![](https://stories.isu.pub/86845870/images/37_original_file_I0.jpg?crop=472%2C354%2Cx0%2Cy0&originalHeight=385&originalWidth=472&zoom=1&width=720&quality=85%2C50)
2 minute read
Um Natal Sem Casa
Muito mais que festejos, presentes, embrulhos e luzes, “Natal” significa nascimento, vida, o florescimento. Palavra de uma grandeza tamanha, com o poder de acolher tantos significados e de ser interpretada à luz de várias perspetivas. Apesar de intrinsecamente relacionada com o Cristianismo, é passível, por exemplo, de ser assumida, de um ponto de vista não religioso, como somente uma época de reflexão acerca da vida, dos valores que nos compõem e do mundo que nos envolve.
No entanto, toda a essência do conceito, seja de que ponto de vista for, está a ser perdida, em detrimento da ambição humana. Tem sido, cada vez mais, uma forma da indústria atrair atenções e despertar o consumismo na população. Aqui, ser cristão, ateu, ou apenas uma pessoa que preze o momento de introspeção, pouco importa. O materialismo, fortemente realçado nesta altura, tem vindo a atender à ânsia de todos.
Advertisement
Assiste-se, assim, a uma época natalícia que se converte, a passos largos, numa época de exageros, e substancialmente menos filantrópica. Atinge-se um ponto em que uma dualidade surge, ou melhor, acentua-se, diante de nós: de um lado, uma sociedade gananciosa e despreocupada; de outro, inúmeros seres humanos sem acesso às necessidades mais básicas e inerentes ao desenvolvimento. Não é normal. Para além de desumano. Ter consciência, claro, de que é difícil e demorado mudar tudo isto, mas não é impossível. É só saber lutar e não ficar indiferente. Mas, paradoxalmente, as pessoas preferem fechar os olhos e olhar para o seu ego.
![](https://stories.isu.pub/86845870/images/37_original_file_I0.jpg?width=720&quality=85%2C50)
Com o título “Natal sem Casa”, pretendo fazer alusão a vários pontos. Referir- -me, claro está, à palavra “casa” no seu sentido literal (abrigo), mas também englobar outros aspetos, como o afeto, o aconchego, a estabilidade familiar e emocional, no fundo tudo aquilo que dá conforto (lar), e que, infelizmente, é negado a tantas pessoas. Não é necessário pensar muito, que, rapidamente, demasiados exemplos me invadem a mente. Dados da UNHCR, que datam do final de 2019, mostram que, até ao término desse ano, 79.5 milhões de pessoas foram obrigadas a deslocar-se, tanto dentro do próprio país como para outros, devido a perseguições, guerras e violação dos Direitos Humanos. É o caso dos refugiados e dos migrantes, que vivem em condições inexplicáveis e inconcebíveis à luz do bom-senso e do humanitarismo. Mas também de pessoas à fome, pessoas que sofrem de violência, dos sem-abrigo, de pessoas que são rejeitadas pela sociedade por não corresponderem aos estereótipos... É todo um ponto de rutura que a Humanidade está a sofrer. O que será o Natal para cada um deles? Fará sentido corrermos atrás do telemóvel de última geração, ou daquelas sapatilhas supercaras e que estão na moda, mas que vão ser só mais umas no armário, quando existem pessoas que não têm nada? Nada mesmo. Só sofrimento e desejo de ter uma vida mais feliz. Não têm uma casa onde viver durante o ano, muito menos para festejar o Natal; não têm roupas nem alimentos, quanto mais presentes… Vivem sempre por defeito e nunca em excesso! Todo o ano. Ano após ano, porque são ignorados.
Com isto não quero dizer-vos para alterarem os vossos hábitos por completo, mas para refletirem um pouco mais. Quando estiverem com as vossas famílias, parem e pensem o quão privilegiados são e agradeçam por isso, seja agora no Natal, seja fora dele. E, por favor, não fiquem indiferentes. A indiferença ao sofrimento é a maior enfermidade da Humanidade!
Marta Soares