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2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEORICA DO TEMA

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA – TEMA - CONFLITO PESSOAL

“A essência de cada ser”

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O meio em que se vive dita metade dos comportamentos e gostos de uma pessoa, através de famílias, amigos, escola ou trabalho. Todos desenvolvem as características de existir na sociedade ou as preferências e desgostos por determinadas coisas, ainda na fase de formação como ser. Quais seriam os obstáculos e ações durante o crescimento do ser humano que faz com que ele se perca em sua “essência”? De não se reconhecer mais e sentir que se tornou mais um no meio de tantos outros, como se fosse apenas um “espectador” de sua própria vida, gerando até mesmo um conflito interno. Segundo “Freud” , os conflitos internos são inerentes à construção do sujeito, se caracterizando pela oposição de desejos e exigências contrárias internas” , sendo assim existindo uma dualidade entre o interno e o que vem de fora durante a formação do ser humano.

Os psicólogos "Frank M. Dattilio e Arthur Freedman", abordam no livro "Estratégias cognitivo comportamentais de intervenção em situações de crise" , existem situações que quando interrompidas de forma abruptas, são transformadas em rupturas ou em “lutos emocionais” , caracterizados por estados emocionais de tristeza e dificuldade em absorver tal situação fazendo com que ela fique “escondida” e não seja trabalhada no indivíduo, o que adia o enfrentamento e pode gerar períodos de esgotamento físico e emocional por um tempo indeterminado. Contudo, ao passar por esse período o indivíduo perde sua vivacidade, vontade de seguir com suas antigas demandas de vida e aos poucos vai deixando de lado sua essência até que ocorra a superação deste período. Este estado pode ser causado por situações variadas a perda de um familiar, o sentimento de solidão, mudanças e novas circunstâncias de vida, entre outros eventos que também podem desencadear essa condição.

As reações às crises podem ser as mais diversas. Alguns podem não ter consciência de já estarem em crise, são pegos de surpresa quando a situação explode, nem desconfiaram do que já estava obvio para os outros. Ou podem até estar cientes das dificuldades, mas, mas vêem o ponto de ruptura bem mais distante do que realmente está. (Site: Psicólogos em São Paulo – Texto sobre: Crise psicológica)

Em uma conversa com a psicanalista Francileide de Sousa Santos sobre a personagem Flora, contando seus pensamentos, a perda de sí da personagem , a falta da vontade de fazer as coisas que tanto gostava , ou seja, falta de energia e de interesse por atividades cotidianas e prazerosas entre outras coisas, se fosse uma pessoa real o diagnostico de Flora seria de uma mulher tendo depressão, ou melhor, luto da perca de si e da saída da sua zona de conforto.

Os transtornos mentais são um grupo de doenças que sobrecarregam não apenas a pessoa mas também seu parente e aqueles que zelam dele. Entre eles, a depressão é atualmente prognosticada a maior carga de doença.

A depressão é uma questão de saúde generalizado: de acordo com um relatório global editado pela organização Mundial da saúde (OMS), o número de casos amplificou mais de 18 % em dez anos, com mais de 320 milhões de pessoas diagnosticadas. No caso do Brasil, estima-se que 5,8 % do povo seja afetada, o maior percentual do continente latino-americano.

A depressão é uma patologia que preocupa cientistas de todo o mundo. As estatísticas atuais revelam que mais de 400 milhões de pessoas com depressão correm um risco de 11 % de desenvolver a doença em homens e até 18,6 % em meninas. A Organização Mundial da saúde (OMS) prevê que nos próximos 20 anos, a depressão crescerá do quarto para o segundo lugar na lista de doenças caras e mortais, atrás apenas das doenças cardíacos. A depressão afeta homens e meninas de todas as idades independentemente do nível socioeconômico ou país de habitação.

Existem bilhões de reações químicas que compõem os sistemas dinâmicos envolvidos em como sentimos, percebemos e como abordamos a vida. B. Mau humor, insônia, perda de apetite. No entanto, as causas podem ser completamente diferentes. Nesse sentido, se uma pessoa está deprimida, pode haver um desequilíbrio químico. Em outras palavras, existe a possibilidade de que o equilíbrio dessa comunicação seja quebrado e o organismo não consiga desempenhar sua função original.

Segundo a Universidade de Harvard, a depressão está relacionada não apenas ao comportamento e níveis de substâncias químicas como neurotransmissores, mas também ao funcionamento de conexões e circuitos neuronais em regiões do cérebro associadas ao humor.

Um estudo publicado por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington mostrou que o hipocampo, a memória principal de emoções e comportamentos era menor em algumas pessoas que sofrem de depressão. A pesquisa envolveu 24 mulheres que apresentavam depressão. Em média, o hipocampo era de 9 a 13% pequeno em pacientes deprimidos. Além disso, quanto mais episódios de depressão uma pessoa teve , menor o hipocampo.

Para entender melhor a mente de uma pessoa depressiva como a personagem é preciso entender como funciona. Quando você está deprimido, o cérebro aprende que os estímulos que costumavam lhe trazer felicidade e prazer não o fazem mais, como Flora que amava pintar, passear e parou de fazer essas coisas, pois ele entende que não faz diferença você continuar as atividades que fazia antes. Em outras palavras, se antes de você se sentir animado para sair com os amigos, pintar, ir ao parque ou passear com o cachorro, com o cérebro deprimido , você não vai querer fazer essas atividades. E é aí que começa o ciclo , porque essa falta de força de vontade te afasta mais daquelas coisas que dão sentido e alegria à sua vida.

O mais conhecido é a serotonina, um neurotransmissor que no cérebro e em outros sistemas do corpo provoca uma sensação de bem-estar. Então pode ser que, em um cérebro deprimido, os neurotransmissores estejam desequilibrados, de modo que não forneçam o necessário bem-estar , quando há um desequilíbrio na produção, a doença se instala dentro. E além deste neurotransmissor, é possível o desequilíbrio de norepinefrina e dopamina também o estado de depressão. Deve-se mencionar também que esse desequilíbrio entre neurotransmissores afeta principalmente as áreas cerebrais relacionadas à motivação, atenção e capacidade de planejamento. Esse fato explica muitos comportamentos que as pessoas têm quando estão deprimidas, como falta de motivação para atividades comuns.

As emoções negativas são normais para todos, segundo Fabio Porto, neurologista do Hospital das Clínicas na Faculdade de Medicina da Universidade de SP (HCFMUSP). Por exemplo, algumas pessoas se sentem mais desencorajadas em dias chuvosos. "A diferença é que, na ausência de depressão, o cérebro pode regular essa emoção negativa. Pode ser triste, mas você tem que ir trabalhar, tomar café, pensar coisas boas e depois ir embora."

“Essas áreas se tornaram muito ativas. Essa rede de neurônios no cérebro torna-se tão ativa que as pessoas não conseguem separar seus humores dos aspectos negativos, a tristeza e a apatia se instalam, dificultando encontrar alegria nas coisas.” Descrito como Autor Especialista. "Então você não pode dizer 'Levante-se e saia de casa' quando alguém está deprimido. Os humanos não podem fazer isso, e não é falta de vontade.

“Os neurônios precisam de neurotransmissores para se comunicar, e é por isso que estamos tentando aumentar os neurotransmissores apropriados na terapia para adaptar a função desses neurônios” , diz Porto.

Imagem retirada do site:https://www.psicologamonicamenequelli.com.br/depressao/ Figura 1

Apesar dessas análises e pesquisas das faculdade analisando mais sobre depressão, para se entender melhor até os pensamentos e sentimentos de Flora a pesquisa andou pela psicanalise, especificamente pelo Luto e melancolia ,o último da série de textos resultantes do grande esforço teórico a que Freud batizou de “metapsicologia” .

O termo "depressão" é bastante recente, portanto "melancolia" tem raízes profundas e na história, como atesta o aforismo 23 do livro VI Aforismos, de Hipócrates: “ Se a tristeza durar muito tempo, tal estado é melancólico. ”3 Diz-se que, desde Freud, a depressão é considerada na literatura psicanalítica em geral como uma manifestação sintomática trans-estrutural. Não é prerrogativa de uma estrutura psíquica particular. Como sintoma , na pluralidade de suas clínicas, a depressão tem valor de verdade apesar da dor ou mesmo da angústia sentida pelo indivíduo Freud faz uma proposição decisiva em sua obra: está ligada à falta. A economia psíquica se organiza em torno da falta.

Em Luto e melancolia, o período de luto é o momento em que o sujeito , sofrendo a perda, em real, do objeto amado, está sob o golpe de um corte, de esta separação e o desgosto do desprazer que lhe é decorrente. É o tempo durante o qual o sujeito reinveste em si mesmo. Esse tempo corresponde ao que é necessário para que o sujeito recupere totalmente sua capacidade de direcionar sua libidinal para outros objetos. Por outro lado, no contexto da melancolia, o afeto não está necessariamente correlacionado com a experiência de perder um objeto para a realidade. No luto, porque o objeto desapareceu, “[...] o mundo se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio eu ” (FREUD, [1917] 1996, p. 251). Poder-se-ia considerar que a hipótese de Freud nisso é a seguinte: o objeto perdido da melancolia não é exterior ao sujeito , como no luto normal, patológico, mas do lado da instância egóica.

Por Flora ter tido a perca de interesse ela fica de luto, o luto é uma reação a perda de algo e não implica condição patológica desde que seja superado após certo período de tempo. O luto é muito parecido com melancolia, a diferença que neste caso se perde, enquanto na melancolia o objeto não é algo definitivo, que "algo precisa ser feito" sobre esse objeto ou isso pessoa.

No luto profundo, há desinteresse pelo mundo exterior, a menos que haja circunstâncias de objetos perdidos. Há a dificuldade de adotar um novo objeto de amor. A ausência de um objeto exige um grande esforço de redirecionamento da libido, como diria Freud , que nos traz à vida.

Muitas coisas para serem tiradas sem sair do lugar: é um relato preciso e pungente do estado mental de um enlutado. A perda de um ente querido não é apenas a perda do objeto, mas também a perda do lugar que o sobrevivente ocupou com o falecido. Um lugar de amor, amigos, filhos, irmãos. Com a morte de Dito, Miguilim também perdeu seu lugar naquela querida irmandade. Ou melhor: foi brutalmente arrancado daquele lugar, mas continuava lá, na sua casa habitual, em Mutum, onde nasceu, que agora lhe parecia estranha e desinteressante e feliz.

A separação que surge no contexto do luto também é inconsciente, mas seus resultados chegam à consciência sem impedimentos. Os enlutados conseguiram pensar que ele estava menos triste e ele conseguiu admitir um desapego gradual do objeto perdido.

Porém até quem está no luto pode dar a volta por cima, e a personagem Flora começou a sair de seu luto quando teve um gatilho do seu passado para poder viver a vida que queria antes.

A idealização de situações vividas no passado O passado é a base de quem somos no presente, nele tiramos as nossas vivências e a construção de quem somos conforme vamos amadurecendo em cada etapa, como na infância, adolescência, fase adulta e a velhice. Segundo o que apontam os psicólogos, um dos motivos mais comuns para uma pessoa se sentir conectada ao passado é por alguma cicatriz emocional que ainda está aberta, ou por uma sensação – muitas vezes ilusória – de algo que pode não ter sido concluído da maneira que ela acha que deveria. Ao perceber que perdeu sua essência, podemos passar por um processo nostálgico onde o seu "próprio eu" , procura encontrar no passado os sentimentos que o tornava mais vivo.

A “nostalgia” é um fenômeno que traz uma saudade extrema de algo que já foi vivido um dia. É a vontade direta de retornar a alguma lembrança ou estado da sua vida. Esse termo foi citado pela primeira vez pelo médico “Johannes Hofer” em decorrência da melancolia intensa que soldados de guerra sentiam pela vontade de retornar para casa e para suas antigas vidas. Apesar da “nostalgia” ser associada a lembranças e poder ser utilizada em benefício do indivíduo, ela em exagero, associada a outras condições mentais, é transformada em melancolia.

Pode-se usar das reminiscências para resignificar o passado, buscar nele o crescimento como ser, mantendo em mente pré-fundamentos para a transformação de nosso atual presente. Utilizar-se dessa ferramenta para a não romantização do passado e também podendo ser usado como ferramenta de análise para as situações vividas.

A memorização dos fatos, o registro como recurso de parâmetro das fases da vida, cria-se uma base para entendermos o que já aconteceu e através dessas explorações de antigas versões dos seres humanos, mantem-se a essência e também a transforma de acordo com o amadurecimento de cada individuo.

Mediante o exposto sobre a mente da personagem, sobre o luto seguindo a psicanálise de Freud, O luto pode ser cabido como o enfrentamento de uma perda real e simbólica em nosso processo de desenvolvimento. Por exemplo, a adolescência é um período de transição de dor e sofrimento que as crianças enfrentam ao entrar em uma nova fase da vida, o que ocorreu com Flora no momento de sua adolescência para fase adulta que se mudou com marido enfrentando uma vida totalmente diferente.

Você deve fechar um loop para iniciar outro. Assim é a tristeza. E não só a adolescência, mas também o fim de um relacionamento amoroso, uma demissão do emprego a perda da saúde é um processo emocional de vivenciar uma ausência e um grande vazio causado por uma perda.

Segundo Freud, o luto é um processo lento que pode ser caracterizado por tristeza profunda, a retirada de tudo o que não está relacionado à reflexão sobre o objeto a perda de interesse pelo mundo exterior e o incapacidade de substituí-lo pela adoção de um novo objeto de amor. Entendo, através dos estudos psicanalíticos de Sigmund em "eu" e o "id," que o próprio ato de nascer, ou seja, a própria iniciação de uma vida , é um protótipo do luto.

Sendo assim, a personagem tendo o luto, sofrendo a perca de sí, dos sonhos que tinha antes de casar, dos amigos, da pintura, do mar, e quando se dá conta, quando o grvador lhe dá o gatilho dessa perca ela resolve mudar e retomar da onde se havia perdido.

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