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FIGURA 30 - CASTING PARA A PERSONAGEM
from Mal-Dito
by Rede Código
VÂNIA
Mulher, por volta de 50 anos, mas aparenta bem mais. Pouco vaidosa, pois é muito conservadora. Acredita que quase tudo é um pecado e uma ofensa à Deus. Passa a vida quase toda na igreja, ou rezando dentro de casa. Impõe as próprias crenças e religião ao filho, que ela teve muito tarde. Durante a gravidez de risco, foi abandonada pelo pai da criança e isso fez com que ela perdesse a confiança em qualquer outra pessoa, isolando a si e ao filho de todo mundo. Prometeu à Deus que se o bebê sobrevivesse, ela viveria para sempre dedicando sua vida à Ele, e assim ela o fez, tornando-se obcecada e um tanto psicótica em relação a isso.
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TRAÇOS DE PERSONALIDADE:
• Psicótica; • Fanática religiosa; • Extremamente temente à Deus; • Rigorosa; • Homofóbica;
Mayara Guzzi
22 anos. Mora em Santo André, cursou alguns semestres no curso de Rádio, TV e Internet, mas acabou trancando. Atualmente faz Marketing na FAM e trabalha como assistente de RH.
FIGURA 30 - CASTING PARA A PERSONAGEM
Foto de arquivo pessoal.
O que achou de participar do projeto: “dar voz a Vânia foi muito emocionante, pois eu estava ofendendo meu próprio clã, além de ser uma personagem antiga, eu fiquei até meio maligna"
3.6.3 O CRIME DO PADRE
3.6.3.1 Contexto
O episódio O CRIME DO PADRE é, como o próprio título sugere, inspirado no romance português O Crime Do Padre Amaro, publicado em 1875, por Eça de Queiroz (1845-1900), sendo uma obra de domínio público desde 1970. A obra, revolucionária para a época, por inaugurar na prosa a estética do realismo-naturalismo em Portugal, caracteriza-se pelo rompimento do idealismo romântico que era mais popular, em busca de realizar uma crítica à sociedade à qual estava inserido. Inspirado pelos franceses Gustave Flaubert75 e Émile Zola76, Queiroz começa a se destacar por trazer abordagens ácidas sobre várias das instituições de bons costumes que comandavam a sociedade português, a família e, principalmente, a Igreja Católica. Nesse período destaca-se o romance O Primo Basílio77 e, claro, O Crime Do Padre Amaro. Com uma narrativa em terceira pessoa, o romance citado narra a história de Amaro, um jovem padre, melancólico e com pouca vocação, que abomina a vida eclesiástica à qual foi incumbido. Em certo ponto, Amaro vê-se mudando para a cidade de Leiria, onde aluga um quarto na casa de Joaneira, pagando com ajuda nas despesas e afazeres da casa. Lá, ele conhece a jovem Amélia, com quem, rapidamente, cria uma atração mútua. No decorrer dos acontecimentos do romance, Amaro se vê perdendo, com certa rapidez, o pudor, deixando-se levar pela índole libidinosa que o acometia desde a juventude. Nesse ponto, o autor claramente entra em uma crítica ferrenha ao tabu da sexualidade, principalmente quando envolvida no clero.
No clímax do livro, os dois jovens abrem mão da sanidade e partem para o ato sexual na própria pensão, o que faz com que Amélia engravide do padre. Aos poucos, a moça perde-se para a histeria devido às crises de consciência por ter traído o noivo, João Eduardo, e por ter se deitado com um homem resignado à Igreja. No final da
75 Gustave Flaubert (1821-1880) foi um escritor e prosador e considerado um dos principais nomes do realismo francês. Suas obras trazem temáticas antirromânticas e apresentam grande análise psicológica dos personagens. Seu trabalho mais conhecido é o romance Madame Bovary. 76 Émile Zola (1840-1902) foi um consagrado escritor e um dos principais autores do naturalismo francês. Suas principais obras são: Germinal, O Romance Experimental e A Besta Humana. 77 O Primo Basílio foi um romance de grande sucesso, publicado por Eça de Queiroz em 1878. Aborda temas como: casamento, adultério e a influência da família burguesa em Portugal.
68 história, Amélia é enviada aos subúrbios para dar à luz em um local afastado, longe dos olhos da sociedade onde vive, e Amaro é aconselhado a entregar o bebê à uma “tecedeira de anjos”78. Na hora do nascimento, a criança é levada pelo pai e entregue à uma camareira, que o levaria ao seu destino final. Amélia, por fim, não resiste ao parto.
3.6.3.2 O Episódio
Inspirado nesse romance, a versão inicia-se no ato do nascimento do bebê indesejado. Mas, diferente do final escrito por Queiroz, aqui se usa uma abordagem mais folclórica e macabra, inspirado também, em lendas como A Mula Sem Cabeça79 e a imagem do “anticristo”80 . Na narrativa abordada, Amélia liga para Amaro ampará-la na hora do parto, que aparenta estar bem fora do normal. Isso se dá pois Amélia está dando à luz ao próprio anticristo, como castigo por ter cometido o pecado de se deitar com um “servo de Deus”. Assim como na história original, Amaro tinha planos de entregar a criança para uma camareira, mas essa foge da cena ao entender o que se passa, com medo de ser considerada “cúmplice” do nascimento macabro. Ainda em paralelo com a versão de Queiroz, aqui Amélia também morre no parto, mas por circunstâncias diferentes. Enquanto na versão portuguesa ela morre por conta de convulsões, no áudio drama a morte ocorre devido aos ataques que o próprio bebê faz no corpo da mãe para poder nascer, dilacerando a barriga da mulher com os próprios dentes.
3.6.3.3 Argumento
Já era tarde da noite quando Amélia começou a sentir as dores do parto. Ao se ver sozinha, em uma casa longínqua, ela resolve ligar para Amaro, o padre e pai da criança que estava para nascer. Desesperado, o homem parte para o local, rezando pela alma dos dois.
78 no livro, é qualificada como uma mulher que mataria recém-nascidos indesejados. 79 Segundo lendas do folclore brasileiro, a personagem da Mula-sem-cabeça seria uma mulher que deitou-se com um padre ou homem do clero. Ao cometer esse, que seria o maior dos pecados, a mulher é amaldiçoada a transformar-se nessa criatura, que “solta fogo pelas ventas”. 80 O “anticristo” seria uma força que, segundo o livro do Apocalipse, na Bíblia, tentará um triunfo contra Cristo e a Igreja Católica.
69 Ao chegar no local, a parteira já havia começado os trabalhos para conceber o bebê, mesmo discordando de toda aquela situação, e achando todos os envolvidos pecaminosos. Logo, todos na cena ficam nervosos e o parto segue muito fora do que seria considerado normal. Do lado de fora do casebre, uma tempestade cai, com a chuva e o vento batendo nas janelas. Amaro rezava com afinco, vendo o desespero e a dor que se acometia sobre Amélia. E então, o bebê nasceu. Rasgando a mãe de dentro para fora, com os próprios dentes, a criança abria espaço para o mundo externo, jorrando sangue para todo lado. A parteira, assustada, sai da cena rezando em latim pela alma de Amélia, que jazia dilacerada na cama. Com seu último suspiro, todas as luzes da casa estouram, deixando todos em um breu total. Amaro, assustado, estava paralisado, vendo a criança quase levitar por sobre o corpo da mãe. Uma figura já crescida, como se tivesse alguns meses, até anos, de vida. Demorou apenas um segundo, e a criança avançou sobre a parteira, como se fosse um caçador pulando sobre sua caça, arrancando a pele da mulher com os dentes. Horrorizado, e sentindo-se culpado por tudo isso, Amaro, em um ato de desespero, pula da janela, suicidando-se. Nunca mais se ouviu falar da criança.
3.6.3.4 Sinopse
Baseado no romance O Crime Do Padre Amaro de Eça de Queiroz, o episódio narra o nascimento macabro do bebê gerado em um ato de pecaminosa libidinosidade entre o sacerdote Amaro e uma jovem seduzida e apaixonada, chamada Amélia. Do pecado do ato, a penitência para o casal, por tamanha ofensa à Deus e sua igreja, é dar a vida ao filho do Diabo e sofrer as consequências que esse nascimento maldito há de trazer.