GABRIEL DA SILVA - ESCRITO

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Gabriel da Silva Brito Entrevistada: Gildasia Cardoso da Silva, Mulher, 42 anos. Profissão: Operadora de Caixa. São Paulo, 16 de Maio de 2022. Gildasia começa falando sobre a vida dos seus pais, nordestinos, nascidos no interior da Bahia, em uma comunidade pequena denominada como Terra Seca. Tudo começa com Jaci, uma linda jovem, com cabelos longos, pretos e traços indígenas, filha de Paulo, um homem preconceitoso, descendente de ciganos, a mãe de Jaci, Elza, uma mulher acanhada, mas muito gentil, Elza era descente de indíos, por issso o nome Jaci e os traços indigenas. José, homem negro, trabalhador rural, que se apaixona por Jaci, uma paixão quase proibida, Paulo, o pai de Jaci não aceitava o relacionamento devido a cor da pele de José. Jaci apaixanada por José, decide largar tudo e ir embora para viver o seu romance com o homem de quem gostava. Os dois fogem, à tiros disparados por Paulo, para assim impedir a fuga inesperada e perigosa. Corajosos, conseguem fugir para longe, onde começam uma nova vida. Em seguida Jaci fica grávida do seu primeiro filho, Jorge, logo após nascem, Jumário, Geraldo, e Gildasia. Gildasia fala muito sobre o seu pai, José, que vem de uma familía muito grande, eram em 21 irmãos, que conseguiu ler e escrever em apenas 06 meses de aula, esse foi o único período que conseguiu frequentar a escola. José, vindo de uma família pobre, que sempre morou em zona rural, tinha que revezar as idas à escola com os outros irmãos pois não havia vestimentas e calçados para que todos fossem, além do mais, sempre era necessário que alguns dos seus 21 irmãos ajudassem nas tarefas da roça, como plantar, colher, capinar, etc. Por ter tido uma infância em que teve que trabalhar, ajudar na roça e cuidar dos irmãos, José sempre prezou para que os seus filhos tivessem uma vida diferente, e assim foi. Gildasia lembra que seu pai nunca deixou faltar nada, e sempre quis que os seus filhos estudassem, relata que andava cerca de 14km entre a ida e a volta para a escola, sentia muita fome durante o trajeto e para amenizar, escondia marmitas em arbustos para que volta pudesse comer algo e conseguir chegar em casa. Se lembra de uma situação engraçada que ocorreu durante as idas para aula neste longo percurso, um grupo de meninos a viu escondendo sua marmita em um local com bastante mato, ali na estrada mesmo, e na volta com bastante fome, foi deliciar-se com a sua marmita de farofa com ovo, feita pela sua mãe, mas se deparou com um punhado pedras, colocada pelos meninos que havia descoberto seu esconderijo. Ainda lembra que fazia esse trajeto descalça para que o calçado pudesse durar mais, quando chegava na escola lavava os pés sujos de terra da longa estrada percorrida, era uma menina muito estudiosa… Quando questionada sobre as dificuldades da sua infancia, Gildasia lembra da época que seu pai ficou doente e teve que ser levado às pressas para São Paulo. Sua mãe grávida, teve que ser cuidada por ela, enquantos os irmãos cuidavam da roça para conseguir manter o alimento da família. Relata que os irmãos trabalhavam todos os dias para que no sábado fossem até outro município à cavalo comprar ossos para servir de alimento durante a semana. Seu pai ficou por muito tempo fora de casa devido aos problemas de saúde, Gildasia continuava cuidando de sua mãe Jaci e lembra das cartas em que escrevia chorando ao lado da mãe, para que fossem enviadas a seu pai, em São Paulo. Enfatiza que os irmãos foram fundamentais nessa época, pois não deixaram faltar nada, e mesmo jovens, cuidavam da familía e da roça para o seu pai. Após a melhora do seu pai, ele retorna para casa e decide mudar-se para mais perto do município de Laje-BA, continuava na zona rural, mas ainda assim ficaria mais próximo da escola. Posteriormente a mudança, nasce a irmã mais nova, Gilmara, que foi cuidada por Gildasia. Mais perto da cidade, a vida ficou um pouco mais fácil, os irmãos começaram a trabalhar fora, Gildasia e Geraldo continuaram estudando até a conclusão do ensino médio, e os demais desistiram dos estudos, posteriormente se casaram e saíram de casa. A entrevistada conta que começou a fazer magistério, onde foi um começo para seguir a profissão de professora, ainda


chegou a fazer estágios em escolas da rede pública do município, tudo isso aos 16 anos, nessa mesma época conheceu Natalicio, seu primeiro namorado mas teve que abandonar tudo, pois aconteceu algo inesperado, aos 19 anos Gildasia adescobriu que estava grávida de seu primeiro filho, Gabriel. Não conseguiu seguir o seu grande sonho, que era ser professora, vivia em um relacionamento abusivo e tóxico. Natalicio era possessivo, muito ciumento, mentiroso, e tirou totalmente a liberdade da entrevistada. Logo Gildasia, que amava ter amizades, sair, se dirvertir, até de visitar os pais foi proibida. Após a o nascimento do filho, mudou-se para uma fazenda distante, em um outro provoado chamado “Beira do Rio”, um local muito afastado da cidade, onde não havia energia elétrica, nesta época também não existia telefone o que tornava incomunicável com qualquer pessoa, até mesmo com a sua fámilia. Relata que ficava meses sem notícias de seus familiares, ficou isolada, sem amigos, havia contato apenas com os moradores da fazenda, que sempre lhe ajudava, lhe fazia companhia, ajudava cuidando do seu filho, já que o pai foi ausente na maioria das vezes. Natalicio continuava sendo o marido possessivo, começou a trair Gildasia, que passava noites sozinha ali na fazenda, o local era perigoso, ela lembra de histórias assustadores em que passou apuros por sempre estar sem ninguém que a defendesse, sem ter para onde ir continuava ali na fazenda, cuidando do seu filho, chegou a fazer coisas para vender aos moradores locais, mas sempre teve como sonho sair daquele local e ter uma vida melhor. Quando o seu filho completa três anos, voltou para cidade, seu marido logo veio atrás, compraram uma casa pequena, mas bem acolhedora. Gildasia começou a trabalhar em uma loja da cidade como vendedora e cabelereira, juntava cada centavo que ganhava com planos de construir sua casa e sair do relacionamento abusivo que vivia, pois Natalicio continuava o homem que sempre foi, passava vários dias fora de casa, os dois brigavam bastante, chegaram a se separar algumas vezes, mas sempre acabavam voltando por pressão da família, ela relata que não era fácil pois ganhava pouco e além das despesas de casa, sustentava o seu filho já que o marido deixava faltar as coisas essenciais. Natalício decidiu vender a casa onde moravam, que haviam comprado juntos mas só deu a Gildasia uma pequena parte do valor que recebeu pela venda do imóvel, a entrevistada conta que ficou sem esperança, sem saber o que fazer, mas foi em busca do seu lugarzinho para que pudesse realizar o sonho de ter sua casa. Conseguiu achar um terreno para comprar, e nesse mesmo tempo uma amiga lhe ofereceu uma casa na cidade para que ela pudesse morar enquanto construia a sua, não cobrou nada por isso, o que lhe ajudou muito pois todo o dinheiro que sobrava era investido na construção, que aconteceu aos poucos, relata que foi com muito suor, muito trabalho e esforço. Depois de muitas turbulências, muitos impecilhos e alguns anos de trabalho, Gildasia realizou um dos seus maiores sonhos, ter a sua casa. Isso foi o pontapé inicial para que pudesse se separar do seu marido e se livrar de uma vez por todas do relacionamento abusivo que ainda vivia. Neste momento teve o total apoio de sua fámilia e de seu filho Gabriel que ainda pequeno tinha noção do que a mãe passava com o pai, ele também queria que ela pudesse viver de verdade, ter sua tão sonhada paz, foi então que decidiu colocar Natalício para fora de sua casa, não havia mais nada que impedia, mas foi ai que começaram os maiores problemas… Natalício não aceitava o fim do relacionamento, não aceitava sair de sua casa alegando ter partes ali, ter ajudado na construção da casa, o que não era verdade. Ele ameaçava Gildasia e o filho, fazia torturas psicológicas, até falava em sequestar Gabriel caso Gildasia se separasse, foi um período de medo, tristeza profunda, mas a entrevistada conta que sem ter saída, abriu da sua casa e foi morar na casa dos pais pois as ameças do marido começaram a ficar piores, eram noites em claro, com medo de algo pudesse acontecer com ela ou o filho, Natalício já não estava bem psicologicamente, era notável que ele estava perturbado e era capaz de fazer algo pior. Mesmo assim ele ainda continuava lhe ameçando, achava que ela estava com outro por ter tido uma rápida decisão de se separar, ficava de


tocalha para ver se ela não estava tendo encontro com outros homens, seguia Gildasia nos lugares, na ida ao trabalho, na volta pra casa, ela não tinha mais segurança em sair sozinha, precisou que o pai a fosse buscar todos os dias no trabalho, esse era a única rotina que ela tinha, pois era maior o medo de que algo pior pudesse acontecer. Até que chegou ao ponto em que a família de Gildasia teve que intervir, foi uma separação muito conturbada, ela e seu filho não estavam bem psicologicamente, tiveram a vida e a liberadade roubada. Seus irmãos novamente foram essenciais nesse período pois somente com a intervenção deles que finalmente seu ex-marido entendeu que a relação não iria mais para frente, que não haveria volta e que de fato ela estava decidida. Após alguns meses Natalício saiu de sua casa e ela e filho pode voltar a morar e ter um pouco mais de paz. Foram no total 12 anos de relacionamento, 12 anos tentando fazer com que desse certo, aguentando humilhações, diversas traições, brigas e noites sem dormir. A entrevistada relata que no momento em que voltou para a sua casa, retornou a sua rotina, a ter suas amizades de volta, teve esperança de que tudo iria melhorar, passou a se divertir, sair, fazer tudo aquilo que por anos foi impedida. E tudo melhorou mesmo, dois anos se passaram, tudo já estava bem, Gildasia estava vivendo a sua vida, continuava trabalhando no mesmo local, decidiu se permitir a conhecer pessoas novas, dar outra oportunidade para o amor, virar a página e não deixar perder a esperança por conta de um relacionamento passado que não havia dado certo, afinal era nova, cheia de vida e tinha que aproveitar. O destino a fez conhecer Fábio, um jovem morador de São Paulo que estava à passeio na cidade em que a entrevistada morava, acabaram se conhecendo em uma festa, onde conversaram, se conheceram mais e em questão de semanas ele já estava apaixonado por Gildasia, logo a pediu em casamento, mas com a condição de que ela fosse morar em São Paulo com ele. Ela decide fazer uma viagem então para conhecer São Paulo, nunca havia ido para tão longe da sua família, passou 30 dias na capital paulista, onde conheceu diversos lugares, a família de Fábio, e ele a pediu para que viesse embora para São Paulo, morar ao lodo dele, garantiu que a faria muito feliz e recompensaria todo o sofrimento que ela havia passado no relacionamento anterior. Gildasia retornou decidida a deixar tudo para viver com o seu grande amor, em poucos meses ajustou tudo o que faltava, deixou seu emprego qual trabalhava a 7 anos, seus amigos, sua casa e o mais importante, sua família, o seu bem mais precioso. A entrevistada relembra que foi muito doloroso deixar tudo para trás e se arriscar em uma cidade grande, com novos desafios, ela iria refazer a sua vida… No ano de 2010 se muda para São Paulo, trazendo seu filho Gabriel, que na época tinha 10 anos de idade, já entendia muito bem as coisas, logo foi em busca de trabalho, pois nunca teve medo ou preguiça de trabalhar, sempre foi uma mulher esforçada e determinada, e assim foi vivendo a sua nova vida ao lado do homem que a fazia muito bem, que lhe ama, que de fato era um marido e pai para o seu filho, que nunca lhe deixou faltar nada, e nessa relação sim, existe amor. Ao ser questionada sobre o porque decidiu se arriscar, deixar tudo para trás e tudo de maneira rápida, Gildasia afirma que estava cansada daquela vida, precisava mudar, viver novamente, não aguentava mais a mesmisse da cidade pequena. Perguntei sobre o que mais sentia falta hoje em dia, ela responde com um tom de tristeza, “A minha família, sinto muita falta de estar perto deles, esse é o meu pensamento de todos os dias…”. Aos 42 anos Gildasia vive muito feliz e realizada ao lado de Fábio, também com seus filhos… Sim, a família ficou maior e mais feliz, ela deu a luz a gêmeos, Caio e Gustavo, dois meninos lindos, espertos e que tem muita energia. Atualmente os gêmeos tem 4 anos de idade, Gabriel com 22 ainda mora com ela, Gildasia conta que não é nada fácil, ainda batalha muito para criar os filhos, mas está muito bem em sua nova vida, já são 12 anos vivendo em São Paulo. Para finalizar perguntei se sente vontade de voltar para sua cidade natal, Laje, ela me responde que sim, pois sempre quer estar ao lado da sua família e pretende ter um futuro mais tranquilo


morando por lá, mas que por enquanto ainda pretende realizar alguns sonhos aqui, como ver o seu filho mais velho, Gabriel, se formar e ter sua própria casa.


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