ReVirEI
REVISTA VIRTUAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL No 2 - JAN/JUN - 2015
ENTREVISTA
Uma deliciosa conversa com Patrícia Corsino sobre as linguagens na Educação Infantil.
SABERES DO COTIDIANO O relato de uma turma de 4 e 5 anos que descobriu seu entorno e muito mais.
VENDO E REVENDO
Dois textos que nos fazem pensar sobre as linguagens na infância, muito além da alfabetização...
virei o baú Livros de ontem, livros de hoje, livros de sempre!
A criança é feita de cem. A
criança
tem
cem
mãos,
cem
cem modos de pensar, de jogar e de falar. Cem, sempre cem modos de escutar as maravilhas de amar. Cem alegrias
pensamentos,
I evirE RRevista Virtual
de Educação Infantil
para descobrir. Cem mundos para inventar.
Dicas para sua leitura: use o modo de tela cheia e aproveite para clicar nos links.
criança tem cem linguagens (e depois, cem,
EXPEDIENTE
cem, cem), mas roubaram-lhe noventa
Coordenação: Catarina Moro
para cantar e compreender. Cem mundos
Cem mundos para sonhar. A
A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo. Dizem-lhe: de pensar
e nove.
sem as mãos, de fazer sem a cabeça, de escutar e de não falar, de compreender sem alegrias,
Edição: Ana Júlia Rodrigues Diagramação: Ana Júlia Rodrigues e Marina Feldman Colaboradores: Franciele Ferreira França, Ettiene B. L. Barbosa, Gioconda Gigghi. Revisão: Marina Feldman
de amar e maravilhar-se só na Páscoa e no Natal. Dizem-lhe: de descobrir o mundo
NEPIE - Núcleo de Pesquisas e
roubaram-lhe
Estudos em Educação Infantil
que já existe e de cem,
noventa e nove. Dizem-lhe: que o jogo
Setor de Educação - UFPR
e o trabalho, a realidade e a fantasia, a
UFPR - Universidade Federal do
ciência e a imaginação, o céu e a terra,
Paraná
razão e o sonho, são coisas que não estão juntas. Dizem-lhe: a
que as cem não existem. A criança diz: ao contrário, as cem existem. Loris
Malaguzzi
Dúvidas? Pedidos? Sugestões? Críticas? Entre em contato conosco pelo e-mail revirei.ufpr@gmail.com
1
Editorial
Na RevirEI 1 discutimos temas implicados com a Arte. A Luciana Ostetto, como entrevistada, tratou da arte na relação com a formação de professores. Na Vendo&Revendo, tivemos dois pontos de vista sobre o trabalho com a arte e o desenho; agradecemos às professoras Márcia e Andreia e às crianças do CMEI Liberdade pela cessão dos desenhos que dão vida aos textos. Em Saberes do Cotidiano acompanhamos o relato de Laís sobre o trabalho a partir de Gaudí. Compartilhamos o livro “A Grande Roda de Histórias”, de Nélio Spréa e Milton Karam, por intermédio da resenha. Na seção Virei o Baú, encontramos brinquedos do passado. Em O que diz a lei? Dani discute a Lei 12.796/2013 que modifica a LDB. Na seção Virando o Mundo, buscamos uma experiência italiana que amplia o olhar sobre o uso do banheiro pelas crianças. A Fique de olho buscou provocar cada leitor a sair em busca de mais, ir além, revirar. Agora, na RevirEI 2, também há um tema central: a linguagem nas tessituras entre oralidade, leitura e escrita. Entrevistamos Patrícia Corsino, que fala sobre a descoberta das linguagens e a construção de mundos pelas crianças pequenas. A seção Vendo&Revendo traz a compreensão de que o trabalho com a linguagem escrita não deve se interpor à integralidade das crianças e suas outras muitas linguagens. Em Saberes do Cotidiano acompanhamos um projeto de ciências com crianças de 5 anos de um CMEI. A Fique por Dentro nos convida a adentrar no universo da poesia com o livro “Poesia para Crianças: conceitos, tendências e práticas”, de Leo Cunha. A Virei o Baú traz um anúncio de tempos atrás que já aludia ao livro como um bom presente para todas as idades. Na O que diz a lei?, abordamos a polêmica data corte para ingresso das crianças no Ensino Fundamental. Em Virando o Mundo, vemos uma rica experiência de Portugal que envolveu crianças e adultos em muitas brincadeiras e aprendizados. Na Fique de olho, continuamos querendo atiçar você leitor ao infinito. Temos também uma nova seção: O que dizem as Politicas?, apresentando o PNBE 2014 para a Educação Infantil. Além da lúdica palavração de Leminski na contra-capa. O desafio de manter a RevirEI se revitaliza a cada produção nossa e a cada obstáculo novo. Meu agradecimento a todas (somos nesse momento um coletivo feminino) que continuam sentindo-se desafiadas e compartilham dessa concretização. E viva o número 2 da RevirEI!!
CATARINA MORO
Nossos Col
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A Catarina Moro é formada em Psicologia, mas é interessada mesmo pela Educação Infantil, as crianças e os adultos que a constituem. Hoje é professora da UFPR e pesquisadora do NEPIE, quando criança, era moleca e adorava pular de lugares altos. Foi quem teve a ideia de criar a RevirEI e hoje ela coordena a equipe, traduz a seção Virando o Mundo e nessa edição escreveu nosso O que diz a lei? e O que dizem as Politicas?. A Ana Júlia Lucht Rodrigues está se formando este ano em Pedagogia na UFPR e pesquisa, na sua iniciação científica, a História da Infância. Desde que entrou no curso se encantou com a Infância e Educação Infantil e se juntou ao NEPIE. Ela é a editora da RevirEI, e diagrama e revisa a revista junto com a Marina. A Marina Feldman se formou em Jornalismo mas a vida levou ela para a Educação. Foi professora de crianças pequenas e hoje em dia faz mestrado em Polítcas Educacionais na UFPR. Ela diagrama e revisa a RevirEI, junto com a Ana Júlia, e faz as nossas Entrevistas.
ção i d E a Ness A Jordana Stella Botelho é irremediavelmente apaixonada pela Educação, por isso formou-se pedagoga e mestra nesta área pela UFPR. Por muitos anos foi professora da Educação Básica e, mais recentemente, do Ensino Superior. Atualmente trabalha como coordenadora pedagógica em uma escola da rede privada. Elas duas constribuiram para o nosso Vendo e Revendo desta edição. A Adriane Knoblauch foi alfabetizadora e atualmente é professora do curso de Pedagogia da UFPR. Passou a infância lendo gibis e hoje passa os dias estudando as relações que envolvem a formação docente e práticas pedagógicas, processo que se intensificou no seu mestrado, doutorado e pós-doutorado.
laboradores
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A Gioconda Ghiggi é especialista em Docência na Educação Infantil (UFPR) e Ciências Pedagógicas (Roma3).
É mestranda
em Educação na UFPR e pedagoga na Prefeitura de Curitiba. É ela que nos conta dos novos livros, CD’s e filmes na seção Fique de OlhO. A Etienne Barbosa é especialista em História da Educação, com formação em Pedagogia. É doutoranda da UFPR, com experiência na área de Educação Infantil. Ela escreve a nossa seção Virei o Baú e sempre traz memórias fresquinhas pra dividir com a gente... A Franciele F. França, sempre ansiosa por saber sempre mais, numa mistura de sonhos e propósitos, depois de formada em Pedagogia e com o título de Mestra em Educação pela UFPR, achou que ainda não bastava: atualmente é doutoranda em educação pela mesma universidade. Por aqui, ela passa seu tempo a mergulhar em livros e nos contar tudinho, na seção fique por dentro .
A Márcia Cristina Ribeiro Osinski é pedagoga, pós-graduada em educação inclusiva e professora de Rede Pública Infantil de Curitiba.Ela trabalhou com uma turma de pré no CMEI Liberdade e nos contou uma de suas experiêcias na seção Saberes
do Cotidiano.
O André Neves é ilustrador e escreve lindas histórias para crianças, além de confabular imagens no seu blog. Se diz desinventor de realidade e seus desenhos dialogam bastante com a nossa proposta. A RevirEI é fã dele e, para nossa alegria, ele autorizou que usássemos suas ilustrações nessa edição. A da capa vocês já viram e vão reconhecer outras ao longo da edição, junto ao nome do livro de onde saíram.
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CAPA E SUMÁRIO: ILUSTRAÇÃO DE ANDRÉ NEVES, DO LIVRO OREJAS DE MARIPOSA, DE LUISA AGUILAR, EDITO
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FIQUE DE OLHO: Notícias da UFPR e indicações culturais para enriquecer a sua prática.
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VIRANDO O MUNDO: Cozinha de lama - um projeto de Portugal que envolve crianças, professores e famílias.
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VENDO & REVENDO: Dois textos sobre o lugar da linguagem na educação infantil.
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SABERES DO COTIDIANO: A natureza como fonte de aprendizado em um projeto com crianças de 4 anos.
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O QUE DIZ A LEI? A falsa polêmica sobre a data corte de entrada no ensino fundamental.
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ORA KALANDRAKA
ENTREVISTA: Patricia Corsino discute o processo de descoberta da linguagem.
O QUE DIZEM AS POLÍTICAS? A Política em Ação com o PNBE. FIQUE POR DENTRO: Resenha da obra “Poesia para crianças: conceitos, tendências e práticas”. VIREI O BAÚ: A relação entre livros e crianças no final do século XIX.
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Fique de OlhO... 6
...nos livros
(para ler com os pequenos) CADA UM COM SEU JEITO, CADA JEITO É DE UM! Lucimar Rosa Dias O livro de Lucimar Dias conta a história de Luanda e sua família. Diferentes modos de ser em uma história que mostra o respeito pelas diferenças presentes nas nossas famílias e nos diversos grupos sociais em que vivemos. Ilustrações: Sandra Beatriz Lavandeira. Editora Alvorada
...nas canções
(para
A CIÊN Maria Ga O livro e busca sa “amigas das pela Fundaç vários relat “Observató luz”, “Porqu Fund
ZORÓ Zeca Baleiro O maranhense Zeca Baleiro lançou o seu pr trabalho para os pequenos: Zoró Volumes SIRICUTICO 2. O primeiro volume [Bichos esquisitos] já Siricutico disponível: são 28 canções com temas relacio Com um encarte com belas com o universo animal. Conta com a partic ilustrações do artista curitibano de Tom Zé, Fernanda Abreu e outros ar André Ducci, o quarteto http://www.zoro.art.br curitibano Siricutico apresenta o CD que leva o nome do grupo. ERA UMA VEZ UM GIGA São 10 músicas divertidas que Tiquequê encantam pequenos e grandes. Angelo Mundy, Diana Tatit, Bel Tatit e As músicas estão disponíveis para Tiquequê. O grupo trabalha com cançõ download! para crianças e lançou recentemente s http://www.siricutico.art.br “Era uma vez um gigante”, com 12 canç https://www.facebook.com/tiqu http://www.tiqueque.co
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a subsidiar a prática docente)
NCIA NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR Lúcia Santos; Maria Filomena aspar; Sofia Saraiva Santos tematiza o conhecimento científico aber se as turmas de pré-escola são s ciências”. Foi patrocinado e publicado ção Francisco Manuel dos Santos e traz tos de boas práticas - entre os quais ório de caracóis”, “Viagem ao mundo da ue é que aqui não cai neve?” dação Francisco Manuel dos Santos
rimeiro s 1 e á está onados cipação rtistas.
ANTE
e Wem formam o ões e espetáculos seu segundo CD, ções. uequeoficial om
Acesse na íntegra!
...nos filmes
O MENINO E O MUNDO Com uma interessante mistura de técnicas, como o uso de giz de cera e colagens, o cineasta Alê Abreu emociona com a animação “O menino e o Mundo”. A história de um menino que parte em busca do pai e descobre um mundo cheio de seres fantásticos. Animação, Brasil, 2014 http://omeninoeomundo.blogspot.com.br
TARJA BRANCA - A REVOLUÇÃO QUE FALTAVA O documentário dirigido por Cacau Rhoden traz reflexões de adultos de diferentes origens e profissões sobre suas infâncias e suas brincadeiras, além de questionamentos sobre o lugar do brincar na vida das crianças e adultos nos dias de hoje. Documentário, Brasil, 2014 http://mff.com.br/filmes/tarja-branca/
GIOCONDA GHIGGI
Fique de OlhO... 8
...no que acontece
NOTÍCIAS DO NEPIE/UFPR ENCERRAMENTO DO CURSO: “Educação Infantil, Infâncias e Arte”
Dia 07 de março de 2015 realizou-se no Setor de Educação da UFPR, o Seminário de Finalização do Curso de Extensão “Educação Infantil, Infâncias e Arte”, das turmas de 2013 e 2014. No evento ocorreram três oficinas de 8 horas: “O lugar da TV na Educação Infantil” - experimentações e possibilidades de intervenção pedagógica, com Iracema Munarim e Juliane Odinino; “Meu corpo, meu mundo” – jogos expressivos e dramáticos para refletir sobre novas possibilidades de relacionamento e de narrativas a partir do corpo, com Luiz Fernando; e “Tapete encantado” – o universo mágico e misterioso da arte de contar de histórias, com Rosy Greca.
DEPOIMENTO DOS DOCENTES DO CURSO “Educação Infantil, Infâncias e Arte” “Participar como docente do Curso reafirmou a necessidade de democratizar o conhecimento e as vivências artísticas junto as professoras de Educação Infantil como condição básica para os profissionais que atuam com crianças. Os encontros com as diferentes realidades educacionais p r o p o r c i o n a r a m significativos momentos de trocas de experiências e aprendizagem. Fazer, pensar e sentir música no universo da infância junto as professoras da Educação Infantil, sem dúvida, foi um privilégio, pois como músico e professor pude testemunhar as alegrias e o poder transformador da música na vida das pessoas. “
CASSIANA MAGALHÃES “A experiência me permitiu uma aproximação com professores da Educação Infantil, momentos permeados por histórias e aprendizagens, rico em reflexões teóricas e práticas acerca do trabalho pedagógico com as crianças pequenas. Pensar nas diferentes infâncias nas diversas realidades, permitiu afirmar o compromisso na promoção do desenvolvimento humano, partindo de um trabalho intencional, possibilitando o encontro da criança com a cultura e a ampliação de repertório do próprio professor. Durante os encontros pudemos nos afetar com a arte nas suas diferentes linguagens e refletir sobre as possibilidades de afetarmos também as crianças.”
LYDIO ROBERTO
LANÇAMENTO DO LIVRO: “Instrumentos e Indicadores para avaliar
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a creche: um percurso de análise da qualidade” - Laura Cipollone (Org.) Foi lançado pela Editoria UFPR um novo título, trazido ao Brasil pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Infância e Educação Infantil. “O livro adentra a trajetória de análise da qualidade da oferta educativa em creches de uma das regiões centrais da Itália, a Úmbria, entre os anos de 1992 e 1996. Tal investigação e acompanhamento constituíram-se em um processo formativo, empreendido a partir da demanda dos municípios da região e sendo abraçado por pesquisadores e professores da Università Degli Studi di Pavia, assim como pelos gestores ligados à oferta dos serviços de creche. Distintamente, tematiza os espaços e as práticas educativas cotidianas com e para bebês e crianças pequenas, até os 3 anos. Com isso, preenche uma lacuna na publicação acerca da avaliação da qualidade em instituições de educação infantil, pois o debate acerca da qualidade das creches não tem estado presente nesse veículo de publicação.” Mais detalhes no site da Editora UFPR
“O curso foi uma experiência ímpar e significativa para todos. No módulo de artes visuais as reflexões propiciadas fomentaram mudanças na práxis educacional da arte na escola. O perceber, o vivenciar, o construir, suscitados pelo universo cultural e artístico, proporcionoram a construção de conhecimentos, ampliando o repertório das professoras, no fazer e no fruir produções artísticas. O desenvolvimento do processo criativo evidenciou que o impulso criador não se limita a reproduzir, mas combina, reelabora, cria com os elementos. Surgem rearranjos imbuídos de expressividade, imaginação e fantasia. Assim, proporcionamos ressignificações dos conteúdos à realidade da educação infantil, almejando uma educação mais sensível e humana.”
ANDRÉA BERTOLETTI
virando o mundo
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Uma cozinha suja, muito suja...
A cozinha de lama desperta nas crianças a curiosidade de saber Esse texto foi originalmente publicado na revista portuguesa Cadernos de Educação de Infância (CEI) nº 103/2014, escrito por Diana Pinto, educadora da Casa da Criança Maria Granado, sob o título “Gosto de brincar na cozinha de lama porque é descapotável”. Aqui compartilhamos o relato em versão condensada e com uma organização própria das fotografias. Nele a autora socializa e discute a proposição da “cozinha de lama”, não apenas como espaço, mas como atitude, fruto de uma reflexão sobre um conjunto de experiências riquíssimas vividas no espaço externo de uma instituição de educação de infância por adultos e crianças. Nossos agradecimentos a Maria Lúcia Santos, presidente da Associação de Profissionais de Educação de Infância de Portugal, e editora responsável pelos CEI, que possibilitou nossa publicação. Revisão: Catarina Moro
Se, por um lado, a sociedade e o estado estão cada vez mais sensíveis à infância e ao desenvolvimento
global
das
crianças, por outro lado, as crianças têm cada vez menos oportunidades de explorar o desconhecido, de se sujar, de se maravilhar com a natureza, de viver aventuras em que a personagem principal são elas próprias...
Começamos perguntando às crianças: Como gostariam
Isto é, têm cada vez menos possibilidades de
que fosse a cozinha de lama? O que gostariam
ser criança. O conjunto de experiências que
de ter na cozinha de lama? “Gostaria que
realizamos envolveu muitas considerações
fosse suja; Queria que fosse limpa; Que fosse
por parte da equipe educativa sobre os
grande, tivesse bancada para trabalhar; Que
espaços exteriores e suas potencialidades,
ela fosse pequenina, do nosso tamanho”.
os benefícios do brincar livre no exterior, o
Que tivesse: “Água para lavar copos, uma
papel do educador nestes contextos, bem
varinha mágica para cozinhar; Ingredientes
como uma reflexão sobre os desafios que aí
para pôr no bolo; Utensílios de cozinha e
podem surgir.
forminhas; Uma tenda para tapar o sol,
para fazer sombra; Um fogão para pôr as comidas”. Em conjunto, organizamos as ideias de acordo com a nossa capacidade para as concretizar; fizemos algumas pesquisas e a seguir desenhamos a planta da nossa cozinha de lama. Para nos ajudar contamos com o apoio dos pais. Primeiro foi necessário contar tudo a eles, envolvê-los neste processo de transformação e instalação de equipamentos no espaço exterior. Isso estreitou laços e quebrou barreiras, poucas foram as famílias que não se renderam à cozinha de lama e às suas potencialidades quando a construíram, quando reviveram a sua infância e quando imaginaram a expressão de satisfação e felicidade dos filhos a brincar neste espaço. Rapidamente, os adultos perceberam que promover o brincar livre nestes contextos seria uma tarefa complexa e desafiadora. Não só por questões de segurança e supervisão, mas essencialmente pela manutenção do espaço e das diferentes necessidades lúdicas de cada criança. Por isso foi necessário criar, em conjunto, algumas regras de utilização. Sabíamos de antemão que a atitude dos adultos poderia limitar a ação e curiosidade das crianças que, num misto de euforia e felicidade, não paravam de fazer perguntas para as quais nem nós tínhamos resposta: Posso ir buscar terra na horta? Posso brincar
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virando o mundo
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com pedras? Posso brincar com água? Posso fazer lama? Na verdade, até elas pareciam confusas com a oportunidade de se sujarem e de brincarem com lama. Depois de muitas pesquisas e documentação que esclarecesse todas as nossas dúvidas e receios decidimos - numa harmonia entre a liberdade, proteção e intencionalidade educativa - arriscar outra atitude. Estando mais confiantes no caminho a seguir, deixamos de ter receio em deixálos ir sozinhos à horta buscar terra e água; em deixá-los brincar com paus e pedras; brincar com água e lama sem restrições... O resultado desta mudança de atitude foi um grupo envolvido, feliz, curioso, investigador e em harmonia. Curiosamente, todo este
contexto fez diminuir claramente os conflitos entre todos. Tendo já encontrado o nosso caminho e estando seguras dele, foi fácil antecipar algumas
questões
que
poderiam
ser
levantadas pelos pais e dar-lhes resposta de forma convicta e segura. A melhor forma de os conquistar foi, sem dúvida, implicá-los na construção do espaço, mas decidimos ir mais longe e convidar as famílias para uma festa na cozinha de lama. Estava na hora dos pais sentirem e verem com os seus próprios olhos as suas potencialidades. Preparamos bolos com lama, flores, paus, pedras... Fizemos sucos com água e ervas aromáticas,
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apanhamos flores para decorar a mesa! Rapidamente, os receios com as questões de saúde e higiene, com a roupa suja e molhada e com os perigos se dissiparam e todos crianças, educadores e pais - queremos mais: mais ação, mais possibilidades, mais momentos em que o bem-estar, a natureza e a aprendizagem andem de mãos dadas. O papel do adulto, além de introduzir estes elementos e aceitar os que as crianças trazem, é o de observar cada criança, ajudar a dar significado às suas experiências, conversar
com ela, interagir, complexificar o brincar e promover a consolidação e aquisição de inúmeros aprendizados. Pela variedade de estímulos, oportunidades e imprevisibilidade, na cozinha de lama nunca se ouve “eu não consigo”, “eu não sei” ou “é muito difícil”.
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Vendo e Revendo: linguagens
RE
LINGUAGEM ORAL E ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Jordana Stella Botelho
A construção da linguagem oral e
social; deveria acontecer de modo que a
escrita pela criança, como sabemos,
criança percebesse para que esta serve,
é fundamental para sua formação
seus usos sociais, e sentisse necessidade
humana, como sujeito e como cidadã
de utilizá-la para comunicar-se, para
V
ENDO & ENDO
As fotos que ilustram essa seção são da turma de Maternal III do CMEI Vila Real. Foram cedidas pela professora Renata Corrêa de Azevedo.
capaz de participar das práticas sociais
expressar-se, destarte, apreendendo-a de
do seu meio.
modo articulado à sua função social e não
Sua
aprendizagem
acontece
fragmentada, centrada em letras e sílabas
articulada a um contexto cultural e
que não comunicam ideias, intenções,
passa pelos sentidos que os primeiros
sentidos.
adultos do seu convívio vão dando à sua
Mas, por incrível que pareça, no contexto
fala. Amplia-se a partir do contato com seus
da Educação Infantil em geral, ainda falta
pares e com outros adultos constituindo-
“tempo” (será isso mesmo?) para que um
se, substancialmente, por meio da
trabalho significativo de linguagem oral e
interação social: falar para comunicar
escrita aconteça ante tantas preocupações
desejos,
pensamentos,
e ocupações que crianças tão pequenas já
intenções, dúvidas, queixas, ideias... A
precisam “dar conta”. Não que elas não
necessidades,
VENDO
fala “nasce” atrelada inteiramente a uma
“deem conta”, pelo contrário, elas dão;
função de comunicação só para mais tarde
mas o que se perde no caminho frente
chegar a uma linguagem interior, mais
a práticas excessivamente preocupadas
ligada ao pensamento, na perspectiva de
em se alfabetizar precocemente, como
Vygotsky*.
se estas fossem garantia de um maior
Do mesmo modo como ocorre na
sucesso escolar posterior?
construção da fala, o aprender a escrever
Perdem-se muitas possibilidades de
não poderia ser diferente. O processo
vivenciar na Educação Infantil práticas
de aprendizagem da escrita também
fundamentais para o desenvolvimento
deveria “nascer” atrelado a uma função
oral, cognitivo, afetivo das crianças
pequenas,
vivências
que,
muito
a fantasia. Deixaram de mergulhar fundo
provavelmente, não serão retomadas
nos repertórios literários, conhecendo
depois.
quando
diversos personagens e seus dramas,
chegam ao Ensino Fundamental – etapa
lugares e enredos que teriam lhes
que tem o compromisso oficial da
oferecido um arcabouço valioso para suas
alfabetização, muitas vezes elas têm pouco
aprendizagens e vivências no Infantil, no
repertório oral, de histórias, de percepções
Fundamental, no Médio...
Consequentemente,
15
REVENDO
a respeito do mundo ao seu redor.
Educação Infantil que se sabe de fato - no
Brincaram pouco na etapa em que mais
que concerne à linguagem oral e escrita -
necessitavam do faz de conta, do jogo, da
coloca no coração de suas práticas a leitura
brincadeira. Desenharam muito pouco e,
e contação de histórias, pela professora e
portanto, não aprenderam que podemos
pelas próprias crianças (evidentemente de
representar nossas ideias e comunicá-
acordo com cada faixa etária), propostas
las por essa forma de linguagem escrita:
que possibilitam às crianças relatarem
o desenho (lembremos que Vygotsky
situações do seu dia a dia, propostas
concebia o desenho como precursor da
que envolvem a criação coletiva de
escrita!). Exploraram pouco a linguagem
histórias, que possibilitam usar a escrita
oral e a escrita de um modo mais lúdico,
coletivamente e individualmente (da
com regras “mais negociáveis”, mais
forma como a criança conseguir registrar)
exploratórias, alimentando a imaginação,
para comunicar ideias, para informar, pedir,
avisar,
contar,
argumentar... E cada uma dessas práticas permeada por muita conversa, tempo para
comparar
ideias,
refletir, elaborar hipóteses, espaço para o “e se...” Também
Momento de Leitura na turma do Maternal III
as
cantigas,
parlendas,
quadrinhas,
trava-línguas,
lengalengas,
adivinhas convidadas
deveriam a
ser
ocupar
16
RE
V
ENDO & ENDO
a turma produzindo um gráfico das suas parlendas favoritas
VENDO diariamente
lugar
de
destaque
no
letra até o final (“Pedro Pinto pintor pinta
trabalho das escolas que atendem a
a porta pobre pintor...”). E por que não
etapa da Educação Infantil. Todo esse
registrar coletivamente essas brincadeiras
material rico da cultura popular brasileira,
(a professora como escriba) para, quem
produzido e reinventado por crianças
sabe, sugeri-las em uma carta aos colegas
e adultos de muitos tempos e lugares
da outra turma?
constitui mais que um repertório que
Memorizar
quadrinhas
populares
merece ser compartilhado por diferentes
ou pequenos poemas para apresentar
gerações, um campo fértil de explorações
aos colegas é uma proposta muito
linguísticas pelas crianças. Isso porque
interessante para o desenvolvimento da
possibilita brincar com as palavras, com
linguagem oral, uma vez que o desafio da
seu ritmo, sua pronúncia, sua repetição;
memorização e do “se expor para alguém
travar a língua em um fonema, brincar
ouvir” desenvolve e exercita habilidades
com sons que se parecem, que são
de quem fala e de quem ouve. Porque
muito diferentes, com as brincadeiras
desenvolver linguagem oral também está
de palavras que começam com a mesma
ligado a desenvolver a escuta, lembremos!
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Ouvir uma história até o final, manter o fio conversa na rotina se esta não irá em nada de uma conversação, prestar atenção no contribuir para um diálogo verdadeiro que a professora ou o colega disseram para entre crianças-adultos, crianças-crianças; poder interagir fazem parte do trabalho de há que se valorizar o repertório infantil, linguagem oral no Infantil. Nesse sentido, que não é menor que o do adulto, mas as conhecidas rodas de conversas podem diferente deste, uma vez que a criança oportunizar momentos de fala e escuta processa e produz cultura também. significativos para crianças ampliando em
Tomara que em 2015 possamos encher
muito as habilidades de relatar situações nossas salas de Educação Infantil de mais e narrar histórias.
ouvidos e olhos de professoras/es e mais
Entretanto, a pesquisa de Viviane Alessi vozes de crianças, para que haja mais sobre as rodas de conversa demonstrou diálogo verdadeiro; que as explicações que muitas vezes a condução das rodas dos professores não preencham todo pelas professoras é regida ora mais pela o
enunciado
escolar***.
Que
haja
lógica do monólogo, ora pela prática espaço de sobra para a literatura, para o tradicional de pergunta-resposta, esta fantástico, para a experimentação, para o por vezes com um propósito de ajustar, movimento, para a “brincanção”. E que,
REVEND
corrigir a fala da criança. Além disso, a principalmente, possamos “dar menos pesquisadora relata:
conta” e nos “dar mais conta” do que é
essencial em nossas escolhas pedagógicas
“O que se observa nessas situações é diárias. uma restrição temático-informativa que
*VYGOTSKY, L. S. A formação social da
empobrece o diálogo, que se preocupa muito mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1996. mais com o tema, a informação veiculada
*VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem.
e o controle das crianças, do que com as Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1998. ideias de seus participantes. O professor
**ALESSI, Viviane Maria. Rodas de conversa:
esquece-se de que o conhecimento é uma análise das vozes infantis na perspectiva construído e não transmitido!” (ALESSI, do círculo de Bakhtin. Curitiba: Editora UFPR, 2014, p. 183)**.
2014. ***PIVOVAR, Altair. O parlamento das
Não basta garantir, portanto, a roda de gralhas. Curitiba: Educar em Revista, 2002.
Vendo e Revendo: a Escrita na Educação Infantil LINGUAGENS Adriane Knoblauch
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a linguagem escrita deve ocupar no interior
ser atendida em sua integralidade,
das instituições de Educação Infantil.
entende-se que o trabalho pedagógico
É para alfabetizar? Posso mostrar as
deve ser intencional e planejado, de
letras? Até onde posso ir? São dúvidas
forma a integrar as diversas linguagens.
que circulam com frequência entre
Pois, “a criança tem cem linguagens” *
professores e educadores preocupados
como Loris Malaguzzi já nos ensinou.
com uma educação de qualidade para
Assim, diferentes linguagens e formas de
as crianças pequenas.
expressão (plásticas, musical, científica,
Um primeiro ponto para dar início
corporal, verbal etc), devem ser previstas
a essa discussão é a definição da
e integradas de forma significativa para
finalidade da Educação Infantil. Já há
a criança. Brincar com água, correr na
algum tempo, temos claro que a Educação
grama, observar plantas, cuidar do outro,
Infantil é um direito das crianças pequenas,
experenciar diferentes texturas, subir
que precisam ser atendidas a partir de
e descer, rolar no chão, se alimentar,
suas peculiaridades e com vistas ao seu
descansar,
desenvolvimento integral, considerando
imaginar, conversar, conhecer ritmos,
seus aspectos físico, afetivo, intelectual,
resolver conflitos, fazer de conta, cuidar
social e linguístico. Portanto, é um espaço
de si, brincar...
em que cuidado e educação devem estar
articulados, no qual ocorra a ampliação
trabalhada de forma articulada às demais
de saberes das crianças por meio de
atividades do cotidiano da Educação
diferentes interações e brincadeiras.
Infantil, tendo em vista que vivemos em
Nessa perspectiva, a criança é vista
um ambiente letrado e que as crianças
como cidadã de direitos e produtora de
têm curiosidade sobre a escrita. No
cultura. E, assim, a Educação Infantil não
entanto, tais atividades não devem
pode significar uma escolarização precoce
ser mecânicas e sem sentido para as
ou um mero treinamento para o Ensino
crianças, pois se assim o forem, estarão
Fundamental.
na contramão do que foi afirmado até
RE
V
ENDO & ENDO
Há muitas dúvidas sobre o papel que
VENDO
Considerando que a criança deve
ouvir
histórias,
cantar,
Desta forma, a escrita pode ser
19
as crianças usando imagens para representar quantidades em uma receita que fizeram
REVENDO
aqui. Assim, atividades baseadas somente
de entonação da voz em determinados
na decodificação do escrito, como,
momentos, argumentação etc. O mesmo
traçado de letras, reconhecimento de
ocorre em situações em que a criança
sons, cópias de sílabas, palavras ou frases
conta uma situação vivenciada ou opina
descontextualizadas
encontram
sobre um acontecimento ocorrido no
espaço em um trabalho que respeite as
cotidiano. Esses conhecimentos são muito
peculiaridades das crianças pequenas.
mais importantes para a compreensão da
cultura escrita do que a simples recitação
não
É preciso compreender que leitura,
escrita e oralidade estão interligados.
do alfabeto.
Assim, o trabalho com a linguagem escrita
pode ocorrer até mesmo na ausência
Infantil “ler com os ouvidos e escrever
do papel e do lápis. Quando as crianças
com a boca” é mais importante do que
recontam uma história da literatura
“ler com os olhos e escrever com as
infantil conhecida por elas, por exemplo,
próprias mãos”**. Ou seja, atividades em
acionam uma série de conhecimentos
que a professora, de forma intencional
que possuem relações com o universo da
e planejada, lê para as crianças textos
escrita: o papel do narrador, sequência
diversos em diferentes suportes e escreve
lógica dos fatos a serem narrados, mudança
o que as crianças sugerem, trazem
Assim, defende-se que na Educação
20
nos ajuda a perceber que
o
para
a
a
importante cidadania
compreensão
incorporação
é e
dessas
práticas no cotidiano e que, para que isso
ENDO & ENDO
ocorra, ir
jogo de percuso com os nomes das crianças
temos
além
do
que
simples
exercício repetitivo e mecânico. Sendo assim,
esse processo todo inicia-se antes do
escrita e colocam as crianças em contato
ingresso a uma instituição formal de
com uma escrita com maior significado
educação e se estende para além da sua
RE
V
informações valiosas sobre a linguagem
para elas. Assim, integrada às outras
conclusão.
linguagens, a escrita passa a ser vivenciada
Mas, o que é possível fazer então?
pelas crianças de forma mais intensa, ou
Uma
seja, elas passam a ter contato com a
inserir as crianças no mundo da escrita.
cultura escrita em seu cotidiano de forma
Para que elas pensem sobre a escrita,
a participar ativamente desse processo.
precisam vivenciá-la no seu dia-a-dia.
Elas vivenciam situações de letramento.
Assim, elas precisam ter contato com
Essas indicações são feitas tendo
diferentes materiais escritos. Para tanto,
como base a ideia de que toda linguagem
não basta ter as paredes da sala cobertas
supõe interação. Escrevemos para alguém
de cartazes com escritas sem significado
ler e ouvimos ou lemos o que alguém
para elas. Mas, ao contrário, elas
escreveu. E nesse processo de trocas e
precisam compreender que o que está
interações, nos constituímos em função
escrito na sala tem alguma função para
do outro e compreendemos o universo da
a turma. Assim, listas de livros já lidos,
escrita. Dessa maneira, não há escrita sem
listas de livros que serão lidos, registro
intenção nem leitura sem interpretação.
de uma observação feita no pátio, rotina
Com isso, o conceito de letramento
do dia, regras de um jogo ou brincadeira,
VENDO
primeira
possibilidade
é
21
registros de descobertas feitas, escrita de
suas hipóteses com a escrita convencional;
uma receita realizada, lista com os nomes
para isso, ela precisa ter acesso a diferentes
dos colegas da turma, registros de bilhetes
materiais e ter autonomia para consultá-
são algumas das possibilidades para isso.
los.
O contato com a literatura infantil
- a escrita apresentada às crianças não
também pode ser diário e ocorrer em
deve ser uma escrita descontextualizada,
diferentes momentos. Ora com a professora
ou com função de apenas ensinar a ler e
lendo a história, ora com as crianças
a escrever, mas deve ser uma escrita com
manuseando os livros, criando suas
função real, ou seja, usada efetivamente
histórias e fazendo tentativas de leitura.
no dia-a-dia das crianças na instituição.
Todo esse trabalho possibilita que a criança
A escrita precisa ter significado para as
comece a pensar sobre a escrita e sobre
crianças.
sua forma de organização e sistematização.
E ainda que não haja um método ou uma
como ocorre o processo de aquisição da
receita pronta para ser posta em prática por
escrita pela criança para que possamos
todos os professores, há alguns princípios
nos libertar de receitas prontas e construir
que podem ser orientadores:
nossa própria forma de trabalho em função
- ter a interação e a brincadeira como eixos
do grupo de crianças que temos.
REVENDO Assim, é fundamental compreender
articuladores do projeto pedagógico; - considerar a escrita como uma das linguagens a serem trabalhadas, sem
*Loris Malaguzzi é italiano e um dos
centralizá-la no processo;
responsáveis pela proposta de Educação
- considerar a criança como centro do
Infantil da Região da Reggio Emilia, considerada
processo, sem desconsiderar o papel
referência na área. Na abertura da revista você
intencional do professor;
encontra um trecho de sua famosa poesia.
- criar situações em que a criança precisa
**A referência é do texto “Letramento e
se expressar oralmente, com diferentes
Alfabetização: implicações para a educação
funções: lembrar de algo, se posicionar,
infantil”, de Luiz Percival Leme Britto. Encontra-
defender um ponto de vista etc.
se no livro intitulado “O mundo da escrita no
- deixar que a criança pense sobre a escrita,
universo da pequena infância”, organizado por
elabore hipóteses sobre ela e confronte
Ana Lucia G. de Faria e Suely Amaral de Mello.
22
Patrícia Corsino: As crianças, criando mundos e descobrindo as linguagens texto: marina feldman ilustrações: andré neves
Patricia Corsino veio do Rio de Janeiro, onde é professora da UFRJ, para nos falar sobre linguagem. Mas a que nos referimos quando pensamos em linguagem? Ou melhor, em linguagens? A Patricia, em
ENTREVISTA
uma longa conversa, nos lembrou que a escrita pode até estar no fim do caminho, mas essa estrada é muito mais interessante do que o ponto de chegada. Um caminho cheio de brincadeiras, histórias, imaginação e olhar para o outro. Quando falamos em linguagem na
contexto, com determinada finalidade e
educação infantil, de que estamos
isso varia entre um grupo social e outro...
falando?
Nessa perspectiva, o outro é sempre diferente de mim e estamos sempre
A concepção de linguagem que a gente assume é determinante das ações
exercitando nosso discurso para chegar até ele.
que estabelecemos com o outro. Eu tenho
Outro referencial teórico que nos ajuda
feito a opção por uma visão a partir da
a entender a linguagem é o Vigotski. Dele
filosofia da linguagem de Mikhail Bakhtin
tomamos a ideia de mediação simbólica,
e nesse sentido a linguagem é aquilo que
em que o mundo me é dado a conhecer
me constitui na relação com o outro. O
pela palavra do outro. A mediação se dá
outro me altera e eu vou me constituindo
através da linguagem. Esses significados
enquanto sujeito na medida em que eu
que são dados pelo outro na relação com a
me relaciono. Isso inclui a parte verbal,
criança - a mãe ou a professora que convive
gestual, a entonação. Eu falo de alguma
com o bebê - que vai fazendo suas leituras
coisa para alguém, em determinado
daquilo que ele está sentindo: o choro, o
riso, o balbucio. Damos significado a isso
para que possa fazer essas inter-relações.
e aquele outro criança vai respondendo
Tanto como alguém que lê e interpreta
de alguma forma, em um processo de
tudo isso, como alguém que produz, que
interlocução.
dá respostas. Essa tem sido uma questão
A gente tem que entender, então, que
central na Educação Infantil: qual é o
linguagem é esse elemento constituinte.
espaço de escuta desse professor que lida
A criança vai se constituindo e entende
com crianças?
23
o mundo a partir da palavra deste outro. Então vai se criando esse sentido, que é
Pensando nessa interlocução entre a
individual, mas que está localizado no
criança e o adulto, quais as formas centrais
tempo e no espaço, constituído no coletivo.
da criança pensar e se comunicar?
Que não é algo ainda intelectualizado, mas que aos poucos vai ganhando uma
As formas são muitas, tanto para
interiorização e se transformando em
adultos quanto para as crianças. Mas
pensamento.
a criança tem especialmente próxima
Demos uma volta, mas o que eu queria
a linguagem corporal e o gesto já mais
dizer é que, quando a gente fala de
elaborado através do desenho. Esse
linguagem na Educação Infantil, a gente
desenho que inicialmente é um gesto que
tá falando de um processo de interação
vai se fixando: a criança não desenha um
da criança com o adulto e também
objeto, ela desenha seu movimento. A
com as outras crianças. É um processo
criança vai simbolizando o mundo ao seu
de interlocução. A criança vai aos poucos
redor e fixando naquele papel.
sendo apresentada ao mundo, às coisas, aos
Além disso, a ação da criança é
conceitos por via dessas interações. A criança
acompanhada da fabulação, dessa fala
vai entendendo o mundo através de uma
que segue a ação. Que é uma forma
linguagem que não é só verbal, mas também
dessa linguagem ir se interiorizando,
gestual, imagética. Uma linguagem que se
se
manifesta de diversas formas. E a criança vai
A criança brinca confabulando e vai
interpretar tudo isso junto, por exemplo
assumindo
a imagem de um gato, a palavra gato e o
brincadeira espontânea. Na sua relação
bicho gato. Então, é importante que ela
com o mundo, com as coisas, vai
também vá ampliando esses repertórios
transformando os objetos em outras
transformando papéis,
em
pensamento.
nesse
jogo
da
ilustração: “mel na boca”, livro de andré neves, editora cortez
coisas. Aí entra outro espaço essencial:
fotografia, já que hoje as crianças têm
a brincadeira. A brincadeira não é
domínio dessa forma de registro.
exatamente uma linguagem, mas é um
E, sem dúvida, a música e a dança. A
espaço de elaboração, de organização do
gente vê que na Educação Infantil tem
pensamento, que tem uma relação com
muita música, mas às vezes só como reguladora das ações, ou sempre num único ritmo, quando a gente poderia estar ampliando esse repertório... É que quando a gente fala da linguagem na Educação infantil, estamos colocando em questão também a arte. E aí é fundamental falar em literatura, poesia. A criança vai vendo algo que não
“lino”, livro de andré neves, editora callis
ENTREVISTA
24
é tão óbvio, outra forma de dar sentido. Que eu posso mudar a palavra de lugar e mudar o significado. A literatura vai trazer a língua no seu lado artístico. É importante a gente ler bons livros, boas histórias, bons poemas... E pensando nesse uso da música... Muitas vezes também olhamos as histórias de um modo um pouco utilitário. Se usa a música para regular a rotina e a história para ensinar algo. Sendo linguagens artísticas, elas deveriam sair do campo da utilidade para se tornarem
a linguagem: ela compreende muitas linguagens! Depois temos que pensar na leitura de imagens e pensar no que a criança pode produzir. Podemos incorporar cada vez mais linguagens diferentes, como a
algo mais lúdico? Quando eu trabalho um poema as palavras são palavras que remetem a alguma outra coisa, como naquele poema do Manuel Bandeira “café com pão, café
com pão”. A gente não está falando de café
A criança não tem um pensamento linear
com pão, estamos falando do barulho, do
igual ao do adulto. Mas não é por isso que
som, do movimento do peito junto com
você pode dizer que ela não entendeu
as palavras. Perceber isto é interessante,
a história. E quantas vezes a gente não
porque é algo que não está posto.
deixa de interagir com essa criança para
E esse uso utilitário da literatura, para
entender melhor o que ela está pensando?
ensinar alguma coisa, para trabalhar um assunto, é um uso muito elementar,
O que também vemos é uma tentativa
empobrecido. É preciso ir além do que
de não entrar em um assunto muito
está posto, para aquelas coisas que não
complexo, de poupar as crianças de
estão escritas, que estão nas entrelinhas.
algumas sensações. Como se a criança
E as coisas que não estão ali diretamente são muito mais complexas: a
não pudesse lidar com a complexidade ou com sentimentos mais confusos...
compreensão de uma metáfora, entender o sentido figurado de uma situação. É no
A literatura também traz essa questão:
jogo da linguagem com a imagem que
ela tem uma função prazerosa, mas ela
vamos poder discutir e fazer pensar.
também pode te incomodar ou fazer
Mas o que a escola tem feito é buscar
você lidar com um medo. Essa parte não
vocabulário, sequência... E não essa parte
é tão lúdica, é mais densa, trata destas
da arte, daquilo que não está escrito,
questões humanas... Mas através do
da atração por outros textos, de fazer
tratamento artístico muitos temas podem
pensar em outras coisas, de relacionar
ser abordados. É um mundo paradoxal em
com outras histórias ou com o vivido. E
que queremos poupar as crianças, mas ao
esse pensamento é fundamental para
mesmo tempo a vida não as poupa dessas
entender o próprio mundo em que
experiências. Elas vivenciam situações,
você vive e a própria arte da palavra.
participam delas.
Então se a minha arte tem uma função
E aí a gente volta lá naquele primeiro
utilitarista, para alfabetização, um projeto
tema: quem é essa criança? Tem tantas
ou uma temática, o trabalho fica muito
coisas que ela pode estar vivendo e por
simplificado.
isso é preciso mais escuta. Minha relação
Além disso, esta potência das crianças de
está permeada pela minha concepção
criar algo novo também fica simplificada.
de criança. Então, se eu acho que ela
25
só tem que aprender, que eu tenho
mas também aquilo que a gente imagina
todas as respostas e que quem sabe
e cria.
sou eu, se estabelece um lugar pouco
Todas essas narrativas fazem parte do
produtivo na relação. Porque você está
processo da linguagem na escola. A gente
desconsiderando o outro.
conta histórias verdadeiras, histórias que
Mas quando há a escuta do outro, você se
a gente inventou, histórias que são lidas,
coloca diante do imprevisível, de algo que
histórias tradicionais, contemporâneas.
não está no script, que não está previsto.
A gente também pode criar histórias
E você tem que lidar com o imprevisível,
com as crianças... Isto vai tecendo esse
que te desloca desse lugar de quem sabe,
coletivo. Tem a ver com linguagem e com
de quem tem as regras da situação. É
as histórias do grupo. Algo que vai criando
preciso mobilizar o professor para ocupar
e construindo uma memória...
outro lugar: eu sou também aquele
ENTREVISTA
26
que não sabe.
Então, como é que não necessariamente
Há alguns rituais na escola que
lendo e escrevendo as crianças podem
são muito pouco democráticos e
estar de fato aprendendo a ler e a escrever
muitas perguntas são totalmente
e se apropriando da linguagem escrita?
retóricas, não entramos em relação com a resposta das crianças. É o bate
É um conceito muito amplo. Bartolomeu
bola da relação, não é só falar: “ah,
Campos Queiroz fala que nós estamos
legal”. O professor tem que devolver
fadados a ler. A leitura é aquilo que faz
a pergunta, ajudar nesse processo de
parte da vida desde que você é um bebê.
fala. Isso é fundamental para que ela vá
Leitura como esse lugar desde onde você
entendendo e vá aprendendo a se fazer
interpreta o mundo. Então a leitura é
entender.
fundamental para que a gente possa se
A oralidade é muito importante, inclusive
entender dentro do mundo. Antes da
para a linguagem escrita. A gente precisa
leitura do texto escrito a criança precisa
entender aquele contexto e de alguma
entender as diferentes linguagens sociais,
maneira falar dele, do que aconteceu, do
que eu escrevo e falo de formas diferentes
que imaginou... Porque a escola não pode
para atingir objetivos diferentes.
ser também um lugar de falar só daquilo
Essa é uma questão importante da gente
que existe e do que aconteceu de fato,
entender: a criança precisa entender
27
o mundo como lugar da cultura escrita. Nós estamos imersos nesta
cartão de natal, edições sm
cultura. Algumas crianças vêm de um contexto em que tem uma relação com a cultura letrada de uma forma mais intensa - situações em que a escrita faz sentido - e outras não. Não é homogêneo, embora todos estejam num mundo em que a escrita é central. A cultura de base é do universo letrado e isso não é só o texto escrito, mas palavras que se misturam com imagens e com diferentes gêneros. A criança precisa muito conhecer as funções e a escola se organizar para que a escrita tenha a sua função comunicativa. Então, é muito mais a ênfase na comunicação do que na leitura, do que na técnica? Exatamente. É a compreensão de que existem muitas formas de organizar essa palavra escrita e de que dependendo de para quem este texto se dirige ou do objetivo, eu vou redigir de uma ou outra forma. É diferente escrever um bilhete para a minha mãe ou uma carta para o prefeito reivindicando alguma coisa. As crianças só vão ver esse tipo de diferença se elas tiverem convívio com esses
gêneros. Então esse tem sido o grande desafio: como ampliar a imersão das crianças na cultura escrita? Esses dias a gente esteve com uma criança, filha de uma amiga, e ela não queria jantar. Os pais insistem e ela pega um papelzinho, faz uns rabiscos e coloca na porta da geladeira. “Está escrito: não quero jantar”.
Ela apelou para a
escrita, entendeu que a escrita tem um determinado poder. Olha que coisa interessante o que essa criança fez: ela escreveu sem nenhuma letra. É interessante porque às vezes a gente está tão preocupado com a relação letrasom que esse universo de compreensão, complexo e diversificado, não é muito trabalhado. Porque a gente está muito mais preocupado com a apropriação do sistema de escrita do que propriamente em compreender essa complexidade que é a linguagem, a comunicação, esse discurso que é produzido em diferentes
esferas de circulação.
ser humano não é só observador, ele é
Agora, é claro que ao participar de várias
criador de algo que não está aqui. Por
situações em que a escrita faça sentido,
isso é tão importante o estímulo criativo, a
situações interessantes e significativas
leitura podendo mobilizar coisas, mobilizar
para aquele grupo, a criança vai querer se
o imaginário, produzir outras formas de
apropriar disso. Porque quando a criança
expressão.
começa a descobrir a função, vai ter um
Mas muitas vezes quando se conta
momento em que ela vai querer pegar o
uma história, se brinca pouco e se
livro. Toda criança que ouve uma história
pergunta pouco. Se socializa pouco
que acha interessante, quer pegar o livro
aquilo que se percebeu. Em geral ficamos
e recompor a história por ela mesma.
naquelas perguntas mais simples: “Vocês
Ela vai inventando e reinventando pela
gostaram?”. Se gostaram, a gente vê nos
memória. Ela acha esse lugar do leitor:
olhos brilhando, na atenção das crianças.
eu posso inventar uma história, ler do
Mas o que é aquilo que a gente mobilizou
meu jeito. A curiosidade infantil vai se
na criança? Tentando entender isso a
fazendo: como que eu escrevo? E essas
gente pode envolver as outras formas de
bolinhas? E as pontuações?
linguagem: verbal, dramática, corporal...
ENTREVISTA
28
E além das histórias, os poemas. Essa Na sua experiência de visitar as
parte mais relacionada à arte, a estética
instituições, o que gostaria de ver mais
da língua. Que permite outra possibilidade
vezes?
de ver e pensar o “dizer”. Todos os textos são importantes.
Eu gostaria de ver as histórias muito
Mas na Educação Infantil a literatura
presentes nas salas, nas turmas, com
deveria ser fundamental porque além
todo o seu potencial lúdico, criativo e
de ser conhecimento de mundo, ela nos
expressivo. Nesse espaço que as histórias
humaniza.
abrem para você considerar o outro, para você imaginar. Esse mundo imaginário é
Alguma palavra final?
fundamental, a imaginação nos constitui. É fundamental tanto pra arte quanto
Eu acredito que a gente tem pensado
para a ciência: eu preciso ser uma
muito a Educação Infantil a partir do
pessoa que imagine para poder criar. O
Ensino Fundamental. A gente pensa na
29
escrita, na alfabetização, e pergunta: o que temos que fazer para chegar até lá?
FOTO: CRISTINA DAVID
E a gente tem que pensar ao contrário: como é que a gente vai formando esse processo de construção da linguagem até chegar a entender o código da escrita? O movimento deveria ser outro... Um movimento da criança para a escrita. Esse homem que constrói a linguagem passa por um processo que vai do gestual até chegar nessa forma mais elaborada, que permite uma forma de pensamento mais complexa, a organização e a fixação do pensamento. Quando a gente inverter essa lógica, talvez a gente consiga entender melhor o olhar específico da educação infantil. Entender que esse menino que está sendo instigado a fazer várias leituras – a leitura do gesto, das imagens – vai estar nesse processo de construção. É esse o movimento: entender o percurso, que não é linear e que não é sempre igual, mas construído por cada criança.
PATRICIA CORSINO é professora adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro, professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRJ, e coordenadora do Grupo de Pesquisa Infância, Linguagem e Escola.
Artigos da Autora Disponíveis Online Pensando a Infância e o Direito de Brincar Linguagem ne Educação Infantil: As brincadeiras com as palavras e as palavras como brincadeira O livro e o corpo: gestos e movimentos de leitura na escola e na biblioteca
alguns livros publicados (clique neles)
30
Projeto “O homem e a natureza“: meio ambiente, interação e linguagens Em um trabalho rico que envolveu muito diálogo, exploração do ambiente e desenho, a professora Marcia Cristina do Centro Municipal de Educação Infantil Liberdade refletiu sobre o desmatamento com um grupo de crianças de 4 a 5 anos de idade. O processo começou com uma roda de conversas e a visualização de muitas imagens para depois continuar com a exploração do jardim da instituição, a construção de maquetes e, por fim, a socialização com
SABERES DO COTIDIANO
as outras crianças do CMEI. Uma experiência que através da relação com as crianças pode mobilizar conhecimentos das ciências, o desenho e a oralidade. A ideia para este projeto surgiu a
homem como agente transformador da
partir da observação da necessidade
paisagem, compreender a importância
de conversar com as crianças sobre os
do
impactos causados no meio ambiente
hábitos de preservação. No decorrer das
por
atividades, as crianças avançaram para
conta
do
exacerbado.
Para
desmatamento
ambiente
e
desenvolver
isso
além destes objetivos pela riqueza dos
fossem
diálogos e na observação do ambiente.
encaminhadas com muito diálogo,
O projeto foi organizado em três etapas.
partindo do conhecimento prévio das
A primeira foi uma roda de conversa,
crianças para posteriormente avançar
a segunda uma exploração do CMEI e
com a descoberta de novos conteúdos.
a terceira a produção de maquetes e a
Conteúdos que visassem conscientização
socialização com as outras crianças da
e
tema.
instituição. Iniciamos a primeira etapa
No começo do trabalho, os objetivos
com uma roda de conversa tendo como
planejados foram os de vivenciar e
recurso imagens de matas: intactas,
valorizar atitudes de organização e
sendo
preservação
e posteriormente a esses processos.
planejei
atividades
conhecimento
de
promover
meio
que
sobre
espaços
o
coletivos,
refletir sobre os efeitos da ação do
As
queimadas,
crianças
sendo
encontraram
desmatas somente
uma causa para isto: “precisamos de
episódios demonstrados na TV, de
madeira para construir casas e móveis”.
grandes vendavais que foram capazes
Para
delas,
de derrubar árvores de grande porte.
motivos:
Perceberam que as árvores derrubam
loteamentos,
suas folhas uma vez ao ano e que “os
ampliar
o
repertório
apresentei
também
desocupar
área
pastos
o
para
alimentos.
galhos ficam pelados”. Relembraram que
Ao final desta roda de conversa, as
quando voltamos de férias no mês de julho,
crianças viram imagens projetadas de
o pátio do CMEI estava todo coberto com
peixes mortos em rios secos, plantações
folhas secas, o que tinha favorecido uma
secas, gados mortos ao chão, enchentes e
deliciosa brincadeira de chuva de folhas.
alagamentos. Estas imagens favoreceram
Ao chegar à parte final encontramos
a
e
outros
plantio
compreensão
geradas
pela
das
ausência
de
consequências das
duas árvores cortadas e queríamos
árvores
saber por que aquelas árvores estavam
no meio ambiente e, a partir delas,
assim. Para isso, solicitamos a presença
discutimos os porquês destas práticas e
da diretora. Ela esclareceu que elas
suas consequências negativas. Segundo
foram podadas após um ataque de
as crianças, quando há desmatamento,
um bicho predador e para não perdê-
os animais vão para outras florestas mais
las foi necessário podar. Chegamos à
próximas ou invadem o meio urbano.
conclusão que há diferença entre cortar
Na segunda etapa, fomos para a área
e podar. Constatamos que o tronco das
externa do CMEI para observar as árvores
árvores estava cheio de brotos e que eles
do pátio e o entorno da instituição. A
virariam novos galhos cheios de folhas.
observação foi de muitas descobertas:
Como a localização do CMEI permite que
perceberam a diversidade das árvores;
se aviste do alto a uma longa distância, ao
os diferentes tamanhos; a textura das
olhar para fora do CMEI, elas puderam
folhas; que umas produzem apenas
enxergar longe e chegaram à conclusão
folhas, outras produzem folhas e flores e
que as casas na sua maioria possuíam
outras folhas, flores e frutos; que as raízes
árvores. Perceberam que além das árvores
são como os galhos escondidos dentro da
proverem sombra, frutos e purificarem o
terra. Perceberam que o vento balança
ar, também tornam a cidade mais bonita.
as folhas, e que se não houver vento
Também envolvemos as famílias das
as folhas ficam paradas. Relembraram
crianças nesta parte do projeto: fizemos
31
32
um questionário com os pais, para que
fazer uma explicação para que os menores
eles pudessem comentar sobre o jardim
pudessem saber mais sobre o tema.
de suas casas e dar sugestões para
A experiência foi um sucesso: as crianças
ampliar o número de árvores no bairro.
explicaram com propriedade o sofrimento
Conforme a observação ia sendo
dos animais durante o incêndio, como
realizada, contavam-se as árvores. Ao
muitas árvores são derrubadas com os
final, constataram que o CMEI possui
ninhos dos passarinhos. E que a falta
23 árvores. Dentre elas, duas são
destas árvores causa desequilíbrio no
amoreiras. E, concluindo esta etapa,
clima, provocando estiagem e matando
se deliciaram com as amoras doces e
os peixes e plantas, gerando alagamentos
fresquinhas. Nesse momento surgiram
e atingindo negativamente a vida das
vários
conclusivos,
pessoas. Explicaram também os motivos
perceptíveis e sensíveis, comentários
pelos quais as pessoas desmatam.
oriundos dos sentidos e da percepção.
Ao final de todo o processo, percebi que
comentários
Na
terceira
etapa
do
a relação da criança com a natureza ajudou
projeto pensamos em
a desenvolver o senso crítico, estimulou
construir
várias
atitudes de questionamento, capacidade
que
de consciência e percepção de leitura da
representassem
paisagem. Elas ficaram sensibilizadas com
maquetes uma
floresta
o tema, além de formularem uma opinião
intacta com seus
respaldada com o conhecimento do qual
animais, uma floresta
se apropriaram. Durante as descobertas,
derrubada queimada.
e
outra
Como
as crianças ficaram perplexas com as
as
atitudes que homem é capaz de praticar
maquetes ficaram muito
com natureza e o meio ambiente. O
ricas, tivemos em conjunto
resultado foi muito mais que promissor,
a ideia de compartilhar os
foi
muito
além
das
expectativas!
novos conhecimentos com as crianças de 3 a 4 anos. Foram
PROFESSORA MARCIA CRISTINA
elaborados convites e entregues a
RIBEIRO OSINSKI
elas para a exposição das maquetes.
CMEI Liberdade
Várias crianças se voluntariaram para
33
Construindo, planejando e papeando... itas u m preciso O) é ARL bra C m o N s A I G azer ntinhas ( f a r Pa m ju e b s folha
Conversas e imagens das crianças ao longo da exploração do espaço externo.
“As amoras rosas são azedas e as pretas são melhores porquê são bem docinhas “Será que podemos dizer que as rosas ainda não maduraram Gustavo?” (Professora Marcia) É, elas ainda não maduraram.
(Gustavo)
SABERES DO COTIDIANO
34
As amoras rosas s達o azedas (FERNANDO)
com
As
raíz
e o p s são olvo ... parec (OT idas AVI O)
Professora, você percebeu que as folhas caem das árvores bem na época em que a gente não precisa delas, que é o inverno? No inverno a gente não precisa de sombra, e sim de sol para esquentar o frio. Já no verão está bem calor, aí sim precisamos de muita sombra para brincar no parque e nos proteger do sol quente, que faz bastante calor. (HALLANA)
É porque tem que esperar elas ficarem pretas para comer. Só que para elas ficarem pretas tem que vir o sol. O sol é quente, esquenta elas, e elas ficam maduras. (GIANCARLO)
35
36
INGRESSO NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS
Nova decisão sobre a data corte – “Falsa polêmica” Catarina Moro O Superior Tribunal de Justiça Federal (STJ) um dos órgãos máximos do Poder Judiciário do país, tem como missão zelar pela uniformidade de interpretações da legislação federal brasileira. Chamado de “Tribunal da Cidadania” é responsável por julgar em última instância todas as matérias infraconstitucionais. Em
O que diz a lei?
16/12/2014, o STJ julgou improcedente o pedido do Ministério Público Federal (Nº 1.412.704 - PE (2013/0352957-0)), sobre o direito de matrícula de crianças que não tenham completado 6 anos até 31 de março do ano em curso no 1º ano do Ensino Fundamental. A decisão do STJ é simples e clara. E reafirma as resoluções do Conselho Nacional de Educação/Câmara da Educação LDB 9394/96: Art. 29. A educação infantil, primeira
etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
FOTO: JIM PENNUCCI - W
Básica (CNE/CEB) nº 01, de 14/01/2010 e nº 06, de 20/10/2010 que determinaram a data de corte em 31/03. O relator – Ministro Sérgio Kukina - cita os artigos 29 e 32 da LBD (lei n. 9394/96), no qual lê-se: “O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciandose aos 6 (seis) anos de idade...” e enfatiza que as resoluções seguem o disposto na Lei sem cometer nenhuma ilegalidade, abuso ou ilegitimidade. Deste modo, é óbvio que se o Ensino Fundamental inicia-se aos 6 anos, o aluno precisa
ter esta idade ao começar o ano letivo,
a LDB como as resoluções nacionais.
sendo necessário definir uma data corte
Com isso, liminares e leis estaduais que
próxima desse ingresso das crianças.
indicam ou estabelecem o ingresso no 1º
O ministro reconhece que trata-se de
ano, mesmo a criança completando 6 anos
uma arbitrariedade, entretanto, reitera
após 31 de março, tornam-se passíveis de contestação judicial. A contestação pode ser proposta por pessoa física ou pessoa jurídica no melhor entendimento das questões pedagógicas implicadas na experiência educativa das crianças nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Nos municípios, é importante que a Procuradoria ou o representante jurídico do executivo municipal fique atento para sua necessária ação a favor do que sempre esteve proposto na política pública para reestruturação do Ensino Fundamental:
WIKIMEDIA COMMONS
que “qualquer outra data de corte que estabelecesse, anterior ou posterior à atual, geraria descontentamento de uma parcela de interessados”. A decisão do STJ enfatiza que cabe ao executivo, autoridade pública da educação, fixar ou suprimir requisitos para o ingresso das crianças no Ensino Fundamental. Não cabendo ao Judiciário estabelecer tais definições. Com base no fundamento dessa decisão, qualquer outra resolução que não esteja em conformidade com as resoluções do CNE, pode (deve) ter sua validade contestada, por contrariar tanto
a ampliação do tempo de escolaridade e não a simples antecipação do ingresso das crianças. Resolução nº06 de 20 de outubro de 2010: Art. 3º Para o ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental, a criança deverá ter idade de 6 (seis) anos completos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula. Art. 4º As crianças que completarem 6 (seis) anos de idade após a data definida no artigo 3º deverão ser matriculadas na Pré-Escola.
37
O que dizem as Políticas?
38
POLÍTICA PÚBLICA EM AÇÃO
PNBE 2014 Educação Infantil Catarina Moro
(PNBE 2008), além da Revista Leituras, o A Educação Infantil começou a ser
contemplada
pelo
kit Por uma Política
Programa
de
Formação
de
Nacional Biblioteca da Escola (PNBE)
Leitores, o v o l u m e
em 2008. O objetivo do Ministério da
2 0 da Coleção “Explorando o Ensino” –
Educação (MEC) com esse Programa é
Literatura Infantil – e outros materiais.
o de proporcionar às crianças e jovens
Em 2014, o Ministério encaminhou
matriculados nas redes públicas o
às bibliotecas das instituições/escolas que
acesso a bens culturais que circulam
oferecem Educação Infantil o PNBE na
socialmente,
o
escola: Literatura fora da Caixa - Educação
desenvolvimento de seu potencial
Infantil, publicação que acompanha os
leitor e propiciando uma maior e melhor
acervos de livros de Literatura Infantil
inserção de crianças e jovens na cultura
encaminhados às instituições para o
letrada.
uso coletivo de crianças e professores.
contribuindo
para
Ao longo dos anos, o MEC vem
Para a Educação Infantil foram formados
produzindo materiais voltados para
4 acervos distintos: 2 acervos para creche
os acervos do PNBE. Para a Educação
e 2 para a pré-escola, com 25 livros cada.
Infantil publicou o Catálogo Literatura
No final do documento consta a relação
na Infância: imagens e palavras
de todas as obras selecionadas, dos
39
diferentes acervos, para que os professores conheçam
a
totalidade
dos
títulos
selecionados. Cada acervo é composto por livros que permitem a leitura compartilhada entre professores e crianças e também a leitura autônoma por parte de crianças. Além disso, o MEC ampliou a distribuição para a Educação Infantil, encaminhando os acervos não apenas às instituições ou às suas bibliotecas, mas, também, para salas nas quais se dá o trabalho com crianças de 0 a 3 anos (creche) e de 4 e 5 anos (pré-escola). Segundo o MEC, este documento deve contribuir de modo efetivo com a circulação e leitura das obras que compõem os acervos do PNBE 2014 e com a formação leitora de crianças e professores. Pois é sabido que somente o acesso aos livros não garante sua apropriação, sendo essencial a mediação do professor para aproximar o leitor do livro. Nesse sentido, o trabalho do professor transpõe os limites do texto escrito e promove o resgate e a ampliação das experiências de vida das crianças e dele próprio. ILUSTRAÇÃO: AMOSTRA LE IMMAGINI DELLA FANTASIA 30 DA CASA DELLA FANTASIA - ANDRÉ NEVES
RESENHA DO LIVRO
40
Poesia para crianças: conceitos, tendências e práticas Organizado por Leo Cunha Quer descobrir um mundo fascinante
para qualquer leitor interessado), o livro
de letrinhas que cantam, de palavras que
tem por tema o mundo da poesia, ou
se enroscam e de frases que flutuam?
melhor, o mundo da poesia infantil. Como
Venha sem medo, sem receio, abra bem
trazê-la
os olhos, aguce bem os ouvidos, respire
a sala de aula,
bem fundo e deixe-se mergulhar... Te
como
convido a se deixar levar por alguns
FIQUE POR DENTRO
versos soltos ou pelas métricas de algumas rimas. Adentre, vamos lá, ao mundo da prosa em verso, da música em poema, da poesia em teoria... Isso
mesmo,
da
poesia
em
teoria! Ou da teoria em poesia... Ao ler os seis textos que compõem
para
a poesia “é imposs no mundo das quase crianças de forma apanhado, qu leve, mas com intencionalidade. em nossa cabe Parece um tempo em no pouco difícil inseri-la
começando assim,
mas
é
o livro organizado por Leo Cunha fica
só uma primeira impressão. É preciso
um tanto difícil dizer onde termina a
conhecer, compreender e praticar, e esta
discussão sobre a concepção desse
é a proposta dos autores em cada texto.
gênero literário e onde começam
De linguagem acessível, os textos se
os trechos de tantos poemas de
apresentam independentes entre si, mas
tantos poetas que circulam por aí.
formam uma composição interessante
Voltado
especialmente
para
o
e instigante e levam o professor a
professor de crianças do ensino
questionar, rever, aprimorar e (re)inventar
fundamental, mas extensivo também
sua prática em sala no que se refere
para aqueles da educação infantil (e
ao uso da literatura com as crianças.
Pode ser visto como um manual, uma
inteiras de poemas de tantos autores
vez que os autores dialogam com o leitor
conhecidos e desconhecidos que estão
de forma didática, numa explicitação de
por aí, prontos para serem lidos e relidos.
conceitos, e apresentam propostas de
Depois de ler o livro todo, muitas
atividades que o professor pode levar
podem ser as respostas para a pergunta
para suas crianças e usufruir junto a
“o que é poesia?”. A minha escolhida é
elas da magia da poesia. Ainda ajuda a
a de Angela Leite de Souza, que a partir
pensar em como constituir um acervo
do poema
de literatura infantil, seja no espaço
que a poesia
da sala, na biblioteca da escola e/ou
impossível de ser apanhado, que faz
na instituição de educação infantil.
cocegas em nossa cabeça e ao mesmo
Pode
ser
um um bichinho também livro teórico, já sível de ser que, mesclando de poetas e faz cocegas textos e poetisas com eça e ao mesmo citações de specialistas, osso coração” ediscute de forma
SYLVIA ORTHOF
aprofundada
tempo
de Sylvia Orthof, escreve
em
“é
um bichinho quase
nosso
coração”
(p.19).
Venha escolher a sua, quem sabe você não se encanta e se surpreende com a ideia de que a poesia é na verdade um cubo mágico...
e
fundamentada
conceitos e concepções relacionadas à poesia, literatura, literatura infantil e criança. Versa sobre a relevância de se estudar o tema, de como e
porque
mergulhar
conhecer, nesse
entender
universo
e
literário.
E melhor ainda, é um livro de poesia! Porque não se passa mais de uma página sem que você encontre um trecho, um verso solto ou estrofes
FRANCIELE F. FRANÇA
41
VIREI O BAÚ
memórias da educação infantil
Divertir e Instruir: a leitura ontem e hoje Como propaganda de uma livraria, o anúncio ao lado, de 1953, tinha a intenção de demonstrar que o livro era um ótimo presente, tanto para adultos quanto para crianças. Independente
da
intenção
mercadológica, tal recorte de jornal permite-nos rememorar a nossa relação com o livro. O
Propaganda da Livraria do Povo, em Curitiba
que líamos quando criança ou o que liam
– Jornal Paraná Esportivo, 19/12/1953, p.04
para a gente? De que títulos lembramos? Talvez você tenha se demorado a recordar pelo menos um livro ou autor que marcou sua infância, bem como a forma que a história chegou até você, seja pelas mãos ou vozes de um pai, uma avó,
VIREI O BAÚ
42
etc. Mas, o interessante é que, salvo raras exceções, todos nós travamos uma relação com a leitura em algum momento de nossa infância. Revirando paranaenses
o já
baú
dos
amarelados
jornais pelo
tempo, podemos perceber algumas iniciativas de bibliotecas cujos livros se voltavam para a criança, como a da
Biblioteca Divertinstrue, organizada pelo autor Alvarus de Oliveira e que lançava quatro obras: Horas de Conversa, de João Guimarães; Bicharadas, de Leônidas Bastos; e Eu vou contar uma História e Pequena História de uma Grande Vida, de Alvarus de Oliveira (PARANÁ-NORTE, 27/01/1949, p.01). O próprio nome da biblioteca era uma combinação do que seria o papel de tal espaço: divertir e instruir. A instrução por meio da leitura esteve presente desde a organização do ensino no Brasil. Quando a revista curitibana A
Escola
descreveu
seu
conteúdo
para os leitores, além dos assuntos
publicação e circulação de livros voltados
pedagógicos, estava “a literatura infantil,
para o público infantil, tais como: Viagens
compreendendo contos infantis e seleção
de Gulliver (1888), Robinson Crusoé (1885,
de poesias, diálogos, monólogos, apólogos
As Aventuras do Barão de Munchhausen
e pequenas comédias, tudo adequado
(1848), entre outros. É claro que nem
ao (...)”
espírito
infantil
(A
ESCOLA,
junho, 1921, p.01). Uma de
Capa Abílio
do
Livro
César
de
Borges
Leitura de
preocupação apresentar
todas as crianças
de
1850.
tinham acesso a esse universo
contudo, ele existia.
um
O
interessante
conteúdo próprio para
é
o universo da criança.
como
Se
literário,
pensarmos
em
estamos
perguntássemos
contribuindo
nossos
avós,
que nossas crianças
as
desenvolvam
cartas e bibliotecas de
práticas de leitura,
família, provavelmente
tendo em mente,
encontraríamos títulos
tal como escreveu
dos chamados “livros
Sonia
Kramer
de
(2014:09)
,
aos
revirássemos
leitura”,
muito
para
que
utilizados no século XIX,
toda a discussão de
como: a Gramática do
literatura,
infância,
Coruja (1835), de Antonio Álvaro Pereira
escola, creche, espaços sociais, implica
Coruja e o Livro de Leitura de Abílio (1850),
em uma consciência de que a experiência
de Abílio César Borges. Juntamente com
de ser criança vai sendo tecida a partir
adaptações de obras estrangeiras e de
das histórias à ela contadas e por ela
jornais que se voltavam para o público
inventadas.
infanto juvenil, como: as traduções de
E você, já leu algumas das obras aqui
Júlio Verne, de Alexandre Dumas e dos
citadas? Que tal fazer a leitura para as
irmãos Grimm. A chegada da família real
suas crianças hoje? Convite lançado...
no Brasil, bem como a implantação da Imprensa Régia (1808), contribuiu para a
ETIENNE BARBOSA
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A LUA NO CINEMA
Não tinha porque era apenas Uma estrela bem pequena Dessas que quando se apagam Ninguém vai dizer que pena. Era uma estrela sozinha Ninguém olhava pra ela E toda luz que ela tinha Cabia numa janela. A lua ficou tão triste Com aquela história de amor Que até hoje a lua insiste Amanheça por favor.
Vi(r)agens e Vir-Ações Poéticas
A lua foi ao cinema Passava um filme engraçado A história de uma estrela Que não tinha namorado.
PAULO LEMINSKI