UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL RÁDIO, TV E INTERNET
Bruna Penha Farias Gabriel Ferreira Barboza Glória Maria Barbosa Rodrigues Kelly Maria De França Sidney D´alberto Liberal Júnior Whintney Christina Zordan Polato
PROJETO 53R3N4 Série de TV
SÃO PAULO 2022
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL RÁDIO, TV E INTERNET
RGM: 2081797-5 RGM: 1939557-4 RGM: 2088887-2 RGM: 2126979-3 RGM: 2219080-5 RGM: 2804873-3
Bruna Penha Farias Gabriel Ferreira Barboza Glória Maria Barbosa Rodrigues Kelly Maria De França Sidney D´alberto Liberal Júnior Whintney Christina Zordan Polato
PROJETO 53R3N4 Série de TV
Trabalho De Conclusão De Curso apresentado ao Curso De Rádio, TV e Internet como requisito parcial à banca de qualificação.
Profº. Me. Alexandre Henrique
corporacaoaaah@gmail.com
SÃO PAULO 2022
FOLHA DE APROVAÇÃO Projeto aprovado em __/__/_____ para banca de qualificação do projeto de Rádio, TV e Internet.
Banca Examinadora do Projeto:
_______________________________________ Profº. Me. Alexandre Henrique
_______________________________________
_______________________________________
AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiro a Deus por nos ter mantido na trilha certa durante este projeto de pesquisa com saúde e forças para chegar até o final. Somos gratos às nossas famílias pelo apoio que sempre nos deram durante toda as nossas vidas. Deixamos um agradecimento especial ao nosso Orientador pelo incentivo e pela dedicação do seu escasso tempo ao nosso Projeto De Pesquisa. Também queremos agradecer à Universidade Cruzeiro do Sul e a todos os Professores do curso pela elevada qualidade do Ensino oferecido.
Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre. Paulo Freire.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO___________________________________________________ 9 1.
CORPORAÇÃO AAAH!______________________________________ 11
1.1.
LOGO & CONCEITO_________________________________________ 11
1.2.
MISSÃO, VISÃO E VALORES _________________________________ 14
1.3.
NÓS______________________________________________________ 15
1.4.
FICHA CRIMINAL___________________________________________ 21
1.4.1. BRUNA PENHA FARIAS______________________________________ 21 1.4.2. GABRIEL FERREIRA BARBOZA_______________________________ 22 1.4.3. GLÓRIA MARIA BARBOSA RODRIGUES________________________ 23 1.4.4. KELLY MARIA DE FRANÇA___________________________________ 24 1.4.5. SIDNEY D’ALBERTO LIBERAL JÚNIOR_________________________ 25 1.4.6. WHINTNEY CHRISTINA ZORDAN POLATO______________________ 26 1.5.
ORGANOGRAMA___________________________________________ 27
2.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA________________________________ 28
2.1.
A JORNADA DO HERÓI______________________________________ 28
2.1.1. A JORNADA DA HEROÍNA____________________________________ 32 2.2.
A JORNADA DOS SUPER-HERÓIS_____________________________ 40
2.2.1. OS SUPER-HERÓIS NOS QUADRINHOS________________________ 42 2.2.2. OS SUPER-HERÓIS NAS TELAS_______________________________ 48 2.3.
A NARRATIVA HERÓICA SERIALIZADA_________________________ 52
2.4.
NOIR_____________________________________________________ 63
2.4.1. DA ORIGEM AO NOVO NOIR_________________________________ 63 2.4.2. FOTOGRAFIA NOIR - ENTRE A LUZ E SOMBRA_________________ 66 2.4.3. ARQUÉTIPOS DO NOIR_____________________________________ 69 2.5.
A MEMÓRIA DA 53R3N4_____________________________________ 70
2.5.1. O QUE É A MEMÓRIA? E COMO ELA FUNCIONA?________________ 71 2.5.2. PERDA DE MEMÓRIA_______________________________________ 73 2.5.3. PERDA DE MEMÓRIA POR TRAUMAS_________________________ 74
3.
DA SÉRIE_________________________________________________ 77
3.1.
PÚBLICO-ALVO____________________________________________ 78
3.2.
PLATAFORMAS DE VEICULAÇÃO/ DISTRIBUIÇÃO_______________ 79
3.3.
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA________________________________ 79
3.4.
OBJETIVOS_______________________________________________ 80
3.5.
JUSTIFICATIVA____________________________________________ 80
3.6.
DA HISTÓRIA______________________________________________ 83
3.6.1. STORYLINE DA SÉRIE______________________________________ 83 3.6.2. STORYLINE DA TEMPORADA________________________________ 83 3.6.3. SINOPSE DA TEMPORADA__________________________________ 83 3.6.4. PERFIL DOS PERSONAGENS________________________________ 84 3.6.5. SINOPSE DO EPISÓDIO PILOTO______________________________ 91 3.6.6. ARGUMENTO DO EPISÓDIO PILOTO: PROJETO 53R3N4__________ 94 3.7.
DA ARTE__________________________________________________ 100
3.7.1. CONCEITO VISUAL DO PILOTO_______________________________ 101 3.7.2. FIGURINOS________________________________________________ 102 3.7.3. REFERÊNCIAS DOS CENÁRIOS_______________________________ 104 3.7.4. LOCAÇÕES________________________________________________ 106 3.7.5. ABERTURA DA SÉRIE_______________________________________ 106 3.8.
DA FOTOGRAFIA___________________________________________ 107
3.8.1. REFERÊNCIAS_____________________________________________ 107 3.9.
CRONOGRAMA DE QUALIFICAÇÃO___________________________ 111
3.9.1. CRONOGRAMA DE PRODUÇÃO______________________________ 113 3.10. ORÇAMENTO DO PROJETO__________________________________ 117 3.10.1. CUSTOS DO PROJETO_____________________________________ 117 3.10.2. CUSTOS REAIS DO PROJETO_______________________________ 119
4.
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS________________________________ 120
4.1.
DA PRODUTORA___________________________________________ 120
4.2.
INDIVIDUAIS_______________________________________________ 121
5.
REFERÊNCIAS_____________________________________________ 124
5.1.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS______________________________ 124
6.
APÊNDICES E ANEXOS______________________________________ 129
6.1.
APÊNDICE A – ROTEIRO_____________________________________ 129
9
INTRODUÇÃO
Todos os projetos interdisciplinares, trabalhos e provas que tivemos até aqui, tem também, além do aprendizado, a intenção de nos preparar para este último desafio da Graduação: O TCC. Nós como alunos, temos que aprender com nossos erros do passado, sejam de planejamento, execução ou comunicação para que eles não se repitam ou que sejam minimizados ao máximo no Trabalho De Conclusão De Curso. Com esse pensamento em mente, decidimos montar a corporação AAAH!, uma nova produtora que surge especificamente para o TCC, com integrantes vindos de diferentes produtoras, e com a ideia de alinhar conhecimento, planejamento, responsabilidade e mão na massa propriamente dita. Se esse alinhamento será de sucesso ou não, saberemos ao final dessa jornada. Mas o importante é que o caminho seja, para todos os integrantes, de aprendizado, crescimento e elevação de maturidade profissional e pessoal. Dito isso, o primeiro passo dessa jornada foi definir os conceitos e valores da nova produtora, algo que respeitasse a todos. Para o projeto em si, a Whintney, responsável pela formação da corporação, já tinha uma ideia guardada na gaveta de uma série de TV de uma super-heroína/criminal; e foi inclusive essa ideia um dos argumentos para nossa união, pois todos gostariam de trabalhar nesse projeto. Logo, os próximos passos foram de estabelecimento das funções que cada um exerceria, potencializando as habilidades de cada um. Além de estabelecermos métodos de leitura de livros, assuntos os quais deveríamos abordar na fundamentação teórica de acordo com o tema da série, e também a programação das reuniões. Todos comprometidos, estruturamos a fundamentação teórica na sequência que será vista aqui, de maneira que os assuntos sigam uma linha que explique o tema e os plots principais que a série pretende focar. Dessa maneira, temos a jornada do herói e da heroína, contextualizando os passos e as diferenças entre cada arco. Em seguida, uma viagem pela história dos quadrinhos, o surgimento dos super-heróis e seu sucesso de hoje em dia nas telas de todos os tamanhos. Depois falamos sobre séries de TV, enveredando pelas séries criminais e seus mais
10
variados subgêneros. Falamos sobre o estilo noir, sua definição, características e referências, até enfim chegarmos ao capítulo sobre a memória. Toda essa fundamentação é necessária para que a protagonista da série tenha uma jornada de conhecimento, se torne uma super-heroína de uma série de investigação criminal, com estilo noir, enfrentando o obstáculo de sofrer de perda de memória. O cronograma estabelecido deve ser respeitado ao máximo, e seguindo a orientação do professor, ele foi construído de trás para frente. Ou seja, da data da banca de qualificação (até este momento), até o dia presente. Para o orçamento do projeto foram estabelecidas algumas estratégias de arrecadação, além de ações esporádicas da corporação para novas injeções de dinheiro, como rifas e sorteios. Com a primeira versão do roteiro, as direções de fotografia e arte já estão trabalhando nas cenas para impor todo o clima neo noir que a série terá. Além da produção já estabelecer as opções de locações, cenários e figurinos. Porém, tudo isso pode e deve seguir a pirâmide tempo x escopo x dinheiro, dessa maneira, temos consciência que alterações de roteiro, cenários e locações podem acontecer de acordo com as possibilidades. A trilha sonora e a abertura da série estão sendo discutidas, e são pautas de reuniões semanais a fim de decisões artísticas e técnicas. Seguindo as orientações do sub-gênero, clima e referências que a série tem. A partir da entrega da bíblia e da banca de qualificação, continuaremos o trabalho de pré-produção, além de aparar as arestas que a banca nos apresente como pontos de correção ou melhorias. E a partir daí, o trabalho de produção está previsto para ser iniciado, com as diárias de gravação e todo trabalho de produção que são necessários. O objetivo é que todo o trabalho pontuado a seguir seja bem estruturado o suficiente para que a série tenha a qualidade técnica, referencial e artística a qual estamos buscando.
11
1. CORPORAÇÃO AAAH! Idealizada há quase 10 anos por Whintney Polato, teve passos tímidos que logo foram engavetados para ser resgatada no ambiente propício para, não apenas nascer, mas ganhar vida. Polato, sendo uma artista plural, sentia falta de um lugar em que pudesse empregar a sua visão e agregar outros artistas e técnicos que compartilhassem e contribuíssem com ela. Vinda de outra universidade, a turma já tinha seus grupos/produtoras e afinidades já construídas. Com a necessidade da realização do Trabalho de Conclusão de Curso, Gabriel Barbosa se alia a Polato, ponto de partida para finalmente dar à luz a produtora para abrigar o projeto que ali nasceria. A produtora e a proposta de produto foram apresentados então para os demais quatro integrantes, peças fundamentais para o desenrolar de todo o projeto. A Corporação enfim poderia gritar. 1.1. LOGO & CONCEITO CORPORAÇÃO (s.m.) Pessoas que se associam por possuírem alguma afinidade profissional, geralmente, organizam-se através de um regulamento e/ou estatuto. [Por Extensão] Reunião ou conjunto de pessoas que se juntam por compartilharem as mesmas causas, objetivos, profissões etc. Administração. Empresa ou reunião de várias empresas provenientes de um ou mais setores de atividade econômica.
AAAH! (Onomatopeia de grito)
Figura de linguagem que é utilizada para transcrever sons, dando mais expressividade ao texto. Interjeição. Palavra invariável que exprime emoções, sensações, estados de espírito. A escolha da palavra “Corporação” passa uma ideia de grandeza, ambiente corporativo, profissionalismo. Permite que ela de fato cresça e abrace diferentes
12
vertentes que necessite para se expressar, não se limitando apenas ao audiovisual. Um lugar que busca o equilíbrio entre arte e entretenimento, que quer refletir, transformar, emocionar. Tanto quer se expressar, que é preciso gritar. O grito é o outro lado da balança da Corporação. São as coisas que ela tem a dizer. São os artistas e técnicos que a compõe. É fazer barulho, é chamar a atenção, é não passar despercebida. Porque afinal, tudo o que emociona te faz gritar.
Fig. 1- logo da produtora
O logo utiliza as cores amarelo e preto, já que são as cores utilizadas em elementos que demandam atenção e cuidado, como por exemplo, faixas delimitantes de cenas de crimes, linha de segurança, ou placas de indicação de radioatividade.
Fig. 2 - Fita amarela da cena do crime. Fonte: Site dreamstimei Fig. 3 - Símbolo radioatividade. Fonte: Site quimica.seed.pr.govii
13
Na espiritualidade, o amarelo manifesta o poder das divindades do além e está relacionada ao aspecto masculino (Yang), luz e vida. Tem uma tendência natural de ir ao encontro do "claro", da luz. É considerada como um veículo para obtenção da sabedoria e inteligência. Além disso, propicia vigor e a proteção dos céus. Amarelo é a cor da eternidade.iii A lâmpada partida remete às ideias que não podem mais ser contidas, rompendo de dentro para fora, a mesma trajetória de um grito, que vem de dentro.
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
2.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nesta seção apresentamos todos os conceitos teóricos que se fazem necessários para a construção da série. Do ponto de vista dos elementos que compõem a história.
2.1. A JORNADA DO HERÓI
Para qualquer pessoa que se atreva a contar histórias, em algum momento irá se deparar com o recurso da chamada Jornada do Herói. Hoje em dia, praticamente todos os manuais de roteiro e escrita criativa a utilizam como base, seja utilizando como ponto de partida, seja para subvertê-la, mas é ela a referência. Não se trata de um molde para encaixar uma história, mas sim de aspectos que se repetem nas histórias, que são envolventes, que nos comovem e que acabam por atravessar as barreiras do tempo e espaço. As narrativas refletem o seu entorno, a época em que se vive, como a humanidade enxerga o mundo e como leva a vida. Porém algo faz com que algumas histórias sigam vivas, mesmo depois de muitos anos da morte de seus autores. Não importa onde um filme é feito - Hollywood, Paris, Hong Kong - , se tiver uma qualidade arquetípica, ele engatilha uma reação em cadeia de prazer perpétua e global, levada ao cinema de geração a geração. Estórias são sobre arquétipos, e não estereótipos. (MCKEE, 2006, p. 18)
Não é possível falar de narrativa sem falar da complexidade humana e da grande incógnita que é a vida. Com o advento da psicanálise, os personagens se tornaram cada vez mais profundos e complexos, como todos nós somos. O conceito de arquétipos surgiu em 1919 com o discípulo de Freud, Carl Gustav Jung. Para ele “os arquétipos são conjuntos de ‘imagens primordiais’ originadas de uma repetição progressiva de uma mesma experiência durante muitas gerações, armazenadas no inconsciente coletivo.”
Essa camada mais profunda da psique é constituída de materiais que foram herdados, e é nele que residem os traços funcionais, tais como imagens virtuais que seriam comuns a todos os seres humanos. Isso vem servir às estruturas narrativas
29
para se entender como histórias vencem as fronteiras do tempo e do espaço, como uma mesma história pode se conectar com culturas tão diferentes, ou tanto tempo depois de ser contada? Então entender a fórmula, mas não a forma se tornou o mais importante, seguindo uma regra hoje muito conhecida e difundida no marketing: pessoas se conectam com pessoas. O que faz a gente voltar a ver um capítulo de uma série de TV na semana seguinte ou emendar um episódio no outro no streaming? Quem a gente vê na tela. São pessoas que provocam alguma coisa dentro da gente, algum sentimento, alguma emoção. Ou seja, a base de tudo é o personagem. Os grandes personagens da televisão são complexos, fazem com que o espectador queira mais deles, seja porque simpatiza com ela/ele (eu gosto dela/dele), seja porque empatiza com ela/ele (eu sinto o que ela /ele sente). (...)A emoção é a ponte que liga a história e o espectador. É o que conecta tudo, no fim das contas - não importa o formato.(CANTORE e RUBENS PAIVA, 2021, p. 19-20).
Ao estudar durante anos os mitos e religiões de diversas civilizações, Joseph Campbell chegou ao chamado Monomito, encontrando um padrão nas narrativas heróicas a partir de um olhar da psicanálise. É importante essa junção para compreender que todas as histórias que contamos contém uma bagagem ancestral. Pois os símbolos da mitologia não são fabricados; não podem ser ordenados, inventados ou permanentemente suprimidos.Esses símbolos são produções espontâneas da psiquê e cada um deles traz em si, intacto, o poder de sua fonte. (CAMPBELL, 2007, p. 15-16)
Campbell desenvolve a jornada do herói em 1949 e em 1992 Christopher Vogler torna o conceito mais acessível e palpável. Então, unindo conceitos conhecidos da psicologia de Carl G. Jung e dos estudos míticos de Joseph Campbell, Vogler procura criar um guia para o escritor, relacionando essas ideias à arte contemporânea da narrativa. Em seu livro A Jornada do Escritor (2015), ao introduzir suas ideias sobre a jornada do herói, eis que ele diz: Saí a procura dos princípios formadores da narrativa, mas no meio do caminho me deparei com algo mais:um conjunto de princípios para a vida. Acabei descobrindo que a Jornada do Herói não é nada menos que uma
30
compilação de instruções para a vida, um manual completo da arte de ser humano. (VOGLER, 2015, p. 15-16)
A partir do jargão popular: A vida imita a arte ou a arte imita a vida?, a Jornada do Herói vem ser uma análise de nossas provações na vida real, nos auxiliando a entender as etapas necessárias para que se possa contar uma boa e envolvente história.
Fig. 4 - A jornada do herói. Fonte: expertdigital
A Jornada do Herói normalmente é dividida em 12 etapas distintas. Cada fase conecta uma com a outra e leva a história adiante, conectando o público não apenas com o herói, mas também com as mensagens principais do seu discurso ou apresentação. As 12 fases são:
1. Mundo comum: este é o começo da história, serve para contextualizar e mostrar o cenário. É aqui que a história do herói é revelada para o público, como:
31
quais são os tipos de problemas que ele enfrenta, quais são seus objetivos, o que ele está procurando. 2. Chamada para aventura: nesta fase, algo acontece ao herói e a aventura começa. Este é um momento crucial da história, pois um alarme dispara tanto para o herói quanto para o público. Se esse alarme não for interessante o suficiente, ninguém vai querer continuar lendo ou assistindo a história até o final. 3. Recusa do chamado: este é um estágio temporário na Jornada do herói que invoca medo e relutância do personagem. Algumas histórias trabalham com isso, outras partem direto para o encontro do mentor. 4. Encontro do Mentor: a quarta etapa é quando o herói é apresentado a um mentor, que é a prova viva de que o problema mostrado na chamada para a aventura pode ser resolvido. Ele será o empurrãozinho que o herói precisa para seguir na jornada. 5. O cruzamento do primeiro limiar: depois de conhecer seu mentor, o herói parte para a aventura e cruza o limite – seus primeiros desafios. Este ponto marca uma importante virada na psicologia do herói, e pode ser exemplificado com diferentes travessias, como a descoberta de um segredo, a aquisição de uma nova habilidade, ou até mesmo uma mudança de lugar propriamente dita. 6. Testes, aliados e inimigos: ao longo de sua aventura o herói encontra forças positivas e negativas, como aliados e inimigos para enfrentar. Eles servem como testes que vão preparar o herói para o combate final. 7. Aproximação da caverna secreta: aqui é o momento antes do confronto final que o herói retorna aos seus medos e questionamentos iniciais, em uma espécie de conflito interior. Mesmo quando não há conflito interior, ainda assim essa pausa é necessária para mostrar ao público a magnitude do desafio que está por vir. Essa pausa serve para preparar o herói ainda mais para o final. 8. Provação: na oitava etapa o herói é desafiado por um obstáculo de grande magnitude. É um desafio que ele precisa cumprir para seguir seu destino. Isso marca outro momento crucial na história, onde ocorre uma transformação sobretudo psicológica do personagem. 9. Recompensa: depois de superar o obstáculo, o herói atinge seu objetivo e por isso recebe uma recompensa. Nesta etapa o público se comove com a vitória do herói e fica com aquele sentimento de merecimento.
32
10. Estrada de volta: nesta fase, o herói inicia o caminho de volta ao mundo comum, porém agora com uma grande transformação adquirida no processo. Aqui ele pode ser testado novamente para ver se realmente “aprendeu a lição”. 11. Ressurreição: é neste momento que o “inimigo” do herói ressurge, para um novo combate ou conflito ainda maior e com mais coisas em jogo. O herói recebe uma oportunidade de testar e aplicar o que aprendeu, e enfrenta um desafio final antes de retornar totalmente à sua vida cotidiana. 12. Retorno: o herói oficialmente retorna ao mundo comum. Isso permite que o público entenda o significado da jornada e traz uma sensação de conclusão à história. A essa altura se nota que o uso da palavra herói refere-se ao protagonismo que uma pessoa comum toma a respeito de sua própria história. Ela se distingue por suas ações extraordinárias e seus feitos brilhantes. Como essa estrutura tem como origem os mitos, que geralmente envolvem histórias com divindades, o herói é esse ser que após se provar, após atos de coragem, se transforma em alguém excepcional.
2.1.1. A JORNADA DA HEROÍNA
Visto que as narrativas são reflexos do mundo e seus habitantes, que moldam gerações e mudam o curso da história, é importante frisar aqui que o masculino é a régua para o mundo. O ideal masculino em si não é o problema. O problema está no excesso de masculino e na despriorização – ou quase ausência – do ideal feminino no que criamos, desenvolvemos e participamos. Na tradição chinesa milenar do Tao, a totalidade do universo e da natureza manifesta-se com o equilíbrio harmonioso e dinâmico entre energias de dois pólos opostos: Yin e Yang, sendo Yin a energia do feminino e Yang a do masculino.
33
Fig. 5 - Yin e Yang. Fonte: claudiamelo.org
Maureen Murdock, discípula de Joseph Campbell, vem então questionar a jornada do herói do ponto de vista feminino, ou seja, qual seria a jornada da heroína? “Escrevi a jornada da heroína, há 30 anos, para descrever uma alternativa ao estereótipo egoico da jornada do herói masculino, tão admirado na cultura dominante. Até então, não havia um padrão arquetípico reconhecível que se adequasse à experiência das mulheres”. (MURDOCK, 2022, p. 17).
Antes de de fato entrar na jornada da heroína, é preciso compreender a “questão da mulher”. Simone de Beauvoir é uma filosófa, raramente reconhecida como tal, e autora do livro O Segundo Sexo (1949). Ela desmembra uma filosofia
34
existencialista a fim de caracterizar questões de gênero, e descreve que há um caminho a se entender para enfim chegar ao cerne da questão. No existencialismo não há preocupação com o além, o que veio antes do nascimento e o que virá após a morte. Você de fato existe e está vivo, e caso decida que quer viver, deve definir como quer viver. Não havendo nada pré-determinado, somos nós que atribuímos sentidos à vida, baseados na liberdade e autenticidade. Entre o sujeito, o mundo e seus desejos existem obstáculos, lugares onde os valores do indivíduo são criados. São nesses obstáculos que a opressão surge, tornando as possibilidades pequenas ou mínimas. A figura do opressor faz suas ações se passarem por naturais, o que na verdade, não são. Entende-se aqui a diferença entre liberdade e livre arbítrio. A liberdade é a possibilidade de criar um novo caminho, trabalha para o coletivo e reforça a liberdade do outro. O livre arbítrio é escolher entre caminhos já prontos. O caminho para a liberdade é a desnaturalização da opressão, por isso entender a sociedade e por fim de que não se nasce mulher, mas torna-se mulher. Com o avanço dos movimentos sociais, essa tal “questão da mulher” ganhou força, e estereótipos femininos começaram a ser questionados. Pois a forma como o masculino é tido como o primeiro sexo, o referêncial, o absoluto, refletem nas histórias que contamos, e ajudam a perpetuar essa visão de mundo. Na bíblia sagrada, no livro de gênesis, temos: "O Senhor Deus disse: ‘Não é bom que o homem esteja só, vou dar-lhe uma auxiliar que lhe seja adequada’” (BÍBLIA, gênesis, 2, 18). Mais à frente, continua: “Eis agora aqui - disse o homem - o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem”(BÍBLIA, gênesis, 2, 23).
Joseph Campbell dedicou toda a sua vida à compreensão dos mitos e de como eles ditam nossos imaginário, nossa sociedade, nossa humanidade. No mito da criação do cristianismo a mulher é gerada como uma assistente, uma auxiliar; o segundo sexo desde a sua concepção. Numa discrepância de sua própria gênese, quem gera a mulher é o homem, sendo que é o feminino quem gera a vida. Muitos anos mais tarde, Mary Shelley no século XIX cria uma das mais aclamadas obras de horror de todos os tempos: Frankenstein, a história de um estudante de ciências naturais que cria um monstro
35
em seu laboratório. Um monstro, pois quem gera a vida é o feminino, não o masculino. Em O Poder do Mito, livro que é uma transcrição de uma conversa/entrevista de Bill Moyers com Joseph Campbell, Campbell ressalta a importância dos ritos e as consequências da falta deles nos dias atuais. Num determinado momento, ele descreve um ritual pelo qual passavam os meninos aborígenes na Austrália. Era físico e doloroso. Isso o impactava psicologicamente e ao retornar esse menino sabia que era um homem. Moyers então questiona sobre as fêmeas: “Moyers: E quanto à fêmea? Quase todas as figuras nas cavernas-templos são machos. Essa era uma espécie de sociedade secreta dos machos? Campbell: Não era uma sociedade secreta, é que os meninos precisavam passar por isso. É claro que não sabemos exatamente o que acontecia às fêmeas nesse período, devido à escassez de informações a respeito, mas hoje, nas culturas primárias, a menina se torna mulher com a primeira menstruação. É algo que acontece a ela, a natureza faz isso a ela. E assim ela supera a transformação - mas qual é a sua iniciação? Normalmente é sentar-se no recesso de uma cabana, por alguns dias, e tomar consciência de quem é ela. (CAMPBELL, 2014, p. 87) As falas de Campbell são dignas de algumas constatações, como, o feminino sempre foi negligenciado e por isso parece ser algo tão misterioso, porque é para dentro. A história sempre foi contada por parâmetros masculinos, então essa jornada interior pode não ter parecido tão interessante e passamos a aceitar explicações do tipo: “é algo que acontece a ela”, é raso e tira seu aspecto humano. Colocando-as sempre como místicas, musas e deusas, algo que pintores durante boa parte da história da arte o fazem, acabam por reforçar as mulheres dentro destes estereótipos. Dessa maneira, sentar e tomar consciência de quem é, não parece ser uma aventura com tons heróicos. Moyers: Como ela chega a isso? Campbell: Ela se senta lá. Agora é uma mulher. E o que é uma mulher? Uma mulher é um condutor de vida. A vida surpreendeu-a. A mulher é tudo o que importa à vida: conceder o nascimento e a nutrição. Seus poderes a tornam idêntica à deusa-terra, e tem de tomar consciência disso. O menino não vive nenhum acontecimento desse tipo, por isso precisa ser transformado em homem e voluntariamente tornar-se um servidor de algo maior que ele. (CAMPBELL, 2014, p. 87)
36
É aqui que Campbell deveria ter se dado conta das divergências da jornada do herói e da heroína. Mas não é sua culpa viver o privilégio masculino de ser o primeiro sexo. Afinal, quando nos referimos ao ser humano, sempre usamos a expressão “O homem”. Quando queremos dizer que alguém é incrível, ele é “o cara”. Parafraseando uma frase do filme As Virgens Suicidas (1999), de Sofia Coppola: “Você claramente nunca foi uma menina de 13 anos”.
Todos os autores de referência de manuais de roteiro e storytelling aqui citados são homens: Joseph Campbell, Christopher Vogler, Robert Mckee. E todos com acesso e condições para tornarem-se mestres e até mesmo gênios. Virgínia Wolf no livro Um Teto Todo Seu (2014) exemplifica didaticamente o porquê de nossos mestres, na maioria das vezes, serem do sexo masculino. Tanto para escrever manuais ou histórias de ficção, homens e mulheres geralmente não possuem as mesmas alternativas e/ou oportunidades. Ela diz: “Tudo o que poderia fazer seria oferecer lhes uma opinião acerca de um aspecto insignificante: a mulher precisa ter dinheiro e um teto todo dela se pretende mesmo escrever ficção” (WOOLF, 2014, p. 8).
Ela ainda adverte: Sempre haverá interrupções. Isso quer dizer que a campainha irá tocar, o bebê vai chorar, a panela no fogo irá ferver. “A liberdade intelectual depende de coisas materiais. A poesia depende da liberdade intelectual” (WOOLF, 2014, p. 131).
Alguém precisa limpar a casa, fazer comida, levar as crianças para a escola. A mulher tem essas responsabilidades, enquanto o homem-gênio pode se trancar em seu escritório sem ser incomodado. Mesmo hoje, com muito direitos conquistados e maior acesso a informação, a mulher ainda se vê sobrecarregada pela vida doméstica. Pois a busca pelo direito de igualdade não assegura dividir as responsabilidades do lar para o qual todos usufruem. Ela ainda é uma auxiliar. Wolf nesse mesmo livro ressalta sobre o professor X, personagem de sua história:
37
“Ele adverte as mulheres de que ‘quando as crianças deixam de ser inteiramente
desejáveis,
as
mulheres
deixam
de
ser
inteiramente
necessárias’. Espero que vocês tomem nota disso” (WOOLF, 2014, p. 136).
Psicoterapeuta com orientação Junguiana, Murdock recorre a histórias extraídas de seu trabalho, assim o livro “A jornada da heroína” é narrado na primeira pessoa, onde a própria autora se inclui e reconhece sua própria jornada. Mesmo que não haja um padrão que se aplique a todas as mulheres, há uma compreensão da vida como mulher. O modelo que apresento aqui não se aplica necessariamente à experiência de todas as mulheres de todas as idades e tampouco se limita a elas. Ele aborda a jornada de ambos os gêneros, descrevendo a experiência de muitas pessoas que se esforçam para se manter ativas e oferecer uma contribuição ao mundo, mas que temem o que nossa sociedade voltada para o progresso vem causando à psiquê humana e ao equilíbrio ecológico do planeta. (MURDOCK, 2002, p. 24) Histórias com personagens femininas que vivem a jornada do herói plenamente e ignorando a jornada da heroína, tendem a ter mulheres muito masculinas, visto que seus valores ainda estão sistematizados no yang. São histórias pautadas na validação exterior, e na vida real, a mulher em algum momento se depara com esse vazio de ter caído numa propaganda enganosa. “Aprenderam a ser bem-sucedidas de acordo com o modelo masculino, porém esse modelo não consegue satisfazer a necessidade de ser uma pessoa inteira”. (MURDOCK, 2022, p. 27).
Visto que Vogler vê a jornada do herói como uma compilação de instruções para a vida, Murdock chama o seu livro de “a busca da mulher para se reconectar com o feminino”. Essa busca é algo constante, os movimentos ao longo das etapas da jornada da heroína é cíclico e a pessoa pode estar em mais de uma etapa ao mesmo tempo. A jornada da heroína é um ciclo contínuo de desenvolvimento, crescimento e aprendizado. É também uma alternativa à jornada do herói. Meu desejo de compreender como a jornada da mulher se relacionava com a jornada do herói me levou primeiro a conversar com Joseph Campbell em 1981. Eu sabia que as etapas da jornada da heroína incorporavam aspectos da jornada do
38
herói, porém sentia que o foco do desenvolvimento espiritual feminino era sanar a divisão interna entre a mulher e a sua natureza feminina. Eu queria saber a opinião de Campbell a esse respeito. Fiquei surpresa quando ele me respondeu que as mulheres não precisavam realizar a jornada: “Em toda a tradição mitológica, a mulher já está lá. Tudo o que ela tem que fazer é entender que ela já é o lugar que as pessoas estão tentando alcançar. Quando uma mulher entende qual é o seu caráter maravilhoso, ela não se deixa confundir com a ideia de ser um pseudohomem”. (MURDOCK, 2022, p. 22)
São as etapas da jornada da heroína:
1.
Separação do Feminino, em que a heroína inicia sua jornada buscando
reconhecimento e sucesso em uma cultura patriarcal, definida por aspectos masculinos exacerbados. Começa a se distanciar de tudo que é considerado feminino, podendo se afastar até da mãe, que será uma representação de tudo que a heroína odeia em sua feminilidade. 2.
Identificação com o masculino: a heroína encontra seu mentor, alguém que
ela admira e que irá ajudá-la dando suporte, transmitindo valores, atitudes, conhecimento e encorajando-a nos momentos difíceis. Pode ser qualquer homem ou uma mulher com aspectos masculinos bem definidos. Então, depois que se afastou do feminino, a mulher passa a se identificar com os valores masculinos. Portanto, ela pode se aproximar do pai, que será uma representação da liberdade da mãe. 3.
A Estrada das Provações. Assim como na Jornada do Herói, a mulher
enfrenta obstáculos que levam ao seu desenvolvimento. Por isso, essas tarefas estarão relacionadas a obter sucesso. Mas, diferentemente do modelo de Campbell, a heroína também luta com conflitos internos, como noções de dependência, amor e inferioridade. 4.
Encontrando o Apogeu do sucesso, nesta fase a heroína finalmente
conquista tudo o que desejava (que pode ser fama, sucesso no meio acadêmico ou financeiro, roupas, bens materiais, popularidade ou até mesmo um par romântico, seu idealizado “príncipe encantado”). Apesar de ter tudo o que sempre quis, ela sente um profundo vazio. Ou seja, logo depois de superar os obstáculos e
39
experimentar o sucesso, a heroína perceberá que traiu seus próprios valores para atingir o objetivo. Por isso, se sentirá em conflito e limitada na nova vida. 5.
Aridez Espiritual, ela não se reconhece mais, tem um sentimento constante
de ter se perdido em sua luta pela conquista. A heroína perde sua vivacidade e se afunda na tristeza a cada instante. 6.
Iniciação e Descida para a Deusa, a heroína passa por um período de
introspecção, conhecido também como depressão, no qual ela começa a procurar pelas partes perdidas de si mesma. Posteriormente a crise de identidade, essa mulher deve se reconciliar com seu lado feminino. Ou seja, a heroína se encontra com uma figura de deusa, que representa todos os valores positivos que ela deixou para trás. 7.
Anseio Urgente de Reconexão com o Feminino, na busca de reconectar-se
com o poder feminino e sem instruções para alcançá-lo numa sociedade patriarcal, a heroína deixa sua intuição guiá-la para práticas artísticas, meditativas, artesanais e/ou de religiões matriarcais. Então, neste estágio da jornada da heroína, a mulher busca recuperar uma conexão com o sagrado feminino para entender melhor sua própria psique. Ela pode tentar reacender um vínculo com a mãe e passa a ver seus valores antigos sob uma perspectiva diferente. 8.
Curando o Rompimento entre Mãe e Filha, a heroína cura suas feridas
anteriores, se dissipa do rancor, perdoa (ou busca perdão) e então recupera os laços femininos que possuía antes de iniciar a primeira etapa da jornada. Apesar do nome desta etapa, o laço não é necessariamente com a mãe, pode ser também com pai, avó (ô), tia(o) , amiga(o) ou um responsável. O laço representa a comunidade que ela pertence. 9.
Curar o Masculino Ferido, ela enxerga o machismo feminino e entende que
o homem também vem sendo oprimido na sociedade patriarcal. Depois da primeira reconciliação, a heroína deve olhar para dentro e compreender a parte masculina de sua identidade. Ela vai reconhecer que existem pontos positivos e negativos deste aspecto. 10.
Integração do Masculino com o Feminino, finalmente, na última fase da
jornada, a mulher encontra o equilíbrio entre o seu masculino e feminino interior. É um momento de reconhecimento, uma lembrança daquilo que, no fundo, ela sempre conheceu: sua essência. A heroína aprende a integrar e equilibrar todos os aspectos
40
de si mesma, tornando-se finalmente uma mulher plena, um ser humano em sua totalidade. São exemplos de filmes e séries que utilizam elementos da jornada da heroína: •
Valente (2012), de Brenda Chapman, Mark Andrews;
•
Divertidamente (2015), de Pete Docter;
•
Moana (2016), de Ron Clements, John Musker;
•
Lady Bird: A hora de voar (2017), de Greta Gerwig;
•
Mãe! (2017), de Darren Aronofsky;
•
Série: O Conto da Aia;
•
Criador: Bruce Miller
•
Emissora original: Hulu
•
Ano: 2017- presente (4 temporadas)
•
Série: Sharp Objects.
•
Criador: Marti Noxon
•
Emissora original: HBO
•
Ano: 2018 (1 temporada) Isto posto, nos últimos anos a palavra herói ganhou novas formas, dimensões
e valores. O herói se tornou super, com personagens com poderes e habilidades sobre humanas. Até mesmo os “supers” acabaram se transformando com o tempo, aprofundando suas fragilidades humanas, e até vilões e anti-heróis que passaram a ter sua psique explorada. A divisão grega de bem e mal é deixada de lado e passamos a entender que ninguém é totalmente bom ou totalmente mal. De qualquer forma, ainda não é a toa que o primeiro super-herói é justamente o Superman (Super - Homem).
2.2. A JORNADA DOS SUPER-HERÓIS
Criado por Jerry Siegel e Joe Shuster em 1938, Superman surge na revista Action Comics #1. Um alienígena que é enviado ao planeta Terra quando bebê, criado entre os humanos, descobre que tem super poderes, em virtude do sol
41
amarelo. Com esse enredo de fundo, temos a criação do primeiro e mais famoso dos super-heróis. Podemos dizer que a capa vermelha e o S no peito são reconhecidos nos quatro cantos do mundo. Com sua revista em quadrinhos sendo publicada desde o início até hoje de forma ininterrupta, além de ser protagonista de uma gama de séries de TV, filmes, programas de rádio e animações. Baseado nos arquétipos de heróis, embalado pelas crenças religiosas que possuem a figura do salvador, de um escolhido, mas o contexto da iminente Segunda Guerra mundial, que as pessoas precisam de esperança. Superman é o responsável pelo início da era dos super-heróis nos quadrinhos e seu posterior avanço em todas as outras mídias de comunicação em massa, culminando no sucesso que Batman, Homem-Aranha, Homem de Ferro, Thor, Doutor Estranho, entre outros, fazem nos dias de hoje nas telas de cinema de todo o mundo.
Fig. 6 - Action Comics #1 - Fonte: Site Quadrinheiros - Era de Ouro1.
É importante diferenciarmos aqui o termo herói do super-herói. Segundo Lobo (2020), não podemos confundir os dois termos, tomando como base então que termo super-herói nasce com o Superman. Enquanto os heróis já existiam, termo que inclusive pode abranger uma diversidade maior de personagens, até mesmo históricos. Podemos dizer que o termo herói refere-se ao arquétipo criado, baseados 1 https://quadrinheiros.com/2013/04/12/a-historia-das-historias-em-quadrinhos-a-era-de-ouro/
42
nos antigos heróis gregos e suas aventuras e triunfos em batalha, como modelos de comportamento, que guiam as massas. Enquanto o super-herói surge da luta efetivamente do bem contra o mal, dos superpoderes e da coragem para proteger os fracos e indefesos.
2.2.1. OS SUPER-HERÓIS NOS QUADRINHOS
Antigamente, acreditava-se que as fontes de inspiração para a criação dos super-heróis apoiavam-se somente nas diversas mitologias existentes, bem como nos arquétipos dos heróis. Mas segundo Viana (2020), os super-heróis como os conhecemos, com suas características físicas, morais e intelectuais, são produtos da sociedade moderna. Isto quer dizer, que os super-heróis são frutos da evolução histórica, da sociedade e dos meios de comunicação em massa A medida em que são evoluções dos heróis em quadrinhos já existentes como Dick Tracy, Flash Gordon e Tarzan, que abrem caminho para o fantástico, também são reflexos dos desejos dos homens se tornarem mais poderosos, de fatos históricos como guerras mundiais, até avanços tecnológicos que trazem toda uma gama de possibilidades e preocupações relacionadas a limites e regras. Como exemplo desses produtos podemos citar aqui, além da criação do Superman, o Capitão América, que tem sua origem ligada a Segunda Guerra Mundial, Homem de Ferro e Batman com inteligências acima do normal e tecnologias de ponta. Mitologias na criação de Thor, Namor e Mulher-Maravilha, além das experiências e acidentes científicos que podemos ver em Hulk e Homem-Aranha. Dito isso, temos que as criações, aparições e histórias dos super-heróis nos quadrinhos foram divididas em eras, pois as características de cada uma delas tinham influência dos aspectos e transformações que a sociedade passava ao longo do tempo. A era de ouro, que vai desde 1938 até 1956, traz consigo a criação do gênero da superaventura com os super-heróis clássicos. Vale ressaltar aqui que as revistas traziam mais violência e os histórias mais brutais. Nesse período também temos o surgimento das principais editoras de quadrinhos dos EUA, DC e Marvel, não ainda com estes nomes. Com o sucesso de Superman, temos aqui as criações de Batman,
43
Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde e o primeiro super-herói da Marvel Capitão América, que já surge dando um soco na cara de Hitler na capa
Fig. 7 - Captain América Comics. Fonte: Site Quadrinheiros - Era de Ouro.
Em 1956, em virtude da criação da CCA (Comics Code Authority), uma entidade de censura aos quadrinhos e as quedas nas vendas, a DC Comics decide fazer uma reformulação do personagem Flash, passando a identidade secreta do herói de Jay Garrick para Barry Allen. Esse novo alter ego do super-herói era um policial científico e havia ganhado os poderes ao ser atingido por um raio, trazendo assim um tom mais tecnológico e de ficção científica a história, despertando novamente o interesse do público e sem problemas com a CCA. Era o início da era de prata dos quadrinhos.
44
Fig. 8 - CCA e Flash de Barry Allen. Fonte: Site Quadrinheiros - Era de Prata2.
A era de prata foi marcada pelo CCA em vigência, dessa maneira, ela pode ser chamada da era em que os super-heróis não matam, da inocência, e tem as histórias mais surrealistas; e da já mencionada ficção científica. Outros heróis são reformulados como Lanterna Verde, onde o novo alter ego do herói Hal Jordan agora é um piloto que ganha seus poderes graças a um anel. Aqui temos a criação da Liga da Justiça, também reformulados da então Sociedade da Justiça. Nesse período, a Marvel cria o Quarteto Fantástico, Hulk, Thor, Homem de Ferro, e aquele que viria a se tornar o herói mais popular da editora nas palavras de seu criador Stan Lee, o Homem-Aranha, um herói que ganha seus poderes quando é picado por uma aranha radioativa. Apoiando assim, a maioria das origens destes super-heróis na ficção científica.
2 https://quadrinheiros.com/2015/04/08/a-historia-das-historias-em-quadrinhos-a-era-de-prata/
45
Fig. 9 - A era de prata com Liga da Justiça, Quarteto Fantástico e Vingadores. Fonte: Site Quadrinheiros - Era de Prata.
Mas no final da década de 60, as simples Histórias de bem contra o mal, de fácil identificação de quem é o Vilão, já não refletiam os problemas que o mundo e a sociedade passavam, os problemas eram muito mais complexos e não tinham facilmente identificáveis. Dessa maneira, como sempre, os quadrinhos começaram a debater temas como drogas e preconceitos. Temos aqui o início da era de bronze, a era realista. E o marco inicial dessa era é a série de quadrinhos em que o Arqueiro Verde e o Lanterna Verde, iniciadas em 1970, enfrentam problemas políticos e sociais em suas aventuras pelos EUA. Alinhado a isso, em 1971, uma revista do Homem-Aranha que também debatia o uso de drogas, é proibida pela CCA de ser veiculada, porém Stan Lee e Martin Freeman decidem publicar mesmo assim, sendo um sucesso e gerando uma série de críticas ao Code Comics Authority, que acaba sofrendo uma revisão e tendo um afrouxamento das regras de censura. O que abre caminho para mais histórias realistas, além de voltar a permitir personagens sobrenaturais, por exemplo. Surgem aqui o Motoqueiro Fantasma, da Marvel e Monstro do Pântano, da DC. É durante a era de bronze que vemos que as coisas podiam dar errado para os super-heróis, e que eles podiam falhar. Também temos aqui o Capitão América largando o uniforme, por desacreditar no governo dos EUA. Temos o surgimento de Luke Cage, dos guetos de Nova Iorque e Pantera Negra, de um país fictício na África,
ambos
inspirados
através
dos
movimentos
negros
que
eclodiam
principalmente nos EUA na época. Todas as histórias debatiam temas complexos, além das editoras se preocuparem em investir na diversidade para criação de novos heróis.
46
Fig. 10 - Lanterna e Arqueiro Verde, Homem-Aranha sem o selo da CCA, e Luke Cage. Fonte: Site: Quadrinheiros - Era de Bronze3.
Fig. 11 - Pantera Negra e os X-Men, de diversos locais do mundo.
Dessas Histórias, cada vez mais próximas dos temas da realidade, mais complexas e violentas, além da sociedade estar vivendo o mundo próximo do fim da guerra fria. Os super-heróis começaram a olhar cada vez mais para si mesmos, seus problemas e conflitos, alguns sucumbindo à violência gratuita, alguns maníacos, outros até mesmo se tornando anti-heróis. Tudo isso apoiado na qualidade gráfica de novos Quadrinistas que surgiam. Iniciando assim a era de ferro, que vai de 1986 até 1994, ou a chamada era moderna dos quadrinhos. Temos aqui a Crise nas Infinitas Terras, da DC, que reorganiza o universo dos super-heróis, matando diversos personagens, sendo o mais icônico deles Barry Allen, o Flash que havia dado início a era de prata. O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, que traz um Batman de meia-idade maduro, com todo o peso de perdas 3 https://quadrinheiros.com/2015/10/13/a-historia-das-historias-em-quadrinhos-a-era-de-bronze
47
e arrependimentos, sua brutalidade em face aos vilões, os diálogos adultos e realidade dos temas tratados na história. Todas são características que ratificam o que foi a era de ferro dos quadrinhos. Outros exemplos são vilões mais agressivos surgindo, sobretudo nos traços físicos, com braços largos e veias saltadas. Nessa escalada, já na década de 90, podemos ainda destacar duas sagas da DC: A Morte do Superman, que sucumbe numa luta contra o vilão Apocalipse, mostrando as consequências de um mundo sem o herói; e em A queda do Morcego, que mostra o vilão Bane quebrando a coluna do Batman. Curiosamente ambas as sagas foram retratadas no cinema. Podemos ver a morte e ressurreição do Superman em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, de 2016 e A Liga da Justiça, em sua primeira versão, em 2017. Bem como a derrota do homem morcego é vista em Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, de 2012.
Fig. 12 - A morte do Superman e Bane quebrando a coluna do Batman. Fonte: Site Quadrinhos - Era de Ferro4.
A partir de 1994, temos a chamada era da renascença, ou pós-moderna, dos quadrinhos de super-heróis, e que perdura até os dias de hoje. Ela é marcada pela nostalgia, e traz de volta o conceito dos Super-Heróis como modelos de esperança, com tons de inocência e do clima fantástico, mas construídos numa narrativa madura e sem brutalidade. Além da reconstrução de alguns conceitos estabelecidos em outras eras. Tendo como referência principal a era de prata, os editores buscam uma releitura das histórias. 4 https://quadrinheiros.com/2018/04/05/a-historia-das-historias-em-quadrinhos-a-era-de-ferro/
48
Fig. 13 - Revistas em Quadrinhos - Superman - Reino do Amanhã e Marvel vs DC #4
Nessas eras, podemos perceber que os super-heróis sofreram diversas transformações, sejam em suas histórias, seus alter-egos, seus poderes, suas intenções, por fim, em suas jornadas. Mesmo criados há várias décadas, e por reflexos de suas épocas, sofrem até hoje a influência das constantes discussões e evoluções da sociedade. Porém, sempre mantendo seus ideais de super-heróis, das aventuras
e
da
luta
do
bem
contra
o
mal.
E assim, a partir da década de 90, temos o início da ascensão dos superheróis no cinema, com a atenção de Hollywood se voltando para revistas em quadrinhos, ou histórias em quadrinhos ou ainda simplesmente HQs. Ricas em mundos, histórias, cheias de aventura e cores. Com a incursão de sucesso, a inversão das prioridades se tornaria inevitável, inclusive pelo retorno financeiro.
2.2.2. OS SUPER-HERÓIS NAS TELAS Na década de 40, o Superman, como esperado, foi o primeiro super-herói a ter incursões fora dos quadrinhos, como um programa de rádio e animações que eram exibidas no cinema, inclusive onde ele ganharia o poder de voar. Já em 1952, As Aventuras de Superman, uma série em Live Action que contava com George Reeves no papel de Clark Kent/Superman, tem início e vai até 1959. Em 1966 é a vez de Adam West e Burt Ward estrelarem As Aventuras de Batman e Robin, uma série exibida pela ABC americana e que fez muito sucesso também aqui no Brasil. Até que em 1978, estreia Superman - O Filme, e o pulo para as telonas foi
49
dado com grande orçamento e estrelas como Gene Hackman e Marlon Brando no elenco. Coube ao então estreante Christopher Reeve o papel de protagonista, e o filme foi sucesso absoluto de crítica e de público. Ainda teríamos Superman II, III e IV, em 80, 83 e 87, respectivamente. Sendo que o único que faz relativo sucesso é o segundo filme da franquia. Ainda em 1984, Supergirl tenta expandir a franquia e traz como protagonista a prima de Kal-El (Clark Kent/Superman) como protagonista. Já em 1989, chega aos cinemas Batman, com Michael Keaton no papel de Bruce Wayne e o astro Jack Nicholson no papel de Coringa. Com a direção de Tim Burton e um tom bem diferente dos filmes do Superman, é uma nova aura para os filmes de super-heróis. Em 1990, a tentativa fracassada da Marvel de um filme do Capitão América, que tentava reproduzir os sucessos da DC. Em 1992 temos Batman - O Retorno, trazendo o vilão Pinguim, na pele de Danny DeVito, e ainda Michelle Pfeiffer como Mulher-Gato. Ainda no embalo, em 1995, temos Batman Forever, agora com Val Kilmer no papel de Batman, com Jim Carrey e Tommy Lee Jones no elenco. Ainda temos a primeira adaptação do Robin, na pele de Chris O’Donnell, nas telonas. Já em 1997, Batman teria uma última aparição no cinema na década de 90. Com George Clooney no papel do homem morcego, enfrentando Mr. Freeze e Hera Venenosa, nas peles dos astros Arnold Schwarzenegger e Uma Thurman, o filme é um fracasso em todas as esferas. Ainda na década de 90, vale ressaltar que temos produção de séries de TV do Superboy, e do Flash, que teve exibição no Brasil pela rede Globo, mas sem muito sucesso. Porém, em 1993, a rede de TV americana ABC exibe o primeiro episódio da série Lois & Clark - As novas aventuras do Superman, que tem sucesso e dura quatro temporadas, sendo exibida também no Brasil pela Globo com grande sucesso de audiência. Em 1998, temos Blade: O Caçador de Vampiros, herói do lado B da Marvel que muitos não sabiam ser proveniente do universo das revistas em quadrinhos. Wesley Snipes dá vida ao Vampiro que “anda de dia”, e caça os vampiros maus. Na tela grande, Blade foi crucial para a gênese do cinema de super-heróis como o conhecemos hoje. Sendo que o caçador de vampiros foi o primeiro sucesso significativo da Marvel nos cinemas. Já em 1999 chega aos cinemas Matrix, dirigido pelas irmãs Lilly e Lana Wachowski. Um marco no cinema por suas técnicas
50
inovadoras, como o uso da câmera lenta. Além de trazer uma história intrigante, falando do recém-chegado mundo digital, com super poderes ganhos por meio do computador, e que o herói, o “escolhido” voava no final. Ainda que não seja um filme de super-herói, tem todos os elementos necessários para. Em suma, Matrix e Blade mostraram que as técnicas, o tom, enredo e superheróis dos quadrinhos podiam realmente dar certo nos cinemas. Além de Superman e Batman, que reinavam pela DC. Assim, em 14 de Julho de 2000, chega aos cinemas X-Men, filme dirigido por Bryan Singer adaptando a história da equipe de mutantes de Charles Xavier. Lançado pela Fox Century, que havia adquirido os direitos da Marvel em 1994, o filme trazia um tom bem menos colorido dos super-heróis, mas foi um sucesso de crítica e público, que pôde ver Wolverine e Cia salvando os líderes das Nações Unidas de Magneto. Em 2002, produzido pela Sony, Homem-Aranha chega às telas dos cinemas e bate recorde de bilheteria da época para filmes de super-heróis, arrecadando cerca de 825 milhões de dólares. Além de ser um presente aos fãs de um dos mais conhecidos super-heróis, que teve sua fama aumentada pelo filme. Pois a essência e a história seguia fiel aos quadrinhos, inclusive no uniforme do herói, que era colorido. Já em 2003, temos as estreias de Demolidor, que traz Ben Affleck no papel de Matt Murdock, um advogado cego, mas que tem habilidades especiais e combate o crime a noite. Temos Hulk, lançado pela Universal Pictures, focado no drama de Bruce Banner até se tornar o gigante esmeralda e também X-Men 2, que tem uma estreia com enorme sucesso. Homem-Aranha 2 e 3 foram lançados em 2004 e 2007, e também são sucesso de bilheteria. Enquanto X-Men 3: O confronto final é lançado em 2006 e não tem tanto sucesso, encerrando por hora, a saga dos mutantes e do aracnídeo no cinema. Vale ressaltar aqui, que é em Homem-Aranha que Stan Lee, agora todo poderoso da Marvel, começa a dar as caras em participações especiais em todos os filmes, e isso se mantém até o seu falecimento em 2018. De 2005 a 2012, temos a trilogia do Cavaleiro das Trevas, dirigida por Christopher Nolan, trazendo ao cinema uma nova versão do Batman, mais forte e realista. Tendo Batman: O Cavaleiro das Trevas, de 2008, como o melhor deles e que é considerado até hoje um dos melhores filmes do gênero, consagrado com
51
indicações ao Oscar. Ainda em 2006, Superman - O Retorno, de Bryan Singer, recém saído dos filmes de X-Men, não agradou a crítica nem o público. Apesar do público para os filmes de super-heróis serem majoritariamente jovens, adaptações adultas também são feitas. Dessa maneira, em 2009, é lançado Watchmen - O Filme. Dirigido por Zack Snyder, a obra da era de ferro dos quadrinhos de Alan Moore e Dave Gibbons recebe classificação indicativa de 18 anos, pois traz a violência, vícios, traições e todas as falhas de caráter dos superheróis dos quadrinhos para as telonas. Com o universo dos quadrinhos de superheróis fazendo sucesso também nos cinemas, DC e Marvel começaram a disputar também este espaço. Dessa maneira, em 2008, a Marvel inicia seu plano audacioso de universo compartilhado, com o lançamento de Homem de Ferro, e que 4 anos depois, culminaria na reunião dos super-heróis no filme dos Os Vingadores, de 2012. Dando uma prova clara que o projeto havia dado certo, e alçando os filmes da Marvel a enormes sucessos de bilheteria, pois todos os filmes tinham histórias próprias, mas também davam mais pistas e rumos do que seria o auge dos super heróis no cinema até hoje. Reunindo 10 anos de filmes na batalha final épica pela salvação do universo em Vingadores: Ultimato, de 2019. O filme se consolidou como a segunda maior bilheteria da história, com arrecadação total de 2,797 bilhões de dólares em todo o mundo. Enquanto isso na DC, seguindo a linha mais realista do universo do Batman de Nolan, o diretor Zack Snyder constrói também uma versão mais sombria e realista para o Superman em Homem de Aço, de 2013. Mostrando a destruição da cidade enquanto dois seres extraterrestres batalham, culminando na morte do vilão pelas mãos do herói no final. Como na época, o universo Marvel já estava em execução com Os Vingadores, Homem de Ferro 3 e Thor: Mundo Sombrio, ficavam claras as diferenças de linhas de narrativas, tons, fotografia e ambientes as quais DC e Marvel estavam seguindo. Seguindo a linha da DC, em 2016, Snyder coloca frente a frente Batman e Superman, no bastante criticado Batman vs Superman: A Origem da Justiça. O filme, sobretudo no final, tinha problemas de motivação dos personagens. Diante das críticas e influenciados pelo sucesso que a Marvel fazia com seu MCU (Universo Cinematográfico Marvel, traduzido), a DC tenta deixar seus filmes menos sombrios e realistas, afetando principalmente a produção da Liga da Justiça, de 2017, que sofreu regravações e novas edições, além da troca de diretor
52
de Zack Snyder por Joss Whedon, que teve a missão de mudar o tom do filme, mas que não teve sucesso da mesma forma. Apesar do sucesso de uns e dos erros de outros, a indústria do cinema dos super-heróis não para. Depois dos filmes supracitados, tivemos muitos outros lançamentos, como exemplos temos HomemAranha: Longe de Casa e Sem Volta para Casa, de 2019 e 2021 respectivamente, Viúva Negra também em 2021 e agora, recentemente uma nova versão do homem morcego em The Batman. E tudo isso tende a continuar, vem aí o multiverso do MCU, assim como novos filmes de Aquaman, Shazam e outros heróis da DC. Mas diante dos problemas da pandemia de COVID-19, que deixou os cinemas de todo o mundo fechados por cerca de dois anos. Os gigantes do entretenimento voltaram-se para um mercado em ascensão, as plataformas de streamings. Dessa maneira, Netflix, Amazon Prime Video, HBO Max, entre outras passaram a ser destinos de muitos super-heróis, sejam novos ou velhos conhecidos, em séries e lançamentos dos filmes.
2.3. A NARRATIVA HERÓICA SERIALIZADA
Com as narrativas de Super-Heróis dominando as telas, grandes e pequenas, ditando tendências da cultura pop na última década, ao mesmo tempo, novas tecnologias surgiram e novos hábitos de consumo se criaram. Os quadrinhos se tornaram uma mina de ouro para explorar temas sociais, personagens e compartilhar universos. Com o streaming virando mainstream, o expectador virou uma criatura insaciável, precisando de cada vez mais conteúdo para consumir, numa velocidade cada vez mais rápida. Os filmes se tornaram serializados e as séries de TV cada vez mais cinematográficas. O formato de série possibilitou essa expansão e exploração de universos, aprofundamentos de personagens e longevidade de narrativas. “Afinal as séries são a narrativa do século XXI. Elas são para o nosso século o que o romance foi para o século XIX e o cinema para o século XX” (RODRIGUES, 2014, p.5).
Contamos histórias desde os homens das cavernas e através delas os mitos surgiram. Campbell afirma que foi quando nos demos conta da morte que nos
53
tornamos humanos. De lá para cá a narrativa foi se adaptando aos seus diversos ambientes, com a tecnologia avançando e possibilitando diferentes formatos. A câmera para TV só foi inventada em 1927. Levou-se muito tempo para que esse novo eletrodoméstico de fato fizesse parte dos lares, e até mesmo por parte da indústria foi considerada de menor valor e quase nenhum prestígio. Pensando que a ida ao cinema era um “evento”, o filme Cine Majestic (Frank Darabont, 2001) até brinca ao dizer que você não se arruma para assistir televisão, não põe as suas melhores roupas. E é justamente no cinema que a proposta de uma história contada de forma serializada surge e vai percorrer o caminho para ganhar a dimensão que tem hoje. Como as sessões entre os filmes eram em horas redondas, surgiu a necessidade de preencher esse espaço. Então em diferentes lugares do mundo, animações, esquetes, adaptações de folhetins e histórias de detetives ocupavam esse espaço. A TV foi ganhando seu espaço e se reinventando. Ganhou cores. Veio a tensão da guerra e o poder do audiovisual de ditar uma narrativa. “A TV aos poucos deixou de ser um aparelho doméstico da segunda onda da Revolução Industrial para se tornar o principal eletrodoméstico do lar, o maior
meio
de
divulgação
de
notícias,
alertas,
ideias
e
produtos.”(CANTORE e RUBENS PAIVA, 2021 p.26).
Até então, Jacqueline Cantore e Marcelo Rubens Paiva definem três eras de ouro da televisão, marcadas por uma guerra de domínio entre estúdios. Na primeira, iniciando nos anos 40, ABC, NBC e CBS dominam a TV aberta nos Estados Unidos, até o nascimento da Fox. As séries já dominavam horário nobre na época, pensando sempre num padrão publicitário como era no rádio, e alguns programas se destacando pela sua estranheza das tramas e pelos personagens complexos. Um exemplo é a aclamada The Twilight Zone, de Rod Serling, cujo o piloto foi escrito por Alfred Hitchcock. Na segunda Era de Ouro surge a TV a cabo e o público de nicho. A TV não está apenas na sala, se individualiza indo para os quartos. A mulher se emancipa. A TV paga tem uma censura mais branda quanto a nudez, por exemplo, do que a TV aberta. Quem não tinha TV a cabo poderia comprar ou alugar os DVD’s com todos os episódios, surgindo já um novo hábito. É dessa época Chumbo Grosso (1980) e Twin Peaks (1990). A terceira onda é marcada por séries que
54
revolucionaram o formato e pelo advento dos streams. Séries como Sopranos, Breaking Bad e Mad Man mudaram toda uma indústria com seus personagens complexos, contraditórios e moralmente duvidosos. A pioneira Netflix, responsável por mudar boa parte dos hábitos de consumo de toda uma geração, além da possibilidade de poder escolher o que quiser (produto), de onde quiser (plataforma TV, celular, Tablet) e quantas vezes quiser (consumidor), quebra o mercado ao lançar todos os episódios de uma temporada de uma só vez. Então, como dito, com o avanço da tecnologia e o aumento da velocidade da internet surgiu a possibilidade do chamado serviço on demand, sob demanda. Possibilitando assim ao usuário não mais ter de baixar o conteúdo antes de assistir. As plataformas de streaming de vídeo começaram a operar nos Estados Unidos a partir de 2006. No entanto, é somente a partir da década de 2010 que elas ganharam estrutura e adoção dos clientes, e conseguiram assim redefinir a forma pela qual muita gente consome conteúdo hoje. Segundo uma pesquisa liderada pela Finder, nosso país é o segundo maior consumidor de serviços digitais de transmissão do mundo. De acordo com os dados da pesquisa, cerca de 64,8% dos brasileiros afirmaram possuir ao menos uma assinatura de plataforma de streaming. A disputa entre essas plataformas está cada vez mais acirrada, e para um diferencial, algumas delas adquiriram os direitos de importantes títulos de superheróis. Em 2009, a Marvel foi adquirida pela Walt Disney. Logo com o lançamento do serviço Disney+, dez anos depois, em 2019, todos os títulos dos super-heróis da Marvel estão disponíveis no catálogo da plataforma. Além disso, séries originais da Marvel que fazem parte do MCU foram lançadas no Disney+. Temos Wanda Vision, Falcão e o Soldado Invernal, Loki, Gavião Arqueiro e recentemente Cavaleiro da Lua, todas dentro do universo Marvel e que inclusive a maioria conta com superheróis, e seus intérpretes, saídos dos filmes. Com isso, a Disney é um ótimo atrativo para os fãs de super-heróis e quadrinhos. Mesmo que você não saiba por onde começar, a plataforma tem nos filtros opções das fases dos filmes separadas, além também
de
uma
ordem
cronológica
para
ver
na
sequência.
A Netflix, como pioneira das plataformas de streaming, já teve em seu catálogo títulos da Marvel, com séries originais como Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage, o Justiceiro, entre outras. Além de ter séries da DC, como Flash,
55
Supergirl, Arrow, Legends of Tomorrow, tem também originais como Titãs e Gotham. Ainda possui séries de super-heróis originais como The Umbrella Academy, que retrata temas importantes como racismo, brutalidade policial, religião, drogas e temas LGBTQIA+. Netflix recebeu também recentemente a trilogia Blade da Marvel para
se
juntar
à
sua
biblioteca.
A HBO Max possui o acervo de filmes e desenhos animados da DC. Desde longas clássicos, como o primeiro Batman de 1989, até The Batman de 2022. Todos estão disponíveis na plataforma de streaming da Warner Média. Das séries atuais, podemos destacar Peacemaker, cujo personagem principal é derivado do filme O Esquadrão Suicida, de 2021. Com criação e direção de James Gunn, também diretor do filme, a trama conta com muita violência brutal, palavrões, sexo e nudez, num tom de humor crítico do anti-herói do lado B da DC. No entanto, embora exista uma variedade considerável de nomes no mercado, apenas algumas se consolidaram entre as mais populares, e, hoje, lideram os rankings de transmissão, assinaturas e rentabilidade. O que podemos prever no futuro é o crescimento e a exploração desse universo cinematográfico. Se com a jornada do herói possibilitamos entender a vida em si, que passamos por ela em diversos momentos, com o formato de séries podemos compreender melhor o ser humano e como as pessoas e suas relações mudam com o passar do tempo. Personagens que antes eram aliados, se tornam inimigos. Amadurecimento que surge e nos posicionamos de forma diferente diante de antigos dilemas, mas, como a vida é assim, novos dilemas são encontrados para amadurecermos novas partes de nós mesmos. Diferentes assuntos são possíveis de tratar numa série, ao contrário de um filme. Tendo um começo, meio e fim muito bem definidos, o personagem “resolve” as suas questões e se compara ao “felizes para sempre” dos contos de fada. Isso não acontece numa série. Além de adiar o encontro com o vilão, o amadurecer, até mesmo a morte, até um ponto crítico e inevitável para que a história continue, a promessa que é feita quando o personagem é apresentado, podem durar anos. Outra possibilidade que uma série permite é a transição de protagonismo. Podemos inclusive matar um protagonista e seguir a história com outro. A ideia de que aquele personagem está seguro porque ele é o principal e vai sair dessa já não
56
tranquiliza mais o espectador, algo que séries como House of Cards, Game of Thrones e Doctor Who trabalharam de diferentes maneiras. “Mata-se um personagem de front e se introduzem outros, quando quiser existe uma fonte inesgotável de atores, conflitos e tramas.”(MCKEE, 2017, p.56).
Da mesma maneira, séries longínquas como Criminal Minds e Grey 's Anatomy tiveram recorrentes mudanças de cast por diversos motivos, desde confusão nos bastidores a desistência dos atores. Quando as séries começaram a ganhar tamanho espaço e as grandes estrelas das telas grandes passaram a migrar para esse novo formato, houve certa resistência do cast, já que poderiam ficar anos presos a um papel, ou marcados por determinado personagem. Esse preconceito vinha da própria Hollywood que inclusive tinha o Emmy - premiação da televisão - como uma versão brega do Oscar. O cenário mudou e as séries viraram uma companhia de longos anos, e com o avanço da tecnologia, em diferentes plataformas. Percebeu-se então o poder de mais horas para contar uma história, do que as duas horas que poderiam durar um filme. Começou o intercâmbio de atores e aproveitamento de formatos. Filmes que poderiam virar séries (Missão Impossível, As Panteras) e séries que poderiam virar filmes (Breaking Bad, Sex and the City). Peças de teatro e livros que poderiam virar séries (Fleabag e Bridgerton). No Brasil, há enraizado o hábito de assistir novelas. É importante ter bem claro a diferença de formatos entre novela, seriado e séries. Para tanto, uma novela é dividida em capítulos, e uma série em episódios. Um capítulo é um pedaço de um todo, como num romance, ainda podendo haver ganchos. Por outro lado, um episódio é algo “em si”, isto é, algo que tem começo, meio e fim, mesmo que possam ter causas que lhe antecedem e consequências posteriores. Na novela, temos muitos mais cenários e personagens para caracterizar os seus núcleos; na série construímos o que Sonia Rodrigues irá chamar de “Mundo Inconfundível”. Mantendo pontos recorrentes com o “Mundo Comum'' e “Mundo Especial” definidos na Jornada do Herói, esse ambiente é coeso com a narrativa, amarrando seus personagens para que não possam sair, assim como o espectador,
57
no caso de um seriado, personagens e contexto não mudam, tendo cada episódio começo, meio e fim que não precisam ter continuidade entre si. Definindo então séries de TV:
São histórias que repetem uma mesma estrutura narrativa em episódios autocontidos, seriados. Ou são episódios em que a narrativa prossegue e não se encerra em uma única exibição, muitas vezes no formato cliffhanger (a tradução seria algo como se segurar em um gancho à beira de um abismo), isto é, uma situação limite de perigo em que um herói salva outros personagens. (CANTORE e RUBENS PAIVA, 2021, p.21)
Apenas estudar narrativas não é o suficiente para escrever séries. É preciso compreender suas particularidades. No cinema, temos a atenção do espectador por duas horas. Esse é o tempo necessário para que o protagonista enfrente suas falhas e saia dessa jornada transformado. Numa série isso levará anos. Para tanto, o que Robert Mckee vem chamar de “ideia governante” e Sonia Rodrigues de “pensata”, todos eles se baseiam em entender qual é o tema ou o princípio moral que irá guiar aquela narrativa. Não importa quantas temporadas venha a ter, a série pode até mudar de cenário, mas sua linha dorsal permanece. As convenções de beats, cenas e atos já conhecidas na dramaturgia para cinema, permanecem, mas elas são separadas em diferentes quadros, já que as séries contemplam temporadas. Novamente, o amadurecimento e/ou grande encontro são adiados ao máximo, e é aqui a grande oportunidade de explorar as diversas camadas do ser humano com o personagem. O que fascina nas séries são seus protagonistas, independente da trama. Porque as séries fascinam? Porque na maioria das vezes elas contemplam as quatro camadas de conflito - física, social, interior e de relações pessoais - de forma equilibrada e com personagens complexos. E têm tempo para expandir suas camadas. Essa possibilidade foi explorada e se fortaleceu na virada do milênio, numa era da televisão. (CANTORE e RUBENS PAIVA, 2021, p.35)
Uma série geralmente tem um caminho longo a percorrer, desde sua storyline, o que define sobre o que é a história em poucas linhas, até um roteiro propriamente dito. A prática do Showrunner e do writer 's room dão uma dinâmica de criação completamente única para as séries. Enquanto no cinema um roteiro é desenvolvido
58
e escrito de forma solitária, depois vendido e desapegado de seu criador, é o diretor quem vem empregar a sua visão sobre ele; nas séries o Showrunner geralmente é o criador e chefe da sala de roteiro. Para além disso, ele participa de todas as etapas, influencia no casting, está presente para não perder o “tom” do projeto. O roteiro de uma série é geralmente resultado do trabalho de um grupo de roteiristas, com diferentes bagagens, estilos, e visões de mundo para dar mais substância e camadas para o produto. O ego fica de fora e tudo é pensado em favor do que seria melhor para a série. Tais práticas ainda não são tão utilizadas no Brasil, algo que o país não é exceção. Poucos países têm legislação ou sindicatos fortes para representar interesses da categoria, além de não ter a tradição de um agente como intermediário na negociação e de um roteirista como o chefe artístico de toda a produção. (...) Essas diferenças, aliadas aos orçamentos cada vez maiores das séries americanas, causam cenários cada vez mais desiguais entre a qualidade das produções americanas e no resto do mundo. (CANTORE E RUBENS PAIVA, 2021, p.112).
Voltando a estrutura de uma série, apesar de listar os “Gêneros do Cinema” em seu livro “Story”, vale lembrar novamente as diferenças entre os formatos, e Cantore e Rubens Paiva citam novas definições do mesmo autor, só que dessa vez específicas para série que ele compartilhou em seu seminário sobre Gêneros:
Podemos dividir as séries em seis tipos: Antologias: Episódios únicos e fechados ligados pelo tema através da temporada (como The Twilight Zone, Black Mirror, American Crime Story, American Horror Story). Minisséries: Episódios abertos levemente serializados em uma única temporada. Em geral são baseados em fatos reais, romances ou biografias (como Chernobyl, Sharp Objects, Band of Brothers, The Night Of, Manhunt: Unabomber e Unbelievable). Séries longas, possíveis de serem reprisadas: Episódios autocontidos, que se resolvem dentro do próprio episódio, sem arcos de temporadas (como Law and Order, CSI, Bones, Elementary, House, Grey’s Anatomy e Two and a Half Men).
59
Séries com arcos de temporada: Episódios abertos ou fechados, levemente serializados e ligados por um arco maior ao longo de diferentes temporadas (como Sex and The City, Veep, The Americans, Catastrophe, Brooklyn Nine-Nine, Blacklist e Stumptown). Séries que se encerram a cada temporada: Episódios serializados cuja história termina a cada temporada (como The Killing, Homeland, Stranger Things, Mindhunter, Homecoming e 24 horas). Séries longas que não se encerram a cada temporada: Episódios levemente serializados com várias temporadas (como Mad Men, The Sopranos, Game Of Thrones, Orange Is The New Black, O homem no castelo alto, The Deuce, Treme, This Is Us, The Boys, Breaking Bad e Boardwalk Empire). (CANTORE e RUBENS PAIVA, 2021, p. 84-85)
Sendo uma história serializada ou um episódio autocontido, uma série precisa ter seu gênero bem definido. Tratando-se aqui de gêneros narrativos, eles são ferramentas de antecipar, e consequentemente, concretizar expectativas do público.
Cada gênero impõe convenções no design da estória: cargas de valores convencionais no clímax” (MCKEE, 2017, p.93).
Sonia Rodrigues vai chamar isso de categorizar uma série e enfatiza a importância de tê-la bem definida, já que esses elementos pré-estabelecidos pelo gênero irão delinear a trama e posteriormente, impacta em como a série será vendida. Uma policial que apanha do marido, tem conflitos com os filhos, vem de uma família de comportamentos abusivos não será necessariamente uma boa protagonista de um drama policial. Essa personagem pode estar mais para um drama familiar. (RODRIGUES, 2019, p.214).
No exemplo, não é porque a profissão da personagem é policial que a série será policial. “O que vai definir categoria da série é o problema que o protagonista enfrenta” (CANTORE E RUBENS PAIVA, 2021, p.14).
60
Esses padrões que foram observados desde Aristóteles e aprimorados com o passar do tempo, os quatro gêneros básicos (Trágico Simples, Trágico Complexo, Cômico Simples e Cômico Complexo) chegaram a 25 diferentes gêneros e subgêneros classificados por Mckee. Estórias refletem sua sociedade e o indivíduo, e com o passar do tempo, além de sistemas que evoluíram com a prática, eles podem se fundir e mudar de acordo com diversidade de assuntos, ambientes, papeis, eventos e valores. São eles:
1. Estórias de amor 2. Filme de terror 3. Épico moderno 4. Faroeste 5. Filme de guerra 6. Trama de maturação 7. Trama de redenção 8. Trama de punição 9. Trama de provação 10. Trama de educação 11. Trama de desilusão 12. Comédia 13. Crime 14. Drama social 15. Ação/Aventura 16. Drama histórico 17. Biografia 18. Docudrama 19. Mockumentary 20. Musical 21. Ficção científica 22. Filmes esportivos 23. Fantasia 24. Animação 25. Filme de arte
61
Dentro de cada um deles é possível uma série de variações e combinações. De qualquer forma, o espectador de determinado gênero é um exímio conhecedor com extenso repertório. Fica a cargo do(s) roteirista(s) satisfazer a expectativa criada e ainda trazer elementos novos. Tais convenções mudam e evoluem junto com as mudanças da sociedade. “Pois os gêneros são meras janelas para a realidade, várias maneiras para o roteirista olhar a vida” (MCKEE, 2017, p.98).
Aqui vamos nos ater ao item 13
13. Crime. Subgêneros variam primordialmente de acordo com a resposta para a seguinte pergunta: de qual ponto de vista enxergamos o crime? Mistério de Assassinato (PV do detetive-chefe); Caper (PV do chefão do crime); Detetive (PV do policial); Gângster (PV do mafioso); Thriller ou conto de vingança (PV da vítima); Tribunal (PV do advogado); Jornalístico (PV do reporter); Espionagem (PV do espião); Drama de Prisão (PV do prisioneiro); Filme Noir (PV de um protagonista que pode ser parte criminoso, parte detetive e parte vítima de uma femme fatale). (MCKEE, 2017, p.89).
Categorizar uma série e lhe atribuir um gênero é um desafio. Como dito, é possível uma série ter diferentes variações e combinações. A série Hannibal (NBC 3 temporadas), por exemplo, é classificada como terror psicológico, thriller psicológico, drama policial e thriller criminal. De qualquer forma, o gênero crime gira em torno de um ou mais assassinatos, a busca pela verdade ou prêmio, e a força da lei para punir o(s) culpado(s). Para melhor compreensão, também podemos observar e combinar características estabelecendo-as da seguinte maneira:
- Perícia: Peritos usando apenas elementos de cenas de crimes ou análise de corpos para pegar os culpados. NCIS, CSI.
62
- Psiquê Criminosa: Geralmente envolve a BAU (Behavioral Analysis Unit), ou Unidade de Análise Comportamental que é um departamento do Centro Nacional de Análise de Crimes Violentos
do
Federal
Bureau
of
Investigation
(FBI),
que
usa
analistas
comportamentais para auxiliar nas investigações criminais. Soluciona-se crimes com base na psique dos criminosos. Criminal Minds, MindHunter.
- Psicopatas: Seguindo a linha do anti-herói, nessas histórias sabemos que os (as) protagonistas não são boas pessoas. Geralmente são muito carismáticos e o fato de matarem pessoas é compensado por algo que eles nos dão em troca. Dexter, que poderia ser uma série de perícia, é muito mais sobre ele fazer o favor de matar pessoas que ele sabe que são culpadas, mas saem impunes pela falha justiça. Dexter, Killing Eve.
- Os bandidos são os heróis: Vemos os bandidos executando os crimes e torcemos fervorosamente por eles. A polícia não pode pegá-los. Fazem jogos com a força da lei para mostrar que estão acima dela. La Casa de Papel, The Blacklist. Não policiais que ajudam a polícia. Personagens protagonistas que não são oficialmente policiais, mas se associam a um detetive ou algo semelhante e passam a ajudar a solucionar crimes. Castle, Lúcifer.
- Detetive: O mais clássico e conhecido. Um cruel crime, geralmente envolvendo assassinatos, faz com que um atormentado detetive precise lidar com seus próprios demônios e encontrar o assassino. The Sinner, Mare of Easttown.
- Super Detetives: O poder de dedução e análise do detetive beira ao místico e sobrenatural. Sherlock, The Mentalist.
63
- Interrogatório: Explora o jogo de fazer o suspeito confessar ou falar o que sabe. Seu foco não é a perseguição correndo nas ruas atrás do suspeito, ou troca de balas, mas técnicas
de
interrogatório,
pressionar
e
persuadir.
Lie
To
Me,
Criminal.
- Conspiração: Não entra necessariamente a polícia, ou um detetive que investiga algo, mas vítimas de uma conspiração que precisam investigar e combater perigosas instituições para salvar a própria vida. Geralmente possuem elementos de ficção científica. Sense8, Orphan Black. O Noir, último subgênero citado na classificação do Mckee, segue sendo controverso onde alguns autores o terão enquanto gênero, e outros enquanto estilo que definem elementos estéticos. Mesmo sem uma definição concreta, de qualquer forma, a pluralidade de seus arquétipos serve às narrativas que cada vez mais possuem personagens complexos e de moral dúbia, ao lado sombria que a vida tem e que a reconhecemos quando vemos na tela.
2.4. NOIR
Tendo em vista o suspense que envolve os personagens e seus passados em Projeto Serena, buscamos referências no noir e neo-noir para contar suas estórias visualmente. O estilo se encaixa perfeitamente ao universo da série devido aos arquétipos presentes neste subgênero e também devido às possibilidades criativas que abrange. Serena por exemplo é uma personagem que em determinados pontos da estória tem acessos de raiva dos quais alteram seu modo de agir, a deixando em um estado de delírio e do qual buscaremos explorar na fotografia, seja criando um ambiente que represente esse estado, seja pela escolha de ângulos que causem desconforto e desorientação.
2.4.1. DA ORIGEM AO NOVO NOIR
Neo-noir é como são chamadas as obras mais recentes que referenciam o estilo noir do qual teve seu período clássico de 1941 a 1958. A palavra “neo” vem do
64
grego “néos”, que significa “novo” e noir vem do francês e significa “negro”, devido a forma como estórias noir são sombrias, tanto nos temas em que aborda quanto como se apresenta na imagem e som. O termo “film noir” tem origem nas escolas de cinema francesas, onde a cultura americana tinha forte expressão, sendo algo que deriva da literatura de ficção policial de autores como Dashiell Hammett, Raymond Chandler, James M. Cain, David Goodis e Comell Woolrich, da literatura naturalista de escritores como Émile Zola e Emest Heminway em seus diálogos e na parte artística, do expressionismo alemão. Suas estórias geralmente giram em torno de suspense, crime e investigação devido à forte influência da literatura policial americana de sua origem, porém não se limitando a isso. Tendo suas primeiras aparições em filmes como “O Falcão Maltês: Relíquia Macabra” (1941), “Casablanca” (1942) e “A Mulher Desconhecida” (1944) é notório como o filme noir reflete o seu tempo. Se na década de 40 se popularizou em um período pós guerra e depressão econômica, ou seja, em um período histórico onde o pessimismo e desesperança pairavam, as suas estórias refletiam em personagens pessimistas e anti-heróis, mostrando um mundo trágico, sombrio e melancólico. Posteriormente, na década de 50 explorando temas como espionagem e desconfiança devido à guerra fria e ameaça comunista. Na década de 60 há discussões sobre ter sido o fim do filme noir, entretanto após seu período clássico marcado pelo preto e branco, obras com tais características visuais e narrativas continuaram a ser produzidas com maior definição e cores como “Taxi Driver” (1976), “Blade Runner” (1982), “Seven” (1995), “Sin City” (2005), “O Abutre” (2014) e na década atual com “The Batman” (2022).
65
Fig. 14 - The Batman - Matt Reeves
O termo noir não era utilizado pela grande imprensa até a década de 80, contudo após o surgimento de estudos aprofundados sobre o tema como “Film Noir, An Encyclopedic Reference to the American Style” de 1979 e desenvolvimento de um cenário “neo-noir”, termo este criado por Todd Erickson, onde a palavra “noir” passa a ser encontrada até em blockbusters como em “O Exterminador do Futuro” (1984), o noir passa a ser reconhecido e citado também como um gênero pela imprensa, sendo as obras noir a partir da década de 80 chamadas de neo-noir.
Fig. 15- The terminator - James Cameron
66
Fig. 16 - Blade Runner 2049 - Denis Villeneuve
2.4.2. FOTOGRAFIA NOIR - ENTRE A LUZ E SOMBRA
Não há consenso entre os especialistas se noir se trata de um gênero ou somente um estilo, contudo, alguns elementos se mostram recorrentes nesse tipo de estória. Os temas do filme noir são acentuados na fotografia com uma atmosfera sombria, onde é explorado o alto contraste de luz e sombra ao estilo chiaroscuro, o desenho das sombras incidindo sobre os personagens e objetos, silhuetas e luz dura, onde muito é
escondido, subentendido e apresentado com maior
dramaticidade, tendo então grande influência do expressionismo alemão. Além disso, outra característica presente no noir é contar sua narrativa utilizando de enquadramentos incomuns, propositalmente tortos, vistos de cima (plongée) ou de baixo (contra plongée), causando desconforto, sensação de superioridade de determinado personagem sobre outro ou, em determinados momentos utilizando de estratégias visuais em sua composição para criar imagens quase oníricas como em “A Dama de Shanghai de Orson Welles.
67
Fig. 17 - The Lady from Shanghai - Orson Welles
Fig. 18 - Seven - David Fincher
Fig. 19 - Sin City - Frank Miller e Robert Rodriguez
68
Fig. 20 - Unsuspected - Michael Curtiz
Fig. 21 - The Third Man - Carol Reed
Esse contraste de luz e sombra marca a ambiguidade dos personagens, pautada nos dramas e conflitos com seus passados e decisões conforme descrevem Alain Silver e James Ursini Paul Duncan no livro “Film Noir”: “Os protagonistas dos filmes negros, raramente são criaturas da luz. Estão geralmente a tentar fugir de algum fardo do passado, às vezes um incidente traumático do passado (como em Desvio ou A Sede do Mal) outras vezes um crime que cometeram por paixão (como em O Arrependido, Dupla Traição e Pagos a Dobrar). De vez em quando estão simplesmente a fugir dos seus próprios demónios criados por eventos ambíguos enterrados no passado, como em Matar ou Não Matar. Qualquer que seja a origem do problema, estes personagens procuram esconder-se nos becos escuros e em quartos mal iluminados que proliferam no mundo do noir. O passado para um protagonista deste gênero de filmes não é um fantasma inconsistente. É real, tangível e ameaçador”. James, 2012, p.15).
(SILVER Alain; URSINI
69
2.4.3. ARQUÉTIPOS DO NOIR
Entre os personagens-tipo do noir, alguns são presentes na maioria das obras, tendo suas exceções de acordo com a estória a ser contada. São estes: O que procura a verdade. Este arquétipo não necessariamente precisa ser um detetive, do qual é constantemente associado no imaginário popular como um ícone noir, mas sim alguém que busque a verdade independente dos meios, criando assim margem para explorar a ambiguidade do ser humano e o peso de suas decisões. Este personagem tende a ser masculino e geralmente está a serviço público, mas podendo ser também jornalistas, secretárias ou até alguém com amnésia em busca de respostas pelo seu passado como em “Rua da Sorte” (1942). O perseguido. Personagem geralmente masculino do qual é perseguido do início ao fim, oriundo do existencialismo e fatalismo, este personagem tende a não aceitar a forma como seu propósito de vida é imposto, clamando por liberdade e muitas vezes se tornando um personagem rebelde, este acredita que pode criar sentido para sua própria existência e escapar do pesadelo que o persegue. A Femme Fatale. Personagem feminina sedutora e misteriosa, da qual costuma fazer par com o protagonista. Esta surge como uma figura castradora que busca algo do qual leva o protagonista a uma situação fatal ou auto-destrutiva, muitas vezes o seduzindo para isso, além de que para chegar a seus objetivos, costuma ter tanta capacidade para matar quanto os homens.
Fig. 22 - The killers - Robert Siodmak
70
Fig. 23 - The Lady From Shanghai - Orson Welles
Fig. 24 - The Big Sleep - Howard Hawks
2.5. A MEMÓRIA DA 53R3N4
53R3N4 como fruto de um experimento científico, ou seja uma cobaia, acaba sofrendo com alguns efeitos colaterais, devido aos testes de soro no qual ela foi submetida. Tais efeitos trazem a ela, questões psíquicas, que são resultado de tudo o que ela sofreu e vivenciou. 53R3N4 sofre com perdas frequentes de memória resultantes de perdas neurais devido ao uso do soro e por traumas sofridos, algo extremamente comum em pessoas que foram expostas a fortes emoções, violências físicas e psíquicas extremas. No texto abaixo estão alguns detalhes e estudos que salientam como tais condições surgem e como funcionam.
71
2.5.1. O QUE É A MEMÓRIA? E COMO ELA FUNCIONA?
Como aprendemos e formamos memórias? Quando lembramos de algo como uma viagem, podemos reviver detalhes que nos dão impressão de que temos um filme gravado em nosso cérebro, mas não temos um neurônio de memória ou uma célula que sirva para guardar tais informações. Aprendemos e criamos memórias através de ligações, quando assistimos um filme por exemplo o nosso cérebro cria conexões entre as informações que já temos, ou seja, nosso cérebro busca por referências. Nessa hora dois neurônios estão criando uma nova conexão: a sinapse, essa ligação é temporária e forma a memória de curto prazo que se não for usada reforçada de novo, será perdida, por isso lembramos com toda clareza um número de telefone depois de repetir ele várias vezes, mas podemos facilmente esquecê-los minutos depois. O nosso cérebro esqueceu de transformar essa memória de curto prazo em algo permanente, que a permanência da memória é chamada pelos cientistas de: Consolidação. É necessário que uma parte do cérebro chamada hipocampo seja utilizada para que tais memórias sejam constantemente lembradas e visitadas. Pessoas com danos no hipocampo podem sofrer de Amnésia Anterógrada, que basicamente pessoas com tais condições mantêm memórias antigas que já formaram, mas são incapazes de forma novas, como retratado nos filme Amnésia (2000) e Como Se Fosse a Primeira Vez (2004). Os personagens ainda eram capazes de aprender coisas novas, mas não sabiam que tinha aprendido porque era apagado completamente tudo aquilo que tinha acontecido. A cada 30 minutos o que o hipocampo faz não é gravar uma cena como se fosse um HD de um computador, na verdade, ele liga as regiões da parte mais desenvolvida do nosso cérebro o Neocórtex que precisam ser associadas aquela memória, e grande parte desse processo acontece durante o sono. Dormir é essencial para aprendermos algo e a falta de sono explica porque nós esquecemos a matéria que passamos a noite em claro decorando para uma prova. O uso do álcool quando atua no hipocampo dificulta a formação de memórias, daí a amnésia quando se bebe demais, a criação dessas novas sinapses é reforçada quando há uma recompensa ou uma emoção forte envolvida. Por exemplo: lembrar daquela viagem que você fez não está gravada, ela é um conjunto de sensações
72
que você desperta de sons imagens que são recriados no cérebro. Toda vez que você pensa nela lembramos de algo ou recontamos uma história, acrescentamos novas informações e uma memória antiga. Mas é possível que tais memórias sejam modificadas ou manipuladas por terceiros, como um estudo sobre memórias associadas ao assassinato do primeiro-ministro sueco Olof Palme mostrou. Voluntários foram entrevistados duas vezes: a primeira em 1986 e a segunda em 1987.Concluiu-se que a perda de informação durante um ano contradiz a noção de que as memórias persistem em absoluta precisão ao longo do tempo. Em vez disso, essas memórias
parecem
ser
reconstruções baseadas
em
resíduos das
circunstâncias concomitantes com o evento específico.
Uma grande questão feita neste estudo foi se um tipo de lembrança de flashbulb é uma memória central que persiste ao longo do tempo, ou melhor, uma reconstrução baseada em resíduos das circunstâncias do evento flashbulb. Hipotetizou-se que, se as lembranças dos sujeitos de como eles foram informados da notícia da morte de Palme devem ser consideradas memórias de flash como são definidas por Brown e Kulik (1977), pode-se esperar que os sujeitos se lembrem de detalhes idênticos das circunstâncias em ambos os testes. ocasiões. Ou seja, memórias flash consistentes e precisas são aqui definidas em termos de uma diferença não significativa entre as respostas de recordação em um teste de 1986 e um teste repetido em 1987. detalhes) do evento principal e reconstruir uma concepção narrativa a partir dessa memória central. Se a última hipótese for verdadeira, então as memórias flashbulb são muito comparáveis a outras memórias autobiográficas mais privadas (ver Rubin, 1982; Rubin & Kozin, 1984), e também a informações detalhadas centrais bem preservadas encontradas em estudos de indução laboratorial. eventos emocionalmente traumáticos (por exemplo, Christianson, 1984; Christianson & Loftus, 1987, 1988).
Esquecer faz parte do processo de aprender é fundamental para mantermos apenas associações importantes que voltam a ser usadas, o que tem algum valor. Dito isso, falarei melhor sobre a perda de memória e como ela funciona.
73
2.5.2. PERDA DE MEMÓRIA
As quatro principais causas mais comuns de perda de memória são: Perda de memória associada ao envelhecimento, o comprometimento cognitivo leve, a depressão e a demência. A perda de memória associada ao envelhecimento, costuma acontecer de forma gradual com a idade, o que é extremamente comum no ser humano, e não necessariamente está associada à demência, pois há um atrofiamento cerebral que acontece naturalmente com o passar dos anos. O que causa a perda de memória de pequenas causas, como esquecimento de nomes, endereços e onde foi guardado objeto X ou Y mas que pode ser relembrado com não muito esforço. Há uma certa dificuldade do indivíduo com tais condições em aprender coisas novas, a guardar novas memórias, devido ao já citado anteriormente, atrofiamento cerebral que vem com a idade. O comprometimento cognitivo leve é uma condição que causa uma perda real de memória no indivíduo com tais condições, como a perda de memória recente. Esse estágio antecede o quadro inicial de demência, que pode ter acompanhamento médico para retardar os sintomas efetivos da demência. Os sintomas de tal condição é o esquecimento de novas memórias, mas se mantém viva memórias antigas, e os indivíduos com este problema, podem viver de forma normal, pois apesar de suas dificuldades de aprendizados recentes, funções como linguagem, saber como andar, ou falar são, características que se mantém mesmo com essa condição. A depressão é um problema que também está associado a perdas de memórias, pois há uma descompensação cerebral onde o indivíduo tem um distúrbio de humor grave. E dentro do quadro de depressão ocorre o esquecimento de forma gradativa. Por fim a demência é a atrofiação dos hipocampos do cérebro que é onde ocorrem as manifestações de memória no nosso cérebro. Ou seja, é onde nossas memórias são “armazenadas”. Tal condição faz com que o indivíduo que a tenha, sofra com perda de memória gradativa e progressiva, onde acontece também uma mudança de comportamento, onde o indivíduo já não sabe como se comportar ou viver em espaços em que antes ele sabia.
74
2.5.3. PERDA DE MEMÓRIA POR TRAUMAS
As implicações de perda de memória por trauma estão relacionadas a um distúrbio caracterizado pela dificuldade em se recuperar depois de vivenciar ou testemunhar um acontecimento assustador. A condição pode durar meses ou anos, com gatilhos que podem trazer de volta memórias do trauma acompanhadas por intensas reações emocionais e físicas. Entre os sintomas estão pesadelos ou lembranças repentinas (flashbacks), fuga de situações que relembrem o trauma, reações exageradas a estímulos, ansiedade e humor deprimido. Estudos como o Trauma: o avesso da memória Maria Manuela Assunção Moreno e Nelson Ernesto Coelho Junior nos mostram como isso é possível. ‘’A memória, portanto, está na ordem da substituição, pouco guarda da percepção e do evento original. A noção de impressão, ou signo de percepção, alude à origem da memória, ao primeiro momento de elaboração mnemônico. As impressões são marcas de um processo energético, mas não podem produzir uma lembrança do acontecimento. Consideramos que o traumático deixa suas marcas sob a forma de impressões traumáticas, sinais de um processo energético aos quais uma qualidade psíquica rudimentar vem se ligar. O casal Botella afirma que: “Se há memória na neurose traumática, ela só é concebida enquanto memória sensorial, ou traço perceptivo, não tendo alcançado a qualidade de representação do traço mnésico” (2002, p.166). Retomando a concepção de Freud, os autores frisam outra distinção fundamental: o ‘tornar-se consciente’, no sentido de acesso à consciência dos ‘traços perceptivos’ desprovidos da qualidade de representação, se dá sob uma forma quase alucinatória próxima da dinâmica da neurose traumática, por meio do enlace da imagem e não da representação-palavra.
Sendo assim, é possível afirmar que as experiências traumáticas de um indivíduo são tão fortes que essas memórias se escondem no nosso cérebro, tornando as dificuldades de acessá-las. Mas que essas memórias suprimidas podem causar uma série de problemas psicológicos graves, desde ansiedade e depressão a desordens de estresse pós-traumático ou dissociativas. Como explica a Jelena Radulovic, professora da Universidade Northwestern:
75
“Segundo os pesquisadores, os caminhos para a formação de memórias em geral dependem da ação de dois aminoácidos específicos nos nossos cérebros, chamados glutamato e GABA, que conduzem nossas marés emocionais controlando se nossas células nervosas estão excitadas ou inibidas. Sob condições normais, este sistema está em equilíbrio, mas quando estamos vigilantes, a concentração de glutamato aumenta. Isto faz com que o aminoácido seja o principal composto que ajuda a guardar as memórias em circuitos cerebrais de forma que elas sejam facilmente lembradas. O GABA, por sua vez, nos acalma e ajuda a dormir, bloqueando a ação do glutamato. Mas existem dois tipos de receptores de GABA em nossos cérebros. Um deles, conhecido como receptor sináptico de GABA, trabalha em conjunto com os receptores de glutamato para balancear a resposta do cérebro a eventos externos, estressantes ou não. Já o outro tipo, os chamados receptores extrassinápticos de GABA, funciona como agentes independentes, ignorando o glutamato e se focando em aspectos internos, ajustando as ondas cerebrais, e os estados mentais, de acordo com os níveis de diversos compostos químicos presentes no cérebro, como o próprio GABA, hormônios sexuais e outras proteínas. Assim, são os receptores extrassinápticos de GABA que alteram o estado anímico de nossos cérebros, fazendo com que nos sintamos excitados, sonolentos, alertas, sedados, inebriados ou mesmo psicóticos. E o experimento mostrou que também são estes receptores os que ajudam a codificar as memórias de eventos traumáticos e guardá-las escondidas da mente consciente. O cérebro funciona em diferentes estados, como um rádio que opera nas frequências AM e FM – compara Jelena. - É como se o cérebro normalmente estivesse sintonizado nas frequências FM para acessar as memórias, mas precisa mudar para as estações AM para ter acesso às lembranças do subconsciente. Se um episódio traumático acontece quando os receptores extrassinápticos de GABA estão ativos, a memória deste evento não pode ser acessada a não ser que estes receptores sejam novamente ativados, sintonizando o cérebro nas estações AM. No experimento, os pesquisadores encheram o hipocampo, região do cérebro apontada como responsável pela formação de memórias, dos camundongos com gaboxadol, uma droga que estimula os receptores extrassinápticos de GABA. Os animais foram então postos em uma caixa onde receberam um breve e moderado
76
choque elétrico. No dia seguinte, os cientistas colocaram os camundongos na mesma caixa e eles não exibiram qualquer sinal de medo. Mas, quando administraram a droga novamente, os animais pararam de se mover, temendo um novo choque. Segundo os pesquisadores, quando os receptores extrassinápticos de GABA foram ativados pela droga, eles mudaram o caminho em que a memória do evento estressante foi codificada, tanto com relação aos circuitos cerebrais quanto no nível molecular.” (2017) E por fim, podemos analisar através dos estudos citados nos textos acima e ter uma noção de como funciona a mente da 53R3N4, como funcionam essas substâncias no corpo e quais danos foram causados a ela. A seguir você pode entender como foi idealizado o conceito da série e como tudo se conversa.
77
3. DA SÉRIE
78
3.1. PÚBLICO ALVO
A série é voltada para adultos na faixa de idade de 25 a 30 anos, que gostem de séries e filmes de investigação criminal e super-heróis. Sobretudo histórias com clima soturno, detetivescas, isto é, seguindo pistas e deduções; e também de superheróis com histórias civis. A faixa etária escolhida se dá pela característica da série, que pode exigir do telespectador um certo nível intelectual e também uma certa maturidade de experiências de vida o qual já o fazem saber qual conteúdo gosta realmente de consumir, bem como que tenha crescido e goste de super-heróis. Além disso, a trama pode conter alguns temas que podem ser sensíveis aos mais jovens. Em categorização MARVEL ou DC, as duas grandes editoras/produtoras de super-heróis dos dias de hoje, podemos afirmar que a série tem mais a Marvel como referência, pois os super-heróis desse universo são mais próximos das pessoas comuns, ou seja, tem problemas pessoais, sociais e morais. Os ambientes em que vivem são lugares que realmente existem, como Nova Iorque e São Francisco. Podemos destacar aqui algumas referências como: Homem-Aranha, um jovem do Queens; ou Jessica Jones, Luke Cage e o Demolidor, todos super-heróis que lidam com problemas civis, além de terem os seus próprios, morando em diferentes bairros da cidade de Nova Iorque. Em relação às séries de investigação, temos: NCIS e CSI, que são de perícia criminal; Dexter, que traz a visão do próprio psicopata; Bom dia Verônica, série cujo o detetive é o protagonista; The BlackList, cujo o ladrão acaba virando o herói. Todos estes exemplos abordam investigações criminais com suas peculiaridades, visões e que exigem do público, o já mencionado, nível intelectual para acompanhar as pistas e seguir as deduções dos protagonistas. Com o clima mais soturno poderíamos citar o famoso seriado dos anos 90, Arquivo X, além de Sherlock, série categorizada como de super detetive, protagonizada por Benedict Cumberbatch, no papel do detetive mais famoso dos livros de Sir Arthur Conan Doyle.
79
3.2. PLATAFORMAS DE VEICULAÇÃO/ DISTRIBUIÇÃO:
A veiculação da série será feita principalmente para canais de TV por assinatura e também plataformas de streaming. Isso se dá pelo gênero, formato, conteúdo e tamanho padrão dos episódios da produção terem sido pensados com as características para estes veículos. Dessa maneira, canais como Universal Channel, Sony e AXN que contém em sua programação séries longevas de gênero policial e investigação criminal são possíveis canais para nossa série. Ao passo que canais como Warner e HBO contém séries de super-heróis, sobretudo do universo da DC, como Flash, Arrow e Legends of Tomorrow que também se encaixam nos moldes da nossa série. Além disso, temos os streamings em alta nos dias de hoje, alguns exemplos como HBO Max e Netflix que mantém em seus catálogos séries de super-heróis e de investigação criminal. Ainda temos o Disney+, com conteúdos exclusivos e originais dos super-heróis do universo Marvel. O que corrobora tanto como justificativa para a produção da série, quanto para a viabilidade de veiculação pela quantidade de plataformas possíveis. O tamanho dos episódios, de aproximadamente 50 minutos, e a quantidade de 7 episódios por temporada estão de acordo com as séries destes gêneros nas plataformas. Como exemplo temos: Cavaleiro da Lua (Disney+), Falcão e Soldado Invernal (Disney+), The Sinner (Netflix) e Mare of Easttown(HBO Max). Com diversas plataformas disponíveis, podemos fazer aqui uma conexão com o público-alvo escolhido, pois mais uma vez ele é ratificado, haja vista que ele deve possuir um certo nível de poder aquisitivo, pela necessidade de se adquirir um ou mais serviços de assinatura mensais para o consumo dos conteúdos.
3.3. CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
A classificação indicativa inicial da série será de 14 anos, podendo ser alterada para uma maior classificação após o período de produção e pós-produção da mesma.
80
3.4. OBJETIVOS
OBJETIVO PROTAGONISTA:
Criação e desenvolvimento de uma série de TV e produção do episódio piloto.
OBJETIVO COADJUVANTE: •
Fazer parte das narrativas que contribuem para o detrimento do patriarcado e da sociedade androcêntrica que vivemos;
•
Criar uma heroína brasileira;
•
Valorizar o produto nacional e pôr em evidência a cidade de São Paulo como cenário.
3.5. JUSTIFICATIVA:
Na última década, o cinema e a cultura pop reinventaram e redefiniram as histórias de heróis, sejam eles deuses, mutantes, magos ou super soldados. Alimentando-se principalmente das histórias em quadrinhos, os temas sociais se alinham às tramas, resultando em poderosos roteiros nas telas de cinema, dando pauta para questões de gênero e racial, por exemplo. Nesse período também as personagens femininas ganharam novas esferas. É o caso de “Viúva Negra”, personagem vivida por Scarlett Johansson que tem sua primeira aparição no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) em 2010 no filme “Homem de Ferro 2” (Jon Fraveau). Natasha Romanoff vai ganhando camadas, tornando-se menos sexualizada, até ganhar seu próprio filme em 2021. Quando temos um tipo de narrativa em que geralmente o protagonista é do sexo masculino, apenas mudar o gênero desse personagem para atender à uma demanda social não é o suficiente. Todo esse caminho de compreender a “questão da mulher” é necessário, pois não importará se ela é uma alienígena, mutante, chefe de máfia, delegada, detetive ou CEO. O fato dela ser mulher implica numa série de questões com ela mesma e o ambiente que a cerca, pois “não se nasce mulher, torna-se mulher”. 5.000 anos de história da humanidade pautada nos valores
81
masculinos, sendo essa a régua do mundo onde o feminino não se reconhece e não tem seu espaço. “Nos últimos 5 mil anos, a cultura tem sido definida em grande parte por homens que têm uma abordagem da vida orientada para a produção, o poder e a dominação. O respeito pela vida, pelos limites, pelos ciclos e pelos filhos da natureza não é uma prioridade” (MURDOCK, 2022, p. 102103).
Um grande exemplo de mudança de paradigmas ao se colocar uma personagem feminina à luz de personagens que geralmente são masculinos é Mare of Easttown, minissérie da HBO protagonizada por Kate Winslet. Mare é uma detetive de um pequena cidade que investiga um assassinato local enquanto sua vida desmorona. Já vimos esse detetive várias vezes, como por exemplo, o Detetive Harry Ambrose da série The Sinner. Investigar o crime e lidar com seus próprios demônios. Porém Mare é feminina sem em nada ser a femme fatale. Seus problemas são domésticos, sua relação com a mãe, a filha, seu ex-marido. A fuga da dor do luto. Em situações extremas ela age com generosa empatia, como quando arremessam um tijolo quebrando a sua janela, ela não se revolta ou vai buscar satisfação. “O que é isso?”, perguntam para ela segurando o tijolo na mão. “É alguém com medo”. Até mesmo para o desfecho, quando ela soluciona o crime e vai para prender o assassino, não há a violência gloriosa que o gênero costuma ter. Ela conhece a pessoa e pede para entrar sozinha no local. Esse acolhimento e empatia, mas ainda sem perder o senso de justiça, é algo que só o feminino pode oferecer. Personagens assim são geralmente chamadas pela crítica de “mulheres fortes”, mas são apenas personagens femininas bem desenvolvidas. Kate Winslet levou o Emmy em 2021 de melhor atriz principal em minissérie, e seus colegas Evan Peters e Julianne Nicholson por melhor ator e atriz coadjuvantes, respectivamente por suas atuações na série. Na série Jessica Jones (Netflix 2015-2019 | 3 temporadas), Super-Heroína dos quadrinhos da Marvel que ganhou sua própria série em 2015, sua força sobrehumana de alguma forma metaforiza a carga feminina na sociedade em que vivemos. Buscando outra referência, mas num gênero e formato completamente diferente, o filme “Encanto” (2021, de Byron Howard e Jared Bush) da Disney conta a história da mágica família Madrigal. Cada integrante da família recebe um dom, e o
82
de Luísa Madrigal, irmã mais velha da protagonista, é a super força. Porém, mais uma vez, e dessa vez de forma mais didática, a super força é usada para retratar a sobrecarga. feminina. A pressão de ter que ser forte o tempo todo. Isso faz com que as pessoas acreditem que você aguenta qualquer coisa. E se você deixa de ser forte, se sente inútil. Precisa estar presente, disponível, além de que mulheres são incentivadas a não ter limites. “Não questiono se é pesado, o meu corpo suporta o fardo”, ela canta. Na trama, a fonte do poder da família Madrigal está misteriosamente se esvaindo, e com isso a casa está a cair e os membros da família a perder seus poderes. Luísa sente que não há lugar no mundo pra ela sem o seu poder. E como há outros que dependem dele, mesmo que ela se canse ou não esteja motivada, não irá dizer não. Trazendo esse contexto para o produto desenvolvido, Serena, a protagonista, possui super força, mas ainda é capaz de se machucar. E quando se machuca, dói da mesma maneira. Seu corpo é capaz de se regenerar sem cicatriz. Não é porque ela aguenta muito peso e é capaz de se reconstruir que ela não sinta. Seu super poder não a isenta da dor. Aqui a metáfora é construída de forma a simbolizar, novamente, o fardo da mulher que precisa ser Super-Heroína num mundo onde ela nunca é o suficiente e sempre a auxiliar. A conspiração na qual resultou Serena, é formada de uma aliança de uma poderosa multinacional farmacêutica com a Polícia Federal. Instituições que deveriam cuidar e proteger são a ameaça. Serena é fruto do projeto mais ousado da Corporação Healer, que nos seus primeiros anos viu que os espécimes do sexo masculino sumcumbiam ao soro, ou aos seus efeitos colaterais, enquanto os espécimes do sexo feminino resistiam apesar deles. Paralelamente temos os anticoncepcionais em que as mulheres precisam lidar com seus efeitos colaterais, desde
acne,
depressão,
alterações
de
humor
e
risco
de
trombose.
A proposta da Jornada da Heroína de Maureen Murdock não é uma negação do masculino. É a compreensão do feminino ferido, a cura dele, para então andar em equilíbrio ao masculino. Contar histórias é a nossa forma tão humana de transmitir valores de uma sociedade de uma geração para a outra, de metaforizar os desafios da vida e nos dar a força e o incentivo necessário para vencer nossas batalhas pessoais. Quanto mais o feminino puder se mostrar, ser compreendido e
83
debatido, o mundo pode se tornar um lugar menos hostil e mais acolhedor, principalmente com as mulheres.
3.6. DA HISTÓRIA
3.6.1. STORYLINE DA SÉRIE:
Em São Paulo, uma mulher ganha poderes especiais, mas perde a memória. Agora ela investiga o seu passado enquanto descobre quem são os inimigos que a perseguem. Conflitos que ajudam a forjar o tipo de heroína em que ela se transformará.
3.6.2. STORYLINE DA TEMPORADA:
Em São Paulo, uma jovem toma um tiro fatal, e, ao invés da morte, ela se regenera e acorda sem memória. Com os possíveis culpados à sua procura, e ajuda de alguns amigos pelo caminho, começa a investigar o seu passado a fim de entender quem é, e de onde vem seus poderes.
3.6.3. SINOPSE DA TEMPORADA:
Num galpão, na cidade de São Paulo, uma jovem que invade o lugar toma um tiro na cabeça, e ao contrário do destino óbvio, ela se recupera com seus poderes de regeneração. Porém, quando volta a si, está sem memória. Um policial federal que a cerca, bem como uma médica legista, e um jovem aspirante a “hacker” a acompanham nessa jornada. A jovem terá de descobrir desde o básico do seu passado até como ganhou os poderes e o porquê. Tudo isso, enquanto os inimigos que lhe deram o tiro fatal ainda estão à sua procura.
84
3.6.4. PERFIL DOS PERSONAGENS (53R3N4) – PROTAGONISTA
Características Físicas:
24 anos, cabelos escuros, na faixa dos 1,7m de altura, usa botas pretas ou tênis all-star, calça jeans, camiseta branca com uma jaqueta de couro. Fuma.
Características Psicológicas:
Vive com dores de cabeça, tem uma irritabilidade constante mas com um certo charme. É sempre direta nas conversas, não fala muito, não tem trato social e não faz questão de adquiri-lo. Prefere lidar com trabalhos mais físicos e rudimentares do que com trabalhos que exijam muitas interações com as pessoas. É muito curiosa, gosta muito de ler, embora não tenha lembranças dos conhecimentos adquiridos, somente sabe as coisas.
Vida Pregressa:
Serena (cujo nome verdadeiro é Maria) foi criada pela mãe em uma das inúmeras favelas das periferias da cidade de São Paulo. O pai as abandonou quando ela tinha por volta de 3 anos, fazendo que Serena tenha pouca ou quase nenhuma lembrança dele. A mãe se esforçava para criar Serena, fazendo quase sempre bicos como diarista, limpeza de restaurantes e escritórios. Era difícil conseguir um emprego integral, pois não tinha com quem deixar a filha, além da criança ser muito pequena. Mesmo assim, algumas vezes Serena ficava com uma vizinha que a acolhia em momentos de muita necessidade. Até que um dia, um carro importado apareceu na comunidade, e seus ocupantes todos bem vestidos trouxeram uma oferta de emprego, que consistia nas pessoas se oferecerem como voluntários para um novo remédio que uma grande indústria farmacêutica estava colocando em testes, e para isso eles ofereceram moradia, haja vista que os voluntários seriam monitorados, alimentação diária e um
85
salário fixo enquanto durasse o período de testes. A mãe de Serena então vê essa proposta como uma oportunidade de dar melhores condições de vida para a filha, e então se voluntariou sem nem se importar com as possíveis consequências dos testes, ou mesmo desconfiar das pessoas que faziam a proposta. Ela e outras pessoas da comunidade que passavam pelas mesmas dificuldades também aceitaram a oferta. Dessa maneira, Serena, então com 6 anos, e sua mãe foram levadas para uma casa que mais se parecia com um hospital onde eram feitos os testes com o remédio/soro nas pessoas. Serena via a mãe sofrendo com os efeitos colaterais da droga, como dores fortes dores de cabeça e muitas dores no corpo que a fazia se contorcer na cama, além de acessos de raiva constantes. Isso era alternado com momentos carinhosos da mãe com a pequena filha, em refeições ou conversas sobre a vida. Porém, após meses do início dos testes, a mãe de Serena não resiste aos efeitos colaterais. A menina então é levada para um orfanato, que por sinal também tinha algumas relações não exatamente lícitas e oficiais com a empresa que estava fazendo os testes do remédio. E por este motivo, Serena voltaria a instituição aos 18 anos, dessa vez também como “voluntária” de novas versões do soro/remédio que haviam lhe tirado a mãe. Antes disso, aos sete anos de idade, cerca de um ano após a morte da mãe. Serena foge do orfanato por um descuido dos cuidadores, que não perceberam a astúcia da criança que saiu do parquinho e foi para rua. Mas que vagando na rua, acaba sendo sequestrada e mantida em cativeiro por alguns dias por uma quadrilha que fazia tráfico internacional de crianças. Este cativeiro é invadido por uma equipe da polícia federal, o qual o jovem policial Batista fazia parte. Este tem um momento com Serena, pois a menina chora quando uma mulher vem buscá-la. Não querendo ir com a moça, Batista se aproxima da menina e lhe dá um pirulito, a criança pega o pirulito e sorri para Batista, indo embora com a mulher. Serena é mantida como cobaia na instituição até os 21 anos, quando seus poderes começam a se manifestar e ela consegue fugir do lugar usando a super força. Porém, a instituição, que faz parte de todo um sistema muito maior, aciona “agentes” das ruas para perseguirem e eliminarem Serena. Eles o fazem, e assim Serena é morta com um tiro na nuca durante uma tentativa de fuga. Sem saberem que Serena começara a despertar seus poderes, e que o soro havia funcionado na
86
garota, os agentes deixam o corpo de Serena num lixão no centro de São Paulo. Como já era de praxe quando alguma missão desse tipo era dada, eles deixam o corpo de Serena parecendo como se fosse vítima de algum roubo, sem nenhuma identificação, para que fosse enterrada como indigente, caso o corpo fosse encontrado. Dessa maneira, a missão de eliminar o elemento 53R3N4 estava cumprida. Porém, Serena é encontrada alguns dias depois, e seu corpo é levado ao necrotério. Seu corpo estava se regenerando pela primeira vez, e assim a jovem acorda na frente da médica legista, quase a matando de susto. Este é o primeiro encontro de Elisa e Serena. Serena acorda sem memória, devido ao tiro na cabeça. Elisa fica agoniada sem saber o que fazer, mas o ímpeto de ajudar a garota faz com que a leve para sua casa. Assim, aos poucos Serena (nome que Elisa lhe dá), começa a investigar o seu passado. Nesse meio tempo arruma alguns empregos que não gosta como garçonete, monitora de buffet infantil e na bilheteria do cinema. Até passar por alguns que prefere, por não terem muitas interações sociais, e serem mais físicos como uma loja de materiais de construção, motociclista para entrega de comida, até o seu emprego atual numa empresa terceirizada de serviços de internet. Serena sofre com flashs de memórias, que no início pensava serem devaneios de sua cabeça. Ela usa o que consegue absorver desses lampejos, sejam palavras, lugares e imagens para procurar pela internet. Consegue assim obter algumas informações, como o orfanato onde ficou depois da morte de sua mãe, dos 6 aos 18 anos. Consegue descobrir de sua casa na periferia, e indo até o local descobre por uma vizinha que várias mulheres aceitaram uma proposta de lugar melhor para viver com casa e comida, e nunca mais foram vistas. Por outro lado, Elisa começa a analisar as células do corpo de Serena, a fim de isolar o que ela tem de diferente, descobrindo assim bases do soro e seus possíveis fabricantes. Nesse meio tempo, Elisa começa a perceber que alguns outros corpos que chegam até o necrotério, dados também como indigentes, têm os mesmos compostos do corpo de Serena, e percebe que são todas mulheres. Passam-se três anos nessas investigações, Serena e Elisa começam a reparar em propagandas de TV e Internet sobre um novo remédio que uma empresa farmacêutica está desenvolvendo que tem a função de regenerar pequenos
87
ferimentos de pessoas, e começam a investigar a empresa. Serena, com ajuda de seu jovem amigo metido a hacker Luciano, descobre um galpão que pertence a empresa que fabrica o remédio, que consta como desativado. Mas as câmeras de segurança mostram uma intensa movimentação no local. Serena então decide fazer uma visita ao tal galpão. Luciano vai ajudá-la, e desativa as câmeras e alarmes do lugar. Começa o episódio piloto.
BATISTA - (Deodato)
Características Físicas:
42 anos, roupa social, barba e bigode. Não pode comer mais doce, está prédiabético.
Características Psicológicas:
Calmo nas palavras, possui experiência de décadas de Polícia Federal, não costuma deixar suas emoções transparecerem. Parece estar sempre preocupado com alguma coisa, bastante reflexivo.
Vida Pregressa:
Batista teve uma infância boa, mas sem muitas regalias. Se esforçou na faculdade e foi um dos melhores alunos da sua classe, conseguindo passar no concurso e se tornando policial federal aos 25 anos de idade. Logo no seu primeiro ano, lidou com casos de Tráfico De Drogas, Contrabando, Crime Organizado e até mesmo Tráfico De Pessoas. Toda essa carga emocional, o fez perder rapidamente a ingenuidade e um pouco do senso de se chocar com coisas perversas que o ser humano é capaz de fazer. Foi nesse primeiro ano que teve seu primeiro encontro com a criança Serena, de apenas sete anos, que havia sido resgatada de um estouro de cativeiro que sua unidade havia feito contra uma quadrilha internacional que sequestrava crianças e as mandava para fora do Brasil. A criança lhe chamou atenção pela discussão com a mulher que havia ido buscá-la, afinal toda criança
88
queria mais era ir embora depois de todo o trauma do sequestro. Batista vai até ela e lhe dá um pirulito que tinha em seu bolso. Anos se passam, e Batista perde a esposa num acidente de carro e sua filha fica com sequelas graves, como dificuldades de fala e locomoção, precisando de cuidados especiais. Ele se vê entre o luto e a necessidade de encontrar forças para ajudar a filha, que possui apenas três anos. Dois anos após o acidente, surge na indústria farmacêutica uma droga experimental que talvez possa ajudar sua filha nas suas dificuldades. Porém, o remédio não consegue autorização para ser comercializado pois tem uma série de dados não comprovados. Mas Batista, aqui já com quase quarenta anos e no misto entre esperança e desespero, faz um acordo com alguns contrabandistas de rua, que lhe oferecem uma versão do remédio. Em troca, ao invés de dinheiro, Batista fica nas mãos dos criminosos para fazer alguns favores e ou “trabalhos” que esses grupos necessitarem. Dessa maneira, ele faz vistas grossas para alguns delitos na cidade, desaparece com evidências de cena de crimes fazendo com que pessoas sejam enterradas como indigentes, além de atrapalhar muitas investigações da inteligência da polícia federal em São Paulo. Batista se sente mal por tudo aquilo que faz, pensa muitas vezes em acabar com aquilo, mas não vê saída na situação. Além do que, quando chega em casa e vê sua filha crescendo e apresentando melhoras com o remédio experimental, tudo parece fazer sentido mesmo que de uma forma egoísta e egocêntrica. O tempo vai passando e a criança já tem nove anos de idade. Batista segue a vida dupla, até que um dia recebe ordens para seguir, capturar e levar até eles uma jovem, cuja pasta de identificação tem o código 53R3N4. Ele pensou que aquilo era demais, era um sequestro. Mas de qualquer forma, usa os recursos da polícia, e seus contatos para encontrá-la e segui-la até um galpão na Zona Oeste de São Paulo. Batista fica no carro observando a garota, que por sua vez fuma e observa a entrada do galpão do outro lado da rua. Até que a garota entra no galpão, Batista hesita por alguns instantes, mas vai atrás da garota e entra no galpão. Começa o episódio piloto.
89
ELISA
Características Físicas: Seus 37 anos.
Características Psicológicas:
Espontânea, gosta de falar bastante e solta muitos palavrões. Sarcástica, é engraçada e desconfiada ao mesmo tempo. Como médica, tem um senso de solidariedade muito grande, tornando-se uma figura materna na vida da protagonista. Contrastando sua personalidade forte, que gosta de reclamar de tudo com sua habilidade de cuidar das pessoas ao seu redor. Gosta da noite, é baladeira e botequeira, o que também contrasta com a morbidez do seu trabalho como médica legista.
Vida Pregressa:
Elisa é fruto da família tradicional brasileira, mãe professora e pai arquiteto, teve os traumas de infância que todo adolescente de classe média tem. A ingenuidade da criação, e talvez do amor, a fez casar-se muito cedo, com pouco mais de 20 anos, ainda na época da faculdade. Como fazia medicina, o tempo era escasso, e aos poucos o marido começou a reclamar, criticando os estudos, a arrumação da casa, a falta disso ou daquilo. Elisa, por falta de experiência, começou a se sentir culpada e fazia o que podia para remediar as situações. Ao passo de fazer vistas grossas para traições e bebedeiras do marido. Tudo isso foi catapultado ao máximo, quando um episódio de agressão aconteceu. O marido chegou bêbado, pedindo pelo jantar e quando viu Elisa debruçada sobre os livros estudando, teve um acesso de raiva e tentou rasgar os livros. Elisa tentou impedi-lo e então o homem deu um tapa no rosto de Elisa que caiu no chão, o marido ainda jogou os livros em cima dela no chão. Elisa em meio ao choro, decidiu ali no chão, que não seria mais a coitadinha donzela em perigo, transformou o choro em raiva e foi embora. Tendo forças ali para mudar sua história pré-escrita. Apesar do divórcio conturbado, ela teve a liberdade que queria, além de alguma compensação financeira. Formou-se em medicina, especializou-se em
90
medicina legal e passou no concurso para médico legista. Tudo em meio a sua nova vida social, cheia de baladas, festas e barzinhos com os amigos. Elisa jurou que nunca mais se apegaria a homem algum. Nessa vida, entre a morbidez dos corpos e o agito das baladas, teve a experiência mais maluca da sua vida. Foi numa madrugada de plantão, que o corpo de uma jovem, que já estava no IML há algum tempo, simplesmente levantou de uma vez reclamando de dor. Elisa quase morreu de susto, esbravejando todos os tipos de palavrões conhecidos. Era Serena acordando da sua primeira regeneração. Elisa, mesmo assustada, conversou com a garota e por impulso decidiu ajudá-la, levando-a para sua casa. Tornando-se uma amiga/mãe de Serena, dando conselhos, ajudando a garota a descobrir seu passado, limpando feridas, brigando, dando inclusive um lugar para morar. Ela via em Serena, apesar dos poderes da jovem, alguém que precisava da sua ajuda e cuidados, coisa que ela não teve durante seu período de sofrimento no casamento. Passam-se três anos de Serena vivendo com Elisa, até que o episódio piloto começa.
LUCIANO - COADJUVANTE
Características Físicas: 18 anos, magro, óculos de grau.
Características Psicológicas:
Aficcionado por videogames, quadrinhos e computadores. Muito inteligente. Vai se apaixonando por Serena, sem ele mesmo perceber. Malicioso, mas sem experiência. Vida Pregressa: Recém-saído do colégio, arruma emprego na empresa terceirizada de serviços de internet, onde conhece Serena. Healer
91
3.6.5. SINOPSE DO EPISÓDIO PILOTO: FRAÇÃO
São Paulo é uma cidade muito perigosa, sobretudo à noite, mas Serena não se importa com isso e observa à espreita a entrada de um galpão, o qual aguarda instruções de Luciano para que possa invadi-lo. Após a entrada, que contém muitos socos e chutes, Serena se descuida e acaba tomando um tiro fatal. O contato com Luciano é perdido. Ela acorda dentro de um porta-malas. Seu processo de regeneração é muito dolorido, mas sua super força a ajuda a sair do carro. Vagando pelo estacionamento de um prédio comercial encontra Batista, que estava à sua procura. Serena não se lembra de nada e nem de ninguém, mas uma tatuagem lhes mostra o caminho. Elisa se depara novamente com aquela garota sem memória, a médica apresenta a Serena uma jornada na qual ela não quer ingressar. Serena rejeita, mas acaba sendo forçada a encarar as primeiras frações de si mesma. •
SINOPSE DO SEGUNDO EPISÓDIO: SEÇÃO
Serena inicia seus estudos sobre si mesma. Com a ajuda de Elisa, ela começa a ler todas as suas anotações na tentativa de juntar as peças do quebracabeça que já haviam sido montadas, antes de tentar juntar novas peças. Serena abre a pasta com o nome Deodato. Elisa cobra Serena do seu trabalho e tarefas domésticas. Luciano volta ao trabalho, depois de uma breve estadia no hospital, e encobre as faltas de Serena. Enquanto isso, Batista investiga os homens que lhe fornecem os remédios da filha, e descobre que o remédio e o soro dos poderes de Serena têm a mesma origem, o que lhe traz esperança de cura total para sua garotinha. O vídeo de Serena lutando e derrotando os homens no estacionamento é mostrado novamente, dessa vez é possível ouvir uma voz ao fundo dizendo que finalmente o soro funcionou, seguida por uma risada de satisfação. •
SINOPSE DO TERCEIRO EPISÓDIO: JUNÇÃO
Serena visita Batista e ele compartilha as informações que descobriu em retrato dos capangas que Serena bateu no estacionamento do prédio, explicando a ela a complexidade do organograma da Corporação Healer e suas subsidiárias
92
como a empresa fabricante do remédio, o orfanato e o laboratório de pesquisas do soro. Excluindo a parte em que ele estava envolvido. Serena conhece Clara, a filha de Batista, e toma conhecimento do acidente e suas necessidades especiais. Durante o almoço dos três num restaurante, Serena bate num homem que maltratava a namorada na mesa ao lado. Batista deixa Serena na casa de Elisa, e pinta um clima entre a médica e o policial federal. •
SINOPSE DO QUARTO EPISÓDIO: UNIÃO
A corporação questiona Batista sobre o paradeiro de Serena, o policial diz que ainda não a encontrou. A corporação ameaça parar o fornecimento do remédio, e Batista ameaça expor todo o sistema e a cadeia de comando, mas se vê de mãos atadas pela ameaça a sua filha. Enquanto isso, Serena e Luciano armam um encontro para Elisa e Batista, e se dispõe a cuidar de Clara enquanto o encontro acontece. Luciano tenta algumas investidas em Serena enquanto cuidam de Clara, mas Serena sequer percebe o interesse do garoto. Clara já dorme no sofá da sala, e Serena vendo TV percebe o remédio da criança em cima da mesinha, ela reconhece alguns compostos do frasco. •
SINOPSE DO QUINTO EPISÓDIO: DIVISÃO
Serena leva o frasco do remédio de Clara para Elisa analisar. A médica com remédio com a composição do soro, que conseguiram em uma invasão bemsucedida de Serena a uma nova instalação da corporação, juntamente com as análises de Serena e conclui que é o mesmo composto básico em ambas fórmulas. Elisa fica arrasada com a descoberta e avisa Serena. Serena conclui que Deodato é Batista e decide segui-lo, e acaba por descobrir o encontro de Batista com os fornecedores do remédio da filha. Serena não se contém ao ver a cena, e uma luta acontece com Serena no modo fúria. Batista fica sem reação ao ver Serena.
93
•
SINOPSE DO SEXTO EPISÓDIO: SEPARAÇÃO
Serena confronta Batista, que lhe confessa toda a verdade sobre o acordo que tinha com fornecedores, e que agora que sabia, os chefes da Corporação Healer. Ele explica que quando a viu praticamente voltar a vida, não sabia o que fazer, e foi sendo tomado por uma esperança à medida que descobria mais sobre os poderes de Serena, pois poderiam quem sabe curar sua filha. Ao passo que sabia, que se contasse a verdade, perderia suas chances. Ele também menciona algumas das coisas que teve de fazer, e quando fala o nome de uma casa, ou laboratório que alguns corpos não identificados de mulheres saiam e ele tinha que fazê-las serem dadas como indigentes Serena tem um flash de memória. Voltando a si, xinga Batista e o condena por todas as mentiras que disse, e antes de sair dá um soco no policial de raiva. Serena procura suas anotações na casa de Elisa, encontra a que desejava e parte sem falar nada, deixando Elisa falando sozinha. Batista vai até a casa de Elisa a procura de Serena, mas se depara com a dona da casa e lhe confessa também todas as mentiras. Elisa chora de raiva por ter confiado mais uma vez, ao passo que acha que ama Batista. Batista diz que precisam encontrar Serena, pois ela está agindo sem pensar. Luciano chega para ajudar a rastrear o celular de Serena. Batista parte atrás de Serena. •
SINOPSE DO SÉTIMO EPISÓDIO: CONEXÃO
Batista chega na instalação, entra e segue o rastro de corpos machucados e deitados pelo chão Serena vai até a administração do lugar, a procura da pasta de código 53R3N4. No caminho encontra vários quartos onde as mulheres ainda estão sendo feitas de cobaias para o soro, a jovem escuta muitos gritos e sofrimento. Serena então começa a abrir os quartos e incentivá-las a fugirem, enquanto bate nos guardas e enfermeiros do lugar. Batista chega à administração primeiro, e pega uma caixa que contém o arquivo de Serena, e alguns objetos pessoais. Os agentes da corporação chegam à instalação muito bem armados. Serena escolta as mulheres para fora, deixando-as fugir pelas portas dos fundos e pelas janelas. Batista abre a caixa e acha entre outras coisas o papel de pirulito dado por ele a Serena, quando ela ainda era uma criança. Ele se dá conta então que a menina daquele dia era
94
Serena, tem um momento de reflexão repensando todas as suas atitudes erradas, e parte para encontrá-la. Nesse meio tempo, os agentes encontram Serena e começam a briga, dessa vez armados. Serena se descuida e um dos agentes atira em direção a cabeça de Serena, mas Batista entra na frente da bala e recebe o tiro. Batista cai no colo de Serena, pede desculpas novamente por não contar quem ele era de verdade, e por querer usar Serena para a cura da filha. Diz “Até um novato deveria saber quando uma criança precisa de ajuda” ... e entrega o papel de pirulito na mão de Serena, que tem um flash de memória com o papel. Serena olha para ele, e Batista diz “Eu tive duas chances de te salvar, e pelo menos hoje eu consegui. Obrigado”. E cai morto. Uma lágrima escorre do rosto de Serena, que olha para cima em sinal de tristeza, mas quando volta o olhar para frente toma um tiro no meio da testa novamente, caindo desfalecida.
3.6.6. ARGUMENTO DO EPISÓDIO PILOTO: PROJETO 53R3N4
Nome do episódio: FRAÇÃO
O relógio visto na Marginal Pinheiros na altura do Jaguaré, marca que já passou da noite. A silhueta de serena é vista observando a entrada principal de um dos vários galpões que existem no bairro. Ela está do outro lado da rua, escondida entre as sombras dos postes. Uma narração em off, feita por Serena, profere frases soltas que não fazem sentido literal, letras de músicas e frases de filósofos. Serena tira do bolso um maço de cigarros e percebe que só lhe resta um, joga o maço vazio no chão, acende o último e começa a fumar enquanto encara o galpão. A narração em off é interrompida pelo barulho de uma mensagem no celular da jovem, ela pega o celular, lê a mensagem e guarda novamente na jaqueta, em seguida dá mais uma tragada no cigarro, joga no chão e apaga a bituca com o pé direito. Ela tira do bolso da jaqueta um pirulito, desembrulha e põe na boca, então atravessa a rua em direção a porta principal do galpão, bem devagar, olha para os dois lados da rua, põe a mão na maçaneta forçando-a, arrombando facilmente a porta. Serena entra com cuidado para não fazer muito barulho. Cerca de dez segundos se passam e Batista aparece na porta, já destrancada, ele observa o
95
arrombamento feito por Serena, pega a arma que estava na cintura e coloca em punho, olha para os dois lados da rua e também adentra o galpão. À medida em que avança pelo galpão, Batista se depara com homens desmaiados no chão, um por um, sendo que o último deles está com o canudo do pirulito fincado no olho. Ele segue por um corredor, e na procura por Serena abre algumas portas que lhe aparecem pelo caminho. Até que chega a uma porta que não está vazia, e o que Batista vê o faz recuar impulsivamente, ele arregala os olhos, e assustado com a cena fecha a porta. O homem ainda fica imóvel por alguns instantes, mas é tirado da paralisia momentânea ao ouvir um barulho de madeira se quebrando ao fundo. Ele ergue a arma novamente e segue o som. Enquanto isso, no final do corredor, já num espaço aberto do galpão. Serena, que acabara de quebrar uma cadeira nas costas de um dos guardas do local, está com um pedaço restante de madeira na mão. Ela caminha sorrateiramente em direção a outro guarda, que está de costas, para acertá-lo com uma paulada. Quando ergue o pedaço de pau para desferir o golpe, Batista, que vinha atrás dos dois, esbarra num frasco de vidro que cai no chão e quebra. O som do vidro quebrando chama a atenção de Serena e do guarda, e ambos olham para trás por impulso. Mas quando Serena retorna o olhar para frente, um tiro disparado pelo vigia a atinge no meio da testa. Serena cai morta.
Abertura da Série.
Batista coloca o corpo de Serena no porta-malas do carro com dificuldade. Ele segura a porta com as duas mãos, mas antes de fechá-la olha para o corpo, coloca as mãos no rosto, olha para cima, e gira em torno de si mesmo passando a mão do rosto até o final da cabeça. Para novamente; e fecha o porta-malas com força. Entra no carro balançando a cabeça da direita para esquerda, negativamente. Sentado no banco do motorista, ele suspira profundamente, e olha para o banco do passageiro, vendo a pasta dourada com o código de identificação 53R3N4, que contém algumas fotos de Serena. Ele pega a pasta, e começa a ler por alguns instantes, sendo interrompido pelo toque do celular. Ele atende, discute com a pessoa do outro lado da linha e desliga.
96
Batista entra no estacionamento subterrâneo de um prédio, estaciona o carro e entra no local, deixando Serena no porta-malas. Horas depois, já amanhecendo, Batista sai e indo para o carro, percebe que o porta-malas está aberto. Ele se assusta e corre, encarando o porta-malas vazio. Numa ação espontânea começa a procurar a garota pelo estacionamento. Ele encontra Serena encostada numa parede de canto, vomitando. Pega o carro e encosta do lado da garota, tenta colocála dentro, mas ela reluta tentando gritar, Batista então tampa a boca dela pedindo que confie nele. Serena então entra no carro, e eles saem do prédio. Ela sente muitas dores, se contorce e grita sem parar. Ao passo que grita, a narração em off volta a ecoar na cabeça de Serena, misturada a devaneios com (necrotério, experiência do soro, mãe sofrendo), e a garota desmaia. Serena abre os olhos na casa de Batista, deitada na cama da filha dele, olha ao redor e não reconhece nada do que vê. Ainda sente dores no corpo, põe a mão na testa, pois é onde mais dói. A ferida do tiro está regenerada, e as manchas de sangue estão limpas. Batista entra no quarto, e vê que Serena já está acordada, ela tenta falar, mas só consegue balbuciar pedindo água. Ele sai e volta com uma jarra de água e um copo. Serena toma a água diretamente da jarra, dispensando o copo. A água desce pelo pescoço molhando Serena, mas ela não se importa. Batista pergunta se ela sabe o que aconteceu e quem ela é, mas não recebe uma resposta, apenas um olhar profundo e tenso. Batista pergunta como ela se sente, ela responde com dificuldade dizendo que a cabeça ainda dói. Ele sai para pegar uma aspirina, e quando volta, a garota está de pé observando a casa. Ele entrega a aspirina para Serena, que olha para uma arma em cima da mesa, ele rapidamente explica que é um policial federal, e mostra o distintivo para provar, diz que o local onde estão é sua casa e mente dizendo que estava fora do expediente, e que passava pela rua, quando encontrou Serena passando mal e vomitando. Ele diz que ela lhe pediu ajuda já entrando no carro, antes que ele pudesse dizer alguma coisa, dizendo também que o hospital não era uma opção. Serena não consegue se lembrar de nada da noite anterior, e Batista não menciona nem o galpão, nem o ferimento fatal. Serena pede para ir até o banheiro, Batista aponta onde é o local, e ela vai. No banheiro, se olha no espelho, abre a torneira, levanta as mangas da camisa para lavar o rosto, e então percebe uma
97
tatuagem no braço esquerdo escrita: Vá para Rua Akangatu, 456. Enquanto analisa a tatuagem, Batista aparece no reflexo do espelho, parado na porta com uma toalha na mão e um sabonete, e vendo a tatuagem diz que já é um começo. De volta ao galpão, acompanhamos os passos de duas pessoas que se aproximam. Um homem e uma mulher bem-vestidos andam com lentidão e observam, olhando para todos os cantos, com curiosidade o local dos acontecimentos da noite anterior. Um terceiro homem que lhes mostra o local passa as informações que lhe são pedidas. É possível ver um distintivo da polícia na cintura do homem bem-vestido. Um homem se aproxima para dizer que encontraram alguma coisa. No endereço da tatuagem, Serena bate na porta, mas ninguém responde. Então os dois se entreolham, Batista coloca a arma em punho e Serena coloca a mão na maçaneta para ver se a porta está aberta, e com sua força acaba arrombando. Ela se assusta com a força, arregalando os olhos enquanto olha para a maçaneta, mas não conta o fato para Batista e diz a ele que a porta estava aberta. Serena entra na frente, com Batista de arma em punho logo atrás. Nesse momento, Elisa sai da cozinha com uma faca na mão, e assim que vê Serena, solta alguns palavrões pelo susto. Serena não retruca os palavrões, e assim Elisa percebe que algo está errado. Pede para Serena sentar-se no sofá, tira o celular do bolso, liga a luz do aparelho e examina as pupilas da jovem. Depois, coloca o dedo indicador na altura do olho de Serena e pede para ela acompanhar o movimento do dedo. Faz uma série de perguntas sobre lugares e datas, além de seu nome a fim de se situar sobre a memória de Serena. No meio deste questionário, se volta para Batista perguntando o que aconteceu, o policial federal mente novamente contando a mesma história dita a Serena. Elisa constata que Serena perdeu a memória novamente, e fica muito preocupada; diz à garota que o nome dela é Serena, um nome que ela mesma lhe deu. Levantando-se do sofá e indo em direção ao quarto de Serena na casa, Elisa diz que a jovem mora com ela há cerca de 2 anos e mostra o quarto para a garota, pedindo para que Batista esperasse na sala, afinal de contas ela nem o conhecia. O quarto está bagunçado, o que gera uma piada de Elisa, está cheio de recortes de jornais nas paredes, fotos e anotações espalhadas. Batista ouve tudo que dizem
98
atentamente, enquanto Serena não se lembra do lugar, mas olha tudo com o máximo de detalhe. Elisa explica que Serena já teve a memória perdida uma vez, justamente quando se conheceram. E explica, que com medo de que isso pudesse acontecer mais uma vez, resolveram construir um banco de memórias com as principais coisas que ela deveria saber. Elisa então mostra no computador um vídeo que Serena deveria assistir, e coloca para reproduzi-lo. Mas enquanto o vídeo inicia, Elisa diz que Serena tem algumas habilidades especiais, e que começaram a investigar a partir daí, contando sobre o soro. Serena divide sua atenção entre ver o vídeo, ouvir o que Elisa fala, e seus pensamentos de dúvida sobre si mesma, sobre Elisa, pois afinal quem era aquela mulher dizendo saber tanto sobre sua vida. A consequência dessa atenção dividida é que Serena não escuta nada nitidamente, e tem um sentimento claustrofóbico, mexendo na gola da camisa, como se estivesse encurralada, e no ímpeto de fuga levanta subitamente da cadeira a qual estava no quarto, sai do cômodo em direção a saída da casa, passa por Batista. No caminho até a porta apanha um maço de cigarros e um isqueiro que estavam na mesa, e sai. Do lado de fora, Serena já sai da casa acendendo o cigarro e dá a primeira tragada. Dentro da casa, Batista vai até Elisa e questiona se ela não vai atrás de Serena, Elisa diz que é melhor ela ficar sozinha para assimilar tudo que ouviu, além de brincar dizendo que assim que ela arrumar uma encrenca ela vai se sentir melhor. Batista consente com a cabeça, mas percebe que a mulher está abalada pela nova falta de memória de sua protegida, pois observa os olhos marejados de Elisa mesmo com a brincadeira. Batista pergunta se Elisa está bem, ela diz que sim limpando as lágrimas, e pergunta se o policial não gostaria de beber alguma coisa. Batista diz que aceitaria um café, e Elisa brinca dizendo que precisa de algo mais forte. Ela se vira e vai em direção a cozinha, saindo do quarto. Antes de seguir Elisa, Batista dá uma olhada para o cômodo, vira de costas e sai. Na saída, o monitor do computador mostra uma pasta com o nome Deodato. Ainda fumando na esquina, Serena olha para a mão esquerda, pensa um instante e queima a mão com o cigarro, sente a dor da queimadura, mas sente mais ainda o espanto e a leve dor da regeneração da pele queimada. Durante o espanto,
99
Serena começa a ter um flash de memórias, ela se vê numa maca com injeções sendo injetadas no seu braço que lhe causam uma dor excruciante, depois vê um homem de jaleco dando a mão para sua versão mais nova dentro de uma sala de orfanato, até que finalmente o devaneio a leva para uma luta num local escuro com tons vermelhos, ela soca uma pessoa sem poder ver o seu rosto. Até que é interrompida pelos gritos de um homem ao fundo pedindo pelo amor de Deus para ela parar. Serena volta a si do flash, e se vê com a mão esquerda segurando um homem pelo pescoço numa parede, ele está com o rosto bem machucado, e ao seu lado uma jovem com a roupa rasgada, deixando parte do sutiã à mostra, e seus pertences espalhados pelo chão da rua. A jovem está com o celular na mão fazendo uma live mostrando toda a cena. Serena então solta o rapaz que cai no chão, reúne suas forças e sai correndo. Enquanto isso, Serena pega o celular da mão da menina, quebra no chão e volta para casa de Elisa correndo. De volta a casa de Elisa, Serena entra gritando querendo saber de Elisa o que ela é, Elisa responde que possivelmente, pelo que sabem até agora, é um efeito colateral do soro e pede que Serena vá olhar suas anotações. Serena entra no quarto, e começa a ver novamente o vídeo que havia feito para si mesma. Enquanto a Serena do vídeo fala, o telefone de Serena que está assistindo ao vídeo toca e ela se assusta, pois quase não havia percebido que tinha um celular no bolso da jaqueta. Ela olha para o celular e vê o nome Luciano na chamada. Serena franze a testa por não fazer ideia de quem seja, mas Elisa diz que é seu amigo e manda ela atender. Serena retruca receosa, mas atende e escuta Luciano gritando por socorro, mas ele é substituído na linha por outra pessoa. Serena põe o celular no viva-voz e todos escutam uma voz masculina, que a chama de 53R3N4, dizer que o jovem está com eles. A voz pede que ela venha buscar o garoto para que eles tenham uma chance de conversar e resolver as coisas entre eles. E que se não aparecer, o garoto vai morrer. Serena tem vontade de xingar a voz, mas sente um misto de dúvida e culpa pelo que acontece, além de Elisa ter informado que o garoto é muito seu amigo, e apenas pede orientações do lugar onde devem se encontrar. Elisa e Batista consentem com a cabeça que vão junto com Serena. A voz diz o local do encontro, e Batista escutando se assusta ao ouvir o endereço, mas como já havia dito que iria ajudar, não pode recuar. Sendo assim, eles bolam um pequeno plano de abordagem, e vão no carro de Elisa para o local.
100
Chegam no começo da noite, o local marcado para o encontro é o mesmo o qual Batista havia estado pela manhã, mas ele não diz nada nem a Serena e nem a Elisa. Serena entra no estacionamento, sem se lembrar que já esteve ali pela manhã, enquanto Batista e Elisa ficam no carro parado do lado de fora do prédio à paisana. Quatro homens estão à espera de Serena. De dentro do carro, Batista percebe que os homens não estão armados, e comenta com Elisa. Serena pergunta por Luciano, e eles tiram-no de dentro de um carro ao lado e o empurram em direção a Serena, ele corre em direção a ela e a agradece, mas Serena é indiferente pois não reconhece o garoto e o manda sair correndo para fora do estacionamento. Lá fora, Elisa sai do carro e grita para Luciano que vai em direção a ela e entra no carro de Elisa, cujo Batista está de motorista. De volta ao estacionamento, Serena se entrega aos homens enquanto vê Luciano correndo. Assim que o jovem alcança Elisa, Serena tenta conversar com os homens a fim de obter respostas de quem eles eram e para quem trabalham, mas não obtém resposta alguma. Percebendo que não teria nenhuma resposta, ela começa uma briga com os homens, e dessa vez não se contém na força, nocauteando a todos. Enquanto a briga acontece, Luciano e Elisa voltam para o carro, e Batista arranca em alta velocidade. Nesse meio tempo ele comenta em voz baixa que acredita que a situação está fácil demais. Serena consegue fugir correndo do estacionamento indo em direção ao carro de Elisa. Nesse instante, temos a visão de uma câmera de celular de dentro de um carro parado no estacionamento gravando toda a cena até a saída furtiva de Serena do ângulo da câmera do celular.
Fim do episódio.
3.7. DA ARTE
A direção de arte, visa criar o projeto completo que envolve pesquisas e definições sobre clima/atmosfera, defesa conceitual, escolha de paleta de cores, além de acompanhar a construção do cenário, produção de objetos, figurino e
101
maquiagem, estando presente na filmagem e, finalmente, na “desprodução” do set etc. A direção de arte abrange toda a parte estética do filme, desenvolvendo uma unidade visual para a narrativa e atuando em parceria com a equipe de direção de fotografia, pois, tudo o que está no enquadramento é arte e é pensada através do olhar desse profissional.
3.7.1. CONCEITO VISUAL DO PILOTO
O conceito visual da série, foi pensado de maneira para que entremos na realidade da 53R3N4. A história se passa na Cidade de São Paulo, e nesta selva de pedra, S3r3n4 terá de encarar seus desafios. S3r3n4 é uma jovem que desconhece sua própria história, não tem estrutura familiar nem financeira, portanto sua vida é miserável, nesse sentido foi pensado em mostrar uma realidade mais crua, onde ela vive em um quarto que mais parece um galpão abandonado. As cores escolhidas para serem utilizadas ao longo da série são as cores triádicas pois permitem um trabalho mais arrojado e sua composição segue as vértices do triângulo no círculo cromático, possui um forte contraste visual e nos permitindo brincar com os tons e humores através das cores ao longo do episódio.
Fig. 25 – círculo cromático - blog Brigitte Calegari
102
3.7.2. FIGURINOS:
O figurino dos personagens e especialmente da 53R3N4, não são como fantasias de heróis, pois apesar de seus poderes, 53R3N4 não os quer, e tão pouco é reconhecida como uma heroína, portanto suas vestimentas, assim como as do batista, são comuns de acordo com suas devidas idades. Abaixo estão algumas imagens de referência:
Fig. 26 – inspiração do figurino - Imagem via Pinterest
103
Fig. 27 – inspiração do figurino - Imagem via Pinterest]
Fig. 28 - The Gunman 2015 - Diretor: Pierre More
104
3.7.3. REFERÊNCIAS DOS CENÁRIOS:
Fig. 29 - True Detective 2014 - HBO
Fig. 30 - True Detective 2014 - HBO
105
Fig. 31 - True Detective 2014 - HBO
Serena é jovem e confusa mentalmente, portanto seu quarto não seria diferente. Ela tem papéis sobrepostos na parede, ela não tem dinheiro para equipamento fotográfico, portanto ela desenha os rostos e lugares que ela lembra.
Fig. 32 - Ari Nogiri
106
Fig. 33 - Ari Nogiri
3.7.4. LOCAÇÕES • Quarto da Serena • Casa da Eliza • Galpão • Estacionamento
3.7.5. ABERTURA DA SÉRIE
As aberturas das séries, bem como os títulos, são como poltronas colocadas de forma aconchegante, para que o espectador se sinta confortável em frente ao que começará a assistir. Elas são a síntese do universo e dos temas da narrativa, podem ter 30 segundos, como as de Breaking Bad e Lúcifer por exemplo, e quase 2 minutos, casos de The Sopranos e Game Of Thrones. Séries detetivescas como Marcella, Shining Girls e Jessica Jones utilizam a cidade como cenário e pedaços de cenas, além de recortes de elementos chaves para a trama. Por outro lado, a abertura de Dexter trabalha analogias visuais da temática da série, apresentando aquele universo ao espectador da mesma maneira que as outras aberturas. Para o Projeto Serena, pretendemos utilizar palavras-chave como cura, regeneração, fragmentos, investigação, abraçando a construção onírica criada para as cenas de devaneios da protagonista. Além de usar do contraste entre claro e
107
escuro, da fumaça e do recorte de silhuetas, característicos do noir e pensados para toda a série. O título apresentado primeiro como o código 53R3N4, para depois se transformar, dando a leitura da palavra SERENA.
3.8. DA FOTOGRAFIA
3.8.1. REFERÊNCIAS
Como principais referências na fotografia serão utilizados os filmes I Saw The Devil (2010), Locke (2013), 12 Angry Men (1957) e a série Shining Girls (2022). Tendo em vista que o projeto terá cenas de ação, onde a protagonista terá poderes, ou seja, algo além do real, buscamos referência em uma obra da qual ainda que pautada em um mundo real, possibilita certos exageros como em I Saw The Devil. O filme sul coreano se trata de um thriller policial com elementos de terror e ação e trabalha o alto contraste de sombras em vários momentos, criando desde ambientes íntimos até imagens perturbadoras, além de que faz diversos jogos de luzes, onde as mesmas piscam ou acendem em momentos oportunos, com o intuído de criar desconforto ou revelar ambientes e personagens de maneira estilosa, sendo algo que referencia o estilo noir e, portanto, pertinente ao universo da série.
Fig. 34 - I Saw The Devil (2010, Jee-Woon Kim)
108
Já em relação à ação, I Saw The Devil tem cenas de luta e fuga, onde há a utilização de takes longos que preparam um ambiente de tensão até se desencadear uma ação desenfreada, sendo pertinente a uma estória onde teremos elementos de suspense e investigação, além de dar a possibilidade rítmica na montagem. Pensando nos momentos em que diálogos mais longos serão necessários, a idéia é trazer variedade de ângulos e movimentos de câmera que acompanhem o momento de cada personagem, mesmo em ambientes limitados com o intuito de evitar um cansaço visual do telespectador, assim como nos filmes Locke (2013) e 12 Angry Men (1957), dos quais as estórias quase inteiras se passam dentro de um único ambiente.
Fig. 35 - Locke (2013, Steven Knight)
Fig. 36 - Angry Men (1957, Sidney Lumet)
109
Fig. 37 - 12 Angry Men (1957, Sidney Lumet)
Já em relação ao esquema das cores geral, buscamos referência na série de TV Shining Girls (2022), onde em momentos pontuais é utilizado o “teal and orange”, esquema de cores onde ressaltamos o tom de pele com cores mais alaranjadas e o ciano para os tons mais escuros, de forma a buscar um contraste agradável visualmente e em outros momentos utilizarmos um tom especifico de cor para reforçar o sentimento da cena, tal como o vermelho intenso visto a constante raiva da protagonista ou o azul marinho em momentos mais sóbrios ou melancólicos dos personagens.
Fig. 38 - Shining Girls (2022, Silka Luisa)
110
Fig. 39 - Shining Girls (2022, Silka Luisa)
111
3.9. CRONOGRAMA DE QUALIFICAÇÃO
CRONOGRAMA DE QUALIFICAÇÃO SÉRIE DE TV - PROJETO 53R3N4 - 2022 meses
Maio
Abril
etapas Proposta de parceria e análise de opções de projeto Proposta de produtora Definição do produto Convites para integrar a produtora Definição de equipe e distribuição de funções Levantamento de referências e linhas de trabalho Leitura do livro “Story”, de Robert Mckee (leitura coletiva) Entrega de ficha de inscrição Acordo de mensalidade para ajudar a custear o projeto Rifa: definição de datas e premiação Roteiro: brainstorm Leitura coletiva "Como escrever séries e roteiros" Fotos do prêmio da rifa para divulgação Divisão dos números da rifa e início das vendas Sumarização da bíblia Divisão dos itens da fundamentação teórica Roteiro: brainstorm Início do desenvolvimento da fundamentação teórica Roteiro: storyline, argumento e sinopse Venda da rifa Sorteio da Rifa Roteiro: linha do tempo Desenvolvimento fundamentação teórica Roteiro: revisão argumento Desenvolvimento fundamentação teórica Tópicos da bíblia sobre a produtora e sobre o produto Roteiro: 1ª versão Desenvolvimento fundamentação teórica Revisão e correção dos itens da bíblia Roteiro: Descrição dos personagens Referências de fotografia e arte Referências sonoras Cronograma
112
Roteiro revisão Alinhamento dos itens faltantes Cronograma do que já foi feito Orçamento Design e layout da Bíblia Referências abertura Revisão da Bíblia: Sumario Revisão da Bíblia: ABNT Revisão da Bíblia: coesão e coerência 23/ de maio entrega da bíblia para banca de qualificação Maio
113
3.9.1. CRONOGRAMA DE PRODUÇÃO
114
115
116
117
3.10. ORÇAMENTO DO PROJETO
3.10.1. CUSTOS DO PROJETO
118
119
3.10.2. CUSTOS REAIS DO PROJETO
SOMENTE APÓS AS GRAVAÇÕES
120
4. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
4.1. DA PRODUTORA
Levando em conta o desafio de formar um novo grupo já no sétimo semestre da faculdade, a pontualidade e a busca pelo diálogo direto e transparente renderam uma melhor dinâmica de trabalho, algo que todos procuravam ao entrar no grupo. O objetivo em comum de buscar o melhor resultado possível dentro das possibilidades reais de execução fizeram com que nossos limites pudessem se tornar mais claros e lapidar as expectativas dentro do projeto a ser desenvolvido no decorrer do ano. A comunicação ainda precisa ser alinhada entre os membros do grupo para obter melhores resultados e decisões. Porém, de qualquer forma, a diplomacia ainda é mantida e conflitos resolvidos. A entrega é o resultado do melhor que pôde ser feito com o tempo que tivemos, novamente reduzindo expectativas, do que o projeto poderia ser para o que é possível fazer no tempo que se tem. A preocupação que paira é principalmente no quesito financeiro, já projetando os custos reais de produção e terminada essa primeira etapa, serão prioridade novas estratégias para levantamento de fundos e assim execução do projeto. Percebe-se que é possível e alcançável, porém requer manter a disciplina e compromisso que o grupo manteve até agora. Todo o desenvolvimento teórico apresentado reflete tal empenho que o grupo teve de reunir referências que pudessem enriquecer a pesquisa e contribuir para fundamentar os caminhos que escolhemos seguir. Para nós o resultado é satisfatório e esperamos estar no caminho certo para as próximas etapas.
121
4.2. INDIVIDUAIS
4.2.1. BRUNA PENHA FARIAS
Montar um TCC em um curto prazo e com uma nova produtora está sendo uma experiencia desafiadora, recebi o convite para participar da corporação e confesso que me senti honrada por participar de um projeto grande e ambicioso. Um lado importante nessa troca de produtora é as novas amizades e aprendizado, por conta do projeto ser produzido em um curto período conseguimos contratar muitos parceiros que vão fazer parte do projeto. 4.2.2. GABRIEL FERREIRA BARBOZA
É notório o quanto a comunicação entre uma equipe de produção audiovisual é essencial para se alcançar uma unidade, seja estética, narrativa ou na tomada de decisões para sua execução. Para tal objetivo buscamos otimizar o tempo que tivemos ao dividir leituras e separar momentos de reunião seja da equipe ou de setores da mesma e isso tem ajudado o andar do projeto até o momento atual. Creio que a fundamentação e a busca coletiva por um bom resultado tem sido nossos pontos fortes, contudo precisaremos daqui para frente avaliar outros aspectos e manter essa mentalidade na hora de determinar o que poderá e não estar de fato no produto final. Fico agradecido por ter a confiança do meu grupo para as funções que desempenharei e espero que sigamos fazendo um bom trabalho.
4.2.3. GLÓRIA MARIA BARBOSA RODRIGUES
Cada dia que passo pesquisando, escrevendo e trabalhando neste projeto vejo o quão prazeroso é estar me dedicando a algo que realmente acredito, que abre minha mente para novas possibilidades e aprendizados, apesar do cansaço estou muito feliz com tudo que está sendo construído até agora. Um dos maiores desafios para mim é driblar os imprevistos que surgem durante essa trajetória de pré-produção, isto porque embora tenha sido feito um planejamento e cronograma, o tempo parece está passando cada vez mais rápido e a demanda de conteúdo aumentando. Contudo estou satisfeita e orgulhosa do que
122
foi realizado durante este processo, e bastante empolgada para começar a etapa de produção, que particularmente é a que eu mais gosto, mas principalmente porque quero colocar tudo que estamos produzindo agora em execução.
4.2.4. KELLY MARIA DE FRANÇA
Não imaginei que a esta altura do campeonato eu me organizaria com pessoas na qual eu não conhecia, e confiaria na produção de um TCC. Me arrisquei e aos passos que as ideias foram surgindo, o projeto foi tendo nome, forma e contexto, me agarrei e abracei ao projeto e ao grupo, e aos poucos 53R3N4 vai tomando cada vez mais forma. Nunca imaginei que estudando Rádio, Tv & Internet, em algum momento fosse ler e estudar áreas tão complexas como a psicologia por exemplo, para salientar as ideias de nosso projeto. Meu maior medo era justamente a fundamentação teórica já que, não tenho o hábito de ler artigos e mal tinha referências bibliográficas para tal, mas fico feliz que tive a oportunidade de me superar e conhecer minhas capacidades. Fico contente também, que pudemos nos comunicar e nos organizar para que a ideia fosse aos poucos tomando cada vez mais forma para pôr fim, chegarmos até aqui. Nada está concluído e completo, há muito trabalho pela frente, mas fico contente com o resultado até então. Estou animada e com muita expectativa para a pré-produção, produção e pós estou me preparando para a chegada desses momentos e confiante pois tenho o apoio da minha equipe.
4.2.5. SIDNEY D’ALBERTO LIBERAL JÚNIOR
Analisando a jornada até aqui, posso dizer que ela tem sido de muita leitura, muita pesquisa e muita escrita, pelo menos para mim que tenho a missão de ser o roteirista dessa série. Acredito que a criatividade alinhada ao conteúdo de pesquisa que todos do grupo tem buscado, tem trazido grande qualidade para o material escrito. Porém, ainda estamos buscando o equilíbrio dessa qualidade de conteúdo em detrimento ao tempo e cronograma de entregas. A base escopo x tempo x dinheiro mais do que nunca tem de se fazer presente na mente de todos os
123
componentes da corporação. Sobretudo com o cronograma e orçamento previstos montados e definidos. Posso dizer que o maior desafio particular até o momento é alinhar a objetividade das datas, formatos de entrega e documentos que precisam ser escritos, em face da criatividade, das questões artísticas, e portanto, subjetivas. De novo, como diria Mr. Miyagi (Karate Kid, 1984) para seu pupilo, é sobre encontrarmos o equilíbrio.
4.2.6. WHITNEY CHRISTINA ZORDAN POLATO
Eu sinto o verdadeiro privilégio de trabalhar com a equipe que foi formada para criar e desenvolver esse projeto. A ideia inicial de Serena em nada se parece com o que ela se tornou ou ainda se tornará e a cada novo caminho, eu fico feliz com o que ela está se transformando. São temas que vibram em mim, que refletem minha história, minha relação comigo mesma, com os meus pais, com as mulheres ao meu redor. Encontrei e ainda estou trabalhando na dificuldade que é tirar algo de sua cabeça e explicar para as pessoas ao seu redor. Aos poucos vai se percebendo quais são os códigos, e quase num exercício de metalinguagem, meu parceiro de desenvolvimento de roteiro é meu completo oposto. Eu sou yin e yang e aprendermos a trabalhar juntos foi um desafio que só contribuiu para o meu crescimento. Perceber que apesar de estarmos em lados opostos não éramos inimigos, usar nossas polaridades diferentes como complementos e não como campo de guerra. Tomar decisões que fossem melhores para o projeto, deixando de fora o ego e o apego. Sinto também que esse projeto é um “fazer as pazes” com o curso. Finalmente pensar na televisão e sentir que isso é algo que eu me vejo fazendo e posso até um dia ser muito boa nisso. Ainda não é tão orgânico para mim pensar ficção com as particularidades de uma série de TV, visto que venho de uma formação em cinema fora da faculdade, mas as possibilidades, o nível de aprofundamentos que uma série pode alcançar me encanta. Espero que 53R3N4 seja um abrir caminhos de uma carreira que eu possa ter.
124
5. REFERÊNCIAS
5.1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- A
cronologia dos super-heróis. Superinteressante.
Comportamento.
Disponível
em:
[s.l.], 02
fev. 2013.
<https://super.abril.com.br/comportamento/a-
cronologia-dos-super-herois/>. Acesso em: 11 abr. 2022. - ANDREOTTI, Bruno. A História das Histórias em Quadrinhos: a Era de Ouro. Quadrinheiros,
2013.
Disponível
em:
<https://quadrinheiros.com/2013/04/12/a-
historia-das-historias-em-quadrinhos-a-era-de-ouro/>. Acesso em: 09 abr. 2022. - ANDREOTTI, Bruno. A História das Histórias em Quadrinhos: a Era de Prata. Quadrinheiros,
2015.
Disponível
em:
<https://quadrinheiros.com/2015/04/08/a-
historia-das-historias-em-quadrinhos-a-era-de-prata/>. Acesso em: 09 abr. 2022. - ANDREOTTI, Bruno. A História das Histórias em Quadrinhos: a Era de Bronze. Quadrinheiros,
2015.
Disponível
em:
<https://quadrinheiros.com/2015/10/13/a-
historia-das-historias-em-quadrinhos-a-era-de-bronze/>. Acesso em: 09 abr. 2022. - AS Virgens Suicidas. Direção de Sofia Coppola. Toronto: American Zoetrope, 1999. 1 DVD (97 min.). ASSUNÇÃO MORENO, Maria Manuela. COELHO JUNIOR, Nelson Ernesto TRAUMA: O AVESSO DA MEMÓRIA. jan/jun 2012 47-61 Disponível em: <https://www.scielo.br/j/agora/a/46GrdGzGrZmXxVTLdWB6Ytj/?format=pdf &lang=pt> Acesso em: 5 mai.2022. - BAGS, Michael. 80 anos da Marvel: de ameaça de falência a um negócio multibilionário.
BBC
News,
[s.
l.],
14
out.
2019.
Brasil. Disponível
em:
<https://www.bbc.com/portuguese/geral-50019558>. Acesso em: 11 abr. 2022. - BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo – a experiência vivida; tradução de Sérgio Millet. 4 ed - São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1980. BÍBLIA, A. T. Gênesis. In BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução portuguesa da versão francesa dos originais grego, hebraico e aramaico, traduzidos pelos
125
Monges Beneditinos de Maredsous (Bélgica)- São Paulo: Editora Ave-Maria, 2008. p. 50. - BUONFIGLIO, Monica. Conheça o significado espiritual das cores verde e amarelo. Terra,
2010.
Disponível
em
<https://www.terra.com.br/vida-e-
estilo/horoscopo/esoterico/conheca-o-significado-espiritual-das-cores-verde-eamarelo,da0861637df6d310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html> . Acesso em 17 de maio de 2022.
- CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. 11 ed. São Paulo: Pensamento, 2007.
- CAMPBELL, Joseph. O poder do Mito. 30 ed. - São Paulo: Palas Athena, 2014.
- CANTORE, Jaqueline e RUBENS PAIVA, Marcelo. Séries - De onde vieram e como são feitas.1 ed. - Rio de Janeiro: Objetiva, 2021.
- CHRISTIANSON, SVEN ÅKE. - FLASHBULB MEMORIES: SPECIAL, BUT NOT SO SPECIAL. Memory & Cognition 17, no. 4 (1989): 435-443. Disponível em:
<https://link.springer.com/article/10.3758/BF03202615>.
Acesso
em:
27
abr.2022
- CIENTISTAS DESCOBREM COMO MEMÓRIAS TRAUMÁTICAS SE ESCONDEM NO CÉREBRO. UPF - Universidade Passo De Fundo, set/2017. Disponível em: <https://www.upf.br/biblioteca/noticia/cientistas-descobrem-como-memoriastraumaticas-se-escondem-nocerebro#:~:text=Se%20um%20epis%C3%B3dio%20traum%C3%A1tico%20acontece ,o%20c%C3%A9rebro%20nas%20esta%C3%A7%C3%B5es%20AM> Acesso em: 29 abr.2022.
- CINE Majestic. Direção de Frank Darabout. California: Warner Bros, 2002. 1 DVD (152 min.). - COLETTI, Caio. A trilogia Blade reúne o melhor e o pior que o cinema de superheróis
pode
ser.
Omelete,
2022.
Disponível
em:
126
<https://www.omelete.com.br/filmes/blade-melhor-pior-herois>. Acesso em: 15 abr. 2022. - DA SILVA, Cíntia Cristina. Quem inventou as histórias em quadrinhos? Superinteressante. [s.l.], 18 abr. 2011. Cultura Mundo Estranho. Disponível em: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quem-inventou-as-historias-emquadrinhos/>. Acesso em: 11 abr. 2022. - DEFINING FILME NOIR. Jack’s Movie Reviews. Youtube. 26 nov.2016. 08min51s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=K77aPil7btM&t=303s>. Acesso em: 28 abr.2022.: - DIFERENTES TIPOS DE PERDA DE MEMÓRIA. Clínica da Mente. Youtube. 30 de jul. de 2020. 08min06s. Disponível em: <https://youtu.be/fTc6SDRXBl8> Acesso em: 5 mai.2022. - FRANÇA MENDES, David. Série não é novela. David França Mendes, 2014. Disponível
em:
<https://davidfmendes.wordpress.com/2014/05/04/serie-nao-e-
novela/>. Acesso em: 25 de abril de 2022 LINKS: - LOBO, Renato Fernandes. A PRESENÇA DO MITO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DE SUPER-HERÓIS. 202 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2020. Disponível em: <https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/23781/1/Renato%20Fernandes%20Lobo .pdf>. Acesso em: 12 abr. 2022. - MARANGONI, Adriano. A História das Histórias em Quadrinhos: a Era de Ferro. Quadrinheiros,
2018.
Disponível
em:
<https://quadrinheiros.com/2018/04/05/a-
historia-das-historias-em-quadrinhos-a-era-de-ferro/>. Acesso em: 09 abr. 2022. - MARINHO, Fernando. História em quadrinhos. Brasil Escola, [s.d.]. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/redacao/historia-quadrinhos.htm>. Acesso em 09 de abril de 2022.
127
- MATOS, Talliandre. História em quadrinhos. Mundo Educação, [s.d.]. Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/historia-historia-quadrinhos.htm>. Acesso em: 10 de abr. 2022. - MCKEE, Robert. Story: Substância, estrutura, estilo e os princípios da escrita de roteiro. 5 ed. - Curitiba: Arte & Letra, 2006. - MURDOCK, Maureen. A jornada da heroína: a busca da mulher para se reconectar com o feminino. 1ed. - Rio de Janeiro: Sextante, 2022. - O QUE É FILME NOIR?. Entre Planos. Youtube. 27 jul.2017. 10min36s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6HaWB1pAV7E&t=319s>. Acesso em: 26 abr.2022. - RAMOS, Durval. Brasil é o 2º país que mais consome streaming no mundo. Canaltech, 2021. Disponível em: https://canaltech.com.br/entretenimento/brasil-e-2opais-que-mais-consome-streaming-no-mundo-192718/. Acessado em 27 de abril de 2022. - RODRIGUES, Sonia. Como escrever séries: Roteiro a partir dos maiores sucessos da TV. 1 ed. - São Paulo: Aleph, 2014. SILVER, A.; DUNCAN, J.U.P.Film Noir.
in. Aollernring, köln, p.15, 2004.
- VERGUEIRO, Waldomiro. ÂNGELO AGOSTINI, pioneiro dos quadrinhos. Omelete, 2002.
Disponível
em:
<https://www.omelete.com.br/quadrinhos/angelo-agostini-
pioneiro-dos-quadrinhos>. Acesso em: 12 abr. 2022. -VIANA, Nildo. Breve História dos Super-Heróis. In: REBLIN, Iuri Andréas; VIANA, Nildo (org.). Super-heróis, Cultura e Sociedade. 1. ed. Goiânia: Edições Redelp, 2020.
Disponível
em:
<https://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&lr=&id=EikXEAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT3&dq=os+primeiros+super+herois+&ots =Poxyd-A79w&sig=NU8x2j2L_b6vHVG7GJRsMkzk7QY#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 15 abr. 2022. - VOGLER, Christopher. A jornada do escritor. 3 ed. São Paulo: Aleph, 2015.
128
- WHAT is Neo-NOIR?: You don't need a detective to figure out the meaning of neonoir.. Los Angeles, 8 jul. 2021. Disponível em: https://nofilmschool.com/neo-noirdefinition-and-examples. Acesso em: 29 abr. 2022. - WOOLF, Virginia. Um teto todo seu; tradução de Bia Nunes de Souza, Glauco Mattoso. 1º ed. – São Paulo: Tordesilhas, 2014
129
6. APÊNDICES e ANEXOS 6.1. APÊNDICE A – ROTEIRO
PROJETO 53R3N4 Por: Sidney Liberal & Whintney Polato.
Corporação AAAH! corporacaoaaah@gmail.com
130
EPISÓDIO 01 (PILOTO): "FRAÇÃO"
INSERT - MOSTRAR UM RELÓGIO DE DIVISÃO DE FAIXA DA MARGINAL PINHEIROS MARCANDO 22H, DEPOIS AFASTAR A CÂMERA PARA MOSTRAR O LOCAL DA MARGINAL PINHEIROS NA ALTURA DO BAIRRO DO JAGUARÉ.
CENA 1 - EXT. GALPÃO - NOITE (SERENA) UMA SILHUETA FEMININA É MOSTRADA, ENTRE AS SOMBRAS CRIADAS PELA ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL DOS POSTES, OBSERVANDO A ENTRADA PRINCIPAL DE UM GALPÃO QUE ESTÁ DO OUTRO LADO DA RUA. UMA NARRAÇÃO EM OFF, DE VOZ FEMININA, PROFERE FRASES SOLTAS QUE NÃO TEM SENTIDO LITERAL. LETRAS DE MÚSICA E FRASES DE FILÓSOFOS. Serena, uma mulher de 24 anos, cabelos escuros, com aproximadamente 1,7m de altura, usando uma calça jeans, uma camiseta branca com uma jaqueta de couro por cima e calçando uma bota preta, tira do bolso um maço de cigarros, olha e percebe que só lhe resta um. Coloca o último cigarro na boca, amassa o maço vazio e joga no chão. Acende o cigarro e começa a fumar enquanto encara o galpão com olhar fixo. NARRAÇÃO EM OFF É INTERROMPIDA PELO BARULHO DE UMA MENSAGEM NO CELULAR DE SERENA. Serena pega o celular no bolso da jaqueta do lado direito, lê a mensagem e guarda novamente no mesmo lugar, em seguida dá mais uma tragada no cigarro, joga no chão e apaga a bituca com pé direito. Em seguida tira do outro bolso da jaqueta um pirulito, desembrulha, joga o papel no chão e põe na boca. Então atravessa a rua em direção a porta principal do galpão, olhando para os dois lados da rua e dando uma leve corrida e depois, quando já está perto da porta, vai bem
131
devagar, põe a mão na maçaneta forçando-a, arrombando facilmente a porta. Dá mais uma olhada ao seu redor, abre a porta e entra. CENA 2 - EXT. GALPÃO - NOITE (BATISTA) ENTRADA PRINCIPAL DO GALPÃO CERCA DE 10 SEGUNDOS SE PASSAM DA ENTRADA DE SERENA PELA PORTA. BATISTA, um homem de 42 anos, em roupas sociais, de barba e bigode aparece na mesma porta, já entreaberta. Ele olha o arrombamento, pega a arma que estava na cintura e coloca em punho, olha para os dois lados da rua e também entra no galpão pela porta arrombada. CENA 3 - INT. CORREDOR GALPÃO - NOITE (BATISTA, FIGURANTES) Andando por um corredor escuro, com luzes somente ao fundo, Batista vai se deparando com homens desmaiados no chão, um por um, até que chega no último deles que está no chão desacordado com o canudo do pirulito fincado no olho. Ele olha a cena por um fração de segundos, e depois se volta novamente para o corredor, abrindo algumas portas que aparecem pelo corredor, tanto na esquerda quando na direita. Todas estão vazias, até que uma delas não está, ele abre e tem um impulso de recuar para trás rapidamente, arregala os olhos assustado com a cena, e fecha a porta. O homem ainda fica imóvel por alguns instantes. BARULHO DE MADEIRA SE QUEBRANDO VINDO DO FINAL DO CORREDOR Batista sai da paralisia momentânea, ergue a arma e segue a origem do som. CUT TO: CENA 4 - INT. ESPAÇO ABERTO GALPÃO - NOITE (SERENA, BATISTA, FIGURANTES)
132
NO FINAL DO CORREDOR, NO ESPAÇO DO GALPÃO ABERTO, REPLETO DE CAIXAS EMPILHADAS E COM BOA ILUMINAÇÃO. Serena, está com um pedaço quebrado de uma cadeira de madeira na mão, enquanto no chão perto do seu pé tem um homem desmaiado. Ela empunha na mão direita o pedaço de pau e caminha sorrateiramente por trás em direção a outro homem que está olhando para o lado oposto. Quando chega próxima o suficiente, ergue o pedaço de pau para desferir o golpe. UM BARULHO DE VIDRO QUEBRANDO Serena, com o pedaço de madeira erguido, olha para trás por impulso, ao passo que o homem que receberia o golpe também olha para trás seguindo o som. Os dois veem Batista. CUT TO: Batista, imóvel, com arma na mão, encarando Serena e o homem, com um frasco qualquer de vidro espatifado pelo chão. CUT TO: Serena retorna o olhar para frente, um tiro disparado pelo homem a atinge no meio da testa. Serena cai morta.
ABERTURA DA SÉRIE CENA 5 - EXT. CARRO - NOITE (BATISTA, SERENA) DO LADO DE FORA DO GALPÃO, NUMA RUA PERTO, NO CARRO DE BATISTA. Batista está colocando o corpo de Serena no porta-malas do seu carro, encaixa os braços por último. Está respirando bela boca, demonstrando cansaço. Ele segura a tampa do porta-malas com as duas mãos de frente para o corpo olhando-o, coloca as mãos no rosto, olha para cima e dá uma volta em torno de si
133
mesmo passando a mão do rosto até a nuca. Para novamente; e fecha o portamalas com força. Dá a volta e entra no carro pela porta do motorista balançando a cabeça da esquerda para direita e vice-versa, negativamente. Senta no banco, suspira profundamente, olha para o banco do passageiro e vê uma pasta dourada com o código 53R3N4. Ele pega a pasta, abre e começa a ler, a pasta contém algumas fotos de Serena. CELULAR DE BATISTA TOCA Batista pega o celular tocando do bolso, atende enquanto joga a pasta de volta no banco do passageiro. Ele discute com a pessoa do outro lado da linha e desliga. CENA 6 - INT. ESTACIONAMENTO - NOITE (BATISTA) O CARRO DE BATISTA ENTRA NUM ESTACIONAMENTO SUBTERRÂNEO DE UM PRÉDIO COMERCIAL. Batista sai do carro já estacionado, e vai em direção aos elevadores para entrar no prédio. CENA 7 - INT. ESTACIONAMENTO - DIA (SERENA, BATISTA) IMAGENS DO ALVORECER DO DIA EM SÃO PAULO. DEPOIS IMAGENS DO ESTACIONAMENTO. Batista aparece saindo de um elevador e indo em direção ao local do carro estacionado. Avista o carro de longe e percebe que o carro está com o porta-malas aberto. Começa a correr em direção ao carro, até parar em frente ao porta-malas aberto e vazio. Começa a procurar pela garota no estacionamento, correndo de um lado para o outro e olhando para locais mais distantes. Encontra Serena encostada numa parede do canto do estacionamento, sentindo dores e vomitando.
134
Batista volta para o carro e encosta do lado de Serena, ele tenta puxar a garota para dentro do carro do banco do passageiro, mas ela reluta tentando gritar, mesmo com dificuldades pelas dores. SERENA (TENTANDO GRITAR, MAS COM DORES) AAAH! Sai...Sai. Me me...deixa em paz... BATISTA (TAMPANDO A BOCA DA GAROTA) Confia em mim, confia em mim. Você não vai querer ficar aqui sozinha. SERENA (GRITANDO COM DORES) AAAH! Serena entra no carro, Batista dá a volta e entra no banco do motorista, liga o carro e eles saem do estacionamento.
CENA 8 - INT. CARRO EM MOVIMENTO - DIA (SERENA, BATISTA) CARRO DE BATISTA EM MOVIMENTO, EM DIREÇÃO A SUA CASA. Serena sente muitas dores, se contorce e grita sem parar enquanto Batista dirige o carro. NARRAÇÃO EM OFF VOLTA A ECOAR SOMENTE NA CABEÇA DE SERENA INSERT - FLASHS DE SERENA COM NECROTÉRIO, EXPERIÊNCIAS DO SORO E A MÃE SOFRENDO. Serena dá um último grito e desmaia logo em seguida.
135
CENA 9 - INT. QUARTO DA FILHA DE BATISTA - DIA (SERENA, BATISTA) Serena abre os olhos, percebe que está deitada numa cama de solteiro e levanta o dorso lentamente, olha ao redor do quarto e franze a testa não reconhecendo nada do que vê. Geme ainda por dores, e põe a mão na testa, no local do tiro, que é onde mais dói, mas não há ferida alguma. Batista entra e fica parado do lado da porta do quarto, Serena o vê e tenta falar. SERENA (LENTAMENTE) Água… Batista sai do quarto e volta com uma jarra de água e um copo. Batista estende os braços entregando os dois a Serena, mas a garota pega a jarra pela duas mãos e toma a água diretamente, dispensando o copo. A água desce pelo pescoço molhando Serena, mas ela não se importa. BATISTA O que aconteceu com você?...Sabe pelo menos o seu nome?... Serena apenas olha diretamente para Batista, secando a boca com o lençol da cama. Um olhar tenso, sem emitir qualquer som. Batista então tenta novamente. BATISTA Como você se sente? SERENA Dor de cabeça. Batista sai do quarto novamente. Serena se levanta da cama com dificuldades e devagar. Dá uma volta pelo quarto olhando a mobília e a decoração e sai do quarto, indo em direção a sala da casa.
136
CENA 10 - INT. SALA DA CASA DE BATISTA - DIA (SERENA, BATISTA) Serena está observando a sala da casa, e Batista sai de outro cômodo com uma aspirina na mão. Ele entrega a aspirina para Serena, que pega o remédio e desvia o olhar para uma arma que está em cima da mesa da sala. BATISTA (MOSTRANDO O DISTINTIVO) É minha, sou policial federal...Pode ficar tranquila, aqui é minha casa. O DISTINTIVO DE BATISTA CONTÉM SEU SOBRENOME. BATISTA Eu estava de folga ontem a noite, e te achei numa rua passando mal e vomitando. Parei do seu lado e você já foi entrando no carro... BATISTA A única coisa que disse antes de desmaiar era pra não te levar pro hospital. Então, cá estamos... SERENA (FALANDO BAIXO E ABAIXANDO A CABEÇA) Eu não consigo lembrar, nem de ontem, nem de nada...Posso usar seu banheiro ? BATISTA (APONTANDO COM O DEDO O LOCAL) Claro, é ali. Serena vai em direção ao banheiro.
137
CENA 11 - INT. BANHEIRO DE BATISTA - DIA (SERENA, BATISTA) No banheiro, Serena está de frente para o espelho, com a pia logo abaixo. Ela se olha no espelho, abre a torneira, levanta as mangas da camisa que esta usando para lavar o rosto, e então percebe uma tatuagem no braço esquerdo, ela ergue o braço na altura do espelho e lê. A TATUAGEM DIZ: VÁ PARA RUA AKANGATU, 456. Ela continua olhando para o braço e a tatuagem, quando Batista aparece no reflexo do espelho, para na porta com uma toalha na mão e um sabonete. Ele vê a tatuagem. BATISTA Já é um começo. CENA 12 - INT. GALPÃO - DIA APÓS SERENA TOMAR O TIRO (CORPORAÇÃO HEALER) DENTRO DO GALPÃO, A CÂMERA MOSTRA APENAS OS PÉS DE DUAS PESSOAS QUE ANDAM JUNTAS UMA AO LADO DA OUTRA Um homem e uma mulher, em trajes sociais finos, andam com lentidão e observam, olhando para todos os lados, com curiosidade o galpão. Ele fazem o mesmo trajeto que Serena e Batista fizeram na noite anterior. Um terceiro homem que vai a frente deles mostra o local, respondendo as perguntas dos dois que vão atrás. MULHER EM TRAJE SOCIAL Foi por volta de que horas? GUIA Acho que umas nove e meia, dez horas.
138
HOMEM EM TRAJE SOCIAL Ela estava sozinha mesmo? E conseguiu fazer todo esse estrago? GUIA Parece que sim senhor, foi tudo muito rápido. ENQUANTO CONVERSAM, A CÂMERA FOCA NO DISTINTIVO DA POLÍCIA NA CINTURA DO HOMEM EM TRAJE SOCIAL. Um terceiro homem se aproxima, e fala ao ouvido do homem que está de guia. Ele escuta e acena com a cabeça que está entendendo. GUIA Parece que encontraram alguma coisa. CENA 13 - EXT. CASA DE ELISA - DIA (SERENA, BATISTA) IMAGENS MOSTRAM UMA RUA E UMA CASA COM VISÃO DA PORTA DA FRENTE DE LONGE. Serena e Batista se aproximam da porta. Serena bate, mas ninguém responde. Os dois se entreolham, Batista coloca a arma em punho, sai da frente da porta e vai dar uma olhada pela janela próxima. Serena coloca a mão na maçaneta para ver se a porta está aberta, e com sua força acaba quebrando a tranca. Ela arregala os olhos olhando para a maçaneta, gira e percebe que agora está aberta. SERENA (SUSSURRANDO) Ei, ei. A porta está aberta. BATISTA Vai na frente, acho que não tem ninguém.
139
Serena entra pela porta, com Batista com a arma em punho logo atrás. CENA 14 - INT. SALA - CASA DE ELISA - DIA (SERENA, BATISTA E ELISA) Serena e Batista terminam de passar pela porta da casa, e são surpreendidos. Elisa, uma mulher de 37 anos, vestida com roupas largas e sem qualquer grife, sai da cozinha, do outro lado da sala com uma faca na mão, nervosa e apreensiva. Assim que vê Serena se acalma e abaixa a mão com a faca. ELISA Puta que pariu Serena, que susto do cacete !!! ELISA (COLOCANDO A MÃO NO PEITO) Uuhh...Caraio, pressão bateu lá no teto e voltou. Serena fica em silêncio olhando para a mulher, Batista abaixa a arma calmamente. Elisa olha para Serena e o olhar da garota demonstra que algo está errado. Elisa vai até Serena, pega a garota pelas mãos e a leva até o sofá, no meio da sala. ELISA (PEGANDO SERENA PELAS MÃOS) Vem, senta aqui no sofá. Tem alguma coisa errada. Elisa senta ao lado de Serena no sofá, uma de frente para outra. Elisa tira um celular do bolso, a liga a lanterna do aparelho e examina as pupilas da jovem. Depois, coloca o dedo indicador na altura do olho de Serena e começa a movimentá-lo na horizontal.
140
ELISA (MEXENDO O DEDO INDICADOR) Segue meu dedo com os olhos. Você sabe seu nome? Sabe que mora aqui? Sabe que dia é hoje? Lembra do vizinho gostoso do 303? SERENA (SEGUINDO COM O OLHO O DEDO) Não sei meu nome, não consigo me lembrar de nada. Ãh vizinho??
Elisa vira-se para Batista. ELISA E você quem é? O que tá fazendo com a Serena? BATISTA Eu vi ela passando mal na rua, parei e ela quase pulou dentro do carro pedindo ajuda. ELISA E porque você não levou ela para o hospital? BATISTA Ela disse que o único lugar pra não levar era para o hospital. Elisa franze a testa não muito contente com a resposta. Se volta novamente para Serena, com o rosto preocupado e triste, se segurando para não chorar.
141
ELISA Seu nome é Serena, pelo menos é o nome que eu te dei. E você perdeu a memória de novo. Sim, isso já aconteceu antes contigo. Elisa se levanta do sofá e vai em direção ao quarto de Serena na casa. ELISA (ABRINDO A PORTA DO QUARTO) Você já mora comigo há uns dois anos, esse aqui é seu quarto. Serena não se move com a informação dada, fica parada no sofá. ELISA Levanta Serena, vem ver. Elisa olha para Batista. ELISA O Senhor pode aguardar aqui na sala por favor, não te conheço para mostrar minha casa assim de primeira.
CENA 15 - INT. QUARTO - CASA DE ELISA - DIA (SERENA, ELISA) Serena levanta e vai até o quarto, entra e vê que está uma bagunça, cheio de recortes de jornais nas paredes, fotos e anotações espalhadas pela mesa e papéis e livros pelo chão.
142
ELISA Vamos ver se com o reset da memória você fica menos bagunceira um pouco mais organizada. Isso aqui tá foda... Serena olha tudo com calma e o máximo dos detalhes. ELISA A outra vez que você perdeu a memória foi quando a gente se conheceu, uma insanidade total inclusive. Você ficou com medo de acontecer de novo, e ai teve a ideia de montar um vídeo pra você mesma. ELISA Tirou até de um filme senão me engano. Aí no meio tem tipo um banco de memórias, das principais coisas que você deveria saber sobre...você. Elisa vai até um computador que tem no quarto e mostra o vídeo que citou, clicando para reproduzi-lo. Serena se aproxima e começa a olhar para a tela do computador. ELISA Serena, tem algumas coisas que você tem que saber...você tem, tipo...como posso dizer...habilidades especiais. SERENA (OLHANDO AINDA PARA O COMPUTADOR) Que? Como assim habilidades especiais?
143
ELISA É, pode parecer coisa de drogado, quer dizer meio que é...mas é que descobrimos que você tinha esses dons e depois um soro.
SERENA (VIRA PARA ELISA) Habilidades de soro? Olha, isso não faz o menor sentido, não estou entendendo nada. Eu nem te conheço pra você estar falando essas coisas pra mim. ELISA Quando eu te conheci, nós descobrimos que você tinha essas habilidades, e era devido a um soro que você foi submetida quando era criança... Serena senta numa cadeira que havia na frente do computador e volta o olhar novamente para o vídeo, mas não presta atenção nem no vídeo e nem nas palavras de Elisa que agora parecem estarem longe. Serena começa a se sentir sem ar, começa a mexer na gola da camiseta tentando aumentar a entrada de ar, sente muito calor e falta de ar. Respira rapidamente e ofegante. Até que levanta rapidamente da cadeira e sai do quarto rapidamente. CENA 16 - INT. SALA DE ELISA - DIA (SERENA, BATISTA) Serena sai do quarto e vai em direção a porta de saída da casa, passa por Batista que sentado no sofá, e no caminho até a porta apanha um maço de cigarros e um isqueiro que estavam na mesa, e sai. Batista então se levanta e vai até o quarto.
144
CENA 17 - EXT. CASA DE ELISA - DIA (SERENA) LADO DE FORA DA ENTRADA DA CASA DE ELISA Serena sai pela porta da casa já acendendo o cigarro e dá a primeira tragada enquanto chega na rua. CENA 18 - INT. QUARTO - CASA DE ELISA - DIA (ELISA, BATISTA) NO QUARTO DE SERENA Batista vai até Elisa. BATISTA Você não acha melhor ir atrás dela? ELISA (TRISTE, TENTANDO NÃO CHORAR) Não, é melhor ela ficar sozinha um pouco. Ela precisa assimilar tudo que viu e ouviu. Além do mais, eu conheço a Serena, primeira briga que ela se meter, tudo melhora. BATISTA (CONSENTINDO COM A CABEÇA) Mas e você, está bem ? ELISA (LIMPANDO AS LÁGRIMAS) Eu tô bem sim, obrigado. Aí que falta de educação a minha, você não gostaria de beber alguma coisa? Quem sabe um café.
145
BATISTA Claro, claro. Eu aceito um cafezinho sim, mas sem açúcar por favor. ELISA Eu tava precisando de alguma coisa mais forte, isso sim. Elisa se vira e sai em direção a cozinha. Batista dá uma olhada geral no quarto, vira de costas e sai. A CÂMERA FOCA NO COMPUTADOR QUE MOSTRA UMA PASTA COM NOME "DEODATO". CENA 19 - EXT. RUA - DIA (SERENA, BANDIDO E MULHER ASSALTADA) SERENA FUMANDO NA CALÇADA DA RUA NA ESQUINA DA CASA DE ELISA. Enquanto fuma, Serena olha para a mão esquerda, pensa um instante, tira o cigarro da boca com a mão direita e queima a esquerda com o cigarro. Sente a dor da queimadura, mas sente muito mais o espanto e a dor da pele queimada se regenerando. SERENA (MURMURIOS DE DOR E ESPANTO) Aaahhh...Ãh, que porra é essa... INSERT - SERENA TEM OUTRO FLASH DE MEMÓRIAS, ELA SE VÊ NUMA MACA COM INJEÇÕES SENDO APLICADAS NO SEU BRAÇO QUE LHE CAUSAM UMA DOR EXCRUCIANTE, DEPOIS VÊ UM HOMEM DE JALECO BRANCO DANDO A MÃO PARA UMA SERENA CRIANÇA NUM ORFANATO, ATÉ QUE VÊ UMA LUTA NUM LOCAL ESCURO COM TONS VERMELHOS. SERENA COMEÇA A SOCAR UMA PESSOA SEM PODER VER SEU ROSTO, ATÉ GRITOS A TIRAM DO FLASH
146
. BANDIDO Para!!! Para !!! por favor...para, pelo amor de Deus!!! Serena volta a si, e se vê com a mão esquerda segurando um homem pelo pescoço numa parede. Ele está com o rosto todo machucado, e ao seu lado uma jovem com a roupa rasgada, deixando parte do sutiã a mostra, e seus pertences espalhados pelo chão da rua. A jovem está com o celular na mão fazendo uma live mostrando toda a cena. Serena então solta o rapaz, que cai no chão, reúne suas forças e sai correndo. Enquanto isso, Serena pega o celular da mão da menina, quebra no chão e volta para casa de Elisa correndo. CENA 20 - INT. CASA DE ELISA - DIA (SERENA, ELISA E BATISTA) SALA DA CASA DE ELISA Serena entra gritando. Elisa e Batista aparecem vindo da cozinha por conta do barulho. SERENA O que eu sou, o que eu sou...o que eu acabei de fazer, que ódio é esse, parece que eu vou explodir. ELISA Calma Serena, calma. O que aconteceu? Essa raiva, pelo que descobrimos até agora, é um efeito colateral do soro.
147
SERENA AAAH! De novo essa porra de soro... ELISA Assiste pelo menos o vídeo pra você entender o básico... Serena respira e tenta se acalmar. Vai para o quarto, seguida por Batista e Elisa. CENA 21 - INT. QUARTO - CASA DE ELISA - DIA (SERENA, BATISTA E ELISA) QUARTO DE SERENA, O VIDEO REPRODUZIDO CONTÉM AS MESMAS FRASES E LETRAS DE MÚSICA DA NARRAÇÃO EM OFF Serena senta na cadeira em frente ao computador, clica e o vídeo começa a rodar. UM TELEFONE TOCA NO BOLSO DE SERENA NO COMEÇO DO VÍDEO. Serena se assusta com o toque, pois não havia percebido que tinha o aparelho no bolso da jaqueta. Ela olha para o celular e vê o nome Luciano na chamada. Serena franze a testa, querendo ignorar a ligação. Elisa vê o nome no celular de Serena. ELISA Atende! Ele é seu amigo. SERENA Não tenho ideia de quem seja. ELISA Serena atende... Serena atende o celular e imediatamente escuta um grito de socorro do outro lado da linha. Serena coloca o celular no viva-voz.
148
SERENA Alô! Alô! Quem é que tá falando? Uma voz masculina substitui a que gritou por socorro. VIVA-VOZ Olá 53R3N4, gostaria de informá-la que seu amigo magricela está sob nossos cuidados. E que se você não nos encontrar, digamos que os cuidados dele serão...permanentes. Serena abre a boca para xingar a pessoa no viva-voz, mas se contém. Ela respira fundo antes de mais nada, pois sente a culpa, ainda que não se lembre. ELISA Caralho Serena! o Luciano estava tentando de ajudar, por mais que você não lembre, ele é seu amigo. E é a vida de outra pessoa em jogo. SERENA Como você quer se encontrar? Batista e Elisa se entreolham, acenando com a cabeça concordando que vão junto com Serena. VIVA-VOZ Rua Miguel de Cervantes, 989. As 7 da noite. A voz masculina desliga o telefone após as informações. Batista, ao ouvir o endereço, toma um susto, passa a mão pelo rosto em tom de preocupação. Mas volta rapidamente a posição inicial. Serena e Elisa não percebem o susto.
149
ELISA Já que vamos todos, é bom pensar em alguma coisa.
BATISTA Sim, é é é bom ter um plano. E não podemos ir no meu carro, afinal de contas eu sou da federal, pode dar problema pra mim. SERENA OK, então vamos pensar. Eu tenho um começo de ideia. ELISA Diga. CENA 22 - EXT. ESTACIONAMENTO - NOITE (SERENA, ELISA E BATISTA) ELES BOLAM UM PEQUENO PLANO E VÃO NO CARRO DE ELISA, MAS QUEM DIRIGE É BATISTA. O LOCAL MARCADO É O MESMO O QUAL BATISTA ESTEVE PELA MANHÃ, MAS ELE NÃO DIZ NADA A NENHUMA DAS DUAS. Serena entra no estacionamento a pé, descendo a rampa dos carros. Enquanto Batista e Elisa ficam dentro do carro parado do outro lado da rua, em frente ao prédio. Quatro homens parados um do lado do outro, estão a espera de Serena. Eles estão do lado de um carro estacionado. Nenhum deles está armado. CUT TO:
150
BATISTA Daqui não dá pra ter certeza, mas acho que eles não estão armados. ELISA (TENTANDO OLHAR) Será? Parece que não mesmo, mas isso é muito estranho. BATISTA (CONCORDANDO COM A CABEÇA) Sim, não faz sentido. CUT TO: Serena para na frente dos homens. CENA 23 - INT. ESTACIONAMENTO - NOITE (SERENA, LUCIANO) + QUATRO FIGURANTES Serena parada em frente aos homens, sem demonstrar nervosismo. SERENA To aqui, Cadê o Luciano? Os dois homens que estavam mais perto do carro, vão até a porta do banco de trás e tiram Luciano, um jovem de 18 anos recém completados, magro e com óculos de grau. O garoto está assustado, e os homens o empurram na direção de Serena. Ele corre. LUCIANO (CORRENDO NA DIREÇÃO DELA) Obrigado Serena...obrigado Serena é indiferente, não olha para o garoto e mantém a atenção nos quatro homens.
151
SERENA Corre moleque, sai fora daqui, corre... Luciano sai correndo pela rampa do estacionamento em direção a saída. CUT TO: CENA 24 Serena levanta as mãos em sinal de que não vai oferecer resistência, um dos homens a segura com as mãos para trás e as amarra. Enquanto isso, Serena mantém a visão em Luciano, até ele sair do seu campo de visão alcançando a saída. SERENA (SE VOLTANDO PARA OS HOMENS) Bom, agora que estamos sozinhos. Vocês são os famosos quem? E Que porra querem comigo? Silêncio. Até que um dos homens dá um soco na barriga de Serena, que sente a dor e agacha por reflexo. SERENA (SENTINDO A DOR DO SOCO) Sério, não vão falar nada? Olha eu não lembro da cara de nenhum de vocês, mas depois disso aqui, tomara que vocês também não... Serena dá uma cabeçada no homem que estava a segurando por trás, arrebenta facilmente as mãos amarradas. SERENA (DANDO UM LEVE SORRISO) Ah, eu vou gostar disso. Ela começa uma luta contra os quatro. Ela bate em todos eles, dessa vez não contendo a força, deixando todos desmaiados e bem machucados. Elisa sai do carro e grita para Luciano que estava saindo correndo do estacionamento. Luciano então vê Elisa e corre em direção a ela.
152
CENA 25 - EXT. ESTACIONAMENTO - NOITE (LUCIANO, ELISA E BATISTA) Luciano e Elisa entram no banco de trás do carro. ELISA Vai vai vai vai Batista... Batista liga o carro e arranca para frente do prédio.
BATISTA (FALANDO CONSIGO MESMO) Isso tá muito fácil... ELISA Que?? BATISTA Nada nada...Corre Serena Corre !!! Serena corre em direção ao carro, abre a porta do passageiro, entra e o carro sai em disparada. CUT TO: CENA 26 - INT. CELULAR GRAVANDO - NOITE A VISÃO DE UMA CÂMERA DE CELULAR DE DENTRO DE UM CARRO PARADO NO ESTACIONAMENTO GRAVANDO DE FRENTE TODA A CENA DA CHEGADA ATÉ A FUGA DE SERENA, APÓS NOCAUTEAR TODOS OS HOMENS. FIM DO EPISÓDIO