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cultura. a fantástica oficina de arte de Francisco brennand
from Revista Habitat 5
O mundO maravilhOsO de Brennand
Oficina dO artista cOmpleta 50 anOs e vira institutO, cOm O ObjetivO de levar sua arte para mais gente e fOrmar nOvOs artistas
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No centro do mundo do artista plástico e ceramista pernambucano Francisco Brennand havia um Parque das Esculturas. Foi lá, no Recife antigo, que viveu pelo menos 70 dos seus 92 anos de vida. Ele e seu acervo de mais de 2,5 mil peças. Pintou, escreveu, esculpiu, modelou argila e bronze e, por tudo isso, disse certa vez ter sido absolvido. Afinal, seu mundo particular era vasto, criativo e incompreensível para muitos. Mas, para todos, Brennand foi salvação e pura inspiração.
Dois anos depois de sua morte, a Oficina Brennand completa 50 anos e vira instituto, com o objetivo de levar sua arte para mais gente, formar novos artistas e funcionar como um centro cultural, fomentador e difusor de práticas artísticas e culturais contemporâneas. Patrimônio nacional e marco cultural do Recife, a Oficina Brennand salvaguarda um amplo conjunto de obras do artista, distribuídas em espaços expositivos, jardins - alguns deles projetados por Roberto Burle Marx - e reserva técnica. A Oficina compreende também edificações fabris, ateliês e uma capela, de autoria do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, além de instalações de atendimento ao público, como café e loja.
O prinCípiO
O começo de tudo foi em novembro de 1971, quando Brennand resolveu usar as ruínas da Cerâmica São João da Várzea, fundada em 1917 pelo próprio pai, para queimar suas cerâmicas. Sabia que queria ser artista, mas, segundo Pedro Brennand, empresário e filho do artista, estava mais interessado nas formas de expressão mais clássicas, como a pintura. Isso até viajar em companhia de Cícero Dias para um curso de arte. “Logo que cheguei a Paris, levado por Cícero Dias, vi uma belíssima exposição de cerâmicas de Picasso e fiquei evidentemente sem jeito ao ver que a minha família se dedicava há décadas à arte e à indústria cerâmica. Eu tinha os preconceitos normais de um estudante de arte da época e a cerâmica estava inscrita dentro de uma arte menor, uma arte decorativa utilitária, o que não era verdade. A cerâmica era muitíssimo mais misteriosa do que o século 19 poderia supor com suas conceituações.”
De volta ao Brasil, quase um ano depois, animado com a efervescência cultural parisiense e com os amigos que fez, deu início a um projeto de esculturas de cerâmica que se multiplicaram nas áreas interna e externa das ruínas da olaria. “Tudo se passou como se estivesse restaurado um templo e não uma fábrica. E foi este caráter fetichista e obsessivo que inspirou todo processo de criação”, comentou.
A principal temática da obra de Francisco Brennand é a origem da vida e a eternidade das coisas, representadas de forma pictórica, com linhas de inspiração primitivista, elementos da tradição popular e evolução sofisticada. O meio ambiente e o futuro da raça humana no planeta foram preocupações que marcaram a vida e a arte dele, que sabia como dar formas aos sonhos. Um mundo maravilhoso e criativo que obedecia somente ao talento indomável de Brennand. “Ele não tinha limites. Pouco antes de falecer, o médico queria interná-lo e ele postergava a ida ao hospital alegando estar terminando um trabalho. E foi assim mesmo, saiu de lá para o hospital depois de terminar a série Delírios, com 113 quadros”, conta o filho Pedro.
Obra
Em quase oito décadas de atuação, Francisco Brennand desenvolveu uma expressiva produção artística, que incluiu esculturas cerâmicas, murais, mas também pinturas, desenhos, gravuras, obras têxteis e escritos. Parte desta produção integra o acervo da Oficina Brennand e outra parte está presente na coleção de diversas instituições culturais e em espaços públicos.