâmetros são considerados para ranquear esses periódicos? Como saber se um trabalho está à altura desse periódico? Por que trabalhos desenvolvidos em determinadas áreas tem mais facilidade de serem publicados que outros? É sabido que para toda regra existem exceções, de modo que as respostas aqui apresentadas e discutidas refletem a opinião do editor de um periódico específico, sendo que outros editores podem ter argumentos diferentes, bem como vivenciarem outra realidade. Por outro lado, é possível que as resposta para as duas primeiras perguntas sejam as mesmas para a maioria destes. Assim, respondendo ao primeiro questionamento, um periódico de qualidade é aquele com indexação nas principais bases de dados nacionais e internacionais, como SciELO, SCOPUS; ISI Web of Knowledge e REDALYC entre outras. Considerando a segunda questão apresentada, para ranquear um periódico científico leva-se em consideração dois critérios: o qualis, que é o conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES para estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação e o fator de impacto, que é calculado com base no número de citações que um artigo recebe em determinado intervalo de tempo no qual é avaliado. Vale salientar que para o qualis, existem comitês que são formados para áreas distintas do 59


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conhecimento, podendo estabelecer critérios próprios. Dessa forma, um mesmo periódico pode apresentar qualis diferentes quando consideradas áreas distintas. Para o terceiro e quarto questionamentos bucar-se-á trabalhar as respostas de forma conjunta. Como saber se um trabalho está à altura desse periódico? Com base nos pontos abordados nas respostas anteriores, para um trabalho se encaixar nas exigências de um determinado periódico, basta que consiga contribuir para que o mesmo melhore em qualidade e atinja a melhor posição em ranqueamento, ou que consiga manter a já conquistada. Isso leva a resposta para a última pergunta. Por que trabalhos desenvolvidos em determinadas áreas tem mais facilidade de serem publicados que outros? Não é possível atribuir um valor a um determinado resultado de pesquisa que possa classificá-lo qualitativamente em relação a outro. Cada pesquisa tem sua importância relativa para a sua área de estudo. Contudo, existem pesquisas que apresentam maior apelo junto à comunidade científica. Seja por motivos de apresentar metodologias e tecnologias inovadoras ou simplesmente por tratar de um assunto novo que desperta curiosidade. Assim, pode-se inferir que a importância real de um artigo científico vem sendo substituída pela sua importância relativa, ou seja, o artigo passa a ser avaliado pelo editor, não apenas pela importância dos resultados apresentados, mas também e às vezes principalmente, pela possibilidade do mesmo ser citado por outros autores. Para ilustrar as ideias aqui apresentadas, será utilizada a publicação de resultados na área de recursos genéticos vegetais na Revista Caatinga. A Revista Caatinga é uma publicação científica que apresenta periodicidade trimestral, publicada pela Pró-Reitoria de Pesquisa e PósGraduação da Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA, desde 1976. Já publicou 30 volumes com mais de 1500 artigos, sendo que a partir de 2016 as publicações são obrigatoriamente em inglês. A revista recebe anualmente cerca de 600 publicações, sendo que apenas 30 % chegam a fase final de aprovação. Em 2017 seu qualis foi B1 para Ciências Agrárias I e o fator impacto 0,267. Nos últimos 10 anos, o periódico publicou cerca de 900 artigos. Destes, 85 (10 %) artigos com temas relacionados a melhoramento vegetal e 30 (3%) artigos com temas relacionados a recursos genéticos vegetais (RGV), sendo que 50% foi publicado no período de 2015 a 2017. Que fatores podem ser apontados como responsáveis por esse aumento nas publicações de RGV no periódico? O número de artigos submetidos antes de 2015 era menor ou aqueles submetidos após 2015 apresentavam melhor qualidade? Na opinião do editor nenhuma das alternativas, sendo que a responsabilidade pelo aumento das publicações com resultados de estudos com RGV é atribuída aos editores de área. Embora o tema Recursos Genéticos Vegetais venha sendo discutido há bastante tempo na esfera acadêmica, ainda existe certa resistência em separá-lo do tema melhoramento vegetal. Esse fato leva a muitas perguntas que precisam ser respondidas por especialistas para que se possa realmente entender a real importância dos recursos genéticos vegetais. Por exemplo, uma pergunta bastante reincidente é “o que são recursos genéticos?”, ou “qual a diferença entre Melhoramento Vegetal e Recursos Genéticos Vegetais”? Isso ratifica a justificativa do editor para o aumento das publicações em RVG no período de 2015 a 2017, uma vez que nesse período 60


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a revista passou a ter em seu quadro de editores de área, duas colaboradoras que trabalham com RGV. Exceção feita a poucos periódicos, na área de agrárias, a maioria é dirigida por profissionais voluntários e que não recebem remuneração para o desempenho da função. Assim, precisam conciliar a condução do periódico com suas atividades acadêmicas. Para conduzir o periódico também precisa contar com trabalho voluntário para avaliar os trabalhos que são submetidos. Por mais qualificado que seja um profissional é difícil ou até impossível que tenha conhecimento que possibilite avaliar artigos que contemple todas as subáreas do conhecimento que se encaixam na área de agrárias. Isso reforça a importância do envolvimento dos parceiros que atuam em áreas específicas como os RGV´s. Enquanto em áreas como manejo cultural, engenharia agrícola e melhoramento de plantas, um artigo leva cerca de seis meses em média para completar a tramitação, na área de RGV esse tempo médio ultrapassa 12 meses. Se for considerado o número de pesquisadores que trabalham com RGV, mesmo apenas os que submetem artigos na Caatinga, não é um grupo pequeno. Contudo, na maioria das vezes quando se solicita a avaliação de um artigo, a resposta é “não disponível para avaliação”. Na falta de revisores especialistas em RGV, em alguns casos o trabalho é avaliado por um melhorista, o que quase sempre resulta em reprovação do trabalho. De maneira alguma se está afirmando aqui que existe discriminação por parte dos melhoristas com relação aos RGV’s. O que se está afirmando é que para um especialista no assunto se torna mais evidente a importância do trabalho, bem como indicar a melhor forma de apresentar esses resultados. Só um especialista pode indicar aos autores uma forma de tornar a apresentação dos dados mais atraente para a comunidade científica, o que reforça a necessidade de maior colaboração por parte dos pesquisadores de RGV com os periódicos científicos. Considerando o universo de revistas com possibilidade de se publicar resultados de pesquisas com os RGV´s no Brasil, uma possibilidade seria uma interação entre Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos e os editores-chefe de alguns periódicos científicos nacionais selecionados. Assim poderia-se examinar qual o posicionamento dos editores quanto a essas questões da falta de atratividade dos trabalhos com as pesquisas com os recursos genéticos. É provável, que se algumas revistas considerarem essa questão, poderão citar trabalhos de outras e assim, existe aumentando possibilidade de colaboração mútua. Ressalta-se que se apenas um periódico isoladamente entender a importância da publicação de trabalhos sobre RGV não é suficiente, já que é necessário que os artigos sejam citados pelos demais periódicos indexados ISI Web of Knowledgen. Consequentemente, entrando na matriz do cálculo do fator de impacto. Outra possibilidade para o fortalecimento de publicações de pesquisas de RGV’s seria a criação de um periódico de recursos genéticos por parte da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos, que poderia ser ferramenta para suporte e divulgação das pesquisas da área, bem como fonte de citações para os demais periódicos científicos, aumentando a visibilidade das pesquisas sobre RGV’s. Vale salientar que existem pesquisadores que trabalham com RGV e alegam que tem dificuldade para publicar seus resultados, enquanto outros afirmam que conseguem publicar com facilidade e em periódicos bem conceituados. Porém, é fácil perceber que essa facilidade de 61


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publicação de artigos por parte de alguns pesquisadores, em muitos dos casos, se deve a importância da cultura no aspecto econômico no contexto do agronegócio atual e do uso de novas ferramentas de pesquisas, que incrementam os estudos. No caso de culturas com pouca expressão atual ou trabalhos preliminares de caracterização de germoplasma, dificilmente, recebem seu devido reconhecimento por parte da grande comunidade científica, que no caso reflete aos editores científicos. Essa realidade conduz para outra questão. Mesmo que se consiga um aumento na colaboração dos pares para com os periódicos científicos, é necessário que outros pontos sejam considerados para melhorar ou incentivar as publicações em RGV. Entre as principais justificativas que os revisores ad hoc elencam para indicar a reprovação de um artigo na Caatinga estão: “dados muito preliminares” e “cultura sem expressão econômica” além de “artigo com poucas possibilidades de citação”. Bem, conforme abordado no inicio desse texto, o editor da revista precisa considerar essas justificativas porque a decisão dele pode fazer a diferença na hora do periódico ser avaliado. Destaca-se que essa mudança de postura, está diretamente ligada a participação da comunidade RGV, já que a grande maioria não participa do processo de publicação dos periódicos científicos (revisão, editoração e citação dos próprios artigos em outros periódicos científicos). As justificativas apresentadas pelos revisores para não publicar esses artigos são passíveis de serem contornadas. Mais uma vez, na opinião do editor, se os resultados são preliminares, cabe aos autores apresentarem-nos de forma que fique clara a importância desse estudo preliminar. Se a cultura não tem expressão econômica hoje e há pequena possibilidade de aceitação, os autores podem citá-los em suas publicações futuras, atraindo a atenção para o mesmo e, assim, por diante. Assim, torna-se evidente a necessidade da interação entre a comunidade científica dedicada aos estudos dos recursos genéticos vegetais e os periódicos científicos que tem potencial para publicação desses resultados. Mais importante ainda, que essa interação ocorra não apenas no momento em que o pesquisador precisa submeter seus resultados para publicação, mas também nos momentos em que os periódicos necessitam de colaboração.

Figura 1. Site da Revista Caatinga - UFERSA, em https://periodicos.ufersa.edu.br/

Conclusões ➢ É necessária uma maior interação entre a comunidade de Recursos Genéticos vegetais e os periódicos científicos nacionais;

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➢ A participação dos autores que trabalham com RGV’s nos periódicos não deve ficar restrita a publicação da sua pesquisa; ➢ A implantação de ferramentas científicas atualizadas resultará em maior possibilidade de publicação dos resultados, mesmo em caso de culturas com pouca expressão econômica atual; ➢ A criação de uma revista científica na área de recursos genéticos pela Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos poderia fortalecer a comunidade RGV’s.

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IV – Entrevistados da vez Entrevista - Área vegetal

Por: Cláudia Martins Eng.Agr.pela Universidade de Lisboa, Portugal, Me. e Doutoranda em Ecologia Aplicada, pela ESALQ/USP.

Kyria Bortoleti Caatinga e Recursos genéticos: o estado atual de conservação

Bacharelado em Ciências Biológicas, Me. e Dr. em Genética obtidos pela Universidade Federal de Pernambuco. Atualmente, Kyria Bortoleti atua como Professora Adjunta do Colegiado de Ciências Biológicas na Universidade Federal do Vale São Francisco (UNIVASF), sendo líder do Grupo de Estudos em Mutagênese, Citogenética e Genética Molecular do Semiárido Nordestino.

1 – Professora Kyria, primeiramente agradecemos a sua disponibilidade. Seu nome está ligado a um dos biomas mais importantes e vulneráveis do Brasil: a Caatinga. Diga-nos como ele se encontra atualmente no quesito preservação. Quais são as áreas que considera mais importantes para o bioma, e que papel tem tido as áreas públicas e privadas na sua preservação? Mesmo com as atuais áreas de preservação, como se chegou a uma extensão de desmatamento de 46% neste bioma? Resposta:

A Caatinga é formada por um mosaico de arbustos espinhosos e de florestas sazonalmente secas, apresentando elevada diversidade quanto a sua fauna e flora. É um bioma genuinamente brasileiro e, mesmo assim, é pouco preservado, contendo aproximadamente cerca de 1,4% de Unidades de Conservação (UC) com prioridade integral. Tais UCs apresentam relevância para garantia da preservação das espécies que vivem na região, as quais podem sobreviver apenas em seu habitat original. A Caatinga abriga poucas UCs, a exemplo da Reserva Biológica de Serra Negra (PE), Parque Nacional do Catimbau (PE), Parque Nacional da Serra da Capivara (PI), Parque Nacional da Serra das Confusões (PI), Parque Nacional da Chapada Diamantina (BA), entre outras, as quais requerem o desenvolvimento de um maior número de pesquisas científicas, bem como o investimento dos setores públicos e/ou privados, o qual é notoriamente escasso. A falta de investimento nessas unidades reflete em problemas relacionados ao bom funcionamento e manutenção, assim como ao manejo e fiscalização dessas áreas. Sabe-se que 64


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para preservar é importante conhecer a história natural, realizar inventários, estudos demográficos e o manejo adequado, ações muitas vezes não desenvolvidas nas UCs acima citadas. Por outro lado, a ausência de fiscalização promove o aumento do desmatamento, queimadas criminosas (muitas vezes voltadas para o pasto de gados), a caça dos animais ameaçados de extinção e, consequentemente, o aumento da desertificação da caatinga, o qual tem sido algo crescente e bastante preocupante. Associadamente, poucas unidades apresentam plano de manejo, sendo mais uma causa do desmatamento observado neste bioma rico e importante para o país. 2 - Ainda existe um não reconhecimento consensual da parte do público e até de muitos colegas pesquisadores da Caatinga como sendo uma floresta. Como você acha que isso tem contribuído para a perda de recursos naturais no bioma? Acredita que tem afetado o nível de investimento (ou desinvestimento) em favor da ciência e da preservação, tanto em termos financeiros quanto legais e humanos? Resposta:

Por muito tempo, a fitofisionomia da Caatinga foi associada a ausência de biodiversidade pela comunidade em geral, menosprezando-se o potencial deste bioma. Suponho que a escassez de conhecimento científico, bem como as dificuldades encontradas na transposição deste conhecimento para a população, tem levado a uma exploração não sustentável e, consequentemente, a perda dos recursos naturais da Caatinga e, quiçá, a extinção de espécies da flora e fauna, sem serem ao menos descritas, conforme discutido pela comunidade científica. Nos últimos anos, a perda de recursos naturais pode ser exemplificada pela situação da carnaúba (Copernicia prunifera (Miller) H.E.Moore), uma árvore que apresenta grande importância ecológica, uma vez que, além de ser utilizada como indicadora ambiental, serve de abrigo para os morcegos, grandes dispersores de sementes; entretanto, esta tem sofrido com o extrativismo vegetal. Uma prática comum na região é a queimada destas árvores para evitar a presença de serpentes pela população, diminuindo assim a sua abundância e, consequentemente, afetando o papel ecológico dos morcegos na área. Embora lentamente, o aumento do interesse científico na Caatinga tem sido modificado, acumulando esforços para o conhecimento e preservação da biodiversidade existente. Não é à toa que novas espécies têm sido descritas, embora algumas já com o status de ameaçadas de extinção; novos registros têm sido publicados, aumentando a distribuição geográfica, bem como alterando positiva e/ou negativamente o status de preservação de certas espécies; estudos genético-populacionais têm sido realizados visando o conhecimento da estrutura e diversidade genética das espécies em níveis intra e interpopulacionais, por exemplo. Entretanto, associado a escassez de investimento dos setores públicos e privados, a falta de planos de manejo, manutenção e fiscalização adequados das UCs, conforme citado anteriormente, outro grande entrave é o não reconhecimento consensual da sociedade. Em termos legais, existem muitas normas para se cumprir dentro de uma UC, seja ela de uso integral ou sustentável, as quais devem levar em consideração o conhecimento dos recursos oferecidos e estimular práticas compatíveis com a realidade da Caatinga; mas, na prática, em algumas situações, as populações que vivem no entorno ou dentro de uma UC não exercem as atividades sustentáveis propostas pelo programa implantado na região, levando a grandes perdas deste bioma.

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Figura 1. Manejo tradicional de caprinos na Caatinga (soltura pela manhã, para pastoreio) - Lagoa do Mari, município de Sento Sé, Bahia (Crédito da foto: Cláudia Martins).

3 - A partir de seu trabalho, de seu grupo de pesquisa e do trabalho de outros pesquisadores, que importantes recursos genéticos têm sido identificados nos últimos anos na Caatinga? Existem espécies vulneráveis ou no caminho da extinção neste bioma? Resposta:

A Caatinga apresenta características próprias, como os longos períodos de seca, sendo notável a presença de diferenças morfológicas, fisiológicas e genéticas em representantes da fauna e flora, como estratégia de sobrevivência nesse ambiente. Paralelamente, tem sofrido com a influência antrópica ocasionando, por exemplo, a fragmentação de habitats acarretando diretamente o declínio populacional de algumas espécies, tornando-as ameaçadas a extinção, como a espécie endêmica Kerodon rupestris Wied-Neuwied (Caviidae), conhecido popularmente como mocó, e representantes do gênero Discocactus Pfeiff. (Cactaceae). Tal situação evidencia a importância do estabelecimento de programas de conservação, sendo essencial o conhecimento do patrimônio genético dessas espécies, destacando-se o uso das análises genéticas, em nível molecular e citogenético, para elucidar aspectos da biologia da espécie relevantes para seu manejo e preservação, objeto de estudo da genética da conservação. Dentre essas análises, os estudos citogenéticos têm sido aplicados na resolução de incertezas taxonômicas, identificando espécies crípticas e sinonímias, na definição de unidades de manejo dentro das espécies, na delimitação de espécies simpátricas e/ou alopátricas, entre outras. Nesta vertente, nosso grupo de pesquisa, Grupo de Estudos em Mutagênese, Citogenética e Genética Molecular do Semiárido Nordestino, tem desenvolvido análises citogenéticas em mamíferos ocorrentes na Caatinga, a exemplo de roedores e carnívoros. Em um dos trabalhos, um estudo citogenético populacional com a espécie K. rupestris, cuja ocorrência está associada a afloramento rochosos e apresenta-se em status de vulnerabilidade de extinção devido à intensa atividade de caça e perda de habitat, está em fase de publicação. Indivíduos pertencentes a populações de Salgueiro (PE) e Floresta (PE) foram analisados quanto ao número cromossômico diploide, à morfologia cromossômica e distribuição da heterocromatina constitutiva, principalmente, em comparação a outras populações ocorrentes no Nordeste brasileiro. Os dados podem indicar que as populações estudadas estão sofrendo processos de diferenciação genética, provavelmente, relacionados à sua distribuição 66


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fragmentada pela destruição dos ambientes rochosos, enfatizando que programas conservacionistas já são necessários para tal espécie.

Figura 2. Novos currais do Programa Amigos da Onça, parceria com © Tetra Pak - mudança de manejo para redução da predação e dos conflitos com onças - Queixo Dantas, município de Campo Formoso, Bahia (Crédito da foto: Programa Amigos da Onça).

Outro projeto em desenvolvimento envolve uma análise da descrição cariotípica de representantes da ordem Carnivora coletados na Caatinga. Embora vários estudos tenham reportado o uso da citogenética em trabalhos sobre evolução cariotípica e filogenia na ordem Carnivora, em relação às espécies com distribuição no Brasil, estudos são escassos sobre caracterização cromossômica, incluindo espécies que ainda não foram sequer descritos os cariótipos, a exemplo de Conepatus semistriatus Boddaert (gambá). Assim, está em andamento uma análise citogenética descritiva em representantes das espécies Puma yagouaroundi Geoffroy (gato mourisco), Cerdocyon thous L. (cachorro do mato) e C. semistriatus L.. Desta forma, em termos gerais, nossos trabalhos têm contribuindo para a realização de comparações interpopulacionais, assim como para adicionar dados cromossômicos à literatura, fornecendo subsídios para o conhecimento e a preservação/conservação da biodiversidade na Caatinga. 4 – Dra. Kyria, existem herbários na cidade de Petrolina que sejam acessíveis à população em geral? Qual tem sido o papel destes herbários na identificação das espécies, na preservação da biodiversidade local e na popularização da ciência? Resposta: Sim. Existem dois herbários na cidade de Petrolina, o Herbário do Trópico Semiárido (HTSA) e o Herbário Vale do São Francisco (HVASF) localizados na Embrapa Semiárido e Universidade Federal do Vale do São Francisco, respectivamente. O HTSA foi fundado em 1983 e, em 2008, foi integrado ao “Herbário Virtual de Plantas e Fungos de Pernambuco: uma proposta integradora”, coordenado pela Universidade Federal de Pernambuco. Até 2015, o acervo do HTSA contava com cerca de 7.000 exemplares de 2.000 espécies vegetais, pertencentes a 196 famílias botânicas, entre dicotiledôneas e 67


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monocotiledôneas da Caatinga. Esses materiais foram coletados em todos os Estados do Nordeste e Norte de Minas Gerais, com destaque para a Bahia e Pernambuco. Entre as famílias mais representativas estão Fabaceae (996 registros), Malvaceae (397), Euphorbiaceae (336), Asteraceae (270) e Convolvulaceae (267). Por sua vez, o HVASF foi criado em 2005 e, atualmente, o seu acervo é composto por 23.351 exsicatas representantes de 3.023 espécies e 201 famílias botânicas. Dentre estas, cerca de 94% são provenientes da Caatinga. Sua coleção é 100% informatizada e online, tendo um banco de dados próprio, chamado de Software Carolus. Em termos gerais, ambos herbários são apontados como fonte de informação científica para o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao manejo e preservação/conservação da flora do Semiárido brasileiro, assumindo um importante papel na preservação da Caatinga. Têm fornecido suporte para levantamentos botânicos, estudos voltados a prospecção, ao uso sustentável da flora regional subsidiando planos de manejo da biodiversidade vegetal da Caatinga e a biologia da conservação. Além das atividades de pesquisa da Embrapa Semiárido e UNIVASF, estes herbários atendem pesquisadores e estudante de graduação e/ou pósgraduação de diferentes universidades regionais e nacionais. Para o HVASF, as visitas podem ser agendadas no próprio site do herbário. Por fim, fazem intercâmbios de material com instituições nacionais, que englobam a permuta de duplicatas visando identificação por pesquisadores ou somente incremento no acervo. 5 - A UNIVASF tem um Museu de fauna da Caatinga. Como está sendo a popularização do conhecimento dessas espécies na região? Resposta: O Museu de Fauna da Caatinga foi criado com o intuito de desenvolver práticas de cunho socioambiental buscando preservar o ambiente em favor dos animais deste bioma. Encontra-se localizado no Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (CEMAFAUNACaatinga) da UNIVASF (Petrolina/PE). Atua por meio de visitação do público e, desde a sua criação, cerca de 13.000 visitantes foram recebidos, englobando diferentes faixas etárias e público-alvo, a exemplo de grupos de crianças, estudantes de nível fundamental, médio e superior de escolas públicas e privadas, grupos de professores de instituições públicas e privadas, pesquisadores, entre outros. O museu é aberto à visitação de terça a sexta-feira pela manhã e tarde, mediante visitas agendadas, nas quais o público tem acesso a palestras sobre educação ambiental voltados à conservação da Caatinga, a exposição de animais taxidermizados e a coleções científicas. Em termos das palestras educativas, as quais são ministradas por estagiários do CEMAFAUNA-Caatinga, são abordados temas variados, a exemplo do bioma Caatinga, animais silvestres (seus hábitos e curiosidades), animais peçonhentos (seus hábitos e curiosidades), tráfico de animais, a missão do CEMAFAUNA, entre outros. Estas são apresentadas de acordo com a faixa etária e o interesse dos visitantes. Adicionalmente, os visitantes conhecem o acervo disponível na ala de exposição do museu, incluindo animais da Caatinga taxidermizados e devidamente identificados com os respectivos nomes científicos, nomes populares e importância ecológica. Nesta área, eles também têm acesso a dispositivos tecnológicos, os totens, que mostram vídeos, fotos, mapas e conteúdos sobre o trabalho desenvolvido pelo CEMAFAUNA a favor da natureza.

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Ainda, o museu dispõe de uma coleção científica, cujo acesso é liberado mediante a autorização da curadoria para pesquisadores, envolvendo representantes da mastofauna (mamíferos), ictiofauna (peixes), entomofauna (insetos), herpetofauna (répteis) e ornitofauna (aves). Tais animais são coletados a partir da atividade de monitoramento e resgate de fauna desenvolvido pelos profissionais do CEMAFAUNA, com a autorização dos órgãos competentes, cuja finalidade é fornecer dados para conservação da fauna do semiárido do Nordeste brasileiro. 6 - O Instituto Pró-Carnívoros tem um programa de pesquisa em curso na Caatinga, no Boqueirão da Onça, que tem o objetivo de preservar as onças-pintadas e onças-pardas, consideradas como “ameaçadas”. Fale-nos um pouco sobre esse Programa e como acredita que ele pode contribuir para a sua área do conhecimento, a genética. Resposta: O Programa “Amigos da Onça: Grandes Predadores e Sociobiodiversidade na Caatinga” visa a conservação da onça-parda (Puma concolor L.) e da onça-pintada (Panthera onça L.) no bioma Caatinga, levando em consideração os conhecimentos sobre a ecologia e biologia destas espécies, estudando as dimensões humanas no conflito entre homens e onças e mapeando as áreas prioritárias para a conservação das onças na caatinga. Este tem sido desenvolvido no Boqueirão da Onça, uma área de Caatinga bem conservada e que apresenta uma riqueza de fauna e flora incontestável, motivo pelo qual foi decretada como Parque Nacional e Área de Proteção Ambiental (APA) do Boqueirão da Onça (Decretos n.º 9.336 e n.º 9.337, respectivamente, ambos de 5 de abril de 2018). Esse mosaico está situado ao norte do Parque Estadual do Morro do Chapéu (460 km²) e do Parque Nacional da Chapada Diamantina (1.520 km²), cuja proximidade permitiu a inserção destas áreas em uma proposta de criação do Corredor Ecológico Caatinga-Onças. Dois principais fatores são apontados como responsáveis pelo status de ameaçados a extinção apresentados pelas onça-pintada e onça-parda, a destruição de habitats e a caça predatória. Resumidamente, a alteração de habitats leva a redução da disponibilidade de presas, fazendo com que as onças se alimentem dos animais domésticos e, ao mesmo tempo, tornemse alvos de caça pelos seus produtores resultando na redução das populações. Desta forma, o programa em questão atua nas vertentes ecológica, social e econômica com o intuito de fornecer informações biológicas das espécies de onças citadas, subsidiar ações conservacionistas desses animais e da biodiversidade no Boqueirão da onça, bem como possibilitar uma melhoria na qualidade de vida de pequenos produtores rurais mediante a construção alternativas de geração de renda e a conscientização sobre a importância da biodiversidade. Do ponto de vista genético, acredito que o acúmulo de informações biológicas e ecológicas da onça-parda e onça-pintada contribuirá para a geração de dados sobre a identificação, a estrutura e a diversidade genética dos indivíduos presentes nesta região. Vale ressaltar que a análise e monitoramento da diversidade genética são essenciais nas populações selvagens de espécies em perigo, sendo estimada pelo uso de marcadores moleculares, como por exemplo os microssatélites, os quais avaliam os polimorfismos do DNA e inferem sobre genótipos individuais. Em termos gerais, a maioria das espécies ameaçadas apresenta uma menor diversidade genética, possivelmente por terem sofrido um declínio no tamanho populacional. No caso das onças, a perda de habitat pode ocasionar um isolamento geográfico; é fato que populações 69


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pequenas e isoladas sofrem uma endogamia acelerada, bem como a perda da diversidade genética, levando a um vigor reprodutivo reduzido e menor habilidade para evoluírem em respostas às mudanças ambientais; ou seja, aumentam o risco de extinção. Assim, a estimativa da diversidade genética é fundamental para programas de manejo na região, nos quais podem ser inclusos este dado como uma meta genética.

Figura 3. Paisagem caatingueira - Boqueirão da Onça, Bahia (Crédito da foto: Programa Amigos da Onça).

Conjuntamente a elaboração de um plano de manejo adequado e a indicação de áreas prioritárias à conservação propostas por este Programa, espero que a conscientização da comunidade sobre biodiversidade contribua para a preservação/conservação do bioma Caatinga e, consequentemente, reduza a fragmentação ambiental e populacional, a qual a depender do fluxo gênico, pode vir a ser altamente deletéria em longo prazo, uma vez que populações fragmentadas sofrem mais severamente com a estocasticidade ambiental e demográfica, catástrofes e fatores genéticos, aumentando as taxas de extinção. 7 - Sabendo que as perturbações humanas sobre o ambiente são constantes, ainda mais em situação de limiar de pobreza, como imagina que a academia pode contribuir para incluir as pessoas na gestão e na preservação da Caatinga? Resposta: A academia pode contribuir desenvolvendo ações de educação socioambiental, buscando a prática do desenvolvimento sustentável e, consequentemente, a preservação e conservação da Caatinga. É fato que o conhecimento científico e tecnológico sobre a Caatinga tem evoluído ao longo dos anos, mas, concomitantemente, enfrentamos os maiores níveis de degradação ambiental. Acredito que para reverter esse quadro, é necessário a realização de diálogo de saberes entre a universidade e a sociedade. Cabe à comunidade científica gerar os conhecimentos teóricos e práticos, os quais devem ser publicados de forma acessível à sociedade conscientizando-a da importância ecológica, 70


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social e econômica da conservação deste bioma, bem como apresentar propostas extensionistas envolvendo e convocando esta sociedade para participar ativamente destes planos de preservação/conservação, mediante a utilização de forma sustentável dos recursos da Caatinga. Estas propostas podem ser representadas pela elaboração materiais educativos e oferta de capacitações aos moradores com o intuito de exercerem o manejo sustentável, por exemplo, levando em consideração as tradições e o novo permitindo-se reformular a própria maneira de pensar e agir do ser humano. 8 - Sabe dizer-nos como evoluiu a proposta para tornar Cerrado e Caatinga Patrimônio Nacional? Que voz a academia tem tido para aumentar a participação política dos seus futuros biólogos, ecólogos, engenheiros em fóruns de decisão? E que desafios e resistências ainda enfrenta nesse sentido? Resposta: A Proposta de Emenda Constitucional que reconhece o Cerrado e a Caatinga como Patrimônio Nacional, denominada PEC 504/2010, é uma demanda histórica a qual já foi aprovada no Senado Federal e, atualmente, encontra-se no Plenário da Câmara dos Deputados para ser apreciada. É fato que o conhecimento e a exploração sustentável da biodiversidade do Cerrado e da Caatinga não podem ser negligenciados. A alta biodiversidade e o grau de devastação desses biomas (mais de 50% e 46% do Cerrado e da Caatinga, respectivamente) tornam prementes medidas de proteção para ambos, entrando em cena a obrigação do Poder Público em promover medidas necessárias que garantam a exploração sustentável desses biomas sem comprometer a manutenção de suas funções ecológicas. Neste sentido, essa Emenda Constitucional tem como objetivo consagrar a conservação do Cerrado e da Caatinga e sua importante diversidade biológica como de interesse público, assim como fundamentar a formulação de políticas governamentais em favor da adequada gestão dos recursos naturais, da preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico. Entretanto, em 2017, a PEC 504/2010 já foi incluída em ponto de pauta diversas vezes, porém não foi votada no Plenário. O descaso do poder público e a necessidade de alertar a sociedade para esses e outros impactos, incentivaram mais de 50 organizações, instituições e movimentos sociais em todo o Brasil a lançarem a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, sendo criada uma petição com o objetivo de pressionar a aprovação desta Emenda. Em minha opinião, o papel da universidade é contribuir para o fortalecimento de políticas em defesa da preservação dos biomas, embasando a formação dos futuros profissionais e instigando-os a atuarem na elaboração de propostas que conciliem as políticas de preservação destes habitats com a garantia do desenvolvimento urbano sustentável. Assim, apontaria dois principais desafios: primeiro, conscientizar a população que as práticas não sustentáveis exercidas nestes biomas são devastadoras, tornando a sua recuperação extremamente difícil, uma vez que sofre a influência de fatores biológicos, ecológicos e econômicos, como a falta de investimentos na pesquisa brasileira; segundo, enfrentar o descaso do poder público frente à situação crítica de ambos os biomas mediante o desenvolvimento de atividades sociais que discutam a importância e urgência de ações em defesa do Cerrado e da Caatinga.

Professora Kyria, em nome de toda a equipe da RG News agradecemos suas respostas e esperamos poder contribuir através desta reportagem para um maior conhecimento desse importante bioma que é a Caatinga. 71


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Entrevista - Área Micro-organismo Por: Maíra Halfen Teixeira Liberal Med.Vet.PhD Microbiology-University of Surrey, Uk (PESAGRO-RIO / CEPGM). Editora Técnica Científica Área de Micro-organismos.

Dalia dos Prazeres Rodrigues Graduada em Biologia pela Universidade Gama Filho (1974), Me. em Medicina Veterinária - Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Alimentos de Origem Animal - Universidade Federal Fluminense/UFF (1983) e Dr. em Ciências (Bacteriologia) - Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ (1993). É Pesquisadora em Saúde Pública pelo Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, ocupando os cargos de Chefe do Laboratório de Enterobactérias e Coordenadora do Laboratório de Referência Nacional de Enteroinfecções Bacterianas (CGLAB/SVS/MS). Tem experiência na área de Bacteriologia Aplicada, desenvolvendo projetos dentro das linhas de pesquisa: Etiologia das enteroinfecções bacterianas; Monitoramento e caracterização molecular da resistência antimicrobiana; Caracterização feno e genotípica dos mecanismos de patogenicidade de enteropatógenos; Animais Silvestres, Aquáticos e sua Relevância em Saúde Pública; Subtipagem de patógenos das famílias Enterobacteriaceae, Vibrionaceae e Aeromonadaceae circulantes na cadeia alimentar.

1. O Laboratório de Enterobactérias (LABENT) do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), sob sua Chefia, atua no diagnóstico laboratorial de enteropatógenos bacterianos presentes na cadeia alimentar pertencentes às famílias Enterobacteriaceae, Vibrionaceae, Aeromonadaceae e Staphylococcaceae. Qual é o principal objetivo do Laboratório, e que estratégia técnica tem sido adotada para a interação com o Setor Agropecuário e Industrial, responsáveis pela produção e comercialização dos alimentos? Resposta: O Laboratório de Enterobactérias do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) tem como objetivo principal a avaliação de enteropatógenos bacterianos ocorrentes na cadeia alimentar. Atua, assim, no reconhecimento do papel destes organismos como agentes etiológicos em diferentes nosologias, realizando a caracterização das espécies circulantes, veiculação nos ecossistemas relacionados, determinação dos diferentes fatores de virulência, monitoramento e caracterização de sua resistência antimicrobiana e utilização de diferentes métodos de subtipagem que permitam, através da manutenção da totalidade de informações, o reconhecimento quanto a introdução de cepas com características emergentes e/ou exóticas. Em seu conjunto, estas atividades são relevantes para a saúde pública e sanidade animal, por permitirem ofertar subsídios a ser adotados na prevenção e controle destes patógenos. Segundo a OMS (2016), é estimado que 600 milhões - quase uma em cada dez pessoas no mundo pode desenvolver quadro clínico após consumo de alimentos contaminados, com taxa de mortalidade de 420.000/ano. Esta casuística é particularmente relevante em crianças <5 anos representando 40% das doenças de origem alimentar, com 125.000 mortes/ano. 72


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Através do diagnóstico conclusivo, o Laboratório dá suporte para outras instituições como laboratórios e universidades públicas e privadas, instituições e indústrias que atuam na produção de alimentos. Estas atividades permitem analisar o papel dos alimentos de origem animal e seus subprodutos na disseminação de enteropatógenos, permitindo através das atividades de diagnóstico conclusivo ofertar informações para o aprimoramento das linhas de produção no sentido de reduzir os fatores de risco do processo. Realizando uma contínua produção de antissoros, o Laboratório atende suas próprias necessidades de infraestrutura e distribui estes insumos para laboratórios pertencentes à Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública, atividade fundamental para o diagnóstico conclusivo de enteropatógenos. Figura 1. Soro aglutinação, em lâminas.

2. Dentre as famílias bacterianas estudadas no LABENT, qual tem sido a mais prevalente em casos de surtos de enteroinfecções, quais as espécies / sorovares mais isolados, e quais as classes de antimicrobianos tem se mostrado mais eficazes para esses grupos específicos? Resposta: Entre as cepas recebidas se considerarmos os últimos anos, a prevalência de Salmonella spp. é reconhecidamente a mais elevada, entre os isolados no Laboratório e as recebidas para identificação conclusiva. Em nosso meio existem falhas no saneamento e oferta de água de qualidade, os quais representam fatores que dificultam seu controle, porém é importante ter ciência de que a Salmonelose é uma das zoonoses mais complexa, tendo sido declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização de Agricultura Alimentar (FAO) como a zoonose mais comum e importante desde 1950. Seu controle deve ser permanente, tendo em vista a emergência de novos sorovares e reemergência de outros, tanto nos países emergentes quanto nos industrializados. A elevada casuística está diretamente relacionada ao caráter zoonótico, à capacidade de implantação, propagação e permanência em diversos nichos ecológicos. Atualmente, são reconhecidos 2679 sorovares distintos capazes de infectar o homem e animais de sangues quente e frio. Na cadeia epidemiológica, os animais, particularmente os de produção ocupam o ponto central na epidemiologia das Salmoneloses entéricas, representando reservatórios de importância sanitária e difícil controle. Alguns resultados apontados na literatura sugerem que a duração do estado de portador depende do sorotipo, cepa, idade do animal e outros fatores de risco. Além das características de endemicidade, morbidade e dificuldade no controle da disseminação de Salmonella spp., o ponto de urgência clínica e epidemiológica tem sido a emergência de cepas resistentes a antibióticos de diversas classes especialmente pelo risco potencial de infecções extra intestinais que acometem grupos mais sensíveis da população. 73


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Geralmente as infecções resultam em uma gastrenterite, mas pode ocorrer a disseminação da bactéria além do trato intestinal, e causar uma infecção sistêmica. Atualmente este gênero é reconhecido como um dos principais patógenos implicados em doenças de transmissão alimentar, assumindo importância mundial pela ocorrência de cepas multirresistentes aos antimicrobianos. Este é um problema impactado pelo uso imprudente de drogas antimicrobianas na medicina humana e na produção animal. Estes fármacos são utilizados muitas vezes sem controle no tratamento de infecções no homem, plantas e animais, bem como profilaticamente para prevenir infecções sendo administradas em baixas doses na alimentação animal, para melhoria da taxa de crescimento e conversão alimentar. Uma consequência indesejável é o potencial desenvolvimento de resistência antimicrobiana em patógenos de origem alimentar e subsequente transmissão ao homem, através dos alimentos. O que observamos dada a existência de um Programa de Monitoramento da Resistência estabelecido em nosso Laboratório como rotina, iniciado na década de 90 com a reintrodução da cólera estendendo-se a seguir para outros enteropatógenos.

Figura 2. Teste antimicrobianos.

de

suscetibilidade

aos

O perfil atual aponta aumento no percentual de resistência a cefalosporinas e fluoroquinolonas entre os sorovares de maior prevalência, como por exemplo, em S. enteritidis e S. typhimurium de origem humana e alimentar. S. Heidelberg está entre os sorovares mais comumente detectado nas fontes animais, alimentar e ambiental, sendo preocupante dada a circulação de cepas multirresistentes e seu envolvimento em quadros invasivos. Esta ocorrência aponta um quadro extremamente preocupante especialmente quando observamos resistência a esses fármacos em cepas. Esta assertiva pode ser corroborada quando observamos os índices de resistência às Fluoroquinolonas e Cefalosporinas, entre a totalidade de cepas nos últimos três anos com média de 7,8% e 27%, respectivamente.

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3. Qual a metodologia utilizada para avaliar as características fenotípicas e genotípicas das bactérias enviadas para classificação, e daquelas isoladas dos casos clínicos enviados para diagnóstico? Resposta: Ela se dá através da utilização de métodos clássicos e moleculares. As metodologias clássicas são utilizadas para a identificação do agente etiológico em espécimes clínicos, assim como na caracterização conclusiva de cepas pertencentes aos gêneros/espécies das diferentes famílias de Enterobactérias isoladas de fonte humana (de origem comunitária, bem como daqueles envolvidos em surtos de Doenças de Transmissão Alimentar). Isolados de diferentes espécies animais (de produção, silvestres aquáticos ou terrestres, de companhia), alimentares, isolados do meio ambiente e matéria prima/rações também são analisados. No monitoramento da suscetibilidade aos antimicrobianos empregando drogas utilizadas nas áreas humana e veterinária; e na determinação de fatores de virulência através de testes de toxicidade ou de sua expressão fenotípica.

Figura 4. Meios de triagem: 1: Meio de Costa & Vernin; 2: Agar TSI; 3: Agar Lysina Ferro

Escherichia coli

Figura 5. Salmonella sp. em Agar Enteric Hektoen

Salmonella sp.

Figura 6. Salmonella sp. Escherichia coli em Agar MacConkey

São empregados diferentes métodos moleculares, visando a análise de características e diversidade genética em cepas isoladas de diferentes fontes incluindo, caracterização de seu perfil plasmidial, utilização de técnicas de PCR para caracterização da virulência e resistência antimicrobiana. São também utilizados métodos de subtipagem, visando o monitoramento dos 75


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clones em diferentes fontes e regiões do país, os quais representam ferramentas essenciais para o reconhecimento de espécies ou sorovares circulantes, permitindo detectar a emergência e/ou reemergência de alguns e introdução daqueles com características exóticas.

Figura 7. Identificação da região variável do Integron

Figura 8. Amplificação por PCR dos genes de virulência hilA e sipA em Salmonella Enteritidis

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4. Como é feita a interação com outras Instituições de Pesquisa Nacionais e Internacionais, uma vez que o LABENT atua também como Laboratório de Referência Nacional de Enteroinfecções Bacterianas (CGLAB/SVS/MS), sob sua Coordenação? Resposta: O Laboratório promove diversas atividades de cooperação com diferentes instituições nacionais e internacionais, parcerias já estabelecidas e que vem permitindo o desenvolvimento conjunto de diferentes projetos. No contexto da Fiocruz, desenvolve atividades em conjunto com outros Laboratórios do IOC e com diversas Unidades da Fundação, como a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), o Instituto Nacional de Infectologia (INI), Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), o Instituto Fernandes Figueira (IFF) e Instituto Aggeu Magalhães, Fiocruz/PE. No Brasil, ainda promove parcerias com a Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB/SVS); VIGIAGUA/CGVAM/Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (DSAST/SVS/MS); Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o Programa Nacional de Sanidade Animal (MAPA),. Tem parcerias firmadas com diversas universidades estaduais e federais, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal do Norte Fluminense, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Ceará, além da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (PESAGRO-RIO / CEPGM), e laboratórios de redes privadas de diagnóstico. Internacionalmente, o Laboratório do IOC é um importante parceiro da Organização Pan Americana de Saúde (OPS/OMS) e participa de programas de controle externo de qualidade, como EQAS/WHO (Danish Veterinary Laboratory, da Dinamarca); Canadian Science Centre for Human and Animal Health, Canadá; International Federation for Enteric Phage TypingLondon, do Reino Unido; Rede PULSENET e Global Foodborne Network, ambas iniciativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Tais atividades permitem o fortalecimento da cooperação com diferentes instituições e países, como Health Canada; Centers for Disease Control and Prevention, dos EUA; National Institute of Cholera & Enteric Diseases, na Índia; INEI-ANLIS Dr. Carlos G. Malbrán, da Argentina; Universidad Mayor de San Simon, da Bolívia; Instituto Nacional de la Salud, na Colômbia; e o Instituto Nacional de Higiene Rafael Rangel, da Venezuela. O Laboratório atua, ainda, na formação de recursos humanos, investindo sempre na formação e renovação de sua equipe. Participa de diversos programas de ensino, promovendo o aprendizado de bolsistas do programa de estágio curricular da Fiocruz, e de estudantes de vocação e iniciação científica. Seus pesquisadores desenvolvem, ainda, atividades de docência e orientação em cursos de pós-graduação, além de participarem do intercâmbio e formação de profissionais oriundos de diferentes instituições públicas e privadas, através de estágios de aperfeiçoamento e cursos de atualização em parceria com instituições públicas ou privadas. 5. Fale-me sobre o histórico da Coleção de Enterobactérias da FIOCRUZ e do acervo nela preservado Resposta: Originalmente designada “Coleção de Enteropatógenos Bacterianos” dentro de um conjunto de coleções bacterianas associadas, na atualidade é designada “Coleção de Enterobactérias – CENT” a qual é filiada à World Federation for Culture Collections, WFCC, sob o 77


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registro WDCM: 1074 e fiel depositária no Conselho de Gestão de Patrimônio Genético – CGEN. Historicamente teve sua origem nos trabalhos pioneiros e por iniciativa dos pesquisadores Genésio Pacheco, Gobert A. Costa e Milton T. Mello. Podemos considerar que teve embrionariamente seu fomento com o Laboratório de Enterobactérias, o qual iniciou suas atividades no final da década de 1920, realizando a caracterização de diferentes enteropatógenos em quadros disentéricos, ocorridos na cidade do Rio de Janeiro e daquelas resultantes de suas atividades de pesquisa. Estas atividades, fomentadas pelos pesquisadores, tiveram como intuito organizar linhagens isoladas e adquiridas pelos mesmos tendo deste modo estabelecido a coleção de culturas em 1930. Foi enriquecida em meados dos anos 40 a partir de estudos sobre a peste murina e na década de 60 com várias linhas de atuação na família Enterobacteriaceae e Vibrionaceae desenvolvendo projetos de pesquisa em parceria com outras instituições. O reconhecimento da qualidade destes serviços se deu através da criação de Centros de Referência Nacional para Diagnóstico Laboratorial de Cólera (1972), recredenciado em 1991 e para febre tifóide (1985) pelo Ministério da Saúde. Consequentemente, o acervo da CENT constitui um banco genético que representa parte fundamental da história da saúde pública do Brasil. Na atualidade atua como Laboratório de Referência Nacional em Enteroinfecções Bacterianas integra a iniciativa da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) no diagnóstico de enteropatógenos para a Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública. No início dos anos 2000, como Laboratório de Referência passou a atuar como Referência Nacional para a rede PULSENET do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC/WHO) para a subtipagem de microorganismos patogênicos. Ao longo desses anos, configurou-se como uma coleção de pesquisa de referência do Laboratório de Enterobactérias, sendo reconhecida pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) no ano de 2001. A coleção está localizada no Pavilhão Rocha Lima, 3º andar sendo denominada Coleção de Enterobactérias (CENT), na qual exerço a função de curadora. A CENT tem como finalidade: preservar, adquirir, identificar, autenticar e fornecer culturas de bactérias de interesse para a Biotecnologia. Esta é resultante da realização de estudos básicos e aplicados em espécies das famílias Enterobacteriaceae, Vibrionaceae e Aeromonadaceae, bem como outros grupos bacterianos de importância em Saúde Pública e Sanidade Animal.

Figura 10 Vibrio cholerae O1 em Agar TCBS

Figura 11. Aeromonas hydrophila em Agar GSP

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Na atualidade a CENT possui um acervo com cerca de 200 mil isolados pertencentes aos gêneros Salmonella, Shigella, Escherichia, Vibrio, Aeromonas e centenas de representantes de outros grupos de Gram-negativos e ainda algumas centenas de Gram positivos. As cepas são preservadas de duas formas: em Skim Milk a -70°C e em Agar Nutriente Tamponado à temperatura ambiente (±25ºC). Ambas as formas de armazenamento são utilizadas para cepas mantidas na área física do Laboratório de Enterobactérias-LABENT/IOC, situado no Pavilhão Rocha Lima. E em face ao elevado número que compõe o acervo um percentual complementar está preservado à temperatura ambiente em Agar Nutriente Tamponado em sala do Pavilhão 108. Ambos estão localizados no Campus da Fiocruz em Manguinhos, Rio de Janeiro – RJ. 6. Descreva-me a finalidade da Coleção de Enterobactérias e as atividades de prestação de serviços a ela relacionadas. Resposta: A CENT representa um centro de conservação e distribuição de material biológico autenticado, funcionando atualmente como depósito de linhagens selvagens, com características emergentes ou exóticas, assim como daquelas resultantes de suas atividades de pesquisa e diagnóstico do Laboratório de Enterobactérias (LABENT) incluindo o Monitoramento da Resistência Antimicrobiana de Enteropatógenos de Origem Comunitária, do Laboratório de Referência Nacional de Enteroinfecções Bacterianas (LRNEB) e da coordenação da Rede de Rede PULSENET/CDC/WHO. Anualmente destas atividades resultam em uma média de sete mil cepas. Destas um percentual de 5 a 10% é avaliado quanto a diferentes características feno e genotípicas, de acordo com sua relevância em sanidade animal e saúde pública. O acervo identificado em nível de espécie e/ou sorovar que apresente características de relevância é mantido em Agar Nutriente Tamponado à temperatura ambiente, condição que permite sua viabilidade por período superior a 20 anos e entre elas um grupo é mantido a -70ºC. Possui também acervo de cepas padrão, utilizadas na produção de antígenos e antissoros, empregados na identificação de patógenos das famílias Enterobacteriaceae e Vibrionaceae, além de padrões para o controle de diferentes tipos de atividade diagnóstica, clássica e/ou molecular. Estes são obtidos através de aquisição ou permuta, de coleções de culturas nacionais e internacionais. Do total de cepas, além das linhagens selvagens, resultantes de suas atividades de pesquisa, são incorporadas aquelas recebidas de diferentes tipos de laboratório, onde foram avaliadas para a pesquisa de características específicas, incluindo métodos feno ou genotípicos. As solicitações quanto à análise são feitas mediante o preenchimento e envio do Formulário para Solicitação de Identificação, Autenticação e Depósito, que pode ser obtido através do e-mail: cent@fiocruz.br. Graças a tal acervo, inúmeras linhas de pesquisa vêm sendo desenvolvidas, tanto nas áreas básicas como aplicadas, com interfaces na Biotecnologia. De modo semelhante, de acordo com solicitação são fornecidas cepas para instituições de pesquisa e universidades para o desenvolvimento de dissertações e teses nos cursos de pós-graduação em nível de Mestrado e Doutorado. O acesso aos dados do acervo existente é obtido a partir de uma ação onde o MCT apoiou o desenvolvimento e a implementação do Sistema de Informação de Coleções de Interesse 79


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Biotecnológico – SICOL. Lançado em 2002, reúne informações sobre coleções de culturas de microrganismos num sistema de informação on-line, pelo qual, de forma dinâmica, o usuário pode integrar os dados de linhagens de microrganismos disponíveis nas coleções nacionais, e cruzar esses dados com informações de diretórios taxonômicos, literatura científica e bancos de dados genômicos (GenBank), agregando valor ao material biológico disponível nas coleções brasileiras, estando na atualidade em um processo de remodelação. Alguns aspectos importantes que vou apontar são de que as cepas são fornecidas a partir da requisição de um cliente, não são comercializadas ou cedidas como empréstimo. As cepas não são fornecidas para particulares, apenas para instituições reconhecidas, seguindo as normas vigentes de biossegurança. A solicitação deve ser feita mediante o preenchimento e envio do Formulário de Material Microbiológico que pode ser obtido através do e-mail: cent@fiocruz.br. Outra atividade oferecida pela CENT inclui os serviços de depósito de isolados clínicos recebidos de diferentes tipos de laboratórios. As categorias de depósitos são: Depósito aberto (acervo de acesso público), quando não há restrição quanto à distribuição; Depósito restrito (fornecido com autorização do depositante); e Depósito fechado (depósito confidencial), quando há restrição por parte do depositante.

Muito obrigada Dalia por aceitar esta entrevista, com certeza você realiza um trabalho extremamente relevante e, para mim foi uma honra poder efetivar esta com você! Maira.

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Entrevista - Área Animal Por Dr. Afrânio Gazolla Editor da Área Animal da Revista RG News

Edison Martins

Graduado como Médico Veterinário (1977) e Me. em Sanidade Animal pela Universidade Federal de Pelotas – UFP (1984). Dr. em Reprodução Animal pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (1999). Trabalhou na Extenção Rural pela ACARESC (1978-1979) e na EPAGRI (1985-2008). Foi diretor da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (1980 – 1982); Diretor da Central de Inseminação Artificial de Suínos de Concórdia – SC (1980 – 1982); Professor Substituto de Patologia Geral no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (1987) e de Fisiologia Veterinária no Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina de (2005 – 2008). Atualmente é Diretor Executivo na Fazenda Bom Jesus do Herval – BJH, Ponte Alta – SC., atuando em preservação e conservação da raça brasileira bovina Crioula Lageana. Termos referenciais do seu trabalho: recursos genéticos, patologia, morfologia, fisiologia, obstetrícia, andrologia, coleta, criopreservação, semem, embrião, célula tronco.

1. Edison, para iniciar a entrevista gostaria de saber quando se iniciaram os trabalhos de conservação com o bovino Crioulo Lageano, e qual foi o grau de evolução deste trabalho daquela época para aos dias atuais? Resposta: O início do trabalho de conservação do bovino Crioulo Lageano correu na década de 60, quando alguns criadores tomaram a decisão de conservar esse grupamento genético que vinha sendo substituído por raças definidas e melhoradas em outros continentes. Nos anos 80, com a criação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, iniciou-se as ações técnicas de conservação dos recursos genéticos, incluindo o crioulo Lageano. Nessa época, a Embrapa levou para o seu banco de germoplasma animal, alguns animais e sêmen de touros destaques da raça. Durante muito tempo, os primos Nelson e Antônio Camargo e a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia se preocupavam em conservar esse recurso genético. Em março de 2003, fomos convidados para palestrar sobre certificações de produtos agroalimentares, em um dia de campo na Fazenda Igrejinha de Nelson Camargo. Nessa oportunidade, nos deparamos com um grupo de produtores rurais interessados na raça, quando então sugerimos a criação de uma associação de criadores, para em conjunto construir o caminho da certificação dos produtos e subprodutos dos animais da raça. A partir desse encontro, trabalhamos na constituição da Associação que efetivou-se em 31 de outubro do mesmo ano na fazenda Igrejinha pela

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Assembleia de fundação da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Crioula Lageana – ABCCL.

Figura 1. Raça Crioula Lageana.

Uma vez criada a ABCCL, todos os esforços foram empreendidos para o reconhecimento e desenvolvimento da raça. De imediato, levantamos os dados disponibilizados pela Embrapa e pelos criadores e encaminhamos ao MAPA a solicitação de reconhecimento e a oficialização do Serviço de Registro Genealógico. Após várias reuniões e adequações da documentação da ABCCL, para o cumprimento das normativas ministeriais, em 31 de outubro de 2008, o então Ministro Reinhold Stefanes, assinou a Portaria Ministerial nº 1048 que reconhece o grupamento genético como raça Crioula Lageana e sua variedade Mocha, e outorga à ABCCL o Serviço de Registro Genealógico da Raça Crioula Lageana, e sua variedade Mocha (Figura 1). A partir daí, houve um estímulo para a continuidade dos trabalhos de pesquisa com parceiros como a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, ABCCL, e diversas universidades ampliando o conhecimento sobre a raça. Com base nos resultados de pesquisas, na Assembleia Geral Ordinária de 2018, instituiu-se uma comissão para trabalhar na construção da certificação da carne Crioula Lageana. 2. Para você, como foi a formação e evolução da raça? Discorra sobre isto em termos históricos e abordando os elementos do processo: Bovino, homem do campo, ambiente, Associação de Criadores e Embrapa. Resposta: Os bovinos Crioulos Lageanos descendem daqueles trazidos da Península Ibérica, pelos colonizadores portugueses e espanhóis, povoando os campos Sul Brasileiro servindo de fonte de 82


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proteína animal, através do leite e derivados, carne e derivados. O couro foi muito usado na construção de moradias, vestuário e confecção de material de encilha de animais. Os bovinos também eram a principal fonte de energia para transporte de mercadorias. Desta forma, no passado, o gado Crioulo Lageano apresentava triplo propósito de produção: produção de carne, leite e trabalho.

Figura 2. Criador com um exemplar, à campo, demonstrando a docilidade da raça.

A introdução do bovino nos Campos de Lages, contou com a expressiva participação dos padres Jesuítas da Companhia de Jesus, que com o auxílio dos nativos, conheceram os campos naturais de altitude e trouxeram para essa região um rebanho de aproximadamente 80.000 rezes. Com o acordo de Madri em 1730, os Jesuítas foram expulsos do território e o rebanho de bovinos ficou livremente por muitos anos. Nesses campos os animais permaneceram livremente ao longo do tempo, o que culminou com um processo de seleção natural, onde apenas os mais fortes se adaptaram e sobreviveram. No início da ocupação da região, os bandeirantes que abriram o caminho das tropas e fizeram a ocupação do território, encontraram um grande rebanho de bovinos asselvajados, que foram capturados e introduzidos nas fazendas que se instalaram nesse território. Desta forma, os bovinos Crioulos Lageanos foram a base da primeira atividade econômica da região. A raça Crioula Lageana foi o esteio da pecuária nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, até a introdução de raças melhoradas em outros continentes, que pouco a pouco reduziram drasticamente o rebanho de bovinos crioulos. 83


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O Rio Grande do Sul, estado de vanguarda na pecuária, em um curto espaço de tempo teve todo o rebanho de bovinos crioulos substituído por raças importadas, ditas como mais produtivas. No Estado de Santa Catarina alguns criadores conheciam bem e apreciavam o bovino Crioulo Lageano e por isso, apesar dos modismos, mantiveram seus rebanhos, que passaram de geração em geração até o presente. Nesse contexto dois criadores mantiveram os rebanhos de base. Antônio Camargo, proprietário da Fazenda Canoas no município de Ponte Alta, SC e Nelson de Araújo Camargo, da Fazenda Igrejinha no município de Lages, SC. A partir desses dois núcleos, novos criadores foram adquirindo animais e expandindo o número de núcleos de conservação. Durante todo o processo de produção do conhecimento sobre a raça Crioula Lageana, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia foi parceira dos núcleos de conservação, que também contaram com o conhecimento produzido por diversas universidades e instituições de pesquisa de diferentes estados da federação.

3. Como o bovino Crioulo Lageano participa da vida das fazendas? Resposta: O bovino Crioulo Lageano compõe os rebanhos de diversas fazendas ou núcleos de conservação principalmente no estado de Santa Catarina, na região do Planalto Sul Catarinense, mas há criadores em outros estados tais quais o Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Distrito Federal. Atualmente, o bovino Crioulo Lageano participa das fazendas, como uma atividade econômica eficiente e produtiva, como qualquer outra raça. O reconhecimento da raça pelo MAPA, permitiu a introdução em mercados de material genético e multiplicação de genética animal, como as demais raças comerciais.

Figura 3. Criação do Crioulo Lageano, nos Campos Sulinos.

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4. Pode outro bovino substituir sua função no ambiente? Resposta: A região do Planalto Sul Catarinense se caracteriza pelo rigor do inverno, época em que a disponibilidade de forragem se torna escassa, devido às geadas, neve e frio intenso e prolongado. O bovino Crioulo Lageano por ser adaptado às intempéries, suporta o inverno e a escassez de alimentos de maneira muito superior às outras raças, sem que seja necessários grandes investimentos na alteração do ambiente para atender as necessidades das raças exóticas. Por ser a raça mais adaptada às condições climática da região, que apresenta grande variação térmica, onde no verão, experimenta-se temperaturas que variam de 7ºC na madrugada à 30ºC no meio da tarde, o Crioulo Lageano não demonstra estresse e desconforto térmico observado em raças exóticas. Com base nessas observações e nos trabalhos científicos desenvolvidos, pode-se dizer que a rusticidade do Crioulo Lageano, adaptação ao ecossistema e maior resistência às enfermidades causadas por ectoparasitas, se pode dizer que a raça Crioula Lageana não poderia ser substituída por àquelas raças introduzidas sem que haja prejuízos econômicos nessa substituição. 5. A conservação do Bovino Crioulo Lageano sofre alguma ameaça atualmente? Resposta: Sim, a principal ameaça é a síndrome de vira-lata da nossa sociedade, onde “bons são os outros e o que é dos outros”. Isso coloca a raça em dificuldades para a expansão territorial. Outra ameaça é a pressão da indústria da carne para o comércio direcionado para determinadas raças que tem uma longa trajetória no mercado de carnes. 6. Qual a importância do Núcleo de Conservação da Embrapa para a raça? Resposta: O núcleo de conservação ex-situ da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia é fundamental para a raça que possui poucos exemplares fora do estado de Santa Catarina. Em caso de uma excepcional catástrofe sanitário no estado de Santa Catarina, os núcleos ex-situ tornam-se a principal fonte de obtenção e regeneração do material genético. 7. Discorra sobre as principais pesquisas realizadas com o bovino Crioulo Lageano. Resposta: Diversas instituições de pesquisas vêm desenvolvendo estudos no sentido de avaliar e conhecer esse material genético. Dentre elas, podemos destacar a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a Universidade de Brasília, a Universidade Federal de Santa Catarina, a Universidade do Estado de Santa Catarina, a Universidade do Rio Grande, que geraram conhecimentos sobre as características genéticas, comportamentais, precocidade reprodutiva, e de qualidade da carne da raça Crioula Lageana. 8. Existem trabalhos de identificação, sazonalidade e bromatologia das principais forrageiras nativas da sua dieta? 85


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Resposta: O Planalto Sul Catarinense está localizado no Centro Sul do Estado, região de maior altitude, chegando a 1800 metros acima do nível do mar, onde o clima segundo a classificação de Köeppen é do tipo Cfb (temperado úmido sem estiagem), chuvoso, invernos frios com grande incidência de geadas e verões brandos. A temperatura média anual é de 15,70C, sendo que no mês mais frio a temperatura média é de 6,60C, com ocorrência de temperaturas inferiores a 00C. A estrutura geológica é caracterizada por rochas sedimentares nas áreas mais ao norte e ígneas mais ao sul, sendo os solos ácidos, pedregosos e de pouca profundidade. Nessa região ocorre a formação de bacias hidrográficas importantes, com excelente proteção ambiental, como a do rio Canoas e Pelotas, que ao confluírem formam a bacia do rio Uruguai. Nessa região, também está identificada a ocorrência de vários pontos de abastecimento do aqüífero Guarani. A vegetação é formada por áreas de pastagens nativas ou “campos naturais” intercaladas por florestas compostas de diversas espécies arbóreas que, associadas à Araucaria angustifolia Kuntze, constituem as matas ciliares (RITTER & SORRENSON, 1985). Os campos naturais são formados por uma grande variedade de espécies de plantas forrageiras, aproximadamente 300 espécies, cuja composição florística permite a classificação em oito tipos diferentes, assim denominados: Campo Palha Grossa; Campo Palha Fina; Campo Misto de Andropogon lateralis Nees e Schizachyrium tenerum Nees; Campo Misto de A. lateralis e Paspalum pumilum Nees; Campo Palha Fina tendendo a Gramado; Campo Misto de Paspalum notatum Flügge e Aristida sp.; Campo Sujo e Campo Palha Fina com mata. O conjunto formado pela vegetação de campos e florestas naturais em um relevo de coxilhas expressa uma paisagem de beleza singular (Figura 3), que no passado inspirou o nome de comunidades rurais tal qual a denominada “Coxilha Rica”. Esses recursos ambientais naturais ainda existem devido à cultura tradicionalista e conservadora dos habitantes da região, que há séculos dedicam-se à pecuária de corte. Esse ambiente também se encontra ameaçado pelo avanço da introdução de florestas exóticas e implantação de agricultura de grãos, como a soja. 9. Li o livro sobre a raça Crioula Lageana, como surgiu a ideia que culminou em um livro e tão completo sobre ela? Resposta: A necessidade de organizar cronologicamente o caminho percorrido pelo bovino Crioulo Lageano, contemplando os dados históricos, questões sócio-econômicas, culturais e dados científicos, foi a grande motivação para escrever o livro. Porque colocando esses conhecimentos de maneira organizada e com linguagem simples, seria possível um melhor aproveitamento das informações sobre a raça em qualquer ambiente. É importante para a difusão e conhecimento da raça Crioula Lageana que os dados obtidos na área científica, sejam traduzidos em informação para a comunidade. 10. Estamos curiosos para saber, quais serão os próximos passos na pesquisa com a raça Crioula Lageana? Resposta: O fato de haver muitas pesquisas científicas com a raça Crioula Lageana, publicadas e disponíveis na literatura, não nos exime de continuar buscando a excelência e essa busca significa estudar e aprofundar cada vez mais nosso conhecimento sobre a raça. 86


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Os próximos passos já definidos para a continuidade das investigações contemplam, entre outros, o estudo da resistência do bovino Crioulo Lageano às doenças transmitidas por ectoparasitas, o programa de conservação, utilização sustentável e melhoramento da raça e a organização mercadológica da carne, incluindo sua certificação.

Caro amigo Edison, em primeiro lugar quero agradecê-lo por tudo que tem feito pelos recursos genéticos animais no Brasil e, segundo, pelo privilégio em poder entrevista-lo! Afrânio.

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V - Eventos Acontecerá I Workshop de Recursos Genéticos do Mato Grosso Eulalia Soler Sobreira Hoogerheide Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (1999), atual UFGD. Possui mestrado (2004) e doutorado (2009) em Genética e Melhoramento de Plantas pela Esalq - Universidade de São Paulo. Atuo na área de desenvolvimento de produtos e melhoramento genético do algodoeiro. Atualmente é pesquisadora na Embrapa Agrossilvipastoril na área de acesso, coleta, caracterização e valoração dos recursos genéticos vegetais; com ênfase em etnobotânica, pré-melhoramento de espécies nativas e biologia molecular como ferramenta para uso e conservação de plantas.

O I Workshop de Recursos Genéticos do Mato Grosso será realizado em agosto deste ano, na cidade de Sinop, tendo como tema “Network para a conservação e uso dos recursos genéticos do Mato Grosso e Região”. O intuito é justamente reunir pessoas que atuam com recursos genéticos num ambiente que estimule a discussão, a fim de interligar pessoas e instituições. A dinâmica do evento será promover uma mostra das pesquisas que ocorrem no Estado, com convidados de Goiás e DF. Serão reunidas em mesas redondas temáticas, pesquisadores e professores que atuam em áreas com aderência, e cada um terá a oportunidade de falar e expor o seu trabalho, projetos, linha de pesquisa aos demais. No final de cada rodada, ter-se-á o registro das espécies e atividades realizadas. Também terão apresentações de trabalhos de alunos de graduação e pós-graduação das instituições do estado, como UFMT, Unemat e outras, em que o objetivo é também envolver os jovens pesquisadores na network, em um ambiente que estimule o diálogo e aproxime pessoas. Nesse ambiente as conexões de ações e projetos voltados ao uso e conservação dos RG poderão acontecer, e impulsar a criação de uma Rede no Mato Grosso, os quais poderão unirse aos protagonistas dos demais estados e criar-se então a Rede de Recursos Genéticos do Centro-Oeste.

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V Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos – 2018

Entre os dias 06 e 09 de novembro de 2018, a cidade de Fortaleza/CE sediará a quinta edição do Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos (CBRG). Tendo como tema central “Valor, uso e inovação: o futuro dos recursos genéticos”, o CBRG apresenta-se como o mais importante fórum de discussões sobre o tema no país e que pode trazer melhorias significativas do ponto de vista ambiental, econômico e social nas questões relacionadas aos recursos genéticos vegetais, animais e de microrganismos, pois ele estimula a inovação, o desenvolvimento científico e tecnológico e estimula a troca de experiências e a interação entre empresas, instituições científicas, tecnológicas, agricultores guardiões da agrobiodiversidade e demais grupos da sociedade envolvidos com essa temática. O CBRG almeja levar essas importantes informações a sociedade e promover e valorizar as pessoas que trabalham no processo de manutenção e uso dessa riqueza nacional. Para tanto, além do momento técnico que acontece durante o evento, a programação contempla atividades especiais: o IV Workshop de Curadores de Recursos Genéticos do Brasil, voltada aos profissionais responsáveis pelas coleções de recursos genéticos; e a II Feira de Guardiões da Agrobiodiversidade, uma ação gratuita, aberta ao público em geral, que busca reconhecer e divulgar para a sociedade a seriedade do trabalho realizado pelos agricultores guardiões na conservação desses recursos, dando-lhes o merecido destaque. Para maiores informações acesse o site do evento: www.cbrg2018.com.br

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Third Jack R. Harlan International Symposium Dedicated to the Origins of Agriculture and the Domestication, Evolution, and Utilization of Genetic Resources – 2018.

O Terceiro Simpósio Internacional Jack R. Harlan será dedicado à Origens da Agricultura e à Domesticação, Evolução e Uso dos Recursos Genéticos, sendo realizado em Montpellier – França, de 10 a 14 de setembro de 2018. Este simpósio foi criado pela Universidade da Califórnia (UC Davis, USA), em homenagem ao Botânico e Eng. Agr. Americano Jack Roland Harlan, um estudioso dos recursos genéticos vegetais (1917-1998). Seu livro mais famoso foi "Crops and Man", 1975, até hoje uma referência. Informações em: www.harlan3symposium.org/call_for_abstracts Abaixo o programa prévio:

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VI - Memória dos Recursos Genéticos Memória Nacional Dalmo Catauli Giacometti (1922 -1992) Por Renato Ferraz de Arruda Veiga

Engenheiro Agrônomo, Mestre em Horticultura e Doutor em Fruticultura Geral e Especial pela Universidade Federal de Viçosa, MG. Atuou como professor livre docente na Universidade Federal de Viçosa, MG, e técnico na FAO, Colômbia, no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Foi também técnico do Programa Regular da FAO, em Roma, na Divisão de Produção e Proteção Vegetal. Foi Pesquisador da Embrapa e Chefe-Geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia entre junho de 1976 a julho de 1985.

Casado com Terezinha Araújo, tiveram 5 filhos: Bernardo, Augusto, Pedro, Patrícia e Clarice Araújo Giacometti. Chamado de “pai dos recursos genéticos do Brasil” por alguns, e de “visionário” por outros, pelos seus trabalhos de integração nacional e internacional e implantação de infraestrutura adequada aos trabalhos na área no país, enquanto chefe técnico do antigo Centro Nacional de Pesquisa em Recursos Genéticos (CENARGEN), da Embrapa, hoje Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (1976 a 1985). Entre as obras de infraestrutura estão os edifícios de conservação, de quarentena, do banco base, e da Engenharia Genética. Engrandeceu o nome da área de recursos genéticos do Brasil, ampliando a visibilidade internacional e incrementando vínculos científicos no exterior, através de parcerias com organismos internacionais e regionais, como: FAO, CGIAR, USDA, CATIE, e sistemas nacionais de recursos genéticos de países latino-americanos.

Figura 1. Busto em homenagem ao Dr. Dalmo, no CENARGEN.

Sua relevância pode ser vista nas homenagens ao seu nome, como a Fundação de Apoio a Recursos Genéticos e Biotecnologia Dalmo Catauli Giacometti (Brasília – DF), e a Biblioteca Dalmo Catauli Giacometti, na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília – DF). O Workshop de Curadores instituiu o prêmio com o seu nome Prêmio "Dalmo Catauli 91


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Giacometti" para homenagear pesquisadores da Embrapa que atuaram como curadores e que já estão aposentados ou para pesquisadores de outras instituições, que contribuíram e contribuem para a área de recursos genéticos no Brasil. Tendo também recebido post mortem o título de cidadão honorário de Brasília pelo Decreto Legislativo 348 de 16/12/1998. Enquanto diretor fazia questão de conhecer todos visitantes que chegavam no CENARGEN, e todos os dias gostava de passar pelas salas de seus pesquisadores para conhecer os seus trabalhos. Figura 2. Exemplo de placa do Prêmio Dalmo Catauli Giacometti.

Nossa homenagem é também um agradecimento pessoal a este eminente pesquisador da área de recursos genéticos, por tudo que fez pelos recursos genéticos do Brasil. Tive a honra de conhecê-lo, ao ser apresentado pelo Dr. José Francisco Montenegro Valls quando da primeira expedição científica de coleta de germoplasma de Arachis, na década de oitenta. Depois disso, em muitas oportunidades pude com ele trocar ideias e aprender sobre recursos genéticos, em geral. Particularmente tenho muito orgulho de também ter recebido o citado prêmio acima com o seu nome, em 2011, em evento de Curadores de Recursos Genéticos do Brasil! Renato.

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Memória Internacional Otto Herzbert Frankel (1900 – 1998) Por Renato Ferraz de Arruda Veiga

Otto Herzberg Frankel, que com o tempo adotou apenas o nome Otto Frankel. Nasceu em Viena, em 4 de novembro de 1900 e faleceu em Canberra em 21 de novembro de 1998. Considerado um dos fundadores do movimento internacional pelos recursos genéticos. Sua inclinação agrícola surgiu logo na infância durante as visitas à propriedade rural de sua tia, em Galiza. Seu primo Lewis Namier que tornou-se o historiador desempenhou um papel importante na carreira de Frankel. Teve 3 irmãos, todos bem sucedidos, Max, Theodor e Paul. Dos nove até os 17 anos aprendeu matemática, ciências, Latim e Grego. Recebeu apoio para estudos informais e obteve seu doutorado em genética, em Berlim. De 1925 a 1927 trabalhou como melhorista de plantas perto de Bratislava. Fez parte de uma equipe que foi à Palestina para implementar um programa de melhoramento de plantas e animais. Em Cambridge aprimorou seu inglês, viajou pelo Brasil e Argentina como consultor do banqueiro Lazard Bros sobre perspectivas para a indústria do trigo. Casou-se com Mathilde, em 1925, e em 1929 seguiram para a Nova Zelândia, onde foi trabalhar como melhorista de plantas e geneticista do Instituto de Pesquisa de Trigo. Lá Frankel criou novas variedades de trigo e transformou o pão da Nova Zelândia em comida palatável.

Figura 1. Algumas publicações de Otto H. Frankel.

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Em 1935, viajou para a Europa, em grande parte às suas custas, onde se tornou amigo de expoentes mundiais em genética, como: Darlington, Haldane e Vavilov. Frankel se divorciou em 1936 e em 1939 e se casou com Margaret Anderson, uma artista de Christchurch e professora de arte. Suas pesquisas em citogenética lhe distinguiu a indicação para a Royal Society of New Zealand em 1948 e para a Royal Society of London em 1953. Em 1951 se tornou o novo chefe para a Divisão de Indústria de Plantas, da Organização Australiana de Investigação Científica e Industrial da Austrália (CSIRO), e em pouco tempo, a divisão se tornou o principal instituto de biologia vegetal da Austrália. Desde 1964, Frankel esteve envolvido na questão dos recursos genéticos através do Programa Biológico Internacional (IBP). Ele convenceu a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação a unir forças com o IBP e presidiu o seu comitê de especialistas. Organizou várias conferências internacionais sobre as questões, editou dois grandes livros e assumiu a liderança na mobilização de preocupações e recursos, definindo os problemas e propondo soluções. Ele argumentou que a humanidade tinha "adquirido a responsabilidade evolutiva" e deveria desenvolver uma ética evolutiva. Frankel em seu painel de especialistas mantiveram a questão dos recursos genéticos vivos durante as décadas de 1960 e 1970, muito antes do termo biodiversidade. Na verdade, foi o seu discurso na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em Estocolmo, em 1972, que lançou uma grande conscientização pública sobre os recursos genéticos. Aposentou-se em 1966, tornando-se pesquisador honorário, e continuando suas pesquisas em citogenética até os 90 anos. Aos 95 anos ele publicou seu último livro The Conservation of Plant Biodiversity.

Figura 2. Foto de Otto quando mais jovem.

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VII – Instituição Homenageada Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Por Renato Ferraz de Arruda Veiga

O Jardim Botânico do Rio de Janeiro tem por endereço a Rua Jardim Botânico, no.1008, Rio de Janeiro – RJ. Foi fundado em 13 de junho de 1808, por D. João, como um jardim de introdução e aclimatação de espécies vegetais exóticas.

Figura 1. Alameda de Palmeiras Imperiais, o cartão postal do JB do Rio de Janeiro, foto de décadas atrás.

Desde 1995 seu nome passou para Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, alterado para mostrar para a comunidade que não era apenas um local de visitação, mas também e principalmente de pesquisa científica. É um órgão federal subordinado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). Quando se criou o CONAMA este foi colocado como sendo o responsável por consolidar e coordenar os trabalhos de todos jardins botânicos do Brasil.

Inicialmente era um Jardim Botânico Agrícola. Sua primeira introdução ocorreu com especiarias vindas do Oriente, como: baunilha, canela, pimenta e etc.. Prosseguiu com germoplasma enviados por outras províncias portuguesas, e do Jardim Figura 2. Detalhe dos jardins do JBRJ. Botânico La Gabrielle, na Guiana Francesa. Durante o reinado de D. João VI, houve um especial incentivo à plantação da Camellia sinensis (L.) Kuntze, para chá, bombonaça (Carludovica palmata Ruiz & Pav.), para palha de chapéus, e as amoreiras (Morus nigra L.), para alimentar casulos do bicho-daseda (Bombyx mori L.). O JBRJ possui 137ha de área, dos quais hoje disponibiliza 54ha abertos à visitação. Isto porque ao receber outras espécies de plantas foi também Figura 3. Jardim Japonês do JBRJ. implementando o seu arboreto e jardins de árvores, arbustos e flores. As necessidades para o lazer da população foram se multiplicando e assim ampliou-se a área de lazer, drenando pântanos, 95


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criando lagos e cascatas, separado da área de pesquisa. Estima-se que tenha em torno de 600.000 visitantes/ano. Possui ecossistemas representados da Amazônia e Restinga, e suas principais coleções são de mirtáceas, palmeiras, leguminosas e gutíferas, enquanto seu herbário conta com mais de 600.000 exsicatas, destas 7.500 typus. Sua biblioteca é muito rica, contendo 3.000 obras raras. Há muita história para ser contada, mas apenas podemos arranhá-la com este texto, pulando para a década de 1980, quando incrementou a área de Educação Ambiental e os estudos de florística, bem como o conhecimento e resgate de espécies nativas em áreas de floresta e de preservação, e em áreas impactadas pelo progresso das cidades e da agricultura, em acordo com as diretrizes estabelecidas na Política Nacional do Meio Ambiente.

Figura 5. Casa-de-vegetação do JBRJ.

Figura 4. Caramanchão do JBRJ.

Em 2001, foi criada a Escola Nacional de Botânica Tropical (ENBT), com a missão de realizar cursos de extensão e de viabilizar a Pósgraduação em Botânica. Criou também, em 2008, o Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), referência nacional sobre biodiversidade e conservação da flora brasileira ameaçada de extinção, que conta com recursos financeiros doados pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente. Além disto também criou uma Carpoteca, uma Xiloteca, e em 2002 um Banco de DNA de espécies nativas.

Os projetos e realizações recentes do Jardim Botânico mantêm estreito o alinhamento institucional às ações de conservação, particularmente aos compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção da Diversidade Biológica (CDB). Assim, conserva in vivo acessos de espécies nativas em risco de extinção, como por exemplo: Lelia lobata Geni, Eltroplectris calcarata (Sw.) Garay & H.R. Sweet, Cattleya intermedia Graham ex Hook. e Miltonia spectabilis Lindley. Hoje não é mais considerado um jardim botânico agrícola, sendo credenciado oficialmente como um Jardim Botânico de nível 1, e é membro da Rede Brasileira de Jardins Botânicos. Maiores informações podem ser obtidas pelo site: http://www.jbrj. gov.br/

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VIII - Homenagem Póstuma Alberto Alves Santiago (1917-2018) Por Renato Ferraz de Arruda Veiga

Aos 101 anos, em 11/4/2018, tivemos o passamento do Engenheiro Agrônomo e Pesquisador Científico, Dr. Alberto Alves Santiago, um baluarte dos recursos genéticos animais, em especial da pecuária zebuína mundial. Trata-se de uma referência nacional, em especial para o estado de São Paulo, já que foi o primeiro diretor do tradicional Instituto de Zootecnia (IZ) de São Paulo, entre 1969 e 1975, o qual hoje pertencente à Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio. Tive o grande prazer de criar o Prêmio aos Curadores da APTA, intitulado "Eng. Agr. Alberto Alves Santiago" para homenagear curadores que tanto fizeram pelos recursos genéticos animais no Estado de São Paulo, o qual foi instituído no I - Workshop de Curadores de Germoplasma do Brasil, realizado em Campinas – SP, em 2011. Seu nome também é utilizado como prêmio entregue pelo Instituto de Zoologia aos pesquisadores que se destacam na área. Foi autor de inúmeras publicações como O Zebu: sua história e evolução no Brasil; O Zebu na Índia, no Brasil e no mundo; Pecuária de Corte no Brasil Central; Gado Nelore - 100 Anos de Seleção, entre outras contribuições fundamentais para a pecuária brasileira, como os exemplos de livros abaixo:

Nossos sentimentos à sua família, lembrando que ele com certeza fará muita falta também para todos que trabalham com recursos genéticos, em especial na área animal do Brasil.

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IX – Apoio

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X – Normas da Revista

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