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STEVE SHELLEY - DNA DE MÚSICO
STEVE SHELLEY - DNA DE MÚSICO
O baterista do lendário grupo Sonic Youth e sua ligação com o Brasil.
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Por Ian Sniesko
Se você é fã de rock alternativo e/ ou viveu na década de 90, certamente conhece o Sonic Youth. Formado por Thurston Moore, Lee Ranaldo, Kim Gordon e Steve Shelley, a banda rompeu as barreiras entre o que é música e o que é apenas ruído e emplacou hits noventistas como “Kool Thing”. Hoje, é raro ir a um festival de música alternativa e não ver ao menos uma camiseta estampada com a capa do clássico álbum “Goo”.
Também é provável que conheça a história de Moore e Gordon (do namoro, casamento e divórcio, principalmente depois da excelente autobiografia dela). Assim, enquanto integrantes trabalham em seus próprios projetos – Moore, Ranaldo e Gordon seguem carreira solo –, Shelley grava e viaja com as bandas Sun Kill Moon, Riviera Gaz e Gata Pirâmide; as duas últimas brasileiras.
O baterista possui uma identidade digna de destaque, e muitas vezes subestimada – claro, é difícil concorrer com as guitarras barulhentas de Thurston Moore e Lee Ranaldo –, mas o ouvinte cuidadoso percebe que sem a percussão de Shelley não existiria uma base para o Sonic Youth.
Os detalhes das batidas não podem passar desapercebidos, ora apresentando assombrosas arrastadas de baquetas com cerdas (ouça: “Hyperstation”, do álbum “Daydream Nation”), ora rápidas e precisas de punk (ouça: “Kool Thing”, do álbum “Goo”), que destacam o coração de uma banda vibrante.
Sua identidade própria não vem do acaso, antes de integrar o Sonic Youth, em meados de 1985, Steve Shelley fez parte do Crucifucks, uma banda com um estilo que transitava entre o hardcore e o post-punk, de batidas rápidas, guitarras ardentes e letras de protesto. Depois de tentar obter, sem sucesso, uma vaga como baterista da banda L-Seven, o músico partiu para Nova York para assumir as baquetas do Sonic Youth.
O BATERISTA DA CASA AO LADO
Mas este jeito de ser combina com seus projetos paralelos, como a gravadora independente Smells Like Records ou a Vampire Blues Records, que são, no fim das contas, formas de usar as próprias conquistas para divulgar a música que ele ama. É com essa mesma liberdade que Shelley vem escolhendo os projetos dos quais participa ativamente como músico.
LIGAÇÃO COM O BRASIL
A ligação do baterista com o Brasil nasceu em 2013, quando o músico veio acompanhar Lee Ranaldo em turnê e acabou por conhecer o guitarrista Guilherme Valério. Já em 2015, na sua segunda vinda para terras brasileiras, Shelley foi convidado por Valério a integrar o seu projeto chamado Gata Pi- râmide.
O Gata Pirâmide é formado por Shelley, Guilherme Valério (HAB), Paulo Kishimoto (Forgotten Boys) e Jozé Barrichello (Jennifer Lo-Fi). Shelley é um nome de peso. Era, portanto, previsível que as apresentações do projeto de Valério atraíssem um número considerável de fãs da banda nova-iorquina. Nas divulgações do show, era o nome do baterista que aparecia em destaque, na maioria das vezes.
Por essas e outras, a proposta improvável à primeira vista, é digna de causar dúvidas: “O que o baterista do Sonic Youth faz por aqui, em terras brasileiras?”; a resposta, inesperada: nada mais nada menos do que lhe é esperado como baterista do Gata Pirâmide.
O ritmo conduzido pelo músico também traz a essência da diversidade de Shelley: em muitas músicas, a batida é suingada, suave e apresenta percussão, remetendo ao jazz, ao blues e até mesmo a sons tipicamente brasileiros. Todo esse suingue também concede um bom acompanhamento para a kalimba, instrumento atípico que frequentemente ganha destaque no som do grupo.
Apesar do som atmosférico e mais suave do Gata Pirâmide, o baterista também consegue imprimir na bateria a força que desenvolveu em seus anos na cena punk. Sem demandar holofotes para si, sem solos complicados e demorados de bateria, Shelley está ali para participar da banda como um todo. E este é o ponto mais interessante do projeto: uma lenda humilde do underground tocando ao lado de jovens artistas brasileiros.