ANO 03 . XII EDIÇÃO JANEIRO/FEVEREIRO/2016 R$ 10,00
pg. 6
COP 21: Depois do consenso, a prática pg. 14
Do caos à lama, da lama ao caos
pg. 25
Caderno especial - Litoral RS e a sustentabilidade
Editorial
90 dias após a Tragédia de Mariana O Faz de conta de sempre
www.meiosustentavel.com
Mais um exemplo da falta de responsabilidade e de senso de coletividade em prol do bem comum.
O atual cenário brasileiro evidencia, mais uma vez, o descaso, a falta de ética e de profissionalismo, a lassidão de consciência das lideranças públicas e privadas diante de situações como as que resultaram na tragédia de Mariana. Tais constatações permitem-nos admitir que, se forem mantidas as mesmas práticas de faz de conta empregadas em quase todas as questões ligadas à preservação ambiental, estaremos constantemente sujeitos a toda dimensão de “acidentes”, cujas consequências podem ser tão ou mais devastadoras do que as que vivenciamos há três meses.
Ficou evidente, por documentos e depoimentos, que se tratava de mais um faz de conta de controle tanto por parte do órgão licenciador do Estado de Minas (SEMA) quanto por parte do Departamento Nacional de Mineral, vinculado ao Ministério de Minas e Energia, que, segundo a investigação, não cumpriu a sua função de fiscalizar adequadamente a barragem.
Nem uma simples sirene, instrumento obrigatório que teria servido para alertar trabalhadores e moradores da cidade quanto à iminência de ocorrência de um acidente que pudesse pôr em risco a população, foi acionada: todos foram pegos de surpresa. Portanto, estamos diante de mais uma dentre as grandes contradições que têm pautado as ações do governo brasileiro e do setor privado no que diz respeito a questões ambientais. Sabemos também que, há décadas, inexiste uma fiscalização e tampouco são enviados esforços reais e práticas no que diz respeito a questões que envolvem ações sustentáveis. No entanto, não podemos desistir, certamente, somos afetados pelos fatos que denigrem a imagem do nosso país em todos os âmbitos: mentiras, desculpas esfarrapadas, jogo de empurra e corrupção representam apenas parte da realidade que somos obrigados a enfrentar a cada dia. Se não nos preocuparmos com a eficácia dos planos dos governo federal, estaduais e municipais no que diz respeito a iniciativas em prol do bem coletivo em relação ao meio ambiente, podemos abandonar os sonhos de conquistar paz e vida saudável. Nas últimas eleições para presidente, tivemos acesso a planos e metas de cada candidato quanto a questões ambientais e ficamos decepcionados: tratava-se de um jogo de palavras rebuscadas, copiadas e padronizadas, comuns a todos. Concluímos, a partir desses dados, que as questões envolvendo soluções para os problemas ambientais não representavam uma prioridade para esses candidatos, que demonstravam assim, participar de um faz de conta para cumprir um protocolo qualquer. Não estamos surpresos com o que ocorreu na barragem de Mariana: essa é a nossa realidade brasileira! Boa Leitura A Direção
Direção Geral Silvana Bergamo Diretoria de Inovação e Relacionamento Ronei Orsini Presidente do Conselho do Leitor Leopoldo Justino Girardi Textos Martina Wartchow Revisão Tania Maria Merker Candotti Projeto Gráfico e Design Bárbara Gurgel Gráfica IDEOGRAF Área Técnica Caroline Schio e Simone Polleto Redação e assinaturas atendimento@meiosustentavel.com Publicidade comercial@meiosustentavel.com Revista on line www.meiosustentavel.com
Página facebook facebook.com/meiosustentavel
27/02 06 14 20 25 28 31 34
XII edição
Índice COP 21
Depois do consenso, a prática
Do caos à lama, da lama ao caos
Uma agenda cheia de compromissos inadiáveis
Litoral RS e a sustentabilidade Caderno especial
A tecnologia a serviço da educação ambiental Floresta Amazônica Gaúchos se mobilizam pelo planeta
Vamos melhorar nossas escolhas Vamos escolher lideranças do setor Público e Privado comprometidos e preparados para nos oferecer produtos e serviços sustentáveis, só assim venceremos os desafios da preservação da vida no planeta!
coletivo
ético ecologicamente educado
altruísta atuante capacitado a utilizar o conhecimento tecnológico para minimizar impactos ambientais
seletivo no descarte de resíduos
preocupado com o crescimento sustentável, considerando outros indicadores socioeconômicos parcimoniosos quanto ao consumo de água, luz, objetos, equipamentos, roupas
econômico (come apenas o que necessita) preocupado com a reservação da saúde (esporte-lazer e comida saudável-orgânica) voltado para uma vivência em harmonia com o meio ambiente
uso preferencial para veÍculos movidos a energia renovável
maior frequência do transporte coletivo ou compartilhado
uso mais frequente de bicicletas
Direitos reservados Editora Meio Sustentável
COP 21
Depois do consenso, a prática Nações signatárias terão que agir o quanto antes para limitar aumento da temperatura do planeta em 1,5°C. Já a sociedade precisa cobrar Pode ainda não ter sido o mais incisivo acordo para manter a Terra habitável e garantir a continuidade da raça humana por aqui, mas o fato é que, pela primeira vez na história, países ricos e pobres concordaram em agir contra o aquecimento global. Depois de quase duas semanas de debates, de 30 de novembro a 11 de dezembro de 2015, a plenária da COP 21, a 21ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, na França, decidiu, por unanimidade, que seus 196 países signatários não poderão continuar usando combustíveis fósseis e desmatando indefinidamente. O objetivo é manter o aumento da temperatura do planeta abaixo dos 2ºC estabelecidos no Acordo de Copenhague em 2009, limitando esse acréscimo em 1,5ºC do nível préindustrial até o final deste século.
O chamado Acordo de Paris, que já chega com atraso de, pelo menos, duas décadas de conferências, muita teoria e pouca prática, deve tomar forma legal a partir de 22 de abril de 2016, quando estará aberto para assinatura na sede da ONU em Nova York, Estados Unidos. É necessária a ratificação de, ao menos, 55 países.
6
meio sustentável . RS
Depende da maturidade de cada povo
Genebaldo Freire Dias Ambientalista brasileiro
“Todos os resultados da conferência foram positivos e até surpreendentes, considerando o estado de inação no qual nos encontramos”, avalia o ambientalista brasileiro Genebaldo Freire Dias, biólogo, mestre e doutor em Ecologia. Ele lamenta, no entanto, a atuação que considerou pífia da mídia internacional na cobertura do evento. Sobre as expectativas de tomadas de atitudes por parte das nações daqui para frente, Dias ressalta que não há mais lugar para discursos.
Ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius, bate o martelo verde sinalizando o consenso no Acordo de Paris. Ao seu lado, estão o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon; e o presidente François Hollande
A COP 21 ocorreu sob afirmações de que as mudanças climáticas são consequências da ação do ser humano, de que a Terra já aqueceu 0,8ºC desde o nível pré-industrial e de que nunca houve tanta concentração de gás carbônico prejudicando a camada de ozônio. O clima de otimismo em torno dos resultados da conferência é justificado pela vitória política e abrangência alcançada, no entanto os obstáculos pela frente são enormes e sua superação exige cobranças assíduas por parte da sociedade. O secretário executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, doutor em Biologia Tropical e Recursos Naturais, afirma que, mais do que nunca, agora, o papel dos cidadãos é fundamental. “Cada governo tem que, além de ratificar o acordo e registrar seus compromissos obrigatórios, estabelecer políticas e direcionar instrumentos e mecanismos que nos levem à descarbonização da economia mundial. Se a sociedade não se mobilizar para pressionar os governos a tomarem as decisões necessárias para cumprir com seus compromissos e aumentar seu nível de ambição climática, o risco é que se fique só no discurso”, ressalta Rittl. O Observatório do Clima é uma rede que reúne entidades da sociedade civil para discutir a questão das mudanças climáticas no contexto brasileiro.
Metas ainda tímidas
Com 29 artigos, o Acordo de Paris não contém metas específicas de cortes de emissão até 2050, só deixa em aberto a possibilidade de que essas metas sejam estabelecidas posteriormente. Também não determina com precisão quando as emissões precisam parar de subir e começar a cair, mas reconhece que o pico tem de ocorrer logo e conclama as nações a adotarem reduções rápidas a partir de então com a melhor ciência disponível. “As partes do acordo visam atingir um pico global nas emissões de gases de efeito estufa assim que possível, reconhecendo que o pico levará mais tempo para países em desenvolvimento”, diz o texto. Vale lembrar que, mesmo não estabelecendo limites ou metas de corte de emissões de carbono, o Acordo de Paris tem como referência os relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), criado no âmbito da ONU e que reúne mais de 1,5 mil cientistas e pesquisadores em torno do tema. Além disso, estudos apresentados pelo IPCC apontam que, para se conseguir manter a temperatura com elevação média de 1,5ºC, será necessário um corte de 70% a 80% das emissões no mundo até a metade deste século. Crédito: Mark Garten/ONU
Crédito: Mark Garten/ONU
“É uma questão de percepção, competência e gestão. Aí, vai depender da maturidade de cada povo, do seu ‘índice de ignorância’. As consequências estão à vista: da zia aos ventos de 120 quilômetros horários”, alerta.
Plenária: apresentação do projeto do documento final da COP 21
Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon; Christiana Figueres, da UNFCCC; ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius; e presidente François Hollande comemoram após a adoção histórica do Acordo de Paris Crédito: Mark Garten/ONU
ano 03 . 12ª edição
7
Apenas 8 das 196 nações signatárias ainda não definiram suas INDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas). O Brasil, por exemplo, estabeleceu como objetivo uma redução de 37% de suas emissões de gases estufa até 2020. O secretário executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, alerta, no entanto, que todas as contribuições somadas
resultam em um aquecimento global de pelo menos 3ºC até 2030. É necessário, portanto, maior ambição nessas metas e cumprimento rigoroso. “Se o espírito multilateral positivo visto em Paris se dissipar por alguma razão nos próximos anos, não haverá nada que amarre os países ao cumprimento do acordo”, alerta.
Conta a pagar pelos países desenvolvidos
Outro ponto polêmico que voltou ao debate na França diz respeito à conta do aquecimento global. Durante a COP 15, em 2009, na Dinamarca, os países desenvolvidos prometeram mobilizar US$ 100 bilhões por ano, a partir de 2020, para ajudar as nações pobres e as em desenvolvimento a financiarem a transição para energias limpas, assim como sua adaptação aos efeitos do aquecimento, como inundações ou secas. Os mais abastados, como os Estados Unidos, não queriam ser os únicos a pagar a conta e exigiam uma contribuição da China, Coreia do Sul, Cingapura e das nações ricas em petróleo. A fórmula proposta pelo Acordo de Paris e aceita pelos conferencistas é a de que “os países desenvolvidos devem avançar os recursos financeiros para ajudar os países em desenvolvimento. (...) Terceiras partes (países ou grupos de países) são convidadas a apoiarem voluntariamente”. Os conferencistas concordaram, ainda, em revisar, a cada cinco anos, tanto as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa quanto os financiamentos aos países menos abastados. Para fortalecer o acordo e tentar garantir seu cumprimento, também optou-se por uma forma jurídica híbrida, diferente do status legal do Protocolo de Quioto, de 1997. O documento aprovado na França precisa ser submetido à ratificação, aceitação ou aprovação dentro de cada país. Isso significa que, em nações como os Estados Unidos, onde o Congresso de maioria republicana resiste à aprovação de medidas de corte de emissão, as decisões podem ser implementadas por decretos presidenciais, sem o envolvimento do poder legislativo. Além disso, alguns dispositivos ficaram fora do documento e entraram no texto de decisão da COP 21. Esses elementos não precisam de aprovação doméstica nos países, porque são emendas à Convenção do Clima, já assinada e ratificada pelas 195 nações em 1992. Os principais objetivos com relação a financiamento, por exemplo, estão expressos nesse instrumento.
8
meio sustentável . RS
Principais pontos do texto - Países devem trabalhar para limitar aquecimento global em 1,5ºC até o final deste século. - Países ricos devem garantir, a partir de 2020, financiamento de US$ 100 bilhões por ano aos pobres e aos emergentes. - Não há menção à porcentagem necessária de corte de emissão de gases de efeito estufa. - Texto não determina quando emissões precisam parar de subir e começar a cair. - Acordo deve ser revisto a cada 5 anos.
Nova mentalidade favorece transformações
O Acordo de Paris tem a seu favor o crescimento gradativo de uma mentalidade sustentável na grande maioria das sociedades, transformação cuja necessidade foi reforçada, recentemente, pela publicação da Encíclica Laudato Si, do papa Francisco, sobre o meio ambiente. Para o pontífice, mais do que uma questão matemática do quanto é preciso reduzir as emissões de gases tóxicos na atmosfera para que a temperatura da Terra não atinja níveis ainda mais catastróficos, salvar o planeta e a raça humana é uma questão ética, cultural e espiritual. O secretário executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, afirma que o papa foi muito feliz ao enquadrar o tema como uma questão moral e ao dar uma base científica sólida ao seu documento. “Ele agiu como um grande ativista e um grande divulgador de ciência. Líderes muçulmanos e rabinos também se manifestaram sobre o tema, e o patriarca Bartolomeu, da Igreja Ortodoxa, já vem falando desse assunto há alguns anos. Tudo isso contribuiu para o excepcional caldo de cultura visto em Paris e que ajudou a COP 21 a ser um sucesso”, avalia.
Mobilidade de líderes
François Hollande Presidente francês
Outro importante empurrão à aprovação do documento foi a mobilização de líderes mundiais, inclusive antes da conferência, deixando claro que, para eles, a redução da emissão de gases de efeito estufa também é uma questão econômica. Pela primeira vez, os presidentes de algumas das nações mais poderosas do mundo envolveram-se pessoalmente para obter os compromissos necessários para um acordo. François Hollande, da França, fez encontros bilaterais com
vários dos 150 chefes de Estado que foram a Paris. A iniciativa deu aos negociadores uma plataforma de diálogo consistente, pois já havia uma base negociada com seus líderes.
Barack Obama Presidente dos Estados Unidos, um dos países que mais emitem gases de efeito estufa
Esforços de lideranças Barack Obama, dos EUA, telefonou para aliados e colegas relutantes, como o presidente chinês Xi Jinping, que acabou autorizando uma proposta de redução das emissões a partir de um pico em 2030. Já o presidente do evento, Laurent Fabius, ministro das Relações Exteriores da França, empenhou-se em encontros bilaterais com os negociadores para ajudar a destravar o caminho do Acordo de Paris. A própria presença de Fabius à frente da COP foi uma inovação, uma vez que a tradição sempre apontou como responsável o ministro do Meio Ambiente do país anfitrião. Outra parte desse processo diplomático foi a chamada Pré-COP, que reuniu 62 ministros em Paris nos dias 8 a 10 de novembro. O principal objetivo desse último encontro antes da conferência foi explorar possíveis vias de compromisso. Todos os grandes emissores de gases de efeito estufa foram representados: Estados Unidos, Canadá, Austrália, União Europeia, China, Índia, África do Sul, Brasil, Indonésia, Rússia, Arábia Saudita e Catar.
Terror x solidariedade O clima de empatia com a França após os atentados que mataram 137 pessoas e feriram outras 350 em Paris, dia 13 de novembro, também contribuiu para o consenso da COP 21. Mesmo em meio à tristeza e à insegurança, a decisão pela manutenção do encontro na capital francesa foi considerada uma demonstração de resistência global contra o terrorismo, a qual foi reforçada pela presença maciça dos maiores líderes mundiais no encontro. “Acreditou-se que a ameaça terrorista ano 03 . 12ª edição
9
fosse ter um impacto negativo sobre a conferência, mas o temor não se concretizou. Ao contrário, a solidariedade demonstrada por todos os países em relação à França ajudou a presidência francesa da COP 21 a conduzir a reunião com muito apoio”, afirma Rittl.
Prêmio Fóssil do Dia
Ainda que o evento tenha transcorrido nesse ambiente amistoso, houve muito trabalho entre os negociadores para lidar com alguns países que tentaram bloquear um acordo mais ambicioso. A coalizão Climate Action Network, com mais de 900 organizações ambientais, entregou diariamente o prêmio Fóssil do Dia para os países que mais levantaram obstáculos. Um dos grandes vencedores foi a Arábia Saudita, o maior exportador de petróleo do mundo. Também houve surpresas, dentre as quais se destacaram a Nova Zelândia, que ainda subsidia petróleo e carvão, a Bélgica, que não tem cumprido com seus compromissos assumidos diante da União Europeia, além das organizações internacionais de Aviação Civil e de Navegação Marítima, que, apesar de representarem 6% das emissões globais, conseguiram ficar fora de qualquer meta.
Florestas reconhecidas, mas sem desmatamento zero
As florestas foram reconhecidas como cruciais para a preservação do clima durante a conferência de Paris, e ajudas financeiras foram anunciadas para sua proteção. Os direitos indígenas e de populações tradicionais também são citados em diversas partes do acordo, no qual são reconhecidos como guardiões
meio sustentável . RS
Para atingir os objetivos propostos na COP 21, será necessária uma profunda transformação da matriz energética global, ainda com extrema dependência de derivados de petróleo e carvão. Apenas 10% da energia que move o mundo é renovável. Estudo de 2013 publicado na revista científica Nature alerta que, sem a adoção de maiores reduções nas emissões de carbono, o custo mundial das inundações nas cidades poderia aumentar para US$ 1 trilhão por ano até 2050 e os prejuízos poderiam se propagar por todos os cantos do planeta. Portanto, os investimentos para controle de emissões não devem ser vistos como despesa, mas como investimentos em gestão de risco e mitigação de eventos globais com impacto financeiro muito maior. Esse mesmo estudo aponta que quase 830 milhões de pessoas vivem em periferias urbanas com graves deficiências em infraestrutura e serviços. Isso transforma as cidades nas áreas mais vulneráveis a eventos climáticos extremos.
Crédito: Twitter
Crédito: FossilOfTheDay/Twitter
Matriz energética precisa ser transformada ou gastaremos US$ 1 trilhão/ano
Prêmio Fóssil do Dia
10
dessas grandes áreas verdes. No entanto, não há no texto o conceito de fim do desmatamento. Também preocupa ambientalistas o fato de que o documento abra uma porta para que a preservação florestal seja usada como um mecanismo de compensação de emissões. Eles temem que a limpeza da atmosfera promovida pelas florestas permita que aqueles que não cumprirem seu papel de cortar emissões continuem a poluir.
Concentrações urbanas responsáveis por 80% das emissões mundiais de gases estufa
Outro estudo, do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONUHabitat), aponta que as concentrações urbanas são responsáveis por até 80% das emissões mundiais de gases estufa e calcula que, até 2050, estas devem abrigar 70% da população mundial, que também deve crescer dos atuais 7,4 bilhões de pessoas para perto de 9 bilhões de seres humanos. Dentro dessa linha de raciocínio, uma das teses que ganhado força entre organizações sociais e do empresariais aponta para a necessidade de maior eficiência no uso de energia.
Marina Grossi Presidente do CEBDS
Segundo dados do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), associação civil sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento sustentável e reúne 70 dos maiores grupos empresariais do Brasil, há potencial para a implantação de programas de eficiência no uso de energias os quais possibilitariam um superávit de 20% de toda a energia gerada na América Latina. Esse número, segundo a presidente do CEBDS, Marina Grossi, permitiria uma economia de emissões de CO2 na ordem de 2 bilhões de toneladas e uma economia de US$ 2,8 trilhões até 2032. “Esse valor é duas vezes o investimento necessário, de acordo com o Banco Mundial, para prover acesso à energia a 1,1 bilhão de pessoas que vivem na escuridão no mundo”, afirma.
Contrastes gritantes entre patamares de sustentabilidade Os contrastes dos patamares de sustentabilidade são gritantes inclusive entre os países economicamente mais poderosos. Enquanto os Estados Unidos hoje já investem, em larga escala, em tecnologias limpas, como as que envolvem a utilização de carros elétricos e criação de empresas de inteligência de informação voltadas à proteção ambiental, a China se vê obrigada
a construir telhados nos espaços abertos para o recreio e atividades físicas dos alunos nas escolas por conta da poluição do ar nos grandes centros urbanos.
Coincidência ou não, no primeiro dia da COP 21, a China sofria graves efeitos da poluição lançada na atmosfera. Uma névoa densa cobria algumas cidades do país, especialmente Pequim, no dia 30 de novembro. Já pela manhã, o medidor de concentração de partículas de diâmetro inferior a 2,5 mícrons, as mais prejudiciais à saúde, indicava 592 microgramas por metro cúbico no ar da capital chinesa. O nível recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) é de 20 microgramas. O alerta laranja (anterior ao vermelho) obrigava as indústrias a reduzirem ou cancelarem sua produção. Também estava proibida a circulação de caminhões pesados nas estradas e havia sido ativada a revisão das licenças para as usinas a carvão, principal fonte de energia do país e um de seus maiores poluentes.
Protagonismo empresarial é necessário O protagonismo empresarial é necessário para a construção dessa nova economia descarbonizada. O Brasil levou a Paris, além da direção do CEBDS, integrantes da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Iniciativa Empresarial pelo Clima e Instituto Ethos. Para essas organizações, a participação das empresas nas conversas com os governos dos países em que estas estão sediadas e também nas que se estenderam durante a COP foi importante, porque as áreas que irão precisar de mais transformações estão justamente em cenários empresariais, como os que envolvem a geração e uso de energias, meios de transportes de pessoas e cargas, produção industrial e o fomento a um agronegócio de baixo carbono. Para a presidente do CEBDS, Marina Grossi, a aproximação de temas como agricultura e florestas é estruturante em um país como o Brasil. “Temos um agronegócio forte, e há muitas oportunidades de conduzir o setor para um modelo de produção de baixo carbono e de integração com os biomas naturais”, afirma.
ano 03 . 12ª edição
11
por mosquitos (inclusive aquelas veiculadas pelo aedes aegypti, como o zika vírus e a microcefalia).
O trabalho que o Brasil tem pela frente Empresas globais, muitas delas presentes na COP de Paris, já incorporaram o horizonte de baixo carbono em seus cenários de presente e futuro. “Quando as empresas percebem uma tendência clara, redirecionam seus esforços para manter a competitividade”, afirma Ricardo Young, ex-presidente do Instituto Ethos e atual vereador em São Paulo. O mesmo tem acontecido com os grandes bancos brasileiros e globais, que terão uma responsabilidade importante na oferta de crédito para o setor privado nessa guinada para uma economia de menor impacto ambiental. Para o coordenador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Roberto Waack, não há soluções únicas para o avanço da descarbonização dos diversos setores da economia. “A diversidade de abordagens vai garantir enormes oportunidades para inovação e novos negócios”, acredita.
Educação ambiental deve vir de berço
A COP 21 sinaliza um caminho, mas, para seguilo, é preciso fazer muito mais e melhor do que tem sido feito até agora. Estimular a compra de veículos automotores com a redução do IPI, por exemplo, não é algo compatível com o Acordo de Paris, assim como a prorrogação do prazo para a existência de lixões no Brasil, recentemente aprovada pelo Congresso Nacional. O desmatamento e a exploração do pré-sal também são incompatíveis. Para mudar a mentalidade de populações acostumadas com a emissão de agentes poluentes como o gás estufa, torna-se imprescindível investir em projetos educacionais. Desde cedo, a garotada precisa entender o gigantesco desafio civilizatório embutido no combate ao aquecimento global. Compreender o senso de urgência em torno do assunto é algo extremamente importante para essas novas gerações, que, se nada for feito, deverão crescer num planeta onde o desequilíbrio climático já tem provocado eventos extremos (furacões, tornados, tufões, tempestades mais violentos), mudança do ciclo das chuvas (com impactos vorazes sobre hidroeletricidade e produção agrícola), elevação do nível do mar, inundação das áreas costeiras e aumento das doenças transmitidas
12
meio sustentável . RS
Crédito: Camâra dos Deputados
Roberto S. Waack Coalizão Brasil Clima
O Brasil é um dos dez maiores emissores de gás carbônico do planeta. Ainda assim, seu papel na COP 21 foi importante em dois aspectos, na opinião do secretário executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl. Primeiro, ao colocar uma meta absoluta de redução de emissões na mesa, contribuiu para a criação de um certo grau de constrangimento entre grandes países emergentes que colocaram metas relativas (de redução de emissões por unidade de PIB gerado por exemplo). Depois, teve papel fundamental ao atuar como facilitador no difícil debate sobre diferenciação entre países ricos e pobres nos últimos dias de conferência.
Carlos Rittl Secretário Executivo do Observatório
do Clima
“No geral, o Brasil teve um papel construtivo”, avalia. No entanto, o desafio que se coloca ao país agora é o da implementação. Se quiser fazer valer o compromisso com 1,5º C, terá de reajustar sua INDC, de redução de 37% das emissões de gases poluentes até 2020. “A INDC anunciada no ano passado é claramente aquém da responsabilidade e da capacidade nacional de reduzir emissões”, afirma Rittl. Ele acrescenta que o compromisso do Brasil no âmbito do Acordo de Paris deve ser lastreado por uma mudança de rumo em muitas frentes. “É preciso zerar todo o desmatamento, legal ou ilegal, reverter a tendência histórica de sujar sua matriz energética e preparar a transição para uma matriz livre de emissões, com o desinvestimento progressivo em combustíveis fósseis”, ressalta. Complementa que também é preciso investir pesadamente em agropecuária de baixa emissão de carbono, direcionando 100% do crédito dos
Planos Safra para essas práticas. “Poucos países do mundo têm tantas condições de dar um salto decisivo rumo à descarbonização quanto o Brasil, e poucos têm tanto a ganhar - em eficiência econômica, em resiliência e em qualidade de vida para a população - quanto o Brasil”, acredita.
O reconhecimento dos direitos indígenas é outro ponto em que o Brasil se encontra na contramão do acordo. Enquanto, nos fóruns da ONU, essas populações ganham relevância e respeito, por aqui, enfrentam uma tentativa diária e desumana de aniquilação. Não faltam exemplos colhidos no dia a dia, em todos os âmbitos, vindos, inclusive do Congresso Nacional e do Planalto. Nos corredores do poder, em Brasília, parlamentares e governo tentam saquear terras pertencentes aos indígenas ao promover sua utilização em projetos de mineração e de implantação de hidrelétricas. A PEC 215, projeto que muda a Constituição, põe fim aos direitos dessas populações. Outros grandes obstáculos a serem superados são os que dizem respeito à corrupção e ao descaso com que o tema meio ambiente ainda é tratado no país. Importante ressaltar que o Brasil chegou
na França para a COP 21 carregando na mala o peso do desastre de Mariana/MG, acontecido no dia 5 de novembro, semanas antes da conferência. Até hoje, ninguém foi responsabilizado ou punido pelo grave desastre ambiental e social, mas já se sabe que as falhas são inúmeras, desde licenças concedidas irregularmente por diferentes esferas de governo, fiscalizações precárias ou inexistentes e negligência da mineradora Samarco, a dona da barragem de rejeito de minério de ferro que se rompeu deixando um rastro de lama e morte até o mar do Espírito Santo. “A implementação do Acordo de Paris começa em casa. O Brasil deve parar de tratar as mudanças climáticas como assunto menor, dissociado de suas políticas, planos e investimentos voltados para o desenvolvimento socioeconômico”, defende Rittl. Segundo ele, o único caminho possível é o do desenvolvimento visando ao zero carbono. “Além disso, está cada vez mais claro que reduzir emissões não é só bom para o clima, é bom negócio também. Traz inúmeras oportunidades e é importantíssimo para a competitividade e mesmo a sobrevivência econômica”, destaca.
SISTEMA CONSTRUTIVO COM PERFIS DE PVC MAIS CONCRETO SUSTENTABILIDADE 01
Durabilidade garantida
04
Não propaga fogo
02
Conforto térmico e acústico
05
Obra limpa e sem desperdícios
03
Imunidade a cupim, mofo e corrosão na casa
06
Rapidez e facilidade para construir a casa
Rua Boa Vista, 842 – Portão – RS – Brasil www.bazze.com.br / bazze@bazze.com.br + 55 – 51 – 3562-1020 ano 03Fone: . 12ª edição 13
Do caos à lama, da lama ao caos... Tragédia ambiental em Mariana/MG escancara desrespeito à vida e às leis. Até agora, ninguém foi responsabilizado ou punido Embora tenha se tornado hit na década de 1990, mais de 20 anos atrás, a frase “do caos à lama, da lama ao caos”, trecho da música da banda pernambucana Nação Zumbi, vem automaticamente à mente quando o assunto é a tragédia de Mariana/ MG. Na letra, a ordem é invertida, a lama vem antes do caos, mas, no caso do maior desastre ambiental da mineração brasileira, o caos havia sido instaurado muito antes. A edição anterior da Revista Meio Sustentável estava indo para a gráfica quando a barragem de resíduos de minério de ferro da Samarco se rompeu, dia 5 de novembro de 2015. Não foi possível, portanto, fazer a cobertura imediata, mas ainda deu tempo de criarmos e concedermos ao Brasil o Troféu de Incompetência na Gestão Ambiental. Em um anúncio institucional na página ao lado do índice, levantamos questões importantes sobre o acontecido que agora retomamos. 14
meio sustentável . RS
Algumas das perguntas, no entanto, continuam sem ou com respostas vagas: A lama que escorreu é ou não tóxica? Até agora ainda não ficou claro se os metais pesados encontrados ao longo da Bacia Hidrográfica do Rio Doce já estavam - ou não - lá antes da passagem da lama de resíduos da extração de minério de ferro, afinal, o rio, agora considerado morto, já era o décimo entre os mais poluídos do Brasil.
Alguém renunciou por má gestão? O diretor-geral do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), Celso Garcia, pediu demissão duas semanas após o acidente. O departamento tem, entre outras atribuições, o dever de controlar e fiscalizar as atividades de mineração em todo o Brasil. O diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, e o diretor de infraestrutura e operações da mineradora, Kléber Terra, tiveram pedido de afastamento da empresa aceito pelo Conselho de Administração da companhia dia 20 de janeiro.
C
Crédito: Gabriela Biló/Estadão
Que lei rege a mineração no Brasil?
Crédito: AFP
O Brasil dispõe do Código de Mineração, lei federal brasileira editada pelo Decreto-lei nº 227, de 28 de fevereiro de 1967, que disciplina a administração dos recursos minerais pela União, a indústria de produção mineral e a distribuição, o comércio e o consumo de produtos minerais no Brasil. Considerado defasado, passa por reformulação. Já a Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010, estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens. As leis existem e, normalmente, são bem elaboradas no Brasil. O problema reside em seu cumprimento.
Quem vai trazer de volta vidas humanas e vidas naturais? Trazer de volta a vida é impossível. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirma que a recuperação da fauna e da flora da Bacia Hidrográfica do Rio Doce poderá levar, pelo menos, dez anos. Para isso, será elaborado um plano de ação em parceria com os governos de Minas Gerais e Espírito Santo. Ainda não foram divulgados maiores detalhes sobre o assunto. Também não se sabe ainda como, quando e se será reconstruída a vida da comunidade de Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, que foi devastado. No momento, a Samarco tem dedicado seus maiores esforços no sentido de evitar novos rompimentos no seu complexo de barragens. E ainda são aguardadas as finalizações das investigações sobre o caso e suas consequentes responsabilizações, penas e multas.
Quem fiscalizava a mineradora? Em seu Art. 5º, a Lei nº 12.334/2010 determina que a fiscalização da segurança de barragens cabe, sem prejuízo das ações fiscalizatórias dos órgãos ambientais integrantes do Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente): III - à entidade outorgante de direitos minerários para fins de disposição final ou temporária de rejeitos; IV - à entidade que forneceu a licença ambiental de instalação e operação para fins de disposição de resíduos industriais. Por sua vez, o Sisnama é composto por órgãos ambientais das esferas municipal, estadual e federal, como secretarias e fundações de Meio Ambiente, Conama e Ibama. Em outras palavras, Município, Estado e União tinham dever e poder para fiscalizar. Como e se vinham fazendo é a questão.
CAPÃO DA CANOA JOGA LIMPO COM O MEIO AMBIENtE.
15 Thiago Machado
Rodrigo Bustamente, delegado regional de Ouro Preto, preside as investigações sobre o rompimento da barragem Fundão, da empresa Samarco.
Diretores da Samarco são responsáveis
Rompimento da barragem deixou um rastro de mortes, feridos e poluição. Fonte: UOL
Investigações ainda em andamento
O rompimento da barragem Fundão, de refugos de minério de ferro da mineradora Samarco, deixou um rastro de destruição, mortes e poluição. Cerca de 35 milhões de m³ de lama varreram do mapa o sub-distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, Minas Gerais, pavimentaram tudo o que veio pela frente num percurso de 500 quilômetros, inclusive o Rio Doce, e alcançaram o litoral do Espírito Santo. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido responsabilizado ou punido. Resultados conclusivos das investigações sobre as causas ainda não tinham sido divulgados, mas análises preliminares apontavam para um conjunto de falhas que teriam culminado na tragédia. Entre os graves problemas listados, estavam liberações duvidosas de licenças, fiscalizações precárias e inexistência de um plano de emergência efetivo para um evento dessa magnitude.
Na esfera penal, a Polícia Federal tinha indiciado, dia 13 de janeiro, a Samarco, a Vale (uma das donas da Samarco junto com a anglo-australiana BHP Billiton), a empresa VogBR (consultoria responsável pela declaração de estabilidade da barragem emitida em laudo de julho de 2015) e mais sete executivos e técnicos - todos sob acusação de causarem poluição em níveis que “resultem ou possam resultar em danos à saúde humana ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora”, como previsto no artigo 54 da Lei de Crimes Ambientais. Entre os indiciados, estava o diretor-presidente afastado da Samarco, Ricardo Vescovi. Também, na lista, constavam os nomes do coordenador de monitoramento das barragens, da gerente de geotecnia, do gerente geral de projetos e responsável técnico pela Fundão, do gerente geral de operações, do diretor de operações da mineradora e, ainda, do engenheiro da VogBR 16
meio sustentável . RS
Por sua vez, a Polícia Civil de Minas Gerais havia considerado homicídio o rompimento da barragem Fundão. Conforme declaração do delegado responsável pelo inquérito policial, Rodrigo Bustamente, as empresas Samarco, Vale e BHP e seus diretores têm responsabilidade sobre as mortes, que, segundo ele, são consideradas crimes. “No momento oportuno, determinaremos a responsabilização criminal de cada um deles”, afirmou, acrescentando que os responsáveis podem responder por homicídio culposo (sem intenção de matar), homicídio com dolo eventual (situação em que se assume o risco de matar) e homicídio doloso (com intenção de matar).
Órgãos públicos são responsáveis
Já a previsão do Ministério Público Federal era de que as primeiras ações civis contra os possíveis responsáveis seriam direcionadas a órgãos do poder público. Um dos alvos apontados era o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), vinculado ao Ministério das Minas e Energia, que, segundo a investigação, não cumpriu sua função de fiscalizar adequadamente a barragem: documentos exigidos no licenciamento estavam incompletos ou previam um menor potencial de destruição em caso de um desastre. O plano de emergência do reservatório de Fundão, por exemplo, que deveria explicitar as ações imediatas e as pessoas que precisavam ser avisadas em caso de incidente, não incluía estratégia de alerta a moradores de Bento Rodrigues. Já análises sobre a possibilidade de um rompimento da estrutura não levavam em conta que a lama pudesse chegar até o Rio Doce.
Um Faz de Conta
“Ficou evidente, por documentos e depoimentos, que era uma faz de conta de controle, tanto por parte do Estado de Minas, do órgão licenciador (Secretaria Estadual do Meio Ambiente), quanto do DNPM”, afirmou o coordenador do grupo do MPF que apura o caso, o procurador José Adércio Sampaio. O procurador classificou o processo de fiscalização
Problemas estruturais já eram sabidos antes do desastre
No âmbito estadual, o principal ponto sob investigação até o fechamento desta edição era o possível descumprimento da legislação de segurança para a obra do alteamento, cuja preparação tinha sido iniciada em setembro passado, para ampliar a capacidade de armazenamento de resíduos da Fundão. “Exatamente nessa operação houve o rompimento”, afirma o coordenador do Nucam (Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais) do Ministério Público de Minas Gerais, o promotor Carlos Pinto. Era sabido, ainda, que a barragem já tinha apresentado problemas estruturais antes do desastre, um dos quais em uma galeria de escoamento de água.
Faltou rigor
Segundo Pinto, é preciso mais rigor nas fiscalizações das barragens. “O licenciamento é um instrumento de gestão ambiental fundamental para o desenvolvimento sustentável, porque autoriza empreendimentos de significativo impacto ambiental a operar, mas hoje é praticamente nula a fiscalização depois que o empreendedor recebe a licença. É feita somente uma fiscalização com informações prestadas pelo próprio empreendedor”, relata. Para o promotor, é preciso reverter esse sistema de forma que o governo conceda a licença e fiscalize as condicionantes impostas para garantir segurança. “Tem havido omissão”, frisa.
Crédito: Correio do Brasil
Massa residual da Fundão
Rejeito da Samarco é ou não tóxico afinal?
Conforme comunicados da Samarco ao público, o rejeito proveniente do processo de beneficiamento do minério de ferro é composto, basicamente, por água, partículas de óxidos de ferro e sílica (areia) e não apresenta elemento químico danoso à saúde. Por outro lado, especialistas da ONU registraram, em comunicado, que a lama analisada junto ao Rio Doce mostrou altos níveis de metais pesados, como chumbo, arsênico, níquel e cromo. A mineradora rebateu, dizendo que esses produtos químicos tóxicos já estavam nas margens ou no leito do rio, que já era considerado um dos dez mais poluídos do Brasil antes da tragédia. Até agora, essa queda de braço está pendente, mas o fato é que, conforme informações do Ibama, houve alterações nos padrões de qualidade da água (turbidez, sólidos em suspensão e teor de ferro) e um dos impactos foi a mortandade de peixes por asfixia. O consumo dessa água também ficou comprometido. Crédito: Fabio Braga/Folhapress
side , da
como“ticagem”, ou seja, embora os documentos fossem apresentados, seu conteúdo não era conferido pelo poder público. O MPF também estudava a possibilidade de acionar o ex-ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, por improbidade administrativa. Segundo Sampaio, Lobão foi alertado de que não havia estrutura no DNPM para fiscalização adequada.
A falta de oxigênio matou muitos peixes
Principais Eventos Balneário Pinhal 24 a 27 de Março de 2016 Local: Largo Osso da Baleia
8º RODEIO INTERESTADUAL BALNEÁRIO PINHAL
03 a 06 de Março 2016 Local: Parque Municipal de Rodeios
24 a 27 de Março de 2016 Local: Largo Osso da Baleia
3ª Salina da Canção 22 e 23/07/2016 Balneário Pinhal - RS
Ao mesmo tempo que o Rio Doce está sendo considerado morto por cientistas, também é fato que o solo das áreas afetadas pela lama do rompimento da barragem não está apto para o desenvolvimento de vida. Estudo feito em parceria pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) e Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), a pedido da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, mostra que a lama que cobriu a região não tem nutrientes que possibilitem o plantio. Segundo o pesquisador da Embrapa José Carlos Polidoro, foram coletadas amostras em dez pontos dentro de uma área de 1.430 hectares. “Detectamos que não há indício de metais pesados em concentrações tóxicas no material coletado, mas ele é, quimicamente, quase inerte. Não há condição de crescer uma planta nessa área. Ou seja, a agropecuária não tem a mínima condição de voltar a ocorrer pelo menos por enquanto”, afirma.
planos emergenciais de proteção dos trabalhadores, comunidade e meio ambiente. Mas por que, então, construir essas “bombas” que podem explodir a qualquer momento? Não há mais justificativa.
Riscos de novos deslizamentos existem
Ao todo, quatro barragens compõem a Mina da Alegria, da Samarco, em Mariana: Fundão, Santarém, Germano e Cava de Germano. Após o rompimento da Fundão, obras emergenciais tiveram início no complexo, em 10 de novembro. O objetivo era evitar o rompimento da Santarém (antes utilizada para contenção de água drenada proveniente da Fundão e da Germano e que foi em parte destruída e ficou cheia de lama após o desastre) e da Germano (desativada desde 2008 e cheia de resíduos mais compactados). Ambas tiveram sua estabilidade afetada após a tragédia. O andamento dessas obras vinha sendo cumprido dentro do cronograma até que, no dia 27 de janeiro, elas tiveram de ser paralisadas temporariamente porque cerca de 1 milhão de m³ de rejeitos de minério de ferro deslizou dentro da Fundão. O procurador da República em Minas Gerais Edmundo Netto Júnior afirmou que essa movimentação de lama demonstrava a precariedade das estruturas ainda existentes e que a mineradora não possuía condições de garantir a segurança da população, nem, tampouco, a preservação do meio ambiente. Já o responsável pela área de licenciamento da Samarco, Marcio Perdigão, e o engenheiro da empresa, José Bernardo Vasconcelos, garantiram que as estruturas em obras não ofereciam risco e estavam sob monitoramento constante. A empresa comunicou ainda que o material que tinha deslizado era remanescente da Fundão e não havia ultrapassado a Santarém.
Estudos da Embrapa, Emater/MG e Epamig mostram que a região coberta pela lama não tem nutrientes que possibilitem o plantio.
Modelo de barragem é considerado ultrapassado
Segundo especialistas brasileiros e internacionais, não existem barragens de rejeitos totalmente seguras, por causa dos riscos de rompimento e da desestabilização resultante de movimentação de água, adensamento de material não drenado e até em decorrência de abalos sísmicos. Para prevenir desastres ou, no mínimo, evitar seus efeitos colaterais, são indispensáveis, portanto, projetos de engenharia adequados, monitoramento amplo e ininterrupto e 18
meio sustentável . RS
Comunidade e trabalhadores preocupados
Não é de hoje que movimentos populares e sindicais cobram maior responsabilidade com os municípios e os moradores que convivem com a mineração. Em nota publicada em seu site, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-MG) registra que a apuração das causas do acidente é de extrema importância para buscar responsabilidades: “Minas Gerais convive com a exploração do minério desde o tempo do ouro, e os altos lucros das mineradoras não podem estar à frente da vida dos moradores. Os danos dessa tragédia são irreversíveis e mostram que o debate sobre as regras para exploração deve ter a participação de toda a sociedade.”
Antonio Cruz/Agência Brasil
O presidente da CTB-MG, Marcelino da Rocha, afirma que uma das grandes preocupações da sociedade mineira, reforçada com o acidente em Mariana, diz respeito às autorizações de exploração de solo e
35 milhões
de m³ de rejeitos de minério de ferro e água foram jogados na natureza.
17 pessoas
morreram, sendo 12 operários da Samarco, quatro moradores de Bento Rodrigues e uma visitante. Outros dois trabalhadores continuavam desaparecidos até o fechamento desta edição.
82%
das edificações de Bento Rodrigues foram destruídas pela lama. Das 252 construções, 207 estavam na área atingida.
7 localidades
da região foram afetadas: Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima, Campinas, Borba, Pedras e Bicas.
329 famílias
ficaram desabrigadas em Mariana e região e estão morando em casas alugadas pela Samarco.
1.265 desabrigados
foram alocados em hotéis e pousadas da região.
subsolo no território mineiro. “A suspeita é de que existem muitas irregularidades, inclusive pagamentos de propinas. Isso nos leva a questionar se todas essas barragens estão realmente seguras”, ressalta.
5.200 trabalhadores
diretos e indiretos da Samarco têm destino incerto com as operações da mineradora suspensas pela Justiça
228 municípios
integram a Bacia Hidrográfica do Rio Doce, que possui, no total, 84 mil quilômetros quadrados, dos quais 86% estão em Minas Gerais e o restante no Espírito Santo.
35 cidades
foram afetadas pela lama em Minas. No ES, foram 4.
R$ 1,212 bilhão
é o valor do impacto socioeconômico direto das 35 cidades mineiras atingidas pela lama. O valor foi determinado por uma força-tarefa do governo de Minas Gerais e divulgado dia 4 de fevereiro.
321.626
é o número de pessoas afetadas ao longo da Bacia do Rio Doce conforme a força-tarefa.
1.5 mil
hectares de vegetação foram destruídos de Mariana/MG a Linhares/ES.
11 toneladas
de peixes morreram: 8, em Minas, e 3, no ES.
80 espécies
de peixes habitavam a Bacia do Rio Doce antes do desastre. Entre elas, 11 estavam ameaçadas de extinção e 12 eram exclusivas do rio.
1249 pescadores
estão cadastrados na área afetada pela lama em Minas Gerais e no Espírito Santo.
R$300 milhões
é o valor bloqueado pela Justiça de Mariana em contas da Samarco para reparação de danos.
R$1 bilhão
é o valor de um dos acordos judiciais que a Samarco deve cumprir para reparar danos ambientais e sociais.
R$20 bilhões
é o valor pedido pela União para a criação de um fundo a ser usado para reparar danos causados pelo rompimento da barragem.
R$250 milhões
é o valor das multas aplicadas pelo Ibama à Samarco.
Outros acidentes registrados 1986 O rompimento da barragem de rejeitos da Mina de Fernandinho, em Itabirito, na região central, é o registro mais antigo desse tipo de acidente em Minas Gerais. Sete trabalhadores morreram.
2007 Em Miraí, na Zona da Mata, uma barragem da mineradora Rio Pomba Cataguases rompeuse, atingindo bairros de Miraí e Muriaé. Mais de 4.000 moradores ficaram desalojados, e 1.200 casas foram atingidas.
2001 A barragem da Mineração Rio Verde rompeuse em Macacos, distrito de Nova Lima, na região metropolitana da capital. Cinco operários morreram no acidente que atingiu 43 hectares e assoreou 6,4 km do leito do córrego Taquaras.
2014 Em 26 de agosto, um operário da Vale morreu e outro se feriu no desabamento de um túnel na Mina do Pico, em Itabirito. Os trabalhadores aterravam um túnel quando houve um deslizamento de terra.
2003 Em 29 de março, em Cataguases, na Zona da Mata, a barragem de um dos reservatórios da Indústria Cataguases de Papel se rompeu, liberando, no Córrego do Cágado e no Rio Pomba, cerca de 1,4 bilhão de litros de lixívia (licor negro), sobra industrial da produção de celulose. O acidente afetou três Estados, deixando 600 mil pessoas sem água.
2014 Uma barragem da Herculano Mineração rompeu-se em 10 de setembro e soterrou os operários que faziam a manutenção no talude de uma barragem de rejeitos desativada.Três operários morreram e cinco ficaram feridos.
Uma agenda cheia de compromissos inadiáveis Dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável(ODS)
No ano 2000, a Organização das Nações Unidas convidou a sociedade civil e os governos a olharem com atenção para alguns desafios que o planeta enfrentava e a se engajarem em prol dos 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) para redução da pobreza extrema. Entre as metas que deveriam ter sido atingidas até 2015, destacavamse saúde, educação, igualdade, qualidade de vida e respeito ao meio ambiente. Agora, o mundo está novamente sendo convidado a se mobilizar para os desafios dos próximos 15 anos. O ano que se inicia marca o lançamento oficial da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, aprovada por unanimidade por líderes mundiais em setembro de 2015 na sede da ONU, em Nova York, Estados Unidos. 20
meio sustentável . RS
Erradicação da pobreza é o maior desafio global ao desenvolvimento sustentável
Com base nos ODM, a Agenda 2030 reconhece que a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões é o maior desafio global ao desenvolvimento sustentável. O documento consiste em 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas - seção sobre meios de implementação e de parcerias globais, além de orientações para acompanhamento e revisão. “Trata-se da nossa visão compartilhada da humanidade, um contrato social entre os líderes mundiais e as pessoas e um guia para êxito”, define o secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Kimoon. As negociações que culminaram na adoção dos ODS iniciaram em 2013, seguindo definições da Conferência Rio+20 em 2012. Esses objetivos respondem às necessidades tanto dos países desenvolvidos como dos países em desenvolvimento, enfatizando que ninguém deve ficar para trás. Abordam as três dimensões do desenvolvimento sustentável - a social, a econômica e a da sustentabilidade -, assim como aspectos importantes relacionados a paz, justiça e instituições eficazes. Entre suas temáticas, constam o crescimento econômico sustentável; a redução da desigualdade entre os países e dentro deles; o combate à mudança do clima; e o
fortalecimento de mecanismos de implementação e revitalização da parceria global, o que inclui trocas de tecnologias. A COP 21 é vista como o primeiro ato político para implementar a Agenda. “Ao combater a mudança do clima, avançaremos na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, afirma Ki-moon. Transformar os objetivos em realidade é, primeiramente, responsabilidade dos países, mas também irá requerer novas parcerias e solidariedade internacional. “Todos têm que participar e todos têm contribuições a fazer”, defende o secretáriogeral. Revisões do progresso serão necessárias regularmente em cada país, envolvendo sociedade civil, empresas e representantes de vários grupos de interesse. No âmbito regional, os países compartilharão experiências e enfrentarão objetivos comuns, enquanto, anualmente, na ONU, o Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável fará um balanço dos progressos mundiais, identificando lacunas e questões emergentes e recomendando ações corretivas. Os 17 ODS e as 169 metas da nova Agenda serão monitorados e revistos por meio de indicadores globais. Essas informações serão reunidas em um relatório anual, como era feito com os 8 ODM (leia mais a seguir).
Os 17 ODS Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos. Garantir educação inclusiva, equitativa e de qualidade. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar as mulheres e meninas. ano 03 02 . 10ª 12ª edição edição
21
Garantir disponibilidade e manejo sustentável da água. Garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável. Construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva. Reduzir a desigualdade entre os países e dentro deles. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes. Assegurar padrões de consumo e produção sustentável. Tomar medidas urgentes para evitar o avanço da mudança do clima. Conservar e promover o uso sustentável dos oceanos. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável das florestas. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável. Fortalecer os mecanismos de implementação e revitalizar a parceria global. 22
meio sustentável . RS
A maioria dos progressos ocorreu desde 2000. O número de trabalhadores da classe média - vivendo com mais de US$ 4 por dia - quase triplicou de 1991 a 2015. Esse grupo agora compõe a metade da força de trabalho nas regiões em desenvolvimento contra 18% em 1991. A proporção de pessoas subnutridas nas regiões em desenvolvimento caiu quase pela metade, passando de 23,3% em 1990-1992 para 12,9 % em 2014-2015. 2 - Atingir o ensino básico universal
Os 5 Ps da Agenda 2030
A partir da assinatura da Agenda 2030, deverá ser cada vez mais comum se ouvir falar nos 5 Ps do desenvolvimento sustentável, ou seja, nos cinco elementos cruciais para a sustentabilidade do planeta que vão nortear a implementação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Planeta - Proteger os recursos naturais e o clima do nosso planeta para as gerações futuras.
Pessoas - Erradicar a pobreza e a fome de todas as maneiras e garantir a dignidade e a igualdade. Prosperidade - Garantir vidas prósperas e plenas em harmonia com a natureza.
Paz - Promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas.
Parcerias - Implementar a agenda por meio de uma parceira global sólida.
E quanto aos 8 ODM?
1 - Redução da pobreza
Conforme dados do Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 2015, a pobreza extrema diminuiu ao longo das últimas duas décadas. Em 1990, quase metade da população do mundo em desenvolvimento vivia com menos de US$ 1,25 por dia. Essa proporção caiu para 14 % em 2015. Globalmente, o número de pessoas que vivem em extrema pobreza caiu para mais da metade, passando de 1,9 bilhão em 1990 para 836 milhões em 2015.
O relatório da ONU registra que a taxa líquida de matrículas na escola primária nas regiões em desenvolvimento atingiu 91 % em 2015 , acima dos 83 % em 2000. O número de crianças em idade escolar fora da escola que, em 2000, somava 100 milhões, caiu em todo o mundo para 57 milhões em 2015 - quase a metade do número relatado há 15 anos (2000). A África Subsaariana teve o melhor registo de melhoria no ensino primário, com um aumento de 20% na taxa líquida de matrícula no período 20002015. No período de 1990 a 2000, o índice foi de 8%. A taxa de alfabetização entre os jovens de 15 a 24 aumentou globalmente de 83% para 91%, de 1990 a 2015. 3 - Igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres
Em comparação com dados obtidos há 15 anos, aumentou o número de meninas na escola. As regiões em desenvolvimento como um todo alcançaram a meta de eliminar a disparidade de gênero na educação primária, secundária e terciária. No sul da Ásia, apenas 74 meninas foram matriculadas na escola primária para cada 100 meninos em 1990. Hoje, 103 meninas estão matriculadas para cada 100 meninos. As mulheres constituem agora 41% dos trabalhadores pagos fora do setor agrícola, um incremento de 35% em relação a 1990. De 1991 a 2015 , a proporção de mulheres em vulnerabilidade no emprego diminuiu para 13%; já a dos homens, para 9%. As mulheres ganharam terreno na representação parlamentar em quase 90% dos 174 países com dados ao longo dos últimos 20 anos. A proporção média de mulheres no parlamento quase dobrou no mesmo período . No entanto, ainda apenas um em cinco membros são mulheres. 4 - Reduzir a mortalidade na infância
O relatório também mostra que a taxa mundial de mortalidade entre menores de cinco anos diminuiu em mais da metade, passando de 90 a 43 mortes ano 03 . 12ª edição
23
por 1.000 nascidos vivos no período de 1990 a 2015. Mesmo com o crescimento da população nas regiões em desenvolvimento, o número de mortes de crianças menores de cinco anos diminuiu de 12,7 milhões em 1990 para quase 6 milhões em 2015 globalmente. Desde o início de 1990, a taxa de redução da mortalidade de menores de cinco anos triplicou globalmente. A vacinação contra o sarampo ajudou a evitar cerca de 15,6 milhões de mortes de 2000 a 2013. O número de casos da doença relatados globalmente diminuiu 67% no mesmo período. Cerca de 84% das crianças em todo o mundo receberam pelo menos uma dose da vacina contra o sarampo em 2013, acima dos 73% em 2000. 5 - Melhorar a saúde materna
Desde 1990 , a taxa de mortalidade materna diminuiu em 45% no mundo, e a maior parte da redução ocorreu desde 2000. No sul da Ásia, a taxa de mortalidade materna diminuiu 64% de 1990 a 2013 e, na África Subsaariana, caiu 49%. Mais de 71% dos partos no mundo todo foram assistidos por pessoal de saúde qualificado em 2014, um aumento de 59% em relação a 1990. Na África do Norte, a proporção de mulheres grávidas que receberam quatro ou mais consultas pré-natais aumentou de 50% para 89% de 1990 a 2014. O uso de contraceptivos entre mulheres com idades de 15 a 49 anos, casadas ou em união, aumentou de 55% para 64% de 1990 a 2015, em todo o mundo. 6 - Combater o HIV/aids, a malária e outras doenças
Novas infecções por HIV caíram cerca de 40% de 2000 a 2013, e que, conforme esses dados, corresponde a uma estimativa de 3,5 milhões de casos para 2,1 milhões. Em junho de 2014, 13,6 milhões de pessoas que vivem com HIV estavam recebendo tratamento antirretroviral no mundo. Em 2003, eram 800 mil. O tratamento evitou 7,6 milhões de mortes por aids de 1995 a 2013. Mais de 6,2 milhões de mortes por malária foram evitadas de 2000 a 2015, principalmente de crianças menores de cinco anos de idade na África Subsaariana. A taxa mundial de incidência de malária caiu em cerca de 37%, e a taxa de mortalidade pela doença, em 58%. De 2000 a 2013 , a prevenção, diagnóstico e tratamento da tuberculose salvaram cerca de 37 milhões de vidas. A taxa de mortalidade por tuberculose diminuiu 45% e a de incidência 41 % no período de 1990 a 2013. 24
meio sustentável . RS
7 - Garantir a sustentabilidade ambiental Conforme o Relatório dos ODM 2015, substâncias que empobrecem a camada de ozônio têm sido praticamente eliminadas a partir de 1990. Além disso, o número de áreas terrestres e marinhas protegidas tem aumentado desde 1990. Na América Latina e no Caribe, a cobertura terrestre protegida de áreas aumentou de 8,8% para 23,4% de 1990 a 2014. Em 2015, 91% da população mundial teve acesso a água potável em comparação a 76% em 1990. Das 2,6 bilhões de pessoas que tiveram acesso a água potável, desde 1990 no mundo, 1,9 bilhão tiveram acesso a água potável canalizada, ou seja, 58%. Globalmente, 147 países cumpriram a meta de ter água potável; 95, a de ter saneamento e 77, a de possuir ambas. Em todo o mundo, 2,1 bilhões de pessoas tiveram acesso a saneamento melhorado. O número de pessoas que defecam a céu aberto caiu quase pela metade desde 1990. A proporção de população urbana que vive em favelas nas regiões em desenvolvimento caiu de 39,4% em 2000 para 29,7% em 2014. 8 - Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento
A assistência oficial ao desenvolvimento pelos países desenvolvidos aumentou 66% de 2000 a 2014, chegando a US$ 135,2 bilhões segundo os dados da ONU. Em 2014, Dinamarca, Luxemburgo, Noruega, Suécia e Reino Unido continuaram a superar a meta das Nações Unidas de ajuda pública ao desenvolvimento de 0,7% do rendimento nacional bruto. Em 2014, 79% das importações feitas por países em desenvolvimento de países desenvolvidos foram admitidas sem taxas; em 2000, o dado foi de 65%. Já a porcentagem dos gastos das receitas de exportação com o serviço da dívida externa caiu de 12%, em 2000, para 3%, em 2013, nos países em desenvolvimento.
Por sua vez, o número de assinaturas de serviços celulares móveis cresceu quase dez vezes nos últimos 15 anos, de 738 milhões, em 2000, para mais de 7 bilhões, em 2015, ano em que os sinais de telefonia móvel atingiram 95% da população mundial. Já o alcance da internet cresceu de pouco mais de 6% da população do mundo, em 2000, para 43% em 2015, ou seja, 3,2 bilhões de pessoas estão ligadas à rede mundial, seus conteúdos e aplicativos.
LITORAL RS E A SUSTENTABILIDADE
Práticas Sustentáveis no Litoral Para que nossas praias não virem lixões a céu aberto Iniciativas dos municípios do litoral gaúcho mobilizam comunidades e turistas para dar o destino correto aos resíduos
Muito mais do que impactar visualmente, as toneladas de lixo que se acumulam nos ambientes costeiro e marinho contaminam as águas e compromete seriamente a flora e a fauna, além de prejudicar, não só a saúde das pessoas, mas, também, da economia local, seja na pesca ou no turismo. O sério problema dos resíduos nas regiões litorâneas foi reconhecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA), que, em sua Resolução A/60/L.22, de novembro de 2005, clama por soluções nacionais, regionais e globais. O documento encoraja os governos a desenvolverem parcerias com a indústria e a sociedade civil para o estabelecimento de ações e estratégias de prevenção desses impactos. E é o que já está sendo feito no litoral gaúcho, onde iniciativas sustentáveis importantes vêm envolvendo e sensibilizando prefeituras, comunidades locais e visitantes.
com a coleta seletiva, e pelas ações educacionais e sociais voltadas à comunidade. Atualmente, a Usina de Reciclagem de Resíduos Sólidos Urbanos do município recebe, em média, 5 toneladas/dia de lixo seco e 40 toneladas/dia de lixo orgânico na baixa temporada, chegando a 11 toneladas/dia de lixo seco e 100 toneladas/dia de lixo orgânico em média na alta temporada. A comercialização dos produtos reciclados sustenta os recicladores da Associação dos Agentes Econômicos Ecológicos do município. Já os resíduos orgânicos, tais como galhos, restos de grama, coco verde e outros, são triturados e transformados em adubo orgânico para suprir o viveiro de mudas e também áreas verdes, parques, jardins e escolas municipais.
CAPÃO DA CANOA Pioneira em usina de reciclagem
Há 11 anos, Capão de Canoa destaca-se no litoral gaúcho pela busca do destino correto de seu lixo, ano 03 . 12ª edição
25
LITORAL RS E A SUSTENTABILIDADE
Escola para os filhos dos recicladores Um modelo para ser copiado
Ao lado da sede da Associação dos Agentes Econômicos Ecológicos, está instalada a Escola Comunitária de Educação Infantil Cantinho da Esperança Pessi, direcionada aos filhos dos recicladores. No Rio Grande do Sul, não existe outra escola nesses moldes, atendendo uma comunidade específica. O estabelecimento de ensino foi inaugurado m 5 de dezembro de 2008 e, no contexto em que está inserido, tem a função social voltada ao pleno desenvolvimento do aluno, salientando habilidades e valores necessários à socialização do cidadão. A escola é mantida por meio de convênio com a prefeitura, parcerias com clubes de serviços, empresas privadas e voluntariado.
BALNEÁRIO PINHAL 19 anos com o projeto verão
aos traficantes, aos turistas e àqueles que praticam abusos sexuais. Por meio do projeto, além de estarem protegidos contra tais malefícios, participam de atividades lúdicas, educativas e culturais.
No período do veraneio, pela manhã, a garotada embarca em transportes coletivos que a busca em suas residências e, ao chegar ao ginásio do município, recebe café da manhã. Posteriormente, tem almoço e lanche da tarde. No decorrer do dia, esses meninos e meninas praticam esportes e ainda têm a tarefa de entregar sacos de lixo na praia, orientando os veranistas quanto ao correto armazenamento e destino dos resíduos. Esses jovens crescem alegres, dedicando-se aos estudos e à proteção da natureza.
Novas atividades de educação ambiental para crianças e jovens todo o ano
De olho no lixo deixado nas praias e nas dunas do município por moradores e veranistas, o principal objetivo do Projeto Verão de Balneário Pinhal para 2016 é dialogar com os jovens sobre o tema Meio Ambiente: As Consequências do Presente e Futuro. Voltadas a 60 crianças e adolescentes com idade de 6 a 13 anos, as ações contemplam o período de veraneio e, posteriormente, têm continuidade nos períodos de baixa temporada.
O Projeto Verão busca oportunizar um espaço de aprendizado e lazer para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Também tem como metas específicas possibilitar interação com o meio ambiente na perspectiva de reciclagem; oportunizar o diálogo sobre preservação; mapear as áreas de menor cuidado e proteção com o meio ambiente; orientar veranistas e moradores sobre a importância de cuidar da praia em todas as estações. Coordenadas pela prefeitura, as atividades têm como parceiras instituições como Polícia Civil e Brigada Militar. A coordenação do projeto Verão 2016 é de Tainá Freitas e equipe técnica formada por Thiago Santos, Assistente Social e Graziela Rocha, Psicóloga
ARROIO DO SAL Balneário Pinhal há 19 anos realiza o Projeto Verão, uma iniciativa sustentável baseada na atenção e na proteção de 160 crianças e adolescentes (média/ ano) da comunidade, filhos de pais que trabalham no verão. Esses jovens, que antes ficavam desprotegidas dos olhos e da atenção dos familiares por conta das férias escolares, tornavam-se disponíveis aos empregadores que exploram mão de obra infantil, 26
meio sustentável . RS
Decorações de Natal com garrafas recicladas
Há oito anos, o município de Arroio do Sal vem desenvolvendo seu projeto Mar de Luz, embelezando a cidade nas festas de final de ano e no período de veraneio com decorações confeccionadas com garrafas pet recicladas. Na passagem de 2015 para 2016, o Centro foi iluminado por cerca de 250 peças coloridas gigantes com mais de 100 mil garrafas pet
LITORAL RS E A SUSTENTABILIDADE
e luzes. Mas o envolvimento de lideranças, famílias, estudantes, moradores e empresas locais dura o ano todo. Logo cedo, os moradores começam a coletar as garrafas. As crianças motivam-se entre si e cada uma busca entregar o maior número. Por sua vez, artesãos, decoradores e designers se dedicam à concepção e à criação das peças. Essa diversão sustentável também é sinônimo de emprego e renda à comunidade.
como dispensa a pintura das paredes, o que reduz consideravelmente a geração de resíduos.
Animais marinhos e o lixo
A poluição da zona costeira e marinha ocasiona a morte direta de mais de um milhão de aves, tartarugas, peixes e mamíferos marinhos por ano segundo dados da 5ª Conferência Mundial sobre o Lixo Marinho, realizada em Honolulu, Avaí, em 2011.
Tempo que os resíduos duram no ambiente marinho costeiro
Sistema construtivo mais sustentável nas escolas
Este ano, um novo projeto ecológico também foi colocado em prática em Arroio do Sal: chamase Construção de Escolas em Concreto-PVC. A Escola Municipal de Ensino Infantil Bem-me-quer, no Centro, terá um novo berçário com mais de 100 vagas já no início do ano letivo. Outra construção que ficará pronta para o período letivo é a de três salas de aula e banheiros em escola de educação fundamental na zona norte. Nos dois empreendimentos, está sendo aplicado o sistema concreto-PVC, formado por perfis modulares de PVC preenchidos com concreto, criando uma estrutura homogênea e de alta resistência, durável e econômica. O processo diminui custos com manutenção e não necessita a utilização de materiais para acabamentos, assim
ano 03 . 12ª edição
27
Crédito: Sem Fronteiras
Alunos da Escola Barão de Mauá interagindo com o ABC Digital
Sem Fronteiras desperta interesse de alunos do ensino fundamental com o uso da tecnologia da informação
Crédito: Sem Fronteiras
A educação ambiental é considerada hoje ferramenta indispensável para a formação de cidadãos conscientes da importância da preservação da natureza, e as novas gerações estão definitivamente conectadas e familiarizadas com computadores, celulares, tablets e suas inúmeras possibilidades. Por que, então, não unir o útil ao agradável? A empresa Sem Fronteiras (Curitiba/PR) já utiliza os recursos da tecnologia educacional desde 1998, desenvolvendo soluções em educação para alunos do ensino fundamental, educação infantil e EJA – educação de jovens e adultos das redes públicas de ensino. Mais de 100 mil alunos já foram beneficiadas.
Alunos da Escola Barão de Mauá interagindo com o ABC Digital
28
meio sustentável . RS
A tecnologia a serviço da educação ambiental ABC Digital, uma das tecnologias educacionais desenvolvidas pela empresa, aborda temáticas do cotidiano do aluno, visando sua formação para a cidadania. Essas temáticas são abordadas pelos alunos do Ensino Fundamental I, durante um ano escolar completo, integrando e adequando o conteúdo curricular desenvolvido em sala de aula ao laboratório de informática. O tema sustentabilidade faz parte do projeto há cinco anos. “A fluência das crianças de hoje na tecnologia é uma oportunidade que as escolas têm para aumentar o interesse dos alunos nos estudos, trabalhar valores, revisar os diversos conteúdos e utilizar as ferramentas digitais de forma intuitiva e lúdica”, afirma a diretora de Projetos da Sem Fronteiras, Vanessa Araújo.
Criada por educadores especializados, a tecnologia é composta por recursos diversos, como textos, vídeos, áudios, atividades pedagógicas e ferramentas digitais a serem utilizados, de forma individual ou coletiva, no laboratório de informática e em sala de aula. “Os recursos são atualizados constantemente para acompanhar a evolução tecnológica dentro da possibilidade de aporte estrutural da escola”, complementa a diretora de Projetos. O diferencial é a apresentação das situações de aprendizagem sempre baseada em três pilares principais: trabalhar o conteúdo curricular de forma instigante e inovadora; gerar reflexão sobre valores com foco na formação do aluno para a vida e a cidadania; e introduzir alunos e professores no ambiente digital e nas novas linguagens da tecnologia. Vanessa explica que, com a dificuldade de acesso à internet pelas escolas públicas e a baixa
qualidade de banda disponível a elas no país, a instalação e o uso de soluções não dependem exclusivamente da web. “Um diferencial do ABC Digital é a possibilidade de trabalho off line. O projeto é instalado diretamente no computador dos professores e alunos, disponibilizando uma grande biblioteca digital de recursos. Todavia, a conexão à internet é estimulada para o aproveitamento de seus principais benefícios, como as informações disponíveis e os resultados culturais da globalização, bem como a pesquisa, a formulação de filtros”, lista.
ABC Digital e a educação ambiental
Para os especialistas da Sem Fronteiras, a sustentabilidade ambiental e ecológica é a manutenção do meio ambiente do planeta Terra, mantendo a qualidade de vida e o ambiente em harmonia com as pessoas. Sustentabilidade é o conceito de viver e desenvolver-se de forma que haja continuidade e equilíbrio em relação aos recursos disponíveis. Os recursos disponíveis na Terra são finitos; assim, devemos oferecer ao planeta tudo quanto retiramos dele.
Biodiversidade
Por meio do uso da tecnologia, é apresentado o conceito e a importância da biodiversidade para o ambiente e a necessidade de serem respeitados todas as formas de vida.
Seja em âmbito global ou no quintal de casa, atitudes erradas — ou a falta de atitudes — podem trazer sérias consequências para o planeta e para todas as formas de vida que nele existem.
Quando os alunos têm a chance de participar da construção de um mundo melhor, eles se tornam defensores dessa ideia, levando para sua casa e comunidade as boas práticas aprendidas na sala de aula.
Exemplos de algumas telas da tecnologia abc digital que focam a sustentabilidade
Água
O uso da tecnologia permite uma abordagem sobre a influência humana na natureza e sua colaboração para catástrofes naturais, como as enchentes.
Turismo responsável
O emprego da tecnologia possibilita uma abordagem sobre a conscientização e responsabilidade do cidadão pela preservação dos ambientes que visita.
Energia eólica
A tecnologia leva o aluno a refletir sobre o uso da energia eólica, que pode ser gerada por fontes renováveis, ou seja, por meio de recursos da própria natureza.
ano 03 . 12ª edição
29
Desmatamento
Reciclagem
Fauna
Preservação e conservação
Flora
Pesca ilegal
Por meio da utilização da tecnologia, o aluno torna-se capaz de compreender que o desmatamento feito de forma inconsequente é prejudicial para todo o ecossistema.
O uso da tecnologia permite que seja feito um apanhado sobre os tipos de animais existentes e suas principais características e classificações, levando o aluno a refletir sobre a importância dos animais para o meio ambiente.
A utilização da tecnologia possibilita que seja apresentada ao aluno a diversidade da flora brasileira, que, além de poder ser apreciada por sua beleza natural, é empregada como matéria-prima para vários produtos.
30
meio sustentável . RS
O emprego da tecnologia permite ao aluno uma reflexão sobre a necessidade de aprender a separar o lixo corretamente para ajudar no processo de reciclagem e redução da quantidade de lixo.
Por meio do uso da tecnologia, é possível fazer o aluno refletir sobre pequenas atitudes que fazem toda diferença para a preservação e conservação do meio ambiente.
Mediante o emprego da tecnologia, pode-se apresentar aos alunos exemplos sobre as consequência da pesca ilegal, como as que resultam no prejuízo e desequilíbrio do meio ambiente.
AMAZÔNIA
Floresta Amazônica
Dirk Rabe/Pixabay
Se antas e macacos não forem caçados, conomizaremos de U$ 5 a 13 trilhões A caça e o aquecimento global
Pesquisadores estimam que animais prestam serviço de até US$ 13 trilhões para a manutenção dos estoques de carbono em florestas na Amazônia
Estudo elaborado por um grupo de pesquisadores do Brasil, Reino Unido e Estados Unidos mostra que a defaunação, como é chamado o esvaziamento da fauna de uma floresta, não é reconhecida como uma ameaça à tão necessária redução das emissões de gases de efeito estufa no planeta. Publicada em janeiro, no periódico PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, a pesquisa Dispersal limitation induces long-term biomass collapse in overhunted
amazonian forests (Limitação de dispersão induz, a longo prazo, ao colapso de biomassa onde há caça indiscriminada nas florestas amazônicas) evidencia que o papel dos animais na manutenção do carbono florestal foi desconsiderado na elaboração do REDD+. O mecanismo de incentivo financeiro para a redução das emissões de gás carbônico provenientes do desmatamento foi mantido pelo recém-firmado Acordo de Paris na COP 21. ano 03 . 12ª edição
31
O mutualismo - interdependência entre plantas e animais - é uma discussão relativamente nova na agenda climática mundial. No entanto, conforme os pesquisadores, a caça exagerada de animais de maior porte, como antas, macacos-aranha e macacos-barrigudos, pode levar a perdas de 2,5% a 5,8% da biomassa da floresta, chegando a quase 38% em alguns locais onde eles foram 32
meio sustentável . RS
extintos pelos caçadores. Abrangendo toda a área da Amazônia e considerando um valor da tonelada de carbono de apenas US$ 5 no mercado internacional de emissões, o estudo estima que esses bichos prestam um serviço de US$ 5 trilhões a US$ 13 trilhões apenas comendo frutos e defecando sementes por onde passam.
Entre os autores da pesquisa, está a bióloga paulista Thaise Emilio. Ela é mestre e doutora em Ecologia pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia),onde, por nove anos, se dedicou a estudar a distribuição de espécies e comunidades de plantas em relação a gradientes ambientais na Amazônia. Atualmente, é pesquisadora associada ao Royal Botanical Garden (Kew), na Inglaterra, onde desenvolve estudos sobre transporte de água em palmeiras visando entender o efeito de mudanças climáticas sobre florestas tropicais. Thaise relata que a pesquisa sobre a limitação de dispersão surgiu da necessidade de se entender e demonstrar como ações pontuais, como a caça, sobre um elemento do ecossistema, podem ter impactos sobre importantes processos ecossistêmicos como a manutenção da biomassa florestal. A bióloga explica que as árvores que acumulam grande quantidade de biomassa são, em grande parte, aquelas que apresentam sementes grandes. Assim, sua dispersão depende de grandes animais. Com a caça, esses bichos são os primeiros a desaparecer das florestas,o que compromete a dispersão das sementes, que, germinando mais próximas da árvore-mãe, têm menor chance de sobrevivência a longo prazo. “Os resultados do nosso trabalho mostram que, se as árvores dispersas por esses animais forem substituídas por outras com sementes menores, haverá perdas na biomassa florestal que podem chegar a mais de 30%”, destaca. Nesse trabalho, os pesquisadores usaram computadores e dados de campo de 166 áreas de floresta, com e sem pressão de caçadores, para modelar o impacto que a caça na Amazônia brasileira poderia ter. Depois, modelaram o impacto que a caça praticada por 1 milhão de residências rurais na
Amazônia poderia ter, usando como base de dados 2.300 áreas de floresta previamente inventariadas (cuja população de árvores era conhecida). A conclusão à que chegaram é de que os grandes primatas comedores de frutas têm suas populações afetadas pela caça em 32% das áreas remanescentes de floresta amazônica e podem sumir completamente de 7,5% da região. Em grande parte, a caça de macacos e antas na Amazônia é de subsistência e praticada por comunidades indígenas e ribeirinhas. O fato de essa atividade ainda quase artesanal resultar em sobrecaça e ter impacto sobre as florestas também chama a atenção dos pesquisadores. “Nossos resultados incluem mapas e estatísticas que podem ser usados para nortear políticas de redução da emissão de carbono por desmatamento e degradação de florestas tropicais”, ressalta Thaise.
ano 03 . 12ª edição
33
Gaúchos se mobilizam pelo planeta Crédito: Ocimar Pereira/GVP
Marcha pelo Clima movimentou Porto Alegre antes da COP 21
a
de uma provocação da Avaaz, ONG de mobilização por causas internacionais urgentes, que convidou cidades de todo o mundo a se engajarem na Marcha pelo Clima.
Comunidade mobilizada pelo fim do uso de energias fósseis
Crédito: Ocimar Pereira/GVP
Atrações culturais, caminhada e debates sobre o tema sustentabilidade movimentaram o Parque da Redenção, em Porto Alegre/RS, no dia 29 de novembro de 2015. As ações fizeram parte da Marcha Gaúcha pelo Clima, cujo objetivo foi mobilizar a população antes da COP 21, realizada de 30 de novembro a 11 de dezembro em Paris. Organizada pela ONG TodaVida, em parceria com a prefeitura e entidades como o Greenpeace, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável (Idest) e a ONG Mãos Verdes, a iniciativa surgiu
Rahmeier: pesquisador mostrou possibilidades da energia limpa
34
meio sustentável . RS
Às onze horas da manhã, abrindo o evento, a Banda da Brigada Militar agitou o pessoal e colocou todos para fazer alongamento e dançar. Depois, reunidos na frente do palco, os presentes saíram em marcha, levando faixas e cartazes e fazendo coro em defesa da sustentabilidade. O engenheiro eletricista Fábio Rahmeier, diretor da OZ Engenharia, foi outra atração do evento com seu ciclomotor elétrico e seu capacete com painel solar. Ele mostrou, na prática, circulando pelo parque, algumas das infinitas possibilidades da energia limpa.
Também havia expositores na Redenção, entre eles, os da equipe do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) da capital, que abordou de forma lúdica a gestão dos resíduos. Os visitantes puderam aprender brincando a separar corretamente os resíduos e a reduzir o envio de materiais com potencial de reaproveitamento para aterro. O público ainda recebeu orientações sobre a campanha ReciclaPOA, a nova coleta seletiva e o Código Municipal de Limpeza Urbana.
a
O mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, se reproduz na água parada. Escolha o seu dia contra o Aedes e toda semana acabe com a água parada na sua casa.
NO PÁTIO N
ANTES DE VIAJAR A
• Limpe plantas e pratinhos de vasos que podem acumular água. Coloque areia nos pratinhos dos vasos.
• Confira se em seu destino há transmissão de dengue, zika ou chikungunya. Tome os cuidados habituais. • Não deixe estes materiais acumularem água durante sua ausência: pratinhos de plantas sem areia, potes de água ou de alimento de animais e pia.
• Seque, tampe e coloque em local coberto objetos que possam acumular água, como baldes, potes, garrafas e latas. Preste atenção em pequenos objetos como tampinhas e cacos de vidro em cima de muros: cubra-os com areia. • Mantenha caixas d´água tampadas sem frestas ou com tela milimétrica.
EM CASA
SINTOMAS Sintomas mais importantes das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti: SINTOMAS
ZIKA
CHIKUNGUNYA
DENGUE Alta e de início imediato. Sempre presente.
• Remova folhas que possam impedir o escoamento da água em calhas.
FEBRE
É baixa e pode não estar presente.
É alta e de início imediato. Quase sempre presente.
• Confira se os ralos estão com água mesmo em período seco e coloque tela milimétrica ou adicione água sanitária toda semana.
Dores leves DORES NAS que podem ARTICULAÇÕES estar presentes.
Dores intensas e presentes em quase 90% dos casos.
Dores moderadas e quase sempre presentes.
• Proteja-se usando repelente corporal e de tomada, mosquiteiros, roupas compridas, ventiladores e ligando o ar-condicionado.
MANCHAS PELO CORPO
Quase sempre presentes nas primeiras 24 h.
Aparecem nas primeiras 48h e podem não estar presentes.
Podem estar presentes, mas aparecem depois da melhora da febre.
Pode ser de leve a intensa.
Presente de 50% a 80% dos casos, com intensidade leve.
Intensidade leve e pode não estar presente.
IMPORTANTE: não use repelente em bebês com menos de 6 meses. Eles devem usar roupas compridas e dormir sob mosquiteiro. Para crianças maiores que 6 meses, confira informações no rótulo dos repelentes.
Saiba mais em ondeestaoaedes.com.br
COCEIRA
O Governo do Estado trabalha diariamente
www.corsan.com.br
na construção de um futuro melhor para todos. E todos podem colaborar.
Respeitar a água é dar uma oportunidade para a Corsan promover a saúde e a qualidade de vida de milhões de gaúchos por muitas gerações.
Substituindo redes, medindo reservatórios e monitorando estações de bombeamento bem de perto, mostramos que combater o desperdício é possível. E transformar o futuro, também.
O FUTURO TRATADO COM RESPEITO Valorizar a vida é nosso compromisso com a sustentabilidade. Por isso, a cada financiamento obtido para a execução de obras de saneamento, uma parcela é revertida no trabalho socioambiental.
E você também pode fazer a sua parte com responsabilidade. Na sua casa, no seu trabalho, gota por gota. Ajude a proteger os interesses das pessoas e do nosso planeta.
Trate a água com respeito. Consuma de forma consciente. Evite desperdícios.
Dê valor para o que ela realmente é: o nosso futuro.