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Jornal Santuário de Aparecida • 9 DE fevereiro DE 2014
Se liga aí
TECNOLOGIA | USAR PERFIL FALSO NAS REDES SOCIAIS E OCULTAR NÚMERO DO CELULAR SÃO PRÁTICAS COMUNS, MAS ILEGAIS
Reprodução
Anonimato na internet pode esconder insegurança
Uso do anonimato na internet é mais comum do que se imagina, mas pode esconder problemas como insegurança, medo e estimular a vingança
deniele.jornal@editorasantuario.com.br
A internet é uma ferramenta poderosa na comunicação, que possibilita grande interação e acesso à informação, mas pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal. Um dos recursos que facilitam seu uso por pessoas mal-intencionadas é o anonimato. De acordo com o especialista em redes sociais, marketing digital e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing, Alexandre Marquesi, o anonimato existe, mas é impossível manter-se anônimo nas redes sociais. Por isso, um dos recursos usados para praticar ações mal-intencionadas nesses meios é a criação de perfis falsos. “Infelizmente, os usuários acreditam que vão permanecer anônimos e, por isso, fazem o que querem”, ressalta. Porém, o “falso anônimo” pode causar problemas sérios a outras pessoas e acabar sendo descoberto. É o caso de Francisco Fernando Cruz, de 22 anos, que no começo do ano enviou e-mails sobre supostas ameaças de bomba em um voo da TAM Linhas Aéreas. As mensagens foram enviadas de um computador de uma faculdade e também do apartamento onde o jovem morava, em Montclair, New Jersey (EUA). Ele acabou preso pelas falsas ameaças.
De acordo com a psicóloga Gisele Meter, o anonimato isenta a responsabilidade de qualquer pessoa e, por isso, faz com que o “anônimo” deixe transparecer aspectos que normalmente não seriam expostos em determinadas situações, como nos casos de vingança, por exemplo. Reprodução
Deniele Simões
No fim do ano passado o aplicativo Lulu virou “febre” entre as garotas, que podiam dar notas e fazer comentários sobre o desempenho de amigos no Facebook. Para Gisele, o Lulu caiu no gosto delas pelo frissom que causou. Na época, muitas garotas aproveitaram para se vingar de ex-namorados ou ex-ficantes, fazendo comentários maldosos sobre o caráter ou a performance desses rapazes, sem precisar se identificar. Gisele acredita que poucas mulheres declaram abertamente ser vingativas ou que poderiam fazer retaliações contra um homem. “A mulher ainda se preocupa muito em agradar, e ser vista como vingativa pode ser algo negativo para ela”, pontua. Por isso o Lulu causou tanto frissom. Afinal, através do anonimato, elas sentiam-se protegidas para agir de forma mais aberta, uma vez que tinham certeza de que não seriam descobertas. Como muitos homens sentiram-se ofendidos e até moveram ações na justiça por calúnia e difamação, o Lulu retirou o recurso do anonimato e as avaliadoras passaram a ser identificadas. Outra mudança é que, agora, para ser avaliado, o garoto precisa conceder autorização.
Prática perigosa
Febre do aplicativo Lulu levou muitos homens a entrar na justiça contra “avaliadoras”
A psicóloga adverte que o perigo do anonimato reside na falsa sensação de que a pessoa pode fazer o que quiser. “Quando a mulher acredita que tem o direito de agir da forma que deseja no quesito julgamento de outras pessoas, tende a ver as coisas por apenas uma perspectiva, que é a dela mesma”, explica. Segundo a psicóloga, isso pode ser muito perigoso porque, quando se julga alguém com base apenas no que se acredita, quem está julgando tende a ser pernicioso com o outro. Esconder o número do celular para enviar torpedos ou fazer ligações também é uma prática bastante comum, em função do anonimato. De acordo com Marquesi, o recurso geralmente é usado quando pessoas mal-intencionadas querem fazer piadas de mau gosto ou bandidos – na maioria das vezes presidiários – passam trotes para enganar pessoas de bem e
tentar extorsão contra elas. Para a psicóloga, quem usa o recurso do anonimato no celular assume um comportamento baseado no medo. “É uma guerra interior em que a pessoa se sente no direito de falar o que quer, mas ao mesmo tempo tem medo de ser descoberta e cobrada por tal comportamento, tendo que assumir a responsabilidade e explicar o porquê de ter agido daquela maneira”, diz. Segundo o especialista em redes sociais, isso é comum porque, na maior parte dos casos, quem recebe a mensagem não denuncia. Marquesi garante, porém, que é possível descobrir de onde partiu a ligação ou a mensagem. Tanto nos casos de ligações e torpedos anônimos como de falsos perfis nas redes sociais, é possível recorrer à justiça para descobrir os farsantes. Só que as leis de internet ainda são muito genéricas e raramente aplicadas no Brasil. “A melhor sugestão é saber quem está vendo seus dados e controlar o que você informa pelos sites de relacionamento, e-commerce etc.”, orienta.
Modinhas virtuais e alienação Ao avaliar o fenômeno do Lulu, que agora tem uma versão masculina, chamada Clube do Bolinha, Gisele Meter considera que aplicativos do gênero podem contribuir para a baixa autoestima, tanto de quem é avaliado como de quem avalia. “Se, de um lado, não há reflexão do comportamento agressivo, de outro, pode levar a pessoa avaliada a acreditar que é vista daquela forma por todos”, justifica. A psicóloga acredita que a adesão às modinhas virtuais pode também contribuir para que as pessoas fiquem alienadas, na medida em que não questionam se aquilo que é oferecido é bacana ou não. Segundo Gisele, é preciso parar e pensar sobre esse tipo de comportamento. “É preciso avaliar a si mesmo e ver se aquilo condiz com a pessoa que você realmente é ou se está se deixando levar pela moda e por seus próprios sentimentos”, completa. No mundo das avaliações virtuais, ela alerta que a premissa fundamental é não fazer aos outros o que não gostaria que fizessem com você mesmo.