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3.4 ARGUMENTO
from Florescer
by Rede Código
3.4
ARGUMENTO
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Flora está parada em frente a janela que fica acima da pia, olhando para fora e tomando chá em uma caneca. todas as portas e janelas da casa estão fechadas. Flora desperta ao ouvir o telefone tocar, ela caminha em direção ao seu celular e vê pela tela que é o seu marido e não atende.
Flora está em seu ateliê, sentada na cadeira e escrevendo em seu diário.. Vemos muitos livros espalhados, quadros amontoados, discos e em sua escrivaninha um caderno de anotações e um gravador antigo. Flora pega um gravador e fica ouvindo. Flora vai até a sala e tem uma conversa l com Antônio e ele não dá muita atenção.
Flora está parada em sua cozinha olhando em direção a janela, vemos Antônio sair para o trabalho, ela o observa sair e em seguida vai em direção ao ateliê.
Flora sobe as escadas e abre a porta, ela pega sua mala de viagem, alguns livros, seu diário, sua bolsa e os coloca dentro dela. Flora olha mais uma vez para o cômodo e o fecha, desce as escadas e caminha até a antessala, abre sua bolsa, pega seu diário e o abre na página marcada com um poema, destaca a página e a arranca e deixa o poema na mesinha de canto da sala. Flora sai para o quintal, coloca a mala no porta-malas , entra no carro, coloca a chave na ignição, passa pelo portão da garagem e vai embora.
Flora está em seu carro dirigindo, vemos as ruas de seu bairro, ela olha para o retrovisor e tem uma recordação. Flora tem 24 anos de idade, ela está no banco do passageiro de um carro, olhando em direção a janela. Vemos a vista da janela, a estrada lá fora e as árvores. Flora comenta sobre como aquela parte da estrada é bonita e que daria um ótimo quadro. Antônio que está com ela dirigindo a responde com uma resposta curta e Flora volta a olhar para a janela.
Volta para Flora mais velha dirigindo, vemos a estrada lá fora e podemos ver mais claramente essa parte da estrada. No mesmo trecho da estrada dirigindo, ela para o carro e fica olhando as árvores lá fora, contemplando a paisagem ela sorri e lembra-se de algo, em seguida pega o seu celular, coloca no gravador e começa a falar: “Hoje me lembrei dos dias de juventude...estou agora na mesma estrada que estive anos atrás e apenas agora em completo anonimato pude vivenciar a vista dela. Faz apenas algumas horas que estou viajando...mas é como se eu já estivesse aqui por anos. De repente começo a me recordar de tudo...
Flora está em sua casa, mexendo nas coisas de seu ateliê. Ela encontra um gravador antigo e se emociona. Voltando de sua lembrança, Flora termina a gravação e coloca novamente para iniciar e continua a dirigir, enquanto isso ela continua a falar para o seu áudio diário: “É estranho lembrar de tudo...estando de volta a essas estradas, me faz pensar como eu era intensa quando nova...decidia as coisas e pronto, do nada já estava em um carro mudando para outra cidade...como pude abandonar tudo o que eu conhecia para ir em busca de uma situação imprecisa? Na verdade, acho que eu sempre gostei de ir em busca do incerto, do desconhecido...É sempre empolgante quando você ainda não conhece os lugares...as pessoas...
Flora mais velha dirigindo vemos uma Floricultura próxima à estrada, Flora para o carro no estacionamento e entra na floricultura percebemos que ela está comovida com algo, ela toca as flores e olha à sua volta. Ela vê uma jovem e lembra-se dela mais nova. As "duas" Floras ficam frente a frente, porém uma está na lembrança e ao outra no tempo presente.
Flora volta para o seu carro, dentro ela suspira, liga a gravação e segue viagem. Imagens da estrada.
Antônio entra em casa, vai até a sala e senta na poltrona. Apenas depois de tirar o seu calçado, olha a sua volta e chama pela esposa, ele vai de cômodo em cômodo a sua procura. Volta para antessala olhando ao seu redor e vê o poema da esposa na mesinha de canto. Agora um pouco mais nervoso, vai em direção a mesa e pega a folha e a lê.
Poema de Flora para Antônio:
“Naquele momento eu soube que existia. Talvez você ache estranho o fato da demora da consciência, Mas é fácil esquecer. A sensação é de estar vivendo em águas profundas, E por um breve momento é possível subir até a margem. Com isso você sente a luz e todo o ar vindo com força. A sensação é inebriante, poucos poderiam entender.
Faz tempo que não sentia o choque da existência - Estaria sonhando? - Quem estaria vivendo por mim? É estranho, mas hoje senti a existência. Senti ela por todo o meu corpo, mas não de forma angustiante como já havia ocorrido antes. E por um momento apenas pensei: “Estou viva, existem possibilidades, o tempo está em movimento a todo instante. Com isso é possível tentar descobrir um jeito de existir a minha forma, de ir em busca de todos os meus fragmentos deixados pelo caminho”
- Para Antônio, Preciso ir...me encontrar. Espero que você consiga fazer o mesmo.
Com amor, Flora!
Com as mãos trêmulas, Antônio tira do bolso o celular e liga para esposa, ela não atende, ele liga mais uma vez. Flora mais velha ainda no carro ouve seu telefone tocar, ao olhar vê que se trata de seu marido e ela não atende.
Flora mais velha, agora mais próxima de sua cidade natal. Da estrada conseguimos ver que o mar está próximo. Flora grava sua voz: “Finalmente me aproximo de minha verdadeira casa...essência, aqui a nostalgia fica mais forte, chega até sufocar sentir os ventos...é como se já sentisse a praia perto de mim, os cheiros, o clima. Passei tanto tempo sem vir para cá, que é como se nada daquilo houvesse existido...quase acreditei não ter existido, parecia tudo um sonho que foi se afastando aos poucos da minha mente...Às vezes eu me pergunto o que foi que eu perdi e o que estava procurando quando jovem”
Flora mais nova sentada em uma pedra, ela escreve em seu diário e começa a ler em voz alta:
“Existe um fim dentro deste começo. E por paradoxo um começo dentro deste fim.
Os dias passam como flashes rápidos de nossa própria existência. Será que o que é esquecido, é libertado? Pensamentos que perseguimos obsessivamente estão aprisionados?
No mundo das ideias, tudo se torna teoria do esquecimento. Ou é na teoria do esquecimento, em que tudo se torna possível?
Fora do tempo e do espaço, Um mundo onde existem fins dentro de começos e começos dentro de fins.
E tudo vai apenas se repetindo em nossas memórias, até que se torne esquecida.
Flora mais velha estaciona o carro na calçada próxima à praia. Ela sai do carro de forma eufórica. Anda apressada pela areia. Chega na beira do mar correndo. Vemos takes das ondas, de Flora andando e o fim de tarde na praia.