5 minute read

Resenhas: Álbuns que escutamos na redação

RESENHAS

ÁLBUNS QUE ESCUTAMOS NA REDAÇÃO

Advertisement

HELP US STRANGER - A VOLTA TRIUNFAL DO THE RACONTEURS

Depois de 11 anos de espera, o The Raconteurs está de volta com tudo. O supergrupo é formado por grandes nomes como Jack White (The White Stripes, The Dead Weather), Jack Lawrence, Brendan Benson, Patrick Keeler (The Afghan Wings) e, ocasionalmente, Dean Fertita (Queens of the Stone Age). A banda continua mantendo a fórmula já testada e aprovada dos discos anteriores. Em 2008, o hit Steady as She Goes chegou ao topo das paradas e consagrou o The Raconteurs. Agora, em 2019, o grupo conseguiu ir ainda mais longe: Help Us Stranger ficou em primeiro na lugar na Billboard Top 200 Albums. Um feito que é digno de respeito em tempos atuais, ainda mais se tratando de um álbum de rock. Musicalmente, o The Raconteurs apresenta no trabalho uma espécie de folk com roupagem do garage rock. Estilo reminiscente do The White Stripes, porém dessa vez mais maduro. A faixa de destaque, Help Me Stranger, serve de guia para entendermos o álbum: acordes abertos no violão pontuados, por linhas de guitarra distorcidas e precisas, dão suporte à voz de White e Benson. Na cozinha, um baixo sintetizado bem situado na mixagem e uma percussão de peso. Com o sucesso de Help Us Stranger, Jack White e companhia provam mais uma vez serem verdadeiros heróis modernos do rock, e proporcionam uma dose de confiança aos jovens artistas que também almejam fazer sucesso em tempos atuais.

APKÁ - CÉU

Céu percorre um caminho que deixa sua música mais hermética. É uma escolha curiosa, ela faz escolhas de composição e produção que são próprias do tropicalismo, sem esteticamente se parecer com o os jovens da década de 60. Isso pois ela mistura elementos de música pop atual navegando entre o intelectual e o popular sem filtros. O resultado é um disco estranhamente dançante, de bons temas melódicos, arranjos sintéticos e letras interessantes. Quando estreou nos rádios, mais de uma década atrás, Céu se firmou como uma das muitas belas vozes femininas brasileiras. Seu talento parecia que seria aprisionado em mixtapes (hoje playlists) de “vozes femininas”, um pouco indissociável. Porém os álbuns que se seguiram foram marcados por escolhas firmes que deram personalidade justa a sua bela voz. Os destaques ficam com as faixas Coreto, a qual ela dedicou um clipe de estreia, Forçar o Verão e a deliciosa

BOSSA GOT THE BLUES - A BOSSA NOVA MODERNA DE BOSSACUCANOVA E ROBERTO MENESCAL

Em Bossa Got The Blues, Bossacucanova, uma banda que já está na estrada desde 1997, se junta a Roberto Menescal e apresenta ao mundo mais um dos seus trabalhos vanguardistas. A premissa do grupo sempre foi a mistura da bossa nova com elementos modernos e eletrônicos, e quem acompanha a cena musical tipicamente brasileira deve se lembrar do alvoroço causado pelo grupo no final dos anos 90, um alvoroço que chegou a importunar alguns puristas na época. Quase 20 anos depois, é difícil mesmo ao mais conservador dos ouvintes negar que o futuro da música esteja na mistura de ritmos e estilos que antigamente pareciam intocáveis. Bem produzido musicalmente, o álbum, apesar da premissa à primeira vista curiosa e sagaz, cumpre muito bem o que propõe. Os elementos eletrônicos dividem bem a composição com instrumentos acústicos: não há competição ou briga por espaço. O álbum possui faixas tanto pautadas em argumentos mais tradicionais, como Blues Bossa, que, como o próprio nome diz, é uma mistura dos dois estilos quanto faixas mais vanguardistas, como Laudir’s Theme, contando até mesmo com uma batida eletrônica que faz um bom trabalho em segurar o groove e o gingado tipicamente brasileiros. O álbum é, portanto, uma boa e amigável pedida para ouvintes de todos os níveis de conhecimento no mundo da bossa nova, especialmente para leigos que procuram conhecer o gênero musical de uma maneira fácil e divertida.

FREE - IGGY POP EM BUSCA DA LIBERDADE MUSICAL

cansativo ser uma lenda viva do rock: por mais que o gênero seja sinônimo de liberdade e rebeldia, as pessoas sempre esperam algo muito específico vindo de você. Em Free, Iggy Pop se liberta do fardo que carrega de sua longa e cansativa carreira e apresenta a nós um pouco do seu verdadeiro eu. As faixas, pessoais e atmosféricas, parecem se ligar entre si para formar uma história maior e nos mostrar um lado diferente de Iggy: uma faceta suave e até um pouco jazzística de alguém que é considerado o avô da música punk. Um ato, no mínimo, ousado. Ao ouvir a faixa introdutória, paira no ar uma sombra de dúvida e até estranheza sobre o que virá pela frente. Depois do breve momento de mistério, a identidade inconfundível do artista, mesmo de um jeito pouco visto antes, ganha forma e confere ao ouvinte um sentimento de familiaridade em Loves Missing, com uma linha de baixo forte, guitarras minimalistas, arranjos de metais simples e algumas camadas eletrônicas suaves. Outra música que merece destaque no álbum é o seu primeiro single, James Bond. Uma composição atraente e divertida, a faixa parece nos mostrar que, apesar de cansado, Iggy está feliz em sua nova forma. E o mais importante: livre para desbravar novos horizontes da música.

III – LUMINIEERS

Termine seu café orgânico, suba em sua bicicleta e vá comprar o novo álbum do Lumineers em vinil. A banda que cantou o amor hipster em 2012 e com seu belíssimo folk Ho Hey está de volta com o ambicioso álbum III. O terceiro na carreira da banda é formado por três EPs de três músicas que formam uma narrativa (I - Gloria Sparks, II - Junior Sparks e III - Jimmy Sparks). Complementam o álbum quatro “faixas bônus” que estão relacionadas a projetos paralelos (inclusive trilhas sonoras) dos quais a banda participou desde Cleopatra. Em tempos de lançamentos digitais e estratégias que cada vez mais se afastam da produção de álbuns conceituais, o Luminneers usa a própria lógica do mercado para contrapô-lo. O som é aquele que conhecemos, carregado nas cordas acústicas, vozes sofridas e até um pouco mais arrastado que os álbuns anteriores. É a música dos arredores da Washington Square em Nova York, das madrugadas inebriantes dos universitários que continua a se renovar.

This article is from: