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JAZZNOSFUNDOS FAZ A CENA PAULISTANA

JAZZNOSFUNDOS FAZ A CENA PAULISTANA

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Por Ana Sniesko

Quando o Jazz nos Fundos chegou por aqui, era tudo mato. Entenda que, neste caso, mato era tudo diferente de música instrumental. Era minguo ou quase inexistente a presença de casas que abriam seu palco para esse tipo de som. Ledo engano de mercado, já que o jazz ganhou notoriedade na cena paulistana, que recebe festivais, shows e mais um tanto de eventos ligados a esse estilo. O responsável por esse movimento é Máximo Levy, mais conhecido como Max, um artista plástico argentino que fincou raízes no Brasil e deixou brotar um celeiro que abraça não apenas o Jazz, mas toda a música instrumental. “Não me inspirei em nenhuma iniciativa específica para criar o Jazz nos Fundos. Ele nasceu nas condições que a gente tinha, que era um fundo de um estacionamento”, comenta Max sobre a casa que recém completou 13 anos. Primeiro, ele abriu as portas do seu ateliê para os primeiros movimentos. Uma festa aqui, outra ali e o Jazz se tornou um negócio. Nasceu o primeiro espaço na Vila Madalena que, anos mais tarde, ganhou a companhia de um irmão mais novo no coração da cidade, o Jazz B. “A ideia nunca foi criar um clube, mas estamos aí”, comenta. E não tem nada de acaso. É fruto de trabalho de pesquisa, de apostas e muito querer.

“As características do lugar são muito mais fruto do meu trabalho como artista plástico do que como referências. Nem no original, nem no que estamos hoje. Nos acomodamos ao que tínhamos”, comenta sobre o novo espaço ocupado pela empreitada, onde o Jazz nos Fundos é apenas uma parte. A casa de três andares ainda conta com a Sala do Autor, destinada a workshops e master classes, além do restaurante Barceloneta, que ocupa o terraço. Ao projeto primogênito coube ocupar o porão, que ganhou vida e movimento com bons sons.

Uma voz de resistência São Paulo pulsa, mas ainda não o suficiente quando o assunto é arte. “Qualquer ponto de cultura é uma necessidade para a cidade. São Paulo, sendo a capital cultural desse país, com as suas milhões de pessoas, continua sendo carente. Poderia ter muito mais lugares, tanto privados quanto públicos”, lamenta Levy.

Em uma entrevista recente, Max comentou que estar no centro é uma resistência, pura e dura. “Tem meses que não chegamos (a dar lucro) e aguentamos, e tem meses que chega. Nos últimos anos, não houve meses fáceis. Para ninguém. Hoje as pessoas saem menos, porque não têm dinheiro”, complementou. E, para a 440Hz, ele ainda foi além. “Trabalhar com arte no Brasil é uma batalha. Vivemos em um mercado consumista, focado em outros interesses. Tem pouca oferta e essa pouca oferta é para um grupo reduzido”, diz. O pouco espaço na mídia também é uma questão que incomoda o dono da casa. “A ideia do centro cultural nasceu da vontade de fazer outras coisas”, conta sobre o nascimento do Centro Cultural de Música Instrumental.

Os planos são antigos, mas as crises políticas e econômicas deixaram o centro para depois. Não que o cenário seja favorável, mas eles resolveram resistir e tirar a ideia do papel. “Em tempos de crise, a arte e a cultura são as primeiras a emergir. É nisso que nós apostamos”, conta.

Enquanto ampliam os serviços e a atuação na cena musical paulistana, o Jazz nos Fundos segue entregando música de qualidade para quem sai de casa em qualquer dia da semana. “Queremos que a visita do nosso cliente seja completa sob três aspectos: ambiente, música e boa gastronomia. É esse o nosso pensamento sempre”, diz.

Para além do próprio porão Com toda a sua vivência e experiência nesses 13 anos de Jazz em São Paulo, Max passou a apostar na curadoria de eventos e festivais como pilar importante do seu negócio. É um movimento para levar a música instrumental ainda mais longe e romper mais barreiras.

Em 2019 aconteceu o Festival Jazz Tempo Itália, com artistas do primeiro time da cena contemporânea do jazz italiano. Para o próximo ano, Max já anuncia que outras edições acontecerão, mas ainda sem revelar os temas.

Quando nos concedeu essa entrevista, Max acabava de voltar da Bahia, onde aconteceu o FAM Festival, um evento que reuniu música e entretenimento para toda a família, no MAM – Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. “Nós fizemos toda a curadoria do evento, que levou atrações gratuitas patrocinadas via Lei Rouanet. A nossa experiência com o JazzBB, por exemplo, nos ajuda a olhar com cuidado para as crianças também”, destaca. Para 2020, os planos são gigantes, mas Jazz, gastronomia e cultura são pontos garantidos. “Se tem boa música, nós estamos muito interessados em fazer.”

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