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Prémio Nobel da Medicina

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No passado dia 5 de Outubro, o Prémio Nobel da Medicina de 2020 foi atribuído a três cientistas cujo contributo para a identificação do vírus da hepatite C foi decisivo.

Figura 1

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Figura 1 - Resumo das contribuições dos 3 vencedores do prémio Nobel da medicina na descoberta do vírus da hepatite C. Harvey J. Alter detetou um tipo de hepatite, até então desconhecido, que atingia a maioria dos doentes que recebiam transfusões sanguíneas. Michael Houghton procedeu à identificação formal do código genético do vírus da hepatite C. Charles M. Rice comprovou a patogenicidade do vírus e o seu contributo para as infeções explicáveis de hepatite por transfusão de sangue.

Harvey J. Alter

Harvey J. Alter é médico e foi investigador na área das transfusões de sangue. Pouco depois da descoberta do vírus da hepatite B em 1960, Alter e colegas investigaram o desenvolvimento de hepatite em doentes recetores de transfusões, tendo identificado casos em que não se verificava infeção por nenhum dos vírus da hepatite até à data conhecidos - o A e o B. Desta forma foi possível “comprovar” a existência de um agente infecioso responsável por uma percentagem alargada de casos de hepatite, denominada na altura de hepatite não A, não B.

Michael Houghton

Michael Houghton é virologista e doutorado em bioquímica. Foi graças ao seu trabalho, em 1989, que foi possível identificar oficialmente o vírus da hepatite C através do isolamento da sua sequência genética. Para tal, Houghton e colegas desenvolveram um novo sistema de recombinação in vivo e in vitro, consistindo na recolha de fragmentos de DNA de modelos animais infetados e subsequente identificação dos que pertenciam ao vírus através de anticorpos obtidos do soro de doentes.

Charles M. Rice

Charles M. Rice, também ele virologista e doutorado em bioquímica, foi quem permitiu responder à última questão relativa a este vírus: era o vírus da hepatite C o único agente causal da doença? O seu trabalho envolveu o reconhecimento de uma região do RNA importante para a replicação viral, e geração de uma sequência de RNA variante do vírus contendo esta região, sem variações genéticas inativadoras. A injeção desta sequência em modelos animais levou à manifestação das mesmas alterações patológicas descritas por Harvey, permitindo esclarecer o envolvimento deste vírus na patologia.

O vírus da hepatite C, tal como o da hepatite B, são vírus transmitidos por transfusões sanguíneas que causam infeção hepática. Esta inicia-se com a inflamação crónica, a qual culmina na cirrose hepática. Em cerca de 20% destes casos, estas alterações poderão ainda desenvolver carcinoma hepatocelular.

Segundo a OMS, 1 em cada 50 pessoas na Europa apresentam infeção crónica pelo vírus da hepatite C, enquanto que nos Estados Unidos estima-se que, entre 2013 e 2016, cerca de 1,7% dos indivíduos adultos estariam infetados.

A alta prevalência da infeção provocada pelo vírus da hepatite C nos países desenvolvidos, juntamente com as consequências graves a nível de morbilidade e mortalidade, realçam a importância das descobertas de Alter, Houghton e Rice. O trabalho destes cientistas permitiu conhecer o seu mecanismo, desenvolver testes de deteção sensíveis e produzir fármacos antivirais eficazes. Estes desenvolvimentos definiram novos paradigmas da virologia, imunologia e biologia, contribuindo também para a investigação de outros vírus.

Mesmo com um desfasamento temporal de 23 anos entre o trabalho mais recente destes cientistas e a atribuição deste prémio, a doença pelo vírus da hepatite C continua a ser um problema de saúde pública que evidencia as discrepâncias socioeconómicas mesmo da sociedade dos países desenvolvidos. Os objetivos futuros para o controlo da infeção pelo vírus envolvem o aumento da literacia médica, promoção da prevenção especialmente nas transfusões e melhoria do acesso aos fármacos antivirais.

Lúcia Heitor

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