Rock Brasil Anos 80 - Letra & Música - Jefferson Vicente

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL CURSO DE JORNALISMO

JEFFERSON SILVA VICENTE

ROCK BRASIL ANOS 80: LETRA & MÚSICA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

SÃO PAULO - SP 2020


JEFFERSON SILVA VICENTE

ROCK BRASIL ANOS 80: LETRA & MÚSICA

Relatório de Fundamentação Teórica e Metodológica apresentado ao Curso de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul, como requisito para obtenção do título de bacharel em Jornalismo. Orientador:

Prof.

Rodrigues de Assiz

SÃO PAULO - SP 2020

Me.

Antônio

Lucio


Dedicado à Ciro Pessoa (1957-2020).


Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado forças para chegar até aqui. Aos meus familiares, minha irmã Marianne, minha avó Neilda (in memoriam) e meus pais José Vicente e Rosa Margaretti por terem me estimulado a retomar meus estudos após ter parado por alguns anos. Aos meus amigos Klaus Simões, Vicente “Pavão” Saraiva e Walter Marquezini, que me deram dicas e orientações com relação a edição deste projeto durante o período de pandemia. Aos entrevistados Alessandro Costa, Paulo Marchetti, Cesar Gavin, Kiko Zambianchi e Luiz Felipe Carneiro por terem aceitado participar deste projeto. Ao meu orientador Prof. Antônio Lucio Rodrigues de Assiz e todos os profissionais que mostraram seus conhecimentos de forma brilhante ao longo desses quatro anos de curso. Serei eternamente grato por tudo que aprendi.


FICHA TÉCNICA TÍTULO: Rock Brasil Anos 80 – Letra & Música GÊNERO: Documentário DIREÇÃO: Jefferson Vicente DURAÇÃO: 00:29:39 FORMATO: DVD (HD 1080p, cor, som estereo) ORIENTADOR: Prof. Me. Antônio Lucio Rodrigues de Assiz – MtB: 21.852/91 Projeto Experimental como Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Jornalismo, da Universidade Cruzeiro do Sul. Novembro/2020.


RESUMO O Brasil viveu inúmeras transformações políticas, econômicas, sociais e musicais durante a década de 1980. A trilha sonora desse período foi justamente o Rock Brasileiro dos Anos 80. Influenciados pelo punk rock e pela new wave, novos artistas representavam uma juventude insatisfeita com a situação política e social do país, com o que tocava nas rádios e com os artistas da MPB tradicional, que àquela altura, já não eram mais tão jovens. O objetivo deste trabalho é trazer um pouco do contexto de um período de grande efeverscência cultural para os dias atuais. Letras e músicas feitas naquela época continuam atuais e vivas na memória de quem viveu e no inconsciente coletivo das gerações subsequentes, que se identificam com o discurso dos artistas surgidos na década de 1980. Palavras-chave: Rock brasileiro; anos 80; música brasileira; música; rock


SUMÁRIO 1.

Introdução..........................................................................................................8

2.

Objetivos..........................................................................................................11 2.1 Objetivo Geral............................................................................................11 2.2 Objetivo Específico....................................................................................11

3.

Problematização e hipóteses de pesquisa......................................................12

4.

Justificativa......................................................................................................13

5.

Plano Estratégico.............................................................................................14 5.1 Descrição do Produto................................................................................14

6.

Referencial Teórico..........................................................................................19

7.

Referências......................................................................................................23

8.

Cronograma.....................................................................................................25

9.

Orçamento.......................................................................................................26

Apêndices.................................................................................................................27 1.

Transcrição das Entrevistas............................................................................28

2.

Roteiro.............................................................................................................73

3.

Autorizações de Imagem.................................................................................83

4.

Diário de Campo..............................................................................................87

Anexos.......................................................................................................................93 1.

Anexo 1............................................................................................................94

2.

Anexo 2............................................................................................................94

3.

Anexo 3............................................................................................................95

4.

Anexo 4............................................................................................................95

5.

Anexo 5............................................................................................................96


8

1. Introdução No início da década de 1980, o Brasil passava por inúmeras transformações políticas, sociais e comportamentais. A Lei da Anistia, assinada pelo então presidente João Batista Figueiredo em 1979 foi o primeiro passo para o fim do Regime Militar. O início da abertura política lenta e gradual que só foi concretizada em 1985 com a criação da Nova República. Em decorrência de anos de repressão e censura muitos artistas não conseguiram se expressar e a música jovem passava por um momento obscuro. Após o sucesso da Jovem Guarda durante os anos 60 através de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa, Eduardo Araújo, Ronnie Von e grupos como Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis e The Fevers, a década de 1970 também teve uma ótima geração na história do rock brasileiro, iniciada com Os Mutantes ainda no final da década anterior. Bandas como O Terço, Made in Brazil, A Bolha, Casa das Máquinas, Joelho de Porco, Moto Perpétuo, Patrulha do Espaço, Som Imaginário. entre outras realizaram apresentações e gravaram ótimos discos, porém não chegaram a atingir grande público. As exceções desse período foram Raul Seixas, Rita Lee, recémsaída dos Mutantes e já ao lado do grupo Tutti-Frutti, o fenômeno Secos & Molhados e os Novos Baianos, que deixaram um enorme legado para a música brasileira. Os ícones da MPB tradicional que representavam os anseios da juventude no final dos anos 60, estavam chegando aos 40 anos e o jovem da década de 1980 já não se identificava com o discurso desses artistas, muito embora alguns deles tenham flertado com o rock em diversos momentos de suas carreiras. Movimentos como a Tropicália1, o Clube da Esquina2 e a geração nordestina com Zé Ramalho, Fagner, Belchior e Alceu Valença receberam influências roqueiras. Posteriormente, surgiram grupos formados por músicos já experientes, seguindo a linha evolutiva da música brasileira como A Cor do Som, 14 Bis, Roupa Nova, Boca Livre e o guitarrista Robertinho de Recife. Foram responsáveis por abrir 1

Movimento musical e cultural oriundo do final da década de 1960 que revelou nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé e Os Mutantes. 2 Coletivo de músicos e artistas surgidos em Minas Gerais entre o final dos anos 60 e o início da década de 1970, tendo nomes como Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, entre outros.


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caminhos para uma nova geração, mas não representavam uma ruptura musical e estética com os grandes nomes nacionais. Enquanto isso, inumeras bandas surgiam influenciadas pelo espírito musical do punk e da new wave3. Com o estouro da Blitz e o surgimento da Gang 90 & As Absurdetes em 1982, as gravadoras passaram a investir no rock como uma nova onda musical e comportamental. Vários artistas chegaram ao grande público. Ao lado da Blitz, cantores como Léo Jaime, Celso Blues Boy, Lulu Santos, Lobão, Ritchie, os três últimos, exintegrantes da banda progressiva Vímana, cultuada nos anos 70 e os grupos Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso, João Penca e seus Miquinhos Amestrados, Kid Abelha e Biquíni Cavadão faziam parte do cenário roqueiro do Rio de Janeiro. Também despontaram nomes que já se apresentavam desde a década de 1970 como Marina Lima, Eduardo Dussek e o grupo Herva Doce. Em São Paulo, enquanto a já citada Rita Lee, ao lado do esposo Roberto de Carvalho, Guilherme Arantes e a banda Rádio Táxi tornavam-se grandes expoentes do pop nacional, o movimento punk emergia da periferia através de grupos como Cólera, Inocentes e Ratos de Porão. A Vanguarda Paulista, movimento cultural que já existia desde o final dos anos 1970 com nomes como Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção dividia espaço com um cenário roqueiro independente que tinha influências pós-punk e new wave. Essa sonoridade estava presente em bandas alternativas como Cabine C, Voluntários da Pátria, Smack, Mercenárias, Violeta de Outono, entre outras. Dessa safra consagraram-se em nível nacional os grupos Titãs, Ultraje a Rigor, Ira! e RPM. Na mesma época, chegava de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, o cantor e compositor Kiko Zambianchi, que também transitou pelo cenário paulistano. O Rock também se fez presente em outras capitais do Brasil. Brasília apresentava os conceitos musicais semelhantes aos da capital paulista. O fim da banda Aborto Elétrico - liderada por Renato Russo - em 1982, gerou a Legião Urbana e o Capital Inicial. No mesmo cenário também surgira a Plebe Rude e

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Gênero musical surgido no final da década de 1970, contemporâneo ao punk rock.


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segundo Paulo Marchetti (2013) o contexto político e cultural da capital do país foi fundamental para os grupos que lançaram discos e tiveram destaque nacional. Da mesma vertente musical, surgiu em Salvador a banda Camisa de Vênus e em Porto Alegre, Engenheiros do Hawaii e Nenhum de Nós chegaram ao grande público. Alguns dos artistas citados acima construíram uma carreira sólida e estão em atividade até os dias atuais, lançando novos trabalhos eventualmente e com shows lotados por todo o Brasil. Nomes já falecidos como Cazuza e Renato Russo e bandas que já encerraram suas atividades como Engenheiros do Hawaii e Kid Abelha permanecem relevantes por terem construído uma obra consistente. A força do chamado B-Rock4 e problemas recorrentes do nosso país fazem com que canções antigas ainda permaneçam atuais. Algumas delas, parecem ter sido feitas há semanas ou meses atrás.

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Sigla criada pelo jornalista Arthur Dapieve para definir a geração 80 do rock brasileiro.


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2. Objetivo 2.1. Objetivo geral O projeto tem como o objetivo principal analisar a formação e o surgimento de bandas e artistas daquela época, eventos importantes, os principais letristas e o legado da geração 80 do rock brasileiro. 2.2. Objetivo específico Contar a história desta geração através de um documentário com depoimentos de músicos, jornalistas e pesquisadores. Como o projeto também tem o objetivo de mostrar a influência das músicas nos dias atuais, pessoas de outras gerações também foram entrevistadas. Apesar da existência livros, documentários e grandes reportagens sobre a geração 80 do Rock Brasil, a bibliografia do rock nacional e da música brasileira ainda é muito pequena comparada a de outros países. É uma forma de preservar nossa memória cultural, especialmente de um período interessante e rico para a história da música brasileira.


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3. Problematização e hipóteses de pesquisa A longevidade e a força da geração 80 também permitiu com que as canções ultrapassassem diversas gerações. Foi uma década onde se produziu muitas músicas de qualidade, sucessos, álbuns consistentes que tiveram grande aceitação popular. O país vive sucessivos problemas políticos, econômicos e sociais, essas músicas permanecem vivas e atuais. Até hoje, parte desse repertório ilustra a indignação do povo brasileiro diante de tantos problemas que são enfrentados ano após ano, além da ausência total de artistas de rock na grande mídia. Hoje em dia, não há mais nenhuma banda de rock nova no mainstream5 e nenhum artista que está em evidência apresenta letras mais elaboradas. Problema: Por que algumas canções feitas naquele período são lembradas e permanecem tão atuais? Hipóteses: 1.

A obra consistente das bandas e artistas da geração 80.

2.

O Brasil enfrenta sucessivos problemas políticos, econômicos e sociais,

fazendo com que letras mais politizadas continuem atuais; 3.

A ausência de bandas de Rock e de artistas com letras mais elaboradas na

grande mídia; 4.

A influência do rock brasileiro para as gerações seguintes Após as gravações do vídeodocumentário, é notório que há uma herança

dessa geração que se reflete através das canções e de pessoas mais jovens que ouvem esse gênero musical. Apesar de ser pouco para alguns, o que ficou ressoa até hoje e chama atenção de outras gerações e até mesmo pra situação do nosso país e influenciou indiretamente a geração seguinte, a safra de roqueiros surgidos na década de 1990.

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Grupo, estilo ou movimento de muito sucesso e acessível a maioria das pessoas.


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4. Justificativa A importância do presente projeto é mostrar a consistência dessa obra e a forma que ela ressoa nos dias atuais. O rock brasileiro da década de 80 permanece relevante porque foi o período onde se produziu a maior quantidade de hits de qualidade para o cancioneiro popular brasileiro. O rock estava presente em programas de auditório, nas rádios mais populares e fazia sucesso em todas as camadas sociais, fato cada vez mais distante da realidade atual. Porém, mesmo fora das rádios e da televisão, as canções permanecem vivas no inconsciente das pessoas. Músicas longas como “Faroeste Caboclo” da Legião Urbana e “Infinita Highway” dos Engenheiros do Hawaii eram primeiro lugar em todas as rádios. Outras sem refrão como “Olhar 43” do RPM e “Eduardo e Mônica”, também da Legião Urbana, também tiveram esse mérito. O momento político, econômico e social vivido pelo Brasil também permitiu que muitas músicas politizadas fossem compostas. “Brasil” e “Ideologia” do Cazuza, “Alvorada Voraz” do RPM, “Selvagem” dos Paralamas do Sucesso, “Inútil” do Ultraje a Rigor, “Desordem” dos Titãs, “Pátria Amada” dos Inocentes, “Até Quando Esperar?” da Plebe Rude e “Que País é Esse?” da Legião Urbana apresentam essas características e traduzem nosso país até os dias atuais. As cinco últimas foram citadas em uma matéria do portal UOL intitulada “Músicas de protesto do rock nacional que poderiam ter sido escritas em 2017”6. Artistas inteligentes e articulados, poetas, jornalistas e escritores como foram responsáveis por letras e canções bem elaboradas que ultrapassam barreiras até hoje.

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Conteúdo disponível em <https://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2017/09/29/10-musicas-de-do-rock-nacional-quepoderiam-ter-sido-escritas-em-2017.htm> Acesso realizado em 3 de junho de 2020.


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5. Plano Estratégico 5.1. Descrição do produto O documentário “Rock Brasil Anos 80 – Letra & Música” é fruto de diversas pesquisas referentes a geração 80 do rock nacional, realizadas entre os meses de fevereiro e junho de 2020, sendo o produto final de pesquisa e uma das peças fundamentais para se obter o título de baixarel em jornalismo. Inicialmente intitulado apenas como “Rock Brasil Anos 80”, o subtítulo “Letra & Música” surgiu após perceber que o conteúdo das bandas e artistas daquele período foi o que realmente fez com que o trabalho de muitos artistas perdurassem até hoje, muito mais do que o sucesso que foi feito durante a década de 1980. Por ser um período de grandes letristas como Renato Russo, Cazuza, Humberto Gessinger, Arnaldo Antunes, entre outros, o subtítulo fez ainda mais sentido além de coincidentemente, ser o nome de um álbum de Lulu Santos, outro ícone da geração 80, lançado em meados da década de 2000. Havia a intenção de utilizar duas câmeras DSLR Canon, um microfone lapela, um gravador de áudio e iluminadores para que pudesse obter a melhor qualidade de som e de imagem possível. Em decorrência da pandemia de COVID-19, que assola o mundo desde março de 2020, foi necessário buscar alternativas que permitissem a realização dessas entrevistas. Através da plataforma Zoom, popularizada nos últimos tempos, as sonoras conseguiram ser realizadas, não com a qualidade almejada na criação do projeto, mas com um bom resultado em termos de áudio e video. Inicialmente, gravar uma das sonoras via internet não era uma possibilidade totalmente descartada, já que um dos entrevistados reside no Rio de Janeiro. Pelo fato de todas as conversas terem sido gravadas pela internet, o plano fechado foi utilizado em todas as entrevistas. Quando iniciaram-se as gravações para o documentário, foi necessário investir em uma placa de vídeo NVIDIA para que programas de edição profissionais pudessem ser rodados em minha máquina. O software utilizado para editar este produto foi o Adobre Premiere Pro CC 2019. Outro editor utilizado em algumas imagens foi o VEGAS Pro, onde coloquei um “blur” em cima de logomarcas de emissoras de televisão, já que alguns desses vídeos foram gravados diretamente da


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televisão e foram posteriormente colocados no YouTube, plataforma onde consegui encontrar boa parte das imagens de arquivo utilizadas no produto. Todas as imagens de internet estão devidamente creditadas. Os GCs foram também editados através do Adobre Premiere, com um template de Lower Thirds criado pela empresa AATA Creative Studio, que permite a utilização e a edição desses GCs em softwares de vídeo, assim como o efeito de câmera do primeiro vídeo, disponível pelo canal “Mamãe Nerd” no YouTube. O tipo de fonte, a TOX Typewriter também é disponível para os editores da Adobe e foi utilizada em toda a parte gráfica do documentário, incluindo a capa e o rótulo do DVD. A parte gráfica do DVD foi toda criada e elaborada através do Adobe Photoshop CC 2019. A idéia do logotipo ser uma espécie de pintura tem como referência o logo da banda paulistana Ultraje a Rigor, simulando uma espécie de pixação, já que os integrantes costumavam pintar os muros da cidade com o nome da banda. Partindo desse princípio, veio a idéia de utilizar um muro estilizado com o logo pintado e um cartaz que une fotos dos principais nomes da geração 80 do rock brasileiro. A contracapa também é composta pelo muro com cartazes colados com alguns dos principais letristas daquele período. Com 29 minutos de duração, “Rock Brasil Anos 80 – Letra & Música” possui classificação indicativa de 10 anos, pois apresentam algumas cenas com linguagem inapropriada, mas que mesmo assim, ainda podem ser consideradas leves. Direcionado a qualquer pessoa que se interesse pelo tema.


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Imagem 1 – Capa do DVD

Imagem 2 – Arte do DVD


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Imagem 3 – GC

Imagem 4 – Imagem de arquivo creditada


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Imagem 5 – Foto creditada

Imagem 6 – Plano fechado


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Imagem 7 – Efeito de Câmera (moldura)

Imagem 8 – Logo na abertura do documentário


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6. Referencial Teórico Como embasamento teórico para o presente projeto, foi necessário o uso de uma bibliografia referente a década de 1980 no Brasil. Livros dos jornalistas Ricardo Alexandre, Arthur Dapieve, Paulo Marchetti, dos músicos Lobão e Clemente Nascimento e do escritor Marcelo Rubens Paiva foram citados ao longo deste projeto. Também foi usada uma dissertação de mestrado feita por Aline do Carmo Rochedo e autores clássicos como Stuart Hall, Michel Maffesoli, Roland Barthes, o historiador Reinhart Koselleck e o crítico Bill Nichols. O músico Lobão, que sempre foi crítico com relação a música e a produção dos anos 80, ao fazer seu quarto livro, percebeu o valor e a qualidade daquela geração. Trata-se de uma década de esplendor, talento e criatividade em termos de produção de músicas e discos primordiais, não somente para o tal cancioneiro da música popular brasileira, mas para o âmago do inconsciente coletivo de um povo (LOBÃO, 2017, p.12).

O contexto geral da época colaborou para que o rock brasileiro atingisse seu auge em termos poéticos e estéticos. A música brasileira tradicional encontrava-se em um perído de pouca ousadia após a febre da disco music no final da década de 1970. Grandes ícones apresentavam sinais de desgaste artístico, muito embora tenham produzido trabalhos de qualidade. Conforme atesta Alexandre (2013, p. 39), “a música popular se dividia entre esquerdismo e direitismo, engajamento e exaltação das belesas da vida, entre ‘Calabar’ de Chico e ‘Odara’ de Caetano”. Em suma, a MPB não falava mais a línguagem do jovem daqueles tempos. Para Lobão (2017) era fundamental a presença de um novo estilo para que os jovens pudessem expressar a sua insatisfanção com relação a tudo que estava acontecendo. Um novo modelo musical que segundo Alexandre (2013) deveria ser diferente, ousado e falar a linguagem das ruas. O rock seria representante desse novo paradigma.


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O escritor, jornalista e compositor paulistano Marcelo Rubens Paiva viveu intensamente a década de 1980 mesmo estando em uma cadeira de rodas. Seu pai, o ex-deputado federal Rubens Paiva foi cassado, exilado pelo Golpe Militar de 1964 e desapareceu em 1971. Por ter vivenciado a questão política dentro de casa, Marcelo comparou os anseios da geração 80 com os desejos da juventude que lutou contra a ditadura durante os anos de chumbo7. Nos anos 1960, a juventude combateu com pedras, coquetéis molotovs, pichações, negou-se a se enquadrar no padrão do adulto-pai, anunciou que era proibido proibir. Parte dela pegou em armas. Nos anos 1980, outra juventude viu que a luta armada que acabou no terrorismo não dava em nada. O futuro não tinha solução. O desencanto virou cultura. O Rock, uma arma. (PAIVA; NASCIMENTO, 2016, p. 09).

Apesar de receber influências musicais estrangeiras, todos os acontecimentos citados acima permitiram com que o gênero fizesse parte da cultura popular brasileira, “se incorporando para sempre ao patrimônio cultural de uma nação” (LOBÃO, 2017, p. 15). Segundo Hall (1998, p. 50) “uma cultura nacional é um discurso, um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos”. O rock brasileiro trazia essa visão em seu discurso, adquirindo caracteristicas brasileiras em suas letras de forma madura. A grande preocupação com a mensagem ou o simples fato de traduzir o cotidiano deram uma nova cara para a música jovem da época. Na visão de Roland Barthes (2007), a palavra detém a linguagem da nação. A geração 80 não só falou da juventude como também fizeram uma radiografia do país através do uso da palavra, fator analisado pelo jornalista Arthur Dapieve (1995). Era um novo rock brasileiro [...] falando em português claro, de coisas comuns ao pessoal de sua própria geração: amor, ética, sexo, política, polaroides urbanas, dores de crescimento e maturação – Mensagens transmitidas pelas brechas do processo de redemocratização (DAPIEVE, Arthur, 1995, p. 23)

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Expressão utilizada para definir o período de maior repressão do Regime Militar brasileiro, tendo início com o AI-5 em 1968 até o final do governo do general Emílio Garrastazu Médici em 1974.


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O fato dos músicos falarem sobre sua própria geração permitiu segundo Rochedo (2011), uma relação intensa entre público e artista, pois estes assumiram um papel de expressão dos sentimentos e das experiências de vários jovens ao compartilharem suas vivências através de suas canções. Os artistas mostravam suas visões de mundo, opiniões e sentimentos tinha retorno por parte do público, que consumia e absorvia todo esse material. De acordo com Maffesoli (1998, p. 21-22), “a estética do sentimento não é de modo algum uma experiência individualista ou ‘interior’, antes pelo contrário, é uma outra coisa que, na sua essência é abertura para os outros, para o outro”. Um exemplo de compositor que possuia as características apontadas no parágrafo anterior era Renato Russo. O líder da Legião Urbana costumava elaborar relatórios sobre as composições quando entregava um álbum para a gravadora. A visão de Alexandre (2013, p. 285) para os textos de Renato é que eram muito mais do que simples resenhas. “Tratava-se de documentos sonoros que antingiam o ouvinte em pontos específicos de sua emoção, que se transformavam em dados capitais em sua vida”. Koselleck (2006) diz que qualquer história ou acontecimento sobre a Terra possui estruturas de repetibilidade e retorno, que a longo prazo podem criar situações semelhantes. Inevitavelmente, a história se repete e apesar das melhoras que tivemos ao longo dos anos, alguns problemas voltaram a tona e continuam sendo os mesmos. É possível enxergar a formação do rock nacional da década de 1980 com base em um pensamento de Maffesoli (1998, p. 206): “Através de uma sequência de cruzamentos e de entrecruzamentos múltiplos se constitui uma rede das redes”. Justamente o cruzamento de redes foi responsável pela criação e difusão do movimento. Primeiro, tendo casas noturnas como elo de ligação pra essas bandas, como Circo Voador no Rio de Janeiro, Madame Satã e Aeroanta em São Paulo e rádios alternativas, como a Fluminense FM, que tocava fitas demo8 desses artistas antes de chegarem ao estrelato.

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Gravações amadoras com ideias musicais que podem furamente formar um álbum.


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Posteriormente, com o apoio de empresários, gravadoras, emissoras de televisão e de rádio, o movimento foi disseminado e atingiu o grande público conforme aponta Alexandre (2013), que assistiu do Capital Inicial no Globo de Ouro9 ao RPM no Cassino do Chacrinha10, passando pelo Ira! em um show no Ginásio da Esportiva em Jundiaí, interior de São Paulo. O rock estava em todos os lugares e após duas décadas, a juventude se sentia representada nos palcos, no rádio, na televisão e principalemente, nas músicas. Através dos conceitos apresentados pelos teóricos e autores especializados, podemos ter uma visão da construção, da relevância e da importância da música jovem feita no Brasil durante a década de 1980. Época onde se produziu inúmeras canções que foram trilha sonora de um Brasil em transformação, fazendo parte de forma definitiva da história e do arcabouço cultural do nosso país. De acordo com Nichols (2009, p. 30) os documentários “significam ou representam os pontos de vista de indivíduos, grupos e instituições”. Seguindo este conceito e as pesquisas bibliográficas presentes neste relatório deram origem ao um vídeo documentário baseado em uma pesquisa qualitativa. Nichols (2009) diz que os documentários tem como tema conceitos e questões que geram interesse social ou debate e também “proporcionam uma orientação sobre a experiência dos outros” (p. 108). Portanto o objetivo do videodocumentário é mostrar através dos depoimentos dos entrevistados, a formação da geração, importância da produção do repertório roqueiro nacional que gerou obras fundamentais na história do cancioneiro popular brasileiro.

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Programa exibido pela Rede Globo entre 1972 e 1990, que mostrava as músicas mais tocadas nas rádios de todo o Brasil. 10 Programa de auditório apresentado por Abelardo Barbosa, o Chacrinha nas tardes de sábado, também na Rede Globo.


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7. Referências ALEXANDRE, Ricardo. Dias de Luta: O Rock e o Brasil dos Anos 80. 2. ed. Porto Alegre: Editora Arquipélago, 2013. BARTHES, Roland. Crítica e Verdade. Tradução de Leyla Perrone-Moisés. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2007. CHROMA KEY: EFEITO CÂMERA RODANDO #1. Mamãe Nerd. Brasil, 2016. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=ldxCIF012xk>. Acesso em 20 nov. 2020. DAPIEVE, Arthur. B-Rock: O Rock brasileiro dos Anos 80. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995. HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006. KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado – Contribuição à Semântica dos Tempos Históricos. Tradução de Wilma Patrícia Maas e Carlos Almeida Pereira. 1. ed. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006. LOBÃO. Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 pelo Rock. 1. ed. Rio de Janeiro: Leya, 2017. Lower Third Pack 1 | Green Screen Motion Graphics Pack HD | 2019. AATA CREATIVE

STUDIO.

Ahmedabad,

Índia,

2019.

Disponível

em

<https://www.youtube.com/watch?v=6GPRyb13yTQ>. Acesso em 20 nov. 2020. MAFFESOLI, Michel. O Tempo das Tribos – O declínio do individualismo nas sociedades de massa. Tradução de Maria de Lourdes Menezes; revisão técnica de Amo Vogel. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998. MARCHETTI, Paulo. O Diário da Turma 1976-1986: A história do Rock de Brasília. 2. ed. Brasília, DF: Pedra na Mão, 2013. NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. Tradução de Mônica Saddy Martins. 5. ed. Campinas: Papirus, 2010.


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PAIVA, Marcelo Rubens; NASCIMENTO, Clemente Tadeu. Meninos em Fúria e o som que mudou a música para sempre. 1. ed. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016. ROCHEDO, Aline do Carmo. Os Filhos da Revolução – A Juventude Urbana e o Rock Brasileiro dos Anos 80. 2011. 152f. Dissertação (Mestrado em História). Programa de Pós-graduação em História. Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, 2011.


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8. Cronograma Mês

Atividades

Fevereiro

Escolha e delimitação do tema; Pesquisa;

Março

Objetivos, problemas e hipóteses; Introdução; justificativa; Elaboração e apresentação de seminário referente ao tema delimitado; Início da montagem do projeto; Desenvolvimento do projeto

Abril

experimental; Aspectos Teóricos e Metodológicos; Pesquisa de fontes; Elaboração

Maio

e apresentação do seminário de delimitação teórica; leitura dos autores teóricos;

Junho

Entrega da primeira etapa do TCC.

Agosto

Início das gravações do videodocumentário; Entrevistas Decupagem

Setembro

Outubro

e

edição

das

sonoras;

Início

da

edição

do

videodocumentário. Término das gravações; Elaboração da identidade visual. Término da edição do vídeo documentário e da elaboração do

Novembro relatório; Entrega do Trabalho de Conclusão de Curso.


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9. Orçamento Item

Quantidade Valor Unitário

Valor total

(em média) 1

R$1.029,90

R$1.029,90

Capa de DVD

5

R$12,70

R$12,70

Impressão de Capa e Selo DVD

10

R$0,78

R$7,80

DVD-R Virgem Multilaser Original

5

R$5,39

R$26,95

Impressão

97

R$0,50

R$48,50

Encardenação

1

R$40,00

R$40,00

Total:

R$1.276,73

Placa de Vídeo Asus NVIDIA GeForce GTX 1050 Ti Phoenix 4GB

Gravável Com Logo 16x 4.7gb


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APÊNDICES


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1.

Transcrição das Entrevistas

Entrevista – Alessandro Costa

Data - 24/08/2020

Editoria

Tema

Assunto

Cultura

Música

Rock Brasil Anos 80

Tempo

Conteúdo

in / out 00:20 / 00:55

Eu acho que eu já nasci com isso no meu sangue, porque meu pai é veterano dos anos 80. Ele era adolescente ali em 1985, tinha 15 anos. Então ele viu todas essas bandas maravilhosas no auge. Viu Titãs, Capital, Ira!, Ultraje. Me lembro que ele tinha CDs e Fitas também. No início da minha vida eu cresci ouvindo todas essas bandas.

00:56 / 02:01

O que eu lembro assim que me impactou muito lá por 97, 98 quando eu tinha uns 4, 5 anos foram esses discos aqui. Cabeça Dinossauro. Eu adorava tipo “Família”, “Tô Cansado”, gostava muito dessas músicas em especial. Só que eu era muito pequeno, não tinha muita noção do que eram os Titãs, do que era a música, mas eu curtia ouvir, só ouvir. Vivendo e Não Aprendendo do Ira!, essa obra prima aqui. Esse LP mesmo era do meu pai. “Envelheço na Cidade”, assim como a própria “Quinze Anos” também, “Flores em Você”. Eu adorava essas músicas. Não fazia ideia o que era, mas gostava muito de ouvir. O Papa é Pop dos Engenheiros do Hawaii, clássico de 1990. Trinta anos esse ano. Eu lembro que gostava muito da própria “O Papa é Pop”, gostava muito daquele refrão. “Olhos Iguais aos Seus”, que a voz do Humberto vai ficando mecânica, aquela coisa eletrônica. Eu achava genial e ficava pensando “como será que eles fizeram isso?”. Eu não fazia ideia, mas gostava muito. Tá assinado pelo Humberto e pelo Augusto Licks.


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03:55 / 04:25

Junho de 2003 que a coisa ficou meio séria. Eu já tinha 9 anos. Me lembro que íamos sair. Eu, meu pai e minha irmã. Acho que íamos na casa da minha avó. Aí meu pai falou “escolhe um CD lá pra gente ouvir” e peguei o “Cabeça”. Deu um estalo na minha mente. Conforme as músicas iam “Cabeça”, “AA UU”, “Igreja”, “Polícia”, eu ficava lendo o encarte e eu pensava: “Caramba, isso é simplesmente maravilhoso”. Eu já tinha uma noção um pouco maior das coisas do que quando eu tinha 4, 5 anos aí a tampa da minha cabeça saiu voando.

04:54 / 05:34

Foi isso que abriu a minha cabeça pra outras bandas também e aí comecei a ter o interesse em tocar bateria. O som da bateria do Charles, eu acho que é a bateria mais maravilhosa que ouvi toda minha vida. O Charles é um mestre pra mim e eu aprendi a tocar bateria ouvindo o Cabeça Dinossauro e depois vendo ele nos shows, em outros discos e tudo mais. Eu digo que a coluna cervical do meu gosto pelo rock brasileiro é Titãs, Engenheiros do Hawaii e o Ira!.

07:51 / 08:20

Ouve o Police por exemplo. Naquela época não tinha nada parecido com o Police aqui. É genial, gosto muito deles. Uma discografia muito breve, mas é genial. A identificação com essas bandas que tem esse som agradável, energético como The Clash, fizeram com que os caras ficassem malucos. Porque aqui no Brasil não tinha nada parecido com isso.

09:28 / 10:01

A MPB na década de 80 já estava um pouco cansada. Os anos 80 pediam uma grande mudança. Outros artistas de rock também, com exceção da Rita Lee, já estavam fraquejando. O próprio Raul Seixas. Aquele disco de 1983 é muito legal, que chamam de “Carimbador Maluco”. Gosto bastante, mas não tem o mesmo brilho que o Raul teve antes. Ele também estava com outros problemas e é outra história.


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15:56 / 17:56

A primeira vez que encontrei um dos Titãs, no caso o Branco, foi na pré-estreia do “A Vida Até Parece Uma Festa” lá no Cine SESC na Augusta. Em 2009 teve o lançamento do “Sacos Plásticos” em junho, 2 e 3 de junho. Aí teve a noite de autógrafos no Shopping Villa Lobos. Foi muito legal, porque eu não conseguia acreditar que os cinco Titãs estariam lá, Branco, Paulo, Britto, Tony e o Charles. Eu fui encontrar o Paulo Miklos no lançamento do disco dele em 2017. A partir desse encontro, eu comecei a ficar mais experto, fazer mais contatos. Tanto que hoje tenho contato pessoal com o segurança e o produtor dos Titãs. Isso aproxima muito mais, deixa a coisa mais próxima. Em 2014 fiz o canal Discos Importantes e em 2018 que tive a ideia de fazer o canal Titãs Fãs. A banda tem uma história tão legal, tem curiosidades muito bacanas e não vejo ninguém falando sobre isso. Aí eu fiz e estamos aí até hoje, aproximou ainda mais. É uma coisa muito simples, quero falar dos discos, momentos curiosos, coisas meio raras ou interessantes. Os caras me conhecem. O Britto mesmo, na última vez que estive com ele perguntei e ele se lembrava do canal. É muito legal ter essa proximidade com eles. Eu já tive com todos os Titãs, com exceção do Marcelo Fromer, mas tenho contato com a irmã dele, a Cuca e a Alice, filha dele. A Cuca é sensacional. Comentei com ela que tenho um projeto futuro daqui alguns anos de escrever a biografia do Marcelo e ela me deu total apoio, carta branca total.

18:10 / 18:46

Bruno do Biquini também, fui no lançamento da biografia dele no final de setembro do ano passado. Um cara sensacional, maravilhoso, só falta te pegar no colo. Ele me perguntou como eu tinha conhecido o Biquini e não esperava isso. É um dos caras mais gente fina que tive o prazer de conhecer.

20:41 / 21:26

Capital Inicial, Ultraje a Rigor, Golpe de Estado, Titãs, Legião, Ira!, todo mundo era muito inteligente. Tinham uma puta bagagem. Eles liam, conheciam, se informavam, eles sabiam o


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que estavam falando. A própria Blitz, que fazia aquele som bem humorado. Fazendo um parêntese, o rock dos anos 80 começou com a Blitz, na minha opinião. O Evandro era um cara muito genial, tinha todo aquele lance do teatro, do Asdrúbal Trouxe o Trombone. Você pega o Leo Jaime que fez o “Phodas C”, acho esse nome genial. Aquele disco que tem “Sônia” e mais uma porrada de músicas que são um tabefe na cara de todo mundo, principalmente nos hipócritas. Você pega o Lulu Santos que também é outro cara genial. 21:35 / 22:02

O Renato era sensacional, um sujeito extremamente inteligente. Lamento que ele tenha tido uma carreira tão breve. Queria ver ele hoje em dia falando sobre os absurdos de hoje. Era um cara muito ácido, assim como o Cazuza. Meu disco favorito é o Ideologia e no Barão o Maior Abandonado, uma das melhores produções de 1984.

22:04 / 22:14

Muita gente por aí fala que o Marcelo Nova se aproveitou do Raul. Não foi nada disso. Foi um grande amigo que botou ele lá em cima e que fez ele ter um final de carreira digno, honesto e com qualidade.

25:23 / 27:00

Vou mostrar meus compactos aqui. Tenho essas joias. Descendo o Rio Nilo do Capital Inicial. Com “Descendo o Rio Nilo” no lado A e “Leve Desespero” no lado B. Esse aqui é de 85, se eu não me engano. Esses dois do Humberto, que ele lançou recentemente. Louco Pra Ficar Legal e o Desde Aquela Noite, também assinados. O RPM com “Louras Geladas” e “Revoluções por Minuto”, que foi censurada. Gosto muito desse compacto. O Tokyo antes de gravar o primeiro disco. Infelizmente é uma banda esquecida, mas gosto muito. Aquela coisinha adolescente, mas gosto muito. Esse aqui tem “Mão Direita” e “Humanos”, de 1984. Paralamas com “Vital e Sua Moto” e “Patrulha Noturna”. Primeiro compacto do Ira, ainda sem ponto de exclamação. Você percebe que é um som ao vivo, com Charles Gavin na bateria e


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Dino no baixo. Ultraje a Rigor com “Inútil” e “Mim Quer Tocar”. No dia que o Roger assinou foi numa gravação do The Noite em 2015. Levei esse aqui e o Eu Me Amo. Levantei o compacto. O Roger viu e sinalizou que ia autografar. Esse aqui é especial. Titãs com “Sonífera Ilha” e “Toda Cor”. 27:25 / 30:00

Vou pegar esse aqui, Animal Nacional. Vou falar de “Cobra de Vidro”, que é a minha favorita desse disco. Pode ser uma filha de “Nas Ruas” do Ira!. Acredito que a temática pode ser a mesma, aquela coisa de você estar na rua, no meio da cidade. Aqui em São Paulo você sabe muito bem como é a coisa. Os mortos enfrentam as ruas junto ao perfume de lixo e gás. Do Oratório a Santo Amaro, das rodovias as marginais. Você pode fazer um comparativo com “Nas Ruas” também. Ponho meu capote e está tudo bem. Vejo pessoas não tão bem vestidas, podiam estar bem melhor. Vejo pessoas desmioladas. Poxa, acho que tem tudo a ver. A temática é a mesma. Tem outras letras nesse disco. “Santa Sampa” em parceira com Bernardo Vilhena. Se eu não me engano “Menina Veneno” do Ritchie é parceria com ele, fez as letras de todos os clássicos do Lobão. “A Prova” é uma letra do Arnaldo Antunes, que o Chuck pediu na época em que eles trabalhavam na MTV. “O Inimigo”, “Rir no Final”, “O Vício e o Verso”, é anos 80 total. Se tivesse sido gravado em 1986, 1987, não mudaria nada. A estrutura das letras seria exatamente a mesma. Especialmente nesse disco aqui, o Daqui pro Futuro. A música “Inutensílios” que tem bateria eletrônica, teclado, é muito new wave. Aqui tem parcerias com o Leoni, é muito bacana, muito 80. “Lambe-lambe” é outra música também nesse esquema. É um disco muito diversificado, que pode ser comparado com a diversidade dos Titãs. Se fosse lançado nos anos 80, seria tido como uma grande obra. É uma grande obra agora em 2020, em 2017 quando foi lançado, mas nos 80, seria mais especial ainda.


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30:15 / 30:48

A própria 8080, que era banda do Chico Marques, ex-Flying Chair. Ele está com outra banda, os Androides. A própria Flying Chair tinha muito dos anos 80. A música “Todo Mundo Quer Amor” é muito Rita Lee, principalmente na época do Lança Perfume,

Saúde.

Mas

com

certeza

tem

muitas

bandas

underground que fazem um trampo muito legal e que infelizmente a gente não tem conhecimento. Não tem nenhum espaço na mídia, então demora um pouco pra essa informação chegar. Repórter: Jefferson Vicente


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Entrevista – Paulo Marchetti

Data - 27/08/2020

Editoria

Tema

Assunto

Cultura

Música

Rock Brasil Anos 80

Tempo

Conteúdo

in / out 02:01 / 02:52

Eu já estava querendo formar uma banda desde 1983. Larguei meu time de botão pra ouvir o punk rock, seguir o movimento e ter minha banda. Quando o Peter Perfeito foi formado, no comecinho de 1984, sem Tom Capone, encontrava com eles quase todos os dias no estacionamento do Objetivo, porque eu pegava carona pra ir pra casa. Terminava a aula e ficava um bochicho ali. Pedi pra eles “pô, deixa eu ser vocalista”, mas eles não deixaram. Eu tinha 13, 14 anos. Mas a primeira letra que fiz, foi o Peter Perfeito que musicou, chamada “Estado de Sítio”.

04:13 / 04:56

Desde os 10, 11, eu convivia com aqueles caras. Mesmo molecão, não dando muita bola, mas eles faziam parte da minha vida. Brasília era uma “cidade do interior” sacou? Como eu descrevo no livro. Eu passava pelos shows, minhas irmãs eram amigas deles, estavam sempre na saída da escola. Então sempre tive contato. A gente sempre foi ligado a livros, a arte. Brasília não tinha nada pra fazer, então quando aparecia uma exposição, um festival de filmes independente do Iraque, exposição de um cara de Ruanda, a gente ia sabe?


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05:02 / 06:08

Lá pra 1982, com 12 anos e tal, minha irmã voltou com uns discos do intercambio que ela fez. Entre eles o “Combat Rock” do The Clash, que havia saído há dois meses. Então isso foi uma coisa natural da minha vida. Não sei e não quis saber de outra coisa, sempre me senti bem com isso. A gente não comprava disco toda hora, a gente não tinha grana pra isso. Se for pensar hoje, era de R$50 a R$80. Tem R$80 por semana pra comprar 4 discos por mês? Impossível. Tinha uma força muito grande na parte social, porque eu dependia dos discos dos meus amigos e de fitas K7, tanto quanto disco. Não era tão barato, mas era mais barato do que discos. O que acontecia? Você pegava seus discos e ia pra casa dos seus amigos. Encontrava lá com mais três, quatro e passava a tarde inteira com quatro, cinco, seis pessoas. Não é como hoje, que você baixa na hora. Você escutar música, era visto como uma pessoa diferente. Só de escutar rock, andar de skate, surfar, ter um grupo. Estava meio fora do sistema, mais ou menos isso.

08:55 / 09:48

A gente tinha pouca informação visual. Você tinha as imagens que tinham no disco, aquelas fotos de encarte, capa, contracapa. Revistas só tinham três. Som Três, Pipoca Moderna e Roll. A Bizz surgiu em meados de 1985. Quantas fotos do Clash eu vi na Roll? Uma, duas. Tô falando na década inteira. Desde que ela surgiu em 1983 até 1990, vi duas fotos do Clash. Faltava informação e a gente amava rock, amava música. Até mesmo do que acontecia em São Paulo, movimento punk. Até surgir a Bizz, a Roll era a única referência. Tanto que ela que cobriu o primeiro Rock in Rio, mostrando o artista chegando no aeroporto, fazendo entrevista no hotel. Então, ela era a principal revista.


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11:28 / 13:10

É mais ou menos assim. O punk de Brasília ele tem mais a cara do que era o punk de Nova Iorque. Mais a arte, não só aquela coisa agressiva. Você vê o Blondie, Talking Heads, Television, Patti Smith, tinha poesia, arte, tudo misturado com a música, tal. Postura, roupa. O punk inglês era mais o som, a agressividade. Pistols, Damned, Generation X, The Clash mesmo até o “London Calling” era mais agressivo, mais distorção, mais porrada. Porque eles ouviram Ramones e falaram: “é isso”. Então, Brasília tinha esse som mais puxado pro que era Nova Iorque porque absorvia essas influências do pós-punk. Brasília assimilou muito mais o pós-punk do que São Paulo, que também tem uma cena maravilhosa com Smack, Voluntários. Em 1985, conheci um cara que me deu uma fita que tinha o ensaio das Mercenárias com o Edgard Scandurra na bateria. Eu tinha isso até sair da MTV. Aí fiz uma entrevista com o Scandurra pro site que eu trabalhava, essa entrevista tá no “Sete Doses” inclusive. E a fita arrebentou. A entrevista foi na casa e entreguei pra ele: “Edgard, a fita arrebentou, mas é um ensaio das Mercenárias com você na bateria.”

17:55 / 20:32

O que marcou muito foi esse festival da Globo, o MPB Shell 81, que tinha Gang 90 e Joelho de Porco entre os participantes. A ideia do Júlio era fazer um coletivo, não um grupo. Por isso a Gang teve N formações. O Guilherme Arantes foi um dos primeiros, fez “Perdidos na Selva” se eu não me engano. Pelo menos o refrão foi ele que fez. Foi um choque. “Puta, que legal, graças a Deus!”. Porque foi a primeira vez que alguém apareceu com óculos escuros mais futurista, roupa colorida, pós-punk new wave, calça vermelha as meninas cantando tipo B52’s. Isso antes da Blitz, que recebeu influência direta da Blitz. O Júlio morou um ano em Nova Iorque. De lá ele escrevia, contava as novidades e tal. Isso que estou te falando é inclusive texto do próprio Julio contando. Ele estava em Nova Iorque e junto com o Okky de Sousa bolaram a Gang, fizeram o conceito da Gang 90. Ele


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voltou pro Brasil e uma das primeiras pessoas que ele encontrou foi o Guilherme Arantes. Ele já tinha a letra de “Perdidos na Selva” e rolou toda a história. Também tinha uma forte influência dos beatniks. Então ele era boêmio, porra-louca. Tem a história do dente quebrado, que ele estava bêbado no dia que o John Lennon morreu. Ele foi encher a cara, caiu, quebrou o dente e disse que nunca mais ia consertar, porque tinha sido no dia que o John Lennon morreu. Os dois discos da Gang são maravilhosos. Falo e fico arrepiado. As músicas são curtas-metragens. A Gang não é um grupo comercial, fez 3, 4 músicas pop, mas o resto desse repertório são todas lado B, não é música que toca em rádio. O Cazuza também veio na onda do Júlio. Tanto que tem a história do enterro do Júlio em que ele e o Lobão estavam chorando e cheirando em cima do caixão, porque ele influenciou todo mundo. A partir da Gang tudo aconteceu. Aí veio o disco do João Penca que é de 83, um dos primeiros discos da geração 80. 29:02 / 30:05

O ponto de virada do rock candango foi o festival da ABO, que foi uma coisa da turma de Brasília mesmo, não foi nada externo. Todos se empenharam em fazer algo profissional, com luz, com som, com bom equipamento. Todos deram a devida atenção aos instrumentos. Não só os que tocaram, mas também os que não tocaram e estavam lá pensaram “isso pode dar certo esse negócio”. A partir daí, começou a surgir um contato mais forte com o eixo Rio-São Paulo, porque estavam prontos pra poder aparecer. Os Paralamas quando gravaram, já falavam de Brasília, citavam os grupos, falavam que tinham morado lá e tudo. Então já começou um burburinho. Agora em nível nacional, foi “Será” da Legião. Legião, Plebe, Capital começaram a participar do eixo Rio-São Paulo. Eles iam mais pro Rio e depois de um determinado momento começaram a ir pra São Paulo também.


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31:04 / 31:26

A gente mesmo, que não tocava, era da turma e participava dos shows, ensaios, ouvia as demos, nós víamos a olho nu a mudança, a profissionalização deles. Aí quando surgiu a Fluminense FM, porra cara. Espaço pra tocar nas rádios de Brasília só surgiu depois do sucesso desses grupos. Por isso a bronca que a Legião tem um pouco de Brasília. Não bronca, mas ficou uma relação estranha depois do show no Estádio Mané Garrincha.

31:44 / 35:06

Eu sei de gente que entrou com droga, não só maconha, mas cocaína no bolso. O Dado conta que eles não quiseram ficar na casa dos pais, dos parentes, exatamente pra se concentrarem para o show. Então resolveram ficar no hotel ao lado do estádio. Lá em Brasília o que separava o hotel do estádio era o eixo central, onde tem a torre de TV, então era fácil chegar. Só que o Dado falou que quando eles chegaram no estádio, demoraram uma hora só pra atravessar o portão do estádio com o ônibus. O tumulto já estava generalizado desde cedo. Não sei que horas foi o show, mas desde as 6, começou uma zona, não tinha fila organizada. Polícia jogando cavalo em cima do público, coisa que a gente via no Hollywood Rock aqui em São Paulo. O Dado conta que eles ficavam no ônibus, andando de dez em dez centímetros até passar o portão, vendo todo o tumulto que estava acontecendo. Eles já ficaram tensos dentro do ônibus e saíram de lá mais tensos, o som deu problema, entraram atrasados no palco. Nego xingando, puto porque estava sendo maltratado. Foi culpa da organização, só que aí uma parte dos jovens de Brasília começou falar mal. Tem a famosa pichação “Legião não voltem mais” e isso chateou.

36:09 / 37:03

Lembro que encontrei com o grupo aqui em São Paulo um mês depois num show de aniversário da revista Bizz, bem legal inclusive. Fizeram dois em um, um de cover e no bis o show com repertório autoral, no Projeto SP. Encontrei Renato, Dado, Bonfá


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e Negrete. Eles estavam todos muito chateados, era a primeira vez que eles estavam se reunindo pra tocar. Lembro que o Renato estava preocupado com algumas letras, eles tocaram Doors, Neil Young, Led Zeppelin Beatles, Stones, fizeram um showzaço de covers. Eles estavam tristes, muito pra baixo. O legal é que o show foi bom, foi do caralho e deu pra enfiar o pé na jaca no hotel depois (risos). 48:00 / 49:47

Estudei numa escola em Brasília chamada Sigma. Mudei pra essa escola logo quando abriu. A gente não precisava usar uniforme, o portão ficava aberto, era bem legal. Philippe Seabra estudava lá. Sabe aquela época que você vai pra sala, faz a prova e sai, tem que esperar a próxima prova? Em um desses dias, levei meu rádio gravador e levei uma fita com demo da Legião, fita nossa da turma. Levei pra mostrar pra galera, isso era 84, 85. Na primeira oportunidade, acabou a prova, saí e coloquei alguma coisa da Legião ou Plebe. Chegaram dois amigos muito playboys da minha sala, que eram primos, eu fazia 7ª série. Eles sentaram lá comigo, tal e falei que era um conjunto de rock de Brasília, era Legião que estava tocando. Aí passou uma música e eles falaram “meu, tira essa bosta, põe na rádio”. Um ano depois, já não estava mais nessa escola e fui visita-los em junho, bem nessa época de prova. Encontrei os dois no estacionamento da escola com o carro aberto escutando um som. O que eles estavam escutando? O disco da Legião Urbana. Isso é pra ilustrar o quanto que as pessoas em Brasília não davam a menor bola. Tudo que o Brasil veio conhecer da Plebe, da Legião, do próprio Capital, aquele repertório clássico, já estava tudo lá.

51:45 / 53:15

Não era uma coisa que só os amigos sabiam, ele falava isso em entrevista. Ele tinha esse desejo de escrever um livro da turma e dizia que quando a Legião terminasse, o desejo dele seria virar escritor. Vivia falando que um dos primeiros livros que ele iria fazer seria sobre turma e ele morreu em outubro de 1996. Em


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1997, eu fui acometido com síndrome do pânico, que me pegou pesado, eu desmaiava, tinha dor no peito, foi bem esquisito. O pouco de literatura que tinha sobre síndrome do pânico falava pra sair da rotina, fazer esporte, pintar, ocupar a cabeça com outras coisas e eu já queria escrever um livro, mas não sabia como. Queria escrever, ponto. Aí estava lendo um livro do Doc Comparato, que é um roteirista e diretor. No prefacio ele dizia: “se você quiser fazer alguma coisa, comece pelo que você conhece”. Lembro até hoje. Fechei o livro e falei: “vou fazer um livro da turma”. Renato já tinha morrido, os grupos se deram bem, já tinha um legado e tinha pouquíssima coisa de literatura musical sobre a nossa música segmentada, o pop-rock. 55:03 / 56:20

Era mais pra ocupar a cabeça, não pra publicar. Não queria colocar essa responsa no ombro. Fazendo pra gastar meu tempo, curtir minhas férias, rever os amigos e ver no que vai dar. Comprei um gravador, fitinhas, um monte de pilhas e foi uma delícia. Tenho conversas que foram feitas em mesa de bar. Mas antes de fazer o livro, liguei pra algumas pessoas. Liguei pro Dinho, falei com o Bonfá, umas quatro, cinco pessoas. Só o Dinho que estava fazendo um livro da turma. Ele falou pelo telefone: “não fala mais nada, vem aqui em casa”, ele morava ao lado da MTV. Cheguei na casa dele, ele abriu o computador e era uma parte do primeiro capitulo do livro dele. Não sei porque ele parou, mas tinha ficção, era um romance. Eram os personagens da turma, algumas histórias, mas era um romance. O meu ia ser um documento mesmo, os fatos e ele falou “faz, porque não vai dar conflito”. Foi gostoso, ia pros lugares de bicicleta, mochila nas costas. Eu era solteiro, voltei pra São Paulo mais leve da síndrome, comecei a lidar melhor com a doença. Quando fiz o livro, pensei em fazer um livro atemporal. Preciso registrar aqui a forma como foi exatamente, porque daqui 200, 500 anos, não vai ter mais ninguém aqui.


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57:10 / 58:05

Quando lançou ainda não tinha muito livro sobre pop-rock brasileiro. Principalmente desse jeito, segmentado, falando de uma cena específica, desse jeito maluco, com essa diagramação, com esse tamanho. Essa primeira edição faz parte da Biblioteca de Berkeley, da Universidade da Califórnia. Se não for o único, é um dos únicos livros escritos em português. Devem ter dois ou três. Tem livros de música brasileira lá, escritos em inglês, sobre bossa nova, samba. Mas sobre rock e escrito em português, é o meu livro. Muito legal isso.Você vê cenas no “Somos Tão Jovens” que eles escreveram baseados em textos que estão aqui. É o único documento real com a participação dos protagonistas. Tem outros livros de outros autores sobre Renato Russo, mas vieram depois do meu.

01:07:14 /

Cena rock não vai ter mais. Do jeito que foi a cena dos anos 80 e

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dos anos 90, não vai ter mais. O Brasil tem essa triste tradição de não ter memória, de só querer saber o que está acontecendo aqui e agora. A gente não dá valor ao estudo, não valoriza leitura, não valoriza a pesquisa. Até o Capital Inicial gravar o Acústico, todos os discos da banda estavam fora de catálogo. O repertório foi baseado nos discos que estavam fora de catálogo e aí com o puta sucesso que fez, a Polygram, que virou Universal, lançou uma caixinha com todos os discos. Então isso é uma mistura de país pobre, subdesenvolvido com o desdém com nossa história. Quer dizer que se o Capital não tivesse voltado, a gente nunca mais ia ter os discos do Capital? Como a gente não tem o do João Penca. Não tem nem em CD.

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Os anos 80 tem essa cosia também. As pessoas pouco

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valorizavam o Cazuza, assim como pouco valorizaram o Júlio Barroso, por ter morrido cedo. Tem gente que não entende o valor do Cazuza, acho isso muito louco. Porque ele falava de boemia e de amor de um jeito que ninguém falava, principalmente nos três discos do Barão que ele fez. Uma obra incrível, só que


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as pessoas renegam, não ouvem. Quando ouvem, ouvem duas, três músicas só. “Pro Dia Nascer Feliz”, “Ideologia”, “Faz Parte do Meu Show”. O resto da obra acaba sendo esquecida, o primeiro disco do Cazuza é maravilhoso. É mal gravado? É mal gravado. É mal produzido? É mal produzido, mas não entendem que isso não influencia na força da canção, da letra. 01:21:07 /

A gente não tinha ainda equipamentos de ponta, porque o Brasil

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era um país fechado. Era caro trazer um amplificador, um instrumento, um equalizador. Equipamento mesmo, mesa de som, cabos e tal. Isso tudo era muito caro trazer. O que tinha era nacional, ruim, aí tinha que se virar, alugava de quem tinha. Podia ter alguma coisa, mas não era o equipamento completo. Tinha um cabeçote para um baixo, uma pele, pratos bons pra bateria, mas a guitarra era ruim, as cordas eram ruins. Não tinha equipamento completo como hoje se tem, a partir dos anos 90 já tinha. Qualquer grupo que seja gravava um disco sempre com alguma história de algum instrumento ou equipamento que estava meio capenga. Era uma mistura de tudo isso. O produtor, o engenheiro que não sabia tirar um som, o diretor de gravadora que não queria um disco tão pesado. A maioria desses discos que saíram até pelo menos 86, 87, se tivessem saído com a concepção dos músicos, todos seriam diferentes. Esses grupos todos deveriam regravar seus primeiros discos, primeiro disco dos Titãs. É tudo tosco, velho. Essa tal de Gang 90 é um disco bom, tem uma qualidade boa. O do João Penca também, o da Plebe tem uma puta qualidade. São pouquíssimos desses discos, falando de 1982 a 1986. Disco bom e de qualidade do Cazuza, o Ideologia. Do Barão, o Carnaval. Você vai vendo que os discos bons estão mais lá pro final dos anos 80 e mesmo assim era quando o grupo sentava com os executivos e falava “a gente quer gravar um disco de qualidade”. Isso ajuda também um pouco a afastar o público dessa cena, porque as pessoas não vão pegar hoje e botar “Lobisomem da Ucrânia”, “Só As Mães São Felizes”,


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qualquer música do primeiro disco do Cazuza numa playlist. Até vai confundir a equalização. De repente vai estar escutando Nirvana numa qualidade linda ou algum artista de hoje em dia, uma Anitta, aí entra um artista desses que a gente tá falando numa qualidade ruim, volume baixo. Não ajuda a pessoa querer escutar hoje, escuta quem sabe que o repertório é bom, quem viu ao vivo. Eu vi Barão com o Cazuza ao vivo, vi Ultraje a Rigor, todos esses grupos que lançaram discos tecnicamente ruins, medianos, graças a Deus tive a possibilidade de ver e sei que ao vivo é diferente. A gente só foi ter qualidade e produtor entendendo de rock no Brasil a partir dos anos 90. 01:25:08 /

A partir do Selvagem, meu amigo, ninguém segura Paralamas.

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Até o Nove Luas só dá Paralamas. O Selvagem foi um impacto. Uma porrada na cara de todo mundo, da mídia, dos fãs. Me impactou muito mais do que o Cabeça Dinossauro, que foi um puta boom, mas falando por mim, eu já escutava o London Calling, já ouvia o The Clash, Elvis Costello, Stiff Little Fingers. Já escutava um monte de grupos que o Cabeça Dinossauro tinha como referência, Talking Heads. Óbvio, puta disco, uau. Mas não me surpreendeu na qualidade. O Jesus me surpreendeu mais com os efeitos sonoros. Tem umas coisas dos Inocentes que você escuta tanto no Pânico em SP quanto no Adeus Carne que você fala “caralho, os Titãs tiraram daqui” e não “os Inocentes tiraram dos Titãs”.

01:30:56 /

Tem um hiato aí. Veio essa geração 80 com todos esses artistas

01:32:01

que a gente citou aqui, primeiro e segundo escalão. Aí teve uma queda, uma decadência até por conta do momento político, social e econômico no Brasil, com inflação, aqueles planos malucos do Sarney. Logo na sequência veio uma geração da virada, entre 1989 e 1993, 1992 até. Nesses três, quatro anos veio uma geração que renegou a geração 80. Uma geração que começou a cantar em inglês. Muito grupo que fazia uma música que não era


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nada empolgante, nada que já não era feito lá fora. Gostava deles, ia aos shows, a gente se divertia, lançaram discos. Gostava por exemplo de Killing Chainsaw, que era de Piracicaba, o Rodrigo também morou em Brasília e tal. Eu tinha uma relação próxima, vi o grupo nascer, vi muitos shows deles em Piracicaba, em São Paulo. Tinha uma relação com eles diferente dos outros grupos. Tocavam bem, era divertido, tanto que hoje me fala uma música do Pin Ups ou do Yo-Ho Delic, ninguém cita. Tirando o Sepultura, nenhuma pegou as fitas e foi tentar a vida lá fora. É muito cômodo ficar no Brasil cantando em inglês e óbvio que não ia dar certo. 01:32:27 /

Então a gente teve um vácuo entre a geração 80 e a geração 90.

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Aí veio a geração que estourou, Pato Fu, O Rappa, Planet Hemp, Raimundos, Skank. Ao contrário das bandas da virada da década, elas começaram a citar os artistas dos anos 80. O Chico Science, os próprios Raimundos. Todo mundo citava Titãs, citava Ira!. O Chico Science gravou Fellini. Como eles falavam desses artistas, as pessoas começaram a prestar mais atenção. Chegou uma hora que o Sepultura estava estourado lá fora e tinha que fazer uma carreira no Brasil. O que eles fizeram? Gravaram “Polícia” dos Titãs. Teve o primeiro VMB com Titãs e Sepultura, teve Gilberto Gil e Chico Science, tocando ao vivo na premiação.

01:33:13 /

Essa cena dos anos 80 que influenciou os anos 90, só que

01:34:49

acabou e fim. Os Los Hermanos mesmo podem citar uma banda ou outra, mas eles preferem falar de outros artistas, até de MPB e tudo. Aí veio essa geração pós-internet nos anos 2000, agora na segunda década, ninguém fala de anos 80. Inclusive tem o Tim Bernardes, que é filho do Mauricio Pereira que era do Mulheres Negras. Mas você vê que o som dele não tem nenhuma ligação com o que o pai fazia ou com o que a geração do contexto do pai fazia. Então o legado é pouco na verdade, infelizmente é pouco. Ele foi valorizado no meio dos anos 90 e depois acabou. Agora


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se aparece alguém novo e falar que gosta do Gueto, todo mundo vai escutar o Gueto. É muito bom quando você ouve um artista que você gosta numa entrevista citar outros artistas que você gosta. Assim como quando escutei o Chico falar dessa cena alternativa de São Paulo. Um cara da minha geração falando de coisas que ninguém fala. Fellini, de Mercenárias, de Voluntários da Pátria. Isso tudo foi muito renegado durante um tempo. O que faz mal pra história do Brasil e o que faz mal pra termos um legado, seja de quem for, é essa falta de interesse que a gente tem. 01:37:29 /

Por exemplo, a geração 80 não tem nada a ver com a geração

01:38:22

70, nem com a Jovem Guarda. Tem gente que reclama. A Legião Urbana não tinha nada a ver com a Jovem Guarda. Quem tinha a ver, que era o Barão Vermelho, um grupo ou outro, citava o Renato e Seus Blue Caps. Eu que comprava revistas, lia entrevistas, via as citações. Mas a geração 80 não tinha influência do rock brasileiro, porque houve um buraco entre os anos 60 e os anos 80. Anos 70 foi marginal, não tinha rock na trilha de novela. Tinha um pouquinho de espaço, mas não tinha revista segmentada, não tocava em rádio, então criou-se um buraco.

01:41:33 /

Hoje você tem o Twitter, você pode se expressar no Instagram,

01:42:29

pode fazer vídeos no YouTube, existem outros jeitos de você se expressar, de opinar, de fazer uma história. Hoje tem faculdades de vários tipos, publicidade, jornalismo, marketing, TI, design, moda. Antigamente não. No começo dos anos 80 até meados dos 90 era só odontologia, engenharia, direito, medicina. Era assim, você será o que seus pais são e o que o jovem não quer é ser igual ao pai, sacou? Então, onde eu vou extrapolar, me expressar, gritar “chega”? Era na música. Ainda mais com censura. Por isso que “Inútil” estourou. Naquela época de repressão, pré-abertura, vem aquela letra. Aquilo falava por todo


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mundo, bicho. 01:46:10 /

“Perdidos na Noite” e “A Fábrica do Som”, que não eram

01:46:58

transgressores, mas tinham comédia, era mais debochado, uma bagunça. Tinha um roteiro, mas não precisava seguir, era diferente, mas não era suficiente pra gente. Então a música tinha um papel fundamentalíssimo na nossa vida, ao contrário de hoje. Por causa da tecnologia, de outros interesses. Mas isso é normal, não fico triste e as pessoas nem devem ficar triste por causa disso, é normal.

01:49:34 /

Escuto as coisas nacionais, Cazuza, Gang 90, Gueto, Ira!,

01:50:02

principalmente dos três primeiros. Gosto do “Clandestino” também, de outros discos, mais o “Psicoacústica”, o “Vivendo e Não Aprendendo”. Escuto tudo, Itamar Assumpção, os primeiros discos do Barão Vermelho, “Os Maiores Sucessos de João Penca”. Tudo isso tá aqui no meu iPod, escuto direto, continuo escutando.

Repórter: Jefferson Vicente


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Entrevista – Cesar Gavin

Data - 08/09/2020

Editoria

Tema

Assunto

Cultura

Música

Rock Brasil Anos 80

Tempo

Conteúdo

in / out

A diferença minha pro meu irmão é quase dez anos. Quanto eu

00:23 / 02:25

tinha 6 ele tinha 16. Então ele ouvia demais as bandas internacionais e muito as bandas dos anos 70 na época. Ele ouvia Casa das Máquinas, Joelho de Porco, Os Mutantes, O Terço, eu tinha 6 anos e ouvia isso todos os dias. Logo depois ele começou a tocar e com 7, 8 anos eu comecei a acompanha-lo nas bandas. Aí eu acho que já tinha uns 12 anos, ele entrou no Ira. Foi a época que a gente começou a ouvir The Police, The Cure, as bandas punks todas, Pistols, Ramones. Eu ouvia Kiss, as bandas de metal, hard rock e eles ensaiavam em casa. O Nasi também era muito fã do Kiss e ele dizia que eu precisava conhecer as bandas punks novas. Eu falei ‘vou te dar uma fita e você grava pra mim o disco ao vivo dos Ramones?’. Imagina, ninguém tinha aquilo aqui. No final de semana seguinte, já estava esperando a fita e ele fez uma compilação punk pra mim. O cara teve a paciência e gravou Sham 69, Gang of Four, The Jam, The Clash, Ramones, Angelic Upstarts, Sex Pistols com aquele The Great Rock 'n' Roll Swindle.

02:53 / 04:57

Eu ia aos ensaios, aos shows, nas passagens de som. Larguei a minha adolescência. Você acha que eu ia ficar brincando na rua com o Ira ensaiando em casa? Você tá louco! Ia aos shows do Ira, Mercenárias, Ultraje, Voluntários, depois veio toda a turma, Violeta de Outono, o Nau. Na época tinha o Cabine C também que era Charles Gavin, Edgard Scandurra, Sandra Coutinho, Ciro Pessoa e a Vânia Forghieri. Ciro que já era dos Titãs, também saiu, montou o Jetsons com o Charles e o Branco Mello, que depois acabou virando o Cabine C. Dessa turma veio todo mundo


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que sempre falo nos programas. As Mercenárias, Voluntários, Magazine, Ultraje. Ingressei nessa turma aí. Ia na casa do Ciro na Vila Mariana ver ensaio do Ira. Enquanto a banda ensaiava, ficava esperando no andar de cima parte do Cabine C, o RPM, aí chegavam os Titãs, depois o William da Blitz, irmão da Vânia, que era casada com o Ciro. A casa do Ciro era um ponto de encontro. A noite tinham os shows. Me lembro que o Ira ia tocar no Napalm e eu fiquei pra ver a passagem de som da Legião Urbana. Foi a primeira vez que a Legião veio pra São Paulo. Foi incrível porque o Napalm virou um point de shows e foi por curto tempo. Inocentes, Ratos de Porão. Isso tudo em 82, 83, 84. 04:59 / 05:35

Ao mesmo tempo, começaram a estourar as bandas na rádio. Começaram a estourar a Blitz, a Gang 90, o Herva Doce e o Rádio Táxi com aquela “Põe Devagar”. Falei “caramba, o que é isso? Rock nacional na rádio” e os caras tocando bem. Fui ver e eram os caras do Tutti-frutti que tocavam com a Rita Lee. Aí você vai entendendo tudo. Era uma super banda, é até hoje.

07:01 / 07:48

A coisa foi crescendo tanto que a Warner e o Pena Schmidt se interessaram pelas bandas paulistanas. Ele contratou os Agentss, o Ira, o Ultraje, o Azul 29 e o Magazine. Contratou os cinco, os Titãs também estavam pra lançar o disco. De repente estourou “Eu Sou Boy” do Magazine. Tinha uma loja na Rua Barão de Itapetininga chamada Wop Bop. Quando fiz a “curvinha” na galeria, vi o compacto do Magazine e fiquei louco. Foi assim com os outros. Estourou o Magazine e logo depois os Titãs.

09:51 / 10:09

Pra mim o ponto inicial mesmo é a Gang 90 com o MPB Shell e o Guilherme Arantes faz parte disso, porque ele gravou “Perdidos na Selva”. O arranjo é dele, a voz é dele. Ele não pode deixar o nome no compacto porque ele também estava concorrendo com outra música autoral, que era o “Planeta Água”.

10:53 / 11:35

O mérito principalmente é da Blitz. A Gang demorou um pouco pra engrenar, porque o Júlio Barroso era muito confuso. Era


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muito inovador também, vanguarda. Era muita loucura. Tanto é que o disco da Gang 90 só saiu em 1983 pela RCA. Demorou aí um ano e meio. Nesse um ano e meio, a Blitz explodiu com “Você Não Soube Me Amar”. É uma turma, porque a Blitz vem do Asdrúbal Trouxe o Trombone, que era um grupo de teatro no Rio. Tinham os músicos que eram da Gang e tocavam com a Marina, que eram o Lobão, o Antônio Pedro e o Billy Forghieri. Então a Blitz é uma dissidência dessa turma aí. 13:09 / 14:02

Hoje as pessoas não dão muito valor as coisas, tudo a “cultura do grátis”. Ninguém se preocupa com ficha técnica, encarte, bom som, masterização. Eu recebo mensagens de bandas novas e elas não me mandam release, ficha técnica. “Cadê ficha técnica? Cadê release? Não fiz”. A banda solta o som no Spotify e acabou. Não existe arte, não existe informação. Enquanto não mandar release, ficha técnica com o nome dos músicos, eu não coloco no meu site.

16:00 / 16:40

Os anos 80 foi uma mudança muito brusca na indústria fonográfica, mudou tudo. Isso também se deve as bandas dos anos 70. Não era uma coisa gigante, popular. A Blitz mudou isso. As gravadoras começaram a investir em artistas novos e saiu contratando todo mundo. Polygram contratou o Capital Inicial, a CBS (hoje Sony) contratou o Tokyo, Metrô, Rádio Táxi e por aí foi. Mas poucos artistas dessa geração duraram, que é o trio de ferro: Titãs, Paralamas e Legião Urbana. Claro que teve o RPM que foi aquele boom, aquele pico e acabou, o Barão Vermelho, o Ira! e o Capital que permaneceram a década de 80. Mas por exemplo, o Capital Inicial não fazia o sucesso que fez depois do Acústico MTV e fazia até pouco tempo atrás.

17:53 / 18:23

O Camisa de Vênus foi uma coisa monstruosa. Ao vivo era sold out e a casa inteira cantando tudo. Tanto é que foi daí que saiu o “bota pra fudê”. Depois veio os Engenheiros do Hawaii, que fez muito sucesso. Não podemos esquecer do Lobão também, que


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foi muito importante e o Guilherme Arantes ficava entre o Rock e MPB. Ele já também primeiro time. Mas no final dos anos 80, sumiu todo mundo, sumiu. “Cadê o Rádio Táxi, o Metrô, o RPM?”. As bandas foram acabando, foram se separando. 18:27 / 19:10

Eu acho que eles abriram portas muito para a década seguinte. O que aconteceu? A virada em duas coisas. A indústria fonográfica e o videoclipe, onde entra a MTV em 20 de outubro de 1990. Ali mudou tudo, porque eles criaram essa indústria do videoclipe. Trabalhava no departamento artístico da MTV, cuidava das gravadoras independentes. Fiz uma conta em 1996 e eu atendia 61 gravadoras. Pra você ver como virou a indústria fonográfica, que favoreceu o videomaker. O que mudou também nos anos 90 foi o jabá, quando surge pagode, sertanejo e o axé. Mudou tudo de novo também e virou pro popularesco. Agora vamos pensar, fazer uma analogia, se não tivesse a MTV, como seria a música brasileira? Skank, Pato Fu, Planet Hemp, Chico Science & Nação Zumbi. Lembro que no primeiro VMB, a Sony tinha acabado de lançar o Jota Quest e fez uma promoção com a MTV. Então o cara saía da festa da MTV e ganhava o primeiro CD do Jota Quest. Essa geração toda. Raimundos, Mundo Livre S/A, Maskavo Roots. Te dou um monte de nome. Imagina se não tivesse a MTV? Não existia mais rock hoje.

23:21 / 24:00

Pra mim o melhor dessa geração é o Clemente. Quando saiu o segundo disco dos Inocentes, primeira vez que ouvi “Pátria Amada”, até me arrepia, eu chorei. Falei ‘como esse cara consegue escrever isso?’. Pra mim é o Sérgio Britto e o Clemente. Não eram letras óbvias, também não era poesia. Mas o contexto da obra, os arranjos, a temática, melodia. Pra mim eram os melhores.

26:38 / 27:12

Os Titãs nunca tocaram essa música ao vivo, mas é uma obra prima pra mim, chamada “Infelizmente”, que é do disco Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas. Pra mim ela é tão incrível que tive banda, tocava e falei pro Britto que não entendia


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porque não trabalharam essa música. Tenho uma banda de rock and roll e a gente vai fazer uma versão. Eu tinha uma banda chamada Bala de Prata com o Mário Fabre, que é baterista dos Titãs hoje e a gente fez uma versão de “Infelizmente”. 28:23 / 28:31

Outro letrista que eu gosto demais é o Finho do 365. Me identificava muito com as letras dele. Arnaldo, Renato e Cazuza estão no top, mas eu cito esses três que são os que eu mais me identificava.

36:19 / 38:40

O Ciro não é desse mundo, nunca foi. Ele é de outro mundo e ele nem sabia de que mundo ele era. Era uma mistura de tudo e nada ao mesmo tempo, que se contradizia, mas se juntava. Cheguei a ver os Titãs com o Ciro ainda, graças a Deus, antes de lançarem disco e era muito diferente. Ele tinha uma certa liderança ali. As coisas que ele falava, as letras dele. O Ciro faz parte dessa poesia da música dos anos 80. O Cabine C era indescritível, a melhor banda de todas. Era imbatível. Tudo ideia do Ciro. Era uma mistura de Siouxie and the Banshees com Cocteau Twins e uma pegada Gang of Four. Um lado pop que o Ciro tinha colocado nos Titãs. Tem aquela música “Inundação de Amor”, dele com o Júlio Barroso, que depois o Ira! gravou. Não é à toa que a banda implodiu, porque todo mundo foi em cima. O Charles foi pros Titãs, que levaram também o iluminador do Ciro. O Gaspa e o Edgard continuaram no Ira!. Ficou ele e a Vânia. Contratados pelo selo do RPM, que também não fabricava e nem distribuía o disco. A banda foi patinando. O Ciro foi uma perda incalculável. Fora o humor dele, sarcasmo. Estamos falando da parte poética.


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41:22 / 42:24

Trabalhei quase cinco anos como roadie. Foi muito valioso pra mim. A maior escola de vida foi ter trabalhado com os Titãs. Não existe escola de vida igual. Viajamos para alguns países, Brasil tudo que você possa imaginar. Mas me desgastou demais, em todos os sentidos. Muita loucura, muito cansaço, muito trabalho. Você não tem vida. É legal quando se é muito jovem. Eu tinha 21 anos, foi maravilhoso, mas surtei. Falei “chega, isso não é pra mim” aí parei. Uma pessoa me perguntou numa entrevista: “quantos shows dos Titãs você viu na vida?”. Aí fiz uma conta e disse: “mais de 600” (risos).

44:32 / 46:10

Imagina que cai um meteoro no seu colo? O que você vai fazer? Na verdade, a gente nem chegou a ensaiar. Fiz a passagem de som e tocamos a noite. Estávamos de férias e o primeiro show era no interior do Paraná. Naquela época eu meio que morava em Curitiba, tinha uma namorada lá. Fui encontrar os caras no aeroporto pra gente pegar o ônibus pra Pato Branco. Aí vem o Marcelo Fromer, piadista como sempre e disse: “você tá ferrado, você vai ter que fazer o show, o Nando se machucou”. Passou o Britto e falou a mesma coisa. Pensei, inventaram essa piada pra encher o saco. Aí olhei o desembarque e não via o Nando Reis. Aí pensei: “só vou acreditar na hora que o Charles falar”, porque ele é o cara mais sério de todos. Aí ele falou: “já tá sabendo? O Nando não vai fazer o show e eu assumi que você vai fazer. Ele se machucou ontem à noite e a gente não pode cancelar”. Eles dividiram as músicas entre mim e o Mário, que era roadie do Marcelo. O show deles na época tinham 31 músicas. O Mário fez 6 e eu fiz todas as outras. Não me pergunte como, mas fiz, tá registrado. Na semana seguinte era o Hollywood Rock e o Nando quase não fez. Já estava um falatório, se o Nando não fizer você vai fazer. Pensei: “só me faltava essa”. Em 2009, estava na TV Cultura e levei o Vanguart pra tocar lá. O Baterista veio falar comigo dizendo que estava no show e havia filmado. Passou um mês e ele me mandou o vídeo. Inacreditável terem registrado


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isso. 48:29 / 50:45

Eu fiz faculdade de geografia e escrevi uma monografia que juntava rock, geografia e comunicação. Comecei a mapear o rock brasileiro. Por quê em Recife as bandas tem esse tipo de sonoridade? Vem do Luiz Gonzaga? Por que o Sul mistura o rock com acordeom? As letras de Brasília, das bandas punks de São Paulo. Fui pesquisando tudo isso e conto a história da indústria fonográfica. Aí eu estava na Rede TV e comentei isso com o Eduardo Dusek. Trabalhava como produtor musical do programa da Faa Morena. Ele me apoiou e falou “faz isso”. Depois fiz uma pós graduação, fiz mais uma monografia do rock brasileiro como didática. Aí resolvi disponibilizar tudo isso no site. Meu site é um guia artístico do rock brasileiro. Um mapeamento que você procura por gravadora, ano, músico, disco, gênero. E o Vitrola Verde montei em 2010. Eu estava na TV Cultura e levava os artistas para participar dos programas. E um amigo meu falou perguntou eu não os entrevistava pro blog. Comecei com uma camerazinha e fui indo. Tá aí até hoje.

56:36 / 57:30

Por conhecer esses caras desde criança, muitos deles acabam contando coisas pra mim que eles nunca contaram. O Edgard foi assim, o Ciro foi assim. Por isso que eu acho maravilhosa a história. Porque ela não pode ser contada por um lado ou uma pessoa. Deve ser contada por todos e o espectador deve tirar suas conclusões. Mesma coisa um filme. Eu fico com uma impressão, você com outra. Isso é o que faz parte da arte.

58:10 / 58:40

Pra citar um evento, nada muito grande, mas era maravilhoso. Ir todas as terças feiras no Aeroanta para ver as jams sessions e ir no Black Jack ver as bandas novas, que era um bar de rock do Paulinho Heavy. Cada dia era uma banda melhor. São os momentos mais marcantes da minha adolescência. Era genial.

Repórter: Jefferson Vicente


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Entrevista – Kiko Zambianchi

Data - 17/09/2020

Editoria

Tema

Assunto

Cultura

Música

Rock Brasil Anos 80

Tempo

Conteúdo

in / out

Então, eu comecei a ouvir o rock nacional com Mutantes, Terço,

00:28 / 01:41

Rita Lee, essas coisas que era o que a gente tinha aqui na época, Made in Brazil, Raul Seixas. Mas na época, eu estava em Ribeirão e eu ainda fazia um som diferente. Tinha muito MPB, muita coisa assim que eu gostava bastante. Principalmente porque de rock tinha pouca coisa e outro tipo de som pra ouvir era tipo “Discoteca” e tal, que eu não gostava muito. Aí quando eu cheguei em São Paulo que aí tinha uma cena inteira de rock and roll. Aí eu acho que foi o contato com a cena mesmo, com o que estava acontecendo. Eu vim conhecer Ira!, Titãs, essas coisas que eram mais da minha época. No dia que eu fui, o Nasi acho tinha quebrado a perna ou braço e quem cantou foi o Edgard. O primeiro show que eu vi foi esse. Ira! em São Paulo.

03:37 / 04:18

Eu cheguei e tinha muitas músicas. Eu enchia o saco do produtor. Ia atrás dele e falava “e aí, o que tá acontecendo? vamos agitar, vamos gravar”. Sei que o cara acabou arrumando mesmo o estúdio, as coisas. A EMI na época, EMI-Odeon se interessou e eu fui contratado não pra fazer o disco inteiro porque na época tinha o negócio do single. Mas fui contratado pra lançar o single de “Rolam as Pedras”. Tanto que quando eu voltei, meu pai falava “pô, eles falam que vão fazer, mas depois não vão fazer nada”. Ele não acreditava porque foi muito rápido. Acho que também na época eles estavam querendo criar uma cena de rock pra dominar, como acabou acontecendo depois, então estavam contratando muita gente e eu entrei nessa leva.


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06:12 / 06:55

O que tocava na rádio mais era Titãs, Blitz, umas bandas mais engraçadas e tal. Paralamas mesmo e eu realmente entrei com um negócio diferente na época. Eu falei pro produtor “não vai rolar”. Mas aconteceu e eu achei até bom porque eu não faço muita música engraçada, com esse apelo e ainda bem que surgiu a oportunidade de lançar um trabalho como “Rolam as Pedras”, “Primeiros Erros” que eram músicas mais “cabeça”, uma letra um pouquinho diferente do que estava acontecendo.

07:45 / 08:36

Erasmo Carlos foi lá no estúdio e pediu música pra mim porque gostou muito do “Rolam as Pedras”. Eu achei muito estranho porque eu tinha 23 anos e de repente o Erasmo Carlos falando que queria uma música minha. A Marina, logo de cara ficamos amigos na época. Ela não só gravou uma música minha, como gravou no meu primeiro disco. Ela e o Lulu Santos, que gravou uma guitarra. A gente passou uma tarde inteira e foi louco porque ele apareceu no estúdio com uma guitarra e falou “queria por uma guitarra no seu disco”. Do nada apareceu o Lulu Santos com a guitarra na mão, sem case. Foi muito legal, ele ouviu o disco inteiro, gostou de “Primeiros Erros” e falou “séria essa música”. Ele gostou bastante. Eu não conhecia ninguém, a gravadora não pediu nada pra ninguém. Não foi uma coisa de gravadora. Eles só descobriram que eu estava gravando e foram lá.

13:34 / 14:30

Acho que a Blitz que começou a aparecer mais e fazer com que o movimento tivesse força. Tinha um movimento na Europa de punk rock e tal, mas no Brasil não tinha chegado. Quando chegou no Brasil, praticamente estava acabando lá fora. Foi uma defasagem muito grande, não existia internet, então as coisas chegavam aqui bem depois. E o “Rolam as Pedras” foi legal por isso porque era uma música meio pós-punk e estava mais de acordo com o que rolava lá fora do que o punk que estava rolando aqui. Lá já estava caindo, era mais pro new wave e a música era interessante por causa disso.


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15:34 / 17:26

Qualquer programa de televisão era rock and roll que tocava. Foi uma coisa que nunca aconteceu no Brasil porque de repente o rock era a bola da vez em todos os programas, todas as novelas. Não era um só, eram vários. Não foi uma coisa específica de um programa de rock ou um programa voltado pra essa vertente da música. Era uma coisa generalizada. O Perdidos veio um pouco depois, mas também era isso aí. Pessoal tocando rock and roll. Fiz muito o programa do Fausto Silva aqui em São Paulo. Muitas vezes não tinha gente, as pessoas faltavam e ele me chamava e eu ia lá. Além do que ia pro ar, tinha uma coisa ali, sabe? Era meio que um show. Iam três músicas pro ar e o resto a gente ficava tocando tipo show. Era bem legal. Tanto o ele quanto o Chacrinha faziam shows dos programas. O Faustão fazia diferente, show com cachê e tudo. Um show em Limeira ou na Baixada Fluminense, que era playback. Fui uma vez e nunca mais, foi horroroso. Os caras marcavam uma noite e você ia lá pra cantar três músicas, mas eles marcavam sete playbacks numa noite. Terminava e ia pra outro, um negócio absurdo. Nesse dia cheguei em um as 5 e meia da manhã, o cara já bravo e tinha uma segurança muito grande, um negócio bem truculento e aí eu achei muito estranho, principalmente pelos artistas ficarem dublando. Não me agradou. Se você fazia, tinha certo privilégio. Você fez o playback então você participa do programa do Chacrinha. Era um “jabá”.

19:03 / 20:25

Não tinha internet, o acesso fácil. Se você quisesse ver o artista, tinha que ir aos shows ou ver na televisão. Também não tinha MTV. Você fazia um clipe e não ficava repetindo quinhentas vezes. Fazia um clipe pro Fantástico, tocava no domingo e acabou. Não tinha aquele cuidado que tem quando é um clipe que que vai ficar passando e repassando. Muita gente fala mal as vezes, mas é a mesma coisa que você criticar o 14-bis e falar que o jato é melhor. O começo de tudo sempre é diferente, as tecnologias. A coisa da bateria eletrônica, o mídi. Isso tudo foi um


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começo. É claro que não tinha a mesma qualidade que tem hoje. Hoje você tem uma bateria eletrônica e ela faz virada, simula um monte de coisas. Na época era só “tá-tum” “tá-tum”. Completava com outras coisas, mas era bem diferente. As pessoas estavam começando com tecnologia. 22:15 / 23:05

Teclado sincronizado com bateria, quem eu vi logo de cara fazendo foi o RPM. Eu vi um show inclusive porque quando eu vim pra São Paulo conheci o Paulo Ricardo. Ele não era músico ainda, era crítico de uma revista chamada Som Três. Eu já era contratado e levei um cara da gravadora pra assistir e foi justo nesse show que eles erraram tudo. Sei que a gente acabou indo embora. O cara achou a banda uma porcaria. Depois de seis meses os caras estouraram de uma forma absurda e eu falei pro diretor da gravadora, porque eles assinaram com a CBS, a Sony atual. E eu falei “tá vendo, falei que essa banda ia estourar e você não acreditou”. Ele se arrependeu muito, porque o RPM vendeu muito, estourou bastante na época.

27:26 / 31:04

O rock na época tinha essa coisa de ser a bola da vez. Assim como hoje quando um cara manda a música pra uma gravadora e o produtor fala “o que tá rolando hoje é funk”, na época era o rock. Acredito que o cara que fazia MPB, Samba, mandava música e os produtores falavam “o que tá rolando é o rock”. Eu acho que hoje acontece a mesma coisa com funk, com samba, com outros tipos de som. Isso foi muito bom, porque foi aparecendo um monte de banda de rock, que estavam escondidas. Com o passar do tempo, as pessoas foram tendo referências de rock nacional, que foi o legal. Com o passar do tempo ter gente que ouvia Legião e começou a fazer rock ou que ouvia minha música. Foi aumentando o número de pessoas que tocavam rock. A diferença também é que antes existiam os diretores artísticos. Pra você chegar ao patamar de artista, tinha que passar por várias fazes. Um entendedor de música, um


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diretor artístico tinha que gostar do seu som pra você ser contratado. Hoje em dia tem a coisa da internet. Se a pessoa for engraçada,

tiver

uma

sacadinha,

consegue

milhões

de

visualizações. As vezes o cara faz uma música, nunca mais faz outra e consegue um sucesso estrondoso. A gente já viu um monte de artista. Também não existia afinador de voz, tinha que cantar mesmo. Tem o lado bom e o lado ruim dessa “evolução musical”. Tem o lado da evolução tecnológica da música, mas a evolução musical mesmo não aconteceu. Foi uma “involução” no sentido de aprendizado. Por exemplo, o pessoal dos anos 80 queriam coisas novas. Eles gostavam de ver uma banda nova e quando alguém descobria uma banda nova, esse alguém se achava legal. Se fosse legal mesmo, um monte de gente começava a seguir a banda. Quando aparecia alguém que tocava igual a mim ou a Legião, o público odiava. Era uma repulsa natural. Isso nos anos 80 jamais era permitido, coisa que hoje em dia não é mais assim. Você vê vários sucessos com a mesma harmonia, uma coisa igualzinha, tocando igual. Você fala “nossa, essa música é igual a outra” e todo mundo acha legal. Vira uma miscelânea, é estranho. 38:10 / 39:11

Porque a música te traz um estado de espírito e parece que as músicas de hoje têm sempre o mesmo estado de espírito. Eu gosto da diferença, de músicas que me dão paz, me dão alegria, tranquilidade. Cada música te dá uma sensação. Claro, a música mais popularesca sempre vai acontecer e ela acontece mais não só no Brasil, mas em todos os lugares. Mas quando tem um pouquinho mais de educação musical, acaba tendo outras vertentes que também conseguem acontecer, que também conseguem sobreviver e tem público.


59

44:00 / 45:24

O Capital não tinha gente que tinha o violão como primeiro instrumento e precisava de alguém tocando violão. Eu cantava também, então foi um negócio legal, fiz alguns arranjos. Foi muito legal, todas as músicas fizeram sucesso, foi um “discão”. Acho que vendeu mais de 3 milhões de cópias juntando CD e DVD. Foi uma das melhores coisas que aconteceram pra mim e pro Capital. Eles queriam regravar “Primeiros Erros”, falei “putz, vocês vão gravar, Simony acabou de gravar”. A ideia não sei se foi do Dinho ou do empresário, mas enfim. Participei desde o começo do projeto. É uma das vinte músicas mais tocadas do rock, pra você ter ideia.

46:33 / 48:07

Nos anos 90, teve aquela coisa da bundinha, dança do joelhinho, da perninha, do cotovelinho, todas as partes do corpo. Temos três, quatro bandas da época que ficaram. Jota Quest, Skank, Charlie Brown, que acabou e tal. Então assim, é legal pensar um pouco e lançar uma música que no começo ela tem um poder e vai crescendo. Por exemplo, quando lancei “Primeiros Erros”, “Louras Geladas” do RPM tocava muito mais. Ela tinha um público, mas a música foi crescendo aos poucos. Umas crescem, outras caem e o negócio do imediatismo as vezes prejudica a qualidade da música. Por isso que eu sempre falo “faz a música que você acha legal, com seu coração” porque isso é o que vai dar retorno. Querer entrar na modinha é prejudicial, porque passa um tempo se esse disco não acontecer, o artista fica com um disco que não é a praia dele e que não vai adiantar nada. Vai ficar até com vergonha de mostrar pros amigos. Faz o disco que você acredita, uma coisa bonita, bacana, que tenha valor. Caso não aconteça nada, se um amigo for na sua casa, você mostra o álbum com orgulho.

53:49 / 54:40

Dentro do rock, meus discos tem coisas diferentes, talvez por isso eu não tenha feito tanto sucesso quanto os outros. O primeiro é de rock, o segundo é mais funkeado, o terceiro é mais


60

Motown, black music, com produção do Luiz Carlos Maluly, gostei muito de fazer. O Ed Motta adora esse disco. Um monte de cosias surgiram e o legal da época é que havia um leque muito grande de estilos. Cada banda fazia uma coisa. 57:50 / 58:33

Tive muita discussão com meu diretor artístico na época. Ele tinha o Legião e os Paralamas que ele havia contratado. Quando eu estava entrando na gravadora, mudou a presidência, entrou o Beto Boaventura e chegou as mãos dele uma fita minha com duas horas de músicas compostas. Falou “vamos contratar” e ele passou por cima do diretor artístico que tentou me prejudicar por muito tempo, tentando me tirar, me botar pra baixo. Isso pra mim foi muito ruim, foi bem desagradável.

59:00 /

Teve a negócio do “Hey Jude”, que eu gravei pra uma novela.

01:01:07

Parece que vários artistas gravaram, escolheram a minha versão e o cara da gravadora querendo colocar isso no meu disco e colocou. Fiquei bravo na época. Aí cheguei lá na gravadora e ele falou “então, queria que você gravasse um disco com uma música do Lulu, outra do Leoni, outra do Guilherme Arantes” eu falei “o quê, meus concorrentes?”. Eles ainda fizeram um conchavo com a Polygram na época. Entraram em contato comigo me convidando. Fui lá, fizemos uma reunião, iam me contratar. Saí da EMI e o diretor da Polygram nunca mais me atendeu. Todos os diretores de gravadora na época eram amiguinhos. Eles ficaram bravos comigo e me deram o gelo. Nenhuma gravadora falava comigo. Esse mesmo diretor artístico propôs que eu fosse preso com uma maconha porque meu disco ia vender mais. Estava gravando um disco no Rio de Janeiro e uma vez que saí do hotel a polícia me parou dizendo “e aí Kiko Zambianchi, tudo bem?” e começaram a me revistar, achando que eu tinha alguma coisa. Não tinha nada, mas percebi que foi uma coisa “mandada”. O guarda falar “e aí Kiko Zambianchi” logo que saí do hotel? Achei bem estranho. Foi uma coisa combinada


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pra eu vender mais. 01:03:12 /

O Rock sempre é uma referência boa, pra quem tá fazendo e

01:03:42

escutando música e os anos 80 no Brasil, tivemos artista geniais que estão aí até hoje. Muita gente escutou as músicas daquela época e escuta até hoje. Então a importância é um pouco abaixo da MPB, da Bossa Nova, mas também está entre os ritmos brasileiros que mais influenciam a nossa arte.

Repórter: Jefferson Vicente


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Entrevista – Luiz Felipe Carneiro

Data - 04/10/2020

Editoria

Tema

Assunto

Cultura

Música

Rock Brasil Anos 80

Tempo

Conteúdo

in / out

Meu primeiro contato com a música coincide com o Rock Brasil.

00:55 / 01:40

Desde pequeno eu sempre pedia disco, então teve aquela fase do disco do Bozo, Plunct Plact Zoom. Mas se você pensar, tudo isso tinha Rock Brasil no meio. Me lembro que o disco do Bozo que eu tinha contava com aquela faixa do Magazine, do Kid Vinil, acho que Tic-Tic Nervoso se não me engano. Por exemplo Plunct Plact Zoom tem Raul Seixas, o Plunct Plact Zoom 2 tem o Barão Vermelho com “Sub Produto de Rock”, então coincidiu.

01:52 / 03:00

Meu primeiro disco, que eu costumo falar “meu primeiro disco de adulto”, a recordação que tenho é que foi “As Aventuras da Blitz”, que na verdade não era nem muito meu. Tenho um irmão que é dois anos mais velho que eu e o disco da Blitz é de 1982, mas acho que pintou lá em casa em 1983. Meu irmão tinha cinco anos, eu tinha três e me lembro que esse disco ficou logo pra mim. Vinha com as duas últimas faixas arranhadas a prego. A gente comprou na Mesbla do Barra Shopping, na época eu morava na Barra da Tijuca, não tinha quase ninguém na Barra e me lembro que colocamos o disco pra rodar e aquilo arranhado. A gente voltou no mesmo dia pra Mesbla pra trocar o disco, não me lembro se tinha alguma coisa escrita no encarte, acho que tinha na capa, mas ninguém prestou atenção, a gente voltou pra Mesbla pra trocar o LP e lá eles explicaram “não, vem tudo arranhado”. Me lembro do vendedor abrindo outros LPs pra mostrar que estava arranhado. Eles arranhavam a prego mesmo pra mostrar a agressão de uma música censurada, então eles pegavam disco a disco e arranhavam com prego, era uma coisa bem grosseira. Você chegava em casa e não sabia, parecia que


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aquele disco alguém havia pego o prego de sacanagem por assim dizer, pra arranhar o negócio, só que a gente não sabia que era censura. 03:30 / 07:57

Esse meu contato com a música se confunde com o Rock Brasil, até mesmo porque em 82, 83, 84, 85, o rock brasileiro era a música jovem no Brasil, por incrível que pareça. Me lembro bem no meu aniversário de 6 anos, estava sendo alfabetizado e o tema foi o He-Man e tinha um “castelo de grayskull” que era onde as pessoas colocavam os presentes. Me lembro que tinha LP do Rock in Rio, um LP do Barão Vermelho. Tá certo, estava fazendo 6 anos, talvez tenha sido um pouco precoce pra gostar de música. Mas me lembro depois com 10, 11 anos, eu comentava com os amigos da escola sobre o disco novo da Legião Urbana, do Barão Vermelho, dos Engenheiros do Hawaii. Quando começaram a ter algumas festinhas, essa era a música que tocava. É mais ou menos hoje que nem um adolescente que de repente começou a gostar de música por causa de funk, porque é o que é tocado hoje nas festas, Anitta, enfim. O rock brasileiro era o que estava ao redor, era o que uma pessoa jovem ia escutar, era o que tocava nas rádios. O Nick Hornby, que escreveu o livro “Alta Fidelidade”, tem um livro chamado “Febre de Bola”, onde ele descreve a relação dele com o pai, fala um pouco da vida dele através dos jogos do Arsenal. Acho que se eu fosse fazer algo do tipo seria através dos discos do rock brasileiro porque cada um marcou uma época, tem uma história na minha vida. Eu acho que quando ganhei o “Dois”, não sabia que tinha o primeiro. Mas me lembro que ele começa com aquela vinhetinha tocando “Será”, como se fosse uma emissora de rádio. Eu falava “poxa, essa música não tem no disco, essa música eu conheço”, sempre via a Legião tocando no programa do Fausto Silva. Aí depois eu vi “caramba, tem o primeiro disco”. Me lembro que meu irmão, que era o neto querido, ia sair com a minha avó pro shopping. Ela falou “você vai ganhar um presente”, aí meu irmão pegou o LP da


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Legião Urbana pra mim e me deu. 10:00 / 11:55

Já falei isso no canal até algumas vezes. No primeiro Rock in Rio eu morava na Barra, num prédio no 26º andar e a Barra era um deserto, em 85 tinham pouquíssimos prédios, muito pouco mesmo. A Barra era o lugar em que os namorados iam de carro pra ficar na praia a noite, era um lugar meio deserto, Jacarepaguá mais ainda. Mas a Barra é relativamente perto de Jacarepaguá. Dependendo do lugar da Barra que você estiver deve ser uns 15 quilômetros, 10, de onde eu morava era uns 15 quilômetros. Me lembro que queria muito ir ao Rock in Rio porque já gostava muito de música, do Freddie Mercury, do Cazuza, dos Paralamas. Chorei pro meu pai me levar, ele deve ter rido da minha cara “como vou levar o garoto naquele lamaçal?”. Aí me lembro que teve uma noite onde minha mãe falou “Felipe, vou te levar ao Rock in Rio”. Aí ela me levou na varanda e dava pra ver aquela iluminação absurda saindo. Apesar de morar 15 quilômetros, quando tinha corrida de Fórmula 1 aqui no autódromo do Rio de Janeiro, dava pra escutar o barulho dos motores, porque a Barra era muito deserta. No Rock in Rio não consegui escutar o barulho do som, mas parecia de longe que havia um disco voador pousado lá e saindo aquela luz, então esse foi o meu contato com o Rock in Rio de 1985. Depois fui a todas as edições. Em 1991 tive a sorte do meu pai ser chamado pra trabalhar como advogado, então tinha acesso a tudo.

14:21 / 15:19

Quando falo Rock in Rio, acho isso acontece em todos os festivais do mundo. O Rock in Rio deixou de ser um festival de música pra ser um grande evento. Você é bombardeado por propagandas imensas, parece que você tá numa feira da providência, sei lá. Pra mim é um evento que não diz mais respeito a música e acho que os próprios organizadores pensam dessa forma. Tanto que eles trazem as mesmas bandas sempre, não tem compromisso com a parte musical e sim com o que vai


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vender ingresso, o que vai esgotar em dez minutos. Então o Rock in Rio acabou entrando numa armadilha que eles mesmos criaram de fazer um negócio tão grandioso que se não for grandioso, não vai esgotar 17:26 / 18:23

O Lobão era um dos shows que eu mais queria assistir no Rock in Rio todo, porque era e sou muito fã do Lobão e pouco antes do Rock in Rio ele tinha lançado um disco ao vivo no Hollywood Rock e era o disco que naquele momento eu mais escutava. Eu me lembro, estava com meu irmão e meu primo debatendo quais músicas o Lobão ia tocar e quando ele entrou no palco foi um corta tesão mesmo. Fiz questão de chegar cedo, pedi pro meu pai nesse dia porque queria ver o Sepultura e o Lobão. Me lembro dele xingando o público. Eu, meu primo e meu irmão nas cadeiras pensando se voltava ou não, aí depois entrou a bateria da Mangueira e não voltou. Foi uma pena, porque aquele show do Lobão era muito bom. Pelo menos se ele fizesse igual ao disco ao vivo, seria arrasador.

23:19 / 25:45

Eles não são responsáveis pelo sucesso do festival. Muitos shows bons, Barão, Paralamas, mas o que abriu portas mesmo foram bandas como Queen, AC/DC. Mas acho que se não fosse essas bandas, não teria tido Rock in Rio, pois como falei pra você, era a música jovem da época, Blitz, Barão, Lulu. Era o que o jovem queria escutar, então o Medina sacou isso. Os artistas que mais vendem disco no Brasil são esses caras e tudo ligado ao rock, então tem que ser um festival de rock. Ele chamou a turma, alguns ele poderia ter chamado como Ritchie, Lobão, Ultraje a Rigor, mas de um modo geral a turma foi muito bem representada. Não dava pra fazer um festival só com bandas brasileiras, pois o pessoal já assistia elas no Circo Voador, então ele chamou bandas internacionais muito grandes, Queen, AC/DC, Ozzy Osbourne, que foi o primeiro a topar. Quando o Queen topou, todo mundo quis vir. Era a maior banda do mundo em


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1985, tipo o U2 hoje em termos de grandiosidade. Então as bandas nacionais foram as responsáveis pelo festival acontecer, pois o Medina viu que tinha um nicho muito grande, estava começando a vender muito disco e ele juntou isso com as bandas estrangeiras. 29:47 / 32:22

Grandes compositores não têm jeito, os dois primeiros que vêm são o Cazuza e o Renato Russo, porque as letras estão aí até hoje. Um pouco da pandemia fui assistir um show do Gilberto Gil no Vivo Rio e ele cantou “Pro Dia Nascer Feliz”. Saí do Vivo Rio e fui direto pra Fundição Progresso e assisti a Gal Costa na mesma noite. Ela canta “Brasil” do Cazuza, ou seja, as coisas estão aí. Vai a um show da Zélia Duncan e sempre tem uma música do Renato Russo, os shows que o Dado e o Bonfá estão fazendo, todo mundo canta todas as músicas berrando, igualzinho ao show do Metropolitan quando Renato estava vivo. Então, acho que são os dois maiores e lógico, o que também aumenta a aura é o fato de terem morrido muito cedo, morreram de AIDS. Em especial o Cazuza, foi uma coisa muito cruel, vivi aquilo tudo. Eu passava em bancas de jornal e tinha um bando de revistas com o rosto esquelético do Cazuza. A Veja fez uma reportagem super esquisita. O cara morreu e tinha acabado de fazer “O Tempo Não Para”, aí lançou “Burguesia” aquela coisa crítica, o Brasil naquela coisa horrorosa, governo Collor. Renato Russo morreu seis anos depois, de AIDS também, morreu logo após lançar um disco “A Tempestade”, então essas coisas acabam marcando mais. Mas por exemplo, se pegar outros caras, no mesmo patamar eu colocaria o Humberto Gessinger, grande letrista. Antes de ser fã da Legião Urbana, que é a banda que mais gosto, eu era muito mais fã dos Engenheiros do Hawaii. Ia com meu pai aos shows dos Engenheiros do Hawaii no Canecão e não passava pela minha cabeça pedir pra ir a um show da Legião, que eram maiores, assustava um pouco. Na verdade, o Bonfá não gostava muito de fazer show, Renato também não, então preferiam fazer


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um pra 50 mil pessoas ao invés de fazer 10 pra 5 mil. Mas em 1986 por exemplo, eles fizeram temporada no Canecão quando lançaram o “Dois”. 32:38 / 33:34

Aí pensando nas bandas. Acho que nos Titãs todo mundo tem o seu valor. O que eles se tornaram depois. Charles Gavin se transformou um puta pesquisador musical, o Marcelo Fromer, que morreu, tinha coluna de culinária no Estadão, o Branco Mello fez um musical infantil, Tony Bellotto lançou vários livros, Nando Reis que tem uma das melhores carreiras da música brasileira e consegue fazer um show sem tocar as músicas dos Titãs, porque ele conseguiu fazer um bando de sucessos. Mas pensando nos Titãs, o Arnaldo Antunes foi o cara que ficou. Mais do que um letrista ele é um poeta mesmo. Você pega as letras dele, a forma que ele constrói a poesia, ele é um poeta de verdade. Renato e Cazuza por exemplo falavam “a gente não é poeta, a gente é letrista”, já o Arnaldo é um poeta mesmo.

34:04 / 34:34

Por exemplo, Herbert Vianna é um compositor maravilhoso. Acho que as pessoas não falam muito dele porque os Paralamas de repente ficaram com aquela coisa mais pop, “Óculos”, “Meu Erro”. Você pega coisas dele sensacionais que ele fez pro “Severino”, “Tendo a Lua” que é uma música linda, “Quase Um Segundo” que é sensacional.

36:40 / 38:18

E quando falo no Cazuza, também falo no Frejat. Apesar do Cazuza ter essa aura, outro dia meu dentista estava falando “fui a um show do Frejat e ele só canta músicas do Cazuza”. Aí falei “músicas do Cazuza e dele”, pois o Frejat também fez todas aquelas músicas, inclusive “Ideologia”. Fui a um show dele e um cara falou “por que o cara tá tocando Ideologia?”, mas a música é dele também. Acho que ia rolar uns encontros de vez em quando do Cazuza com o Barão. Meio escrachado como ele era, corria o risco de você ver um show e de repente “Cazuza tá na plateia, vem cantar duas músicas com a gente”. Mas acho que ele estaria


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em carreira solo até hoje. Imagino ele gravando coisas diferentes, discos de interprete, álbum jazzístico com a Ângela Rô Rô. Acho que na entrevista que fiz com o Lobão, falei que eles poderiam fazer um show voz e violão, assim como Gil e Caetano. 49:07 / 51:20

No início dos anos 90 e eu vivi isso, muito injustamente, os artistas dos anos 80 eram tratados como dinossauros. Não havia se passado nem 10 anos, mas as pessoas viam o Barão Vermelho como uma coisa mais velha, Paralamas. Essas bandas novas entraram e o mercado ainda pedia música pop. Primeira vez que escutei Skank, pensei que fosse Paralamas. Se não fosse a geração 80, dificilmente teria a geração 90, porque eles vieram no embalo. E a MTV, que foi tudo. Ela deu a cara pra tudo aquilo. Nos anos 80 aqui no Rio, tinha a Fluminense FM, que você ouvia, mas não tinha a imagem, que de repente não era tão importante. Mas nos anos 90, todo mundo estava produzindo videoclipe de qualidade. Me lembro que vi show dos Paralamas lançando o Nove Luas, época do meu vestibular e antes do show teve a abertura do Chico Science & Nação Zumbi. Raimundos abriu muitos shows dos Titãs, porque eles eram contratados do Banguela Records, selo dos Titãs junto com o Carlos Eduardo Miranda e a galera dos anos 80, pelo que eu vejo, foi muito generosa com a galera que estava chegando.

53:13 / 53:51

Você pode até falar que tem muita banda nova fazendo rock, lógico que tem. Mas a gente não fica sabendo porque não tem muito espaço. Me lembro quando o Scalene tocou no Rock in Rio, muitos falaram que era uma banda nova, mas eles já tinham uns seis anos. Eu não vejo muita relação, tanto na música quanto no mercado. Nos anos 80, tinham bandas que vendiam um milhão de cópias, 600 mil cópias. Hoje nem tem disco pra compar.

57:22 / 59:07

Os primeiros shows que eu assisti ou foi o Toda Forma de Amor do Lulu Santos ou o Alívio Imediato dos Engenheiros do Hawaii.


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Conversei com o Marcelo Costa, hoje baterista dos Tribalistas que era baterista do Lulu na época e ele me disse que o show dos Engenheiros foi primeiro, ele me falou a data. Eu não me lembro. Sei que foram dois grandes shows, foi minha iniciação. Na época aqui no Rio tinham duas casas onde geralmente os artistas começavam uma turnê em uma e encerravam na outra, que era o Canecão e o Imperator. Me lembro que o primeiro show do Barão que eu vi foi no Imperator. Show dos Paralamas vi no Canecão, início de 1990. Meu primeiro dos Titãs vi no Rock in Rio II. Ia assistir a estreia do Jesus Não Tem Dentes no Canecão, mas tinha censura, não sei se era de 16 anos. Me lembro que assisti O Papa é Pop dos Engenheiros numa matinê no Canecão, domingo as quatro da tarde e a Legião eu só assisti a última turnê deles,

O

Descobrimento

do

Brasil,

em

três

shows

no

Metropolitan. 8, 9 e 14 de outubro de 1994. 59:30 /

Esses shows acho que não foram os melhores shows da minha

01:04:12

vida, mas talvez tenham sido os melhores dias da minha vida. No dia do primeiro show estava lendo Memórias de um Sargento de Milícias pro colégio e a noite foi muito legal porque todos os meus amigos foram, todos muito fãs de Legião Urbana e a Legião tinha essa aura. Eu já tinha assistido com esses amigos Engenheiros, Titãs, Paralamas, Barão, mas a Legião era quase como um sonho inalcançável. Naquela época era quase como uma banda gringa, pouquíssimos shows, não tinha a oportunidade de ver todo ano ou a cada seis meses. Nunca tinha visto o Paul McCartney, mas se me perguntassem naquela época se preferia ver o Paul ou o Freddie Mercury ressuscitado ou o show da Legião, escolheria o show da Legião. O clima era muito legal, o Brasil tinha acabado de ganhar a copa, Pelé estava no camarote, Gil e Caetano foram assistir. Você vê a força do Renato Russo, todo mundo estava querendo assistir ao show. Realmente foram noites mágicas. Era sábado e domingo, comprei pro sábado e no domingo estava num restaurante com meus pais, meu irmão e


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deprimido, com vontade de ver o show de novo, não abria a boca. Meu irmão ligou do restaurante para um amigo que ele sabia que ia e perguntou se tinha ingresso. O cara tinha e falou “apanho ele em casa”. A gente era quase vizinho na Barra. Me lembro que estava com ele e o Renato falou “se tudo der certo, atendendo pedidos da direção da casa, sexta vai ter mais um”. O colega do meu irmão disse “não acredito que você vem pela terceira vez” e eu falei “é lógico”. O terceiro show acabou sendo dia 14 de outubro e pai faz aniversário em 13 de outubro. Minha mãe ia fazer um jantar em casa e eu estava no elevador com meu irmão indo pro show. Ela me falou que “show da Legião Urbana vocês têm a vida toda, aniversário do seu pai a gente não sabe até quando vai ter”. Acabou que aquele foi o último show da Legião Urbana no Rio e meu pai tá aí vivo até hoje, inclusive daqui uma semana vai fazer aniversário de novo. Hoje posso ir a Nova Iorque ver um show do Paul McCartney com o Bruce Springsteen participando que eu não consigo encontrar aquela magia de novo 01:07:03 /

A geração dos anos 80 começou, isso eles mesmos falam,

01:09:12

copiando muita coisa lá de fora. A Gang 90 do Júlio Barroso copiava muito a new wave que tava rolando lá fora. A Blitz acho que era uma coisa bem mais original, inclusive. Era uma música bem carioca, misturando com quadrinhos, tinha toda uma estética interessante por trás. Mas por exemplo os Paralamas imitavam o The Police, a Legião o Joy Division e o The Smiths, o Barão tinha um quê lá de Rolling Stones. Mas a partir de, não sei exatamente quando, mas por exemplo você pega o Selvagem dos Paralamas, você já os vê pegando o rock colocando elementos brasileiros e jamaicanos. Police já misturava rock com reggae, mas os Paralamas colocaram uma coisa de música baiana no meio e isso começou a influenciar muita gente, inclusive dos anos 90. Por exemplo, falei que a primeira vez que escutei Skank, a música Baixada News, pensei que fosse dos Paralamas, a voz que era diferente, mas parecia uma música do Selvagem. Assim


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como Õ Blesq Blom, que foi o Selvagem dos Titãs, que influenciou muito o Chico Science. Tem coisas do Õ Blesq Blom que parece manguebeat. 01:12:06 /

Os anos 80 geraram ótimos discos, com muitos sucessos. Mas

01:14:49

se a gente pensar nos cinco discos mais importantes dos anos 80, eu vou citar a estreia da Gang 90 e As Aventuras da Bltiz, pois a Blitz está para o Rio de Janeiro assim como a Gang está para São Paulo, foram as pedras iniciais de tudo. Principalmente o da Blitz porque foi a partir dela que muita gente viu que podia fazer sucesso, ganhar dinheiro com rock. Outro dia eu estava vendo uma entrevista do Evandro Mesquita, dizendo que chegou um molequinho de bermuda, com cara de nerd perguntando se a banda dele podia tocar na mesma noite que a Blitz e era o Frejat. Tanto que a Blitz tocou no Rock in Rio a noite, o Barão também, mas os Paralamas tocaram de dia. Cito também o Maior Abandonado do Barão Vermelho, que é um disco curioso, porque o Barão Vermelho lançou dois discos antes. Tem o primeiro que pra mim é um dos melhores discos de rock and roll da história, mas que teve problemas de gravação, mixagem, não vendeu nada. Dizem que teria sofrido um boicote por ter sido lançado pela Som Livre, gravadora do pai do Cazuza. O segundo disco também é legal, mas com o Maior Abandonado o Barão chegou num status que se o Cazuza não tivesse saído, o Barão ia voar porque o Maior Abandonado transformou a banda em algo muito grande, por isso acho um disco muito importante, pois é o B-Rock no mainstream. Citaria o Selvagem dos Paralamas porque influenciou muita coisa que veio depois. Eles foram muito originais colocando música baiana e uma brasilidade dentro do rock, deixaram de ser meio que uma cópia do The Police pra ser uma banda original e cito também As Quatro Estações da Legião Urbana porque fecha a década de uma forma meio depressiva, governo Collor chegando. Sinaliza pro fim da era, tem Feedback Song for a Dying Friend. Dizem que o Renato descobriu que tinha


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aids mais ou menos nessa época, o Cazuza estava morrendo a olhos vivos, andando de cadeira de rodas, mas vivendo com muita coragem. As Quatro Estações sinalizaram: “tá acabando”. A Legião, que havia começado cantando “será que vamos conseguir vencer?”, terminou a década citando Camões, Buda no disco. Você vê a diferença, parece que queriam dizer que não eram mais uns garotinhos. 01:16:28 /

No vídeo que fiz sobre o B-Rock eu resolvi juntar as três teorias.

01:17:57

O Dapieve falou que os anos 80 terminaram com a morte do Cazuza em julho de 1990. Depois ele atualizou o livro, dizendo que o segundo final da década terminou com a morte do Renato Russo, apesar de ter sido em 1996 e eu incluí a ideia do Lobão, que ele colocou no livro dele, pois você pode falar que aquelas latadas simbolizaram o fim da década. O jeito que o Lobão falou foi muito forte. No Hollywood Rock o show dele foi eleito o melhor aí um ano depois ele tá tomando latada. Tá certo que o dia dele não foi o melhor, foi dia do heavy metal. Se ele tivesse sido colocado no dia do INXS, ele não levaria latada, mas era muito sintomático o que estava acontecendo, escorraçar o cara. Cá pra nós, se juntar o número de sucessos do Megadeth, do Judas Priest, do Queensrÿche, do Sepultura e do Guns ‘n’ Roses, talvez não dê o número de sucessos do Lobão. Sucessos que as pessoas conhecem. Ele tinha tudo pra fazer um puta show, era um show de sucessos, com peso e o que ele estava fazendo com uma bateria de escola de samba, nos anos 90 todo mundo começou a achar o máximo com Chico Science colocando batucada na música.

Repórter: Jefferson Vicente


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2.

Roteiro

DOCUMENTÁRIO: Rock Brasil Anos 80 – Letra & Música DATA DE ENTREGA: 23/11/2020 ALUNO (A): Jefferson Vicente SINOPSE: O Rock tomou conta das paradas de sucesso e da grande mídia durante a década de 1980. O documentário conta a história dessa geração e mostra que mesmo após quase 40 anos, as letras e as canções gravadas naquele período permanecem atuais e presentes na mente das pessoas.

TEMPO TIPO 50” PER

50”

23”

12”

1’13”

32”

17”

25”

ÁUDIO / TEXTO Eu acho que uma coisa importantíssima relativo a Ciro Pessoa isso que você falou não é com relação a mensagem e BG sim com relação ao uso e manejo da língua Cabine C – portuguesa para confecção Neste de letras de rock and roll em Deserto português [...] TS Cabine C – Neste Deserto

VÍDEO / IMAGEM Imagens de bandas e artistas da época.

Imagens de um disco de vinil sendo reproduzido, seguido pelo logotipo do documentário PER Os anos 80 foi uma Imagem do entrevistado mudança muito brusca na 7” de GC com o nome do Cesar Gavin indústria fonográfica [...] entrevistado BG João Penca –M PER O rock na época tinha essa coisa de ser a bola da vez Kiko [...] Zambianchi PER Capital Inicial, Ultraje a Rigor, Golpe de Estado, Alessandro Titãs, Legião, Ira! Eles Costa tinham uma puta bagagem. [...] PER No começo dos anos 80 até meados dos 90 era só Paulo odontologia, engenharia,

Imagem do entrevistado 7” de GC com o nome do entrevistado Fotos das bandas Imagem do entrevistado 7” de GC com o nome do entrevistado Imagem do entrevistado 7” de GC com o nome do entrevistado


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Marchetti 26”

PER

26”

BG

30” 12”

12”

15” 23”

26”

36”

10”

direito, medicina. [...]

Pra mim o ponto inicial Imagem do entrevistado mesmo é a Gang 90 com o intercalada a fotos da Gang Cesar Gavin MPB Shell 90 e de Guilherme Arantes

Gang 90 – Jack Kerouac TS Guilherme Arantes – Planeta 7” de GC Água Guilherme Arantes tocando “Planeta Água”. PER Foi a primeira vez que Imagem do entrevistado alguém apareceu com Paulo óculos escuros mais Marchetti futurista, com roupa colorida, as meninas cantando tipo BG B52’s [...] Gang 90 – Perdidos na Selva TS Gang 90 – Perdidos na Selva

7” de GC Imagens de apresentação da Gang 90 PER O mérito principalmente é da Imagem do entrevistado Blitz. A Gang demorou um intercalada a fotos da Blitz, Cesar Gavin pouco pra engrenar, porque Júlio Barroso e Gang 90. o Júlio Barroso era muito confuso. Era muito inovador também, vanguarda [...] PER O disco da Blitz é de 1982, 7” de GC com o nome do mas acho que pintou lá em entrevistado Luiz Felipe casa em 1983. Me lembro Imagem do entrevistado e do Carneiro que esse disco ficou logo disco riscado pra mim. Vinha com as duas BG últimas faixas arranhadas a prego [...] Blitz – Você Não Soube Me Amar PER Acho que a Blitz que Imagem do entrevistado começou a aparecer mais e Kiko fazer com que o movimento Zambianchi tivesse força.


75

17” 23”

36”

20”

13”

14”

Blitz – Você Não Soube Me Amar PER A diferença minha pro meu irmão é quase dez anos. Cesar Gavin Quanto eu tinha 6 ele tinha 16. Então ele ouvia demais BG as bandas internacionais. Aí eu acho que já tinha uns 12 Ira – Gritos anos, ele entrou no Ira [...] na Multidão PER Com 12 anos e tal, minha irmã voltou com uns discos Paulo do intercambio que ela fez. Marchetti Entre os discos estava o “Combat Rock” do The Clash [...] PER Eu ia aos ensaios, aos shows, nas passagens de Cesar Gavin som [...] TS

7” de GC Clipe da música Imagem do entrevistado, foto de Charles Gavin, 5” de GC, do Ira e imagens das bandas punk.

Imagem do entrevistado Capa de disco do The Clash

Imagem do entrevistado

PER

40”

O Ira ia tocar no Napalm e Imagem do entrevistado e eu fiquei pra ver a passagem foto da Legião Urbana no Cesar Gavin de som da Legião Urbana. Napalm Foi a primeira vez que a BG Legião veio pra São Paulo.

36”

Legião Urbana Ainda Cedo PER

– é

Paulo Marchetti

O ponto de virada do rock candango foi o festival da ABO, que foi uma coisa da turma de Brasília mesmo [...]

Imagem do entrevistado 8” de GC citando as bandas que se apresentaram no festival

22”

TS

Legião Urbana - Será

Clipe da música

33”

PER

Na época, eu estava em Ribeirão e eu ainda fazia um som diferente. Tinha muito MPB, muita coisa assim que eu gostava bastante [...]

Kiko Zambianchi 23”

17”

BG Kiko Zambianchi – Rolam as Pedras TS Kiko Zambianchi – Rolam As 7” de GC Pedras Imagens de Kiko Zambianchi


76

53”

18”

5”

16” 43”

Eu acho que eu já nasci com 7” de GC com o nome do isso no meu sangue, porque entrevistado Alessandro meu pai é veterano dos anos Imagens do entrevistado Costa 80. Ele era adolescente ali em 1985, tinha 15 anos. BG Então ele viu todas essas bandas maravilhosas no Titãs – auge [...] Estado Violência PER

BG Ira! – Envelheço na Cidade TS Engenheiros do Hawaii – O 7” de GC Papa é Pop Clipe da música PER Junho de 2003 que a coisa Imagens do entrevistado ficou meio séria [...] Alessandro Costa

38”

BG

58”

Titãs Polícia PER

27” 12”

10”

-

Acho que nos Titãs todo mundo tem o seu valor. O Luiz Felipe que eles se tornaram depois. Carneiro Charles Gavin se transformou um puta pesquisador musical [...] TS Titãs – O Quê?

Imagem do entrevistado e fotos dos integrantes da banda

7” de GC Clipe da música PER Trabalhei quase cinco anos Imagem do entrevistado como roadie. Foi muito Cesar Gavin valioso pra mim. A maior escola de vida foi ter trabalhado com os Titãs. Não existe escola de vida igual. TS Cesar substituindo Nando Imagens do show Reis em show (1994)


77

1’02”

19”

17”

PER

No primeiro Rock in Rio eu Imagem do entrevistado, morava na Barra, num fotos e vídeos de bandas Luiz Felipe prédio no 26º andar [...] que se apresentaram e que Carneiro poderiam ter feito parte da primeira edição do Rock in Rio TS Lulu Santos – Tempos 10” de GC Modernos Imagens de Lulu Santos no palco do Rock in Rio Rock in Rio I (1985) PER Paulo Marchetti

9”

PER Kiko Zambianchi

42”

PER Paulo Marchetti

35”

PER

22”

BG

7”

A gente não tinha ainda 7” de GC com o nome do equipamentos de ponta, entrevistado porque o Brasil era um país Imagem do entrevistado fechado. Era caro trazer um amplificador [...] Não tinha internet, o acesso Imagem do entrevistado fácil. Se você quisesse ver o artista, tinha que ir aos shows ou ver na televisão. A maioria desses discos que Imagem do entrevistado e as saíram até pelo menos 86, capas dos álbuns citados 87, se tivessem saído com a concepção dos músicos, todos seriam diferentes [...]

A geração dos anos 80 Imagem do entrevistado e começou, isso eles mesmos dos artistas citados Luiz Felipe falam, copiando muita coisa Carneiro lá de fora [...]

Os Paralamas do Sucesso – Alagados PER O Selvagem foi um impacto. Imagem do entrevistado Uma porrada na cara de Paulo todo mundo, da mídia, dos Marchetti fãs.

18”

TS

11”

PER

Os Paralamas do Sucesso – 7” de GC Alagados Clipe da música

Grandes compositores não Imagem do entrevistado têm jeito, os dois primeiros intercalada com imagens de Luiz Felipe que vêm são o Cazuza e o Cazuza e Renato Russo Carneiro Renato Russo, porque as letras estão aí até hoje.


78

19”

25”

15”

15”

20”

17” 13”

PER

O Renato era sensacional, um sujeito extremamente Alessandro inteligente. Lamento que ele Costa tenha tido uma carreira tão breve [...] PER O que também aumenta a aura é o fato de terem Luiz Felipe morrido muito cedo, Carneiro morreram de AIDS. Em especial o Cazuza, foi uma BG coisa muito cruel, vivi aquilo tudo [...] Barão Vermelho – Down em Mim PER Tem gente que não entende o valor do Cazuza, acho isso Paulo muito louco. Porque ele Marchetti falava de boemia e de amor de um jeito que ninguém falava.

Imagem do entrevistado

Imagem do entrevistado intercalada a fotos de Cazuza

7” de GC com o nome do entrevistado Imagem do entrevistado

Cazuza – O Nosso Amor A 11” de GC Gente Inventa Imagens do DVD

TS

DVD Pra Sempre Cazuza (Universal Music/Globo Marcas) PER E quando falo no Cazuza, Imagens do videoclipe da também falo no Frejat. Meu música “Ideologia” de Frejat Luiz Felipe dentista estava falando “fui a Carneiro um show do Frejat e ele só canta músicas do Cazuza” BG [...] Frejat Ideologia TS

– Frejat – Ideologia

7” de GC Imagens do videoclipe da música “Ideologia” de Frejat PER Pra mim o melhor dessa Imagens dos Inocentes geração é o Clemente. Cesar Gavin Quando saiu o segundo disco dos Inocentes, BG primeira vez que ouvi “Pátria Amada”, até me arrepia, eu Inocentes – chorei. Falei ‘como esse Pátria cara consegue escrever Amada isso?’.


79

22” 15”

22” 38”

22”

7” de GC Clipe da canção PER No mesmo patamar eu Imagens de Humberto colocaria o Humberto Gessinger e dos Luiz Felipe Gessinger, grande letrista. Engenheiros do Hawaii Carneiro Antes de ser fã da Legião Urbana, que é a banda que BG mais gosto, eu era muito mais fã dos Engenheiros do Engenheiros Hawaii. do Hawaii – Terra de Gigantes TS Engenheiros do Hawaii – 7” de GC Terra de Gigantes Clipe da canção PER Poucos artistas dessa Imagem do entrevistado e geração duraram, que é o das bandas citadas Cesar Gavin trio de ferro: Titãs, Paralamas e Legião Urbana [...] PER O Capital não tinha gente Imagem do entrevistado e a que tinha o violão como capa do Acústico MTV Kiko primeiro instrumento [...] Capital Inicial Zambianchi TS

Inocentes – Pátria Amada

BG

16”

13”

1’09”

Capital Inicial e Kiko Zambianchi – Primeiros Erros (Chove) TS Capital Inicial Zambianchi – Erros (Chove)

e Kiko 10” de GC Primeiros Imagens – Acústico MTV Capital Inicial (Abril Music, 2000) PER No final dos anos 80, sumiu Imagem do entrevistado e todo mundo, sumiu. “Cadê o das bandas citadas Cesar Gavin Rádio Táxi, o Metrô, o RPM?”. As bandas foram acabando, foram se separando. PER Teve a negócio do “Hey Imagem do entrevistado Jude”, que eu gravei pra Kiko uma novela [...] Zambianchi BG


80

Kiko Zambianchi – Hey Jude 35”

PER

24”

TS

20”

No vídeo que fiz sobre o B- Imagem do entrevistado e de Rock eu resolvi juntar as três personalidades citadas ao Luiz Felipe teorias [...] longo da entrevista Carneiro Lobão no Rock in Rio II (1991) PER No Hollywood Rock o show dele foi eleito o melhor aí um Luiz Felipe ano depois ele tá tomando Carneiro latada [...]

7” de GC Imagens do Show Imagens de Lobão no Hollywood Rock (1990) Imagens do Entrevistado

BG

43”

6”

Lobão – Decadence Avec Elegance PER 1989 e 1993, 1992 até. Imagem do entrevistado e Nesses três, quatro anos das bandas citadas Paulo veio uma geração que Marchetti renegou a geração 80. Uma geração que começou a BG cantar em inglês [...] Sepultura – Inner Self

19”

23”

PER

Eu acho que eles abriram Imagem do entrevistado e da portas muito para a década MTV Brasil Cesar Gavin seguinte. O que aconteceu? A virada em duas coisas. A BG indústria fonográfica e o videoclipe, onde entra a Chico MTV [...] Science & Nação Zumbi – Criança de Domingo PER Nos anos 80 aqui no Rio, Imagem do entrevistado tinha a Fluminense FM [...] Luiz Felipe Carneiro


81

28”

17”

23”

9”

PER

Agora vamos pensar, fazer uma analogia, se não Cesar Gavin tivesse a MTV, como seria a música brasileira? Skank, Pato Fu, Planet Hemp, Chico Science & Nação Zumbi [...] PER Com o passar do tempo, as pessoas foram tendo Kiko referências de rock nacional, Zambianchi que foi o legal. Com o passar do tempo ter gente que ouvia Legião e começou a fazer rock ou que ouvia minha música. PER Essa cena dos anos 80 que influenciou os anos 90, só Paulo que acabou e fim […] Marchetti PER Vou pegar esse aqui, Animal Nacional. Vou falar de Alessandro “Cobra de Vidro”, que é a Costa minha favorita desse disco. […]

Imagem do entrevistado e imagens das bandas citadas

Imagem do entrevistado

Imagem do entrevistado e de show dos Los Hermanos

Imagem do entrevistado

10”

TS

Ira! – Nas Ruas

10”

PER

Acredito que a temática Imagem do entrevistado pode ser a mesma, aquela coisa de você estar na rua, no meio da cidade. […]

Alessandro Costa

5” de GC Imagens de show do Ira!

59”

TS

Vespas Mandarinas – Cobra 11” de GC de Vidro Imagens de show das Vespas Mandarinas Animal Nacional Ao Vivo (Deckdisc / Canal Brasil, 2015)

1’45”

PER

Estudei numa escola em Imagem do entrevistado e Brasília chamada Sigma. das bandas citadas Mudei pra essa escola logo quando abriu. A gente não precisava usar uniforme, o portão ficava aberto, era bem legal. [...]

Paulo Marchetti


82

9”

Dedicado à memória de Ciro Foto de Ciro Pessoa Pessoa 1957 - 2020

37”

BG Plebe Rude – Até Quando Esperar?

Créditos Finais


83

3.

Autorizações de imagem


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87

4.

Diário de Campo

O processo de criação do projeto experimental se deu início no mês de agosto de 2020, quando as aulas foram retomadas. A princípio, o documentário teria 12 entrevistados, mas em decorrência da não resposta de alguns e pelo tempo estipulado entre 15 e 30 minutos, o número de convidados foi reduzido pela metade, priorizando jornalistas e pesquisadores musicais, como é o caso de Luiz Felipe Carneiro, Paulo Marchetti e Cesar Gavin. Em julho comecei a buscar formas que permitissem com que eu mesmo pudesse realizar a edição deste documentário. Foi necessário investir em uma boa placa de vídeo para que pudesse executar programas como Adobe Premiere, After Effects, OBS Studio e VEGAS com qualidade. Antes disso, já havia pesquisado imagens de arquivo que poderiam ser utilizadas. As entrevistas foram realizadas via Zoom em decorrência da pandemia de COVID-19, que assola o mundo desde março de 2020. A primeira realizada foi com Alessandro Costa, jovem fã dos grupos da década de 1980 e dono do canal Titãs Fãs no YouTube, totalmente dedicado a banda paulistana. A sonora, gravada na tarde de 27 de agosto, mostra Alessandro entusiasmado ao dar depoimento, mostrando parte da sua coleção de LPs e compactos, todos eles do rock brasileiro. Alessandro também disse como teve contato com grupos como Ira!, Titãs e Engenheiros do Hawaii, ressaltou a importância de letristas como Renato Russo e Cazuza para a música e para a cultura brasileira. Além de citar a banda Vespas Mandarinas, surgida no início da década de 2010, como um nome que segue a tradição da geração 80 do rock brasileiro. Após a gravação, iniciou-se o processo de decupagem, onde selecionei os pontos mais importantes da nossa conversa. Transcrevi a nossa conversa e pincei os momentos onde sabia que tinham assuntos imprescindíveis para o documentário. O mesmo processo fora adotado nas demais entrevistas. A gravação com Paulo Marchetti foi realizada em 31 de agosto. Em uma conversa longa, o diretor de TV falou sobre a cena musical de Brasília e sobre a criação do livro Diário da Turma, lançado pela Editora Conrad em 2001. Como pesquisador, Paulo tem o projeto Efemérides do Rock Brasileiro desde 1998,


88

portanto falou sobre lançamentos, discos importantes como funcionava a indústria musical brasileira durante os anos 80. Problemas com falta de equipamentos, discos mal gravados, a evolução das produções e a força das músicas gravadas, apesar de mal registradas, foram alguns dos temas abordados ao longo da entrevista. Paulo indicou o nome de Kiko Zambianchi, dizendo que o músico costumava ser acessível para conversar, fato reafirmado por Cesar Gavin, terceira entrevista realizada para o documentário. Paulo considera Júlio Barroso (1953-1984) como o primeiro grande letrista da geração 80 do rock brasileiro, citando também a Gang 90, banda liderada por Júlio, como o primeiro grande impacto da música brasileira na década, questão também ressaltada por Cesar Gavin. Por ter feito parte da turma de Brasília, Marchetti escreveu o livro Diário da Turma durante os períodos de férias do trabalho. Na época, Paulo era diretor de programas da MTV Brasil e trouxe um pouco das histórias para o documentário, como por exemplo o festival da ABO, realizado em Brasília – DF. O evento teve as participações de Legião Urbana, Plebe Rude, Capital Inicial e XXX, que depois mudaria o nome para Escola de Escândalos. As três primeiras citadas conseguiram se apresentar no eixo Rio-São Paulo após a realização desse festival e posteriormente estouraram em nível nacional, ficando marcados na história do rock brasileiro. Em uma entrevista realizada após o feriado de 7 de setembro, Cesar Gavin deu um belíssimo depoimento, relatando como acompanhou a carreira de seu irmão, o baterista Charles Gavin, que fez parte dos Titãs entre 1985 e 2010, além de ter feito parte de uma das primeiras formações do Ira! e do RPM. Cesar relembrou a primeira vez que a Legião Urbana se apresentou em São Paulo, na casa noturna Napalm, local onde as bandas do cenário paulistano costumavam tocar. Cesar é um pesquisador musical e profundo conhecedor do rock brasileiro, tendo um site baseado em um estudo geográfico com relação aos estados onde as bandas brasileiras foram formadas. Devido ao grande conhecimento e por ter presenciado a ascensão e queda da geração 80, soube explicar com muitos detalhes toda a trajetória do movimento, desde a contratação por parte das gravadoras até o desaparecimento de alguns nomes da grande mídia.


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Após essa série de entrevistas, cheguei ao nome de Kiko Zambianchi. Recomendado por Marchetti e Gavin, o músico foi super atencioso e não houveram dificuldades para marcarmos uma conversa. Na tarde de 17 de setembro, a sonora foi realizada sem grandes problemas. Tecnicamente, talvez seja a mais bem sucedida das cinco entrevistas, com melhor qualidade de imagem e de som e sem interferências de conexão. Kiko falou sobre sua trajetória musical desde o início em Ribeirão Preto, cidade natal do compositor até sua chegada a São Paulo no ano de 1984, quando tinha 24 anos. Em um mês na capital paulista, Kiko foi contratado pela gravadora EMI-Odeon e lançou seu primeiro compacto com o hit “Rolam as Pedras” e a partir desse momento, construiu uma carreira bem sucedida, emplacando diversos hits durante a década de 1980, como “Alguém”, “Você Perde”, “Choque” e “Primeiros Erros (Chove)”, anos mais tarde regravada pelo Capital Inicial com a presença de Kiko no Acústico MTV da banda brasiliense Assim como diversos nomes, o cantor também teve problemas com sua gravadora e acabou saindo da grande mídia no início dos anos 90. Kiko gravou uma versão de Hey Jude dos Beatles, feita por Rossini Pinto, compositor famoso por fazer versões de músicas internacionais na época da Jovem Guarda, para a novela Top Model, exibida pela Rede Globo entre 1989 e 1990. Vários artistas haviam participado da gravação e a interpretação escolhida pela emissora foi justamente a de Kiko Zambianchi. A música faz um enorme sucesso, gerando uma superexposição e posteriormente um boicote por parte do diretor artístico de sua então gravadora, a EMI. Segundo o compositor, o diretor queria transformar Kiko em um cantor romântico e pediu para que o próximo disco tivesse apenas regravações de artistas como Lulu Santos, Guilherme Arantes e Leoni. Por ter recusado a proposta, as relações com a gravadora pioraram e o contrato não foi renovado. Após esse episódio, o rock acabou saindo do mainstream e Kiko teve dificuldades para encontrar uma nova gravadora. No início dos anos 2000, sua participação no Acústico MTV Capital Inicial, garantiu um ressurgimento improvável na carreira de ambos, com uma longa turnê, shows lotados e mais de 2 milhões de discos vendidos, já que o Capital Inicial também teve problemas durante os anos 90, com a saída de Dinho Ouro Preto. A


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banda retomou as atividades com sua formação original no final da década e o formato acústico garantiu a popularidade que o grupo ainda não havia tido. A quinta e última entrevista realizada para o presente projeto foi com o jornalista Luiz Felipe Carneiro, dono do canal Alta Fidelidade no YouTube. Nascido em 1979, Luiz viveu a década de 80 e tem o Rock Brasil como uma de suas primeiras referências musicais, sendo que o LP As Aventuras da Blitz, lançado em 1982, foi um de seus primeiros discos. Em 2011, publicou pela Editora Globo o livro Rock in Rio – A História do Maior Festival de Música do Mundo. A sonora, realizada em 4 de outubro, abordamos a importância do festival pra música brasileira. Um ponto interessante a ser ressaltado é que apesar da presença de nomes como Queen, AC/DC, Yes e Ozzy Osbourne, Luiz foi categórico ao dizer que se não fosse o sucesso de bandas como Blitz, Barão Vermelho e Os Paralamas do Sucesso, provavelmente o festival não existiria. Segundo ele, o publicitário e empresário Roberto Medina, criador do Rock in Rio, percebeu que os grandes vendedores de discos naquele momento eram os conjuntos nacionais de rock e viu nisso a oportunidade de realizar um grande evento, trazendo para o Brasil os maiores nomes da música mundial na época. O festival teve um efeito positivo em toda a estrutura de shows do Brasil e também na questão dos equipamentos. Luiz também produziu para seu canal no YouTube uma série contando toda a história da geração 80 do Rock Brasil. Em seu último episódio, ele citou as três teorias com relação ao término dessa geração. As duas primeiras foram apontadas pelo jornalista Arthur Dapieve, que dizia que as mortes de Cazuza em 1990 e de Renato Russo já em 1996 foram os momentos onde o B-Rock terminou. Já a terceira é do cantor e compositor Lobão, que citou em seu quarto livro, o Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 pelo Rock (Leya, 2017) sua participação na segunda edição do Rock in Rio, em 1991, onde recebeu uma fortíssima vaia por se apresentar ao lado da bateria da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Outra questão levantada na conversa com Luiz foi um dos principais motes do presente projeto, que são os grandes letristas desse período. Nomes como Humberto Gessinger, Arnaldo Antunes e Herbert Vianna foram citados e colocados no mesmo patamar que Cazuza e Renato Russo, que são considerados os grandes


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ícones da década. Na entrevista com Cesar Gavin, outro nome menos óbvio foi citado: Clemente Nascimento, vocalista dos Inocentes e ícone do Punk Rock nacional, surgido na virada dos anos 70 para os 80. Um ponto interessantíssimo ao fazer esse documentário é ver como os depoimentos dos entrevistados se complementam e uma coisa está ligada a outra. Comparo quase como a montagem de um quebra-cabeça, onde as peças estão ali presentes e precisamos encontrar a forma de encaixá-las, para que a história tenha um sentido e seja contada da melhor maneira possível. Foi um grande desavio que teve início após a realização da última entrevista. A principal vantagem de todo esse processo foi a realização da decupagem das entrevistas após suas realizações. Portanto, já em outubro, todas estavam transcritas e devidamente decupadas, o que facilitou o início do processo de edição. Após o feriado de 12 de outubro, o roteiro ficou pronto e o documentário começou a ser editado, processo descrito no início. Antes foi criada uma préabertura com imagens de grandes ícones daquela geração e de fundo, um trecho de uma entrevista de Ciro Pessoa para a Rádio Cultura em 13 de julho de 2010. Ciro seria um dos entrevistados do projeto, porém veio a falecer em 5 de maio de 2020 por complicações da COVID-19, que acabou contraindo entre idas e vindas ao hospital para tratar um câncer na bexiga. O uso do áudio é uma forma de homenagear uma figura importante no cenário alternativo do rock nacional, já que o documentário é dedicado a ele. O produto ficou pronto no dia 20 de novembro de 2020. Algumas personalidades do rock brasileiro foram procuradas. Entrei em contato com diversas assessorias, entre elas da banda Capital Inicial, que alegou não haver espaço na agenda dos integrantes do grupo. Conversei também com nomes como Maurício Gasperini, ex-vocalista da banda Rádio Táxi e Rodrigo Santos, ex-baixista do Barão Vermelho, que não puderam participar por questões de conexão de internet e problemas pessoais. Além deles, Clemente Nascimento (Inocentes, Plebe Rude) manifestou interesse em dar um depoimento, mas em decorrência de uma cirurgia que fez no mês de outubro, também não pôde participar.


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O processo todo de construção teve momentos desgastantes, mas muito prazeroso. Entrar em contato com ídolos e conversar com pessoas que entendem de música foi um privilégio muito grande e pra mim, o grande legado desse projeto foi justamente o contato com essas pessoas que foram muito atenciosas comigo.


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ANEXOS


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1.

Anexo 1

Foto: Marcelo Panda

2.

Anexo 2

Foto: Taciana Barros


95

3.

Anexo 3

Foto: Rui Mendes

4.

Anexo 4

Foto: Rui Mendes


96

5.

Anexo 5

Foto: Camila Cara


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