Revista Tangerine #9

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MetaNoia

Pedro Fonseca Patti Em meio a tempos de isolamento, fez-se necessário um convívio intensificado do eu consigo mesmo. Desprovido de uma educação emocional e de uma cultura receptiva de ações que promovem a saúde mental, o ser humano tem tido dificuldade de organizar seu mundo interno. Escutar a si mesmo e enxergar seu próprio reflexo não é sítio fácil de se habitar e os efeitos do isolamento social e do confinamento em casas e apartamentos turvam nossas águas que um dia pareciam cristalinas, congelando-as em um passado distante, acessível somente por memória. No fio narrativo traçado, o sujeito toma consciência de si como quem re-experiencia uma memória antiga, onde boia o retrogosto da história já vivida e escorre o desejo por uma nova existência. O enclausuramento físico e psíquico com seu próprio corpo impede a transgressão de quem não se identifica mais com sua própria imagem. Quando se dedica a cada detalhe de seu mal, é fácil querer sentir-se como seu próprio avesso, no entanto a troca de pele não é processo leve. Por meio das duplas exposições analógicas realizadas com filme preto e branco 35mm, o confronto consigo mesmo é representado em um sujeito que tem seu interior atravessado, desvelando as várias versões de si que mascaram a roupagem humana. Além disso, o congelamento das fotografias ilustra o aprisionamento de corpo do sujeito, reafirmando como estamos presos a nós mesmos, e a busca por transgressão é, por fim, a partir do espelho, barrada por seu próprio reflexo.

Pedro Fonseca Patti é fotógrafo, mineiro e experimentador. É também estudante de psicologia na UFMG, campo de conhecimento do qual retira a matéria prima para suas imagens, ancoradas em temáticas da psicanálise e da mente humana.

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