Revista RG NEWS Vol. 4 N° 2 2018

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Revista

RG NEWS V.4

N.2

2018

Sociedade Brasileira de Recursos GenĂŠticos


Revista RG News 2 (1) 2016 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos Revista RG News V4 (2) 2018 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

Revista RG News Publicação eletrônica oficial da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos COMISSÃO EDITORIAL DA REVISTA Editor Chefe Renato Ferraz de Arruda Veiga Editor Chefe-substituto Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira Editor Técnico Científico - Área Animal Afrânio Gonçalves Gazolla Editor Técnico Científico - Área Micro-organismos Maíra Halfen Teixeira Liberal Editor Técnico Científico - Área Vegetal Manoel Abilio de Queiróz

DIRETORIA DA SBRG Presidente - Alexandre Floriani Ramos Vice-Presidente - Rosa Lia Barbieri Diretor Financeiro - Marcos Aparecido Gimenes Vice-Diretor Financeiro- Juliano Gomes Pádua Secretário Executivo - José dos Santos Neto Diretor Técnico e de Divulgação - Renato Ferraz de Arruda Veiga Vice-Diretor Técnico e de Divulgação - Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira Diretor de Curadorias e Redes Regionais - Manoel Abilio de Queiróz Vice-Diretor de Curadorias e Redes Regionais - Semíramis Rabelo Ramalho Ramos Diretora de Eventos - Ana Cecília Ribeiro de Castro Vice-Diretora de Eventos - Fernanda Vidigal Duarte Souza


Revista RG News 4 (2) 2018 - Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos

Revista Recursos Genéticos News - RG News Brasília, DF V.4 (2) 98 p., 2018 ISSN 2526-8074 Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos Foto Capa: Maíra Liberal e Helena Magalhães - PESAGRO-RIO A eventual citação de produtos e marcas comerciais, não expressa, necessariamente, recomendações de seu uso pela SBRG. É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte.

“...é importante reconhecer que a bacia amazônica era densamente ocupada por diferentes povos indígenas no final do século XV, época do início da colonização europeia nas Américas.” Eduardo Góes Neves, In: Arqueologia da Amazônia, 1966.

Editada pela SBRG


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Revista RG News v.4, no. 2., 2018 APRESENTAÇÃO A RG News é uma revista oficial da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos (SBRG). Iniciou com seu primeiro número sendo publicado no segundo semestre de 2015, com periodicidade semestral, encontra-se no seu oitavo número, o segundo do ano de 2018. Trata-se de uma revista virtual que objetiva divulgar textos sobre recursos genéticos, e números especiais com anais de congressos, como foi o caso do V.3(2)2017. Abrange desde artigos científicos de pesquisa como de trabalhos de extensão, além de possibilitar a divulgação de eventos, opiniões, contos, homenagens, etc., enfim, qualquer publicação que preserve a memória e seja útil aos especialistas em recursos genéticos, quer seja animal, micro-organismo ou vegetal. Seu público original é o de associados da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos, mas também publica textos de colegas de outras Sociedades Científicas afins do país e exterior. A língua oficial é o português, porém são aceitos textos em inglês e em espanhol. Tem a pretensão de alcançar os especialistas que atuam tanto in situ como ex situ, nas Redes e/ou Curadorias, de Bancos Ativos de Germoplasma e de Coleções Científicas (Herbários, Museus, etc.), auxiliando-os na divulgação de suas pesquisas. Como os autores são considerados os únicos responsáveis pelo conteúdo dos seus textos, a revista e a sociedade não possuem, necessariamente, a mesma visão ou opinião dos autores. Os revisores convidados têm somente a responsabilidade de verificar se o assunto é inerente a recursos genéticos, de ajudar os autores na sua especialidade, e de efetivar sugestões apenas com o intuito de uniformização de conceitos, que também podem ou não ser aceitas pelos autores, se bem justificadas. Caros autores e leitores, vocês podem nos acompanhar virtualmente pela nossa homepage oficial: www.recursosgeneticos.org/rg-news e pelo Facebook: www.facebook.com/revistargnews. Esperamos a sua contribuição, basta enviá-la para o e-mail: revistargnews@gmail.com. Leitores, desejamos que os textos lhes sirvam para se instruir, se atualizar e se divertir, abraços a todos!

Comissão Editorial

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CONTEÚDO I – A Palavra do Presidente ..................................................................................................... 6 II - Artigos de divulgação científica ........................................................................................... 7 1. Caracterización de genotipos de algodón por su tolerancia a estrés hídrico a través de variables asociadas al uso del agua .................................................................... 7 2. Caracterização físico-química de acessos do banco de germoplasma de feijão-macuco (Pachyrhizus Rich. ex DC. spp.) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. ...... 21 3. Recursos Genéticos: A Biotecnologia e a Segurança Alimentar ........................... 31 4. Relevância das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) na minimização da fome no Brasil ............................................................................................ 38 III – Expresse a sua opinião ................................................................................................... 41 1. Genética e os caminhos para a humanidade: uma visão particular .......................... 41 2. O Rinoceronte-negro da África Ocidental foi declarado oficialmente extinto!!! ....... 46 3. A Dúvida do Papa Francisco em Relação às Plantas Transgênicas........................ 50 IV – Entrevistados da vez....................................................................................................... 54 Homenageado da SBRG ............................................................................... 54 ARTHUR DA SILVA MARIANTE ............................................................................ 54 Entrevistado da área animal........................................................................... 59 Luciano Martins Verdade............................................................................................. 59 Entrevistada da área de Microrganismos ........................................................... 63 Ana Claudia Dias de Oliveira ....................................................................................... 63 V – Eventos.......................................................................................................................... 69 Aconteceu ................................................................................................. 69 Encontro de Pesquisadores, Professores, Estudantes e Curadores de Bancos de germoplasma da RGV Nordeste ................................................................................... 69 Palestra Apoiada pela Rede de Recursos Genéticos do Sudeste, pela Dra. Rosa Miriam de Vasconcelos ................................................................................................................. 70 Criada a Rede de Recursos Genéticos do Sudeste ......................................................... 71 Acontecerá ................................................................................................ 72 V Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos – V CBRG ............................................ 72 Memória Nacional ...................................................................................... 73 EDMUNDO NAVARRO DE ANDRADE (1881 – 1941) ............................................ 73 Memória Internacional ................................................................................. 77 GREGOR JOHANN MENDEL (1822-1884) .............................................................. 77 VI – Instituição Homenageada ............................................................................................... 80 Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro ............................. 80 VII – Homenagens Póstumas.................................................................................................. 84 JOSÉ BRANCO DE MIRANDA FILHO ......................................................... 84 4


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HELENA MAGALHÃES ............................................................................. 88 BIANCA LUIZA REINERT (1966 – 2018) ........................................................ 91 WARWICK ESTEVAM KERR (1922-2018) ...................................................... 93 VIII – Apoio ........................................................................................................................ 96 IX – Normas da Revista ........................................................................................................ 97

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I – A Palavra do Presidente Alexandre Floriani Ramos - Presidente da SBRG Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Santa Maria (2000), especialização em Produção Animal (2002) pela Universidade do Estado de Santa Catarina, mestrado em Medicina Veterinária (2004) e doutorado em Ciência Animal pela Universidade Federal de Minas Gerais (2006). Atualmente é pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia onde é curador do Banco Brasileiro de Germoplasma Animal. Tem experiência na área de Medicina Veterinária, com ênfase em Biotecnologia da Reprodução voltada a Conservação de Recursos Genéticos Animais, atuando principalmente nos seguintes temas: conservação de recursos genéticos, caracterização produtiva e reprodutiva de raças localmente adaptadas, transferência de embriões, dinâmica folicular e congelamento de sêmen.

Prezados sócios e amigos da SBRG, Chegamos próximo ao fim de mais um ano. Um ano muito especial para nossa sociedade que completa 10 anos de existência! O 10º aniversário da SBRG é um fato extremamente relevante, que demonstra a efetiva consolidação de nossa sociedade e marca o início de uma nova etapa de sua “juventude”, que será com certeza cheia de autoconhecimento e de novas experiências, o que considero extremamente necessários para o seu amadurecimento. Tenho certeza que a SBRG continuará prosperando dia a dia e ficando cada vez mais forte! Em nome de toda a diretoria queremos agradecer a todos que ajudaram e participaram deste crescimento. Aproveitamos também para chamar todos a participarem ainda mais, com suas opiniões, sugestões e críticas. As Sociedades são formadas por seus sócios e, para representá-los bem, precisamos conhecê-los, sendo assim, não deixem de entrar em contato conosco! Juntos podemos realizar muito mais!

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II - Artigos de divulgação científica 1. Caracterización de genotipos de algodón por su tolerancia a estrés hídrico a través de variables asociadas al uso del agua

Spoljaric Monica Viviana - Técnica Forestal en la Universidad Nacional del Nordeste (UNNE), Licenciada en Ciencias Naturales en la Universidad Nacional de Formosa (UNaF) y el de Magister en Genética Vegetal en la Universidad Nacional de Rosario (UNR).Ingresó a INTA el año 2007 en el Área de Investigación en Mejoramiento Genético - Banco de Germoplasma de Algodón y Forestales Nativas. En el convenio de Vinculación Tecnológica participa en el módulo de transformación Genética de algodón. Desde 2014 se desempeña como adscripta en la cátedra de Ingeniería Genética de la Facultad Nacional del Chaco Austral (UNCAUS). spoljaric.monica@inta.gob.ar

Tcach Mauricio Marcelo - Ingeniero Agrónomo en la UNNE de Corrientes (2006).

Magister en Producción Vegetal en la Facultad de Ciencias Agraria (2012). Ingresa al INTA en el año 2007 en el Área de Investigación en Mejoramiento Genético de algodón. Prof. Adj. de Genética y Mejoramiento en la Universidad del Chaco Austral. Miembro del comité ejecutivo del ICRA, y del Comité Técnico del INASE. Director técnico del criadero A821 del INTA para la obtención de variedades de algodón. tcach.mauricio@inta.gob.ar

Rojas Julieta Mariana - Ingeniera Agrónoma en la UNNE y Magister en Ciencias

Agrarias - Orientación Producción Sustentable (Universidad Nacional de Tucumán). En INTA (2006 -2008) como becaria en Sustentabilidad, y Paralelamente hasta 2008, se desempeñó como consultora en Saneamiento Hídrico Y Desarrollo Productivo De La Línea Tapenagá. Desde 2010 es Docente Adjunta en Fisiología Vegetal de la Carrera de Ingeniería Zootecnista de la Univ. de Chaco Austral (UNCAus), Chaco, Argentina. Actualmente es investigadora de la Área de Recursos Naturales del de la EEA INTA Sáenz Peña (Chaco), en Manejo de Suelos. rojas.julieta@inta.gob.ar

Enrique Luis Cointry - Ingeniero Agrónomo por la UNR (1977), Magister en

Mejoramiento Genético Vegetal (1991, UNR-INTA) y Doctor en Ciencias Agrarias (2001, UNR). Prof. Titulas con Dedicación Exclusiva en la cátedra de Mejoramiento Vegetal y Producción de Semillas, FCA de la Universidad Nacional de Rosario. Es Academic Editor of International Journal of Plant & Soil Science. Es Director Académico de la Maestría en Genética Vegetal. Es autor de varias Creaciones Fitogenéticas: 4 clones de alcaucil, 5 híbridos de espárragos y de una variedad de alcaucil propagada en forma sexual. ecointry@unr.edu.ar

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Resumen Las respuestas de 20 entradas de algodón (Gossypium hirsutum L.) a un suministro normal de agua y limitado se examinaron en invernadero a los 30, 70, 120 días después de la emergencia en el Estación Experimental Agropecuaria (EEA) del Instituto Nacional de Tecnología y Agropecuaria (INTA) de Sáenz Peña (Chaco, Argentina) durante 2014-2015. Las entradas mostraron diferencias significativas (p < 0,05) en el crecimiento en el primer (área foliar y altura de planta) y segundo estrés (área foliar). Los genotipos presentaron diferencias significativas (p < 0,05) en las variables asociadas al uso del agua ante el estrés acumulado sin presentar diferencias en el consumo del agua. El grado de determinación genético fue bajo, debido a las condiciones contrastantes que enmascararon la variabilidad disponible. Se identificaron como entradas más tolerantes a BGSP716, BGSP52, BGSP765, BGSP750, BGSP463, BGSP803, BGSP514 y SP48114. Las mismas presentaron mayor porcentaje de frutos fijados, algodón en bruto (g/pl.), número de capullos, Semilla (g/pl.), Biomasa aérea (g/pl.) y altura de planta (cm). Palabras claves: tolerancia al estrés, algodón, genotipos, uso del agua. Introducción El estrés hídrico afecta el crecimiento y la productividad del cultivo de algodón (Gossypium hirsutum L.) que disminuye su rendimiento hasta un 50% dependiendo de la duración e intensidad del estrés (BRUBAKER & WENDEL, 1994; BRUBAKER et al., 1999; BOMAN & LEMON, 2006; EDMISTEN, CRAWFORD & BADES, 2007). Las cultivares modernas han perdido, en gran Figure 1 - EEA – INTA – Sáenz Peña – Argentina. medida, la sensibilidad a las diferencias de Fotografía por Spoljaric Monica Viviana. temperatura y fotoperiodo (MAUNEY, 1966; LOW, HESKETH & MURAMOTO, 1969), pero no así la sensibilidad al régimen hídrico. Cuando la provisión de agua empieza a ser limitante la planta detiene su desarrollo morfológico centrándose en la maduración de las cápsulas ya establecidas (HEARN, 1994), siendo las etapas críticas el momento del establecimiento de las plantas, la pre-floración (CHAVES, MAROCO & PEREIRA, 2003) y la post-floración (MCWILLIAMS, 2003). Diferentes experiencias demuestran la existencia de variabilidad genética frente al estrés hídrico. Longaberger et al. (2006) evaluaron 23 genotipos en tres momentos del ciclo y concluyeron que la mayor variabilidad genética se da en el primer período del cultivo, mostrando los materiales tolerancia, susceptibilidad o estabilidad para el porcentaje de supervivencia frente al estrés. Por su parte, Mahmood et al. (2006) reportaron diferentes respuestas en crecimiento y en rasgos productivos para diversos regímenes de estrés hídrico, siendo la altura de planta un indicador del efecto en etapas tempranas del ciclo. 8


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Asimismo, la expansión del área foliar se ve reducida ante el estrés (HEARN, 1979; CONSTABLE, 1981; TURNER et al, 1986; GERIK et al., 1996) alcanzando disminuciones de hasta 60% cuando la humedad del suelo se termina (CONSTABLE, 1981). Sin embargo, el crecimiento de la raíz parece menos afectado (MALIK & WRIGHT, 1997), salvo en condiciones de estrés hídrico severo (MCMICHAEL & QUISENBERRY, 1991). Grimes & Yamada (1982), McMichael & Hesketh (1982), Turner et al., (1986), Gerik et al., (1996), y Tcach et al., (2010) mostraron que el rendimiento disminuye cuando el estrés ocurre en plena floración y llenado de cápsulas siendo afectados tanto el tamaño como el peso individual de los capullos (PAYTAS et al., 2012). Una estrategia para minimizar el impacto producido por el déficit hídrico consiste en el uso de cultivares agronómicamente adaptadas a diversos episodios de estrés a lo largo del ciclo que pueden ser logradas mediante la hibridación entre materiales que manifiesten un adecuado comportamiento frente a las condiciones de estrés hídrico siendo este el paso fundamental en cualquier programa de mejoramiento. Para ello es necesario elegir adecuadamente los progenitores a hibridar ya que es el paso fundamental en cualquier programa de mejoramiento de especies autógamas. Las poblaciones conservadas en el Banco Activo de Germoplasma (BAG) de EEA Sáenz Peña podrían presentar buen comportamiento ante condiciones de estrés. Sin embargo el proceso de selección de genotipos parentales se complica ya que se desconoce el comportamiento de las entradas coleccionadas y conservadas en el BAG. Es por esta razón que se plantea la necesidad de caracterizar la respuesta fenotípica de variedades y líneas coleccionadas, frente a condiciones limitantes de agua. Materiales y Métodos El ensayo fue conducido bajo invernáculo en la EEA (Estación Experimental Agropecuaria) INTA (Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria) Sáenz Peña, (Latitud Sur 26º 47' 27" y Longitud Oeste 60º 26' 29"; Altitud 90 msn), Chaco (Argentina) (Figura 1), durante dos años (2014-2015), utilizando el protocolo de Parkhi et al. (2009) el cual fue ajustado según requerimiento de la investigación. Genotipos: Se utilizaron 20 entradas pertenecientes a la colección de algodón del Banco Base (Figura 2) perteneciente a la EEA INTA Sáenz Peña seleccionados por sitio de origen y tipo de cultivar (Tabla 1). Tabla 1. Genotipos de algodón pertenecientes al BAG de EEA Sáenz Peña (2014-2015). Accesión

Segunda denominación

Tipo de cultivar*

Sitio de origen

BGSP 43

Stoneville 508

Cv. obsoleto

E.E.U.U.

BGSP 52

I.A.C RM4

Cv. obsoleto

Brasil

BGSP 67

HAR L-142-9

Cv. obsoleto

Costa de Marfil

BGSP 73

Bouake HAR G 181-5-H-748

Cv. obsoleto

Costa de Marfil

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BGSP 156

Linea de Texas Agric. Exp. Station

Línea obsoleta

E.E.U.U.

BGSP 392

INTA SP Toba II

Cv. obsoleto

Argentina

BGSP 463

Payaste 145

Cv. obsoleto

E.E.U.U.

BGSP 475

Podrá INTA

Cv. obsoleto

Argentina

BGSP 507

Gua zuncho 2 INTA

Cv. obsoleto

Argentina

BGSP 514

Seora

Cv. obsoleto

Australia

BGSP 715

(917) B557

Cv. obsoleto

Pakistán

BGSP 716

(1120) ALEPO 93

Cv. obsoleto

Siria

BGSP 735

(63) B 59-1684

Cv. obsoleto

ex U.R.S.S

BGSP 750

ZM-01082

Cv. moderno

China

BGSP 765

ZM-01632

Cv. Local

China

BGSP 799

Guazuncho 3 INTA

Cv. moderno

Argentina

BGSP 803

SP 6635

Linea elite

Argentina

BGSP 804

SP 4172

Linea elite

Argentina

BGSP 805

8461

Linea elite

Argentina

SP 48114

SP 48114

Cv. moderno

Argentina

*Tipo de cultivar: Cultivar obsoleto o en desuso y moderno: hace referencia a la sustitución en el uso por el productor. Línea: se refiere al material desarrollado por los mejoradores que son conservados en los BAG por su valor real o potencial. Local: son cultivares primitivas, tradicionales o criollas y que son producto de una selección por parte de los agricultores con gran adaptación a condiciones abióticas y bióticas.

Diseño y tratamientos. Se diseñó un experimento bifactorial (Factor A y B). Factor A, correspondió a los 2 tratamientos principales: Sin estrés hídrico (control) y con estrés (suspensión de la oferta de agua cuando las macetas presentaban 50% de capacidad de campo (CC) al inicio de tres momentos del ciclo: 30, 70 y 120 días después de la emergencia (dde) por un periodo de 10 días. Luego de los episodios de estrés hídrico se mantuvieron las macetas entre 90 y 100% de CC. Factor B, correspondiente a los genotipos (20 entradas) de diferentes orígenes y tipo de cultivar. Se utilizaron tres repeticiones por genotipo y tratamiento que se dispusieron en

Figura 2. Banco Base de EEA – INTA - Sáenz Peña – Argentina. Fotografía por Spoljaric Monica Viviana.

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el invernáculo completamente al azar. Cada repetición consistió en una maceta de 30 litros (L) de capacidad, conformando un total de 120 macetas. El contenido de humedad del suelo para los tratamientos se determinó por la metodología propuesta por Ennahli (2003) calculando el contenido de agua necesario para llevar el suelo a CC. Las macetas fueron cargadas con 20 kg de suelo seco (Haplustol típico). Luego se regaron llevándose a un peso de 25.58 kg (CC). La experiencia se realizó durante los años 2014 y 2015. Preparación de las macetas, siembra y condiciones de cultivo. Una vez lograda la CC se sembraron 10 semillas por maceta, las cuales fueron regadas cada tres días hasta la germinación. Se realizó un raleo en las macetas dejando dos plantas las cuales crecieron en condiciones semicontroladas de temperatura (28-35ºC) y humedad relativa (50-70%). Para reducir la pérdida del agua por evaporación se cubrió el suelo con una capa de 10 cm de Perlita agrícola (PERLOME®) y por drenaje, se cerró el orificio de salida de agua de la maceta. Se regaron las macetas cada dos días hasta los 30 dde, momento en el cual se suspendió el riego para lograr condiciones de estrés en 60 macetas. En el tratamiento control se mantuvo el contenido de humedad óptimo. Previo al inicio del estrés, se equipararon los pesos de las macetas mediante riego para que de esta manera lleguen todas a un mismo contenido de humedad en la misma cantidad de días. Se consideró el inicio del estrés cuando las macetas presentaron el peso correspondiente al 50% de CC. A los 10 días de suspendido el riego se midieron las variables, pesaron todas las macetas, y se regaron a CC. Este mismo procedimiento se realizo al inicio de los 70 y 120 dde. Variables evaluadas: Primer ciclo de estrés (30 dds): Altura de planta (AP, cm): se midió con regla graduada en cm desde la base del suelo. Área foliar (AF, cm2): se utilizó un equipo Licor 3000. Segundo ciclo de estrés (70 dds): AP (cm) y AF (cm2). Tercer ciclo de estrés (120 dds): Consumo de agua (L): se determinó para cada tratamiento los incrementos de agua a partir de la diferencia de pesos de las macetas realizadas cada cinco días. Mapeo: se registró en el último ciclo de estrés las siguientes variables: altura de planta (AP), número de ramas vegetativas (RV), nº de nudos del tallo principal (NN), nº de ramas fructíferas (NRF), longitud media de los entrenudos del tallo principal (LME), nº de nudo del tallo principal en que se inserta la primer rama fructífera (NPRF), nº total de puntos fructíferos (TPF), porcentaje de frutos fijados (%F), nº frutos caídos (CAI), nº de capullos (CAPL), y precocidad (PREC%). Biomasa total, aérea y de raíces (g/pl.): finalizado el mapeo, se separó las biomasas colocando en sobres de papel que fueron secados en estufa a 70ºC durante cinco días y pesados. Rendimiento de algodón en bruto, semilla y fibra (g/pl.): se cosecharon los capullos y se pesaron, luego con micro-desmotadora se separaron y se pesaron la fibra y semillas. Análisis estadístico: Se efectuó un análisis de variancia para los efectos fijos utilizando modelos generales lineales y mixtos mediante InfoStat/P (DI RIENZO et al., 2014) a través de su interfaz con el programa R (2011). Se consideraron a los tratamientos y a los genotipos como efectos 11


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fijos y a las repeticiones como efecto aleatorio. Se evaluó además la interacción entre los efectos fijos. Para la comparación de los valores promedios se utilizó la prueba LSD de Fisher al 5% (p<0.05). El Grado de Determinación Genética (GDG) se calculó por medio de un análisis de la varianza en las variables que presentaron diferencias en el tratamiento principal. Se utilizaron los componentes de la varianza para utilizar el modelo propuesto por Mariotti (1986) y la fórmula de Falconer (1981), siendo: G DG =

Vg Vf

Vg: varianza genética Vf: varianza fenotípica Para el análisis multivariado se utilizó el programa R versión 3.0.1 (R, 2011). Se estandarizaron los datos y se construyó una matriz de correlaciones lineales, luego se realizó un Análisis de Componentes Principales (ACP) por medio del paquete FactoMineR, que posibilita realizar elipses de confianza para las medias de grupo según el tratamiento principal y conocer los p-valores (p<0.05) de la correlación entre grupos. Una vez verificado si las variables podían separar significativamente a los tratamientos, se procedió a realizar nuevamente ACP solo con los datos del tratamiento con déficit hídrico. Con estos resultados se confeccionaron biplots en base a las dos primeras componentes principales (CP) y luego se realizó un análisis de conglomerados para profundizar en los agrupamientos. Resultados y Discusión: Primer ciclo de estrés (30 dds): La AP presentó diferencias significativas para tratamiento (F=200,56; p<0,0001), genotipo (F=6,43; p<0,0001) e interacción (T*G) (F=1,75; p<0,0372). El tratamiento de estrés hídrico produjo en promedio una reducción del 19% en AP en relación al tratamiento control mostrando los genotipos un comportamiento diferencial (Tabla 2). Similares observaciones fueron reportado por Pace et al. (1999) al evaluar cambios inducidos por la sequia en dos genotipos (Stonville 506 y Tamacot HQ95), mostrando una reducción del 28,31% en condiciones de estrés hídrico versus al control. Por su parte el AF presentó una disminución del 18% (Tabla 2). Resultados similares fueron informados por Mahmood et al. (2006) al caracterizar ocho variedades de algodón para rasgos de crecimiento y productividad en dos y cuatro ciclos de estrés. Chaves, Maroco & Pereira (2003) describieron el papel crítico del agua para las actividades meristemáticas siendo necesaria durante la división y elongación celular, es decir durante la etapa de crecimiento vegetativo. Segundo ciclo de estrés (70 dds: Cuando el estrés se produjo en este período los valores promedios para AP no se vieron significativamente afectados (F=0,09; p<0,7703) comparados con el tratamiento control. Estos resultados concuerdan con los obtenidos por Bohnert & Sheveleva (1998) quien reportó la presencia de efectos negativos del estrés hídrico sólo cuando las plantas 12


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son afectadas en su período inicial de crecimiento y no en los ciclos de estrés posteriores. Sin embargo al manifestarse diferencias entre los genotipos (F=6,40; p<0,0001) e interacción (T*G) (F=1,80; p<0,0306) pone en evidencia que existen algunos genotipos con comportamiento diferencial. El AF presentó una reducción significativa del 17% producto del tratamiento por estrés hídrico (Tabla 2). Siendo significativo el efecto del genotipo (F=6,37; p<0,0001) e interacción (T*G) (F=4,55; p<0,0001). Debe tenerse en cuenta que una disminución del área total de la hoja permite una mejor economía del agua en la planta, siendo un rasgo predictivo en la selección de tolerancia frente al estrés hídrico (MAHMOOD et al., 2006). Tercer ciclo de estrés (120 dds): En la Tabla 2 se resume los valores medios de las variables del mapeo, consumo de agua, materia seca y rendimientos. Menor Ct (L) fue observado en el tratamiento con estrés (-11,51%) en comparación al control, sin presentar diferencias estadísticamente significativas para las cultivares y para la interacción entre la cultivar y el tratamiento. Esto implica que los genotipos presentan una misma eficiencia en el Ct (L) independientemente la condición de humedad del suelo en que crecieron. El tratamiento con estrés hídrico disminuyó significativamente (p > 0,05) la AP (-4,4%), NN (-5,8%), el NRF (7,3%), el CAPL (-23,8%), el %F (-21,8%) y la PREC (-11,6%). Por otro lado, el estrés aumentó significativamente el TPF (17,3%) y el CAI (29,2%) debido a que reanudó el crecimiento después de los diferentes episodios de estrés hídrico inducidos. Esto le permitió diferenciar nuevos puntos fructíferos dando lugar a la mayor caída de frutos en comparación al tratamiento sin estrés que no presentó este crecimiento compensatorio. Asimismo no mostraron diferencias significativas el RV, la LME y el NPRF. Estas diferencias se atribuyeron a características propias de cada entrada. La Ba (g/pl.) fue afectada significativamente (p < 0,05) por la disponibilidad de agua, produciendo una reducción del 12,7% en comparación a las plantas control. Comportamiento similar presentó la variable Bt (g/pl.) con una reducción del 11,3%. Por su parte la Br (g/pl.) no presentó modificaciones en sus valores promedios. Malik & Wright (1997) postularon que el crecimiento de la raíz está menos afectado por la sequía que el crecimiento de brotes ya que la raíz continúa su desarrollo en búsqueda de agua en zonas más profundas del suelo (POTTERS et al., 2007; HONG-BO et al., 2008). El rendimiento de AlgBr (g/pl.) y de Sem (g/pl.), el estrés disminuyó significativamente (23,7% y 26,6%, respectivamente), sin afectar de manera significativa la producción de Fi (g/pl.). La disminución del rendimiento de algodón en bruto puede ser explicado por una menor tasa de crecimiento en el área foliar y en consecuencia a una menor fotosíntesis (KRIEG, 1997). Además el rendimiento del algodón es dependiente de la producción y retención de cápsulas y ambos son afectados por el estrés hídrico (YAZAR, SEZEN & SESVEREN, 2002). Rai (2011) observó una disminución en los rendimientos al evaluar el mecanismo de tolerancia a la sequía en cultivares de algodón para riego en Texas (USA), mostrando mayores rendimientos de algodón cuando los cultivares eran regados versus cultivares de secano.

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Tabla 2. Comparación de Medias para los Tratamientos en los períodos de estrés iniciado a los 30, 70 y 120 días después de la emergencia por 10 días (Test de LSD Fisher-Alfa=0,05). EEA INTA Sáenz Peña (2014-2015). Variables

Sin estrés

Con estrés

Altura de Planta (AP, cm)

83,33±0,97 A *

67,53±1,13 B

Área foliar (AF, cm2)

503,86±8,95 A

430,17±10,08 B

Altura de Planta (AP, cm)

120±0,02 A

121±0,02 A

Área foliar (AF, cm2)

182,84±2,02 A

151,66±1,63 B

Consumo de agua total (Ct, L)

95,36±4,21 A

85,26 ±4,21 B

Altura de planta (AP, cm)

131,99 ±2,69 A

126,11 ±2,69 B

Ramas vegetativas (RV)

2,75 ±0,15 A

2,80 ±0,15 A

Nº de nudos del tallo principal (NN)

18,71±0,57A

17,63 ±0,57 B

Longitud media de los entrenudos del tallo principal (LME)

7,22 ±0,10 A

7,25 ±0,10 A

Nº de nudo del tallo principal en que se inserta la 1er,

5,37 ±0,08 A

5, 49 ±0,06 A

Nº de ramas fructíferas (NRF)

14,23 ±0,60 A

13,19 ±0,60B

Total de puntos fructíferos de la planta (TPF)

24,04 ±2,97 B

28,20 ±2,97 A

Porcentaje de frutos fijados del total de puntos

30,39 ±0,89 A

23,78 ±0,89 B

Nº frutos caídos (CAI)

16,98 ±2,38 B

21,95 ±2,38 A

Nº de capullos (CAPL)

5,76 ±0,38 A

4,39 ±0,38 B

Precocidad (PREC)

85,21 ±2,59 A

75,30 ±2,59 B

Biomasa seca total (Bt, g/pl.)

79,90 ± 4,77 A

70,89 ± 4,77 B

Biomasa aérea seca (Ba, g/pl.)

74,47 ± 2,41 A

65,06 ± 2,41 B

Biomasa seca de raíces (Br, g/pl.)

5,55 ± 0,34 A

5,43 ± 0,34 A

Algodón en bruto (AlgBr, g/pl.)

21,32 ± 1,28 A

16,27 ± 1,28 B

Semilla (Sem, g/pl.)

13,22 ± 0,80 A

9,70 ± 0,80 B

Primer ciclo de estrés (30 dde)

Segundo ciclo de estrés (70 dde)

Tercer ciclo de estrés (120 dde)

rama fructífera (NPRF)

diferenciados en la planta (%F)

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Fibra de algodón (Fi, g/pl.)

9,47 ± 1,38 A

8,59 ± 1,38 A

*Medias con una letra común no son significativamente diferentes (p > 0,05)

Grado de Determinación Genética (GDG): Las variables NRF, AlgBr y Sem (en condiciones de estrés) y CAI (sin estrés) presentaron valores bajos GDG (Tabla 3) según el criterio propuesto por Ramírez & Egaña (2003). En el presente estudio, la AP y PREC presentaron un GDG medio en condiciones de estrés. Similares resultados (GDG=0.36) obtuvieron Dhivya et al. (2014) en estudios de variabilidad, heredabilidad y avance genético en 54 genotipos de G. hirsutum. Las variables TPF, CAPL, PREC, Bt, Ba, AlgBr y Sem en condiciones de buena disponibilidad de agua la expresión del fenotipo se correspondió únicamente al ambiente, y en condiciones de estrés en las variables %F, Bt y Ba. De esta manera, estimaciones bajas va acompañado de un bajo avance genético para la selección de tolerancias a estrés hídrico (SOOMRO et al., 2010).

Tabla 3. Varianzas genéticas (σ2G), fenotípicas (σ2F) y Grado de Determinación Genética (GDG) en el tratamiento principal para variables de mapeo, biomasas y rendimientos EEA INTA Sáenz Peña (2014-2015). Variables

Tratamiento

σ2G

σ2 F

GDG

Sin estrés

54,70

293,66

0,19

Con estrés

160,16

496,69

0,34

Sin estrés

1,70

10,93

0,15

Con estrés

1,25

9,71

0,13

Sin estrés

2,18

11,95

0,18

Con estrés

0,40

10,81

0,037

Sin estrés

0

88,59

0

Con estrés

24,90

170,35

0,14

Sin estrés

15,97

66,62

0,23

Con estrés

0

73,33

0

Sin estrés

2,00

57,46

0,035

Con estrés

17,24

161,92

0,11

Sin estrés

0

4,65

0

Con estrés

0,68

4,11

0,16

Sin estrés

0

398,57

0

Con estrés

227,53

691,74

0,32

Altura de Planta (AP)

Nº de nudos del tallo principal (NN)

Nº de ramas fructíferas (NRF)

Total de puntos fructíferos de la planta (TPF)

Porcentaje de frutos fijados del total de puntos diferenciados en la planta (%F)

Nº frutos caídos (CAI)

Nº de capullos (CAPL)

Precocidad (PREC)

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Sin estrés

0

124,30

0

Con estrés

0

192,70

0

Sin estrés

0

111

0

Con estrés

0

391,04

0

Sin estrés

0

71,89

0

Con estrés

2,14

40,04

0,053

Sin estrés

0

25,89

0

Con estrés

1,07

14,29

0,074

Biomasa seca total (Bt)

Biomasa aérea seca (Ba)

Algodón en bruto (AlgBr)

Semilla (Sem)

Análisis de Componentes Principales en tratamientos con y sin estrés. Las variables en conjunto lograron separar en dos componentes a los tratamientos de manera significativa (p < 0,05) (Tabla 4). El tratamiento sin estrés presento coordenadas positivas con la Componente 1 (CP1) y Componentes 2 (CP2). El tratamiento con estrés presento coordenadas negativas con ambas componentes (CP1 y CP2) indicando que el estrés causo una disminución en las variables en forma conjunta.

Tabla 4. Prueba de significación de la correlación de la variable categórica Tratamiento con los CPs (Student's test) EEA INTA Sáenz Peña (2014-2015). Componente principal 1

Componente principal 2

R2

p-valor

R2

p-valor

0,45

8,66 e-14

0.07

0,022

Estimado

p-valor

Estimado

p-valor

Sin estrés (control)

2,19

3,93 e-13

0,76

0,01

Con estrés

-2,19

3,93 e-13

-0,76

0,01

Tratamiento

Análisis de Componentes Principales y Análisis de grupos en tratamiento con estrés: Las variables de AlgBr, Sem y CAPL presentaron correlación positiva con la CP1. Asimismo, la AP y Ba presentaron mayor asociación al Ct (L) y correlación con la CP1 mostrando una relación directa con el rendimiento en AlgBr, Sem y CAPL (datos no mostrados). La CP2 estuvo correlacionada principalmente con el CAI y TPF en forma positiva y PREC en forma negativa. La correlación con la CP2 indicaría mayor cantidad de TPF y CAI en genotipos menos precoces (Tabla 5). 16


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Tabla 5. Correlación de las variables de mapeo, biomasas y rendimientos con cada componente principal (auto vectores). EEA INTA Sáenz Peña (2014-2015). Variables

Componente principal 1

Componente principal 2

Biomasa aérea seca (Ba)

0,54

0,02

Altura de Planta (AP)

0,51

0,30

Nº de nudos del tallo principal (NN)

0,72

0,56

Nº de ramas fructíferas (NRF)

0,54

0,72

Nº de capullos (CAPL)

0,84

-0,15

Nº frutos caídos (CAI)

- 0,002

0,95

0,09

0,95

0,55

0,39

0,27

-0,76

0,84

-0,31

0,89

-0,27

Total de puntos fructíferos de la planta (TPF) Porcentaje de frutos fijados del total de puntos diferenciados en la planta %F Precocidad (PREC) Semilla (Sem) Algodón en bruto (AlgBr)

Los genotipos del grupo uno (cluster 1) presentaron coordenadas negativas con CP1 y CP2, es decir, valores inferiores de Ba, AP, NRF, CAI, TPF, NN, CAPL, AlgBr y Sem y superiores en PREC (Figura 3). La limitada oferta de agua antes de floración redujo el NN, NRF, y TPF (RIJKS, 1967). Mayor PREC involucra la disminución de los días de duración del cultivo y la cantidad de insumos dedicados a la producción en tanto se mantienen o incrementan los rendimientos (JOHNSON et al., 1974). Entonces, el grupo uno fue afectado en floración temprana (30 dde) y tardía (70 dde). Definió temprano su ciclo y no pudo compensar las pérdidas y en consecuencias presento rendimientos inferiores. Los genotipos del grupo dos (Cluster 2) presentaron valores mayores de CAI y TPF y valores menores de CAPL, AlgBr, Sem, %F y PREC. Menor cantidad de frutos fijados le permitió seguir floreciendo, sin embargo las nuevas flores no pudieron ser retenidas debido a que fueron afectadas por el segundo episodio de estrés (70 dde) no compensando el derrame y en consecuencia tuvieron menores rendimientos en AlgBr, Sem y CAPL. El grupo tres (Cluster 3) presento mayores coordenadas con la CP1, es decir mayor %F, AlgBr, CAPL, Sem, Ba y AP (Figura 1). El mayor %F en los genotipos sugiere tolerancia a los diferentes episodios de estrés inducidos y capacidad de compensación representado una respuesta activa y dependiente del tiempo, la pérdida de órganos reproductivos prolonga la producción de flores, manteniendo la tasa de floración tardía y número de sitios fructíferos (SADRAS, 1995). La asociación de la AP y Ba con el consumo del agua (Ct, L), indicaría una acumulación mayor de biomasa contribuyendo a los rendimientos y madurez del cultivo (HEARN, 1969; HEARN, 1979; GUINN, 1982; HEARN & CONSTABLE, 1984). Además, Jamal et al., 2014 sugieren a la biomasa como mejor parámetro para selección de genotipos tolerantes al estrés hídrico. Sin embargo, en base a los resultados obtenidos en la 17


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presente investigación, la selección de genotipos tolerantes a estrés hídrico se puede realizar a partir de un conjunto de variables que están correlacionadas (%F, AlgBr, CAPL, Sem, Ba y AP).

Figura 3. Representación de los grupos de entradas en el mapa en condiciones de estrés hídrico formados a partir de las Componentes principales 1 y 2. EEA INTA Sáenz Peña (2014-2015).

Conclusión El conocimiento generado, es un primer paso en la contribución para la obtención de líneas o cultivares más adaptadas al estrés hídrico. En este sentido los genotipos que podrían aportar variabilidad por su desempeño en %F, AlgBrt, CALP, Sem, Ba y AP bajo condiciones de estrés hídrico acomunado fueron las entradas BGSP 716, BGSP 52, BGSP 765, BGSP 750, BGSP 463, BGSP 803, BGSP 514, y SP 48114. Para esto es necesario contrastar todos y evaluar cuales tienen mejor expresión de las variables analizadas. Agradecimiento Financiados por los proyectos. REDGEN1137021 y PNIND-1108082 de INTA.

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2. Caracterização físico-química de acessos do banco de germoplasma de feijão-macuco (Pachyrhizus Rich. ex DC. spp.) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

Eliésio Melo de Vasconcelos Graduado em Agroecologia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas – IFAM (2013). Me. em Agricultura no Tropico Úmido pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA (2018). Tem experiência na área da ciência agronômica, com ênfase em sistemas produtivos agroecológicos e melhoramento genético de plantas. Também fornece consultorias em produção de hortaliças, fruticultura, culturas agroindustriais, ensino e pesquisa. E-mail: eliesio.agroecologia@gmail.com

Danilo Fernandes da Silva Filho Tecnólogo Modalidade Indústria da Madeira pelo Instituto de Tecnologia da Amazônia (UTAM 1983), Eng. Florestal pelo UTAM (1991), Me. em Agronomia - Melhoramento Genético Vegetal, pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE -1994) e de Dr. em Ciências Biológicas (Botânica Econômica) pelo convênio mantido entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e a Universidade Federal do Amazonas (UFAM - 2002). É pesquisador titular e credenciado nos Programas de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido (INPA) e em ciências do ambiente e sustentabilidade na Amazônia da UFAM, em Manaus. E-mail: danilo@inpa.gov.br.

Edinei Santos da Silva Graduado em Agroecologia pelo IFAM, Me. em Agricultura no Tropico Úmido, Me. em Ciências Biológicas (Botânica), pelo INPA. Área de atuação é conservação, Melhoramento de Plantas, Botânica-Etnobotânica, Plantas Alimentícias não Convencionais, Agroecologia, Produção Orgânica e Agricultura familiar. E-mail: santos.edinei3@gmail.com

César Augusto Ticona-Benavente Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Nacional de San Agustín, Peru (UNSA - 2000), Me. em Melhoramento Genético de Plantas pela Universidade Nacional Agrária La Molina, Peru (UNALM - 2002), e Dr. em Genética e Melhoramento de Plantas, pela Universidade Federal de Lavras, Brasil (UFLA - 2010). Atualmente é Pesquisador Associado do INPA desenvolvendo projetos visando o melhoramento do jacatupé (Pachyrhizus spp.), cubiu (Solanum sessiliflorum Dunal) e tomate (Solanum lycopersicum L.). Tem experiência em melhoramento de batata (Solanum tuberosum L.), Capsicum L. spp.) e estatística experimental e computacional. E-mail: cesar.benavente@gmail.com

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Resumo O objetivo deste trabalho foi caracterizar físico-quimicamente raízes de 56 acessos de feijãomacuco (Pachyrhizus spp.) do banco ativo de germoplasma do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA - Manaus-AM). Para tanto, foi conduzido um plantio em terra firme seguindo o delineamento de blocos completamente casualizados, com três repetições e oito plantas por parcela, com espaçamento de 1,0 m x 0,5 m entre linhas e plantas respectivamente. As características avaliadas nas raízes foram: produtividade de raízes, proteína e cinzas; porcentagem de proteína e cinzas; pH e coloração. Os resultados mostraram que há variabilidade genética significativa para todas estas caraterísticas, destacando a produtividade de raízes (3 a 33 t/ha), de proteína (41 a 337 kg/ha) e cinzas (8 a 193 kg/ha). A porcentagem variou de 4,60 a 15,15% em proteínas, de 1,20 a 5,16% em cinzas, e de 3,18 a 5,61 % no pH. A cor da polpa, expressa pela luminosidade, variou de 10,91 (escura) a 80,63 L* (clara). Também observou-se que o acesso P13 é o mais promissor por sua elevada produtividade em raízes (33 t/ha), proteínas (337 kg/ha), e cinzas (193 kg/ha), com pH=5,62 e L*=67,03. Portanto, no banco de germoplasma há variabilidade genética para os teores de nutrientes e o acesso P13 será avaliado em novos testes agronômicos. Palavras - chave: melhoramento, feijão-macuco, Pachyrhizus spp., seleção, proteínas.

Physico-chemical characterization of yam bean from Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia germplasm bank. The objective of this work was to characterize physico-chemically roots of 56 access of yam bean (Pachyrhizus spp.) from the active gene bank of the Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA – Manaus, Brazil). Therefore, it was carried out a trial in non-flooded land following the design of blocks completely randomized with three replicates and eight plants per plot, with spacing of 1.0 m x 0.5 m between lines and plants respectively. The characteristics evaluated in the roots were: root productivity, protein and ashes; pH and pulp color. The results showed significant genetic variability for all these characteristics, highlighting the productivity of roots (3 to 33 t/ha), protein (41 to 337 kg/ha) and ashes (8 to 193 kg/ha). The percentage of protein ranged from 3,18 to 5,61%. The color of the pulp expressed by the brightness (L*) ranged from 10,91 (dark) to 80,63 (clear). Also noted that the access P13 is the most promising with high productivity of roots (33 t/ha), protein (337 kg/ha), ashes (193 kg/ha), pH=5,62 and L*=67,03. Therefore, there is genetic variability in this yam bean germplasm bank, being selected the access P13 for to be evaluated in new future agronomic tests. Keywords: plant breeding, yam bean, Pachyrhizus spp., selection, proteins

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1. Introdução A caracterização físico-química das raízes de acessos de feijão-macuco (Pachyrhizus spp.) é necessária para fins de melhoramento genético. Este feijão pertence ao grupo das 25 espécies da família Fabaceae cujas raízes são comestíveis (Figura 1), tais como Sphenostylis stenocarpa (Hochst. ex A. Rich.) Harms, Vigna vexillata (L.) A. Rich., Flemingia vestita Benth. ex Baker, Psoralea patens Lindl. entre outras (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, 1979a). Infelizmente estas espécies leguminosas-tuberosas são pouco estudadas e consideradas nos programas de segurança alimentar apesar de terem elevadas produtividades de raízes mesmo sem o uso de adubos, e elevados teores de proteínas (5 a 20%), superando às raízes tradicionais como a mandioca (Manihot esculenta L.) Crantz com 2,5%, a batata inglesa (Solanum tuberosum L.) e doce (Ipomea batatas (L.) Lam.) ambas com 5% (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, 1979b). As espécies pertencentes ao gênero Pachyrhizus, conhecidas genericamente como feijãomacuco, jacatupé ou jíquimas, foram estudadas com maior ênfase a partir de 1982, quando se estabeleceu o Yam Bean Project dedicado exclusivamente ao estudo deste gênero a nível mundial (SØRENSEN, 1994). No Brasil, o maior esforço para conhecer o seu potencial agrícola foi realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), onde atualmente se conservam 64 acessos melhorados (SILVA et al., 2016).

Figura 1. Raiz do feijão-macuco ou jacatupé (Pachyrhizus spp.). Foto: Cesar Augusto.

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O gênero Pachyrhizus é de reprodução autógama e abriga três espécies cultivadas: P. tuberosus (Lam.) Sprengel, P. erosus (L.) Urban e P. ahipa (Wedd.) L. Parodi (SØRENSEN, 1996). E duas espécies silvestres (P. ferrugineus (Piper) M.) e (P. panamensis Clausen), que são nativas das regiões do Peru e Bolívia em altitudes elevadas, inaptas para consumo humano (SØRENSEN, 1996). P. erosus e P. tuberosus são hortaliças não convencionais, que estão bem adaptadas às condições da região Amazônica, tendo raízes comestíveis, mas com sementes tóxicas inaptas para consumo humano e animal (LEUNER et al., 2013; ESTRELA-PARRA et al., 2014). Para avançar no melhoramento destas espécies torna-se necessário caracterizá-las agronômica e físico-quimicamente. Este esforço foi realizado na África com as três espécies cultivadas (ZANKLAN et al., 2007), onde se demonstrou que P. erosus produz 35,19 t/ha, 12,7% de proteína e 43,21% de amido; que P. tuberosus produz 21,12 t/ha, 10,68% de proteína e 57,11% de amido; e que P. ahipa produz 19,31 t/ha, 9,09% de proteína e 47,88% de amido. O banco ativo de germoplasma (BAG) do Inpa começou com 13 acessos provenientes de Mato Grosso e do México, mas devido a variações da cor das sementes dentro dos acessos, houveram seleções sucessivas, chegando-se a identificar no total 64 genótipos. Mais recentemente, estes acessos foram caracterizados agronomicamente, destacando o acesso P24 (108 t de raízes/ha) (SILVA et al., 2016). Em relação à caracterização físico-química, tem-se dados sobre os 13 acessos inicias, nos quais as raízes eram compostas por 87,10% de umidade, 0,05% de ácidos graxos, 5,60% de açucares, 0,78% de fibra, 57% de amido e 10 a 18% de proteínas (NODA et al., 1984). Porém, falta caracterizar a composição físico-química dos acessos. Portanto, este trabalho caracterizou 56 acessos do BAG do Inpa em função de sua composição físico-química. 2.

Materiais e Métodos

O experimento de campo foi conduzido no INPA (Manaus-AM), na Estação Experimental de Hortaliças (EEH) “Dr. Alejo von der Pahlen”, km 14 da rodovia AM-010, com coordenadas 02º 59’ 48.63” S e 60º 01' 24.64” O, com altitude de 55 m, em solo tipo Argissolo VermelhoAmarelo Álico. O clima local é caracterizado como “Af” no esquema de Köppen, registrando 2.550 mm de chuva ao ano, com temperatura média anual de 26,5 ºC, com variação mensal de 19,0 ºC a 36,6 ºC, e umidade relativa do ar de 80,9 % (ALVAREZ et al., 2013). As análises de laboratório foram conduzidas nos laboratórios de Tecnologia de Alimentos e no Temático de Solos e Plantas, ambos do Inpa. Foram avaliados 56 acessos do BAG de feijão-macuco do Inpa (Tabela 1). Inicialmente foram feitas as mudas em bandejas de isopor de 128 células, preenchidas com substrato comercial Top-estrato®, colocando duas sementes por célula. Depois as bandejas foram colocadas em casa de vegetação com sistema de irrigação por micro aspersão (duas aplicações: uma de manhã e outra de tarde). Quando as plântulas atingiram 5 cm de altura realizou-se o desbaste, deixando apenas uma planta por célula. O plantio ocorreu no mês de outubro de 2015, 24


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após 15 dias da semeadura. No campo foram feitas covas medindo 20 x 20 cm de diâmetro e profundidade respectivamente. O delineamento utilizado foi de blocos completamente casualizados com 56 tratamentos, três repetições e oito plantas por parcela, com espaçamento de 1 m x 0,5 m entre linhas e plantas respectivamente. A colheita das raízes foi realizada após sete meses do plantio, estimando-se a sua produtividade. No laboratório foram realizadas a análises físico-químicas (cinza, coloração da polpa, proteína e pH) a partir de farinha seca da raiz de cada genótipo em triplicata. Para determinar o teor de cinzas seguiu-se as recomendações da AOAC (2007). Para tanto, foram pesadas 0,05 g da farinha das raízes em cadinho de porcelana, logo, as mesmas foram carbonizadas (no fogo) e na sequência calcinadas em forno mufla por 4 horas a 550 ºC. Finalmente o resíduo foi pesado em balança de precisão modelo Eletronic Balance FA-2104N. O cálculo do teor de cinza foi estimado (cinza residual/massa seca*100). O teor de proteína foi obtido pelo método de Kjeldahl (AOAC, 2007), o qual quantifica o teor de nitrogênio total. Pesou-se 0,02 g da farinha, em seguida adicionou-se em tubo micro Kjeldahl, 0,02 g de solução catalítica composta por cloreto de sódio e cloreto de potássio (1:1), além de 0,05 ml de ácido sulfúrico. Esta mistura foi levada para digestão a 350°C por 4 horas, em seguida procedeu-se à destilação e posteriormente à titulação. A determinação do pH foi realizada com um pHmetro modelo MS Tecnopon mPA 210, em temperatura de 25 °C. As amostras foram trituradas em liquidificador do tipo industrial, em seguida utilizou-se 20 ml do teor líquido de cada amostra condicionadas em recipiente descartável, agitando-se o conteúdo até que as partículas ficassem uniformemente suspensas, em seguida aferiu-se o pH. Para a determinação da coloração da raiz foi utilizado um calorímetro Konica Minolta CR410 (Konica Minolta Sensing). Este aparelho gerou os valores de L*, a* e b*, onde L* indica a luminosidade, variando de zero (preto) a 100 (branco); a* varia de -60 (verde) a +60 (vermelho); e b* de -60 (azul) a +60 (amarelo) (KONICA MINOLTA, 2007). Com esses valores calculou-se o ângulo Hue= arctg (b/a) e o Croma = √

∗2

+

∗2.

As análises de variância e teste médias de Scott e Knott foram processadas no programa Genes (CRUZ, 2013) e Sisvar 5.6 (FERREIRA, 2011) respectivamente.

25


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Tabela 1. Médias dos acessos de feijão-macuco do banco de germoplasma do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Manaus – AM, 2016.

Acesso

Produtividade raízes t/ha

Proteína (%)

Proteína kg/ha

Cinza (%)

Cinza kg/ha

pH

L*

P1

12,57 a1

9,63 a3

171,84 a2

2,43 a6

43,36 a1

5,85 a7

69,89 a16

P2

7,92 a1

12,26 a4

137,88 a1

3,56 a10

40,04 a1

5,01 a5

71,31 a17

P4

4,17 a1

11,62 a4

75,53 a1

2,40 a6

15,60 a1

5,22 a4

31,38 a13

P5

9,71 a1

6,28 a2

95,09 a1

1,63 a3

24,68 a1

5,39 a6

74,40 a21

P6

6,79 a1

10,14 a4

100,57 a1

1,80 a4

17,85 a1

5,39 a4

20,45 a2

P8

5,57 a1

14,89 a5

137,76 a1

1,80 a4

16,65 a1

4,57 a5

25,29 a7

P9

11,64 a1

7,00 a2

127,11 a1

5,16 a15

93,70 a2

4,80 a7

72,23 a19

P10

6,77 a1

8,63 a3

56,06 a1

1,50 a2

9,74 a1

5,57 a5

21,81 a3

P11

8,71 a1

10,07 a4

117,58 a1

2,60 a7

30,36 a1

5,86 a7

56,33 a26

P12

7,45 a1

11,76 a4

106,93 a1

2,66 a7

24,19 a1

5,61 a7

61,77 a21

P13

33,16 a3

7,28 a2

337,97 a3

4,16 a12

193,12 a3

5,62 a7

67,03 a20

P14

9,12 a1

5,76 a1

67,24 a1

2,86 a8

33,39 a1

5,55 a7

72,06 a26

P15

7,51 a1

11,57 a4

114,64 a1

3,46 a10

34,28 a1

5,01 a5

69,05 a24

P16

6,14 a1

8,82 a3

66,07 a1

1,90 a4

14,23 a1

5,82 a7

22,87 a4

P17

8,36 a1

12,85 a5

146,10 a1

3,66 a10

41,61 a1

4,18 a4

70,03 a19

P18

4,91 a1

15,15 a5

132,50 a1

2,40 a6

20,99 a1

4,13 a4

29,59 a11

P19

7,21 a1

12,14 a4

122,48 a1

2,10 a5

21,19 a1

5,37 a6

25,65 a7

P20

3,23 a1

14,45 a5

74,75 a1

1,60 a3

8,28 a1

5,10 a5

23,99 a5

P21

3,78 a1

12,92 a5

84,00 a1

1,40 a2

9,10 a1

4,63 a5

20,31 a2

P22

4,79 a1

9,26 a3

69,15 a1

1,40 a2

10,45 a1

4,46 a4

25,07 a6

P23

4,91 a1

7,92 a3

47,41 a1

1,40 a2

8,38 a1

4,78 a5

22,28 a3

P24

11,23 a1

8,40 a3

135,80 a1

3,50 a10

56,58 a1

4,73 a5

67,24 a23

P25

7,89 a1

7,10 a2

66,07 a1

1,80 a4

16,75 a1

4,31 a4

26,08 a8

P26

5,96 a1

10,63 a4

86,16 a1

2,50 a6

20,26 a1

3,02 a1

29,30 a10

P27

19,64 a2

8,43 a3

225,17 a2

3,10 a9

82,80 a1

4,45 a4

73,66 a14

P28

8,71 a1

9,13 a3

114,47 a1

5,33 a15

66,83 a1

4,60 a5

68,20 a15

P29

6,95 a1

6,51 a2

47,03 a1

3,20 a9

23,12 a1

3,92 a3

71,15 a22

P30

8,28 a1

10,8 a4

103,73 a1

2,50 a6

24,01 a1

3,97 a3

10,91 a4

P31

7,15 a1

9,60 a3

89,19 a1

1,80 a4

16,72 a1

3,08 a1

30,27 a12

P32

4,39 a1

10,80 a4

73,91 a1

2,20 a5

15,06 a1

5,91 a6

29,06 a10

P33

4,01 a1

8,04 a3

38,01 a1

3,29 a9

15,55 a1

3,61 a2

68,22 a16

P34

5,91 a1

9,45 a3

59,17 a1

2,50 a6

15,65 a1

3,18 a1

23,81 a5

P37

7,93 a1

9,25 a3

104,12 a1

2,70 a7

30,39 a1

5,22 a6

72,11 a19

P38

4,45 a1

11,11 a4

70,26 a1

1,60 a3

10,12 a1

4,57 a5

28,16 a9

P39

5,29 a1

10,91 a4

69,21 a1

2,90 a8

18,40 a1

4,92 a5

73,91 a22

P40

4,76 a1

7,44 a3

41,79 a1

3,30 a9

18,54 a1

4,33 a4

74,11 a22

P41

9,61 a1

6,97 a2

99,10 a1

1,94 a4

27,58 a1

3,80 a3

72,54 a20

P43

4,81 a1

11,32 a4

83,91 a1

1,30 a2

9,64 a1

4,86 a5

26,27 a8

P44

3,74 a1

7,95 a3

42,82 a1

2,40 a6

12,93 a1

5,61 a7

26,48 a8

P45

5,73 a1

11,11 a4

89,18 a1

1,60 a3

12,84 a1

4,98 a5

27,93 a9

P46

12,46 a1

10,10 a4

143,46 a1

1,76 a4

25,00 a1

5,24 a6

76,03 a25

P47

5,31 a1

13,97 a5

124,55 a1

1,20 a1

10,70 a1

4,21 a4

24,91 a6

P48

8,13 a1

13,93 a5

190,34 a2

1,30 a2

17,76 a1

3,87 a3

28,30 a9

P49

9,69 a1

7,78 a3

122,17 a1

4,38 a12

68,78 a2

5,20 a6

71,71 a18

P50

14,30 a1

4,60 a1

74,99 a1

4,46 a13

72,71 a2

5,39 a6

73,77 a22

P51

12,06 a1

5,00 a1

74,77 a1

4,73 a14

70,73 a2

4,72 a5

80,63 a27

P53

7,99 a1

8,09 a3

82,70 a1

2,40 a6

24,54 a1

5,20 a6

29,63 a11

26


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P54

7,76 a1

10,16 a4

111,96 a1

2,10 a4

23,14 a1

3,89 a3

29,91 a11

P55

10,49 a1

9,05 a3

129,15 a1

1,62 a3

23,12 a1

4,70 a5

72,55 a20

P56

5,41 a1

8,59 a3

78,02 a1

1,00 a1

9,08 a1

4,83 a5

31,60 a13

P58

9,61 a1

5,60 a1

78,60 a1

4,20 a12

58,95 a2

3,88 a3

73,10 a21

P60

6,59 a1

9,35 a3

68,98 a1

3,30 a9

24,34 a1

4,72 a5

19,74 a1

P61

3,03 a1

10,82 a4

59,08 a1

2,50 a6

13,65 a1

5,46 a6

71,72 a18

P62

11,51 a1

4,84 a1

64,64 a1

3,93 a11

52,49 a2

4,70 a5

76,47 a25

P63

6,94 a1

10,48 a4

114,92 a1

1,90 a4

20,83 a1

4,58 a5

26,00 a8

P64

14,75 a1

8,20 a3

188,64 a2

1,76 a4

40,49 a1

4,22 a4

73,59 a21

Erro

2373,00

142,24

3037,16

1,97

625,38

6,14

9,26

Média

8,15

9,56

101,61

2,56

31,46

4,70

49,66

CV (%)

56,42

11,78

51,25

5,19

75,09

4,98

0,58

Médias seguidas pelas mesmas letras e números nas colunas não diferem entre si pelo teste Scott-Knott (P<0,05).

3. Resultados e Discussão O objetivo atual do melhoramento do feijão-macuco é o de obter genótipos com alta produtividade em raízes e elevados teores de proteínas. Por isto, é preciso fazer avaliações tanto agronômicas como fisico-químicas dos genótipos do Inpa. A confiabilidade dos resultados pode ser avaliada pelo coeficiente de variação (PIMENTEL GOMES, 1982). Neste trabalho esta estatística, em geral, foi baixo exceto para produtividade de raízes e de proteína. Isto poderia ser devido a que ainda existe dentro de cada acesso variabilidade genética, fato que se constata ao conservar sementes sem padrão de cor e flores de cor branca e violeta. Os resultados mostraram que a produtividade em raízes variou de 3,03 a 33,16 t/ha. Estes valores são muito inferiores aos encontrados nestes mesmos materiais por Silva et al. (2016). Isto pode ser explicado porque, ao contrário do realizado por eles, neste trabalho não houve poda das flores. Usualmente tal poda é realizada em P. erosus e P. ahipa (SORENSEN, 1996), para aumentar a produtividade de raízes. Por exemplo, a cultivar AC-102 (P. ahipa) com poda produziu 40 t/ha e sem poda caiu para 5 t/ha (CASTELLANOS et al., 1997). Neste mesmo estudo a cultivar San Miguelito (P. erosus) produziu 105 t/ha com poda e 25 t/ha sem poda. Dos acessos avaliados para esta característica o P13 foi o que demonstrou maior produtividade em raízes (33,16 t/ha), seguido por P27, P64 e P50, (19,64; 14,30 e 14,75 t/ha respectivamente) (Tabela 1). Estes mesmos acessos produziram com poda 38,8; 66,2; 53,8 e 67,8 t/ha respectivamente (SILVA et al., 2016). Isto indica que P13 quando é podada perde apenas 14,5% do seu potencial produtivo, entretanto que P27 perde 70,2%. Portanto, P13 teria tolerância à falta de poda, o que diminuiria o trabalho para o seu cultivo. O teor de proteína das raízes variou de 4,60 a 15,15%, o qual tem maior amplitude que o encontrado para P. erosus, P. ahipa e P. tuberosus em Benin (8,98 a 12,70%) (ZANKLAN et al., 2007). Similarmente, estes resultados foram superiores aos relatados por Ramos de la Peña et al., (2013) para estas três espécies (1,0 a 4,9%). O acesso que se destacou foi o P18 por ter 15,15% de proteína, podendo ser selecionado por seu valor nutricional.

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A quantidade de proteína por hectare é uma variável que pode ser de interesse caso se deseje extraí-la como produto principal, como é no caso do glúten de trigo ou soja. Apesar de P18 ter sido o acesso com o maior teor de proteína, sua produtividade média de raízes foi 4,91 t/ha, resultando em produtividade de proteína de 132,50 kg/ha. Entretanto P13 mesmo possuindo menor teor de proteína (7,28%), produziria 337,97 kg/ha (Tabela 1). Essas variações nos teores de proteínas podem ser afetadas por diversos fatores, como a adubação, o manejo da cultura ou a próprio genótipo (LACHMAN et al., 2005). Portanto, P18 deveria ser selecionado por seu elevado teor per se de proteínas nas raízes para avaliações sensoriais futuras, e P13 poderia ser selecionado no caso de extração de proteína bruta. O teor de cinzas está relacionado com o teor de minerais, de maneira que elevados teores indicariam logicamente maior teor de nutrientes. Neste trabalho este item variou de 1,0 (P56) a 5,3% (P28), mostrando que o valor nutritivo do P28 sobrepujou o do P56. Mas realizar a seleção apenas pelo teor de cinzas ou apenas pelo teor de proteína não é adequado se não levarmos em consideração a produtividade de raízes. Assim, avaliar a produtividade de cinzas por hectare seria um melhor caráter para a seleção. Considerando-se este novo caráter o acesso P13 (193,12 kg/ha) seria o mais nutritivo, superando o acesso P28 (66,83 kg/ha). Estes resultados diferem dos 13 acessos iniciais deste BAG porque foram encontradas variações nos teores de cinza de 1,14 a 3,49%, mostrando que a variação aumentou. Neste experimento variou de 1,00 a 5,16%, portanto a variabilidade genética da população atual é maior que a inicial embora a média se mantenha constante, em torno de 2.5%. Isto hipoteticamente poderia ter sido causado por cruzamentos naturais que causaram novas combinações genéticas. O pH mede a concentração de H de um alimento. Quanto maior a concentração de H* (caráter ácido), menor o pH. Os alimentos são classificados em, três grupos: Alimentos pouco ácidos: apresentam pH > 4,5; alimentos ácidos: pH 4,0- 4,5, já os alimentos muito ácidos < 4,0 (Gava et al., 2008). Neste trabalho os acessos pertencentes ao grupo dos menos ácidos foram P32, P11, P1, P16, P13, P12, P44, cujo pH variou de 5,60 a 5,80. Os acessos ácidos foram P17, P18, P8, P22, P25, P27, P38, P40, P47, P63 e P64. E os muito ácidos foram P26, P29, P30, P31, P33, P34, os quais apresentaram pH de 3,0 a 4,0 (Tabela 1). Testes organolépticos se tornam necessários para saber se o pH pode ser um indicativo do sabor ou do tempo de prateleira, como acontece em tomate onde pH’s abaixo de 3,70 têm baixa aceitabilidade do consumidor, pH=4,50 são aceitáveis ao consumidor e tem maior tempo de prateleira, e pH acima de 4,50 favorece a proliferação de microrganismos, reduzindo o tempo de prateleira (GUILHERME et al., 2008; MONTEIRO et al., 2008). A maioria dos microrganismos desenvolve-se em pH’s próximos da neutralidade, inclusive as bactérias patogênicas, bolores e leveduras. Já em alimentos ácidos e também muito ácidos a microbiota é bem mais restrita; e a maioria dos patógenos não se multiplica, apenas os bolores e leveduras (HOFFMANN, 2001). Portanto, neste BAG existe variabilidade para o pH, o que indica que os genótipos podem apresentar maior tempo de prateleira, resistência pós-colheita a alguns patógenos, além de distintos sabores. 28


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A avaliação da cor foi feita pelo método Konica Minolta, L*, a*, b* (KONICA MINOLTA, 2007), o qual ajuda a medir as cores de forma quantitativa. Os resultados mostraram que os valores de a*, b*, Croma e Hue foram muito baixos, contrariamente ao L*. Isto indica que as cores medidas foram de diferentes tonalidades da cor branca. Portanto, o parâmetro L* foi considerado para fazer a caracterização física da polpa das raízes. Neste experimento os maiores valores de L* foram dos genótipos P51 (80,63), P62 (76,47), P46 (76,03), P40 (74,11), P5 (74,40), P39 (73,91), P27 (73,66), P50 (73,77) e P64 (73,59). Os quais podem ser recomendados para produção de alimentos de coloração clara. Valores de L* baixos foram encontrados nos genótipos P30 (10,91), P60 (19,74), P21 (20,31), P23 (22,28), portanto estes genótipos tem coloração amarronzada (Tabela 1). Doporto et al. (2012) ao avaliarem a coloração de farinha de mandioca em comparação com a farinha de feijão-macuco, observaram variação de L* entre 90,90 a 92,91 e 84,10 a 85,41, respectivamente. Enquanto que neste experimento o máximo foi de P51 (80,63). 4. Considerações finais A produtividade, coloração e pH de raízes junto com seus teores de proteína e cinzas apresentaram variabilidade genética, o que indica que eles são úteis para caracterizar Pachyrhizus spp. O acesso P13, mesmo sem poda de flores, apresentou a maior produtividade em raízes (33,16 t/ha), de proteína (338 kg/ha) e de cinzas (193,12 kg/ha), portanto, pode ser recomendado como germoplasma a ser utilizado como parental em cruzamentos. Mas, se o objetivo for extrair proteínas, torna-se necessário primeiramente efetivar a caracterização e a quantificação de aminoácidos e do tipo de proteínas presentes neste acesso. O acesso P18 teve o maior teor de proteína (15,15%), por tanto, deve ser testado organolepticamente para avaliar a viabilidade de seu consumo in natura ou cozido. Foi observada variabilidade genética dentro de alguns acessos para produtividade de raízes e de proteínas, elevando o coeficiente de variação. Isto sugeriria que alguns deles seriam populações com algum grau de fecundação cruzada. 5. Referências AOAC. Association of Official Analytical Chemists International. Official Methods of Analysis of AOAC International. – 18th ed. Gaithersburg: AOAC International, 2007. ALVARES, A.C.; STAPE, L.J.; SENTELHAS, C.P.; GONCALVES, M.L.J.; SPAROVEK, G. Köppen’s climate classification map for Brazil. Meteorologische Zeitschrift, v. 22, p. 711–728, 2013. CASTELLANOS, J. Z.; ZAPATA, F.; BADILLO, V.; PEÑA-CABRIALES, J. J.; JENSEN, E. S.; HEREDIAGARCÍA, E. Symbiotic nitrogen fixation and yield of Pachyrhizus erosus (L) urban cultivars and Pachyrhizus ahipa (WEDD) Parodi landraces as affected by flower pruning. Soil Biology and Biochemistry, v. 29, n. 5, p. 973981, 1997. CRUZ, C.D. GENES - A Software package for analysis in experimental statistics and quantitative genetics. Acta Scientiarum Agronomy, 35 (3): 271-276, 2013.

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3. Recursos Genéticos: A Biotecnologia e a Segurança Alimentar

Afonso Celso Candeira Valois Engenheiro Agrônomo, Pesquisador Aposentado da Embrapa, Engenheiro Agrônomo, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Genética, Melhoramento de Plantas e Biotecnologia.

Contextualização Algumas áreas científicas são intrinsecamente ligadas à de Recursos Genéticos, como a da Biotecnologia (quando aplicada na agricultura, ciência dos alimentos e medicina), e a da Segurança Alimentar (na produção, transporte e armazenamento de alimentos), (ARANTES, 2012). Desta forma, ao pensar em Biotecnologia e Segurança Alimentar, verifica-se que é premente a incessante busca por know-how agrícola, que corresponde a: 1) fazer através do uso da tecnologia apropriada apoiada na experiência de sua aplicação; 2) fazer com conhecimento de causa proporcionada pela tecnologia per se; 3) fazer com habilidade baseada na técnica aprimorada. Essas três linhas de busca por know-how, direcionados ao “fazer”, são sobejamente determinantes para o comportamento ideal do ser humano e, respaldados pelo altivo conhecimento, que corresponde ao “fazer com o saber” com seu pleno uso através da excelência em ciência, educação e ética (VALOIS, 2018). De maneira geral, o mundo vem sendo regido pelas relevantes ondas do desenvolvimento humano (VALOIS, 2017), com destaque para as seguintes: a) a agricultura coincide com a domesticação das plantas, e o primeiro registro de domesticação na América do Sul, data de 12.000 (CLEMENT et al. 2015), período em que o ser humano deixa de ser exclusivamente nômade, passando a se fixar por períodos mais longos, pela sobrevivência graças à agricultura; b) a matemática, física e química, que possibilitaram a James Watson e Francis Crick, em 1953, a descoberta da estrutura espacial do DNA, com sua hélice dupla e fitas semiconservativas (GANDER et al., 1996; MENEGUINI, 2003), acelerando o desenvolvimento da biologia molecular e os métodos de grande precisão, como a engenharia genética, que permite a transferência de genes entre espécies

Figura 1. Watson e Crick, em 1953 (MENEGUINI, 2003).

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próximas ou distantes, e possibilita a remoção de características indesejáveis de reações alérgicas, toxicidade ou predisposição às doenças; c) a bioinformática, com seus bancos de dados sobre as nuanças da biologia molecular; d) os parques industriais, possibilitando oportunidades de trabalho e renda para a sociedade; e) a conectividade geográfica, coibindo o isolamento de comunicação entre pessoas, comunidades, povos e nações. A biotecnologia é precursora do desenvolvimento de produtos por processos biológicos, utilizando a técnica do DNA recombinante. Possibilita, ainda, o uso industrial de procedimentos de fermentação de microrganismos (produção de álcool, ou de cultura de tecido), para a extração de produtos secundários como metabólitos, além de desenvolver processo tecnológico que dá margem ao emprego de material biológico para fins científicos e industriais. Tem, assim, como resumo da sua mais simples definição, a manipulação de organismos vivos ou de seus produtos gerando bens de consumo e serviços. Ainda como definição auxiliar, a biotecnologia significa qualquer aplicação tecnológica que utilize sistemas biológicos, organismos vivos ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processos para utilização específica, tendo como fundamento a manipulação da biologia molecular e celular (MEIRA GUSMÃO et al., 2018). Os produtos obtidos por biotecnologia são aqueles cujo material genético tenha sido alterado de maneira distinta da que ocorre naturalmente, através de metodologias avançadas de genética, biologia molecular, biologia celular, cultura de células, órgãos e tecidos, engenharia genética e clonagem (VALOIS, 2018). As aplicações da biotecnologia são efetuadas principalmente na agricultura, silvicultura, aquicultura e pecuária, em especial na produção de alimentos, mas também nas medicinas humana (produção da insulina etc.) e veterinária. Ainda são aplicadas na elaboração de químicos específicos, ecologia, energia, agroindústria (fermentados e biomassa), meio ambiente (biomonitoração, biorremediação, tratamento de efluentes e resíduos, controle biológico, manejo integrado de pragas e doenças, além da substancial redução da aplicação de agrotóxicos na agricultura e outros). As nuanças das biotecnologias podem também auxiliar na obtenção de alimentos seguros à saúde, livres de perigos físicos, químicos, biológicos e ambientais, considerando a primazia da segurança alimentar e nutricional (VALOIS, 2016). Com recursos genéticos, as oportunidades para a biotecnologia estão direcionadas na área vegetal para a produção de grãos, produção de frutas, hortaliças e fibras, obtenção de alimentos funcionais (aqueles que fazem bem a saúde), proteção sanitária e processamento de alimentos e fibras (CARVALHO et al., 2006). Ainda nesse mesmo sentido, a biotecnologia é capaz de elevar as vantagens competitivas e comparativas da agricultura, principalmente por: a) acelerar a velocidade de inovações; b) incrementar a produtividade; c) reduzir custos; d) gerar produtos e processos mais seguros; 32


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e) criar produtos com novos atributos (aroma, composição, cor, ciclo, porte, resistência a fatores adversos, sabor e tamanho); f) vislumbrar novas possibilidades de biofábricas para a agricultura e pecuária. Quando se trata do pré-melhoramento e do melhoramento genético vegetal e, a biotecnologia tem sido reconhecida como uma ferramenta poderosa, e em alguns casos essencial, em áreas “não convencionais” como: cultura de tecidos in vitro, produção de haploides (cultura de anteras), hibridação somática, obtenção de variantes somaclonais, obtenção de embriões somáticos, uso de marcadores moleculares e engenharia genética (Ex: Uso da tecnologia do DNA recombinante, para obtenção de plantas geneticamente modificadas). Numa visão holística, os avanços na compreensão dos processos genéticos, para melhor provisão de alimentos, tiveram início em 1866, com a descoberta por Gregor Mendel das Leis da Hereditariedade (Leis de Mendel), cuja redescoberta em 1900, por Hugo de Vries, Erich von Tschvermak e Carl Correns, permitiu o incremento na produção, produtividade e resistência (biótica) e tolerância (abiótica) de genótipos, com destaque para o início da comercialização do milho híbrido em 1922 (BORÉM, 2002; VALOIS, 2018). No entanto, com a progressão geométrica de crescimento da população mundial (Em 2017, com cerca de 7,6 bilhões de pessoas) e crescimento aritmético da quantidade de alimentos (hoje com aproximados quatro bilhões de toneladas/ano), além de fatores como a coevolução patógeno-hospedeiro com quebra da resistência, aparecimento de novos condicionantes biológicos da agricultura, necessidade da abrangência de novos nichos ecológicos de exploração, alterações climáticas e edáficas, êxodo rural (com menos pessoas atuando no campo para produzir alimentos para mais pessoas vivendo nas grandes cidades), além de outros, conduziu para que novos métodos de criação de genótipos e refinados esquemas de seleção de plantas e animais fossem colocados em prática , lembrando que a produção de cereais terá que aumentar para 3 bilhões toneladas/ano em relação aos 2,5 bilhões produzidos atualmente. A produção de carne precisará aumentar em mais de 200 milhões de toneladas (ONU, 2017; FAO, 2017). Assim, aparece com destaque a criação das plantas transgênicas (transgênico = espécie de ser vivo, geneticamente modificado, com material genético de outra espécie: animal, microorganismo ou planta) como vigorosa alternativa para o incremento da agricultura em bases sustentáveis, sem se constituir em panaceia (solução para todos os impedimentos da agricultura). O marco inicial surge em 1973 quando Stanley Cohen e Herbert Boyer conseguiram transferir gene de rã para bactéria, tendo como base a universalidade do código genético, ou quase (GANDER et al., 1996). Os genótipos transgênicos (que ocorrem espontaneamente na natureza), são também obtidos pelos cientistas através de refinadas técnicas modernas de melhoramento genético usando Agrobacterium, biobalística, eletrosporação e outros métodos (PHIL MCCLEAN, 2011). De lá para cá muitos avanços ocorreram, cuja visão atual e estratégica em relação à revolução biotecnológica, concernente às plantas transgênicas, aponta para as seguintes fases: 1) caracterização agronômica (resistência a condições bióticas e abióticas);

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2) investimento em qualidade e processamento (óleos essenciais, proteínas, vitaminas e minerais); 3) obtenção de fármacos e nutracêuticos (alimentos com vacinas, vitaminas, minerais e fármacos); 4) concentração em químicos específicos (biofábricas e produção de matéria prima para indústria) (VALOIS, 2014). Mesmo diante das conhecidas vantagens comparativas, do transgênico em relação ao material tradicional, não se pode negar a existência de certa resistência social ao uso de plantas transgênicas, em especial quando do uso de Agrobacerium (KLEBA, 1998). No entanto, até aos dias atuais, não são conhecidos trabalhos científicos que comprovem cientificamente danos à saúde dos consumidores, embora seu cultivo remonte aos anos de 1990 (China) e 1994 (Estados Unidos). Talvez, a base de tudo isso tenha sido as disputas comerciais entre empresas estrangeiras, evoluindo para subjetividades relacionadas ao radicalismo, obsessão, ideologismo, histeria, sentido emocional e, até o confundimento com desígnios religiosos, como também por se constituir em técnica relativamente nova, o que tem sido recorrente quando há avanços da genética ao longo do tempo (VALOIS, 2003). Assim, em atenção a esse comportamento de resistência ao novo, de parte da sociedade brasileira, há necessidade de esclarecimentos, o que tem sido feito com responsabilidade ética e compromisso social, econômico, político e ambiental com bastante rigor e moral, especialmente pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia dentre outras instituições de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) e Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). Tudo isso sob o ponto de vista da bioética e das normas da biossegurança, atuando rigorosamente em relação às recomendações emanadas da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), regida por especialistas de origem interministerial e da sociedade civil organizada, e obedecendo a rígida legislação brasileira. Nesse sentido, as instituições nacionais tiveram que se preparar convenientemente para o atendimento às exigências da CTNBio, onde, no geral, despontam as seguintes demandas em relação aos transgênicos (EMBRAPA, 2018; CTNBio, 2018): a) análise genética; b) segurança alimentar; c) segurança ambiental; d) segurança nutricional; e) sanidade humana e animal; f) saneamento básico; g) políticas públicas; h) certificação da cadeia produtiva; i) mitigação das perdas nas colheitas; j) origem de procedência e rotulagem; k) resistência/tolerância de plantas a estresses bióticos e abióticos; l) produção de fitoterápicos, vacinas e medicamentos; 34


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m) uso múltiplo de genes e controle de fluxo gênico; n) direitos de propriedade intelectual; o) redução da aplicação de agrotóxicos na agricultura. O Brasil cultivou 44,2 milhões de hectares (ha) com culturas transgênicas em 2015, um crescimento de 5% em relação a 2014 ou o equivalente a dois milhões de ha. Nenhum outro país do mundo apresentou um crescimento tão expressivo. Com essa área, a agricultura brasileira está atrás apenas dos Estados Unidos (70,9 milhões de ha) no ranking mundial de adoção de biotecnologia agrícola. Em 2016 o Brasil chegou a 52,6 milhões de hectares, sendo 33,87 com soja, 17,73 com milho e 1,01 com algodão, permanecendo ainda atrás dos EUA. Vale salientar que na safra 2017-2018 informações extra oficiais dão conta que o Brasil pode suplantar pela primeira vez a produção de soja dos Estados Unidos, com 17 milhões de toneladas contra 16 milhões do país norte-americano. No Brasil, os transgênicos representavam cerca de 70% dentre as cultivares de soja, em 2011, demonstrando a preferência dos agricultores por estes genótipos, em relação aos oriundos do melhoramento genético tradicional! (FREITAS, 2011; ISAAA 2016; VALOIS, 2018). Sempre é bom enfatizar que, neste contexto dos recursos genéticos de plantas, que se pode obter genótipos com o uso de genes exógenos oriundos de outras famílias ou gêneros de plantas (o que seria impossível de se viabilizar utilizando-se apenas do melhoramento genético tradicional, em face do isolamento reprodutivo entre determinadas espécies). Como exemplo, genes de resistência à vassoura-de-bruxa do cacaueiro (Crinipellis perniciosa (Stahel) Singer) podem estar no genoma do cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum (Willd. ex Sprengel) Schumann.) ou no do cacaueiro (Theobroma cacao L. subsp. cacao), que possuem a barreira do isolamento reprodutivo entre si, o que impede a exploração dessa resistência por melhoramento genético convencional (VALOIS, 2003). O tema de transgênicos foi muito discutido no Brasil. Em vários estados da federação brasileira houve aceitação e contestação, mas o bom-senso tem prevalecido. Essa busca incansável do entendimento sobre OGM também contou com a nossa participação em palestras pelas universidades brasileiras e mesmo do exterior! (VALOIS, 2018). No Brasil, passados 20 anos da primeira liberação da soja, há no campo apenas cultivares de cinco espécies agrícolas transgênicas aprovadas: algodão, eucalipto, feijão, milho e soja (CTNBio, 2018). A visão estratégica do papel da biotecnologia é bastante otimista, destacando-se as seguintes aplicações (VALOIS, 2016): a) produção de alimentos com melhores propriedades nutricionais e funcionais; b) estudos genômicos, proteômicos, metabolômicos, epigenômicos e transcripto-mas; c) manipulação de doenças - conhecimento, diagnóstico, preservação e tratamento de enfermidades, prevenção dietética de doenças, estudo de compostos e estimulantes do sistema imune nos alimentos para a definição de doenças; d) redução dos efeitos de princípios ativos estimulantes; 35


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e) biorremediação na despoluição de ambientes líquidos e solos; afins;

f) medidas antecipadoras de segurança biológica da agricultura, pecuária, florestas e áreas g) proteção preventiva e curativa contra ações de biossabotagem e agrossa-botagem.

Conclusão No Brasil, o pleno desenvolvimento da biotecnologia encontra grandes oportunidades, principalmente por ser o país de maior megabiodiversidade do planeta, por sua riqueza patrimonial em recursos genéticos de animais, microrganismos e plantas. No entanto, há necessidade principalmente do incremento de oportunidades, em empregos e na formação de pessoal capacitado, além de dignamente remunerados e em número significativo. Deve-se priorizar, a nível estadual e federal, também a modernização e ampliação da infraestrutura de laboratórios e do apoio logístico, especialmente nas universidades, instituições de pesquisa, e empresas. As instituições financiadoras devem priorizar projetos competitivos viabilizando-os com a devida remuneração com robustos recursos financeiros. Finalmente, seria interessante incentivar e vulgarizar no Brasil, a instalação de parques tecnológicos para perenizar a CT&I, ainda latentes no país, visando formar futuros cientistas e modernizar a biotecnologia nacional! Referências ARANTES, O.M.N. A bioética e a segurança alimentar: alimentos geneticamente modificados. Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde. 14| 2012; 14(3): 14-20. BORÉM, A. Escape gênico & transgênicos. Viçosa: 2002, UFV. 2002 201 p. : il. CARVALHO, P. G. B. de; MACHADO, C. M. M.; MORETTI, C. L.; FONSECA, M. E. N. Hortaliças como alimentos funcionais. Hortic. Bras. vol.24, no.4, Brasília. 2006. CLEMENT, C.R., FREITAS, O.F, ROMÃO, R.L. Origens da Agricultura na América do Sul. In: VEIGA, R.F.A. & QUEIRÓZ, M.A. Recursos Fitogenéticos: a base da agricultura sustentável no Brasil. Viçosa, MG: Ed. UFV, 1(26-31) 2015. CTNBio, 2018. Liberação Comercial. In: http://ctnbio.mcti.gov.br/liberacao-comercial#/liberacaocomercial/consultar-processo. Obtido em 22/08/2017. CTNBio. 2018. Comissão Técnica Nacional de Biotecnologia. MCTI. In:http://ctnbio.mcti.gov.br/a-ctnbio. Obtido em 10 de junho de 2018. EMBRAPA. 2018. Intercâmbio de germoplasma. In: https://www.embrapa.br/recursos-geneticos-ebiotecnologia/pesquisa-e-desenvolvimento/intercambio-de-germoplasma. Obtido em 21 de maio de 2018. FAO no Brasil. 2017. Representante da FAO Brasil apresenta cenário da demanda por alimentos. In: http://www.fao.org/brasil/noticias/detail-events/en/c/901168/. Obtido em 20 de maio de 2018. FREITAS, M.C.M. A Cultura Da Soja No Brasil: O Crescimento da Produção Brasileira e o Surgimento de Uma Nova Fronteira Agrícola. Enciclopédia Biosfera: Centro Científico Conhecer (1-12) 2011. GANDER, E. S.; MARCELLINO, L. H.; ZUMSTEIN, P. Biotecnologia para pedestres. Brasília; Embrapa-SPI: Embrapa-Cenargen, 1996. 66p. ISAAA. 2016. Brasil apresenta crescimento da adoção de transgênicos. In: https://cib.org.br/brasil-lideracrescimento-mundial-da-adocao-de-transgenicos/. Obtido em: 20 de maio de 2018. KLEBA, J.B. Riscos e Benefícios de Plantas Transgênicas Resistentes a Herbicidas: O caso da Soja RR da Monsanto. 1998. Cadernos de Ciência &Tecnologia. Brasília. V.15.no.3.p.9-42.1998.

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MEIRA GUSMÃO, A. O. De, SILVA, A. R. Da, MEDEIROS, M. O. A Biotecnologia e os Avanços da Sociedade. In: Http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/biodiversidade/article/viewFile/. Obtido em: 23 de fevereiro de 2018. MENEGUINI, R. 2003. Os gênios e os genes: Dupla Hélice 50 anos. In: http://revistapesquisa. fapesp.br/2003/04/01/os-genios-e-o-gene/. Obtido em: 20/03/2017. ONU. 2017. Populacão mundial atingiu 76 bilhões de habitantes. In: https://news.un.org/pt/story/ 2017/06/1589091- populacao-mundial-atingiu-76-bilhoes-de-habitantes. Obtido em 20 de maio de 2018. MCCLEAN, P. 2011. A History of Genetics and Genomics. In: https://www.ndsu.edu /pubweb/~mcclean/plsc411/History-of-Genetics-and-Genomics-narrative-and-overheads.pdf. Obtido em 02/01/2018. VALOIS, A. C. C. Possibilidades de uso de genótipos modificados e seus benefícios. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2003. 65 p. (Texto para Discussão, 19). VALOIS, A.C.C. A Biotecnologia e os alimentos seguros no Brasil. In: https://procitropicos.org.br/articulo/abiotecnologia-y-os-alimentos-seguros-no-brasil/. Obtido em 14/05/2018. VALOIS, A.C.C. A Sexta e a Sétima Ondas do Desenvolvimento Humano. Revista RG News, 3 (1), 2017. p: 6569 ( Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos). VALOIS, A.C.C. Biodiversidade, biotecnologia e organismos transgênicos. Brasília, DF: Embrapa, 2016. 217 p. (Texto para Discussão, Embrapa. Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento; 46).

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4. Relevância das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) na minimização da fome no Brasil Afonso Celso Candeira Valois Eng.Agr., Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Genética, Melhoramento de Plantas e Biotecnologia, Pesquisador Aposentado da Embrapa.

Contextualização A Assembleia Mundial da Saúde (2016) estabeleceu a “Década da Ação pela Nutrição (2016–2025)”, e o tema das plantas PANC é essencial para viabilizá-la no Brasil. A fome no Brasil pode ser considerada muito grande quando se leva em consideração que aproximadamente 60 milhões de pessoas têm a fome oculta (representada pelo sobrepeso aliado à falta de nutrientes essenciais como: aminoácidos, proteínas, vitaminas e sais minerais, nos alimentos consumidos). Além disto, como 52 milhões de brasileiros ainda vivem abaixo da linha de pobreza, com falta de recursos para a compra dos alimentos e, como também ocorre um alto índice de desperdício com cifras de 15 milhões de toneladas/ano, isto provoca a chamada fome visível (que é a pura falta do alimento em si) (MATTOS, 2014; IBGE, 2016; WORD BANK, 2016; FREITAS, 2017). Apresentação A sigla PANC significa as “Plantas Alimentícias Não Convencionais”, que são de enorme utilidade para a segurança alimentar e dos alimentos da humanidade, principalmente para o benefício dos povos mais carentes. Trata-se de um grupo de plantas, a maioria de ocorrência espontânea em parques, jardins e quintais do país, muitas vezes chamado de grupo de plantas invasoras, grande parte delas nativas, outras exóticas introduzidas no passado. Essas possuem um valor alimentício enorme, mas por serem desconhecidas pelos leigos, acabam por ser pouco utilizadas. A este grupo de PANC também se agrega outro composto por plantas agrícolas com estruturas descartadas pelos usuários, as quais poderiam também servir de alimento nutritivo, como exemplo claro o da bananeira (Musa spp.) cuja estrutura da flor, que é denominada vulgarmente de “coração”, é normalmente descartada, embora seja rica em fibras, potássio, magnésio, vitaminas A, C, E, carboidrato e proteínas (KERR et al., 1997; KINUPP & LORENZI, 2014). As PANC no Brasil As plantas PANC são bastante utilizadas por inúmeras comunidades agrícolas tradicionais do país, mas de pouca difusão no restante da sociedade, em especial para a população metropolitana, devido à limitação quanto à abrangência da pesquisa e desenvolvimento, assistência técnica e extensão rural, conhecimento, técnica, tecnologia e know how, 38


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comunicação, informação na mídia falada, escrita e televisada, cartilhas bem didáticas de aplicação e importância do valor nutritivo, com receitas fáceis e saborosas, cujas lacunas fazem com que essas plantas não sejam de amplo uso. Em condições in situ e ex situ estes recursos genéticos têm larga aplicação no agronegócio, quando uma determinada planta é retirada das suas condições autóctones e empregada diretamente no sistema produtivo para a obtenção de alimentos. O uso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) é um bom exemplo, pois o seu centro de origem é o Brasil, e seus folíolos muitas vezes não são utilizados. A mandioca pode ser considerada uma PANC, quando se observa que seus folíolos são pouco utilizados como alimento, na maior parte do país, mesmo com todo seu potencial: Devido à presença de alto teor de ferro ajudam a evitar a anemia, têm alta quantidade de ácido fólico e vitamina C, ricas em proteínas como a lisina que ajuda na luta contra a desnutrição, possuem isoflavonas que evitam o AVC e, ainda, alta quantidade de magnésio que ajuda a baixar o nível de pressão sanguínea e elimina o risco de doenças reumáticas. Além disso, trata-se de um belo exemplo de planta alimentícia nativa retirada da natureza, domesticada e introduzida magistralmente na agrobiodiversidade (por exemplo, após a obtenção da farinha, esta pode ser guardada por muito tempo em condições ótimas de conservação, para a alimentação sadia paulatina sendo, portanto, uma tecnologia autóctone de elevado valor). Atualmente, a mandioca compõe um seleto conjunto dos 15 principais cultivos alimentares que sustentam cerca de 80% da população mundial, estimada em mais de 7,7 bilhões de pessoas! Dentre os pratos mais conhecidos regionalmente estão a maniçoba e o pato no tucupi no Pará (ALBUQUERQUE, 1969). Outros exemplos relevantes estão nas frutíferas, pouco utilizadas fora de sua região de ocorrência, que largamente ocorrem naturalmente na Amazônia, Nordeste, Centro Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Há uma grande lacuna quanto à citação mais pormenorizada dessas plantas benéficas e inclusão no agronegócio dos produtores agrícolas que as conservam e utilizam tais recursos fitogenéticos com visão estratégica alimentar, pois esses artífices do bem muitas das vezes ficam na classe dos desconhecidos. Ilustro aqui que certa vez (02/06/2017) assisti a um interessante seminário por vídeo conferência na sede Embrapa, em Brasília-DF, apresentado pelo Dr. Rafael Sanzio, Professor Associado da UnB, com um sugestivo título: Cartografias Visíveis e Invisíveis. Sabem a quem ele implicitamente se referiu quanto aos invisíveis, de forma didática e direcionada, aqui ampliado pelo autor deste singelo artigo? Às quebradeiras de coco babaçu do Maranhão, Piauí e outros estados, aos quilombolas, que são detentores de vasto conhecimento e experiência no uso dessas plantas, às coletoras de mangaba no Nordeste, aos artesãos do óleo de dendê na Bahia, às agricultoras familiares, que são responsáveis por mais de 40% do germoplasma conservado no mundo (as famosas land races), às comunidades florestais que usam as plantas e animais de maneira racional, conservando o meio ambiente de forma sustentável, aos povos indígenas, que se aproveitam dos recursos naturais com maestria, aos ribeirinhos que ficam esquecidos à beira dos rios, mas que conservam e usam as PANC com invejável tirocínio, aos chefes de cozinha e amadores da culinária que criativamente usam as delícias oriundas das plantas como o caso do fruto da pupunheira (Bactris gasipaes Kunth - rico em vitamina A, 39


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proteína, ferro, zinco, cobre, manganês, magnésio, cálcio, fósforo e potássio), (Figura 2), além de muitos outros, cujo trabalho e ações são de elevada importância para a alimentação brasileira, mas que ficam invisíveis na cartografia, conforme sabiamente apontou o nobre professor acima referido. Como fazer para incluir esses honrados grupos de pessoas nas vantagens comparativas que o mundo moderno de hoje oferece? O Grupo PANC é uma solução alternativa, acompanhada pela conectividade geográfica, agrobiodiversidade e bioalfabetização, conforme acredito que deva realizar-se para tirar essas pessoas do isolamento e do desconhecido, que também é aplicável no uso dos seus próprios conhecimentos e experiências! (VALOIS, 2017). Conclusão Sobre essa necessária conectividade geográfica publiquei, recentemente, um artigo nesta mesma revista, que intitulei de "a Sexta e a Sétima Ondas do Desenvolvimento Humano", onde a citada conectividade foi considerada a sexta onda! Lembrando que essas plantas são essenciais na questão da minimização da fome, visível e oculta que ocorre no Brasil, em quantidade adequada e qualidade nutricional, em pratos saborosos e acessíveis, aliados aos hábitos saudáveis. Vamos incluir todos os brilhantes executores, colaboradores e usuários das PANC nesses esforços e ações? Para ampliar o conhecimento, há ainda a necessidade da reunião de um grupo de pesquisadores, especialistas, técnicos e sociedade civil interessada para a elaboração técnica e difusão regionalizada e nacional das PANC atualmente em uso no Brasil, além de outras inclusões. Aliás, esse tipo de iniciativa inovadora é fundamental para que essas “plantas maravilhosas” não venham a compor futuramente, uma nefasta lista de espécies com risco de extinção ou já extintas em face da “pesada pegada” a que estão submetidas! A coleta, conservação in situ e ex situ, caracterização, avaliação, educação ambiental, informatização e informação, intercâmbio de germoplasma, além da pesquisa aplicada e utilização racional das plantas evitam essa desagradável situação! Na questão da fome visível e oculta, trata-se de um tema relevante para ser resolvido sem trégua! Referências ALBUQUERQUE, M. A Mandioca na Amazônia. IPEAN, Belém: SUDAM, 1969. 277 p. FREITAS, E. Fome no Brasil. In: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/fome-no-brasil.htm. Obtido em 10/01/2017. IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2016 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. - Rio de Janeiro: IBGE, 2016. 146 p. KERR, L; CLEMENT, R; CLEMENT, C; KERR, W.E. Cozinhando com pupunha. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-Inpa, Manaus-Amazonas, 1997. 95 p. KINUPP, V.F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não convencionais (Panc) no Brasil. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2014. 768p. MATTOS, L. 2014. Uma em cada quatro pessoas tem a fome oculta. In: https://www.otempo.com.br/ interessa/uma-emcada-quatro-pessoas-tem-a-s%C3%ADndrome-da-fome-oculta-1.858606. Obtido em: 09/07/2017. VALOIS, A.C.C. A Sexta e a Sétima Ondas do Desenvolvimento Humano. Revista RG News, 3 (1), 2017. p.: 6569 (Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos). WORLD BANK. Childhood Poverty in Latin America and the Caribbean. Poverty and inequality monitoring: Latin America and the Caribbean. S.n., 2016.

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III – Expresse a sua opinião 1. Genética e os caminhos para a humanidade: uma visão particular Luís Carlos da Silva Ramos Eng. Agr., pela UNESP-Jaboticabal (1974), Me. pela UNICAMP (1981), PhD. in Genetics and Plant Breeding - Texas A. M. University (1985), Pós-Doc Ghent University, UGENT, Bélgica (1991). Atualmente é Pesquisador Científico VI do Centro de Recursos Genéticos do Instituto Agronômico de Campinas, Conselheiro da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Campinas. Atua na área de Agronomia, com ênfase em Melhoramento Vegetal. Os termos mais frequentes na sua produção científica são: Café, Embriogênese Somática, Cultura de Tecidos, Melhoramento, Clonagem, Trigo, Cultura de Anteras, Coffea spp., Coffea arabica e Micropropagação. Graduou-se também em Direito (OAB-SP), especializando-se em direito autoral agrícola (patentes, cultivares, ambiente, etc.).

Contextualização Ao final dos anos 1970 e início da década seguinte, por conta de um trabalho acadêmico proposto em uma disciplina de genética, enquanto cursava o mestrado no Departamento de Biologia Vegetal da Unicamp, travei contato com um brilhante geneticista japonês, Motoo Kimura (Figura 1). Os contatos eram feitos por carta, via correio comum naquela época e durante alguns anos. Kimura escreveu seu principal trabalho de vida, como ele próprio me dissera, intitulado The Neutral Theory Of Molecular Evolution Figura 1. Motoo Kimura. (KIMURA, 1983). Neste livro ele assertava que a evolução era cega e (KIMURA, 1983). que não tinha direção (trend) em contraposição (veladamente) a grupo, dos quais o jesuíta Francisco J. Ayala, da Universidade da Califórnia, era defensor; o qual foi recentemente destituído por conta de denúncias de assédio... Kimura tinha uma enorme vantagem sobre seus opositores, porque era um brilhante matemático, calcando suas afirmações em dados e profunda análise matemática. Em algumas de suas citações via-se claramente a ironia devido à dificuldade dos opositores em compreender a sua mensagem. Aquele embate científico me fez lembrar de outro caso famoso na história, o de Galileu Galilei, que defendia a teoria heliocêntrica, em oposição às crenças religiosas vigentes na época. Galileu perdeu. Felizmente, restou proibida a queima pela fogueira, apesar dos embates ferozes entre o evolucionismo e o camaleão criacionismo, que adota nomes diversos vez ou outra. O trabalho de Kimura, e outros, trouxe um grande avanço na genética, permitindo saber o tempo discorrido entre mutações neutras, criando um relógio biológico para estudos evolutivos, avaliando alterações de aminoácidos em proteínas e ou de nucleotídeos no DNA.

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Posso dizer que o contato com Kimura abriu-me enormemente a mente sobre ciência. Uma simples recomendação que me fizera na ocasião, ler o livro de ficção científica The City and the Stars (CLARKE, 1957), como o melhor livro de ficção científica escrito até então, segundo ele. Só pude corroborar e agradecer a indicação, o qual também recomendo fortemente a leitura a quem quer que esteja envolvido em ciências biológicas ou que simplesmente goste deste campo. O livro foi publicado no início da década de 1950, quando ainda se desvendava o que seria o DNA... Muitas das “profecias” dele acabaram se tornando realidade e outras mais ainda virão. Quem o ler, verá! Figura 1. Capa do livro The City and the Stars. Por Luis Carlos da Silva Ramos.

Faria sentido pensar que a evolução teria direção, se assumíssemos que a espécie humana fosse “o suprassumo da evolução”, como grande parte da humanidade ainda acredita ser. Todavia, afora a nossa pretensão egocêntrica, não podemos corroborar sem indagarmos aos nossos “parentes” distantes, os dinossauros e assemelhados, que viveram durante milhões de anos, enquanto estamos aqui ainda apenas nos “últimos minutos” da evolução da vida, se contada em 24 horas. Tampouco sem considerar que um inseto, as vitoriosas baratas (Blattella germanica, Supella longipalpa, Periplaneta americana, Periplaneta australasiae e Blatta orientalis, entre outras duas dezendas de espécies), estão aqui a mais de 200 milhões de anos, sendo capazes de suportar doses dez vezes mais fortes de radiação atômica que nós... A evolução da genética como ramo da ciência não pode ser vista isoladamente, mas, levando em conta desde a filosofia da ciência, através do desenvolvimento cientifico, como o método de Descartes (Discurso sobre o Método); a invenção do microscópio e outros equipamentos paralelos; ao desenvolvimento da química do DNA, das proteínas e outras moléculas; ao desenvolvimento da eletrônica e informática que vem permitindo “ver” e compreender a enorme quantidade de dados gerados por equipamentos cada vez mais sofisticados aos olhos de hoje. Se olharmos no curto espaço de tempo, desde Mendel (1822-1844), o conhecimento se iniciou, na verdade, a partir de 1900, quando da redescoberta de sua publicação original, e os avanços que temos hoje como a Terapia Genética, percebemos que um grande salto foi dado. Todavia, mal sabemos o que nos falta descobrir! Chamávamos de genética qualitativa inicialmente, depois agregamos a genética quantitativa, de populações, bioquímica e por fim, a molecular. Isto ao estudarmos características objetivas em contraposição às subjetivas, afetam o estudo do comportamento, por exemplo. O estudo da genética do comportamento tem sido feito em insetos, mas, visualiza-se estendê-lo ao ser humano, notadamente pela epigenética. Como já discorremos brevemente sobre ela em fascículo anterior desta revista (RAMOS, 2016), trata-se da alteração da expressão gênica sem que ocorra alteração direta do gene, ligando-o ou desligando-o, como durante o desenvolvimento de indivíduos. Compreender como um indivíduo (animal, planta, inseto, etc.) se desenvolve e se propaga vem sendo objeto da genética nos seus vários campos. Esse conhecimento nas plantas, em 42


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particular, virá em muito beneficiar a humanidade, seja na produção de alimentos, fibras, madeira ou compostos químicos especiais. Tomemos por exemplo culturas tão diferentes como as da banana, do feijão, da laranja ou da uva. O que se poderia fazer para minorar os custos de produção, além de minimizar ou dispensar o uso de agrotóxicos? Se pensássemos que os frutos de uma bananeira se desenvolvessem semelhantemente aos de uma laranjeira ou vice-versa, qual deles seria menos custoso colher? É claro que ao aglutinar os frutos como num cacho de uvas ou de bananeira, a colheita ficaria facilitada. Então, compreender como se dá a inserção dos frutos na planta virá nos auxiliar como imitar a natureza. Se olharmos na natureza e nas várias espécies próximas ou não, poderemos encontrar soluções sobre como projetar ou desenhar dado indivíduo com vistas a qualidade alimentar, volume de produção, facilidade de colheita, eficiência fotossintética e maior tolerância a estresses abióticos ou bióticos. Da mesma forma ainda somos incapazes de projetar uma enzima com centenas de aminoácidos para exercer dada função. Quando manejamos uma tesoura e a experimentamos, percebemos facilmente a sua função mecânica, isto é, associamos sua forma à sua função: cortar de forma diferente de uma faca! Se aplicarmos esse raciocínio para uma enzima que tem uma dada função, percebemos que pouco sabemos como ela funciona, de forma a sermos capazes de projetar e criar a mesma de forma sintética a partir do ponto zero. Isto porque não somos capazes de ver o seu funcionamento tridimensional juntamente com seu substrato, como vemos uma tesoura cortando um papel. Compreender isso seria encontrar o “Santo Graal” da ciência e passaríamos a “projetar” enzimas para as mais diversas funções. Recentemente um grupo de cientistas encontrou um microrganismo capaz de digerir plásticos. Pesquisando o microrganismo encontraram a enzima responsável e a estudaram, conseguindo até melhorá-la! Chegando ao conhecimento de como projetar enzimas para variadas funções, poderíamos criar “ferramentas nanotecnológicas” para lidar com quaisquer necessidades humanas... Então, hoje podemos recorrer aos modelos existentes na natureza, bastando olhar no nosso vasto germoplasma e nos nossos vários biomas, para buscar inspiração. Talvez seja por isto que devamos manter nossas reservas, uma vez que ainda não sabemos como desenhar apropriadamente uma dada planta para dado fim que almejarmos. Tecnologias, para alcançar aqueles objetivos, vêm sendo desenvolvidas, como a edição do DNA, a “terapia” genética em humanos, o sequenciamento rápido de vários genomas inteiros, associados à germoplasma distinto, virão ajudar a compreender o funcionamento dos indivíduos e replicá-las ao nosso interesse. Também virá o dia em que poderemos acompanhar uma reação bioquímica da expressão de um gene em tempo real, isso trará uma revolução no nosso conhecimento da genética... Características genéticas podem ser incorporadas em indivíduos de forma a serem (1) herdáveis (transferência vertical) ou (2) não necessariamente (transferência horizontal). No primeiro caso, acontece quando são usados métodos clássicos de cruzamentos ou outros, como a transgenia, por exemplo, se o gene é incorporado eficazmente no material genético de outro indivíduo. Para o segundo caso, temos as transferências mediadas por vetores, quando um 43


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agente (animal, inseto, etc.) transporta determinado material genético de um indivíduo a outro e esse passa a exibir atividade. Mimetizando a natureza, um órgão militar dos EUA planeja criar sistemas que possam levar genes úteis a culturas em larga escala, já com projetos sendo finalizados neste sentido, usando a transferência horizontal. O que se teme, é que, após desenvolvido este sistema, o mesmo possa vir a ser utilizado para outras atividades adversas, facilmente. Ao longo da história, destruir as plantações do inimigo era uma estratégia militar comum e ainda o é. A mesma faca que corta o pão, pode nos ferir mortalmente... Já se aceita que a expressão de muitos genes é afetada em indivíduos devido a alterações de natureza epigenética, às quais são associados comportamentos diferentes no ser humano, por exemplo. Essas alterações bioquímicas (“selos”) podem ocorrer nas cromatinas ou no próprio DNA, podendo ser herdáveis ou não. Então, percebemos um universo à frente ainda para ser desvendado, como um Cristóvão Colombo partindo da velha Europa em direção ao desconhecido, ao final do século XV. Nós sabemos que a espécie humana tem uma enorme gama de matizes de atributos físicos e mentais, a inteligência sendo uma das mais apreciadas. Por outro lado, temos outras, quiçá mais nobres, como a generosidade, empatia, caráter e algumas tidas como opostas como as psicopatias e outras. As novas tecnologias de aplicação nos campos da agropecuária, saúde e ecologia, desde a eliminação de doenças ou pragas, alteração de genes defeituosos, adicionar a expressão de genes que tragam vantagens ao indivíduo se deixadas sob o controle exclusivamente privado, poderão tornar-se monopólio ou oligopólio em face do seu enorme custo atual. Sendo assim, poucos teriam acesso à tecnologia, o que poderia facilitar o aparecimento de novas formas humanas, com grandes desvantagens à quem não tivesse acesso. Isso não seria tão improvável de ocorrer, face à forte tendência mundial do acúmulo de riqueza numa minoria e consequente perda do poder aquisitivo da maioria da população. Refletindo, pois, sobre a evolução da vida, desde a primeira molécula, a primeira organela, a primeira célula, o primeiro organismo e, finalmente, o primeiro individuo superior capaz de se auto replicar, aprendemos que esse conhecimento ajudou muito a entender a nós mesmos. Para onde esse caminho nos levará? Isto, em muito dependerá do grau de civilização e educação que venhamos a internalizar em nós mesmos. Sendo otimistas, esperamos que as próximas gerações sejam gratas à atual e às antecedentes pelo bem estar que lhes dispomos hoje. Por fim, traduzo aqui o pensar de Griffiths (2003): "Muitas vezes me pergunto como as futuras gerações se lembrarão de nós, como os pioneiros dos limites tecnológicos do século em ciência e descoberta – ou uma parte da história que eles prefeririam esquecer, destroçada por guerras e primitividades. Sinto que vai ser uma jornada muito longa de evolução e aprendizado antes de chegar a algum tipo de harmonia; nós somos uma espécie muito recente no nosso planeta".

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Epílogo No exato momento de hoje podemos não estar conseguindo enxergar claramente para onde “caminhamos”, face ao tremendo fluxo de informação e desinformação massal com que nos bombardeiam incansavelmente. Como consequência, passamos a acreditar sermos sábios o suficiente para julgar, decidir e espalhar sentimentos negativos como discriminação, intolerância e ódio sobre outros, com todas as consequências trágicas que vemos ao nosso redor e do mundo... Esforcemo-nos para manter o otimismo sem sermos panglossianos; crer que nós temos futuro, que estamos muito melhores hoje que na época de Aristóteles, de César Augusto, dos grandes descobrimentos, do iluminismo e da revolução industrial. Com as descobertas que hoje temos, podemos antever um futuro muito melhor, porque aprendemos as causas dos grandes males que nos afligem ou sabemos quais caminhos a percorrer. Corrigi-los é uma decisão política, isto é, do interesse de todos. Vamos usar as fantasias de Clarke (1957), quando anunciou que o homem definirá o tempo de sua vida como lhe convier. Essa especulação é um pálido argumento do que ainda nos falta por descobrir. Aliás, dá-nos a ideia de quão grande é a montanha da nossa ignorância... Então, educar é preciso. Lutaremos para que a ignorância não nos faça sucumbir antes de chegarmos lá! Mas, vale o adagio: o mundo é dos otimistas! Referências CLARKE, A.C. 1957. The city and the stars. New York. New American Library. 191p. GRIFFITHS, T. Thoughts on a long journey. In: http://news.bbc.co.uk/defaut.stm#. Obtido em 25 de Abril de 2003. KIMURA, M. The Neutral Theory Of Molecular Evolution. 367 pp. 1983. OHTA, T. Matoo Kimura. Annual Review of Genetics. 30:1-5. 1996. RAMOS, L.C.S. Epigenética. Revista RG News 2 (1) 2016.

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2. O Rinoceronte-negro da África Ocidental foi declarado oficialmente extinto!!!

Afonso Celso Candeira Valois Eng.Agr., Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador Aposentado da Embrapa.

Contextualização Uma grande lástima, essa perda anunciada, pela International Union for Conservation of Nature, do Diceros bicornis ssp. longipes Zukowsky, o Rinoceronte negro ocidental (Figura 1), subespécie que tinha como habitat Camarões na África ocidental, e encontrado pela última vez na natureza em 2006. Esta espécie ainda possuía em torno de 100 indivíduos na década de 1980 (criticamente em perigo), porém a caça predatória o levou à extinção (IG, 2017) “debaixo do nosso nariz”. O mais impressionante é que outra notícia, sai citando a morte do último rinoceronte-branco-do-norte macho (Ceratotherium simum ssp. cottoni Figura 1. Rinoceronte negro. Lydekker) (Figura 2.), no Foto: Kate Wrightson. Quênia, mas aqui acenam com uma chance de evitar a extinção desta espécie, já que ainda existem duas fêmeas, e um artigo da Revista Nature Comunications diz que cientistas criaram embriões híbridos que, em tese, poderiam ser implantados (YIN, 2018; MENEGUELLI, 2018). E assim caminha a Figura 2. Rinoceronte-branco. natureza, dia a dia sendo predada Foto por Gisella Meneguelli. pelo egoísmo da humanidade, com elevado grau de hipocrisia e irresponsabilidade! O Rinoceronte-negro já se foi, outras subespécies como o Rinoceronte-branco-do-norte, o Rinoceronte-javanês (Rhinoceros sondaicus Desmarest), vão pelo mesmo caminho da extinção (IG, 2017), porém o pior é que no reino vegetal nada é diferente, mesmo no Brasil! Em evento realizado em Brasília, no dia 19/09/2017, sobre o futuro da conservação dos recursos genéticos vegetais, quando um pesquisador foi

Figura 3. Publicação da Embrapa, sobre a Sumaúma.

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indagado, infelizmente, em uma falta de visão estratégica considerou não ser importante efetuar estudos com marcadores moleculares SNPs na ameaçada espécie Sumaúma (Ceiba pentandra (L.) Gaerth. (Figura 3). Como não? Essa planta amazônica, chamada de “árvore da vida”, é considerada uma “enorme máquina de fazer água”, pois com um sistema radicular muito bem desenvolvido e estruturas foliares fantásticas de evaporação, sendo capaz de bombear água do lençol freático localizado a cerca de 50-60 metros de profundidade e lançar na atmosfera mais de 1.000 litros de água por dia! A Sumaúma é colocada dentre aquelas que alcançam os maiores desenvolvimentos em altura e diâmetro de fuste no mundo, talvez por isso mesmo esteja em sério perigo de extinção na Amazônia, pela ação extrativista para uso de sua madeira, como muitas outras. Quando eu lecionava no CEST-UEA, em Tefé (AM), a Sumaúma foi escolhida como o símbolo da semana sobre o meio ambiente desenvolvidas na Universidade, e a figura desta árvore foi estampada nas camisas dos participantes. Isso foi feito com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para a necessidade imperiosa da conservação in situ e ex situ da espécie e efetuação de atividades sustentáveis. Sua madeira é utilizada na produção de brinquedos, na construção de jangadas e produção de celulose. Sua seiva é utilizada medicinalmente no tratamento de conjuntivites, e a casca para fins diuréticos. As raízes são utilizadas para extrair água potável. As sementes produzem óleo comestível, mas também utilizado para iluminação, como lubrificante, no fabrico de sabões, e para eliminar ferrugens. A paina é utilizada como isolante térmico, no enchimento de almofadas, travesseiros, colchões, etc. (SANTOS, 2002). Ainda como um aspecto pitoresco, mas de grande utilidade, devido possuir grandes raízes tabulares na superfície e desenvolvimento avantajado do fuste e da copa, esse genótipo é denominado de “telefone sem fio dos indígenas”, pois com os toques manuais emitem sons característicos através dos quais os nativos da floresta se comunicam! Se algo a mais não for efetuado, essa importante espécie poderá seguir o duro caminho do Rinoceronte! Precisa-se mudar urgentemente esse tipo de hábito, atitude, postura, cultura, costume e conduta de nós humanos de colocar em um segundo ou terceiro plano aquilo que a mãe natureza nos doou de graça, ou seja, as plantas, animais, microrganismos e meio ambiente, que inclusive sustentam as nossas vidas! De nada adianta elaborar planos, programas e projetos sobre a coleta/intercâmbio, conservação, caracterização, avaliação, documentação, informatização, informação e uso de recursos genéticos, além de organizar megaeventos, se não houver a predisposição, perseverança, persistência, determinação e visão estratégica de fazê-los. Para recordar: A natureza não sabe reclamar, mas sabe punir! Certa vez deixei para uma Unidade de Pesquisa a seguinte frase: “Preservando o passado, antecipando o futuro”. Tem enorme significado, pois traz o futuro, que às vezes não chega, para o presente! Este fato continua sendo de extrema urgência, pois as espécies estão expostas à erosão genética e extinção (caso do Rinoceronte); perda e fragmentação de habitats; introdução de espécies exóticas danosas; exploração predatória de recursos naturais (forte pegada ecológica); mudanças climáticas (acredita-se que no futuro próximo essas mudanças representarão as principais causas da perda de biodiversidade no planeta, cujo futuro (previsto) já está no presente!), enchentes descontroladas, fenômenos naturais destruidores, entre outros.

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Para lembrar, o evento de Nagoya (Japão), organizado pela CDB em 2010, reconheceu oficialmente 472 espécies da flora e 627 espécies da fauna, como ameaçadas de extinção! É louvável o evento recentemente efetuado no Nordeste Brasileiro que considerou a influência danosa da mudança climática sobre os recursos genéticos. Lembram-se daquele Tsunami que ocorreu na Malásia, em 2004? Os dendezeiros (Elaeis guineensis Jacq.) (Figura 4) e seus insetos benéficos polinizadores (esses amigos ocultos), bem como outras relevantes espécies foram seriamente prejudicados, nesta região de maior produção de dendê no mundo. Não pretendia escrever tanto neste desabafo, suscitado pela nefasta extinção do Rinoceronte e pela resposta provavelmente impensada do colega palestrante, ao que me referi anteriormente, mas ainda gostaria de citar outra frase de um renomado pesquisador dessa mesma Figura 4. Plantas de Dendê, em cultivo. Foto: Míriam Stumpf competente Unidade de Pesquisa, que infelizmente não mais se encontra entre nós, ou seja: "O lixo de hoje pode ser a mina de amanhã", se referindo à nobreza técnico-científica institucional e à visão estratégica de conservar e utilizar os recursos genéticos de forma sustentável, sem solução de continuidade. No passado, considerei esses belos dizeres tão importantes que, na qualidade de dirigente máximo daquela instituição, os coloquei em uma placa comemorativa, e hoje servem de base para este texto. Como parte do raciocínio ainda acrescento mais dois exemplos: O primeiro refere-se à uma palestra que proferi em Braga (Portugal), seguida pela inauguração das novas instalações do banco de germoplasma de milho daquele país, quando tive o enorme prazer de ouvir de um dos integrantes da seleta plateia, a seguinte frase: “Quem tem germoplasma tem poder!” De retorno ao Brasil tive o privilégio de introduzir e horizontalizar o seu uso, acrescentando: “para assegurar a alimentação do seu povo e compartilhar com outros, além de salvaguardar as espécies!” Se o Rinoceronte extinto tivesse sido conservado por certo a sua malfadada extinção não aconteceria. Pensem nisso! Vamos todos atuar em conjunto para o benefício da humanidade, das plantas, dos animais, dos microrganismos e do meio ambiente! Precisa-se restringir ao máximo, o egoísmo, hipocrisia, oportunismo e ganância ainda muito persistentes na face da terra! O segundo exemplo ocorreu em Manaus (AM), quando organizei uma equipe de coleta de germoplasma para ir ao seringal nativo de Rondônia especificamente para retirar vergônteas de duas seringueiras que produziam nove e dez litros de látex por sangria, respectivamente. Essas plantas estavam em grande perigo de ser derrubadas pela nefasta ganância de madeireiros. Resultado: Após a coleta do germoplasma aqueles dois importantes genótipos realmente “vieram ao chão” por ação impiedosa do comando da motosserra, mas já estavam perfeitamente clonados em jardins especializados da Embrapa e atualmente estão do domínio público na qualidade de bons clones! Tenho escrito em outras oportunidades que não existe risco zero, mas que este pode ser avaliado, gerenciado e comunicado. Foi justamente a comunicação que me fez organizar a expedição científica de coleta e salvar as duas citadas seringueiras, através do fenômeno da clonagem! 48


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Conclusão Concluo que podemos e devemos conservar nossos recursos genéticos (microrganismos, animais e vegetais), quer seja in situ quer seja ex situ, pois temos a tecnologia apropriada e o tempo necessário para salvar muito do que ainda temos, para o benefício de todos no presente e futuro. Lembrando que: “a extinção é para sempre”! Referências IG. 2017. Rinoceronte Negro Ocidental é Declarado Extinto In: http://ultimosegundo.ig.com.br/ ciencia/meioambiente/rinoceronte-negro-ocidental-e-declarado-extinto/n1597363279726.html. De 10/11/2010. Obtido em: 04/11/2017. MENEGUELLI, G. 2018. Morre o Último Rinoceronte-Branco-do-Norte Macho do Mundo. In: https://www.greenme.com.br/animais-em-extincao/6475-morre-o-ultimo-rinoceronte-branco-do-nortemacho-do-mundo. Obtido em 07 de julho de 2018. SANTOS, S.H.M. 2002. Sumaúma (Ceiba pentandra (L.) Gaertn. Família Bombacaceae. Belém: Embrapa Amazônia Oriental - MAPA. Recomendações Técnicas. 4p. YIN, S. 2018. Filhotes de proveta podem salvar rinoceronte-branco da extinção. Folha de São Paulo. São Paulo: Ambiente, B5, Sexta Feira, 06 de julho de 2018. STUMPF, M. Palmeira de Dendê (Elaeis guineensis). In: https://www.fazfacil.com.br/jardim/palmeira-de-dendeelaeis/. Obtido em: 15 de setembro de 2018.

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3. A Dúvida do Papa Francisco em Relação às Plantas Transgênicas

Afonso Celso Candeira Valois Pesquisador, pós-doutor em agronomia e biotecnologia, aposentado da Embrapa.

Contextualização Este texto se baseia em comentários que teci sobre este assunto, anteriormente, no Facebook, aos quais acrescento outros que completam minha ideia. O prêmio Nobel de Medicina, bioquímico Richard John Roberts (Figura 1), apresentou uma palestra, por ocasião do II Congresso de Pobreza e Fome, feita para desmontar as críticas à modificação genética dos cultivos, quando enfatizou: “no digan que los transgénicos son peligrosos porque eso es falso” (JN, 2016). Essa falsidade ideológica e mercadológica propalada sobre o risco das Figura 1. Richard John Roberts. (Wickpédia, 2018). plantas transgênicas partiu principalmente de habitantes de países europeus, que são os maiores produtores mundiais de agrotóxicos da agricultura, quando viram os seus robustos mercados serem ameaçados por determinada empresa americana que primordialmente pesquisou e introduziu genes de tolerância especificamente na soja, vendo assim os seus produtos ganharem competitividade no mercado internacional! Em outra oportunidade afirmei em concorrido evento organizado na Câmara Federal, no Auditório “Nereu Ramos”, em Brasília, que se o uso dos transgênicos tivesse começado pelos produtos alimentícios talvez não houvesse tanta polêmica e controvérsias, e estava certo! Um dos grandes resultados do uso de OGM é justamente a drástica redução da aplicação de agrotóxicos na agricultura, além de elevar a sua qualidade e produtividade! Discursos utilizando-se dos recursos genéticos nativos (caju, guaraná, cupuaçu, etc.), nativos parentes das espécies cultivadas (algodão, amendoim, arroz, etc.), e exóticos de espécies cultivadas introduzidos no passado (feijão, melancia, melão, etc.), como motivo para a não utilização de transgênicos, também não foram comprovados, em todos esses anos de experiência, no Brasil. Embora o Jornal da Unicamp 651 (ALVES FILHO, 2016), tenha publicado que “transgênicos podem oferecer riscos à biodiversidade” ainda que seja uma tese de doutorado (a qual não tive a oportunidade de ler na íntegra), esta se ocupa em produzir dados matemáticos hipotéticos envolvendo fenômenos biológicos, onde nem sempre 2 + 2 = 4, devido ao fenômeno das mutações, segregação transgressiva e outros fatores intangíveis! Sugiro que a professora-orientadora e aluno leiam mais sobre OGM e fenômenos biológicos aplicados para não permitir que uma tese de doutorado prejudique nossa agricultura. 50


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Certa vez escrevi e publiquei um artigo, nesta conceituada Revista RG News, de título "O princípio da precaução em OGM e recursos genéticos” (VALOIS, 2016) que entre outras coisas afirma que em biologia nada é absoluto, pois tudo é relativo, isto é, o que for bom hoje poderá não ser no futuro, só que para o caso de OGM até ao presente nada de negativo ocorreu devido a forma como esses produtos são obtidos, vigiados e testados de forma competente e ética. Até na própria genética quantitativa há o cuidado de ser escrito "predição" de parâmetros genéticos, pois os testes estatísticos podem falhar devido aos fatores acima citados. Essa história melancólica de que os OGM podem reduzir ou causar malefício à biodiversidade, no primeiro boletim técnico que escrevi sobre o tema elaborei 16 comparações entre OGM e não OGM (numa época em que o Partido dos Trabalhadores queria porque queria desclassificar os trabalhos da Embrapa e de outras instituições científicas), quando mostrei em minha publicação, que muito pelo contrário, os OGM promoviam o aumento da biodiversidade! Temos ainda que atentar que o OGM não é panaceia para resolver todas as limitações da agricultura, mas é um caminho cintilante com inúmeros sucessos. O fenômeno intertrófico ou tritrófico ainda necessita ser aclarado sobre alguns aspectos em relação a pragas, agentes de controle biológico e planta hospedeira (VALOIS, 2003), mas é ainda mais benéfico ao meio ambiente em relação à avalanche de agrotóxicos jogada na agricultura todos os anos. Os OGM comumente restringem essas aplicações danosas. Uma vez fui à Campinas a serviço da Embrapa e à noite no Hotel assisti pela TV da Unicamp (https://www.rtv.unicamp.br/) a um debate entre um grupo contrário e outro favor de OGM. Os componentes a favor nem sabiam o que era OGM e nem que no Brasil só se cultiva a soja Glicine max (L.) Merr., uma pena que isto ocorra em uma universidade do porte e importância da Unicamp! Pelo jeito, o mesmo desconhecimento continua acontecendo num tema tão relevante para o Brasil! Tenho enfatizado em meus comentários que a Biotecnologia Agrícola não é só para transgênicos e que transgênicos não são somente para soja, pois existe uma “ampla avenida a percorrer” para o benefício da humanidade. Nesse sentido, o Brasil vem se exercitando convenientemente. Muitos avanços têm sido conseguidos em biologia molecular e celular, transformação genética de plantas, genética sintética, nanotecnologia, marcadores moleculares, genoma, proteoma, metabolômica, transcriptoma, etc., sempre evidenciando a bioética, de maneira legal e transparente, obedecendo às leis brasileiras e internacionais para o benefício autóctone e exótico dos povos. Os OGM atualmente são os produtos mais bem analisados sob o ponto de vista genético e possíveis efeitos colaterais, muito bem vigiados no Brasil por uma competente “Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNbio (http://ctnbio.mcti.gov.br/início)”, eclética, formada por representantes de instituições oficiais, públicas e privadas, além de integrantes da sociedade civil organizada. Jamais esse colegiado iria concordar com a liberação de algo que poderia ter efeito maléfico, ocasionando risco, perigo ou dano depressivo à boa alimentação. O “Princípio da Precaução” tem sido mantido à risca!

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Até aos dias atuais jamais foi comprovado que algum OGM tenha causado mal às pessoas que deles se alimentaram, daí a aceitação pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (http://www.who.int/eportuguese/countries/bra/pt/). Certa vez um pesquisador francês Gilles-Eric Séralini, publicou em 2012 um artigo no qual ratos tinham sido alimentados com milho geneticamente modificado, da Monsanto, afirmando que provocara tumores, mas a Revista Food and Chemical Toxicology, no entanto a “despublicou” (GARCIA, 2013)! Nesse sentido da balela em relação aos OGM, certa vez presenciei em Roma (Itália), em reunião da Food and Agriculture Organization (FAO) (http://www.fao.org/ news/contacts/pt/), um mal avisado representante de país africano rechaçar um oferecimento de bom grado efetuado por empresa americana que queria presenteá-los com sementes transgênicas para alimentar o seu povo, que na ocasião estava morrendo de fome, no verdadeiro significado da palavra. Motivo: Os países europeus que inclusive financiavam a presença desse e de outros representantes africanos naquela reunião da FAO, os orientavam para assim proceder em detrimento do sofrimento de seu povo! Recordo que na fase inicial dessa alternativa de consumir OGM, aqui no Brasil circulava uma cartilha maldosamente orientando as pessoas para que não se alimentassem de milho, pois esse produto básico da alimentação tinha sido transformado com o uso de genes de escorpião, daqueles amarelinhos que são mais venenosos! Recentemente, uma exímia médica me confidenciou que estava bastante temerosa, pois a sua filha gostava muito de milho pipoca, e ela estava propensa a não mais possibilitar esse alimento à sua ente querida. Diante disso, recolhi várias informações e lhe enviei, com prós e contras aos OGM, incluindo as balelas e as sensatas opiniões de instituições reconhecidamente sérias, mas deixando-a à vontade para a definição como mãe. Logo em seguida, usando o seu bom-senso, respondeu ao meu e-mail atestando que iria continuar cedendo este alimento à sua filha (que ela carinhosamente chamou de pequena)! Vejam bem como a sensatez pode rebater a má informação advinda de instituições e pessoas direcionadas aos seus próprios benefícios! Só tenho dúvida quanto à nova posição do papa que outrora se posicionou contrário aos OGM! Isso ocorreu provavelmente por uma má orientação de seus assessores (incultos em biologia e genética aplicada) provocando uma errônea visão estratégica e tática que pode prejudicar a alimentação dos povos mais carentes, além de provocar uma lacuna na ampliação do conhecimento sobre o importante tema para a humanidade.

Figura 2. Papa Francisco (Portal da Liderança, 2014).

No entanto, graças a Deus, em 23 e 24 de outubro de 2017, o Sumo Pontífice deu mostra cabal de que se encontra aberto à discussão deste tema ao acolher e apoiar a realização de um Workshop sobre “Biologia Celular e Genética”, em Casina Pio IV, na sede da Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano, com a firme participação de especialistas renomados em biologia molecular e celular, de 52


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alguns países inclusive do Brasil, abrangendo a transformação genética de plantas (PAS, 2017; REVISTA ISTO É, 2017).

Conclusão Nunca é tarde demais para o realinhamento, na questão das plantas transgênicas, em benefício da alimentação sadia, e em quantidade adequada, para a humanidade! Referências ALVES FILHO, M. 2016. Transgênicos podem oferecer riscos para a biodiversidade. In: http://www.unicamp.br/unicamp/ju/651/transgenicos-podem-oferecer-riscos-para-biodiversidade. Jornal da Unicamp. Campinas: 04 de abril de 2016 a 10 de abril de 2016. No. 651. Obtido em: 15/10/2017. FILHO, M.A. Transgênicos podem oferecer riscos à biodiversidade. Jornal da Unicamp. Campinas. No. 651 de 2016. JN. 1996. Nobel da Medicinal pede que se deixe de falar contra transgénicos. In: Mensagem a ambientalistas. https://www.jn.pt/mundo/interior/nobel-da-medicina-pede-que-se-deixe-de-falar-contra-transgenicos5440758.html. Obtido em: 23 de outubro de 2016. GARCIA, R., 2013. Revista Científica retira artigo que relacionava milho transgênico ao cancro. In: https://www.publico.pt/2013/12/02/ciencia/noticia/revista-cientifica-retira-artigo-que-relacionava-milhotransgenico-ao-cancro-1614777. Obtido em: 10 de Agosto de 2017. PAS. 2017. Workshop sobre Biologia Celular e Genética: Declaração Resumida. Casina Pio IV, Vaticano: The Pontifical Academy of Sciences. In: http://www.pas.va/content/accademia/en/ events/2017/cell_biology/declaracao.html. Obtido em 10 de Novembro de 2017. PORTAL DA LIDERANÇA. 2014. 8 Lições de liderança do Papa Francisco, o jesuíta argentino. In: https://www.portaldalideranca.pt/lideres/as-licoes-dos-lideres/3544-8-licoes-de-lideranca-do-papa-franciscoo-jesuita-argentino-que-lidera-os-caminhos-da-igreja-catolica . Obtido em 22/10/2018. REVISTA ISTO É. 2017. Quando a ciência se encontra com Deus. Revista Isto É. Ano 40, N. 2501, 22/11/2017, páginas 64-65. VALOIS, A.C.C. 2003. Possibilidades de uso de genótipos modificados e seus benefícios. Brasília: Embrapa. Informação Tecnológica, 2003. 65p. (Texto para discussão, ISSN 1677-5473, 19). VALOIS, A.C.C. 2016. OGM e recursos genéticos. Brasília: SBRG. Revista RG News 2 (1), 2016, p. 39-41. WIKIPÉDIA, 2018. Richard Roberts. In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Roberts. Obtido em 22 de outubro de 2018.

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IV – Entrevistados da vez Homenageado da SBRG Por Renato Ferraz de Arruda Veiga Editor Chefe da RG News

ARTHUR DA SILVA MARIANTE Eng. Agr. pela Universidade Federal de Pelotas (1969), Me. em Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1974) e Dr. em Genética e Melhoramento Animal pela Universidade da Flórida (1978). Pesquisador A, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa - desde 1974). Entre 1978 e 1986 trabalhou no Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte da Embrapa, Campo Grande - MS, e desde então foi lotado na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasília – DF, onde vem coordenando as ações de conservação dos recursos genéticos animais. É professor orientador, sem vínculo empregatício, no Curso de Pós-Graduação em Ciências Animais da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (UnB), sendo o responsável por duas disciplinas em nível de pós-graduação. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Conservação, atuando nos temas: Caracterização Genética Animal, Conservação de Raças Ameaçadas de Extinção, Bancos de Germoplasma Animal e Melhoramento Genéticos Animal. Desde 1996, e por designação do Governo Brasileiro, é o Coordenador Nacional de Recursos Zoogenéticos junto à FAO, sendo que em 2007 foi eleito pelos demais Coordenadores Nacionais de Recursos Zoogenéticos da América Latina e Caribe como Ponto Focal Regional de Recursos Zoogenéticos, englobando 24 países da região. A partir de janeiro de 2009, passou a liderar a Plataforma Nacional de Recursos Genéticos, composta por quatro Redes de Pesquisa: Rede de Recursos Genéticos Animais, Rede de Recursos Genéticos Vegetais, Rede de Recursos Genéticos Microbianos e uma Rede Transversal que, como seu nome indica, abriga temas transversais comuns às outras três Redes, tais como: Curadoria, Documentação, Intercâmbio, Legislação e Quarentena. Na 7a. Reunião Ordinária do Grupo Intergovernamental de Trabalho em Recursos Genéticos Animais da FAO, realizada em outubro de 2012, na sede daquele Organismo Internacional, em Roma, foi eleito Presidente do Grupo Intergovernamental, para o biênio 2012-2014. Na A partir de janeiro de 2016, foi indicado como Presidente do Comitê Gestor do Portfólio de Projetos “Gestão Estratégica de Recursos Genéticos para a Agricultura, a Alimentação e a Bioindústria” estrutura que substituiu a Plataforma Nacional de Recursos Genéticos, com semelhante estrutura, uma vez que conta com três Vertentes: Animal, Vegetal e Microbiana. Em fevereiro de 2018, tomou posse como membro do Comitê Consultivo do Banco Mundial de Sementes de Svalbard-Noruega.

PERGUNTAS E RESPOSTAS 1) Caro Mariante, quando nosso Presidente da SBRG, Dr. Alexandre Floriani, me sugeriu realizar uma entrevista com você, fiquei muito feliz, mas respondi erroneamente que havia perdido o contato com você depois de sua aposentadoria. Imediatamente ele me corrigiu dizendo que eu estava errado, que você continuava na labuta! Quero lhe pedir desculpas por este episódio, mas no nosso último encontro você havia me dito que já estava arrumando suas coisas para efetivar a mudança. O que o motivou a continuar na sua gigante luta pelos nossos Recursos Genéticos? R. Realmente, em outubro de 2016 eu havia decidido aposentar-me e retornar ao Rio Grande do Sul. Como o convite para presidir o Comitê Gestor do Portfólio de Projetos “Gestão 54


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Estratégica de Recursos Genéticos para a Agricultura, a Alimentação e a Bioindústria REGEN” havia partido do Dr. Ladislau Martin Neto, então Diretor da Embrapa, fui até ele solicitando que me substituísse, uma vez que estaria me aposentando ainda naquele ano. Ao informar-lhe de que pretendia residir em Pelotas, perguntou-me se me incomodaria em permanecer um pouco mais à frente do Comitê Gestor do Portfólio, uma vez que em Pelotas havia a Embrapa Clima Temperado, para a qual eu poderia ser removido. Acertados os problemas burocráticos entre os Chefes Gerais das duas Unidades, assumi meu posto na Embrapa em Pelotas, em dezembro de 2016. O compromisso que assumi com o Dr. Ladislau foi o de continuar à frente do Comitê Gestor do Portfólio REGEN até que se completasse a escolha dos novos Supervisores de Curadoria de Germoplasma, que serão os líderes natos das três Vertentes do Portfólio REGEN. Esta escolha demorou mais do que o esperado, tendo em vista que dependia, em primeiro lugar, da aprovação da nova Norma de Curadorias de Germoplasma da Embrapa e, em segundo lugar, do lançamento de um edital para o preenchimento das funções de Supervisores de Curadoria de Germoplasma. Neste momento, o prazo do edital já foi encerrado e se supõe que até dezembro do corrente ano, os novos Supervisores tenham assumido e rapidamente poderão ser indicados para o Comitê Gestor do Portfólio REGEN, quando então terei cumprido a missão que me foi solicitada. 2) Soube que você esteve no Svalbard Global Seed Vault (SGSV), o Banco Mundial de Sementes localizado em Svalbard-Noruega, pelo qual nutrimos grande interesse. O que você foi fazer lá e qual a sua impressão desta visita? R. Conheci o Diretor do Banco Mundial de Sementes de Svalbard. Dr. Asmund Asdal em 2015, quando o mesmo veio participar do SIRGEALC, realizado em Bento Gonçalves. Na oportunidade, encarreguei-me da acompanhar os convidados internacionais durante o evento e em diversas ocasiões estivemos conversando sobre a estrutura da programação de pesquisa em recursos genéticos da Embrapa, e à época eu estava bastante empolgado que finalmente havíamos aprovado o Portfólio REGEN, que viria substituir a antiga Plataforma. O Dr. Asdal ficou muito impressionado com a abrangência da nossa programação, que inclui não apenas plantas como também animais e microrganismos. Sendo assim, no momento em que teve que montar um novo Comitê Consultivo para o Banco Mundial de Sementes de Svalbard, sendo um membro de cada continente, lembrou-se de mim para representar o continente americano. Assim sendo, em fevereiro de 2018, tive a oportunidade de visitar Svalbard, quando o novo Comitê Consultivo reuniu-se pela primeira vez, por ocasião da comemoração do décimo aniversário de criação do Banco Mundial. Os membros do Comitê tiveram direito a uma longa visita ao Banco, quando sua direção e equipe que o opera explicaram detalhadamente o seu funcionamento. A comemoração do aniversário, que eu acreditava ser uma cerimônia com público restrito, dada à distância em que se encontra o Banco e o complicado acesso para se chegar até lá, foi na verdade uma das cerimônias mais emocionantes que já assisti, mesmo tendo vivido toda a minha carreira na Embrapa trabalhando com recursos genéticos. Literalmente, os líderes dos principais Bancos de Germoplasma do mundo estavam lá para levar novos acessos. Naquela oportunidade, o Banco ultrapassou um milhão de acessos depositados e percebia-se uma união mundial em que todos que até ali foram, o fizeram por acreditar no Banco e em seu papel pela segurança alimentar mundial. Era ainda recente o exemplo do Banco de Germoplasma do ICARDA, que havia perdido inteiramente todo o material genético armazenado devido à guerra na Síria. Graças ao material que o ICARDA havia depositado no Banco Mundial de Svalbard, e que lhe foi devolvido, os acessos já foram regenerados no Líbano e em Marrocos, países para onde foram distribuídos os pesquisadores do ICARDA. Temendo que algo similar volte a acontecer, o ICARDA já começou a reenviar seu precioso material para 55


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Svalbard. Exemplos como este demonstram a importância desse Banco. E para que os depósitos de material genético se acelerem, a direção do Banco solicitou que cada um dos membros do Comitê Consultivo atuem como embaixadores do Banco, estimulando os países de suas regiões específicas a enviar novos acessos de germoplasma. 3) Em 2008 participei, a seu convite, da equipe que preparou o Segundo Informe Nacional sobre os Recursos Fitogenéticos a ser encaminhado à FAO, para compor o Segundo Informe Mundial que tratou da situação dos recursos genéticos vegetais do Brasil e, do qual você foi um dos organizadores. Passados quase dez anos, você acredita que evoluímos, estacionamos ou regredimos? R. Acredito que evoluímos bastante. O Informe Nacional foi publicado em 2009 e acredito que hoje temos um Portfólio de Projetos muito bem estruturado e uma equipe de pesquisadores trabalhando com muito mais empenho no assunto. A documentação já é uma realidade, o que permite que se possa ter um controle muito mais efetivo sobre nossos Bancos de Germoplasma. Além disso, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia completou a construção do novo prédio do Banco Genético, que praticamente quadruplicou a capacidade de armazenamento de sementes, que passou de 200.000 para 750.000 acessos. 4) Você é um experto, de renome internacional, em recursos genéticos animais, no entanto, nas duas questões anteriores te questionei sobre temas afetos aos recursos genéticos vegetais. Como você explica para os leitores tal envolvimento?

Figura 2. Dr. Marcos Gimenes e o Dr. Mariante, no Congresso Nacional de Recursos Genéticos, em Santos. Por Renato Veiga.

R. Em primeiro lugar, sou engenheiro-agrônomo de formação. Além disso, além de ter sido Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, fui, por diversos mandatos, membro do Comitê Técnico Interno desta Unidade de Pesquisa, o que me fez conhecer toda a programação em recursos genéticos, independente de tratar-se de plantas, animais ou microrganismos. E por último, desde o ano de 2009, estou envolvido na gestão da programação da pesquisa em recursos genéticos, em um primeiro momento (2009-2015) com a liderança da Plataforma Nacional de Recursos Genéticos e, a partir de 2016, na presidência do Comitê Gestor do Portfólio REGEN. 5) Sei que você lutou, durante grande parte de sua vida profissional, pela organização da área de recursos genéticos do Brasil. Em uma reunião que participei em Brasília, como consultor externo, sobre a Plataforma Nacional de Recursos Genéticos da Embrapa, você abraçou a ideia de expandir a luta para as unidades das OEPAS, estando aí o embrião do futuro Sistema Nacional de Curadorias de Coleções. Depois continuou lutando por este plano junto ao CONSEPA, e em reuniões posteriores dos Workshops de Curadores de Germoplasma. Confesso que ainda acredito nesta concretização, e vou lutar por ela enquanto puder! O que você pensa sobre isto hoje? 56


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R. Acredito ser fundamental que continuemos nessa direção. A Embrapa tem uma sólida programação de pesquisa em recursos genéticos como já mencionado, mas sozinha não pode ter a ilusão de conseguir conservar toda nossa vasta biodiversidade. É preciso unir esforços de todos os possíveis atores. E nada melhor para isso do que um forte Sistema Nacional de Curadorias de Germoplasma que agregue empresas estaduais de pesquisa e universidades. No Informe Nacional mencionado em pergunta anterior, foi possível identificarmos um número muito expressivo de Bancos de Germoplasma fora do sistema Embrapa. Um Sistema Nacional solidamente estruturado poderia agregar todos eles. 6) Finalmente, não poderia deixar de te questionar sobre a área animal. Para os leigos, da área vegetal e de microrganismos, explique como funcionam os Núcleos de Conservação Animal, e quais as espécies mantidas pela Embrapa? R. Os trabalhos com recursos genéticos animais na Embrapa foram iniciados em 1983, quando se encontrou um pequeno núcleo de bovinos da raça Mocho Nacional, que se imaginava serem os últimos representantes daquela raça. A partir daí, animais de outras raças/espécies também identificados como ameaçados de extinção foram incluídos e criou-se uma Rede de Conservação de Recursos Genéticos Animais, formada por Núcleos de Conservação Animal. A fim de se evitar o desaparecimento dessas raças, conhecidas como localmente adaptadas, iniciou-se, quase de imediato, a conservação ex situ in vitro, ou seja, a coleta e criopreservação de sêmen e embriões. A princípio, a coleta de material genético para a conservação ex situ era realizada apenas no Campo Experimental Sucupira (CES), da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, para onde animais dos diferentes Núcleos de Conservação eram trazidos. Mais tarde, verificou-se que muitos destes animais ao serem transportados e retirados de seu ambiente não apresentavam uma boa resposta às metodologias aplicadas. Assim sendo, com o avanço das metodologias e sua prática rotineira houve uma transformação na metodologia de trabalho executada na rede. As coletas agora são executadas tanto nos próprios Núcleos de Conservação quanto em Centrais de Inseminação privadas. Uma parte do material genético coletado é transferida para o Banco de Germoplasma Animal situado em Brasília, onde está armazenada a coleção biológica de sêmen e embriões das diferentes espécies e raças que compõe a Rede, enquanto outra parte fica na Unidade onde está situado o próprio Núcleo de Conservação, para ser utilizada no rebanho. Os animais dos Núcleos vêm sendo geneticamente caracterizados no Laboratório de Genética Animal da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, o que tem sido uma excelente ferramenta para a seleção de doadores para o Banco Genético. Graças a uma negociação iniciada no período em que estive ligado ao programa LABEX, no Centro de Nacional Preservação de Recursos genéticos da ARS, localizado em Fort Collins, Colorado, conseguimos desenvolver em conjunto com Estado Unidos e Canadá o Alelo Animal, hoje um dos softwares oficiais da Embrapa, e que vem sendo amplamente utilizado pelos Curadores para documentarem seus Núcleos de Conservação e, acima de tudo, pelo Banco de Germoplasma para documentar todo ao acervo que vem sendo conservado ex situ, desde o ano de 1983. As espécies de mamíferos incluídas no programa de conservação da Embrapa são as seguintes: asininos, bovinos, bubalinos, caprinos, equinos, ovinos e suínos. Também se está trabalhando com aves e com algumas espécies silvestres, de interesse econômico, como peixes, quelônios e abelhas. Temos certeza de que nesses 35 anos decorridos desde que a Embrapa incluiu os recursos genéticos animais em seu programa de conservação, a sociedade passou a entender a 57


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importância da conservação, sendo que um número considerável de raças já conta com suas associações de criadores e muitas delas já encontraram seus nichos de mercado. Só assim poderemos garantir sua conservação. É importante que os criadores vejam que é possível obter retornos econômicos criando raças localmente adaptadas, o que certamente irá contribuir para a preservação das mesmas. Queremos aqui expressar a gratidão da SBRG, por tudo que você fez e vem fazendo pela área de Recursos Genéticos do Brasil. - Renato, também, não posso deixar de expressar minha opinião, do grande exemplo de profissional e de ser humano que você é, para mim um ídolo particular, obrigado! Arthur

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Entrevistado da área animal

Por: Cláudia Martins Eng. Agr. pela Univrsidade de Lisboa, Portugal, Me. e Doutoranda. em Ecologia Aplicada, pela ESALQ/USP, Brasil.

Luciano Martins Verdade Universidade: a conservação da biodiversidade no estado de São Paulo

Eng. Agr. pela Universidade de São Paulo (respectivamente, 1985 e 1992). Ph.D. em Wildlife Ecology and Conservation pela Universidade da Florida, E.U.A. (1997). Professor Associado III do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP). Membro da coordenação do Programa Biota/FAPESP, da Comissão Paulista de Biodiversidade e do Species Survival Commission /IUCN, e conselheiro do Sistema de Informação e de Gestão das Áreas Protegidas da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SIGAP/SMA/SP). Pesquisa atualmente na área de Ecologia Evolutiva Aplicada, com especial interesse em manejo de fauna em paisagens agrícolas e processos adaptativos de vertebrados a alterações antrópicas.

Professor Luciano, primeiramente agradecemos a sua disponibilidade para esta entrevista que nos trará luz sobre o estado da arte da conservação da biodiversidade em São Paulo através de seu percurso de vida. O senhor está ligado a uma das instituições de ensino mais tradicionais e prestigiadas do Brasil. Depois de ter feito sua formação na Universidade de São Paulo (agrônomo e mestre), fez seu doutorado na Universidade da Flórida (Wildlife ecology and conservation), e então, regressou ao Brasil, se tornando professor da instituição onde construiu sua carreira. Liderou a criação de um curso de ciências biológicas em uma escola de tradição secular em agronomia, e ocupa vários fora de decisões no âmbito da pesquisa, ensino, extensão e conservação, no país e no exterior, como o Programa Biota/FAPESP e a Species Survival Comission/IUCN, para citar apenas alguns. Figura 1. Dr. Luciano. Por Cláudia.

1 – Ao longo das décadas como professor e pesquisador, nos diga com quais grupos de pesquisa e conservação se envolveu e qual participação foi a mais desafiadora e porquê? R. Em 1987 fui contratado como técnico do então Centro Interdepartamental de Zootecnia e Biologia de Animais Silvestres (CIZBAS), criado por três departamentos da ESALQ/USP: Zootecnia, Ciências Florestais e Zoologia. Com o tempo, mais por razões políticas que técnicas, esse centro acabou ficando apenas com o Departamento de Zootecnia. Isto acabou resultando em um forte viés pela domesticação de espécies silvestres brasileiras, em especial, a capivara, o jacaré-de-papo-amarelo e os porcos silvestres (cateto e queixada). No entanto, quando fui contratado como docente pelo Departamento de Zootecnia da ESALQ tive liberdade para estabelecer novas prioridades, incluindo o levantamento das populações selvagens dessas espécies e o estudo de temas relevantes à sua conservação e uso sustentável como, por exemplo, a relação entre capivaras, carrapatos e a febre-maculosa e o uso do espaço por jacarés em ambientes antrópicos. Em um certo ponto desse processo, percebi que uma parte relevante de 59


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nossa fauna habitava paisagens agrícolas e merecia o investimento em pesquisa tanto conceitual quanto tecnológica e social. Nesse momento fez mais sentido substituirmos o antigo CIZBAS pelo Laboratório de Ecologia Animal. Em paralelo a isto, surgiu a ideia de criar o Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ecologia Aplicada (PPGI-EA) e o curso de graduação (bacharelado e licenciatura) em Ciências Biológicas no campus da USP, em Piracicaba. Fui o relator desses dois processos e trabalhei por alguns anos em sua coordenação. Em 2009 fui convidado a fazer parte da coordenação do Programa Biota, da FAPESP. Esses passos foram decisivos para a institucionalização da pesquisa e ensino na área de Ecologia Evolutiva Aplicada no estado de São Paulo, incluindo processos adaptativos da fauna silvestre a paisagens agrícolas e suas implicações conceituais, metodológicas e sociais. Essa estruturação institucional foi o processo mais desafiador que enfrentei em minha carreira, porque implicou na quebra de uma certa inércia institucional, de que fazem parte interesses pessoais (nem sempre lícitos) e disputa pelo poder (presente em qualquer relação humana). Creio que durante essa época ganhei uma certa fama de “briguento”. No entanto, tenho comigo que nunca briguei com ninguém. Apenas lutei pelo que acreditei ser uma universidade melhor. E foi a partir dessa estruturação institucional que foi possível estabelecer uma cooperação científica longeva com outros grupos de pesquisa do Brasil e do exterior (e.g., CONICET, da Argentina, e a Universidade de Lisboa, em Portugal), responsável pela formação de um bom número de profissionais, além de mestres e doutores capacitados a atuar na área de gestão de nossos recursos genéticos. 2 - A partir de seu trabalho, no seu grupo de pesquisa, e do trabalho dos demais colegas, que importantes recursos genéticos da fauna silvestre têm sido identificados taxonomicamente nos últimos anos no Estado de São Paulo? Neste grupo existem espécies criticamente em perigo (CR), em perigo (EN), e vulneráveis (VU)? R. Além da descoberta de novas espécies de plantas, animais e microrganismos, um grande esforço tem sido feito no Brasil nos últimos anos no sentido de avaliar seu estado de conservação. Também tem havido um esforço considerável no sentido de aprendermos a conservar nossas espécies ameaçadas, usar de forma sustentável nossas espécies econômicas e gerir conflitos com espécies que causem danos diretos ou indiretos ao ser humano. No entanto, em face do dinamismo dessas categorias em relação às inúmeras formas de pressão antrópica, dois passos ainda são necessários: o desenvolvimento de um programa nacional, de longa duração, em escala cruzada (do local ao regional) de monitoramento de nossa biodiversidade e o aprimoramento de nossa legislação, ainda ingenuamente conservadora. Só assim poderemos detectar precocemente riscos às nossas espécies e agir da maneira mais rápida e custo-efetiva possível em sua solução ou mitigação. Só assim também poderemos priorizar de fato a proteção de espécies ameaçadas. A proteção excessiva da fauna pela legislação tende a ser ingênua, pois tratar todas as espécies como se fossem ameaçadas é o mesmo que priorizá-las todas como tal. E não é preciso ser ecólogo para saber que priorizar todas, na prática, tem o mesmo efeito que não priorizar nenhuma. O potencial econômico da capivara e do jacaré-de-papo-amarelo foi evidenciado há algumas décadas no estado de São Paulo. No entanto, a legislação ultraconservadora continua sendo um obstáculo ao seu uso sustentável. Por outro lado, o rio Piracicaba no último século perdeu cerca de 90% de suas espécies de pescado, graças a uma combinação letal entre contaminação ambiental e sobrepesca. Outro grupo bastante vulnerável é o de roedores e marsupiais de pequeno porte que, por terem pequena área de vida e baixa capacidade de dispersão, são mais propensos à extinção local em função da expansão agrícola. No entanto, a opinião pública costuma priorizar espécies consideradas carismáticas como a onça-parda e o lobo-guará, que costumam se adaptar relativamente bem a paisagens agrícolas e silviculturais.

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3 – Duas das espécies às quais dedicou suas pesquisas, o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris) e a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), têm aspectos sensíveis de conservação e interações com humanos às vezes polêmicas, pela complexidade que nossa sociedade humana alcançou. Poderia partilhar conosco quais foram os aprendizados e em quais desafios? R. De fato, aprendi muito com essas duas espécies. O jacaré-de-papo-amarelo deixou de ser considerado uma espécie ameaçada de extinção em 2003 não por conta de nossos esforços em sua propagação em cativeiro, mas em função de nossos levantamentos de suas populações selvagens, inclusive sob o aspecto genético. Tais levantamentos mostraram que, apesar de haver riscos locais em alguns estados, no geral a espécie tem uma distribuição relativamente ampla, com reconhecida capacidade de resistir a pressões ambientais de origem antrópica. Desta forma ela não se encaixava nas categorias oficiais de ameaça da IUCN, utilizadas pelo Brasil. A exemplo de outras espécies de crocodilianos, o jacaré-de-papo-amarelo apresenta um grande potencial de uso sustentável de sua carne e pele, que poderiam gerar receitas a serem utilizadas para a proteção de espécies realmente ameaçadas. A capivara é possivelmente a espécie brasileira com maior potencial para o uso sustentável entre os mamíferos de grande porte. Face à sua ampla distribuição, altas densidades populacionais, alta capacidade adaptativa a ambientes antrópicos e, principalmente, às suas altas taxas de crescimento populacional, ela poderia servir de modelo para o desenvolvimento no Brasil de um programa de caça controlada. De um lado, tal programa poderia gerar renda à população humana e recursos financeiros necessários à conservação de espécies realmente ameaçadas. No entanto, na virada do século, a capivara acabou se envolvendo em uma disputa política pelo uso do campus da Universidade de São Paulo em Piracicaba. Sua relação com o carrapato transmissor da febre-maculosa foi usada por setores do campus para manter o uso de áreas de proteção permanente para a produção de gado, e na consequente geração de renda dita industrial. Seguidos erros de diagnóstico médico que resultaram em óbito de pacientes acometidos da doença e as pesquisas desenvolvidas com a espécie, inclusive do ponto de vista sanitário, foram solenemente ignoradas pela direção da ESALQ e pelos departamentos envolvidos. A espécie ganhou uma fama injusta de culpada pelo ocorrido e o “business as usual” do campus continuou até que a promotoria do meio ambiente o obrigou a seguir a lei ambiental vigente no país. 4 – O estado de São Paulo tem sido objeto de estudos e intervenções da academia, do setor privado e da administração pública, no sentido de conservar as espécies e seus habitats sem impactar as atividades econômicas e as demandas de uma população crescente, instruída e de elevado poder aquisitivo. Considera que é possível conciliar desenvolvimento humano e conservação da biodiversidade no Brasil atual? R. A exemplo do que ocorreu em outros países do mundo, o Brasil também baniu a caça no fim dos anos 1960. No entanto, enquanto países como Argentina, Venezuela e Estados Unidos logo partiram para o estabelecimento de programas de caça legal e sustentável, o Brasil permanece até hoje com a caça quase que totalmente proibida. Isto fez com que deixássemos de desenvolver no país uma escola de gestão da fauna. Essa abordagem tende a ser ingênua e ineficaz porque não protege efetivamente a fauna ameaçada. Ao longo da história, em qualquer país do mundo o desenvolvimento humano se deu junto ao aprimoramento da gestão da fauna e dos demais recursos naturais. O ser humano faz parte da natureza. Nosso país seria mais rico e sábio se traduzisse isso na forma da lei. 5 – Em outros estados e biomas, parece existir um distanciamento entre quem produz o conhecimento e/ou quem toma decisões relativas a programas e políticas públicas na área ambiental. É como se o conhecimento ficasse “cristalizado” nas universidades, em linguagens às vezes inacessíveis a quem não é cientista. Percebe se isso acontece em São 61


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Paulo? Acha que isso dificulta a implementação de ações adequadas ao manejo da flora e fauna, comprometendo sua gestão e conservação? R. Em parte sim, pois nossa comunidade acadêmica ainda é um pouco distante do mundo real em alguns setores. No entanto, isto tem mudado bastante. A FAPESP tem, a meu ver, feito um ótimo trabalho nesse sentido. Os programas voltados à iniciativa privada, como o PIPE, são um bom exemplo disso. Nele várias startups têm surgido em áreas tecnológicas como a de Ecologia Molecular, onde vários recém-doutores têm desenvolvido e utilizado métodos moleculares que permitem, por exemplo, identificar indivíduos de espécies silvestres a partir do DNA presente em suas fezes. Além disso, em vários editais nacionais e internacionais já se exige dos pesquisadores que explicitem como farão para suas descobertas chegarem à sociedade que paga por suas pesquisas. Isto não deve, a meu ver, levar ao debate entre ciência básica e aplicada, já ultrapassado em boa parte, e sim à busca dos fatores que limitam nosso conhecimento quanto a conceitos, tecnologia e governança em relação aos problemas e desafios em questão. Em outras palavras, seria mais saudável se concentrássemos nossos esforços mais no que não sabemos (mas precisamos saber) do que nos problemas que já estão resolvidos. 6 – Como é a interação da pesquisa (e dos pesquisadores) produzida no estado de São Paulo com as pesquisas feitas em outras regiões sobre a fauna silvestre? E dentro do estado, existem redes de colaboração para produzir ciência na temática da conservação da biodiversidade que cumpram todas as etapas até à comunicação e divulgação da ciência ao público em geral? R. A biologia no estado de São Paulo teve uma formação predominantemente europeia, a partir de grandes naturalistas que estiveram por aqui no século 19. Isto resultou no predomínio até boa parte do século 20 de estudos de levantamento de nossa biodiversidade em seus vários grupos taxonômicos em nossos vários biomas e ecossistemas. No entanto, a partir da década de 1990 profissionais com doutorado em escolas norte-americanas e australianas passaram a atuar em universidades e centros de pesquisa brasileiros. Essas escolas são predominantemente ligadas à gestão da fauna e da flora e sua influência hoje é perceptível como resultado de uma geração já brasileira de doutores com essa formação. Essa mistura de escolas europeia e americana pode ser extremamente rica ao desenvolvimento de uma escola brasileira de gestão da fauna e dos recursos naturais. A produção e divulgação de boa ciência e tecnologia ligadas à conservação da biodiversidade só pode ser feita a partir de redes que incluam sítios de estudos de longa duração conectados por bancos de dados interoperáveis. Programas como o Biota/FAPESP e o PPBio/MCT têm trabalhado bastante na formação de tais redes. É por meio de tais redes de monitoramento que poderemos aprimorar a gestão e a governança de nossos recursos genéticos. Ainda há muito a fazer, mas me sinto privilegiado por ter feito parte do processo de implementação de uma escola de gestão de fauna no Brasil. 7 – Com base em sua experiência como pesquisador e professor, que projeção faz quanto ao aumento da participação política dos futuros biólogos, ecólogos, engenheiros, em fóruns de decisão? Que desafios e resistências ainda persistem nesse sentido? R. Essa tendência é, a meu ver, inevitável. No entanto, ela deve vir acompanhada de um esforço consistente de capacitação humana. Não basta colocar distintos setores da sociedade para que dialoguem. É preciso formá-los desde muito cedo para isto. Caso contrário, tendemos à superficialidade e à inoperância. Professor Luciano, em nome de toda a equipe da RG News agradecemos a sua grande colaboração para a área de recursos genéticos do Brasil.

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Entrevistada da área de Microrganismos

Por Maíra Halfen Teixeira Liberal Med.Vet. PhD Microbiology-University of Surrey, UK (PESAGRO-RIO / CEPGM) Editora TécnicoCientífica - Área Microrganismos

Ana Claudia Dias de Oliveira Bióloga (1998), com Me. em Biologia (2000), Dr. Empresarial (2008), e Dr. em Biotecnologia Vegetal (2011), todos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, e Pós Doutoranda em Propriedade Intelectual e Inovação na Academia do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual - INPI. Recebeu Bolsa sanduíche em 2008 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, em prospecção de medicamento, e em Pró-Gestão na FIOCRUZ, em Propriedade Intelectual e Inovação Tecnológica. Ainda foi bolsista na Empresa de Pesquisa Agropecuária - PESAGRO-RJ, com Bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa - FAPERJ, de 2005 a 2007. Foi Analista de Patentes de Biotecnologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA até 2001 e especialista visitante no Projeto do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - INCT de Doenças Negligenciadas (CDTS/FIOCRUZ) em 2016 e 2017. Tem experiência nas áreas de Biotecnologia, Propriedade Intelectual, Inovação e Biodiversidade. Atualmente é CEO da IPI Patentes, Perita Judicial em Patentes de Biotecnologia, Conselheira do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético - CGEN e consultora de entidades e empresas além de professora no Curso de Especialização em Gestão da Inovação da FIOCRUZ

Drª Ana Claudia, agradecendo a sua disponibilidade em nos atender, eu gostaria de aproveitar essa oportunidade para entrevistá-la sobre a nova Lei da Biodiversidade e o SisGen, assuntos diretamente relacionados com importantes atividades da PESAGRO-RIO, particularmente àquelas referentes ao Centro Estadual de Pesquisa em Sanidade Animal - CEPGM, onde desenvolvemos Projetos de Pesquisa e Prestação de Serviços Laboratoriais, que podem envolver, em diferentes etapas, a coleta, o isolamento, a caracterização, a classificação e a conservação de Recursos Genéticos de Microrganismos. 1. Muitas dúvidas estão surgindo entre os pesquisadores que trabalham com Recursos Genéticos na Área Vegetal, na Área Animal e na Área de Microrganismos, devido às mudanças na Legislação vigente. O que é “Patrimônio Genético Brasileiro”? R. Patrimônio Genético é conceituado na Lei 13.123/15 como a informação de origem genética de espécies vegetais, animais, microbianas ou espécies de outra natureza, incluindo substâncias oriundas do metabolismo destes seres vivos. Esta Lei não se aplica ao patrimônio genético humano, mas se aplica aos patógenos extraídos dos seres humanos. 2.

O que está definido como sendo “Conhecimento Tradicional Associado”?

R. Conhecimento Tradicional Associado é a informação ou prática de população indígena, comunidade tradicional ou agricultor tradicional sobre as propriedades ou usos diretos ou indiretos associada ao patrimônio genético. 63


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3.

Qual o conceito de Pesquisa na Lei 13.123/16?

R. É a atividade, experimental ou teórica, realizada sobre o Patrimônio Genético ou Conhecimento Tradicional Associado, com o objetivo de produzir novos conhecimentos, por meio de um processo sistemático de construção do conhecimento que gera e testa hipóteses e teorias, descreve e interpreta os fundamentos de fenômenos e fatos observáveis. 4.

Como ficam os microrganismos perante a Lei 13.123/16?

R. Considera-se parte do Patrimônio Genético existente no território nacional, o microrganismo que tenha sido isolado a partir de substratos do território nacional, do mar territorial, da zona econômica exclusiva ou da plataforma continental. O microrganismo não será considerado Patrimônio Genético nativo quando comprovar: I - que foi isolado a partir de substratos que não sejam do território nacional, do mar territorial, da zona econômica exclusiva ou da plataforma continental; e II - a regularidade de sua importação. Assim, caso tenha sido isolado em substrato do território nacional, o projeto envolvendo o microrganismo isolado deverá ser cadastrado no SisGen. 5. Tenho percebido que ainda existe uma certa confusão entre nossos pares em relação às novas siglas empregadas nessa matéria. Descreva então o que significa CGEN? R. O CGEN, Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, é o órgão colegiado de caráter deliberativo, normativo, consultivo e recursal, criado pela Lei nº 13.123, de 2015, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente. É integrado por vinte conselheiros, sendo onze representantes de órgãos da administração pública federal e nove representantes da sociedade civil, conforme disposto no art. 7º do Decreto nº 8.772, de 2016. O CGEN é presidido pelo Ministério do Meio Ambiente, e reúne-se, ordinariamente, conforme calendário aprovado pelo Plenário, preferencialmente em Brasília, DF. A Secretaria de Biodiversidade, exerce a função de Secretaria-Executiva do CGEN. Além do Plenário, o Conselho possui Câmaras Temáticas e Câmaras Setoriais que subsidiam o Plenário na tomada de decisões. 6.

O que é o SisGen?

R. O SisGen é o Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado. É um sistema eletrônico criado pelo Decreto nº 8.772, de 11 de maio de 2016, que regulamenta a Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015, como um instrumento para auxiliar o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN – na gestão do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado. O SisGen é mantido e operacionalizado pela Secretaria-Executiva do CGen, e apresenta interface que possibilita ao usuário: i) Cadastrar acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado; ii) Cadastrar envio de amostra que contenha patrimônio genético para prestação de serviços no exterior; iii) Cadastrar remessa de amostra de patrimônio genético; iv) Notificar produto acabado ou material reprodutivo; v) Solicitar autorização de acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado e de remessa ao exterior com anuências do Conselho de Defesa Nacional e do Comando da Marinha; 64


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vi) Solicitar credenciamento de instituições mantenedoras das coleções ex situ que contenham amostras de patrimônio genético; vii) Obter comprovantes de cadastros de acesso, cadastros de remessa e de notificações; viii) Obter certidões do procedimento administrativo de verificação; e ix) Solicitar atestados de regularidade de acesso. 7. O que acontece com quem deposita um pedido de patente no Brasil, para um produto derivado de uma espécie brasileira, e não indica esse fato ao SISGEN? R. O cadastro no SISGEN deverá ser realizado previamente à remessa, ou ao requerimento de qualquer direito de propriedade intelectual, ou à comercialização do produto intermediário, ou à divulgação dos resultados, finais ou parciais, em meios científicos ou de comunicação, ou à notificação de produto acabado ou material reprodutivo desenvolvido em decorrência do acesso. O art. 80 do Decreto 8.772/16 define as infrações e as multas decorrentes. Requerer direito de propriedade intelectual resultante de acesso ao patrimônio genético ou conhecimento tradicional associado, no Brasil ou no exterior, sem realização de cadastro prévio: - Multa mínima de R$ 3.000,00 (três mil reais) e máxima de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), quando se tratar de pessoa natural. - Multa mínima de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e máxima de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), quando se tratar de pessoa jurídica enquadrada como microempresa, empresa de pequeno porte ou cooperativas de agricultores tradicionais com receita bruta anual igual ou inferior ao limite máximo estabelecido no inciso II do art. 3º da Lei Complementar nº 123, de 2006. - Multa mínima de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e máxima de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais), para as demais pessoas jurídicas. 8. Um microrganismo foi obtido em coleção brasileira, mas é originalmente proveniente de coleção do exterior e não foi isolado no Brasil (por exemplo, cepa teste ATCC). Como proceder? R. Não tendo sido isolado de substrato brasileiro, precisará apenas de uma prova dessa importação ou prova de que o material veio do exterior. Não precisará cadastrar a espécie, uma vez que a mesma foi isolada no exterior, entretanto precisa haver prova disso. O pesquisador poderá solicitar um documento à instituição no exterior ou pode utilizar algum documento de comprovação como invoice, MTA ou semelhante. 9. Como fazer o cadastro no caso de microrganismos que estavam numa mini coleção de laboratório de pesquisa, que foi formada por microrganismos de outras coleções de laboratório, algumas que não existem mais, e não há registro de origem, bioma, data de coleta/ depósito, número do voucher, etc.? R. Se esses microrganismos foram acessados antes de 2015, e não houve solicitação de autorização, deve ser feita a regularização das atividades. Neste caso, da mesma forma que na questão anterior, o cadastro será necessário, com as informações requeridas. Se não possui as informações, o pesquisador pode colocar como coleção de laboratório (ex situ - coleção). 10. A coleção de laboratório não é uma coleção oficial. Não há interesse no cadastro dela como coleção, pois muitos microrganismos já foram perdidos. Ainda assim, os microrganismos acessados antes de 17/11/2015 e que foram obtidos dessa coleção de laboratório de pesquisa, podem ser cadastrados como vindos de "coleção biológica", mesmo essa coleção não sendo uma coleção de referência, sendo utilizada apenas pelo próprio laboratório e seus colaboradores? 65


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R. Sim, pode fazer o cadastro do projeto de amostras de coleção ex situ sem ser uma coleção de referência. O cadastro de coleção é opcional. 11. No caso de equívocos cometidos durante o cadastro, como no caso de procedência de material, que foi enquadrado como in situ quando deveria ser ex situ. Como retificar essa informação? R. Pode tentar editar o cadastro realizado. Alguns pesquisadores falaram que não conseguem retificar. Caso não consiga, pode enviar um ofício para a Secretaria Executiva do CGEN solicitando a alteração com justificativa. Outra opção é excluir o cadastro realizado e refazer colocando as informações corretas. 12. Testes de atividade biológica com chás, extratos ou óleos sem que haja o isolamento ou a identificação de substâncias são considerados acesso ao Patrimônio Genético (PG)? R. Depende, se for prestação de serviços não será considerado acesso ao PG, mas se for pesquisa ou desenvolvimento tecnológico será considerado acesso ao PG. Para ter certeza se é prestação de serviços, o pesquisador deve observar o disposto no art. 107 do Decreto 8.772/16. 13. PG de transgênicos, também está no escopo da lei? R. Dependerá do projeto. Se o projeto for desenvolver um transgênico a partir de uma matriz brasileira será necessário o cadastro. Assim, deverá analisar a matriz utilizada. 14. No caso de haver a utilização de algum tecido do sistema nervoso de ratos e camundongos com uso de técnicas tipo western blot, imunocitoquímica e PCR ou cultura de células de retina desses animais. Nesses casos há necessidade de cadastramento, uma vez que são cobaias? R. Deve-se olhar a consulta pública do MAPA (Portaria SMC 4/2018 e 103/2018 do MAPA) sobre espécies animais não consideradas Patrimônio Genético brasileiro. A maioria das cobaias (se não todas) está na lista de exóticas desta consulta pública, ou entrarão quando for publicada. 15. Como proceder quando o Pesquisador de uma instituição desenvolveu a sua tese ou dissertação em outra instituição. Quem deve fazer o cadastro no SisGen (ele ou o orientador)? E se o orientador for aposentado ou falecido? R. Ele deverá colocar como resultado de projeto, independentemente de o orientador cadastrar. O pesquisador faz o cadastro vinculado à instituição atual e coloca apenas como resultado de pesquisa. 16. Quando o pesquisador tinha pesquisas com acesso ao PG, mas faleceu entre 2000 e 2017. Haverá obrigatoriedade de preenchimento do cadastro do sistema? Quem deverá efetuar o preenchimento? R. Alguém da instituição, de preferência quem assumiu o projeto, faz o próprio cadastro e coloca os resultados que estiverem no lattes do pesquisador falecido (ou o coautor ou alguém da equipe do pesquisador falecido). 17. Pesquisas com tecidos, secreções ou órgãos isolados de animais (não humanos), para isolamento de proteínas, por exemplo, precisam ter seu cadastro incluído no sistema?

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R. Sim, no caso de espécies brasileiras ou isoladas de substratos brasileiros, e no caso dos microrganismos. 18. Projetos que foram concluídos antes de 2000, mas cujas publicações saíram em anos posteriores, precisam ser incluídos no sistema? R. Precisam sim, por ser divulgação de resultados parciais ou finais. Deve-se colocar como resultado do acesso. 19. Projetos, teses, orientações anteriores, podem ser incluídas, pelo pesquisador, como um único projeto maior? A linha de pesquisa pode ser utilizada como um grande projeto para a regularização de atividades anteriores? R. Sim, essa é a melhor opção, condensar tudo que for semelhante em um projeto maior. 20. No caso de material biológico guardado por pesquisadores para utilização em projetos futuros, isso é considerado coleção biológica? R. É considerado coleção de laboratório, porém não precisa ser cadastrado antes do acesso ou de qualquer outra atividade, exceto no caso de remessa. 21. Se um pesquisador utiliza material de uma coleção, para que ele faça o cadastro de seu projeto, essa coleção precisa estar previamente cadastrada no sistema? R. Não precisa estar cadastrada oficialmente no sistema. Pode colocar o número da coleção (ex situ) ou colocar in situ com as informações de origem da coleção (local, bioma, etc.). 22. Professores aposentados que desenvolveram projetos a partir de 30 de junho de 2000 precisam realizar o cadastro? R. Sim, precisam fazer o cadastro de regularização ou adequação. 23. Acesso à metabolismo (como por exemplo isolamento de proteínas) de animais provenientes de biotérios (como camundongos, pintos, insetos) também é considerado acesso ao PG? R. Deve-se olhar a consulta pública do MAPA (Ver Portaria SMC 4/2018 e 103/2018 do MAPA) sobre espécies animais não consideradas Patrimônio Genético brasileiro. A maioria das cobaias (se não todas) está na lista de exóticas desta consulta pública. 24. No caso de pesquisa envolvendo nutrição, onde uma fruta é incorporada à um produto lácteo, por exemplo, onde é verificada (quantificação), por exemplo, a presença de compostos fenólicos no produto final. É considerado acesso? Não há o isolamento, mas a quantificação. R. Se for parte de pesquisa precisará observar se a espécie de fruta é nativa brasileira. Se for brasileira, deve-se fazer o cadastro. Caso não seja brasileira, não será necessário o cadastro. Se for prestação de serviços também não será considerado acesso ao PG. 25. Utilização de PCR para testes de diagnóstico, entra como acesso ao patrimônio genético? Há diferença no caso de prestação de serviço e pesquisa? R. Exatamente isso, se for pesquisa será necessário o cadastro, mas se for prestação de serviços, não será necessário o cadastro de atividades. 67


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26. A Instituição poderá cancelar o vínculo de um pesquisador caso o servidor se desvincule da instituição? R. Sim, teoricamente poderá. Teoricamente, porque vai depender do sistema (SisGen). Atualmente, os pesquisadores não estão conseguindo fazer algumas correções. 27. Em relação ao Termo de Transferência de Material, ele pode tramitar com assinaturas digitais? R. Sim, você protocola o TTM via upload do SisGen, mas também terá que enviar o original pelo correio, ou em mãos para a secretaria do CGEN para ser assinado e validado. 28. Estudos envolvendo somente avaliação da composição mineral de solo, sem isolamento de biota, necessita ser cadastrado? R. Não é necessário o cadastro, apenas se houver pesquisa do metagenoma ou de isolados biológicos do solo. 29. Estudos de morfologia e ecologia devem ser cadastrados? Estudos envolvendo uma determinada característica da morfologia que pode ser condicionada pela genética, devem ser cadastrados? Isso é considerado acesso ao PG? R. Sim, para morfologia, para taxonomia, e ecologia, mas poderão esperar a atualização do SisGen (versão 2 do sistema) para fazer o cadastro. Se não for “taxonomia” pura (apenas identificação), deverá cadastrar o projeto sem esperar a versão 2. 30. Projetos que possuíam autorização que expirou após a entrada da nova lei devem ser cadastrados, entretanto o sistema continua acusando que o projeto não está cadastrado, solicitando que se entre em contato com o SisGen. Para esses casos haverá extensão de prazo, uma vez que ainda não há como inserir o projeto? R. Não sabemos. O ideal seria enviar um ofício ou ligar diretamente para a Secretaria Executiva do CGEN. Se a autorização expirou foi porque o projeto foi finalizado ou teve continuidade ilegalmente. Se a autorização expirou e o projeto foi finalizado entre 2000 e 2015, deve-se fazer o cadastro de regularização. Se o projeto foi finalizado antes de 2000, não será necessário cadastro, apenas se houver depósito de patente ou outros resultados. Ana, a SBRG agradece-lhe imensamente por atender a esta entrevista, e também por tudo pelo que já fez e vem realizando pela nossa área de recursos genéticos. Obrigada por tudo! Maíra.

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V – Eventos Aconteceu Encontro de Pesquisadores, Professores, Estudantes e Curadores de Bancos de germoplasma da RGV Nordeste

A Rede de Recursos Genéticos Vegetais do Nordeste, vinculada à Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos, promoveu, juntamente com a EMBRAPA e o IPA, o encontro de Pesquisadores e Curadores dos bancos ativos de germoplasma do IPA, EMEPA e EMPARN, além dos Professores das UFPE e UFRPE, com o objetivo de discutir a adequação das ações de pesquisa, com Recursos Genéticos, à Lei n.13.123, novo marco legal da Figura 1. A palestrante Dra. Biodiversidade. O evento aconteceu em Recife - PE, no dia 06 de agosto Rosa Míriam de Vasconcelos, da EMBRAPA. Foto Semíramis. e o tema em questão foi apresentado pela Dra. Rosa Miriam de Vasconcelos, Supervisora de Assuntos Regulatórios da EMBRAPA. Estiveram também presentes os Gestores das três Organizações Estaduais de Pesquisa Agrícolas (OEPA). O resultado foi excelente, já que o prazo estabelecido pelo SisGen (Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e dos Conhecimentos Tradicionais Associados), de 1 ano (iniciado em 6 de novembro de 2017) vence em novembro próximo, sendo uma das últimas oportunidade para verificar o débito perante a Lei 13.123 (em vigor desde 17 de novembro de 2015), regulamentada pelo Decreto 8.772 (de 11 de maio de 2016).

Figura 2. Participantes da Reunião entre Pesquisadores e Curadores de Bancos de Germoplasma ocorrida em Recife, agosto 2018, organizado pela RGV Nordeste. Foto Semíramis.

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Palestra Apoiada pela Rede de Recursos Genéticos do Sudeste, pela Dra. Rosa Miriam de Vasconcelos Aproveitando-se do sucesso do evento anterior, a SBRG juntamente com a Rede de Recursos Genéticos do Sudeste, organizaram novo evento, com apoio da Embrapa, Instituto Biológico e Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola, a conceituada advogada da Embrapa, ministrou palestra sobre a Lei de Acesso à Biodiversidade, no Instituto Biológico em São Paulo – SP, para um público de 100 cientistas.

Figura 1. Dra. Rosa Miriam palestrando.

Figura 2. Anfiteatro do IB. Fotos Renato Veiga.

Figura 3. Renato Veiga, Ana Eugênia, Rosa Miriam e Antonio Batista

Figura 4. Hora do café, no Instituto Biológico.

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Criada a Rede de Recursos Genéticos do Sudeste No sentido de contribuir para a reestruturação nacional na área de recursos genéticos, um grupo de cientistas se reuniu para discutir a inclusão da região sudeste no sistema brasileiro de “Redes Regionais de Recursos Genéticos”. Como resultado, durante o II Congresso Paulista de Ciência e Tecnologia Ambiental, realizado na Universidade do Sagrado Coração (USC), em Bauru, no dia 21 de Novembro de 2017, foi proposta e crida a Rede de Recursos Genéticos do Sudeste (RGSE), a qual se apresentará ao público no V - Congresso de Recursos Genéticos, esperando, então, completar a equipe imaginada pelo grupo. O evento culminou a efetivação de uma ideia amadurecida em diversas reuniões anteriores onde se cogitava assumir a Rede Paulista de Recursos Genéticos ou uma Rede mais ampla como a Sudeste, sendo que esta última venceu o debate. A Rede Sudeste, que se junta as do Norte e Sul, já efetivas na Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos, tem com o propósito regional fortalecer e ampliar a representatividade da SBRG. Será uma Rede com a mesma amplitude da SBRG, isto é, abrangendo as áreas animal, Microrganismos e vegetal.

Figura 1. O presidente da Rede de Recursos Genéticos do Sudeste, Dr. Marcos Siqueira (direita) e o Diretor TécnicoCientífico, Dr. Renato Veiga (esquerda), na USC, em Bauru. Foto Renato Veiga.

A equipe que se prontificou a organizar e viabilizar a RSRG, assim que oficializada no futuro Congresso Nacional de Recursos Genéticos, ficou organizada da seguinte forma: Presidente: Dr. Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira (SBRG) Vice-presidente: Dr. Miguel Luiz Menezes Freitas (IF). Diretor Técnico-Científico: Dr. Renato Ferraz de Arruda Veiga (FUNDAG).

Figura 2. O presidente da Rede Sudeste de Recursos Genéticos, Dr. Marcos Siqueira (direita) e o vicepresidente, Dr. Miguel Freitas (esquerda), na USC, em Bauru. Foto Marcos.

Vislumbra-se ter mais quatro Diretores Regionais que completarão a equipe (SP, MG, RJ e ES), ao lado do Diretor Financeiro, estão sendo sondados pela Diretoria e em breve terão seus nomes divulgados!

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Acontecerá V Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos – V CBRG Estamos na contagem regressiva para o V CBRG! Entre os dias 06 e 09 de novembro de 2018, a cidade de Fortaleza/CE sediará a quinta edição do Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos (CBRG). Tendo como tema central “Valor, uso e inovação: o futuro dos recursos genéticos”, o CBRG apresenta-se como o mais importante fórum de discussões sobre o tema no país e que pode trazer melhorias significativas do ponto de vista ambiental, econômico e social nas questões relacionadas aos recursos genéticos vegetais, animais e de microrganismos, pois ele estimula a inovação, o desenvolvimento científico e tecnológico e estimula a troca de experiências e a interação entre empresas, instituições científicas, tecnológicas, agricultores guardiões da agrobiodiversidade e demais grupos da sociedade envolvidos com essa temática. Destaques da programação: o IV Workshop de Curadores de Bancos de Germoplasma do Brasil, voltado para curadores, pesquisadores gestores de coleções e bancos de recursos genéticos animais, vegetais e de microrganismos das principais instituições de ensino e pesquisa; o Fórum de Formação de Recursos Humanos para o Futuro dos Recursos Genéticos, com objetivo de discutir e definir estratégias de ação para inclusão do tema Recursos Genéticos em cursos de graduação e pós-graduação e a II Feira Nacional dos Guardiões da Agrobiodiversidade, idealizada com a finalidade de valorizar os trabalhos de conservação que diversos agricultores espalhados pelo Brasil realizam. Para maiores informações acesse o site do evento: www.cbrg2018.com.br

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VI – Memória dos Recursos Genéticos Memória Nacional Por Renato Ferraz de Arruda Veiga

EDMUNDO NAVARRO DE ANDRADE (1881 – 1941) “O pai da silvicultura brasileira” Quando ingressei na Seção de Botânica Econômica do Instituto Agronômico, em 1980, sua fotografia ocupava um lugar de destaque na parede e, desde então, me liguei à sua história. Edmundo (Figuras 1, 2, 4), nasceu em 2 de janeiro de 1881, na Rua do Chá, atual Barão de Itapetininga, São Paulo - SP, filho de João Campos Navarro de Andrade e Cristina da Fonseca Navarro de Andrade. Mudou-se para o Figura 1. Edmundo posando em seu Rio de Janeiro, em 1889, mas dois anos jardim. (Foto SILVA, 2018). depois retornou devido ao falecimento de seu pai pela febre amarela. É considerado o grande “dispersor” dos Eucaliptos, desde o início de suas pesquisas em 1904, não o “introdutor”, pois, o Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro já o havia introduzido em 1825. Estudou no Ateneu Paulista, até 1895, quando voltou para o Rio de Janeiro e ingressou, em 1895, na Escola Militar da Praia Vermelha, de onde foi expulso por participar do motim de 15 de março de 1896, Figura 2. Edmundo em Foto de 1900. retornando para São Paulo, onde trabalhou como revisor de provas (Foto SILVA, 2018). tipográficas. Mudou-se para a Fazenda Brejão, na cidade de Palmeiras – SP, do padrinho Eduardo Prado. Dalí, com apoio do padrinho se matriculou na Escola Nacional de Agricultura de Coimbra – Portugal (1899 – 1903). Retornou à São Paulo, já graduado Eng. Agr. (1903). No Brasil foi contratado, aos 22 anos, pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro, para dirigir o departamento com o projeto de criação de Hortos Florestais (Figura 3) ao longo das ferrovias. Figura 3. Horto Florestal de Rio (http://www.celso-foelkel.com.br/).

Claro.

Coube a Navarro de Andrade pesquisar qual espécie florestal melhor atenderia ao reflorestamento das áreas desmatadas na construção da ferrovia, como também para 73


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o fornecimento de madeira e carvão necessários a sua manutenção. Com este intuito, foram criados 18 hortos e plantadas 95 espécies florestais, até ser escolhido o Eucalyptus spp. (Myrtaceae), que possui cerca de 700 espécies descritas, sendo nativas da Austrália, Nova Guiné, Indonésia, Timor Leste e Filipinas, se tornando assim o grande incentivador desta cultura no Brasil, que hoje em dia se cultiva comercialmente, no Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste, Sul, e Norte, por ordem decrescente de área ocupada, em especial Eucalyptus grandis, mas também E. cloeziana, E. camaldulensis, E. regnans, E. saligna, E. urophylla, E. viminalis, e Corymbia citriodora, entre outras, dependendo do clima e usos (antissépticos, balas, celulose, caixotaria, construções, chá, carvão, dentifrício, dormentes, estacas, laminação, lenha, móveis, moirões, óleos essenciais, pomada, perfume, postes, produtos de limpeza, serraria, sabonete, taninos, xarope,...) (ANGELI, 2005, FLORES et al., 2016).

Figura 4. Edmundo, em frente de sua casa. Foto Arquivo Público de Rio Claro.

Navarro (Figura 4) instalou a sede do Serviço Florestal em Rio Claro (1917), onde hoje o Horto Florestal leva o seu nome, mas também o Horto Municipal de São Carlos, de 1935, tem a sua denominação. Em 2002, foi transformado em unidade de conservação de uso sustentável sob o nome de Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade (FEENA). São 2.230 hectares com as mais variadas espécies da planta. O local é aberto à visitação e possui atrações como as trilhas que passam pelos vários eucaliptos que se encontram na floresta. Há, ainda, o Museu do Eucalipto, que reúne em seu acervo 39 anos de pesquisas do engenheiro agrônomo, e o Solar Navarro de Andrade, residência do pesquisador, tombada pelo patrimônio histórico. Vamos começar a contar seus feitos, desde 1913, quando empreendeu viagens, pelo governo de São Paulo, para o Egito, Índia, Ceilão, Malásia, Sumatra, Java, Nova Guiné e Austrália, além de diversos países da Europa.

Figura 4. Navarro de Andrade em sua sala de trabalho. (Foto SILVA, 2018).

Engenheiro Agrônomo com conhecimento de largo espectro, trabalhou em várias áreas e com recursos genéticos de diversas culturas, como resultado elaborou muitas publicações, tais como: Dunas (1904); Cultura do Eucalipto (1909); A Cultura do Eucalipto nos Estados Unidos (1910); Manual do Plantador de Eucaliptos (1911); A utilidade das Florestas, e Dinamite na Agricultura (1912); Cultura do café nas Índias Neerlandesas (1914); Questões Florestais (1915); Les Bois Indigènes, com Octávio Vecchi (1916); Os Eucaliptos, sua Cultura e Exploração (1918); A volta ao mundo – 74


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impressões de viagem, Instruções de Viagem – café, juta e borracha, e Instruções para a Cultura da Juta no Estado de São Paulo (1920); O Reflorestamento do Brasil e a Companhia Paulista (1922); O problema florestal do Brasil (1923); Com os colaboradores Artur Neiva e A. Costa lima publicou Ilustrações para o combate à broca do café (1924), e A Broca do Café (1925); Por aí Além (1927); Pesquisas sobre a biologia da mosca da madeira, Contribuição para o estudo da entomologia florestal paulista, Praga dos Bambus (Rhinastus stericornis Germ) (1928); Citricultura, O Angico do Cerrado, e Agricultural Research (1930); A relação acidez-açúcares nas laranjas (1932); A citricultura no Brasil (1932); Manual da Citricultura (1933); e Eucalipto (1939). Ainda em 1917, aceitou a incumbência de completar o trabalho de José Bonifácio de Andrade e Silva, dada pelo governo Português, sobre combate às dunas, resultando no seu primeiro livro publicado, que serviu de base para sua tese de doutorado. Fez viagens internacionais para pesquisar mais sobre serviços florestais e para introduzir suas espécies para pesquisas no Brasil. Em uma dessas viagens conheceu Joseph Maiden que colocou seu especialista em eucalipto a serviço de Navarro. Juntos percorreram muitos lugares do Brasil, contribuindo muito para suas pesquisas de aclimatação do germoplasma escolhido. Publicou mais de 10 obras relacionadas a suas viagens e ao eucalipto. Casou-se em 1923, com Angelita Navarro de Andrade. Em 1925, viajou para os Estados Unidos a fim de conhecer a fabricação de papel através da madeira. Ele levou algumas toras de eucalipto, usadas na fábrica com resultados satisfatórios, produzindo quatro tipos de papel. Na vida pública foi ministro interino da Agricultura no governo Getúlio Vargas, de 19 de agosto a 4 de outubro de 1933 e de 9 de janeiro a 18 de fevereiro de 1934. Foi secretário da Agricultura do Estado de São Paulo de 1930 a 1931. Ainda foi chefe do Serviço Florestal da Companhia Paulista, entomologista, diretor da Companhia Florestal Fluminense, diretor da Companhia Agrícola de Imigração, presidente do Conselho Florestal do Estado, membro da Academia Paulista de Letras, entre outros. Recebeu honrarias como: recebendo a comenda de Cavaleiro da Ordem de Cristo, entregue pelo Rei de Portugal, em 1904; a grande medalha de St. Hilaire da Sociedade de Aclimação da França, em 1928; Recebeu, em 1941, a “Medalha Meyer”, conferida pelo Conselho da Associação Americana de Genética; Em 2014, teve uma praça inaugurada em Rio Claro, com o seu nome. Faleceu em 1 de dezembro de 1941, aos 60 anos, após cirurgia de próstata, em São Paulo – Brasil. Monteiro Lobato (apud SILVEIRA, 1945), “diz impressionado após visitar o horto”: ... Aqui em São Paulo você está vendo o que há no Rio, o que existe em toda parte...Que importa tudo isto? Os homens são os mesmos. As coisas, iguais às de fora daqui. Mas em Rio Claro você vai encontrar o que não pode ver em parte alguma. É tudo inédito, tudo gigantesco, tudo majestoso. Se você quer ter mesmo orgulho de ser brasileiro, mas orgulho merecido e justo e dos maiores – então vá a Rio Claro. E na volta siga direitinho para o Rio...Não tem mais nada a devassar quem conheceu a obra maravilhosa de um brasileiro cujo nome tão poucos conhecem: Navarro de Andrade”. 75


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Referências ANGELI, A., BARRICHELO, E.G. & MÜLLER, P.H. 2005. Indicações para escolha de espécies de Eucalyptus. Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais. Piracicaba: In: http://www.ipef.br/identificacao/eucalyptus/indicacoes.asp. Obtido em 07 de junho de 2018. AMBIENTESP. 2015. O Plantador de Eucaliptos Edmundo Navarro de Andrade. Sistema Ambiental Paulista. In: http://www.ambiente.sp.gov.br/2015/09/o-plantador-de-eucaliptos-edmundo-navarro-de-andrade/. Obtido em: 02 de julho de 2018. MARTINI, A.J. 2004. O Plantador de Eucaliptos: A questão da Preservação Florestal no Brasil e o Resgaste Documental do Legado de Edmundo Navarro de Andrade. São Paulo: Dissertação, USP. 320p. SILVA, M.A., 2018. Companhia Paulista de Estradas de Ferro: Navarro http://www.marcoaurelioasilva.com.br/navarro.html. Obtido em 22/10/2018.

de

Andrade.

In:

SILVEIRA, C. Navarro de Andrade: um nome que o brasileiro precisa conhecer, e o Eucalipto. Rio de Janeiro: (s.n.), 1945. FLORES, T.B., ALVARES, C.A., SOUZA, V.C., & STAPE, J.L. 2016. Eucalyptus no Brasil: Zoneamento Climático e Guia para Identificação. Piracicaba: IPEF. p.447

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Memória Internacional Por Renato Ferraz de Arruda Veiga

GREGOR JOHANN MENDEL (1822-1884) Quando estive na Argentina no Instituto de Botânica do Nordeste, para estudar as exsicatas das populações de Arachis sylvestris (Chev.) Chev., em 1993, para minha tese de doutorado, o saudoso Dr. Antonio Krapovickas me presenteou com uma impressão, em espanhol, do trabalho de Mendel, dizendo – “mantenha sempre na sua mesinha de cabeceira da cama”. Johann Mendel (nome de batismo) nasceu em Heinzendorf (atual Opava, na República Checa), que então pertencia ao Império Austríaco. Nasceu em 20 de julho de 1822, numa família humilde de camponeses, e tornou-se o “Pai da Genética”.

Figura 1. Mendel com sua batina. (Foto Wikipedia, 2018).

Desde cedo mostrava sua vocação para a ciência, e entrou para a escola aos 11 anos. Como sua família não possuía recursos para os estudos superiores optaram por enviá-lo para um mosteiro onde teria melhores condições de continuar seus estudos. Assim, aos 21 anos, em 1843, entrou para o Mosteiro Agostiniano de São Tomás, em Brno, onde foi ordenado padre, adotando o nome de Gregor, como era o costume da época, e recebendo o cargo de supervisor dos jardins do mosteiro. De 1843 a 1851 foi professor de ciências naturais na Escola Superior de Brno. Em 1851 foi enviado à Universidade de Viena, por seu superior, para aprimorar os seus conhecimentos. Estudou ainda, durante dois anos, no Instituto de Filosofia de Olomouc, na República Checa. Passou três anos se dedicando ao estudo da biologia, matemática e química. Em 1853, retornou ao mosteiro e também passou a lecionar ciências naturais na Escola Superior de Brno, além de se aprimorar em meteorologia, e teorias da evolução. Foi ainda fundador da Associação Meteorológica austríaca, membro da Real e Imperial Sociedade da Morávia e Silésia para a agricultura, fundou também a Sociedade de Ciências Naturais, e a Sociedade de Apicultura de Brno. Ainda militou em outras áreas, como a de Diretor do Banco da Morávia. O trabalho que o imortalizou foi decorrente da dedicação ao cruzamento de plantas como: boca-de-dragão chicória, ervilha, feijão, e frutíferas, todas cultivadas na horta do mosteiro. Posteriormente dedicou-se ao estudo animal, com abelhas e camundongos, chegando a hibridizar uma espécie de abelha do Egito com outra da América do Sul, que embora produzisse mel de qualidade eram muito agressivas, e optou por eliminá-las. Publicou os seguintes trabalhos: “Experimentos com Plantas Híbridas” (1865) e “Hierácias obtidas pela fecundação artificial" (1869). 77


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Os trabalhos de Mendel sobre hereditariedade versam, principalmente, sobre os híbridos obtidos em várias gerações, em especial com a ervilha (Pisum sativum L.), de onde ele tirou conclusões que fortificaram as leis da herança e culminaram no descobrimento das primeiras leis quantitativas da Biologia. As “leis de Mendel” foram extremamente essenciais para a evolução das ciências biológicas, humanas e em especial da agricultura e pecuária. Para chegar nestas leis Mendel utilizou-se da Caracterização Organográfica em germoplasma de Ervilhas-de-cheiro, criando um sistema para contagem dos híbridos resultantes do cruzamento das plantas e, tomando por base os seguintes Descritores Morfológicos: Figura 2. Ilustração de Mendel Altura das plantas; Cor e Textura das sementes; Formato e cor das efetivando suas pesquisas (Por Belia Camarena). vagens; Cor e Posição de inserção das flores no caule. De posse de tais dados formulou as leis relativas à hereditariedade dos caracteres dominantes e recessivos, e embora tenha elaborado suas leis apenas com uma espécie de planta, elas são aplicáveis a todos organismos de reprodução sexuada. São elas: a) Primeira Lei de Monoibridismo (ou Lei da Pureza dos Gametas) – embora cada característica seja determinada por um par de genes herdados, um de cada progenitor, apenas um dominante se manifesta; b) Segunda Lei de Diibridismo (ou Lei da Segregação) - a qual se baseia na transmissão combinada de duas ou mais características; c) Terceira Lei de Dominância (ou Lei da Distribuição Independente) - onde cada gene puro para cada característica é transmitida à geração seguinte de forma independente, seguindo as duas leis anteriores. Assim como acontece hoje em dia com nossos colegas pesquisadores científicos do Brasil, que quando atingem seu melhor ponto de produção são obrigados a assumir cargos administrativos, em detrimento da sua produção científica, o mesmo aconteceu com Mendel em 1868, quando assumiu tantos deveres administrativos como Reitor do convento que culminou por abandonar de vez suas pesquisas científicas. Mesmo tendo mudado a ciência com suas leis, permaneceu desconhecido até 1900, quando os botânicos K. Correns (Alemanha), E. Tschermak (Áustria) e o Hugo de Vries (Holandês) comprovaram individualmente os seus resultados, pois ele já havia falecido em 6 de Janeiro de 1884, em Brno, de Neflite, portanto somente depois de 16 anos de sua morte é que foi finalmente reconhecido.

Figura 2. Selo dos 100 anos da morte de Mendel (https:// biologianet.uol.com.br/curiosidadesbiologia/gregor-mendel.htm).

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Referências MENDEL, G. Experimentos sobre híbrido em plantas (1865). Versión española de A. Burkart. Rev. Arg. Agron. 1, 1934. MENDONÇA, V.L. Biologia. 2013. O ser humano, genética e evolução. São Paulo: 2a. Ed. 378p. PLANT LIFE, 2018. Genetics: Mendelian. In: http://lifeofplant.blogspot.com/2011/03/geneticsmendelian.html. Obtido em: cinco de julho de 2018.

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VI – Instituição Homenageada Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro PESAGRO-RIO Por: Maíra Halfen Teixeira Liberal Med.Vet., PhD. Microbiology-University of Surrey, UK (PESAGRO-RIO/CEPGM) Editora Técnico-Científica/Área de Microrganismos

Figura 1. Imagem do prédio central da Instituição Homenageada: Pesagro-Rio. Foto Maíra.

Com a criação da EMBRAPA, em 1973, foi também criado o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, do qual foram chamados a participar os institutos federais e estaduais de pesquisa e as universidades, envolvendo 17 estados. À época, a recomendação foi a criação de empresas públicas com o objetivo de promover tanto a desburocratização dos processos de pesquisa agropecuária quanto a vinculação de seus objetivos às reais demandas dos produtores.

Convênio celebrado entre a União e o Estado do Rio de Janeiro, em 1975, com a interveniência da EMBRAPA, estabeleceu e regulou modalidades da cooperação técnica, material e financeira entre as partes, com vistas ao estabelecimento, no Estado do Rio de Janeiro, de um Programa Integrado de Pesquisa Agropecuária com vistas à oportuna instituição, pelo Estado do Rio de Janeiro, de empresa estadual de pesquisa agropecuária, incumbida de atuar como organismo coordenador do sistema a ser implantado. Estavam, assim, criadas as condições para que a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (PESAGRO-RIO) fosse instituída, o que se efetivou pelo Decreto nº 556, de 19 de janeiro de 1976. A PESAGRO-RIO é uma empresa pública, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento e integrante do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária - SNPA e do Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisa Agropecuária - CONSEPA. Através da parceria com outras Instituições de Pesquisa e Desenvolvimento e de Ciência e Tecnologia, a empresa reforça o seu papel de prestadora de serviços públicos orientados para a demanda de seus clientes, visando melhorar o nível de renda dos produtores, gerar empregos no interior e fixar a população no campo, tornando o agronegócio fluminense mais competitivo e oferecendo à população alimentos com garantia de qualidade.

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Para a execução de suas pesquisas, a empresa conta com oito Centros Estaduais de Pesquisa, de vocação e atuação especializada nos segmentos produtivos agropecuário e agroindustrial, de alimentos e de sanidade animal e vegetal. São eles:

Figura 2. Imagem com os Centros da Pesagro, distribuídos pelo Estado do Rio de Janeiro (Folder Pesagro).

Centro Estadual de Pesquisa em Agroenergia e Aproveitamento de Resíduos: A antiga Estação Experimental de Campos, criada em 1913, foi incorporada à PESAGRO-RIO a partir de 1976. Com grande tradição em pesquisa com a cultura da cana-de-açúcar, desde então desenvolve pesquisas com grãos (arroz, feijão e milho) e olericultura, além de produzir sementes e mudas. Atualmente, desenvolve estudos com vistas a oferecer oportunidades de mercado pela introdução de materiais especiais, como variedades de arroz gourmet (arroz preto e arroz vermelho); à conservação e uso de variedades locais de milho para evitar a erosão genética; e à identificação de genótipos de feijão preto mais adequados a sistemas de exploração com menor uso de insumos agrícolas. Centro Estadual de Pesquisa e Desenvolvimento da Pecuária Leiteira: Localizado às margens do rio Paraíba do Sul, no município de Itaocara, o órgão compõe a estrutura da PESAGRORIO desde 1977. Desempenha importante papel na execução do Programa Rio Genética, da Secretaria Estadual de Agricultura, como central receptora de embriões de bovinos melhorados, em atuação conjunta com o Laboratório de Transferência de Embriões e FIV (fecundação in vitro), da Embrapa Gado de Leite, no município de Valença-RJ. Também desenvolve trabalhos com a cultura do café, visto que a PESAGRO-RIO é sócia fundadora, juntamente com outras nove instituições nacionais de pesquisa, do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café). 81


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Centro Estadual de Pesquisa em Agricultura Orgânica: Desenvolve pesquisas em olerícolas, bovinos de leite, defensivos alternativos e multiplicação de sementes, direcionadas para a agricultura familiar e visam ao desenvolvimento de técnicas para a produção de alimentos de qualidade e sem a degradação do meio ambiente. Está situado próximo a dois importantes centros de pesquisa e ensino, a Embrapa Agrobiologia e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, no município de Seropédica, o que possibilita a troca de informações em diversas áreas do conhecimento, além de diversas parcerias, como o Sistema Integrado de Produção Agroecológica, conhecido como Fazendinha Agroecológica do Km 47. Dispõe do Campo Experimental de Avelar, em Paty do Alferes, para o desenvolvimento de tecnologias adaptadas às condições das regiões Centro-Sul e Médio Paraíba. Centro Estadual de Pesquisa em Horticultura: Criado para atender à necessidade de a PESAGRO-RIO contar com uma base física na principal região produtora de hortaliças do Estado do Rio de Janeiro, o Centro de Pesquisa está localizado no 3º Distrito de Campo do Coelho, no município de Nova Friburgo. Voltado, principalmente, para a transferência de conhecimentos e tecnologias que levem os produtores da região à transição da agricultura convencional para a agricultura de bases agroecológicas, dispõe também de salas no centro da cidade, onde está instalado o Observatório da Agricultura Orgânica, que busca soluções para os gargalos identificados para o acesso dos agricultores familiares organizados aos mercados institucionais, e para a sua participação na construção de canais de venda direta de produtos orgânicos. Centro Estadual de Pesquisa em Desenvolvimento Rural Sustentável: Localizado a cinco minutos do centro da cidade de Macaé-RJ, tem 90 hectares de sua área total constituída de área preservada de Mata Atlântica, considerada a segunda maior floresta urbana do estado. Antiga Estação Experimental de Macaé, integra a estrutura da PESAGRO-RIO desde a sua criação. Sua tradição nas pesquisas na área de fruticultura é reconhecida em todo o país, dedicando-se a trabalhos científicos e a unidades demonstrativas de tecnologias aplicadas ao conceito de desenvolvimento sustentável. Está aberto a produtores rurais, profissionais das áreas agrícola e ambiental, estudantes e população em geral, que poderão observar práticas diversas associadas à preservação ambiental. Centro Estadual de Pesquisa em Agroflorestas: Situado em tradicional região produtora de citros, o antigo Campo Experimental de Silva Jardim foi, durante 30 anos, vinculado à Estação Experimental de Macaé. A partir de 2010, foi transformado em Centro Estadual de Pesquisa, com vistas a atender à necessidade de recuperação de áreas degradadas, à implantação de sistemas agroflorestais e agrossilvopastoris e à revitalização da heveicultura fluminense. Nele são mantidas coleções de materiais genéticos de citros e coleções de goiaba, graviola, jabuticaba, jaca, lichia, macadame, manga, pêssego e uvaia, com as quais são realizados estudos e pesquisas que levam à indicação de cultivares mais apropriadas para a diversificação de culturas. Centro Estadual de Pesquisa em Qualidade de Alimentos: Situado no município de Niterói, junto à sede da empresa, dedica-se ao controle de qualidade de alimentos, englobando os aspectos físico-químicos, microbiológicos e sensoriais, além de desenvolver novas tecnologias de fabricação e estudos com processamento tecnológico de alimentos. As atividades visam à 82


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segurança dos alimentos, garantindo a saúde do consumidor com alimentos saudáveis e nutritivos, seguindo-se as metodologias estabelecidas pela legislação vigente. O Centro dá apoio às ações de Vigilância Sanitária da Superintendência de Defesa Agropecuária da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento, sendo o único órgão público autorizado a emitir laudos técnicos para o Serviço de Inspeção Estadual - SIE. Centro Estadual de Pesquisa em Sanidade Animal: Localizado no Jardim Botânico de Niterói desde a sua criação, em 1939, o tradicional Laboratório de Biologia Animal integra a estrutura de pesquisa da PESAGRO-RIO há 39 anos. Dispõe de instalações e quadro técnico especializado para o desenvolvimento de estudos e pesquisas em Sanidade Animal. Dentre as ações desenvolvidas em apoio à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento e ao MAPA, destacam-se o controle sanitário em sistemas de criação animal de produtores rurais familiares; a prevenção e controle das principais zoonoses e outras doenças infectocontagiosas de animais de produção; e o diagnóstico de enfermidades de notificação obrigatória, como Anemia Infecciosa Equina, Brucelose bovina e bubalina (através do leite e soro) e o diagnóstico da Raiva. Mantém, há mais de três décadas, o “Banco de Germoplasma de Microrganismos de Interesse em Medicina Veterinária e Saúde Pública”, onde estão preservadas cepas de bactérias isoladas de animais de produção, classificadas dentro dos grupos: Bactérias Gram Negativas; Bactérias Gram Positivas; e Microrganismos Fastidiosos. Com a estruturação da Plataforma Nacional de Recursos Genéticos da EMBRAPA, em 2008, parte de seu acervo de Microrganismos isolados de animais de interesse econômico foi integrada à Rede de Recursos Genéticos Microbianos (RedeMicro), compondo a “Coleção de Microrganismos Patogênicos para Animais de Produção” – “CMPAP”, que, desde 2016, está vinculada à “Vertente Microbiana de Recursos Genéticos”, do Núcleo Temático da EMBRAPA.

Mais informações podem ser obtidas em: www.pesagro.rj.gov.br.

Nossos agradecimentos e parabéns, da SBRG, à Equipe da PESAGRO-RIO, que tanto contribuiu, vem contribuindo, e contribuirá, para a preservação, conservação e uso, do nosso rico patrimônio genético! Maíra.

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VII – Homenagens Póstumas

JOSÉ BRANCO DE MIRANDA FILHO Por Maria Elisa Ayres Guidetti Zagatto Paterniani Eng. Agr., Me., Dr., PqC-VI, Instituto Agronômico de Campinas.

O Prof. Branco era Eng. Agr., Me., Dr., e Livre Docente, pela Universidade de São Paulo (1968, 1972, 1974, 1978, respectivamente), além de Pós-Doc., 1977, pela Iowa State University, IASTATE - USA. Atuava como Professor Titular da ESALQ/USP, onde foi chefe do Departamento de Genética. Foi Consultor Ad Hoc do CNPq, CAPES e FAPESP. Recebeu homenagens como: Professor titular ad honorem no curso de Pós-graduação em melhoramento genético vegetal, Universidade de Rosário, Argentina, em 1995, e prêmio USP de pós-graduação, como orientador de tese de doutorado classificada entre as nove selecionadas, com o orientado Dr. Luciano Lourenco Nass, em 1992. Publicou 57 artigos em periódicos, 3 livros e 13 capítulos, 22 trabalhos completos em eventos, 36 resumos expandidos e 25 resumos. Participou de 21 bancas de dissertação de mestrado e 32 de doutorado. Tinha experiência na área de Genética, com ênfase em Genética Quantitativa, atuando principalmente com milho, em resistência a doenças, seleção recorrente, germoplasma, endogamia e heterose. Figura 1. Dr. Branco, em foto tirada pela ESALQ/USP.

A Genética Quantitativa perdeu um de seus maiores nomes, no dia 17/07/2018, o Prof. José Branco de Miranda Filho, Professor Titular de Genética Quantitativa e Melhoramento de Milho, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP). Filho do Sr. José Branco de Miranda Netto e da Sra. Helena Sitta Miranda, natural de Rio das Pedras, foi casado com a Sra. Iracema Itália Branco Miranda, com quem teve três filhos e três netos. Formou-se Engenheiro Agrônomo pela ESALQ/USP (1968) e iniciou sua carreira docente na UNESP/Jaboticabal (1969). Ingressou na ESALQ/USP (1971) como docente do Departamento de Genética, onde também obteve os títulos de Mestrado e Doutorado (1972 e 1974), ainda obteve o PhD. (1977), na Universidade de Iowa junto ao Programa de Ensino Agrícola Superior (PEAS- Brasil), com supervisão do Prof. Arnell R. Hallauer, que culminou na autoria do livro “HALLAUER, A. R.; MIRANDA FILHO, J. B. de Quantitative Genetics in Maize Breeding. 1. ed. Ames, Iowa: Iowa State University Press, 1981, uma das principais referências bibliográficas mundiais na área de Genética Quantitativa e Melhoramento de Milho. Já, em 1978, se tornava Livre-docente da ESALQ/USP. O Prof. José Branco sempre ministrou aulas nas disciplinas de Genética, Genética Quantitativa e Melhoramento de Milho. Sua área de atuação em genética quantitativa

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priorizava: Estimação de componentes da variância genética; Aspectos teóricos e aplicados de cruzamentos dialélicos; Modelos genéticoestatísticos e estudos de heterose e endogamia.

Figura 2. Homenagem in memoriam à família do Professor Branco, postada no Facebook do Prof. José Baldin Pinheiro.

No melhoramento de milho, os seus trabalhos focavam em: Síntese de populações base para o melhoramento; Seleção recorrente intra e interpopulacional; Introdução e introgressão de germoplasma exótico; Seleção para tolerância a estresses bióticos (pragas e doenças) e abióticos (tolerância a acidez, tolerância ao calor).

Foi coordenador do programa multi-institucional “Núcleo de apoio à pesquisa de Milho” (NAP-Milho), sobre Biodiversidade de doenças em milho: genética, epidemiologia e biologia molecular (1996 a 1999). O programa visou à avaliação de acessos do Banco Ativo de Germoplasma de Milho e de cultivares/variedades melhoradas da ESALQ, IAC, EMBRAPA e CIMMYT, para identificação de fontes de resistência a doenças foliares, possibilitando a síntese e melhoramento das populações com resistência a doenças através de seleção recorrente. Exerceu na ESALQ/USP vários cargos de direção. Participou como consultor da EMBRAPA nos programas de melhoramento de milho, e com culturas perenes como: coco, dendê e seringueira. Aposentou-se da ESALQ/USP e se tornou Consultor da Universidade Federal de Goiás, campus de Jataí. Em sua súmula curricular justifica a postulação a uma bolsa no programa professor visitante sênior nacional (PVS/CAPES): “Em 12 de janeiro de 1999 foram completados 30 anos de atividade docente na Universidade. Porém, para fins de aposentadoria os anos necessários se completaram em 31/07/99. No entanto, devido a compromissos com projetos em orientação de teses, o pedido de aposentadoria somente ocorreu no final de 2009, depois de mais de 40 anos de atividade de ensino e pesquisa na Universidade”. Publicou artigos científicos de grande impacto para a Genética Quantitativa e Melhoramento de Milho, mas considero como seu maior legado a formação de recursos humanos, onde teve 33 orientados de Mestrado e 41 de Doutorado, permitindo supor que em cada instituição de ensino ou pesquisa brasileira, bem como em várias empresas multinacionais de sementes, há pelo menos um profissional que foi orientado por ele. “Lembro-me que quando ocorreu a defesa de Tese do seu 50º. orientado, todos seus orientados se reuniram na ESALQ e lhe fizeram uma homenagem, oportunidade em que se mostrou visivelmente emocionado. Estavam presentes diversos colegas do IAC, da Embrapa e de Universidades”. Os depoimentos a seguir enriquecem nossa homenagem a esse grande Mestre da Genética Quantitativa:

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a) Dr. Afonso Celso Valois, da EMBRAPA: "Tive a honra de ter o Prof. José Branco como grande amigo, companheiro de república e professor de Quantitativa. Além de ter a sorte de absorver brilhantes ensinamentos e firme orientação no Curso de Doutorado da ESALQ"; b) Prof. João Antonio da Costa Andrade, da UNESP de Ilha Solteira: "José Branco foi meu ilustre orientador e "pai" científico. A ele devo todo o conhecimento e a carreira de professor universitário"; c) Prof. Edésio Fialho dos Reis, da UFG, Jataí: “Na primeira conversa com o Professor José Branco para discutir a proposta a ser enviada à CAPES, ele expressou sua grande vontade de trabalhar com germoplasma e, acatando o seu desejo e suas justificativas, foi encaminhado à CAPES o plano de trabalho “Germoplasma de milho: Sobrelevação do valor genético”. A sua permanência por quatro anos na Instituição (2010 – 2014) contribuiu na estruturação de uma coleção de germoplasma envolvendo materiais exóticos e semi exóticos, além de materiais adaptados e orientou de forma exclusiva seis alunos de mestrado em Agronomia/Produção Vegetal do Campus Jataí/UFG, envolvendo melhoramento do milho, contribuindo de forma efetiva na formação deles. Além do legado do conhecimento, deixou o espírito da simplicidade e do apego. Em cada confraternização do grupo de melhoramento da UFG/Jataí tinha o prazer de estar presente e, com o grupo, participar das rodadas de truco. Sempre nas conversas, o grande prazer era contar os casos de sua vida profissional e as experiências adquiridas. O grande privilégio foi tê-lo a meu lado e muito que deveria gastar dias para entender, gastar apenas minutos em virtude de mostrar os desvios da ciência para atingir os mesmos objetivos. Obrigado, José Branco, por ter escolhido Jataí e nosso grupo para dar essa enorme contribuição após se aposentar”; d) Dr. Udenys Cabral Mendes: “A experiência acadêmica, e de vida, com o Prof. José Branco, foi extraordinária para todos que com ele conviveram. Sua vontade de ensinar era fantástica, além de ser um grande incentivador dos alunos perante as dificuldades, dizendo “Não pode desanimar, melhoramento é 95% transpiração e 5% inspiração”. O jeito simples de caboclo conquistava todos ao seu redor e era no sítio em Goiás um lugar onde podíamos ver a felicidade estampada em sua face. Durante as viagens, ou em ligações telefônicas, exclamava seu desejo de continuar contribuindo com melhoramento genético do milho, mesmo sabendo o quanto já tinha doado de si; isso era imensurável e nunca teve fim! Para mim ele foi uma grande lição de profissionalismo e de vida, tive o privilégio de conviver com o Prof. Branco, a quem serei eternamente grato por seus ensinamentos, enquanto amigo e orientado”; e) Profa. Marcela Pedroso Mendes Resende, UFG Goiânia: “A convivência com o Prof. Zé Branco era de imensurável aprendizado. Sentíamos uma leve "síndrome do ninho vazio", de um pai que ama ensinar, mas estava sem pupilos. Não foram poucas as vezes que ele passava na "salinha" para um café e a conversa se tornava uma tarde de preciosos ensinamentos sobre genética quantitativa e melhoramento de milho. Era impressionante a mente desse querido Mestre. Como ele conseguia explicar algo tão complexo em palavras tão simples, e com uma memória invejável. Sem preparo prévio ou anotação, era só pegar o giz e as fórmulas se decompunham sozinhas, com a naturalidade de algo que lhe fazia parte. Sua competência e brilhantismo estão estampados no seu livro, em artigos e teses. Mas também nos deixa saudade 86


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dos momentos de descontração das jantas que adorava fazer. Galinhada e arroz com suan eram os pratos mais frequentes. Fez questão de nos ensinar o seu adorado "cururu", que cantava com o sentimento de um caipira que deixou a roça pela cidade grande. Nos apresentou a famosa dupla de cururu, Galileu e Samaritano, que tocou para nós. Chorava na música "Rio bonito" de Nilmar e Netinho, e se emocionava ao falar do sítio em Goiás, seu cantinho do céu. Escrevia e declamava poemas belíssimos, dote que poucos conheciam. Era carinhoso, falava da profissão e da família com profundo amor, e nos deixou com imensa admiração, gratidão e inspiração”. Junto-me a essa legião de orientados e orientadas, já que tive o privilégio de ser sua aluna de Genética Quantitativa e orientada de Doutorado na ESALQ/USP, e registro meu profundo agradecimento, pois em toda minha carreira de pesquisadora científica e melhorista de milho, bem como nos cursos que ministro na Pós-graduação do IAC, utilizo e transmito os ensinamentos desse Mestre da Quantitativa. Que descanse em paz enquanto continuamos o seu legado! Maria Elisa.

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HELENA MAGALHÃES Por: Maíra Halfen Teixeira Liberal Med.Vet., PhD Microbiology-University of Surrey, UK (PESAGRO-RIO/CEPGM) Editora Técnico-Científica/Área de Microrganismos

Figura 1. Helena Magalhães e Maíra Liberal participando do 10º SIRGEALC, em Bento Gonçalves, RS, em 2015 (Arquivo Maíra).

A Drª. Helena Magalhães (Figura 1) era Médica Veterinária, pesquisadora e responsável pela Área de Bacteriologia, do Centro Estadual de Pesquisa em Sanidade Animal (CEPGM), da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (PESAGRORIO). Desenvolvia pesquisas em Recursos Genéticos Microbianos, bem como o diagnóstico de doenças infectocontagiosas em animais de produção. Era Curadora da “Subcoleção Bactérias Gram Negativas”, pertencente à Coleção de Microrganismos Patogênicos para Animais de Produção - CMPAP, do CEPGM, vinculada às Coleções da Embrapa.

A Helena era graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense - UFF (1976), e obteve o grau de Mestre em Patologia Animal, em 1986, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ, com a Dissertação: “Biótipos, resistência a antimicrobianos e lisotipos de Salmonella dublin”, sob a orientação do Dr. Ernesto Hofer, pesquisador da FIOCRUZ, e meu ex-professor na UFRRJ. Tinha vasta experiência na área de Microbiologia, com ênfase em Bacteriologia Veterinária, Sanidade Animal e Saúde Pública, e, em 2007, foi homenageada pelo CRMV-RJ, com o prêmio “Destaque SINDAN na Área de Pesquisa”. Profissional ética, dedicada, reconhecida nacionalmente, orientou bolsistas, estagiários, estudantes de Graduação e de Pós-Graduação, deixando um imenso legado. Conheci a Helena em 1979, quando fui contratada como pesquisadora da Estação Experimental de Guaratiba - EEG -, da PESAGRO-RIO, onde se desenvolviam projetos em Aquicultura. Dentre as minhas atribuições, coube a de projetar um Laboratório de Sanidade para a EEG, e então solicitei à Chefia da Unidade autorização para fazer um treinamento na Área de Bacteriologia, do Laboratório de Biologia Animal – LBA, da PESAGRO-RIO (hoje CEPGM), em Niterói, e tive a felicidade de tê-la como minha Supervisora. Aprendi muito com ela e com os outros colegas da Bacteriologia, e fui tão bem acolhida e respeitada por todos, que fui convidada, pelo Chefe daquela Unidade, a fazer parte da Equipe do LBA. Aceitei o convite e o desafio, solicitei a minha transferência para Niterói, e lá desenvolvi a minha carreira profissional, e permaneço até hoje! Além de colegas, fiz amigos, e, em especial, a “Lena”. Em toda a minha trajetória profissional, a Helena sempre esteve presente. Como colega de trabalho, como amiga, e como “minha irmã mais velha”. Conhecemos e frequentamos as nossas 88


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respectivas famílias, e frequentemente viajávamos juntas para trabalhos no campo, ou para participar de eventos profissionais. Fui, inclusive, passar um final de semana com ela, há alguns anos, em Matias Barbosa, MG, sua cidade natal. Participamos juntas de muitos eventos profissionais, inclusive sobre Recursos Genéticos, como o III Simpósio de Recursos Genéticos Latino-Americano e do Caribe, em Londrina, PR, em 2001, sempre contribuindo com a apresentação de trabalhos científicos, em Recursos Genéticos Microbianos. Fomos ao II Simpósio Brasileiro de Recursos Genéticos, em Brasília, em 2008, ocasião em que assinamos a Ata de Fundação da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos – SBRG. Integramos a Rede de Recursos Genéticos Microbianos – RedeMicro, participando do I Workshop, que aconteceu em 2009, em Fortaleza. Estivemos no SIRGEALC de 2015, em Bento Gonçalves (10º Simpósio Internacional de Recursos Genéticos para a América Latina e o Caribe), e nos programamos para participar do V CBRG, em Fortaleza, em novembro próximo, com apresentação de 2 trabalhos. A Helena tinha uma maneira peculiar de cativar as pessoas. Extremamente atenciosa, prestativa, e simples, estava sempre pronta para ajudar o próximo, sem medir esforços para conseguir fazê-lo. No serviço era determinada, meticulosa e perfeccionista. Sempre procurando coisas novas para introduzir na rotina do laboratório. Não tinha horário para parar de trabalhar. Muitas vezes me enviava e-mails sobre os projetos e relatórios, - em plena madrugada -, e nos finais de semana. Mas enviava-me e-mails bonitos e divertidos também...! Adorava tirar fotos das etapas de semeadura e identificação das bactérias, nos meios de cultura que testava. Fotografava os colegas de trabalho, as reuniões técnicas, os encontros de fim de tarde, os jardins do laboratório, as rosas vermelhas e amarelas, e até o caminho de volta para casa, como a Ponte Rio-Niterói e as Barcas que fazem a travessia, quando ia de carona comigo. Todos estamos com saudades, sentindo muito a perda da profissional, e a falta do convívio com essa pessoa simples, meiga, sincera, carinhosa, honesta e verdadeira. Ela era uma grande colega, uma grande profissional, e uma grande amiga! Nossa querida Dra. Helena Magalhães: era uma grande Mulher!

Figura 2. Helena Magalhães, de camiza azul, com colegas da Equipe Técnica, na porta principal do Centro Estadual de Pesquisa em Sanidade Animal - CEPGM, da PESAGRO-RIO, Niterói, RJ, foto em dia de jogo do Brasil (Arquivo Maíra).

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E por falar em saudade, um tempo atrás estávamos as duas conversando sobre a tristeza de se perder um ente querido, e a saudade que não acaba nunca, e então ficamos as duas muito emocionadas. Naquele mesmo dia, ela então me enviou, em plena madrugada, uma linda mensagem sobre a vida e a morte, que finalizava com a seguinte pergunta: - O que saudade significa para você, minha amiga? – E vinha, logo em seguida, a resposta: Saudade é o amor que fica! Lena, estamos com saudades e, ficamos todos com muito amor por ti! Maíra.

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BIANCA LUIZA REINERT (1966 – 2018) Por Renato Ferraz de Arruda Veiga

Figura 1. Bianca em foto por Suzana Camargo.

Bianca nos deixou aos 52 anos, sendo filha de Luiz Carlos Gaeski e Celia Barros Araújo Gaeski. Estagiou na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC), onde se graduou Bióloga, obteve o Me. em Ciências Florestais, pela Universidade Federal do Paraná e o Dr. em zoologia pela Universidade Estadual Paulista de Rio Claro - SP. Atuava como membro do Mater Natura Instituto de Estudos Ambientais, consultora ad-hoc voluntária da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro do grupo de pesquisa "Biodiversidade, Conservação e Ecologia de Animais Silvestres" do CNPq. Seu trabalho se concentrava na área de ornitologia, com ênfase em biologia reprodutiva, comportamento e conservação. Foi professora e consultora em diversas instituições. Tinha proficiência em Inglês, italiano e espanhol, tendo publicado 33 publicações científicas, 1 livro, 2 capítulos de livros, 20 publicações em revistas, jornais e Tv., e 28 resumos em eventos.

Muitas homenagens lhe foram prestadas nas mídias, o que resumimos a seguir: Bióloga, artesã, uma das proprietárias de uma reserva natural, principalmente para preservar a ave bicudinho do brejo (Formicivora acutirostris Bornschein, Reinert & Teixeira, 1995), no município de Guaratuba, no Paraná, próximo ao Parque Municipal Natural da Lagoa do Parado. A ornitóloga Bianca foi Figura 1. Bianca tudo isso e mais um pouco, sempre colocando paixão em tudo o que . fazia – Sua atração por este pássaro era tanta que seu facebook o tinha como sua foto de capa. Guerreira incansável na defesa das causas preservacionistas, “descansou” na madrugada de segunda-feira (10/09/2018), em Curitiba - PR, tendo sempre ao seu lado seu marido e também Biólogo Ricardo Belmonte Lopes (BRAGANÇA, 2018). A história de Bianca é de muita garra, muito amor e muita doçura, conquistando todos por onde passou com seu jeito leve e doce, mas determinado. - Foi uma lutadora pela vida, superando as expectativas médicas, mas isto não impediu que partisse cedo demais. Realizou diversos feitos Figura 2. Bianca e Ricardo, no lançamento para a preservação do bicudinho-do-brejo. Fica aqui nossa do livro: A descoberta do Bicudinho do homenagem e admiração por seu trabalho pela conservação da Brejo (Foto Ricardo Belmonte Lopes). natureza, pela pesquisa de aves e como uma das grandes conservacionistas de nosso tempo e uma mulher ímpar. Nossos mais profundos sentimentos à família e amigos (REDE PRÓ-UC). A conservação brasileira está de luto. A ornitóloga paranaense Bianca Reinert não está mais entre nós. À longa carreira e ao trabalho pela preservação da natureza e de nossos animais, somou-se uma nova paixão em 1995: o “bicudinho-do-brejo”. Junto com outros colegas, Bianca foi responsável por descrever a nova e rara espécie, encontrada em áreas de banhado do litoral 91


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do Paraná e de Santa Catarina. O pequeno passarinho tem cerca de 15 cm, bico alongado e fino. Logo após sua descoberta, todavia, ele já foi considerado ameaçado de extinção e, desde então, Bianca abraçou a causa pela sua conservação (CAMARGO, 2018). Seu marido comenta no Facebook “Ela foi uma lutadora sem igual, uma lição de força, coragem e perseverança, tanto na sua vida pessoal quanto na sua dedicação pela proteção do bicudinho-do-brejo”. Descanse em paz Bianca, esta é uma singela homenagem da SBRG por tudo que você representou e representa para nós!

Referências BRAGANÇA, D. 2018. A conservação perde a ornitóloga Bianca Reinert. In: https://www.oeco.org.br/ noticias/a-conservacao-perde-a-ornitologa-bianca-reinert/Obtido em: 12 de setembro de 2018. REDE PRO UC, 2018. Reserva Bicudinho do Brejo. In: https://www.facebook.com/ redeprouc/hc_ref=ARQUhao8Wgdm0RB4pabU02ydEffvmiusF_5BD-tadR1S3AYkB5jhsmcFy8l2e 3hF_wY&__tn__=kC-R. Obtido em: 12 de setembro de 2018. CAMARGO, S. 2018. O Brasil perde a Bióloga Bianca Reinert. In: http://conexaoplaneta.com.br/blog/o-brasilperde-a-biologa-bianca-reinert-uma-apaixonada-pelo-bicudinho-do-brejo/. Obtido em: 12 de setembro de 2018.

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WARWICK ESTEVAM KERR (1922-2018) Por Renato Ferraz de Arruda Veiga

Warwick, eterno! Mais uma “figurinha carimbada”, do meu álbum da agricultura brasileira, que se vai! Tive o grande prazer de conhecê-lo pessoalmente, nos eventos de recursos genéticos, e de sentir a agradável sensação de poder ouvir um ídolo presencialmente. Seu conhecimento da flora nacional era impressionante, sua contribuição também! Nasceu em nove de setembro de 1922, em Santana do Parnaíba - SP, e faleceu em 15 de setembro de 2018, em Jaboticabal - SP. Era casado com Lygia, com quem teve seis filhos. No seu curriculum Lattes, no texto informado pelo autor consta: Eng. Agr. (1945) e Dr. (1948) pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo (ESALQ/ USP). Tendo sido Professor de Genética da Faculdade de Ciências Figura 1. Dr. Warwick Kerr. Foto (UNESP - Rio Claro), e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto INPA. (USP). Ultimamente era professor voluntário da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e da Universidade Federal do Maranhão (UEMA), além de Diretor e Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Sua experiência se concentrava na área de Genética, com ênfase em genética animal. – Informação humilde perto de tudo quer realizou e que continuava realizando, como: Especialista em biologia, citogenética e genética de abelhas (Melipona scutellaris Latreille, 1811 - Hymenoptera, Apidae, e Meliponini e Camponotus vittatus Forel, 1904 - Hymenoptera e Formicinae), melhoramento genético de hortaliças (ariá, alface, feijão-de-asa, pequi, quiabo, tanja, etc.), e recursos genéticos de plantas nativas. Seu endereço profissional constava na UFU, no Instituto de Genética e Bioquímica, em Uberlândia – MG. Também obteve Pós-doutorado pela University of California (1951) e Columbia University (1952), em Genética Animal. Foi ligado ao INPA (1999 a 2002), à UFU (1988 a 2018), à UEMA (1988 a 1988), e à USP (1946 a 1981). Publicou 247 artigos científicos, 10 livros, dois capítulos de livro, três textos em jornais, 20 textos publicados em anais de eventos, dois resumos expandidos, 64 resumos em eventos, 17 produções artístico/culturais, sete produções diversas, orientou 16 dissertações de mestrado e 14 teses de doutorado, e oito trabalhos de conclusões de cursos. Recebeu uma enormidade de prêmios e distinções como: Prêmio “Reponsabilidade SócioAmbiental”, Pronac, 2005, “Docente Destaque 2005” Uniminas, 2003, “Medalha do Grande Mérito Legislativo”, Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas, 2003, “Prêmio Beija-Flor da Ecologia”, Prefeitura Municipal de Uberlândia, 2002, Homenageado do “Programa de PósGraduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais” do Instituto Nacional de Pesquisas da 93


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Amazônia, 2002, pelo Conselho Universitário em homenagem a “Professores de Grande Produção Científica”, do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo, em 2001 a “Medalha Paulista do Mérito Científico” por sua relevante contribuição ao desenvolvimento da Agricul-tura brasileira, Governo do Estado de São Paulo, 2001, “Medalha CAPES” pelos seus 50 anos, 2001, “Comendador do Conselho da Ordem de Rio Branco” pelo Presidente Henrique Cardoso, 2000, Figura 2. Warwick (com o certificado) em sua homenagem prestada pela Fernando UNICAMP, Dr. Honoris Causa, em 2005 (Foto UNICAMP). “Melhor Cientista do ano 2000” e “Melhor Cientista do Século XX” pela Asso-ciação de Imprensa e Cultura do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, 2000, “Membro Honorário a Academia de Ciências” de Ribeirão Preto, “Placa Amigo da Fiocruz” na Amazônia em reconhecimento pela implantaçao do Centro de Pesquisas Leonidas e Maria Deane, Fundação Oswaldo Cruz, 2000, “Medalha de honra Rodolpho Valle”, Camara Municipal de Manaus, 1999, escolhido como um dos “30 melhores cientistas do século XX no Brasil”, Revista Isto É, 1999, no 44º Congresso Nacional de Genética “homenagem da Sociedade Brasileira de Genética”, 1998, “Presidente de Honra do 27 Congresso Internacional de Apicultura, 1998, Homenagem do Clube Soroptmista” de Uberlândia na área Talentos do Portal/98 na área de Biologia, 1997, “Mérito profissional” de 1997, Associação de Imprensa do Triangulo Mineiro e Alto Paranaiba, “Medalha Augusto Cesar”, Camara Municipal de Uberlândia, 1996, “Cavaleiro da Ordem Timbira” pela governadora Roseana Sarney, Governo do Estado do Maranhão, 1994, “Ordem Nacional do Mérito Científico - Classe Gran Cruz” entregue pelo Presidente Itamar Franco, 1994, “Membro da Linnean Society of London”, 1992, “Professor Emérito” do Instituto de Biociências da UNESP - Rio Claro, 1991, “Cidadão Ludovicence”, Camara dos Vereadores de Sao Luis, MA, 1990, “Cidadão Uberlandense”, Prefeitura Municipal de Uberlândia,1990, “Membro Estrangeiro da National Academy of Sciences” of the USA, 1989, “Cidadão de Ribeirão Preto”, 1989, “Cidadão Maranhense”, 1989, “Presidente de Honra” do XX Congresso Internacional de Apicultura - RJ, 1988, “Medalha Souza Andrade” do Merito Universitário, Universidade Federal do Maranhão, 1988, “Cidadão Rioclarense”, Prefeitura Municipal de Rio Claro, 1988, “Engenheiro Agronomo do Ano”, 1979, “Professor Honoris Causa” da Universidade do Amazonas, 1977, “Comendador da Estrela doi Acre”, Governo do Estado do Acre, 1975, “Presidente de Honra” da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência de 1965 a 1973, “Prêmio Nacional de Genética”, Catarina Prosdócimo, 1965, “Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências”, 1963, “Premio Nacional de Genetica”, Fundação Andre Dreyfus, 1956.

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Seu curriculum é muito mais amplo do que consta nesta homenagem póstuma, mas, muitas informações sobre ele estão disponíveis na internet, no Wikipedea, em homegens em vida, assim como nas homenagens pós-morte. Para encerrar destaco aqui um trecho da mensagem enviada ao Dr. Paulo de Souza Gonçalves (IAC) pelo nosso amigo Dr. Afonso Celso Candeira Valois (Embrapa), ao saber do passamento do Dr. Kerr: ...“foi meu companheiro na Comissão Nacional de Biodiversidade (CONABIO), digno representante das universidades, além de grande admirador da Embrapa. Em Manaus, devido a antecedentes colhidos junto ao nosso também grande amigo, o saudoso Prof. Ernesto Paterniani, o Dr. Kerr respeitava e elogiava os esforços e ações de pesquisa da Embrapa no Amazonas, sem competir, mas complementando e integrando equipes! Foi um grande Diretor do INPA, abrindo o Instituto para uma forte articulação com a Universidade Federal do Amazonas, organizando e oferecendo cursos de pósgraduação, sendo que o mesmo efetuou junto à UFMA, quando praticamente reformulou a educação superior no Maranhão” ... Nossa homenagem para você Warwick, da SBRG, por sua simplicidade e amizade, pelos alunos que orientou, por suas magníficas palestras, por suas pesquisas, enfim, por tudo que fez pela ciência brasileira e pelos nossos recursos genéticos.

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VIII – Apoio

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IX – Normas da Revista

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Fale conosco Revista RG News E-mail: revistargnews@recursosgeneticos.org

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