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LUTHIERIA - MUSICA ARTESANAL

MÚSICA ARTESANAL:APRENDENDO A CONSTRUIR SEU PRÓPRIO INSTRUMENTO

Por Fernando de Freitas

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O instrumento musical é um objeto de arte em si. Os elementos mais diversos do que pode ser considerado arte estão inclusos nele. Do design à teoria técnica de tensão que faz som e timbre ressoarem. Produzir música em um instrumento é fazer arte a partir de um objeto de arte. Em algum estágio da relação com a música, todo entusiasta deseja um dia possuir um instrumento que lhe sirva como um costume de alta costura e, para isso, passa avaliar seus custos. Outros investem em uma relação ainda mais profunda, a de construir seu próprio instrumento e aprender a arte da luthieria.

O ofício artesanal remonta a uma tradição outrora cercada de segredos transmitidos de mestre para discípulo, senão, de pai para filho. Não à toa, grandes construtores de instrumentos de pianos a violões eternizavam o nome de suas famílias.

O MAIS DIFÍCIL É CONSTRUIR UM BRAÇO

É um trabalho de marcenaria feito de detalhes e escolhas. A escolha dos modelos e da madeira. Walter Gabriel indica seus fornecedores para que o aluno compre material de qualidade, mas a escolha final é inteiramente do aluno. Já Pedro Machado, da Ecoguitar, tem a proposta de trabalhar com reaproveitamento de madeira, com material de demolição. Um de seus alunos, Zé Elias, volante símbolo do Corinthians na década de 90, usou madeira retirada da casa de seu avô para construir um modelo Les Paul.

A força de uma guitarra está em ela ser bem construída e ter bons componentes de ferragem e elétrica. “Nós começamos pelo principal, que é definir a escala” diz Pedro em sua oficina, na Vila Beatriz, idílico bairro entre a Vila Madalena e Alto de Pinheiros. Para ele, é na definição da escala que está a alma da guitarra, a partir disso se define o modelo e tem início a construção das peças. Para ele, as madeiras mais utilizadas pelo mercado influenciam pouco no som, sua escolha foi feita por adequação de disponibilidade e preço no mercado norte-americano nos anos 40/50.

Para Gabriel, é importante ensinar o aluno a construir um instrumento acústico. “Quem constrói um violão de qualidade, depois faz uma guitarra. O contrário não é necessariamente verdadeiro. O som do violão é só dele, sem amplificador, efeitos e distorções, não tem como enganar”. Em sua marcenaria, é possível aprender a construção de diversos instrumentos de corda, tais como violões, violinos, contrabaixos, violoncelos e até guitarras, porém, do modelo archtop, ou seja, de corpo acústico.

A apenas alguns quarteirões de distância da rua Teodoro Sampaio, onde o ex-aluno Henrique cuida da loja W. Gabriel, está a escola de luthieria onde os alunos aprendem, como numa antiga corporação de ofício, em um curso de 18 meses durante o qual, sob sua supervisão direta, os estudante trabalham em seus instrumentos e ajudam uns aos outros.

“É uma forma de terapia para a maioria dos alunos. Mas muitos se tornaram profissionais, outros já trabalhavam na área, mas não sabiam construir e vieram aqui para se aperfeiçoar” diz Gabriel com orgulho de professor. Pedro, apesar de bem mais jovem, tem a mesma experiência na escola: “Algumas pessoas não se contentavam em comprar minhas guitarras, queriam participar do processo. Com isso, também passei a ensinar outros profissionais”. A diferença entre eles está na metodologia: na Ecoguitar, você termina a construção em 5 dias de aula, geralmente divididas em uma aula por semana.

Apesar das diferenças, há muita coisa em comum nos processos de ambos. Ao se proporem a ensinar todos que querem aprender, contrariam uma tendência de um mercado cheio de segredos. Também deixam bem claro, mais especificamente na hora de esculpir o braço, de dar o seu raio, que este é o ponto em que o aluno tem mais dificuldade e no qual precisa mais de sua atenção.

O MESTRE JÁ FOI APRENDIZ

Filho de um luthier de violinos, começou a aprender com o pai, mas Walter Gabriel gostava mesmo era do violão. Foi pesquisando os instrumentos que tocava, os “violões de fábrica” que começou a desenvolver seus próprios instrumentos. Até que um espanhol de Valência chamado Antônio foi até sua oficina conhecer seu trabalho. “Rapaz, ele tocava muito. Ele achou tanto defeito no meu violão e eu fiquei assim, ó! O cara achou defeito em tudo. Eu tratei bem porque a opinião dele era importante para mim. Aí passou uns 15 dias e ele voltou na minha oficina com um case e um livro debaixo do braço. Foi muito engraçado, eu achei que ele nunca ia voltar, mas por isso que é importante tratar bem as pessoas. Quando abri a porta, ele falou: teu violão está ruim, mas tua mão é boa”. N

o case ele trazia um violão Romanillo e o livro, em inglês. Gabriel foi direto para a máquina de fotocópia, copiá-lo para ser estudado e traduzido tendo o dicionário como melhor amigo. A partir desse momento, o luthier construiu mais quatro violões, a encomenda do quinto foi do próprio Antônio. Daí para frente, mais de 20 violões foram enviados para Espanha e muitos outros para uma loja em Nova York.

Foi assim que começou a dar aula. “Eu vi a dificuldade que a gente tinha para achar a informação. Quem quer aprender, aprende, mas o caminho de aprender sozinho é muito comprido. Então a gente acaba diminuindo o caminho, ensinando” e em 1990 ele começou a ensinar o ofício.

UM CURSO PARA TODOS

Pedro nem pensava em dar aulas quando decidiu fundar a Ecoguitar. Seu objetivo era continuar o ofício que aprendera com Eduardo Ladessa - e já estava começando a construir um certo nome no mercado.

Foi quando um conhecido fez uma estranha encomenda que sua perspectiva começou a mudar: não bastava comprar a guitarra, o pedido era para participar do processo ativamente. Pedro não sabia como ensinar e teve que descobrir a fazer isso da sua própria maneira, e deu certo.

Assim lançou seu curso e começaram a aparecer pessoas que ele nunca imaginou para construir suas próprias guitarras. Era gente com graus bastante diferentes de conhecimento sobre o instrumento e ele entendeu que era necessário ensinar todos os passos e conceitos, pois quem estava ali não necessariamente se tornaria profissional, mas queria aquela experiência. “No começo, o que mais assusta são as máquinas, mas logo as pessoas se acostumam” diz Pedro.

Na escola de W. Gabriel, as aulas funcionam à noite e aos sábados. ““A grande maioria vem do zero, sem conhecimento nenhum, não sabe nem pegar no formão. São médicos, advogados e até desembargador que vêm aqui. Para muitos, é um tipo de terapia. Tem gente de todo jeito. Semana passada começou um luthier de São Caetano do Sul a aprender a fazer a Archtop”, conta sobre os 30 anos de experiência de ensino.

CAPTADORES

GANHO ALTO, MÉDIO E MODERADO

Por Érico Malagoli

Na hora de construir sua guitarra, você terá uma ideia de como gostaria que ela soasse. Um elemento importante disso é saber escolher o captador pelo ganho, para dar ao instrumento seu timbre ideal. Há um tipo de ganho melhor que outro? Claro que não, o que existe é aquele mais adequado ao som que você busca. A Malagoli e alguns outros fabricantes disponibilizam a saída do captador, expressa em mV. Essa é a única medida que determina seu ganho real.

O ganho dos captadores está relacionado ao uso que se fará deles. De modo geral, captadores de ganho moderado são mais indicados para estilos mais suaves, como Jazz, Blues, MPB. Já captadores de ganho mais alto são indicados para estilos mais pesados, como Metal, Thrash, Death Metal.

Isso porque captadores de maior saída, por terem mais compressão e um pico de ressonância menor, se portam melhor com distorção e com os

equipamentos utilizados para os estilos mais pesados, da própria guitarra ao amplificador. Naturalmente, combinam melhor com estilos mais encorpados e, em alguns casos, sujos.

Por outro lado, captadores de ganho moderado (ou baixo), muitas vezes chamados também de ganho vintage, têm um timbre mais aberto, por conta do pico de ressonância mais alto, muito mais definição e timbre mais suave, o que combina melhor com os estilos citados.

Há também os de médio ganho, que ficam em um nível intermediário, legais para Hard Rock e Classic Rock.

Captadores de alto ganho costumam ter a sonoridade mais fechada, mas não necessariamente sem brilho, pois hoje, na fabricação, já utilizam imãs de alnico 8 e neodímio, que já possuem frequência mais alta como característica.

O mesmo vale para a definição sonora, usando os ímãs acima ou mesmo alnico 5, conseguimos captadores de alto ganho com ótima definição e clareza. Por outro lado, guitarristas como Slash e Yngwie Malmsteen fazem sons pesados e distorcidos com captadores vintage de baixo ganho.

Uma dica legal é pensar de forma diferente para o captador da ponte e do braço, pois na posição BRAÇO as cordas movimentam mais do que na ponte, justamente por estarem mais distantes da fixação. Então, nessa posição, captadores de ganho moderado soam mais fortes do que na ponte, onde você pode colocar um captador de maior ganho para um set mais versátil, por exemplo. É o que fazemos quando indicamos os sets mais famosos: Custom 84 ponte e Custom 59 braço.

No fim, acaba sendo acima de tudo uma questão de gosto, portanto, pesquisar é muito importante.

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