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A Silibrina do Filho de Tonheta
A SILIBRINA DO FILHO DE TONHETA
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Depois de crescer em meio as artes e o palco, Gabriel Nóbrega encerra hiato com composições que dão um tom refinado à música instrumental brasileira
Por Fernando de Freitas
Gabriel se sentou ao piano e mostrou ao pai, o artista Antônio Nóbrega, suas composições que viriam a ser o primeiro álbum do Silibrina. Ele havia abandonado a música aos 18 anos por um “emprego sério”, a contragosto do pai. E, naquele momento que marcava o seu retorno ao universo ao qual este tanto o queria trazer, uma coisa ficou bem clara: seu pai não gostou das músicas.
“Meu pai me moldou no músico de que ele precisava. Ele me levava nas rodas para eu aprender e com 12 anos eu passei a tocar na banda dele”, conta o líder do Silibrina. “Eu tinha uma formação clássica de piano, tocava frevo e outros ritmos com meu pai e rock numa banda de amigos, que era uma forma de me enturmar, mas eu nunca tocava aquilo que ouvia”.
Os seus pais são os multiartistas que fundaram o Instituto Brincante. A mãe, Roseane Almeida, é bailarina de formação, mas também atuou como atriz e artista circense. Seu pai é violinista, dançarino, ator, professor, pesquisador, entre tantos talentos que lotam casas de espetáculo. E nessa família, Gabriel precisou de um hiato após a adolescência nos palcos.
SILIBRINA: UMA BANDA ESCOLHIDA A DEDO
Tendo composto e arranjado todas as músicas de seu primeiro álbum, O Raio, Gabriel Nóbrega passou a procurar os músicos para gravar as músicas de acordo com o som que ele procurava. “Eu não conhecia nenhum músico antes de contratá-los, nem eles se conheciam entre si. Da formação que gravou primeiro álbum para a que gravou O Estandarte, praticamente todos os músicos mudaram, mas a banda adquiriu entrosamento e os músicos passaram a se sentir mais confortáveis dentro daquilo que compus”.
Após a gravação do segundo álbum, o Silibrina fez alguns shows no Brasil e partiu para uma turnê internacional, que incluiu Canadá e Europa. No Festival de Jazz de Toronto, recém-chegados de viagem e ainda meio amassados pelo voo, os músicos não se avexaram e botaram para quebrar. A música instrumental de cores completamente diferentes de tudo que era tocado ali começou a chamar atenção, talvez pelos ritmos ou pelos arranjos, mas o inusitado aconteceu. Aquela banda brasileira, quase desconhecida, ofuscou a atração que tocava no palco principal e Gabriel e sua trupe foram chamados para mais uma apresentação no dia seguinte, com status de banda grande e um belo destaque.
Mas o que o som do Silibrina tem de tão diferente? “É música brasileira instrumental”, diz o compositor e pianista. “É um apanhado de tudo que ouvi na vida, que estudei”, e se sente à vontade quando chamam de jazz.
Uma das comparações mais comuns é com a banda de jazz fusion Weather Report, o que surpreendeu Gabriel. “Até parece mesmo, mas eu não conhecia a banda antes da comparação. Aí fui ouvir e fiquei com a sensação de que tinha algo em comum”. Claro que tem! Na superbanda de jazz tocaram uma porção de percursionistas brasileiros, tais como Airto Moreira e Dom Um Romão, e a percussão é exatamente onde ele iniciou sua carreira musical. Existe uma identidade que se forma, ainda que agora se apresente no piano.
Na Europa ele se sentiu acolhido. Tocando ora em festivais, ora em pequenas casas que eram bares de música. Sempre causando estranhamento por onde passava, mas garantindo a conquista do público. As pessoas nunca esperavam o que eles entregavam, o Brasil ainda é um país meio idílico em alguns lugares, associado ao samba e à bossa nova. Mas sempre existia uma identificação. “No Leste Europeu, eles têm as fanfarras”.
Gabriel Nóbrega deixou a percussão e se sentou ao piano para compor música instrumental que conquista o público por onde passa. E Antônio? Se rendeu? “Quando meu pai viu o primeiro show, com a banda completa, ele gostou. Ali ele entendeu o que eu estava fazendo”.