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FIGURA 23 - POSTER DO FILME JOELMA 23° ANDAR

53 onde trabalhava, e por isso foi uma das inúmeras vítimas do incêndio. Mas, o que difere sua história, é o que aconteceu depois. Ao encontrar o corpo da jovem depois de horas procurando em necrotérios e hospitais, Álvaro, o irmão de Volquimar, fica horrorizado ao ver o estado em que ela se encontrava. Não querendo deixar a mãe nervosa, o rapaz omite que a encontrou, e os dois partem em direção a outro hospital. Porém, na metade do caminho, a senhora relata ter recebido uma mensagem da própria filha desencarnada, avisando que ela havia sim sido encontrada pelo irmão, e que a mãe poderia ficar despreocupada pois ela “havia sido bem recebida no outro plano”70. Além disso, no texto psicografado, a moça diz que a morte aconteceu de repente. "Foi como se devêssemos todos naquela manhã obedecer, de um modo só, a ordem que vinha do mais Alto, a fim de que a gente trocasse de vida e corpo", teria escrito o espírito de Volquimar. O caso tomou proporções tão grandes que, após a publicação de Somos Seis, a história da moça ainda foi retratada no filme Joelma, 23° Andar71 , cujo roteiro foi baseado nas cartas psicografadas e conta com a atriz Beth Goulart interpretando Volquimar.

FIGURA 23 - POSTER DO FILME JOELMA 23° ANDAR

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JOELMA 23° ANDAR. CUNHA, Clery. 1980

70 Informação extraída do capítulo 2 de Somos Seis, escrito por Chico Xavier. 71 JOELMA 23° ANDAR. CUNHA, Clery. BR: Produções Cinematográficas Souza Lima. 1980. 1 DVD (1h20min).

3.6.1.2. O Episódio

Inúmeros são os relatos de pessoas que experienciaram alguma situação logicamente inexplicável no local da tragédia. Até os dias atuais, ainda muitos dizem ver vultos, escutar vozes e sentir cheiro de queimado em alguns pontos do prédio. De fato, o incêndio do Edifício Joelma traumatizou a sociedade paulistana de tal forma, que o lugar ficou marcado no imaginário popular como sendo “mal assombrado”, o que pode ajudar a propagar a má fama do local, talvez até “pregando peças” mentais em pessoas que o visitam, que já chegam com medo, ou algum tipo de receio de presenciar algo sobrenatural. Inspirado nesses vários relatos, o episódio Edifício utiliza do estilo found footage, popular entre os filmes do gênero narrativo terror, para narrar a visitação de dois amigos jornalistas, que estão preparando uma matéria especial sobre a reinauguração de um prédio comercial fictício, que havia sido queimado alguns anos antes, tal qual o Edifício Joelma, em 1974. O episódio inteiro é estilizado como se fosse um áudio gravado pelos próprios personagens. O personagem Diego anda durante todo o tempo com uma câmera gravadora e um microfone, que captaria os áudios por todos os lugares onde os personagens andam. Supostamente, essa fita de gravação teria sido encontrada e divulgada depois dos acontecimentos narrados, por profissionais que buscavam os corpos dos dois jovens, sucumbidos pelo incêndio que acometeu o prédio. Tanto Diego, quanto a jornalista Luana continuam desaparecidos no final do episódio, pois não se sabe que ambos morreram por influências sobrenaturais que os atormentaram enquanto desbravavam os andares do edifício. Um aviso no começo do episódio avisa: aos que forem mais sensíveis, não é recomendado se ouvir, pois os horrores “reais” gravados em primeira pessoa podem chocar o ouvinte.

3.6.1.3. Argumento

No dia 13 de maio de 2011, numa sexta-feira, aconteceu uma das maiores tragédias registradas no país. Um edifício comercial de 25 andares foi incendiado após um curto circuito em um de seus aparelhos de ar condicionado. Quase duzentas pessoas morreram, e outras mais de trezentas ficaram feridas. 11 anos depois, o edifício foi restaurado e está pronto para uma reinauguração. Um arquivo de áudio foi

55 extraído com a ajuda de especialistas de uma gravação encontrada nos arquivos policiais do dia 14 de outubro de 2022. As imagens foram queimadas permanentemente. O áudio mostra Luana e Diego chegando no Edifício Joana para registrar as primeiras imagens da reinauguração do prédio, depois de anos fechados para reforma. Diego está claramente com muito medo, pois ouviu rumores de que o local poderia ser mal assombrado, mas Luana está determinada a ser a primeira jornalista a conhecê-lo. Ela acaba convencendo o parceiro, que parece ser um tanto apaixonado por ela, e que faria de tudo para agradá-la. Ao entrar no local, Luana apresenta os avanços tecnológicos do novo prédio, como câmeras inteligentes e elevadores mais rápidos. Diego teme entrar no elevador, visto que anteriormente ali tinha sido o local onde várias pessoas haviam sido carbonizadas até a morte, mas Luana o convence, já que eles precisariam ir até a cobertura e não poderiam subir 25 andares de escadas, enquanto levavam as câmeras e equipamentos de áudio. Alguns segundos depois, o elevador para bruscamente e uma voz robótica anuncia que, invés de subir até o vigésimo quinto andar, ele parou no décimo terceiro, sem motivo aparente. Ao descerem do elevador, Diego sente um cheiro estranho e a energia elétrica do lugar cai instantaneamente. Convencida pela falta de luz de que eles não conseguiram mesmo fazer a matéria, Luana concorda em ir embora, mas desse momento em diante coisas estranhas começam a acontecer. Vozes vindas de lugar algum, até que Luana vê a imagem de uma mulher correndo em direção aos dois, enquanto um vento forte começa a soprar. Os dois saem correndo, assustados, e conseguem alcançar uma porta para a escadaria, onde se escondem. Luana começa a ficar com medo, e confessa à Diego que achava que a mulher que ela vira parecia estar morta. No mesmo instante, batidas fortes e insistentes começam na porta onde eles se escondiam. Eles saem correndo escada abaixo, mas em dado momento Diego para. Ele desconfia de que Luana estava de brincadeira com ele, pois o achava medroso, mas ela confirma que aquilo era real, e ela também estava assustada. Como que, confirmando as palavras dela, o elevador reaparece no andar em que eles estavam e, sozinho, abre as portas. Diego corre para entrar, com esperanças de descer até a portaria, mas Luana estanca. Como poderia o elevador funcionar, sem energia elétrica? Antes que ela tivesse tempo de avisar o amigo, as portas do elevador se abrem e chamas incandescentes tomam conta do andar, arrastando Diego para o

56 inferno do fogo. Em poucos minutos, e em meio a gritos desesperados, Diego é totalmente carbonizado, deixando Luana sozinha, desesperada. Ela sai correndo, arfando, sem conseguir respirar direito. Ela começa a perder os sentidos e numa alucinação ouve uma voz chamando-a para uma janela. Desesperada para conseguir respirar, ela obedece a voz e caminha em sua direção. A voz desconhecida começa a se mesclar com a voz de Diego, o que deixa Luana ainda mais em transe, seguindo em direção à janela. Ela deixa o microfone e a câmera caírem no chão, sem se importar com mais nada, apenas querendo acabar com aquele tormento e desespero. Ao chegar na janela, ela quebra o vidro e sobe no parapeito. Ao longe, ouve-se o som de seu corpo caindo no vão, assim como vários que se jogaram durante o incêndio no mesmo edifício, anos atrás. O último som que o microfone registra é o do corpo de Luana batendo no chão, tantos andares abaixo.

3.6.1.4. Sinopse

Uma das maiores tragédias já registradas causou a morte de quase duzentas pessoas e deixou mais de 300 feridas. Um incêndio que carbonizou completamente um edifício, deixando-o às cinzas. Uma história que vive no imaginário de uma cidade, mesmo anos após o acontecido, por inúmeros relatos de pessoas que confirmam terem tido experiências sobrenaturais naquele lugar, que se tornara “mal assombrado”. 10 anos depois do incêndio do Edifício Joana, Luana e Diego, dois jornalistas iniciantes, tem a tarefa de registrar as primeiras imagens da reinauguração do prédio, que promete ser a nova referência de tecnologia e aptidão para salas comerciais. Com suas próprias câmeras e equipamentos de áudio, a dupla passa pelos portões, mas acabam captando muito mais do que provas de que ali seria um ambiente seguro e bem reformado. Os traumas do passado ainda residem dentre aquelas paredes, e o mal existente grita para propagar seu passado lavando com chamas tudo que encontrar pela frente. Não importa quantas vezes você reconstrua, um solo amaldiçoado será sempre amaldiçoado.

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