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APRESENTAÇÃO
atento para este novo público com anseio de gerar uma identificação e suprir o desejo destas mulheres de serem vistas, para desta forma, conquistar este novo mercado. Assim, ao viabilizar essas pautas, se faz necessário a inclusão da temática de saúde mental para mulheres pretas, por sofrerem com as estruturas raciais e por muitas vezes não terem acesso à informação de qualidade para elucidar dúvidas e possibilitar o acesso ao tratamento psicológico para tratar seus traumas e curar cicatrizes. Deste modo, apuramos como a reportagem jornalística em revistas femininas pode contribuir com debates sobre a saúde mental de mulheres negras? Em quais mulheres negras chegam este debate? - São perguntas que esta pesquisa busca investigar com base nos teóricos e intelectuais como Muniz Sodré, Patricia Hill Collins, Flávio Carrança, Bianca Alighieri, Eni Orlandi, entre outros.
APRESENTAÇÃO
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Neste projeto analisamos como as revistas femininas abordam a saúde mental de mulheres negras, tendo como objeto de estudo a Revista feminina Claudia (on-line). Visto este panorama, apesar da população brasileira ser composta por 56,10% de pessoas pretas de acordo com o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), 3 a estrutura racial não permitiu às mulheres negras, direitos como o acesso à informação. E ao retornarmos à história do Brasil, as mulheres negras, antes, corpos escravizados, no pós-abolição, não tiveram a garantia de quaisquer direitos, e não foram reconhecidas ao título de mulher em nossa sociedade. A desumanização desses corpos, que esteve por meio da sua força braçal garantindo a manutenção de diversos setores da sociedade fez com que ao longo dos anos, de forma cíclica e acumulativa, resultasse no adoecimento mental destas mulheres. E aqui, se faz necessário invocar a fala de Sojourner Truth, ativista feminista negra do século XIX, que questionou após inúmeros apontamentos de contribuição trabalhista, o porquê que ela não seria considerada uma mulher. Patrícia Hill Collins, comenta: Ao recorrer às contradições entre sua vida de mulher afro-americana e as qualidades atribuídas às mulheres, Sojourner Truth expõe o conceito de mulher como algo culturalmente construído. O árduo trabalho físico, executado sem o auxílio de homens, ocupou grande parte de sua vida como cidadã de segunda classe. A pergunta feita por ela, “por acaso não sou mulher?”, chama atenção para as contradições inerentes ao uso generalizado do termo mulher. (COLLINS, 2019, p.59)
3 Conteúdo disponível em www. https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2019/11/20/consciencia-negranumeros-brasil/ . Acesso realizado em 25 out. 2021.
Os veículos de comunicação, como os segmentados - revistas femininas colocaram mulheres pretas às margens sociais, definindo um perfil de mulher consumidora de notícias que têm suas próprias demandas atendidas em reportagens, que se vê nas páginas e possui uma jornalista como representante - ou seja, esse perfil é branco, cisgênero e transita entre classe média a classe alta. Sobre o cenário, Gabrielle Bittelbrun aponta: (...) admitir que todas as leitoras são iguais e que, portanto, apresentar uma branca na revista seria o mesmo que apresentar todas as mulheres e qualquer uma, além de menosprezar o peso da discriminação sobre as não-brancas, acaba contribuindo para a manutenção do gênero como algo estático e homogêneo, que pudesse ser vivido de um único modo, e para a continuidade da hierarquização do tom de pele branco dentro do próprio grupo mulheres. (BITTELBRUN, 2014, p.161)
Nessa conjuntura, as mulheres pretas são invisíveis aos olhos editoriais e a retratação, quando acontece, beira a estereotipização. Segundo Erly Barbosa e Silvano Silva (2009, p. 65): “A mulher negra, no jornalismo feminino, é silenciada, tendo em vista que aparece de forma diminuta no conjunto das matérias jornalísticas.” A desumanização das mulheres pretas, não só no jornalismo com o poder de seu discurso, mas na sociedade, cria o mito de força absoluta destas mulheres que consequentemente não possibilitou o debate acerca da saúde mental deste grupo. Logo, os atravessamentos que a população preta feminina sofre com as diferentes formas de racismo, sexismo e machismo não são tratados por agentes de saúde, e por outros setores da sociedade, como no jornalismo. Um exemplo deste fato é trazido por Edna Mello (2004), “a mulher negra não é mostrada em situação de equilíbrio ou de boa convivência social.” (p.41). Assim, o jornalismo - em sua academia, instituição e seus atores, devem ter a responsabilidade social, ética, e informativa de atender, explicar, exemplificar questões relacionadas à saúde mental desta mulher. E aqui é oportuno salientar que esta pesquisa se propôs a contribuir com o debate de que a contratação de jornalistas pretas nas produções de revistas femininas é fundamental para incluir pautas raciais, mas que não se restringe a estas jornalistas a realizar esse tipo de produção. Miliane Martins, aponta: A presença de grupos minorizados no jornalismo, como a etnia negra ou parda, ainda é muito inferior à etnia branca, apesar de representarem maioria no país. Porém, a inserção desses grupos em veículos midiáticos poderia ser uma das soluções para o combate ao racismo e a desigualdade racial. (MARTINS, 2016, p.7)
Desse modo, pautar a saúde mental destas mulheres é de suma relevância na agenda jornalística, uma vez que acesso à informação pode mudar as relações, as performances e