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FIGURA 33 - CASTING PARA A PERSONAGEM

PARTEIRA

Mulher entre 60 a 65 anos, robusta, está na cena ajudando Amélia a dar à luz. Não gosta do padre e nem concorda com a sua conduta de entregar o filho para a morte. Conhece Amélia desde o nascimento, por ter auxiliado, também, no parto de sua mãe, por isso compadece da moça que está ali em sofrimento, mas também acha que ela é responsável por ter se deixado seduzir.

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TRAÇOS DE PERSONALIDADE:

• Muito religiosa e temente à Deus; • Rigorosa; • Voz forte e altiva; • Opiniões fortes; • Aprendeu latim de tanto frequentar a Igreja.

Nicole Kharsa

34 anos. Formada em Comunicação Social Radialismo pela Universidade Metodista de São Paulo. Fez especialização em sonoplastia e locução pelo SENAC São Paulo. Atualmente trabalho com produção de áudio, produção cultural, programação musical, locução, roteirização e criação de pautas e entrevistas. O que gosta de fazer: Ouvir música, criar novas vozes e atuar.

FIGURA 33 - CASTING PARA A PERSONAGEM

Foto de arquivo pessoal.

O que achou de participar do projeto: “Achei interessante, pois foi uma forma de me desafiar a criar vozes completamente diferentes das que estou acostumada. Desejo uma ótima sorte para vocês neste projeto.”

3.6.4 OS DOZE PASSOS

3.6.4.1 Contexto

O episódio OS DOZE PASSOS é, superficialmente, uma história de vingança em forma de maldição, mas também possui uma narrativa que é parte da memória escravagista brasileira, mais especificamente o sofrimento da mulher negra, que além de escravizada, ainda, muitas vezes, era abusada sexualmente por seus patrões, que as tratavam como objeto sexual. Na obra Escravidão – Do primeiro leilão de ativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares o escritor e jornalista paranaense Laurentino Gomes, 66 anos (até a publicação deste), diz que o Brasil é, e sempre foi, um país racista e em 1888, quando a escravidão legal desapareceu, foi apenas na formalidade, pois após a Lei Áurea81 os negros e descendentes de escravos foram apenas abandonados à própria sorte. O primeiro volume de sua trilogia de livros, aborda toda a história do sofrimento da época da escravidão negra, incluindo muitas abordagens em relação às mulheres, especificamente. Ele conta, que durante as viagens dos navios negreiros pelo Atlântico, “as mulheres eram o alvo mais vulnerável da tripulação”:

O tormento era particularmente grande para as mulheres escravas, que ficavam separadas dos homens em porões mais próximos dos alojamentos da tripulação. Ali, elas estavam vulneráveis ao assédio e ao estupro por parte dos oficiais e marinheiros, sem ninguém que pudesse defendê-las. O assalto sexual começava ainda antes da partida do navio. Um traficante francês escreveu em suas memórias que, ainda no porto africano, cada oficial tinha a prerrogativa de escolher à vontade uma escrava, que, durante a viagem, lhe serviria 'na mesa e na cama'. O capitão negreiro John Newton escreveu que os oficiais tinham o hábito de dividir as mulheres entre si de acordo com a beleza delas e a preferência de cada um ainda no início da viagem. (GOMES, 2019, p. 244)

Até hoje a mulher continua sofrendo com o assédio moral e sexual, mas quando elas eram “legalmente” propriedade de seus abusadores, o assunto era ainda pior. No caso da escrava personagem da lenda apresentada em Os Doze Passos, vemos que o abuso sexual se transformou em algo ainda mais grave, uma gravidez fruto do abuso patrão-criada. Sobre o assunto, o historiador português Arlindo Manuel Caldeira, que

81 Sancionada por Princesa Isabel, que na época exercia a função de Princesa Regente, no dia 11 de maio de 1888, a Lei Áurea, ou “Lei Imperial” número 3.353, foi a lei que extinguiu a escravidão no Brasil.

74 dedicou alguns anos de sua carreira ao estudo da escravatura em Portugal, disse em entrevista ao site Nascer Do Sol, que, segundo suas pesquisas:

Num número provavelmente mais elevado do que os pensamos, o escravo, e sobretudo a escrava, é um bem sexual. Muitas vezes, além das tarefas domésticas, é lhe exigido esse serviço sexual prestado aos senhores - e aos filhos, também. Se nos lembrarmos de aqui há 50, 60 ou 100 anos, as criadas acabaram por manter um pouco essa situação de dependência que é aproveitada pelos senhores sem limites. Isto é uma violência enorme em relação à escrava, que tinha muitas poucas hipóteses de recusar. (CALDEIRA, 2017)82 .

Quanto à gravidez, ele diz que “Há senhores que vão fazer todos os possíveis para que o filho não nasça. Pode acontecer ainda pior, que é o senhor vender os seus próprios filhos.” (CALDEIRA, 2017). No caso da história narrada em Os Doze Passos, ao descobrir que a relação sexual com sua escrava gerou uma gravidez, o senhor causa, ele mesmo, o aborto do bebê, espancando a moça.

3.6.4.2 O Episódio

A história de vingança e maldição da jovem escrava é contada em forma de lenda, nos tempos atuais, pela adolescente Nina, com o objetivo de assustar o jovem Pedro, que está sob seus cuidados de babá. Com o uso de duas linhas temporais diferentes (presente, na casa de Pedro e passado, na época da escravidão), a história se entrelaça, causando uma atmosfera de tensão, colocando o ouvinte no lugar do próprio Pedro, que ouve a lenda contada por Nina, sob a voz do locutor-narrador. A lenda apresentada na história conta que uma escrava havia se deixado seduzir pelo seu senhor, filho dos donos da casa, e, rendendo-se ao sentimento que possuía pelo rapaz, sucumbiu aos desejos e entregou-lhe sua virgindade. Algum tempo depois, ao descobrir sua gravidez, o senhor força a jovem a cometer um aborto, pois não queria seu sangue misturado com o de sua escrava, considerando isso algo nojento. Humilhada, a moça busca vingança, e, utilizando o sangue do patrão, coloca uma maldição naquele porão e em todos os homens que tentassem fazer com alguma mulher, o que haviam feito com ela.

82 Trecho da entrevista de Arlindo Caldeira para o jornalista José Cabrita Saraiva, publicado no site Nascer do Sol em 2 de abril de 2017

3.6.4.3 Argumento

No aniversário de vinte anos de casamento dos pais de Pedro, o casal resolve sair para comemorar e deixa o filho sob os cuidados da vizinha Nina, uma adolescente que mal suporta crianças, mas aceita o serviço em troca de uma recompensa em dinheiro. Para passar logo o tempo, Nina inventa formas de distrair o menino, até que resolve contar-lhe uma história de terror. Uma lenda, que diz, segundo ela, que muitos anos atrás uma jovem escrava foi seduzida pelo patrão no porão do casarão onde moravam e logo descobriu-se grávida. Enojado ao descobrir que teria um filho com uma criada, o rapaz levou a jovem novamente até o porão e a espancou, até a moça perder o feto de sua barriga. Logo, a moça arquitetou um plano de vingança sobre seu patrão. Armou uma armadilha para levá-lo até o mesmo porão, onde antes havia sido amada e espancada por ele. Ali, ela realizou um ritual de magia, amaldiçoando o local e todos as pessoas do sexo masculino que, no futuro, pisasse os pés em algum porão, pois, para ela, nenhum homem jamais seria digno de perdão, e todos pagariam pelo que havia sido feito com ela. Ao fim da história de Nina, uma lâmpada estoura, causando um curto que apaga todas as luzes da casa, assustando as crianças. Ela liga para os adultos, que lhe dizem haver uma caixa de força no porão da casa, bastava ela descer com cuidado os dozes degraus que levavam até ele. Pedro, querendo mostrar que não havia ficado com medo da história, se oferece para ir. Ele desce os degraus, contando um a um, até chegar no décimo segundo degrau. Porém, Pedro, sendo do sexo masculino, continua descendo os degraus do porão, outrora inexistentes, para seguir em direção ao inferno, como havia profetizado a maldição da jovem escrava.

3.6.4.4 Sinopse

Numa noite de babá, Nina conta uma lenda de terror para o jovem Pedro, sobre um amor proibido, uma gravidez indesejada e um porão amaldiçoado. Mas quando Pedro precisa descer no porão da própria casa, após uma falha de energia elétrica, eles vão perceber que essa lenda pode ter sido baseada em fatos reais.

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