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2.2 FUNDAMENTAÇÃO FORMATO
from Florescer
by Rede Código
2.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA – FORMATO: CURTA-METRAGEM
Segundo Cynthia Felando, em seu livro “ Discovering short films: The history and Style of Live-Action Fiction Shorts ” (Descobrindo o Curta: A História e estilo de Curtas de ficção LiveAction), o termo short films/short subjects, no Brasil conhecidos como curtas-metragens, surge a partir da década de 1910. Foi nesse período que a indústria cinematográfica induziu o padrão dos longas-metragens. Até então, “todos os filmes eram curtas “ . Patrick Nash complementa as palavras de Cynthia em seu livro “Short Films: Writing the Screenplay ” (Curta-metragem: escrevendo o roteiro), afirmando que somente com o desenvolvimento dos longas, criando um contraste entre as durações das produções, da quantidade de rolos utilizados nas diferentes obras, entre outras características que os distinguiam, é que se formalizou a nomenclatura “curta” e “longa” metragem.
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Na ascensão das produções de maior duração, ainda em meados da década de 1910, os curtas foram considerados inferiores quando comparados aos longas-metragens, que por sua vez, eram vistos como “maiores e melhores” e “mais efetivos” no quesito entretenimento, diz Cynthia em sua obra. Mesmo com a marginalização, o curta metragem sobreviveu a esse período e as produções dos curtas live-actions, principalmente as comédias, continuaram. Haviam também produções de curtas-metragens com viés dramático, porem eles eram ainda menos populares do que as comédias genéricas da época.
Em um determinado momento os curtas passaram a ser exibidos antes das atrações principais dos teatros e cinemas pois eram uma maneira de alcançar um público mais abrangente pela “atração plus” muito convidativa. Em outras palavras, era possível atingir idades, gêneros e classes sociais de diferentes interesses de maneira mais prática, o que beneficiava muito os proprietários desses estabelecimentos.
Após a revolução do som no cinema, nota-se um aumento nas produções de curtas metragens de cunho dramático. O foco dessas histórias eram, geralmente, conflitos familiares com personagens reconhecíveis e motivações compreensíveis, mostrando o “mundo real” . A presença desse tipo conteúdo em curtas-metragens é especialmente notável, dada a grande ênfase na comédia nos curtas da era do estúdio. Essas companhias começaram a produzir cada vez mais curtas. Encontraram neles uma forma de aumentar a rentabilidade das produções com uma tática chamada “full-line forcing” que consistia em persuadir proprietários de cinemas a aceitar pacotes completos com curtas e longas.
“Em 1932, os curtas-metragens ganharam mais um impulso de reconhecimento quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas inaugurou dois prêmios de curtas-metragens, o primeiro dos quais demonstra o duradouro destaque da comédia nos curtas: “Curtas - comédia” e “Curtas - novidade. ” - (FELANDO, 2015 P.29 P 30)
Apesar do aumento na elaboração dos curtas, sua popularização e boas críticas, ainda sim a produção do mesmo era inferiorizada ao lado do longa-metragem.
No período da Depressão, os números das bilheterias caíram, o que fez os donos dos cinemas procurarem novas estratégias. Eles ofereciam serviços duplos de exibição com o intuito de trazer o espectador de volta as salas de cinema. Logo, a tática de exibir os curtas antes das seções principais acabou se tornando cada vez menos viável devido ao curto espaço de tempo entre as seções na década de 1950. Mais uma vez o curta volta a batalhar por um espaço de visibilidade e prestigio no mercado cinematográfico.
A produção de curtas pelos estúdios diminuiu drasticamente e, a primeira instancia, isso impactou negativamente o avanço que já tinha sido conquistado até então. Por outro lado, o encerramento dessas companhias na produção de curtas, abriu caminho para talvez o melhor dos cenários para o mesmo. Ao invés de limitar o campo de atuação, esse novo marco possibilitou explorar novas áreas. A partir daquele momento, as produções se tornaram uma espécie de experimento independente, com uma perspectiva estudantil, ganhando cada vez mais popularidade em festivais de cinema e o surgimento de cursos e programas de cinema cresceu em nível global. Essas escolas obtiveram reconhecimento não só dentro, mas também fora do campus, à medida que milhares de filmes estudantis foram sendo produzidos e distribuídos nos festivais.
A atenção, reconhecimento e visibilidade que os curtas recebem nesses festivais são imprescindíveis para continuação/sobrevivência do formato. Em 1982 esses eventos se tornaram competitivos, instigando ainda mais os novos cineastas em suas produções. Finalmente o curta encontra um local seguro para ser compartilhado entre os amantes da experimentação.
A década de 1950 à 1960, provou ser de muitas mudanças e renovações para o curtametragem, mas não parou por aí, pois no século XXI o Streaming revolucionou o jeito como o cinema atuava, sendo possível facilitar, como nunca antes, a disseminação dessas produções.
Migrando do campo internacional para o cenário Brasileiro, existem cada vez mais festivais focados exclusivamente em curtas-metragens que não são explorados apenas como uma categoria de um festival de longa-metragem. Um dos mais famosos festivais do mundo teve sua 33º edição em São Paulo, o “KinoForum” . Outro festival de grande destaque no brasil é o “Curta Cinema” que ocorre no Rio de Janeiro desde 1991. Também temos no Brasil festivais menores e mais recentes como festivais reginais. Esses e muitos outros dão visibilidade e palco para as produções nacionais que estão em ascensão, como o festival de curta-metragem de Jundiaí, por exemplo, que na 3º edição de 2022 contou com 129 inscrições. Dentre elas, encontram-se 40 municípios de 9 estados diferentes do Brasil, como informa o site oficial do evento.
Cada vez mais festivais de curtas são inaugurados abrindo espaço até para propostas bem
especificas, como o “Sinédoque” por exemplo que foi o primeiro a dedicar-se exclusivamente ao documentário brasileiro em curta-metragem do país.
O jornal “Bem Paraná” , em uma das edições do ano de 2022, utiliza uma entrevista feita com a produtora e cineasta brasileira Bruna Cabral, que possui uma carreira consolidada no mercado internacional em Hollywood para abordar o crescimento do mercado de curtas no brasil. A cineasta afirma que os curtas-metragens são uma forma acessível de conhecer o processo de produção e ganhar experiência, que é um dos principais motivos da escolha desse formato para a produção de “Florecer” .
Apesar do aumento de possibilidades no ambiente digital para os curtas, os festivais de cinema independentes ainda são a principal fonte de exibição dos mesmos. Curtas-metragens não são tão populares no Brasil como os longas. Um artigo disponível pela ANCINE chamado “A importância dos Festivais e Mostras de Audiovisual” destaca a urgência e necessidade do país no que se refere ao formato, devido aos espaços limitados de visualização e consequentemente conhecimento dessas obras.
"Dentre as atribuições descritas na Medida Provisória que criou a Agência, nos objetivos estratégicos que norteiam a sua atuação e nas diretrizes de trabalho das diversas áreas da ANCINE, encontra-se o estímulo à realização de eventos que possam disseminar a produção audiovisual em todo o território nacional. " ANCINE (2022)
A iniciativa de trazer o formato, mais efetivamente, para dentro do streaming, pode ser o empurrão que falta para alavancar e estabelecer comercialmente o curta-metragem no Brasil. As produções nacionais já demonstraram diversas vezes na conquista de premiações dentro e fora do país o potencial e capacidade para o reconhecimento mundial.
Portanto, pode-se concluir que apesar de o formato ter passado por inúmeras transformações desde sua concepção do cinema mudo para o sonoro, do preto e branco para o colorido, do entretenimento ao experimental ao educacional, do rolo de filme para o digital, uma coisa é certa, o curta irá sempre acompanhar as mudanças do universo cinematográfico. Se adaptando, se moldando, se inventando e reinventando, conquistando e reconquistando um espaço novo e de novo à medida que as regras e normas que o regem também mudarem.