São2021Paulo
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL CURSO DE JORNALISMO MARIANNE BEZERRA DA SILVA FLORINDO
REPRESENTAÇÕES DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E A CONTRIBUIÇÃO DA MÍDIA PARA UM PAÍS MAIS INCLUSIVO
MARIANNE BEZERRA DA SILVA FLORINDO
REPRESENTAÇÕES DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E A CONTRIBUIÇÃO DA MÍDIA PARA UM PAÍS MAIS INCLUSIVO
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL CURSO DE JORNALISMO
Relatório de Fundamentação Teórico Metodológica (RFTM)/Paper, acompanhado de Produto Experimental, desenvolvido como etapa final de elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul,. sob orientação do Prof. Me. Antonio Lucio Rodrigues de Assiz.
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Escrever um projeto de pesquisa é um tanto desafiador. Por isso, agradeço a Deus por me guiar nos momentos de desespero. Agradeço a minha mãe, mulher que faz o possível e o impossível para cuidar dos seus. Agradeço ao meu pai, que não está presente fisicamente, mas vive em meu
AGRADECIMENTOS
Agradeçocoração.atodos
os professores do curso de Jornalismo, vocês foram mais que essenciais para a minha formação acadêmica e de vida. Foram quatro longos anos de amadurecimento, aprendizados e experiências que mudaram meus olhares para o mundo. Admiro a dedicação de cada um, sem vocês esse sonho não seria possível.
1SUMÁRIOINTRODUÇÃO.....................................................................................................5 2 APRESENTAÇÃO................................................................................................6 2.1 Percurso histórico ...............................................................................................7 3 REFERENCIAL TEÓRICO ...............................................................................9 3.1 Papel social do Jornalismo 12 4 REFENCIAL METODOLÓGICO ....................................................................15 5 RESULTADOS...................................................................................................15 5.1 Levantamento na internet....................................................................................18 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................21 REFERÊNCIAS .....................................................................................................22 APÊNDICE: PROJETO EXPERIMENTAL........................................................24 B) CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO..................................................................27 C) INVESTIMENTO..............................................................................................27 D) ENTREVISTAS.................................................................................................24 ANEXOS......................................................................................................................44
Marianne Bezerra da Silva Florindo Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, SP
O presente projeto de pesquisa tem como objetivo compreender a forma que o jornalismo do Portal G1 aborda questões relacionadas à deficiência. O recorte de investigação compreende o período do mês de abril de 2021. Com base no referencial teórico apresentado, busca se analisar qual o impacto da informação no público e o papel social do jornalista com a sociedade e como a comunicação poderia contribuir de maneira efetiva a inserção da pessoa com deficiência e fortalecer as suas identidades e o seu exercício de cidadania. O método de pesquisa adotado para este estudo é a análise de conteúdo.
Segundos dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) em 2010, cerca de 24% da população declarou ter alguma deficiência física, o que corresponde a 46 milhões de brasileiros. Apesar da expressividade dos dados divulgados pelo IBGE, as questões e as discussões sobre inclusão social de pessoas com deficiência infelizmente ainda são incipientes no Brasil.
Mas infelizmente a pessoa com deficiência ainda sofre preconceitos por simplesmente não se encaixar nos “padrões” estabelecidos. Devido à falta de profundidade nas discussões sobre inclusão e deficiência nos veículos de comunicação, a maioria não tem conhecimento sobre seus direitos e passam por situações constrangedoras caladas. A mídia, em sua maioria,
Em 6 de julho de 2015 foi instituída a Lei 13.146, mas só entrou em rigor em 2 de janeiro de 2016, conhecida como Lei Brasileira de Inclusão ou Estatuto da Pessoa com Deficiência, o conjunto de normas tem o objetivo de assegurar, promover condições de igualdade e o livre exercício de cidadania. A lei considerada um grande avanço passou a beneficiar milhões de pessoas. Apesar do que muitos pensam a acessibilidade não é sinônimo barreiras arquitetônicas e urbanísticas na cidade, mas sim a garantia de que todos tenham acesso a todas as áreas de seu uso comum. Desse modo, garantindo sua qualidade de vida e o seu direito a comunicação e informação.
RESUMO
Representações da Pessoa com Deficiência e a contribuição da mídia para um país mais inclusivo
PALAVRAS CHAVE: deficiência; jornalismo; inclusão; representação.
1 INTRODUÇÃO
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2 APRESENTAÇÃO
O projeto de pesquisa busca entender como a falta de comunicação afeta o debate sobre conscientização e analisa os possíveis caminhos do jornalismo para contribuir de forma efetiva a inserção dessas pessoas para uma verdadeira sociedade inclusiva.
A pesquisa procura identificar à forma que ocorre às representações e se há construção de preconceitos e estigmas da pessoa com deficiência no portal G1. O período escolhido para a analise de matérias foi o mês de abril 2021. De maneira geral, o objetivo do projeto é mostrar como o jornalismo poderia usar a sua voz de maneira efetiva representando a pessoa com deficiência corretamente, lutando por um país inclusivo e quebrar tabus tão antigos que ainda permeiam na sociedade contemporânea principalmente nas redações e como a falta de informação afeta o debate de conscientização e inclusão. Justifica se, porque a pessoa com deficiência, em sua maioria, foge dos padrões impostos e por isso são separados da sociedade, criando uma divisão onde eles se encontram como pessoas “anormais”. E a mídia reforça fortemente os estereótipos e a ideia de “corpo perfeito”. A partir disso, é criada a relação de “corponormatividade” onde este corpo é considerado inferior e incompleto.
A entidade “Escola de Gente Comunicação em Inclusão” é uma organização não governamental que discute sobre a atuação da mídia em relação à forma que pessoas com deficiência são tratadas e apresentadas nos veículos. O propósito da organização é colocar a comunicação a serviço da inclusão na sociedade. A pioneira e idealizadora do projeto Escola de Gente é Claudia Werneck, jornalista e ativista brasileira em direitos humanos, pioneira na disseminação do conceito de sociedade inclusiva. A ONG possui diversos projetos, um deles é o “Mídia Legal” e foi uma das primeiras iniciativas do projeto. A proposta é analisar matérias
Para ampliar a reflexão foi utilizado um questionário publicado na internet no período de 01 de Junho ao dia 04 de Junho. Este formulário teve 110 participantes. Nele pude perceber que raramente a pessoa com deficiência é refletida nos jornais diários, e cerca de 61% das pessoas que participaram, ou seja 68 relataram ter presenciado discriminação ou preconceito contra a pessoa com deficiência nos veículos de comunicação.
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Aborda superficialmente o assunto, as informações, muitas vezes, são superficiais, recheadas de estigmas, estereótipos e um tanto capacitista Werneck (2004) ressalta que levar a população a entender e refletir sobre o quanto a deficiência é um assunto a ser entendido com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de todos os cidadãos, é principalmente uma tarefa da mídia e dos profissionais de comunicação.
Portanto, para compreendermos como ocorrem as representações construídas socialmente e estabelecidas da pessoa com deficiência e sua relação com sociedade vigente e os meios de comunicação de massa, é necessário trilhar uma linha do tempo e avaliar como a deficiência tem sido tratada ao longo dos anos.
para identificar falhas e propagam discriminação. No total foram redigidos seis manuais da Mídia Legal, e cada um deles possui um tema diferente, saúde, educação e outros. Em Junho foi realizado um formulário e uma das perguntas era: Você acredita que a mídia propaga preconceitos e estereótipos? E cerca de 71,8% responderam que sim.
Porém, ao longo de muitos anos os termos como: inválido, ceguinho, excepcionais, defeituosos, doente mental, retardado, leproso, mongoloide, incapacitado, surdinho e entre outras diversas denominações foram usadas com frequência para designar essas pessoas. Foi a partir de 1981 com a proclamação da ONU para o Ano Internacional da Pessoa com Deficiência que esses termos começaram a ser deixados de lado e usados com frequência. Desde então, a pessoa com deficiência começou a frequentar lugares como qualquer outro cidadão comum, tendo seus direitos e leis assegurados. Mas, continua sendo um processo com mudanças gradativas.
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2.1 PERCURSO HISTÓRICO
Para dar início ao trabalho cientifico, é necessário compreendermos o conceito atual de deficiência, sendo promulgado em 2006 através da Convenção Internacional da ONU sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, através da convenção foi feita a mudança conceitual sobre a deficiência, em seu Art. 1º assegura:
Desde o início da história da humanidade, indivíduos que possuem algum tipo de deficiência, seja ela, de natureza física, mental, intelectual, sensorial ou múltipla estão inseridos na nossa sociedade, seja alguma deficiência congênita ou adquirida através de infecções ou acidentes. Sendo essas deficiências categorizadas no Decreto nº 5.296/2004. E, eles estão presentes em todas as etnias, religiões, raças, orientações sexuais e classes sociais. De acordo com Silva:
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições comas demais pessoas.
Anomalias físicas ou mentais, deformações congênitas, amputações traumáticas, doenças graves e de consequências incapacitantes, sejam elas de natureza transitória ou permanente, são tão antigas quanto à própria humanidade (SILVA, 1987).
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O percurso histórico da temática foi dividido em algumas fases, mas vale ressaltar que não foi um movimento contínuo, visto que cada indivíduo tinha sua forma para lidar com essas pessoas e, de acordo com Pacheco e Alves (2007) a forma que nós o enxergamos é modificada de acordo com os valores de cada um, sejam eles morais, filosóficos, religiosos ou culturais. Na história da existência humana, em algum momento passou se a trajetória de exclusão, mas em alguns momentos, em diferentes locais, o tratamento era diferente, alguns de aceitação. Tudo depende da forma que cada pessoa mantém o seu pensamento perante as questões humanas. Nesse sentido, as concepções de deficiência são modos de pensamento construídos ao longo da história (FREITAS, 2011).
O infanticídio de crianças com deficiência era muito comum e, os filósofos da época tinham grande influência nessas práticas, já que os mesmos concordavam e apoiavam. Tal como Platão defendia que as crianças que tivessem alguma doença, deveriam ser descartadas por seus pais ou outras pessoas, em um lugar desconhecido e secreto (Mendonça, 2020).
Na Grécia antiga, especialmente, era muito comum à cultura de adoração e glorificação pelo corpo estabelecido como perfeito e dentro dos padrões socialmente aceito. Na época, os gregos não tinham vergonha de exibir o próprio corpo, desde que estivesse nesses padrões conquistados através de muita atividade física. Dessa forma, surge na sociedade grega às concepções de corpos perfeitos que estão presentes até hoje na nossa contemporaneidade. Sendo assim, a principal reação dos gregos ao ver uma pessoa com algum tipo de deficiência era a rejeição e o abandono. Mendonça (2020) diz que a maior contribuição para a discriminação de pessoas com deficiência vem da cultura grega.
Silva (1987) ressalta que ainda existe um sentimento de rejeição na sociedade para tudo aquilo que é diferente, e que isso causa mal estar nas pessoas. Seguindo a mesma linha, Fédida (1984) afirma que uma das manifestações mais nítidas do ser humano ao encarar a deficiência é querer negá la.
Através de pesquisas históricas, foi constatado que os deficientes sempre foram tratados com indiferença e sentimentos de exclusão, ficando à margem da sociedade. Desta forma, o preconceito se tornou um elemento presente de forma implícita ou explícita. As concepções de corpo tiveram forte influência na segregação de pessoas com deficiência, mas vale ressaltar que essas concepções tiveram constante mudança durante a nossa história. Assim, o corpo exerce papéis diferentes em cada sociedade (Cassimiro;Galdino).
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Como foi dito, há milhares de anos as concepções de corpo vêm sofrendo constantes transformações. Isso devido ao forte sistema político econômico capitalista, e a influência dos meios de comunicação de massa na vida da comunidade. O corpo tornou se um objeto de
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Segundo os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) feito em 2018, é apontado que cerca de 486 mil PCD‟S estavam registrados em empregos formais. Por sua vez, o número de pessoas deficientes no país tem implicações diretas no modo como a sociedade deve se organizar para tratar a deficiência com mais justiça e igualdade (Rufino, 2008). E, mesmo com a promulgação da Lei nº 8213/91, também conhecida como Lei de Cotas para pessoas com deficiência, que garante e estabelece a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho, a taxa de inclusão pcd é muito baixa em relação à quantidade de empregos no país. Sendo assim, não é comum encontrarmos pessoas com deficiência ocupando algum cargo dentro de uma empresa, principalmente cargos do mais alto escalão executivo.
A trajetória da população com deficiência no Brasil foi marcada pela fase inicial dentre os povos indígenas. Não muito diferente da sociedade grega, era comum nas comunidades indígenas a prática de eliminação de crianças com deficiência. Quando nascia uma criança com deformidades físicas, era imediatamente rejeitada, acreditando se que traria maldição para a tribo, dentre outras consequências (Figueira, 2021). Na realidade, até hoje é comum à prática do infanticídio em algumas tribos isoladas do Brasil, o ato não é inerente apenas a crianças com deficiência. Essas discussões não estão apenas acerca de ativistas da inclusão social, mas também de há uma preocupação no que tange a constituição brasileira e o direito à vida. São inúmeras questões a serem discutidas, mas não cabe a este trabalho discutir os costumes e as culturas dos povos indígenas.
Desta forma, a prática do infanticídio sempre foi comum por serem considerados seres “defeituosos”. E eles não eram vistos como indivíduos pertencentes aos mecanismos sociais, no Brasil a pessoa deficiente foi considerada por vários séculos dentro da categoria mais ampla dos miseráveis, talvez o mais pobre dos pobres (SILVA, 1987). Para ele, o deficiente pobre não significava nada no que tange os termos de vida social e política no país. Atualmente há cerca de 46 milhões de brasileiros que possui algum tipo de deficiência, ou seja, 24% da população, conforme diz o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2010. Vale salientar que nesta pesquisa não inclui transtornos mentais, como psicose, autismo e esquizofrenia.
mercantilização, um produto de consumo para as grandes mídias, que coincidentemente estão sob a classe dominante capitalista, Santos e Mederos afirmam que:
Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas desalojadas de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e parecem “flutuar livremente”. Somos confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual nos fazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes de nós) dentre as quais parece possível fazer uma melhor escolha (HALL, 2006)
Viver parece que se tornou tão somente consumir. As pessoas acreditam cada vez mais que são definidas por aquilo que consomem. Buscam construir sua identidade, suas relações sociais e dar sentido à vida através do consumo. (SANTOS; MEDEROS. 2011)
As transformações nos veículos de comunicação de massa e o modo que arte e cultura são apresentadas diretamente ligadas à teoria crítica da indústria cultural desenvolvida pelos filósofos frankfurtianos Theodor Adorno (1903 1969) e Max Horkheimer (1895 1973). Desse modo, eles foram os principais teóricos a criticarem a ruptura das fronteiras entre consumo, informação e política. O conceito de indústria cultural transformou tudo em mercadoria, inclusive pessoas. Seu principal objetivo é obter lucros e transformar pessoas em consumidoras culturais, sendo essa indústria que define o que vamos consumir, e não o senso comum. E assim transformou pessoas em valores, em mercadoria. No entanto, os meios de comunicação de massa sempre desempenharam um papel fundamental em nossas vidas, e com os avanços tecnológicos no mundo, possibilitaram novas formas de consumo.
Stuart Hall foi um dos principais teóricos dos estudos culturais, e se questionava sobre o papel da mídia e os conceitos apresentados por ela; cultura, imagem, linguagem, representações, identidade, dentre outros. E seu objetivo era tentar compreender como essas imagens representam a realidade em que vivemos. Hall foi o responsável pela “teoria da representação” ele defende que a mídia cria significados ao representar grupos. E de fato, a mídia tem o poder de criar significados e moldar as nossas concepções, é o que acontece quando ela representa a pessoa com deficiência, sempre apresentando narrativas que não condiz com a realidade, o maior exemplo é a narrativa de superação pessoal. A mídia, de uma forma geral, ajuda no sentido de formar mentalidades, construir valores e narrar a realidade à sua maneira, interferindo na construção das identidades (SCORALICK, 2009).
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Que os meios de comunicação de massa estão ligados à classe dominante, isso é fato. O sistema capitalista tem como narrativa a constante ideia de que o indivíduo tem que ser produtivo o tempo inteiro, visando o trabalho e os lucros como um papel central de nossas vidas. Podemos dizer que a capital estrutura todos os modos de produção da notícia Sendo assim, a atividade jornalística em grandes veículos, em sua maioria, anda contra os interesses do público.
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No caso da informação repassada pelas mídias, é importante questionar sobre a mecânica de construção do sentido, sobre a mecânica de construção do sentido, sobre a natureza do saber que é transmitido e sobre o efeito de verdade que pode produzir no receptor (CHARAUDEAU, 2006).
Ao delimitar comportamentos, modos de ser e agir, os discursos estabelecem normas, padrões e, ao mesmo tempo, afirmam e constituem aquilo que é diferente a esta identidade, que não é apenas o seu oposto, mas é tudo aquilo que não está incluído nesta referência. “Esta dinâmica de significação e demarcação de diferenças, central para as teorias pós estruturalistas, será fundamental no processo de construção e constituição de identidades” (GUARESCHI, 2006).
Nos dias de hoje, esses veículos são fundamentais para a realização de diversas atividades do nosso dia a dia, tornou se uma relação indissociável, assim estão presentes em tempo integral em nossa vida. Além de ser uma peça essencial para o cotidiano, esses veículos também transmitem informações incorretas, opiniões, conceitos, reflexões, impõem estereótipos, e assim, permeiam fortemente nas relações humanas determinando mudanças políticas, socioeconômicas e culturais. Atualmente, a mídia ocupa um lugar central na vida de todos. Ajuda a moldar nosso imaginário, estabelecer propriedades decidir e descartar opiniões (CHRISTOFOLETTI, 2008).
Como sabemos, o corpo deficiente é colocado no mundo como incapaz e impotente, tirando os da sua função de sujeito e do seu pleno exercício de cidadania. Devido à narrativa que a pessoa com deficiência vive grupo oprimido e não só eles, mas todos os grupos considerados minorias, a mídia tradicional grupo hegemônico não dá o devido espaço para eles, justamente por ser um grupo elitista. Se repararmos, pouco se vê um jornalista pcd atuando em grandes meios midiáticos, por exemplo. Tudo que não se remete ao belo, ao eficiente e ao que a sociedade coloca como padrão de referência, está cada vez mais longe dos holofotes e das mídias (RIBEIRO; SANTOS. 2019).
Nesse sentido, Pena (2005) traz a reflexão da teoria do espelho, estudo que tenta compreender o porquê as notícias são como são. Sua ideia central é de que o jornalismo é um reflexo da realidade que vivemos. Ou seja, as notícias são como são porque a realidade determina que seja assim. O autor ainda diz que a imprensa funciona como um espelho do real, apresentando reflexos nos acontecimentos do nosso cotidiano. Diante do exposto Noblat afirma que:
No entanto, pode se dizer que o jornalista precisa entender quais são os seus deveres e suas responsabilidades com a sociedade. A Lei nº 12.527 da Constituição Federal de 1988 afirma que o direito à informação é fundamental para uma sociedade democrática. A informação é um direito de todos, ou pelo menos deveria ser. E essa função cabe aos veículos midiáticos que tem o poder de trazer discussões para que a população, de forma geral, tenha acesso à informação, e ao conhecimento sobre determinado assunto.
A questão da responsabilidade social de um jornalista com a sociedade vai muito além de transmitir notícias e formar opiniões. Os Princípios Internacionais da Ética Profissional no Jornalismo foi um texto redigido com a colaboração de 400.000 jornalistas espalhados pelo mundo, inclusive por profissionais da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) através de encontros promovidos pela UNESCO em 1978. No entanto, o debate reconheceu o papel importante da comunicação no mundo contemporâneo, sendo na esfera nacional ou internacional, com responsabilidade social nos meios de comunicação e na profissão do jornalista. O texto foi dividido em dez princípios, o III afirma que:
Formação em jornalismo é compreendida como bem social e não como uma comodidade, o que significa que os jornalistas não estão isentos de responsabilidade em relação à informação transmitida e isso vale não só para aqueles que estão controlando a mídia, mas em última instância para o grande público, incluindo vários interesses sociais. A responsabilidade social do jornalista requer que ele ou ela agirão debaixo de todas as circunstâncias em conformidade com uma consciência ética pessoal.
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3.1 PAPEL SOCIAL DO JORNALISMO
O jornalismo tem uma função social nobre, transformar as informações em conhecimento público, logo não podemos continuar a fazer distinção, por preconceito comunicativo, de quem deve ou não ter acesso ao conhecimento gerado (BONITO, 2012)
Um jornal é ou deveria ser um espelho da consciência crítica de uma comunidade em determinado espaço de tempo. Um espelho que reflita com nitidez a dimensão aproximada ou real dessa consciência [.] Jornalismo não é obra exclusiva de jornalistas. Tanto quanto nós, os leitores são também responsáveis pelo bom e mau jornalismo. (NOBLAT, 2010)
Na visão de Dines (2009) Quanto menos profunda for à investigação das circunstâncias, quanto menos cruciais forem às situações e as apurações feita pelo profissional, mais perecível será esse jornalismo. Sendo assim, o papel central do jornalista é tratar o seu trabalho com objetividade, atenção, veracidade e sempre estar atento ao código de conduta. Não apenas como um profissional de comunicação, mas também como o cidadão receptor daquela mensagem. O jornalista e o leitor, assim, fazem parte do mesmo bolo social. (DINES, 2009)
A teoria nos apresenta uma conduta jornalística que deve ser seguida, mas a realidade nos veículos é bem diferente. Visto que, algumas vezes, as notícias não são os espelhos da realidade, existe distorção nas narrativas, sensacionalismo, imparcialidade na coleta dos fatos e só é veiculado o que realmente a grande mídia quer, e não o que o povo precisa saber. Justamente porque ela tem o poder de moldar o imaginário popular, induzir e conter ações. No entanto, Marx ressalta:
A função da imprensa é ser o cão de guarda, o denunciador incansável dos opressores, o olho onipresente e a boca onipresente do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade. [...] O dever da imprensa é tomar a palavra em favor dos oprimidos a sua volta. [...] O primeiro dever da imprensa é minar todas as bases do sistema político existente. (MARX, 1999).
A questão da deficiência e a inclusão ainda é um tabu para os veículos e automaticamente reflete na sociedade. Ainda existe uma ausência do tema e discussões sobre o assunto. Uma das explicações para o pouco interesse que a mídia da América Latina manifesta sobre a deficiência é a falta de informação e de visão crítica que a maioria dos jornalistas tem sobre o assunto. (WERNECK, 2004). Mas nos últimos tempos, em relação à
O jornalista é um mediador desinteressado, cuja missão é observar a realidade e emitir um relato equilibrado e honesto sobre suas observações, com o cuidado de não apresentar opiniões pessoais. Seu dever é informar e buscar a verdade acima de qualquer coisa, mas para isso é necessário entregar se à subjetividade, cujo princípio básico é a separação entre fatos e opiniões (PENA, 2005).
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Percebe se também a necessidade dos profissionais não só na área da comunicação, mas de forma geral, para entender que a deficiência não é castigo, doença ou qualquer coisa do gênero, são somente características de uma pessoa, e não o todo. Infelizmente, pcd‟s ainda encontram obstáculos para se sentirem pertencentes da sociedade, não apenas barreiras urbanísticas, mas também no mundo digital, já que grande parte dos sites não possui nenhum recurso de acessibilidade. E quem confirma é o levantamento feito BigDataCorp, onde foi detectado que 0,74% dos sites brasileiros possuem recursos de acessibilidade. Alves e Pacheco (2007) afirmam que para pensarmos em inclusão é necessário preparar os recursos físicos, tecnológicos e conscientizar a comunidade.
Nesse sentido, Bonito, Santos, Beilfuss (2017) dizem que é fundamental repensarmos sobre as práxis de produções, principalmente os conteúdos digitais, e que nos dias de hoje, existem milhares de barreiras que impedem a pessoa com deficiência ter acesso às informações. Quando existem barreiras que impedem o receptor de ter acesso às informações com autonomia, são feridos os direitos essenciais direito a informação assegurados pela Constituição Federal, por consequência o jornalismo acaba perdendo sua aura e passa a ser um jornalismo perecível.
O jornalista não pode esquecer seu papel e sua importância, peças fundamentais em termos de construção da cidadania, uma vez que é responsável pela transmissão de informações e a ideia de cidadania está subordinada à informação. (LOPES, PROENÇA, 2003).
forma de abordagem e utilização dos termos, há certa mudança mesmo que gradativa nos meios digitais. Para Figueira (2014) não adianta reabilitar o indivíduo se a sua imagem não for recuperada perante a sociedade para que ela aceite a pessoa com deficiência naturalmente, sendo assim os meios de comunicação surgem como uma forma de alternativa para mudar essas imagens e a automaticamente o fim de uma imagem deteriorada.
Por fim, uma mídia inclusiva só irá acontecer quando os veículos transmitirem a verdadeira realidade dessas pessoas, apresentando o seu cotidiano, enfrentando e superando os desafios diários, como qualquer pessoa, e não como super heróis. O primeiro passo para a comunicação consiga cobrir dignamente as questões da deficiência é conhecê las, conhecer as instituições que agregam essas pessoas e dialogar com as fontes originais. Outra questão é ampliar a voz e colocar o sujeito com deficiência como fonte, o que normalmente não ocorre. E na sociedade como um todo, garantir que as leis estabelecidas para a inclusão de pessoas com deficiência que asseguram o direito a equidade, garantindo igualdade de oportunidades,
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4 REFERENCIAL METODOLÓGICO
5 RESULTADOS
15 produtividade e segurança sejam cumpridas. Para que assim tenhamos uma sociedade que acolhe com mecanismos de inclusão valorizando e respeitando as diferenças
O processo teve início no levantamento bibliográfico em portais e servidores de artigos, teses, dissertações e livros que abordam a temática deficiência e jornalismo. Foi usada a plataforma Capes, associações de jornalismo, portal Intercom e bibliotecas online para obter resultados. A partir desta execução foi feita uma breve pesquisa para analisar as formas que os portais de notícias retratam a pessoa com deficiência. O desenvolvimento do projeto de pesquisa será feito através de uma analise de conteúdo baseado na linguagem utilizada nas matérias relacionadas a pessoas com deficiência no portal G1. O trabalho teve como base a teoria do espelho, para entender o porquê as noticias são como são, e foi utilizado o livro “Teoria do Jornalismo” redigido pelo jornalista Felipe Pena. O período escolhido para o levantamento foi o mês de Abril de 2021. Também foi usada a plataforma do Google Forms para realização de um questionário sobre deficiência x mídia.
No intuito de entender e identificar a forma que ocorre às representações e se há construção de preconceitos e estigmas da pessoa com deficiência, foi realizada uma pesquisa com base nas produções jornalísticas realizadas pelo jornal online G1. O motivo de escolha do jornal se dá por ser um grande veículo de comunicação, e teoricamente, a tendência é ter matérias relevantes sobre a temática da deficiência. O período compreende ao mês de Abril de 2021. A pesquisa é baseada no uso de palavras chave, incluindo “deficiência”, “portador de deficiência”, “deficiente” e “necessidades especiais” para analisar a forma que retratam essas pessoas. Embora o mecanismo de busca do portal G1 seja útil e tem como objetivo auxiliar nas pesquisas deve se observar que ainda existem limitações, que podem levar a uma coleta imprecisa das matérias. Portanto, foram encontradas cerca de 58 reportagens entre os dias 01 de abril a 30 de abril. Comparado com o conteúdo diário publicado no portal, o número é baixíssimo, já que diariamente são publicados 1669 vídeos, 774 matérias e 150 posts. O que já nos remete a pergunta: Por que há essa falta de conteúdo sobre pessoas com deficiência nos portais jornalísticos? Quais são os critérios de noticiabilidade do portal G1?
A partir do conteúdo encontrado, foram selecionadas critérios para categorizar essas reportagens, sendo eles: uso dos termos, baseado na ideia de Romeu Sassaki,
A matéria “Projeto usa material sustentável para ajudar alunos com deficiência visual” publicada no dia 08.04.2021 em Alagoas está na categoria de “acessibilidade comunicacional” a notícia reforça a deficiência e quase não apresenta o projeto. Durante a reportagem, é apresentada a pessoa que irá utilizar, mas não possui entrevista, ou seja, não dá pra saber se o projeto é realmente útil para quem tem deficiência.
Em relação às pautas e temáticas das reportagens, foram encontradas; 14 matérias sobre histórias de superação, 11 de educação inclusiva, 8 de acessibilidade urbana arquitetônica, 6 sobre projetos sociais, 5 de representatividade, 5 de inclusão no mercado de trabalho, 3 de acessibilidade comunicacional, 2 de acessibilidade na praia, 1 sobre violência doméstica, 1 de direitos pcds, 1 de inclusão digital e 1 sobre conscientização. Entretanto, a narrativa que predomina é de superação, e possuí títulos como: “Jovem autista de Imperatriz consegue passar em medicina na UFRJ” matéria publicada no dia 23.04.2021 no Rio de Janeiro. “Estudante com deficiência visual é aprovada em 1º lugar em direito na UFPI”, publicada dia 18.04.2021 no Piauí “Jovem com síndrome de asperger é aprovado pelo Sisu em design gráfico no IFPE: estou orgulhoso” publicada no dia 16.04.2021 no Pernambuco. “Jovem com paralisia cerebral presenteia coletores de lixo com caixas de chocolate em Taquarituba” publicada no dia 14.04.2021 em Taquarituba/SP Exemplos de matérias que possuem abordagem inadequada:
A matéria que tem como título “Estudante de física autista „quebra barreiras‟ com a música e lança clipe em Goiânia” publicada no dia 26.04.2021 em Goiânia. Em sua maioria, ressalta e frisa se apenas no autismo, e que o garoto é “um exemplo de superação”. Pouco se apresenta sobre o projeto realizado pelo estudante. Usa se a mãe do rapaz e o dono da gravadora como fonte. O personagem principal não tem lugar de fala.
Após a leitura, foram encontradas apenas 5 de 58 matérias que utilizaram os termos de forma incorreta, ou seja 8,6% das reportagens. Os adjetivos encontrados foram: necessidades especiais, portadores de deficiência e pessoa especial e deficiência mental leve/severa. Para Sassaki (2002) o uso desses termos é incorreto e estigmatiza essas pessoas. Em entrevista com a atriz e jornalista Danielli Haloten, ela ressalta que “eu não gosto de falar nos termos politicamente corretos, a pessoa comum tudo bem que não use, e ela realmente não vai usar no seu dia a dia, mas o jornalista tem obrigação de usar”.
16 pautas/temáticas, uso de fontes: dá voz a pessoa com deficiência? Local de publicação, e por último, se existe mecanismos de acessibilidade.
A matéria “Pessoas com deficiência vencem as limitações e se colocam no mercado de trabalho” publicada no dia 30.04.2021 em Goiás está na categoria „superação‟ e coloca o
Em entrevista com o Jornalista Luiz Alexandre, dono do blog Vencer Limites, ele diz “O jornalismo em sua maioria, ainda não entende que deficiência é diferente de ineficiência, e isso é comprovado nas reportagens que fazem paralelos entre deficiência e ineficiência. Essa abordagem só será derrubada quando a deficiência deixar de ser o tema central das reportagens, e sim mostrar o que está em volta disso”
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No mês de Abril há duas datas comemorativas para pcds, o dia do Transtorno do Espectro Autista (02) e o Dia Nacional do Braille (08), nesse período foram encontrados duas matérias no portal que falasse sobre a relevância das datas.
deficiente como coitado, reforçando os estigmas já existentes e fazendo uma correlação direta entre deficiência e ineficiência. Vale ressaltar que já existe a Lei de Cotas (art. 93 Lei Nº 8.213/91) que estabelece que pcds ocupem uma parcela de cargos em qualquer instituição.
Oaprofundadas.quartocritério são os recursos de acessibilidade no portal G1, cerca de duas matérias possuem recursos de acessibilidade, sendo duas reportagens que utilizam a língua
O terceiro critério para analise das publicações foi à quantidade de fontes; 27 de 58 matérias dão voz à pessoa com deficiência, ou seja, 46,6% é um número bom, mas ainda sim não é o ideal, já que o assunto é justamente sobre a deficiência. 31% das matérias, sendo 18 delas, possuem fonte, mas nenhuma delas é pcd, a voz que predomina são as mães do personagem pra variar . E 13 matérias não usou fonte alguma, são apenas notas e não matérias
Como foi constatada, a história de superação ocupa um espaço significativo, foram encontradas cerca de 14 matérias. Luiz Alexandre comenta “De maneira geral, ainda domina o mito da superação, a imprensa ainda engole os discursos corporativos sobre inclusão sem resultado na prática, no dia a dia das empresas e trata coisas muitos velhas como se fossem grandes novidades. Ampliando essa questão para outros mundos, da publicidade, da arte, da cultura, do entretenimento, há muito mais conteúdo representativo porque são criados por pessoas com deficiência, exatamente o que falta na imprensa”. Mas também há boas reportagens que trazem soluções, e falam sobre assuntos realmente relevantes sem estigmatizar. Exemplos: “Curso online está com inscrições abertas para mulheres deficientes no noroeste paulista” publicada no dia 27.04.2021 em São José do Rio Preto/SP, está na categoria de inclusão. “Ruas do Centro Histórico serão mais acessíveis para pessoas com deficiência em São Luís” publicada no dia 17.04.2021 em São Luis/Maranhão, está na categoria de acessibilidade urbana e “O som do silêncio': Surdos contam como foi assistir ao filme sobre adaptação à deficiência” publicada no dia 22.04.2021, não foi identificado à cidade que a matéria foi redigida.
No mês de Junho foi realizada uma pesquisa através do Google Forms e obteve 110 respostas. No total foram cinco questões a serem respondidas.
Primeira questão: Com que frequência você lê uma notícia sobre PCD? (pessoa com deficiência) e as respostas foram: 39 pessoas disseram que nunca lê, ou seja, 35,5%, 68 (61,8%) disseram que raramente, e apenas três pessoas (2,7%) responderam que sempre lê uma noticia sobre a temática.
brasileira de sinais, as demais não possuem se quer áudio descrição. O que acaba ferindo a Lei de acesso a Segundoinformação.umapesquisa feita pelo BigDataCorp, foi indicado que apenas 0,74% dos sites brasileiros foram aprovados em todos os testes de acessibilidade. A pesquisa incluiu 14,65 milhões de sites ativos no país. Diante do exposto, Luiz Alexandre diz: Isso é resultado da falta de interesse com a falta de conhecimento, somado à percepção de que as pessoas com deficiência não são pessoas, não são cidadãos, não são consumidores principalmente de notícias e, sendo assim, não precisam ser consideradas como um público. E o último critério foi o local de publicação das matérias, sendo vinte e cinco no sudeste, dezoito no nordeste, duas no norte, três no sul e três no centro oeste.
62% 35% 3%
18
Com que frequência você lê uma noticia sobre pcd? (pessoa com deficiência)
Raramente Nunca Sempre
5.1 LEVANTAMENTO NA INTERNET
19
Terceira questão: Você já presenciou alguma discriminação ou preconceito social contra pessoas com deficiência nos veículos de comunicação? Respostas: 67 disseram que sim (61,8%), 29 (26,4%) responderam que não, e 13 (11,8%) disseram que talvez.
Você já presenciou discriminação ou preconceito contra pessoas com deficiência nos veículos de comunicação?
72% 9% 19%
Sim Não Talvez
61% 26% 11%
Sim Não Talvez
Você acredita que a mídia propaga preconceitos e estereótipos?
Segunda questão: Você acredita que a mídia propaga preconceitos e estereótipos? Respostas: 78 pessoas (72,8%) responderam que sim, 21 (19,10%) responderam que talvez e apenas 10 (9,10%) responderam que não.
Para você, o jornalismo dá voz a minorias? Não Talvez
Quinta questão: Você conhece alguma politica de inclusão? 61 (56,4%) pessoas responderam que não, e 48 (43,6%) responderam que sim.
Você conhece alguma política de inclusão?
Sim
Quarta questão: Para você, o jornalismo dá voz a minorias? 48 (43,6%) pessoas responderam que talvez, 37 (33,6%) disseram que não, e 24 (23%) respondeu que sim.
Sim Não
20
23% 33% 44%
56% 44%
histórico foi constatado que a pessoa com deficiência, em alguns momentos viveu à margem da sociedade, e tratado com sentimentos de exclusão em relação às pessoas não deficientes. Felizmente, nos dias de hoje, esse tipo de tratamento tem sido deixado de lado, e podemos identificar esses avanços através das políticas de inclusão, como assegura a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) que tem como objetivo assegurar e promover condições de igualdade, exercício de liberdade visando à inclusão e cidadania da pessoa com deficiência. Também há participação de ONGs do terceiro setor e projetos sociais que buscam garantir inclusão em todos os âmbitos sociais.
Durante a análise no portal G1 foram encontradas matérias de fato relevantes e que trazem as discussões sobre o tema, mas nota se que é algo incipiente e não há profundidade alguma, mas isso não é inerente apenas ao G1. A pauta que prevalece na redação ainda é a de superação pessoal, e a partir disso, é feito a construção de estigmas sobre a temática. Foram encontradas barreiras de acessibilidade impedindo que o receptor tenha acesso às informações, ferindo seus direitos fundamentais, o direito à informação.
Podemos concluir que o jornalismo tem um papel essencial na sociedade, e o dever do jornalista não é apenas transmitir informações, e seguindo o pensamento do sociólogo Karl Marx; a função da imprensa é tomar a palavra a favor dos oprimidos existentes, e para termos um jornalismo de qualidade, é necessário dar visibilidade para aqueles que não têm principalmente os que são considerados minorias. Hoje, a imprensa é considerada o quarto poder, já que a mesma tem a capacidade de moldar pensamentos e induzir a comunidade, e assim, ela tem um papel fundamental para trazer em seus veículos assuntos que não tem tanta visibilidade na sociedade e tentar conscientizar o seu público de alguma forma.
21 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi dito acima, o objetivo central deste trabalho foi analisar a forma que o portal G1 apresenta a pessoa com deficiência em suas matérias, e identificar se há construção de preconceitos e estigmas em torno da temática, e como o jornalismo poderia contribuir de maneiraNoefetiva.percurso
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Linguagem aberta e dinâmica e possivelmente sensível, com fácil entendimento de leitura e compreensão. Sendo de maneira coloquial, o objetivo linguístico da revista será incluir o seu público alvo, utilizando os meios midiáticos a seu favor.
APÊNDICE
A linguagem será hibrida, misturando o verbal com o não verbal, com a finalidade de informar e incluir. Tentaremos trazer assuntos que merecem certa atenção do público, e dando ênfase em conteúdos educativos para que possam aprender.
3. Sinopse
Geração Brasil, traz conteúdos noticiosos em tempo factual, com uma linguagem de fácil compreensão e coloquial, sempre defendendo a inclusão e pautas educativas e saúde da mulher A revista mostra o cuidado com o público buscando sempre interagir, para que não haja diferenças, e não tolerando preconceitos.
Linha editorial
24
A) Produto Experimental
Revista Geração Brasil
1. Título do produto
4. Descrição do projeto Linguagem
Aberta ao debate de causas sociais e educação é a premissa editorial da revista eletrônica Geração Brasil, com a missão de informar e entreter por meio de matérias jornalísticas que promovam pautas inclusivas e educativas. O público alvo são mulheres, adolescentes, crianças e PCD‟S.
Link: https://geracaobrasil603884332.wpcomstaging.com/
Área: Formato:DigitalRevista eletrônica
2. Área e formato
Número de páginas/caracteres/duração
A revista é no formato digital, desenvolvido na plataforma WordPress, o texto corrido das matérias é padrão em fonte Arial tamanho 12.
Thailize Silva Oliveira: Redatora, repórter, editora, pauteira e responsável pelo projeto gráfico.
O logo trará o nome da revista, assim como uma pequena ilustração, de uma garota na cadeira de rodas estudando, representando a editoria de inclusão e educação. Também há o desenho de uma mulher na cor vermelha, representando a editoria saúde feminina, e por fim o desenho de um microfone representando o podcast da revista.
Thiago Siqueira Martins: Repórter, revisor, fotógrafo, e responsável pelo podcast Geração Brasil.

A revista digital conta com aproximadamente 40 mil caracteres, dividido pelas editorias: Educação, Inclusão e Saúde. Em cada editoria há cerca de quatro matérias. Também há uma editoria especial na revista, que inclui um podcast.
Pauta
25
Função individual Emilly Júlia Caetano Silva: Pauteira, redatora, repórter e revisora e editora.
Marianne B. Silva Florindo: Redatora, repórter, pauteira e responsável pelo projeto gráfico.
Tipologia/Identidade Visual/ Identidade sonora.
Créditos: Thailize Oliveira
ALINHAMENTO EDITORIAL ENFOQUE/ANGULAÇÃO
Danieli Haloten: 03.09.2021
Outubro: Leitura, desenvolvimento do projeto experimental: redação das matérias.
Revista eletrônica Geração Brasil InclusãoEDITORIA PCDTEMA/ASSUNTO 20/10/2021EDIÇÃO
O objetivo é publicar 5 matérias na categoria de inclusão, sendo elas: direitos pcd, termos, acessibilidade, influenciadores digitais e moda inclusiva.
comum nas matérias jornalísticas o uso inadequado da linguagem quando se trata de pessoas com deficiência. Isso se dá pelo despreparo de profissionais. Embora haja mais de 46% milhões de pessoas com deficiência no Brasil, apenas 0,74% dos sites são acessíveis, segundo a pesquisa do Big Data Corp, Movimento Web para todos e CeWeb.br.
Luiz Alexandre: 08.09.2021

José Pires: 15.09.2021
Setembro: Leitura, redação e entrevistas Entrevistas com Ingrid Medina: 01.09.2021
26 PAUTA
JoséFONTESMaria Pires Maurício: Aposentado
Agosto: Pesquisa de artigos, livros e monografias. Busca de fonte e redação do paper.
Diário de campo
Danieli Haloten: Atriz, jornalista e influenciadora digital Heloisa Rocha: Jornalista e influenciadora digital Ingrid Medina: Bacharel em serviço social e influenciadora digital
REPÓRTER: Marianne Florindo
NOME DO VEÍCULO
AindaHISTÓRICOémuito
TodosOBSERVAÇÃOosentrevistados são pcds, menos o Luiz Alexandre.
PAUTEIRA: Marianne Florindo
Luiz Alexandre de Souza Ventura: Jornalista, dono do blog Vencer Limites (Estadão)
Leitura, redação do projeto experimental e do paper, design da revista digital, e entrevista com Heloisa Rocha 24.11.2021. B) CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO CRONOGRAMA do TCC 2° Sem Mês Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Semanas 1° 2° 3° 4° 1° 2° 3° 4° 1° 2° 3° 4° 1° 2° 3° 4° 1° 2° 3° 4° DecupagemEntrevistasAnalisePesquisadoprodutoFotografiaRedaçãoRevisãoEdiçãoEntrega C) INVESTIMENTO INVESTIMENTO Pesquisa R$ 74,50 Bibliografia R$ 175,00 Internet R$ 690,00 Transporte R$ 604,80 Pacote design Wordpress R$ 180,00 Impressão Final (Capa Dura) R$ 60,00 TOTAL R$ 1.784,30
Novembro:
27
Sim, e muito. A imprensa demora muito para entender as mudanças na sociedade e no mundo. Por isso, fortalece a construção de cenários que não são reais, cria personagens e ambientes fictícios, reforça preconceitos e não admite que comete erros.
3-Como você analisa a articulação midiática sobre a temática da deficiência?
28 D)
ENTREVISTAENTREVISTASCOM
Resposta: Houve evolução na visibilidade, ou seja, os espaços para reportagens sobre o tema fora da editoria de saúde, fora da observação da deficiência como doença, são maiores. Mas o que deveria ser regra é exceção. As reportagens que tratam as informações sobre o universo da pessoa com deficiência como informações, e não como espetáculo, são raras. De maneira geral, ainda domina o mito da superação, a imprensa ainda engole os discursos corporativos sobre inclusão sem resultado na prática, no dia a dia das empresas e trata coisas muito velhas como se fossem grandes novidades. Ampliando essa questão para outros mundos, da
LUIZ ALEXANDRE DE SOUZA VENTURA (VENCER 1LIMITES)-Primeiro, eu gostaria de saber como surgiu a ideia do Vencer Limites, e quais foram os principais desafios nesses anos de blog.
Resposta: O blog Vencer Limites estreou em 11 de setembro de 2012, mas a ideia de criação desse espaço começou a tomar forma em 2006, quando fui trabalhar no Sistema Globo de Rádio (Rádio CBN e Rádio Globo), em São Paulo, pela primeira vez na condição de pessoa com deficiência. A partir daquele momento, passei a observar de maneira muito mais crítica as reportagens sobre pessoas com deficiência e constatei que tudo era antiquado, ultrapassado, estigmatizado e estereotipado, sem representatividade. Já no Estadão, onde fui editor, surgiu a oportunidade de colocar essa ideia em prática. O principal desafio é mudar a abordagem da grande sobre esse tema, porque a maioria ainda entende a deficiência como uma limitação, um impedimento, e supõe saber tudo a respeito do assunto com base nessa avaliação.
2 - Você acredita que o jornalismo de alguma forma reforça os estigmas já existentes na Resposta:sociedade?
29 publicidade, da arte, da cultura, do entretenimento, há muito mais conteúdo representativo porque são criados por pessoas com deficiência, exatamente o que falta da imprensa.
Resposta: Infelizmente, ainda não entende. E isso é comprovado nas reportagens que fazem paralelos entre deficiência e eficiência. Essa abordagem só será derrubada quando a
Resposta: Isso é resultado da falta de interesse com a falta de conhecimento, somado à percepção de que pessoas com deficiência não são pessoas, não são cidadãos, não são consumidores principalmente de notícias e, sendo assim, não precisam ser considerados como um público.
5 Como você analisa o trabalho de inclusão no Brasil?
6 Você acredita que os meios de comunicação têm o poder de mudar esses conceitos que já estão enraizados na cabeça do público?
7 Para você, o jornalismo entende que a deficiência é diferente de ineficiência?
Resposta: O tal terceiro setor faz muita coisa boa e tem muita gente séria, com conhecimento profundo e abrangente, que está quebrando a redoma de invisibilidade que ainda esconde as pessoas com deficiência da sociedade. Essas ações têm importante apoio das empresas, mas principalmente porque essas empresas perceberam como a inclusão beneficia o negócio. E também porque as instituições se tornaram referência no setor e passaram a ensinar mais sobre o tema. Entretanto, no setor público, tudo caminha lentamente e com muitas barreiras, políticas públicas do setor ainda são bloqueadas e tratadas como gasto ao invés de investimento e a população com deficiência permanecem classificada como improdutiva.
Resposta: Acredito totalmente e meu trabalho no blog Vencer Limites tem essa meta. É fundamental dar voz à população com deficiência e compreender essas pessoas, suas demandas e necessidades.
4- O levantamento feito pelo BigDataCorp indicou que apenas 0,74% dos sites brasileiros são acessíveis. Na sua opinião, por que ainda há essa dificuldade dos portais, principalmente os jornais não serem acessíveis?
30
8- Sendo assim, qual seria os caminhos para o jornalismo promover inclusão e conscientizar a comunidade de maneira efetiva?
Resposta: A presença de jornalistas com deficiência nas redações, nas posições de comando, nas decisões sobre pautas, na distribuição das notícias. Isso é fundamental. Outro ponto é não supor ter um conhecimento e produzir a matéria com base nessa suposição. Há também a necessidade de entender que deficiência não são castigos ou impedimentos, mas somente características, e que a acessibilidade é algo em eterna evolução. Para completar, a imprensa precisa fazer uma profunda reflexão sobre suas imperfeições e assumir suas falhas, para poder evoluir.
2 Qual o objetivo do Moda Em Rodas?
Resposta: Hoje, eu defino o Moda Em Rodas como um espaço de produção de conteúdo atuando nos três seguintes pilares: a valorização da moda inclusiva, o resgate da autoestima feminina especialmente do corpo com deficiência e a promoção de uma nova concepção
1 Como e quando surgiu o seu contato com a moda e o projeto Moda Em Rodas?
deficiência deixar de ser o tema central das reportagens, quando essas reportagens mostrarem o que está em volta disso.
ENTREVISTA HELOISA ROCHA (MODA EM RODAS).
Resposta: O meu contato com a moda surgiu na infância, pois, por parte de mãe, sou neta e sobrinha de costureira. Com elas, eu aprendi a encontrar um estilo e a compreender o meu corpo, ou seja, as modelagens e os tecidos que me valorizavam. Além disso, eu tive o privilégio de cobrir muitas edições do São Paulo Fashion Week, fazendo com que despertasse o interesse e a paixão pela moda. O Moda Em Rodas surgiu em outubro de 2015 após perceber que, na época, havia poucas pessoas com deficiência que falassem sobre moda, já que algumas conhecidas com deficiência me abordavam sempre para saber onde eu adquiria determinada roupa ou calçado. Inicialmente, com o projeto, eu pretendia preencher uma lacuna inexistente de mulheres com deficiência que apresentassem seus “looks” diariamente. Depois, a iniciativa cresceu e acabou tomando novos rumos.
Resposta: Eu faço compras no setor infantil e, com o crescimento de modelagens mais fashion e adultas para este público, eu acabei sendo beneficiada. Mas é importante frisar que há roupas infantis que, às vezes, são mais caras que as de adulto. Calçados, lingeries, roupas de banho e de festa, por exemplo, são os maiores problemas para mim, pois eu tenho que solicitar que confeccionem sob medida e, infelizmente, tudo que é sob medida é mais caro. Por este motivo, eu sou obrigada a optar por modelos atemporais porque o investimento a este tipo de peça é alto e, no Brasil, nem todo mundo pode ter acesso a este tipo de produto. Tenho plena noção do quão privilegiada sou!
31 do corpo com deficiência na mídia. Em linhas gerais, o meu objetivo é fazer com que a sociedade compreenda que as pessoas com deficiência não representam uma porcentagem pequena da população nacional e que consomem, porém invisível aos olhos da indústria da moda e não devidamente representadas pelo profissional da comunicação.
3- Como você vê e analisa o espaço que mulheres com deficiência têm na mídia?
Resposta: Tem melhorado, mas ainda não conquistamos este espaço com plenitude. Há poucos anos, a pessoa com deficiência era vista somente em campanhas publicitárias de tecnologias assistivas, centros de reabilitação, carros adaptados e campanhas governamentais. E, no jornalismo, as únicas pautas trazidas tinham um forte apelo capacitista. Com a popularização das redes sociais, as pessoas com deficiência conseguiram ter voz e mudar o viés de como costumam ser tratadas na mídia. E essa mudança tem sido retratada em desfiles, propagandas e capas e matérias de revista, por exemplo. Mas, de acordo com uma recente pesquisa da Elife e da SA265, por exemplo, a pessoa com deficiência está presente em apenas 1% dos anúncios brasileiros. Ou seja, uma porcentagem mínima se pensarmos que somos 46 milhões de brasileiros, segundo o Censo de 2010 do IBGE. E, para completar, as agências e as marcas ainda insistem em modelos preferencialmente brancos, jovens e magros, ou seja, até padrão é exigido para uma pessoa com deficiência. E, por fim, o modelo com deficiência ainda sofre por não ser remunerado da mesma forma que o modelo com deficiência e, muitas vezes, é enviado a sets e estúdios inacessíveis.
4- Você encontra as suas roupas com facilidade e com um preço acessível? Existe alguma peça que você tenha mais dificuldade em encontrá la?
5- Você acredita que o Moda Em Rodas pode ser um complemento, uma "válvula de escape” para mulheres com deficiência que possuem baixa autoestima e não tem contato com a Resposta:moda?
32
Eu acho que o Moda Em Rodas pode ser considerado um espaço de incentivo para que as mulheres com deficiência compreendam que não há nada de errado ou de feio com a sua deficiência. Elas veem a Heloisa usando diferentes combinações, cores e estilos e se sentem motivadas a irem às compras, a se verem com mais frequência no espelho, a não cobrirem seus corpos com as roupas ou os cabelos e a, principalmente, se amarem. O Moda Em Rodas é a representatividade que, até pouco tempo, essas mulheres nunca viram na mídia e que, por este motivo, cresceram sem referência e com uma autoestima abalada.
6- Quais são as marcas que você consome e que apresenta um projeto de moda Resposta:inclusiva?
Resposta: 83,5% do público do Moda Em Rodas são mulheres e, principalmente, da faixa dos 25 a 44 anos. As cinco cidades, no momento, com maior número de seguidores são: São Paulo, Aracaju, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba.
Pessoalmente, eu mando confeccionar boa parte das minhas roupas e dos meus calçados por ter dificuldade de encontrar peças do meu tamanho. Outra parte, infelizmente, são adquiridas por marcas convencionais que ainda não abraçaram a causa, com exceção da Renner e da Reserva. Mas elas, neste caso, trabalharam com coleções pontuais e não fixas. Para mim, no Brasil, as marcas que apresentam um projeto de moda inclusiva são as que trabalham exclusivamente com moda inclusiva, como Equal Moda Inclusiva, Angel‟s Grace Moda Inclusiva, Costuras do Imaginário, Via Voice For Fashion, Freeda, Iguall Moda Inclusiva, Aria Moda Inclusiva e tantas outras.
7- Qual é o público do Moda Em Rodas?
8 A legislação proíbe discriminação ou diferença de qualidade no atendimento de nossa saúde, mas sabemos que nem sempre é assim. Queria saber se você já passou por alguma situação constrangedora e, se você enxerga um despreparo dos médicos em relação a mulheres (principalmente) com deficiência.
Resposta: Veja bem, a questão da discriminação e da falta de atendimento à pessoa com deficiência não acontece apenas na saúde, mas em praticamente quase todos os tipos de serviços. Para mim, tudo isso acontece pelos seguintes motivos: boa parte da população com deficiência não conhece a fundo todos os seus direitos, o agredido muitas vezes não tem tempo, recursos, apoio e condições para denunciar um crime de discriminação, as empresas treinam seus funcionários a atenderem clientes e pacientes com deficiência e, por não conviver com pessoas com deficiência diariamente, a sociedade não sabe como atender ou lidar com o indivíduo em questão. Eu já passei por algumas situações desagradáveis, como ser levada para a ala infantil durante um exame de sangue porque os profissionais costumam julgar a minha capacidade intelectual em razão da minha deficiência e do meu tamanho e de receber uma extra dosagem de remédio porque o profissional determinou uma dose de acordo com a minha idade e não ao meu peso e ao meu tamanho, ocasionando em um grande mal estar depois.
9- Como você analisa o espaço das mulheres com deficiência dentro do movimento feminista? Na sua opinião, ele pode ser um “forte aliado” na inclusão dessas mulheres?
10 Na sua opinião, ainda faltam campanhas para a sociedade se conscientizar sobre a importância da inclusão e do combate a violência contra mulheres com deficiência?
33
Resposta: Acredito que, como em outro movimentos sociais, os grupos marginalizados esquecem de ampliar o seu leque de vozes e acabam excluindo a pessoa com deficiência, que também está incluída em pautas de gênero, raça, etc. Eu super apoio a participação da mulher com deficiência no movimento feminista com o objetivo de fazer com que essa mulher conquiste a independência financeira e aprenda a se defender da violência sexual e doméstica, pois esse grupo é duplamente mais vulnerável a sofrer ataques. Além disso, a mulher com deficiência necessita do apoio de outras mulheres, pois sua sexualidade é quase sempre negada ou invisibilizada e, infelizmente, isso a afeta emocionalmente e a coloca em risco tanto ao predador sexual quanto a uma gravidez inesperada. No Brasil, boa parte das famílias não falam sobre a vida sexual às meninas com deficiência.
Danielli: No artigo da LBI, diz que os cursos superiores ou técnicos tem que ter uma disciplina que fale sobre pessoa com deficiência, e eu não tenho isso no meu curso de direito, e seria de suma importância que tivesse porque como um jornalista vai saber ou ter a consciência de fazer um blog acessível se você nem se liga que pessoas com deficiência visual pode acessar o seu conteúdo, ou se você nem sabe o que é um site acessível. Você tem que prestar informação correta, mas infelizmente tem jornalista preguiçoso que não faz isso.
1 Como você analisa a cobertura midiática sobre a temática da deficiência?
ENTREVISTA DANIELI HALOTEN
Resposta: Então, eu venho percebendo que na mídia eletrônica isso está mudando, tanto que eu tenho uma alerta no google para a palavra pessoa com deficiência e todos os dias eu vejo matérias interessantes, que se utilizam dos termos corretamente, matérias que discutem o assunto realmente. Eu destaco a BBC News que tem umas matérias muito boas. Rádio eu não tenho acompanhado muito, então não sei como está. Na televisão que sim, as pessoas com deficiência são muito poucas retratadas, você quase não vê matérias relativas a pessoa com deficiência, e quando vê é uma coisa extraordinária. Então na mídia televisiva ainda somos muito pouco retratados, nós ainda somos retratados de uma forma estereotipada, ou nós somos super heróis ou coitadinhos. Tem muitas matérias sobre a pessoa com deficiência que a mídia televisiva não retrata de uma forma bacana. Por exemplo, eu não vi uma matéria que falasse sobre a perda de emprego das pessoas com deficiência na pandemia na televisão. Esses dias eu me espantei porque eu vi uma matéria na GloboNews, uma matéria muito bem feita, era sobre a separação de pessoas com deficiência na educação, o jornalista usando nomenclatura correta e normalmente na televisão eles não usam a nomenclatura correta, eles não vão atrás nem disso, sendo que é o básico. Ainda falam pessoas com necessidades especiais, deficiente físico se referindo a todas as pessoas com deficiência, quando não é! E
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Resposta: Sim e, na minha opinião, essa campanha educacional deve ser aplicada especialmente nas escolas e nos lares em que resida uma menina ou uma mulher com deficiência. A família precisa estar ciente deste assunto para poder apoiar e educar seu ente. Além disso, o combate à violência contra mulheres com deficiência deve ser ensinado também aos meninos, que, quando crescem, são responsáveis por tais atos.
3- Você acredita que os meios de comunicação têm o poder de mudar esses conceitos que já estão enraizados na cabeça do público?
isso acaba sendo uma desinformação, porque você acaba informando o público de uma forma errada
2- Na sua opinião, o jornalismo entende que deficiência é diferente de ineficiência?
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Resposta: Sim. Os meios de comunicação têm um papel muito importante nessa mudança de paradigma, a gente estuda no jornalismo a influência dos Mass media em todos os sentidos. Imagina se a televisão dita moda, se ela pode derrubar um presidente da época do Collor, é claro que a televisão influencia e muito. A gente raramente é retratado em novela, isso é ruim. Na vida real você encontra pessoas com deficiência, então porque na novela você não encontra? Não vou dizer que tem que ser uma regra, mas pelo tanto de coisa que interfere na nossa vida, pelo menos uma vez por semana tinha que ter uma notícia na tv sobre as pessoas com deficiência, sobre leis, sobre dificuldades, direito do consumidor. E claro, retratar de uma forma comum. Tem essas questões do coitadismo, do herói. Veja quantas matérias poderiam ser feitas falando sobre nós, sobre assunto que nos interessam e não são feitas. Vou te dar um exemplo: Na época que o STF estava julgando se a LBI era constitucional no tocante a cobrança a não cobrar mais a pessoa com deficiência na escola, teve uma matéria na rede globo, eu estava no meu local de trabalho. A matéria do jornal hoje, e ela foi tão tendenciosa
Resposta: Eu não sei se eu posso dizer que é uma ineficiência. Eu acho que ainda é muito estereótipo na televisão e o jornalista ainda segue isso, mas não sei se é visto como ineficiência. Eu acho que ainda há muita desinformação dos jornalistas. Vou te dar um exemplo: Quando eu fui fazer a novela “caras e bocas” a Anita era uma personagem como qualquer outra, e na época tinha um jornalista do Paraná que dizia “A arte imitando a vida” ou “Interpreta o próprio papel na televisão” quando a única semelhança que nós tínhamos é que ela e eu éramos cegas, e mulheres. Mas por um acaso um jornalista quando vai entrevistar a Fernanda Montenegro diz: Fernanda Montenegro interpretando na vida real, só por que ela é mulher? Então você vê uma ignorância, o cara nem conhecia a novela e nem conhecia sobre mim e foi lá dizer que eu estava interpretando a minha vida na novela. Uma total ignorância achar que só porque a gente é cego à gente tem a mesma história, a mesma personagem.
que ela deu a entender ao telespectador que você que não tem deficiência vai pagar mais caro porque eu não estou pagando mais caro, ela deu a entender isso. Tanto que eu ouvi de dois colegas meus, logo após aquela matéria “Eu não acho justo ter que pagar mais caro por causa dos deficientes” então, você veja o poder da mídia.
Resposta: Até o fato de você não ter muitas matérias e não ver as pessoas com deficiência nos veículos de comunicação seja no jornalismo, ou seja, no entretenimento já é uma prova do preconceito e da discriminação, se nós somos 40 e tantos milhões de pessoas com deficiência no Brasil e nós raramente somos retratados, ai já está uma prova do preconceito. Quantos jornalistas você vê que tem deficiência comparado ao tanto de jornalista formado que tem deficiência, quantos atores com deficiência que estão trabalhando e quantos só estão formados. Falar de preconceito é complicado porque você tem que olhar o conjunto da coisa, é claro que tem situações que são mais explicitas. Uma vez eu mandei o meu currículo para uma rádio como jornalista, e antes de ser um pouco mais conhecida eu não colocava no meu currículo que eu era deficiente visual, alias hoje eu ainda não coloco. Eles falaram: nossa que bacana! Eu li o seu currículo e estou precisando de uma pessoa como você, venha aqui pra gente conversar! Chegando à rádio a vaga tinha sumido misteriosamente, então claramente é uma forma de preconceito. Tem uma coisa que me marcou muito, um dia quando eu fui fazer um trainee num jornal, e depois de três meses eu perguntei: Quais são as chances do jornal me contratar? Eu ouvi o seguinte: O jornal X jamais contrataria uma pessoa com deficiência visual, eu jamais te chamei pro trainee com intenção de te contratar. Então tem situação que você vai percebendo com o histórico das coisas. Por que todo mundo me chama pra entrevistar, mas para uma vaga de trabalho não me chamam? E tem situações explicitas.
5- Você enxerga um despreparo dos médicos em relação à pessoa com deficiência? Por exemplo, é comum você vê o médico falando com o acompanhante e não com a pessoa que realmente falar.
4 Mesmo com legislação especifica o envolvimento do ministério público. Você ainda encontra práticas preconceituosas?
Resposta: Sim, é muito frequente essa situação, e não acontece apenas no médico é de um modo geral. Às vezes as pessoas não chegam até mim pra dizer “Tira uma foto comigo” elas
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37 pedem pra quem tá do meu lado, como se eu fosse um ser insignificante. Elas querem um favor de mim e elas não se dignam a falar comigo. Essa situação não acontece só com os médicos, mas tem algumas profissões que são mais graves, como por exemplo, profissão de oftalmologista. Você há de concordar comigo que o oftalmologista tem maior probabilidade de lidar com pessoas com deficiência visual, e às vezes eles tem essas posturas. Eu fui me consultar esses dias, e estava com a minha mãe, como ela estava muito cansada acabou dormindo na sala de espera. Pois a secretária passou por mim pra acordar minha mãe pra entregar os meus documentos. Quando eu fui pagar à conta a maquininha era touchscreem num consultório que praticamente só lida com cegos. Outro exemplo que eu te dou, eu tentei marcar uma consulta médica para a minha tia que é surda com um médico que faz implante coclear, quem coloca implante coclear é porque é surdo. E esse médico vai ter que conversar com o surdo, e eu perguntei: esse médico fala libras? Não. Esse médico tem alguma secretária para falar com a minha tia? Não. Então como você tem a capacidade de atender surdos? Se nem a linguagem deles sabe. E eu estou falando de médicos que só trabalham com surdo, o público dele é o surdo e ele não está preparado. Quando eu fui tomar minha vacina da covid, ninguém leu aquele termo que a gente assina.
6 Como você analisa o trabalho de inclusão no Brasil? E pra você quais são os principais desafios?
Resposta: Se a gente for analisar comparando com outros países, eu já viajei para os estados unidos, para o Canadá. Eu acho que nós estamos em vantagem, no que tange a legislação estamos bem. No Brasil nós enfrentamos preconceitos? Sim, enfrentamos. Mas aqui ainda há uma coisa que lá fora não há que é a solidariedade. Aqui nós encontramos ajuda para atravessar uma rua. Aqui em Curitiba as pessoas são bem compreensivas, por exemplo, dificilmente eu tenho problema com cão guia, e quando tenho algum problema às pessoas são mais receptivas a te ouvir. Isso é bem legal. Não é assim em todo Brasil. No rio de janeiro já é bem mais difícil, enfrentei muitas dificuldades. Só que ainda nós temos muito que evoluir principalmente no que tange acessibilidade no caso do deficiente visual nos sites. Eu li uma matéria que menos de 1% dos sites são acessíveis. Lei tem, a lei obriga! E esse não é só um problema da pessoa com deficiência, esse é um problema do Brasil. Há muitas leis, sobre muitas coisas que não são colocadas em práticas. E com a pessoa com deficiência não é diferente, e a gente sofre com isso talvez porque estamos a margem da sociedade. E quando o governo quer colocar uma lei para trás, como essa do ensino que segrega, com ministros que
7- Na sua opinião, quais são os caminhos para o jornalismo promover de fato inclusão e conscientizar a comunidade de maneira efetiva?
diz que pessoas com deficiência atrapalham a escola. Quando eu acho que muito pelo contrário, porque se nós fazemos parte da sociedade, a pessoa tem que conviver conosco desde criança para que isso seja uma coisa natural, para que no futuro não sofremos tanto preconceito. Mas ainda eu te digo que o maior problema na inclusão da pessoa com deficiência são as barreiras atitudinais, o preconceito que a gente sofre. Por mais que você mostre, a pessoa não acredita no teu potencial. Você me perguntou se a mídia confunde deficiência ou ineficiência eu não sei se isso é inerente a mídia, mas infelizmente a sociedade nos vê como ineficientes, então isso nos atrapalha. Eles esquecem que a deficiência visual ou física, é só uma parte de nós, não é o todo. E elas colocam isso a todo o momento na frente. Por exemplo: pessoas que nos confundem na rua com outras pessoas que tem a mesma deficiência e que não tem nada a ver com você. Única e exclusivamente porque ela tinha uma deficiência, eu já fui confundida com pessoas que nunca vi na minha vida. Uma vez eu estava pegando o ônibus para ir à casa de uma amiga minha, o motorista disse: Não se preocupe, vou te deixar na frente da tua casa. Então você vê o grau de importância que as pessoas dão pra nossa deficiência, ela toma parte como o todo. E é por isso que os termos politicamente corretos, eu até não gosto muito de falar em termos, mas é que os termos politicamente corretos a pessoa comum tudo bem que não use, mas o jornalista tem como obrigação. Então, é por isso que hoje o termo politicamente correto é pessoa com deficiência e pessoa com P maiúsculo, justamente para reforçar que a pessoa está em primeiro lugar.
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Resposta: Em primeiro lugar, cumprir a lei, e não só no jornalismo, mas em todas as faculdades tem que ter uma disciplina que verse sobre a pessoa com deficiência, o que seria isso no curso de jornalismo? Falar de audiodescrição, de libras, de clousecapxon, falar da importância da descrição das imagens, falar da importância dos sites acessíveis. Toda essa preparação do banco universitário, e se tratando dos profissionais de comunicação, a questão dos termos também é importante para eles se conscientizarem. Pra mim, tudo começa na educação. E ai sim você vai colocar profissionais no mercado que estão preocupados com o publico com deficiência, e também ligados no que acontece com a gente e fazer mais matérias sobre nós. E colocar no seu dia a dia do jornal. E no entretenimento também, as produções artísticas precisam de mais personagens com deficiência. E sim, contratar pessoas com deficiência, afinal nós também queremos trabalhar. As pessoas me perguntam “meu
3 Para você, como a cobertura midiática retrata a pessoa com deficiência? Principalmente agora no período das paraolimpíadas.
Resposta: Se olharmos para a história das pessoas com deficiência no Brasil vamos ver que avançamos muito no que se refere a inclusão social, porém ainda nos dias atuais precisamos está dia a pós dia revalidando o que já está posto. Por exemplo, temos a Lei Brasileira de Inclusão, também conhecida como (Estatuto da Pessoa Com Deficiência), essa lei foi instituída em 2015 e ela existe para lembrar todos os direitos que já temos garantidos em outras leis, o que é muito louco, pois a cada dia precisamos está lembrando para a sociedade que somos cidadãos com direitos e deveres como quais quer outro. Estamos avançando sim, mas temos muito a evoluir e principalmente precisamos está sempre atentos aos governos que estão no poder, pois são eles que estão tentando tirar direitos já existentes. A inclusão existe e não podemos deixa la ser invisibilizada, ela precisa ser cada vez mais pauta em todos os espaços.
Resposta: Esse ano em especifico a mídia vem retratando as pessoas com deficiência de um jeito diferente de outros anos, principalmente porque a pauta do capacitismo que é o preconceito praticado contra as pessoas com deficiência, tem estado em evidência então as frases clichês que ouvíamos em outros anos foram reduzidas. Obviamente ouvimos que os atletas paraolímpicos são "guerreiros, heróis, campeões da vida", etc., mas em vista de outros
2 Como você analisa o trabalho de inclusão no Brasil?
ENTREVISTA INGRID MEDINA
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deus, não vai fazer mais novela?” e eu estou bem assim, você não precisa estar na globo pra ser feliz, pra poder fazer o seu trabalho.
1- Você se sente parte do contexto publicado nos jornais?
Resposta: Dificilmente me reconheço no que se é publicado, pois quando retratam a realidade do povo brasileiro sempre excluem alguma minoria. Eu me reconheço enquanto mulher, mulher negra, mas quase nunca enquanto mulher com deficiência, pois quando falam de nós é para comover alguém. Nos colocam num patamar de superação, ou somos super heróis ou coitadinhos. Nossas realidades não são retratadas como de fato são.
40 momentos estamos conseguindo ter voz e mostrar que nem um atleta paraolímpico é nada disso, são atletas de auto rendimento, que treinam pesado como todos os atletas, que tem condições para está evoluindo e superando suas marcas seus recordes e não superando a deficiência.
4 Mesmo com a legislação especifica e o envolvimento do Ministério Público, você ainda encontra no cotidiano atitudes e práticas preconceituosas?
Resposta: Com certeza ainda encontro praticas preconceituosas, pois até mesmo os próprios advogados, juízes e promotores também desconhecem por completo as próprias leis referentes a pessoa com deficiência, já fui impedida por exemplo de fazer um cartão de crédito em uma loja especifica pois alegaram que eu precisaria de testemunha para assinar o contrato, sendo que isso não é verídico isso não poderia ter acontecido e ao reclamar junto ao MP eles ficaram do lado da loja. Então acredito que independentemente de leis, de órgãos públicos as pessoas precisam ter mais e mais conhecimento e desmistificação sobre nós PCD.
6- Você se sente representada pelos profissionais de comunicação?
Resposta: Não! Só sentirei representada no dia em que eu ver pessoas com corpos diversos ocupando o mesmo espaço, tendo a mesma visibilidade e reconhecimento.
Resposta: Acho que a informação está aí, hoje em dia não acredito que as pessoas falem que não tem o conhecimento de algo já que a internet está no alcance de pelo menos 90% da população, só não se informa quem realmente não tem interesse. Quanto aos posicionamentos políticos acho que ainda falta muito posicionamento que seja correto, pois muitos políticos usam a pauta da deficiência somente para ganhar voto, mas não movem uma vírgula para garantir nossos direitos. E por outro lado, acho que nós mesmos estamos nos politizados e nos incluindo cada vez mais nesse espaço, reivindicando nossos direitos procurando cobrar mais dos que confiamos nossos votos e estamos cada vez mais nos movimentando dentro da política.
5 Você acredita que ainda há falta de informações, falta de posicionamento político?
7- Você ainda encontra barreiras de acessibilidade principalmente no espaço virtual?
8 A legislação proíbe discriminação ou diferença de qualidade no atendimento de nossa saúde, mas sabemos que nem sempre é assim. Queria saber se você já passou por alguma situação constrangedora e, se você enxerga um despreparo dos médicos em relação a mulheres (principalmente) com deficiência.
ENTREVISTA JOSÉ MARIA PIRES MAURÍCIO.
Resposta: As maiores dificuldades que encontro hoje no ambiente virtual é referente a compras, as lojas não importam com o consumidor com deficiência, eu utilizo um software leitor de telas no computador e no celular, ele faz a leitura de quase tudo o que aparece na tela, porém não faz descrição de imagens, logo eu não consigo ter acesso a um produto onde ele está sendo ilustrado em uma foto, onde o preço e todas as informações também estão ali. Fora a parte de comprar que é um pouco complexa, tenho tranquilidade para utilizar bastantes coisas principalmente nas redes sociais.
Resposta: Nesse momento sim, por causa das paraolimpíadas. Então me sinto no contexto porque eu vejo as pessoas com deficiência física com a medalha, então me sinto vitorioso com a conquista deles
1- O senhor se sente parte do contexto publicado nos jornais?
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Resposta: Já passei por situações onde o profissional da saúde ao em vez de se direcionar a mim para perguntar sobre minha necessidade preferia falar com meu acompanhante, acredito que essa seja a pratica mais corriqueira em relação a mim que tenho deficiência visual. Porém tenho amiga que tem outras deficiências que passaram e passam por situações muito mais evasivas e constrangedoras. Eu recentemente descobrir que estou grávida e o meu maior receio era que a médica falasse somente com meu namorado e por sinal na primeira consulta fui surpreendida, pois fui muito bem a colida, porém descobrir ao longo da consulta que a enfermeira tem amigos cegos então para ela está recebendo uma gestante cega é algo normal, porém acredito que ao longo dos meses me depararei com muitos profissionais que irá me tratar diferente desta.
5- O senhor acredita que as politicas de inclusão que temos atualmente são suficientes?
Resposta: conhecer eu conheço. As empresas tem o dever de contratar pessoas com deficiência. É uma pena que nem todos tem a formação para poder se candidatar as vagas, talvez falta de oportunidade de estudar. Eu gosto de ver que o portador tem o direito de trabalhar, ter essas conquistas e não viver de caridade, da vontade das pessoas, mas conquistar as coisas com esforço e dedicação.
Resposta: No momento ainda não, porque como eu estou aposentado, mas eu já estive nesse contexto onde levantava cedo, levantava tarde, fiz trabalho na comunidade onde morei por muitos anos. Tive minhas conquistas, estudei, trabalhei e aposentei. Conquistei minha família. Então eu me sinto nesse cotidiano, porque eu posso pagar minhas contas, tenho os meus direitos resguardados.
Resposta: Eu acredito que ainda é pouca, essa politica não tá atendendo as necessidades da pessoa com deficiência. Você vê que as vagas de trabalho são poucas, com a saúde os portadores não tem a devida atenção. Quando se trata de transporte o desafio é maior pra você adentrar e sair de um veicula de transporte, então eu acredito que essa politica de inclusão é muito pequena e poderia ser maior. Nosso mais tem mais de 30 milhões de pessoas com deficiência, quantas pessoas estão trabalhando e estudando? Quantos estão fazendo parte da história desse mundo? São poucos.
3 O senhor se sente pertencente ao cotidiano social?
4 A mídia conscientiza de maneira efetiva?
Resposta: Eu penso que não. A mídia dá muito destaque conforme o que está em alta, por exemplo, é a paraolimpíada. Então no dia a dia não dá esse destaque devido, e com isso as pessoas acabam ficando esquecidas e acabam não tendo oportunidades de se expressar, de poder conquistar uma vaga de trabalho, uma vaga na faculdade. Então a mídia não dá esse devido destaque. A prova disso é que nas paraolimpíadas você vê que os grandes apresentadores não deram o destaque devido.
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2- O senhor conhece os direitos da pessoa com deficiência?
9- O senhor já sentiu dificuldade para conseguir oportunidades de trabalho?
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8 O senhor já passou por alguma situação capacitista?
6- Na sua opinião, como a mídia retrata a pessoa com deficiência?
Resposta: Ela retrata de acordo com os acontecimentos importantes. Não é com igualdade. Não tem a atenção devida. Uma vez ou outra aparece alguma coisa, mas logo cai no esquecimento.
Resposta: Como portador eu conheço o meu valor, a minha capacidade. Eu tenho uma história de vida, uma caminhada. Mas com tudo isso existe esse tratamento diferenciado, desigual. O preconceito está em toda parte, não apenas em relação à pessoa com deficiência. O que a gente tem que ter é consciência da nossa capacidade.
7- Mesmo com a legislação especifica e o envolvimento do ministério publico, o senhor ainda encontra no cotidiano atitudes e práticas preconceituosas?
Resposta: Com certeza, não tem como não sofrer algum tipo de discriminação. Alguns são gritantes e outros disfarçados. Pode ser que quem tenha essas atitudes não perceba. Todo portador já sofreu alguma discriminação, de forma leve ou pesada.
Resposta: no começo sim, senti um pouco de dificuldade. Como as empresas tem vagas limitadas eu consegui uma vaga de trabalho com o meu tio. E coloquei na minha mente que não iria desistir daquela vaga, não iria entregar de mão beijada. Eu fui me adaptando a novos serviços, aos desafios que enfrentei ao longo dessa vida. E trabalhei 36 anos na mesma empresa, conquistei cargos através da minha experiencia. Conquistei minha casa e minha família
TERMO DE AUTORIZAÇÃO HELOISA ROCHA

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ANEXOS
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TERMO DE AUTORIZAÇÃO JOSÉ PIRES MAURICIO

TERMO DE AUTORIZAÇÃO LUIZ ALEXANDRE DE SOUZA VENTURA
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TERMO DE AUTORIZAÇÃO DANIELI HALOTEN
