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4.1 ARQUIVO LIVRO (ESCRITO) E ARQUIVO SONORO (ÁUDIO LIVRO

Em nosso território, há a presença de várias histórias que fazem parte de nossa cultura que foram preservadas e transmitidas por meio da oralidade, além do folclore, cantos, cantigas e brincadeiras há o cordel, por exemplo. Haurélio (2016) afirma que o cordel surge no Nordeste, vem da poesia popular, tem base na literatura oral - principalmente dos contos populares. Haurélio ainda estabelece uma certa relação entre cordel e repente, ambos apesar de serem diferentes, tem uma origem comum - a poesia popular, que originou também a embolada e a poesia matuta. Apesar de ter se originado na região nordestina, acabou se espalhando pelo território nacional, segundo o autor pelas diásporas sertanejas. A voz traz à leitura elementos diversos - entonação, gestualidade -, voz e escrita, oralidade e literatura não se anulam, se complementam em diversos aspectos, e ajudam a contar e documentar a história dos povos, suas crenças e seus sentimentos, expressados em uma narrativa, escrita ou falada. Além de a narrativa oral estar atrelada à cultura e história dos povos, ela está também muito ligada à memórias afetivas, visto que muitas crianças na hora de dormir, escutam histórias contadas pelos pais, que muitas vezes, para deixar a história mais atrativa, fazem vozes diferentes para cada personagem (por exemplo, uma voz para a princesa e outra voz diferente para representar a bruxa) e em muitos casos os gestos (na história dos três porquinhos, por exemplos, podem soprar para mostrar como o lobo derrubou a casa dos dois primeiros porquinhos).

A ficção viaja através da voz; mas em esta viagem a voz se deixa acompanhar por outros recurso: a entonação, a gestualidade, a personalidade do locutor e também. pelo sol, e a paisagem, e a qualidade do ar do dia o do instante irrepetível em que se produz a comunicação4 . (MANILA, 2006 p.7 apud DUPONT, 1991 p. 167)

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4.1 ARQUIVO LIVRO (ESCRITO) E ARQUIVO SONORO (ÁUDIO LIVRO)

Se até agora mencionamos a literatura, sua relação com a oralidade e como muitas histórias passaram da oralidade para o registro físico, em nosso projeto faremos o inverso. Agora é da literatura para a parte vocal, de livro escrito para livro

4 No original: La ficción viaja a través de la voz; pero en este viaje la voz se deja acompañar por otros recursos: la entonación, la gestualidad, la personalidad del locutor y, también, por el sol, y el paisaje, y la calidad del aire del día o del instante irrepetible en que se produce la comunicación.

sonoro, de linguagem literária para linguagem sonora, ou radiofônica, visto que muitos dos elementos que iremos utilizar surgiram no rádio. A linguagem literária e a linguagem radiofônica obviamente têm muitas diferenças, mas também semelhanças. Ambas causam imersão sem o fator visual, “a linguagem literária é resultado de uma função específica da linguagem verbal” (LOPES, 2010, p. 3), dessa forma na literatura há uma descrição muito detalhada para a criação de imagens e ambientes mentais, enquanto que na linguagem radiofônica além da voz/narração há também a paisagem sonora a fim de imergir quem está ouvindo na história ou narrativa apresentada. Narração de histórias sempre foi comum no cotidiano do ser humano, desde a antiguidade, sendo ela verbal ou não. A linguagem literária e verbal ter tantas semelhanças é natural pois as duas são divergentes do mesmo tipo de linguagem, a narração de uma história que tem o intuito de transmitir uma mensagem e chegar por fim no receptor. Por pequenas diferenças conseguimos distinguir o escrito do sonoro.

(...) a leitura do oralista não se diz, estruturalmente, como a leitura, mas como mais uma possibilidade de leitura entre outras, pondo-se em pé de igualdade dialógica entre as leituras e o próprio texto transcriado. (...) O oralista torna-se navegador de traços, de movimentos, de percursos, sem as redes de positividade que tolhem o historiador e condicionam tanto sua visão como sua escrita; (...) (CALDAS, 1999, p. 84)

O ouvinte/leitor no fim sempre vai ter o mesmo papel, de receber a mensagem da obra que está consumindo. A literatura serve como um impulso para o imaginário da pessoa, com descrições detalhadas é possível se sentir na história, você consegue ter a identificação com a história que lê e isso faz com que a experiência seja mais “rica”. A linguagem sonora utiliza do mesmo tipo de imersão com o receptor, mas por meio do som, o tipo de linguagem muda pois não é possível imaginar tudo no áudio com tipos específicos de linguagem. A adaptação para um arquivo sonoro relembra o passado, quando uma pessoa apenas contava uma história para outra tentando adicionar o máximo de detalhes possíveis para ser compreendido, a diferença é que sons ambientes e efeitos sonoros auxiliam na imersão do ouvinte. Pode-se dizer que o ato de contar uma história, transformando aquilo em algo

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