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REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

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INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

contribuir para que mais mulheres pretas possam procurar agentes de saúde e redes de acolhimento para tratar e acompanhar a sua saúde mental. E para chegarmos ao que temos hoje, de um pouco mais espaço nos veículos de comunicação para pautas que incluem de maneira abrangente mulheres negras, é necessário relembrar dois eventos principais; a influência do Movimento Negro Unificado nas mídias e o surgimento de uma nova classe média com poder aquisitivo. Logo, as revistas femininas, como é caso do nosso objeto de estudo - Revista Claudia (on-line) - passaram lentamente a ter um olhar mais atentopara este novo público com anseio de gerar uma identificação e suprir o desejo destas mulheres de serem vistas, para desta forma, conquistar este novo mercado. Assim, abrimos o espaço para duas hipóteses; Mesmo em um lento avanço em pautas identitárias, o jornalismo ao não inserir a mulher preta como personagem, especialista, analista e até mesmo jornalista, afasta a mulher preta leitora.

Apesar das revistas abordarem pautas identitárias - por muitas vezes, trazidos por jornalistas negros, esse movimento ainda é lento. E essa lentidão pode estar atribuída ao poder aquisitivo na assinatura da revista (impressa e online), que ainda, uma grande parte da população preta periférica não tem acesso. E o acesso às matérias quando existe, se dá possivelmente pela internet, nas matérias não pagas, não exclusivas para assinantes.

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REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

Para embasar esta pesquisa, realizamos uma subdivisão quanto aos três pontos chaves do estudo. O racismo estrutural que recai sobre o jornalismo, as revistas no campo digital e a análise de discurso.

Quanto ao jornalismo, que ao longo dos anos negou a existência do racismo, assim como fez a sociedade brasileira, utilizamos, dois principais autores, Flávio Carrança (2004) e Muniz Sodré (2015), que discorrem sobre como a mídia brasileira inviabilizou a temática racial em prol de uma democracia racial inexistente. Sob visão de Sodré, esclarecemos: A partir da década de 1980, os pequenos jornais negros que começaram a aparecer um pouco por toda parte refletiam em geral as linhas ideológicas e emocionais do “Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial (MNU), que pretendia desmontar o mito da democracia racial brasileiro e montar estratégias antirracistas. (SODRÉ, 2015, p.275)

Após o fomento e força do Movimento Negro Unificado que esteve em aquilombamento - realizando sua própria comunicação com veículos alternativos, a grande mídia teve sua

atenção chamada. Com este cenário, os veículos brasileiros, incluindo revistas femininas, passaram a tratar minimamente sobre racismo, incluindo pessoas pretas em pautas sobre violências distintas e contratando de maneira tímida, jornalistas pretos. Passados longos anos, o cenário mudou, mas não tanto quanto deveria, uma vez que tratando de matérias que não sejam intituladas como identitárias, ou seja, voltadas exclusivamente para pessoas pretas ou de outras minorias, elas não são incluídas como fontes - personagens, especialistas e analistas. Esses estudos garantem a profundidade da pesquisa em questão e dão fundamentação para entender os processos comunicacionais que existem dentro do objeto de estudo - Revista Claudia (on-line). Para compreensão dos efeitos do racismo na sociedade como todo, Silvio de Almeida (2019) elucida como o racismo estrutural reflete em todas as instituições da sociedade e a normalidade dele causa a manutenção do adoecimento da população preta, seu extermínio e beneficia grupos sociais a conservar seus poderes e privilégios. Silvio de Almeida argumenta:

Em uma sociedade em que o racismo está presente na vida cotidiana, as instituições que não tratarem de maneira ativa e como um problema a desigualdade racial irão facilmente reproduzir as práticas racistas já tidas como “normais” em toda a sociedade. (ALMEIDA, 2019, p.32) Como no jornalismo não seria diferente, o trato para com o tema legítima que a sociedade racista não teria outra forma de se organizar e agir. Desta forma, esse movimento naturalizado de não combate ao racismo e sim à convivência com ele refletiu na Revista Claudia

por décadas, que passou a tratar e combater o racismo em sua linha editorial após a forte pressão do Movimento Negro Unificado, na ânsia de conquistar a nova classe média. Assim, houve uma disposição maior para tratar matérias identitárias com o anseio de suprir os posicionamentos que a sociedade como um todo estava tomando. Dentre estes novos posicionamentos, a Revista esteve mais aberta a cobrir pautas que mostrassem mulheres negras em diferentes locais, incluindo a cobertura sobre saúde mental.

Em relação à revista em campo digital, Bianca Alighieri (2015) é a autora principal, em conjunto com Graciela Natansonh (2013). Alighieri (2015) explica como a migração das revistas femininas para o campo digital possibilitou uma maior interação com o público leitor, e permitiu que as revistas pudessem catalizar o que suas leitoras tinham como demanda: A midiatização abre as portas não apenas para que a mídia fale mais, mas para que ela também ouça mais. Estamos falando de um ator social que lê e ouve, mas que também fala, comunica-se, e compartilha sua experiência social. (ALIGHIERI, 2015, p.46)

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