Avaliação da suscetibilidade á pigmentação de ligaduras elásticas ortodônticas

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artigo inédito

Avaliação da suscetibilidade à pigmentação de ligaduras elásticas ortodônticas Janine Soares Cavalcante1, Marcelo de Castellucci e Barbosa2, Marcio Costa Sobral2

Objetivo: avaliar alterações da pigmentação de ligaduras elásticas estéticas após imersão em solução de pigmentação. Métodos: Sessenta ligaduras foram selecionadas e divididas em doze grupos de acordo com a marca comercial utilizada e nas condições normal e distendida. Os grupos foram divididos em: Morelli transparente, TP Orthodontics transparente, American Orthodontics transparente, Unitek/3M transparente, American Orthodontics pérola e Unitek/3M pérola, separados quanto à condição normal e distendida, totalizando 5 ligaduras em cada condição. A avaliação das mudanças de coloração foi realizada por meio de fotografia digital e análise computadorizada usando o programa Adobe Photoshop. Foram realizadas fotografias digitais padronizadas nos tempos T0 – antes do processo de pigmentação, com as ligaduras em estado normal; e T1 – após o processo de pigmentação, que durou cinco dias. A solução de pigmentação utilizada foi composta por saliva artificial e por alimentos que possuem potencial de coloração. No tempo T1, as ligaduras se encontravam em estado distendido e em estado normal (sem distensão). Resultado: os resultados do presente estudo demonstraram que ligaduras elásticas estéticas são suscetíveis à pigmentação. Dentre as marcas comerciais avaliadas a TP Orthodontics e American Orthodontics transparente foram as mais estáveis. Já a Unitek/3M pérola demonstrou alterações estatisticamente significativas em todas as variáveis avaliadas. Conclusão: ligaduras elásticas estéticas são suscetíveis à pigmentação, não havendo diferença estatisticamente significativa entre o estado normal e o estado distendido, com exceção na marca TP Orthodontics. A marca Unitek/3M pérola demonstrou ser a que apresenta maior potencial para pigmentação. Palavras-chave: Estética. Pigmentação. Fotografia. Ligadura.

Como citar este artigo: Cavalcante JS, Castelluci e Barbosa M, Sobral MC. Evalu-

Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial, UFBA. 2 Professor, curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial, UFBA. 1

ation of the susceptibility to pigmentation of orthodontic esthetic elastomeric ligatures. Dental Press J Orthod. 2013 Mar-Apr;18(2):20.e1-8.

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

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Enviado em: 11 de agosto de 2009 - Revisado e aceito: 17 de dezembro de 2010 Endereço para correspondência: Janine Soares Cavalcante Rua Eucalipto, 30 – Cond. J. do Horto – Gruta de Lourdes CEP: 57052-890 – Maceió/Alagoas. E-mail: janinescavalcante@yahoo.com.br

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Avaliação da suscetibilidade à pigmentação de ligaduras elásticas ortodônticas

INTRODUÇÃO Com o passar dos anos, o senso crítico dos pacientes tornou-se mais aguçado e, assim, a aparência estabelecida durante o tratamento com aparelhagem fixa ortodôntica tem se tornado uma exigência muito comum entre os pacientes, principalmente os adultos8. Toda essa preocupação com a estética durante o tratamento ortodôntico tem estimulado a utilização, cada vez mais frequente, de braquetes, fios e ligaduras elásticas estéticas. O aumento da procura por um tratamento que visando uma estética mais agradável, fez com que a aparelhagem fixa apresentasse acessórios estéticos, como os elásticos com coloração semelhante à dos braquetes estéticos. Esses elásticos, ou ligaduras, apresentam algumas vantagens, como propriedade de memória elástica, são de fácil colocação, são biocompatíveis, motivam o paciente durante o tratamento ortodôntico, além de serem confortáveis19,23, com menor risco de causar danos à mucosa bucal18,25. No entanto, apresentam algumas desvantagens, como alterações em suas propriedades físicas quando expostas a ambientes úmidos13,14, degradação na quantidade de força liberada ao longo do tempo de utilização1, promove um pobre assentamento do arco durante aplicação de torque ou correção de giro5,23. Em relação às ligaduras metálicas, as ligaduras elásticas apresentam problemas de higienização, pois o acúmulo de placa ao redor do braquete é maior18,23,25. As ligaduras elásticas podem ser fabricadas com dois tipos de materiais: látex ou elásticos sintéticos. Os de látex, ou borracha, são obtidos a partir da extração vegetal18. Já os elásticos sintéticos ou elastoméricos, também chamados de plásticos, são produzidos a partir de materiais poliuretanos derivados do petróleo, carvão e alguns álcoois vegetais18,19,20. Dentre as várias características das borrachas de látex, a mais conveniente é sua resiliência, enquanto que a limitação mais significativa é o inchaço e pigmentação que ocorre devido à penetração de fluídos e bactérias ao vácuo da matriz da borracha25, diminuindo a vida útil do material. A estrutura básica de repetição dos polímeros que compõem a borracha poliuretânica permite a grande variedade de propriedades físicas para os plásticos25. Entretanto, a composição exata do produto é segredo industrial19,25, e a qualidade desses materiais está na dependência do processo de fabricação empregado22,23. Assim,

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a composição das ligaduras é resultante do grau de tecnologia empregada, refinamento da técnica de obtenção e pela qualidade de matérias-primas utilizadas durante sua confecção22,23. Estas ligaduras, quando expostas ao ambiente bucal, em extensão, absorvem água e saliva, com consequente quebra de suas ligações internas, promovendo uma deformação permanente19. As propriedades físicas e a aparência desses materiais também podem ser afetadas quando expostas às forças da mastigação, e, além da absorção de saliva e fluidos, também ocorre a absorção de pigmentos alimentares2,18,25. Segundo Wong25, os materiais elastoméricos sofrem pigmentação a partir de alguns tipos de comida. Um bom método para medição de cor deve ter características de ser confiável, de fácil uso e capaz de propiciar uma avaliação dos resultados. Por ser um recurso tão vantajoso, a fotografia digital foi se estabelecendo como novo método para medição e análise de cor por meio de programas de computador15,16. No software editor de imagens Adobe Photoshop a imagem pode ser avaliada por meio da ferramenta “histograma”, com os níveis de luminosidade, R,G,B)3,12,21. Com o anseio da permanência estética durante o maior tempo possível, e supondo que esses materiais elastoméricos sofrem pigmentação quando em contato com alguns tipos de alimentos, torna-se importante a avaliação da suscetibilidade à pigmentação desses materiais frente a esses alimentos. Assim, o objetivo desse estudo foi avaliar, num estudo laboratorial, a suscetibilidade à pigmentação de ligaduras elásticas estéticas (transparentes, incolores e da cor pérola) de diferentes marcas comerciais utilizadas em procedimentos ortodônticos. MATERIAL E MÉTODO Esse foi um trabalho experimental, laboratorial e longitudinal. A amostra total foi composta por 40 ligaduras elásticas transparentes incolores e 20 da cor pérola, todas utilizadas em procedimentos ortodônticos para fixação do fio ortodôntico aos braquetes. As ligaduras elásticas transparentes incolores escolhidas foram das marcas comerciais Morelli, TP Orthodontics, American Orthodontics e Unitek/3M. As ligaduras da cor pérola foram das marcas American Orthodontics e Unitek/3M. Os elásticos foram divididos em doze grupos com 5 ligaduras em cada um, de acordo com a marca comercial utilizada, e na condições normal e dis-

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tendida (com atenção às marcas American Orthodontics e Unitek/3M, que tiveram amostras incolores e pérola). Para a avaliação de cor dos elásticos foram utilizadas fotografias digitais. As fotografias foram obtidas por meio de câmera digital modelo Canon EOS Rebel XT, com resolução de 6,8 megapixels e profundidade de cor de 12 bits. Os registros das imagens foram feitos no modo manual, com as seguintes configurações de ajuste: velocidade 5 (0,2 segundos), diafragma com abertura em 11’’, posicionamento (altura) da máquina na haste da estativa com distância de 36cm, ISO 100, sem flash, modo selftimer, com disparo após 10 segundos, armazenamento de imagem no formato RAW. A lente utilizada foi a Canon EF-S 60mm, 1:2.8 macro, em ambiente com total ausência de luz natural, sob iluminação proveniente de negatoscópio Portable Transparency Viewer 4050v (Visual Plus). O negatoscópio encontrava-se posicionado sobre a mesa estativa da marca Atek (Fig. 1), e, acima dele, a ligadura era colocada sob foco da câmera. A câmera foi fixada em uma haste perpendicular à mesa do conjunto estativo, sendo a distância foco-objeto pré-determinada em 9cm. O elástico foi posicionado na mesa do conjunto estativo de forma que a circunferência do elástico ficasse superposta a um ponto no centro da referência do visor da câmera. As imagens (Fig. 2) foram transferidas para o computador por meio do programa File View Utility, em formato RAW, sendo posteriormente convertidas e armazenadas no formato TIFF de 8 bits. Posteriormente, as imagens foram analisadas no editor de imagens Adobe Photoshop CS2 versão 9.0. Nesse programa, sob um zoom de 100%, uma área de 0,3cm de largura por 0,3cm de altura foi determinada na circunferência do elástico (Fig. 3). As cores presentes nesta área foram avaliadas com a função histograma, por meio dos níveis de Luminosidade (L), Vermelho (R), Verde (G), Azul (B) e RGB. A medição de cores por meio do modelo RGB é feita por meio de valores numa escala de 0 a 255, que representam a mistura exata de determinada cor. Esses valores (0 a 255) também servem de guia para ajustar a cor e a tonalidade da imagem nos níveis em conjunto (RGB) ou separadamente, o R, o G e o B de cada vez. Quanto mais próximo o valor de 0, mais escura é a imagem analisada, logo, quanto mais próximo de 255, mais clara ou mais próxima da cor branca é a imagem. Assim, determinada substância pode ser analisada e julgada mais clara ou escura em relação a esses valores encontrados.

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Figura 1 - Câmera em posição no conjunto estativo.

Figura 2 - Ligadura antes do processo de pigmentação.

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Figura 3 - Imagem do programa Adobe Photoshop CS2 versão 9.0.

Figura 4 - Dispositivo utilizado para distender as ligaduras.

Antes do início do experimento, foi realizado teste de repetitividade das fotografias, com o objetivo de determinar a confiabilidade do método utilizado no experimento. Para isso, foram utilizadas quatro ligaduras de marcas comerciais diferentes. Cada elástico foi fotografado três vezes por dia, durante oito dias, totalizando 96 fotografias. Nesse intervalo de tempo, as ligaduras foram armazenadas em geladeira para que não fosse comprometido o resultado final do teste. Esse foi realizado com as mesmas premissas do experimento. Os dados obtidos no teste de repetitividade foram analisados estatisticamente por meio da análise de variância (ANOVA), para saber se a variabilidade entre as diferentes medidas seriam estatisticamente significativas. A partir dos valores obtidos e testados, foi confirmada a validação e reprodutibilidade do método empregado, podendo, então, dar-se início ao experimento. Cada elástico foi separado em recipientes individuais que determinavam o grupo a que pertenciam. Também houve separação dos grupos que iriam se submeter à pigmentação em estado normal (sem estar distendida) e grupos em distensão. Todos os elásticos foram mantidos em condições recomendadas pelos fabricantes e manipulados com auxílio de uma pinça clínica. Trinta elásticos (5 de cada marca comercial) foram fotografados. Foi realizada uma fotografia para cada elástico em estado normal, totalizando 30 fotografias no T0 – antes do processo de pigmentação. Para testar a suscetibilidade à pigmentação dos elásticos, uma solução composta por 250ml de café, 250ml de chá preto, 250ml de vinho tinto, 250ml do refrigerante Coca-Cola sem gás, 250ml de infusão de fumo

de rolo e 250ml de saliva artificial10 foi preparada. Essa solução foi homogeneizada e armazenada em estufa da marca Biomatic, a 37°C, por 48 horas. Os 60 elásticos referentes aos grupos foram, então, imersos nessa solução de pigmentação e mantidos na estufa a 37°C por 5 dias. Trinta ligaduras foram imersas em seu estado normal. As demais 30 ligaduras foram distendidas por meio de um dispositivo que reproduzia grau semelhante de distensão quando essas são inseridas a um braquete (Fig. 4) e, logo em seguida, imersas na solução juntamente com o dispositivo. Removidas da solução de pigmentação, as ligaduras distendidas foram removidas do dispositivo utilizado para distendê-las. Todos os elásticos foram lavados com água destilada por um minuto, secos com jato de ar e submetidos à nova sequência de fotografias, totalizando 60 fotografias no tempo T1. Dando sequência, foi feita avaliação por meio do programa Adobe Photoshop, sob as mesmas condições descritas anteriormente.

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RESULTADO Obtidos os valores médios de L, R, G, B e RGB para cada grupo, foi realizado o teste ANOVA para verificar se a diferença entre as variáveis era estatisticamente significativa entre os grupos estudados. Uma vez obtido o resultado positivo para ANOVA (p = 0,000), realizou-se o teste t de student para determinar a diferença entre as médias de L, R, G, B e RGB dos grupos. Ambos os testes foram realizados nos tempos T0 e T1, com as ligaduras em estado normal e distendido. Os valores encontrados para cada marca comercial nos tempos T0 e T1 podem ser observados nas Tabelas de 1 a 3.

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Pode-se observar em T0 diferença estatísticamente significativa em todas as variáveis entre as ligaduras: vermelho, verde, azul, luminosidade e RGB. Em T1 sem a presença de distensão, também se observou diferença estatística importante entre os elásticos em todas as condições. Em T1 com a presença de distensão, o resultado foi similar ao grupo com ausência de distensão, observando-se diferença estatística entre os grupos. Cada grupo foi submetido ao teste t de Student, que avaliou a variação de cor por meio da diferença absoluta

das médias do RGB (ΔRGB) entre os tempos T0 e T1, nas condições normal e distendida (Gráf. 1, 2). Os valores encontrados indicam que todas as marcas de ligaduras apresentaram suscetibilidade à pigmentação. As marcas Morelli, American Orthodontics, Unitek/3M, TP Orthodontics e American Orthodontics pérola apresentaram comportamento similar, tanto no estado normal quanto na distensão. Foi destacável o desempenho da marca Unitek/3M pérola, a qual obteve o maior valor da variação do RGB (ΔRGB), apresentando a maior alteração de cor.

Tabela 1 - Média e desvio-padrão dos valores de vermelho, verde, azul, luminosidade e RGB em T0, segundo tipo de elástico. Vermelho

Verde

Azul

Luminosidade

RGB

Média ± D.P.

Média ± D.P.

Média ± D.P.

Média ± D.P.

Média ± D.P.

Morelli

240,00 ± 1,66

242,18 ± 1,49

240,54 ± 1,72

241,34 ± 1,56

240,91 ± 1,62

American Orthodontics

239,66 ± 2,82

241,84 ± 2,53

240,16 ± 3,17

240,96 ± 2,65

240,54 ± 2,68

Unitek

222,34 ± 1,57

224,72 ± 1,50

220,34 ± 1,87

223,44 ± 1,54

222,45 ± 1,61

TP

241,05 ± 1,18

243,24 ± 1,00

241,78 ± 1,17

242,42 ± 1,07

242,02 ± 1,11

American Orthodontics pérola

160,93 ± 1,32

160,47 ± 1,53

136,15 ± 2,45

157,93 ± 1,52

152,56 ± 1,60

Unitek pérola

169,94 ± 1,32

172,33 ± 1,01

165,99 ± 1,00

170,92 ± 1,10

169,42 ± 1,10

Elástico

Tabela 2 - Média e desvio-padrão dos valores de vermelho, verde, azul, luminosidade e RGB em T1, sem distensão, segundo tipo de elástico. Vermelho

Verde

Azul

Luminosidade

RGB

Média ± D.P.

Média ± D.P.

Média ± D.P.

Média ± D.P.

Média ± D.P.

Morelli

230,19 ± 1,25

233,47 ± 1,04

213,42 ± 1,57

230,29 ± 0,98

225,60 ± 0,72

American Orthodontics

233,04 ± 2,87

236,58 ± 2,74

226,81 ± 2,38

234,45 ± 2,74

232,26 ± 2,78

Elástico

Unitek

211,29 ± 3,59

213,64 ± 3,66

193,78 ± 5,16

210,75 ± 3,78

206,24 ± 4,08

TP

232,20 ± 0,62

235,40 ± 0,59

224,86 ± 0,57

233,28 ± 0,59

230,82 ± 0,58

American Orthodontics pérola

151,12 ± 3,37

146,09 ± 3,44

103,48 ± 3,12

142,91 ± 3,91

133,42 ± 3,31

Unitek pérola

139,92 ± 1,83

136,89 ± 1,61

108,43 ± 1,34

134,67 ± 1,48

128,42 ± 1,35

Tabela 3 - Média e desvio-padrão dos valores de vermelho, verde, azul, luminosidade e RGB no T1, com distensão, segundo tipo de elástico. Vermelho

Verde

Azul

Luminosidade

RGB

Média ± D.P.

Média ± D.P.

Média ± D.P.

Média ± D.P.

Média ± D.P.

Morelli

229,08 ± 1,80

231,63 ± 1,55

202,72 ± 1,39

227,69 ± 1,39

221,14 ± 1,40

American Orthodontics

229,92 ± 2,33

233,31 ± 2,26

218,12 ± 4,47

230,62 ± 2,38

227,11 ± 2,73

Elástico

Unitek

210,21 ± 1,54

211,10 ± 1,04

186,95 ± 1,62

208,16 ± 1,16

202,75 ± 1,23

TP

228,63 ± 0,88

231,54 ± 0,71

214,21 ± 1,61

228,77 ± 0,81

224,80 ± 0,97

American Orthodontics pérola

150,55 ± 3,52

146,24 ± 4,05

103,83 ± 4,51

142,85 ± 3,91

133,43 ± 3,98

Unitek pérola

140,08 ± 2,53

136,56 ± 1,93

101,42 ± 3,55

133,75 ± 1,99

126,02 ± 2,18

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22,9005 19,762

17,6331

16,6235

13,426

13,6775

21,8931 19,702

17,8534 17,228 16,6026

17,5109

Marcas

kt ra ns pa re nt e

Un ite

er Am

kp ér ol a Un ite

pé ro la ica er Am

TP

9,21893

n

kt ra ns pa re nt e

kp ér ol a

Un ite

Un ite

TP

li or el

Am

er

ica

n

M

tra ns pa re nt e

pé ro la n ica er

19,126

10

2,30947

Am

20

li

12,2138

24,5745

or el

0

16,214

30

M

15,0044

10

20,2142

17,3089 14,2465 15,302 12,5005 11,202 13,2951 8,278 9,90345

tra ns pa re nt e

19,136

43,402 40,7812

n

23,2676

20

46,0228

40

ΔRGB D.P.

30

ΔRGB D.P.

50

43,0741 41,008 38,9419

ica

40

Gráfico 1 - Diferença absoluta (ΔRGB) das médias do RGB das diferentes marcas comerciais nos tempos T0 e T1 na condição normal.

Gráfico 2 - Diferença absoluta (ΔRGB) das médias do RGB das diferentes marcas comerciais nos tempos T0 e T1 na condição distendida.

DISCUSSÃO No intuito de analisar a suscetibilidade à pigmentação das ligaduras estéticas, que favorecem a uma estética mais agradável durante o tratamento, todas as ligaduras do experimento foram avaliadas quantos às variáveis luminosidade, R, G, B e RGB, por meio de fotografia digital e análise computadorizada do programa Adobe Photoshop. Observando os níveis de L, R, G, B e RGB encontrados no tempo T0, a marca TP Orthodontics apresentou maior propensão à pigmentação, seguida da Morelli, American Orthodontics, Unitek/3M, Unitek/3M pérola e American Orthodontics pérola. A diferença encontrada na suscetibilidade à pigmentação entre as marcas comerciais pode indicar a diferente composição desses produtos entre si. Vários estudos corroboram essa afirmação19,22,23,25. Pode-se notar que os valores mais baixos foram encontrados nas ligaduras de cor pérola, mostrando que a presença de pigmentos de cor na composição desses elastômeros propicia um aumento na densidade final do material, promovendo uma alteração da faixa de valores das variáveis analisadas. Em T1, sem distensão, os valores das médias encontradas foram mais baixos quando comparados aos valores em T0, demonstrando que houve pigmentação nas ligaduras. As marcas American Orthodontics e TP Orthodontics indicaram a menor suscetibilidade à pigmentação diante da exposição à solução de pigmentação. Morelli aparece em seguida, apresentando valores muito próximos aos já citados de American e TP Orthodontics, com exceção da variável B (azul), em que Morelli alcançou uma média bem abaixo, mostrando um desempenho estatisticamente diferente (p = 0,002). Na variável R (vermelho) e G (verde), os elásticos American, Morelli e TP tiveram desempenho similar, com valores mais baixos para o American pérola e

o Unitek pérola. Logo, segundo o modelo de cores RGB, a diminuição das médias analisadas indica a presença de pigmentos nas presentes ligaduras. Em T1, com distensão, o resultado foi similar ao encontrado na amostra sem distensão (p = 0,000) (ANOVA), onde os valores das médias da American Orthodontics foram os mais altos e se aproximaram bastante aos valores da TP Orthodontics e da Morelli, e os valores mais baixos para o American pérola e o Unitek pérola. Esses valores vêm demonstrar que não existe diferença entre as ligaduras quanto à presença e ausência de distensão, podendo-se realizar estudos futuros sem a preocupação da variável distensão alterar os valores finais. Avaliando a variável luminosidade, houve variação estatísticamente significativa nos tempos T0 e T1, em todas as marcas. São relevantes os valores mais baixos das ligaduras peroladas nos dois tempos da pesquisa. Segundo o princípio óptico da fluorescência, um objeto tem a capacidade de emitir luz com comprimento de onda diferente da fonte de luz incidente25. Assim, a ligadura, ao ser submetida à luz do negatoscópio, emitiria luz. Porém, devido ao fato das ligaduras peroladas terem uma composição estrutural diferente das transparentes, emitem quantidade de luz inferior àquelas que não apresentam pigmentos de cor. Na variável vermelho (R), todas as marcas comerciais alteraram de cor ao longo do experimento. As marcas mais estáveis apresentaram desempenhos similares nos dois tempos da pesquisa. São elas: American Orthodontics e TP Orthodontics. Contudo, a maior diferença entre T0 e T1 foi da marca Unitek pérola. Tendo em vista que os componentes da solução tendem para o vermelho, isso mostra que houve pigmentação de todos os grupos durante o estudo, revelando valores estatisticamente significativos. Esse achado também

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foi defendido por Libório, onde foi utilizada a mesma solução de pigmentação para estudar a suscetibilidade de braquetes estéticos à pigmentação e encontrou-se alteração de cor em todas as marcas comerciais avaliadas. Em relação à variação de cor para o verde (G), houve diferença estatística entre o tempo T0 e T1 em todas as marcas. Os valores encontrados em cada marca variavam nos dois tempos analisados. Chamam atenção as marcas Unitek pérola e American Orthodontics pérola em T1 com presença e ausência de distensão. Seus valores podem indicar semelhança na composição dessas duas marcas de ligaduras. Para a variável azul (B), todas as marcas comerciais analisadas mostraram valores numéricos finais menores que os iniciais, comportamento esperado, acompanhando o comportamento das demais variáveis. As marcas American Orthodontics e a TP Orthodontics mantiveram desempenho similar. Nessa cor, o pior desempenho foi da Unitek, seguido da Unitek pérola, como nas outras variáveis. A grande variação do azul (diminuição ampla do valor) pode ser explicada pelo fato do vermelho ter demonstrado apenas uma discreta diminuição. Segundo a formulação de Gomes10, os componentes usados na solução de pigmentação tendem para o vermelho, e essas duas cores se encontram em extremidades opostas no espectro de luz. Como a percepção e interpretação da cor são subjetivas11, uma avaliação numérica isolada das variáveis L, R, G e B poderia não ser suficiente para uma adequada percepção das alterações de cor sofrida por cada marca comercial nessa pesquisa. É importante entender que a variação entre os tempos (Δ) é mais importante do que os valores das médias finais, pois não podemos desconsiderar as características iniciais inerentes do material, que são bastantes relevantes no resultado final. Contudo, mesmo obtendo os valores de Δ, a alteração de coloração encontrada em nossos resultados pode ser mascarada quando essas ligaduras se encontram no ambiente bucal e formam o complexo dente-braquete-ligadura, onde cada elemento, separadamente utilizado, irá influenciar na percepção da alteração de pigmentação das ligaduras. Isso sugere estudos futuros para se determinar a influência da pigmentação das ligaduras no sorriso. Em relação à variação de cor (ΔRGB) entre os tempos T0 e T1, os resultados foram semelhantes na condição normal e distendida. A marca Unitek pérola apresentou maior propensão à pigmentação. As outras ligaduras também sofreram pigmentação, porém todas se encontraram dentro de uma faixa, com valores menores e semelhantes quanto aos valores do Δ nas duas condições testadas.

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As marcas TP Orthodontics e American se mostraram as mais estáveis, apresentando desempenho similar, apesar de a TP Orthodontics ter sido a única a revelar diferença estatística quanto à tendência à pigmentação nas duas diferentes condições. Essa diferença pode ser contestada pelo fato de não ter sido utilizado espectrofotômetro ou colorímetro para a medição, já que esses são instrumentos padrão para a medição de cores7. Limitações em relação ao material analisado estavam presentes, como a necessidade de possuir uma superfície plana com uma extensão e espessura mínima para mensuração de cor4,24. As ligaduras avaliadas, apesar de apresentarem uma superfície polida, não a possuíam plana, assim como a extensão e espessura presentes não eram suficientes para uma correta avaliação com esses instrumentos. Contudo, o método utilizado nessa pesquisa não invalida os resultados encontrados, já que a avaliação digital de cor é bem aceita atualmente16. É de fundamental importância que o profissional conheça o comportamento das ligaduras estéticas antes de utilizá-las, pois aspectos específicos de cor, por exemplo, tipo de dieta e tempo que a ligadura se encontrará no meio bucal, influenciarão na aparência estética final, frustrando muitas vezes a expectativa do paciente. von Fraunhofer et al.9, com seus achados obtidos a partir de um experimento in vitro, afirmam que o comportamento in vivo dos elastômeros pode ser diferente, haja vista a presença de variáveis, como alterações de temperatura no ambiente bucal e força mastigatória. Os resultados desse trabalho dizem respeito apenas à suscetibilidade à pigmentação de ligaduras estéticas avaliadas por um programa de computador. A partir de que ponto essas alterações podem ser notadas no dia a dia e possam incomodar o paciente pode ser pesquisado em outros trabalhos.

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CONCLUSÃO Os resultados demonstram que as ligaduras estéticas avaliadas apresentam propensão à pigmentação, não havendo diferença entre essas quanto ao seu estado durante o processo de pigmentação, se distendidas ou não, exceto quanto à marca TP Orthodontics na coloração transparente e incolor, que pigmentou mais quando distendida. Apesar da presente tendência à pigmentação, as ligaduras da TP Orthodontics e da American Orthodontics transparente e incolor se mostraram mais estáveis quanto a essa suscetibilidade à alteração de cor. Contráriamente, observou-se grande propensão à pigmentação na marca Unitek/3M de coloração pérola.

Dental Press J Orthod. 2013 Mar-Apr;18(2):20.e1-8


artigo inédito

Avaliação da suscetibilidade à pigmentação de ligaduras elásticas ortodônticas

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