Cariri Revista 14

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Edição 14

Generosidade urbana:

AS CIDADES QUE QUEREMOS

Guardiões da história:

AS PRECIOSAS MEMÓRIAS DOS IDOSOS


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Edição 14

Generosidade urbana:

AS CIDADES QUE QUEREMOS

Guardiões da história:

AS PRECIOSAS MEMÓRIAS DOS IDOSOS


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#edição 14 DEZ 2013/JAN 2014

CAPA DESTA EDIÇÃO Ilustração de José Marconi Bezerra de Souza sobre fotografia de Rafael Vilarouca

CAPA

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EXPEDIENTE DIRETORES Isabela Bezerra Renato Fernandes EDITORA-GERAL Tuty Osório tuty@caririrevista.com.br EDIÇÃO DE TEXTOS E REDAÇÃO Claudia Albuquerque claus.albuquerque@gmail.com PROJETO GRÁFICO Fernando Brito DESIGN GRÁFICO Álvaro Beleza Lívia Beleza REPORTAGEM Antonio Pinhiero João Gabriel de Abreu e Tréz Lara Costa Lidiane Almeida Sarah Coelho FOTOGRAFIA Rafael Vilarouca REDES SOCIAIS Lara Costa www.twitter.com/caririrevista www.facebook.com/caririrevista DIREÇÃO DE ARTE EM PUBLICIDADE Pedro Grangeiro PUBLICIDADE (88) 3085.1323 | (88) 8855.3013 comercial@caririrevista.com.br ASSINATURA (88) 3085.1323 minha@caririrevista.com.br www.caririrevista.com.br ENDEREÇO POSTAL Rua Profa. Maria Nilde Couto Bem, 220 Sl. 605, Triângulo, Cep 63041-155 Juazeiro do Norte, CE IMPRESSÃO Gráfica Halley Tiragem: 10.000 exemplares COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Camila Osório Sérgio Pires Ulysses Rodrigues

FSC


PICOTADO ESPAÇO CIDADES INTERVENÇÕES VISUAIS

12 67 68

NEGÓCIOS

29

PERSONAS GRATAS

57

SOCIEDADE

GASTRONOMIA ESPECIAL

LITERATURA

16

26

70 77

CANADÁ

52

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#caririeditorial

CAROS AMIGOS, A essência da modernidade está na capacidade de inovar. A modernidade não reside apenas num tempo da História nem num movimento artístico. É um espírito que subsiste além do tempo e, retorna, a cada vez que pretendemos sinceramente romper com o que está posto e abraçar novas práticas, inéditos caminhos, melhores resultados. É esse o espírito moderno, inovador que queremos evocar ao lançarmos o foco desta edição sobre as cidades brasileiras e o que é necessário fazer para que sejam resgatadas do caos em que se encontram e do qual fazemos parte. A nossa capa, sempre voltada a revelar, homenagear e contar trajetórias de personagens relevantes para o Cariri, nesta edição acende luzes sobre uma temática que vem incomodando e ocupando cada vez mais todos os que se preocupam com qualidade de vida no presente e no futuro. Ao mostrarmos, com o auxílio da linguagem das artes visuais, como seria a cidade harmônica, em contraste com a capa interna, onde está a cidade devastada que temos hoje, tentamos chamar à reflexão, à consciência e à ação no sentido de mudar essa realidade, inovando a partir dos sentimentos – em direção ao planejamento e às atitudes. Conquistar uma cidade nova significa iniciar por pensá-la de outro modo. E consequentemente repensar, com a mesma intensidade, as relações que se inscrevem no nosso cotidiano. Sintetizando, é sair do carro com ar condicionado, vidros escuros e tração quatro por quatro, para olhar o espaço que deveria

ser compartilhado e escolher fazer desse espaço algo ocupável, passível de compartilhamento, saudável e devolvido à sua função pública. Na abordagem dos textos buscamos a opinião dos nossos cidadãos e citamos alguns bons exemplos a seguir pelo mundo e aqui mesmo, contando casos de gente que já está agindo por essa mudança. Também nesta edição, uma aproximação do mundo dos mais velhos e de sua poderosa e gratificante memória convida, igualmente, a pensar e a agir sobre esse universo tão próximo e tão distante. E mais: as havaianas que saem do Cariri para o mundo, clicks de momentos a serem relembrados e o novo livro de Gilmar de Carvalho que nos guia pelo Ceará cantado pelo artista maior, Ednardo. Vamos ler, pensar e agir! Um abraço!

Tuty Osório, Editora-Geral.

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#caririconexão Por Lara Costa

Falando em conexão, poucos personagens são tão conectados com a região quanto Gilmar de Carvalho, destaque na última edição da Cariri Revista. Apesar de nascido em Sobral e criado em Fortaleza, o escritor e pesquisador encontrou em Juazeiro do Norte a inspiração para sua arte. Fazendo jus ao recheio, convocamos João Pedro de Juazeiro para criar nossa capa. Só poderia dar o que falar... E deu. Confira a repercussão nas redes sociais!

Tweets @brazilbizz BrazilBizz

Bela edição com Gilmar de Carvalho na capa.

Facebook Bom dia pessoal! Vi ontem a revista de vocês. ADOREI! Elton Fernandes

Gilmar na capa? Chega logo, Cariri Revista! Alessandra Vital

@aparitonia Inês Aparecida

A entrevista com Gilmar de Carvalho na @caririrevista está excelente.

Até que enfim... com minha Cariri Revista em mãos! \õ/ Me deliciar. Verinha Torres

Olá, parabéns pelo trabalho! Onde posso conseguir a nova edição? Emerson Silva

Que legal ler as matérias dos colegas Lidiane Almeida e Antonio Pinheiro na Cariri Revista desse mês. Lima Junior

Instagram Shooooow. Amamos a atenção que nos foi dedicada. Obrigada por esta brilhante iniciativa de realçar o que há de mais doce no nosso amado Cariri. @binnosbemcasados

Parabéns a @CaririRevista que soube valorizar e reconhecer a força e a importância de uma sólida estrutura familiar no desenvolvimento de uma região. @liviaeadson

Envie sua mensagem para Cariri Revista pelo e-mail: tutyosorio@gmail.com, Twitter: www.twitter.com/caririrevista ou Facebook: www.facebook.com/CaririRevista.

E-mail A força que rege a construção de uma boa revista cultural é definida por pesquisa contínua, gerando histórias de pessoas que constroem e participam diretamente, de um povo que acredita no poder do seu potencial sócio-econômico e cultural, fincando raízes, apresentando seus domínios e encantamentos, colaborando no engrandecimento de uma região. A Cariri Revista é assim: verdadeira, impecável, e o seu maior trunfo é promover a região do Cariri, não excluindo os seus valores que é cada pessoa na sua verdadeira importância. Parabéns, CARIRI REVISTA. A boa leitura engrandece o poder de decisão de cada indivíduo. Esmeralda Geromel

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#cariripicotado

RÁDIO DO CARIRI GANHANDO MUNDO A tradição radiofônica é muito forte no Cariri. Há uma quantidade enorme de programas no ar, comprovando que esse meio de comunicação, já centenário, mobiliza grandes audiências, com variedade de temas e de públicos. Dentre essa diversidade de propostas e conteúdos, o programa Identidade Kariri, produzido por estudantes da graduação de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri - UFCA, tem se destacado, não apenas na nossa região, mas em todo o Nordeste. Iniciado há pouco mais de um ano, o projeto, coordenado pela professora Rosane Nunes, ganhou dois prêmios em 2013. Em junho, foi escolhido como o melhor do Nordeste ao conquistar o Prêmio Expocom, concedido pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares em Comunicação (Intercom). Além disso, o programa foi agraciado com o Prêmio Gandhi de Comunicação, na categoria Estudante, onde disputou com 19 trabalhos de outras universidades públicas e privadas do Ceará. Para conhecer o Identidade Kariri, basta sintonizar, todas as terças, no horário das 20h, a Rádio Padre Cícero FM (104,9 MHz).

VICTOR VAZ

Rosane Nunes, coordenadora do projeto, e Valéria Alves, estudante de Jornalismo, com o Prêmio Gandhi.

POR UMA UTOPIA FREIRIANA CONSTANCE PINHEIRO

Cultura popular e debates animam a 3ª Semana Freiriana do Cariri.

Promover uma série de debates sobre educação - pensada para além dos muros das salas de aula e da própria escola tem sido o mote da Semana Freiriana, promovida pela Escola de Políticas Públicas e Cidadania Ativa (EPUCA). Realizada no Cariri sempre no mês de setembro, em homenagem ao aniversário de Paulo Freire, o evento recebe pessoas de

várias partes do país, - para uma reflexão estruturada no tripé educação, cultura e sustentabilidade. Em sua terceira edição, a semana contou em 2013 com cerca de 800 participantes, durante sete dias de atividades, compostos por muitos debates e apresentações de grupos de tradição popular do Cariri como, por exemplo, a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto. Para Joelmir Pinho, um dos organizadores da semana, “essa tem sido nossa ousadia: colocar Freire para muito além da ideia de educação como a maioria das pessoas a concebem”. O retorno que o público tem expressado anima cada vez mais os organizadores a darem continuidade à proposta. “A forma como a Semana Freiriana do Cariri tem sido recebida, a cada edição, pela sociedade local, só nos anima a continuar apostando na nossa utopia”, comemora Joelmir Pinho.


BODEGAS DO CARIRI, TRADIÇÃO E AFETO Juazeiro do Norte é uma cidade de contrastes, onde modernidade e tradição convivem lado a lado. Uma expressão disso são as bodegas, espécie de mercearias, porém mais simples e pequenas, onde se encontra de tudo um pouco. Apesar das grandes redes de supermercados que aportaram na cidade nos últimos anos, as bodegas continuam a ocupar seu espaço consagrado no coração da vizinhança. Caminhando pela Rua Dr. Floro Bartolomeu, logo se vê o estabelecimento de José Jackson de Matos, 83 anos de idade. A plaquinha com o anúncio de que ali se vende gelo, e os adesivos de propaganda de cigarros e recarga de celular denunciam a presença da bodega espremida entre uma pousada e uma residência. Seu Jackson começou com o pequeno negócio há cerca de três anos, quando deixou de lado a carreira de avicultor. “Eu resolvi abrir esse negócio pra ser um ponto de encontro com os meus camaradas, vender um cigarro, um refrigerante. Sou aposentado, não quero ficar rico”. O afeto reina nas bodegas, artigo certo de se achar mas que não está à venda, claro! Como o próprio Sr. Jackson afirma, quando o comércio está fechado, os vizinhos batem na portinha ao lado para comprar algo que esqueceram de trazer da feira, e ele prontamente atende aos pedidos - o que seria

RAFAEL VILAROUCA

inimaginável de acontecer num supermercado. Há também a famosa caderneta, para os fiados a única modalidade de crédito que impera nas bodegas. José da Silva Santos, 74 anos, há 17 no ramo, época em que mudou do município de Canindé, conta que abrir a bodega foi uma forma de recomeçar a vida. “Eu tinha um armazém, e na época do congelamento dos preços, no Plano Cruzado, eu perdi tudo que tinha”. Segundo ele, o que mais vende são os cigarros e refrigerantes, mas também tem os salgadinhos e as balas para a criançada. Apesar de muitas vezes serem quase invisíveis em meio à correria urbana, as bodegas, além de serem espaços comerciais, guardam muitas histórias.

CAOS POÉTICO EM HARMONIA Doze poetas e um único objetivo: Labo- SESC de 2012 resolvemos que iríamos ratório do Caos. A ideia do livro de poe- reverter nossos cachês na feitura deste sias surgiu a partir do amadurecimento livro. E assim passamos o ano inteiro de ações realizadas pelos artistas que nos organizando, matutando e então o compõem – Claudia Rejane, Ythallo saiu”, conta Daniel Batata. Os temas Rodrigues, Guto Bitu, Pirose Carneiro, abordados nas poesias do livro são tão Harlon Homen, Shidda Abraxas, Claudio diversos quanto os seus poetas, e faReis, Daniel Batata, Wilson Bernardo, lam desde a militância e das manifesThiago Carminati, Ricardo Campos e Ed- tações populares, até o amor em suas son Xavier. Para isso, eles financiaram formas inusitadas. do próprio bolso a impressão da obra, Serviço: Quem tiver interesse em deixando claro que apesar da falta de adquirir um exemplar de Laboratório do patrocínio, é possível sim fazer poesia Caos, basta entrar em contato com Daindependente no Cariri. “Após a apre- niel Batata pelos telefones: (88) 8856sentação destes 12 poetas na mostra 4721 / (88) 9977-9693.

Daniel Batata no lançamento do livro Laboratório do Caos. CARIRI REVISTA 13


POR UM MUNDO MAIS LÚDICO RAFAEL VILAROUCA

Crianças soltam a imaginação em oficinas do CCBNB.

Ser criança é vivenciar um mundo único, onde a imaginação é a chave para tudo o que se faz. Na mente da garotada, uma simples caixa de papelão pode virar um incrível foguete espacial; subir no pé de manga do quintal se transforma em uma escalada incrível ao ponto mais alto da terra. Poder potencializar esse momento de desinibição criativa, através de atividades como Contar histórias, ver filmes infantis, teatro e empreender passeios com temas históricos é o objetivo do Centro Cultural Banco do Nordeste do Brasil, unidade Cariri. Todos os sábados, por meio do programa de Atividades Infantis, o CCBNB realiza ações educativas voltadas para o público que vai desde crianças, até adolescentes de 16 anos. Para Luísa Martins, coordenadora de atividades infantis do centro cultural, “fomentar a cultura por meio das várias linguagens artísticas só complementa o conhecimento histórico e ajuda os mais novos a compreender o seu meio social com uma visão mais criativa e menos preconceituosa”. Os pais não ficam de fora dessa, e além de acompanharem os seus filhos, entram no embalo e participam das atividades.

O ENCANTADOR DE CHAPÉUS Basta conversar cinco minutos com Durval Sampaio, mais conhecido como Du E-Holic, para ouvir uma infinidade de histórias sobre pessoas e culturas das mais variadas regiões do Brasil. Isso porque ele deixou o conforto de sua casa, e o aconchego da família em São Paulo, para cruzar o país de norte a sul espalhando sua arte e paixão por chapéus. “Antes de viajar eu comprei dois mil chapéus, enchi meu carro de botão, agulha e linha e parti com a cara e a coragem”, explica Du. Coragem para plantar exemplos positivos de como boas ações podem mudar, para melhor, a sociedade que vivenciamos. Du E-Holic desenvolve oficinas com as crianças

dos lugares que visita, e no mês de outubro deu uma passadinha no Cariri. Ao realizar suas atividades com a criançada, sempre busca mostrar que o importante é manter a pureza e a imaginação. “A gente chega, senta no chão, entrega o chapéu pra molecada e pede pra eles imaginarem o que pode ter nele. Um laço, uma caveira, um botão. É uma brincadeira”, descreve. Para quem está acostumado a uma vida confortável e estável pode parecer loucura o que este jovem de 31 anos faz. Porém, Du resume: “Hoje tenho mais que tudo. Eu tenho a auto-permissão na minha vida”. KAROL VIEIRA

Du E-holic (seg. da esq. para dir.) – Troca de experiências por todo o Brasil.


COMPARTILHANDO SORRISOS, CULTURA E ALIMENTOS Fruto da iniciativa de 15 jovens, o Vem, Vai Ter Sorriso é um projeto social que não possui fins lucrativos. Realizando diversos eventos para atingir seu propósito, o grupo arrecada donativos para serem distribuídos em comunidades carentes. O objetivo: ajudar a quem precisa. O “Vem”, como é conhecido, teve sua primeira ação em 2011, com a grande enchente que afetou as famílias da cidade do Crato. Determinados, os membros fizeram a primeira entrega das doações em uma carroça. Em dezembro de 2011, aconteceu a primeira edição do Vem, Vai Ter Música também!, com a participação do músico Abidoral Jamacarú e duas bandas de rock locais e, em fevereiro de 2013, a segunda, que conseguiu atrair cerca de 2 mil pessoas e arrecadar três toneladas de alimentos, repartidos em sete comunidades escolhidas em votação pelo público. A terceira edição está planejada para janeiro de 2014.

Outras ideias surgiram, como o Vem, Vai Ter Teatro!, cujo intuito é levar aos estudantes da rede pública aulas de teatro, e o Vem, Vai Ter Cinema!, que ainda está no papel, e onde serão exibidos filmes seguidos de debates, como forma de entretenimento para as comunidades participantes. Giovanna Duarte, uma das coordenadoras do Vem, afirma que é muito gratificante ver que muitos jovens se interessam em ajudar o próximo. “O que para muitos não vale muita coisa, pode ser o sorriso que alguém precisa. A gente sabe que não vai mudar o mundo, mas o pouco que fazemos aqui na nossa própria cidade já ajuda bastante”, acrescenta. Para quem tiver interesse em ajudar, o grupo está aberto a receber patrocínios e apoio. Serviço: Página no Facebook: www.facebook.com/ VemVaiTerSorriso SAMUK

Jovens empenhados em levar sorrisos a comunidades carentes.

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#caririsociedade

SOMOS NÓS,

AMANHÃ

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RAFAEL VILAROUCA

“A função social do velho é lembrar e aconselhar, unir o começo e o fim, ligando o que foi e o porvir.” MARILENA CHAUÍ

O

lhar para um velho remete-nos ao passado, para tudo o que viveu, testemunhou, para o que foi e não há mais. Há uma distorção e uma impiedade nessa remissão. A enorme riqueza dessas vidas vividas deveria inspirar um imenso respeito por quem já percorreu tanto chão de existência. E lembrar-nos que chegaremos lá, que na verdade o que contemplamos é o futuro diante de nós através do outro. É fascinante a sabedoria e o repertório de quem viveu muito e um privilégio poder conhecer essas vidas através das histórias contadas por eles quando há a generosidade de ouvir e a disposição de falar. Quem de nós não tem, ou teve, avós contadores de casos que tornam os nossos olhos mais férteis na incrível viagem da escuta. A pesquisadora Ecléa Bosi reuniu num estudo, publicado pela primeira vez em 1979, uma série encantadora de falas de velhos que lhe contaram suas histórias, ativando a memória e partilhando a leitura que fazem de seu tempo de juventude e dos tempos de hoje. Alguns deles residentes em asilos, parte abandonados pela família, os idosos ouvidos por Ecléia falam da infância, do trabalho, dos afetos que construíram, ou perderam, e passam pela história do Brasil e do mundo, revelando cada acontecimento do lugar de onde participaram e observaram. Lendo os depoimentos passeamos pela era Vargas, pelas duas guerras mundiais, pelo crescimento de São Paulo e as várias revoluções protagonizadas pelos paulistas. E cada memória é única, mesmo quando repete um assunto já recordado por outro. Convidados a lembrar por Ecléia, eles próprios não se tinham apercebido da importância de serem um vasto arquivo de vivências. CARIRI REVISTA 17


Nas palavras de Ecléia, que após a escuta analisou o significado de tudo o que ouviu à luz da opressão que os idosos sofrem por não ocuparem o lugar que lhes é devido, “a recriação do passado feita por pessoas simples, testemunhas vivas da história, é diferente da versão oficial que se lê nos livros. Os velhos contam a história vivida e sofrida por eles. Esse coro forte e comovente pode ser ouvido como uma épica paulistana. Suas lembranças se prendem a velhos lugares. A desorganização do espaço, a ruptura brusca desse mapa afetivo, arranca dos moradores o significado mais estável da vida em comum. Rouba as lembranças do passado e o sentido das pedras da cidade.” Enfatizando a relevância das lembranças dos velhos, instrumentos de reconstituição de um passado que nos faz compreender melhor o presente e coloca-nos frente a frente com o futuro personificado neles, Ecléia conclui: “Mas, rebelde, a evocação repõe as pedras em seu lugar antigo. E a cidade emerge cheia de alma, com sua memória política, sua memória de trabalho, as vozes de suas igrejas e ruas, seus pregões e cantigas, seus assobiadores das madrugadas. Esta psicologia do oprimido é penetrada pela alegria do concreto”. MEMÓRIAS DE AFETOS O Sesc Crato desenvolve um projeto importante junto á comunidade da terceira idade. Trabalhando a memória através da arte dramática, os idosos reúnem-se em grupos e elaboram os roteiros das peças com base nas suas lembranças, para mais tarde representá-las diante de um público. Passado, presente e futuro, mais uma vez entrelaçam-se, nesse trabalho de transformar algo que seria fonte de sofrimento num movimento positivo de conquista de auto- estima e de prazer. Lembrar e 18 CARIRI REVISTA

partilhar é libertar-se da opressão do envelhecimento, usufruir do melhor lado dessa fase da vida, tão exposta a equívocos, discriminações e preconceitos. Ali, ser velho é ter o privilégio de carregar o baú de memórias, ordená-las atribuindo-lhes sentido, presenteá-las aos mais jovens, descortinando a exata dádiva que são. “O objetivo maior é a inserção social, porque a gente sabe que o país está envelhecendo – hoje nós somos um país idoso. O Sesc no Ceará tem há mais de vinte anos esse trabalho com idosos, que vem trazendo esse espaço para a convivência” explica Carla Prata, gerente geral da unidade Crato do Sesc. “Aqui a gente realiza reuniões com eles semanalmente e, ao longo desses dez anos, já realizamos vários trabalhos de contação de histórias, apresentações artísticas, dança, artesanato. Então, o objetivo é trazer esse momento, onde o idoso já está aposentado e teoricamente perde esse vínculo, esse fazer cotidiano, e aí o trabalho social com idosos vem nessa perspectiva de resgate” detalha, enfatizando, também, a importância de realizar atividades intergeracionais para que os costumes não sejam perdidos e sejam repassados para a juventude pelas mãos dos mais velhos. O Sesc tem três grupos formados – um no Crato, outro no distrito de Ponta da Serra e um terceiro no Centro Pastoral do Idoso. Em 2013 ano surgiu a necessidade de trabalhar o teatro como instrumento de inserção social e foi incorporada uma proposta do ator e diretor de teatro Mauro César, a Oficina Memória dos Afetos da qual surgiu o espetáculo Saudade, Amada Saudade. A partir das saudades dos idosos participantes, da memória de cada um deles, Mauro César criou a dramaturgia junto com as componentes do grupo do Crato. “É uma emoção muito boa que a gente sente” descreve Sônia, integrante da oficina, falando da sua experiência com o teatro no Sesc. Ela conta que as amigas que convidou a assistirem ligaram para ela dizendo que haviam chorado a peça inteira. “Eu disse que não queria fazê-las chorar!”,diz Sônia, discorrendo a respeito do sentimento das amigas ao serem levadas a recordar um tempo que a fez felizes, como uma forma de reviver essa felicidade. “Mas você mexeu com a nossa infância, com a nossa mocidade, com os bailes, as nossas tertúlias”, argumentaram as amigas, dizendo que choraram por se terem identificado muito com a história contada. Sônia alegra-se com a presença dos filhos e dos netos, compartilhando as suas lembranças através do teatro. “Meus filhos, meus netos vieram assistir e minha neta de nove anos disse assim: ‘Vovó, como sua vida de nova foi bonita.’ Eu disse: ‘Mas a de velha também está


GESSY MAIA

Apresentação da peça Saudade, Amada Saudade, no Sesc Crato.

sendo!”, comemora Sônia, confirmando como lembrar nos mantém vivos e ativos. Ana Muniz Xavier, companheira de Sônia, explica a sua interpretação da própria infância e a harmonia de tempos sem competição nem tecnologia. “Eu fiz um papel de criança brincando de boneca. No meu caso, era reunir minhas amigas, ficar debaixo de um pé de manga bem espaçoso, fazia guisado, para dizer que era a festa das bonecas. Brincava de galamarte também, brincava com carrinho de lata. Era tudo muito divertido. E nesse tempo que eu era criança a gente tinha tanta amizade que ninguém levava nada a mal, para a gente tudo era normal”, entusiasma-se Ana, contando a sua vivência no grupo de teatro. “Eu faço parte do Raios de Sol desde 2005, já fiz papel até de anjo, de santa, tanto personagem... Também fiz papel de jovem namorando na praça e foi muito divertido. Isso para nós é muito bom. Nós nos consideramos como uma família aqui, e a gente fica tão feliz que, quando termina, a gente sente tanta falta que dá vontade de se encontrar e fazer tudo de novo. O grupo só existe há dez anos. Essa agora foi uma história nossa. Nós escrevemos a história e o professor Mauro fez todo o processamento até chegar ao ponto de apresentar a peça. Fomos muito aplaudidas!”, exalta Ana.

Com a mesma alegria, Mundina Matos comenta o retorno positivo de participar das atividades da Oficina. “Os benefícios são inúmeros”, enfatiza Mundina. “Primeiro pela questão da amizade, do relacionamento. Os conhecimentos que a gente recebe dos coordenadores, das pessoas que estão sempre nos ajudando, nos dando apoio, nos tornando pessoas mais queridas. A gente só cresce. Nos dá muita alegria viver num meio onde a gente se sente mais cidadã – onde a gente está aprendendo, está colocando em prática lembranças da nossa infância” sublinha, elogiando o papel fundamental de Mauro César. “Não foi fácil, porque acho que trabalhar com idoso não é nada fácil. Pra gente era muito bom, a alegria, o prazer de nos encontrarmos duas vezes por semana. Para o Mauro acho que houve um pouco de cansaço, apesar de ele dizer que é muito bom trabalhar com idoso, mas a gente é um pouco teimosa, nós somos teimosas. Valeu a pena. Uma experiência igual – podem até vir outras – mas essa foi maravilhosa”, enaltece e sintetiza a especialíssima condição superior do idoso. “A gente já tem uma vivência e isso ajuda muito, porque nós somos como um saco de conhecimento – a gente vai guardando, acumulando; você até pensa que não tem nada, não sabe nada, mas aquilo foi ficando.” CARIRI REVISTA 19


A LÍDER DO FACEBOOK Salete é um exemplo de pessoa que é jovem há bastante tempo. Com 86 anos tem uma vida alegre, sempre cercada de gente. Mora sozinha mas a casa está sempre repleta – filhos, netos, bisnetos, a todas as horas, todos os dias. Janta com as amigas semanalmente, faz viagens internacionais para lugares distantes como o Egito, Israel e está sempre pronta para os eventos da família e dos amigos. Fez faculdade da terceira idade formando-se com mérito e está sempre em busca de saber mais. Contadora de histórias, adora falar da infância e do tempo em

que o marido, Leandro, ainda vivia e de como foram felizes juntos, apaixonados até hoje, mesmo sem ele estar presente, fisicamente. No casamento recente de uma neta, abriu o cortejo percorrendo uma escadaria de frente para o mar sem vacilar. Só aceitou ajuda para descer os últimos degraus, não pela idade, mas por ser uma dama. Apaixonada pela internet, tem amigos nos quatro cantos do mundo. No facebook há um grupo com o seu nome, composto pelos netos que se comunicam diariamente a partir desse status especial – serem netos da radiante Salete. RAFAEL VILAROUCA


Mundinha Freitas, outra colega, expõe as muitas idades que convivem dentro de si e que são experimentadas na atividade do teatro. “Eu sou uma idosa que a criança ainda não morreu dentro de mim”, esclarece Mundinha. “Eu ainda sou aquela criança lá do sertão, nasci e cresci lá. E fiquei pensando assim: nasci no sertão e envelheci subindo no palco como atriz. Vou fazer até caducar. Quando eu comecei a peça, falei para o professor que eu era um saco de saudade, porque eu convivo muito dentro do meu passado. Meu passado vive pedindo direto para ser reescrito. O meu papel foi de criança, mexendo com ninhos de passarinhos, correndo nas veredas, pisando nos espinhos, foi aquela recordação bem de criança. E depois eu fui um seresteiro – eu fui o noivo, o namorado da Sonia. Então, para mim, isso dá uma força tão grande para a gente sobreviver, para a gente continuar. A gente não nota nem a velhice. Eu só sei que sou velha quando me olho no espelho, mas quando saio dali me sinto aquela criança!”, ressalta Mundinha, mais uma vez confirmando a grande importância da memória. Francisca Amorim, mais uma das atrizes do projeto finaliza falando do privilégio de expressar-se pela própria história. “Foi um sonho que eu realizei na minha vida, porque na minha juventude eu fui uma adolescente de muita sorte, eu amei a minha adolescência, porque eu gostava de festa, de me divertir mesmo. Teve uma época que houve um desfile, fui bem aplaudida e, justamente, esse foi o meu tema do teatro, da história que eu criei, que foi sobre a juventude desse desfile que eu participei. Aqui, na minha adolescência, tinha a Praça Siqueira Campos que era muito frequentada pelos jovens e a gente no domingo ia, na época, não era paquera, era flerte. E tudo isso foi maravilhoso. Apresentei nesse teatro tudo que estava dentro de mim”, sintetiza. O PODER VIRTUOSO DA COMPAIXÃO Em Juazeiro do Norte, generosidade e amor incondicional fazem o cotidiano de muitos idosos mais doce e acolhedor. A Casa do Idoso é no Bairro São Miguel, numa rua bastante tranquila. É um lugar repleto de plantas, árvores, tudo muito natural, com um vento agradável e constante. É um ambiente muito calmo, com pouco barulho. Os idosos ficam passeando ou então sentados nos banquinhos embaixo das árvores. Não pudemos entrevistar muitos porque a maioria tem alguns problemas e não consegue se expressar com facilidade. Um deles, que ficava carregando mangas o tempo todo e até me oferecia, estava com a roupa toda suja da fruta, como uma criança feliz e travessa. É aparente que são

muito bem cuidados e que têm liberdade para fazer o que gostam, sempre sob a vigilante paciência de Neuda, uma das responsáveis pela gestão do espaço. A Casa do Idoso foi inaugurada a 13 de março de 1995, dia do aniversário de nascimento de José Bezerra de Menezes, no ano em que faria 100 anos. Irmão Bernardo, que cuida da Casa, conta um pouco da história dessa idéia inspirada no bem. “Como foi um homem humanista, muito preocupado com as causas sociais e empreendedor, pacificador, muito preocupado com as causas de Juazeiro, os filhos quiseram homenageá-lo, e o Coronel Humberto Bezerra de Menezes assumiu fazer uma obra como essa para atender o idoso solitário”, relembra. “Com o passar dos anos, a gente foi vendo que as pessoas vão envelhecendo e vão necessitando de cuidados mais especiais, e esse povo que a gente foi acolhendo, até mais jovens, mais capazes, foi ficando debilitado e a casa foi se tornando também mais cuidadosa no sentido de tratar do idoso”, descreve irmão Bernardo, esclarecendo que o espírito da instituição é prestar um serviço especial às pessoas que não têm família ou que, às vezes, são expurgadas da família, estão soltas nas ruas, como idosos, sofrendo e ali têm um

RAFAEL VILAROUCA

D. Neuda e Irmão Bernardo – a alegria de cuidar daqueles que ficaram sós no mundo.

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acolhimento que melhora sobremaneira a sua qualidade de vida e ameniza os sofrimentos do abandono. Bernardo ressalta que a vontade de morar na Casa é condição essencial para a aceitação do idoso na instituição. Explica que há muitos que preferem permanecer nas ruas, muitas vezes por optarem conscientemente por um estilo de vida em que se sentem mais livres. O documentário mexicano, O Paciente Interno, contemplado com um prêmio especial no último Cine Ceará, mostra exatamente a trajetória de um idoso de 90 anos que passou a maior parte da vida encarcerado num hospital de doenças mentais como punição por ter tentado atirar no presidente da república, nos anos 70 e uma vez libertado, já nos anos 2000, recusa-se a viver em abrigos, por maior conforto que lhe ofereçam, ou mesmo na casa de um irmão que ainda tem vivo, pela necessidade de se sentir livre pelas ruas da Cidade do México. Volta ao abrigo no inverno, apenas por alguns meses, e quando a temperatura ameniza, volta a flanar ao relento que lhe garante a plena sensação de liberdade. Clara Maria, de 83 anos, prefere a segurança e os cuidados do abrigo. “Minha família é aqui. Não vou mais sair daqui. Minha família é onde eu estiver, e é aqui. Eu era muito maltratada pela minha filha e pelos meus netos. Não aguentei mais e fui embora. Se eu tivesse minha mãe e meu pai, eu era bem tratada, mas não tem. Aqui me aceitaram e aqui vou ficar. Eu nunca fiz mal a ninguém, nasci e me criei para fazer o bem” desabafa e elogia a sua vida na casa. “Aqui eu sou bem tratada, graças a Deus. Me deram roupa. Eu quero fazer amizades, e ser considerada, mas ainda estou meio assim porque ninguém me conhece, né? Mas vou conseguir. Hoje era dia de vestir minha roupa preta, porque é dia 20, mas eu vim corrida e não trouxe nenhuma roupa. Tô tão feliz, meu Padre Cícero; proteja esse lugar aqui!”, evoca. Iolita Petrola, de 82 anos, vestida com uma blusinha e uma saia jeans longa, sorri durante toda a conversa,mesmo quando conta sobre o sofrimento que passou. “Eu morava sozinha no Crato e, um dia, entrou um cara na minha casa e bateu muito na minha cabeça. Levei 38 pontos e, quando saí, vim para cá. Aqui 22 CARIRI REVISTA

Iolita Petrola, um sorriso que não sai do rosto.


FOTOS: RAFAEL VILAROUCA

Amizade e carinho adquiridos dentro da Casa do Idoso

Tranquilidade e descanso ao pé de uma árvore enquanto a hora do almoço não chega.

sou muito bem cuidada. O mundo está muito perigoso, cheio de gente ruim, e aqui eu tenho muitos amigos. Estou aqui há mais de dois anos. A gente tem companhia o tempo todo e é seguro. Tem uma frase que diz que amigo é alguém que nos conhece a fundo e mesmo assim nos quer bem. É bom a gente ter amigo, né?”, filosofa. Antônio Dias tem Alzheimer e é Neuda quem fala por ele. “Dentro dele, ele me vê como filha. Ele me chama, na maior parte das vezes, de Leila que é o nome da filha médica. Ele não teve isso com nenhuma pessoa aqui. Dizem que no dia da minha folga é um sofrimento, porque sente falta. Não tem ninguém que o faça tomar banho, só eu. Eu que banho, que arrumo, que deito ele” detalha Neuda, demonstrando todo o carinho e dedicação que dispensa a cada um que faz parte do abrigo, cuidando da saúde física e afetiva dos que ficaram sós no mundo e dependem da generosidade de gente como ela, entregue a compensar o que a vida lhes negou, desafortunadamente. A manutenção da Casa é feita pelo empresário Humberto Bezerra mas aceita doações, tanto de pessoas físicas, como de empresas. As necessidades de um lugar assim, para funcionar com eficiência e atender ao que os idosos realmente precisam, são enormes e dispendiosas. São médicos, psicólogos, enfermeiros, cuidadores e diversos equipamentos caros como as cadeiras de rodas, as camas especiais, a lavanderia industrial que garante a perfeita assepsia das roupas, a nutrição adequada, os remédios, enfim, um universo complexo de demandas. Irmão Bernardo resume o significado do trabalho ali desenvolvido com frases simples. “Eles querem tempo para conversar. Eu vou para a rua às vezes e sempre trago alguma coisinha. É um brinquinho, é um abacate, é um pedaço de bolo. Tem que ir pesquisando essas surpresinhas que a gente tem em casa, não é só o horário de dar aquela alimentação, os remédios, garantir o asseio. Tem que ter aquelas surpresinhas que a mãe guarda para o filho que vai chegar de noite. A gente vai cativando com aquilo que eles gostam. Deus nos ensina a fazer essas coisas aqui, a agradar. Em um trabalho como esse, nós temos que estar felizes.” CARIRI REVISTA 23


AS SAGAS DA TELONA O cinema tem contado belas histórias sobre as dores e as delícias do envelhecimento. Na edição de 2013 do Cine Ceará grande parte dos curtas dedicou-se ao tema, especificamente evocando a memória dos velhos e todo o seu potencial de vida e criação. Histórias filmadas em diferentes lugares do Brasil abordam a questão mostrando a forte presença do tema na atualidade. Preparamos uma pequena lista de indicações disponíveis nas locadoras e livrarias das nossas cidades, ou nos canais de filmes acessíveis pela internet.

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A BALADA DE NARAYAMA No fim do século XIX no interior empobrecido do Japão, instituiu-se uma tradição cruel: quando completassem 70 anos de idade, os moradores de uma vila deveriam subir na montanha sagrada de sua região e lá esperarem sozinhos por sua morte. O filme fala de um filho, que tem a missão de levar sua mãe até este destino. obra-prima de Shohei Imamura, ganhadora da Palma de Ouro em Cannes 1983.

REGRESSO PARA BOUNTIFUL Geraldine Page ganhou um merecido Oscar pelo papel de uma senhora, que, nos anos 40, vive com o filho e a nora num pequeno apartamento em Huston e sonha regressar, antes de morrer, à pequena cidade onde nasceu e viveu seus melhores anos. Decidida, ela pega um ônibus e vai atrás do seu passado. Tocante e delicado, um dos grandes pequenos filmes do cinema.

UMA HISTÓRIA REAL Richard Farnsworth é um fazendeiro, que fica sabendo que o irmão, que não vê há 10 anos, sofreu um derrame e vai ao seu encontro para reconciliarse, dirigindo um - impensável - pequeno trator por mais de 300 quilômetros. Provavelmente o filme mais convencional de David Lynch. Uma bela história.

MORANGOS SILVESTRES Um velho professor viaja de carro. Com sua nora, para ser homenageado na universidade onde lecionou por 50 anos. No caminho conhece pessoas, que o fazem reviver momentos de sua vida, marcada pela frieza e confrontar o próprio vazio de sua existência. Genial roadmovie existencial de Ingmar Bergman.

UMBERTO D. No início dos anos 50, a economia italiana renasce, mas as pensões pagas aos idosos são miseráveis. Em Roma, um funcionário público aposentado vive enormes dificuldades, quando é despejado de seu pequeno quarto e é obrigado a vagar pelas ruas, tentando viver dignamente ao lado de seu único amigo, um cachorrinho. clássico de Vittorio de Sica, belo, tocante e chocante.

AMOR Dir.: Michael Haneke. O reconhecido diretor austríaco divide opiniões: uns o taxam de manipulador e farsante, enquanto admiradores o veem como sensível e humano. Em “Amor”, ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2012, - a segunda de Haneke em curto período de tempo - ele conta história de Anne e Georges (interpretados pelos sublimes Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, ícones do cinema francês), casados há anos, com uma filha distante, ambos professores de música aposentados. Um dia, após Anne sofrer uma espécie de derrame, a relação entre os dois muda com a iminente proximidade da morte.


FOTOS: REPRODUÇÃO

VIVER Dir.: Akira Kurosawa. Neste filme, dirigido por um dos maiores nomes do cinema japonês, conta-se a história de Kanji Watanabe, chefe da seção de Assuntos Municipais. É um trabalhador exemplar, que há 30 anos segue religiosamente a mesma rotina, nunca faltando ao trabalho e exercendo o emprego burocrático com satisfação. Descobre, então, após um exame médico, que está com câncer de estômago. A notícia funciona como um alerta, e Watanabe percebe, somente no findar de sua vida, que nunca havia, de fato, vivido. Kurosawa retrata esse despertar tardio de modo sensível, num de seus filmes mais emocionantes.

A CRUZ DOS ANOS Dir.: Leo McCarey. Barkley e Lucy são um casal de septuagenários, que tiveram cinco filhos. Quatro deles (George, Cora, Nellie e Robert) reúnem-se com os pais e descobrem que a casa onde o casal vivia foi perdida após problemas financeiros. Sem ter para onde ir, Barkley e Lucy ficam à mercê da vontade dos filhos - nenhum deles aceita recebê-los na própria casa. Após discussões, fica decidido que o casal terá que morar separado. O pai ficará na casa de Cora e a mãe, na de George. Sofrendo com o desprezo dos filhos e a distância, Barkley e Lucy mal podem esperar para, quem sabe, encontrar-se novamente e aproveitarem juntos seus últimos anos de vida.

ALGUÉM TEM QUE CEDER Dir.: Nancy Meyers. Na comédia romântica, Jack Nicholson interpreta Harry, um executivo do ramo da música que tem preferência por mulheres mais jovens, e namora Marin, que tem idade para ser sua filha. O casal decide visitar a mãe dela, Erica (interpretada por Diane Keaton, indicada ao Oscar pelo papel), em sua casa de praia. Harry sofre uma parada cardíaca, e é cuidado por Erica e um jovem médico local, Julian. Com a proximidade, Harry nota que está começando a se interessar por sua sogra, e tenta esconder seus sentimentos. A situação só se complica quando o médico Julian passa a também sentir-se atraído por ela, e ele e Harry passam a rivalizar pela atenção de Erica.

ENSINA-ME A VIVER Dir.: Hal Ashby. Harold é um rapaz de 20 anos rico e solitário. Tendo uma relação problemática com sua autoritária mãe, ele demonstra sua rebeldia a partir de uma obsessão pela morte. Passa o tempo livre indo a funerais e planejando falsos suicídios, assustando as pretendentes apresentadas pela mãe. Em um dos funerais que vai, conhece Maude, uma mulher de 79 anos, que possui justamente o que falta a ele: humor e alegria de viver. Os dois começam a se encontrar continuamente, e nessa convivência, Harold vai aprendendo com Maude, aos poucos, sobre a beleza da vida. Ele acaba se apaixonando por ela. O filme possui uma abordagem de humor negro refinada, que acaba conquistando o espectador.

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DUNAS, MARACATUS E GUITARRAS Por Ulysses Rodrigues (Ulysses Rodrigues é estudante do segundo semestre de Cinema e Audiovisual no ICA – Instituto de Cultura e Artes da UFC)

FOTOS: FRANCISCO SOUSA

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FRANCISCO SOUSA

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o ter em mãos o livro “O Ceará de Ednardo” pela primeira vez, podemos imaginar tratar-se de uma obra sobre o Ceará cantado por Ednardo; isso é uma meia verdade, já que o livro fala do Ceará dentro de Ednardo e também do Ceará que foi e que já não é mais. Boa parte da obra de Gilmar de Carvalho carrega em si um saudosismo que passa longe de ser piegas, mas um sentimento construído dentro de sua extensa pesquisa historiográfica. A cidade e sua luz, sua orla e seu brilho são referências não só no trabalho do pesquisador, como também na obra do pesquisado. Ao se debruçar sobre a obra de Ednardo, Gilmar nos faz refletir sobre a potencialidade de um artista que eleva em seu trabalho a máxima criada por Tolstoi que diz: “Se queres ser universal começa por pintar a tua aldeia”. A análise da discografia de Ednardo nos faz pensar também sobre a história do Ceará, como estado e como símbolo que é para quem é cearense. Sem dúvidas o cantor e compositor, ao longo de sua longa carreira, soube dar voz à poesia que emana do povo de sua terra, acompanhando as mudanças que ocorriam do interior à capital. O êxodo e o enfrentamento com o eixo Rio-São Paulo, a reconfiguração de Fortaleza e a possibilidade de se fazer um cantar regional sem ser folclórico formam o Leitmotiv da obra de Ednardo. Dentro do livro podemos encontrar excertos de suas canções, poesias que misturadas aos ritmos regionais formam verdadeiros hinos a Fortaleza e ao Ceará. Longe de ser ufanista, o trabalho de Ednardo consiste num intenso esforço de fazer o Ceará ser lembrado como a terra boa que é, como berço de toda uma gente que se dispõe a migrar, mas que apesar de toda essa mobilidade, nas palavras do próprio Gilmar, “não impede que esse arrancar as raízes e cair na estrada se faça com menos dor”. Esse processo migratório não é só de pessoas, mas da própria cidade de Fortaleza, que se reinventa e se distancia de si mesma. Ednardo, como Gilmar, é mais um saudosista, que, ao deixar a casa, tenta levar consigo diversas lembranças. Seu projeto de levar o “Pessoal do Ceará” para as grandes gravadoras, suas letras carregadas com o linguajar tipicamente cearense e sua capacidade de ser ao mesmo tempo urbano e rural falam mais do Ceará dentro dele do que dele próprio. As fotografias de Francisco Sousa também devem ser atentamente observadas. Elas ocupam metade do

livro, mas isso não é um exagero. As imagens devem ser lidas com atenção, já que retratam o objeto de amor de Ednardo: o Ceará de verdade, que acontece e que a muito custo não é esquecido. São cenas do cotidiano dos municípios do estado, das praias, dos maracatus de Fortaleza, da gente que faz parte de imenso corpo de luz. Francisco conta uma história paralela à de Gilmar, sendo complementar, já que abriga em si o mesmo sentimento de amor pela terra de Iracema. São 21 fotografias que nos fazem querer ver de perto cada lugar e pessoa que retrata. O único escorregão que Gilmar dá é em nos alertar somente no fim que o livro deve ser lido ao som dos dez primeiros elepês de Ednardo (gravados entre 1972 e 1982). Para quem não conhece o trabalho de Ednardo (e principalmente para quem conhece), o mais interessante é ouvir cada canção de sua discografia antes, durante e depois da leitura. Fica a vontade de deitar nas dunas brancas e descansar os olhos. Gilmar de Carvalho mais uma vez nos aperreia com essa obra belíssima sobre um artista e sobre um estado. SERVIÇO O Ceará do Ednardo, de Gilmar de Carvalho e Francisco Sousa. O livro está à venda na livraria Lua Nova (Av 13 de Maio,2861) e na lojinha do Museu do Ceará (Rua São Paulo, 51). CARIRI REVISTA 29


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RAFAEL VILAROUCA

CARIRI

NEGÓCIOS

HAVAIANAS DO CARIRI PARA O MUNDO CARIRI REVISTA 31


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RAFAEL VILAROUCA

TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Considerado o maior produtor do Norte e Nordeste, e o terceiro maior do Brasil - ficando atrás apenas de Franca (SP), e Novo Hamburgo (RS), o chamado Polo de Calçados do Cariri é um dos grandes responsáveis por movimentar a economia da região. Entre empresas de pequeno, médio e grande porte, calcula-se que existam cerca de 300 indústrias distribuídas entre os municípios de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, gerando cerca de 16.000 empregos formais. Gilmar Bender, da Tecnolity, que fabrica as peças da marca Havaianas, discorreu sobre o setor e contou à CARIRI a sua trajetória, bem como os planos para o futuro. 32 CARIRI REVISTA


Por Lidiane Almeida e Antonio Pinheiro

E

m meados de agosto de 2012, Juazeiro do Norte figurou na capa da revista Exame, periódico de âmbito nacional, especializada em assuntos econômicos. Na ocasião, a cidade foi apontada como uma das que mais se desenvolve no cenário nacional, dentro do chamado novo mapa do consumo. A variedade encontrada no setor de serviços, atrelada à diversidade de empresas nos ramos de bebidas, refrigerantes, móveis, alimentos, entre outras, contribuiu diretamente para o seu crescimento econômico. Porém, foi por meio das indústrias de sandálias que, não só Juazeiro do Norte, como também o Cariri, ganhou destaque no país. Segundo o site da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (www.fcdlce.com.br), o Cariri exportou US$ 294,3 milhões no ano de 2009 – 22% do total exportado pelo setor calçadista do país, resultando em 50 milhões de pares de sapatos. No primeiro semestre de 2010, esse número cresceu 42,6% em volume e 39,1% em valor, quando comparado ao mesmo período do ano interior. Em um único mês chega-se a fabricar em torno de 8,8 milhões de pares. Peças que foram produzidas em indústrias da região podem estar sendo comercializadas, neste exato momento, na Rua Oscar Freire, em São Paulo, um dos pontos de comércio mais elegantes do país, onde estão concentradas em poucos quarteirões as grifes mais famosas e caras do mundo. Todo esse montante fabricado também é exportado para países como Espanha, França, Itália, Estados Unidos, Argentina, Alemanha, Grécia, além de, logicamente, abastecer o mercado brasileiro. As vantagens para a região caririense podem ser vistas nos mais diversos segmentos, valorizando a economia local e trazendo novos investimentos. DOS PAMPAS PARA O CARIRI Vindo do Rio Grande do Sul, mais precisamente de Novo Hamburgo, Gilmar Bender, 47 anos, formado em uma escola técnica federal, entrou cedo no mercado de trabalho. Filho de pai alemão e mãe italiana, teve seu primeiro emprego em uma empresa que fabricava moldes e máquinas para calçados, participando como um dos responsáveis pela criação de máquinas injetoras. Em 1986, numa viagem de São Paulo para Recife, o acaso colocou uma revista próxima a Gilmar dentro do avião. “Quando eu comecei a ler a revista, tinha uma

reportagem a respeito do lixo no mundo. Lá dizia que a maior concentração está no Brasil, na região Nordeste”, conta. Foi a partir desse evento que resolveu conhecer o lixão de Recife e lá encontrou uma montanha de sandálias plásticas que vislumbrou poderem vir a ser a matéria-prima para o seu futuro negócio. Tamanha quantidade de material que poderia ser utilizado para diferentes fins não despertava interesse, sendo vendida a poucos centavos. “Eu pensei: ‘nossa, aqui é o lugar de ficar rico!’ Eu já sabia fazer matriz, já sabia fazer o moinho, sabia fazer a injetora, só faltava o produto barato que era o PVC que tinha em Recife”, detalha Gilmar que, após essa descoberta, morou por cerca de um ano na capital pernambucana. Seu novo empreendimento, porém, não deu muito certo e o administrador mudou-se para Juazeiro do Norte, em 1987. Inicialmente, chegou para trabalhar com Severino Duarte, empresário do ramo da borracha. Logo Gilmar abriria a Begam, em uma casinha na Rua São Paulo, produzindo cerca de dez pares por dia. O negócio serviria de raiz para a futura Tecnolity. Com o crescimento da produção, a Begam mudou-se para um pavilhão de 1200m2 no bairro Triângulo. DETERMINAÇÃO NA BUSCA POR QUALIDADE “As nossas sandálias sempre foram diferenciadas das demais, mesmo a gente fabricando dez pares por dia. Nós sempre tivemos esse foco de fazer um produto diferenciado e com qualidade. Se não tivesse qualidade, honestidade, não teria chegado até aqui”, enfatiza Gilmar. A necessidade de continuar expandindo fez com que mudasse, novamente, o local da empresa. Por não poder transferir a Begam para o novo terreno, o empresário teve que abrir uma nova razão social. A ideia, desde o início, era unir qualidade e tecnologia, e foi isso que Bender fez ao agregar a marca Quality, originando o novo título – Tecnolity, oficialmente aberta em 1999. A Begam chegou a ter 50 funcionários, de acordo com o empreendedor. A Tecnolity, quando inaugurada, criou um protocolo de intenção com Tasso Jereissati, governador estadual da época, para atingir a meta de 150 funcionários. Beneficiando-se da política de CARIRI REVISTA 33


incentivos fiscais, Gilmar aproveitou a oportunidade para crescer, investir na região e tornar-se um dos maiores do setor. Atualmente, com 950 funcionários, a empresa ainda conta com médicos especializados para a realização dos exames admissionais e também audiometria, para aqueles que sofrem exposições acima de 80 decibéis, além dos habituais que dependem da função exercida.A intenção é abrir uma espécie de enfermaria para os atendimentos de emergência. Boa parte dos matrizeiros da Tecnolity, considerados os melhores, fizeram um curso profissionalizante do Senai – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, mas também participaram de treinamento interno. Existem ainda os incentivos para manter os trabalhadores na fábrica. A média de idade varia entre 18 a 48 anos, e há muitas mães de família que sustentam a casa. A localização é estratégica – para ir ao local de trabalho, basta caminhar um pouco, fazer uso de bicicletas ou motos, que são vistas aos montes no estacionamento. Grande parte mora nas redondezas, o que facilita essa locomoção. “Nós temos 32 supervisores na empresa, e 100% foram formados dentro da Tecnolity. Aqui é uma grande escola. No começo quem treinava os funcionários era eu”, conta Gilmar. Edson Lira, funcionário da Tecnolity há oito anos, tornou-se gerente industrial e ajuda o proprietário na capacitação dos empregados. “A nossa maior dificuldade nessa questão da mão de obra é que pra ser operador de injetora tem que ter o ensino médio concluído, e, infelizmente, no mercado não temos pessoas”, explica Lira. Um dos pontos considerados fundamentais para a companhia é aproveitar ao máximo as pessoas de dentro da fábrica. Segundo Gilmar, o setor administrativo é formado por gente que está lá desde a abertura. “Isso facilita muito porque o colaborador de casa sabe como funciona a empresa, como é a cara dela, o quê que a administração quer, já conhece todos os setores, os funcionários. A empresa investe nos funcionários, patrocina os cursos profissionalizantes para eles”, sublinha. 34 CARIRI REVISTA

POLO CHINELEIRO A Tecnolity foi a idealizadora da I FETECC – Feira de Tecnologia e Calçados do Cariri, em 2000. Realizada há mais de 12 anos, o objetivo era mobilizar o empresariado da região em torno das novidades do setor. O encontro tem como principal potencial atrair empresas de outros polos - como é o caso de Franca (SP), e Novo Hamburgo (RS), assim como de indústrias da chamada cadeia produtiva, que envolve desde a fabricação dos componentes aos calçados. Além disso, a feira mobiliza empresários de países da Europa, e dos Estados Unidos. Atento às movimentações e possibilidades do mercado, foi Gilmar Bender quem teve a ideia de realizar o primeiro encontro. “Trouxemos máquinas da Itália e colocamos na exposição, dentro do Sebrae. Foi divulgado no Brasil inteiro”, afirma.Como o próprio Gilmar chama a atenção, no Cariri o que mais se produz não são calçados, mas sim chinelos. De acordo com ele, antigamente existiam apenas duas empresas – Inboplasa e Bopil. No mercado atual, são cerca de 300 fábricas produzindo 600 mil pares de chinelos por dia na cidade. E os benefícios? “Para fabricar 600 mil pares de chinelos por dia são quantos funcionários? E a matéria prima que vem de fora? E os terceiros que ajudam nesse processo todo dentro de Juazeiro? Os produtos que são comprados internamente para empresas? O imposto que é gerado desses produtos? O transporte desse calçado? Os postos de gasolina que abastecem os caminhões?”, defende Bender ao falar sobre a movimentação econômica gerada pelo setor. PARCERIA COM A HAVAIANAS A busca constante em inovar e utilizar tecnologia de última geração nos seus produtos fizeram com que a Tecnolity firmasse contrato com a maior fabricante de sandálias do Brasil, segundo a revista EXAME – Alpargatas, responsável pelas marcas Havaianas, Topper, Osklen, Mizuno, Rainha, entre outras. Há 14 anos, a empresa procurou a Tecnolity para produzir palmilha de poliuretano. Nessa época, a indús-


O PERCURSO DAS LEGÍTIMAS A primeira Havaianas foi lançada em 1962. Criada pela empresa São Paulo Alpargatas, sua inspiração foram os chinelos feitos de palha de arroz, comumente utilizados por agricultores japoneses. A textura das sandálias imita os grãos do cereal. Em 1970, foi lançado o slogan “Havaianas. As legítimas”. A frase “Não deformam, não soltam as tiras e não têm cheiro” caiu na boca do povo por causa dos comerciais protagonizados pelo humorista Chico Anysio. Por volta de 1980, as Havaianas já eram conhecidas por todo o Brasil e já vendiam mais de 80 milhões de pares por ano. A partir dos anos 90, celebridades como Malu Mader e Luana Piovani eram mostradas na TV usando havaianas. Todo mundo usava. Ao final dessa época, novos modelos, estampas e cores foram lançados, até mesmo as Havaianas Baby para as crianças. Foi para a Copa do Mundo de 1998 que a Havaianas lançou um modelo com uma pequena bandeira do Brasil na tira. Do Brasil para o mundo: em 2000, a marca já corria por lugares como Austrália, França e Havaí. Três anos depois, estava presenteando

os indicados ao Oscar com pares exclusivos. Em 2006, surge o modelo Slim – tiras mais finas e delicadas que ganharam o coração das mulheres. No ano seguinte, a Havaianas inaugura um escritório comercial em Nova York e, em 2008, na Espanha, Reino Unido, França e Itália. Foi o ano de 2009 que marcou a história das queridinhas do Brasil. Em São Paulo, ocorreu a abertura do Espaço Havaianas, com linha completa das sandálias e novos produtos. Atualmente, a marca conta com lojas próprias espalhadas em mais de 60 países. As campanhas publicitárias das Havaianas destacam-se pela presença de famosos e, às vezes, pelo seu teor cômico. Em dezembro de 2013, será lançada nova coleção em parceria com a marca italiana Valentino. Um dos modelos tem estampa camuflada e spikes nas tiras. O preço do par extrapola o habitual das Havaianas e é avaliado em R$ 1.100,00. Em Juazeiro do Norte, cidade de onde parte uma parcela da produção distribuída pelo mundo, a primeira loja oficial da Havaianas foi inaugurada no ano de 2013, localizada no Cariri Garden Shopping.

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RAFAEL VILAROUCA

tria de Gilmar tinha sua própria marca, a Super Leve, que crescia exponencialmente, o que atraiu os olhares da Alpargatas. A qualidade dos chinelos fabricados em Juazeiro fez com que a empresa paulista deixasse a cargo da Tecnolity uma parte da produção da Havaianas. “Nós fizemos uma parceria em que 50% da fábrica era Super Leve, e 50% da fábrica era Havaianas. Porém começou a chocar: duas marcas diferentes dentro da fábrica. Nós resolvemos botar a Super Leve dentro da gaveta, e ficar só com as Havaianas”, esclarece o empresário gaúcho. Devido a isso, as máquinas da fábrica caririense são trocadas a cada quatro anos, com foco na melhoria da produção. No dia em que a CARIRI visitou a Tecnolity, em um dos quadros de acompanhamento a meta era atingir 202.604 pares. Para atingir tal quantidade, o ambiente funciona 24 horas, com o revezamento de turnos e funcionários, sendo que, por máquina, a cada 45 segundos são gerados 10 pares. O processo de criação é dividido entre as duas empresas, de modo que um químico e um modelista vem de São Paulo para discutir os novos modelos a serem lançados, enquanto outra parte do desenho é feita por profissionais da própria Tecnolity. Conforme Bender, “todos os lançamentos da Havaianas têm um dedinho da gente. A rasteirinha foi uma brincadeira que a gente fez. Ia ter um showroom da marca em São Paulo, e nós pensamos em lançar uma sandália diferente, rasteirinha pra usar no banheiro, fazer uns pares pra mandar lá. Aí pegaram e colocaram na TV Globo, com Cléo Pires. É a chamada Linha Flat.” O que destacou a Tecnolity em relação às outras empresas do setor foi a capacidade de fazer sandálias de borracha injetada, sendo a única no mundo com tal maquinário. “O diferencial hoje é a identidade do produto, não copiar de ninguém, e buscar tecnologia. Sem tecnologia e inovação não vai pra frente. Eu me atualizo participando de feiras no mundo inteiro. Eu não perco nenhuma feira. Tem um equipamento diferente, eu vou pra perto, olho, vejo se dá pra adaptar pro mercado, pro setor”, destaca Gilmar. 36 CARIRI REVISTA

NOVOS INVESTIMENTOS Apesar da competitividade, vista como ponto positivo, o empresário acredita que ainda há espaço para novos empreendimentos. Para ele, o importante é investir em boa tecnologia e inovação, pois, “para ser só mais uma empresa, não há espaço.” Com seu comportamento inquieto e ativo, Gilmar Bender tem buscado novos horizontes. Dessa vez, o campo é de construção civil, outro segmento bastante efervescente na região. Em 2014, seus planos incluem inaugurar uma concreteira e construir casas. A intenção é atender à necessidade dos pais de filhos que vêm estudar para o Cariri. Gratificado é como Gilmar se sente ao deparar-se com seus produtos, principalmente no exterior. “Olhar o produto e poder dizer: esse foi produzido na minha fábrica. É uma realização pessoal muito grande. Você pensa: ‘caramba, eu cheguei aqui!’”, emociona-se, ao contar que, certa vez, encontrou em um aeroporto da Alemanha sandálias Havaianas feitas nos galpões da Tecnolity. E muitos se perguntam: como saber quais Havaianas foram produzidas aqui? É simples de identificar – são aquelas que possuem a cor da logomarca, nas tiras, diferente da cor da chinela.


Do primeiro modelo ao mais atual, sandĂĄlias produzidas no Cariri sĂŁo conhecidas mundo afora.

FONTES:

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=972488 http://www.caririrevista.com.br/index.php/edicoes-anteriores/ item/62-nada-de-pedras-nos-sapatos-caririenses http://www.fcdlce.com.br/dn-cariri-polo-calcadista-avanca http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/a-trajetoria-centenaria-dadona-da-havaianas-em-11-imagens#12 http://www.havaianas.com/pt-BR/about-havaianas/history/ CARIRI REVISTA 37


#cariricapa

A CIDADE NASCEU LIVRE

No início do século XVI, enquanto Leonardo da Vinci pintava a Mona Lisa, Michelangelo trabalhava na Capela Sistina e o Brasil recebia os primeiros exploradores brancos, as cidades europeias concentravam talvez 10% da população do Ocidente. Não era muito, se compararmos com o número de pessoas espalhadas pelos campos. “Mas esses 10% dispunham de um poder criador, um poder de dominação, um poder de difusão de riquezas” que, no entender do historiador francês Jacques Le Goff ––, foi absolutamente fundamental para confirmar os núcleos urbanos como modelos de organização social.

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FERNANDO BRITO

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cidade tornou-se, por excelência, o lugar da produção e das trocas, concentradora de prazeres e de inovações, berço da Universidade e agrupamento de especialistas. “Tal como aquelas águas nas quais se derrama uma gota de corante, que basta para colorir toda a bacia”, poetiza Le Goff no livro “Por Amor às Cidades”. Assim, a humanidade ganhou o espaço privilegiado que no contexto daquele tempo significava um avanço naquilo que denominamos hoje de qualidade de vida. Dentro de suas muralhas,seus habitantes resguardavam-se dos salteadores das estradas, tinham maior acesso aos rudimentos de cura de doenças que se pesquisavam nos grupos de cientistas e filósofos e, sobretudo, libertavam-se do modelo feudal de sobrevivência, buscando sua autonomia no comércio e no artesanato utilitário agregado em cooperativas de profissionais. A cidade do Renascimento representou, também, uma espécie de liberdade de ir e vir, comunicar-se, e receber os ventos de outros mundos, trazidos pelos barcos mercantis que palmilhavam os quatro cantos. A primeira globalização, protagonizada pelos grandes descobrimentos, sob a liderança absoluta de portugueses e espanhóis, partiu das cidades, edificadas sempre à beira de uma saída para o mar. Os marinheiros que venceram o gigante Adamastor descrito na obra épica de Camões e Fernando Pessoa, e que representava os perigos do mar revolto qual um monstrengo apavorante, aglomeravam-se nas cidades em busca das viagens que os levariam à conquista, à aventura e à modernidade da época. Hoje as cidades brasileiras são a antítese de todos os significados que se implantaram na gênese dessa forma de estar. Violentas, sujas, feias, caóticas na mobilidade, poluídas, são uma prisão da qual não podemos escapar porque não há modos alternativos. O campo não mais se opõe à urbanidade, sendo sua sustentabilidade social e econômica totalmente dependente dos pilares urbanos. É para as cidades que se escoa toda a produção agrícola, pautada atualmente por complicadas equações de equilíbrio financeiro, destinações de mercado e totalmente esquecida de sua função primordial – a de alimentar. Todavia, poderia a cidade, essa conquista tão importante para o progresso da humanidade, ter-se tornado o algoz de seus libertados?

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QUANDO OS CIDADÃOS SÃO INSTIGADOS A CARIRI promoveu uma enquete com moradores de Fortaleza, Juazeiro do Norte e Crato, por facebook e email, angariando um quantitativo de respostas que não têm representatividade estatística mas que são expressivas de uma tendência dos sentimentos que prevalecem em relação às cidades abordadas. A pergunta era única e direta. Pedia que os participantes avaliassem a qualidade de vida de suas cidades, não a sua, individual, mas a da vida urbana, enfatize-se. Fornecemos as alternativas ótima, boa, regular, ruim e péssima e aceitamos somente uma resposta. Alguns entrevistados comentaram a sua opção, esclarecendo um pouco o significado de sua escolha. Todas os comentários, positivos e negativos, referem-se diretamente ao espaço público e à forma como a cidade lhes permite ocupá-lo. Outra referência forte é a questão da violência urbana, a insegurança permanente, gerando pânico, preconceitos, mais violência, perda de liberdade e até mesmo insanidade. São cidadãos angustiados, agoniados, encurralados, “com carradas de razão”...* Colhemos em torno de 100 respostas em cada cidade, enfatizando, mais uma vez, que não se trata de um quantitativo representativo do universo real mas da identificação das sintomáticas tendências de como se sentem as pessoas com o espaço urbano em que habitam. Assim, em Fortaleza, dentre 102 avaliações emitidas, nenhuma apontou a qualidade como ótima e apenas 5 a consideram boa. Foram 49 os fortalezenses que avaliam a qualidade de vida como regular, a

*citando a letra de Derradeira Estação de Chico Buarque, referindo-se ao Rio de Janeiro: “Rio do lado sem beira, cidadãos inteiramente loucos, com carradas de razão” – conheça, ou relembre, a belíssima letra completa digitando no Google derradeira estação de Chico Buarque.


“É cada vez mais terrível pra mim. Difícil de andar, de respirar, de ouvir. É uma cidade que cada vez mais empareda o sentir. Você precisa ficar brigando pra conseguir o mínimo. Usar o transporte público, caminhar, tentar olhar nos olhos das pessoas é tão trabalhoso. É trabalhoso, a palavra é essa. Ouvi uma pessoa dizendo que quase foi assaltada. Nas palavras dela “um moleque chegou e disse ‘bom dia, senhora’”. Essa foi a explicação do quase assalto. Quando o bom dia de alguém estranho aos nossos padrões de “civilidade” vira, por si só, um discurso da ameaça... É brutal, é brutalizante. Fortaleza é um espaço interessante, tem uma luz incrível, o vento, há pessoas de uma alegria resistente. Mas como cidade é muito difícil.” CIDADÃ DE FORTALEZA

maioria ressalvando que o que a salva é o sol, o mar, a brisa e a alegria das pessoas. Esclarecem que gostam de Fortaleza, apesar de estar distante do padrão urbano que desejam. A avaliação da qualidade de vida como ruim alcança o placar de 38 respostas e péssima de 10. Os argumentos para a escolha negativa referem-se à deficiente coleta e destinação de lixo, à precariedade do saneamento, - havendo há anos canos estourados nos mesmos locais que passam dias expondo os moradores ao mau cheiro e ao alagamento das ruas, não sendo esse tipo de ocorrência exclusividade das periferias, mas calamidade extensiva a toda a cidade -, à ameaça permanente de assaltos com subsequentes atentados à integridade física, quase sempre concretizada, mas eternamente trazendo o pânico como hábito. Há também argumentos que lembram a ineficiência e inexistência de transporte coletivo, a exiguidade de alternativas ao automóvel como forma de deslocamento e a aridez da relação entre as pessoas, tornando o cotidiano uma luta árdua pela sobrevivência física, moral, financeira e social. NA FLOR DA IDADE, CANSADA DE GUERRA Saindo da capital em direção ao Cariri, chegamos à jovem Juazeiro do Norte, com seus 103 anos de fundação e dificuldades semelhantes às das grandes e mais longevas cidades. Todavia, ali, dentre 116 respondentes, há um que considera a qualidade de vida ótima e 29 que a avaliam como boa.São 53 os participantes que escolhem regular como qualificação. Ruim é a escolha de

25 moradores de Juazeiro, sendo 8 os que denominam a qualidade de vida como péssima. Não cabem comparações com Fortaleza, uma vez que há diferenças, mesmo que mínimas, de quantidades. Considerando os resultados em si mesmos, identificamos que há quase um empate entre os qualificativos totalmente negativos e os totalmente positivos. Esse empate e o quantitativo expressivo de avaliação regular, devem-se ao momento de prosperidade econômica que a cidade atravessa, ostentando números expressivos em relação ao crescimento do PIB e de outros indicadores. Entretanto, os cidadãos de Juazeiro começam a aperceber-se que, até pelo crescimento econômico, a cidade merece mais em termos de padrão urbano, opções de lazer e de cultura, espaços públicos que incentivem a convivência, bem como providências básicas como saneamento – ainda em níveis precaríssimos -, um plano diretor que regulamente a construção desenfreada e regras relativas à preservação do patrimônio arquitetônico, totalmente esquecido. Para os juazeirenses de classe média alta, por exemplo, de nada vale terem à disposição a oportunidade de morar em prédios bonitos, modernos e quase luxuosos se não podem contar com um trânsito minimamente disciplinado, nem com segurança pública que garanta a sua entrada em casa sem perigos. Como para os fortalezenses, não é uma questão de desamor pela cidade, mas da exigente consciência de que não é mais aceitável viver em meio a tanta desordem, sujidade, perigo, baixa cultura e desesperança de mudanças a curto prazo. CARIRI REVISTA 41


RAFAEL VILAROUCA

“Falta respeito das pessoas para com a cidade e de umas para com as outras. E a falta de acesso à cultura favorece o não desenvolvimento social.” CIDADÃO DE JUAZEIRO DO NORTE

Rua São Pedro – movimentação constante e trânsito desorganizado afetam a população de Juazeiro.

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Com 250 anos de história, desde que a povoação de Miranda foi elevada à condição de vila, o Crato recebeu de seus cidadãos a maior pontuação positiva da nossa enquete. Foram 9 participantes que nomearam a qualidade de vida como ótima e 47 os que a classificaram como boa. Para 42 respondentes a qualidade de vida é regular e somente 5 a consideram ruim, sendo péssima para 2 participantes, de um total de 106 cratenses que responderam à nossa enquete. Cidade com muitas árvores, muitas praças bem cuidadas e relativa segurança nos espaços públicos, o Crato oferece algumas das condições que compõem as qualidades de um espaço urbano. Todavia, carece de bom transporte coletivo, ainda não usufrui de uma ação mais efetiva de preservação do seu patrimônio arquitetônico, além da complementação do saneamento, ainda deficiente, e da necessidade de incremento da estrutura de lazer, contemplando com maior amplidão os equipamentos culturais de que dispõe. A avaliação positiva do Crato reflete-se no modo como seus moradores ocupam os espaços da cidade. As praças estão sempre cheias de gente, mesmo à noite e nos finais de semana. As ruas são utilizadas para deslocamentos a pé e de bicicleta, as calçadas são largas e, na maioria, bem cuidadas. Nos depoimentos expressos por alguns dos inquiridos, identificamos uma relação bem estreita entre o conceito de qualidade de vida e a presença intensa de espaços comuns de convivência, somada à sensação de segurança. Uma cidade que pode ser vivenciada sem medo proporciona, indubitavelmente, um estar de maior qualidade aos moradores. Pelo mesmo motivo, essa é uma demanda comum aos habitantes de Fortaleza e de Juazeiro do Norte, ambas bastante deficientes nesses aspectos. Outra questão importante é a limpeza da cidade, melhor cuidada no Crato, embora longe de ser como deveria, uma vez que nesse quesito não pode haver meio termo, sob pena de grave ameaça à salubridade cotidiana dos cidadãos.


“Falta saneamento em muitos pontos da cidade. As ruas têm buracos demais. Não existem políticas públicas que preservem a arquitetura tradicional da cidade e não existe investimento no sentido de fomentar o desenvolvimento turístico da região.” “A cidade não oferece lazer. E quando oferece, é por iniciativa privada. Não vejo investimento oriundo do setor público que vise melhorar essa situação. Não existem parques, zoológicos, museus, cinemas, shoppings, balneários. O Crato vive de uma falsa nobreza, que considera que morar no Crato, seja um status social.” CIDADÃOS DO CRATO

RAFAEL VILAROUCA

Praça da Sé, no Crato, tranquilidade e beleza para os habitantes.

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#cariricapa

O PODER DA CRIAÇÃO E DA VONTADE Problemas constatados, primeiro e fundamental passo para o seu enfrentamento construtivo, em busca de soluções, façamos um passeio por alguns exemplos de intervenções positivas ao redor do mundo. Conduzidos pela jornalista Natália Garcia e pela artista plástica Juliana Russo, que realizaram um curioso percurso de bicicleta ao redor do mundo, podemos descobrir que com consciência e determinação é possível modificar realidades, inclusive em casos que parecem definitivamente perdidos.

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FERNANDO BRITO

A

s duas amigas viajaram com bicicletas dobráveis carregadas na bagagem do avião, por 12 cidades diferentes, percorridas por elas, exclusivamente, com esse meio de transporte, em torno de um projeto – o Cidades para Pessoas. A viabilidade financeira da ação já se constituiu de modo inovador e criativo, em alternativa ao que é convencional fazer para mobilizar recursos. Natália e Juliana inscreveram o projeto num site de crowdfunding, o Catarse, uma modalidade de financiamento de projetos culturais que funciona como uma espécie de mecenato coletivo. Em alternativa aos patrocínios e editais, esta modalidade reúne grupos interessados em contribuir para o fomento de produtos e ideias, num consórcio em que cada um doa um pouco, e a soma resulta na concretização de algo que seria impossível de acontecer sem a união de todos. Livros, Cds, shows, peças de teatro e até filmes concretizam-se através do crowdfunding. Em Copenhague, primeira cidade visitada pelo projeto, Natália, que viajava sozinha na etapa europeia dos percursos, só mais tarde se juntando a Juliana, nos Estados Unidos, identificou o resultado da purificação do canal Havnebadet, iniciada pela prefeitura em 1996. O canal que se localiza em torno da cidade, encontrava-se isolado da população por um cinturão de indústrias poluentes e misturava-se ao esgoto, numa combinação pérfida. As fábricas foram removidas para uma região mais afastada, o sistema de esgoto foi modernizado com novas estações de tratamento e reservatórios foram construídos, para impedir que em dias de chuva o esgoto se misturasse às águas do canal. Com o rio visível e purificado, acessível à população, suas margens transformaram-se em áreas de lazer ao ar livre, dotadas de equipamentos urbanos para brincadeiras e práticas de esporte. No site Cidades para Pessoas, Natália expõe, ainda, que Copenhague foi uma das primeiras cidades modernas a investir numa estrutura que prioriza a bicicleta e a caminhada como principais meios de locomoção. Em 1950, avenidas foram transformadas em vias de pedestres, época em que a maioria dos governos construía viadutos para carros, mais tarde desativados ao ficar

provado que não resolvem os problemas de engarrafamento e são promotores de degradação social nas áreas onde são instalados. Chegando a Londres, o bom exemplo, dentre muitos que a capital inglesa oferece, são as múltiplas opções de mobilidade, definidas pelo planejador urbano Jef Risom, do escritório dinamarquês Gehl Architects como a melhor medida para avaliar se uma cidade é boa desse ponto de vista. Em 2003 foi implantado o pedágio urbano o que diminuiu a circulação de carros, tornando-se simultaneamente uma fonte de recursos para o investimento em melhorias nos meios de transporte coletivo. Com menos carros em circulação, a uma velocidade máxima mais baixa por regulamentação da lei, as ruas tornaram-se mais seguras e foram ocupadas por bicicletas e por pedestres. ESPAÇOS PÚBLICOS PARA RESPIRAR E CONVIVER Da ilha para o continente, Paris há muito dá lições de utilização intensa e criativa dos espaços públicos. Além das praças e jardins espalhados pela cidade, uns com séculos de existência, outros construídos contemporaneamente, ainda houve espaço para inovar. Cidade sem mar, a capital francesa conta com um calor sufocante no verão, além da baixa humidade e dos efeitos da poluição mais pronunciados. Na avenida às margens do Sena foi criada uma praia artificial, que surge todos os verões desde 2002, com areia, guardasóis, jatos de água, múCARIRI REVISTA 45


sica brasileira e atividades de recreação que combinam com a alta temperatura. A Paris Plage – Praia de Paris – proporciona conforto físico e psicológico aos moradores e visitantes, tornando o verão uma verdadeira festa, vivida ao ar livre e em comunidade. Como a cultura é sempre atrelada a todos os eventos da cidade, uma biblioteca pública e um centro cultural também fazem parte da praia paririense. O museu trata dos famosos esgotos de Paris e oferece visitação pelas tubulações que se constituem numa outra cidade subterrânea e contam a história da despoluição do Sena. Do outro lado do Atlântico, em São Francisco, antigos estacionamentos públicos de carros deram lugar a mesas e cadeiras onde moradores conversam, riem e tomam umas bebidinhas com petiscos. O chamados parklets são um prologamento da calçada sobre o espaço antes dedicado aos carros. A ideia surgiu de um movimento cívico que ocupava pontualmente esses espaços com grama sintética sobre a qual se dispunham equipamentos de lazer e descanso, mostrando como poderiam ser melhor destinados se houvesse uma diminuição da quantidade de carros. Associadas ao dia mundial sem carro, as ações consolidaram-se e passaram a compor o cotidiano da cidade. Trabalhados por designers que defendem a substituição dos automóveis como prioridade pela escolha de contemplar as pessoas. Hoje o poder público emite autorizações para os comerciantes atenderem nesses lugares e a adesão da população criou um novo formato de estar urbano. Ainda nos Estados Unidos, soluções de pavimentação alternativas ao asfalto, opção de óbvio bom senso depois de comprovadas todos os malefícios que esse revestimento, amplamente e quase exclusivamente usado no Brasil, traz ao meio ambiente, são uma das marcas de Portland. A partir de 2005, o programa grey to green passou a construir a chamada infraestrutura ecológica. Ruas com concreto permeável, calçadas com pouco concreto, tanques de terra para que a água da chuva entre no solo e chegue limpa aos rios, e telhados verdes que além da função de filtrar a água, garantem o conforto térmico no interior de casas e prédios. Rio salvo e protegido transformando a ameaça das chuvas, um flagelo em potencial, numa oportunidade de melhoramento de aspectos diversos da cidade. Natália e Juliana expõem outros exemplos visitados por elas, como Food coo –op, um mercado de Nova York onde somente os associados fazem compras de produtos orgânicos e de produção local a preços baixíssimos e o atendimento é efetuado pelos próprios cooperados, em turnos de quatro horas. Em funcionamento desde a 46 CARIRI REVISTA

Parklet Pátio dos Ventos, do projeto Estar Urbano na Casa Cor 2013

década de 70, o mercado é prova de que há modelos de comércio alternativo viáveis e que contribuem para uma maneira de viver mais saudável. Em Barcelona, uma outra cooperativa foi a resposta á crise que assola a Europa desde 2009. Na Aurea Social, instalada num espaço cultural, oferece-se de tudo – saúde, moradia, aulas de ioga, horta comunitária. O pagamento pode ser feito através de um banco de horas de trabalho dentro do próprio grupo, tornando tudo acessível a quem se dispuser a ser um integrante cooperado. Na Cidade do México, o ciclista Jorge Cañez veste-se com uma máscara de luta livre preta e branca e encarna nas ruas o super herói Peatónito, defensor do respeito pelos pedestres no complicadíssimo trânsito da capital. ATIVISTAS EM CASA Aqui mesmo, na nossa capital, também encontramos bons projetos que pensam e interferem na melhoria da vida urbana. Recentemente premiado pela CASA Cor 2013 como o melhor projeto ecológico, a ideia das arquitetas urbanistas Liana Feingold e Laura Rios é inspirada no conceito de Parklets, aqueles criados em São Francisco. Trata-se do Projeto Estar Urbano, que objetiva revitalizar espaços públicos, imaginando o potencial da rua através de intervenções que energizam e reinventam as áreas públicas da cidade. Segundo as


FOTOS: ATELIÊ CREATORE

Liana e Laura, arquitetura para pessoas

arquitetas, “o Estar Urbano é uma solução desenvolvida em busca de uma urbanidade equilibrada e acessível. Traz em sua proposta a reflexão sobre como ocupamos os espaços públicos da nossa cidade, hoje ameaçados por diversos fatores”, sintetizam. O termo parklet foi usado pela primeira vez em São Francisco, nos Estados Unidos, para representar a conversão de um espaço de estacionamento de automóvel num miniparque recreativo, uma das experiências visitadas pelas viajantes ciclistas Natália e Juliana. A partir de então, os parklets foram utilizados em diversas cidades norte-americanas, assim como em outros centros urbanos pelo mundo. Aqui no Brasil, os dois primeiros Parklets foram construídos em São Paulo, em agosto de 2013. O conceito de parklet inclui tanto espaços anteriormente ocupados por carros, como espaços que podem também ativar uma determinada área de uma rua, bairro ou cidade. O objetivo do Estar Urbano é estimular a presença das pessoas nas ruas, pois esse é um dos maiores recursos das cidades. A presença de pessoas faz os espaços serem percebidos como vivos e seguros. Há também a preocupação em estimular o uso de modais alternativos ao carro, como a bicicleta. A idéia é tornar as ruas mais amigáveis, ativando a recreação, o comércio local e restringindo o espaço dos automóveis nas cidades.

“O Estar Urbano nos dá a possibilidade de levar às ruas, espaços alternativos que nos resgatem a convivência. Focamos no conceito da urbanidade, buscando soluções funcionais dos mobiliários urbanos, agregando a arte de rua como inspiração e sensibilização” expõe Liana. Concebido como uma extensão da calçada, mantendo o mesmo nível de piso, a sua instalação é feita em um local de estacionamento de um ou dois carros, equivalente a 11 X 2,20 metros. Tem bancos, jardins, iluminação própria e estacionamento de bicicletas. Obedece às regras de uso e ocupação do solo e atende aos critérios da mobilidade urbana. É um espaço público aberto para todas as pessoas, que deve ser seguro para o usuário. Os espaços Estar Urbano podem ter programação cultural, musical e artística de caráter temporário. O BEM SOB O SOL Numa outra intervenção em que levaram o seu conhecimento ao alcance de comunidades mais carentes, as arquitetas estiveram com os meninos da escola de surf do Instituto Sol, Ong que funciona na Praia do Futuro e promove a inclusão das crianças e jovens da região, através do surf e de um centro cultural. Junto com outros artistas locais, Liana e Laura realizaram uma ação aplicando os princípios de mobiliário urbano para humanizar o espaço. CARIRI REVISTA 47


RAFAEL VILAROUCA

Aprendendo a reciclagem e estĂŠtica urbana no Instituto Sol 48 CARIRI REVISTA


“Na torcida para que muitas outras venham. Hoje, na Ana Bilhar, vi um pai levando seu filho para escola, na garupa. Vi outro levando duas outras crianças, uma na frente e outra atrás. Também transitam por ela catadores, caminhantes. Sempre me emociono. Meu pai disse que quando eu era menina costumava me levar na bicicleta para entregar os jornais que recebia de Fortaleza para entregar para os assinantes. Jornal para o qual escrevia, na condição de correspondente. Faz parte de uma ideia que tenho de mim mesma essa imagem. Pra mim, a ciclovia é um poema sobre a cidade e uma ode à natureza. Todos os dias vou trabalhar pela Ana Bilhar e volto pela Canuto de Aguiar. A ciclovia sempre me emociona. Pela ciclovia mesmo, mas muito também pelas pessoas que vejo: ciclistas, trabalhadores, pessoas que caminham dado que as calçadas são bem difíceis, catadores de lixo com seus carrinhos, pessoas aprendendo a andar de bicicleta. Gosto demais desse espaço porque, sobretudo,

ele é exemplar para um mundo melhor. Ruim mesmo é quando vejo o ódio de alguns carros que usam a ciclovia. Nunca vi ninguém reclamando por conta dos carros estacionados do lado esquerdo. Resolvi que não olho nem escuto nada que venha dessa gente. Escrevo apenas para dizer o quanto gostaria que toda a Av. Antônio Sales, a Av. Aguanambi também tivessem ciclovias. Umas árvores também fariam muito bem. Eu não quero nada. Nenhum poder. Apenas uns filmes, uns livros, uns passeios de bici pela cidade, viagens para lugares em que eu me sinta estrangeira, o sorriso de alguns amigos, os domingos entre os meus. E que esse pouco seja estendido aos demais, com as modificações que desejem. Não vou falar sobre o que eu não quero porque as ruas me representam, sou pessoa que gosta dos movimentos da rua.” BEATRIZ FURTADO, CIDADÃ DE FORTALEZA PESQUISDORA E PROFESSORA DO INSTITUTO DE ARTES E CULTURA DA UFC RAFAEL VILAROUCA

estacionamento de bicicletas na Casa Cor 2013 CARIRI REVISTA 49


Pneus velhos se trasformaram em balanço, pufes para os meninos assistirem às aulas e até um bicicletário na entrada do local. Tábuas de madeira viraram balanços, assentos também para auxiliar nas aulas. Todos os itens trabalhados com pinturas e transformados pelas mãos de todos aqueles que se voluntariaram. O Creatore - Ateliê de Arquitertura, a marca institucional do trabalho de Laura e Liana, desenvolveu o projeto que leva o mesmo nome do espaço Estar Urbano com o objetivo de contribuir para uma maior qualidade de vida. O investimento agora é construir parcerias com a iniciativa privada para a multiplicação da experiência na Casa Cor Fortaleza 2013. Entendimentos com a Prefeitura de Fortaleza a partir de 2014 podem levar à expansão da ideia, somando-se a algumas iniciativas que demonstram um esboço de uma nova concepção de cidade. A ciclopista recentemente implantada nas ruas Ana Bilhar e Canuto Aguiar oferece oportunidade de uso desse transporte alternativo, ainda pouco utilizado em Fortaleza e ainda envolto em mistificações e preconceitos. A ciclopista, além de sua função primeira de permitir a circulação das bikes em segurança, lembra aos motoristas que cada bicicleta com possibildade de rodar é um carro a menos na rua, desagravando os engarrafamentos. 50 CARIRI REVISTA

EM DEFESA DA MEMÓRIA A acadêmica e cineasta Adriana Botelho, sempre mobilizadora de pensamentos e ações que engrandecem a nossa região em sentidos múltiplos, viveu com seus alunos da Universidade Federal do Cariri uma experiência de reflexão e descoberta. Uma fotografia da praça Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, foi tirada e depois tratada em um programa de computador onde se retirou dela tudo o que maculava a beleza e a harmonia – fios, lixo, cartazes em fachadas, carros estacionados desordenadamente. Exposta a foto tratada na própria praça, provocou a surpresa, a alegria e o estranhamento dos passantes que a observaram. Como parte do projeto de pensar Juazeiro, Adriana ouviu dois pesquisadores da história da cidade que lutam há décadas pelo resgate do patrimônio com as armas da comunicação. Daniel Walker e Renato Dantas, incansáveis defensores da memória e da cultura do Cariri, têm muito a dizer sobre a cidade que se ergueu sobre pilares improváveis, tornando-se um polo de crescimento economico citado como exemplo em todo o Brasil. A seguir três trechos dos depoimentos, constantes do acervo do projeto de Adriana Botelho. “Em 1924 começou o movimento e culminou-se em 1925 para prestar uma homenagem ao Padre Cícero, fazer uma estátua. Aquela estátua de bronze que tem lá na praça, Floro [Dr. Floro Bartolomeu] encomendou a um artista no Rio de Janeiro, porque era a tentativa dele de evidenciar Juazeiro às forças armadas. Ele armou toda uma construção para trazer a Marinha para o Juazeiro para aliar-se à Marinha. Deu-se o nome da praça de Almirante Alexandrino de Alencar, originado da família Alencar aqui do Cariri. Para que acontecesse a inauguração da estátua e o Exército viesse a Juazeiro conhecer, Floro transformou a cidade – mandou calçar, arborizar. Houve a inauguração da estátua, vieram os representantes da Marinha, a Escola de Aprendizes de Marinheiro mandou uma banda, foi uma grandiosa festa. Eu considero o dia da entrega do Juazeiro à nação brasileira. Foi um dos fatos políticos mais importantes para a sobrevivência da cidade” conta Renato Dantas enfatizando a importância marcante da Praça Padre Cícero na formação de Juazeiro.


RAFAEL VILAROUCA

Daniel Walker e Renato Dantas defendem o direito à preservação do patrimônio histórico e arquitetônico de Juazeiro.

Daniel Walker complementa: “Logo após a independência de Juazeiro, já existia a praça que era chamada de Quadro Grande, sua primeira denominação. Na realidade, esse Quadro Grande começava no Memorial Padre Cícero e ia até lá. Quando o Padre Cícero começou a bolar o plano de Juazeiro, as primeiras ruas foram traçadas cortando a praça, então ela foi dividida em pedaços. O lado de cá, que é o lado do Memorial, passou a ser chamado de Praça São Vicente, onde tem a capelinha de São Vicente até hoje e, o que foi cortado da Praça Padre Cícero, foram as ruas São Pedro, Padre Cícero, do Cruzeiro e São Francisco. Como ali foi dado o grito de independência de Juazeiro, aquela praça passou a ser chamada de Praça da Independência, também de Praça da Liberdade. Ficou com essa denominação até que Dr. Floro botou o nome de Praça Almirante Alexandrino de Alencar. Apesar de o prefeito ser o Padre Cícero, Dr. Floro que construiu a praça e colocou o nome, com a estátua do Padre Cícero lá. Isso é uma coisa esquisita que acontece em Juazeiro: se homenageia uma pessoa com um nome de praça e às vezes não tem o busto da pessoa homenageada, tem é de outra pessoa. Ali perto do Memorial tem uma praça chamada Praça José Sarney, mas tem o busto de Luiz Gonzaga e o busto de Darin, um jornalista de Juazeiro

que faleceu. Lá nos Franciscanos tem uma praça que é chamada de Praça José Geraldo da Cruz, mas fizeram uns canteiros e ficaram parecendo umas cacimbas, e ficou conhecido como Praça das Cacimbas. É Juazeiro, é igual a Juazeiro dos Romeiros. Na Praça Padre Cícero, morar por ali, era símbolo de status social e econômico, as famílias mais abastadas de Juazeiro faziam questão de morar ali e o comércio começou ali. O metro quadrado mais caro da época e hoje ainda é. Com o passar do tempo, as residências foram se afastando. Hoje, só tem lá mesmo duas residências com moradores, tinha a terceira que era de Dona Alacoque, que faleceu e a casa está praticamente desabitada. Então, tem a Casa dos Bezerra de Menezes, que eles usam quando vêm a Juazeiro, e a outra casa é de um comerciante chamado Hugo Melo, que fica entre a Casa dos Bezerra e a Farmácia dos Pobres. Nos quatro lados da praça tinham residências, mas hoje praticamente é só comércio. Um detalhe que eu acho deprimente para aquele ambiente, porque hoje o que prevaleceu foram aqueles bares, as mesas no meio das ruas. Aquela praça era a praça da sociedade juazeirense, quem morava da linha pra frente eram chamadas de pessoas do arisco (subúrbio, afastado do centro, da civilização, as ruas eram horríveis, não tinha iluminação elétrica, morar lá significava ser CARIRI REVISTA 51


gentinha), até que o prefeito Capitão Humberto, Coronel hoje, começou a humanizar aquilo ali. Tudo acontecia na praça – desfiles de 7 de setembro, a Festa da Padroeira, as quermesses, os comícios.Quando eu e o Renato Casimiro fomos recolher os depoimentos nesse trabalho sobre a praça, mais de 90% das lembranças que as pessoas têm é romântica, todo mundo só fala nos namoros. As vantagens da praça: era bonita, era uma parada obrigatória de quem ia ou voltava da missa da Matriz. Quando terminava a missa, lotava a praça. Os homens ficavam parados em pé e as meninas é que desfilavam. O homem só ia quando engatava um namoro.A questão dos eventos ali era muito forte. Eu acredito que o que faz essa praça ter esse charme todo é o fato de ter a estátua do Padre Cícero ali. Na coluna da hora, existia um relógio que marcava as fases da lua, feito por um juazeirense. Ele ainda funcionou por muito tempo e o fabricante faleceu, então não teve ninguém pra ajeitar aquele relógio. Cada prefeito que assume faz uma reforma naquela praça – a praça primeiro foi sem banco, depois banco de madeira em metal, depois banco de marmorito no final dos anos 50, foi a melhor fase dela, todo mundo se lembra. Tinha um banco enorme, o povo chamava de banco dos velhos (eles se reuniam para fofocar, pra falar sobre política, religião), até hoje esse banco existe, só que não é mais no mesmo local. Agora ele é menor e fica perto do posto de táxi. Todo domingo lá tem gente batendo papo. Em 1958, foi o ano que o Brasil ganhou a copa, tinha um banco que era o banco da copa do mundo e tinha a formação da seleção brasileira ali. Foi o ano em que o Vasco se destacou no campeonato, então tinha o banco do Vasco. Os bancos onde a gente namorava tinha nome de lojas comerciais, tinha a propaganda comercial nele.” Renato Dantas recorda e enfatiza: “Hoje onde se encontra as Lojas Americanas, foi a residência de Marquise Branca, primeira atriz de Juazeiro do Norte, que se projetou nacionalmente. Nessa área das Americanas também tinha a “casa do enforcado”, que a gente tinha medo dessa casa, da suposta alma. A gente não passava nem na calçada. Eu nunca vi este prédio aberto. Ela foi destruída entre 1968 e 1969. Aqui funcionou o Cine Avenida, onde hoje é o Hotel Municipal. Aqui onde hoje é a Lojas Esplanada, funcionou a primeira sede do Treze Atlético Juazeirense [Clube criado em meados dos anos 40, que promovia bailes]. O formato da Praça Padre Cícero era francês.Nessa casa morava Dona Rosinha Esmeraldo, uma intelectual que tinha uma biblioteca riquíssima, onde quando eu era adolescente funcionava um centro de cultura criado por nós, onde 52 CARIRI REVISTA

a grande história era a leitura. Hoje, nesse local, existe um prédio de três andares que funciona um anexo da Câmara Municipal de Juazeiro. Aqui funcionava o Cine Teatro Iracema, onde Marquise Branca, quando vinha pro Cariri se apresentava. Hoje foi transformado em uma garagem. Esse prédio era onde funcionava a barbearia que o Padre Cícero frequentava, e hoje é um laboratório. Nessa área onde hoje é o terminal municipal, que pega o ônibus para o Crato, era a casa do Dr. Mozart Cardoso de Alencar.A coluna da hora, erguida na Praça Padre Cícero, não foi uma questão de modismo, como acontecia no Brasil. Ela foi construída em 1934, e a ideia era mostrar pra todo mundo que Juazeiro não ia se acabar, pois havia pouco tempo o Padre Cícero tinha falecido, então um monte de gente achava que a cidade não ia sobreviver. O construtor foi o italiano Agostinho BalmesOdisio [ele também é responsável pela imagem/ estátua do Padre Cícero que existe em frente à Capela do Socorro, uma dos modelos mais reproduzidas na cidade]. Odisio mudou, totalmente, a arquitetura do Juazeiro, e do Cariri, notadamente a arquitetura religiosa.Nossa arquitetura religiosa tinha características de um Barroco “pobre”, onde as igrejas eram simples. O Odisio mudou tudo isso, inclusive introduziu o gesso aqui. Juazeiro não trabalhava com gesso. Nós tínhamos imaginários [estátuas de santos] só em madeira. Ele criou uma linguagem artística que vinha trazendo da Itália. Foi o primeiro fabricante de mosaico hidráulico. Tudo mundo diz que o primeiro Juazeiro [a árvore] foi o Padre Cícero que plantou, mas não foi. Quem plantou foi o pai de Mazé Sales, que trabalhava para José Geraldo da Cruz que decidiu arborizar a Praça Padre Cícero. Por coincidência, esse pé de Juazeiro não tem espinho. Em torno disso foi criada toda uma relação mística.” SERVIÇO Saiba mais sobre o Projeto Sítio Simulado coordenado por Adriana Botelho botelho.drica@gmail.com. Sobre o Projeto Cidades para Pessoas www.cidadesparapessoas.com.br


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#cariricanadá

O ÓBVIO QUE AINDA É EXCEÇÃO Por Sarah Coelho

Em tempos de globalização, o lema “viajar é preciso” chega a atazanar a cabeça. Viajar é quase uma condição imposta à plenitude humana. Os mais experientes, com carimbos variados em seus passaportes, costumam falar de suas peripécias mundo afora como uma oportunidade de “abrir a cabeça”. SARAH COELHO

Basta o sol aparacer para os parques ficarem lotados de gente 54 CARIRI REVISTA


N

ão é difícil ter um amigo ou conhecido que decidiu tornar casa o que, num plano inicial, era apenas destino de férias. Foram e não voltaram mais. Esses costumam dizer que a tentação pelo que, para nós brasileiros, são privilégios – como andar despreocupado na rua à noite, contar com o horário do ônibus para planejar o dia-a-dia, sair com um carrinho de bebê pela calçada e não sentir medo –, foi maior que o apego à brisa do mar, ao samba com cerveja gelada e ao abraço dos amigos. Inclusive, estar fora é deparar-se rotineiramente com a contradição de ouvir de quem se ama: “Estou com saudades, mas você não deveria voltar”. A cidade de Toronto, no Canadá, tem sido uma dessas tentações. Segundo dados do Consulado do Brasil no Canadá, mais de 18 mil brasileiros decidiram trocar o calor equatorial pelo rigoroso frio do país norte-americano. Dependendo da cidade, os termômetros chegam a marcar -30ºC durante o inverno. Apesar disso, a integração dos imigrantes costuma acontecer rapidamente. O motivo, explica o governo, é a necessidade de atrair profissionais especializados, que estão em falta no país, por conta especialmente do envelhecimento da população. Neste contexto, Toronto aparece como uma das preferências dos estrangeiros, principalmente pelo fato de ter o inglês como idioma oficial, o que facilita o processo de adaptação e a procura por trabalho. Famosa pelo multiculturalismo, a variedade é uma das principais marcas da cidade, onde podemos ouvir, ver e experimentar um pouquinho de cada parte do mundo. Mulheres com lenços na cabeça são caixas de lanchonetes, homens de turbante são motoristas de ônibus. A diversidade está estampada na rotina da cidade, e os moradores estão dispostos a abraçar o novo. A hospitalidade e a educação são comuns à maioria do povo canadense. Se você estiver com cara de perdido olhando placas de ruas ou segurando um mapa, por exemplo, se prepare para ser abordado por diferentes pessoas dispostas a ajudá-lo com as direções ou até mesmo a emprestar-lhe o celular. Cheguei a Toronto em março de 2013, onde vivi quase quatro meses. Foi lá que experimentei, pela primeira vez, o “direito à cidade” do qual tanto ouvia falar aqui no Brasil, mas infelizmente quase sempre numa perspectiva de violação. Tal direito está assegurado pelo Estatuto da Cidade, Lei Fe-

deral 10.257/01, que estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. SOBRE RODAS Curiosamente, uma das primeiras coisas que reparei em Toronto foi na quantidade de bebês. Eles estavam por toda parte, em seus carrinhos duplos, ou até triplos, sendo empurrados pelos pais, mesmo durante o inverno. Pouco tempo depois, passei a notar também inúmeros senhores e senhoras com seus andadores, assim como muitas pessoas com deficiência física. Todos circulando independentemente pelas ruas. Era óbvio, eu sei. Mas apenas depois de um tempo fui me dar conta de que não havia nada de curioso naquele fato; e de que, muito provavelmente, guardadas as devidas proporções, não haveria mais bebês, idosos ou cadeirantes em Toronto do que em Fortaleza. A diferença é que lá eles são vistos, em todos os sentidos que esta ação pode ter. Uma coisa básica permitia a ida de todos eles às ruas: calçadas! As calçadas de Toronto são quase todas padronizadas, com cerca de dois metros de largura e acesso para cadeirantes junto a todas as faixas de pedestre. Estas faixas, por sua vez, existem a cada esquina e são respeitadas por todos os motoristas. Assim, não é difícil imaginar porque tantas rodinhas estão sempre compondo o cenário da cidade. A cidade está preparada para conviver com elas. CARIRI REVISTA 55


Aqueles que desejam percorrer distâncias maiores também podem contar com o transporte público. Foi em Toronto que vi pela primeira vez um cadeirante utilizando ônibus. A entrada dele aconteceu sem demora ou reclamação. Isso, porque os veículos são adaptados para baixarem seus pneus até o nível da calçada, facilitando a entrada de carrinhos de bebê e de pessoas idosas. No caso de cadeirantes, uma pequena rampa é rapidamente colocada – entre o ônibus e a rua – pelo motorista, que também é responsável por solicitar que os demais passageiros disponibilizem os acentos preferenciais. TRANSPORTE COLETIVO QUE FUNCIONA Esse não é o único ponto positivo do transporte público. Administrado pela Comissão de Trânsito de Toronto, mais conhecida como TTC, o sistema conecta linhas de metrô, ônibus e streetcar – uma espécie de ônibus que anda sobre trilhos e é movido a eletricidade. Metrôs pontuais, funcionários prestativos, lotação média. É comum ver as portas traseiras dos ônibus abertas em dias de chuva ou de neve para apressar a entrada dos passageiros, e ninguém pensa que alguém irá aproveitar-se da situação para não pagar. Durante a madrugada, muitos motoristas param mesmo se alguém der sinal fora do ponto, principalmente no caso de mulheres. Tudo isso acaba compensando o alto preço pago pela passagem: $3,00CAD. Há ainda a possibilidade de o usuário comprar um cartão mensal, que lhe dá direito a andar em qualquer um dos veículos quantas vezes desejar durante o dia. Apesar disso, muitos canadenses costumam reclamar da TTC e, via de regra, pedem desculpas aos asiáticos, em tom de constrangimento, já que Coreia de Sul e Japão têm alguns dos sistemas de transporte mais eficientes do mundo. Outro ponto que coloca não apenas o Brasil, mas a América Latina em geral, em desvantagem, é o procedimento de coleta de resíduos. Em Toronto, todas as casas e estabelecimentos fazem a separação entre orgânicos, recicláveis e não recicláveis. O serviço de coleta dos não recicláveis é pago, e o valor é determinado de acordo com o peso do lixo gerado, daí o esforço por parte de toda a população em realizar a separação de forma criteriosa. Diante disso, enquanto alguns asiáticos comentam que chegam a separar os resíduos em até sete tipos diferentes, ao invés de apenas três, muitos latinos ainda tentam aprender o que representa a cor de cada lixeira. 56 CARIRI REVISTA

OCUPAR É PRECISO (E POSSÍVEL) Ainda na perspectiva do direito à cidade, uma experiência fora do país pode revelar o que é, de fato, ocupar os espaços públicos. Ou melhor, o que é ter espaços públicos para ocupar. Além de praças e praias, parques, parques e mais parques. Mais de 50 opções de parques e jardins estão disponíveis no site oficial da cidade de Toronto, em um mapa que detalha inclusive a melhor opção de transporte público para chegar a cada local. Com isso, os inúmeros restaurantes e bares da cidade, dos mais diversos tipos e preços, tornam-se apenas mais uma opção para a população, e não uma imposição ao lazer. Vários parques existem graças à preservação de uma frondosa vegetação natural. Muitos dos jardins, entretanto, foram planejados e construídos graças ao interesse do poder público. A população agradece e usufrui incansavelmente das opções disponíveis assim que o sol começa a queimar a pele. Testemunhar a mudança de estações em Toronto é ver uma cidade completamente ocupada de gente. Com a chegada das flores, grupos de amigos, famílias e casais de namorados passam a enfeitar a grama verdinha dos parques, com extravagantes kits de piquenique e toalhas coloridas. Nas praias de Woodbine, Kew-Balmy e Centre Island é possível, ainda, encontrar cadeiras de rodas adaptadas para o uso na areia. Elas são disponibilizadas pela Prefeitura para pessoas com deficiência e podem ser reservadas com antecedência apenas com uma ligação telefônica.


IR, PORÉM VOLTAR Findados os quatro meses de intercâmbio, duas conclusões permaneceram mais vivas. 1) Sejamos honestos: existe, sim, mais dignidade do lado de lá do Equador. Mas apesar disso, o Canadá não é o paraíso. Existem bairros mais ricos e mais pobres, casos de assassinato e de suicídio, um prefeito envolvido em escândalos de corrupção e uso de drogas, e reclamações sobre a realização de megaeventos esportivos – como foi o caso dos jogos olímpicos de inverno realizados em 2010, em Vancouver. 2) Viajar é preciso, mas voltar também. E voltar com energia e com exemplos palpáveis que dão conta de demonstrar que é possível fazer diferente

sem muita complicação. O engenheiro francês Olivier Teboul, de 29 anos, mudou-se para o Brasil há um ano e meio e lançou um blog para registrar sua vida no país. O seu primeiro post foi feito para listar 65 impressões peculiares que lhe chamaram atenção nos brasileiros – algumas situações tão comuns e corriqueiras para nós, mas um pouco estranhas e diferentes para ele. Uma delas provoca maior destaque: “Aqui no Brasil, os brasileiros acreditam pouco no país. As coisas nunca podem funcionar totalmente ou dar certo, porque aqui, é assim, é Brasil. Tem um sentimento geral de inferioridade que é gritante. Estou esperando o dia em que o Brasil vai abrir seus olhos”.

SARAH COELHO

Existem mais de 50 opções de parques e jardins em Toronto CARIRI REVISTA 57


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ANDERSON BRAZ

CARIRI

personas gratas

O CARIRI NA CASA COR O LUXO DO BARÃODE JUÁ HOMENAGEM À LITERATURA CARIRI REVISTA 59


IRINA_QQQ/ SHUTTERSTOCK

#cariripersonasgratas

EM BUSCA DOS NOSSOS CENTROS PERDIDOS Por Catarina Teles [Catarina Teles é cronista do mundo e atenta observadora da vida]

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centro é o ponto de partida de uma cidade. É em torno desse nascedouro que cresce a urbe e se expande, formando novos bairros, conquistando novos espaços. Todavia, por mais que uma cidade se multiplique e se transforme, jamais deverá abrir mão da funcionalidade de seu centro. Nenhuma expansão imobiliária, nenhuma modernização do comércio, compensa ou substitui a vital presença de um centro ativo, em movimento constante e preservado em sua história. Abandonar o centro é permitir que o coração que faz a cidade pulsar com saúde se perca, levando consigo toda a identidade do lugar. Assim aconteceu com o Rio de Janeiro e com São Paulo, onde atualmente uma luta difícil e dispendiosa tenta trazer de volta seus centros históricos apartados. Movimentos de incentivo ao resgate da moradia na região, retomada de áreas de gastronomia, cultura e lazer, têm empreendido esforços, a duras penas, por esse resgate. No entanto, circular aos domingos nesses centros é estranho e perigoso. Limpeza negligenciada, má iluminação, ausência de policiamento e, sobretudo, desocupação – além dos viciados em crack, dos mendigos e dos resistentes freqüentadores dos museus que ali se localizam, a Cinelândia, no Rio, e a Praça da Sé, em São Paulo, - para citar apenas dois exemplos de outrora animados logradouros domingueiros – são cenários fantasmas, tristemente abandonados. A triste história repete-se em quase todas as capitais brasileiras. Em Fortaleza, o belo centro à beira-mar,

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marcado pela Praça do Ferreira onde se vaiou o sol e mudaram-se rumos políticos mobilizados por manifestações populares e repleto de inúmeros outros pontos históricos de diversas épocas, jaz melancolicamente esquecido, sob o pranto de alguns moradores que ainda clamam pelo seu resgate. Em Juazeiro do Norte, a rua São Pedro parece eliminada do mapa quando cai a noite e as portas das lojas se cerram. Aos domingos ainda pior. Durante a semana, tanto na capital como na próspera terra de Padre Cícero, o centro é o lugar mais sujo, perigoso e mal tratado de toda a cidade. Nesta edição em que a CARIRI exalta as cidades e tudo de maravilhoso que elas podem nos oferecer se tivermos a sabedoria, a determinação e a generosidade de as tomar como verdadeiramente nossas, lançamos o apelo e o desafio pela salvação de nossos centros, a retomada da história e a ocupação definitiva dos espaços públicos que nos tornam, realmente, cidadãos de classe! Até a próxima!


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#cariripersonasgratas

CARIRI REVISTA RECEBE HOMENAGEM NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO CEARÁ A CARIRI Revista recebeu, no dia 19 de novembro, homenagem pelo Dia da Literatura Cearense, - que acontece dia 17, a mesma data do anversário de Raquel de Queiroz - em sessão solene realizada no Plenário 13 de Maio da Assembleia Legislativa do Ceará. Na ocasião estiveram presentes a Editora-Geral Tuty Osório, a Editora de textos e redação Claudia Albuquerque, e a Diretora da revista Isabela Bezerra, que ao lado do

empresário Renato Fernandes, comandam o periódico há pouco mais de dois anos. A honraria conferida tem por objetivo, segundo os deputados autores da iniciativa, prestar o reconhecimento a todos aqueles que engrandecem à literatura cearense. A escritora Socorro Accioly, contemplada com o Jabuti deste ano, também foi homenegeada, além de outros escritores e pesquisadores dedicados à literatura.

FOTOS: JOSÉ LEOMAR

Tuty Osório (Editora Chefe Cariri Revista), Dep. Prof. Teodoro, Barros Alves, Isabela Bezerra (Diretora Cariri Revista), Cláudia Albuquerque (Redatora Cariri Revista), Dep Heitor Férrer

Vicente Alencar, dep. prof. Teodoro, Nirvanda Medeiros, pres. da Associação dos Jornalistas e Escritores do BrasilAJEB, secção do Ceará, e dep. Heitor Férrer 62 CARIRI REVISTA

Professora Fátima Lemos, dep. Prof. Teodoro, João Gonçalves de Lemos, pr esidente da Academia Lavrense de Letras e dep. Heitor Férrer

Dep. professor Teodoro, escritor Vicente Alencar, pres. da Academia Cearense da Língua Portuguesa e deputado Heitor Férrer


Dep. prof. Teodoro, poeta Dideus Sales, diretor da Revista Gente de Ação e dep. Heitor Férrer

Dep. prof. Teodoro, padre Manfredo Ramos, da Academia Cearense de Letras, e dep. Paulo Facó

Dep. Prof. Teodoro, Moacir Gadelha, da Academia Cearense de Retórica, e Edgar Fuques

Dep. prof. Teodoro, José Augusto Bezerra, pres. da Academia Cearense de Letras, e dep. Heitor Férrer

Dep. Prof. Teodoro, Francisco de Assis Clementino Ferreira, pres. da Associação dos Escritores Cearenses e dep. Paulo Facó

Dep. Paulo Facó, Tereza Porto, Batista de Lima, da Academia Cearense de Letras, dep. Heitor Férrer e dep. prof. Teodoro

Dep. prof. Teodoro, escritor José Luís Lira, pres. da Academia Sobralense de Estudos e Letras, e professora Norma Soares, pres. da Academia Cearense de Hagiologia

Dep. prof. Teodoro, escritor João Pierre, jornalista Raimundo Ximenes

Dep. Paulo Facó, Ednilo Soárez, Pres. do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico), e Dep. Prof. Teodoro

Dep Paulo Facó, Rejane Costa Barros, Francisco de Lima Freitas (Pres. da Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará), e Dep. Prof. Teodoro

Dep. prof. Teodoro, Audifax Rios e dep. Paulo Facó

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#cariripersonasgratas

O CARIRI QUE REVELAMOS A CASA COR Ceará chegou à sua XV edição, firmando-se no cenário nacional como a mais completa mostra de arquitetura, decoração e paisagismo das Américas. Durante o evento, realizado no mês de novembro, em Fortaleza, os empresários Renato Fernandes e Isabela Bezerra foram

convidados a participar do “Encontro CARIRI Revista: o Cariri que revelamos”. Na ocasião, cerca de 40 participantes ouviram a respeito das publicações da editora 309, do planejamento editorial, das linhas de design gráfico e das estratégias de negócios.Confira algumas fotos. FOTOS: ANDERSON BRAZ

Diva Mercedes, Neuma Figueiredo, Renato Fernandes, Isabela Bezerra, Brenda Rolim

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#cariripersonasgratas

BARÃO DE JUÁ A FortCasa Loteamentos, em parceria com a CVPAR, realizou no dia 18 de outubro um megaevento para lançar seu mais novo empreendimento no mercado imobiliário do Cariri: o condomínio de luxo Barão de Juá. O lançamento do residencial, classificado como padrão classe A, contou com show de Waldonys e da cantora Nayra Costa, reunindo investidores e arquitetos da região. FOTOS: DAVI FARIAS

Bill, Murilo Siqueira, Dr. Antônio Couto, Dr. Ângelo Roncalli e Dep. Arnon Bezerra

Carlos Duilo, Sávio Bezerra e Caio Bianchi

Gestor Comercial Mauro Martins

Dr. Francisco Sampaio e Esposa 66 CARIRI REVISTA

Daniel Bezerra, José Bezerra Neto, Sávio Bezerra, Jarbas Bezerra e Orlando Neto

Karine Studart, Deda Studart e Aragão Neto


Ivana Bezerra, Gaída Bezerra e Tereza Bezerra Celestino

Ivo Alencar e esposa

Marcos Novaes, Regina e Chico Albuino

Waldonys

Johnson Luciano e Patrícia Neri Coelho

Rachedy Bender, vice-prefeito Luiz Ivan, Érico Mota e Gilmar Bender

Renato Fernandes e Isabela Bezerra

Sávio Bezerra, Cláudio Vale e Caio Bianchi i (sócios do Condomínio Barão do Juá)

Sávio Bezerra, Salette Bezerra e Cláudio Vale

staff da Fortcasa

Tânia, Sávio Bezerra e dr. Ivan Bezerra

Corretores da Fortcasa

Vista do Condomínio CARIRI REVISTA 67


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#caririespaçocidades

COMO PODEMOS MUDAR NOSSAS CIDADES? Por Isabela Bezerra

PABLO SCAPINACHIS/ SHUTTERSTOCK

A

s cidades estão cada vez mais sufocadas. Há lixo, congestionamento, falta de segurança, estrutura, educação e menos áreas públicas para apreciar momentos de lazer. E como podemos mudar nossas cidades? Por onde começar? E a quem procurar? Foi na busca por respostas que conheci o TED (sigla em inglês para Tecnologia, Entretenimento e Design), uma organização sem fins lucrativos que promove e estimula ideias que merecem ser espalhadas. O TED realiza conferências no mundo inteiro, onde pensadores e colaboradores são convidados para compartilhar suas experiências. O objetivo é gerar profundas discussões e conexões entre um pequeno grupo de pessoas, de modo que as ações ali apresentadas possam servir, posteriormente, de exemplos e inspirações. As palestras estão disponíveis gratuitamente pela internet através do canal do TED no Youtube. Pessoas como Bill Gates, Bill Clinton, Bono Vox e Regina Casé participam do TED. Em setembro de 2013, o evento aconteceu em São Paulo. Pensadores e inovadores reunidos no TEDx City 2.0 compartilharam ideias inovadoras capazes de transformar o futuro das nossas cidades, através de soluções sustentáveis e ações colaborativas.

A apresentação que mais me entusiasmou foi da Alessandra Orofino, de 24 anos, do Rio de Janeiro. Ela criou uma rede de mobilização na cidade do Rio (Meu Rio), usando tecnologia da informação. Com essa ferramenta é possível criar campanhas para melhoria da cidade, capazes de, por exemplo, impedir a destruição de uma das escolas públicas mais importantes do Rio (no local seria construído um estacionamento para a Copa do Mundo de 2014); até conectar qualquer cidadão com o prefeito ou secretário da cidade. A mensagem mais importante foi de que as pessoas envolvidas com a cidade, através de ações participativas, são os responsáveis pela melhoria desse espaço comum.

Outra experiência marcante foi contada pela jornalista Fabíola Cidral, âncora do programa da CBN São Paulo. Durante o trabalho voluntário que fazia no Japão, após o terremoto e tsunami de 2011, a jornalista entendeu que a força de mobilização das pessoas é capaz de gerar mudanças. O resgate da autoestima de cada cidadão é uma parte fundamental para o processo de melhoria da cidade. Conexão, inovação e cultura são elementos capazes de gerar mudanças. Entender que a cidade é um espaço comum e nos pertence é o primeiro passo para construção de uma relação orgânica entre os cidadãos e a cidade. E a única esperança é que cada um deve fazer sua parte. Porém, teremos mais força se existir uma mobilização das pessoas no sentido da mudança urgente e imprescindível. CARIRI REVISTA 69


#caririintervençõesvisuais

GÊNESIS Por Rafael Vilarouca e Rohh Ferr

die

Agora se vá, outros virão 70 CARIRI REVISTA


CARIRI REVISTA 71


#caririgastronomia

REGISTRO DE BENS CULTURAIS DE NATUREZA IMATERIAL Por Sérgio Pires [Sommelier, ex-funcionário do Banco do Brasil, praticante de karatê, diretor responsável pela comunicação da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-DF), e professor em seus cursos]

H

oje estão sob a proteção do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, 27 bens registrados como Patrimônio Cultural do Brasil, de natureza imaterial. Os bens são agrupados por categoria e registrados em livros, classificados em: saberes e fazeres; celebrações; lugares; e, das formas de expressão e práticas. A LEI estadual Nº 13.427, de 30.12.03, instituiu as Formas de Registros de Bens Culturais de Natureza Imaterial ou Intangível que constituem Patrimônio Cultural do Ceará, seguindo o critério adotado pelo IPHAN. No Livro de Registro dos Saberes são inscritos os conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades. Pelo que pude apurar o Livro dos Saberes da Secretaria de Cultura do Ceará ainda não foi inaugurado. Já no livro do IPHAN constam oito saberes, sendo dois referentes à culinária, tema deste nosso espaço. O Ofício das Baianas de Acarajé e o Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas nas Regiões do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre.

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Portanto a comida também é um patrimônio Cultural. Segundo Ana Cláudia Lima e Alves, que foi Especialista em Preservação Cultural do IPHAN e hoje participa da Organização Internacional SLOW FOOD, que promove a educação do gosto e defende a biodiversidade, “a comida é um dos elementos formadores das identidades culturais das sociedades”. Não me atreveria a elencar os conhecimentos e práticas culinárias que são um traço marcante da identidade cultural do Cariri. Práticas que são marcadas pela influência de todas as principais culturas da formação nacional, a indígena, a européia e a negra. Mas, mesmo de longe, logo penso no baião de dois e na buchada de bode. Na carneirada. Nas casas de farinha. Na rapadura e no bolo pé-de-moleque. Então, fica aqui, modestamente, lançado o desafio, vamos, a partir do Cariri, inaugurar este Livro de Registro dos Saberes da Secretaria da Cultura do Ceará. O que não falta são conhecimentos e modos de fazer.

MITRIDATISMO OU A SÍNDROME DO SAPO Conta a lenda que o rei do Ponto, na Anatólia, Mitrídates VI (132 A.C – 63 A.C.), grande inimigo de Roma, com receio de ser envenenado por seus inimigos, foi ingerindo doses progressivamente crescentes de substâncias tóxicas e assim terminou por adquirir imunidade a doses mortais de todos os venenos. Esta prática passou a ser conhecida, em sua homenagem, como mitridatismo. É do folclore nacional que se você colocar um sapo dentro de uma panela com água quente ele pulará fora, mas se for colocado em água fria e, com o fogo, ir aumentando vagarosamente a temperatura, o sapo irá ajustando a temperatura do seu corpo e não perceberá nada até estar quase morrendo na água fervente. Vindo para a nossa realidade poderíamos concluir que o ser humano tem a triste capacidade de se acostumar até com o que é ruim. Já conheci pessoas que acostumadas com o “vinho de colono”, rascante e agressi-


vo, elaborado principalmente com a uva Isabel, estranharam o gosto de um vinho bom. O paladar viciado nos tintos com tudo muito, muito álcool, muita fruta, muito corpo e muita nota alta dos “especialistas”, não conseguirá apreciar um leve Borgonha em sua plenitude. O achará fraco. Não conseguirá gostar de um rosé e nem chegará perto dos vinhos brancos. As principais marcas de cerveja nacionais oferecem um produto de baixa/média qualidade, que para serem consumidas precisam estar “estupidamente geladas” entorpecendo as papilas gustativas. Agora com a chegada das cervejas “gourmet” no merca-

do nacional ocorre o estranho fenômeno de termos de aprender a gostar do que é bom. Então para não se acostumar com o que é ruim e não ficar com o paladar viciado em apenas um tipo de gosto, a solução é experimentar, degustar, se arriscar, numa educação do paladar. Não fuja do amargo, do ácido, do doce, todos tem sua hora e sua vez. O gosto único certamente se voltará contra você, assim como foi com Mitrídates, que, conforme a lenda, após ser derrotado por Pompeu, tentou o suicídio por envenenamento, sem efeito devido a sua imunidade. Teria, então, forçado um de seus servos a matá-lo à espada. THIAGO VENTURA

CARTAS DE CACHAÇA E DE ÁGUA MINERAL NOS RESTAURANTES “Quando o Brasil criar juízo e se tornar uma potência mundial, será a cachaça, e não o whisky, a bebida do planeta.” Sobral Pinto (jurista, 1893 – 1991) Aproveito para divulgar o documentário “Sobral — O homem que não tinha preço”, dirigido por sua neta Paula Fiuza. “Hoje é dia de vinho e mulheres, alegria e risadas. Véspera de sermões e muita água mineral.” LORD BYRON (Poeta inglês - 1788-1824) Hoje já é um ato natural solicitar a carta de vinhos nos restaurantes brasileiros, mas temos de ir além, como, por exemplo, com as cervejas gourmet, tema tão amplo que tratarei em outra ocasião, mas não se pode mais aceitar a ausência das cachaças e de diferentes águas minerais nas cartas de bebidas dos bons restaurantes. E assim vem surgindo os especialistas, o sommelier de águas e o cachacista ou cachacier, que são os sommelier da cachaça. O Cachacier, Maurício Maia, consultor na elaboração da carta de cachaças de diversos restaurantes acredita que “felizmente a maioria dos restaurantes já se conscientizaram da necessidade de terem cachaças em seu bar, porém são poucos que fazem isso de uma forma pensada e profissional com uma carta de cachaças. As cartas são necessárias para orientar o consumidor. Independentemente se sua carta terá 5 ou 400 marcas de cachaça, ela é necessária.” A carta das cachaças deve procurar oferecer qualidade e diversidade, após o nome, deve indicar a cidade e estado de origem, se é branca ou o tempo e a madeira utilizada no envelhecimento (carvalho, amburana, araucária, castanheira-do-pará, cedro, louro-freijó, bálsamo, vinhático, araribá, jequitibá e peroba-do-campo). Se são saborizadas ou acrescidas de qualquer outro elemento. CARIRI REVISTA 73


Ainda, segundo Maurício Maia, a carta 2. Não pode ter pedras de gelo – o gelo, Agora, para ficar com água na boca, vamesmo feito com água mineral, pode mos ver na tabela algumas harmonizações de cachaças se torna uma necessidade, não ser de uma água mineral idêntica dos alimentos e bebidas com a água. uma vez que “hoje temos produção de cachaça nos 4 cantos do país, somado a isso a que está sendo degustada; são mais de 36 espécies de madeira utili- 3. A água mineral deverá ser servida em VINHOS PARA O VERÃO temperatura mais elevada do que a Texto elaborado em parceria com o zadas nos tonéis para envelhecer a bebida, bebida que está sendo degustada. A Sommelier Tiago Pereira da Silva. somando-se a outras 3 ou 4 variáveis que temperatura ideal de serviço é de 20 fazem com que as cerca de 4.000 marcas Como cantaria a Marina Lima, Vem disponíveis (segundo o IBRAC) sejam bem a 25º C; chegando o verão / O calor no coração. Mas diferentes umas das outras, é de extrema 4. O gelo ideal para ser usado em coque- não é calor só no coração, é no corpo inteiro. importância passar informações para que téis é obtido com uma água mineral Dias e noites de mormaço e temperaturas o cliente tenha uma boa escolha”. com baixos teores minerais. fora do sério e quando falamos de bebidas O serviço da cachaça segue, em parte, o mesmo ritual do vinho, o garçom deve mostrar o rótulo da garrafa para o cliente HARMONIZAÇÃO que a solicitou e servir com o rótulo voltado para os clientes, sempre pela direita. A taça ALIMENTOS/BEBIDAS ÁGUA ou copinho devem ser cheios, sabemos Alimentação mais leve que a dose varia conforme o humor ou a Cachaça com teor baixo de minerais, sem gás e que generosidade do garçom, mas ao menos seja leve e neutra um 40 ml devem ser servidos. Carne vermelha mais robusta que tenha uma concentração A temperatura recomendada é de 20°C. alta de minerais Gelada, perdemos muito das suas caracteChampagne, em leves e sem gás rísticas sensoriais. especial os Vintages No antigo ensino primário aprendíamos leves, com pouca mineralidade e salinidade que a água era incolor, insípida e inodora. Comidas leves com ou sem gás Hoje a encontramos com aromas e até sa- Espumantes que tenha uma concentração média de sais bores. É certo que a água é inerte e possui Massas e pizzas minerais e baixa de gás poucas características organolépticas, mas existem muitas e com características diversas. peixe ou um sushi neutra e suave A água é sempre um ótimo acompa- peixes delicados leves, com pouca mineralidade e salinidade nhamento para qualquer bebida ou refeição. prato fino com teor baixo de minerais, que seja leve e neutra Mas o gás e os sais minerais influenciam Pratos com ácidas e com boa efervescência o paladar e podem interferir no sabor da tendência gordurosa comida ou da bebida que a acompanha. leves, com pouca mineralidade e salinidade Daí termos de saber quando harmonizar o Saladas com concentração baixa de sais minerais pouco gás. tipo de água, das mais leves as mais pesa- Vinho com maior acidez As duas substâncias intensificam a acidez do vinho. das, das menos salgadas até as com mais Vinho do Porto com gás sais minerais, e, das sem gás até as bem Vinhos de sobremesa com gás gaseificadas. A água altera a impressão que temos da Vinhos gaseificada bebida, melhorando a percepção do vinho, rosés mais intensos dá mais frescor ao palato e revela texturas. Vinhos rosés suaves, sem gás A água com gás interfere mais no paladar, Vinhos tintos com pouco gás ou mesmo sem mas limpa melhor. Vinhos tintos de boa Leves e sem gás A Associação Brasileira de Sommeliers e grande estirpe recomenda os seguintes cuidados no serviVinhos tintos encorpados com gás e mineralidade, ambos ço das águas minerais: potencializam os taninos 1. Não pode conter limão – vai descaracVinhos tintos jovens com pouca mineralidade, leve com pouco gás terizar a água; 74 CARIRI REVISTA


ANITA PEPPERS

logo vem aquele célere garçom e trás aquela cerveja bem gelada ou um chopp trincando. E é ótimo. Mas não podemos nos esquecer de uma renomada bebida, o vinho. Neste momento alguém perguntaria, Vinho numa hora desta? Vinho não é para o frio? E eu respondo: Vinho sim! Vinho para combater o calor. O vinho é uma bebida nobre, com milênios de história e, como já sabemos, se reveste de vários estilos, temos espumantes, brancos, rosés, tintos, fortificados e, em cada segmento, diversas variedades, sendo que poderemos aproveitar todos os estilos para o verão, porém, não todas as variedades. Ai vai a primeira dica! Você pode optar pelo espumante branco, rosé ou se estiver com muito, mas muito calor mesmo, um champagne. Se for de sua preferência, até um frisante bem geladinho vai bem. O importante é ter uma ótima acidez, que traz o frescor e uma longa perlage (bolhas) que limpa as papilas gustativas, lembrando estrelas explodindo no céu da boca.

O vinho branco, preferencialmente secos, Vinhos jovens, com menor teor de tanino, priorizando as castas que tenham como pouco corpo e teor alcoólico até 12%, que característica uma acidez fresca, com devem ser servidos a 15ºC. corpo de médio a leve, como exemplo um Os vinhos de sobremesas devem ser servidos vinho verde ou Frascati. bem gelados, e os vinhos fortificados, como Os rosés, vinhos tão discriminados no o Porto e o Madeira, que tem características Brasil e febre na Europa, onde são a ten- diferentes, podem ficar pesados no calor. dência no verão, não podem ficar de fora. Os coquetéis com espumantes, como a Com uma coloração intermediária entre o Mimosa, com suco de laranja, ou o Bellini, branco e o tinto, com ótimo aroma frutado, com suco de pêssego, que são muito releves taninos e uma boa acidez. frescantes. Outra sugestão é a Sangria, de Lembrando que há dois estilos principais origem espanhola, que pode ser preparade rosés, os “vins de soif”, ou seja os da com qualquer estilo de vinho acrescenvinhos para saciar a sede, que são leves, tado de frutas, gelo e um pouco de açúcar. vivos e refrescantes. Já no outro extremo, Todos são bastante adequados ao nosso os rosés gastronômicos ou gourmet, com verão tropical. mais corpo e estrutura. Os primeiros são mais adequados para combater o calor. Fica mais uma dica, experimente os rosés de Provence, França, um casamento perfeito com o verão. Já os tintos, apenas os bem leves, como os elaborados com a uva gammay, o itaPerguntas, sugestões, dúvidas? liano Valpolicella simples ou um Pinot Noir. Escreva para: sergiosvp@yahoo.com.br CARIRI REVISTA 75


#caririespecial

A flor do Maracatu Por Maria Luciana Bezerra da Silva

Maria Luciana Bezerra da Silva é de Santa Cruz do Capibaribe, situada no Agreste de Pernambuco. Graduada em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, especialista em Fotografia e Imagem pela Sociedade Recifense de Ciências Humanas - SORECH e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local - POSMEX da UFRPE. Começou a fotografar ainda na infância, para preencher um incomodo vazio de não ter álbum de família, e desde então tem verdadeiro fascínio pelas imagens fotográficas, especialmente a linguagem documental.

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