Comportamento
Síndrome da Gaiola, o efeito pós-pandemia Uma das preocupações para os pais de crianças e adolescentes atualmente é o comportamento dos filhos diante do “novo normal”. O sofrimento mental de quem ficou confinado dentro de casa por quase dois anos durante a pandemia, pode causar efeitos diferentes em cada um e começa a aparecer não apenas em adultos, mas em crianças e adolescentes principalmente. No momento em que as pessoas se abrem para o mundo, passam a enfrentar o medo do novo, de voltar ao presencial, de ter contato físico com outras pessoas. Algumas crianças apresentam medo de ir à escola, de ir ao supermercado e outras situações do dia a dia. Os adolescentes, que antes tinham uma vida normal, agora sentem que estão ainda numa situação anormal. Foi daí que surgiu a expressão “Síndrome da Gaiola”, pois as crianças e adolescentes se viam fechadas num mundo isolado e agora têm que enfrentar a rotina fora de casa. É quase uma fobia social que especialistas apontam como um transtorno de ansiedade. As pessoas pensam: “eu agora posso ir, mas até onde?’; “O que pode ou não?” e todo 16 Novembro/21 I 23 ANOS
esse dilema causa danos à saúde mental. Outro ponto a destacar são as crianças que nasceram em meio à pandemia. Elas não tiveram contato com outras crianças, não conhecem o estar com o outro, não experimentaram nenhum convívio social, além do seu núcleo familiar. Elas vão a um parque e ficam surpresas. É um mundo desconhecido. Em relação aos adolescentes, embora estejam querendo voltar ao convívio com os colegas, eles agora apresentam um medo do que irão encontrar. Eles ficam divididos entre dois mundos. De um lado a liberdade e do outro a fobia social. Fobia Social O transtorno de ansiedade social ou fobia social é um medo marcante e persistente de uma ou mais situações sociais, como por exemplo, encontrar pessoas que não são da família, ser observado comendo ou bebendo e situações de desempenho em que a pessoa se sente exposta a desconhecidos ou a uma possível avaliação dos outros. Segundo a American Psychiatric Association, em crianças, a ansiedade deve ocorrer em contextos que
envolvam outras crianças e não só adultos. Esse medo e ansiedade é expresso por choros, ataques de raiva, imobilidade, comportamento de agarrar-se, encolher-se ou apresentar dificuldade em falar. Importante lembrar que esse fenômeno comportamental recente, a “Síndrome da Gaiola”, não é uma doença ou um transtorno mental. É um retrato da atualidade, do “pós pandemia”, um estresse adaptativo entre pessoas que possam passar por dificuldades emocionais ao ter que sair do estado de retiro no qual estiveram em virtude da pandemia. De acordo com a bíblia da psiquiatria, o DSM-5, referência para os profissionais de saúde mental, nos EUA, 75% das crianças diagnosticadas com fobia social tiveram o início do transtorno por volta dos oito anos, porém, estudos mostram que com a pandemia esse diagnóstico está cada vez mais precoce. Segundo especialistas espanhóis, como o neurologista infantil Adrian Garcia Ron e a psicóloga Isabel Cuellar Flores, estudos recentes, de 2020, demonstram que a saúde mental infantil foi muito afetada. As crian-