A PIECE OF BRITNEY SPEARS: a mídia, a indústria musical e o machismo
São2021Paulo
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL CURSO DE JORNALISMO
LEONARDO MOZELLI BETTANIM
CURSO DE JORNALISMO
São2021Paulo
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL
LEONARDO MOZELLI BETTANIM
A PIECE OF BRITNEY SPEARS: a mídia, a indústria musical e o machismo
Relatório de Fundamentação Teórica e Metodológica desenvolvido como etapa de elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul, sob orientação do Prof. Dr. Nivaldo Ferraz
8.76543.2.1SUMÁRIO.INTRODUÇÃO........................................................................4APRESENTAÇÃO...................................................................5OCASOBRITNEYSPEARS.................................................6.RESULTADOS.......................................................................14.CONSIDERAÇÕESFINAIS................................................15.REFERÊNCIAS.....................................................................16.APÊNDICE:ProjetoExperimental.....................................18ANEXOS.................................................................................97
1 Artigo apresentado como parte do Trabalho de Conclusão de Curso RFTM/Paper, derivado do Núcleo de Estudos em Mídia Digital.
Partindo do início da carreira da cantora, analisando as primeiras polêmicas envolvendo o seu nome na capa da revista americana US Weekly, o projeto tem como objetivo mostrar que, embora o machismo esteja enraizado na sociedade em geral, a mídia se mostrou muito preconceituosa e parcial nos momentos em que abordavam os temas delicados sobre Spears.
Leonardo Mozelli BETTANIM2 Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, SP
A Piece Of Britney Spears: a mídia, a indústria musical e o machismo 1
PALAVRAS-CHAVE: machismo; Britney Spears; US Weekly; indústria musical; mídia.
O presente trabalho tem como objetivo analisar a abordagem presente em sete capas da revista US Weekly durante a ascensão da cantora americana Britney Spears, de 2002 a 2008, com o intuito de entender o posicionamento do veículo midiático perante os problemas enfrentados pela artista durante esse período de sua carreira, desencadeando em uma tutela agressiva, que durou até o ano atual. A pesquisa tem como foco o machismo presente tanto na indústria musical como na própria mídia, deixando de lado problemas familiares enfrentados pela mesma. Metodologicamente, o estudo tem como base a teoria do agendamento e indústria cultural, chegando à conclusão que a mídia tem o poder de interferir nas ideias da população, se tornando um dos responsáveis pelo linchamento de Spears, porém não o único.
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Britney Spears é uma cantora estadunidense com fama mundial, ganhadora de diversos prêmios e um marco na música pop. Por trás de todo o glamour de uma popstar, a artista sofreu com uma tutela agressiva que durou mais de dez anos. Os motivos apresentados para tal situação foram vários, mas o início de tudo, as verdadeiras respostas a essas questões foram muitas vezes ocultadas pela mídia e pela própria indústria musical.
2 Estudante de Graduação 8º semestre do Curso de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul, e mail: leom.bettanim@yahoo.com.br.
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
Esse projeto de pesquisa tem como tema o machismo na indústria musical e na mídia, com foco na carreira da cantora estadunidense Britney Spears entre os anos de 2002 e 2008, tendo como objetivo expor esse preconceito que as mulheres sofrem, enfatizando a abordagem adotada em sete capas da revista americana US Weekly, com o intuito de concluir se a mesma foi antiética nos momentos em que noticiou os assuntos delicados envolvendo a artista pop e qual o motivo para tal abordagem.
2. APRESENTAÇÃO
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Formulada por Maxwell McCombs e Donald Shaw na década de 1970, a Teoria do Agendamento foi escolhida como base teórica dessa pesquisa, onde os teóricos afirmam que o público costuma se interessar mais por temas abordados com mais frequência nos veículos midiáticos. Também foi utilizado como base para a pesquisa a Teoria da Indústria Cultural, desenvolvida por Theodor Adorno e Max Horkheimer.
A justificativa para essa abordagem é baseada no comentário de Donald Shaw, que diz que “as pessoas têm tendência para incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo” (SHAW, E apud WOLF, 2001, p.144).
O problema de pesquisa parte do ponto que, deixando de lado os problemas pessoais com sua família, o fato de uma revista com alcance internacional optar por chamadas sensacionalistas, exposição de imagens em momentos de fragilidade e parcialidade explícita nos fatos potencializou os comentários negativos sobre Britney Spears na época.
A hipótese para justificar essas ações é o lucro gerado pelas mesmas, já que o público se interessa por assuntos negativos envolvendo celebridades, consumindo essa revista e consequentemente compartilhando as polêmicas estampadas na mesma, sem o menor interesse por pesquisar o outro lado da história. Schadenfreude, uma palavra alemã, é justamente a situação descrita anteriormente, alegria ao dano, o fato de alguém sentir prazer perante um infortuno alheio.
Com isso, a finalidade do produto é analisar sete capas da revista US Weekly e mostrar as abordagens adotadas envolvendo o nome de Britney Spears, ao longo de seis anos, para concluir se a mesma foi vítima de machismo pelo veículo de informação.
3. O CASO BRITNEY SPEARS
criadas direcionam o pensamento do leitor para uma ação de "desmanipulação" midiática, ressaltando que todos os seres possuem direitos de defesa e enfatizando que se todos possuem direitos aos olhos da constituição, esses direitos devem ser respeitados.
Durante todo o processo de criação, o posicionamento adotado foi "pró minorias". Com isso, o intuito da obra é dar visibilidade àqueles que não possuem uma voz tão grande como a televisiva, servindo assim como "resposta" para os ataques midiáticos referentes a essa população.Asnarrativas
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A Teoria do Agendamento, formulada por Maxwell McCombs e Donald Shaw na década de 1970, é a base do projeto de pesquisa, com o intuito de entender se acontece uma espécie de padronização nas pautas sobre o tema abordado e qual o motivo. A Teoria da Indústria Cultural, de Theodor Adorno e Max Horkheimer, também será utilizada, com a finalidade de estudar um possível bloqueio de autonomia causado pelas grandes mídias.
Uma pesquisa qualitativa foi usada para abordar o problema e para alcançar o objetivo uma pesquisa exploratória. Matérias jornalísticas, documentários sobre o caso, dissertações e teses foram usados como procedimentos técnicos.
No âmbito do projeto final, o produto tem como premissa mostrar outro ângulo da população pobre, periférica e carcerária, onde sejam considerados a importância da mídia e seu papel na resolução de um problema estrutural: a segregação. A partir disso, a principal meta do produto final é instigar a reflexão sobre como é importante a forma em que a mídia retrata os assuntos das minorias, já que sua visão em muitos casos é pejorativa.
Britney Spears, desde muito nova, esteve na mira dos holofotes da fama. Sua carreira começou no programa infantil O Club do Mickey, em dezembro de 1992. Em janeiro de 1999, a cantora lançou seu primeiro trabalho musical, o álbum ...Baby One More Time. Já nessa época, a mídia produzia pautas polêmicas sobre a cantora, como sua declaração de que permaneceria virgem até seu casamento ou a capa da revista Rolling Stone, onde foi criticada pela American Family Association, que afirmavam que a foto era “uma mistura perturbadora de inocência infantil e sexualidade adulta”.
Fonte: usmagazine.com
Em 2002, os artistas anunciaram o término do relacionamento. O motivo segue incerto até os dias atuais, porém, em novembro daquele ano, o cantor lançou uma música sobre traição, Cry Me A River, usando uma sósia de Spears no videoclipe, o que fez a mídia reproduzir o boato como um fato. Jornais e revistas compraram a ideia e Britney foi vista como a errada da história por todos.
Durante o mesmo período, a artista começou seu namoro com o cantor Justin Timberlake, se tornando um dos assuntos mais comentados nos tabloides mundiais. Segundo o Aventuras na História, “admiradores e paparazzi buscavam a todo custo uma fotografia ou relato do casal, que estava no auge de suas carreiras musicais”.
Figura 1
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Na edição de 02 de setembro de 2002 da revista americana US Weekly, a suposta traição da cantora era o tema central. Eles optaram por colocar apenas uma foto sua, ao lado de uma chamada que dizia, “ela o traiu?”, completada por uma suposta declaração de amigos próximos ao casal, que confirmavam o boato: “amigos agora alegam que a traição e o ciúme separaram o casal dos sonhos e levaram à "pausa" da carreira de Britney”.
Com a escolha de imagem e de chamada, sem ouvir os envolvidos no caso e tirando conclusões baseado em terceiros, a revista pode induzir o leitor a receber essa informação como verdadeira. “A informação fornecida pelos veículos noticiosos joga um papel central na constituição de nossas imagens de realidade”. (MCCOMBS, 2004, p.24)

Na edição de 23 de dezembro de 2002, como na analisada anteriormente, o foco dessa capa é o término do relacionamento entre Britney Spears e Justin Timberlake, comparando a situação a uma guerra. Em um tom mais forte de amarelo, o título afirma que “a guerra começou”, dando a entender que a separação dos artistas não aconteceu de forma amigável.

Em 2003, Fred Durst, vocalista do grupo Limp Bizkit, revelou aos fãs, por meio da internet, que estava se relacionando com a cantora, enquanto trabalhavam juntos. Spears sempre negou qualquer envolvimento com Durst, mas o assunto foi pauta em diversos meios de comunicação.
Fonte: usmagazine.com
“A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente” (ADORNO, 1996, p. 8). Baseado nessa ideia chega se a conclusão que, colocando Spears como a errada na Figura 1 e declarando guerra entre o ex casal na Figura 2, a sociedade pode absorver a ideia de que a cantora realmente traiu Timberlake, embora a revista não tenha exposto seu lado da história ainda.
Diferente da capa de 02 de setembro, agora a imagem do cantor aparece ao lado da cantora, junto de uma expressão que simboliza a rivalidade entre ambos: “Britney vs. Justin”.
8 Figura 2
As pessoas têm tendência para incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo. Além disso, o público tende a atribuir àquilo que esse conteúdo inclui uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos mass media aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas. (SHAW, E apud WOLF, 2001, p.144).
Fonte: usmagazine.com
9 Figura 3
Acima do título, é possível notar a expressão “sexo diz tudo”, entre uma imagem dos artistas. Abaixo, em um destaque azul, o veículo chama a atenção do leitor com a informação de que Fred revelou todos os detalhes do seu envolvimento amoroso com Spears. No lugar de dar voz à artista, a US Weekly optou por declarações de seus amigos, negando qualquer envolvimento de Britney com o roqueiro. A publicação ainda termina com um questionamento, “qual a verdade?”, fazendo o leitor escolher um lado nessa história.
Na edição de 17 de março de 2003, o caso envolvendo o vocalista e a cantora foi capa da revista US Weekly. Novamente, a ideia de rivalidade com outro homem foi colocada em destaque. Além do título “Britney vs. A Fera”, escrito em amarelo ao centro da capa, a revista optou por trazer informações sobre a vida sexual de Spears, baseado apenas no discurso de Durst.

Fonte: usmagazine.com
Durante esse período, Spears e a socialite Paris Hilton foram vistas diversas vezes saindo juntas para festas e baladas. Na edição de 18 de dezembro de 2006, a US Weekly trouxe um dos flagras da cantora saindo de uma festa com a chamada: “Salvando Britney”, em caixa alta.

Figura 4
Abaixo do título chamativo, a revista publicou a palavra “intervenção”, em caixa alta também, seguido de exclamação. No decorrer da chamada, uma citação indireta dos pais da cantora sobre a amizade, afirmando que a mesma estaria arriscando sua carreira e a custódia dos filhos. Na última linha, em amarelo, destacando entre as demais informações da capa, a US Weekly promete revelar os “segredos por trás dessas fotos escandalosas”.
O mass media, no caso a revista em estudo, exclui a declaração de Britney Spears sobre a acusação, usando seus amigos como defensores da sua verdade. Isso pode fazer, automaticamente, o leitor absorver a opinião de Durst como verdadeira, sem a menor apuração.Em
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julho de 2004, a artista ficou noiva do dançarino Kevin Federline e em 6 de outubro se casaram. Em 14 de setembro de 2005, nasceu o primeiro filho do casal, Sean Federline. Pouco menos de um ano depois, Britney deu à luz Jayden James Federline, segundo filho do casal. Em novembro, o casal anunciou a separação, alegando diferenças irreconciliáveis.
Figura 5
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Em janeiro de 2007, Sandra Bridges Covington, tia da qual a cantora era muito próxima, faleceu em decorrência de um câncer no ovário. Um mês depois, a artista foi levada a um centro de reabilitação para dependentes químicos, onde permaneceu por menos de vinte e quatro horas. Na noite seguinte, Spears foi flagrada em um cabeleireiro em Los Angeles, raspando sua cabeça e agredindo um paparazzi que estava no local.
Na edição de 05 de março de 2007, a polêmica foto de Britney Spears raspando a cabeça foi escolhida como capa, juntamente da chamada em amarelo, em destaque: “Me Ajude”. A capa ainda afirmava que a artista estaria usando drogas, que seus pais estavam desesperados e não conseguiam “chegar até ela”. Segundo insiders e ex funcionários, de acordo com a revista, Spears estaria solitária e com ódio de si mesma.

“Enquanto muitos temas competem pela atenção do público, somente alguns são bem sucedidos em conquistá los, e os veículos noticiosos exercem influência significativa sobre nossas percepções sobre quais os assuntos mais importantes.” (MCCOMBS, 2004, p.19).
Com base na citação do teórico e analisando a linha temporal da carreira de Britney Spears, é claro o fato do nome da cantora chamar a atenção do público para a capa de uma revista e consequentemente gerar lucro para a mesma. Após analisar quatro capas, percebe se que temas sobre a vida pessoal da popstar rendem bons retornos para a US Weekly
Fonte: usmagazine.com
12 Figura 6
Britney Spears já havia sido internada em centros de reabilitação e sua situação envolvendo drogas já era pauta nos tabloides mundiais há tempos. Por que sua vida pessoal e, principalmente, assuntos negativos são abordados com mais frequência do que sua carreira profissional?Otermo em alemão schadenfreude diz que as pessoas sentem prazer em ver a adversidade alheia. No caso das capas, esse termo pode justificar a quantidade de escolhas de pautas sobre as polêmicas envolvendo a cantora, como no caso das figuras 5 e 6. O leitor se interessa por esses assuntos, nota se que a vida de uma celebridade não é só glamour, e a revista lucra em cima dessa alta procura por assuntos negativos.
Fonte: usmagazine.com
Semanas após a polêmica, na edição de 26 de março de 2007, a revista US Weekly decidiu trazer uma pauta sobre o uso de drogas entre os artistas e escolheu Paris Hilton, Britney Spears e Lindsay Lohan como capas dessa matéria. O título em amarelo, a cima da imagem das artistas, dizia: “Problemas com drogas de Hollywood”.
Para chamar ainda mais a atenção do leitor, eles optaram por fazerem um questionamento: “Quem está usando?”. Como complemento, a capa ainda afirmava que não era apenas quem o público estava pensando, usando a expressão: “Por dentro do mundo escuro, destruindo a vida das principais estrelas de hoje”.

Novamente, o lado de Britney Spears não foi ouvido e pessoas ditas como próximas da mesma, que compartilharam informações pessoais, foram usadas como fontes 100% seguras sobre oAcaso.essa
Três tópicos sobre as polêmicas da artista foram colocados na capa. O primeiro foi descrito como “o terror de Jayden”, filho da cantora, sendo complementado pela “a ligação desesperada de Kavin à Lynne, dentro do banheiro trancado”. O segundo tópico fala sobre um caso amoroso com um paparazzi casado e o terceiro é uma citação direta de uma tia de Spears, afirmando que a artista precisava ficar sob observação, “em alerta de suicídio”.
13 Figura 7
Fonte: usmagazine.com
altura, a reputação de Britney Spears já estava negativa, diversas capas de revistas, como no caso da US Weekly, estavam estampando seus escândalos e a sociedade comprou a ideia de que a cantora teria enlouquecido do nada e não estaria em sã consciência, colocando a vida de outras pessoas em risco.
Ou seja, segundo (HOHLFELDT, 1997) a mídia tem o poder de influenciar o que pensamos em determinados assuntos, fazendo com que o público determine quais assuntos
Pouco menos de um ano depois, a vida pessoal e saúde mental de Britney Spears voltaram a ser matéria de capa da revista US Weekly. Na edição de 21 de janeiro de 2008, o veículo trouxe uma imagem da cantora dirigindo, que não a favorecia em nada, junto do título “Bomba Relógio”.

Usando como base a publicação de MCCOMBS e SHAW (1972) sobre as eleições presidenciais nos Estados Unidos da América, onde os mesmos afirmam que os temas listados pela população entrevistada eram os mesmos que estavam em alta cobertura nos jornais locais, chega se a conclusão que o nome de Britney Spears e sua reputação negativa perante a sociedade estava em alta por conta da grande quantidade de matérias sobre a mesma nos veículos midiáticos da época, como no caso da revista americana US Weekly.
4. RESULTADOS
O poder hierarquizado presente na indústria cultural, permite a concentração e o monopólio informacional por parte da grande mídia que, utiliza das técnicas de propaganda e publicidade para agregar o maior público possível, objetivando assim, máxima obtenção de lucro ou de poder ideológico, dependendo de seu objetivo em questão (MARANGON, MACIEL and SANTOS, apud, MORIN,1968).
Independente do conteúdo algumas pautas levam em consideração o alcance comercial nas grandes massas e não sua importância para a sociedade.
Embora não seja conclusiva a evidência de que os mass media alterem profundamente as atitudes em uma campanha, é muito mais forte a evidência de que os eleitores aprendem pela imensa quantidade de informação disponível durante cada campanha. (MCCOMBS; SHAW, 1972, p. 2)
Baseado na ideia de SHAW, “as pessoas tem tendência para incluir ou excluir de seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo” (SHAW, apud Wolf, 2001, p. 144), com isso, por conta da insistência da revista US Weekly em publicar capas negativas sobre a vida pessoal de Britney Spears a sociedade pode ter uma imagem negativa da mesma involuntariamente.
14 são de maior relevância, reafirmando o que foi analisado por Maxwell McCombs e Donald Shaw.
Através desse estudo foi possível compreender o papel da mídia na sociedade e sua influência nas pessoas que a consomem, tendo a capacidade de pautar o que será assunto nas grandes massas, e baseado na ideia de FIANCO (2010), a indústria cultural se baseia a partir do princípio do que tem grande alcance comercial.
Após analisar e compreender a Teoria do Agendamento, de Donald Shaw e Maxwell Maccombs, foi possível confirmar que edições em que traziam o nome de Britney Spears seguido de algum escândalo negativo para a mesma chamava muito a atenção do leitor e o fazia comprar a ideia como verdadeira, sem a menor apuração.
MCCOMBS (2004) também explica que o público consumidor não é um mecanismo operado automaticamente esperando ser programado pela mídia, alguns assuntos repercutem de uma forma na sociedade e outros não conseguem o mesmo efeito.
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Embora seja clara a influencia do veículo midiático sob a população, a revista não é a única culpada no caso da artista. MCCOMBS (2004, p. 35) afirma que os mass media “não são ditadores todo poderoso da opinião” podendo ocorrer um agendamento reverso, onde o público decide a agenda da mídia. Sabendo que a sociedade é machista involuntariamente, uma mulher segura e sensual como Britney Spears pode ter sido alvo de grupos conservadores que criticavam sua postura, disseminando informações negativas sobre a mesma e “compradas” pela mídia.
Com isso, chega se a conclusão que, a revista US Weekly teve sua parcela de culpa no caso, baseado nas manchetes adotadas durante os anos, porém, o público também se interessava pela desgraça alheia, sendo descrito como schadenfreude, e vindo de uma sociedade onde o machismo está enraizado é muito mais comum mulheres sofrerem esse tipo de preconceito e ser visto como normal por todos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Se os efeitos tradicionais da agenda setting mostram a influência da mídia em nos dizer ‘sobre o que pensar’, os efeitos da agenda setting de atributos mostram a influência da mídia em nos dizer ‘como pensar sobre um objeto’” (KIM; MCCOMBS, 2007, p. 300), podendo se confirmar que a revista US Weekly influenciou o leitor a acreditar que Britney Spears era a errada em todas as declarações dadas por homens grandes da indústria musical.
O presente estudo chegou à resposta para seu problema de pesquisa, confirmando que a revista US Weekly teve parcela de culpa no caso da cantora estadunidense Britney Spears, porém não foi o único responsável, sendo o público consumidor um dos maiores culpados por isso, já que era o mesmo que financiava essas pautas comprando as revistas.
L, Leandro. Se ‘sangue’ vende jornais, ‘sangrar’ vende muito mais. Observatório da Imprensa, 2015. Disponível em: jun.desfeitas/_ed839_se_sangue_vende_jornais_sangrar_vende_muito_mais/<http://www.observatoriodaimprensa.com.br/feitos>.Acessoem:02dede2021.
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FRAMING Britney Spears. Direção: Samantha Stark. Estados Unidos: The New York Times Company, 2021.
julgamento, estrada e mais: artistas mulheres relatam as dificuldades enfrentadas na música. Tenho mais discos que amigos, 2021. Disponível em <https://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2021/03/31/mulheres musica machismo julgamento> Acesso em: 04 de jun. de 2021.
6. REFERÊNCIAS
Analisando a bibliografia utilizada, principalmente os documentários disponibilizados na internet, também foi possível concluir que a artista foi vítima de machismo dentro da indústria musical, com a mídia compactuando junto da população em geral.
FIANCO, Francisco. Adorno: Ideologia, cultura de massa e crise da subjetividade.Revista Estudos Filosóficos. n.4, p. 138. 2010. Disponível em:<http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/estudosfilosoficos/article/view/2356> Acesso em: 27 out. MACHISMO,2021.
BRUM, Juliana de. A hipótese do Agenda Setting: estudo e perspectivas. Razón y Palabra, 2003. Disponível em: <http://www.razonypalabra.org.mx/anteriores/n35/jbrum.html>. Acesso em: 04 de jun. de 2021.
LINCOLINS, Thiago. Paraíso perdido: há 14 anos, o ‘colapso’ de Britney Spears se tornava um dos casos mais insanos da história. Aventuras na História, 2021. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia o que foi o colapso de britney spears.phtml>. Acesso em: 31 de maio de 2021.
Embora se tenha chegado a uma conclusão sobre o problema apresentado, uma sugestão para próximas pesquisas ou possíveis desdobramentos desse mesmo estudo seria analisar mais profundamente, investigando também a família de Britney Spears, e trazendo esse estudo até o ano de 2021, onde o desenrolar da tutela vem acontecendo mensalmente, para chegar a uma conclusão ainda mais precisa sobre o tema.
OLIVEIRA, Marco. Indústria Cultural. Mundo Educação. Disponível em <https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/industria cultural.htm>. Acesso em: 02 de jun. de MARSHAL2021
HOHLFELDT, Antonio. Os estudos sobre a hipótese de agendamento. Revista FAMECOS, Porto Alegre, n.7, p. 42, nov. 1997.
Fred Durst, do Limp Bizkit, insiste que já namorou Britney Spears. Vírgula, 2009. Disponível em:<https://www.virgula.com.br/home/legado/fred durst do limp bizkit insiste que ja namorou britney spears/> Acesso em: 03 set. 2021
MACIEL, Mateus. 'Schadenfreude': entenda a palavra que denota a torcida contra Alemanha. O Globo, 2018. Disponível em:<https://oglobo.globo.com/esportes/schadenfreude entenda palavra que denota torcida contra alemanha 22832432>. Acesso em: 15 set. 2021
BROWN, Elias. A Teoria do Agendamento ou Agenda Setting. Casa das Focas, 2014. Disponível em: < http://www.casadosfocas.com.br/a teoria do agendamento ou agenda setting/>. Acesso em: 31 de maio de 2021.
BRITNEY X Spears. Direção: Erin Lee Carr. Estados Unidos: Netflix, 2021
CASTRO, Davi de. Agenda setting: hipótese ou teoria? Análise da trajetória do modelo de gendamento ancorada nos conceitos de Imre Lakatos. 2014. Dissertação Programa de Pós Graduação em Comunicação. Universidade de Brasília, DF, 2014.
US Weekly Staff. Britney Spears’ Us Weekly Covers Through the Years. US Weekly, 2019. Disponível em:<https://www.usmagazine.com/celebrity news/pictures/britney spears us weekly covers through the years 20142111/42526 2/> Acesso em: 16 mar. 2021
SOUSA, Alana. O tumultuado relacionamento de Britney Spears e Justin Timberlake. Aventuras na História, 2021. Disponível em:<https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/o tumultuado relacionamento de britney spears e justin timberlake.phtml>. Acesso em: 02 set. 2021
US Weekly Staff. ‘#TBT With Us’ Podcast: Inside Britney Spears and Kevin Federline’s Roller Coaster Relationship. US Weekly, 2018. Disponível em:<https://www.usmagazine.com/entertainment/news/tbt with us podcast britney spears kevin federlines relationship/> Acesso em: 16 mar. 2021
WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. 61. ed. Lisboa: Editorial Presença, 1987.
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7. APÊNDICE
1. Título do produto Revista Vozes.
2. Ficha Técnica do Produto: Revista Digital Vozes, edição única e linha editorial pró minorias.
3. Plano DescriçãoEstratégicodoProduto: Revista digital com edição única. Recursos de edição utilizados através do site Canva e recursos gráficos: gráficos em barras e infográficos.
Estratégias para definição de layout: No site do Canva, a revista foi diagramada em preto e branco. Essa estética vem da expressão “por o preto no branco”, insinuando matérias objetivas e claras
A criação do Logo da revista (linha em preto), foi desenvolvida a partir da ideia “uma linha tênue entre a diversidade e a esperança”, traçando uma ligação entre todas as matérias e pontos. Com intuito de chocar o público, relatos em formas de frases pairam a cada página lida. Edição única.
Público a ser atingido: Além das próprias minorias silenciadas, a Revista Vozes busca atingir os cidadãos que acreditam na meritocracia e desconhecem a luta diária das minorias para a sobrevivência.
Função Individual: Pesquisador, redator, repórter, editor e pauteiro.
Técnicas utilizadas a fim de se atingir os objetivos pretendidos: Compartilhamento nas redes sociais.
Cronograma:
Como inspiração de Layout, a Revista Preto no Branco, 1ª Edição Maio de 2010, Os Dois Lados do Medo, foi escolhida.
Fase do estudo JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Escolha do PautasProjetoEntregaLeituraJustificativaPesquisaDelimitaçãotema+Objetivobibliográfica+dereferênciasprimeiraparteeFontes
Transporte Coletivo 10 R$ 4,40 44,20R$ Passagem 2 8R$0,00 16R$0,00 Total R$204,20
Realização de entrevistas + pré Apuraçãoroteirode informações
Orçamento:
Item Quantidade Valor unitário Valor Total
7.1
Documentação: Gráficos
Redação da revista Revisão + Edição da Diagramaçãorevista da revista Conclusão da revista + Banca
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Gráfico 1

Resultados obtidos através de formulário distribuído através do Google forms
Gráfico 2
Fernanda

Gráfico 3 Joyce:

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Gráfico 1
Resultados obtidos através de formulário distribuído através do Google forms


Imagens Leonardo:
Imagem
Imagem 3 Fonte: usmagazine.com Imagem 4 Fonte: usmagazine.com 5 Fonte: usmagazine.com Imagem 6 Fonte: usmagazine.com
Imagem 1 Fonte: usmagazine.com Imagem 2 Fonte: usmagazine.com





22 Gráfico 2

Eu sou Marcello Gugu, eu sou MC, arte educador e curioso [risos], eu não sei me apresentar direito. Eu trabalho com... Pô, faço parte do Hip Hop desde molequinho assim, devia ter uns quinze anos, eu acho. Quinze anos... olha, eu to com vinte... quinze anos? Eu estou com trinta e cinco, quinze anos, nossa... faz uns vinte aí, mais ou menos, nossa, vinte anos isso aí. Faz uns vinte anos que eu estou no Hip Hop, fazendo mesmo um pouco menos, mas sou MC, acho que MC engloba muita coisa. Comunicador, uma pessoa que gosta de falar.
Como funcionou a entrada na Fundação Casa e o Infinity Class?
Quem é Marcello Gugu para as pessoas que ainda não te conhecem e para o público alvo da nossa revista?
[ENTREVISTA EDITADA]
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Imagem 7 Fonte: usmagazine.com

Transcrições de entrevistas
Entrevista: Guerreiros Andam Só Fernanda Souza
Onde eu trabalhei, no Brás, eu fiz muita Fundação Casa. Fiz no Itaquera, em um monte de lugar, fiz na praia, mas no Brás mesmo, onde eu estava... são dez complexos, são dez casas dentro do Brás, e elas são o que a gente chama de IUP, que é Unidade de... como é que é? UIP... de transição, então, o moleque acaba de ser preso, ele vai pra UIP, ela não é de internação, esqueci o que significa a sigla... Unidade de Internação Provisória, olha... UIP, caralho. Falei palavrão, pode falar palavrão?
O bagulho é muito ruim, a Fundação Casa é... problemática, porque você tem uma estrutura que não funciona, na verdade. É como se fosse uma caixa, você tira o menor da rua, por um tempo e põe de volta, você não tem um trabalho, um pós, você não tem uma... você tem só... não tem uma correção, não tem um trabalho, você tem ali mais ou menos um paliativo e é muita gente girando.
Fernanda: Pode.
Marcello: Falo UIP, Unidade de Internação Provisória, porra, UIP. E aí depois você vai ter o julgamento, tal, e depois tem a sentença. Às vezes sai fora, às vezes volta para casa, às vezes fica quarenta dias lá e volta, às vezes vai pagar serviço comunitário, às vezes cesta
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Marcello: Eu fui por coordenadores pedagógicos. Se eu dependesse da Fundação, da própria Instituição, era para as coisas estarem paradas até hoje lá Ah, é Estado né, Estado... Estado... O Estado é isso aí. Então, eu acabei entrando na Fundação Casa por convite de coordenadores pedagógicos das próprias Casas, porque se eu dependesse da instituição própria... Ou você entra com uma ONG, que é reestruturação educativa, e aí aquilo, ou você acaba representando a ONG e você meio que vai ter que fazer o que está dentro dos padrões do que aquela ONG. E eu nunca estive vinculado a nada, então eu pude sempre fazer as coisas da minha forma, do jeito que eu queria fazer, como eu queria fazer. Então, tipo assim, se eu quisesse tocar Racionais dentro da Fundação Casa eu tocava, eu tocava proibidão, eu tocava um monte de bagulho lá dentro.
E aí você contextualizando, tem toda uma metodologia para eu poder chegar onde eu queria chegar, na troca de ideia ali, mas se eu chegasse para a Fundação Casa dizendo que eu ia tocar na Faixa de Gazza, do Mc Orelha, os cara ia falar “Cê ta louco? Não, cê é louco? Não, dá não” . Tipo assim, eu nunca dependi do aval de ninguém, mas se dependesse da própria Fundação, eu não entrava até hoje.
Fernanda: O Mauricio (outra fonte) fundou uma ONG depois que ele saiu do Carandiru. Ele mesmo estava falando pra gente que, quando o pessoal entra no presídio, mesmo que seja um batedor de carteira na rua, ele sai especialista para outros crimes, né?
25 básica e às vezes internação, e a internação pode durar até três anos. Então, se ele for preso com dezoito, ele vai sair com vinte e um, é, sai com vinte um. E aí se ele comete um ato infracional lá dentro, ele automaticamente é transferido para uma penitenciária.
O que eu acho que é genérico assim, não há um trabalho de reinserção pra pessoas que foram presas, isso mercadologicamente, socialmente falando, não existe, eu acho, eu não posso falar também tipo, num lugar de fala porque eu nunca fui preso, então eu não sei o que é, mas eu vejo por pessoas próximas que eu conheço que vão galgando algumas... às vezes empresas, o cara é barrado. Eu treinava com um cara que foi preso e falava “mano, eu estava aos quarenta e cinco para ser contratado, quando os cara pediu minha ficha criminal, fodeu, fecharam minha capivara”, o cara era assaltante, sei lá que porra que o cara era e puta que pariu, já era, não contrataram. E aí, pô, esse cara em específico virou barbeiro, fez um curso, pa, e é sempre uma parada que eu falo pros moleques da Fundação Casa assim, “se quiser ganhar dinheiro rápido, para você ter dinheiro na mão”, porque muito dos moleques, pelo menos meus alunos ali que é isso, “eu tenho dinheiro na mão, preciso de dinheiro, dinheiro na mão”, na hora ali, barbeiro, tipo mecânico, alguma coisa que os moleques gostam muito, de moto, nas conversas lá eu sempre tento jogar pra isso, pra áreas de interesse em comum. Então moto, barbearia, esse tipo de... esses dias eu falei para os moleques, a gente tava conversando eu falei, “Mano, vocês podem pensar em juntar aí e fazer um lound de funk lá, dos narguiles, que cês gostam dessas porra aí” e são sempre dessas ideias assim, mas é difícil, a sociedade não ta nem preparada pra essa conversa, ainda mais num governo atual que o lema é “bandido bom é bandido morto”. Isso é foda, então tipo assim, como que eu vou abrir um diálogo, é... de,
Marcello: Ah, é. Porque você... porque tipo assim, acho que depende muito de como isso vai ser tratado, porque eu conheço muita gente que foi presa e lá dentro voltou a estudar, arranjou um trampo porque não queria se envolver, e aí tipo, ficou num raio separado, então tipo assim, fazia bola de capotão , fazia gol, mas eu também conheço muita gente que entrou de um jeito e saiu de outro, assim, eu acho que vai muito do... Então, é difícil de falar assim, porque cada um é um universo ali, né, assim, às vezes o cara vai entrar e ele chuta o balde, às vezes o cara vai entrar e falar “Não, nunca mais eu quero esse bagulho pra mim”, então é difícil de pontuar assim.
Fernanda: Reincidência.
26 porra, “prisão”, num governo que a vontade era trancar todo mundo lá dentro e jogar veneno, saca? Tipo, mano, se o Ministro daquela vez fez uma propaganda que tinha um cunho nazista, lembra dessa fita aí? Irmão, para uma câmara de gás é um dois, um Heil Heinrich Himmler para aparecer é só dar aval para o cara falar assim “Mano, vai lá, põe o gás, porque... Agora, talvez em um governo mais progressista nesse sentido, acho que deveria haver abertura de diálogo porque você não tem. Eu vejo muito pela Fundação Casa. O índice de... de... reincer...
Marcello: Reincidência. O índice de reincidência é muito alto. Eu, eu, eu vi isso, estou lá há seis anos, eu vi um moleque crescer preso. Você vê um moleque pequeninho lá, catorze, treze, catorze anos. Você vê o moleque lá, fazendo trampo, fazendo trampo, eu ia duas vezes por mês, de quinze em quinze dias porque eles dividiam minha sala. E nesse um ano, às vezes eu ia em outras Fundações, então, eu ia internação em Itaquera, Internação Raposo Tavares. Você ia trombando os moleques que estavam no Brás, e aí você ia trombando: virou pai, casou, descasou, saca? Um Universo que cresceu preso, mano. E aí é foda que às vezes você vai trocar uma ideia e aí “Meu tio ta preso, meu pai ta... não tenho pai, meu tio ta preso, a mãe segura a barra geralmente, mas o outro tio ta preso, tenho dois irmãos que já foram presos” . Então, tipo assim, é um ambiente...
Fernanda: Propício.
Marcello: É, cara. É foda porque você fala assim... a maioria dos menores infratores que eu trabalhei era crime tipo assalto assim, poucos eram crimes hediondos. Eu trabalhei com alguns menores que... a porcentagem é muito pequena, em comparação com a população assim, é muito pequena. E aí você vê que é muito isso, é dinheiro, é o querer ter. E aí é muito foda porque isso já amarra num outro bagulho que é um consumo, é a venda, é a venda do ter, você é aquilo que você tem, não aquilo que você é, então fodase, eu sou se eu tiver. Aí você inverte essa chavinha aí: então eu sou se eu tiver a moto, se eu tiver o tênis, se eu tiver o carro, se eu tiver... se eu não tiver... se eu tiver um curso, eu não sou esse curso, fodase, não dá pra eu ostentar um diploma na rua , mas seu passar com uma moto de setecentas e cinquenta cilindradas a rua toda vai ouvir. Nem a Harley Davidson, nós gostamos de Bandit, nós gostamos das que correm, né? Então, se eu passar com uma dessa aqui, vou fazer um bololo que todo mundo ouve. Quanto você tem no pé? “Ai, eu tenho um tênis aqui que foi cento e vinte, que valeu um pau e meio. Ah, esse Prada aqui vale oito mil reais, essa Lacoste
Na real esse meu trampo ele começou... foi muito difícil chegar lá porque tudo que concerne ao Estado é foda. Escola Estadual é um caralho, escola Municipal é uma bosta, puta, de entrar assim pra fazer uma coisa diferente pft... você tem que bater na porta do diabo, porque... é assim, é uma programação, eu vejo muito dessa forma e eu testei isso, então é uma programação assim.
Eu comecei esse trampo na Fundação Casa porque eu tenho uma palestra chamada Infinity Class, que é uma aula estilo Hip Hop, aí, aí é uma aula de história mesmo, uma aula, aí pra explicar da onde veio a manifestação artística de cada elemento eu busquei o recorte racial, o recorte político, o recorte... a porra toda, então eu chego quando Colombo descobre a América. Nessa onda, a gente já tesoura a ideia de... de... de descoberta, né. Tipo, ele encontra a América, aí a gente substitui a palavra “encontrar” por “genocídio”, por “massacre”, por “exploração”, por “apropriação”, porque, foi o que os cara fez aqui. E aí, meu maior B.O foi isso, assim, eu fui convidado por um professor, o professor Fabio Abdul, do Miguel de Cervantes, ele queria fazer uma aula, do projeto, é... não é paralelo, é... extra curricular, que a molecada tem no Miguel de Cervantes, Miguel de Cervantes é um dos colégios mais caros de São Paulo, acho que a mensalidade começa em três e meio, quatro, e aí tipo assim, você tem as aulas em período integral e pós aula normal você tem atividades extra curriculares. Então, as meninas tem um grupo de feminismo, tem fotografia, tem balé, judô, jiu jítsu, cê tem um currículo de extracurricular que tipo assim, se você fizer todos, você sai um super humano, você entra na escola sete da manhã e sai sete da noite.
27 aqui”, aí é foda, porque isso aí é um caminho inverso, isso aí traz um orgulho e aí você não tira isso. É foda, é Universo que você fala “mano, como que cê desmonta uma estrutura dessa?” Aí se tem um País racista, fadado a morrer preto e pobre, assim, programado a morrer preto e pobre, qual que é o destino desse moleque? Viver dez anos de rei ou trinta como um Zé? Fodase, fodase, fodase, fodase, vish, tem uma caralhada de moleque de se estrepar assim numa dessas, “ah, me fudi, não tenho uma perna e um braço agora, mas eu bati num Golf GTI 2020”, o bagulho é foda, é difícil, é difícil.
Aí ele me pediu para fazer essa palestra e eu falei “pô, eu faço, tranquilo” e aí eu pensei, a primeira coisa que provavelmente eles esperam é que apareça um cara que eles consideram do Rap, do Hip Hop, o estereótipo, vou com a roupa larga e vou gritar “Yeah, wow! E digam Hey!” eles esperavam isso, é lógico, falei, não mano, eu não vou, não vou dar isso que eles quer, vai ser uma aula, então eu vou por uma calça jeans, uma camisa social e eu
28 vou dar uma porra de aula lá. E aí eu montei essa palestra, só que eu falei pro professor, uns dias antes eu falei, “cara, não da, não posso chegar lá e falar “os espanhóis foram heróis, a civilização... pô, a palavra “primitiva” me incomoda pra um caralho, porque tipo, toda civilização que não é Europeia é primitiva? Pô, os caras não gostavam de tomar banho lá, mano. Pega a história aí, cê vai ver, mano, os cara era porco lá, mano. A galera que era indígena aqui: suave, numa vida... pô, os cara lá nem tomava banho, ó a peste lá, peste bubônica lá, porra, se espalhou por quê? Pela falta de saneamento básico, ta ligado? Porque chegou aqui teve? Teve, mas num rolou do jeito que rolou lá. Beleza, falei pros caras, “não da pra chegar e falar que os cara é herói, mano”. Então assim, não vou poder falar que Colombo descobriu porra nenhuma, saca? Eu vou ter que... é história Americana? Então história Americana, os cara chegou lá e massacrou tudo que foi índio, arrebentou o bagulho todo. “Então beleza, vamos dar essa aula aí” vamo, tá Cheguei, tinha a diretoria, mano, tinha uma pá de gente lá, falei “ah, é primeira e última, ta ligado”, pensei comigo. Então vou fazer bem feito: vou chutar o balde e seu voltar aqui, voltei. E aí, tipo assim, é uma aula de história, como o professor falou no dia, eu não vivi vários recortes daquele, mas você também não viveu o holocausto, mas se chegar no professor de história “ó, cê vai ter que dar uma olha soube o holocausto”, o cara vai ler e falar, aconteceu isso, isso e isso. Então falei “ó, aconteceu isso, isso e isso, só que aí, eu acredito muito, muito que em alguns lugares, funcionam muito o tratamento de choque, então, vou mostrar umas coisas que vocês nunca viram”, falaram “ah, pô, que não sei o que”, falei “ó, essa aqui é a Ku Klux Klan e eles faziam isso, isso, isso, foto, isso, isso, isso, o Hip Hop existe por conta desse recorte racial”. Todo mundo em choque, eu falei, já era, fudeu, não volto mais. Eu fiz seis anos desse trampo.
Da primeira vez que eu fui, a molecada ficou em choque, da última vez que eu fui tinha grupo de rap lá dentro já. A gente começa a perceber que o rap chegou em lugares que nunca chegaria em muito pouco tempo. E é uma galera muito rica lá, então tipo assim, 99,99% da escola é branca. E aí a Fundação Casa é ao contrário, então cê tem um Brasil dividido financeiramente, racialmente, cê tem um abismo aqui. E aí eu falei, mano, na real a ideia é qual? Cheguei no Miguel de Cervantes aqui, foi legal pra caramba, mas eu preciso fazer esse caminho inverso assim. Eu preciso voltar pra base, a base é o que precisa disso aqui, né? Tipo, essa troca, esse trabalho. E aí eu comecei voltando, então eu peguei umas outras escolas particulares e comecei a tentar no estado, e aí tentei, tentei, demorou pra caramba.
Através de um grafiteiro, Dinas, ele conversando comigo, ele falou “pô, eu conheço um coordenador pedagógico de umas das Casas da Fundação, da Topázio. O Anderson, você quer ir lá?”, eu falei, porra, demorou! Aí numa dessas, eu trabalhei dentro da Fundação Casa. E aí lógico,conforme você vai pra alguns lugares, você vai você vai redesenhando essas aulas, esses projetos, por conta de fato você começar a entender pra quem que você está falando, eu não posso chegar na Fundação casa e pô, vomitar um monte de conteúdo: pô, essa aqui é a Angela Davis, esse aqui, pô, é o Racionais, esse aqui é fulano, ciclano, em mil oitocentos e dezenove, mil e novecentos... porque mano, o moleque não tem nem estrutura pra assimilar isso, o dado, ao contexto que ele viveu, ao que ele estudou, ao que tipo... Então eu pensei, pô, eu preciso mudar isso aqui, mas ter o mesmo efeito, então a gente faz a mesma troca de ideia, só que com música, só usando música, só usando som. E aí a gente chega em resultados muito parecidos e tal.
Eu comecei a usar da música como uma ferramenta para uma troca de ideias sobre o momento que eles estavam vivendo ali e sobre o que eles queriam dali pra frente. E a ideia não é salvar alguém, é muito mais, propor um momento mais lúdico ali, porque não tem. Porque dentro da UIP, pelo menos do Brás, o regime é muito de opressão. Eu uma vez, conversando com um dos coordenadores, ele falou “cara, a gente não gosta”, pelo menos dessa casa, “a gente não gosta desse tipo de regime, mas é um regime pra ver se choca o moleque, pra que ele não queira voltar pra lá” falei “É... funciona? ‘não’, então tem algo
[burocracia] Como sempre, eu ganhei um ProAC. Tipo, ProAC, que é um bagui que é um incentivo do governo , você ganha uma grana pra fazer um projeto, comprei uma pa de equipamento e era só a escola assinar e dar um dia pra ir fazer, e aí sempre a justificativa era “mas isso ta na grade curricular? Isso vai cair no vestibular? Ah , o que isso vai acrescentar de fato pra vida do aluno? Eu falei, “mano, fala aí a formula de Bhaskara”, ‘ah, eu também não sei’ Acrescentou na sua vida uma porra dessa? Não? Então, tipo assim, parece que né, tem que rever essa grade, né? ‘É, mas é que o vestibular” eu falava, mano, nós não ta, mano, porra, caralho, é uma prova só, a gente ta falando de uma papo que... né? Pode dar um estalo ali de pô, gerar uma ideia Aí bati, bati, aí graças a Deus a mina que trampava comigo, a Sandra Campos, que é uma produtora cultural, ela tinha uns desenrolos, ela e a companheira dela tinha uns desenrolos melhor e elas conseguiram, a gente conseguiu. Aí eu fiz uma lista das piores escolas de São Paulo, fui em várias e lá eu já vi que a coisa ia ser difícil.
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30 errado, né”, mas aquela Casa, ainda era uma Casa que apesar de tratar dessa forma, permitia atividades culturais.
: Teve um moleque em específico, eu lembro que ele era desenhista. Eu não lembro o nome dele agora, ele era desenhista e tinha a festa junina, então ele desenhou todos os negócios de por rabo no burro, a boca do palhaço, ele desenhou todos esse, esses painéis lá, ele que fez todos da festa junina, o letreiro da festa junina. Aí eu fui trocar ideia com ele e falei “porra, mano, mas cê desenha pra caramba” e não tinha nem onde ele olhar. Então era da imaginação dele assim, então ele ia desenhando pa. Falei, esse moleque é artista. Aí eu falei, “Porra, mano, cê é artista” e ele “não, eu sou ladrão” Aí eu falei “não mano, você é artista” aí ele, “não, minha profissão é ladrão. Eu só desenho aqui, porque aqui eu tenho tempo, lá fora não, eu tenho mais o que fazer”. Então assim, era um bagulho muito inato dele, ele era... ele tinha o dom assim, ele tinha que lapidar. Aí eu falei, mano porque que cê não faz isso ó, cê pega esse dom que cê tem, porque é um dom, começa a desenhar, você pode ser designer, pode ser tatuador, você pode ser um monte de coisa relacionada a isso, você vai ganhar muito dinheiro, tatuador ganha muito dinheiro. Você é bom mano. Moleque treze, catorze anos desenhando pra caramba, você é bom, investe nisso”, aí ele “ah, vou pensar”, mas assim, alguém precisaria estar do lado azucrinando ele, falando “pô, vamo pro curso, vamo pro curso, vamo fazer, vamo acontecer”, porque ele tinha a ideia formada que não, que ele era ladrão, que a profissão dele era essa, que ele gostava disso, que o que dava dinheiro pra ele era isso, o que sustentava a família dele era isso, quem comprava as pólos e os drinks dele era ele. Então assim, você teria que desconstruir essa ideia e construir uma outra ideia e cê tem tempo? Adolescente tem tempo? Adolescente quer tudo pra ontem, então assim, é um universo muito conflitante.
Marcello: Eu não posso ser hipócrita... Porque essa é uma frase... é um clichê, “ah, o Hip Hop salva vidas”, de fato ele salva vidas, mas ele precisa de uma base.
Em Gil Scott Heron você conta a história e a força do Hip Hop. Lá você diz “Nosso povo precisa, e eu sou o único que pode trazer de volta a esperança”. Na sua opinião, até onde você acha que o hip-hop salva? A cultura em si.
Eu vi uma entrevista do Dexter esses dias, ele dizia que saiu da cadeia um astro. Para você, que já esteve lá dentro dando aulas, você conseguiu reconhecer novos astros em ascensão?Marcello
Eu não posso falar que o Hip Hop salva vidas, eu não posso te propor que o Hip Hop salva vidas, se você está preocupado em comer. Eu não posso falar tipo, “mano, o Hip Hop ele salva vida pra caralho, não sei o que lá e tal” só que cê tem um bagulho, uma estrutura familiar dentro de casa que não te dá tempo de ter acesso pra ter coisa... “mano, se eu não fizer uma coisa hoje, eu não como. O Hip Hop vai me dar de comer, do dia pra noite? Então eu vou ter que trabalhar aqui ou ali, eu vou ter que fazer”.
Se você tem uma base, mínima que seja, de quebrada, mesmo que o Dexter, na prisão, você tem uma base ali, você tem alguma coisa ali. Então, o Hip-Hop salva vida como? “Ele vai te propor a ideia de que através de um dos elementos artísticos ou não, porque eu defendo que o Hip Hop não é só B boy e MC, eu defendo que é o produtor de vídeo, a produção executiva, tudo que engloba moda. Tudo isso está dentro desse... que também é Hip Hop, senão isso deslegitima as pessoas que são do movimento Hip Hop e fazem esse tipo de trabalho. “Ah, não é Hip Hop”, é, só não está ligado de fato à parte artística no sentido de arte e no sentido de B Boy, B... os quatro elementos. Então o que eu acho que pode acontecer? O Hip Hop pode propor ideias que vão te direcionar a tomar atitudes que vão, de fato, modificar sua realidade.Vocêcomeça
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a se interessar pela música, se você DJ você vai ter que se aprimorar nisso, você tem uma base, você trabalha, você tem uma base, porque aí eu começo a pensar “pô, eu gosto de música, eu acho que eu escrevo, eu posso tentar fazer um rap”, como foi o caso do Dexter, por exemplo, estava preso e dentro da cadeia ele pode, já tinha ou desenvolveu, não sei a história dele, se ele já escrevia antes ou se ele começou a escrever no Carandiru... mas esse momento eu consigo pensar que talvez isso aqui me coloque num lugar diferenciado. E não só o rap, o funk, por exemplo, a arte em geral tem essa proposta. Eu acho que o hip hop é muito completo no sentido de transformação, porque ele não é só parte artística. Ele tem todo o conhecimento, ele tem todo lance do emponderamento, tem todo o lance de te fazer de fato entender quem é você no mundo. Eu acho que o hip hop ele propõe muito esse auto conhecimento, ele propõe muito essa… essa descoberta usando a arte como ferramenta. Então, você chega através do “ Ô, eu gostei muito dos cara dançando ali, vou me interessar”, aí depois você descobre que além da sua parte artística você tem uma parte social, cultural, racial não sei o que, não sei o que, não sei o que, “ah, vou me aprofundar em dança”, então, aí você descobre que não é só o break que vem de danças folclóricas, graças sociais,
mas tem passos de dança porque aquele B boy era foda, ele era porto riquenho, cê tem um bagulho que te abre um leque que cê vai falar “mano, não sei nem por onde eu começo”.
[ENTREVISTA EDITADA]
Quem é Maurício Monteiro, qual a sua história e o que rolou nesse tempo de 92 pra cá - mas quem você era antes de 92?
Fernanda: Caramba!
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Hoje eu sou formado em Gestão Ambiental Sanitária, sou técnico em Meio Ambiente, sou formando em Educação Física pela FMU, apesar que a minha matrícula foi trancada por conta dessa pandemia. Aula online e o preço da faculdade está muito alto, então eu tranquei ela pra ver se eu recomeço no mês que vem. Hoje, então, tenho outros cursos também e eu sou uns dos diretores do Instituto Resgata Cidadão, que é uma ONG que não visa lucro. Minha profissão: eu trabalho com coleta seletiva, eu trabalho com recuperação de objetos, trabalho com cobrança, tem um escritório de cobrança também.
Maurício: Tá bom. Então, meu nome é Maurício Monteiro, né? Sou um egresso do sistema prisional. Fiquei preso durante 16 anos, passei por várias penitenciárias do sistema, tenho duas fugas no sistema penitenciário. Eu, quando passei pelo sistema penitenciário, eu era um cara que arrumava muita confusão dentro dos presídios. Eu cheguei na ala do presídio com sequestro seguido de extorsão e vários outros B.O’s que eu não tava, inclusive até homicídio que eu não tava veio pra mim depois, mas o crime que eu cometi, que me levou pra prisão foi sequestro seguido de extorsão, isso em 1990, né? Em 1990 era um crime de repercussão, então eu cheguei na cadeia sendo o cara né, o cara criminoso de verdade e fiquei preso durante 16 anos. Fiquei 10 anos fugi, aí fui recapturado, fiquei 3 anos e meio, fugi de novo e fui recapturado e foi quando eu parei, né.
Entrevista: Prisioneiro 84.901 Fernanda Souza
Eu cheguei numa conclusão que foi o seguinte: o motivo que realmente me levou pro crime foi à revolta. Foi à revolta porque se fosse só minhas condições financeiras e sociais, que infelizmente não foram só essas, porque senão, minhas irmãs também eram criminosas. Porém, a influência é grande por conta de que... elas são pessoas que... elas não são bem sucedidas até nas profissões delas, porque são pretas, pobres e periféricas. Então, não correu risco de entrar no crime, porém não deu ascensão econômica pra elas também. Por todos os obstáculos que são colocados por isso, esses fatores né. Então isso daí não é mimimi não, isso daí é realidade pra mim.
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meu era na Zona Oeste, agora eu to na Zona Leste e aqui eu já tenho uns espaço pra nós estarmos dando andamento, para implantar e implementar esses projetos né. Eu, antes de ser preso, eu era um... era uma pessoa que apesar de ser preto, periférico, pobre eu não estava diretamente inserido no crime, nunca fui pra uma Fundação Casa, né? Mas o momento quando eu descobri o porquê que eu fui preso e porque que eu estava no crime, foi quando eu parei com o crime, foi quando eu consegui entender isso e consegui parar.
Me levou pela revolta, por que a revolta? A revolta de ter tido um irmão mais velho que eu, que foi assassinado pela Polícia Militar, então esse fato, dele ter sido assassinado, as pessoas falam que ele cometeu um crime, porém, não ficou comprovado o crime, mas se depender se cometeu o crime ou não ele deveria ser preso. O que acontece: ele era um cara
Tenho outros cursos também. Dou aula, tem um projeto social que eu participo, sou o professor de boxe, dou aula pra molecada da favela. Porém, esse projeto está brecado por conta da pandemia né, muito contato, molecada da favela que geralmente não tem toda estrutura pra ter uma segurança de distanciamento: lavar a mão álcool gel né, na favela não tem isso daí, não tem nem água direito. Então, eu sou obrigado, fui obrigado a brecar esse projeto social por conta dessa insegurança né, mas acredito que até fim do ano, para o ano que vem nósEssevoltamos.projeto
Maurício: É! A gente é múltiplo. Múltiplas funções pra sobreviver né, porque nós sabemos que a nossa sociedade tem muito preconceito com o egresso, com quem sai do presídio, né. Então, eu procuro aquelas que não preciso bater na empresa de ninguém, mas ao mesmo tempo eu gosto de passar para essas pessoas o quanto é difícil a ressocialização das pessoas, pra que elas mesmo abram portas para essas pessoas e não precisem de ir lá e meter o pé na porta delas, né? Então elas têm que abrir a porta para essas pessoas, né.
34 que trabalhava, ele tinha a profissão de auxiliar de escritório, isso daí eu to falando em 1983/84, quer dizer, auxiliar de escritório seria equivalente a um T.I, um T.I dos cara mesmo, porque não é qualquer um que era auxiliar de escritório né. Que nem hoje, não é qualquer um que é um T.I de ponta né, então ele tinha uma profissão boa, ganhava bem, porém em um espaço de tempo que ele ficou desempregado, ele se envolveu com a criminalidade.
Outro fator quando fui preso, dessa vez essa minha companheira, nós havíamos acabado de começar a namorar, ela nem... nossa, ela nem entendia o que eu falava por conta da minha gíria, porque era trabalhadora, não tinha envolvimento com o crime, aí quando eu fui recapturado ela foi na delegacia, o delegado olhou pra cara dela e falou “Moça, a senhora... a senhora sabe com quem a senhora ta namorando e tal?” e ela falou não, aí ele falou minha ficha, currículo, o tanto que eu tinha ficado preso, nossa. Aí ela foi me visitar né, chegou lá chorando pra caramba e eu “Pô”, eu tava no meu habitat né, já tinha ficado preso 16 anos, então né, pô sabia tudo como funciona, então eu to lá “Pô, por que você chegou chorando? O que ta acontecendo? Aqui é tudo nosso e tal” e o que ela me falou naquele momento, foi a gota que faltava naquele copo que já tava transbordando né, ela olhou pra mim e falou assim “Cara, para você ver, você ta tão tranquilo, que você já sabe o que vai acontecer, o como que vai ser, e você é um cara inteligente, por que você insiste nisso então? Se você é um cara inteligente, por que você não vai pra outro lado, não entra em outra porta? Você entrou numa porta que você já sabe o que tem atrás dela. Então você abriu essa porta e entrou de novo? Por que você não vai atrás de outras portas e tal?” E isso... daí nossa, na hora eu falei “Vish, essa mulher não vai vir visitar eu nunca mais, fiquei sem ninguém”, fiquei até triste porque para a recuperação de um apenado a família é essencial.
Não foi preso nem nada, porém fumava, usava droga, andava armado, aí voltou para o trabalho e ele parou, só o álcool né, que é uma droga que a gente está vendo aí, liberada, que essa droga ele não tinha parado. Nesse dia ele estava armado, estava meio alcoolizado tal, saiu brabo falando que ia fazer, para mim ir com ele e eu não fui. Pensei que ele não iria fazer nada por estar sozinho. Porém, o que contaram é que ele estava subindo a avenida andando, a viatura enquadrou ele, pegou a arma dele, fez ele deitar no chão e deu dois tiros nele. Então, isso me revoltou, me fez que eu entrasse no crime e mostrasse o quê? Que ele não precisaria ser morto, devia ser preso.Então estava armado, estaria fora da lei seria preso e aí futuramente teria uma nova oportunidade. Foi o que eu comprovei, só que eu pensava o seguinte, eu falava “Pô, espera aí: o crime tem dois caminhos, ou é a morte ou é a prisão. Preso eu já fui, ta faltando o quê?” Então quer dizer, não quero morrer, parei. Então foi um dos fatores.
acontecer.[
Mesmo eu tendo o apoio de todas as minhas irmãs, apoio da minha mãe, mas a gente tem que ter a namorada, tem que ter a tua esposa, a mulher para estar junto, né? As outras que me acompanharam também não posso reclamar, foi até eu que dei um fim no relacionamento, não foram nem elas, eu que dei um fim, mesmo preso, eu falei “Não, já era, não precisa de vim” e ela não, ela insistiu, sempre esteve lado a lado comigo né e hoje estamos aí colhendo os frutos daquela insistência da época. Então, me sinto uma pessoa até privilegiada, não vencedor, estou vencendo estou lutando, não venci ainda porque acho que é uma luta constante, a luta só vai terminar quando eu morrer, depois que eu morrer aí todo mundo fala “Ah, o Mauricio morreu, porra... você viu o exemplo? Não foi preso, não fez isso”, porque to nessa luta hoje aqui com vocês e amanhã vocês podem falar, “Puta, o Maurício foi preso”, porque para mim ser preso eu não preciso roubar, não preciso estar inserido no crime, eu simplesmente posso chegar ali e tomar um enquadro, os cara olhar pra minha cara e falar assim “Preto”, preto não né, porque eles vem no pejorativo “Ô negão, essa droga é sua, essa arma é sua, nós não quer saber de ex preso, ex ladrão, cê vai pra prisão”, então isso pode
sobre as palestras dadas por Mauricio] Eu mudo meu discurso, porque eu entendo. A mesma coisa se eu chegar para um adolescente lá, do colégio lá (particular) e falar disso aqui (aponta para os certificados na parede). Ele vai falar “Meu pai tem Harvard, meu pai tem não sei aonde”, certo? Então isso aqui não é nada. Só que a minha experiência no cárcere é porque os pais deles nunca foram presos, então é novidade. Então, a mesma coisa, se eu falo para o pessoal da favela sobre prisão, eles vão olhar pra mim e falar “Ah, meu pai tá preso, minha mãe também, meu tio”, quando eu mostro isso daqui (aponta novamente para os certificados e o cinturão de boxe), aí é novidade para eles, vão falar “Puta que pariu, o cara tirou um monte de cadeia e tem tudo isso daqui? Eu também quero. Eu também quero aquele cinturão”. Então eu mudo o discurso, de acordo com as pessoas, para elas entenderem e se apropriarem, para ver que tem tanto um lado, como tem o outro.
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Só que a gente tem que pensar o seguinte, nós não podemos falar só para a nossa bolha. Porque a mesma coisa: eu falo pra vocês e vocês “É, isso mesmo, eu concordo e tal”, pô, eu quero falar pra quem olha pra mim e fala assim “Não, mas eu não concordo, não acredito nisso não, é mimimi”, mimimi o quê, meu amigo? Porque se a pessoa está com a mente aberta, ela vai... se for aquelas pessoas ignorantes de “Não...”, aí não tem assunto, não tem ideia, certo? Mesma coisa que, se a gente analisar, certo, como que um presidente, certo, mesmo apoiando tortura, apoiando ditadura, apoiando... ele subiu ao poder. As pessoas
Então, dois meses antes dessa data, mais ou menos de dois para três meses, um funcionário estava lá, folgando com os presos. Ele tinha acabado de entrar e achava que podia, aí os presos fizeram o quê? Aí os presos vieram, jogaram o cobertor em cima dele, deram várias pauladas nele, tomaram o relógio dele, a carteira, o tênis que ele estava e deixaram ele. Aí ele desceu correndo e isso revoltou o funcionário que era o chefe que falou “não, nós vamos pôr o Choque para dentro!”, porém o diretor não quis que o Choque entrasse, na
época.Nós
todos fomos trancados, houve Blitz, esculacharam as celas, quebraram tudo até esses presos se apresentarem. Aí ficamos três dias trancados e chegou uma hora em que os próprios presos viram que estavam prejudicando toda a população carcerária e se apresentaram. Foram lá, falaram “foi nós”, e aí tomaram um pau, foram para a Presidente Venceslau. Acabou, soltou todo mundo, tudo normal, só que esse funcionário não se conformou, ele ficava sempre no pé.
Devemos pensar o que o momento propiciava, o que estava acontecendo. Então, era eleição e dois meses antes, esse mesmo plantão, que era o plantão que estava no dia, tinha um funcionário que era muito folgado. Ele estava lá e a Casa de Detenção de São Paulo, no pavilhão 9, tinha 2.900 presos, quer dizer, para vinte/trinta funcionários tomar conta.
O que aconteceu em primeiro de Outubro de 1992?
O pavilhão era aberto às 8 horas da manhã e trancado às 4 horas da tarde, então esses 2.900 presos estavam soltos, só no pavilhão 9 e a Casa de Detenção toda chegava a 7 mil presos. Então, quer dizer, só a metade estava só no pavilhão 9, então era um acúmulo de presos, que soltava esse horário. Porém, tinha presos que eram trancados às 8 horas da noite, que eram presos que cuidavam da alimentação, os que varriam, jumbo, carta, mas uma pequena parte desses presos.
pensam em um resultado momentâneo. Então roubou, ele quer ver o resultado agora, ele não quer ver o trabalho que tem que ser feito para que isso aconteça.
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Falando sobre o Massacre, hoje faz 29 anos. Não houve uma rebelião, não houve tumulto para existir mortes. O que houve lá, realmente, de fato, foi uma briga entre dois presos, que era mais do que normal, lá morria todo dia dois, três, certo?
Não era rebelião, não era nada, então deixaram os funcionários sair, deixaram. Não foi que eles conseguiram correr, porque tinha preso que estava entrando, inclusive, os funcionários passaram correndo e os funcionários levaram logo um “presta atenção” (tapa) e deixaram correr, ninguém impediu. Esses funcionários saíram gritando “rebelião, rebelião”, fecharam, e nós descemos para ver o que estava acontecendo. Nisso, os caras falaram “discutiram aí, só que os funcionários já levaram um para o castigo, outro para a enfermaria, eles nem estão no pavilhão mais” Ah, “então já era? Já era. Isso mesmo, todo mundo volta para a porta da cela, sem confusão entre nós porque, quem quiser resolver os problemas agora, vai morrer os dois”, então já era e não existia o crime organizado naquela época não, não tinha o PCC, que comanda os presídios hoje em dia. Então existiam várias quadrilhas, várias famílias, porque onde falta o Estado, os presos se unem, não adianta. É a mesma coisa que em uma favela, o Estado não falta e não sai uma associação, não sai a ONG? É por causa da falta do Estado, então no crime é a mesma coisa, o Estado faltou, se juntam os presos e aí cria se o crime organizado.
No dia que houve essa confusão, foi a deixa que ele queria. Teve essa confusão, ele queria trancar todo mundo. Aí os presos começaram a discutir com ele, “não, senhor, nós não vai entrar pra tranca”, eu estava na minha cela fazendo faca e pinga, porque a vida dentro do presídio era essa, era fazer cachaça e arrumar confusão, porque eu acreditava que eu nunca ia sair de dentro de um presídio. Nessa, passaram na frente da minha cela e falaram “está tendo um tumulto ali”, eu fui, só que na hora que eu estava virando a escada, eu trombei com a discussão entre os funcionários e o preso. Aí o preso “Não, porque nós não vamos entrar, não deu o horário. Nós vamos ali trocar uma ideia e depois o senhor tranca, porque agora ninguém vai entrar” e o funcionário, “não, que vocês vão entrar, vão entrar”, aí foi a hora que o preso deu um soco no funcionário e eles saíram correndo, mas na hora eu gritei “não deixa correr”, porque veja bem, se nós seguramos ele, aí já é refém, certo? É um caso que a polícia entra e nós temos alguém para colar na frente do portão, “Vai, entra que os cara ta aqui ó”, certo? Mas deixaram correr porque não havia nenhuma reivindicação.
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Aí todo mundo subiu para a porta da cela esperando vir a tranca, né... tranca, é? Tranca de vida. Aí estava todo mundo lá esperando, só que a movimentação começou a ficar estranha. A muralha que faz só o pavilhão 9... porque assim, tem uma muralha que é toda da cadeia e cada pavilhão tem a sua própria muralha também, que é da mesma altura, então os policiais conseguem andar ali no meio só que não anda, não é normal, o normal é só andar em
volta de toda a Casa de Detenção, da extinta Casa de Detenção, no caso. Ali a gente começou a ver os polícias vindo nessa muralha de frente e eu já falei “opa, ta estranho” e já apareceu o helicóptero.Quando
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Tem um portão que liga os dois pavilhões, aí os caras começaram a entrar no pavilhão nove. Quando eles começaram a entrar no pavilhão nove, eles já começaram entrar a atirando, chegaram já e (imitação de tiro) e estava todo mundo na porta da cela, esperando. Aí começou tiro (imitação), aí poxa, no momento você está pensando o quê: é tiro de festim, os caras estão dando tiro de festim para a população... porque tinham dois, três, que estavam lá embaixo, no pátio.
o helicóptero apareceu, começou a soltar... porque todo mundo foi trancado, só o pavilhão 9 que estava solto, começaram a soltar polícia em cima dos outros prédios, né, aí já entramos em pânico. Daqui a pouco começou aquela (inaudível) “ó a rota”, Rota? Que porra de rota? Aí quando nós olhamos a muralha lateral, que dá para o pavilhão 8, começaram a aparecer policiais da Rota. “Nossa, Rota mano?” e aí o helicóptero que estava em cima, deu uma rajada de metralhadora na parte de cima do presídio, do nosso, pavilhão, matando até presos que estavam lá em cima.
Até o momento, não estávamos vendo as consequências. Daqui a pouco me sobre um rapaz que ele lavava manta né, lavava cobertor, então... o cara era gigante, o cara era grandão,
Quando os caras falam que os presos estavam armados, os presos estavam armados com facas iguais a essas (aponta para as réplicas na parede).Aí a gente pensa “olha o tamanho da faca” porém, perto de uma metralhadora, perto de uma calibre 12 isso aí não é nada. O que aconteceu? Quando todo mundo começou a escutar os tiros, os presos começaram a jogar as facas pela janela, apavorados, pensaram “Nossa, se os caras me pegarem com uma faca eu vou morrer” e jogaram as facas fora, ninguém ficou com faca na mão, ninguém é louco.
Escutamos essa rajada, só que não sabíamos que tinha morrido ninguém, só rajada, de repente é festim, sei lá, na hora ninguém pensou. Aí a gente começou a ver os policiais da Rota entrando e querer entrar no pavilhão 8, os funcionários do pavilhão 8 não deixaram, pararam na frente do portão e falaram “não, aqui vocês não vão entrar, aqui não está acontecendo nada, isso aí é em outro pavilhão”, dava para nós escutarmos, porque nós estávamos na janela.
Daqui a pouco, tiro para caramba nas celas de frente para o corredor e daqui a pouco os caras viram. O policial virou, tinha um cara no fim da galeria, que tinha quase um cem metros, ele deu um tiro meu, de lá do começo pegou no cara lá do fim da galeria e encheu de sangue assim, o cara foi descendo que nem uma sanfona, escorrendo. E eles não falam nada, só
39 pretão que se você visse o tamanho do cara, o bicho... ele subiu desesperado falando “os caras vão me matar” e eu dizendo “o que está acontecendo, mano?”, e ele “os caras vão matar, eles estão matando”, falei “carai”. Até aí eu estou na porta da minha cela, os companheiros está tudo dentro da cela, está tudo ali né, ninguém vai ficar andando para lá e para cá.
atiram.Eu
Aí tiro, pa, tiro, tiro, grito para caramba, eles invadiram o 2°, eu morava no 3° andar, 313E, na época. E tiro, tiro, tiro, tiro no 2° andar e eu estou no 3°. A porta da cela, ela não tem maçaneta nem nada, ela fecha só para um lado, que o funcionário que vem do lado de fora e tranca, por dentro você não consegue trancar e nem abrir a cela. Então eu to ali, com a cela aberta, olhando a entrada do corredor.
to ali na porta, eu congelei. Não conseguia correr, nem entrar, nem nada. Aí o cara deu um tiro de doze, a porta bateu na minha cara e foi quando eu acordei, falei “nossa”, aí eu entrei e encostei a porta, e tiro (imitação de barulho), falei, “Mano, o bagulho ta pesado”, aí os caras já tinham jogado as facas tudo para fora, pela janela.
Dentro de uma cela, não tem como você se esconder. O negócio é assim: linhas esticadas e as divisórias feitas de lençóis, que chamamos de “come-quieto”, por exemplo, ali é o banheiro? Ele é separado por lençóis para você ter o mínimo de privacidade, então não tem parede, não tem madeira, não tem nada. Eu não tinha onde me esconder, então eu entrei atrás do lençol e fechei o lençol, bem na entrada da porta, não tinha pra onde ir.Os caras que estavam comigo se esconderam atrás de uma madeira, que era a cama, uma madeira fina que era esses compensados finos assim, tava todo mundo escondido atrás da cama, então eu me escondi atrás desse lençol.
Os policiais vieram, tiros e daqui a pouco, eles puxam nossa porta e abre. Aí ele vem, abre o lençol só com o revólver, olha para minha cara, engatilha o revólver na minha cara e... porque assim, a metralhadora, quando você gasta todas as balas do pente, você puxa e faz muito barulho, faz “CLAC”, que é para a bala subir e sair a rajada. Aí o outro policial que
Ele entrou no meio dos caras e falou “aqui não, aqui não”, aí o cara veio, desengatilhou na minha cara, levantou o revólver e saiu dando risada e o outro da metralhadora já saiu. Eu falei “nossa”, essas balas eram para nós, aí o cara entrou dentro da cela e falou “todo mundo, levanta, levanta. Ó, todo mundo tira a roupa” e tiro comendo, grito, ele estava desesperado, colocava a mão na cara assim, ele estava vermelho, desesperado, “ó, eu estou fazendo o que eu posso, certo? Vou falar para vocês, põe a mão na cabeça, abaixa a cabeça, não olha para a cara dos policiais, se vocês olharem, vocês vão morrer, eles estão matando”, aí que eu vi o tamanho do acontecimento, porque até o momento eu não tinha saído da cela, então não estava vendo.
Eu vi um cachorro arrancar os órgãos genitais de um cara. O cara caiu, aí os caras vieram com a baioneta, com a faca né, que na ponta da baioneta vai faca, baioneta aqueles fuzis 762 deles, aí ele “pa, pa, pa”, dando facada na cabeça do cara e a fila ta descendo, então eu estou vendo né, porque eu estou aqui olhando pro chão, o cara está no chão, então eu estou vendo. Aí os caras vinham e cassetetes comendo solto em mim, mas eu não estava nem sentindo dor, eu falei “não posso morrer”.
Na hora que chegou na descida da escada... aquela foto que tem em sites é verídica, com um monte de cadáver, ela é verídica, eu tive aquela visão na hora que eu desci. Tinha uma escada, o cara que estava na minha frente, eu até conhecia ele, finado pereba, ele escorregou e quando chegou lá embaixo o polícia estava com uma faca, deu uma facada no
40 estava do lado dele já puxou (o pente), eu falei “nossa, vai matar todo mundo aqui”. Puta, foi quando nesse momento, veio um que veio do céu, então ao mesmo tempo que nós falamos desses policiais não dá para falar de todos, porque esse... se eu falar de todos mal, eu vou estar colocando esse e esse salvou nós, esse tenente, ele salvou todo mundo na cela.
A Rota lá dentro foi a mesma coisa que você colocar uma raposa com fome, dentro de um galinheiro, idêntico. Nesse momento, conforme eles iam entrando, atrás deles vinham vindo o batalhão de choque com os cachorros. Então, o batalhão de choque vinha fazendo corredor polonês, para que esses que sobreviveram seguisse o caminho que eles estavam indicando, os cachorros dos caras pareciam um pônei. Esse caminho era feito até lá embaixo, onde os presos estavam sendo acondicionados, no pátio, todos naquela posição de mão na cabeça então tinha que descer a escada e fazer todo esse caminho. Meu, o que é morte que eu vi nesse caminho, só Deus mesmo.
Não foram só 111 presos, foi mais, só que assim, no momento lá nós estamos presos. O que nos levou a contar quantos presos foram? Não sabíamos quantos presos morreram, sabíamos que era um monte de gente, já que celas inteiras onde moravam 13 caras morreram todos. Daqui a pouco, “111 presos”, ta, eu conheço sicrano e fulano que morreu, eu não conheço 111 que morreram, conheço 15, 20, 30, 40 que morreram. Então, pô, carai, morreu mais do que eu estava pensando, só que no dia de visita, eu e um monte de presos estamos esperando as visitas: entram, começam a chorar e tal, só que não podemos abordar. Vem outro e começa a chorar, outro a desmaiar, daqui a pouco entra uma que eu conhecia, os dois irmão dela foram mortos. Aí ela veio toda feliz “Oi Nene, tudo bem?” E eu normal e tal, “tudo bem” e ela “ai, vim ver meus irmão, porque o nome deles não está na lista”, pera aí,já tem 111 lá, não ta na lista? Aí eu falei assim, “Pera aí então que eu vou ligar o carcaça” falei ‘vou ligar o rapaz ali pra vir falar com você” da cela dela, aí fui lá e falei “Nossa, carcaça, a mina ta aí”,
41 peito dele que transfixou e saiu do outro lado. Eu vi, falei “Nossa, o finado pereba foi nessa”, aí o policial veio e já tirou ele do caminho e os policiais batendo “vai, desce carai!” e eu falei “nossa, eu não posso escorregar aqui, se eu escorregar eu vou morrer”, meu pé virou uma ventosa, mano”, sabe? Grudava assim, aí eu consegui descer.
Chegou um policia da Rota, estava cheio dos caras da Rota e do Choque, e disse assim “quem está ferido?” Puta mano, um monte de cara “eu”, “você que está ferido vem para cá. Quem mais está ferido?” Puta meu. Embaixo, no pátio interno, tinham bastantes salas que eram setores, né, a gente fala setores, às vezes de uma empresa judiciária, setores que eram dos funcionários, então eram salas, tinham igrejas. Aí os caras (policiais) enfiaram os caras (presos) tudo lá dentro, mano. Daqui a pouco escutamos os tiros e os gritos abafados, não deu tempo dos caras gritar. Aí o policial aparece: “Bom, aqueles já foram curados, quem mais está ferido aí?”, por Deus. Um mano que estava na minha frente pressentiu, o Cristiano, ele tinha sido baleado no braço e falava “não deixa os cara me levar, não deixa os cara me levar”, desmaiou com a mão na cabeça, mas ficou, sobreviveu.
Começaram a nos recolher para as celas. Então, as celas desse tamanho (compara com seu escritório, de mais ou menos 10 a 12m²) tinham 70, 80, 100 presos. Aí o policial “você, vem carregar corpo”, eu achava que era eu e entrei em desespero, falei “nossa, mano, me ferrei”, só que não era eu, era um outro cara, aí não deu para ver quem era, mas deu para ver um corpo sendo puxado.Aí o cara falou “vai”, na hora que o cara falou vai, que fez assim para bater em mim, eu já estava lá em cima.
Você se considera um exemplo de superação?
Então, ele ficou preso em Morretes, jogaram uma acusação nele que ele não devia, não foi confirmada essa acusação. Eu fico tão revoltada de mexer com essa história, porque eu fiquei quase dois anos indo para poder visitar, né. Então foi uma coisa que assim, foi muito triste, muito triste, tudo que eu vi lá dentro, que olhando aqui fora é uma coisa, mas lá dentro é só quem… Sabe? Sem contar as humilhações que a gente passa. Não conseguiram provar o que julgaram em cima dele, essa pessoa que acusou ele, inclusive foi até lá, no fórum no outro dia pra tirar a queixa porque, ela inventou tudo isso aí, ai menina, foi muito triste.
Um dia eu recebi um comentário de um pai, estávamos assistindo seu programa, meu filho começou a chorar, me abraçou e disse que ia sair do crime, que não queria nos perder, vou falar para você, não tem coisa mais satisfatória, esse é o objetivo.
Entrevista: O preço da inocência Fernanda Souza
Por quanto tempo ficou ele preso e dentre esse período, quais as maiores injustiças a Sra. como mãe, já viu?
Cabeça vazia oficina do diabo né, ainda mais dentro de uns presídios né, então essa é parte da minha história né parte da minha luta do dia dia e qual eu sempre ressalto minha luta é todo dia, cada dia um leão se não matar um leão hoje amanhã tem dois, então eu tenho cada dia eu matar um leão, existe muita dificuldade muito preconceito eu mesmo me exponho e falo que pras pessoas entenderem que “nois” chegou pra ficar,
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“Ah, os irmãos dela morreu”, falei “Então, se os irmãos dela morreu, vai lá falar, que ela falou que o nome deles não ta lá” aí eu “Carai”, aí eu entendi, ele falou pra ela e ela desmaiou, aí eu falei “Nossa, então esses choros, esses desmaios que estão acontecendo aqui”, aí os presos montaram uma comissão, o pessoal do 8 (pavilhão), o pessoal do 9, se juntaram, montaram uma comissão e começaram a fazer a contagem. Meu, essa contagem aí dava uns 248, 200 e pouco, vai.
Eu cheguei em época de rebelião, sabe? Eles me ligaram aqui lá de Santa Catarina e disseram que estava acontecendo essa rebelião , tinha começado três horas da manhã. Eu me desesperei, né, eu sou mãe, meu filho estava lá, eu peguei e fui. Eu não estava nem aí com o serviço, cheguei falei para os meus patrões que eu ia viajar, expliquei o que tinha acontecido, eles me liberaram, fui pra lá. Cheguei, menina do céu... eram umas oito horas da manhã, mas foi muito triste, uma coisa que nunca na minha vida eu, eu… a gente vê na televisão, mas nem tudo aquilo que passa na televisão é real, lá dentro, é o pior. Porque no dia que eu cheguei lá, eu vi muita coisa, muitas pessoas machucadas, presas…
Dois anos.
Quantos anos ele ficou preso?
Eu fiz bastante amizade, menina, no presídio. Graças a Deus eu sou uma pessoa que faz amizade fácil com as pessoas, daí ela (agente penitenciária) falou para mim “Nossa, dona Lourdes, a senhora pode ficar tranquila que teve essa rebelião, mas na cela que seu filho está tudo bem”. Então, foi uma coisa assim que eu fiquei até meio... Eu fiquei desesperada, comecei procurar naquelas listas de nome que estavam na parede, se tinha, para ver se o nome dele estava naquela lista, o nome das pessoas que tinham sido mortas, que estava no hospital, né. Então, ficou a lista das pessoas que as mães chegavam ali e já ia direto naquela lista de nomes. Eu, menina, eu fiquei tão desesperada que eu chegava, olhava, mas sabe quando você não consegue nem enxergar letra na tua frente? Tinha uma menina ali, muito gente boa, que trabalhava lá, como que diz? Acho que é agente. Foi uma coisa que parece que ficou aqui ó (aponta para a cabeça), inclusive até hoje eu estou em tratamento por causa disso aí, sabia?
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Eu quando lembro essa história eu fico muito, muito revoltada, porque, eu sempre olho... eu sou daquele tipo: se a pessoa deve, a pessoa tem que pagar, só que se a pessoa não deve, eu penso igual você, eu acho uma injustiça. Quantas pessoas às vezes são condenadas, presas injustamente e eles falam que a pessoa não está sofrendo, mas sofre, porque... não aconteceu isso com meu filho, mas eu vi lá dentro.
Houve alguma rebelião enquanto ele estava preso?
Tinha um delegado. Pensa num delegado muito gente boa, um dia ele me ligou e falou “Dona Lourdes, a gente está fazendo tudo que a gente pode, porque o Anderson é um menino muito bom, é uma pessoa respeitadora, você conversa com ele, você não vê maldade”, porque
O delegado falou, “Olha, eu vou tentar mandar ele para um outro presídio”, porque no dia da audiência a juíza era muito racista, pensa em uma polaca racista, que olhou na cara dele e falou pra ele “daqui eu te mando pra mais pra frente. Curitiba eu não mando você, porque você não é digno de ficar no meio de pessoas”, sabe? Então, ao invés de mandar ele aqui pra Curitiba, eu correndo atrás, falei “Nossa, ele tem que ficar, eu quero que eles transfiram ele”, porque para mim era mais fácil também, porque toda quinta feira eu viajava, sexta feira oito horas da manhã eu tinha que estar lá. Daí mandaram ele lá para o outro presídio, não sei se posso dizer o nome. Lá para Curitibanas, que foi lá que, graças a Deus, que eles pegaram e liberaram ele para vir embora.
Eles me ligavam e falavam para mim, lá de Curitibanas “Olha, dona Lourdes, o Anderson tá bem, ele pediu para fazer uma ligação, ele tá aqui, trabalhando com a gente, mas olha, loguinho ele vai para casa. Não teve aquelas provas suficientes para, “Não você vai ter que pagar por isso”, então não conseguiram achar isso aí, porque a própria vítima foi lá e falou que não
Quando me ligaram que ele tinha ido preso... meus filhos nunca tinham ido presos, nunca! Eu nunca tinha passado por isso, foi a primeira vez da minha vida, e eu falei para ele
ele é desse jeito. Todo mundo que conhece, sabe que ele é assim, né. Então, o que ele demonstrava lá é o que ele era aqui fora.
Morretes, mandaram ele para Curitibanas, que falaram para mim, “Vamos transferir ele para lá, porque lá a juíza é justa”Sabe? O delegado falou isso para mim, “A juíza é muito justa, a gente já analisou tudinho a situação do Anderson, então não tem porque ele ficar preso aqui, só que ela não quer nem liberar ele, ela quer que eu pague por esse fato que ele não deve”. Tem muita gente inocente lá dentro, muita gente. Ela olha na tua cara e fala assim “eu não fui com a tua cara”, ela fez isso aí com meu filho.
Depoisera.de
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Meu mais velho, foi injustamente. A própria vítima foi lá para tirar a queixa, para poder dizer que não tinha acontecido o que ela falou, mas infelizmente a juíza não quis saber, “Ah, porque tudo o que vem de Curitiba é bandido”, aqui em Santa Catarina a coisa é diferente. Tudo o que vem de lá é bandido”, eu contratei um advogado que estava mexendo com o caso, para mim tirar ele e o advogado era outro que era do Estado e cobrando por fora e não fazia nada, eu pagando, eu não sabia. Fui atrás desse advogado, “não, eu cobro tanto para tirar ele”.
“Espero que seja a primeira e última”, porque meu Deus, eu não sei se eu consigo entrar dentro de um (presídio).
Para mim hoje, todo policial é igual. Deus que me perdoe, mas eu acho que é até pecado eu pensar assim, mas pra mim policiais são tudo igual, presídio não tem diferença nenhuma, são tudo igual. Porque, só que às vezes a gente acaba se, que nem no meu caso, lá em, ele ainda na época ele tinha, ele tava cheio de ponto, ele tinha, ele levou sete facadas.
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Lourdes: Não, ele estava trabalhando e saiu para jogar bola e acabou tendo uma discussão boba no campo. O cara saiu, se armou, voltou e eles sentaram na calçada, para entrar no segundo tempo pra jogar bola e o cara chegou por trás. Ele tinha acabado de sair do hospital, cheio de ponto, tinha acabado de tirar o dreno, quando ele foi para lá para Santa Catarina, para minha irmã cuidar dele pra mim, porque eu trabalhava direto e não tinha como cuidar, né? Levou uma cirurgia bruta, abriu ele, perfurou o intestino, perfurou pulmão, então ele estava todo assim... agora você imagina o meu desespero, sabendo que ele estava preso lá, naquela situação, pegar uma infecção. Um dia eu cheguei lá, ele morrendo de dor, nossa, fiquei quase louca, nossa... quase que eu fiquei presa, falei “Não, eu só vou sair daqui na hora que eu ver vocês dando remédio para o meu filho. E ele vai provar que ele não deve”.
Conheci muita gente ali que estava com os filhos presos. Então, como elas moravam ali perto, então sempre elas passavam para mim né, mas assim, eu só ia na quinta feira mesmo, porque sexta feira era visita. Então, elas diziam que era muito nojento, sabe? A comida, ele reclamava. Reclamou muito da comida para mim, disse que a comida, meu Deus do céu, então essas coisas era o que mais me matava, ia me matando né. Até um ponto eu
Ali na frente era tudo bonitinho, tudo limpinho, né. No dia que a gente chegava para ir fazer visita, era limpinho, mas se você chegasse fora desses dias, dizem que era um... sabe? Eu não cheguei a alcançar esses dias porque era tipo assim: a visita dele era na sexta feira, na quarta-feira tinha que levar sacola, como eu morava aqui em Curitiba e não dava para eu ir quarta e na sexta feira, eu deixava dinheiro com a mãe dos presos, que hoje são amigas minhas, que moram ali em Camboriú, em Itapema mesmo, naqueles lados lá, então eu fiz amizades de Porto Belo.
Fernanda: Ele se machucou dentro do presídio?
Como funcionava a higiene lá dentro?
Eu chegava lá de manhã, ficava ali porque era oito horas em ponto. Lá é bem frio, um frio, um frio, um frio que você não tem noção, não sei se você já... acho que você já esteve por aqueles lados, quando é época de frio, é muito frio. E lá é tipo uma chácrona, um cadeião, que de lá da minha irmã, eu tinha que pagar táxi, era um deserto. Nossa, não tem noção com o que eu gastei com taxi, com ônibus, mas amém por isso né, daí tipo assim, você chegava,
Quando ele saiu, fazia acho que uma semana que ele estava em casa, foi eu que fui para o hospital e o mundo desabou em cima da minha cabeça. Porque na hora eu consegui resolver tudo, porque tipo assim, o meu trauma ele não é na hora. Menina, na hora tudo que eu tiver que resolver, eu resolvo. Depois que passa tudo, daí... para hoje eu vivo assim: se eu tô na rua e vejo uma viatura, eu começo a tremer, tremer, tremer, tremer, tremer, sabe? Então tipo assim, o meu psicólogo pegou e mandou uma cartinha e falou pra mim, “Olha, Lourdes, a cada vez que você sair, você sai com essa cartinha, porque você sabe como funciona nossa justiça hoje. Imagina que você está no ponto de ônibus, sai para trabalhar, está ali no ponto de ônibus e chega um policial, que encosta ali do teu lado, vamos supor. Vai começar a te dar esses desesperos. Ele já acha que está [devendo], então a hora que acontecer isso aí, você já tem. Anda, leva essa cartinha onde você for, você leva. Dizendo que você está em tratamento, você teve trauma nos presídios, que aí eles vão entender”. Então, eu estou em uma situação hoje que é difícil, menina. É uma coisa difícil.
46 consegui resolver isso aí, mas daqui a pouco eu não consegui mais. Deu uma depressão, eu já fiquei internada, daí eu não consegui fazer mais nada.
O presídio não é tudo isso aí que a gente vê, que eles mostram, que eles falam. Gente, Deus me livre, é um lugar assim que não é para um ser humano, não é. Eu penso assim comigo, tudo bem, a pessoa errou, mas... teve um menino lá que era de um casal de gêmeos, você acredita nisso? [suspiro] um dia eu cheguei na visita, eles saíram para a visita com o braço todo machucado, quando perguntei o que havia acontecido, eles disseram que o policial soltou um cachorro propositalmente, que mordeu todo o braço dele, ficou com o braço todo mordido. Menina, eu entrei em desespero.
Você chega ali e já fica um policial lá em cima, tem um pátio, uma janelinha lá em cima dentro do pátio, eles ficam ali. “Aí, ninguém pode se emocionar, nem a mãe nem o filho, se emocionou o filho perde a visita e a mãe sai” é desse jeito. Tipo assim, olha eu, aí, menina desculpa... [choro]
47 ficava ali na fila, na hora de entrar, para se preparar para entrar, passar vergonha eu digo né. É uma humilhação, humilhação. Daí nós de chinelos de dedo, porque lá você tem que estar de calça branca, camiseta branca, calcinha branca, sutiã branco, a primeira vez que eu fui, quase que eu não entrei, que eu não sabia.
Uma vez eu cheguei na visita dele também, tinha parado minha menstruação, mas quando ta assim eu sei que não deixa. Eu cheguei, sabe quando está só aquela... É, sabe né? Aí foi uma agente lá palhaça, que veio me atender, ai que raiva que eu fiquei, tinha umas lá que eram uma tentação, Deus que me perdoe, sabe? Pensa numas pessoas ruins. Daí ela veio assim, aí na hora que eu fui tirar ela falou “Ai não, não, nem tira que você, eu falei, “Tá, mas eu não posso entrar por quê? “Eu não estou menstruada, eu só coloquei o absorvente porque eu vim de viagem, só por segurança”, mas menina, o maior rebuliço deu aquele dia, ela não queria deixar eu entrar. Eu tive que ir lá no fórum, não tinha sujeira nenhuma, eu só coloquei mesmo porque tinha parado e porque eu ia viajar todas aquelas horas.
Você olhando assim, ali foi mais o racismo do que condena. Prova nenhuma não teve mesmo, eu não sei. Então foram coisas que hoje eu olho assim e aí menina, dá uma revolta na gente. O Anderson quando saiu de lá teve que ficar uns dias fazendo tratamento com psicólogo, porque ele estava deitado assim e daqui a pouco ele levantava assustado, acho que aquela bateção de grade. Nossa, Deus que me perdoe, mas eu chegava lá e ficava doida para que terminasse logo a visita, que era uma hora, nossa, eu ficava ali contando, sabe assim, aquele barulho, eu saia de lá, parece que assim, minha cabeça, eu só escutava. Eu, teve uma época que eu só escutava barulho de grade assim, das celas, abrindo e fechando, que é, nossa, muito barulho, muito barulho, muito barulho.
Nós de chinelos na fila para poder entrar, na hora da visita, daí nós brincamos, até amiga minha, falamos para eles... ai, esqueci o nome do xarope desse cara também, falei pra ele “Ai, deixa a gente entrar pelo menos de chinelo de dedo, né? Com a meia”, e ele “Escuta aqui, você está pensando que aqui vocês estão em algum shopping? Aqui não é um shopping, aqui é um presídio, é uma cadeia. E se vocês não quiserem fazer a visita, vocês podem voltar” você acredita nisso, menina? Nossa, eu só olhei para ele assim, sabe quando você engole seco para não... aí eu pensei “Meu Deus, se eu falar alguma coisa para esse homem, além de talvez eu passar por errada, eles não vão querer deixar eu visitar mais”, sabe quando você engole seco, Fernanda? Nossa, mas eu só olhei, eu só olhei para ele assim, nossa, foi Deus mesmo, porque seu eu tivesse aberto minha boca aquele dia eu não sei o que tinha acontecido, porque
Às vezes eu vejo muitas coisas que as pessoas postam no face, “Ah, porque bandido tem que morrer”, gente, por trás disso aí tem uma mãe, um pai, uma família, mãe não pediu para o filho fazer coisa errada, e ninguém tem escape disso, Fernanda”. Eu sei que eu andei ouvindo algumas coisas sobre tudo o que aconteceu na vida do meu filho, mas eu entreguei tudo nas mãos de Deus, porque quando meus filhos eram pequenos, eu nunca ia imaginar. Sempre tem aquele que vai desviar o caminho. Não é a mãe que tem culpa, o pai que tem culpa. É mais fácil eu chegar e julgar você, do que pensar “nossa, essa mãe educou tão bem, olha o caminho que ele está tomando”.
A corda sempre arrebenta no lado mais fraco. Deus o livre e guarde, você vai mexer com uma coisa dessas, que é uma coisa muito séria e, sabe? Acaba eles fazendo alguma coisa para você ou alguém da tua família, porque olha, eu não confio mesmo.
Eu lembro até hoje, no final de ano o delegado me ligou, eu estava lavando roupa. Sabe quando você está no desespero, na agonia? Eu sabia que estava chegando o Natal, mas só quem tem filho e que é mãe mesmo que sabe. Eu parei, fiquei sentada, me deu um ataque de choro. Aí ele me ligou, “Dona Lourdes?”, eu falei “Alô, quem está falando?”, “Ah, aqui é o delegado”, aí eu perguntando se estava tudo bem, se aconteceu alguma coisa, ele “vai acontecer agora, você está sentada?”, aí eu pensei Ai meu Deus”, mas ele dando risada, deve ser coisa boa, aí ele, “Não, eu só liguei para avisar que eu comprei, que eu dei dinheiro para o Anderson comprar a passagem. Dispensei ele para ele passar o Natal aí com vocês”, você acredita nisso? Eu vejo Deus nisso aí.
Deus que me perdoe, eu sou sincera. Esses dias eu falei para um policial aqui na frente, eu não confio mesmo. Posso estar errada, porque eu peguei um trauma tão grande hoje, de tudo que eu vi lá dentro. Hoje quando uma pessoa vai presa, eu entro em desespero. Esses tempos agora, meu piá, meu outro foi, meu outro mais novo. Mas Deus é tão bom que, foi mas também logo já saiu. Então não precisou eu ir até lá, sabe? Então, são umas coisas assim que... Eu não me arrependo de nada disso que eu passei, que eu fiz por ele. O que me dói as vezes é o jeito de você ser tratada e você vê tanta propagando, que não é nada daquilo ali que você vê.
48 olha... isso aí foi uma coisa que doeu muito, o que custava você entrar de chinelo e de meia? Porque de tênis não dava mesmo, mas um frio, menina, que você não tem noção. A gente ali passando frio.
Nataly: Tem duas versões, mas elas se complementam, a gente brinca. Surgiu na escola, no Ensino Médio, lá no Antônio Viana, que é uma escola pública aqui dos Pimentas. Então na escola tinham muitos eventos culturais, datas comemorativas assim, de luta na verdade, por exemplo, o Dia da Mulher, a Consciência Negra, o Golpe da Ditadura, então a gente relembrava essas datas no sentido de discutir, debater as pautas sociais em volta do tema. E aí a gente surgiu nesse meio, porque a gente fazia apresentações culturais, então tinha dança, teatro, música, e como a gente meio que se conhecia de outro movimento, né, da Igreja Pastoral da Juventude, a gente se juntou, assim, com mais proximidade, para fazer esses eventos, né, tocar nesses eventos. Aí a gente fazia covers, até então. A gente tocava Chico Buarque, Marisa Monte a gente cantava... Tribalistas, e aí a gente começou a se encontrar muito para fazer, a gente era um grupo que sempre estava presente nessas datas, sempre tinha uma apresentação e aí é a história do nome até, que a gente estava fora da escola, na parte da secretaria e a gente estava em roda, tocando violão e ensaiando, aí a vice diretora entrou... estava entrando dentro da escola e falou, “gente, por que você estão aí jogadas, vocês estão parecendo umas despejadas”, e a gente ligou esse nome as pautas sociais, né, o despejo da justiça, o despejo da falta de educação, de saúde e tudo mais, que era o que a gente levantava nas nossas apresentações, nas intervenções artísticas.
Lidia: Ah, eu acho que é nas mulheres do nosso cotidiano, né. Eu acho que a gente vem de um processo que primeiro veio... que a gente foi guiada por muitas mulheres também, muitas professoras, nosso trabalho iniciou a partir do dia da mulher, né, então acho que foi vindo a partir disso, depois cruzou com as pautas da Pastoral da Juventude, que era um pouco dessa questão da espiritualidade, mas uma espiritualidade que é para fora da igreja, que é botar a mão na massa...
Vitória: Que é socialmente colocada, politicamente colocada, da ação.
Entrevista As Despejadas Leonardo Bettanim
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Me conta, como surgiu o grupo As Despejadas?
Em quem vocês se inspiram?
Lidia: Da ação, é, que é a ideia que vem da teologia da libertação, que é com Paulo Freire, toda essa galera assim, né. E aí mais tarde a gente foi construindo uma espiritualidade que é mais essencialmente feminina e de luta também, que é de mulheres que estão na luta, de
Vitória: Eu acho que, nós somos artistas independentes, né, só o fato da gente não ser patrocinada já significa que a gente demanda muito do nosso trabalho, a gente não consegue sobreviver só da música, por exemplo, por mais que a gente toque há seis anos, por mais que a gente já tenha gravado um disco, por mais que a maioria de nós seja formada em música, a gente não consegue sobreviver porque a gente percebe que, não só na periferia, mas a arte muitas vezes não é colocada como profissão. É o hobbie, é o dom, é o talento, mas nunca é colocada como profissão e a gente tem e a gente teve muita dificuldade no sentido de, toda profissão ela tem a sua parte burocrática, né, tem seus códigos e a gente foi aprendendo isso ao longo do processo. Como que a gente é contratado por um espaço de cultura, o que que a gente demanda para emitir uma nota fiscal, sabe, e algumas coisas a gente teve que aprender muito na...
Lidia: Ai é muito confuso na verdade, né, porque a gente toca várias coisas, mas a gente costuma falar que é uma Música Popular Brasileira alternativa, mas a gente costuma misturar vários ritmos, né, na maioria das vezes são ritmos da cultura popular brasileira, que é o forró, é o coco, o samba, mas a gente já enfiou, sei lá, guitarra e berimbau na mesma música, rap no forró, o samba e o rap. Então a gente costuma misturar bastante, é bem hibrido a construção sonora da banda.
Vitória: Tanto que Soufrida Luta, que foi a música que foi a nossa primeira composição, ela traz um pouco dessas mulheres. Quando a gente grava em estúdio, a gente chama as que representavam, então o coro das vozes de Soufrida Luta tem mães, professoras, avós, lideranças políticas, todas essas mulheres que a gente se identificava com essa luta cotidiana e mulheres que a gente queria ver também representadas na canção. Já que a gente não se identificava tanto com o que já estava dado, por que não escrever uma música que fosse a nossa história? Então é um pouco sobre isso também.
Qual o gênero que vocês cantam? Vocês se descrevem como o que?
50 mulheres que vencem obstáculos, que conseguem alcançar seus objetivos, acho que por aí também, né.
Vocês também são de Guarulhos, dos Pimentas, né? Vocês acham que, por ser uma região periférica, a dificuldade é maior para trabalhar com música, para lançar os trabalhos e o som chegar na galera?
Nataly: Sem contar que a gente está na periferia inserida na cidade com uma das passagens mais caras do Brasil, né, para a gente ir para São Paulo vai oito reais só de ônibus, só para ir, ainda tem o metrô, então tudo isso conta.
Lidia: Os movimentos sociais também, sindicalistas, toda uma rede de apoio ligadas a essas lutas populares também. Mas eu acho que morar na periferia, ela dificulta o nosso acesso também, né, sair da periferia para ir conhecer, sei lá, a região ali da Augusta, que é um fervo de cultura independente mesmo, né, o Bexiga, é muito difícil também geograficamente você conseguir acessar, conseguir conhecer, saber da existência já é difícil, acessar ainda é duplamente mais difícil.
Vitória: É, aprender na luta, enfrentando cada situação e, por exemplo, a nossa música, a nossa arte ela é atravessada por recortes. Tem o recorte de classe, então a gente precisava pegar um estúdio, pegar um busão. Tem o recorte de gênero, né, a questão da violência, então como que a gente sai à noite, como que a gente é tratado em determinados espaços. Eu acho que, enfrentar também a nossa cidade, a falta de aparelhos públicos, incentivos, lei de incentivo a cultura, isso atrasa muito o nosso trabalho e eu acho que como um todo, de todos os artistas daqui. Guarulhos é um berço que não comporta seus filhos, acredito, porque a cena musical e artística ela sempre se manteve aqui na cidade por si, então é a casa de cultura independente, que chamou o artista independente, que ajuda a fortalecer uma cena independente, e a gente vai, ainda, sobrevivendo nessa realidade. E eu acho que ser artista periférico é um pouco de muito enfrentamento político, principalmente, porque a gente está em um mercado desigual, desigual em questão de classe, de gênero, de raça, e eu acho que as pessoas, os cursinhos, as escolas, os nossos amigos, as pessoas que admiraram a nossa arte, foi o que fizeram manter o nosso grupo atuante durante seis anos. A gente vê que foi uma galera, do Pimentas por exemplo, das escolas, que ajudaram nosso financiamento coletivo, gravamos um disco, ou durante a pandemia, né, uma rifa, uma lojinha, né...
Vitória: Eu acho que, que nem você estava falando, a ideia de furar a bolha, né, as vezes a gente se locomove aqui, constrói o publico aqui, consegue fazer um trabalho de base aqui, mas quando se torna essa parte de atravessamento, de ocupar outros espaços e lugares, a gente tem uma dificuldade até mesmo para que o nosso público acesse esses lugares. Então, desde o inicio, por exemplo, a gente fez questão de lançar o CD na cidade, por mais que o
Nataly: Na raça, né.
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Lidia: Sim, acho que sim...
Nataly: Muito!
teatro fosse defasado, a gente fez questão porque a gente entende, enquanto banda de mulheres que moram no Pimentas, o quanto esse atravessamento envolve muitas questões. Então a gente sempre volta esse olhar para a cidade, para a periferia, nesse sentido.
E vocês como cantoras independentes, pelo fato de serem mulheres, aumenta mais ainda essa dificuldade que vocês estão me descrevendo?
Nataly: Isso!
Lidia: É, a gente consegue ver uma alternativa para estar ali também. Mas quando você vê um lugar carregado de homens, tudo é feito por homens, para homens, você chega no lugar e são homens te olhando torto, são homens estranhando porque são muitas mulheres ali e não tem um homem junto com elas também. Então eu acho que essa questão... essa dificuldade que a gente também teve ao acesso a esse tipo de representatividade, porque quando a gente começou a tocar já tinham mulheres, mas acho que por conta dessa falta de acessibilidade que a gente comentou anteriormente, a gente não tinha acesso a esse tipo de representatividade. Então apesar da gente ter apoio de muitos homens, tem muitos homens que a gente conta, que a gente confia, a gente não se vê. Dificulta um pouco, né.
Nataly: Flui, né.
Lidia: Acho que bastante também. Porque se a gente se reconhece mais facilmente dentro daquele espaço, sei lá, acho que é até uma coisa inconsciente...
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Vitória: Eu acho que quando a gente começou, uma coisa que ficou marcada bastante por todas, foi a primeira vez que a gente começou a tocar fora, ainda no Ensino Médio, que a gente conheceu um projeto chamado Noites Autorais, que acontecia na Padre Celestino, que os artistas da cidade tinham direito a apresentar uma obra autoral, e aí quando a gente chegou no espaço eu lembro que foi meio que um silencio e um olhar assim...
Nataly: Diferente.
Vitória: É, um olhar de espanto.
Lidia: É e às vezes você pedir para ligar um instrumento e o cara falar assim, “tá, mas o cara que vai tocar isso ele prefere tal coisa ou tal coisa”, aí você chega e fala, “não, sou eu que vou tocar, é para ligar desse jeito aqui e é dessa forma, beleza”, então isso é muito comum de acontecer também.
Qual a relação do grupo de vocês com o machismo? Como surgiu essa ideia de querer falar sobre pautas sociais e a luta das mulheres?
Vitória: Então, eu acho que a gente... como a gente falou, a Nataly tinha comentado no começo, a partir dos projetos culturais da escola, os temas sociais chegaram muito mais fortes na gente.
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Lidia: Eu acho que era um tema que ligava todas nós, né, porque nós somos mulheres da periferia, nós somos filhas de retirantes ou racializadas, né, mas a pauta da mulher era universal para a gente, né, então eu acho que foi onde a gente se encontrou mesmo, onde a gente encontrou liga.
Vitória: Aí a gente montou o palco, e na hora... existia uma expectativa também sobre o nosso som, né. Ah, são mulheres jovens, de quinze a dezesseis anos, provavelmente vão cantar uma musica sobre amor, sobre sofrimento e aí quando a gente canta são questões sociais, é questão política, e também gera um espanto. É muito disso, né, dessa expectativa que se coloca sob a mulher, né, sobre o que ela deve cantar, o que ela deve vestir, a questão de você ser boa, então se você é bom, em qualquer área, em qualquer profissão, se você é uma mulher você tem que ser duas vezes melhor porque você precisa provar o tempo todo que você sabe, que você entende. Então isso é um pouco desgastante no sentido de, ah vamos tocar em um espaço, somos nós três, agora né, mas quando a gente tinha um homem acompanhando, um pai, um amigo ou até mesmo um dos rapazes que tocavam com a gente, o técnico sempre ia se referir a ele sobre a questão do palco, ah como você quer que eu monte? Então a gente se sentia o tempo todo... não, é com a gente que você fala, é a gente que entende, é a gente que liga o instrumento, é a gente que carrega os nossos instrumentos, porque a gente via uma necessidade, por exemplo, de em tudo estar sendo assistencializado por algum homem, né.
Lidia: Estranhamento. Oxe, quem é essas meninas nova?
Lidia: É, foi, acho que sim.
Vitória: E a gente não se denominava feminista e aí é engraçado você ver como as teorias chegam e são apropriadas, né, porque quando a gente escreveu Soufrida Luta, que é a primeira canção, que é a nossa letra mais feminista de todas, a gente não tinha a intenção de se denominar feminista, a gente queria falar sobre uma coisa comum a nós que estava acontecendo e nos incomodava. E aí as pessoas começavam, “ah você são feministas?”. A gente falava, “não...”, a gente não tinha, acho que até o acesso a esse conhecimento, sabe, desse movimento, a gente vai se descobrindo durante o processo, eu acho que isso também é interessante, entender a nossa banda como um processo de formação, então as nossas letras acompanham nosso conhecimento sobre racismo, como que o racismo chega para quem é da periferia, acho que através da violência, então vamos entender o que é essa violência, por que que só morre preto, por que no nosso bairro as pessoas são totalmente racializadas e aí a gente vai se questionando certas coisas e vai construindo nosso conhecimento em torno do que seriam essas pautas sociais, de conhecer a nossa realidade, se incomodar com ela e tentar denunciar de alguma forma. Então eu acho que a música sempre foi essa ferramenta para a gente, primeiramente essa ferramenta de denuncia, eu acho, né, que a gente coloca, e depois entender o nosso papel dentro desse processo. Então, o que é a vida? A vida é luta e a vida é amor, né, a vida é contradição, a vida é tudo, então é sobre isso que a gente quer escrever, um pouco sobre isso.
Nataly: A do nosso show de um ano, eu acho, que foi a que o técnico de som perguntou para outra pessoa e não para a Lidia e a Lidia que ia tocar violão, né, foi perguntar... foi tio Celso?
Nataly: Como que queria ligar e aí quando ele foi conversar diretamente com a gente foi uma coisa bem seca, foi outro tratamento quando ele descobriu que era com a gente que ele tinha que tratar do som. Foi pesado também.
Vitória: Eu acho que essa que eu te falei, para mim marcou, a do bar, que a gente entrou, assim, essas expectativas que tinham esse lugar da mulher, do amor, do romance, nunca da força, da autonomia, do poder. Para mim foi a que marcou.
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Vocês me contaram alguns relatos, mas vocês tem alguma situação marcante que vocês sofreram machismo no meio musical?
Nataly: Eu sofro, da minha própria família. (risos) Ninguém da minha família vai nos meus shows. Mas gente assim, que é de um partido político muito bosta, que solta piadinhas, tal, é de se esperar, né. Já ouvi também, “ah vocês precisam cantar umas músicas mais de dançar e tudo mais, o pessoal quer ouvir coisas que espaireçam”, tipo assim, tudo bem, é legal também ter, mas por que a gente não pode falar, por que incomoda tanto assim a gente falar essas questões? Tem que ouvir sim, tem que ir no show sim.
Nataly: De chegar mulheres e a gente, tipo, desabar... uma de nós sempre ouvia e depois ia correr para contar. Acho que isso que marcou mais.
Vitória: Eu acho que também, lugares que a gente não ocupa.
Lidia: Eu acho que é muito cotidiano também, sabe.
Vitória: Nossa, tem tantas.
Nataly: Verdade.
Nataly: É, eu acho que, isso que eu ia falar, uma das coisas mais marcantes é quando a gente recebia, depois de um show, vinha uma mulher falar, “olha, foi muito importa estar aqui no show porque eu sofria violência e vocês me deram força, eu vou ter força, eu vou sair daqui e vou denunciar”, sabe, eu acho que para mim nesse sentido foi o que mais marcou.
Vitória: Eu acho que o que acontece também é a questão do nosso som ser prejudicado por conta de artistas, por exemplo, dentro de um meio e aí a gente encontra a questão... dentro do próprio movimento de luta a gente enfrenta machismo e a gente teve que desromantizar esse lado, porque a gente já teve músicas, parcerias que a gente teve que romper por conta do machismo, da violência, do assédio, as vezes nem com a gente, mas com outras companheiras.
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Nataly: É porque, não é que eu não queira colocar como um problema, é um problema, só que acontece tanto que a gente nem vê como uma coisa marcante, né, vê como uma coisa “ai, mais um...”, a gente tem que enfrentar, assim.
Vitória: Todo show!
Vocês fazem um som muito político, por conta disso, vocês também sofrem preconceito por conta desse som, de pessoas que não aceitam, criticam a militância?
Lidia: Isso é democracia, né, a gente vive em uma democracia também.
Nataly: Eu acho que Sonhos em Cativeiro.
Lidia: Às vezes é até o próprio estado. Recentemente a gente recebeu um convite que era, tem esse evento aqui só que não pode falar sobre política aí eu não sei se vocês tem uma playlist que é mais sobre um tema que não é política, que não critique o governo, né, recentemente a gente até recebeu um convite assim que a gente falou, “oxe, então a gente não vai porque se não a gente não canta”, faz parte da essência da banda. Não é nem que a gente não tenha músicas, eu acho que toda música tem um posicionamento político, mesmo que ela fale de amor, mesmo como isso vai ser explicito ou não, mas a essência da banda é ter essa pegada política, né, crítica social.
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Vitória: O fato de lugares que a gente nunca consegue ter acesso como banda, sabe.
Nataly: Por conta desse preconceito, é verdade. Porque a gente nem se arrisca de ir na casa perguntar porque a gente sabe que vai levar um não.
E para quem não conhece vocês, As Despejadas, qual música vocês recomendariam para a pessoa, aquela que melhor resume a essência de vocês?
Vitória: Como a gente teve que se adaptar também, nesses dois últimos anos, a esses outros espaços, que se tornam violentos de outras formas.
Lidia e Vitória: Sonhos...
Vitória: A gente percebe, por exemplo, cantores que tem a nossa pegada mesmo, a gente não idealiza muitas vezes patrocínio, a gente não idealiza muitas vezes apoio de marcas, e eu acho que nesses dois últimos anos eu nunca ouvi tanto o “não critique o governo”, nesses seis anos de banda, esses dois últimos anos, principalmente por se tratar de um espaço virtual, que eu acho que as pessoas tem muito mais controle sobre nosso trabalho, principalmente quando ele não é ao vivo, então por exemplo, quando a gente vende uma live, um show gravado, a pessoa que compra tem o direito de colocar a aparte que ela quer. Eu acho que isso limita muito também o nosso poder de critica, em certo sentido, porque muitas vezes a gente ouviu um não fale, mas a gente estava lá no palco falando que a Prefeitura de Guarulhos não estava nem disponibilizando o papel higiênico do teatro, sabe, pisando no palco do teatro. Não é porque a gente foi contratada que a gente romantiza né.
É muito complicado para você viver da música?
Nataly: Sem um puto no bolso.
Começa se apresentando, me passa seu nome, idade, de onde você vem, qual gênero você canta/produz?
Olha, é bem difícil. A música no nosso país já é um segmento que não é muito valorizado, a não ser que você esteja naquele meio que o pessoal fala que é o mainstream, então quando você não está nesse mainstream as pessoas imaginam que você nem... vamos dizer a real, que você é um vagabundo, que você não faz nada. O meu segmento, como é um segmento mais de ativismo e também vamos dizer assim, pioneirismo, né, porque eu sou uma das primeiras do movimento, então assim, eu criei meu próprio estúdio, então do meu estúdio
Nataly: Tanto sonoramente quanto a letra, né.
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Entrevista Luana Hansen Leonardo Bettanim
Nataly: A gente assiste e fica assim...
Eu sou Luana Hansen, eu sou DJ, MC e produtora musical, atuo dentro do movimento hip hop há vinte anos, o segmento que eu trabalho é rap de ativismo, tenho inúmeras músicas, mas a grande maioria do meu trabalho as pessoas conhecem através de uma arte mais voltada pro ativismo, eu tenho letras a favor do aborto, letras como Lei Maria da Penha e muitas outras, então a vertente do meu trabalho é essa e eu sou uma mulher lésbica e negra dentro do movimento hip hop.
Lidia: A gente assiste e fica, “caraca, nós conseguimos fazer isso?”.
Lidia: É, eu acho que é um combão de tudo, tem poesia, tem a música que é esse ritmo brasileiro, eu acho que é uma música que a gente canta muito junto, isso é muito característico do nosso trabalho, assim, ter as nossas vozes juntas, fazendo, então eu acho que é uma música que apresenta a banda, assim, com os dois pés no peito já. O nosso clipe também, que foi mó produção, que nem a gente acredita que conseguiu fazer.
Não, eu acho que é um problema social, colocar nós assim... sim, eu faço parte de um país de terceiro mundo e eu não sou uma pessoa leiga, já tive o privilegio, vamos dizer assim, de ir para lugares e entender um pouco a coisa. Não, não é só do Brasil. Estrutura racista ela convive em qualquer lugar do mundo. Já nasci negra, dentro de uma sociedade onde já não tinha muito espaço para mim, aí eu me posicionei como uma mulher lésbica assumida, aonde eu sou casada no papel com uma outra mulher e tenho uma família, então acho que são várias
58 saíram outros nomes, como Linn da Quebrada por exemplo, outros nomes saíram do meu estúdio, então eu tenho esse privilégio de ter essa bagagem de muito tempo e ter escrito músicas sólidas, que me trouxeram prêmios, que nem “Lei Maria da Penha”, “Flor de Mulher”, que traz esse recorte, “Ventre Livre de Fato”, que são músicas que falam de temas que, mesmo hoje, ainda não foram abordados, por exemplo a legalização do aborto. Então, eu acho que isso fez com que meu trabalho tivesse algumas oportunidades. E eu faço outras coisas, por exemplo, eu sou sonoplasta, então eu faço sonoplastia de teatro, eu faço palestra, eu sou palestrante, trabalho com trilha sonora e trabalhamos com o estúdio, que eu gravo vozes, então as vezes uma pessoa chega aqui e eu consigo fazer uma produção, e sou DJ. Então, entendeu como que é viver da música? Não da para você viver só da música achando que você só vai cantar, eu pelo menos não consegui, tive que fazer milhões de coisas para viver de música e viver vinte anos dentro do segmento da música. Porque ser mulher dentro de um movimento que é muito machista já é difícil, aí você é lésbica dentro do movimento que é misógino, então para você ter uma ideia, eu acabei de fazer um lançamento de trinta e cinco músicas na plataforma digital e não saiu em nenhuma rede, nenhum lugar, nenhuma divulgação, porque a divulgação tem que ser a gente que tem que correr atrás disso. E aí eu vejo outros artistas que conseguem essa visibilidade, então eu acho que tem muito a ver sim com a sopa de letrinha que a gente faz parte e eu sou uma mulher lésbica, lembra, lésbica, negra, dentro de uma sociedade que é machista, misógina e patriarcal. Então eu acho que é bem complexo o meu trabalho ser aceito dentro do Brasil. Fora do Brasil eu sou muito bem aceita. Eu já estive na Alemanha, a gente já esteve em Linz, na Áustria, então a gente é muito bem recebido lá fora, a gente tem projetos com pessoas lá de fora, era para nós ter ido para Liubliana, lá na Eslovênia, a gente só não foi devido ao Covid, então é muito engraçado eu ver que o meu trabalho consegue atingir lugares que nem falam português, mas dentro do Brasil quase ninguém faz questão de me ouvir.
Você acha que isso é um problema do Brasil, o Brasil não está preparado...?
Porra! Porque quando eu comecei tinha Sharylaine, para você ter uma ideia a gente cantava com a Dina Di, na quebrada, Negra Li, eu sou de Pirituba, zona Oeste de São Paulo, então eu vim com a galera do RZO, Sabotage, então assim, a gente vivia na quebrada, só que eu sou de uma época que eu sabia que as mulheres tinham direito a um refrão, então a gente cantava nos refrão e beleza. Aí eu fui montar um grupo só de mulher, isso em meados de anos 2000, eu lembro o quanto que foi foda manter esse grupo e a gente chegou a ganhar Hutúz, a ganhar prêmios dentro do movimento hip hop, a gente participou do Antônia, a gente fez várias coisas dentro do movimento hip hop por sermos pioneiras e sermos três mulheres negras e a gente cantava, o grupo chamava ATAL, Tina, Angélica e Luana, com a mesma ideia do Destiny’s Child e com a mesma ideia do TLC, então essa era a ideia do nosso trabalho, cantar músicas mais nessa vertente trazendo empoderamento para as mulheres negras, que era essa a nossa ideia, fazer com que as mulheres se sentissem empoderadas, né, porque eu venho de uma época na música que a gente estava alisando o cabelo ainda no formol, ninguém estava empoderando o cabelo para cima e colocando o Black Power, a gente está falando de dez, vinte anos atrás, como você falou. E eu lembro o quanto que foi difícil para mim cantar porque eu lembro que eu queria fazer rap, eu queria cantar mais do que um refrão. Eu tive brigas ferrenhas, ferrenhas com todos os MCs que eu trabalhei porque eu sempre fui levada como chata ou muito impositora porque eu sempre quis fazer um bagulho inteiro, eu sempre quis falar, não, peraí, eu quero fazer a música inteira, do começo ao fim, com refrão, “ah não, não, tem que ter um cara”, então assim, sempre foi muito difícil e a prova disso foi que eu tenho três discos que eu gravei. Então eu não vou dizer para você que foi fácil. Não sei a trajetória de outras mulheres, eu estou falando da minha trajetória, novamente, porque eu sou uma mulher lésbica, lembra, existem vários recortes, eu sou essa mulher lésbica, então no caso do meu recorte foi assim, eu nunca tive uma porta muito bem aberta, nenhum cara por exemplo falou “oh mano, vamos produzir um som com você”,
Sim. E lá no começo, quando você começou na música, só focando no fato de você ser mulher, você acha que isso já foi uma grande dificuldade para você começar?
59 coisas que fazem com que meu trabalho não seja ouvido e não é culpa do Brasil, a gente não é educado a ter história, tanto é que a gente tem esse babaca como presidente como representante do nosso país. Então se o nosso país fosse um país que tivesse consentimento histórico e a gente fosse lá pesquisar, a gente realmente não ia estar passando o que está passando.
Era até isso que eu ia perguntar para você agora mesmo, se você já presenciou ou vivenciou atitudes machistas? Se você puder contar relatos seus, estou aberto para ouvir.
Eu tive uma música que o Rico Dalasam me chamou para participar, chama “Deise”, que ele fez uma releitura do primeiro disco dele e aí ele me chamou para participar de uma música com ele. Essa música é uma das minhas músicas mais ouvidas na internet e tantas outras que eu tenho, eu vejo que não tem o mesmo peso, as pessoas não dão essa mesma ouvida, entendeu, aí eu percebo isso. Sei lá, não é só eu. Eu sinto que o movimento é bem complexo em questões de contratação também, eu já ouvi de contratante que é mais foda contratar uma mina, não vai ter público, sabe, e aí é meio triste, porque a gente meio que trabalha tanto quanto os caras para produzir uma música e por na internet. E aí eu sempre percebo que às vezes, não é querendo falar, mas os caras conseguem, até sem grana, fazer um trampo melhor do que a gente.
Eu conversei com uma mulher e ela me disse que, por ser mulher teria que mostrar o dobro para conseguir chamar a atenção e conseguir conquistar as coisas, diferente de um cara que pode fazer o básico e chegar lá muito mais fácil.
60 comigo não rolou. Comiga era, ou a gente tinha que pagar muito caro para fazer os trampos, porque eu lembro que quando eu tinha a ATAL, nego me cobrava três mil reais em um beat, absurdo isso, não vou pagar, e depois que eu comecei a produzir, entender como funcionava a produção, eu mesmo comecei a produzir os meus trabalhos, e eu tinha tanto medo as vezes de mostrar para as pessoas porque eu tinha tanto medo de ser... sempre me perguntava, quem produziu? Aí eu falava, eu, e a galera meio que já não ouvia. Aí eu entendi que sempre parecia que tinha que ter um grande nome masculino em cima do seu trabalho para que alguém te ouvisse. Eu lembro que teve músicas, por exemplo, que eu gravei com os meninos, porque eu tinha outro grupo que era só caras, eram duas minas e cinco caras, chamava Força, que a gente gravava, por exemplo, a gente gravou com o Sandrão do RZO, aí a galera ouviu o trampo, porque era homem, entendeu. Então eu sempre percebi que os trampos eram muito mais difíceis de serem ouvidos. E aí com o decorrer do tempo, com o passar dos anos, hoje eu percebo que esse machismo ainda impera, lógico a gente tem grandes produtoras, grandes nomes de grandes produtoras, só que eu ainda percebo que ainda tem um peso um cara produzir um trampo, tá ligado.
Você vem do hip hop, faz parte do hip hop, e você já contou relatos, mas focando no hip hop... não só hip hop, todos os gêneros, mas o hip hop é um gênero muito machista?
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Porra e é muito louco isso, porque por exemplo, que eu que sou mãe, eu tenho duas crianças comigo, aí eu e minha esposa, né, aí eu percebo que também tem esse lado, até nesse lado as coisas pesam, porque tudo para nós agora gira em torno das crianças e aí as vezes eu vejo que um cara até é pai, mas ele consegue ter a liberdade para conseguir ir produzir, fazer várias coisas que a gente já não consegue ter esse apoio, a gente tem que fazer tudo nós por nós. Eu acho sim, bem machista a sociedade ainda, e fora que, desculpa, a sociedade não está nem preparada para a mulher sair para ser dona de alguma coisa, quanto mais um homem aceitar que uma mina saia para fazer show e ele ficar em casa cuidando da filha enquanto ela vai fazer uma turnê no interior de São Paulo.
Olha, vou falar para você assim, quando eu comecei, há vinte anos atrás, eu enchia a boca e falava, nossa o rap é um gênero muito machista, só que eu ia ser injusta com um movimento que, mesmo eu sendo lésbica, mesmo sendo machista, eu existo nele há vinte anos. Eu existo dentro do movimento hip hop. Nenhum outro movimento abraçou, me viu na rua quando eu estava na rua, me olhou na esquina quando eu era menina periférica, então é muito injusto eu virar para o hip hop e falar agora que o hip hop é machista. Não, a gente vive em uma sociedade machista, a gente vive em um sistema machista, então você culpar o rap é ridículo. Você fala que no funk não tem machismo? Tem machismo. Se você falar que no axé não tem machismo, tem letras horríveis. No sertanejo, se você falar para mim que não tem, pagode... então não, tem machismo em vários segmentos, só que existe machismo diferenciado. Por exemplo, no segmento sertanejo você pode falar, ah mas tem as grandes cantoras do sertanejo, mas por trás delas tem um grande produtor, por trás delas tem um cara produzindo elas, e o sertanejo é um outro segmento muito milionário que ninguém entra ali sem uma cabecinha de gado, nós estamos falando do rap, segmento que vem da rua. Eu acho assim, o rap é machista? É machista, mas empodera muitas mulheres, as letras das minas do rap são letras muito empoderadoras, que se você parar para ouvir as minas do rap, ouvir alguns raps e separar para você ouvir você vai ver que o rap empodera. Então eu acho assim, o movimento hip hop ele está aprendendo, assim como qualquer outro movimento, qualquer outra coisa, a evoluir. Lógico, ele está evoluindo devagar porque a nossa sociedade evolui devagar, mas eu acho que o rap é tão machista quanto qualquer outro segmento da sociedade, sabe, mas eu faço parte do movimento hip hop, então eu posso afirmar que não é fácil ser mulher dentro do movimento hip hop, a minha esposa precisa ter um trabalho... ela por
Olhando hoje e há vinte anos, o que mudou? Para as meninas que vão começar a cantar agora, facilitou em algumas partes, mas outras dificuldades novas apareceram ou segue a mesma dificuldade?
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exemplo trabalha no telemarketing, um trabalho paralelo, para eu poder viver de música, entendeu, para eu poder estar aqui dando entrevista para você em plena quatro horas da tarde de uma terça feira e ter internet paga para isso. Não é o rap que está me proporcionando isso, então é bem complexo viver de rap no nosso país, mas é o que eu vivo, é o que eu faço, mas foi o segmento que me olhou, que me deu um estúdio, que me fez ser conhecida internacionalmente. Então assim, o rap é foda, é difícil, mas eu não sei se eu sendo mulher negra em outro segmento seria mais fácil para mim.
Olha, por exemplo, eu acho que hoje as pessoas tem uma coisa que eu não tinha, hoje as pessoas tem uma coisa que faz o diferencial que é a representatividade, então hoje eu posso entrar na internet e colocar lá minas no rap e vai aparecer uma tabela de meninas daqui, do Brasil inteiro, não vamos ser sulistas, se você for olhar você tem minas do nordeste, mina em vários lugares mandando rap foda, temos pessoas indígenas fodas, rap indígena, então assim, depende do seu leque. Eu as vezes entro no Spotify e coloco rap da Alemanha de mina e escuto só mulher da Alemanha, então vai do que você quer ouvir. Eu acho que hoje tem esse diferencial, você pode escolher o gênero que você quer fazer, se você quer fazer trap, hip hop, old school, boom bap, mano, não interessa o que você queira fazer, você tem a MC que você pode olhar e você tem uma estrada que já foi traçada, entende, você na vai começar do nada, você já tem uma história, tem uma Sharylaine que gravou, tem uma Dina Di, uma Nega Gizza, tem várias minas até chegar você que está começando agora, então eu acho que, porra mano, cabe a você continuar a história. Eu acho que para quem está começando agora tem esse diferencial. Porque quando eu comecei eu tive que sair no tapa para subir no palco porque os caras não queriam deixar eu subir, desligavam a caixa de som quando eu ia cantar, eu estava sozinha em um evento, tinha vinte, trinta caras para duas, três minas. Então hoje a gente tem a Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop, hoje nós temos o Hip Hop Mulher, que são grupos onde você pode trocar ideia com a parca, então hoje você não está tão sozinha. Hoje se você for agredida e colocar esse vídeo e denunciar, você vai ter uma par de mina que vai comprar a ideia com você. Então eu acho que hoje a rede pode se ajudar. Tem uma coisa chamada rede e eu acho que essa rede pode fazer a diferença.
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O mundo prega uma rivalidade feminina horrível. Dentro do rap também tem isso ou você acha que as mulheres se apoiam mais?
Você falou de letras machistas, você consegue citar alguma música, não importa o gênero, mas musica nacional que você ache que a letra não tem nada a ver, é machista e faz sucesso, as pessoas não se tocam ou se tocam e mesmo assim ignoram?
Olha meu, eu fui a pessoa que fez isso há um tempo atrás. Se você for jogar no Google e foi ver a MC que falou para o Emicida que “Trepadeira” é machista foi eu e eu sofro as consequências disso. Então, hoje eu tenho quarenta anos e eu não vou puxar essa responsabilidade para mim, não vai ser eu que vai chegar aqui e falar, essa letra é machista ou essa letra é misógina ou esse pagode é homofóbico, porque depois quando eu for soltar o som na quebrada sou eu que não vou ter espaço para cantar. Eu fiz isso, eu fiz isso cara, se você entrar no Uol agora e colocar, fui eu que estou falando pro Emicida que a musica dele “Trepadeira” é machista e toda vez que ele defende a musica e fala que as mulheres que não entenderam a música, entende, eu me fodo. Então eu não vou fazer isso dessa vez. Eu acho assim, eles tem o direito, eles são os homens. Que nem o Criolo, eu acho que homem grandioso foi o Criolo que escreveu uma música transfóbica e teve a coragem de refazer a letra, eu acho que isso é uma grande coisa a se dizer. Agora, eu não vou de novo me colocar nesse lugar porque eu já fiz isso e já me fodi muito, eu perdi muito e hoje o cara é ovacionado e quem não tem shows e quem não tem o mesmo espaço às vezes sou eu, entendeu, então eu não vou fazer isso. Eu acho que tem milhões de músicas machistas e não sou que vou ficar
Olha meu, eu não sei, eu acho assim, a gente se apoia na dor, entende, eu acho que quando eu sofro uma dor que você sofre também, você vai ter uma coisa chamada empatia pela minha dor. Eu acho que o movimento hip hop a gente sofreu muito, porque é um movimento que ninguém quer olhar para nós, ninguém quer investir, ninguém quer fazer ver. Hoje em dia o rap perdeu muito espaço de show. Eu venho de uma época onde a gente tinha dez, vinte, trinta eventos num dia de rap para ir, dez casas noturnas tocando hip hop. Hoje em dia se tiver duas, três casas em São Paulo, tocando só rap é difícil, que vai contratar MC para cantar, vai contratar b boy, grafiteiro e todos os quatro elementos do hip hop? Difícil. Então a gente se apega hoje em Mês do Hip Hop, em Semana do Hip Hop, em eventos que vier, alguém faz um evento de festivais e aí coloca um rap no meio e a gente é agraciado, mas está bem difícil, entendeu, então, eu acho que a tendência é a gente, meu sei lá, se unir. Não tem outra ideia.
Sim, porque é isso, né mano. Eu nunca tinha entendido essa pirâmide de verdade, de poder, até eu entender que eu estou na base dela mesmo. Existe mesmo isso, o homem branco, a mulher branca, o homem negro e a mulher negra, e eu estou abaixo dele, eu sou a mulher negra, lésbica, então eu estou mais abaixo ainda, ele é hétero. Então, ele tem toda uma produção, eu não tenho, então por que que eu vou ficar atacando? Eu ataquei na época, um monte de gente veio junto e depois isso foi abafado e ficou quieto e esquecido, e a música não deixou de ser machista, sabe, nada se mudou. Então eu acho que é isso, não que eu tenho sofrido, eu continuei trabalhando, mas é aquilo que eu te falei, eu trabalho porque eu tenho o meu próprio estúdio, eu produzo porque eu ainda estou produzindo. Porque a partir do momento que eu me posicionei, como minha esposa que está aqui do lado falou, a partir do momento que eu me posicionei e falei isso, eu fechei portas, porque, vamos dizer assim, você está atacando um império sozinha, eu estou falando que é machista sozinha. Aí você vira mimizenta em uma sociedade que não escuta o discurso no pé da letra, sabe, tipo a violência
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aqui dizendo quem é e quem não é machista para depois isso virar contra mim. Eu acho que as pessoas precisam ter consciência, se você tem consciência de classe social tem musicas que você já não vai ouvir, então você sabe que tem músicas machistas.
É, porque mano, é foda. Que nem hoje, eu falo para você, eu estou muito tempo dentro do rap e eu já passei dessa fase do deslumbre, de ver várias coisas, sabe cara, e eu que hoje eu tenho minha família, sabe, e muitas vezes a gente vê que, mesmo pessoas ativistas, mesmo movimentos ativistas, se você não está ali toda hora fazendo o papel de ditador, dizendo o que é certo e errado, parece que as pessoas não te ouvem mais. Então eu preferi hoje... não que eu não ache que ele não seja, eu ainda acho que ele é machista, que ele tem grandes outras virtudes, mas essa letra é machista e não adianta, enquanto ele não entender isso, para mim o dia que ele entender eu vou ter ganhado essa causa, mas é isso, eu não vou ficar falando porque depois quem sofre as consequências é sempre o mais fraco, a corda sempre vai estourar para o lado mais fraco.
E você acha que o fato da corda estourar para o seu lado foi por causa de você ser mulher, negra, lésbica, essas coisas?
Você falou de “Trepadeira” e nessa pesquisa que eu estou fazendo, “Trepadeira” é uma das músicas que eu apresento para as mulheres, para pedir opinião, baseado nesse seu comentário que você falou que está na internet. Mas você está certa então não quere comentar, entendo certinho seu ponto de vista...
Sobre essa resposta, como que foi a recepção?
Então assim, eu já meio que, hoje eu tenho dois filhos, eu preciso trabalhar, então eu não estou afim de ser polemica e só trabalhar porque eu sou polemica, e nem sensacionalista. Eu entendo que a sociedade é machista e eu vejo nos meus números, é só pegar méis números no Spotify e comparar com qualquer outra artista, qualquer outro, vai lá ver quantas pessoas me dão play e quantas pessoas dão play em outros artistas que às vezes tem o mesmo discurso e às vezes é foda porque eu lanço uma música hoje, aí da três, quatro dias e alguém lança uma música com o mesmo tema e a pessoa tem trezentos milhões de visualizações e eu só tenho cem, sabe, é isso e eu já meio que hoje já entendi muita coisa. Antigamente eu ficaria aqui com você citando um monte de nome, falando, mas meu... tem a “Trepadeira”, que a gente fez a resposta para ela, é “Machocídio”. Quando eu escrevi “Machocídio” junto Jupter, Sara Donato e Souto MC, eu acho que a resposta já estava ali, sabe.
Quando a gente fez “Machocídio” foi muito interessante que a música bombou na época e foi maravilhoso, porque depois disso eu lembro que veio o Rap Plus Size com toda força e a Souto também se destacou, e eu percebo que é isso, a gente ganhou espaço, a gente se destacou. É que nem você falou, você foi atrás e talvez você conheça meu nome porque você foi atrás de um Google lá que saiu meu nome, então assim, nem tudo é de todo mal, a gente está aqui para isso. Eu acho que o fato de eu existir é uma maneira de... eu ainda acredito, sabe, que eu estou existindo, eu estou persistindo, faço meu trabalho totalmente, ano que vem a gente vem com mais trabalhos novos. Eu não vou parar de produzir, eu tenho meu próprio estúdio, eu tenho boca, eu tenho voz, eu tenho criatividade, vou continuar fazendo projetos e projetos, escrever outras coisas também, falar de outras coisas, mas eu nunca vou deixar de ser ativista porque eu sou lésbica, entendeu, eu sou uma mulher lésbica que convive em uma sociedade que é machista, então para mim é meio que foda se, vou continuar fazendo o meu trabalho, posso não ter a visibilidade que eu quero ter mas eu vou continuar persistindo no meu trabalho até eu fazer aquilo que eu achar que é o suficiente para mim.
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da mulher aumentou para caramba, nós vivemos momentos de pandemia onde o numero de índice de violência contra a mulher aumentou muito nesses dois anos, e aí cara, é foda se?
Você poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória no Hip Hop?
Meu sonho sempre foi querer fazer parte da cultura Hip Hop. Pensei em ser B.Boy, mas não era muito bom na dança, ser MC eu nunca tentei, apesar de arriscar algumas rimas na escrita, grafite e DJ sempre foi algo bem distante pois envolvia grana e tal. Eu sempre consumi muito conteúdo de rap, seja pela TV, rádio ou revista. Com a chegada da internet, na época do Orkut eu descobri um mundo à parte chamado “Comunidades de Hip Hop” de todos os tipos, blogs e sites de rap. Meu pontapé inicial foi com uma comunidade de download de álbuns e mixtapes de rap (2006), tanto que foi assim que um colega me inseriu nesse mundo de blogueiro. Eu entrei num blog chamado “Portal Hip Hop”, meu papel inicialmente era colaborar na parte dos Downloads. Com o tempo fui aprendendo a noticiar e fazer outras fitas. Em agosto de 2007, eu criei o até então blog chamado “Hip Hop Rap News”.
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Primeiro queremos saber um pouco sobre você Anderson, conta pra gente quem você é, e um pouco da sua história
Entrevista Anderson Hebreu Joyce Nayra
Péssimo nome, mas era a mania de achar que americanizado é mais daora. Mesmo na época não dominando bem a escrita, não que hoje eu domine, mas dei uma melhorada. O blog cresceu muito em 2 anos, e por volta de 2009 ou 2010 eu deixei de publicar download não autorizados e passei a noticiar, entrevistar e trazer algumas matérias com conteúdo mais em português do que o que vinha dos Estados Unidos. E estamos aí até hoje, 14 anos no corre independente.
Desde então o rap virou minha trilha sonora, meu posicionamento político, minha afirmação enquanto negro e periférico e muitas outras fitas que o rap e a cultura Hip Hop me levou.
Sou Anderson Rodrigues Antunes, tenho 33 anos, filho mais velho da Dona Maria e Seu Odair de um total de 3 irmãos, nascido e criado na periferia da zona sul de São Paulo. Ouço rap pelo menos desde que me entendo por gente. Houve um período em que meu pai ouvia rap em casa, tanto que a primeira lembrança que tenho de um rap é “Fim de Semana no Parque” do Racionais MC 's, isso por volta de 1994/1995. Mas foi quando saiu o álbum “Sobrevivendo no Inferno” que eu fui começar a saber o que era rap.
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Minhas influências dentro da cultura Hip Hop vêm das ações do projeto “Escola da Família” (Projeto muito famoso em São Paulo no fim dos anos 90 e meados de 2000. As escolas eram abertas à população do bairro com atividades culturais e atividades físicas e esportivas) nessa época tinha aula de dança (break dance), aula de grafite, desenho e etc. Frequentei bastante. O Espaço Rap da 105 FM, que está praticamente 30 anos no ar, de ver o KL Jay apresentando o Yo! Rap na MTV. E posso dizer que meu pai, mesmo sem querer é uma influência, pois talvez se ele não tivesse ouvindo seus vinis de samba e rap, em específico o do Racionais que tem a música “Fim de Semana no Parque”, que é um som que fala da quebrada em específico da zona sul. Sei lá, talvez quando eu ouvisse as músicas do Sobrevivendo no Inferno na rua eu não teria dado a devida atenção que eu acabei dando desde então. Acho que meu pai plantou a semente do que depois eu fui cultivando e tal.
Quais foram suas influências no movimento hip hop?
Além do que eu disse anteriormente, as obras do grupo me influenciaram no modo em que eu passei a olhar para a quebrada, para a política e também a forma como eu passei a me ver etnicamente falando.
Em nenhum momento eu tive duvida da minha negritude, pois eu nasci numa família preta (pai e mãe pretos pele escura), mas a fita de ser o mais claro dos filhos foi me pegando de acordo com que eu fui crescendo. Porém, o fato de eu ver o KL Jay na TV era um acalanto para os meus pensamentos e questionamentos sobre ser negro, pardo, mulato, moreno e outras definições da época. O KL Jay era um homem preto de pele clara, dito pardo na TV falando sobre negritude, o Mano Brown era um homem preto de pele clara, dito mulato falando sobre ser preto na quebrada e isso realmente moldou meu caráter e minha negritude. Eu sempre vi os dois como espelho em diversas situações e opiniões. Não é exagero nenhum pra eu dizer que o Racionais é aquele irmão mais velho responsável que te educa na ausência de um pai ou uma mãe. Meus pais sempre foram presentes, mas como eles veem de uma família evangélica e são evangélicos até hoje, papo de negritude e outras fitas do mundo eram e são tabus em casa. Politicamente falando a cultura Hip Hop que me educou.
Em algumas entrevistas sua, vi que o trabalho dos Racionais mc´s foi muito importante na sua trajetória, de que forma o trabalho dos mc´s impactou sua vida?
Qual música você considera mais importante?
“Ninguém é mais que ninguém, absolutamente, aqui quem fala é mais um Sobrevivente” Formula Magica da Paz.
Ele começa com "Capítulo 4, Versículo 3, passa por “Tô ouvindo alguém me chamar” e Diário do Detento que trazem um clima tenso de revolta e ódio e termina com "Mágico de Oz” e “Formula Magica da Paz”, que traz um pouco de esperança e paz.
Para você qual a importância do disco Sobrevivendo no inferno?
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Destaco essa frase, porque graças ao rap e a educação dos meus pais eu nunca tive nem perto de entrar para o crime mesmo vivendo em meio a tanta violência, drogas e várias fitas de quem é de quebrada desde os anos 90 passou. Hoje com 33 anos, eu vejo o quão importante foi a cultura Hip Hop na minha caminhada para que eu sempre fosse pela escolha do lado certo.
É muito difícil dizer qual música é mais importante, pois a importância de uma obra dessa é meia subjetiva. Se essa pergunta me fosse feita pra mim quando eu estivesse com 20 anos, eu diria “Diário de um Detento” ou "Capítulo 4, Versículo 3”. Porém, hoje em dia eu me identifico mais com "Mágico de Oz” e “Formula Magica da Paz”. Talvez pelo fato de ser mais maduro, o sentimento de ódio e revolta faz muito mal pra gente e acabamos ficando mais emotivos e racionais. Essas músicas mesmo tendo um viés triste, elas nos inspiram em ter esperança de que um dia isso vai acabar, ou pelo menos diminuir.
Gostaria de destacar algum trecho que considere importante?
“Sobrevivendo no Inferno” é a pedra angular do rap escrito em português. Posso estender para os outros países que também fazem rap em nossa língua despreocupadamente. Não tem um álbum escrito em português que tenha esse conteúdo e importância. E conversando com amigos que pesquisam o rap feito na América Latina, eles dizem que não existe nenhum grupo que tenha a importância do Racionais MC 's. Esse álbum nos ensinou a amar e sentir ódio. Amar a quebrada e as coisas boas que há nela e odiar o sistema que criou a favela e os problemas que há nela.
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Apesar do Racionais não serem os pioneiros, mas um dos. Sempre é bom lembrar que Thaíde, Rose MC, Black Juniors, Os Metralhas, Sharylaine, Ndee Naldinho, Sampa Crew, Rubia RPW e muitos outros contribuíram também para o desenvolvimento do rap em São Paulo. A gente pode até dizer que esses mais o Racionais ajudaram no desenvolvimento do rap nacional, porém não podemos esquecer que cada quebrada do Brasil teve seus pioneiros e fomentadores da Cultura Hip Hop na sua cidade ou estado. Mas não podemos fechar os olhos para o fato de que o Racionais furou a bolha da quebrada. E se hoje temos um Emicida num GNT, um Djonga fazendo comercial, uma Karol Conká no GNT, a Drik Barbosa fazendo uns trampo lindo e diversos artistas sendo visto fora da bolha do rap nacional é porque um grupo com membros da zona sul, da zona norte de São Paulo abriram o mar pra muitos mc’s fazerem rap e outras fitas.
Você acha que o sucesso do disco ajudou no desenvolvimento do rap nacional?
Após o álbum “Sobrevivendo no Inferno”, os grupos de rap passaram a ser mais “agressivos” em suas letras, assim como o Racionais foi nesse álbum. O próprio grupo Facção Central mudou de postura em 1998, quando lançou o álbum mais tenso chamado “Estamos de Luto” um ano após o lançamento do Sobrevivendo no Inferno. Não que antes ele era um grupo de gozolândia, mas o próprio Eduardo já disse que se inspirou muito no Racionais. E não só o Facção Central, mas daí surgiu Realidade Cruel, Detentos do Rap (grupo formado dentro do Carandiru), 509 E e por aí vai. Houve um grande período que os rappers dito Gangsta beberam muito da fonte nesse álbum.
Acredito que deveriam sim prestar atenção nesse álbum para entender o contexto histórico da época e saber o real motivo do porque o Racionais é o que hoje não só por conta deste álbum, mas por conta de toda sua obra discográfica. Mas acredito eu, que um álbum como o “Sobrevivendo no Inferno” hoje não teria o mesmo impacto se fosse lançado nos tempos atuais. Apesar de esmagadoramente os problemas e situações citadas nas músicas
Para você o hip hop mudou desde o lançamento do Sobrevivendo no Inferno?
Isso com certeza!! O Racionais sempre ditou moda e os grupos daquela época se inspiravam nas fitas e conceitos do Racionais.
Se sim, o que você acredita ter mudado?
Você acha que os Mc 's que estão no hype deveriam prestar mais atenção nesse disco?
Como você conheceu a Ana Rosa e de que forma ela colabora para o desenvolvimento do Noticiário Periférico?
A Ana e eu fazíamos parte de uma comunidade no Orkut do grupo G Unit, mas foi quando o grupo migrou para o Facebook e até no WhatsApp que nos aproximamos. A primeira colaboração da Ana se não me engano foi quando eu tinha um quadro chamado “Opinião Periférica”, que foi um quadro que durou bons anos onde eu entrevistava pessoas que eu admirava as ideias. Mas a ideia central era entrevistar pessoas que não eram famosas e de preferência que não fosse MC, mas sim um fã de rap ou alguém que tivesse algo relevante
Como eu disse anteriormente, eu sempre quis me inserir na cultura Hip Hop de alguma forma e quando eu descobri que eu poderia fazer parte do rap e da cultura Hip Hop através do 5° elemento que é o conhecimento. Foi quando eu decidi mudar o nome do blog, comprar um domínio e o chamar de Noticiário Periférico. O nome veio porque o slogan do site era “Da periferia pra net, da net para a periferia”. Na época eu achei que era um nome bem impactante e original. E foi a partir da mudança de nome que ele tomou um rumo mais sério e tal. Não era mais só notícia de rappers celebridades estadunidenses e download, mas agora tinha entrevistas autorais, textos autorais, seja meu ou de colaboradores, leitores e etc.
Quais são os assuntos que o blog busca colocar como pauta?
Nossa descrição no Twitter está assim: No ar desde 2007, somos um site de Hip Hop perifericamente democrático. A serviço da cultura negra e periférica. Nossa pauta sempre vai estar ligada a questões pertinentes para quem é preto e periférico. Não somos uma página/site de rap que acha que temos que ser neutros e que rap é rap. Não, para nós não funciona assim. Nós temos um lado politico que acaba sendo de esquerda, porem somos periféricos e negros e também sabemos que a esquerda não nos contempla 100%, portanto se em algum momento precisar critica la com certeza faremos. Mas direita, nunca! Não há nada lá que sirva para nós. Dito isso, nossa pauta é a música, é a dança, é o grafite, é a arte urbana, é a política, são as questões do povo preto, às vezes até esportes pautamos em algum momento.
70 ocorra hoje, muito provavelmente ficaria no underground, ficaria no nicho de quem ouve rap só. Porque a linguagem atual é outra. As músicas são curtas, a ideia tem que ser rasa, mastigada e de fácil compreensão e etc. Uma música de 12 minutos pra muitos é um corte de podcast, eles acham muito.
Quando e como surgiu a ideia de criar o Noticiário Periférico?
O racismo ainda existe? Você acredita que hoje as pessoas tentam mascarar o preconceito através do que elas consideram ser liberdade de expressão?
O NP praticamente faz parte da minha vida...hahaha São 14 anos em que muitas vezes pensei em deixar de lado, mas o amor ao rap e a cultura Hip Hop sempre fala mais alto. Mas ele é uma válvula de escape também. Como eu sempre fui tímido, ter um pouco de ansiedade que durante um período levou a me deixar gago, me expressar através da escrita funcionou como terapia.
Qual a importância do Noticiário Periférico para você?
O racismo existe, não diminuiu em nada. A diferença é que hoje em dia as pessoas pretas estão mais informadas e corajosas para reclamar e combater essa dita liberdade de expressão que os racistas usam. Eles não são burros, eles são mal caráter liberdade de expressão é só uma desculpa para falar o que o coração está cheio. E sendo bem realista o racismo não vai acabar tão cedo. A fita é a gente se fortalecer e começar a se formar, informar e ter posses.
71 para dizer. Após isso, a Ana me mandou uns dois ou 3 artigos para serem publicados no site. Depois disso resolvi chamá la e ela rapidamente aceitou. A Ana deu uma repaginada no site e páginas mudando a forma de como passamos a nos comunicar, trazendo pautas bem pertinentes e trazendo uma visão de uma mina preta do interior paulista, se formando em biologia e fã de rap. Ela trouxe um olhar que eu como um cara da capital paulista não acadêmico muitas vezes não tenho. Então nosso entrosamento é perfeito.
Para você, quais são as maiores dificuldades que você tem enfrentado sendo um blogueiro negro?
Para ser bem sincero, o problema no começo era com a escrita. Pois a gente que é de quebrada sai da escola sabe bem o básico. E olha que eu não era um mau aluno, porém com o passar do tempo eu fui vendo que minha escrita era muito ruim para quem queria ter um site. Foi aí que eu passei a ler mais, relembrar regras básicas de gramáticas, prestar mais atenção no que escrevo e tal. A dificuldade que eu tive foi querer ser um “comunicador” só com o que eu tinha aprendido na escola e nas letras de rap. Na real mesmo, essa fita de ser um blogueiro me levou a ler mais, prestar mais atenção na política, mais atenção no lado social e etc. Foi um aprendizado mesmo.
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Nós começamos divulgando o rap estadunidense, porém de 2009 pra cá eu conheci rappers de Moçambique, Angola e outros países de língua portuguesa. Eu achei muito foda o som deles, pois pra mim era novidade. Eu não lembrava que Portugal tinha colonizado outros países além do Brasil, eu acredito que nessa parte da aula de história eu dei um vacilo. Desde então eu passei a realmente pesquisar sobre o rap Lusófono e hoje sou um fã que consome muita coisa vindo de países lusófonos. Muito mais de Angola, porque dentre os países africanos de língua portuguesa são os que melhor conseguem divulgar isso na TV, internet, plataformas digitais e etc. Particularmente eu tenho muito amor por Angola que não sei explicar, mas pode ser ancestralidade. Nós temos muito acesso a Moçambique, Angola e Portugal, mas Angola e Moçambique (mais Angola) são os países que mais interagem conosco. Eu acho importante pelo fato de nós sermos pretos a todo momento falar sobre o orgulho de descender da África e tal. Porém o que eu mais vejo é hipocrisia e romantização da África, porque os pretos que falam sobre ser preto, são fãs da Beyoncé e Jay Z e sonham ir para Paris. Ouvindo o rap e a música de Angola eu aprendi muita coisa da cultura deles, que em muitos casos são iguais a nossa, já que na região onde hoje é Angola vieram a maioria dos africanos escravizados. Eles têm uma relação de amor com o Brasil pelo fato de o país ser o primeiro a reconhecer o país deles depois da descolonização de Portugal em 1975. Eles conhecem mais o Brasil do que nós conhecemos o país deles, pois eles consomem nossa música, nossos filmes, séries e cultura. Então, eu tento na medida do possível apresentar algumas coisas que vem desses países, para que as pessoas saiam de sua bolha cultural e musical e veja que há um mundo além do Brasil e Estados Unidos.
No blog eu vi que você procura mostrar para seus leitores um pouco do Hip Hop dos outros países, qual a importância de conhecermos o Hip-Hop desses outros países?
Na conjuntura atual do nosso país você acredita que o Hip-Hop feito por pessoas pretas e de periferia ainda sofrem preconceito?
Com certeza! Esses algoritmos, misturados com a grana que produtoras têm, beneficia muita gente de pele mais clara e em sua maioria é branco. Tem artistas que batem milhões de views e geral só conhece depois que o cara já está estourado nas plataformas, enquanto muito artista foda de quebrada está ali batalhando para ter seus 5 ou 10 mil visualizações. Pode parecer que essa fita de gravadora é coisa do passado e que geral é independente, mas as grandes gravadoras os poucos tem visto o rap como algo lucrativo e a maioria de seus artistas do rap são brancos e quando são negros tem a pele clara e tal. O artista negro dentro dessas
Tempo é algo relativo...rsrs tem artista que estourou no primeiro ano, no quarto, no decido. O rapper Criolo estourou no álbum que marcaria sua aposentadoria, ele já tinha mais de 10 anos de carreira. A fita nem é o tempo que demora para fazer sucesso, mas quem faz sucesso. Sem querer pagar de “miliano”, mas me doe um pouco essa onda de artista estourar por “trend” de Tik Tok. É algo muito raso para um gênero musical que carrega um peso histórico muito grande. Eu não sou contra esse tipo de conteúdo, mas é um pouco chato quando todos buscam esse caminho para alcançar o sucesso. Acredita que as pessoas são seletivas ao escolherem qual cantor de rap ouvir?
Bom eu sou a Ana Rosa tenho 26 ano, sou do interior de São Paulo para Araras e como eu sempre falo a gente que é pobre tem que sempre se reinventar e se dividir em milhões né, atualmente eu trabalho em uma empresa no setor administrativo, mas tipo se você perguntar sobre a Ana redatora ninguém vai saber né, eu sou apaixonada pelo rap e construo o blog noticiário periférico junto com o Anderson Abreu, sou editora
Entrevista Ana Rosa Joyce Nayra Primeiro queremos saber um pouco sobre você Ana, conta pra gente quem você é, e um pouco da sua história.
Você acha que os artistas desse meio demoram para fazer sucesso?
São, sim! Mas isso pode ser bom ou ruim. Nós no NP somos seletivos. Tudo que nós divulgamos, sempre ouvimos o conteúdo antes de publicar. Se a gente não gostar, não publicamos. Se tiver algum conteúdo impróprio, algum tipo de preconceito, ofensa e etc, a gente também não divulga. Mas pensando bem, isso também é algo bem relativo. Independente de quem for, a pessoa vai ser seletiva, né? Por exemplo: uma pessoa mais jovem também é bem seletiva na hora de ouvir música. A mentalidade dela vai selecionar um conteúdo com uma linguagem mais próxima do seu cotidiano. E alguém mais velho vai fazer o mesmo. Acho que todos são seletivos.
73 corporações são sempre os já consagrados, entende? Na hora de apostar, eles não apostam nos pretos.
São os assuntos que você leva para o blog?
Como você conheceu o Anderson?
Na verdade conheci o Anderson, pelo orkut mesmo, pelas comunidades e numa dessas tinha uma comunidade acho que era do Hip hop e aí discutindo ali a gente criou uma amizade, foi passando o tempo a gente foi conversando mais e mais, e eu fui também trocando idéias sobre viver, sobre tudo a gente falava a parceria vai dar certo.
Ele traz este assunto para gente discutir sobre como o conhecimento é importante no Hip hop e às vezes as pessoas não falam dele, assim a gente precisa do registro escrito que a gente precisa do registro fotográfico e tudo isso começou a me interessar, então eu não consigo contribuir nos outros elementos, eu vi o negócio de escrever vou me envolver, nessa aí que eu conheci o Anderson Abreu ele já tinha fundado o noticiário periférico em 2007, E aí eu comecei a fazer uma pausa sobre o rap no nordeste e aí eu vi que eu gostava que as pessoas me recebiam bem e aí, mas foi por conta disso mesmo, eu precisava né na minha cabeça me encaixar no no Hip hop de alguma forma e eu achei no conhecimento o elemento que eu poderia contribuir.
74 nesse blog. Eu sou pós graduada em educação ambiental pela UFSCAR, mas não exerço a profissão. Quando começou seu interesse por escrever?
Então para responder essa pergunta eu preciso voltar lá no começo, quando criaram o Hip hop que foi definido como os quatro elementos né, e aí eu desde pequena, nasci em 94 então desde 2000 e alguma coisa eu sempre ficava pensando em como me encaixar nos elementos, mas eu não sabia grafitar, eu não era muito boa com a dança em rimar então nem se fala. Aí depois mais um pouquinho mais para frente eu conheço o rapper norte americano e a partir dele eu começo a perceber que existe o quinto elemento que precisa interligar todos esses outros quatro, que é o conhecimento.
Para responder isso a gente precisa voltar lá no começo o blog surge como um portal de notícias só de rap né, só que aí, depois de um tempo ele não dá mais conta, a gente ficar falando só de rap então a gente começa a receber pautas da comunidade periférica no geral, pauta de propostas de eventos que vão rolar para fotografar, tudo que é pessoal da periferia, produzindo arte e cultura a gente começa a noticiar.
O trabalho dos Racionais teve algum impacto na sua vida, você considera ele importante?
Então já pegando essa deixa, qual a importância das pessoas das periféricas do Brasil em conhecer outros movimentos vindos de países que têm origem africana?
Os Racionais antes de estourar eles já tinham uma certa caminhada, então isso também me influencia, pois eles não começaram a fazer música para que as pessoas consumissem eles, começaram fazer porque eles gostavam, eles acharam uma forma de aliviar o que eles queriam falar e tudo mais.
E é basicamente por isso que eu escrevo, eu não escrevo para ser famosa quero que as pessoas, minha visão principal eu faço porque de alguma forma drena o que eu
Eu acho que é muito importante que a gente não resuma Periferia só rap né, e isso na verdade foi o que o noticiário me ensinou, que as pessoas de periferia podem gostar de música clássica ou qualquer outro tipo de música e arte, e quando eu fui recebendo pautas e fotos vimos que existe um grupo de pessoas que não necessariamente gosta de rap, mas pelo menos entende a cultura e está produzindo outras coisas, e é aí quando começa as minhas pautas de outros lugares produzindo tanto para cultura hip hop. Então eu acho que é importante mostrar que outros lugares também estão produzindo hip hop, porém é mais importante ainda mostrar que nem todas as pessoas periféricas contribuem com Hip hop, mas produzem outros tipos de artes.
Com certeza foi um dos primeiros contatos que tive com o rap nacional e assim não consigo mensurar, mas talvez o grupo que mais me influencia na questão da escrita e de pesquisa e tudo mais, porque se a gente colocar os quatro integrantes ali um do lado do outro basicamente eles estão muito diferentes a gente tem um que fala mais, o que é mais introvertido, outro que pesquisa mais, o outro que vai procurar outros tipos de música para se influenciar e eu acho que todo eles juntos me contemplam.
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Tem uma coisa que acho muito interessante que é o nosso público em Angola ele é muito grande e aí a gente começou a noticiar vários artistas de lá também então o nosso público lá é muito grande por conta disso, a gente deu uma pequena abertura e aí meio que viralizou, a gente fala de tudo desde que seja periférico.
E por conta do Racionais tem entrado com esse álbum como literatura obrigatória, por isso que eu escrevi um texto eu acho e fiz um vídeo, porque o nosso querido deputado Arthur Durval i fez um vídeo falando várias coisas e foi na verdade por causa dele, até agradeço pela imbecilidade que eu fui pesquisar algumas coisas e eu vi nessa Capítulo 4, Versículo 3 que 25 anos depois se você analisar a letra ela não muda, então tipo ela é uma música atemporal e talvez infelizmente (eu espero que mude) daqui uns mil anos basicamente ela não vai mudar nunca, as estatísticas no começo que fala dos jovens negros e tudo mais é a única estatística que na pesquisa que fiz para escrever um texto em 2015 a unica estatística que mudou foi a entrada dos jovens negros na universidade o resto continua o mesmo. Então gosto muito dela por conta dessa atemporalidade.
Acho que não, assim porque o nosso público hoje tá na periferia é o público para qual a gente escreve né, o que eu sinto é que talvez tenha mais dificuldade na
Vou colocar em destaque o álbum Sobrevivendo no Inferno para você tem alguma música que quando você ouve fica impressionada?
Você acha que o movimento Hip hop, o rap poderia ser dividido entre antes deste álbum e depois deste álbum?
Realmente olhando como questão de mídia e tal foi o primeiro álbum que saiu do Underground ali do rap e rompeu todas as barreiras.
sinto e o que quero falar, então basicamente os Racionais eles me influenciaram diretamente por conta disso da forma que os quatro e todo mundo.
Bastante coisa que eu escrevo é sobre esse álbum, porque é um marco né, não tem como falar de rap no Brasil sem citar este disco, já tinha rap antes, mas só que a forma como esse disco foi construído não só nas letras, mas toda pesquisa que o KL Jay fez para poder fazer as batidas e tudo mais, eu gosto muito de das batidas em si, mas assim pensando em uma música específica eu acho que tem a Capítulo 4, Versículo 3 e me faz sair do corpo, assim quando ela toca sei lá não sei explicar o que acontece que bate muito forte realmente.
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Você sente algum tipo de dificuldade em ter um blog onde pautam assuntos voltados a periferia algum tipo de preconceito?
não pode reclamar do respeito que a gente, mas eu acho que um artista que tá chegando e tal vai buscar eles e não vai se importar por exemplo de pagar, tudo que a gente recebe gente dá uma selecionada aí eu vejo um pouco dessa diferença né o site que tem mais visibilidade ele tem um pouco mais de respeito e as pessoas não se importam de pagar para estar nele e a gente não a gente divulga você de graça.
Entrevista Joyce Nayra Walter Garcia Conta pra gente como sua carreira musical começou?
77 questão de existir mesmo, porque tanto eu como o Anderson trabalhamos, então a gente usa o nosso tempo de lazer e descanso para isso. Enquanto outros sites e tal que não é feito por pessoas necessariamente periféricas e que talvez não talvez nem tenham sido influenciadas pelo hip hop mais que pautam isso e ganham dinheiro em cima disso, não precisam ter outro trabalho eles conseguem muito mais acessibilidade e às vezes até mais respeito.Agente
Olha eu estou com 54 anos, eu toco violão desde os 3 anos de idade eu comecei a tocar violão por causa do João Gilberto, na minha geração não é comum, a gente ouve muita história o pessoal conta muito a influência de João Gilberto em quem começou a tocar violão em uma geração anterior a minha, geração do Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo, Gilberto Gil. Todos eles foram muito influenciados pelo João Gilberto pelo violão do João Gilberto e eu fui também, mas eu sou mais novo que eles, pois esse pessoal é da década de 1940 e eu sou da década de 1960.
Eu comecei pelo João Gilberto ouvindo na televisão uma gravação de “Wave” que é uma música do Tom Jobim que tocava em uma novela, olha só que coisa tocava em uma novela e aí eu gostei, me interessei muito, me interessei tanto que resolvi começar a tocar violão.
Qual é a importância do seu trabalho no campo de análise de músicas?
Você acredita que o Rap nacional sofria descriminação da mídia nos anos 90?
O Rap sofreu descriminação nos anos de 1990 isso era evidente os anos 1990 e 2000 eu acompanhava muito os jornais daqui de São Paulo, Folha de São Paulo o Estado de São Paulo, pois eu dava aula na Unip para os cursos de comunicação sobretudo para o curso de publicidade e propaganda, depois eu dei aula na PUC a partir de 2000 para o curso de jornalismo, então eu acompanhava a imprensa diária aqui de São Paulo, as revistas semanais também.
Nunca fui abordado de forma hostil por fã, mas já recebi críticas ao meu trabalho que foram excelentes e já recebi críticas ao meu trabalho que foram péssimas, mas péssimas por que críticas são construtivas quando as pessoas leem seu trabalhoe aponta as falhas e isso é ótimo, melhor coisa que você pode receber é isso a pessoa ler seu trabalho e apontar pontos positivos e negativos, mas eu já recebi críticas péssimas infelizmente ninguém está livre disso e críticas terríveis que a pessoa não leu direito ou nem leu isso acontece.
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Para mim esse trabalho com a música e analise sempre foi fundamental, eu sei que aqui em São Paulo a gente tem inclusive também uma geração anterior a minha José Miguel Wisnik, Luiz Tatit, músicos que acabaram indo para a universidade e analisando canções, mas não é necessário você ser músico e analisar canções, a gente tem vários casos ao contrário, eu conheço muito músico que não analisa canção, mas para mim ajuda muito pois é diferente você acaba tendo um outro trato com aquele material que também mobiliza muitos conhecimentos que nem eu por exemplo: tudo que eu analiso inclusive Racionais eu analiso muito com o violão, então racionais eu tô ali estudando eu tiro a linha de baixo e toco no violão e o violão ajuda a pensar. Ser músico, sobretudo compositor, me ajuda a pensar.
Como crítico musical você já foi abordado de maneira hostil por fãs ou até mesmo músicos que não concordavam com sua opinião?
Nos anos 90 o Rap ainda era visto como um tipo de música que fazia apologia ao crime e às drogas? Para você essa opinião ainda persiste?
Já sabemos que o rap ainda sofre preconceito, ainda mais na mídia, mas na sua opinião, esse nível tem diminuído ou aumentado? como você acha que os meios midiáticos reagem a ele?
Depende, assim o que nós temos hoje em dia de um modo geral eu acho que as resenhas as opiniões na grande imprensa, elas perderam muito espaço, então o primeiro problema que é esse, se perdeu muito espaço e também perdeu uma continuidade que havia de jornalista ficar um certo tempo trabalhar e melhorar o próprio trabalho, isso entrou em crise esse mundo entrou em crise, por outro lado também veio uma geração que conhece melhor o Rap e tudo, isso é uma vantagem se a gente pensar nos anos 90 não era muita gente que acompanhava que sabia o que tava acontecendo então depende, via de regra não é fácil você encontrar na imprensa do Brasil textos aprofundados sobre o Rap isso a via de regra há exceções.
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Posso estar equivocado pois estamos em uma quarentena, então assim, eu tenho circulado muito menos por aí, eu quase não tenho circulado, eu pude manter um distanciamento, então é difícil eu conseguir avaliar.
Mas assim a gente diz que sofria que sofria descriminação sim, algumas criticas muito equivocadas que inclusive não entendiam esse fenômeno com exceções né, sempre tem uma ou outra, mas muitos textos equivocados ou simplesmente passavam ao lado, desconsideravam ou silenciavam a respeito e silenciar a respeito de um fenômeno é um modo de você nem abrir discussão você retira aquilo da pauta da discussão.
E devemos considerar que para o pessoal que eu dou aula na USP disciplina optativa os alunos cada vez mais já chegam conhecendo o Rap, então já não tem mais tanto esse tipo de engano o pessoal já entende melhor o que se passa.
Meu interesse pelos Racionais começou nos anos 90, como muita muita gente começou com “Raio X do Brasil”, “Fim de Semana no Parque”, “Homem na Estrada” e tudo aquilo, agora “Sobrevivendo no Inferno” é aí de fato vish Maria.
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Por onde começou seu interesse pela discografia dos Racionais Mc´s?
Então foi assim meu interesse veio antes com “Raio X do Brasil” então eu já tava ali me interessando, mas quando veio o “Sobrevivendo ao Inferno”aí foi aquela coisa, para tudo tem algo aqui muito diferente, mudou a história da música, alguma coisa mudou e a partir daí desde 1997 eu estudo o “Sobrevivendo no Inferno” por sempre tive aquela escuta muito atenta muito interessada a primeira aula que eu dei sobre discutindo o "Diário de um Detento" foi em 98 na Unip coloquei dentre vários textos que eu passei era letra desta música.
Você acredita que a forma como a mídia via o Rap pode ter contribuído para o reconhecimento tardio do CD Sobrevivendo no Inferno?
Não sei avaliar em relação a mídia, fiquei um pouco com pé atrás em relação a esse questão, pois a princípio me parece dar muita bola para a grande mídia, o reconhecimento deste trabalho nunca precisou da grande mídia, essa é a verdade os Racionais nunca precisaram, isso eu já discutia muito nos anos 90 começo de 00, pois a questão é o seguinte o Rap vem de um lugar social, vamos lá, quem é que está falando? quem é que está produzindo? O Rap é o lugar da juventude negra de periferia, por tanto já existe aí um combate os Radicais falam do ponto de vista do combate. É um combate que se dá no campo simbólico, mas é um combate contra hegemônico e isso de fato demora.Embora
no caso dos Racionais nos anos 00 já tinha livros que o grupo já era incluído na música popular brasileira, já tinha gente antenado com isso, mas de uma modo geral na nossa sociedade até hoje tem esse reconhecimento por parte da universidade está um pouco mais fácil, mas também não podemos generalizar, pois há ainda a um silenciamento do do Rap no geral.
Para mim é um dos grandes lançamentos de disco que a gente em no brasil não só da década, não só de 1997 mas é um dos grandes lançamentos que a gente teve, é uma daquelas obras que muda a história da música brasileira que se afirma como ponto de inflexão de mudança na história da música brasileira. O que era feito antes passa a ser reavaliado a partir do “Sobrevivendo no Inferno” e o que é feito depois de algum modo se relaciona com o disco mesmo que não queira, por mais que queria ignorar a obra fica enfraquecida perto do padrão de qualidade estabelecido a partir do disco.
Qual a importância e o impacto do CD Sobrevivendo no inferno no campo musical e histórico?
Você acha que a mídia contribuiu para uma formação de opinião controversa para quem ouvia as músicas dos Racionais, mas não vivenciava o dia a dia na favela?
Como músico, o que você considera diferente na discografia dos Racionais?
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Mas quando falamos de sobrevivendo no Inferno é importante destacar que ele teve um reconhecimento imediato é até um dado historic, chamou a atenção da grande imprensa, na folha de são paulo na MTV que não era um canal aberto mas poxa eles ganharam o prêmio de melhor clipe do ano, além de melhor clipe de rap em votação do público e claro o número de vendas.
Não sei, novamente acho que é dar muita atenção para a mídia, pois a comunicação do Rap não se dá na grande imprensa.
São muitas diferenças, os Racionais criaram na música brasileira uma forma, nba verdade mais de uma pois eles são espertos você vai ouvindo o disco e percebe o que eles criam é diferente, trazem um panorama da música brasileira diferente, vou falar só uma que é o fato de os Racionais ou melhor dizendo eles constroem narrativas do ponto de vista do sujeito , olha que coisa interessante, narrativas do ponto de vista de um sujeito que esta ali presenciando ou vivendo, mas são narrativas em geral na música, em geral na canção a gente tem uma expressão de um sentimento de um dado de alma que
82 chamamos de lirismo. Os Racionais tem uma narrativa que se coloca dentro das situações.
Em sua opinião qual o legado do CD Sobrevivendo no Inferno?
Em quais âmbitos o trabalho dos racionais te marcou? (ou) por que o trabalho dos racionais te marcou tanto?
7.2 Fotos Autorais:

Figura 1 Dona Teresa deseja não ser identificada Foto: Fernanda Souza
Me marcou pessoalmente, ainda hoje é uns dos trabalhos que mais escuto por que me dá prazeres que eu fico muito impressionado é aquela coisa de você gostar de música e ouvir e falar nossa que som que poesia, que maravilha é um prazer estético que dá. Além disso afeiçoou a minha vida e a minha percepção da vida brasileira, a minha vida em São Paulo e a minha percepção da vida brasileira me deixou mais capacitado para entender as coisas isso tudo pessoalmente e como alguém que trabalha música, com crítica musical é o que eu coloquei desde a primeira pergunta.
São muitos, é aquilo que falei esse trabalho modificou é um marco dentro da cultura brasileira e eu não to exagerando, ele modificou a música brasileira a música feita no brasil também, assim como outras obras.
Figura 3 Paredes do Escritório de Mauricio Monteiro Foto: Fernanda Souza
Figura 4 Mauricio Monteiro posa ao lado de seus certificados Foto: Fernanda Souza
83




Figura 2 Dona Teresa conta que a fé a fez prevalecer Foto: Fernanda Souza
Figura 5 Cinturões ganhos por Mauricio Foto: Fernanda Souza
Em julho, durante as férias, lendo muito sobre a teoria em que meu projeto foi baseado e acompanhando de perto o desenrolar do caso da cantora. Voltamos em agosto e meu tema sofreu, novamente, alterações, sugeridas pelo orientador do meu trabalho. Confesso que na época eu pensei em desistir após tantas mudanças e eu sentia que meu trabalho estava saindo do meu controle. Sentei, respirei, conversei com algumas pessoas
84
A minha ideia inicial era falar do caso da Britney Spears e fazer um paralelo com algumas cantoras brasileiras, mas por problemas pessoais e a necessidade de se encaixar com o tema do restante do grupo, meu tema sofreu algumas alterações após a aprovação em junho.
Diário de campo: No início do ano, no primeiro semestre de 2021, comecei com uma ideia de tema em mente, mas sem me aprofundar muito. Após as primeiras aulas começou o desespero, pois a turma começou a trazer temas interessantes e eu “travado” sem nenhuma ideia. Como escrevo para um site de entretenimento, o caso da Britney Spears estava em alta, documentário saindo, decidi fechar nesse tema, mas ainda estava muito amplo. Com ajuda das minhas amigas e colegas de grupo, fechei próximo do meu tema atual, com aprovação do professor Antônio no seminário.

Figura 7 Marcello Gugu, MC Foto: Fernanda Souza
Figura 6 Replica de facas feitas por Mauricio e expostas pelo Museu Penitenciário Paulista Foto: Fernanda Souza
7.3

Em uma semana, em outubro, entrei em contato com diversas cantoras pelas redes sociais, fechei entrevista com muitas artistas, consegui acesso a artistas do mainstream que infelizmente não tinham agenda disponível e, nessa mesma semana, meu projeto experimental saiu do zero para 50%.
85
Entrevistas feitas, decupadas, final de outubro e começo de novembro foi hora de escrever as matérias e parece que tudo fluiu perfeitamente, nem parecia a mesma pessoas que estava há dois meses pensando em largar o curso na reta final.
Novembro teve matérias escritas, editadas, aprovadas, paper finalizado, aprovado e correção dos últimos detalhes de projeto que foi um misto de emoções, mas que no final deu tudo certo e que eu me orgulho muito do resultado.
Com o paper eu estava um pouco mais adiantado, já havia realizado o desenvolvimento do meu trabalho no início do segundo semestre. Em duas semanas, entrevistei as minhas fontes, muitas tiveram que ficar de fora da revista por conta do número de caracteres máximos, mas foram grandes entrevistas, muito aprendizado e artistas incríveis que eu tive a honra de conhecer.
e enxerguei um norte para o meu projeto. Após algumas aulas de orientação e muito tempo perdido, fechei no meu atual tema.
DATA DA19/09/2021ENTREVISTA
ALINHAMENTO EDITORIAL ENFOQUE/ANGULAÇÃO
2) Você conheceu outras mães com história parecidas? Mantém contato com elas?
3) Por quanto tempo ficou ele preso e dentre esse período, quais as maiores injustiças a Sra. como mãe, já viu?
4) Quem eram os amigos de cela dele?
PERGUNTAS1)Qualésua história com o Anderson?
5) Como era o tratamento dos agentes penitenciários com você? E com ele, o que ele
RESSOCIALIZAÇÃOTEMA/ASSUNTODOPRESONASOCIEDADE

Conhecer a histórias e as experiências de uma mãe que teve seu filho preso injustamente. Entender sua jornada e quais as dificuldades enfrentadas ao longo dos anos de cárcere.
RevistaPRODUTO:Digital
DonaFONTETeresa
Mãe de um inocente
Fernanda de Souza Felipe Revista Vozes
86 7.4 Pauta 1 PAUTAFernanda
Monteiro Sobrevivente do Massacre do Carandiru e Regresso do Cárcere
8) Como as pessoas reagem quando a Sra. diz que já teve um filho preso?
6) Em questões de higiene, como você descreveria?
9) Muitas pessoas defendem que na prisão os presos possuem todas as regalias, o que você diz sobre isso?
RevistaPRODUTO:Digital RESSOCIALIZAÇÃOTEMA/ASSUNTODOPRESONASOCIEDADE

MauricioFONTE
PAUTAFernanda
ALINHAMENTO EDITORIAL ENFOQUE/ANGULAÇÃO
7) Ele já participou ou viu alguma rebelião?
87 te contava?
10)Você acredita que a forma como os presos são retratados pela mídia televisiva, estimulam o preconceito da população? 2 -
Pauta
DATA DA ENTREVISTA 02/10/2021
O objetivo é buscar contato com ex presos, recolhendo informações da vida pessoal pré e pós vida carcerária, buscando apurar com humanidade a forma de suas reintegrações,
Fernanda de Souza Felipe Revista Vozes
Mauricio Monteiro e qual sua história antes do cárcere?
03)Você acredita que as faltas de oportunidades te levaram ao caminho do crime?
05)Como era o tratamento dos agentes penitenciários com vocês?
07)Como você foi recebido após sair da situação de cárcere?
PERGUNTAS01)Quemé
88
06)O que aconteceu em primeiro de Outubro de 1992?
09)Você acredita que a forma como os presos são retratados pela mídia televisiva, estimulam o preconceito da população?
10)Você daria algum recado para os garotos de rua que já sofrem a marginalização e estão à beira da criminalidade?
04)Por quanto tempo ficou preso e dentre esse período, quais as maiores injustiças que já viu?
08)Conhece outras pessoas que se reergueram após sair do presídio?
11)Você se considera um exemplo de superação?
visando às dificuldades que passaram e ainda passam.
02)O que te levou a vida de criminalidade?
Fernanda de Souza Felipe Revista Vozes
04) Eu vi uma entrevista do Dexter esses dias, ele dizia que saiu da cadeia um astro, para você que já esteve lá dentro dando aulas, você conseguiu reconhecer astros em ascensão?
DATA DA25/09/2021ENTREVISTA
PAUTA
Gugu MC, Representante do Rap Nacional, letrista e palestrante; ALINHAMENTO EDITORIAL ENFOQUE/ANGULAÇÃO
RevistaPRODUTO:Digital RESSOCIALIZAÇÃOTEMA/ASSUNTODOPRESONASOCIEDADE

89 Pauta 3 Fernanda
PERGUNTAS01)Quemé
Marcello Gugu para as pessoas que ainda não te conhecem e para o público alvo da nossa revista?
MarcelloFONTE
02)Em Gil Scott Heron você conta a história e a força do Hip Hop. Lá você diz
Em contato com o MC, o objetivo é entender como o Hip Hop trabalha em meio a Fundação casa. Analisando também como o movimento afastou o rapper da criminalidade e quais seus projetos nos dias de hoje.
“Nosso povo precisa, e eu sou o único que pode trazer de volta a esperança”. Na sua opinião, até onde você acha que o hip hop salva? A cultura em si.
03) Como o Hip Hop/a cultura trabalha na vida de quem está lá dentro?
2 Qual é a importância do seu trabalho no campo de análise de músicas?
Conhecer a história de Walter e entender em que momento ele conhece o grupo Racionais e o que chamou a atenção do estudioso para o trabalho desenvolvido pelo grupo
RevistaPRODUTODigital MOVIMENTOTEMA/ASSUNTOHIP
WalterFONTEGarcia
1PERGUNTASContapragente como sua carreira musical começou?
ALINHAMENTO EDITORIAL ENFOQUE/ANGULAÇÃO
HOP E
Pauta
PAUTA Joyce Nayra Carvalho
1 Joyce
3 Como crítico musical você já foi abordado de maneira hostil por fãs ou até mesmo músicos que não concordavam com sua opinião?
4 Você acredita que o Rap nacional sofria descriminação da mídia nos anos 90?
90
músico, professor, admirador e estudioso do trabalho do grupo Racionais MC´s em especial do disco Sobrevivendo no Inferno (1997)
5 Já sabemos que o rap ainda sofre preconceito, ainda mais na mídia, mas na sua opinião, esse nível tem diminuído ou aumentado? como você acha que os meios midiáticos reagem a ele?
6 Nos anos 90 o Rap ainda era visto como um tipo de música que fazia apologia ao crime e às drogas? Para você essa opinião ainda persiste?
RevistaNascimentoVozes
RACIONAIS MC´S: INFLUÊNCIA DENTRO E FORA DA PERIFERIA DATA DA 20/09/2021ENTREVISTA

FONTEAnderson
RACIONAIS MC´S: INFLUÊNCIA DENTRO E FORA DA PERIFERIA
RevistaNascimentoVozes
12 Baseado no seu trabalho "ELEMENTOS PARA A CRÍTICA DA ESTÉTICA DO RACIONAIS MC’S (1990 2006" o que torna o trabalho construído pelo grupo diferente dos demais grupos de rap do Brasil?
DATA DA 15/10/2021ENTREVISTA
91
HOP E
ALINHAMENTO EDITORIAL ENFOQUE/ANGULAÇÃO
Compreender como Anderson encontrou seu lugar dentro do movimento hip hop e o que levou a criação do Noticiario Periferico, além de compreender quais foram suas
14 Em quais âmbitos o trabalho dos racionais te marcou? (ou) por que o trabalho dos racionais te marcou tanto?
7 Por onde começou seu interesse pela discografia dos Racionais Mc´s?
10 Qual a importância e o impacto do CD Sobrevivendo no inferno no campo musical e 11histórico?-Comomúsico, o que você considera diferente na discografia dos Racionais?
Hebreu Criador do blog Noticiario Periferico *

RevistaPRODUTODigital
8 Você acredita que a forma como a mídia via o Rap pode ter contribuído para o reconhecimento tardio do CD Sobrevivendo no Inferno?
9 Você acha que a mídia contribuiu para uma formação de opinião controversa para quem ouvia as músicas dos Racionais, mas não vivencia
13 Em sua opinião qual o legado do CD Sobrevivendo no Inferno?
Pauta 2 Joyce
MOVIMENTOTEMAASSUNTOHIP
PAUTA Joyce Nayra Carvalho
influências e como impactam na sua vida e no desenvolvimento do seu trabalho
3
saber um pouco sobre você Anderson, conta pra gente quem você é, e um pouco da sua história
Para você o hip hop mudou desde o lançamento do Sobrevivendo no Inferno?
15 Para você, quais são as maiores dificuldades que você tem enfrentado sendo um blogueiro negro?
16 O racismo ainda existe? Você acredita que hoje as pessoas tentam mascarar o preconceito através do que elas consideram ser liberdade de expressão?
18 No blog eu vi que você procura mostrar para seus leitores um pouco do hip hop dos outros países, qual a importância de conhecermos o hip hop desses outros países?
5
11 Você acha que os Mc´s que estão no hype deveriam prestar mais atenção nesse disco?12Quando e como surgiu a ideia de criar o Noticiario Periferico?
Qual a importância do noticiário periférico para você?
10 Se sim, o que você acredita ter mudado?
13 Quais são os assuntos que o blog busca colocar como pauta?
2 Você poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória no Hip Hop?
Quais foram suas influências no movimento hip hop?
8 Você acha que o sucesso do disco ajudou no desenvolvimento do rap nacional?9
17
14 Como você conheceu a Ana Rosa e de que forma ela colabora para o desenvolvimento do noticiário periférico?
6 Qual música você considera mais importante?
7 Gostaria de destacar algum trecho que considere importante?
4 Em algumas entrevistas sua, vi que o trabalho dos Racionais mc´s foi muito importante na sua trajetória, de que forma o trabalho dos mc´s impactou sua vida?
1PERGUNTASPrimeiroqueremos
Para você qual a importância do disco Sobrevivendo no inferno?
92
19 Na conjuntura atual do nosso país você acredita que o hip hop feito por pessoas pretas e de periferia ainda sofrem preconceito?
Pauta 3 Joyce
RevistaPRODUTODigital MOVIMENTOTEMA/ASSUNTOHIP
93
PAUTA
RACIONAIS MC´S: INFLUÊNCIA DENTRO E FORA DA PERIFERIA DATA DA 01/10/2021ENTREVISTA
1PERGUNTASPrimeiroqueremos saber um pouco sobre você Ana, conta pra gente quem você é, e um pouco da sua história
Joyce Nayra Carvalho RevistaNascimentoVozes
ALINHAMENTO EDITORIAL ENFOQUE/ANGULAÇÃO
Editora e Redatora do Noticiario Periferico *

AnaFONTERosa
22
Quer deixar algum recado, alguma mensagem, fique a vontade?
Você acha que os artistas desse meio demoram para fazer sucesso?
HOP E
21 Acredita que as pessoas são seletivas ao escolherem qual cantor de rap ouvir?
20
Compreender como Ana encontrou seu lugar dentro do movimento hip hop e seu caminho até conhecer Anderson Hebreu e chegar a edição do Noticiario Periferico, além de compreender quais foram suas influências e como impactam na sua vida e no desenvolvimento do seu trabalho
12 Quais são os assuntos que o blog busca colocar como pauta?
2 Quando começou seu interesse por escrever?
4
Na conjuntura atual do nosso país você acredita que o hip hop feito por pessoas pretas e de periferia ainda sofrem preconceito?
19
Se sim, o que você acredita ter mudado?
14 Qual a importância do noticiário periférico para você?
5
8 Gostaria de destacar algum trecho que considere importante?
Quer deixar algum recado, alguma mensagem, fique a vontade?
Para você qual a importância do disco Sobrevivendo no inferno? Qual música você considera mais importante?
15 No blog eu vi que você procura mostrar para seus leitores um pouco do hip hop dos outros países, qual a importância de conhecermos o hip hop desses outros países?16
7
3
Você acha que o sucesso do disco ajudou no desenvolvimento do rap nacional?10
9
94
13 O racismo ainda existe? Você acredita que hoje as pessoas tentam mascarar o preconceito através do que elas consideram ser liberdade de expressão?
Como você conheceu o Anderson?
sua opinião sobre o grupo Racionais?
Para você o hip hop mudou desde o lançamento do Sobrevivendo no Inferno?11
17 Você acha que os artistas desse meio demoram para fazer sucesso?
São os assuntos que você leva para o blog?
18 Acredita que as pessoas são seletivas ao escolherem qual cantor de rap ouvir?
Você poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória no Hip Hop e suas influências?6Qual
DJ, MC e produtora musical dentro do segmento hip hop, há 20 anos. Ativista de diversas causas, a pauta da mulher sempre esteve presente em seus trabalhos e fora deles, no seu dia a dia.
DATA DA19/10/2021ENTREVISTA
5. O hip hop é um gênero muito machista?
6. Comparando hoje com 20 anos atrás, o que mudou no meio do hip hop feminino? As dificuldades seguem as mesmas?
8. Sobre letras de músicas machistas, você consegue me citar alguma?
ALINHAMENTO EDITORIAL ENFOQUE/ANGULAÇÃO
7. Dentro do hip hop existe muita rivalidade feminina?
Leonardo Mozelli Bettanim Revista Vozes

Contar a história da artista e ativista, sua vivência dentro do meio do hip hop, fazer um comparativo entre as dificuldades sofridas nos dias atuais e na época em que começou a trabalhar com música. Focar no machismo dentro do meio musical, suas letras, relatos
PAUTA
RevistaPRODUTO:Digital MACHISMOTEMA/ASSUNTONAINDÚSTRIAMUSICAL
LuanaFONTEHansen
PERGUNTASpessoais.1.Seapresente
4. Você já presenciou ou vivenciou alguma atitude machista? Conte alguns relatos.
95 Pauta 1 Leonardo
para a gente, conta quem é Luana Hansen e co que tipo de música você trabalha?
2. É muito difícil viver de música no Brasil?
3. Há 20 anos, pelo fato de você ser mulher, acredita que foi um dos motivos que dificultou seu início no meio musical?
8. Vocês sofrem algum tipo de preconceito por conta do som político que vocês fazem?
Conhecer a história das integrantes, como surgiu o grupo e o que as motivou seguirem por esse caminho dentro do meio musical. Focar nas lutas diárias por serem três mulheres dentro da indústria da música e a vivência de cada uma com o machismo.
96 Pauta 2 Leonardo
Leonardo Mozelli Bettanim Revista Vozes
AsFONTEDespejadas
grupo musical formado por mulheres, com letras políticas e grande ênfase na luta feminina contra o machismo.
7. Vocês possuem alguma situação marcante em que sofreram machismo dentro do meio musical?
RevistaPRODUTO:Digital MACHISMOTEMA/ASSUNTONAINDÚSTRIAMUSICAL
PAUTA
PERGUNTAS1.Comosurgiu o grupo As Despejadas?
2. Em quem vocês se inspiram?
4. Por serem da periferia de Guarulhos, acreditam que a dificuldade é maior para trabalhar com música?

3. Como vocês se descrevem? Qual o gênero que vocês cantam?
6. Como surgiu a ideia de querer falar sobre pautas sociais e focar na luta das mulheres?
ALINHAMENTO EDITORIAL ENFOQUE/ANGULAÇÃO
9. Para quem não conhece As Despejedas, qual música vocês recomendam?
5. Como cantoras independentes, pelo fato de serem mulheres, acreditam que a dificuldade é maior ainda?
DATA DA24/10/2021ENTREVISTA
Encarcerado Foto: Freepick

Fotos dos corpos no dia do Massacre

97 8. ANEXOS:
Ana Rosa Foto: arquivo pessoal
Favela Foto: Freepick



Casa de Detenção de São Paulo Racionais Mc’s Foto por: divulgação

Luana Hansen e esposa Foto: Wildiner Franco As Despejadas Foto: Camila Rhodes

As Despejadas Foto: Camila Rhodes Luana Hansen: Foto: Wildiner Franco

98



Anderson Hebreu Foto: arquivo pessoal Walter Garcia Foto: arquivo pessoal

Holocausto Urbano (1990) Escolha Seu Caminho (1992)


Sobrevivendo no Inferno (1992) Coletânia 25 anos (2013)
Nada Como Um Dia Após o Outro (2002) Racionais Ao Vivo (2001)



99
Raio X do Brasil (1993) Consciência Black Vol. 1 (1988)



100 ANEXOS B I) II) III) IV) V) VI)






101 VII) VIII) IX) X)



