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Realização:
quinta-feira | 27 de agosto de 2009 | Ano 2 | nº 07
O amor e a poesia nas linhas de Roland Barthes será apresentado em "Enamorados – A Demanda do Amor" |Por Barbara Esteves
Cena do espetáculo Enamorados - A Demanda do Amor, que será apresentado hoje no Espaço Cultural
Fotos: Divulgação
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Aldeia SESC Guerreiro das Alagoas traz aos palcos do Teatro SESC Jofre Soares o espetáculo Enamorados – A Demanda do Amor. O trabalho cênico é resultado da conclusão de mais uma turma do Curso Regular de Teatro do SESC de Santo Amaro, em Pernambuco.
O espetáculo está inserido no Mini-curso "Diálogos entre Literatura e Cena", ministrado pelo jornalista cultural e escritor José Castello. O Marcos Filipe Sousa enredo propõe uma visita ao vasto e aterrorizante território amoroso. A direção é compartilhada entre Galiana Brasil, coordenadora pedagógica do Curso Regular de Teatro e Marcus Rodrigues. O cenário e o figurino são de Marcondes Lima. A peça foi inspirado nas figuras concebidas pelas escrituras do filósofo francês Roland Barthes, publicadas em um de seus livros “Fragmentos de um discurso amoroso”. De forma poética os mais variados estados do amor, pouco a pouco, vão sendo desvendados. Entre recortes de poemas, textos e trechos de obras de vários autores, os personagens vão tecendo um verdadeiro bordado sobre relacionamentos amorosos. Acompanharão esses sentimentos, citações de Baudelaire, Raduan Nassar, Tchecov e Álvaro de Campos, entre outros autores, além de textos da própria diretora Galiana Brasil. A trilha sonora foi criada especialmente para o espetáculo e é executada ao vivo por Sônia Guimarães, com instrumentos ancestrais como o didgeridoo, instrumento australiano. No elenco: Alex Brito, Bruno Britto, Cacau Maciel, Danilo D'Tácito, Eddie Monteiro, Gustavo Soares, Isis Monteiro, Gilblênio Saadh, João Compasso, Lara Valentina, Luciana Barros, Kézia Mayara, Vera Paredes. Outros momentos do espetáculo Enamorados - A Demanda do Amor:
Ainda nesta edição:
Oficina de Voz para atores
Ontem foi noite de Insônia
O teatro nos anos 80, 90, 00
Entrevista com Kleber Lourenço
entrevista Fábio Lira
Kleber Lourenço fala sobre como trabalha a literatura e as artes cênicas
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leber Lourenço faz de tudo um pouco, mas o que faz de melhor mesmo está ligado às artes cênicas. Vindo de Pernambuco, Kleber se apresenta hoje e amanhã com os solos Negro de Estimação e Jandira, respectivamente. Em entrevista ao Rodapé, ele comentou sobre seu trabalho de diálogo entre artes cênicas e literatura e sobre a sensualidade de seus trabalhos.
|Por Renato Medeiros
Rodapé: Uma das propostas da IV edição da Aldeia SESC é o diálogo entre linguagens. Negro de Estimação dialoga com a dança e a literatura. Como surgiu a ideia de fazer essas duas linguagens dialogarem no seu trabalho? Tem dado resultados positivos para você? De que forma? Kleber Lourenço: O espetáculo dialoga não só com a dança e a literatura, mas com o teatro e princípios da performance, também. A proposta é continuação do meu trabalho de pesquisa cênica, por ter estas duas formações: o teatro e a dança. A literatura veio por uma paixão pessoal e por achar nela príncipios dramatúrgicos e imagéticos que estimulam minha criação. Negro de Estimação é continuação de uma pesquisa que começou no solo Para meu silêncio, baseado na obra de Hilda Hilst e Jandira, baseado em poema de Murilo Mendes. Os resultados são positivos demais, onde me faz perceber cada vez mais os limites do meu corpo e das linguagens estéticas. R: Seus espetáculos têm certa dose de sensualidade. Pode-se considerar a sensualidade como um de seus temas prediletos? Quais são outros temas que te interessam? KL: Sou uma apaixonado pelo poder de disponibilidade e entrega do intérprete. Pelo corpo que se transforma, que constrói e desconstrói, que provoca. Pela possibilidade de desnudamento. Persigo isso como intérprete em qualquer que seja a encenação. No caso do meu trabalho, a sensualidade é consequência dos temas que exploro: negritude, arquétipo feminino, a maneira como uso a nudez. Mas o foco está no corpo como discurso e o erotismo quando existe é dramaturgia. R: Negro de Estimação e Jandira, que
será apresentado na sexta-feira, de que forma se assemelham? Apenas por dialogar com dança e literatura, ou há mais semelhanças? KL: Como disse, são pesquisas que se completam. Uma é consequência da outra. Se assemelham na estrutura, na escolha da literatura, no teatro, na dança, na performance. Porém a diferença entre elas está no como elas se apresentam esteticamente. Existem particularidades em cada uma que foram exploradas num crescente de descobertas. Uma tem mais texto, outra menos, uma tem menos movimento, outra mais, na utilização do espaço, da voz, dos elementos cênicos, no texto: um é poema o outro é conto e assim vai. R: Você pretende seguir a linha da dança/literatura nos projetos futuros? Quais são seus projetos futuros? Já tem uma previsão? KL: As pesquisas que realizo como intérprete-criador são bem específicas neste formato de solos, por conta da minha formação dupla. Mas faço outros trabalhos como ator e diretor em teatro, como bailarino e coreógrafo com outros artistas etc. Atualmente tenho começado a atuar em cinema e tenho buscado estudar muito sobre esta linguagem. No grupo que participo, o Visível Núcleo de Criação, estamos em montagem do novo espetáculo, chama-se Daquilo que move o mundo, está sendo dirigido pelo paulista Francisco Medeiros, e estou como ator e pesquisando material pra um novo solo em que divido a criação com Jorge Alencar do grupo Dimenti da Bahia. Mas em todos estes projetos tento unir a formação da dança e do teatro. R: Você já veio em Maceió algumas vezes. Como você vê a cena da dança
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e da performance aqui em Maceió? Em suas visitas, já deu para ter uma visão geral? KL: Venho pouco a Maceió, estamos nos aproximando agora. Agora que venho conhecendo a cena produzida aqui. Estamos bem próximos e ao mesmo tempo distantes. Conheço poucos trabalhos, então não poderia falar sobre uma cena da dança e da performance local. Seria arriscado. Mas conheço ótimos profissionais que vejo desenvolvendo bons trabalhos. R:Você já morou em Maceió. Como foi a experiência? Há resquícios da vivência em Maceió no seu trabalho? KL: Morei em Maceió no início da adolescência durante pouco tempo, mas morei em Arapiraca quase toda minha infância.Tenho sangue alagoano também. Foi em Alagoas que eu conheci o mar que sou apaixonado e com certeza carrego nos meus trabalhos, a relação com a água. Também estudei Graciliano Ramos no início dessa pesquisa, queria adaptar o livro Infância, exatamente pra falar dessa lembrança entre Alagoas e Pernambuco. Bom, quem sabe um projeto futuro.
enquete: Como você ficou sabendo da Aldeia SESC Guerreiro das Aalgoas? A pergunta foi feita ontem, 26/08, antes da apresentação do monólogo Insônia, da Cia. Teatro da Meia-Noitec. Entre as respostas obtivemos os seguintes resultados: Amigos - 40% Internet - 17% Jornal - 11% SESC - 31% Sabendo do que? - 1%
seu jofre falou
na boca de mateu*
A insônia enquanto estado de alerta da alma |Por Renato Medeiros Renato Medeiros
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ntem foi noite de Insônia. Ou melhor, foi a noite em que a Cia. da Meia-Noite apresentou o monólogo Insônia, baseado no conto homônimo de Graciliano Ramos. Entretanto, a noite foi sim de insônia. Levando em consideração o que os debatedores discutiram após o espetáculo, ficou a idéia de insônia como um estado de alerta da alma, de consciência súbita, em que o ser humano sai do automático e passa a prestar atenção na própria existência. Situação que provoca agonia a este ser humano. Portanto, o Teatro Jofre Soares estava ontem insone, mas essa insônia de claridade, de luz, de ideia, de consciência. Sobretudo de consciência. A apresentação do monólogo Insônia inaugurou uma nova etapa desta Aldeia SESC. Afinal, o espetáculo também serve como uma das bases para o mini-curso Diálogos entre Literatura e Cena, ministrado pelo escritor e jornalista José Castello. O mini-curso pretende observar a adaptação de três textos literários para os palcos. Além de Insônia, serão investigados também os trabalhos de Roland Barthes (na peça Enamorados - A Demanda do Amor) e Marcelino Freire (no solo Negro de Estimação). Castello enriqueceu o debate que já vem sendo promovido pelo trio de especialistas desde o primeiro dia do Aldeia 2009. Focou sua fala na questão do texto e de como a adaptação soube manter certa voz literária no palco. Opinião que foi, de certa forma, comentada pelos demais debatedores, que consideraram que o texto poderia ter se despregado mais da literatura. A opção seria realizar um trabalho dramatúrgico com o conto de Graciliano Ramos a ponto de tornar as ações do palco necessárias para o espetáculo. Djalma Thürler chegou a comentar que o monólogo seria perfeitamente entendido se o expectador se virasse de costas e apenas ouvisse o que Marcos Vanderlei interpreta em cena. Aliás, destaque para a atuação de Marcos Vanderlei. Parabéns.
Como você define a Aldeia SESC Guerreiro das Alagoas? Fotos: Jacqueline Pinto
É o encontro das linguagens artísticas que acontecem de maneira prática facilitando o acesso do público a essas linguagens de forma democrática. Alice Barros artista plástica
No meu ponto de vista o projeto Aldeia ainda está em processo de maturação. Refiro-me ao trabalho de fomentação de público. Tem uma semana de Aldeia e falta público representativo. A Aldeia é uma mostra do que seria o teatro produzido em Alagoas, mesmo com essa lacuna da formação de platéia. Robertson Costa diretor presidente da cia. da meia-noite É a possibilidade que todas as pessoas que estão tem de poder participar e compartilhar experiências, sejam elas cênicas, musicais, estéticas, literárias, visuais. Então nesses dias que acontecem a Aldeia significa a grande possibilidade de celebração da arte. Jamilla de Paula pesquisadora de direitos autorais *Mateu (ou Mateus) é o cara pintada que anuncia as boas novas no Guerreiro.
SESC realiza curso de preparação vocal para atores |Por Barbara Esteves
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uem canta também precisa comunicar-se de forma falada durante as apresentações, e por isso, o cantor não deve ignorar os cuidados com a voz. Profissionais como atores e atrizes também devem ter essa preocupação.
Pensando nisso, a Aldeia SESC Guerreiro das Alagoas realizou um curso de preparação vocal para atores. A atividade foi ministrada por Janeo Amorim, professor de música, e Júlio César da Silva, Técnico de Música do SESC. Durante três dias, os participantes passaram por treinamentos sobre a higiene vocal, abordando, também, os principais cuidados que devem tomados com a qualidade da voz. Segundo Júlio César, além o evento também contou com um bate-papo sobre a legislação que trata da proteção aos profissionais que utilizam a voz. O encontro aconteceu na Musicoteca do SESC Centro e abordou tanto a parte teórica quanto a parte prática, com exercícios de alongamento, aquecimento e tonalidade da voz. Na etapa final da atividade aconteceu o ensaio de duas músicas com o acompanhamento do preparador vocal Janeo Amorim. Hoje, às 11h, também na Musicoteca acontece uma apresentação especial dos atores que participaram da oficina. No repertório as músicas Sorri, versão da música Smile, interpretada por Djavan e Meu03 plano do cantor pernambucano Lenine.
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e tenho dito! Teatro de Grupo: 80, 90, 2000... |Por Guilherme Ramos*
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omecei a fazer “teatro de grupo” em meados de 1980. De lá pra cá, o cenário mudou muito. Tenho a impressão de que minha geração era mais “prática” que “teórica”. Não vivenciei o uso direto da teoria teatral – como é tão comum hoje, sobretudo nos grupos mais recentes (a partir de 2000). Os artistas cênicos da época ensaiavam e, durante o processo, poucos criavam caso com correntes estilísticas, pensadores e/ou pesquisadores teatrais. Havia “mão na massa”. Trabalho duro. Depois, algumas das ações eram esmiuçadas e éramos apresentados a alguma referência. Falava-se, por exemplo: “o fato de você usar uma lembrança triste para chorar, é uma técnica do Stanislavski. Quer saber mais? Leia.” Era assim. Mas esse é o “meu” ponto de vista. De alguém que estava começando a conhecer o teatro e suas técnicas – um mero... neófito. Vejo as linguagens artísticas cada vez mais interligadas, com conceitos e argumentos convincentes. Teatro, dança, literatura, vídeo, música, artes visuais... Enfim: um sem-número de experimentos cada vez mais ousados. Isso mostra – na minha opinião – uma oposição (sem qualquer caráter pejorativo) à geração teatral de 80/90. Repito. Aparentemente, havia muita “prática” e pouca “teoria”. Hoje, os papéis se invertem. Há “teoria” em quase tudo. Só me preocupa o bom uso da “prática”. Meu receio é o resultado ser muito “conceitual”, muito “cabeça” e não se atingir o público a quem se destina a proposta. Às vezes, penso que algumas propostas querem justamente isso! Vá entender!
À época, os nomes eram Pedro Onofre, Mauro Braga, Alberto do Carmo, Lael Correa etc. Agora, as gerações pósLael (Julien Costa, Marcos Wanderlei, Nilton Resende, Fátima Farias), pós-Alberto (eu, Regis de Souza, Diva Gonçalves), pós-Mauro Braga (Paulo Sarmento, Naéliton Santos) entre outros, estão aí, na luta. Cada um do seu jeito. Confio na nova geração, muitos vindos do Curso de Teatro - Licenciatura/UFAL (que chegou a ser extinto na década de 90). A turminha que ainda não é “Balzaquiana” tem muito o que mostrar. E terão tempo. Porque alguns que têm talento reconhecido estão saindo ou já saíram do Estado. Vão estudar nos grandes centros. Não estão errados. O problema é que não voltam a Alagoas. E, quando voltam, enfrentam dificuldades ideológicas. Não seguem com a vida acadêmica. Frustram-se? Talvez. Os demais, assim como eu, continuam a fazer um trabalho de formiguinha (não cito nomes, porque o “formigueiro” é grande!) para o teatro alagoano não parar. Enfim, para o mestre “Aurélio”, GRUPO é uma “pequena associação ou reunião de pessoas ligadas para um fim comum”. Bem, é o que espero de nossos grupos (teatrais). Do contrário, nada do que fazemos por aqui terá sentido. Evoé, Baco! *É dramaturgo e Coordenador Artístico-Cultural do SESC/AL.
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Fotos Renato Medeiros
Coordenador ArtísticoCultural: Guilherme Ramos Técnico de Teatro: Thiago Sampaio Técnico Assistente: Fabrício Alex Barros Estagiária de Teatro: Joelle Malta Informativo produzido pelo Serviço Planejamento Gráfico e Social do Comércio de Alagoas - Diagramação: Renato Medeiros SESC para o projeto Aldeia SESC Textos: Guerreiro das Alagoas 2009 Barbara Esteves MTE 1081/AL Fabrício Alex Barros Jacqueline Pinto O s t e x t o s a s s i n a d o s s ã o d e Joelle Malta responsabilidade dos autores e não Maryana Hayko refletem, necessariamente, a opinião do Renato Medeiros SESC Alagoas. Thiago Sampaio
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O que vai rolar amanhã? Mini-curso “Diálogos entre Literatura e Cena” com José Castello (PR). Das 9h às 13h. No Café e Livraria Livro Lido. Rua Sá e Albuquerque, 390, Jaraguá. Inscrição: 1kg de alimento, no SESC Centro. Mostra de Cinema “As Cores na tela: Picasso no Cinema”. Às 12h, no SESC Centro. Entrada franca. Espetáculo Metafaces, Cia. Cultuarte. Às19h30, no Teatro Jofre Soares, no SESC Centro. Entrada: R$ 2 + 1kg de alimento ou R$ 4. Mais informações: 3326.3133
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