RENATA FABIANE DE LACERDA PINTO
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL CURSO DE JORNALISMO
A importância da informação na luta contra o machismo estrutural no Brasil.
São2021Paulo
JORNALISMO INDEPENDENTE E FEMINISTA:
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL CURSO DE JORNALISMO
JORNALISMO INDEPENDENTE E FEMINISTA:
A importância da informação na luta contra o machismo estrutural no Brasil.
Monografia desenvolvida como etapa final de elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul, sob orientação da Profa. Dra. Mirian Meliani.
São2021Paulo
RENATA FABIANE DE LACERDA PINTO
Agradeço a todos meus professores, essencialmente a minha orientadora Mirian Meliani, e aos meus colegas da equipe Inspiration News, pela jornada acadêmica e pelo caminho trilhado juntos ao longo desses quatro anos de curso. Ensinando e aprendendo com dedicação a essência e técnica do jornalismo.
Dedico este trabalho a todos, que assim como eu, mantém vivo o desejo por justiça, respeito e igualdade. Que a busca corajosa por um país e um mundo melhor para todas as mulheres, através da desconstrução do machismo, cresça cada dia mais.
AGRADECIMENTOS
Segundamente, agradeço a minha amada família, por todo o amor e suporte emocional ematerial amim confiado, sempre investindonosmeusestudosena minhaformação de caráter. Agradeço especialmente aos meus pais, Maurício e Arlete, por terem me orientado com carinho e potência, me motivando a cada passo.
Agradeço primeiramente A Deus, por toda a força e determinação concedida para a realização deste importante trabalho, através de sua infinita bondade. Sou eternamente grata Ao Senhor, que com amor e sabedoria me conduziu até aqui.
Esta obra monográfica tem como foco principal destacar a importância do jornalismo independente e feminista e de seus conteúdos informativos na luta contra o machismo estrutural no Brasil. Após séculos de resistência feminina e de sua incessante busca por emancipação, combatendo a desigualdade de gênero e a opressão masculina, reflexo de um sistema machista e patriarcal, a mulher enfim conseguiu reivindicar seus direitos humanos e cívicos, na intenção de estabelecer abertamente sua liberdade como indivídua e cidadã. Na imprensa, aos poucos a mulher foi conquistando o seu espaço, atuando a princípio no jornalismo alternativo, criando jornais e revistas de perfis militantes, a fim de propagar os ideais do movimento social feminista. Atualmente, o jornalismo independente e feminista assume o papel de abraçar e defender as frentes de lutas a favor das minorias, em especial, logicamente, as das mulheres. A revista eletrônica AzMina, nascida de um financiamento coletivo em 2015, é uma referência jornalística do feminismo no país. Com produção de matérias, reportagens e infográficos utilizados como mapas visuais, AzMina ajuda a proporcionar uma linguagem inclusiva e de fácil compreensão para os seus leitores. Através do método de análise, examinaremos três infográficos da revista eletrônica AzMina, a fim de compreendermos a sua intencionalidade profissional e feminista na vinculação de elementos gráficos em suas reportagens textuais
RESUMO
ABSTRACT
Monographic work has as main focus to highlight the importance of independent and feminist journalism and its informative contents in the fight against structural machismo in Brazil. After centuries of feminine resistance and their incessant search for emancipation, fighting gender inequality and male oppression, reflex of a macho and patriarchal system, women finally managed to claim their human and civic rights, with the intention of openly establishing their freedom as individuals and citizens. In the press, women have gradually conquered their space, acting at first in alternative journalism, creating newspapers and magazines with militant profiles in order to propagate the ideals of the feminist movement. Currently, independent and feminist journalism assumes the role of embracing the front of the fight in favor of minorities, especially women. The electronic magazine AzMina, born from collective funding in 2015, is a journalistic reference of the feminist cause in the country. With production of stories, reports, and infographics used as visual maps, AzMina helps to provide an inclusive and easy to understand language for its readers. Through the method of analysis, we will examine some infographics from the electronic magazine AzMina in order to understand its professional and feminist intentionality in linking graphic elements and textual reporting.
Keywords: feminist; independent journalism, machismo, Brazil.
Palavras chave: feminismo; jornalismo independente; machismo; Brasil.
2.3 O Machismo Estrutural
2.4 Desigualdades de Gênero
2.2 A chegada do movimento Feminista no Brasil 24
2. HISTORIA DO FEMINISMO E SEUS CONCEITOS 4
3.2 Jornalismo alternaitvo/independente e feminista no Brasil 40
85 ANEXO
3.3 A informação na luta contra o machismo estrutural 56
2.1 Surgimento do Feminismo 6
C
4. ANÁLISE DE 3 INFOGRÁFICOS DA REVISTA AZMINA 57
1
4.1 Análise de três infográficos da revista eletônica AzMina 59 ONSIDERAÇÕES FINAIS 63 A B C 98
REFERÊNCIAS 65 ANEXOS 70 ANEXO
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3. JORNALISMO INDEPEDENTE EM SUA ESSÊNCIA 34
1. INTRODUÇÃO
3.1 O que é o jornalismo independente? 35
SUMÁRIO
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70 ANEXO
Lista de Figuras
Figura 1 Dados da violência contra a mulher no Brasil 59
Figura 2 Jornada da mulher indígena para denunciar o agressor 60
Figura 3 Jornalistas mulheres são atacadas no Twitter 61
Com a gradual mudança de pensamentos e valores da comunidade moderna, movimentos iniciados no passado ganham forças no atual cenário político do país, entre eles o feminismo, um dos sérios elementos do tema estudado e desenvolvido neste Trabalho de Conclusão de Curso, do qual retrataremos com profundidade. Hooks (2018, p. 13), teórica feminista, acredita que as pessoas deveriam ter esta simples definição do feminismo e lerem repetidas vezes para saber que o “feminismo é um movimento para acabar com sexismo, exploração sexista e opressão’’.
1. INTRODUÇÃO
A obra monográfica apresentada tem como principal propósito evidenciar a importância da informação jornalística na luta contra o machismo estrutural no Brasil. O androcentrismo ainda é uma triste realidade do nosso país, no qual a cultura foi moldada sob os princípios do patriarcado, um sistema social hegemônico e influente em diferentes aspectos da sociedade, e em sua preeminência ilustra a figura da mulher como um ser frágil, dependente e inferior. Tal fato é descrito por Adchie (2014, p. 40), pois segundo a autora a sociedade faz as meninas sentirem vergonha da condição feminina, já nascendo com o sentimento de culpa e crescendo sem poder externar os seus desejos.
O feminismo surgiu após a Revolução Francesa, se fortaleceu na Inglaterra no decorrer do século XIX e nos Estados Unidos no início do século XX. Beauvoir (1970, p. 148) destaca que essa grande revolução, ocorrida no século XIX, transforma o destino da mulher e abre para ela, uma nova era. Para entender um pouco mais, o movimento feminista, genericamente, “tem como objetivo a luta pela igualdade de gênero, uma reivindicação para que ambos os sexos recebam os mesmos direitos, oportunidades e liberdade”. Adchie (2014, p. 30) acentua a importância do pensamento e ação sobre o assuntodegênero “éimportanteque comecemosaplanejar esonhar um mundodiferente. Um mundo mais justo’’.
No Brasil, o movimento surgiu no século XIX, na luta das mulheres por direito à educação feminina, direito de voto e a abolição dos escravos. Com o passar dos anos, a ideologia feminista foi tecendo mais propostas e recortes sobre o assunto, a fim de incluir cada vez mais as problemáticas e questões que impactam as mulheres e suas distintas
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Dou uma oficina de escrita em Lagos e uma das jovens que participa do grupo me disse que um amigo lhe havia prevenido de não prestar atenção no meu “discurso feminista” sob pena de absorver ideias que destruiriam seu casamento. (ADICHIE, 2014, p. 29)
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Este é o caso do jornalismo independente e feminista da revista eletrônica/site AzMina, nascida em 2015 de um financiamento coletivo. O jornalismo da revista AzMina produz conteúdo sobre mulheres e não somente para “mulheres’’, excluindo qualquer tipo de rotulação feminina, que há anos persegue a mulher como uma forma de confortá la em sua subjugação. Como seu posicionamento claramente feminista, AzMina alcançou o público que acolheu suas campanhas dentro e fora do ambiente digital, campanhas essas que descontruíram certos comportamentos machistas até então socialmente relevados, como o assédio no carnaval. Isso mostrou o poder da mídia de ajudar alegitimar o movimentofeminista, ecertamente,deiluminar oporquêessapostura
vivências e singularidades, diariamente. “As questões sugeridas nos 8 de março passaram aserlevantadastambémemoutrasdiferentesocasiões.Alutadamulherporsuasquestões ganhou caráter cotidiano’’ (TELES, 1993, p. 50).
Com a internet, o ativismo digital feminista pôde disseminar seus conteúdos, alcançando um grande número de usuários, que se interessam e se identificam com as temáticas abordadas pelo movimento, o permitindo conquistar muitos integrantes e apoiadores. Em compensação, parte da estrutura do machismo, resistente a mudanças e à desconstrução, também utiliza o ciberespaço para tentar difundir preconceitos, intolerância e misoginia, porém se enfraquece ao ser confrontada por informações conscientes, pois se alimenta da ignorância social. Aliás, o desconhecimento proposital é visto pelo machismo como uma forma de proteção de seus privilégios, como narra Adichie (2014, p. 29) em seu livro Sejamos Todos Feministas:
E é neste ponto que se revela a importância do jornalismo independente e feminista: mais do que ser a vanguarda da sociedade, comunicando em massa as informações que surpreendem, acertam, ajudam e prejudicam o povo, é fazer parte do movimento feminista, abraçando as suas questões e conceitos, compartilhando para além do grupo militante. Os meios de comunicação são um auxílio na divulgação dos ideais feministas, pois segundo Hooks (2018, p. 38) há uma multidão que não tem habilidade para ler a maioria dos livros feministas, então audiolivros, musicas, rádio e televisão, por exemplo, são formas de compartilhar o conhecimento feminista.
A motivação fundamental para a realização desta temática no Trabalho de Conclusão de Curso encontra se na necessidade de conscientizar a sociedade brasileira sobre a importância da informação jornalística na luta contra o machismo estrutural, oriundo historicamente e culturalmente do patriarcado, sistema vigente até hoje através da política e da economia do país. O efeito da primazia masculina é observado, principalmente, nos três poderes que regem o Brasil: o executivo, legislativo e judiciário. A falta de representação feminina em cargos de alta gestão compromete os direitos
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deveria ser aplicada em todas as redações de jornalismo, independentes e corporativos, pois prova que a informação consegue mudar uma inaceitável realidade nacional.
Falar sobre machismo, jornalismo e feminismo é falar sobre as questões sensíveis da sociedade. A informação pode perpetuar pensamentos e percepções, ou transformá los e revolucioná los para sempre. Por isso a informação livre e ao mesmo tempo comprometida é um paradoxal que se faz coeso nesta monografia. Escolher um lado, uma história, a serviço da população é mais que uma responsabilidade jornalística, é um dever profissional, moral e social. Nesta conjuntura, o trabalho exibe a intricada situação dos direitos das mulheres brasileiras, o movimento feminista que as protege e as encoraja simultaneamente com o papel do jornalista independente e feminista neste contexto da sociedade atual, propagando informações que agregam na desnaturalização do conjunto machista.Oprimeiro capítulo abordará a história do feminismo e seus conceitos, buscando entender a época, o sistema e a natureza desse movimento, trazendo informações precisas e importantes sobre a sua origem e evolução. O segundo capitulo baseia se na essência do jornalismo independente, a fim de compreender a sua atuação no meio jornalístico, as suas principais razões e formas, além de evidenciar sua emancipação das concepções tradicionais e sua participação no movimento militante feminista. No terceiro capítulo entenderemos o jornalismo praticado pela revista eletrônica AzMina e a sua congruência profissional, e também utilizaremos o método de análise para examinar três infográficos anexados nas três reportagens da revista sobre a violência contra a mulher, publicadas nos dias 27 de novembro de 2017, 04 de março de 2020 e 23 de novembro de 2021. O tratamento do assunto, o argumento e a informação serão academicamente estudados.
4 humanos, morais e constitucionais das mulheres, que constantemente são coibidas por homens que se validam de seus privilégios para oprimir a nossa existência
2. CAPÍTULO 1 HISTÓRIA DO FEMINISMO E SEUS CONCEITOS
O feminismo é um movimento social protagonizado por mulheres. Estudando a históriadahumanidade,emseus maisdistintos períodosdetempo,podemoscompreender a importância da mulher ser o personagem principal de uma narrativa que por direito é pertencente a ela: a de desigualdade de gênero. É inegável e dolorosamente nítido que o ser feminino teve a sua identidade apagada na sociedade e na cultura, e por diversas vezes excluída de memórias históricas, que transformaram a terra e seus habitantes. Memórias estas que foram construídas em circunstâncias penosas, de insensatez e resistência. No livro escrito por Chimamanda Ngozi Adichie, ‘’Sejamos Todos Feministas’’, a autora fala a respeito da anulação das mulheres na cultura criada pela sociedade, e sobre a urgência de mudar esse cenário “A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa cultura’’ (ADICHIE, 2014, p. 57)
O controle do patriarcado sobre a vida das mulheres é incontestável, pois a pretensão do sistema dominador é de manter os privilégios masculinos cada vez mais intactos e revigorados ao passar dos anos, e claro, de modo geracional. Esse processo tirânico vale se da falta de representação de figuras femininas com ideais nativos do matriarcado, oferecendo como espelho padrões de feminilidade, moldados em sujeição e
Ser feminista, ou seja, abraçar as questões espinhosas sobre a desigualdade de gênero, a liderança do machismo nas esferas sociais, culturais, políticas e econômicas, e a necessidade de isonomia para enfrentar a opressão e adquirir liberdade e independência como indivíduo, revela a consciência desenvolvida nas mulheres militantes ao longo do tempo. Bell Hooks, autora do livro “O feminismo é para todo mundo: Políticas arrebatadoras” declara que feministas são formadas, e que não nascem assim, não se tornam defensoras das políticas feministas somente por serem do sexo feminino, mas sim as aderem por escolha e ação (Hooks, 2018, p. 23).
Em a “Breve história do feminismo no Brasil’’, a autora Maria Amélia de Almeida Teles argumenta em relação a situação da mulher, vítima da segregação de gênero, apontando uma importante reflexão sobre esse quadro:
Em suma, o feminismo é a quebra da hierarquização dos sexos e a busca por uma nova configuração humanitária justa, confrontando as prerrogativas dos homens, que menosprezam a mulher como ser humano e como cidadã. Segundo Simone de Beauvoir (1970, p. 18) a autora diz que, “a burguesia conservadora continua a ver na emancipação da mulher um perigo que lhe ameaça a moral e os interesses”, o que traduz como o espaço das mulheres que fora forjado e ocupado por homens, é de grande intimidação quando conquistado por elas.
repressão, facilitando assim a manipulação das mulheres. Tal questão é precisamente observada por Naomi Wolf em um trecho do seu livro “O Mito da Beleza”, que diz:
O movimento feminista declara toda a sua inconformidade com a discriminação da mulher na cultura, na sociedade, na economia e no governo, através de suas pautas. Em vários países do mundo, ser militante a favor do feminismo está intimamente ligado ao instinto de sobrevivência. Para poder existir em uma sociedade machista e transgressora dos direitos civis das mulheres, que as impedem de serem humanas e livres, é inevitável lutar contra a estruturação antiquada e incoerentemente vigente de sua pátria.
O movimento feminista sempre estará em constante transformação e avanço, a fim de analisar e encontrar soluções que asseguram a desconstrução do machismo em suas diferentes camadas sociais e políticas. Segundo Branca M. Alves e a Jacqueline Pitanguy,
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Monuments and Maindes, obra de Marina Warner, esclarece como acontece de nomes e rostos de indivíduos do sexo masculino serem homenageados em monumentos, sustentados por mulheres de pedras, idênticas, anônimas (e ‘’lindas’’). Essa situação vale para a cultura em geral. Por terem poucos modelos a imitar no mundo real, as mulheres procuram nas telas e nas revistas femininas. (WOLF, 1992, p. 76).
Ninguém é oprimido, explorado e discriminado porque quer. Uma ideologia patriarcal e machista tem negado a mulher seu desenvolvimento pleno, omitindo sua contribuição histórica. A mulher não é apenas a metade da polução e mãe de toda a humanidade. É um ser social, criativo e inovador. (TELES, p. 10, 1993).
Olympe de Gouges, escritora francesa considerada pioneira do feminismo, em 1791, publica um texto intitulado de “Os Direitos da Mulher e da Cidadã”. O documento
Cada elemento que compõe o movimento feminista registra o seu valor coletivo, sendo um potente originador de melhorias para as mulheres e para a sociedade.
Nãoháuma consonânciaprecisanosfatoshistóricossobreofeminismo quedatem quando e como verdadeiramente o movimento se iniciou. Na realidade, as manifestações feministas foram se acendendo ao longo do tempo, através de revoluções e lutas por direitos civis e constitucionais para as mulheres. A compreensão do ser feminino como indivíduo, afrouxou as amarras que foram criadas pelo patriarcado, com a intenção de ser um limitador da autonomia da mulher, e ressignificou a sua noção de liberdade e escolha.
2.1 Surgimento do feminismo
Na França, neste mesmo século marcado por revoluções, a mulher, que participa ativamente ao lado do homem do processo revolucionário, não vê também as conquistas políticas estenderem se ao seu sexo. É neste momento histórico que o feminismo adquire características de uma prática de ação política organizada. (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 32)
O que se pode afirmar, é de que as reivindicações e os ideais revolucionários a favor de que os direitos usufruídos pelos homens na sociedade também fossem estendidos para as mulheres, estavam acontecendo entre os séculos XVIII e XIX, em especial na França, com crescimento e força progressiva, principalmente, após a Revolução Francesa em 1789. Os ideais iluministas, que foram popularizados no país,são osresponsáveis pela revolução francesa, que derrubou a aristocracia e findou o absolutismo. Mas engana se quem acredita que este momento histórico da vitória do povo sobre a nobreza, no século XVIII, tenha contemplado as mulheres. De acordo com Alves e Pitanguy (1985, p. 32), as mulheres foram excluídas deste triunfo, mas consolidaram qualidades feministas:
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o movimento feminista buscou superar as organizações tradicionais, fazendo da militância também um agrupamento que acolhe e que prestigia a sororidade feminina:
Assim o movimento feminista não se organiza de uma forma a centralizada, e recusa uma disciplina única imposta a todas as militantes. Caracteriza se pela auto organização das mulheres em suas múltiplas frentes, assim como em grupos pequenos,onde se expressama vivenciapróprias de cadamulhere onde se fortalece a solidariedade. (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 8).
Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 34), “este discurso propõe a inserção da mulher na vida política e civil em condição de igualdade com os homens, tanto de deveres quanto de direitos, e será repetido por todo o século XIX pelas feministas, na sua luta pelo sufrágio” . Olympe de Gouges foi condenada a guilhotina no dia 3 de novembro de 1793, sendo o motivo da sua sentença a acusação de querer ser homem de Estado, e por ter se esquecido das virtudes próprias ao seu sexo.
A liberdade e a justiçaconsistememrestituirtudo aquiloque pertence a outros, assim, o único limite ao exercício dos direitos naturais da mulher, isto é, a perpétua tirania do homem, deve ser reformado pelas leis da natureza e da razão. (DE GOUGES, 1791, Art. V)
Durante o período revolucionário que se ergue intensamente no fim do século XIII, segundo Beauvoir (1970, p. 135), as mulheres começavam a ganhar mais liberdade e independência:
A burguesia, classe emascensão e cuja existência se consolida, impõe à esposa uma moral rigorosa. Em compensação, a decomposição da nobreza outorga às mulheres as maiores licenças e a alta burguesia, por sua vez, é contaminada por tais exemplos; nem os conventos nem o lar conjugai conseguem conter a mulher. (BEAUVOIR, 1970, p. 135)
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No século XVIII, a liberdade e a independência da mulher aumentam ainda.
era uma dura resposta à “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, escrito no ano de 1789, começo da revolução francesa. Olympe mostrava se profundamente indignada com a discriminação de gênero, com a opressão masculina contra mulher, e com a perda dos direitos das mesmas na sociedade:
Os costumes em princípio permanecem severos: a jovem recebe apenas uma educação sumária; é casada ou encerrada num convento sem que a consultem.
Nesta época as francesas participavam ativamente da vida pública, lutando por seus interesses. Reunidas, mobilizavam motins, organizavam manifestos contra a pobreza, envolviam se em eventos de revolução e formavam clubes políticos. Porém, suas ações eram vistas com desprezo e fúria pelo Estado. Em 1795, a Assembleia Nacional publicou um decreto que proibia o agrupamento de mulheres, sob ameaças de serem dispersadas a força, até que a tranquilidade pública voltasse a Paris. Essa forma de silenciamento feminino, de acordo com Alves e Pitanguy (1985, p. 35), encerrou a introdução da mulher como cidadã na sociedade francesa “fecha se assim, formalmente, o acesso da mulher na esfera pública” .
Mas continuo insistindo que não só a virtude, como também o conhecimento dos dois sexos deveria ser o mesmo em natureza, se não em grau, e que as mulheres, consideradas criaturas não apenas morais, como também racionais, deveriam se esforçar para adquirir virtudes humanas (ou perfeições) mediante os mesmos meios que oshomens,emvezdeseremeducadas como uma espécie de criatura imaginária pela metade uma das extravagantes quimeras de Rousseau. (WOLLSTONECRAFT, 2016, p. 62)
A inglesa, Mary Wollstonecraft, escritora, filósofa e defensora dos direitos da mulher, é considerada até hoje uma das precursoras do feminismo. No ano de 1792, Mary escreveu um livro intitulado de “Defesa dos direitos da mulher”, refutando as ideias sexistas do franco suíço Jean Jacques Rousseau, um importante filósofo do iluminismo e iniciador do romantismo. Em sua obra “Emílio Ou da Educação”, Rousseau (1992, p. 438) declara que a mulher deve ser subalterna ao homem, tendo toda a sua educação relacionada ao mesmo:
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Mary Wollstonecraft foi um nome marcado pela coragem e determinação, pois em uma época tão tradicionalista e repressora para as mulheres, respondeu a famosos teóricos da educação e da política, homens que foram grandes influenciadores ideológicos dos séculos XIII e XIX, contrapondo com sagacidade, o sexismo defendido por eles. Wollstonecraft faleceu aos 38 anos, em 1797, após dar à luz a sua segunda filha, Mary
Assim, todaa educaçãodasmulheres deveserrelativaao homem. Seremúteis, serem agradáveis a eles e honradas, educá los jovens, cuidar deles grandes, aconselhá los, consolá los, tornar lhes a vida mais agradável e doce; eis os deveres das mulheres em todos os tempos e o que lhes devemos ensinar já na sua infância. (ROSSEAU, 1992, p. 433)
No livro, o autor genebrino também cita que a mulher não tem motivo para se lastimar da desigualdade entre os sexos, pois isto advém da própria natureza e da razão.
Quando a mulher se queixa da injusta desigualdade que o homem impõe, não tem razão; essa desigualdade não é uma instituição humana ou, pelo menos, obra do preconceito, e sim da razão: cabe a quem a natureza encarregou do cuidado dos filhos a responsabilidade disso perante o outro. (ROUSSEAU, 1992, p. 428)
Com a mentalidade completamente oposta à de Rousseau, Wollstonecraft acreditava que as mulheres não são naturalmente inferiores aos homens, mas sim de que aparentavam ser por não adquirirem a mesma educação que eles. Em sua obra, Wollstonecraft denuncia asconcepçõesdo iluministasobreamulherefazdurascríticas a Rousseau:
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Porém, a desvalorização da força feminina na conjuntura trabalhista, terminava por baixar o nível salarial de modo coletivo. Tal situação causou profundo mal estar na classe operária, e de acordo com Alves e Pitanguy (1985, p. 39) os homens começaram a repudiar o ingresso de mulheres no mercado de trabalho fechando as portas de sindicatos recém formados, e as acusando de serem uma concorrência desleal.
A francesa Jeanne Deroin, destacou se como líder operária por defender os interesses e direitos da mulher na classe trabalhadora, enfrentando a enorme imposição masculina. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 39) Jeanne atentava para “a necessidade de que a mulher se educasse e se organizasse para defender seus interesses, procurando fazer com que as organizações operárias masculinas compreendessem que estes eram comuns a toda a classe trabalhadora”. Após elaborar um projeto de uma União das Associações de Trabalhadores, e ser presa junto com os seus companheiros por promoverem reuniões a respeito do assunto, Deroin acata o preconceito do qual tanto combateu e aceita o conselho de seus amigos de ocultar da opinião pública sua posição de líder.
Shelley, autora do clássico livro “Frankenstein”, considerado o primeiro livro de ficção científica da história.
No século XIX, com o desenvolvimento contínuo do sistema capitalista no mundo, a mulher novamente é obrigada a lidar com as consequências do machismo, mas dessa vez em seu campo profissional. Com as mudanças radicais no processo produtivo e na organização do trabalho, a mão de obra de homens e mulheres foi severamente impactada. Entretanto, além das condições subumanas de trabalho, com jornadas de até 18 horas, as mulheres e os menores da época sofriam com a superexploração, provenientes da diferença salarial. Os homens ganhavam cerca de duas vezes mais que as mulheres, e segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 38), a justificava ideológica utilizada neste período era de que a mulher precisava trabalhar e receber menos, pois deveria ter quem a sustentasse. Adichie (2014, p. 32) cita em seu livro que a desigualdade de gênero no âmbito profissional ocorrida nos séculos passados, reflete muito atualmente na vida financeira da mulher “É claro que, por uma questão histórica, em geral é o homem quem tem mais dinheiro”.
A franco peruana Flora Tristan é outra importante figura feminina, sendo contemporânea de Jeanne Deroin. Flora, que também é considerada uma líder operária, pública um trabalho intitulado de “União Operária”, em 1843, compartilhando dos mesmos objetivos de Jeanne, juntar a classe trabalhadora em um senso de justiça comum:
De acordo com Alves e Pitanguy (1985, p. 40), Tristan planejava criar centros de organização e educação moral, intelectual e técnica do operariado, a qual chamava de “Palácios dos Trabalhadores”. Dedicando se sagazmente ao ativismo social a favor da classe operária, Flora também lutou em 1844, pela organização de uma internacional do trabalho. Em uma carta que dirige ao líder socialista Considérant, Tristan admite ter todos contra si: os homens, pois reivindica a liberdade da mulher, e os proprietários, pois reivindica a liberdade do proletariado.
Se as rivalidades e os ódios já diminuem, se há acordo e fraternidade o bastante entre todos e todas para que grupos possam se formar, o que devemos esperar do futuro! Companheiros! Vamos todos e todas repetir em voz unânime: a união faz a força! Somente a união pode nos SALVAR! (TRISTAN, p. 61, 2015).
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O século XIX foi marcado pelos movimentos revolucionários e reivindicatórios, que resgataram a identidade dos homens como indivíduos e cidadãos, legitimando a força da burguesia. Porém, boa parte desses significativos avanços eram voltados para atender somente a necessidade masculina, sendo a mulher vista apenas como uma aliada útil na busca constante por reforma. Segundo Beauvoir (1970, p. 141), a Revolução não foi transformadora no que refere à realidade da mulher:
Os homens aturavam, com nítido desagrado, os clubes femininos e as manifestações das mulheres nas Assembleias e nas ruas, pois contavam com o apoio delas em suas reivindicações. Mas, no momento em que, de personagens tolerados, as mulheres passaram a ser uma ameaça política, o Estado usou se do rigor para coagi las. Beauvoir (1949, p. 170) cita que os direitos das mulheres não foram reformulados, sendo alguns deles, até cerceados:
Poder se ia imaginar que a Revolução transformasse o destino feminino. Não foi o que aconteceu. A revolução burguesa mostrou se respeitosa das instituições e dos valores burgueses; foi feita quase exclusivamente pelos homens. É importante sublinhar que durante todo o Antigo Regime foram as mulheres das classes trabalhadores que conheceram maior independência como sexo. (BEAUVOIR, 1949, p. 1970).
O autor prussiano Friedrich Engels foi um empresário industrial, de grande notoriedade. Em sua obra de 1884, “Família, da Propriedade Privada e do Estado”, Engels conecta sua afirmação de que a família é uma instituição de constante mudança, como o capitalismo.
Durante todo o século XIX a jurisprudência não fez senão reforçar os rigores do código, privando, entre outras coisas, a mulher do direito de alienação. Em 1826, a Restauração aboliu o Divórcio; a Assembléia Constituinte de 1848 recusou se a restabelecê lo; êle só reaparece em 1884, mas ainda com toda espécie de obstáculos à sua obtenção. (BEAUVOIR, 1970, p. 143).
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Apesar do incessante combate por direitos, e das respostas irritadas do Estado, as mulheres trabalhadoras prosseguiam com as suas reivindicações, as projetando na esfera pública. Com o avanço das lutas operárias, tanto os homens quanto as mulheres,
Porém, com a solidificação do capitalismo neste período, as bases da teoria socialista,alicerçaram se.Osdebates políticosocorriamem massa,e procuravam analisar as relações de produção do sistema capitalista vigente. Dessa vez a pauta também se desdobrava para a condição da mulher, como parte da exploração na sociedade de classe.
O socialdemocrata alemão August Bebel, é outro escritor que, assim, como Engels, destacou se em sua época por abordar as problemáticas do capitalismo e abraçar a mulher em seu contexto de consciência de classe. Seguindo o mesmo raciocínio de Friedrich Engels, Bebel baseia-se nos argumentos de seu conterrâneo, para narrar a semelhança da subordinação da mulher na sociedade com à da classe operária no capitalismo, “Bebel equipara a sujeição da mulher à da classe operária no sistema capitalista, já que a causa é comum: o surgimento da propriedade privada”. (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 41).
O autor ampara se nos estudos feitos por antropólogos como Lewis Morgan, sobre as relações familiares na comunidade primitiva. Alves e Pitanguy (1985, p. 40) explicam um dos pontos mais importantes do livro de Engels, a inferiorização da mulher no capitalismo:
Contrapondo estas sociedades, em que a propriedade é comunal, em que não existe aparelho de Estado, e que seriam regidas por laços de parentesco matrilineares, as sociedades capitalistas, conclui, que a base da inferiorização da mulher encontra se surgimento da propriedade privada. Desta forma o casamento surgiria como garantia para a transmissão da propriedade (herança). (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 40).
O dia 8 de março, posteriormente proclamado como “Dia Internacional da Mulher”, é mais um capítulo registrado nessa longa história de machismo, opressão e resistência feminina. No dia 8 de março de 1857, as operárias da indústria têxtil de Nova Iorque fizeram uma marcha pelas ruas da cidade, protestando contra o baixíssimo salário e pedindo uma redução na carga horária de trabalho. Desejavam uma jornada de 12 horas. Com violência, foram coagidas pela polícia, sendo presas e feridas. A violência contra mulher, aliás, sinaliza o menosprezo e a misoginia que foi herdada desde a idade média até a idade moderna e contemporânea. Ainda que homens e mulheres fossem afligidos pelo Estado, ao contrário do sexo masculino, o domínio da força física, da brutalidade e da agressão nunca foram características estimadas nas mulheres. Segundo Adichie (2014, p. 17) a sociedade tem plena convicção de que “uma mulher não deve expressar raiva, porque a raiva ameaça’’. E a ameaça feminina estremece os privilégios do patriarcado.
12 integravam se nas organizações sindicais. Ao participarem de greves, ambos os gêneros foram vítimas de medidas repressoras.
Em 1908, ou seja, 51 anos após o primeiro protesto, na mesma data, 8 de março, e na mesma localidade, Nova Iorque, as mulheres voltaram às ruas. As reivindicações permaneciam iguais, mas, agora com o acréscimo da exigência de uma legislação protetora do trabalho do menor e o direito de voto às mulheres. Também denunciavam as condições precárias de serviço, e a difícil situação enquanto trabalhadoras. Protestavam, ademais, contra a exclusão da mulher nas decisões públicas enquanto cidadã e pessoa cívica. Hooks (2018, p. 23) afirma que o levante das mulheres em prol de seus justos interesses, demonstra a importância do aprendizado sobre o funcionamento do sistema patriarcal:
A conscientização feminista revolucionária enfatizou a importância de aprender sobre o patriarcado como sistema de dominação, como ele se institucionalizou e como ele é disseminado e mantido. Compreender a maneira de como a dominação masculina e o sexismo eram expressos dia a dia conscientizou as mulheres sobre como éramos vitimizadas, e, em piores cenários, oprimidas. (HOOKS, 2018, p. 23).
É bastante claro que o século XIX potencializou muito mais a revolução iniciada no final do século XIII, e abriu um leque de questões femininas que há muito tempo estavam sendo ignoradas pelo Estado. A busca pela liberdade da mulher, agora, não se dirigia somente ao seu poder de escolhas e a sua independência, afastando de si a autoridade masculina no âmbito familiar e conjugal, mas, também abrangia o seu papel
O sufrágio universal, sem dúvidas, foi uma das conquistas mais marcantes dos homens da classe trabalhadora, no final do século XIX. Depois de muitos protestos por reformas legislativas para eliminar o voto qualificado por renda, enfim, esse direito foi consolidado, mas, unicamente para os homens. O direito a democracia, na época, não alcançava o sufrágio feminino, e assim, começava uma nova batalha. A ação sufragista das mulheres foi uma luta específica para o ser feminino, que acolhia as mulheres de todas as classes. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 44) “foi uma luta longa, demandando enorme capacidade de organização e uma infinita paciência”. Como, infelizmente, já havia de se esperar, pois injustiças eram circunstâncias habituais na vida das mulheres, reverter esse quadro exigiu perseverança e determinação. Em poucas palavras, Adichie (2014, p. 49), compreende que os conflitos que envolvem assuntos de desigualdade de gênero são sempre difíceis, pois de acordo com a autora ‘’a ideia de mudar o status quo é sempre penosa’’. Tal argumento é o retrato do que ocorreu no período do sufrágio feminino.Nos
Luta por melhores condições de trabalho (salario, redução de jornada, repouso semanal, condições de higiene), e a luta por direitos de cidadania (o direito de votar e ser votado sem o critério censitário e a reivindicação de remuneração para os cargos do parlamento, posto que, como estes não eram retribuídos, somente os que tinham altas rendes poderiam desempenha los). (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 42).
13 comotrabalhadorae cidadã.Como jávistoanteriormente,apósaascensãodo capitalismo, uma das chaves que abriram os caminhos para a população menos favorecidas e para os grupos sociais excluídos (como as mulheres e os menores), foram as duas frentes de luta do operariado: a luta por melhorias nas condições de trabalhos e a luta por cidadania. De acordo com Alves e Pitanguy (1985, p. 42) essas manifestações caracterizaram o XIX. As demandas de cada uma das duas frentes eram:
Estados Unidos e na Inglaterra, o sufrágio feminino se prolongou por sete décadas. Já no Brasil, por 40 anos, a contar da constituinte de 1891. Nos momentos de auge das campanhas e manifestações, houve a mobilização de até 2 milhões de mulheres, o que torna essa luta um dos movimentos políticos de massa mais significativos do século XX.Deacordocom AlvesePitanguy(1985,p. 44)aindaqueovalordosufrágiofeminino seja historicamente evidente, o momento não é tratado nem reconhecido nos livros de
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Em 1848, nos Estados Unidos, começou o sufragismo enquanto movimento. Queixa se a exclusão da mulher na esfera pública, num tempo em que há uma ampliação do conceito liberal de cidadania, incluindo os homens negros e os desprovidos de renda. Neste país, no século XIX, a luta pela abolição da escravatura provocou uma boa parte de mulheres, que até então nunca haviam de forma extremamente coletiva e organizada, participado das instâncias políticas. Sobre o sufrágio das mulheres nos Estados Unidos, Alves e Pitanguy (1985, p. 44) afirmam que “a conscientização da submissão do lhes trouxe lhes, ao mesmo tempo, uma medida de sua própria sujeição”.
história como deveria, “merece dos livros de história, quando não o silêncio, apenas uns poucos parágrafos ou uma nota de pé de página”. (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 44).
Aconvenção dosDireitosdaMulher, convocada em Seneca Falls,no ano de1848, pode ser considerada um dos momentos inaugurais do movimento sufragista americano feminino. Após excessivas discussões, foi finalmente aprovado, nesta convenção, uma proposta que declarava ser o dever de toda a mulher americana a luta pelo sufrágio. Com isso, repetiram se as Convenções, abaixo assinados, as petições ao Congresso Nacional e as Assembleias Estaduais, para a modificação das Constituições Federal e Estaduais na intenção de se permitir o voto à mulher. Alves e Pitanguy (1985, p. 45) explicam que os últimos anos da campanha inclinaram para um aspecto impetuoso, “o movimento, que abrangeu 3 gerações numa luta incansavelmente retomada, adquiriu, nos últimos anos, uma feição violenta, tendo sufragistas sofrido inúmeras prisões’’ (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 45).
Nos Estados Unidos, em 1920, no mês de setembro, foi ratificada a 19ª Emenda Constitucional, concedendo o direito de voto às mulheres, marcando o término de uma luta que começou 72 anos antes. No cenário da Inglaterra, em 1865, John Stuart Mill apresentou ao Parlamento um projeto de lei que dava às mulheres o direito a voto. Em 1866, fundou se em Manchester o Comitê do Sufrágio feminino. O processo do sufragismo inglês feminino foi muito parecido com o americano, porém, em sua etapa final mostrou se bem mais violento. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 46), o sufrágio feminino na Inglaterra enfrentava a displicência dos legisladores, o que o envolvia o movimento em ciclo de reinício:
Também em Manchester, fundou se em 1903, a Women’s Social e Political Union, que abandonou os métodos tradicionais relativamente pacificadores, para adotar uma prática mais agressiva, que foi a resposta para a pressão violenta que sofriam do governo. Esse novo comportamento das mulheres se davam por uma coragem impressionante nascida da insatisfação da necessidade não suprida:
As sufragistas interrompiam os comícios eleitorais perguntando aos candidatos se dariam votos a mulher. Por essas por ‘’desordem publica’’, eram recolhidas na qualidade presas comuns (e não políticas). O Governo da ordem para que sejam alimentadas a força, por um método doloroso introdução, pela narina de um tubo de borracha are o estomago que constituía verdadeira tortura. (ALVES E PITANGUY, p. 46).
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O esforço para a organização das diversas atividades era imenso: campanhas de mobilização da opinião pública, busca de apoio de parlamentares e partidos, passeatas, atos públicos, abaixo assinados. Todo esse trabalho esbarrava frequentemente na indiferença e galhofa da maioria dos legisladores, obrigando um eterno recomeçar da luta a cada nova legislatura. (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 46).
Apenas em 1928 conquistaram suas reivindicações, consequência de uma luta que já se estendia por 60 anos. A luta pelo voto feminino no Brasil não teve um movimento tão grande e numeroso, como aconteceu nos Estados Unidos e Inglaterra. Sem contar,
Essauniãofemininaoriundade movimentosecampanhassufragistas,jámostrava o crescimento do ideal feminista pelo mundo, onde as mulheres enfrentavam em massa, com audácia e bravura, o machismo que liderava na esfera política, estatal e econômica. Juntas resistiam à violência do Governo, um jeito bárbaro de as calarem. A peleja pelos direitos das mulheres estava essencialmente ligada a classe, pois, segundo Hooks (2018, p. 53), não haveria uma sororidade estabelecida de forma política e massiva enquanto não houvesse consciência de classe na associação de mulheres.
Essas mulheres que aderiram grupos feministas compostos ´por classes diversas estavam entre primeiras a enxergar que a visão de sororidade fundamentada em política, em que todas estariam unidas para lutar contra o patriarcado, não conseguiria emergir até que a questão de classe fosse confrontada. (HOOKS, 2018, p.53).
O movimento sufragista inglês, em 1903, se dividia em duas estratégias de luta, entre as mulheres pacifistas e as chamadas “suffragettes’’, que passam a atuar de modo maisradical, cometendodanos àpropriedadeebens materiaiscomouma formadechamar atenção à causa. De acordo com Alves e Pitanguy (1985, p. 47) “o que as mulheres reivindicavam era tão somente um direito defendido, em tese, pelas ideias liberais, e recusado na prática, por um governo composto pelo próprio partido liberal”.
Odireitoaovotofoisendoinferidopausadamentenos estadosBrasileiros.Quando GetúlioVargas,em1932,declamapordecreto leiodireitoavotodesufrágio àsmulheres, este já estava sendo realizado em 10 estados do país. De acordo com Telles (1993, p. 46), “após essa vitória, a luta da mulher passou a se concentrar no trabalho feminino e na proteção à maternidade e às crianças.
Se o movimento sufragista não se confunde com o feminismo ele foi, no entanto, um movimento feminista, por denunciar a exclusão da mulher da possiblidade de participação nas decisões públicas. Uma vez atingido seu objetivo o direito ao voto esta pratica de luta de massas estaca fadada a desaparecer. Há assim uma desmobilização das mulheres. Entretanto, o questionamento de sua discriminação prossegue, incorporando outros aspectos que configuram a condição social da mulher. (ALVES E PÍNTAGUY, 1985, P. 48).
Em 1919, Bertha Lutz fundou a liga de emancipação Intelectual da Mulher, seguidamente nomeada Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, organização que levou adiante a luta pelo sufrágio. Em 1927, devido a influência de Juvenal Lamartine, governante do Rio Grande do Norte, o estado inclui em sua constituição o artigo que permite o exercício de voto das mulheres. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 48), “a partir daí intensifica se a mobilização das mulheres, que requerem, em todo o pais, seu alistamento eleitoral, provocando acirrados debates jurídicos”.
Em diferentes lugares do mundo, em diferentes épocas e cenários, o sufrágio feminino continuou demostrando uma legitimidade em comum: a persistência e a
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Alves e Pitanguy (1985, p. 48) narram a representação e a dimensão do sufrágio feminino para o movimento feminista:
que começou bem mais tarde, em 1910, quando a professora Deolinda Daltro, no Rio de Janeiro, funda o Partido Republicano Feminino, que entre outros propósitos, tinha o plano de ressuscitar no Congresso Nacional o debate a respeito do voto da mulher, que havia sido esquecido desde a Assembleia Constituinte de 1891. Telles (1993, p. 43) cita outras ações de Deolinda para a população feminina do Brasil:
Já em 1910 professora Deolinda Daltro, professora fundava o Partido Republicano, defendendo especificamente que os cargos públicos fossem abertos a todos os brasileiros, sem distinção de sexo. Em 1917, no rio, ela promoveu uma passeata com quase 100 mulheres, pelo direito do voto. (TELLES, 1993, p. 43).
Comofinaldaguerra,eoretornodoshomensao trabalho,amulhervênovamente seu espaço ser tomado sem o mínimo de sutileza. A ideologia que aprecia a desigualdade entre gêneros é inserida mais uma vez na sociedade, reduzindo o papel da mulher a atividades domésticas, e sendo desvalorizada no mercado empregatício, uma forma de diminuir seu contato com o mundo externo. Beauvoir (1970, p. 146), autora feminista de grande destaque do século XX, fala que “é pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho pode garantir lhe uma independência concreta’’. (BEAUVOIR, 1970, p. 146).
de 1930 e 1940, oficialmente, as petições das mulheres foram devidamente atendidas: votavam e eram votadas, podiam ingressar em instituições escolares e participavam do mercado trabalho. O sistema social e político, capitalista e socialista, aderiu de alguma forma as vitórias, que implicam no reconhecimento de cidadania. Nestas duas décadas acontece um retrocesso na organização das mulheres. Pincipalmente nos países onde houve despontamento do nazi fascismo, pois na época o esquema de repressão oculta qualquer forma de manifestação e contestação social. Segundo Alves e Pitanguy afirmam que mais do que nunca mão de obra da mulher torna se imprescindível:
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coragem. A causa de cidadania abraçada pelas mulheres aponta um feminismo consciente e emponderador.Nosdeanos
Assim a afirmação de igualdade entre os sexos vai confluir com as necessidades econômicas daquele momento histórico. Valoriza se a mais do que nunca, a participação da mulherna esfera do trabalho, no momento emque se torna necessário liberar a mão de obra masculina para as frentes de batalha. Tal processo se dá, em particular, nos países diretamente envolvidos no conflito, em especial USA e Inglaterra. (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 50)
A estadunidense Betty Friedan, ativista feminista de grande relevância, publicou em 1963 o best seller “A Mística Feminina’’, que aborda sobre o dever da mulher na indústria, a sua função como dona de casa e as consequências para sobrevivência do capitalismo, tudo isso enquanto boa parte das mulheres encontram se em profunda depressão, preocupação e desespero por serem submetidas vulneravelmente a esta condição de restrição social. Friedan fala sobre confusão de sentimentos das mulheres americanas nesta situação:
Realização como mulher só tinha uma definição para americana, após 1949: espôsa mãe. Rápido como num sonho, a imagem da mulher como indivíduo, transformando se e ampliando se num mundo de evolução, foi destruída. Seu voo solitário em busca de uma identidade ficou esquecida na corrida para a segurança duma situação a dois. Seu mundo ilimitado encolheu, confinando se às confortáveis paredes do lar. (FRIEDAN, 1971, p. 41).
Os primeiros passos de uma teoria feminista estavam sendo dados no final dos anos sessenta. A escritora Kate Millett publica o original Politica Sexual, em 1970. O livro narra sobre a política patriarcal e seu controle da sexualidade feminina nos séculos XIX e XX, analisando através das artes e políticas públicas relacionadas a monitorização populacional e à definição do papel da mulher neste período. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 53), o livro de Millett explica de modo incisivo o poder do patriarcado:
Em 1970, Juliet Mitchell lança “A Condição da Mulher”, que procura elaborar uma teoria que ajuda a entender tanto os dados gerais da discriminação de gênero quanto a sua especificidade nas distintas classes sociais. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 54) a autora produz um histórico dos escritos sobre a mulher, “afirmando em sua análise que a liberação devera se dar nos quatro níveis que caracterizam a discriminação: as esferas de produção, da reprodução, da sexualidade e da educação’’.
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Neste período, também no Brasil, a socióloga marxista paulistana Heleieth Iara Bongiovani Saffioti, divulga “A Mulher na Sociedade de Classes”, no qual examina a situação da mulher no capitalismo, declarando que esta não sucede somente das relações econômicas, pois se vê dentro da autonomia pertinente das outras estruturas. Para Alves e Pitanguy (1985, p. 54) ‘’o livro retraça evolução histórica da condição mulher no Brasil. Trata se de um trabalho pioneiro ao ponto de vista da contribuição das ciências sociais ao estudo da mulher no país’’.
No início dos anos 60, o feminismo vai se delineando e adiciona outras frentes de luta. Agora, suas reivindicações, que até então eram direcionadas a desigualdade na prática de direitos de cidadania (esfera política, trabalhista e civil), indaga se também o âmago cultural desta desigualdade Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 54), “denuncia
Analisa historicamente as relações entre os sexos, afirmando que o sistema o patriarcal e um sistema universal de denominação prevalente em todas as culturas, e que penetra religiões, leis, costumes de toda as civilizações. Propõe se a fazer uma análise politicas das relações de sexo. Aborda neste sentindo aspectos ideológicos, biológicos, sociológicos, econômicos, antropólogos e sociológicos da condição da mulher no patriarcalismo. (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 53).
É neste período histórico de discussão e de luta que o movimento feminista ressurge com vigor e com uma mobilização em massa, que passa a se formar a partir da
Homens e mulheres são diferentes. Temos hormônios em quantidades diferentes, órgãos sexuais diferentes e atributos biológicos diferentes as mulheres podem ter filhos, os homens não. Os homens têm mais testosterona e em geral são fisicamente mais fortes do que as mulheres. Existem mais mulheres do que homens no mundo 52% da população mundial é feminina, mas os cargos de poder e prestígio são ocupados pelos homens. (ADICHIE, 2014, p. 18)
Essa situação, que diminuiu a mulher a personagem secundário e de enredo social de bem menos importância, é uma forma de disfarçar a hierarquia que encarga ao homem aposiçãodemando.Osistemadomundo, independentedasuaclassificação,sejapolítica, jurídica, religiosa, intelectual e artística, são construções majoritariamente masculina. Atualmente, o movimento feminista crítica a validação da diferença de tarefas e declara que a desigualdade de gênero se baseia muito mais em normais sociais do que biológicas, e sinaliza a relação de poder entre os sexos. A década de 60, em geral, é marcada por uma profunda mobilização na luta contra o colonialismo, contra o racismo, pelos direitos das minorias e também pelas reivindicações estudantis. Estes manifestos aumentaram o campo político, ampliando a compreensão das contradições sociais, descobrindo assim outras formas de exercício do poder, além do econômico. De acordo com Alves e Pitanguy (1985, p. 58) que neste momento há uma intensa conscientização de que as experiências dos indivíduos se expandem para fora da classe social:
desta forma a mística de um “eterno feminino”, ou seja, a crença na inferioridade natural da mulher”, calçada em fatores biológicos. Seguindo esta linha de raciocínio, o questionamento gira em torno da ideia de que homens e mulheres estariam naturalmente predestinados a cumprirem papéis distintos na sociedade, sendo o do homem, o mundo externo, e da mulher, o mundo interno, no qual resume toda a aptidão feminina a criação e ao posto de cuidadora do lar. Adichie (2014, p. 18) menciona as diferenças orgânicas entre homens e mulheres, mas acentua como a questão natural não corresponde a desigualdade, pois apesar de existirem mais mulheres do que homens no mundo, os lugares de grande destaque são apoderados pelo sexo masculino:
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Tais movimentos trazem o individual para o campo do político, tornando o coletivo, demonstrando que o seria de sua classe. Não é apenas por relações socais de produção que o indivíduo está impregnado, mas também por relação de sexo, raça, instancias estas que também se concretizam numa distribuição desigual de poder. (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 58)
Os tabus e a repressão contra a sexualidade da mulher e o rígido controle sobre o corpo das mesmas, não se resumem a critérios e valores morais do patriarcado, como por exemplo, a legitimação da virilidade masculina mediante ao seu intenso desempenho sexual, e a proteção da honra feminina através da sua castidade. De acordo com Alves e Pitanguy (1985, p. 60) as questões governamentais são motivações colossais para que o sistema continue mantendo a mulher sob o seu comando, até em domínios íntimos:
década de 70, com enorme força política e com inegável potencial de transformação social. Aparecem então incontáveis organizações que atuam como núcleos reunidores de grande número de mulheres. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 59) desenvolvem atividades efetivas, grupos de trabalho, pesquisas, debates, cursos e publicações, e atuam nas campanhas que levaram mulheres de mulheres às ruas por suas reivindicações específicas. De acordo com Hooks (2018, p. 19) “no fim da década de 70, os Estudos de Mulheres estavam no caminho para se tornar uma disciplina acadêmica aceita” .
Durante toda história de reivindicações das mulheres por direitos e a constante evolução do feminismo, houveram várias frentes de lutas, que eram determinados pelas circunstancias da época e através das características socioeconômica e política de cada país. Muitos temas foram levantados, e de modo trivial, podemos categoriza los por: sexualidade e violência, saúde, ideologia e formação profissional e mercado de trabalho. Sem dúvida a sexualidade da mulher sempre foi alvo de muitos julgamentos e ataques machistas, que eram embasados em fatores biológicos, culturais e mitos sociais. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 59) o controle da sexualidade feminina é a primeira forma de restrição da capacidade da mulher:
A virgindade, a castidade, a passividade sexual feminina, a carga de tabus e preconceitos, constituem os principais elementos socializadores da sexualidade feminina. Vê se esta ainda submetidas a orientações governamentais, que decidem sobre o corpo da mulher, restringindo ou expandindo a sua reprodução através de políticas demográficas. Assim, durante o nazi fascismo incentivou se a função procriadora da mulher, que
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A contenção exercida sobre a sexualidade da mulher é a primeira forma de limitação de sua potencialidade. Apoiando se no dado biológico a cultura enfatiza a supervalorização a função de reprodução que passa a se confundir coma própria essência do "ser mulher". (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 59).
deveria "dar muitos filhos a pátria". Da mesma, manipula se seu corpo com campanhas de contracepção, quando a política econômica assim o exige.
(ALVES E PITANGUY, 1985, p. 60)
Esta gente de luta tem se concretizado não apenas através de publicações diversas, voltadas a compartir com a mulher este saber, mas também pela criação de clinicas de saúde e grupos de auto0ajuda em que a mulher e
Em nossa nação, uma multidão de pessoas está preocupada com a violência, mas se recusam relacionar essa violência ao pensamento patriarcal ou a dominação masculina. O pensamento feminista oferece uma solução. E depende de nós tornar essa solução disponível para todo mundo. (HOOKS, 2018, p. 57)
Uma das grandes reivindicações femininas eram a desvinculação de suas vidas sexuais com o contexto biológico de reprodução e o direito da informação e acesso a métodos contraceptivos para homens e mulheres, uma forma de garantir a segurança e a liberdade sexual feminina.
Com o tempo o feminismo ligou se a área da saúde, onde sugeriu uma reapropriação do corpo feminino. A ausência do conhecimento da mulher sobre o seu próprio corpo contribui para uma alienação e ajuda no descontrole de suas funções hormonais, como a menstruarão, a reprodução, menopausa e relações sexuais. Em 1971, um trabalho realizado por um Coletivo de Mulheres de Boston, nomeado de “Nossos Corpos, NósMesmas” apresentava ilustrações didáticas, linguagem simples e informação sobreaanatomia efisiologiadamulher.Tambémofereciadepoimentosdemulheressobre suas vivências sexuais e explicava sobre doenças venéreas, gravidez, controle da natalidade etc. De acordo com Alves e Pitanguy (1985, p. 62), as reivindicações a respeito da saúde da mulher tem se realizado:
A violência contra a mulher também era uma importante causa que o movimento feminista abraçou desde o seu surgimento, pois estava completamente presente na trajetória e nas lutas das mulheres por direitos à cidadania e reconhecimento humano. As agressões físicas, morais, psicológicas e emocionais contra a mulher eram afrontas aprovadas pela sociedade, cultura e política nos séculos passados. A repressão violenta nas esferas matrimoniais, sociais e do próprio Estado, era uma resposta impiedosa que ratificava para as mulheres o poder masculino no sistema patriarcado e o perigo de suas contestações. Segundo Hooks (2018, p. 57) muitas pessoas se negam a associar a violência ao patriarcalismo:
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informada e mobilizada a participar dos aspectos relacionados ao seu corpo, à saúde. (ALVES E PITANGUY, 1985, p. 62).
A formação profissional e o mercado de trabalho ainda são temas acrônicos que o movimento feminista retrata. A grande tomada veio com a revolução industrial, momento em que as mulheres exigiam equiparidade salarial entre os sexos, e claro, condições dignas de trabalho. Porém, antes disso, um longo processo de resistência a intimidação de "papel social feminino" ocorria, pois, as mulheres eram incumbidas dos afazeres domésticos e tinham que se contentar com estas funções. Mesmo as mulheres mais nobres adquiriam poucas instruções se comparado aos homens, e isso refletia diretamente no mercado de trabalho. A mão-de-obra feminina, ainda que extremamente necessária para as fábricas industriais, era menosprezada e amargava com a misoginia. Outro ponto era a dupla jornada de trabalho, pois mesmo as mulheres sendo operárias, o serviço do lar ainda eram unicamente delas. De acordo com Alves e Pitanguy (1985, p. 64) a ideologia da feminilidade também demarca espaços que determinam ambientes masculinos e femininos no mundo externo, ou seja, fora de casa.
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O surgimento do feminismo não foi uma explosão ideológica voltada a um momento decisivo na história, mas sim uma construção moldada sobre lutas e resistência,
O conjunto de ideais do movimento feminista, desde o início, buscava colocar a mulher em um lugar de relevância social, para que ela pudesse se emancipar das discriminações sofridas pelo sistema patriarcal. A desigualdade de gênero e a hierarquização dos sexos era um modo de assegurar que a mulher não abandonasse a posição de inferioridade que lhe foi dado. Com características de feminilidade estereotipadas, exigências de comportamentos irrepressíveis e obrigações “naturalmente” limitadoras e por vezes frívolas, a mulher era considerada uma donzela indefesa, totalmente dependente do homem e com pouco a oferecer em qualquer esfera do mundo. Com a massificação do feminismo as mulheres se emponderaram e se reuniram, manifestando suas indignações, desmistificando tabus culturais e sociais sobre gêneros e reivindicando seus direitos, em todos os níveis cívicos. O entendimento sobre o controle prejudicial e injusto que o patriarcalismo detinha sobre as mulheres através da educação machista que recebiam desde a infância, as fizeram reagir quase que heroicamente a esse sistema opressor. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p.) “a superação do machismo na educação tem sido uma das principais metas do movimento feminista”
O movimento feminista destacou através de protestos e manifestações que as questões biológicas são caraterísticas que diferenciam os sexos masculino do feminino, mas que de maneira nenhuma interferem no seu valor como ser humano. De acordo com Adichie (2014, p. 21) atualmente esse pensamento sobre a natureza ser responsável pela diferença de gênero não é considerada:
23 por diferentes motivos e em diversos cenários. O que podemos observar é de que jamais fora um movimento tímido, pois em todas as suas aparições em cada período histórico, trouxe revoluções furiosas e definitivas mudanças sócio políticas. A impetuosa inconformidade das mulheres com a imagem do ser feminino construída pelo patriarcado consolidou o pensamento feminista. Segundo Adichie (2014, p. 24) “ao longo da história muitas mudanças positivas aconteceram por causa da raiva”
Hoje vivemos um mundo completamente diferente. A pessoa mais qualificada para liderar não é a mais inteligente, a mais culta, a mais criativa e amais inovadora. Então existem hormônios para esses atributos. Tanto um homem como uma mulher podem ser inteligentes, inovadores e criativos. (ADICHIE, 2014, p. 21)
Quando pergunto a esse mesmo pessoal sobre os livros e as revistas feministas que leem, quando pergunto a quais palestras feministas assistiram, respondem contando que tudo o que sabem sobre feminismo entrou na vida deles por terceiros, que realmente nunca se aproximaram o suficiente do movimento feminista para saber o que de fato acontece e sobre o que é de verdade. Na maioria das vezes, pensam que feminismo se trata de um bando de mulheres bravas que querem ser iguais aos homens. Essas pessoas nem pensam que feminismo tem a ver com direitos é sobre mulheres adquirirem direitos iguais. Quando falo do feminismo que conheço bem de perto e com intimidade , escutamcomvontade, mas, quando nossa conversa termina, logo dizem que sou diferente, não como as feministas “de verdade”, que odeiam
O movimento feminista tem uma importância histórica para o mundo, pois traduz com destreza toda a força da mulher, as suas lutas e a sua coragem. Ele revela uma narrativa de conquistas femininas que o sistema patriarcal tenta esconder, para que o poder dos homens são seja ofuscado. Segundo Hooks (2018, p. 9) que muitas pessoas não sabem o que fato é o feminismo e tem pensamentos equivocados e tendenciosos sobre o movimento:
2.2 A chegada do Movimento Feminista no Brasil
No Brasil, no início dos anos 30, mais precisamente em 1934, originou se a União Feminina, seis anos após a conquista do direito ao voto da mulher brasileira ocorrido em 1932. Era parte da Aliança Nacional Liberadora (ANL), movimento organizado no ano de 1935, sob o comando de comunistas com a intenção de acabar o governo de Getúlio Vargas e fixar um governo popular. Suas aliadas eram especialmente mulheres intelectuais e operárias. Vista como ilicitude em 1935, houve prisões de todas as suas diretoras, algumas delas ficando por mais de um ano afastadas do convívio social. A cidadã alemã, Olga Benário Prestes, membro da União Feminina e guerrilheira contra o nazismo no Brasil, também foi presa e deportada para Alemanha, sendo internada em um campo de concentração. Em 1937 o país sofreu um golpe de estado do presidente Vargas, que tinha como propósito sua continuidade no poder como ditador. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 71) essa conjuntura política do Estado Novo, proibiu qualquer tipo de mobilização popular de índole reivindicatória, havendo assim um período de retrocesso do movimento de mulheres.
Desde o começo, o movimento feminista projetou um novo destino a mulher, um destino de liberdade, progresso e transformação contínua, onde não haveria espaço para o silenciamento feminino e acomodação para imperialismo do patriarcado.
24 homens, que são bravas. Eu asseguro a essas pessoas que sou tão de verdade e tão radical quanto uma feminista pode ser, e que, se ousarem se aproximar do feminismo, verão que não é como haviam imaginado. (HOOKS, 2018, p. 9).
Mesmo com a falta de “folego” da mobilização feminina em massa devido a repressão da ditadura, a luta das mulheres era a mesma do povo, que contrapunha o golpe e defendia a democracia. Já em 1945 a democratização no Brasil integrou uma quantidade generosa de mulheres nas campanhas nacionais, como a do petróleo, a anistia e pela paz mundial. Muitas mulheres também se mobilizaram nas Associações de Bairros. Esses compromissos não tinham um cunho exatamente feminista, mas evidenciavam a presença da mulher na esfera pública. Segundo Teles (1993, p. 48) essa inclusão das mulheres na democracia aconteceu após o fim da Segunda Guerra Mundial:
Em 1964, período de desmobilização pelo golpe militar, não existia lugar para a organização de movimentos populares. Entretanto, determinadas mulheres cooperavam nos movimentos organizados de oposição ao regime militar, assim como em atos públicos e manifestações. Porém, a presença da mulher só é expressiva na esfera pública com a luta pela anistia. O Movimento Feminino pela anistia foi fundado em São Paulo no ano de 1975, e segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 71) “liga a sua origem a um movimento semelhante de 1945, e que primeiro levantou esta bandeira após 1964”.
Graças ao desempenho das mulheres, 1975 tornou se um marco histórico para o avanço de ideias feministas no Brasil. Sob uma ditadura militar, mas com o apoio da ONU, a mulher brasileira passou, então, a ser protagonista de sua própria história, em que a luta por seus direitos específicos se fundia com as questões gerais.Respondiaforte aos anseios da época:deseexpressar, de falar, de enfrentar, de agir. (TELES, 1993, p. 84).
Em 1975, é promovido no Rio de Janeiro o Ano Internacional da Mulher, por um grupo feminino com o apoio da ONU e da ABI, realizando assim uma semana de discussões sobre a condição da mulher. Neste encontro foi criado O Centro da mulher Brasileira, no Rio de Janeiro e São Paulo, considerado um marco no sentindo de operar enquanto organização feminista. Mais tarde, são editados dois jornais feministas: “Brasil Mulher”, de londrina e seguidamente São Paulo, e “Nós mulheres”, de São Paulo. Nesse momento também são gerados clubes de reflexão. De acordo com Teles (1993, p. 84), o ano de 1975 foi um marco importante para a ideologia feminista no Brasil:
Essas atuações não repercutiram na Assembléia Nacional Constituinte, instalada no ano de 1946, e que não constava nenhuma participação feminina.
Nestes anos inicias o feminismo teve uma evolução vagarosa e acompanhou de perto a luta pelo aumento do espaço democrático no País. Já no fim da década de 70, o movimento feminista cresce formidavelmente, pela fundação de novos núcleos em outros Estados e pelo aparecimento de muitas turmas com panoramas e formas diferentes de atuação. Em 1980 e 1981 diversos grupos foram constituído em todo o Brasil, e segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 72) isso “demonstra a vitalidade deste movimento”.
Com o fim da guerra, surgiu no Rio de janeiro o Comitê de Mulheres pela Democracia, num esforço para as mulheres participarem de fato da consolidação da democracia e da conquista da igualdade de direitos em termos profissionais, administrativos, culturais e políticos. Desenvolveu se também a luta pela anistia, e se fundou a Associação de Donas de Casa contra a carestia. (TELES, 1993, p. 48).
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Apesar de ainda não terem sido alcançadas mudanças seja na estrutura jurídica (no Brasil, o Código Civil de 1916, inspirado no Direito Romano, identificava o status civil da mulher casada ao dos menores, silvícolas e alienados tornando a portando civilmente incapaz. Esta legislação esteve em vigor até 1962, quando foi revogada pela lei 4121/62): modificação da condição subordinada da mulher casada, legalidade do aborto, e outras; seja na criação de infra estrutura social de apoio à mãe e à criança; creches, escolas, saúde; seja quanto aos direitos da mulher que trabalha: profissionalização, igualdade salarial, acesso a cargos de responsabilidade o movimento feminista tem se mobilizado em torno destas questões, trazendo a público este debate e denunciando a condição inferiorizada da mulher. (ALVES E PITANGUY, p. 73).
Em 1980, uma das frentes de luta do movimento feminista no Brasil havia sido a delação da depreciação da mulher, definida nas mais variadas manifestações da nossa cultura. Uma das expressões mais claras de desprezo ao ser feminino é através da violência. Grupos feministas vinham se reunindo em todo país para denunciar a violência e prestar apoio as vítimas. Em diferentes Estados houveram criações de Casas da Mulher e SOS Violência, que auxiliam na assistência de mulheres em situação de abusos. Também surgiram grupos que desenvolveram trabalhos relacionados a organização para o parto, centros de cultura e assim em diante. Teles (1993, p. 131) fala sobre a sensível situação da mulher brasileira no âmbito da violência doméstica e da desvalorização das denúncias feministas:
A mulher brasileira até então se mantinha calada frente a violência doméstica. Capaz de denunciar corajosamente as torturas e assassinatos cometidos pela política, omitia a violência praticada contra ela própria pelo seu marido ou companheiro. As feministas denunciavama violência domésticae sexual,sem, contudo, mostrar casos concretos, como uma mulher assassinada pelo companheiro ou mulher visivelmente espancada, que fazia comque jornalistas e lideranças de esquerda alegassem que elas apenas copiavam as europeias, porque “lá sim, é que tem esse tipo de violência”. (TELES, 1993, p. 131).
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Semelhantemente como aconteceu nos Estados Unidos e Europa, no Brasil os grupos feministas também se posicionam como organizações independentes, ou seja, sem nenhum vínculo formal com qualquer partido político. De acordo com Alves e Pitanguy (1985, p. 73) ainda que não houvesse transformações eficientes na época, o movimento feminista continuava a incentivar a reflexões sobre as questões da mulher:
Surge então sem São Paulo o “Mulherio”, um jornal que vem substituir “Nos Mulheres” e Brasil Mulher”, que tiveram suas publicações suspensas. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 72) “os grupos dedicam se às mais variadas tarefas: reflexão; publicação de folhetos sobre sexualidade; direitos da mulher; saúde; pesquisas; grupos de estudo; cinema; teatro; SOS contra a violência; Casa da Mulher, etc.”.
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O feminismo se constrói, portando, a partir das resistências, derrotas e conquistas que compõem a História da Mulher e se coloca como um movimento vivo, cujas lutas e estratégias estão em permanente processo de recriação. Na busca da superação das relações hierárquicas entre homens e mulheres, alinha se a todos os movimentos que lutam contra a discriminação em suas diferentes formas. (ALVES E PITANGUY, 1993, p. 74)
O feminismo no Brasil era alinhado com os acontecimentos e reivindicações femininas que eclodiram em outros países durante os séculos XVIII, XIX e XX, porém precisava se adequar aos momentos sociopolíticos brasileiro, o que resultava em um processo de mobilização em massa das mulheres, em prol do movimento feminista, mais inconstante. A história do feminismo no Brasil ressalta o valor da militância feminina, da resistênciaeda coragemdelutarpordireitoscivisehumanos.É importantedestacarcomo o movimento feminista e a determinação das mulheres brasileiras foi uma revolução extraordinária, devido ao intenso histórico patriarcal e machista do país, sendo considerado até hoje, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), O 5º país que mais mata mulheres no mundo.
2.3. Sobre o Machismo Estrutural
O machismo se nutre de sua profunda e imodesta compreensão sobre o papel do homem no mundo, no qual acredita, convictamente, na superioridade masculina e em sua meritocracia nos privilégios sociais e culturais. Apesar de ser carregado de preconceito, discriminação e sexismo, o machismo se revela quase que inconscientemente em homens e mulheres, pois seu poder de persuasão é histórico e estrutural. Desde o nascimento meninos e meninas têm seus destinos definidos com base no fardo cultural: em geral, as
Nos últimos anos sucedeu um intenso recrescimento de pesquisa sobre a situação da mulher, com publicações de livros, revistas e artigos voltados a este assunto. Com o aumento do espaço democrático aparecem novas esferas de atividades. Mesmo sem um caráter especificadamente feminista, não devemos deixar de registrar a participação feminina em Associações de Bairros, Clube de Mães, de Donas de casa, etc., que marca a presença da mulher no cenário público e expressa uma compressão para seus problemas e capacidade. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 74) o feminismo se estrutura através de momentos difíceis e de suas vitórias:
moças são agraciadas com a beleza das flores, a delicadeza da seda e a timidez das copas; já os homens são parabenizados com a força das pedras, com a virilidade e com os benefícios de um grande líder. A descrição pode parecer exagerada, mas é exatamente assim que se caracteriza o machismo: um exagerado ego masculino, onde existe a supervalorização de um sexo em detrimento do outro. Para a mulher restaria abraçar o papel secundário de sujeição ao homem, no qual de maneira alguma poderia haver espaço para ofuscá lo. Segundo Adichie (2014, p. 33) “ensinamos as meninas a se encolher, a se diminuir, dizendo lhes: você pode ter ambição, mas não muita. Deve se almejar o sucesso, mas não muito. Senão você ameaça o homem’’.
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É uma verdade irrefutável dizer que o emponderamento feminino é considerado uma ameaça as regalias machistas e ao patriarcado. Isso porque a coragem das mulheres em lutar pelos seus direitos é considerado um ato de revolução, pois constrange o sistema opressivo que necessita da inércia social e cultural para se manter na administração do Estado. De acordo com Hooks (2018, p. 10) para encerrar o patriarcado é preciso reconhecer que toda a sociedade contribui com o seu ideal sexista:
A desconstrução de um sistema que favorece aos homens precisa ser feita em todas as esferas que dirigem o Estado, como a cultural, social, econômica e política. O primeiro passo para se combater o sexismo institucionalizado é entendê lo como estrutural, ou seja, ele é um conjunto de concepções machistas, sexistas, misóginas e dominadoras organizadas em diversos setores da sociedade. Em toda atuação do sistema patriarcal é realizada a hierarquização e desigualdade de gêneros, uma forma eficaz de garantir maior ênfase ao poderio masculino.
Para acabar com o patriarcado (outra maneira de nomear o sexismo institucionalizado), precisamos deixar claro que todos nós participamos da disseminação do sexismo, até mudarmos a consciência e o coração; até desapegarmos de pensamentos eaçõessexistas e substitui los porpensamentos e ações feministas.
Podemos apontar a estrutura do machismo também nas expectativas de comportamento, logo as emoções naturalmente humanas terminam sendo divididas por sexos. Os homens podem demonstrar insatisfação, furor e irritação sem serem cobrados por isso, diferentemente das mulheres, em que os mesmos sentimentos as fazem soar amargas, e que quase sempre são ironicamente associados com a falta relações sexuais. O que se espera da mulher, em um ambiente de trabalho por exemplo, não é o mesmo o
É culturalmente aceitável que os homens traiam, que abandonem suas esposas e filhos, que sejam abusivos conjugalmente e que quebrem em qualquer hora desejada o elo efetivo com uma mulher. Se ele for bom cidadão, pagar seus impostos e trabalhador, nada é tão grave que não possa ser perdoado, e absolutamente nada, é tão culpa exclusivamente sua, caso a sua situação envolva uma mulher. Já referente as mulheres são culturalmente inaceitáveis, sob pena de julgamentos violentos, a traição, a indiferença maternal, a histeria e a vida sexual abertamente ativa. Não importa se ela cumpre seu papel de cidadã e se paga seus impostos, suas obrigações civis não são sinônimo de honra,
Nos relacionamentos amorosos também ocorrem essa discriminação entre sexos, onde um exerce mais liberdade que o outro. Segundo Hooks (2018, p. 79) “Nosso anseio por amor, conforme fomos ensinadas nos grupos de conscientização, era uma armadilha sedutora para nos manter apaixonadas por amantes patriarcais”. A mulher torna se refém das escolhas de seu parceiro, tendo que aceitar passivamente suas vontades e atendê las sem reclamar, pois, na visão machista, o instinto masculino deve ser respeitado. Aliás, a questão do instinto é muito protegida no machismo estrutural, assim como tudo que possa vir a justificar os erros masculinos, como o amadurecimento tardio dos homens. Por mais que se apresente uma razão biológica, é inegável que ela só reforça o cenário machista no qual vivemos, afinal, se o cérebro feminino é mais eficiente, por que são os homens que ocupam mais cargos de prestígios? Ambos os gêneros possuem a mesma capacidade, mas focalizar no sútil desenvolvimento das mulheres que as colocam minimamente à frente dos homens durante o processo de evolução humana, é um jeito indigno de explicar o porquê eles podem errar quanto seres vivos.
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que se espera e se aceita de um homem. De uma mulher no cargo de chefia aguarde se empatia, do homem, comando. Adichie (2014, p. 26) narra e distinção de gênero ainda que ocupem o mesmo cargo:
Tenho uma amiga americana que substitui um homem num cargo de gerencia. Seu predecessor era considerado um “cara durão”, que conseguia tudo; era grosseiro, agressivo e rigoroso quanto a folha de ponto. Ela assumiu o cargo, e se imaginava tão dura quanto o chefe anterior, mas talvez um pouco mais generosa ao contrário dela, ele nem sempre lembrava que as pessoas tinham famílias. Em poucas semanas no emprego, ela puniu um empregado por ter falsificado a folha de pontos exatamente como o seu predecessor teria feito. O empregado reclamou com o gerente sênior, dizendo que ela era agressiva e difícil. Os outros funcionários concordaram. Um deles, inclusive, disse que tinha achado que ela traria um “toque feminino” ao ambiente de trabalho, mas que isso não acontecera. (ADICHIE, 2014, p. 26)
Completamente ao contrário do que acontece com os homens, as mulheres são pressionadas a terem a sua sensibilidade aflorada. É isso que se espera delas durante toda a vida: o amor incondicional. Entretanto, é curioso notar que existe uma exceção neste sentimento imperioso: ela mesma. O machismo não suporta que uma mulher se ame, pois, em sua visão, ela foi concebida para oferecer o que tem de mais agradável somente aos homens e a sua família (ambos apontados pelo sistema patriarcal como a fórmula da felicidade feminina). Sua individualidade é considerada arrogância. Segundo Solnit (2017, p. 19) "No mundo tradicional a felicidade é algo essencialmente particular e egoísta"É do ser feminino que se cobra a paciência, o carinho e a aceitação. Em outras palavras, pode se dizer que é da mulher que se aguarda a mudança do homem. Mas veja bem, a mudança que sempre o impulsiona para cima, para longe da mulher. Como aquela frase que diz que atrás de todo o grande homem existe uma grande mulher, uma afirmação que ilustra que o destaque sempre deve ser do masculino, e de que o sexo oposto não passa apenas de sua sombra. A consequência desse tipo de pensamento é o incentivo da rivalidade feminina para ser a "escolhida" do homem, pois segundo o sistema patriarcal ser eleita por ele é validar todas as suas qualidades que corroboram para sua autoestima. De acordo com Hooks (2018, 23) a mulher é potencializada a acreditar que é menos, o que fazíamos ser um inimigo interno:
Porém, as dificuldades de um machismo estrutural, intrínseco em nossa cultura e sociedade, não é um problema unicamente das mulheres. Claro, o peso maior sempre cairá para elas, pois essa é a finalidade do sistema patriarcal: a opressão feminina. Entretanto a masculinidade tóxica também é nociva para os homens. De acordo com Adichie (2014, p. 31) a sociedade reduz o senso de humanidade para os homens, criando contextos que os engessam:
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e sim sua honestidade com os conceitos culturais. De acordo com Adichie (2014, p.28) é impressionante o quanto as mulheres investem em serem queridas e como foram criadas para acreditar que ser benquista é muito importante. Mas o oposto não acontece.
Nossa definição de masculinidade é muito estreita. Abafamos a humanidade que existe nos meninos, enclausurando os numa jaula pequena e resistente. Ensinamos que eles não podem ter medo, não podem ser fracos ou se mostrar vulneráveis”. (ADICHIE, 2014, p. 31)
O sexismo objetifica a mulher, procura definir seus gostos, gestos, sentimentos e vestimentas, e controla rudemente a sua vida sexual. Uma pessoa sexista discrimina o gênero feminino impondo lhe um padrão, ou seja, colocam as mulheres em “caixinhas estreitas”, para que possam manipulá las com facilidade. Nivelam os valores femininos de acordo com as suas expectativas. Uma mulher nunca pode ser ousada demais, muito
Sabíamos, por experiência própria, que, como mulheres, fomos socializadas pelo pensamento patriarcal para enxergar a nós mesmas como pessoas inferiores aos homens, para nos ver, sempre e somente. Competindo uma com as outras pela aprovação patriarcal, para olhar uma as outras com inveja, medo e ódio. (HOOKS, 2018, p. 23).
Podemos observar que a estrutura do machismo está em todos os aspectos que construíram os sistemas, valores e morais do mundo no qual vivemos. Está na política, na cultura, na sociedade, na economia, está dentro de nós. Por mais avanços que obtivemos ao longo da história, o patriarcalismo ainda não completamente foi abalado, porém, atualmente estamos bem norteados, sabemos que caminho devemos seguir. Para acabar com o machismo estrutural devemos construir uma nova consciência humanista, baseada no respeito, na igualdade e na justiça.
2.4. Desigualdade de Gênero
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É impossível falar sobre feminismo sem falar sobre a desigualdade de gênero, um dos principais temas desse movimento social. É na hierarquização dos sexos que entendemos como a questão é mais inflamada do que já imaginávamos. Não se trata unicamente da luta por direitos iguais, mas sim da luta por direitos básicos, como de ir e vir. A desigualdade de gênero apresenta um leque de preconceitos e problemáticas que absurdamente move o mundo, e durante muitos anos, em silêncio. Uma metáfora que nos ajuda a compreender essa complexidade do machismo e a distinção de gênero, é a do guarda chuva. O guarda chuva é o machismo e a desigualdade. O que ele encobre são o sexismo,amisoginia, aopressão,o preconceitoe violência Adichieexplicaqueaquestão de gênero deve ser falada, pois existem situações que acontecem com a mulher apenas por ser do sexo oposto:
Uma vez estava falando sobre questão de gênero e um homem me perguntou porque eu me via como uma mulher e não como ser humano. É o tipo de pergunta que funciona para silenciar a experiência especifica de uma pessoa. Lógico que sou um ser humano, mas há questões particulares que acontecem comigo no mundo porque sou mulher. (ADICHIE, 2014, p.54).
Existem várias formas de se oprimir uma mulher, mas a violência é um dos artifícios mais cruelmente usados. Usar da violência física, psicológica, emocional e
Assim como o sexismo, a misoginia também faz parte da desigualdade de gênero. A misoginia é o sentimento de ódio contra mulher, onde se tem uma necessidade de lhe causar sofrimento a diminuindo, a excluindo e a depreciando constantemente. Apesar da raiva assustadora das pessoas misóginas pelo sexo feminino, o discurso de ódio nem sempre aparece de modo grosseiro e perturbador, e sim através piadas e frases prontas Essa aceitação de um machismo velado, imaturo e “cômico” é sem dúvidas um dos assuntos mais importantes levantados pelo movimento feminista. Não é porque soa simpático e consegue arrancar risadas de muitas pessoas, que deixa de ser um ataque sexista, misógino e machista contra as mulheres. É importante saber que os conceitos que sustentam a desigualdade de gêneros estão cristalizados na sociedade, e se adaptam as mudanças de pensamentos, adotando assim um tom menos agressivo. Segundo Hooks (2018, p. 10), “a maioria dos homens fica perturbada pelo ódio e pelo medo de mulher”.
O machismo arrasta consigo muitas caraterísticas preocupantes da sociedade, que o tempo, infelizmente, não conseguiu apagar. A opressão é um exemplo claro do enorme controle social que o machismo institucionalizado tem no mundo. Uma estratégia do patriarcalismo para continuar no poder, pacificamente Uma mulher oprimida é uma voz silenciada, e quando não há barulho não há incomodo. Manter mais da metade da humanidade, que no caso é feminina, sobre o domínio de um sistema patriarcal, é uma projeção de perpetuidade. É uma forma ardilosa de uma ditatura não ser percebida, e assim ser tolerada De acordo com Hooks (2018, p, 19) “somente com discussão e desarcado poderíamos começar a encontrar um ponto de vista realista sobre exploração e opressão de gênero”.
32 pelo contrário, precisa ser recatada e respeitosa para com o seu cônjuge. Deve ser modesta, feminina e obedecer às regras impostas sobre o seu corpo, de ser o adorno que encanta aos homens, contudo, sem exageros vulgares. A mulher ideal, no olhar sexista, é aquela que sabe cumprir tudo que fora mandando pelo machismo, sem questionar, que constrói sua identidade nele. Segundos Hooks (2018, p. 13) a sociedade não compreende o que de fato é o sexismo e os seus males “a maioria das pessoas não entende o sexismo, ou, se entende, pensa que ele não é um problema”.
contra a mulher já não é mais tão facilmente tolerado comoera nosséculospassados,porém, estámuito longede setornarumaquestãoobsoleta na sociedade. A mulher ainda é desprezada pelo seu gênero. Continua sofrendo com a diferença salarial, com a violência doméstica e sistêmica e com as cobranças culturais. Existe um progresso, é indiscutível que sim, mas o movimento feminista alerta que o machismo não deve ser submetido a reparos: ele precisa ser extinto. Segundo Hooks (2018, P. 89) pensar e agir como uma feminista, dentro de um sistema patriarcal, não faz a vida da mulher ficar mais fácil, e sim mais complicada.
O feminismo é um pensamento e um ato de revolução, o que definitivamente consterna o patriarcalismo. Uma mudança que tem como propósito a igualdade e a equiparidade dos gêneros não é uma reivindicação razoável, pois para o machismo isso significaria conceder forças aos seus oprimidos, atitude que despertaria radicalmente a sede de justiça das mulheres, que já acumulam conquistas femininas ao longo dos anos Logo, a rotulação torna se o caminho mais simples e eficaz para não ceder a militância. Segundo Adichie (2014, p. 9) ser feminista é ser taxada como uma mulher infeliz:
Em 2003, escrevi um romance chamado Hibisco roxo, sobre um homem que, entre outras coisas batia na mulher, e sua história não acaba lá muito bem. Enquanto divulgava o livro na Nigéria, um jornalista, um homem bem intencionado, veio me dar um conselho (talvez vocês saibam que nigerinos estão sempre prontos a dar conselhos que ninguém pediu). Ele comentou que as pessoas estavam dizendo que meu livro era feminista. Seu conselho disse, balançando a cabeça com um ar consternado era que eu nunca me intitulasse feminista, já que as feministas são mulheres infelizes que não conseguem arranjar marido. Então decidir me definir como “feminista feliz”. (ADICHIE, 2014, p. 9)
patrimonial é o modo de tentar fazer com que a mulher concorde que é melhor viver com a dor da inferioridade do que morrer para se desvencilhar dela. Hooks (2018, p.88) observa que a sociedade, e mesmo a mídia de massa que levanta a questão da violência contra mulher em seus conteúdos, não a conecta com o pensamento do patriarcado o que dificulta a Hojeerradicação.emdia,opreconceito
É incoerente como a desigualdade de gênero consegue fazer com que a sociedade aprendaa lidarracionalmente comsituações ilógicas. Aomesmotempo queidentificamos todos os males que o machismo propaga, culpamos as mulheres feministas de serem personagens antagônicas, frustradas e de perfis avinagrados.
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É nesta condição enérgica que o jornalismo independente se potencializa e se diferencia do tradicional, pois escolhe com firmeza em seus princípios o serviço de informação que irá prestar ao povo, na liberdade de atuar profissionalmente de acordo com os seus ideais pessoais. O jornalismo independente é a liberdade individual em harmoniaperfeitacomocomprometimentoprofissionalesocial De acordocomTraquina
A maioria das culturas existentes no mundo são patriarcais. A dificuldade da mulher em ser feminista em determinadas nações que estabeleceram um conjunto de saberes tendenciosamente machista, acontece pelo fato de serem consideradas traidoras morais de sua própria nação. Adichie (2014, p.10) explica como a palavra feminismo tem um peso culturalmente negativo em seu país:
3. CAPÍTULO 2 JORNALISMO INDEPENDENTE EM SUA ESSÊNCIA.
A heterogeneidade da discriminação de gênero é algo que revela a importância de o tema ser discutido e evidenciado. Sua aplicação, em todas as camadas da sociedade, revela que enfrentaremos um processo de desconstrução seriamente complexo. Os anos de luta do movimento feminista trouxeram vitórias, virtudes intelectuais e emponderamento cívico para entender que não devemos parar até que os direitos legais e morais da mulher não sejam mais prejudicados.
Uma professora universitária nigeriana veio me dizer que o feminismo não fazia parte da nossa cultura, que era antiafricano, e que, se eu me considerava feminista, era porque havia sido compreendo pelos livros ocidentais (o que achei engraçado, porque passei boa parte da juventude devorando romances que não eram nada feministas: devo ter lido toda a coleção água com açúcar publicada pela Milsand Boomantes dos dezesseisanos. Etoda vez que tentava ler os tais livros clássicos sobre o feminismo, ficava entediada e mal conseguia terminar). (ADICHIE, 2014, p. 10)
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Jornalismo, elemento da imprensa considerado o quarto poder (e por muitos o mais dominante deles). Tem uma enorme força para atingir o público em massa, difundindo notícias e matérias sobre temas coletivos que podem despertar a sociedade a assuntos esquecidos e ignorados, abrindo um essencial espaço para o diálogo, reflexão e confronto. Segundo Melo (2009, p. 57) a imprensa é fundamental para a democracia, pois “figurando a história da humanidade como inovação que alterou profundamente a marcha civilizatória, a imprensa instaurou a cidadania e criou condições indispensáveis para a emergência das sociedades democráticas”.
A fragmentação das redações e emergências de uma sociedade “redacional”, e a ubiquidade das tecnológicas midiáticas. Estas tendências, cada uma a sua maneira, apontam para uma perspectiva de jornalista mais individual que institucional e para uma necessidade de re conceituar o campo. (DEUZE E WITCHGE, 2016, p. 09).
3.1 O que é jornalismo independente?
O jornalismo independente é um completo rompimento com o jornalismo convencional e com seus métodos de produzir e disseminar informação. Podemos enxergá lo como um novo nicho jornalístico. Bertocchi (2017, p. 113) explica esse conceito de empreendedorismo comunicacional:
Os jornalistas de veículos de comunicação independentes fazem das notícias mais do que um produto a ser negociado, pois compreendem com maturidade que para cumprir com o dever social não há alternativas de remendos o que é certo precisa ser feito de modo honesto e sincero. São profissionais que não desejam separar seu coração de sua carreira jornalística, abraçando a sua consciência humana, pois como diz Abramo (1997, p. 109) “o jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter”.
35 (2005, p. 207 208) não é possível reconhecer as responsabilidades jornalísticas para com a sociedade se perceber a informação somente com uma mercadoria:
Emancipação. De modo geral, essa é a melhor palavra para definir sobre o que se refere o jornalismo independente. Existem vários fatores que contribuíram para que os jornalistas adotassem esse novo formato de atuação, e se desvinculassem dos grandes grupos corporativos midiáticos. Podemos apontar, por exemplo, que se trata de um resultado de uma geração de profissionais que tem como essência a automotivação. São mais informatizados, autônomos e com facilidade para desempenhar multitarefas. Assim como os funcionários, segundo Deuze e Wistschge (2016, p. 09) as redações jornalísticas também mudaram juntamente com os novos modelos de negócios:
O poder do jornalismo e dos jornalistas aponta para a importância das suas responsabilidades sociais. A afirmação do reconhecimento das suas responsabilidades, por parte dos jornalistas e também por parte das empresas jornalísticas, não é possível reduzindo as notícias a uma simples mercadoria, e ignorando a existência dos ideais mais nobres do jornalismo, que fornecem uma manta de legitimidade ao negócio. (TRAQUINA, 2005, p. 207 208).
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Buscam inaugurar um modelo singular, inédito e visionário de negócio, promovendo ruptura em suas diversas camadas: equipes, estratégias, processos, formatos narrativos, audiências e tecnologia. Ou seja, sem ser mais umgalho movo na mesma arvore, criaruma startup de jornalismo não significa sair da redação e abrir um negócio de jornalismo digital (ou se tornar freelancer)como forma de sustento alternativo diante da falta de empregos nas empresas de mídias tradicionais. Além disso, as startups de jornalismo são empresas que desbravamuma trilha de inovadora (e de alto risco)para resolver problemas reais na sociedade. (BERTOCCHI, 2017, p. 113)
”
.Para exercer dignamente o papel de porta voz e mediador de conhecimento da sociedade, o jornalista precisa de uma imprensa livre. Entretanto, em determinadas circunstâncias, as amarras provêm dos próprios veículos de comunicação de massa hegemônicos. Seja pelo posicionamento político, ideológico ou econômico, muitas mídias privadas utilizam se de sua grande influência pública para se auto beneficiar. Publicam matérias, notícias e informações tendenciosas, que protegem seus aliados e interesses, ignorando a confiança que fora depositada pelo leitor/telespectador em seu trabalho de investigação. Logo o produto noticioso é vendido de forma totalmente antiética, o que coloca em risco a espinha dorsal para a valorização do serviço prestado pelo jornalista ao povo: a credibilidade. De acordo com Bucci (2000, p. 56) a difusão de conteúdo informativos deve ser cem por cento dedicado ao interesse do leitor:
Manter a independência editorial exclusivamente para o leitor. Independência editorial, portanto, significa manter a autonomia para apurar, investigar, editar e difundir toda a informação que seja de interesse público, o interesse de cidadão, e não permitir que nenhum outro interesse prejudique essa missão (Bucci, 2000, p.56)
O jornalismo é sem dúvida um dos pilares para se construir uma sociedade democrática, pois todo o exercício dessa profissão é fundamentado nas preocupações
É notório que com o crescimento da internet e da alfabetização digital, consequência da globalização, o jornalismo abraçou de forma otimista outros horizontes empregatícios A mídia tradicional migrou para as redes sociais e para outras plataformas e dispositivos na web, a fim de alcançar diferentes públicos, aumentar a sua audiência e garantir mais anunciantes Já o jornalismo independente, apesar de ser um empreendimento, nem sempre visa obter lucros, e seu comprometimento não se reduz as questões técnicas do mercado. Segundo Bertocchi (2017, p. 113) “precisam se adaptar velozmente ao longo da jornada para concretizar tal inovação, isso antes mesmo de gerar lucros
37 coletivas. Entretanto, a posição elitista de muitos meios de comunicação tradicionais, principalmente na área jornalística, tem esfriado a sua relação com o povo, que por muitas vezes não sente que seus interesses são devidamente bem representados pela imprensa. Obviamente, não podemos ignorar que o trabalho da mídia privada tem um grau de importância elevado, pois a maioria dos veículos de comunicação de massa, ou seja, que atinge um alto número de receptores, são privados. Porém, as problemáticas discutidas são sobre sua autenticidade com o púbico e suas manobras de manipulação, valendo se do jornalismo. Segundo Kapuscinski (2008, p. 43) há muitas maneiras de se manipular o público e modificar as informações:
O jornalismo independente apoia um desenvolvimento jornalístico democrático, o que torna seu ofício mais transparente e livre perante a sociedade, criando assim uma relação de confiança e respeito mútuo entre o jornalista e o povo. Proteger esse elo torna se um dos substanciais objetivos do jornalismo independente. De acordo com Guerra (1998, p. 131) é muito complicado pensar em jornalismo sem a confiabilidade do público e sem credibilidade dos jornais:
Existem diversas formas de manipulação. Nos jornais, podemos fazer uma manipulação através do que decidimos pôr na premira pagina, do título que escolhemos e do espaço que damos a um acontecimento. Há centenas de formas de manipular as notícias na imprensa. E outras centenas na rádio e na televisão. E sem dizer mentiras. O problema da rádio e da televisão é que não é necessário mentir. O sistema é muito simples: omitir um assunto. A amor parte dos espetadores da televisão recebe de modo muito passivo o que lhes e dado. Os patrões das cadeias televisivas decidem por eles o que devem pensar. Determinam a lista de coisas em que se deve pensar sobre elas [...] Trata se de uma arma fundamental na construção da opinião pública. Se não falarmos de um acontecimento, este simplesmente não existe. (KAPUSCINSKI, 2008, p. 43)
De caráter progressista e comunitário, a mídia independente incentiva que seus funcionários assumam os seus valores e princípios morais como pessoas cívicas também no âmbito profissional. Essa atitude reflete diretamente no trabalho dos jornalistas e do próprio veículo de comunicação emancipado, que adotam, por vezes, um engajamento militante em seus conteúdos. Propositalmente, se afastam do conceito de objetividade, aliás, conceito esse tão defendido no jornalismo convencional. Segundo Rangel (2003, p.
Público e profissionais se empenham no sentindo de garantir o espaço noticioso do jornalismo como expressão da realidade. É o imperativo ético que funda o jornalismo, que o coloca como uma das mais importantes instituições das sociedades contemporâneas. Sem a confiança do público e a credibilidade dos jornais, torna se muito difícil pensar em jornalismo. (GUERRA, 1998, p. 131).
Porém, segundo identificou, a tendência maior é que a mídia local se ocupe de assuntos mais gerais (das vias públicas, tragédias, violência urbana, tráfico de drogas, política local, serviços públicos, problemas da cidade, culinária regional e etc.), enquanto os meios de comunitários trabalham, principalmente com pautas de interesse mais específico de segmento sociais (assuntos dos bairros, do trabalho, dos movimentos sociais, questões de violência, esclarecimento quantos aos perigos relacionados as drogas e outras problemáticas de segmentos sociais excluídos). O primeiro tipo de mídia, visa, mais a transmissão da informação e o segundo a mobilização e a educação informal. (DORNELLES, 2009, p. 163).
3) um jornalismo de objetividade, sem o discurso planfetário e político, torna o leitor mais passivo:
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Com a “objetividade nas mãos”, o jornalista criara o efeito de neutralidade do discurso jornalístico produzido a partir das novas técnicas redacionais. Sem precisar tornar como seu o discurso planfetário de um ou de outro jornal, o leitor passou a escolher um jornalismo de forma diferenciada: se, com caráter planfetário, o jornalismo era entendido como essencialmente político, já com a objetividade ou a presunção dela o leitor se tornaria mais “passivo”, pois a pretensa objetividade do jornalismo implicava uma certa garantia de não distorção dos fatos e na não necessidade de buscar outras fontes de notícia. Além disso, a ancoragem factual do novo jornalismo, baseando em nomes, endereços e fatos reais, dava a ideia de “ser o real”, proporcionando ao leitor a confiança de que o jornalismo precisava operar com legitimidade. (RANGEL, 2003, P. 3).
As organizações jornalísticas independentes que se dedicam a diversas frentes de lutas sociais, procuram produzir um conteúdo personalizado para as minorias. Esse tipo de atuação baseado no senso de cidadania não é um altruísmo inesperado, pois nesses casos, grande parte da equipe de jornalistas que integram o quadro de colaboradores destes veículos, pertencem ao grupo e a realidade dais quais escrevem Podemos citar, por exemplo, o jornalismo periférico. Neste meio de atividade jornalística, jornalistas jovens e de condições humildes produzem matérias sobre bairros marginalizados pela sociedade, a fim de denunciar as problemáticas que os moradores enfrentam por questões classistas e preconceituosas. Torna se então uma mídia comunitária. Relacionado a esse mesmo contexto do jornalismo periférico, também existe a mídia local, que relata os acontecimentos sobre a região, de modo menos singular, inclusive, utiliza se muito das plataformas digitais disseminar suas informações. Dornelles (2009, p. 163) explica com precisão a diferença entre esses dois tipos de mídia:
O jornalismo cidadão também está bastante associado ao jornalismo independente. Essa modalidade jornalística se constitui no direito de todos, ou seja, de qualquer cidadão, fazer notícia. De maneira alguma é uma forma de excluir a necessidade
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da capacitação profissional oferecida academicamente, mas sim de entender que pessoas comuns não são unicamente fontes de informação, elas podem assumir o papel de produtoras, e pressuposto que a sua intenção seja de trabalhar juntamente aos veículos de comunicação, auxiliadoras. Segundo Foschini e Taddei (2006, p. 10 11) o jornalismo cidadão tem muito a agregar na vida dos jornalistas:
Com a difusão da internet e outros artefatos digitais, a imprensa tradicional vem modernizando os seus métodos operantes, mas ainda sim está muito longe de gerar afinidade o suficiente com a audiência a ponto de aceitar uma participação direta e frequente do público na produção de suas matérias. Já no jornalismo independente a influência do público é muito maior em quantidade e importância. Por, quase sempre, a mídia independente tratar de assuntos do interesse do povo, as colaborações deles são semprebem vindas.Algunsveículos decomunicação independentes dedicamespaçosem suas páginas e plataformas para que o próprio espectadores noticiem seus materiais jornalísticos. É uma condição de parceria e reciprocidade. De acordo com Foschini e Taddei (2006, p. 9) na internet não existe uma estrutura que isole o receptor do emissor:
O termo “jornalismo cidadão” foi adotado em todo mundo e também no Brasil para nomear a produção de notícias nesse novo universo. Ele não exclui a produção dos jornalistas profissionais, acrescenta a ela a contribuição dos cidadãos jornalistas, leigos que são testemunhas de fatos importantes, gente que está no lugar certo e hora certa para cobrir um evento, especialistas que podem falar melhor sobre um determinado assunto e ainda as vozes que simplesmente desejam se manifestar. Você pode ser um destes colaboradores, eventuais ou regulares, no mundo. (FOSCHINI E TADDEI, 2006, p. 10 11).
De princípios éticos e viés democráticos, o jornalismo independente resgata a verdadeira essência jornalística. Sua pretensão é valorizar a opinião pública e trabalhar a favor da sociedade, investigando, denunciando e produzindo notícias de temas cívicos e humanos, porém, com mais especifidade. De caráter destemido, o jornalismo independente não se fixa a padrões e normas que possam engessar seus deveres como jornalistas, atuando com franqueza e urbanidade. Enfim, é o emponderamento profissional que as questões monetárias das empresas de comunicação por anos filtraram
A separação rígida entre os que fazem as notícias e os que recebem as informações desaparecem no mundo virtual. Os profissionais da comunicação têm agora milhares de aliados na tarefa de apurar fatos, conhecer novidades, reunir e comentar informações. Qualquer um pode fazer notícia. O modelo tradicional, que distingue emissores e receptores da informação. Deu lugar a comunicação feitas por meio da colaboração. (FOSCHINI E TADDEI, 2006, p. 9).
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de suas redações devido aos seus próprios interesses Segundo Meyer (2004, p. 257) os jornais sempre prósperos em lugares que inspiram confiança:
Como podemos observar nos textos anteriores, o jornalismo independente tem como princípio básico a liberdade de atuação de seus profissionais. Com o plano financeiro equilibrado e pautado no conceito ético, assim como a falta órgãos estatais e partidos políticos regedores, os jornalistas não se predem as questões mercantis para exercer seus papéis de comunicadores, utilizando seu espaço midiático para propagar informações que favorecem a população, em especial, as minorias. O efeito dessa independência jornalística é a conquista de uma audiência segmentada, que encontram nestes novos veículos de imprensa uma representação pouco, ou nada, explorada pela mídia tradicional De acordo com Bucci (2000, p. 30) “ao jornalismo cabe perseguir a verdade dos fatos para bem informar o público, o jornalismo cumpre uma função social antes de ser um negócio, a objetividade e equilíbrio são valores que alicerçam uma boa reportagem”.
3.2 Jornalismo alternativo/independente e feminista no Brasil
Essa citação de Meyer (2004, p. 257) pode se configurar como um feliz retrato do jornalismo independente. Esse modelo jornalístico procura segmentar seu público para atender questões que são tópicos extremante importantes em um sistema social, mas que devido a pluralidade das notícias e informações não são apresentados do modo que realmente deveriam. Por vezes, sequer tem um espaço editorial no mínimo suficiente para abordá lo. Ao acolher e dar atenção, muitas das vezes total, para assuntos que os grupos discriminados continuamente dialogam, o jornalismo independente recupera a confiança deles no jornalismo. E isso só é possível exercendo a verdadeira liberdade de expressão, emancipando de “manuais instrutivos” sugeridos por uma comunicação privada de inclinação redondamente numerária.
O jornalismo independente e feminista é um nicho jornalístico dedicado completamente a assuntos e problemáticas referente a vida da mulher na sociedade contemporânea Ao contrário do jornalismo tradicional, que na maioria das vezes oferece
Jornais sempre serão mais bem sucedidos nos lugares em que inspiram confiança. A principal questão estratégica é descobrir e compreender populações segmentadas onde há maior visibilidade de construir essa confiança e exercer influência. (MEYER, 2004, p. 257)
um conteúdo estereotipado e superficial para o público feminino, o jornalismo feminista produz matérias que narram temas como o preconceito, violência doméstica, machismo e patriarcado. Segundo Buitoni (1981, p. 5) a imprensa feminina se limita a falar sobre questões habituais e genéricas do universo da mulher, sem adotar fortes laços com a atemporalidade noticiosa:
O jornalismo independente feminista tem grandes semelhanças com o jornalismo alternativo feminista dos séculos passados, no qual inclusive é de suma importância para existência do feminismo na mídia. Entre as diferenças do jornalismo independente e alternativo, a posição contra hegemônica do último é a mais notória. Apesar da imprensa independente ser desvinculada das empresas de comunicação dominantes, não existe uma luta contra essa liderança, situação que ocorria frequentemente nos jornais alternativos. Além disso, também é interessante saber que o nome “jornalismo alternativo” caiu naturalmente em desuso. Entretanto, é impossível falar do jornalismo independente e feminista no Brasil sem considerarmos o marco histórico que o jornalismo alternativo e feminista foi para a mídia e para o próprio movimento feminino no país. Segundo Godard (2002, p. 212 213) os periódicos feministas da imprensa alternativa, criados para polarizar entre as mulheres ideologias feministas e conhecimentos, não vão de encontro ao protótipo de publicação capitalista:
Os periódicos feministas têm existência fora do modelo dominante de publicação capitalista, as margens e em oposição, seja por meiode sua posição limite no que diz respeito ao mercado ou quanto a seu compromisso com a ideologia contestatória. Os periódicos são desenvolvidos para fomentar as ideologias feministas: eles criam novos circuitos para disseminar entre as mulheres saberes e práticas que buscam transformar a condição feminina sob qual as mulheres têm sido sujeitadas a opressão sistêmica. Estes jornais não estão no negócio de produção de textos commodities, a fim de maximizar o lucro para uma corporação. Significativas praticas que desafiam a ordem simbólica, os periódicos feministas estabelecem contra instituições que legitimaram de modos alternativos de conhecimento e estruturas editorias. Posto chave para esse desafio é a sua existência como organização sem fins lucrativos fora da ficção dominante do segmento de mercado como
Atualidade e imprensa feminina não mantem laços muito estreito. Mesmo quando tratam da realidade, a indeterminação temporal e muito grande. S artistas, as pessoas famosas que ocupam a maioria das páginas de “realidade” de uma revista feminina também atingiram uma certa atemporalidade. Um perfil de um ator pode ser publicado num mês ou no próximo. Quase sempre a imprensa feminina utiliza matérias que no jargão jornalístico são chamadas de frias: matérias que não te tem uma data de publicação, que podem aparecer hoje ou semanas depois. A atualidade passa longe da imprensa. Isso acentua o seu desligamento com o mundo real e o seu caráter mais “ideológico”.
(BUITONI, 1981, p. 5)
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Deixarmos de confessar nossa viva e cordial gratidão as nossas boas e nobres assinantes, em todo o tempo, seria um revoltante crime, perante A Deus e a sociedade, que viu nascer o JORNAL DAS SENHORAS sob sua animadora influencia, florescer cultivado por elas, e por elas existindo para seus cuidados e vida consagrar somente a elas. H quatro anos é o Jornal das Senhoras protegidos por um crescido número de assinantes que constantemente o tem sustentandocomas avultadas despesasde umapublicaçãodesuaordem. Ainda não havia esmorecido, nem uma só vez, sua tão franca e leal proteção. Nem tão pouco nós esmoreceremos, Senhoras. Não esmoreceremos jamais.
No ano de 1852, na cidade do Rio de Janeiro, foi publicado o Jornal das Senhoras, primeiro periódico jornalístico no Brasil dirigido por uma mulher, a redatora Joana Paula Manso de Noronha, de nacionalidade argentina. O jornal continha seções de beleza, teatro, belas artes, literatura e critica, sendo divulgado todos os domingos. Em quatro anos de atividade, muitas mulheres passaram pela redação, escrevendo o jornal e o administrando Surgiu em uma sociedade conservadora, porém, mesmo com os limitadores culturais da época, seus textos conseguiram propor uma visão mais ampla sobre a atuação feminina na sociedade. Em seu primeiro impresso, Noronha (1852, p. 1) já demonstra seu pensamento moderno e de certa forma, feminista, mesmo que de modo tímido:
O Jornal Das Senhoras se encerrou em 1855, sendo a última edição lançada no mês de dezembro desse mesmo ano. A intenção, a princípio, era de ser somente uma pausa editorial com expectativas de volta para 1857, situação que, infelizmente, não aconteceu. Em sua despedida, até então temporária, a redação do Jornal das Senhoras (1855, p.1) agradeceu às assinantes e destacou o legado do periódico:
42 determinante de valor. Ao invés de se colorem em uma ação direcionada e amigável, as feministas têm como objetivo produzir uma posição para um assunto específico de leitura, uma leitora feminista que se dedique a crítica da leitura dominante, e por extensão da publicação e de outras práticas econômicas. (GODARD, 2002, p. 212 213).
Ora pois, uma Senhora a testa da redação de um jornal! Que bicho de cabeça será? Contudo em França, em Inglaterra, na Itália, na Espanha, nos Estados Unidos, em Portugal mesmo, os exemplos abundam de Senhoras dedicadas a literatura colaborando em diferentes jornais. Por ventura a América do Sul, ela só, ficará estacionada nas suas ideias, quando o mundo inteiro marcha ao progresso e tende aoaperfeiçoamento morale materialdasociedade? Ora!Não pode ser. A sociedade do rio de janeiro, principalmente, corte e capital do império, metrópole do sul da América, acolherá de certo com satisfação e simpatia O JORNALDASSENHORAS redigido poruma senhora mesma:por uma americana, que, senão possui talentos, pelo menos tem a vontade e o desejo de propagar a ilustração, e cooperar com todas as suas forças para o melhoramento social e para emancipação da mulher. (NORONHA. IN: JORNAL DAS SENHORAS, 1852, p. 1)
Dezoito anos depois do fim do Jornal das Senhoras, em 1873, surge mais um periódico da imprensa feminina, dessa vez no estado de Minas Gerais, intitulado de O Sexo Feminino. Foi fundado pela mineira Francisca Senhorinha da Motta Diniz, educadora e jornalista. Muitas mulheres intelectuais escreviam o periódico (que também se denominava de semanário literário, recreativo e noticioso) e assim como no caso do JornalDasSenhoras,tinhamopropósitodeengajarempautassobrea liberdade da mulher. Entretanto, outros assuntos polêmicos e tabus da época apareciam no jornal, como o sufrágio feminino, pena de morte, abolição da escravatura e o movimento feminista. Em sua publicação inaugural, no dia 7 do mês de janeiro, o semanário O Sexo Feminino (1873, p. 1) já iniciou sua primeira página com um texto totalmente feminista sobre a educação da mulher, de tom nada amigável, e com duras críticas ao machismo:
Zombem muito embora os pessimistas do aparecimento de um novo órgão na imprensa O Sexo Feminino; tapem os olhos os indiferentes para não verem a luz do progresso, que, qual pedra desprendida do rochedo alcantilado, rola violentamente sem poder ser impedida em seu curso ; riam os curiosos seu riso sardônico de reprovação a ideia que ora surge brilhante no horizonte da cidade da Campanha ; agourem bem ou mal o nascimento, vida e morte do Sexo Feminino; persigão os retrógrados com seus ditérios de chufa e mofa nossas conterrâneas, chamando as de utopistas:O Sexo Feminino aparece, há de lutar, e lutar até morrer e morrerá talvez, mas sua morte será gloriosa e a posteridade julgará o perseguidor e o perseguido. O século XIX, século das luzes, não se findará semque os homens se convenção de que mais de metadedos males que os oprimem é devida ao descuido, que eles têm tido da educação das mulheres.
Fazemos apenas uma parada, que julgamos necessária, no próximo ano de 1856; e com o favor De Deus o JORNAL DAS SENHORAS reaparecera em 1857, para prosseguirmos ao honroso fim a que nos propusermos, cultivando com esmero as imarcescíveis flores do caminho tão nobremente encetada pela nossa antiga redatora, a sra. D. Joanna Paulo de Noronha. Para esse tempo emprazamos todas as nossas assinantes, vós todas Senhoras que briosamente nos tendes ajudado, para que vossa proteção continue a fortalecer nossa árdua e fadigosa tarefa, e o JORNAL DAS SENHORAS seja então o que tem ele até hoje sido para vós cuidadoso e dedicado o interprete fiel do que vos é útil e agradável. (JORNAL DAS SENHORAS, 1855, p. 1).
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E ao falso suposto de pensarem que a mulher não passa de um traste dê casa, grosseiro e brusco gracejoque infelizmente alguns indivíduos menos delicados ousam atirar a face da mulher, e o que é mais as vezes, em plena sociedade familiar!!! Em vez de pães de família mandarem ensinar suas filhas a coser, engomar, lavar, cozinhar, varrer a casa etc., etc., mandem lhes ensinar a ler, escrever, contar, gramática da língua nacional perfeitamente, e depois, economia e medicina doméstica, a puericultura, a literatura (ao menos a nacional e portuguesa), a filosofia, a história, a geografia, a física, a química, a história natural, para coroar esses estudos a instrução moral e religiosa , que estas meninas assim educadas não dirão quando moças estas tristes palavras: Sim meu pai, minha mãe, meu irmão, meu marido morrerem o que será de mim!! Não sirva de cuidado aos pães que suas filhas, assim educadas e instruídas, não saibam coser, levar, engomar, cortar uma camisa, etc. etc. A riqueza intelectual produzirá o dinheiro, e com ele se satisfarão as
44 necessidades. O dinheiro, Deus o dá e o diabo pôde tirar; mas a sabedoria que Deus dá, o diabo não a roubará. (O SEXO FEMININO, 1873, p. 1).
Como todos são concordes, a educação e instrução da mocidade,desde os mais tenros anos, é uma das mais imprescindíveis necessidades. Não pareça ás nossas conterrâneas que, exigindo nós para as meninas uma educação mais solida do que a atual, e uma instrução mais útile profissional,tentamos desviá las, no começo da vida, do seio da família Pelo contrário, organizando a sociedade de senhoras, com o fim de sustentar um colégio onde possam ser lançadas nossas meninas para receberem a tríplice educação, pensamos com esta ideia mais estreitar os laços da família, a fraternidade entre os homens, tão recomendada pelo Divino Mestre Jesus Cristo Cremos que no Colégio Santa Isabel, organizado por meio de associação de nobres e caritativas senhoras, podemos fazer concentrar as relações de família, proporcionar ás meninas e ás mães de família uma comum liga de afetos duradouros, cujo foco de luzes fará desaparecer as trevas da ignorância, até aqui enraizadas, e os prejuízos orgulhosos de castas, tão perniciosos ás crianças. No colégio em questão, as crianças podem cultivar sua inteligência mais vastamente; podem fazer desaparecer os vestígios dos errôneos preconceitos de nobreza de nascimento, etc., etc. Ali ficarão conhecendo que a duradoura beleza é a que provém das qualidades morais. Ficarão sabendo que a beleza da forma física se evapora como o fumo, em poucos anos, mas que a beleza moral e intelectual sossobra a tempestade dos acidentes físicos. Reconhecerão a necessidade de conservar a santidade do recato, do pudor, da modéstia e da caridade fraternal, abrindo ao mesmo tempo, elas mesmas, os tenros bracinhos ás suas companheiras de colégio, ali educadas por suas caritativas mães. Outrossim, as nossas conterrâneas, qualquer que seja a sua nacionalidade, terão ocasião de empregar os meios de conhecer os sentimentos de suas filhinhas, na época em que começam elas a experimentar esses aéreos perfumes do desabrochar das tenras flores de suas juvenis idades. Nessa época de melodioso, vago econtemplativo cismar, nunca deve uma mãe, ou uma prudente educadora perder de vista o caminho. (O SEXO FEMININO, 1889, p. 1)
No ano de 1975, mais precisamente no dia 9 do mês de outubro, no estado do Paraná e sucessivamente, São Paulo, começou a circular a primeira publicação do jornal alternativo Brasil Mulher, edição número zero, idealizado por Tereza Zerbini e Joana Lopes. De caráter militante, o periódico definitivamente desperta a imprensa para as questões femininas e se torna o porta voz do movimento social feminista no país Assim, como nos jornais anteriores, o Brasil Mulher (1975, p. 2), logo em sua estreia editorial, desenvolve uma apresentação emponderada e feminista, que defende a igualdade de gênero:
Após dezessete anos de uma carreira jornalística feminista brilhante, o periódico O Sexo Feminino acaba. Em sua última edição, publicado no estado do Rio de Janeiro, no dia 8 de outubro de 1889, O Segundo Sexo (1889, p. 1) divulga um texto que esclarece que o apoio pela educação e emancipação racional da mulher não é uma maneira de afastá las do convívio familiar:
Em dezembro, dois meses depois de sua edição de estreia, mais um exemplar do jornal Brasil Mulher é divulgado. Joana Lopes (1975, p. 2), editorialista do jornal, escreve sobre O Ano Internacional da Mulher, e incentiva o prosseguimento do esforço para a emancipação feminista:
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Dezembro de 1975. Aqui termina o Ano Internacional da Mulher que, embora findo, não deve delimitar o empenho de homens e mulheres em prol da emancipação feminina e a daqueles que se encontram mutilados por qualquer forma de discriminação. Fogos de artifício e propostas concretamente libertadoras surgiram nas conferências, simpósios, entrevistas, reuniões privadas ou públicas no Brasil e no exterior. A nossa sociedade, saturada pelas contradições que cria, promoveu este Ano com a finalidade de "dar à mulher uma oportunidade” para debater seus problemas, apoiadas por todos os governos capitalistas ou não. Através de milhares de palavras lançadas diretamente ou através dos meios de comunicação, um grito foi dado: e ao que propõe inclusive uma mudança de mentalidade, juntamos o nosso. O Brasil Mulher situa se entre os que assumem a posição atualmente incômoda de discutir, informar, debater ideias e tenta em seu número 1 e último deste Ano Internacional da Mulher, apesar da modesta tiragem de 5.000 exemplares contribuir para elevar o nível cultural e de informação das mulheres que nos leem. Nem sempre teremos, como já nos indicou o número 0, a felicidade de atingir com nosso material editorial, a todas as classes sociais despertando o interesse indiscriminadamente. A tradição da informação dirigida às mulheres é articulada por homens e mulheres para a coisificação feminina como sujeito e como objeto e a esse condicionamento a maioria das leitoras de revistas femininas já se habituou. No momento em que nos propomos levar avante as próprias palavras do Presidente Echeverria ao abrir a Conferência do México "não há liberdade para a mulher enquanto não houver liberdade para o ser humano”, as barreiras aparecem e se agigantam. Os primeiros solavancos se fazem sentir e não nos causam surpresas. De outro lado, porém, o número zero esgotou se e corre de mão e mão, entre aqueles que se identificam com os nossos propósitos, numa resposta ao nosso editorial. Nosso número 1 foi editado apesar das dificuldades e se depender apenas de homens e mulheres democratas será editado o número 2. Desejamos ardorosamente que outras iniciativas se somem à nossa, da mesma maneira como estamos somando iniciativas anteriores, para que o Ano Internacional da Mulher não seja apenas uma data a mais nos calendários comemorativos oficiais, mas que seus propósitos se estendam até que reivindicar não se faça mais necessário. (JOANA LOPES, 1975, p. 2)
O Brasil Mulher não é o Jornal da Mulher. Seu objetivo é ser mais uma voz na busca e na tomada da igualdade perdida. Trabalho que se destina a homens e mulheres. Não desejamos nos amparar nas diferenças biológicas para desfrutar de pequenos favores masculinos, ao mesmo tempo que o Estado, constituído de forma masculina, deixa nos um lugar só comparado ao que é destinado por incapacidade de participação do débil mental. (...) queremos falar dos problemas que são comuns a todas as mulheres do mundo. Queremos falar também das soluções encontradas aqui e em lugares distantes; no entanto, queremos discuti las em função de nossa realidade brasileira e latino americana. A época do beicinho está definitivamente para trás, porque milhares de mulheres em todo o mundo fazem jornada dupla de trabalho, num esforço físico que faz com que uma jovem mãe de 30 anos pareça estar com mais de 50; mulheres que desejavam trabalhar e serem independentes economicamente de seus maridos. (BRASIL MULHER, 1975, p. 2)
Em 1976, somente na edição número 2, o jornal Brasil Mulher usa a palavra feminismo, além de citar em sua capa o movimento das mulheres. Na publicação, o jornal Brasil Mulher (1976, p. 2) afirma que o país está, vagorosamente, aderindo ao movimento feminista:
O jornal Brasil Mulher objetivava proteger a anistia dos presos e perseguidos políticos. Através disso, ele se impõe, velozmente, frente as forças políticas partidárias, contra a ditatura militar, situação que irritou muitos homens, principalmente os de cargos eleitorais e midiáticos. Seus impressos chegavam em diferentes estados, como Rio de janeiro, Paraíba, Bahia e Maranhão. As mulheres se reuniam para mulheres lê lo, divulgavam seus exemplares e sugeriam conteúdos e notícias para a próxima edição. Por intermédio do jornal Brasil Mulher “no final de 1975, estão tecidos os primeiros fios de uma rede que vai se estender por todo território nacional, e a questão da mulher se transformará em temas de debates e de discórdias político partidárias, eleitorais e públicas” (TELES, 1993, p. 89).
O uso do termo feminista incomoda muitas mulheres, incluindo algumas que comprem a própria equipe de elaboração desse periódico. Se hoje há ainda um grande estigma contra palavra feminismo, o que dizer então daquela época? Até mesmo as intelectuais de vanguarda tinham dificuldades em se assumir feministas. (TELES, 1996, p. 88)
Brasil está pouco a pouco, timidamente, entrando para o grupo dos países onde o feminismo Movimento de Libertação da Mulher se afirma e se organiza. A nossa atual circunstância e o nosso estágio de compreensão com relação ao feminismo, exige que compreendendo a opressão, a partir de suas próprias relações com a sociedade, e motivadas para levar esta compreensão a outras mulheres, a mulherbrasileira o faça semtemores, questionandopara esclarecer que ser feminista é ser participante: é ir além das simples obrigações e direitos de cidadã conformada com alguns favores legais. E entender que a cadeia sem quebra de elos que há séculos oprime a mulher dos pés à cabeça poderá ser quebrada. É sobretudo não negar que a opressão existe ainda que contribua para sua atenuação os bens materiais, um status garantido na sociedade e até mesmo uma profissão liberal. (BRASIL MULHER, 1976, p. 2)
Segundo Teles (1993, p. 88) a palavra feminismo desagradou muitas mulheres na época, incluindo algumas colaboradoras do próprio jornal, pois se tratava de um termo pejorativo e uma desonra social ser enxergada como feminista:
De acordo com Teles (1993, p. 89) o número de mulher trabalhando na redação do Brasil Mulher cresceu com o tempo:
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Infelizmente, o jornal Brasil Mulher termina a sua atuação jornalística em março de 1979.No
de 1976, um ano após a criação do jornal Brasil Mulher, também foi publicado um novo jornal alternativo feminista, o Nós Mulheres. Esse periódico em questão, ajudou de maneira categórica a disseminação de ideias feministas na sociedade brasileira, e contribuiu na luta contra o preconceito e discriminação. No primeiro editorial do jornal Nós Mulheres (1976, p.1), em sua segunda página, diz o seguinte:
Começou a ser editado por Joana Lopes, de Londrina, com uma equipe de 7 mulheres que depois se ampliou para 25. A partir de seu segundo número, foi transferido para são Paulo. Sua tiragem oscilava entre 5 mil e 10 mil exemplares e sua periocidade era irregular, ora bimestral, ora trimestral. Em 19977, Joana Lopes deixa a equipe do jornal por divergências internas. (TELES, 1993, p. 89)
Desde que nascemos, Nós Mulheres, ouvimos em casa, na escola, no trabalho, na rua, em todos os lugares, que nossa função na vida é casar e ter filhos. Que Nós Mulheres não precisamos estudar nem trabalhar, pois isto é coisa de homem. Os próprios brinquedos da nossa infância já nos preparam para cumprir essa função que dizem ser natural da mulher: mãe e esposa. Nós Meninas devemos sempre andar limpinhas e brincar (de preferência dentro de casa) de boneca, de comidinha, de casinha. E os meninos podem andam sujos e brincar na rua porque são moleques e porque devem se preparar para tomar decisões, ganhara vida e assumira chefia de casa. Alémdisso aprendemos que sexo é um pecado para Nós Mulheres, que devemos ser virgens até o casamento, e que as relações sexuais devem ser realizadas tendo como principal objetivo a procriação. Aprendemos também que devemos estar sempre preocupadas com a nossa aparência física, que devemos ser dóceis, submissas e puras para podermos conseguir marido. Ao mesmo tempo, vemos todos aplaudiremasconquistas amorosase as farras de nossosirmãos. Emuitas vezes não entendemos porque eles podem ter uma liberdade que para nós é considerada pecaminosa. Quando vamos procurar um emprego, porque o salário do marido ou pai não dá para viver, ou porque queremos sair um pouco da solidão das quatro paredes de uma casa, sempre encontramos mais dificuldades que o homem, porque somos mulheres. Dizem nos que não seremos boas trabalhadoras porque trazemos para o serviço o cansaço do trabalho de casa e a preocupação com nossos filhos. (...). Achamos que Nós Mulheres devemos lutar para que possamos nos preparar, tanto quanto os homens, para enfrentar a vida. Para que tenhamos o direito à realização. Para que ganhemos salários iguais quando fazemos trabalhos iguais. Para que a sociedade como umtodo reconheça que nossos filhos são a geração de amanhã e que o cuidado deles é um dever de todos e não só das mulheres. É possível que nos perguntem; Mas se as mulheres querem tudo isto, quem vai cuidar da casa e dos filhos?. Nós responderemos: o trabalho doméstico e o cuidado dos filhos é um trabalho necessário, pois ninguém come comida crua, anda sujo ou pode deixaros filhos abandonados. Queremos,portanto, boas creches eescolas para os nossos filhos, lavanderias coletivas e restaurantes a preços populares para que possamos junto com os homens assumir as responsabilidades da sociedade. Queremos também que nossos companheiros reconheçam que a casa emque moramos e os filhos que temossão deles e que elesdevemassumir conosco as responsabilidades caseiras e nossa luta é por torná las sociais. Mas não é só. Nós mulheres queremos, junto com os homens, lutar por uma
Corajosamente as responsáveis pelo jornal Nós Mulheres o declara publicamente como um jornal de vertente feminista, algo que era extremante inesperado e atrevido na década de 70. Segundo Teles (1993, p. 91) os jornais Brasil Mulher e Nós Mulheres, cada um ao seu modo, revigoraram as reivindicações femininas e apoiaram as mulheres a aderirem consciência sobre suas condições na sociedade.
O destino dos homens não depende de suas características físicas. Assim com o ninguém é escravo porque nasceu com a pele negra, ninguém deve ser discriminado por pertencer ao sexo feminino. Homens e mulheres nascem iguais, com os mesmos direitos de viver digna e decentemente, de ser livre e de buscar a felicidade Se não é essa a nossa realidade, não podemos culpar o clima ou qualquer outra fatalidade e sim a sociedade em que vive m os. A mulher, por séculos, tem sido educada para ser mãe, esposa e dona de casa. O homem, por sua vez, tem a obrigação de sustentar a família, passando o dia fora de casa, sem tempo para dedicar se aos filhos e à mulher. Os problemas que o homem enfrenta no trabalho são bem diferentes dos que a mulher experimenta no dia a dia de dona de casa. O trabalhador enfrenta as filas para o ônibus, as dificuldades do trabalho e o baixo salário mas sabe, no entanto, que sua vida é idêntica à de milhares de outros trabalhadores e que seus interesses e luta s são os mesmos. A mulher fica isolada em casa, sem saber muito bem o que fazer contra a carestia da vida, a falta de escolas e creches, os buracos na rua, a luz elétrica que não foi colocada, etc. Quando sai para trabalhar, porque o salário do marido não dá para viver, a mulher aceita ganhar menos que os homens pelo mesmo trabalho sem saber que isto prejudica a todos os trabalhadores. É evidente, entretanto, que homens e mulheres estão unidos por sua origem social, isto é, pertencer ás camadas trabalhadoras é bem diferente de ternascidono meioda riqueza. Sehomense mulheres dascamadas trabalhadoras, juntos, lutassem por melhores salários, por creches e escolas para as crianças, por refeições nos locais de estudo e de trabalho, etc. as
sociedade mais justa, onde todos possam comer, estudar, trabalhar em trabalhos dignos, se divertir, ter onde morar, ter o que vestir e o que calçar. E, por isto, não separamos a luta da mulher da de todos, homens e mulheres, pela sua emancipação. NósMulheres decidimos fazeressejornalfeminista para que possamos ter um espaço nosso, para discutir nossa situação e nossos problemas. E também, para pensarmos juntas nas soluções. (JORNAL NÓS MUHERES, 1976, p.2).
Oferecendo se disponíveis para ajudar e trabalhar a favor da causa das mulheres nas camadas populares, os jornais alternativos feministas Brasil Mulher e Nós Mulheres levantaram o debate sobre a importância e necessidade de mudanças nos cenários econômico e social, para que as conjunturas de trabalho e vida, de homens e mulheres, se tornassem apropriadas e justas Em 1977, o jornal Nós Mulheres (1977, p. 2) de edição número 4, traz na chamada de capa o tema dia 8 de março, e novamente em seu editorial podemos observar um acentuado discurso militante, que fala cirurgicamente sobre desigualdade de gênero, discriminação social e racismo e sai em defesa dos direitos trabalhistas das mulheres:
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(JORNAL NÓS MULHERES, 1977, p. 2)
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condições de vida seriam muito melhores, as despesas poderiam ser repartidas, o trabalho doméstico seria realizado mais rapidamente e todos teriam mais tempo para estarem juntos, para brincarem com as crianças, para ler, ver televisão e ir ao cinema, pois o lazer é um direito de quem trabalha. No dia 8 de março de 1857, na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, as operárias das indústrias têxteis e de confecção entraram em greve. Elas exigiam igualdade de salários e redução da jornada de trabalho. A importância desta manifestação em que as mulheres se uniram para reivindicar seus direitos como trabalhadoras fez com que um a militante dos direitos sociais, Clara Zetkin, propusesse, em 1910, que o dia 8 dê março fosse comemorado no mundo inteiro como o Dia Internacionalda Mulher. NÓSMULHERESpropõe que não deixemos transformar o 8 de março em apenas uma outra data qualquer. O importante é que esse dia signifique um passo a mais na luta da mulher por sua emancipação. Querem os salários iguais por trabalhos iguais, creches e escolas em número suficiente, refeições nas escolas e locais de trabalho. Para isto, defendemos a mais ampla e democrática participação das mulheres e da população em geral na discussão das questões que afetam diretamente a vida dos trabalhadores bem como dos grandes problemas nacionais. Nós Mulheres é um a das tribunas abertas a esta discussão. Mais do que isto, aberta à participação, debate e colaboração de todos aqueles, homens e mulheres, que luta m por um a sociedade m ais justa onde comer, estudar, trabalhar em condições dignas e participar seja um direito garantido a todos.
Um dos propósitos do jornal Nos Mulheres era de socializar o trabalho doméstico através de ferramentas sociais, como a criação de lavanderias, refeitórios públicos e creches. Essa concepção do Nós Mulheres era vista de modo atravessado por ativistas da esquerda, pois para eles a maioria da população brasileira tinha dificuldades mais sérias para serem resolvidas, como a fome e a ausência de liberdade. Porém, de acordo com Teles (1993, P. 92) as questões e ideias levantadas pelo jornal feminista Nós Mulheres propiciava debates nas escolas e bairros periféricos. A equipe jornalística era composta por Marisa Correa, jornalista responsável pelo Nós Mulheres, e mais uma equipe a cerca de 30 cooperadoras O jornal Nós Mulheres também sofreu com a oscilação de tiragem e intervalo entre as publicações e finalizou sua jornada em 1978, quando parou de circular. Em seu último ano de vida, na edição número 8, o jornal Nós mulheres (1978, p. 1) trouxe em sua primeira página a notícia sobre o caso do jornalista Wladimir Herzog, assassinado
O novo feminismo, que emergiu durante a Década da Mulher, nos anos de 1976 a 1985, delineou de forma efetiva o comprometimento e responsabilidade com valores e ideais sociais e democráticos. Entretanto, houveram grandes problemas, inclusive em homens e mulheres de caráter progressistas, que acreditavam não ser necessário discutir sobre o feminismo. Segundo Teles (1993, p. 92) uma quantidade significativa da liderança de esquerda, de ambos os sexos, anunciava que o feminismo tinha caráter separador e pretendia privilegiar as classes dominantes.
Mulherio. Quase sempre, a palavra é empregada com sentido pejorativo, associada a histerismo, gritaria, chatice, fofocagem ou, então, “gostosura”. Mas qual é a palavra relacionada a mulher que não tem essa conotação? O próprio verbete “mulher” é apresentado no dicionário de forma especial. Segundo o consagrado Aurélio Buarque de Holanda, mulher é: “uma pessoa do sexo feminino, após a puberdade; 2. Esposa“. Em seguida a definição, vêm as composições usualmente feitas com a palavra: “à toa”, “da comédia”, “da rua”, “da vida”, “da zona”, “da rótula”, “do fado”, “errada”, “perdida”, etc.
pelo regime militar. Intitulado de “Em busca da verdade”, o texto relatava a dúvida da família quanto a veracidade de história envolvendo a morte do jornalista, já que na época autoridades tinham afirmado que Wladimir havia se suicidado, e a preocupação do jornal se haveria justiça:
1981, ano em que um grupo de mulheres do movimento feminista estreou um jornal bimestral, nomeado de Mulherio, no estado de São Paulo, em um contexto pós ditadura militar. Foi idealizado por Fúlvia Rosenberg e pela jornalista Adélia Borges, que era responsável pelo jornal. A sede do Mulherio era localizada na fundação Carlos Chagas, e sua equipe era de jornalistas, professoras e pesquisadoras dedicada com as questões feministas. De acordo com Teles (1993, p. 93) O jornal Mulherio foi uma produção jornalística pertinente, pois era o único periódico brasileiro que respondia algumas perguntas sobre as novidades do feminismo naquele tempo:
No dia 25 de outubro de 1975, o jornalista Wladimir Herzog foidepor no DOI CODI do II Exército sobre a reorganização do Partido Comunista Brasileiro. À tarde, estava morto. Segundo as autoridades, ele teria se suicidado, enforcando se com um cinto. Mas há outras versões. Por isso, sua esposa, Clarice Herzog, e toda a família continuam empenhados em saber a verdade. Uma ação declaratória foi movida contra a União, para verificar a sua responsabilidade na sorte de Herzog. Em sua primeira audiência, no último dia 16 de maio, vários depoimentos de jornalistas, também presos e torturados na mesma época, negaram a hipótese de suicídio. Devido as suas, declarações, alguns deles estão sendo ameaçados por grupos de extrema direita. Resta saber se, desvendados os fatos, a justiça conseguirá responsabilizar e punir os culpados. (NÓS MULHERES, 1978, p. 1)
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O mulherio foi uma inciativa oportuna, já que era a única publicação nacional que podia responder a algumas indagações sobre as atualidades do feminismo na época. Pois a divisão do movimento de mulheres emSão Paulo, que ocorreu aquele ano, deixou perplexas e indagativas feministas espalhadas por este Brasil afora e até mesmo algumas que se encontrava, no exterior. (TELES, 1993, p. 93).
Apesardascríticasde algumasleitoras referente aescolhadonome Mulherio, pois achavam “poluído”, em sua tiragem número zero, Adélia Borges (1881, p.1) explica o motivo:
todas sinônimo de meretriz As três exceções. “Mulher de César” (de reputação inatacável), “mulher do piolho” (muito teimosa) e a cinematográfica “mulher fatal”. Consulte no mesmo dicionário as composições feitas com o verbete “homem”: “de ação”, “de bem”, “de Estado”, “de letras”, “de negócios“, etc. Mulherio, por sua vez, nada mais é do que “as mulheres” ou “uma grande porção de mulheres”. E o que somos, é o que este jornal será. Sim, nós vamos nos assumir como o Mulherio e, em conjunto, pretendemos recuperar a dignidade, a beleza e a força que significam as mulheres reunidas para expor e debater seus problemas. De uma maneira séria e consequente, mas não mal humorada, sisuda ou dogmáticas. (BORGES, Mulherio, 1981, p. 1)
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Técnicos dos Ministérios do Trabalho, Previdência Social e Saúde reuniram se em julho, em Brasília, para discutir o andamento da campanha de incentivo ao aleitamento materno e para analisara conveniência de proporuma extensão doperíodo delicençamaternidade (atualmente,toda trabalhadora tem três meses de licença remunerada ao darà luz). A ideia, contudo,foidescartada logo nas primeiras reuniões do grupo, segundo Maria Clara Solero, assessora da Coordenadoria de Proteção ao Trabalho da Mulher e do Menor do Ministério do trabalho. A posição oficiosa do Ministério do Trabalho é de que qualquer medida protecionista ao trabalho da mulher na verdade acaba aumentando a discriminação a mão de obra feminina. O próprio ministro Murilo Macedo já confidenciou a repórteres que a simples menção pela imprensa de medidas protecionistas, ainda que de forma especulativa, resulta em vários telefonemas de empresários advertindo que haveria desinteresse em empregar mulheres. Apesar dessa oposição do Ministério, circula no Congresso Nacional dois projetos relacionados ao assunto. Um do deputado Leo Simões (PDS RJ), aumenta a licença maternidade para seis semanas antes e dez semanas depois do parto. Outro do deputado Adriano Valente (PDS PR), aumenta o prazo da licença para quatro semanas antes e vinte depois do parto. Ambos os projetos estão na Comissão de Constituição e Justiça. E a nossa posição? Embora o assunto esteja sendo, de uma forma ou de outra, debatido na área oficial, os diversos grupos feministas brasileiros ainda não tomaram posição a seu respeito Várias entidades são contra, em princípio, as medidas protecionistas, argumentado que hoje o desemprego da mulher casada e oito vezes maior que a da solteira, pois os empresários não querem arcar com o ônus social da maternidade A questão, contudo, ainda requer um debate mis aprofundado, na busca de fórmulas que permitam dividir a responsabilidade pela criação dos filhos igualmente entre pais e mães. Para municiar essa discussão publicamos aquium resumo da legislação sobre licença maternidade emalguns países europeus:Suécia, seis meses de licença para o paie mãe, com pagamento de 90% do salário, mas dois meses de licença anual por cada filho que o casal tiver, tambémcom90% do salário; França, quatro meses de licença apenas para as mães, 90%do salário. Para as mães commais de três filhos, seis
O jornal Mulherio foi muito comercializado e adquirido, e logo na sua terceira tiragem já possuía quase mil assinaturas. Ele era vendido por uma turma de mulheres e também nas livrarias. Seus conteúdos eram engajados em temas ascendentes no feminismo, tal como a democracia doméstica, a condição da mulher negra, o movimento das mulheres negras e a licença maternidade estendida para os pais (inclusive o jornal Mulherio foi o pioneiro dessa ideia no país). Em sua terceira edição, o jornal Mulherio (1981, p. 6) publicou uma matéria sobre a licença maternidade, intitulado de “Por que não estender para os pais? ”, trazendo dados para esclarecer seu posicionamento:
meses e meio de licença. Opcional: dois anos de licença, sem remuneração; Alemanha, mulheres apenas, sete meses e meio, pagamento integral; Itália, mulheres apenas três meses, 80% do pagamento. Opção seis meses de licença compagamentode apenas 30%do salário;Inglaterra:mulheres apenas 40 dias, pagamento integral. (MULHERIO, 1981, p. 6).
As tarefas domesticas continuam sendo “coisas de mulher”. Muitas vezes, as mulheres reptem o comportamento masculino. E numa dessas, e como escreveu Rosiska de Oliveira, a proposta de igualdade transformou se “em apenas semelhança”, ou melhor “caricatura”. (TELES, 1993, p. 94 95).
Era um jornal estruturado sob um esquema profissional e recebia financiamento da Fundação Ford e da Fundação Chagas. Mesmo assim enfrentou sérias crises financeiras. A edição n° 15 (setembro e outubro de 1983) estampava um apelo na capa “Mulherio não pode parar”. Ficou sete meses fora de circulação. Mas voltou no final da campanha ‘Diretas, Já” (mobilização pelo voto direto para presidente da República) edição de maio e junho de1984. Voltou preocupado comacrise dofeminismo,mas semperder a picardia e o entusiasmo. Adélia Borges escreveu o artigo “Vamos que vamos”, que destrincha os recuos das pioneiras contemporâneasdo feminismo. Falou de Betty Friedan, que escreveu outro livro, A Segunda Etapa, onde propõe a volta das mulheres para a família. Uma guinada fantástica para trás, particularmente para quem, 1963, “construirá as bases do feminismo americano com a Mística Feminina, um retrato doloroso do enclausuramento da dona de casa. Adélia mostrou também que as crises “não estão só nos livros”, mas também no cotidiano dos grupos feministas. Segundo o artigo, em São Paulo “muitas líderes do movimento, aquelas que organizaram as comemorações do 8 de março, estão sem motivação para a militância”. Citou também um grupo do Rio Grande do Sul, Costela de Adão, que não se reunia havia uns dois anos “por motivos de autodissolução”. Adélia quis buscar as causas, pegou exemplo de dona Maria que “não saiu do tanque e ao mesmo tempo saiu para fazer todas as outras coisas, num esforço desesperado e cansativo de travestir se de mulher maravilha e, dá lhe culpa, não conseguiu eficiência em tudo”. E tem mais: a entrada das mulheres no “mundo masculino” não correspondeu uma entrada dos homens no “mundo feminino’.
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No ano de 1982, o jornal Mulherio publicou o plano de governo das candidatas para o legislativo, com propostas políticas sociais que protegiam as questões feministas. Segundo Teles (1993, p. 94) alguns exemplos de defensão da bandeira feministas declaradas pelas candidatas eram: o direito a creche para que o Estado também assuma a responsabilidade dos encargos da maternidade; a discriminação do aborto, o direito a aposentaria aos 25 anos de serviço, etc.
O jornal Mulherio teve uma boa longevidade de atuação jornalística, bem maior, aliás, que os seus antecessores. Esteve em circulação de 1981 até 1988. De acordo com Teles (1993, p. 94 95) o jornal enfrentou diversas crises financeiras e também do próprio movimento feminista:
Em sua última tiragem, de edição número 39, o jornal Mulherio trouxe como capa o tema de abolição da escravatura, principalmente sobre o preconceito da igreja católica
contra os negros e o seu aparente “arrependimento”. A chamada era um tanto quanto irônica: Negros: a Igreja pede perdão, mas não confessa os pecados. No texto (1988, p. 6), o jornal Mulherio retrata com austeridade a relação da igreja católica com a população negra:
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Oh, mundo de contraditório. Quem diria que uma das vozes mais empenhadas a abordar o tema do Centenário da Abolição do Escravatura no Brasil havia de ser, justamente, a do Igreja Católico? Contraditório. Bizarro, mesmo, se nos lembrarmos do papel que vem sendo desempenhada por essa organização multinacional, durante tantos séculos aliada dos poderosos. A disposição da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para escolher A Fraternidade e o Negro como tema de suo componha este ano, sem dúvida se deve, em grande parte, 00 esforça dos grupos negros católicos que atuam no seio da própria igreja. Mas não podemos desprezar, por outro lado, a visão mercadológica dos bispos: sem dúvida o Centenário constituía uma oportunidade imperdível, no sentida de lavrarem alguns tentos, principalmente quanto ao polimento da própria imagem diante da sociedade. Afinal, os negros são quase maioria, no Brasil, e profundamente religiosos. Seduzidos por uma infinidade de outras religiões, provavelmente mais atraentes, os católicos brasileiros estão se tornando, cada vez mais, católicos 'de praxe': Quantas vezes você não escutou alguém dizer: "sim, sou católico, mas só porque fui batizado, não vou a missa, não':Sim, valia a peno investirno Centenário. Masa Igreja tinha umproblema: como resolver o próprio passado? (Que inclui desde as torturas, durante o Inquisição, com mulheres sábias sendo queimados na fogueira, até a omissão durante o nazismo, passando pela participação na escravidão dos próprios negros). Eles então lembraram de um recurso muito prático de sua própria doutrina, o famoso mea culpo: confesso, sou perdoado e está resolvido! E foram em frente. Na segundo página da cartilha Ouvi o Clamor Deste Povo, que contém o texto base do Componha da Fraternidade de 1988, se lê: "A Igreja reconhece, hoje, que nem sempre tratou a situação vivida pelos negros com a devida atenção evangelizadora e libertadora. E um pouco mais adiante: "Não se trata de julgar o passado escravista com os critérios do presente" (o que nos faz lembrar um pouquinho aquela fase em que os militares diziam "revanchismo não"! Não faz?). Mas em seguida o texto redime a Igreja: "mas trata se, isso sim, de reconhecer, à luz da fé, que os traços desse passado permanecem ainda hoje e são contrários à dignidade do homem, à fraternidade e à justiça. Se é que a Igreja Católica está se aproveitando do negro, a verdade é que desta vez o negro, também, parece sair ganhando alguma coisa. Embora forçando bastante a borra no sentido de fazer a Igreja parecer menos terrível do que foi, esse texto base traz, acima de tudo, uma grande quantidade de informações sobre a situação do negro no Brasil de hoje, constituindo, mesmo, uma ferramenta para a conscientização geral, de negros e brancos. (Muito bem impresso e fartamente distribuído pelas igrejascatólicas no Paístodo, a cartilha da CNBB divulga a realidade do racismo de uma maneira tal somo a Movimento Negro jamais poderia, economicamente. Essa, certamente, é a razão de mais esse estapafúrdio "sincretismo".) (MOREREIRA. IN: MULHERIO, 1988, p. 6, grifo do autor).
No mesmo ano da última publicação do Mulherio, em 1988, uma nova mudança ocorreeo jornalpassaasechamarNexo, Feminismo, Informação eCultura, comalgumas alterações editorias, mas sem perder a essência do jornal que marcou a história Rendeu
Em termos de escritos brasileiros sobre o tema, percebe se que a mulher negra, as famílias negras que constituem a grande maioria dessas camadas não são caracterizadas como tais. As categorias utilizadas são exatamente aquelas que neutralizam a questão da discriminação racial, do confinamento a que a comunidade negra está reduzida. (GONZALEZ, 2020, p. 35).
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apenas duas edições publicadas, a de junho e julho. Sem o apoio da fundação Ford e de outras fontes de subsídio, é encerrado oficialmente a existência do jornal Nexo.
Criado em 2015, a Dibradoras é um canal de mídia e produtora de conteúdo jornalístico que busca proporcionar a efetiva participação da mulher no esporte, a fim de promover a igualdade de gênero em um ambiente dominantemente masculino. A equipe é composta por três mulheres, a publicitária Angélica Souza, e pelas jornalistas, Renta Mendonça e Roberta Nina Cardoso. Podemos observar a necessidade de uma imprensa
Esses jornais alternativos feministas que foram citados tiveram um grande destaque na história do feminismo no Brasil, pois revolucionaram o pensamento das mulheres. Enfrentaram conceitos sexistas, quebraram tabus e descontruíram, de modo tímido ou atrevido (depende do cenário da época), o machismo. Porém, a imprensa feminista não ficou estagnada no tempo, muito pelo contrário, agora dá espaço ao jornalismo independente e feminista, que concentra os mesmos ideais a favor das mulheres e de suas problemáticas. Em 2011, a Agência Publica foi fundada por repórteres mulheres, se tornando a primeira agência de jornalismo investigativo sem fins lucrativos do país, e também a mais premiada. Apesar de não ser um veículo jornalístico voltado unicamente a audiência feminina e para a causa feminista, o fato de ter sido criado por mulheres é sem dúvida mais uma conquista para desconstrução do machismo em uma área profissional ocupada majoritariamente por homens. Segundo Brandão (2020, p. 17) por muitos anos, o jornalismo foi visto como uma profissão inaceitável para as mulheres, pois a inteligência feminina sempre foi desprezada pela sociedade.
Em 2014 nasceu Nós Mulheres da Periferia, um site jornalístico independente e feminista, administrado exclusivamente por mulheres negras e periféricas. Tem como objetivo democratizar o debate público e mostrar a realidade brasileira, de população predominantemente formado por mulheres negras. Tal fato, abordado pelo jornal, também é narrado por Gonzalez (2020, p. 35), pois segundo a autora as mulheres negras não são vistas como maioria da camada oprimida, uma maneira de manipular a percepção sobre questões de discriminação racial:
Elas já disputaram bem mais que dois tempos de uma partida de futebol, são séculos lutando contra as diferenças de cargo, salário e visibilidade. É uma final de Copa do Mundo por dia para as mulheres que recebem, em média, 85,1% da remuneração dos homens, segundo o Ministério do Trabalho. É uma disputa de pênaltis com prorrogação para as artilheiras emassuntos esportivos. Atletas, árbitras, gandulas, técnicas, jornalistas e torcedoras invadem a pequena área e marcam um golaço em cima do principal rival, o preconceito. Dentro ou fora dos campos, quadras e ginásios, quando elas falam ou praticam esportes sempre é algo considerado ousado demais, desafiador e até proibido no Brasil. O país do futebol, com a melhor jogadora do mundo por seis vezes, chegou a proibir a prática por quase 40 anos, de 1941 até 1979, sob o argumento de ser algo “incompatível com a natureza feminina”. A lei nº 3.199 determinava que:“Art. 54. Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país" (Decreto Lei Nº 3.199, de 14 de abril de 1941).
(MILENA, 2020, p. 11)
Os movimentos feministas foram de extrema importância para a mulher se ver como cidadã e fazer com que os outros a enxergassem como merecedora dos mesmos direitos e respeito dados às pessoas do sexo oposto. O feminismo foi uma ferramenta fundamental para que as lutas femininas se propagassem e também uma das portas de entrada para a mulher nessa profissão. Quando analisamos a história do sexo feminino, é mais fácil compreender como é de extrema importância para a mulher se tornar jornalista, principalmente por ser um ofício, quando realizado com ética e senso crítico, de fundamental importância para a democracia e a cidadania serem exercidas plenamente. (BRANDÃO, 2020, p. 17).
voltada a inclusão de profissionais mulheres no esporte no Brasil, pois segundo Milena (2020, p. 11) a atuação feminina no futebol, por exemplo, ainda se depara com muito preconceito:
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Fundado em2013 pela jornalista JulianadeFaria, aThinkOlga éuma organização feminista que luta contra o machismo e a desigualdade de gênero. O projeto atua ao lado da sociedade civil, promovendo campanhas de conscientização, chegando a receber até o apoio da ONU Mulheres e da Open Knowledge Brasil. Algumas das inciativas mais populares foram: chega de fiu fiu, #PrimeiroAssédio, Manda Prints e Entreviste uma Mulher. De Acordo com Brandão (2020, p.17) através da história do sexo feminino podemos compreender a importância da mulher se tornar jornalistas, em especial, por ser um trabalho que defende a democracia e a cidadania:
AzMina é uma revista eletrônica de jornalismo independente e feminista lançada em 2015, fruto de um financiamento coletivo. De caráter assumidamente militante, é uma revista completamente engajada na luta contra machismo estrutural e o patriarcalismo, produzindo matérias e reportagens sobre as questões femininas nas diferentes esferas
Como todas e todos defensores das políticas feministas sabem, a maioria das pessoas não entende o sexismo ou, se entende, pensa que ele não é um problema. Uma multidão pensa que o feminismo é sempre e apenas uma questão de mulheres em busca de serem iguais aos homens. E a grande maioria desse pessoal pensa que feminismo é anti homem. A incompreensão dessas pessoas sobre políticas feministas reflete a realidade de que a maioria aprende sobre feminismo na mídia de massa patriarcal. (HOOKS, 2018, p. 13).
3.3 A informação na luta contra o machismo estrutural.
Ao longo deste capítulo podemos observar a importância de um jornalismo livre e de natureza feminista para a conservação de direitos básicos da democracia. Ser um veículo jornalístico independente e feminista é mais do que somente levantar uma bandeira a favor das mulheres, é também uma forma de denunciar toda a desigualdade, opressão e injustiça social aceita tranquilamente pelo patriarcalismo. A função do jornalista é de estar na vanguarda do povo, protegendo seus interesses e garantindo um fluxo de informação uniforme para todos, entretanto, a elitização do jornalismo tradicional, muitas das vezes, tem afastado grupos sociais esquecidos e desprezados pela sociedade e pelo Estado. O jornalismo independente, em especial o de viés feminista, resgata a relação com esse público, segmenta essa audiência e se torna a sua porta voz perante aimprensade massa.Mergulhano conteúdoespecífico,nalinguagem, naestética, construindo uma relação de confiança e proximidade com o seu leitor/espectador, que se sente satisfeito e representado. É nesse projeto de singularidade que aumenta o espaço de comunicação e de militância, produzindo matérias mais sólidas, de caráter mais inclusivo e de resultados eficazes. A desconstrução do machismo estrutural, o fim do sexismo, da misoginia, da opressão e desigualdade de gênero são pautas do movimento feminista que
Assim como a organização Think Olga, a revista eletrônica AzMina também realiza muitas campanhas de conscientização que gera grande impacto social, como #MachismoNãoÉBrincadeira, CarnavalSemAssédio e #VamosMudarOsNúmeros, e já recebeu diversos prêmios e homenagens pelo seu trabalho jornalístico.
56 sociais, culturais e políticas, e esclarecendo sobre o que realmente se trata o movimento das mulheres. O papel de educadora cívica do feminismo contemporâneo que AzMina se propôs a desenvolver em seu veículo de comunicação é de extrema relevância, pois segundo Bell Hooks (2018, p. 13) muitas pessoas não entendem o que é sexismo e nem a complexidade da causa feminista:
A revista eletrônica AzMina tem um objetivo muito claro na criação de seus conteúdos noticiosos: apresentar as problemáticas de gênero, incentivar a luta contra o machismo estrutural e trabalhar jornalisticamente, através de matérias e reportagens, as questões sócio políticas culturais sobre a disparidade de direitos cívicos e humanitários entre os sexos. Através de suas produções editoriais, procura orientar a sua audiência a se opor ao sistema dominador e patriarcal presente no Brasil e na maior parte do mundo Seu posicionamento feminista promove um diálogo livre e inteligente com o seu público, que prontamente se conecta com a identidade militante da revista. Em sua plataforma digital, AzMina disponibiliza informação e conhecimento a fim de politizar seus leitores, contribuindo na geração de uma sociedade de consciência mais cidadã e de valores mais justos. Declaradamente, a revista utiliza sua influência na comunicação para defender a diversidade e combater ao androcentrismo, a cultura machista e a desigualdade de gênero, que há séculos oprimem a mulher e ferem sua liberdade como indivíduo, tentado a estabelecer em um destino de sujeição e passividade. Neste capítulo analisaremos três infográficos feitos pela revista eletrônica AzMina, anexados em duas matérias referente a violência contra a mulher. Com esse método poderemos entender, no ponto de vista
É o direito de acesso à informação (e à cultura) que justifica democraticamente a livre existência de toda forma de comunicação social.Quando a confiança na informação jornalística é prejudicada pelo barateamento do jornalismo, a pretexto de encobrir sob o timbre de “reportagem” atrações puramente apelativas, todos saem perdendo; uma instituição social está se enfraquecendo (BUCCI. 2000, p. 187)
57 são/foram abraçadas pelas mídias independentes/alternativas, a fim de emancipar a mulhercomoindividuo,pois,seusdireitoscívicosehumanitáriosestavamsendo atacados e para permanecer pré estabelecidos de forma antidemocrática. O jornalismo independente, indiferente da sua frente de luta ou do público alvo, tem o valor profissional baseado na defesa da democracia e na construção da formação cidadã, responsabilizando seporentregarnotíciase informaçãodequalidade,poissegundoBucci (2000, p. 187) é o direito de acesso a informação que explica a livre existência de toda forma de comunicação social:
4. ANÁLISE DE TRÊS INFOGRÁFICOS DA REVISTA ELETRÔNICA AZMINA
Quando se fala em violência contra as mulheres, percebemos que existe por parte do público a disposição de levantar questões procedentes ou não, de travar o diálogo, de desenvolver o debate e elaborar reflexões; atitudes que são frutos do longo trabalho realizado nas últimas décadas de denunciar e transformar em relações democráticas os históricos conflitos entre mulheres e homens. Nossa perspectiva é erradicar a violência e, por isso, estamos em constante debate com o público. Faltam muitos subsídios, informações e espaços para que esse debate corra livremente pelas ruas, escolas, mídia, empresas, poderpúblico, sindicatos, partidos políticos e instituições religiosas. Faltam também, por parte de alguns setores decisivos, interesse e a confiança de que a transformação é possível. Trata se de uma questão política: sensibilizar cada mulher e cada homem para que atuem na construção das tão propaladas igualdades, justiça social, cidadania, democracia, autonomia (TELES E MELO, 2002, p. 6).
Sendo assim, se faz necessário uma alfabetização visual que permitirá que a infografia seja explorada ao seumáximo tanto para o viéscomunicativo quanto o educativo, já que a mesma ampliará a sua capacidade informativa. Em
58 acadêmico, a verdadeira importância da revista AzMina proporcionar uma síntese visual de dados, na vontade de que seus leitores compreendam com mais facilidade suas publicações. Os três infográficos selecionados para análise foram retirados da seção de violência da revista eletrônica e feminista AzMina, e são datados em 27 de novembro de 2017 e 23 de novembro de 2021. Segundo Teles e Melo (2002, p. 6) a violência contra a mulher é uma questão política que deve ser discutida:
Com essa concepção, podemos perceber papel fundamental do jornalismo da revista eletrônica AzMina na cobrança por soluções concretas do governo brasileiro para a liquidação da violência contra a mulher.
A revista eletrônica AzMina possui um forte apelo artístico em sua plataforma, uma forma de construir um produto jornalístico original e interessante. Ela harmoniza os seus textos com ilustrações personalizadas, principalmente quando está divulgando dados que sustentam a reportagem, ajudando a prender a atenção dos leitores e simplificando a assimilação do conteúdo compartilhado. Além de aparentar cuidado e preocupação com o seu público, também traz uma caraterística mais conceitual e moderna para a revista. Nas matérias de temas mais complexos e pesados, como no caso de violência contra mulher, o uso do infográfico da revista AzMina, é uma alternativa eficiente de informar e impactar o leitor, pois a escolha das cores e o estilo das fontes interfere diretamente na percepção das pessoas sobre os fatos, causando diferentes sentimentos. De acordo com Bezerra (2010, P. 18) é preciso uma alfabetização visual, oferecida pela infografia:
relação a este aspecto, a relevância da comunicação, da linguagem textual e visual se encontra presente no processo educativo (BEZERRA, 2010, p.18).
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Na matéria publicada no dia 27 de novembro de 2017 pela revista eletrônica AzMina, intitulada de “Violência contra mulher: O pedido de socorro que vem do celular”, abordou o auxílio de aplicativos para a prevenção do crime. Na postagem nos deparamos com o seguinte infográfico:
Figura 1 - Dados da violência contra a mulher no Brasil
Fonte: Revista AzMina (2017).
Desenvolvido pela revista eletrônica AzMina, o infográfico em questão mostra os resultados da pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança e Data Folha sobre o estado da violência contra a mulher no Brasil. Nele podemos observar uma brilhante composição jornalística digital, que informa rapidamente para os leitores os números alarmantes deste crime no país, prendendo suas atenções através de elementos gráficos e textuais de grande impacto, que imprimem de modo indireto, mas de fácil absorção do público, a identidade intelectual e visual da revista. A escolha de fundo, um azul escuro
4.1 Análise de três infográficos da revista eletrônica AzMina

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Figura 2- Jornada da mulher indígena para denunciar o agressor

Em 4 de março de 2020, a revista AzMina publicou mais uma importante reportagem sobre a violência contra mulher. O título apresentava a seguinte chamada: “Pra gente não funciona: Mulheres indígenas e a Lei Maria da Penha”. Também compartilhava uma obra infográfica. Veja:
Fonte: Revista eletrônica AzMina (2020).
de tom mais frio, passa a mensagem de seriedade e uma sensação sombria. Os números são destacados de vermelho vivo, assim como outros os detalhes (setas e linhas) e se fundem propositalmente aos respingos de “tintas” espalhados na imagem, simbolizando sangue, o que contextualiza muito bem com o tema de violência apresentado. A escolha da fonte torna os dados perfeitamente legíveis e a cor azul claro atrás das letras brancas remetem ao wordmark da revista eletrônica AzMina. Vemos então que a construção desse artificio visual em AzMina não existe apenas para enriquecer suas matérias e reportagens, mas também para alcançar uma linguagem que torne seu conteúdo feminista mais inclusivo, a fim de que as notícias que divulguem a importância da causa e o motivo dessa frente de luta a favor das mulheres sejam completamente entendidas e abraçadas, até mesmo por aqueles que desconhecem o feminismo e o seu movimento social. Essa ideia de agregação feminista é defendida por Hooks (2018, p. 3):
Vamos fazer camisetas e adesivos para o carro e cartões postais e música hip hop, comerciais de TV e rádio, anúncios em todos os lugares e outdoors e todas as formas de material impresso que fale para o mundo sobre feminismo. Podemos compartilhar a simples, porém poderosa, mensagem de que o feminismo é um movimento para acabar com a opressão sexista. (HOOKS, 2018, p. 3).
Dessa vez o processo criativo da revista AzMina para a realização deste infográfico concentra se em conceito visual mais elaborado, no intuito de minuciar as informações compartilhadas na reportagem. A escolha das paletas de cores é claramente uma referência ao design da revista, que possui diferentes tons de azuis e verdes, sendo o último quase sempre puxado para o neon. O foco agora é dedicado as ilustrações, que juntamente com os textos, narram de modo elucidativo a jornada das mulheres indígenas até a delegacia e os trâmites necessários para execução do Boletim de Ocorrência, possibilitando que seus leitores tenham uma boa noção das dificuldades que essas mulheres enfrentam quando precisam denunciar seus agressores. O apoio do infográfico dialoga extraordinariamente bem com a reportagem deste caso, e novamente vemos mais uma atividade feminista em ação O intuito é de sensibilizar os leitores para a condição das mulheres indígenas, vítimas de violência, que encaram diversos problemas regionais e financeiros para conseguir exercer seu direito de proteção garantido pela Lei Maria da Penha. De acordo com Hooks (2018, p. 24) “um grande número de mulheres simplesmente perdeu a noção de sororidade”, e o uso desse infográfico mediante ao conteúdo jornalístico da revista AzMina é um relevante gatilho social que alerta a população feminina para outras realidades vividas pelas mulheres brasileiras, resgatando uma fielPublicadosororidade.no
dia 23 de novembro de 2021, o infográfico abaixo faz parte da reportagem nomeada de “Mulheres jornalistas recebem mais que o dobro de ofensas que os colegas homens no Twitter”, que denuncia a misoginia nas redes sociais:
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Figura 3 Jornalistas mulheres são atacadas no Twitter

Com tons vibrantes e ilustrações coloridas, a ideia desse infográfico é óbvia: chamar a atenção dos usuários nas redes sociais para a informação a respeito da misoginia virtual, divulgada pela revista AzMina. Os dados oferecidos sucintamente por ele demonstram o quanto os discursos misóginos estão presentes na nossa sociedade, inclusive na vida profissional, e o quanto as mulheres são os principais alvos deles. Detectamos as problemáticas de um machismo estrutural, enraizado na nossa cultura, que diminui e despreza a existência feminina. Em um ofício ainda predominante masculino, é assustador que jornalistas mulheres sejam as mais atacadas em suas redes sociais, maiormente, aquelas que trabalham em coberturas políticas Enquanto isso seus colegas homens conseguem desfrutar a plataforma digital com mais sossego. É isso que a revista eletrônica AzMina denuncia por meio deste infográfico, o machismo e a misoginia altamente propagados no ciberespaço e o incomodo coletivo por mulheres protagonizarem cargosdevisibilidadepública SegundoUcelli(2019) “Hoje,mesmocom a evolução da sociedade e muitos estigmas quebrados, tanto machismo quanto a misoginia ainda correm soltos, porém ambos são abafados, gerando uma sensação d que vivemos em mundo quase sem preconceitos. ”
Fonte: Revista eletrônica AzMina (2021)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Esta monografia teve como objetivo acadêmico compreender a importância da existência de um jornalismo independente e feminista no cenário de comunicação de massa do Brasil. Através desse estudo acompanhamos com afinco as diversas problemáticas de gênero que as mulheres enfrentam diariamente devido ao machismo estrutural, resultado do patriarcalismo, um sistema injusto e ineficiente que defende a desigualdade entre os sexos em todas as esferas sócio politica culturais. Também podemos observar a história de força, coragem e protagonismo feminino, que marcou umaverdadeirarevoluçãodedireitoscívicosparaas mulheres,antestotalmente ignorados pelo Estado. Com o surgimento do feminismo e de seu movimento social, notamos a complexidade do machismo, e reconhecemos sua face cruel cheia de nuances preconceituosos, presentes, inclusive, em nossa sociedade contemporânea. Discutir sobre o machismo estrutural e procurar resoluções eficazes para o extingui lo é legitimar uma luta centenária contra a opressão, violência, sexismo, misoginia e a distinção de gênero
Através deste trabalho vimos que a performance da mulher na imprensa brasileira foi essencial para a emancipação feminina, assim como para o fomento do movimento social feminista no país, e para as conquistas de suas reivindicações. A informação se tornou uma grande rede de apoio para educação de muitas mulheres que não sabiam identificar o seu papel como cidadã e ser humano livre, pois estavam presas aos estigmas do machismo. Um jornalismo livre e de claro posicionamento militante estimula o senso crítico da população e produz a representatividade das minorias, proporcionando um mundo mais correto e empático
A análise dos três infográficos da revista eletrônica AzMina foi uma primeira incursão de pesquisa, que deverá ser aprofundada com mais estudos futuros, talvez em uma experiência de pôs graduação, porém, conseguimos assimilar o seu trabalho minucioso, completamente comprometido com a causa feminista. AzMina procura ao máximo sintetizar as informações de suas reportagens para que todos os leitores possam absorver facilmente os seus conteúdos, e usa de infográficos como mapas visuais autoexplicativos. O caráter editorial da revista é claramente voltado a formação política e intelectual de seus leitores, principalmente sobre em relação ao feminismo.
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Por fim, considero essa monografia enriquecedora para a minha vida como mulher, cidadã e jornalista, pois pude compreender que a informação é poder, e nós como profissionais da área de comunicação social ao defendermos uma causa, seja ela sobre o feminismo, pobreza, meio ambiente, etc., através de conteúdos jornalísticos, estamos abrindo portas para muitas mudanças, iniciando pela consciência pública. Afinal, a consciência pode mudar as ações, e ações mudam o mundo.
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ANEXOS
ANEXO A REPORTAGEM DA REVISTA AZMINA: MULHERES JORNALISTAS RECEBEM MAIS QUE O DOBRO DE OFENSAS QUE COLEGAS HOMENS NO TWITTER

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ANEXO B REPORTAGEM DA REVISTA AZMINA: MULHERES INDÍGENAS E A LEI MARIA DA PENHA

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ANEXO C REPORTAGEM DA REVISTA AZMINA: VIOLÊNCIA CONTRA
MULHER: O PEDIDO DE SOCORRO VEM DO CELULAR

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