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É Essencial Aprendermos a Viver Juntos

O meu nome é Mariana Santos, sou estudante de medicina na Universidade da Beira Interior e, recentemente, em julho e agosto de 2020, decidi fazer as malas e rumar ao campo de refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos. Sou também embaixadora de Portugal de um movimento transnacional denominado “Europeans For Humanity”, que luta pelos direitos humanos fundamentais dos refugiados e requerentes de asilo e por um sistema europeu mais conectado e dotado de iniciativas humanitárias.

Agora, de regresso a Portugal, sinto que venho com uma missão ainda maior: denunciar as condições desumanas existentes nos campos de refugiados e combater a indiferença e normalização do problema que circunda a sociedade em que estamos inseridos.

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Em Moria encontrei um cenário indescritível. Cerca de 13 mil refugiados, oriundos da Síria, Afeganistão, Iraque, Irão e muitos mais países que os obrigaram a fugir de fome, guerras, torturas, perseguições, violência, encontravam-se num espaço projetado para albergar entre duas a três mil pessoas. Cerca de 40% destes habitantes são crianças, entre as quais 400 menores desacompanhados. Para além da sobrelotação evidente, existem inúmeros conflitos e condições inexplicáveis. Pessoas vulneráveis, incluindo sobreviventes de tortura e de violência sexual, são abrigadas em áreas inseguras.

Mulheres grávidas e mães com recém- -nascidos são deixadas a dormir em tendas, e crianças desacompanhadas, erradamente registadas como adultos, são colocadas em detenção. Existem apenas oito estruturas grandes, semelhantes a contentores, que abrigam 100 pessoas cada. A maioria dos imigrantes está distribuída por tendas de campismo ou abrigos improvisados, ambos muito frágeis. Apenas 1% das crianças refugiadas nas ilhas gregas vai à escola. Os residentes esperam 3h por cada refeição e a distribuição de água e até mesmo a existência de pontos de água corrente e condições de saneamento são bastante limitadas, se não inexistentes: existe um ponto de abastecimento de água para cada 1300 pessoas e apenas 1 casa de banho para cada 200 pessoas.

No dia a dia, enquanto estudante de medicina, estava inserida na vertente de farmácia, geria a medicação dos pacientes, mas também dava assistência a médicos e enfermeiros durante as consultas. O mais comum era tratar de ferimentos, queimaduras, esfaqueamentos derivados de lutas dentro do campo, mas também surgiam muitas erupções na pele, mordidelas de ratos, de animais, de cobras, além de infestações de piolhos em crianças e sarna, que era um problema muito grande dentro do campo.A covid-19 foi só uma catástrofe em cima de outra catástrofe, pois apesar de o campo ter sofrido uma reorganização que possibilitava a triagem dos doentes suspeitos, nada podia ser feito para os colocar em isolamento, por falta de condições. Mesmo que estivessem infetados o contágio ia ser drástico e iase alargar aos restantes membros da família.

O incêndio do passado dia 8 de setembro levou à criação de uma “Moria 2.0”. Chegam-me diariamente relatos de refugiados deste novo campo e nada mudou, aliás, parece que o problema cada vez mais se agrava: o campo está inserido numa antiga área militar onde existem ainda muitas balas perdidas, resíduos tóxicos. Até ao momento existem apenas 45 casas de banho e nenhum chuveiro (as pessoas têm de tomar banho no mar); não há distribuição regular de comida nem cobertores para o frio e vento que vêm do mar; não existe distanciamento social (as tendas têm mais de 100 pessoas lá dentro) e os casos confirmados de COVID-19 já perfazem um total de 243. O espaço de isolamento para as pessoas com COVID-19 é apenas um enorme retângulo, separado com arame farpado do resto do campo.

mais difícil nesta missão não foi ir, mas sim voltar. Voltar para uma sociedade que está tão intrínseca a esses valores, a esta indiferença. E está na altura de nos começarmos a educar e a educar quem nos rodeia, pois este é um problema que acontecesse na Europa e não é algo a que possamos ser alheios. É catastrófico aquilo com que nós nos deparamos. Quando vemos crianças a viver em condições desumanas sem qualquer tipo de educação ou acesso ao ensino básico, estamos basicamente a negar-lhes o futuro. A Europa tem todos os meios e recursos necessários para proceder à evacuação e integração destas pessoas nas diferentes sociedades. A vontade dessas pessoas se integrarem é imensa. Neste momento, estamos a negar-lhes a liberdade, os seus direitos mais básicos e eles apenas tentam lutar pela sobrevivência, mas está na altura de começarem a viver.

A maior mensagem que vos posso deixar é que não faz parte de todos nós colocar uma mochila às costas e partir em busca do desconhecido. Cada um tem a sua própria missão e de facto há muito que podemos fazer a partir do nosso próprio país.

Como podem ajudar

1. Educarmo-nos a nós próprios e a quem nos rodeia, pois só assim é que podemos argumentar válida e conscientemente. Só assim é que temos factos e bases para derrubar políticas, leis e argumentos extremistas;

2. Não é necessário que todos coloquem uma mochila às costas e partam em direção ao desconhecido, até porque para ir em direção a uma catástrofe como esta temos de estar física e mentalmente preparados, pois, se assim não o for, podemos estar em risco de ser responsáveis por ainda provocar mais injustiças e afetar outros em situações vulneráveis;

3. Partilhar, partilhar, partilhar. Partilhar e divulgar todas as informações e atualizações da situação atual e das medidas tomadas, de sites fidedignos, pois só assim é que conseguimos causar impacto a nível político;

4. Donativos. É necessário informarmo-nos sobre as ONGs para as quais queremos doar. Neste momento é fundamental existirem doações a nível monetário e de bens materiais como: máscaras, luvas, viseiras, desinfetante, equipamentos de proteção individual, etc.

Organizações (médicas)

Kitrinos Healthcare; Stichting Bootvluchteling (BRF); Medical Volunteers International e.V.; Healthbridge Medical Organization; Médecins Sans Frontières Greece (MSF); Rowing Together

ONGs (não médicas)

Fenix Humanitarian Legal Aid: Movement On The Ground; Refugee 4 Refugees; Lighthouse Relief; Because We Carry; Team Humanity; EuroRelief; Becky´s Bathhouse; Together For Better Days; Donate4Refugees

5. Participar em protestos e demonstrações em diversas cidades;

6. Envia e-mails aos representantes do Parlamento Europeu do teu país e exige políticas de asilo mais humanas e abrangentes: https://www.sean-binder.com/end- -moria

7. Envia este e-mail aos ministros portugueses para exigir a evacuação imediata do campo e acolhimento destas pessoas:

https://docs.google.com/…/1wqSTAi4U92vdH3Uhk3cU…/mobilebasic

8. Assina petições e exige ação por parte dos decisores políticos:

https://www.change.org/p/leavenoone- behind-prevent-the-corona-catastrophe- -now-also-at-the-external-borders; https://www.change.org/p/european-parliament-europeansforhumanity; http://chng.it/PVDttjTXv9

Contactos

Email europeansforhumanity@gmail.com Website https://europeansforhumanity.org Facebook: https://www.facebook.com/europeansforhumanity/ Instagram @europeansforhumanity

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