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4.3 ELEMENTOS DA LINGUAGEM RADIOFÔNICA
4.3 ELEMENTOS DA LINGUAGEM RADIOFÔNICA
O rádio, assim como a literatura, a televisão e o cinema, tem uma linguagem própria, possuindo elementos que o caracterizam. Esses elementos (que são sonoros, já que o rádio não tem imagem) dão forma aos produtos sonoros de maneira geral (e não apenas aos programas que são veiculados na rádio). O rádio pode ser descrito como “(..) um meio cego, mas um que pode estimular a imaginação de modo que, assim que a voz sai do alto-falante, o ouvinte tenta visualizar a fonte de som e a criar na visão mental o dono da voz5” (McLeish, 1978. p. 18, tradução nossa.). Para Ortiz e Marchamalo (2005, p. 21) o rádio é um meio caloroso a partir do fato que requer a participação do receptor: este deverá utilizar sua imaginação para criar imagens com os sons acústicos que lhe são enviados por aquele meio de comunicação”. É inegável que o rádio dispõe somente de som e não de imagem, entretanto ele dispõe de outros elementos além da fala para criar no ouvinte uma imagem mental.
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Entendemos, assim, que a linguagem radiofônica, além de verbal, faz uso de outros elementos nos processos de articulação de sentido. Dessa forma, acreditamos que, se em alguns momentos na televisão ou no cinema, a imagem dispensa textos, o efeito sonoro no rádio, ao se tornar mais uma voz em uma produção radiofônica, também o faz. (VIANNA, 2014. p. 9).
Cada meio de comunicação tem sua linguagem própria, o mesmo ocorre com o rádio. “Inicialmente é importante entender que a linguagem radiofônica é sonora por natureza e é composta por quatro elementos: palavra, efeitos sonoros, música e silêncio” (SILVEIRA et al, apud BALSEBRE, 2005. p. 226). Em relação aos quatro elementos que compõem a linguagem radiofônica, ainda diz Silveira et al (2005): “É difícil dizer quais desses elementos é o mais importante, pois todos eles, combinados de diferentes formas ou isolados, contribuem expressivamente para a produção da mensagem como um todo”.
5 No original: It is a blind medium but one which can stimulate the imagination so that, as soon as a voice comes out of the loudspeaker, the listener attempts to visualize the source of the sound and to create in the mind’s eye the owner of the voice.
José e Sergl (2019, p.7) estabelecem uma certa divisão na linguagem radiofônica: a de oralidade e sonoridade: “Na Radiofonia, a Oralidade é marcada essencialmente pelo som fonético que produz a palavra falada e a Sonoridade é marcada essencialmente pelo som musical e por sons que, sem formar melodia, funcionam para outras indicações e são conhecidos por efeitos sonoros”. A voz estabelece comunicação, entretanto para que essa comunicação seja efetiva há a necessidade de entonação certa e um ritmo adequado - nem muito lento, nem muito rápido. Como não há o recurso visual na linguagem radiofônica, a voz deve transmitir a emoção ao ouvinte.
A palavra radiofônica é produzida pela voz, marcada por suas características acústicas: altura (grave-agudo), intensidade (forte-fraco) e timbre (qualidade e origem). (...) A voz do locutor é um índice que identifica o programa, emissora e conteúdo (jornalístico, propaganda, entretenimento). (GOLIN, 2010. p. 763, 764).
Além da voz, há a sonoplastia, muito utilizada para ajudar a formar cenas e cenários mentais, José e Sergl (2019, p. 6) definem a sonoplastia como “trabalho de composição com os recursos da sonoridade para dar referência ou criar um ambiente sonoro para a locução do texto verbal oral”. Segundo Ferraretto (2014), os efeitos sonoros começam a ser mais utilizados em decorrência do surgimento e desenvolvimento da dramaturgia no rádio, com o intuito do ouvinte formar uma imagem mental ou mesmo do som remete à algo, tanto algo que conhecemos, como por exemplo o relinchar de um cavalo, como também elementos que servem para ilustrar alguma situação que não existe no nosso cotidiano, como por exemplo um som de uma luz se acendendo ao aparecer uma nova ideia.
No nível semântico, muitos efeitos sonoros são miméticos porque reproduzem imitativamente qualidades sonoras encontradas na natureza (por exemplo, o som de um trovão), no homem (por exemplo, o som de choro), em utensílios ou tecnologias de fabricação humana (por exemplo, o som de tambor, a campainha do telefone) ou ainda imitam qualidades sonoras provocadas pela ação de alguém ou de algo (por exemplo, passos sobre cascalho, freada de automóvel, queda de objetos sobre material resistente.) (JOSÉ E SERGL, 2019. p.15).
Outro recurso utilizado é a música, tanto em formato de trilha sonora, como também em formato de jingle, vinhetas ou mesmo programas radiofônicos. A música
no rádio tem como o intuito criar ambientações, criar identidade sonora, estimular alguma emoção específica, etc.
A música radiofônica é um campo expressivo na criação das imagens acústicas. Produz ambientes psicológicos, atua como índice da programação e fragmentação de conteúdos. Pode ter autonomia ou cumprir a função auxiliar (aberturas, passagens, marcações, identificação de tempo, lugar, sujeitos). (GOLIN, 2010. p. 764).
McLeish (1978, p. 278), comenta ainda sobre a música: “Uma aliada para o produtor engenhoso, a música pode adicionar muito à peça radiofônica. Entretanto, se for usada em demasia ou mal escolhida, se torna apenas uma distração irritante6”. Dessa forma podemos compreender que todos os elementos que compõem a linguagem radiofônica devem ser bem escolhidos, de maneira que todos “casem” entre si, evitando elementos que causem dispersão, assim não se podem escolher elementos aleatórios ou mesmo que destoam entre si. O silêncio também tem sua importância, muitas vezes ele é esquecido e até negligenciado, porém tem sua importância, especialmente em acentuação de momentos de maior dramaticidade. Entretanto o silêncio deve ser utilizado nos momentos certos e com certa cautela, visto que dependendo do momento ou do tempo de duração, a presença do silêncio pode ser interpretada como um problema técnico, falha ou mesmo lacuna. Percebemos então que todos os elementos são importantes e que cada um pode provocar um sentimento diferente no ouvinte, dependendo de como são usados e também de suas respectivas durações
A velocidade de exposição diante do microfone e a duração de um efeito de som farão variar as sensações dos ouvintes diante dos estímulos sonoros: uma narração excessivamente lenta poderá transmitir uma sensação de angústia; um silêncio prolongado provocará inquietação no receptor, e assim por diante (...). (ORTIZ E MARCHAMALO, 1994, p. 21)
É vital compreender a linguagem do rádio - mesmo não utilizando o rádio como meio de veiculação - afinal é a partir da linguagem desenvolvida e estabelecida para o meio radiofônico que outros produtos sonoros se tornam
6 No original: An ally to the resourceful producer, music can add greatly to the radio play. However, if it is overused or badly chosen, it becomes only an irritating distraction.