Revista Ultimato 313

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Herman Brinkman

Abertura

O Espírito Santo no cenáculo

N

Na noite de 14 de nisã (final de abril e início de maio) do ano 30, numa quinta-feira, Jesus realizou uma longa reunião de despedida com seus discípulos, no andar de cima de uma casa em Jerusalém. Conjectura-se que o dono do cenáculo seria o pai de João Marcos (At 12.12). O que aconteceu naquela noite é narrado detalhadamente apenas no Evangelho de João e ocupa cinco capítulos (13-17). Como o Senhor seria “cortado da terra dos viventes” e derramaria a “sua alma na morte” (Is 53.8, 12) na tarde do dia seguinte, sexta-feira, ele achou por bem referir-se claramente à pessoa do Espírito Santo, o “outro Consolador”, aquele que o substituiria depois de sua volta para o Pai (Jo 14.16). Ali no cenáculo, Jesus menciona quatro vezes a palavra Consolador (Almeida Revista e Atualizada), três vezes a expressão Espírito da Verdade e uma vez o nome Espírito Santo (Jo 14.16-17, 26; 15.26; 16.7). Exceto uma vez, todos os catorze verbos usados por Jesus ao se referir ao ministério do Espírito Santo estão no tempo futuro: convencerá, ensinará, fará lembrar, glorificará etc. O Senhor confirma a profecia de Joel (Jl 2.28) e promete para breve o “natal” do Espírito Santo. Embora nunca tenha estado ausente da história, desde a criação (Gn 1.2) até a ida de Simeão ao templo no momento

em que o recém-nascido menino Jesus estava sendo apresentado (Lc 2.25- 28), o Espírito Santo seria derramado de modo especial e inauguraria o seu pleno ministério. Tal acontecimento se deu cinqüenta dias depois, no dia do Pentecostes (At 2.1-4). O crente que não tem o hábito de ouvir a voz de Deus através da leitura proveitosa das Escrituras, nem de falar com ele através da oração desperdiça esses meios de graça, colocados à sua disposição pelo favor imerecido de Deus. Mais sério desperdício comete o crente que não reconhece ou não

O Espírito é o Advogado (tradução da Comunidade de Taizé e Edição Pastoral), o Ajudador (tradução do Novo Mundo), o Auxiliador (Nova Tradução na Linguagem de Hoje), o Conselheiro (Nova Versão Internacional), o Consolador (Bíblia Viva e Almeida Revista e Atualizada), o Defensor (tradução da CNBB) e o Valedor (Bíblia do Peregrino). Algumas versões preferem usar a palavra do texto grego, aportuguesando-a para Paracleto (Tradução Ecumênica da Bíblia, Edição Pastoral-Catequética, Bíblia de Jerusalém e traduções do

Trazer à lembrança tudo que Jesus disse sobre o Espírito Santo pode provocar um verdadeiro avivamento no Corpo de Cristo leva a sério a assistência que o Espírito Santo pode oferecer-lhe em qualquer tempo e em qualquer circunstância. Ao usar a palavra grega parakletos para se referir ao Espírito Santo, Jesus mostra a riqueza do ministério do seu substituto aqui na terra. Parakletos é uma palavra muito significativa e preciosa. Indica que o Espírito é a pessoa chamada para estar ao lado de outra pessoa para auxiliá-la com sua influência e poder. Os tradutores da Bíblia fazem grande esforço para encontrar a palavra mais apropriada na língua vernácula. Daí a multiplicidade de versões.

Padre Matos Soares e do Monsenhor José Basílio Pereira). William Hendriksen, formidável professor de Novo Testamento no Calvin Seminary, entende que nenhuma tradução é melhor do que o termo Auxiliador, aquele que pode fornecer “qualquer ajuda que for necessária” (Comentário de João, p. 665). Trazer à lembrança tudo que Jesus disse sobre o Espírito Santo, o “outro Paracleto”, no cenáculo de Jerusalém pode revitalizar os crentes e provocar de forma coletiva um verdadeiro avivamento no Corpo de Cristo, a Igreja! Julho-Agosto, 2008

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Carta ao leitor Fotomontagem/Brenda Lamothe/Werdok Werdokarian

Fundada em 1968 ISSN 14153-3165 Revista Ultimato Ano XLI · NÀ 313 Julho-Agosto 2008 Direção e redação cartas@ultimato.com.br Elben M. Lenz César (Jornalista responsável) MTb 13.162 MG Administração Klênia Fassoni, Daniela Cabral e Lenira Andrade Vendas Lucia Viana, Lucinéa de Campos, Romilda Oliveira, Tatiana Alves e Vanilda Costa

O equilíbrio entre o juízo temerário e o discernimento espiritual

C

Chama-se de juízo temerário o julgamento apressado, arrogante, baseado em impressões, em informações de segunda mão, em maledicência e no “ouvi dizer”. Para o julgamento não ser temerário, a sua motivação precisa ser trazida à tona e examinada. Por trás do juízo podem estar a inveja, o ciúme, a competição e o desejo de vingança. Em outras palavras, o auto-julgamento deve preceder o julgamento alheio. O mandamento de Jesus no sermão do Monte é claro: “Não julguem os outros para vocês não serem julgados por Deus” (Mt 7.1, NTLH). Se as Escrituras desencorajam o juízo temerário, elas encorajam o discernimento espiritual, sem o qual corre-se o risco de chamar o mal de bem e o bem de mal, a escuridão de claridade e a claridade de escuridão, o amargo de doce e vice-versa (Is 5.20). Discernimento espiritual nada mais é do que distinguir com a maior precisão possível uma coisa da outra — cujas diferenças nem sempre aparecem à primeira vista — com o propósito de fazer o juízo certo. Em qualquer esfera da vida, há uma porção de pessoas, de pronunciamentos e de produtos falsos. Lidamos com isso diuturnamente. O mesmo problema invade e permeia 4

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a vida religiosa. É impressionante a lista de coisas falsas que a Bíblia denuncia: testemunho falso (Êx 20.16), notícias falsas (Êx 23.1), acusação falsa (Êx 23.7), juramento falso (Lv 6.3), língua falsa (Pv 21.6), pena falsa (Jr 8.8), visão falsa (Jr 14.14), circuncisão falsa (Fp 3.2), humildade falsa (Cl 2.23), irmãos falsos (2Co 11.26), profetas falsos (Mt 7.15), mestres falsos (2Pe 2.1), apóstolos falsos (2Co 11.13), espíritos falsos (1Jo 4.1) e até cristos falsos (Mt 24.24). O campo do discernimento é muito vasto e difícil. É preciso discernir entre o bem e o mal, entre a verdade e a mentira, entre a vontade de Deus e a vontade própria, entre os grandes momentos de Deus e os acontecimentos comuns, entre o Espírito da verdade e o espírito do erro. Uma das parábolas de Jesus fala sobre o trigo e o joio. A matéria de capa desta edição exigiu da redação e dos demais articulistas o cuidadoso equilíbrio entre o juízo temerário e o discernimento espiritual. Buscamos obedecer ao conselho do apóstolo: “Não tratem com desprezo as profecias, mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom” (1Tm 5.20-21). E. César

Editorial e Produção Marcos Bontempo, Bernadete Ribeiro, Djanira Momesso César, Fernanda Brandão Lobato, Josué Bastos e Roberta Dias Finanças / Circulação Emmanuel Bastos, Aline Melo, Aparecida Peixoto, Edson Ramos, Emílio Gonçalves, Luís Carlos Gonçalves, Rodrigo Duarte e Solange dos Santos Estagiários Alaila Ribeiro, Bruno Tardin, Daniel Figueiredo, Fabiano Ramos, Hadassa Alves, Ivny Monteiro, Larissa Caldeira, Luci Maria da Silva, Luiza Barbosa, Marcela Pimentel e Priscila Rodrigues

Arte - Oliverartelucas Impressão - Plural Tiragem - 40.000 exemplares

Łrgão de imprensa evangélico destinado à evangelização e edificação, sem cor denominacional, Ultimato relaciona Escritura com Escritura e acontecimentos com Escritura. Pretende associar a teoria com a prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação social, a oração com a ação, a conversão com a santidade de vida, o suor de hoje com a glória por vir. Circula nos meses ímpares.

Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro da Associação de Editores Cristãos (AsEC) Os artigos não assinados são de autoria da redação. Reprodução permitida. Obrigatório mencionar a fonte.

Assinatura Individual - R$ 55,00 Assinatura Coletiva - desconto de 50% sobre o preço da assinatura individual para cada assinante (mínimo de 10) Assinatura Exterior - R$ 97,00 Edições Anteriores - atendimento@ultimato.com.br Anúncios ă anuncio@ultimato.com.br

Editora Ultimato ATENDIMENTO AO LEITOR Telefones: (31) 3891-3149 0300 313 1660 Fax: (31) 3891-1557 E-mail: atendimento@ultimato.com.br www.ultimato.com.br Caixa Postal 43 36570-000 · Viçosa, MG

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Pastorais Marsy

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A flexibilidade do profeta Jeremias O homem e a mulher tementes a Deus precisam ser muito flexíveis. Muitas vezes Deus manda fazer coisas muito óbvias ou coisas muito estranhas, coisas muito fáceis ou coisas simplesmente impossíveis. O servo obediente, o servo submisso, o servo já acostumado com estes mandos lá de cima, o servo humilde, faz tudo que ele manda e sempre dá certo. A Noé Deus ordenou que construísse uma barca de três andares, de 133 metros de comprimento por 22 de largura por 13 de altura, longe do mar ou de algum rio (Gn 6.14-16). A Abraão Deus ordenou que ele saísse de sua própria terra e de seus parentes próximos e remotos e caminhasse para longe, para uma terra que ele mostraria mais na frente (Gn 12.1). A Moisés, quando ele e todo o povo de Israel estavam parados diante do Mar Vermelho, Deus ordenou que eles seguissem em frente (Êx 14.15). E assim por diante. O profeta Jeremias parece ser a pessoa a quem Deus mais dava ordens, que eram sempre prontamente obedecidas. A impressão que se tem é que Deus “se intrometia” na vida de Jeremias muitas vezes e exigia uma porção de coisas diferentes e curiosas. O Senhor ordenou a Jeremias que ficasse solteiro: “Não se case nem tenha filhos neste lugar” (16.2). O Senhor ordenou a Jeremias que não participasse de festas: “Não entre numa casa em que há um banquete, para se assentar com eles para comer e beber” (16.8). O Senhor ordenou a Jeremias que embebedasse os reis de todos os reinos da face da terra: “Pegue da minha mão este cálice com o vinho da minha ira e faça que bebam dele todas as nações a quem eu o envio” (25.15). 6

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O Senhor ordenou a Jeremias que comprasse isto e aquilo: “Vá comprar um cinto de linho e ponha-o em volta da cintura, mas não o deixe encostar na água” (13.1), “Vá comprar um vaso de barro de um oleiro” (19.1). Deus mandou que o profeta comprasse

As muitas coisas diferentes e curiosas que Deus mandava Jeremias fazer eram na verdade preciosos recursos didáticos e pedagógicos que tornavam os recados do profeta dramáticos e impactantes

também a propriedade de seu primo Hanameel em Anatote (32.6-12). O Senhor ordenou a Jeremias que fosse a este e aquele lugar: “Vá à casa do oleiro e ali você ouvirá a minha mensagem” (18.1); “Coloque-se no pátio do templo do Senhor e fale a todo o povo das cidades de Judá que vem adorar no templo do Senhor” (26.2); “Vá à comunidade dos recabitas, convide-os a virem a uma das salas do templo do Senhor e ofereça-lhes vinho para beber” (35.2). O Senhor ordenou a Jeremias que não intercedesse pelo povo eleito: “E você, Jeremias, não ore por este povo nem faça súplicas ou pedidos em favor dele, nem interceda por ele junto a mim, pois eu não o ouvirei” (7.16). Esta ordem foi repetida pelo menos mais duas vezes (11.14, 14.11). O Senhor ordenou a Jeremias algo que pareceu ridículo: “Faça uma canga e coloque sobre o seu pescoço. Amarre a canga com pedaços de couro, como se amarra um boi para puxar um arado” (27.2, BV). O Senhor entregou a Jeremias uma tarefa muito especial: “Pegue um rolo e escreva nele todas as palavras que lhe falei a respeito de Israel, de Judá e de todas as outras nações, desde que comecei a falar a você, durante o reinado de Josias, até hoje” (36.2). A leitura do contexto mostra que cada ordem tinha a sua razão de ser e era dada em função do longo ministério de 47 anos do profeta (de 627 a.C. a 580 a.C.). Eram preciosos recursos didáticos e pedagógicos que tornavam os recados de Jeremias audíveis, visíveis, dramáticos e impactantes.

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“Busquem o Senhor enquanto é possível achá-lo” IS 55.6

Seções

Abertura Carta ao leitor Pastorais Cartas Quadro de avisos Mais do que notícias Números Nomes Frases Em Jesus você pode confiar Novos acordes Meio ambiente e fé cristã Prateleira Ação mais que social Agenda Vamos ler!

3 4 6 8 13 14 15 17 18 48 55 59 60 61 64 65

Reflexão Robinson Cavalcanti A mui santa participação política

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Ricardo Gondim No country for old men

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Redescobrindo a Palavra de Deus Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente, Valdir Steuernagel

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História Raízes históricas da teologia da prosperidade, Alderi Souza de Matos

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Entrevista Eli Ticuna, Henrique Terena, Márcia Suzuki e Ronaldo Lidório Direitos fundamentais da criança com prioridade absoluta

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O caminho do coração A espiritualidade da vergonha, Ricardo Barbosa de Sousa

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Da linha de frente Messias modernos, Bráulia Ribeiro

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Arte e cultura Resenha de metade de um livro, Mark Carpenter

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Ponto final O eu, o nós e a auto-estima, Rubem Amorese

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Capa Irina Tischenko

O sucesso de Edir Macedo e a pergunta que fica no ar As boas novas de Edir Macedo e da teologia da prosperidade A Duas atitudes inacreditáveis: a pregação interesseira D e a magnanimidade de Paulo So Sobre riqueza e pobreza, Ariovaldo Ramos So Sobre os dízimos e ofertas, Valdeci da Silva Santos So Sobre o aborto, Ageu Heringer Lisboa So Sobre cura

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Especial 1968 NA INTERNET • Chamados para quê? (seção “Altos papos”), por Jeverton Magrão Ledo www.ultimato.com.br

Contagem regressiva de 1968, “o ano que não terminou” Cronologia de 1968 — o ano da confusão... e do nascimento de Ultimato Contextualização histórica — o ano de 1968 nas páginas de Ultimato de 1968 Uma radiografia do cristianismo brasileiro

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ABREVIAÇÕES: BH - Bíblia Hebraica; BJ - A Bíblia de Jerusalém; BV - A Bíblia Viva; CNBB - Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; EP - Edição Pastoral; EPC - Edição Pastoral - Catequética; NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje; TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia. As referências bíblicas não seguidas de indicação foram retiradas da Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional.

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Cartas Evangélicos e católicos Achei no mínimo cômica a carta do leitor de Umuarama, PR, que diz que “um evangélico por mais errado que seja ainda é mais certo do que qualquer católico”. Tenho apenas 18 anos e sou católico. Durante minha vida conheci muitos evangélicos, todos muito educados, diferentemente desse leitor... Madre Tereza dizia: “Se você critica as pessoas, não tem tempo para amá-las!” Fica aqui a minha mensagem! Aproveito para parabenizar a revista pelo seu conteúdo sempre criativo. VALDEIR CESÁRIO DOS SANTOS

Claraval, MG

Lutero

Parabéns a Ultimato por não se omitir na proclamação das verdades eternas contidas nas Sagradas Escrituras. Muitos já se revoltaram e atacaram a revista por ela ter chamado a atenção dos leitores para certos erros, calúnias e difamações. Li na edição de maio/junho a respeito do polonês Ryszard Mozgol, que falou um monte de asneiras sobre Martinho Lutero. Que Ultimato continue proclamando a Palavra de Deus, para a glória e honra dele. REV. AROLDO AGNER

Igreja Evangélica Luterana do Brasil Santiago, RS

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Lamento que a conceituada revista de espiritualidade cristã Ultimato publique cartas ofensivas para os cristãos de tradição católico-romana, como aconteceu na edição de maio/junho, por parte do leitor Odair Orlandi, de Umuarama, PR. É bom salientar que nenhuma revista católica ousa dar apreciações negativas do credo de outras religiões. Ao contrário, se nota um esforço de valorizar o que é bom e santo existente nos outros. PE. ERNESTO ASCIONE

Santo Antônio do Descoberto, GO A carta de Umuarama é radical e irrefletida. Não comungo com o autor. Devemos estabelecer distinções: a Igreja Católica realmente constitui um sistema paralelo à Escritura, não há dúvida. Mas não posso julgar cada católico

em particular. Por outro lado, um evangélico pode ser nominal, carnal, hipócrita... Algumas igrejas evangélicas não estão caminhando no mesmo sentido da Igreja Católica medieval? ALEX ESTEVES DA ROCHA SOUZA

Campo Grande, MS

Poder com suavidade Meu elogio ao excelente artigo de Alderi Souza de Matos a respeito dos neopentecostais (“História”, maio/junho 2008). Há uma mansidão (poder com suavidade) em suas palavras, que, conforme Efésios 4.29, são úteis para a edificação e transmitem graça. GUILHERME ARAÚJO WOOD

Campinas, SP

Terapia de vidas passadas Sobre o artigo O caminho confuso e perigoso da terapia de vidas passadas, devemos questionar não a validade do tratamento e sim a roupagem que recebeu. Se há resultado, não devemos descartá-lo e sim compreender que as lembranças trazidas à tona não são um acesso a vidas passadas, mas uma imersão profunda no subconsciente. O que não podemos é maquiar as manifestações do subconsciente como sendo algo a mais do que realmente

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são apenas para causar curiosidade, crenças falsas e maior consumo da própria terapia. PAULA QUINTÃO

Barbacena, MG

ainda influencia a teologia ocidental. Ainda que o Rubem Alves não mais se defina como teólogo, seu legado é inquestionável e caberia uma entrevista com o próprio.

Em referência à edição de maio/junho e ao artigo O sucesso da não-violência, em se fazendo celebrações de 40 anos, creio ser necessário e louvável lembrar que, também 40 anos atrás, Rubem Alves defendeu sua tese Towards a Theology of Liberation: An Exploration of the Encounter between the Languages of Humanistic Messianism and Messianic Humanism (Teologia da Libertação: Explorando o Encontro entre as Linguagens do Messianismo Humanístico e do Humanismo Messiânico) no mesmo Seminário Teológico de Princeton, onde Raimundo Barreto Jr. se formou. Tal tese foi publicada, com muito sucesso, em inglês, sob o título A Theology of Human Hope, em 1969. Sua tradução portuguesa apareceu em 1987 sob o título Da Esperança. Lembro-lhes também que Rubem Alves, em sua dissertação, produzida um pouco antes de um estudo similar de Gustavo Gutiérrez Merino, foi um dos primeiros a usar o então original termo “Teologia da Libertação”. Ademais, tal discussão abriu caminho para a criação de outras teologias da libertação, como a negra, feminista, entre outras. Sem desmerecimento à lembrança do legado de King, seria também justo Ultimato lembrar e celebrar a produção acadêmica de um brasileiro que tanto influenciou e

A revista Ultimato tem tendência homofóbica, por isso não farei assinatura da mesma.

DR. BRUNO J. LINHARES

Rio de Janeiro, RJ

Rubem Alves

Homossexualidade

JOSÉ LIMA DE OLIVEIRA JÚNIOR

João Pessoa, PB

Acampamento Quest Na edição de novembro/dezembro de 2007, Ultimato publicou uma notícia sobre o Acampamento Quest, nas proximidades de Clarksville, em Ohio, e de outros cem da mesma linha tanto nos Estados Unidos como no Canadá, que pregam o ateísmo. Por coincidência nosso acampamento aqui em Jaraguá do Sul, no Estado de Santa Catarina, também se chama Quest, embora de linha diametralmente oposta. Somos um acampamento cristão de aventura, focado em evangelismo e no desenvolvimento de líderes, no estilo de Jesus — líder-servo. Estamos servindo a Deus desafiando pessoas de todas as idades usando princípios bíblicos e éticos em um ambiente de acampamento. Por causa do nome Quest e porque parte de nossa equipe é do Canadá, tem havido algum questionamento a nosso respeito. Por meio desta carta queremos deixar claro que o nosso Quest não tem nada a ver com o Quest ateísta. Para mais informações acesse <www.questbr.com>.

“Arrependei-vos e crede no evangelho” É pena que os cristãos digam que Deus diz o que ele não diz. Depois de dizer que o homem exige arrependimento do ofensor para perdoá-lo, o artigo Orgulho e preconceito (maio/junho de 2006, p. 54) dá claramente a entender que Deus, para perdoar, não exige nada (em contraste com o homem). Não é o que vejo Deus dizer na Bíblia. Ele enfatiza o arrependimento, como se pode ver em Marcos 1.15; Mateus 11.20-24; Lucas 13.1-5; Apocalipse 2.16 e 21; 3.3; 9.20-21; 16.9. É certo que o perdão de Deus, baseado na remissão de pecados feita no Calvário, é perfeito; o do homem não é. Tenho exortado os crentes a que alimentem espírito de perdão e a que perdoem, independente da atitude do ofensor. Mas que Deus exige arrependimento, exige. Tanto assim que até para nos arrependermos Deus nos socorre, porque somos incapazes disso (Rm 2.4).

CAROL WILBERT

ODAYR OLIVETTI

Jaraguá do Sul, SC

Águas da Prata, SP

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Somos longânimos com todos na igreja, como Jesus ensinou, mas não com os homossexuais. Parece que o sentimento que cultivamos por eles é de repulsa. Eles se sentirão seguros em nosso meio?

tecnicamente provado. Vejam-se os livros A Verdadeira Face da Experimentação Animal e Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação. O embate acontece principalmente por motivos políticos e interesses financeiros.

MARCOS PAULO SILVA

DANIELA LETÍCIA RODRIGUEZ

Três Lagoas, MS

Contagem, MG

Por favor, não me despertem

Templos com simplicidade

Em certa igreja a presença de Deus era quase tocável. Irmãos com responsabilidade missionária à flor da pele. Os jovens vivendo sem fornicação e mulheres emocional e espiritualmente inteligentes e de vida abundante. Crianças sempre contentes e adolescentes radicalmente santificados. Líderes de espiritualidade responsável e íntegros. Tudo isso vi com meus próprios olhos até que... acordei. Era tudo um sonho. Mesmo que esse sonho não se torne real, vou mantê-lo. Por favor, não me despertem!

Como assinante, leio com muito interesse todos os artigos, mas olho também os anúncios. Chamou minha atenção um anúncio mostrando fachadas de templos com arquitetura exageradamente moderna. Gostaria de recomendar às igrejas com projetos de novas construções que ergam seus templos com simplicidade. Beleza e funcionalidade, sim, mas com simplicidade. Todo o dinheiro gasto em decoração exagerada e inútil poderia ser melhor aplicado em missões. Sempre faltam recursos para a obra missionária, cujos obreiros vivem muitas vezes em pobreza.

LUCIMARA MAGALHÃES

WILFRIED KÖRBER

São Bernardo do Campo, SP

Vinhedo, SP

Ultimato

Li a frase do Luiz Eugênio Araújo de Moraes Mello afirmando que os testes em animais são absolutamente necessários. Não sou profissional na área, mas nem por isso deixo de saber que não há nada de absolutamente necessário nos testes em animais. Acredito que seja palpável abolir o uso de animais, não apenas no ensino como também na pesquisa. Isso já foi

Gostaria de parabenizar a Editora Ultimato pelo serviço que presta ao cristianismo. Apesar de não concordar (obviamente) com toda a sua linha doutrinária, reconheço que a revista tem sido um manancial de espiritualidade e profecia.

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PE. JOSILEUDO Q. FAÇANHA

Araçoiaba, CE A última vez que escrevi a Ultimato foi para fazer uma crítica feroz. Fico decepcionado comigo ao me lembrar que, depois do artigo criticado por mim, li outros tantos maravilhosos e não tive a mesma presteza para elogiá-los. A edição de maio/junho é fantástica: sábia, coerente e convidativa a reflexões. FAUSTO FERNANDES PEREIRA

Inhumas, GO Ultimato faz muito bem à minha alma! Foi um dos melhores investimentos que fiz em termos de assinaturas de periódicos que nos trazem reflexão teológica com inteligência sem se tornarem exaustivos. PR. EDIVANDRO FERNANDES CARLOS

Uso de animais na ciência

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Sou padre da Santa Igreja Católica e recebo Ultimato. Não sei quem me manda, pois não a pedi. Contudo, gosto muito de recebê-la e de lê-la. Peço, humildemente, que essa revista seja um meio de aproximação entre nós cristãos. Que ela possa conter artigos também católicos, se possível.

Vila Velha, ES

PE. BRÁULIO LINS

Palmares, PE

Os hinos dos nossos antepassados e dos noviços Falar do corinário Vem Cantar é falar das dificuldades que a igreja brasileira vive; de um lado os que querem cantar

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somente a músicas de nossos antecessores, as quais marcaram gerações, e do outro os noviços, da geração do louvor espontâneo. Não podemos viver sem nossas raízes nem sem conhecer o novo, pois as igrejas que perdem suas origens vivem de modismos, sem valorizar a arte e a cultura, embasadas numa idéia do “aqui e agora”, e aquelas que vivem sem observar o presente não têm futuro promissor, pois estão isoladas, vivendo do passado, comendo o maná do dia anterior. Valdivino reúne neste corinário o antigo e o novo mostrando que é possível haver uma harmonia entre o passado e o presente, que o Deus de ontem é o mesmo de hoje e o será para sempre.

Netos, bisnetos e trinetos Na “Carta ao leitor” da edição de maio/junho, lê-se que David Alves “tem sete filhos, 51 netos, 79 bisnetos e cinco tetranetos”. Ora, pela seqüência, após os bisnetos, vêm os trinetos e não os tetranetos ou tataranetos — os tetranetos são filhos dos trinetos e não dos bisnetos! Mesmo completando 100 anos, David Alves dificilmente terá tetranetos (tomara que sim!), mas creio que seriam necessários mais uns bons anos. OTAVIO ANTONIO VARELLA

Barra do Garças, MT

cartas@ultimato.com.br Cartas à Redação, Ultimato, Caixa postal 43, 36570-000, Viçosa, MG Inclua seu nome completo, endereço, e-mail e número de telefone. As cartas poderão ser editadas e usadas em mídia impressa e eletrônica.

Economize Tempo Faça pela Internet

Marina Silva

A igreja está mesmo perdendo o foco. De agência missionária, ela se tornou um hospital para cuidar de seus doentes ou uma empresa que necessita de novidades para que o cliente se mantenha fiel. Quando me converti, no final de 1989, a minha igreja era atuante e promovia visitas a lares, hospitais, presídios etc. Hoje, esta mesma igreja local vive de cultos semanais, com muito pouco evangelismo. Como no futebol, o que mais se vê agora é a troca de pessoas de uma denominação para outra. Por qualquer motivo se muda de time.

Cartas à Redação

Araraquara, SP

WELINGTON FERNANDES DE LIMA

Fora de foco

FALE CONOSCO

Fiquei muito feliz com o artigo da ex-ministra e senadora Marina Silva (“Meio ambiente e fé cristã”, maio/junho). Seu trabalho à frente do Ministério do Meio Ambiente, a forma digna e decente como saiu de lá, abrindo mão de cargos e com altivez, sem arrogância, seu profundo conhecimento e reconhecimento mundial, quando o assunto é meio ambiente, e, principalmente, seu amor ao evangelho, nos levam a implorar a Ultimato que a irmã Marina Silva faça parte da relação de seus colunistas fixos.

LUIZ FERNANDES MARTINS

WILSON DE OLIVEIRA JR.

Campo Belo, MG

Recife, PE

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Líderes lançam documentos sobre a identidade evangélica

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ois documentos publicados em maio por líderes evangélicos expressam certa angústia vivida por parte da igreja evangélica nas Américas do Sul e do Norte. Um chama-se An Evangelical Manifesto: The Washington Declaration of Evangelical Identity and Public Commitment (Um Manifesto Evangelical — Declaração de Washington da Identidade Evangélica e de Compromisso Público) e foi elaborado e publicado por um grupo representativo de líderes evangelicais dos Estados Unidos. A introdução do manifesto diz que ele é “uma declaração aberta de quem são os evangelicais e qual o propósito deles”. Diz também que há uma confusão sobre o termo “evangelical” e o seu lugar na vida pública dos Estados Unidos. No conteúdo percebe-se o esforço para explicar no que realmente os cristãos crêem e qual o seu chamado. “Nós, evangelicais, somos definidos teologicamente, e não política, social ou culturalmente. (...) Ser evangelical é ser fiel à liberdade, justiça, paz e bem-estar que está no 14 ULTIMATO

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cerne das boas novas de Jesus”. O outro documento foi escrito em Quito (Equador) e assinado pelo Fórum da Unidade, composto por doze líderes latino-americanos de igrejas, organizações cristãs teológicas e de atendimento social. A iniciativa nasceu espontaneamente de um encontro entre estes líderes, sem vínculos de formalidade institucional. O documento chamase Carta Pastoral — Um convite ao diálogo e à ação e tem como destinatária a igreja evangélica da América Latina e Caribe. O conteúdo expressa o desejo de “discernir a voz do Senhor, sonhar e assumir novos desafios para o momento”, especialmente em favor da missão e da unidade da igreja. Diz também que a “diversidade é parte da identidade das igrejas evangélicas, assim como a unidade é parte da sua vocação”. E que “os novos esforços em favor da unidade deveriam dar prioridade à comunidade local”. A julgar pela realidade da igreja evangélica no Brasil, marcada pela confusão na prática da fé, pela dúbia atuação pública e por relacionamentos sectários, nós, evangélicos brasileiros, também precisamos escrever um documento que expresse nossa angústia atual. por Lissânder Amaral

NA INTERNET • Carta Pastoral; um convite ao diálogo e à ação www.ultimato.com.br

Scapture

Quem somos?

Para amar a Bíblia inteira

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ais de 5.300 páginas de comentários sobre os livros da Bíblia formam a série Comentários Esperança, da Editora Esperança. Desde 1996 este vasto e consistente conteúdo escrito por teólogos alemães está no catálogo da editora. A novidade é que a partir de agosto a série estará disponível também em formato eletrônico, em uma parceria com a Sociedade Bíblica do Brasil. Vai compor o banco de recursos da Bíblia Eletrônica (que substitui a Bíblia Online). Nas palavras de Adolf Pohl, um dos autores da série, “o desejo destes comentários é que por meio destas parcelas da Bíblia possamos vir a amar a Bíblia inteira e sua mensagem, e que possa raiar para nós a justiça de Cristo, a liberdade de Deus e a verdade do Espírito Santo”. Para Russel Shedd, os Comentários Esperança vão ajudar leitores que “buscam explicações de textos em geral e também dos mais difíceis”. Os Comentários Esperança já ganharam cinco vezes o Prêmio Areté, da Associação de Editores Cristãos (AsEC). por Lissânder Amaral

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Fatos que desafiam as utopias

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e acordo com a Organização Mundial de Saúde, a cada dia 6.800 pessoas são contaminadas pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana) e 5.750 morrem. Hoje são 33 milhões de infectados. Daqui a 20 anos poderão ser 150 milhões (quatro vezes e meia a mais). A OMS informa também que a cada ano são realizados cerca de 50 milhões de abortos no mundo, 19 milhões dos quais de forma clandestina e insegura. No caso do Brasil, são 1,1 milhão de abortos anualmente. Segundo o médico Miguel Srougi, em 2005, 250 mil brasileiras foram internadas em hospitais da rede pública devido a complicações do aborto. Destas, 11 mil devem ter morrido.

Levantamento recente feito pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) mostrou que 12,3% dos brasileiros têm características de dependência de álcool. Nas capitais e nas regiões metropolitanas, 13% dos adolescentes são considerados bebedores “pesados”, consumindo mais de cinco doses por vez, mais de uma vez por semana. Apenas 10% dos dependentes do álcool conseguem largar o vício sozinhos. Em artigo publicado na Christianity Today, Ronald Sider, autor de O Escândalo do Comportamento Evangélico (Editora Ultimato), diz que o século 20 foi o mais sangrento da história. Um estudioso do assunto estima que 86 milhões de pessoas morreram nas guerras entre 1900 e 1990, o que significa 2.500 por dia ou 100 a cada

hora, no intervalo de 90 anos. Além desses há de se somar os que foram vítimas de genocídio instaurados pelo governo de certos países, aproximadamente 120 milhões de pessoas (só nos dois países comunistas China e União Soviética foram 80 milhões). Entre 2003 e 2005, 78% dos cerca de 60 mil jovens do sexo masculino, que morreram no Brasil, perderam a vida por causas externas, majoritariamente homicídios e acidentes de trânsito. No mesmo período morreram 15 mil jovens do sexo feminino, 35% pelas mesmas causas externas. Dados oficiais informam que 836.711 meninas de 15 a 19 anos já tiveram filhos, o que equivale a 11,4% da população nesta faixa etária. Em 25 anos, de 1980 a 2005, houve 112 mil casos de aids notificados entre jovens de 15 a 29 anos. O total significa 30% de todos os aidéticos brasileiros. A principal forma de contágio nesta época se deu por transmissão sexual (60% dos casos). Em sua coluna no Jornal do Brasil, o escritor Fausto Wolf lembra que o século 19 deu-nos grandes filósofos, escritores, romancistas e principalmente cientistas. Apesar disso tudo, o século seguinte cometeu o maior genocídio da história.

Daqui a 20 anos poderão ser 150 milhões com o vírus do HIV

números 12.000.000 de dólares foi quanto a milionária americana Leona Helmsley, morta aos 87 anos, em agosto de 2007, deixou de herança para sua cadela Trouble

1.200.000 é o número de caracteres da nova tradução em português do célebre Moby Dick do escritor americano Herman Melville, publicado em 1851

48 dúzias de rosas e 11.000 flores de jasmim são necessárias para produzir uma onça do perfume Joy de Petou

1.000.000 de brasileiros deficientes físicos, auditivos e visuais estão à espera de órteses e próteses para diminuir suas limitações e alegrar mais a vida

49.722 crianças e adolescentes estão matriculados nas 364 escolas localizadas em comunidades quilombolas, onde vivem os descendentes dos escravos africanos trazidos ao Brasil entre os séculos 18 e 19

25.900 mulheres presas nos presídios brasileiros

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Divulgação

A esperança cristã deve ocupar o lugar das utopias Gilberto Dupas

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m outro mundo talvez seja possível”, escreve o brasileiro Gilberto Dupas, 65, presidente do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais (IEEI) e autor de O Mito do Progresso. Para ele, esta frase seria o exercício da utopia e a negação do narcisismo, “porque é a utopia que nos obriga a olhar em direção a uma sociedade menos injusta”. Dupas não confunde a utopia com a esperança e chega a afirmar que “assim como a esperança, a utopia não morrerá nunca”. A esperança cristã é muito superior à capacidade humana de sonhar com um mundo melhor. Os versos de Eduardo Galeano, que Gilberto Dupas transcreve em seu artigo Acabaram as utopias? (Folha de São Paulo, 05/05/08, p. A3), mostram os limites da utopia: “Para que serve a Utopia? Ela está diante do horizonte Me aproximo dois passos E ela se afasta dois passos. Caminho dez passos E o horizonte corre Dez passos mais à frente. Por muito que eu caminhe Nunca a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para caminhar.” Com o exercício da utopia ficase apenas com os sonhos. É bom sonhar com aquilo que “olho nenhum 16 ULTIMATO

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viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou” (1Co 2.9). Mas o exercício da esperança é incomparavelmente melhor. No bojo da utopia encontramos imaginação fértil e otimista. No bojo da esperança encontramos certeza fértil e otimista. Enquanto a utopia se distancia cada vez que nos aproximamos dela, a esperança não foge e cada vez estamos mais perto dela. Sob a ótica da utopia, a frase “um outro mundo talvez seja possível ” está correta. Sob a ótica da esperança cristã, a declaração está errada. Com o óculo da esperança fundamentada na pessoa de Jesus Cristo, não haveria margem para a dúvida. Então diríamos “um outro mundo é possível ”. A incômoda palavra “talvez” cairia por terra definitivamente. A utopia precisa se transformar em esperança. Ela até pode ser um degrau para se chegar à esperança. A caminhada do sonho é bem mais curta que a caminhada da certeza. A utopia produz uma alegria forçada, mas não enganosa, pois todos conhecem sua natureza: ela não promete nada. Comporta-se como um comprimido para afugentar a dor e não a doença. Já a esperança produz uma alegria gerada pela fé, que abraça algo que de fato virá a seu tempo.

O compromisso com a esperança e não com a utopia usa termos mais absolutos. Não diz “sociedade menos injusta” nem se contenta com o pouco. Mas garante que a justiça fará habitação na nova ordem, nos “novos céus e nova terra” (2Pe 3.13). A ponta inicial da corda da esperança foi colocada nas mãos dos homens quando a harmonia do gênero humano e da natureza com o Criador foi quebrada (Gn 3.15). A outra ponta está na consumação do século, no fim da história, na plenitude da salvação. Nossa caminhada não é indefinida nem eterna, como se nada acontecesse em algum ponto do enredo, como se a glória por vir não estivesse na agenda de Deus. Quem usa a corda que liga o paraíso perdido ao paraíso recuperado como guia de corrimão não precisa da utopia. Ele está absolutamente certo de que o pecado, a injustiça e a morte (“os céus e a terra que agora existem”) serão realmente banidos para dar lugar àquilo que “olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou” (“novos céus e nova terra”). Graças à soberania e ao amor de Deus, que nos enviou Jesus Cristo para remover o pecado do mundo (Jo 1.29) e fazer novas todas as coisas (Ap 21.5)!

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Porto Filho é lembrado pela comunidade de Campo Grande 20 anos após sua morte

Manoel da Silveira Porto Filho

O ex-acadêmico de medicina não era um crente isolado da sociedade nem da realidade. Exercia um ministério holístico. Foi professor de latim e português no Colégio Belisário dos Santos, fundador e presidente da Associação Campograndense de Assistência ao Menor e conselheiro da antiga FUNABEM. Foi um dos fundadores do Lions Clube de Campo Grande, do Instituto Campograndense de Cultura e da Sociedade Universitária Campograndense, hoje Fundação Educacional Unificada Campograndense, e participou da Academia de Letras, Ciências e Artes de Itaboraí e da Fraternidade Teológica Latino-Americana. Deu também a sua contribuição na formação de pastores, como um dos fundadores do Instituto Bíblico de Pedra de Guaratiba, RJ, como professor de geografia bíblica, Novo Testamento e teologia e como diretor de extensão do Seminário Unido de Campo Grande, hoje Seminário Teológico do Oeste. Apesar de sua inteira dedicação ao Senhor, Porto Filho não foi poupado de algumas tragédias familiares. No dia 29 de agosto de 1963, sua filha Norma, de apenas 22 anos, mãe de um menino de 1 ano e 2 meses e de outro de 4 meses, foi assassinada a sangue frio pelo próprio marido, quatro anos mais jovem que ela. Depois de passar a noite em claro, antes do alvorecer do novo dia, a bagagem religiosa que Porto Filho trazia no coração e na mente despontou fortemente a ponto de ele poder escrever mais um hino.

No dia 1° de junho de 2008, quando Manoel da Silveira Porto Filho completaria 100 anos (ele morreu aos 80), a Igreja Evangélica Congregacional Campograndense promoveu uma semana inteira de eventos em gratidão a Deus pela vida de seu ex-pastor!

A glória do sol

nascente Manoel da Silveira Porto Filho

Além das sombras que vão descendo, Tudo envolvendo na escuridão Eu vejo a glória do sol nascente, Resplandecente no seu clarão. Não pode a noite, por mais sombria A luz do dia toda esconder. Após as trevas vem triunfante, O sol brilhante do amanhecer. Assim as sombras não permanecem Quando escurecem o nosso olhar No pranto amargo que as dores trazem E a muitos fazem desanimar. Se a noite é longa nos teus caminhos E se os espinhos te vêm ferir, Não desanimes, ó alma triste! Um sol existe que vai surgir! Jesus não tarda a sua vinda: Um pouco ainda e então verás Que as sombras fogem com seus terrores E as tuas dores não voltam mais. (Fonte: Manoel da Silveira Porto Filho — poeta, pastor e mestre, de M. Bernardino Filho, Editora União das Igrejas Evangélicas, 2006, p. 266-267) Julho-Agosto, 2008

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Jociano Brait

Em 1931, um carioca de 23 anos, nascido em Pedra de Guaratiba, abandonou pela metade o curso que fazia na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, na Praia Vermelha. Nunca se soube ao certo por que Manoel da Silveira Porto Filho desistiu da carreira médica. Mas, graças a este estranho desfecho, a igreja evangélica brasileira ganhou um líder de projeção nacional dentro e fora da Igreja Evangélica Congregacional do Brasil. Vocacionado para o ministério, Porto Filho cursou o Seminário Batista do Sul do Brasil e foi ordenado pastor congregacional no final de 1937. Além de pastorear por 47 anos a igreja de Campo Grande, no Rio, Porto Filho foi presidente da União das Igrejas Evangélicas Congregacionais e Cristãs do Brasil e da extinta Confederação Evangélica do Brasil por mais de um mandato. Como poeta e um apaixonado pela hinologia, Porto Filho participou ativamente da comissão revisora do Salmos e Hinos, o mais antigo hinário evangélico brasileiro, e escreveu, traduziu ou metrificou vários hinos, entre eles Grata memória, Rocha eterna, Na manjedoura, Espera em Deus e Vós, criaturas de Deus Pai.

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a cruz, Deus viu em seu Filho amado o nosso pecado, os nossos crimes lesa divindade e a nossa culpa merecedora da maior condenação. No cristão, Deus vê a justiça de Cristo. Por isso, apesar de o homem salvo continuar sendo pecador na terra, é aceito e declarado justo por Deus. Odayr Olivetti, ex-professor de Teologia Sistemática do Seminário Presbiteriano de Campinas 18 ULTIMATO

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Marina Silva, senadora, ex-ministra do Meio Ambiente, membro da Assembléia de Deus de Brasília

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apelo sexual está por todos os lados. É difícil evitar que isso aconteça. O importante é dar aos filhos uma educação baseada na Palavra de Deus para fornecer uma base moral com referenciais verdadeiros e eternos. O diálogo, a amizade e a oração são as melhores armas. Chris Poli, pedagoga, a Supernanny do SBT e colunista da revista Enfoque

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cirurgião plástico deve sempre preocuparse muito mais com suas próprias limitações do que com suas possibilidades. Ivo Pitanguy, cirurgião plástico Divuulgação

Divuulgação

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maior ídolo de todos é o “eu” de cada pessoa que se considera mais importante que o próximo. [O problema é que] as pessoas mais felizes na vida são [exatamente] aquelas que se desprenderam do “eu” e passaram a viver por Jesus, [a exemplo de Paulo, que declarou] “já estou crucificado com Cristo, e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Rômulo Walden Ribeiro, pastor batista

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ngolir orgulho, vaidade e algumas derrotas faz parte [da vida], mas engolir princípios, jamais. É preciso que o dirigente maior banque suas posições. E eu não vou fazer pirotecnia ambiental.

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culto que agrada a Deus não é o tradicional nem o contemporâneo, mas o que parte de um coração quebrantado e de lábios que confessam o nome do Senhor. Guilhermino Cunha, pastor da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro

nquanto Jerusalém se torna cada vez mais religiosa e nacionalista, a cosmopolita Tel Aviv [a 60 quilômetros] se afasta da política e cultua o hedonismo e o sucesso pessoal. Marcelo Ninio, jornalista brasileiro

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ntigamente você se dizia católico. Hoje você é batizado na Igreja Católica, joga flores a Iemanjá, tem a casa decorada pelos princípios do Feng Shui e segue o budismo. Luli Radfahrer, professor na USP

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e alguém perceber que suas dívidas se avolumaram e, pior ainda, originam-se de despesas adiáveis ou desnecessárias, é chegada a hora de procurar auxílio de psicólogos ou psicoterapeutas. Maria Inês Dulci, coordenadora da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor

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O sucesso de Edir Macedo e a pergunta que fica no ar O

sucesso de Edir Macedo é enorme. Trata-se de um fenômeno religioso sem igual. Em 30 anos, o modesto fluminense nascido em 1945 e convertido ao evangelho no Rio de Janeiro em 1964 fundou uma igreja neopentecostal que hoje tem quarenta luxuosas catedrais, mais de 4.700 templos e quase 10 mil pastores só no Brasil. Em média, a cada quinze dias, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) constrói um templo e transfere um dos seus obreiros para fora do país. É a maior distribuidora de Bíblias e uma das maiores locatárias do país (paga o aluguel de 8.806 imóveis). Já se estabeleceu em quase todos os países do globo e em alguns faz tanto sucesso como no Brasil. Na Argentina, a igreja tem cinco catedrais, mais de 150 templos, trezentos núcleos, duzentos pastores e 66 horas de programas de televisão por semana, além do jornal El Universal, com tiragem de 170 mil exemplares. A catedral de Guayaquil, no Equador, tem 7.500 metros de área construída e custou 8 milhões

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de dólares. A de Soweto, na África do Sul, ficou por 20 milhões. Em Portugal estão sendo construídas duas catedrais, uma em Lisboa e outra no Porto. Macedo pretende construir a mais arrojada catedral da Universal em um quarteirão de 28 mil metros quadrados no bairro do Brás, na cidade de São Paulo. Orçado em 200 milhões de reais, o templo terá dezoito andares e acomodará 13 mil fiéis assentados.

todos relacionados principalmente com a teologia da prosperidade (veja O que Edir Macedo diz e o que a Bíblia diz, na pág. 24). Há que se considerar também o estranho sincretismo religioso abraçado pela IURD. Outra possível explicação para o fenômeno poderia ser o estilo empresarial de Macedo, já exposto na reportagem A igreja de Edir Macedo tornou-se um conglomerado que mescla

As igrejas pentecostais e históricas não devem ficar impressionadas nem com o sucesso numérico nem com a grande visibilidade das igrejas neopentecostais. Jesus manda tomar mais cuidado com o alicerce do que com a casa em si. Sem esse alicerce cavado na rocha, que é Cristo, a casa mais cedo ou mais tarde cairá e sua queda fará “um barulho medonho” Além das atividades religiosas, a Universal tem construtoras, seguradoras, empresas de táxi aéreo, agências de turismo, mídia e consultorias, que geram 22 mil empregos diretos e mais de 60 mil indiretos. O sucesso de Edir Macedo diz respeito também aos seus negócios particulares. Ele e a esposa são donos da Rádio Copacabana e da Record, a segunda maior rede de televisão do país, com 99 emissoras (próprias e afiliadas) e 6 mil funcionários, cujo valor deve estar na casa de 2 bilhões de dólares. A grande pergunta que todo mundo faz à boca pequena, especialmente os evangélicos, é como entender o sucesso de Macedo. Seria indício da bênção de Deus em sua vida e obra? Seria o resultado do exercício tenaz da oração? Seria o fruto de um avivamento promovido pelo Espírito Santo? Essas três possibilidades enfrentam séria dificuldade em vista de certos ensinos, certos procedimentos e certos métodos da Universal, que agridem a pureza do evangelho de Jesus,

religião, mídia, política e negócio (edição de novembro/dezembro de 2007, p. 61). Levando-se em conta que Deus é o soberano Senhor sobre todos e sobre tudo, portanto o Senhor da história, pode-se até supor que Macedo seria o seu servo, o seu vassalo, o seu agente, um instrumento de juízo para provocar nas igrejas cristãs alguma resposta, alguma reação, alguma providência. Deus não chama o poderoso rei da Babilônia de “meu servo Nabucodonosor” (Jr 25.9)? Não diz sobre o poderoso rei da Pérsia que “ele é meu pastor e realizará tudo o que me agrada” (Is 44.28)? A IURD é apenas a mais visível de todas as denominações cristãs que estão abraçando a infeliz teologia da

prosperidade. Quase todas as igrejas neopentecostais e não poucas igrejas de linhas pentecostal e tradicional estão sendo perigosamente seduzidas por este movimento, nascido nos Estados Unidos no início do século 20 (veja Raízes históricas da teologia da prosperidade, na pág. 46). Para satisfazer o público obcecado muito mais por seu próprio bem-estar material do que pela busca do reino de Deus (o que Jesus condenou no Sermão do Monte), muitas igrejas estão sendo tentadas a deixar de lado o evangelho original e abraçar o “outro evangelho” (Gl 1.16). Na verdade, as igrejas pentecostais e históricas não devem ficar impressionadas nem com o sucesso numérico nem com a grande visibilidade das igrejas neopentecostais. Jesus manda tomar mais cuidado com o alicerce do que com a casa em si. Sem esse alicerce cavado na rocha, que é Cristo, a casa mais cedo ou mais tarde cairá e sua queda fará “um barulho medonho” (Mt 7.27, BV). Uma das tentações a que Jesus foi submetido era, nas palavras de John Stott, “ganhar o mundo satisfazendo sua fome por meio de uma exposição sensacional do poder”. Jesus não transformou pedras em pães, não se jogou da parte mais alta do templo ao chão nem se curvou diante de Satanás para evitar a cruz e ganhar de lambuja “todos os reinos do mundo e o seu esplendor” (Mt 4.8). Stott diz ainda que “o Diabo adora nos persuadir de que os fins justificam os meios” (A Bíblia Toda, O Ano Todo, p. 177). Nota Os dados sobre Edir Macedo e a Universal foram retirados de O Bispo — a história revelada de Edir Macedo (Larousse, 2007).

NA INTERNET • A igreja de Edir Macedo tornou-se um conglomerado que mescla religião, mídia, política e negócios (edição de novembro/dezembro de 2007) www.ultimato.com.br Julho-Agosto, 2008

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As boas novas de Edir Macedo e da

teologia da prosperidade A s boas novas anunciadas pela Igreja Universal do Reino de Deus são formidáveis. Não há quem não se deixe atrair por elas. É por essa razão que a Universal é o maior fenômeno religioso dos últimos tempos. Todavia, as boas novas de Edir Macedo não são exatamente as boas novas que foram anunciadas altas horas da noite aos pastores que apascentavam os seus rebanhos nas cercanias de Belém, no dia do nascimento de Jesus. Aos aterrorizados homens do campo, o anjo declarou: “Estou lhes trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.10-11). Encabeçados pelo bispo maior, os bispos e os pastores da Universal estão apresentando ao povo, pelo púlpito, pelas sessões de descarrego, pela televisão, pelas emissoras de rádio e por meio de seus periódicos e livros, o “Jesus errado”, nas palavras do pastor Israel Belo de Azevedo, diretor do Seminário Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro.

“Há pessoas se relacionando com o Jesus que se ama enquanto se precisa dele. Quantas pessoas vêm a todos os cultos da igreja, até do meio da semana, e desaparecem depois que recebem de Jesus o que buscavam. [...] Quem busca a Jesus por causa dos milagres não sabe quem é Jesus. Pois ele disse: ‘Eu sou o pão vivo que desce do céu. Se alguém comer desse pão, viverá para sempre’ (Jo 6.51)”.1 “Enquanto algumas pessoas espiritualizam o evangelho, como se ele oferecesse somente salvação do pecado, outros politizam o evangelho, como se ele oferecesse somente libertação da opressão” (John Stott).2 O que acontece com a Universal e, não raro, com outras igrejas neopentecostais comprometidas com a teologia da prosperidade, é que elas enfatizam a parte egoísta do evangelho, a libertação da opressão da miséria, da fome, do

desemprego, da bancarrota, da doença, da depressão, das crises matrimoniais etc. O próprio Edir Macedo explica: “Somos um pronto-socorro”.3 As boas novas do bispo estimulam o materialismo e o malfadado consumismo, e destroem o estilo de vida simples que o evangelho apregoa. Por culpa dessas “boas novas” e de outras, provavelmente em nenhuma outra ocasião da história Jesus tenha descido tanto do seu pedestal de direito e de origem como agora. Esse desvio amplo e sorrateiro pode ser visto na denúncia de Belo de Azevedo: “Há um produto circulando por aí: você quer saber viver? Siga os ensinos da moralidade e da sabedoria deixados por Jesus. Você quer aprender como liderar? Aprenda com Jesus, o maior

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As igrejas comprometidas com a teologia da prosperidade enfatizam a parte egoísta do evangelho, estimulando o materialismo e o malfadado consumismo, e destroem o estilo de vida simples que o cristianismo apregoa

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Duas atitudes inacreditáveis: administrador de empresas do mundo. Você quer conhecer a si mesmo? Aprenda com Jesus, o maior psicólogo de todos os tempos. Quem se interessa por Jesus em função apenas dos seus ensinos não sabe quem é Jesus. Suas palavras são palavras de vida eterna (Jo 4.13-14)”.4 O povo não quer saber nada de pecado, arrependimento, conversão, porta estreita, caminho apertado, poucos companheiros, auto-negação, amor e doação de si mesmo ao próximo nem de muitos outros valores básicos do cristianismo. Mas cristianismo sem cruz não existe. Jesus descreveu enfaticamente a obra do Espírito Santo: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16.8). Assim sendo, nada mais oportuno e mais fadado ao sucesso do que a pregação de outras boas novas. O senador Marcelo Crivella, também bispo da Universal, afirma que Edir Macedo “nunca aceitou ensinar o povo a cantar ‘eu sou pobre, pobre, pobre, de marré, marré, marré’”.5 Na verdade, a IURD não seria a potência que é se pregasse as boas novas originais em sua totalidade. Nem levantaria o dinheiro que arrecada na forma de dízimos e ofertas, como o próprio Edir Macedo admite: “Qualquer pessoa que chega à igreja e é abençoada, mais ela dá. Se você fosse e recebesse, não daria?”.6 A Universal é a principal responsável pela popularização do dízimo mercenário, aquela contribuição dada somente por causa do retorno. Para Macedo, o fiel que precisa de alguma bênção ou algum milagre tem duas opções: “Ou a pessoa dá ou não recebe”.7

a pregação interesseira e a magnanimidade de Paulo

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esde o início, desde Paulo, desde a metade do primeiro século até hoje, o início do século 21, alguns cristãos pregam a Cristo não “por motivo puro”, “não por reta intenção”, “não por honestidade ou sinceridade”, mas “por ambição egoísta”, “por briga”, “por discórdia”, “por espírito de competição”, “por interesse pessoal”, “por intriga”, “por inveja”, “por partidarismo”, “por polêmica”, “por porfia” ou “por rivalidade”. Fazem assim porque “são ciumentos e briguentos”. Tudo isso está na Epístola de Paulo aos Filipenses (1.15-17). Mais inacreditável ainda é que o rigoroso apóstolo mostra-se extremamente longânimo diante de tamanho absurdo: “Isso não tem importância. O que importa é que Cristo está sendo anunciado, seja por maus ou por bons motivos. Por isso estou alegre e vou continuar assim” (Fp 1.8, NTLH). Esta passagem bíblica, que merece todo respeito, parece proibir o que Ultimato está fazendo na matéria de capa desta edição. Já que à porta de cada catedral, templo ou sala alugada da IURD anuncia-se a Cristo por meio da expressão “Jesus Cristo é o Senhor”, retirada da mesma Epístola de Paulo aos Filipenses (2.11), a revista não deveria

criticar Edir Macedo nem qualquer outro pregador da teologia da prosperidade. Não é bem assim. Paulo não ficaria quieto nem manso diante do “evangelho da saúde e da prosperidade” (um dos nomes da teologia da prosperidade). O que estava em jogo no caso mencionado por Paulo é a falta de intenção pura da parte daqueles evangelistas que pregavam a Cristo por interesse pessoal. O que está em jogo no caso dos pregadores da teologia da prosperidade é que eles pregam um evangelho diferente daquele que os primeiros cristãos ouviram e aceitaram. Nesse terreno, Paulo é indobrável: “Se alguém, mesmo que sejamos nós ou um anjo do céu, anunciar a vocês um evangelho diferente daquele que temos anunciado, que seja amaldiçoado!” (Gl 1.8). De sobra, além de pregar o evangelho original, os “ganhadores de almas” de qualquer denominação histórica e pentecostal deveriam descobrir a sua verdadeira motivação e experimentar uma mudança radical, caso estejam pregando por espírito de competição, de rivalidade, de intriga, de partidarismo! Deus será grandemente glorificado depois desse acontecimento!

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Notas 1. Revista Enfoque, maio 2008, p. 32. 2. A Bíblia Toda, O Ano Todo, p. 179. 3. O Bispo, p. 136. 4. Revista Enfoque, maio 2008, p. 53. 5. O Bispo, p. 123. 6. Idem, p. 201. 7. Idem, p. 202. Julho-Agosto, 2008

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O que Edir Macedo diz e o que a Bíblia diz

SOBRE RIQUEZA E POBREZA

Ariovaldo Ramos Edir Macedo diz:

“A Igreja Católica sempre impregnou na cabeça das pessoas que riqueza é coisa do mal e que pobreza é boa. Eles querem que eu pregue a “teologia da miséria”? [...] O objetivo (de construir catedrais) é abrir a cabeça do pobre que dá oferta. Na sua casa, ele senta no sofá rasgado ou até no chão. Na Igreja ele é honrado. Tem o direito de sentar numa cadeira estofada, com ar-condicionado, usar um banheiro limpo. Recebe um atendimento exemplar. Eu quero mostrar que ele é capaz de conquistar coisas grandes, uma vida melhor. Algo como dizer: ‘Veja a grandeza de Deus. Sua casa é um barraco. Olha o que Deus pode fazer. A Igreja Universal também começou em um barraco, mas olha como está hoje. Você precisa investir nesse Deus’” (O Bispo, p. 208, 211). A Bíblia diz:

A frase do bispo Macedo soa simpática ao pobre e se parece com a fé de que a pobreza se resolve no relacionamento particular com Deus, na prática de uma fé pessoal. A Igreja Universal não foi a primeira a construir catedrais. Toda confissão religiosa parece ter uma visão de que Deus se agrada da riqueza. No Antigo Testamento temos duas construções milionárias. O que está em pauta, portanto, não é a construção de catedrais, porque essa prática é milenar, transcultural e transreligiosa. A questão é a natureza da pobreza. Seria resultado de um insuficiente relacionamento com 24 ULTIMATO

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Deus, algo como falta de fé? Portanto, uma questão espiritual? Significaria que quem é rico (não se contempla aqui a questão da origem da riqueza, mas a simples posse da mesma), independente da relação que tem com Deus, é uma pessoa abençoada? É de se supor que haja gente rica que não tenha relacionamento algum com Deus. A Bíblia fala do pobre e da pobreza. Em Deuteronômio 15.4, Deus dá orientações para que não haja pobre entre o povo de Israel. E a solução apresentada é de ordem econômica. Deus exige que a cada sete anos as dívidas sejam perdoadas sem cobrança de juros, para que não existam pobres. A causa apontada (nesse contexto) para a existência da pobreza também é de ordem econômica: o endividamento. Em Levítico 25.10-55, Deus proclama o Jubileu, uma série de medidas econômicas limitando

o direito à propriedade, assim como o direito de explorar o trabalho alheio. Era um modo de evitar a pobreza, sanando a situação a cada cinqüenta anos, uma vez que a cada cinco décadas a sociedade voltava ao estado de igualdade. Mais uma vez a pobreza é relacionada com questões de ordem econômica, e o Jubileu é um modelo econômico de reordenamento das relações, de modo a erradicar a causa da pobreza, que nesse contexto era a perda da posse da terra. Desde a promulgação de sua lei, e diante da desobediência à mesma, Deus vem estabelecendo práticas para que o pobre não seja desamparado, a fim de que a sociedade se aproxime do estado de igualdade. Há a pobreza fruto de má administração, ou de irresponsabilidade, ou de desobediência ao Senhor. O livro de Provérbios está repleto dessas advertências, mas elas têm caráter pessoal e extemporâneo, sem cair no reducionismo de classificar a pobreza como resultado destes atos particulares. Em Provérbios encontramos também

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menos não tenha faltando (2Co 8.15); haja consciência de coletividade; o imposto seja um instrumento legítimo de distribuição de renda;

Trata-se de uma sociedade em que todos desfrutem do direito à dignidade; uma sociedade de cidadãos, pois só onde há dignidade há cidadania.

Jesus Cristo preconizou uma nova sociedade, cujo poder governamental seja exercido por meio do serviço a todos. Tratase de uma sociedade em que todos sejam cidadãos, pois só uma sociedade em que o governo assume a sua vocação de servo de todos é que a cidadania floresce • o trabalhador usufrua da riqueza que produz, pois ele é digno de seu salário (Lc 10.7). Não se pode amordaçar o boi que debulha o milho (1Tm 5.18), isto é, aquele que produz deve ser o primeiro a usufruir do que produziu. Esta seria uma sociedade de trabalhadores para trabalhadores; • a criança tenha prioridade, pois Deus não quer que nenhum dos pequeninos se perca e ameaça com duras penas a sociedade que desviar as crianças de sua vocação divina: vocação à saúde, à educação, à segurança, à longevidade, ao emprego, enfim, a uma vida que possa ser celebrada; • os órfãos e as viúvas, isto é, os que tudo perderam, não fiquem desamparados; ao contrário, parte da produção deve ser destinada exclusivamente para estes, para que não haja miséria na sociedade.

Bruno Neves

uma série de advertências contra a exploração do pobre, assim como a orientação de que se deve cuidar dele e buscar a sua emancipação. No Novo Testamento a busca pela erradicação da pobreza continua. É o que se vê na proposta de sociedade que se pode abstrair da fala de Jesus Cristo: “Como vocês sabem, os governadores dos povos pagãos têm autoridade sobre eles e mandam neles. Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de todos. Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente” (Mc 10.42-45, NTLH). Jesus Cristo preconizou uma nova sociedade, cujo poder governamental seja exercido por meio do serviço a todos. Trata-se de uma sociedade em que todos sejam cidadãos, pois só numa sociedade em que o governo assume a sua vocação de servo de todos é que a cidadania floresce. Na sociedade do Cristo, o poder deve ser exercido dessa forma para que ela seja um espaço em que: • o uso da terra seja regulamentado tendo em vista o bem de todos, pois Deus não admite que alguém possa comprar casa sobre casa e terra sobre terra até ser o único morador do lugar (Is 5.8). Na sociedade do Cristo a terra tem de ser repartida entre todos, pois é para todos; a • riqueza seja distribuída com eqüidade, pois Deus quer que quem colheu demais não tenha sobrando, e quem colheu de

• o idoso seja referencial de sabedoria, nunca um fardo, pois na Bíblia ele é o conselheiro que ajuda o jovem na sua caminhada e por este é visto como um mentor, como guardião dos valores que devem nortear a sociedade, como alguém que deve ser honrado, o cidadão por excelência, pois construiu e legou para as gerações que o sucedem. Na sociedade preconizada por Cristo o conjunto de cidadãos é o estado, e todos são cidadãos. Por isso, o governo estaria a serviço de todos, o que significa estar sob o controle da cidadania. Assim, os direitos humanos seriam respeitados. E onde os direitos humanos são respeitados há previdência, isto é, o futuro do cidadão estaria assegurado; ele seria o beneficiário da riqueza que produziu. E previdência seria um conceito que abrangeria não apenas a saúde ou a velhice, mas a educação, a segurança, o emprego, o lazer, enfim, tudo o que dá qualidade à vida. Nessa sociedade, o governo seria um agente previdenciário, e o futuro seria, não algo que quanto mais remoto melhor, mas uma sucessão de presentes, em que cada dia traria a garantia de um futuro assegurado. A pobreza é uma questão econômica e que tem de ser resolvida por via econômica, o que se logrará quando as proposições de Deus forem ouvidas. Ariovaldo Ramos é pastor na Comunidade Cristã Reformada e na Igreja Batista de Água Branca, ambas em São Paulo. Julho-Agosto, 2008

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O que Edir Macedo diz e o que a Bíblia diz

SOBRE OS DÍZIMOS E OFERTAS Valdeci da Silva Santos Edir Macedo diz:

“As pessoas não devem dar ofertas para ajudar a igreja, mas para ajudar a si próprias. Quando dá está fazendo um investimento para si, na sua vida. É o que mostra a Bíblia. Quem dá tudo recebe tudo de Deus. É inevitável. É toma lá, dá cá [...]. Quando alguém faz um sacrifício financeiro, Deus fica sem opção. Ele tem a obrigação de responder, porque é sua promessa. É a fé. Basta seguir o que Deus disse: ‘Provai-me nos dízimos e nas ofertas’” (O Bispo, 2007, p. 207, 215). A Bíblia diz:

Fotomontagem/Juan Croatto/Afonso Lima

A entrega de dízimos, ofertas e outras formas de contribuições financeiras é uma prática comum entre as igrejas cristãs ao longo dos anos. O dinheiro não é o assunto mais importante da vida cristã, mas a

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maneira como o crente lida com ele determina sua resposta em outras questões da vida (Lc 16.10-12). O cristão amadurecido não se deixará escravizar pela avareza e pelo apego ao dinheiro a ponto de ser mesquinho em seu compromisso com a igreja. Ao mesmo tempo, esse cristão não se deixará iludir pela presunção de que seu relacionamento com Deus é pautado pela barganha, pois as bênçãos de Deus não são negociadas. No Antigo Testamento, a entrega do dízimo baseava-se na convicção teológica de que o Senhor é o dono de toda a terra, o doador e o preservador da vida (Sl 24). O dízimo era santo ao Senhor e sua entrega seria uma demonstração prática do reconhecimento da soberania de Deus sobre a terra, seus frutos e a própria vida do ofertante. Ao mesmo tempo, a entrega dos dízimos era a

expressão prática da gratidão a Deus por suas bênçãos e generosidade para com a nação israelita. Logo, aquele ato tinha significado cúltico e ocorria em cerimônias acompanhadas de intensa celebração e adoração a Deus (Dt 12.5-19). A retenção do dízimo, porém, não estava sujeita às mesmas penalidades legais provenientes da desobediência civil da lei, como exclusão social e apedrejamento. A infidelidade do povo seria disciplinada por Deus por meio de catástrofes sociais e econômicas. Há que se notar ainda que a entrega dos dízimos era tão central à vida da nação de Israel que Neemias a restituiu tão logo o povo foi liberto do cativeiro babilônico (Ne 13.10-14). A desobediência dessa prática, de acordo com o profeta Malaquias, equivalia ao pecado de roubar a Deus (Ml 3.6-12). Além dos dízimos, a lei mosaica prescrevia outros tipos de contribuições, como era o caso das ofertas das primícias e das ofertas alçadas (Êx 23.16, 19; 34.22-26). Essas ofertas deveriam atender ao princípio da proporcionalidade, pois eram dadas segundo a bênção do Senhor sobre os ofertantes (Dt 16.10). Segundo as normas para essas contribuições, as ofertas das primícias eram especialmente apresentadas durante a Festa das Semanas, também chamada de Pentecoste ou Festa das Primícias, por ser realizada cerca de cinqüenta dias após a Páscoa e por coincidir com os primeiros frutos da colheita anual em Israel (Nm 28.26).

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Parte dessas ofertas era dedicada ao sustento do pobre, do órfão e da viúva; outra parte, à realização de uma ceia comum; e ainda uma terceira parte destinava-se ao sustento dos sacerdotes. Enquanto o dízimo era anual e trienal, as ofertas poderiam ser entregues em várias ocasiões do ano, especialmente na época das colheitas ou eventos festivos. Tanto os dízimos como as ofertas eram entregues em reconhecimento da soberania e generosidade de Deus para com a nação de Israel (Dt 26.1s). É verdade que o Novo Testamento não apresenta diretrizes claras sobre a entrega do dízimo pelos cristãos e esse fator é, no mínimo, surpreendente. Há três referências ao dízimo nos Evangelhos, e elas devem ser analisadas em seus contextos respectivos. A primeira encontra-se na parábola do fariseu e o publicano, na qual o fariseu se orgulhava de entregar o dízimo de tudo quanto ganhava (Lc 18.9-14). Ao contar essa parábola o propósito de Jesus foi condenar a atitude daqueles que “confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros” (v.9). Dessa forma, o que foi condenado na parábola não foi a prática da entrega do dízimo, mas o fato de o fariseu depender de sua justiça própria em vez de apelar para a graça e misericórdia de Deus. A segunda referência ao dízimo nos Evangelhos está em Mateus 23.23 ou no texto paralelo de Lucas 11.42. Nesses versículos Jesus também faz referência a uma prática comum dos escribas e fariseus, que pareciam extremamente zelosos quanto à obediência dos aspectos mínimos da lei (dar o dízimo da arruda e do cominho), mas negligenciavam a prática da misericórdia, da justiça e da fé. Jesus os reprovou dizendo que deveriam “fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” Na verdade, Jesus não censura os fariseus por darem

o dízimo, mas por julgarem que o dízimo substituía a base real de seu relacionamento com Deus. Jesus condenou os fariseus e escribas por sua hipocrisia, e não pela prática da entrega dos dízimos. O Novo Testamento é repleto de diretrizes a respeito das contribuições financeiras na igreja primitiva. Em primeiro lugar, há o registro de contribuições com o objetivo de auxiliar os necessitados na igreja. Em Atos há vários relatos sobre o compartilhamento de posses com o objetivo de atender aos necessitados na igreja (At 2.45; 4.34, 36-37). A primeira eleição de diáconos teve o

O objetivo da contribuição do crente não tem valor comercial, não é para ajudar a ele mesmo, mas para expressar sua gratidão a Deus, bem como o reconhecimento de que todo o seu ser vem do Senhor propósito de promover certa assistência material a alguns menos favorecidos (At 6.1-6). A prática de cuidar dos necessitados tornou-se comum entre os cristãos a ponto de Paulo exortar os membros de uma igreja gentílica, Éfeso, a trabalharem para terem “com que acudir ao necessitado” (Ef 4.28). Assim, a igreja primitiva incentivava contribuição para auxílio dos seus membros. A prática sistemática da contribuição financeira no cristianismo primitivo que mais se aproxima da entrega do dízimo é aquela descrita como uma coleta a favor dos santos (1Co 16.1-3; 2Co 8-9). É importante observar que alguns cristãos receberam a exortação de Paulo com alegria e interpretaram a contribuição como

um privilégio (2Co 8.4). Aquela coleta foi incluída na liturgia da igreja de Corinto (1Co 16.1-2) e deveria ser interpretada como uma expressão de generosidade, gratidão e adoração a Deus (2Co 9.10- 13). Em outra ocasião, Paulo insistiu que aquela prática fosse interpretada como um ato de obediência ao evangelho de Cristo (2Co 9.13). Deve-se considerar o aspecto sistemático e o planejamento envolvido naquela coleta, a ponto de Paulo afirmar que a igreja de Corinto estava preparada havia um ano para fazê-la (1Co 16.1,2; 2Co 9.1-2). Por último, aquela contribuição seria proporcional, conforme a prosperidade do contribuinte (1Co 16.2). Dessa forma, todos os cristãos contribuiriam de forma igual, não em valor, mas no percentual. Concluindo, a perspectiva do bispo Macedo sobre contribuições cristãs contraria o ensino das Escrituras sobre esse assunto. Segundo a Bíblia, o objetivo da contribuição do crente não é para ajudar a ele mesmo, mas para expressar sua gratidão a Deus, bem como o reconhecimento de que todo o seu sustento vem do Senhor. Sua interpretação de que o texto de Malaquias 3.10 — “provai-me nos dízimos e nas ofertas” — seja uma promessa que deixa Deus sem opção se parece mais com a doutrina espírita da causa e efeito. Somente o entendimento espírita do “toma lá, dá cá” justificaria semelhante interpretação. A contribuição cristã deve ainda ter o objetivo de ajudar os irmãos na fé, e neste sentido a igreja é fortalecida. Por último, a perspectiva bíblica sobre contribuição não tem a natureza comercial que o bispo defende. O Deus que se revela nas Escrituras nunca pode ficar refém do contribuinte, pois este não lhe faz favor algum. Valdeci da Silva Santos é pastor da Igreja Evangélica Suíça e professor no Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper, em São Paulo.

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O que Edir Macedo diz e o que a Bíblia diz

Edir Macedo diz:

“Sou a favor do direito de escolha da mulher. Em casos como estupro, má-formação do feto ou quando a vida da mãe está comprovadamente ameaçada pela gestação, não há o que discutir. Sou a favor do aborto, sim. A Bíblia também é. Olhe só [Ec 6.3]: ‘Se alguém gerar cem filhos e viver muitos anos, até avançada idade, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é mais feliz do que ele’ [...] O Brasil deveria se unir pelo direito da mulher de optar pelo aborto [...] Certamente grande parte de nossas mazelas sociais diminuiria. Pense comigo: é melhor a mulher não ter filhos ou ter e jogar o bebê na lata do lixo? [...] Vamos ser frios e racionais: é preferível a criança não vir ao mundo ou vê-la nos lixões catando lixo para sobreviver? Eu creio na Bíblia. Nesses casos, eu credito que o aborto é melhor do que nascer. A mulher precisa ter o direito de escolher” (O Bispo, 2007, p. 223). A Bíblia diz:

O bispo Macedo influencia milhões de brasileiros através do poder midiático, por ser tido como ministro da Palavra de Deus. Poderia contribuir para uma cultura de vida, justiça, paz e de solidariedade simplesmente sendo fiel ao que as Escrituras expõem. Mas, quando admite, ensina e estimula uma prática elástica do aborto, como sendo uma questão de direito de opção da 28 ULTIMATO

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Gilber Mirândola

SOBRE O ABORTO

mulher, se alia às forças da anti-vida que saem das trevas e obscurecem a razão, insensibilizam corações e tornam nosso mundo cada vez mais cínico, frio, sem alma. Muitas legislações, apoiadas por eminentes teólogos, mesmo reafirmando a primazia do direito à vida, admitem o aborto em casos excepcionais, como em gravidez decorrente de estupro ou quando há indiscutível risco de vida para a mãe. Outra excepcionalidade que envolve muita polêmica entre peritos trata do estatuto do feto com máformação. Estas três situações são objeto de controvérsia por envolver limites éticos e científicos e não podem ser uma questão fechada prematuramente. Envolvem demasiado sofrimento e requerem decisões de comitês de ética. Mas o que espanta é Macedo sacar a Bíblia como arma de morte. Faz uma apropriação indébita do texto de

Ageu Heringer Lisboa Eclesiastes (6.3), forçando-o a dizer o que não diz, mas o que Macedo deseja dizer. Isto não é exegese, e sim eixegese, violência ao texto. A passagem bíblica em questão, em seu contexto, é como uma sátira, uma ilustração da pobreza do dinheiro em satisfazer plenamente ou espiritualmente uma pessoa. Em todo o capítulo 5 o sábio alerta sobre sua frágil base. Na maioria das vezes é mal repartido (5.9), dilapidado por estranhos (5.10). Mesmo que você disponha de riqueza, bens e honra (6.1,2), um estranho poderá desfrutá-los em seu lugar (6.2) e você acaba ficando com sofrimento. Imaginemos alguém com muitos bens, filhos e tempo de vida, ou seja, com todas as condições para desfrutar da existência e mesmo assim não a desfruta, e chega até a morrer em miséria e ficar insepulto. Temos aqui o alerta sobre o absurdo de depender de coisas, de trabalhar em vão, sendo infeliz pelo impasse de sentido e vazio existencial. Assim, até um não-nascido, um aborto, de fato é mais feliz por nunca vir a sofrer tais absurdos. Mas o texto jamais legitima o aborto. Macedo é coerente com sua pregação segundo o espírito do capitalismo, atuando como os que transformam tudo em mercadoria avaliada pelo valor utilitário. Tratar questões humanas desta forma resulta num tipo de eugenia já praticada por déspotas sanguinários em busca de tipos ideais, com descarte dos deficientes e não-competitivos. É chocante sua

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afirmação sobre a razoabilidade do aborto como prática preferível ao abandono ou morte de bebês, ou como medida desejável para melhorar os indicadores socioeconômicos! Heil Hitler! Ave César! Viva Herodes! Não conceder ao embrião abrigado no útero o direito de desenvolvimento pleno, por razões de conveniência e ordem utilitária e subjetivista, é negar a ordem natural da vida, é reforçar a pulsão de morte. A onda abortista é parte de uma cultura de dessacralização do corpo, de banalização do sexo, de afirmação ética narcisista, primado do gozo individual. O estímulo a qualquer forma de gozo sexual, com qualquer parceiro ou parceira, sem perguntas incômodas, é massivamente incutido na população e defendido por políticas públicas preocupadas apenas com a assepsia física. O que exige compromisso e permanência é exorcizado por indivíduos infantilizados que não assumem a plenitude de seus gestos. Nega-se a conexão da sexualidade com uma potencial gestação, fazendo o corpo negar a alma. Quando acontece uma gravidez, afirmase, então, não se estar preparado para assumi-la; era apenas sexo esportivo, esqueceu-se a camisinha, enfim, algo deu “errado”! E que falácia o argumento

que pretende considerar o feto como parte do corpo da mulher! O ainda nãonascido é sabidamente um outro ser. Mulheres que abortam voluntariamente ou por pressão do macho fujão não estarão livres de questionamentos da consciência, nem de lembranças, sonhos e sentimentos de perda. Quase sempre o aborto é vivenciado como trauma e compromete a auto-estima. De fato, a gestante é, arquetipicamente, guardiã da vida e qualquer violação deste princípio resulta em sofrimento; portanto, ela deve receber todo apoio do genitor masculino, de familiares e da rede social. É sabido que grávidas abandonadas por parceiros e decididas a abortar, quando apoiadas por amigas e instituições, em sua maioria decidem manter a gestação; portanto, é digno de louvor o trabalho samaritano do Cervi (Centro de Reestruturação para a Vida, www.cervi.org.br), em São Paulo, e abrigos do Exército de Salvação e da Igreja Católica, que oferecem apoio social, psicológico e médico, revertendo situações de desespero. Já nos primeiros documentos da Igreja cristã, o Didaquê, temos ensinamentos de defesa da vida intra-uterina. Reconhecer que o humano procede do humano, desde o instante da fecundação e em contínua

evolução, é a base ética mínima que protege a possibilidade e a dignidade da existência. A própria justificativa para utilização de células-tronco com vistas a salvar ou curar outras vidas tem por base este continuum. Segundo o poeta bíblico, Deus tece o ser humano no ventre de uma mulher (Sl 139.13-16). Quem ousará interromper sua obra? A razão bíblica — a lógica do Espírito e a ação de Cristo — defendem a vida em todas as suas formas e fases. Se nossa civilização acorda, ainda que tardiamente, para a questão ambiental e esforços são feitos para a defesa de peixes, animais e florestas em extinção, quanto mais a espécie humana merece igual dignidade e proteção! Que loucura é esta reduzir o humano a um mero aglomerado de células sujeito ao capricho humoral de alguém? Finalmente respondo ao bispo que o melhor é caminhar no espírito de Jesus. Nos casos já consumados, seguramente ele acolheria graciosamente uma mulher que cometeu aborto e diria algo como “não te condeno, mas veja que não peques”. Quem imagina Jesus aconselhando alguém a abortar, ele que é a ressurreição e a vida? Ageu Heringer Lisboa, psicólogo e terapeuta familiar, é mestre em ciências da religião. É autor de Sexo: Espiritualidade, Instituto e Cultura (Editora Ultimato).

Hananias, o mago da prosperidade E

nquanto o Espírito Santo procura convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), certos pregadores apregoam a teologia da prosperidade. O problema não é de hoje. É multissecular. O profeta Jeremias fazia o que podia para convencer os reis e o povo de Israel da famosa tríade que estava para chegar a qualquer momento: a guerra, a fome e a peste (Jr 14.12; 21.7; 24.10; 27.8; 29.17; 32.24; 34.17; 38.2; 42.17; 44.13). Enquanto isso,

o profeta Hananias, no mesmo lugar e para o mesmo público, profetizava “prosperidade” (Jr 28.9, NVI e BP), ou “paz” (NTLH, ARA e BV), ou “felicidade” (Tradução da CNBB). Um e outro usavam a mesma introdução: “Assim diz o Senhor”. Uma das notas de rodapé da Edição Pastoral Catequética explica: “Os falsos profetas lisonjeiam habitualmente o povo mediante promessas de prosperidade”. Outra nota, desta vez da Edição Pastoral, reforça: “Hananias

é um falso profeta que recorre à demagogia, procurando dizer o que os ouvintes gostam de ouvir e não aquilo que o povo precisa ouvir”. Uma terceira nota de rodapé insiste: “[A prosperidade é] em geral a mensagem dos falsos profetas” (Bíblia de Estudos da NVI). Jeremias não é o único profeta impopular da história de Israel. Todo verdadeiro profeta, por uma questão de compromisso, quase sempre diz o que não agrada. Mas sempre diz a verdade! Julho-Agosto, 2008

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Lars Sundström

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O que Edir Macedo diz e o que a Bíblia diz

Sobre cura

Edir Macedo diz:

“A tradição religiosa ensina que devemos pedir todas as coisas dizendo ‘se for da vontade de Deus’. Conseqüentemente, poucas pessoas têm experimentado milagres de cura. Parece contraditório, mas a realidade é que muitos cristãos, e até pastores, acreditam que ‘talvez não seja da vontade de Deus curar’. Isso é diabólico, falso, abominável”. (Folha Universal, 4/05/08, p. 3.) A Bíblia diz:

A nossa vontade nem sempre coincide com a vontade de Deus e a vontade de Deus deve ser levada a sério. Na oração modelo, o Senhor Jesus mesmo coloca em nossos lábios o respeito pela soberania de Deus: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10). O próprio Jesus, em sua tremenda agonia no Getsêmani, três vezes seguidas suplicou a suspensão do cálice do sofrimento sem abrir mão da submissão devida a Deus: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres” (Mt 26.39). Mesmo convencido várias vezes pelo Espírito de que passaria por prisões e sofrimentos em Jerusalém

(At 20.22-24), o que foi confirmado dramaticamente por um profeta chamado Ágabo, o apóstolo Paulo não desistiu da viagem, apesar do pedido de Lucas e dos crentes de Cesaréia, que acabaram descobrindo que essa era a vontade de Deus (At 21.10-14). A Bíblia diz que Davi já havia se arrependido do seu adultério e que a mão do Senhor já não pesava mais dia e noite sobre a sua cabeça (Sl 32.1-5), quando seu jejum e oração chorosos em favor da criancinha gravemente enferma não foram atendidos (2Sm 12.15-23). Havia muitos leprosos em Israel (povo eleito) no tempo de Eliseu, todavia nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o gentio (Lc 4.27). Timóteo era um homem doente. É Paulo quem nos dá esta informação: “Tome um pouco de vinho, por causa do seu estômago e das suas freqüentes enfermidades” (1Tm 5.23). Ora, será que sua avó Lóide, sua mãe Eunice, os presbíteros da igreja, Paulo (seu pai na fé e tutor eclesiástico) e ele mesmo, todos crentes, não oravam por sua cura? Paulo foi obrigado a deixar Trófimo em Mileto, porque ele havia adoecido (2Tm 4.20). Cabe aqui a mesma pergunta: será que Paulo, os demais

Sindicato de mágicos Acha-se disponível no Portal Domínio Público (www.dominiopublico.gov.br) a tese de doutorado em História Social intitulada Sindicato de Mágicos: Uma História Cultural da Igreja Universal do Reino de Deus, defendida em 2007 na Universidade Estadual Paulista (UNESP). A autoria é de Wander de Lara Proença, 38, professor de história do cristianismo, movimentos religiosos contemporâneos e Novo Testamento na Faculdade Teológica Sul-Americana, em Londrina, PR. 30 ULTIMATO

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companheiros de viagem, a igreja de Mileto e o próprio Trófimo não clamaram em favor de cura? É certo que a Bíblia encoraja a oração em favor dos doentes. É uma das obrigações da igreja, nem sempre levada avante: “Entre vocês há alguém que está doente? Que ele mande chamar os presbíteros da igreja, para

A Bíblia diz que Timóteo era um homem doente. Será que sua avó Lóide, sua mãe Eunice, os presbíteros da igreja, seu pai na fé (Paulo) e ele mesmo não oravam por sua cura? que estes orem sobre ele e o unjam com óleo, em nome do Senhor. A oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará. E se houver cometido pecados, ele será perdoado” (Tg 5.14-15). Mas nem sempre o doente é levantado por Deus, não por falta de fé nem por ter cometido algum pecado não confessado. Muitos cristãos notáveis por este mundo afora adoecem, permanecem doentes e morrem. A soberania de Deus tem que ser levada em conta. Ou será que a igreja primitiva não orou em favor de Estêvão, que foi apedrejado (At 7.54- 59), nem de Tiago, irmão de João, que foi decapitado (At 12.1-2)? Será que ela só intercedeu em favor de Pedro, que foi milagrosamente libertado da prisão (At 12.3-19)?

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Especial 1968

Palo Perez

Especial

A contagem regressiva de 1968, “o ano que não terminou”

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a época, não passava pela cabeça de ninguém que aquele ano, 1968, teria uma importância histórica tão grande. O cartunista brasileiro Angeli era um adolescente de 12 anos, mas já sentia, como ele diz hoje, “o cheiro de alguma coisa, que eu não entendia, mas sabia que estava acontecendo”. Se os anos 60 são “a década que mudou tudo”, o ano de 1968 é o mais importante da década e maio é o mês mais importante do ano. O jornalista Zuenir Ventura acertou em cheio ao dar o título 1968 — O Ano que Não Terminou ao seu livro sobre aquele ano (400 mil exemplares vendidos). Para compreender a importância histórica de 1968, é bom reunir os seguintes depoimentos de brasileiros e estrangeiros: Edgar Morin, 87, pensador francês — “1968 foi, antes de mais nada, um ano de revolta estudantil e juvenil, numa onda que atingiu países de naturezas sociais e estruturas tão diferentes como Egito, Estados Unidos, Polônia... O denominador comum é uma revolta contra a autoridade do Estado e da família.” Michel Maffesoli, 64, sociólogo francês — “1968 se mostrou uma

revolução subterrânea que reformou as pequenas esferas do trabalho, da família e da escola. Transformou nossa maneira de falar, de sentir. Foi uma verdadeira liberação dos costumes [...] Maio de 68 marcou o início da pósmodernidade.” Zuenir Ventura, 77, jornalista brasileiro — “[Em 1968] ou jovens eram muito agressivos e respondiam: ‘Não confie em ninguém com mais de 30 anos’ [...] Havia uma certa utopia ingênua ao achar que as drogas poderiam ser instrumento de abertura das consciências. Mas essa realidade se mostrou perversa.” Nicolas Sarkozy, 53, presidente da França — “O legado do Maio de 68 impôs a idéia de que não existia mais qualquer diferença entre bom e mau, verdade e falsidade, beleza e feiúra. Sua herança introduziu o cinismo na sociedade e na política.” José Eli da Veiga, 60, professor de economia na USP — “O que o fundamental Maio de 1968 desencadeou entre os jovens foi uma adesão a valores e causas estranhas aos seus pais e avós, marcados pelas circunstâncias de duas guerras mundiais que abriram e fecharam a maior crise capitalista.”

Maria Clara Bingemer, 58, teóloga e professora da USP — “[Em 1968] o movimento hippie estava no auge, com seu lema ‘faça o amor, não faça guerra’. A juventude recusou o mundo legado por seus pais, encharcado do sangue de duas guerras mundiais, da tensão da Guerra Fria e do assassinato em massa na Guerra do Vietnã. E o caminho que encontrou para seu protesto foi redescobrir a natureza, a liberdade das relações sexuais, o sexo sem conseqüências, garantido pela pílula anticoncepcional que as mulheres começaram a tomar para evitar a gravidez indesejada [...] O ano de 1968 foi marcado pela rejeição a todo autoritarismo e totalitarismo, afetando a interlocução e o diálogo entre gerações e estamentos da sociedade.” Michael de Certeau, 61, jesuíta francês — “Em maio de 1968 tomouse a palavra como tomou-se a Bastilha em 1789.” Miriam Goldenberg, antropóloga e professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro — “Os eventos do Maio de 68 na França podem ser interpretados como o estopim de uma série de transformações políticas e comportamentais ocorridas na segunda metade do século 20 e que Julho-Agosto, 2008

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tiveram como eixos centrais: o desejo de liberdade, a busca de prazer sem limite, a recusa de qualquer forma de controle e de autoridade e a defesa da igualdade entre homens e mulheres (...) Para os jovens estudantes franceses do Maio de 68, liberdade, felicidade e prazer eram elementos inseparáveis de uma revolução cujo lema era: ‘É proibido proibir’.”

“O que sobreviveu da

libertação sexual dos anos 1960 foi o hedonismo tolerante, facilmente incorporado a nossa ideologia hegemônica: hoje o prazer sexual não apenas é permitido, é ordenado — os indivíduos se sentem culpados quando não podem desfrutá-lo” (Slavoj Zizek) Boris Groys, 61, filósofo — “O ano de 1968 foi o afluxo súbito de energia. Por todo o mundo — em Moscou, em Praga, na América, na China, em Paris, na Alemanha — muitas pessoas começaram a reivindicar: ‘queremos fazer qualquer coisa sem ter de fazê-lo’.” Jacques Rancière, professor na Universidade de Paris 8 — “Maio de 68 tornou-se retrospectivamente o movimento de uma juventude impaciente para gozar todas as

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promessas do livre consumo do sexo e das mercadorias. [...] O movimento de 1968, depois de ser reduzido a transbordamentos da juventude sem conseqüência para a ordem social, viu-se carregado, ao inverso, de um peso histórico desastroso [...]. Ao transformar a sociedade inteira em uma agregação de consumidores narcisistas, desligados de qualquer elo social, ele garantiu o triunfo definitivo do mercado capitalista [...]. Maio de 68 estava consagrado como o providencial salvador do capitalismo.” Slavoj Zizek, 59, filósofo esloveno — “Os eventos explosivos visíveis [de 1968] foram, em última instância, o resultado de um desequilíbrio estrutural — a passagem de uma forma de dominação para outra [...]. O que sobreviveu da libertação sexual dos anos 1960 foi o hedonismo tolerante, facilmente incorporado a nossa ideologia hegemônica: hoje o prazer sexual não apenas é permitido, é ordenado — os indivíduos se sentem culpados quando não podem desfrutá-lo.” Daniel Cohn-Bendit, 63 — deputado no Parlamento Europeu, do Partido Verde Alemão: “[Em maio de 1968] não conhecíamos a aids nem degradações climáticas nem provações da globalização, do desemprego. Éramos prometéicos. Tudo parecia possível. O futuro nos pertencia. [...] É muito mais angustiante ser jovem

hoje do que há 40 anos. Mas quem tem vontade de se revoltar se revolta! [...] Em todo caso, 1968 não deve ser visto como modelo. Retenham simplesmente que existem momentos históricos em que alguma coisa explode — um desejo de fazer avançar, de transformar a sociedade —, e que isso pode funcionar.” Foi exatamente em janeiro de 1968, nesse ano completamente doido que reúne e colhe as tragédias dos anos anteriores mais doidos ainda, que o então jornal Ultimato começou a sua carreira, meio ingenuamente, mas, ao mesmo tempo, certo de que alguma coisa estava acontecendo. O primeiro parágrafo do primeiro artigo publicado na primeira página da primeira edição dizia solenemente: “A contagem regressiva do tempo [o ano bissexto de 1968] começou: 366, 365, 364, 363... A 31 de dezembro teremos chegado ao fim, ao último número, e haverá a explosão de júbilo ou de tristeza. De júbilo, se houver ações de graças. De tristeza, se houver remorso e reconhecimento tardio de culpa e de erro. Moisés foi muito sensato quando pediu a Deus: “Ensina-nos a contar os nossos dias para que alcancemos coração sábio” (Sl 90.12). Esta deve ser a nossa oração no limiar deste novo ano. A vitória está condicionada a certos meios de graça à nossa disposição!”

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Especial Especial

1968

Cronologia nolo de 1968 –

o ano dda confusão... f ã e ddo nascimento i t dde Ulti Ultimato t Janeiro 2 — O cirurgião sul-africano Christian Barnard, 46, retira o coração do recémfalecido Clive Haupt, 23, e o coloca no peito do dentista Philip Blaiberg, 58, num transplante bem-sucedido realizado na cidade do Cabo, na África do Sul. 17 — Começa a circular o jornal Ultimato, um tablóide mensal de oito páginas, impresso em Barbacena, MG, evangélico mas sem cor denominacional, com o propósito de “exaltar as Escrituras Sagradas e proclamar o Evangelho de Jesus Cristo”.

André e Laura Campos

Março 16 — Três pelotões da infantaria americana cercam e dizimam mais de 350 homens, mulheres e crianças, civis desarmados, na aldeia de My Lay, no Vietnã do Sul, certos de que estavam atacando o Viet Kong, a guerrilha comunista. No mês anterior, 40 mil soldados norte-vietnamitas haviam cercado a base americana de Khe Sanh com seus 6 mil fuzileiros. Para romper o cerco, mais de 7.500 missões americanas descarregaram, em três semanas, quase 700 mil toneladas de bombas, num ritmo de 2 mil explosões por segundo. 28 — O secundarista paraense Edson Luís de Lima Souto, 19, morre no restaurante universitário Calabouço, no Rio de Janeiro, em choque de estudantes contra a polícia. O jovem não era líder estudantil nem participava de confrontos armados.

Abril 4 — O pastor e líder negro americano Martin Luther King, 39 anos, é assassinado na sacada do seu quarto num hotel em Memphis, no Tennessee. No rascunho do sermão que iria pregar no dia seguinte, estava escrito: “Só desejo fazer a vontade de Deus. E ele me permitiu chegar ao topo da montanha, de onde olhei ao redor e vi a terra prometida. Talvez não chegue lá com vocês. Mas quero que vocês saibam, esta noite, que nós, como um povo, chegaremos à terra prometida”. 6 — É lançada nos Estados Unidos a obra-prima de ficção científica 2001 — Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, 40. Maio 21 — O movimento grevista na França alcança o seu auge. Dez milhões de pessoas ocupam trezentas fábricas e interditam outras centenas, provocam a paralisação total do sistema de transportes, tiram do ar todo o sistema de rádio e televisão, fecham as escolas, colocam em xeque-mate o fornecimento de energia elétrica, gás e água, mantêm os navios em seus portos marítimos e fluviais. A maior greve da história da França transforma Paris na capital da crise do mundo moderno. 26 — O médico Euclydes de Jesus Zerbini, 56, cinco meses depois do sucesso de Christian Barnard, realiza o primeiro transplante de coração no Brasil.

“Não encontraremos um ideal para a nação nem uma satisfação pessoal na mera acumulação e no mero consumo de bens materiais” (Robert Kennedy) Junho 6 — O senador americano Robert Kennedy é assassinado no Hotel Ambassador, em Los Angeles, aos 43 anos. Três meses antes, Kennedy havia dito: “Não encontraremos um ideal para a nação nem uma satisfação pessoal na mera acumulação e no mero consumo de bens materiais”. 26 — Estudantes realizam no Rio de Janeiro a Passeata dos Cem Mil, encabeçada por Vladimir Palmeira, 23 anos, então presidente da União Metropolitana de Estudantes, e em memória da morte de Edson Luís. Julho-Agosto, 2008

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Julho 4 a 20 — Reúne-se na cidade universitária de Uppsala, na Suécia, a quarta assembléia do Conselho Mundial de Igrejas, com a presença de 704 delegados procedentes de 235 igrejas-membros. O lema são as palavras de Jesus Cristo no penúltimo capítulo da Bíblia: “Estou fazendo novas todas as coisas!” (Ap 21.4). 25 — Paulo VI, 71, publica a encíclica Humanae Vitae, segundo a qual todo ato de relação sexual dentro do casamento deve estar aberto à transmissão da vida, isto é, todos os métodos artificiais de controle de natalidade estão proibidos. Agosto 20 — Exércitos da União Soviética, Bulgária, Alemanha Oriental, Hungria e Polônia invadem a Tchecoslováquia com 200 mil soldados e 5 mil tanques para sufocar o programa de reformas liberais levado a efeito por Alexander Dubcek, 47, primeiro-secretário do Partido Comunista. Os invasores temem que a chamada Primavera de Praga, iniciada em janeiro, influencie os outros países comunistas.

Setembro 6 — Encerra-se a segunda conferência do episcopado latino-americano, reunido desde 24 de agosto, em Medellin, na Colômbia. A conferência procurou aplicar à América Latina as decisões e diretrizes do Concílio Vaticano II, ocorrido dois anos e meio antes, em 1965. É criado o CELAM — Conselho Episcopal Latino-Americano. 11 — Sai a primeira edição da revista Veja, da Editora Abril. A matéria de capa é sobre o grande duelo do mundo comunista. 15 — A nave soviética Zond contorna a Lua e regressa à Terra. 20 — O missionário Jaime Kemp, da SEPAL (Serviço de Evangelização para a América Latina) organiza em São Paulo a primeira equipe do conjunto vocal Vencedores por Cristo, que se tornaria conhecido e apreciado em todo o país. É formado por oito moças e oito rapazes com idade entre 17 e 26 anos. Entre eles estão Cláudio Antonio Batista Marra, Wilson do Amaral Filho e Ary Veloso, que se tornariam líderes evangélicos de grande projeção.

Outubro 3 — Estudantes de esquerda das Faculdades de Filosofia, Letras, Ciências Humanas, Psicologia, Arquitetura, Economia e Administração da USP entram em luta contra os integrantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), infiltrados entre os alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie, na rua Maria Antonia, que separa uma universidade da outra. Um dos líderes da ala esquerdista é José Dirceu. O incidente fica conhecido como a “batalha da Maria Antonia”. 17 — O cinema americano lança o filme O Bebê de Rosemary, do polonês Roman Polanski. Trata-se de um filme de terror em torno de uma mulher engravidada pelo demônio. A peça favorece a bruxaria e abre caminho para outras manifestações artísticas da mesma linha, como a canção Sympathy for the Devil, dos Rolling Stones, e o filme brasileiro Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, de José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Novembro 26 — Marcelo Caetano, 62, recém-empossado chefe do governo português, em substituição ao ditador Antônio Salazar (de 1933 a 1968), pronuncia-se a favor da manutenção da presença portuguesa na África, contrariando a condenação da ONU e o clamor cada vez mais intenso de suas cinco colônias (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe). 34 ULTIMATO

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Dezembro 10 — Morre Karl Barth, 82, o mais influente teólogo de língua alemã, em Basiléia (onde também nasceu), ao norte da Suíça. Deixa inacabada a sua mais famosa obra, Dogmática Eclesiástica, em treze volumes. Escreveu mais de quinhentos livros, artigos e estudos. Opôs-se tanto ao capitalismo como ao comunismo. 13 — O presidente Arthur da Costa e Silva, 69, atendendo a reivindicações e diversas pressões, assina o Ato Institucional nº 5 (AI-5), “o mais ditatorial instrumento jurídico do período militar”. O decreto permite ao chefe do governo cassar mandatos, suspender direitos políticos e legislar em substituição ao Congresso Nacional após decretar-lhe o recesso. Um mês antes do AI-5, o presidente, por ocasião do almoço a ele oferecido no Brasília Palace Hotel pelo Grupo Parlamentar Cristão, de origem evangélica, declarou: “Quero dizer, na qualidade de líder, que me foi imposta por circunstâncias alheias à minha vontade — e portanto admito, na minha fé inabalável em Deus, que estou cumprindo uma determinação divina —, que cumprirei minha missão sem me afastar de Deus e sem renegar, jamais, a fé que eu tenho na graça divina. Entendo, como aqui está escrito, que devemos crer como se tudo dependesse de Deus, e devemos trabalhar como se tudo dependesse de nós. Este é um lema que todos nós, com a responsabilidade de conduzir um povo tão maravilhoso e cristão, como é o brasileiro, devemos seguir e obedecer” (extraído do artigo de capa O sermão do presidente, publicado no jornal Ultimato, edição de fevereiro de 1969). 21 — A Apolo 8, com três astronautas americanos a bordo, entra em órbita lunar e volta à Terra com um atraso de apenas três minutos.

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Especial Especial

1968

Contextualização tex histórica

O ano de 1968 968 nas n páginas de Ultimato de 1968

m seu primeiro ano de vida, o então jornal Ultimato tentou acompanhar os acontecimentos de 1968 e oferecer aos leitores a perspectiva cristã dos mesmos. 1. Libertação sexual — O jornal publicou uma série de quatro artigos de Pedro Wagner, da Missão Evangélica Andina: Conceito bíblico do sexo, A prostituição do sexo, Conceito bíblico do matrimônio e Responsabilidades matrimoniais. 2. “É proibido proibir” — Ultimato publicou a denúncia do evangelista Billy Graham, que saiu primeiramente na revista Time: “Os ministros protestantes estão começando a mudar de atitude. Não enristam mais o dedo porque rapazes e moças cedem aos impulsos biológicos naturais. Não dizem mais: ‘Parem! Vocês estão errados!’. Ao invés disso, perguntam: ‘Isso tem alguma importância?’ [...] A Bíblia ensina do começo ao fim que o adultério e a fornicação constituem pecado, e a atitude de alguns eclesiásticos modernos não modifica esse fato”. 3. “Juventude transviada” — Ultimato publicou as respostas de Zaqueu Ribeiro, um dos pastores da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, ao repórter Fernando Pinto: Por que a juventude sem amor mata e se mata? Por que a juventude sem amor se deprava? Por que a juventude sem amor odeia? Por que a juventude sem amor rouba? Por que a juventude sem amor foge da igreja? Por que a juventude sem amor se embriaga? Por que a juventude sem amor toma entorpecentes?

Ultimato imagem

E

“A Bíblia é o chão do qual nasce toda a fé cristã. Sem ela nada saberíamos sobre Jesus Cristo” (Emil Brunner) 4. Fim da Primavera de Praga (agosto) — Ultimato publicou A crise tchecoslovaca e o formigueiro humano, de Henry Bacon, então professor do Instituto Bíblico Mineiro: “Não podemos deixar de ficar impressionados com o medo que a URSS tem de qualquer molde em que o socialismo possa procurar se desenvolver diferente do idêntico produto interno dela”. 5. Transplantes de coração realizados na África do Sul (em janeiro) e no Brasil (em maio) — Além de publicar o artigo Os transplantes e a teologia, de Richard Sturz (então com 44 anos), Ultimato aproveitou a oportunidade para falar daquele outro transplante anunciado pelo profeta Ezequiel: “Retirarei deles o coração de pedra e lhes darei um coração de carne” (Ez 11.19). No artigo Os doadores de vida, Ultimato discorreu sobre o doador sui generis, aquele que afirmou: “Eu sou o bom

pastor [e] o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.10). Numa nota de rodapé, o jornal lembrou que Clive Haupt, o doador do coração que foi para o peito de Philip Braiberg, era negro e beneficiou um branco. O inverso aconteceu 95 anos antes, quando os africanos enterraram debaixo de uma árvore em Chitambo, na Zâmbia, o coração do médico-exploradormissionário escocês David Livingstone (1813-1873). Livingstone era branco e doou o coração para os negros. 6. Assassinatos de Martin Luther King Jr. (abril) e de Robert Kennedy (junho) — Ultimato publicou o editorial O trágico fenômeno da violência, que advoga não necessariamente o desarmamento civil, mas o fim da pregação da violência em qualquer lugar e por qualquer meio. Pois “a pregação da violência desperta e licencia o ódio, que tem sido barrado pela civilização, pela sensatez, pelo cristianismo”. 7. Encíclica Humanae Vitae (Da vida humana), de Paulo VI, de 25 de julho — Ultimato citou o pronunciamento de três periódicos evangélicos brasileiros: O Cristão (da Igreja Evangélica Congregacional), O Jornal Batista (da Convenção Batista Brasileira) e Estandarte Cristão (da Igreja Episcopal). Enquanto o jornal dos batistas dizia que “não há oficialmente, nem pode haver, pronunciamento sobre o assunto”, a revista dos episcopais dizia que “as afirmações papalinas não passaram de simples repetições do que já fora dito por Pio XI relativamente ao Julho-Agosto, 2008

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mesmo problema”. A mesma revista comenta que a maioria dos membros da comissão nomeada pelo papa anterior (João XXIII) e ampliada pelo próprio Paulo VI, era favorável ao uso dos métodos artificiais. E acrescenta: “O assunto vai dar ainda pano para muita manga”. 8. 20º aniversário da Sociedade Bíblica do Brasil (10 de junho) — Ultimato publicou a reportagem A Bíblia no Brasil, na qual cita o pronunciamento do teólogo reformado suíço Emil Brunner, morto dois anos antes: “A Bíblia é o chão do qual nasce toda a fé cristã. Sem ela nada saberíamos sobre Jesus Cristo”. 9. Revista Veja, lançada em setembro — Ultimato se aproveita da explicação Veja errou, com a qual a nova publicação da Editora Abril admitia alguns equívocos cometidos nas duas primeiras edições, para encorajar a confissão de pecados. O comentário principal foi: “A coisa mais rara e mais difícil deste mundo é usar os verbos pecar, errar ou transgredir na primeira pessoa do singular e no presente do indicativo”. 10. 4ª Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas, em Uppsala (julho) — Ultimato publicou a curiosa observação de Manuel de Mello, fundador e líder máximo da igreja pentecostal O Brasil para Cristo, um dos poucos brasileiros presentes à reunião: “Estamos na era dos jatos e do ponto de vista religioso o Conselho Mundial de Igrejas está de bicicleta”. Os acontecimentos de 1968 despertaram nos cristãos o anseio pela plenitude da salvação, pela segunda vinda de Jesus, pelo advento dos “novos céus e nova terra”. Essa pressa levou Ultimato a publicar o editorial Entre a história e a profecia. Nele se lê que, com o correr dos séculos, a história (o passado) é cada vez maior e a escatologia (o futuro) é cada vez menor! Em outras palavras, amanhã a parúsia estará mais próxima do que hoje! 36 ULTIMATO

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Uma radiografia do cristianismo brasileiro P

sua miséria ora a sua vitória sobre o or ocasião do Encontro de Amigos, pecado, ora a sua candura ora a sua evento a ser realizado em Viçosa, raiva. As cartas revelam a posição MG, de 31 de julho a 2 de agosto religiosa dos missivistas, banhada ou de 2008, em comemoração ao 40o não de tolerância. Há casos em que aniversário de Ultimato, a Editora o mesmo missivista, numa segunda Ultimato lançará o livro Cartas carta, tempos depois, confessa com a Ultimato (1968-2008) — uma humildade seu equívoco anterior. radiografia do cristianismo brasileiro. O leitor de Cartas a Ultimato vai Trata-se de uma coletânea de cartas folhear um livro escrito por um grande publicadas na revista no espaço de 40 número de autores, homens e mulheres, anos. O livro aborda, sucessivamente, jovens e idosos, de temas polêmicos (teologia todos os cantos do da libertação, Harry Brasil e de alguns Potter, pentecostalismo, países do exterior, homossexualidade eleitores de direita etc.), políticos e sociais e de esquerda, (11 de setembro de protestantes e 2001, Nordeste, Cuba, católicos de todos os epístolas da prisão etc.), matizes, pessoas de católicos (Maria de mais fino trato e pessoas e Maria de menos, mal-educadas, celibato clerical, padres cristãos humildes e casados, Aparecida do cristãos arrogantes, Norte etc.), históricos protestantes que (A dança do “quero” mandam católicos e do “não quero”, para o inferno testemunhos pessoais, e católicos que desabafos etc.) Cartas a Ultimato mandam protestantes Porque desde o Editora Ultimato para o mesmo lugar, princípio Ultimato cristãos liberais e adotou a postura de fundamentalistas. A salada é tão grande deixar os leitores falarem à vontade, quanto o número de missivistas. enquanto não faltarem com o devido É mais fácil escrever uma carta ou um respeito a Deus nem difamarem os diário do que um artigo, uma crônica, outros, temos um grande manancial uma poesia, porque, naquele caso, o texto de rico valor histórico e, às vezes, sai mais do coração do que da mente. divertido. Boa parte das cartas Esse estilo literário vem de longe. publicadas no livro são como Ainda se podem ler quase cem cartas vozes saídas de um confessionário, de Cícero, o famoso orador e estadista de um gabinete pastoral ou do romano que morreu quarenta anos antes consultório de algum psicólogo. A do nascimento de Jesus. Contemporâneos alma humana é exposta muitas vezes de Cícero e igualmente romanos, os sem acanhamento, sem cortes, sem poetas Horácio e Cícero escreveram rodeios. O ser humano mostra ora a

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Especial Especial

alguns de seus poemas em forma de cartas: o primeiro produziu a coletânea Epístolas e o segundo, as Heróidas (Cartas de Mulheres Heróicas). A literatura mostra que as cartas em geral são sinceras. Um bom exemplo é este trecho de uma carta que Mário de Andrade, autor de Macunaíma, escreve a Cândido Portinari: “Você me revelou o meu lado angélico, ao passo que [Lasar] Segall me revelou meu lado diabólico, as tendências más que procuro vencer”. As cartas são muito usadas na literatura religiosa. Dos 27 livros do Novo Testamento, só os quatro Evangelhos e os livros de Atos e Apocalipse não são cartas. Toda a teologia paulina está contida nas treze Epístolas de Paulo. Além disso, dois capítulos do Apocalipse contêm as famosas cartas às sete igrejas da antiga Ásia Menor, hoje Turquia (Ap. 2.1— 3.22). Na época da Reforma, surgiu uma coleção de cartas anônimas

que atacavam o clero de então, intitulada Epistolae Obscurorum Virorum (Cartas de um Homem Obscuro). No Brasil, são famosas as quinhentas cartas do padre jesuíta Antonio Vieira, bem mais numerosas do que seus duzentos sermões.

Dos 27 livros do Novo Testamento, só os quatro Evangelhos e os livros de Atos e Apocalipse não são cartas. Toda a teologia paulina está contida nas treze Epístolas de Paulo Diz-se que Vieira é um dos mais notáveis epistológrafos da literatura portuguesa e brasileira (ele nasceu em Lisboa em 1608 e morreu em Salvador, BA, em 1697). Uma das obras póstumas do intelectual Jackson de Figueiredo, que teve uma

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experiência de conversão aos 28 anos, é a sua Correspondência, publicada em 1938. Trata-se de uma coletânea de cartas sobre religião trocadas com Tristão de Ataíde, pseudônimo de Alceu Amoroso Lima, outro intelectual também convertido ao cristianismo no seio da Igreja Católica. Graças às cartas do padre Antonio Vieira é possível conhecer os acontecimentos políticos, sociais e religiosos do século 17. O mesmo se dá quando se lê as cartas de Ovídio, Cícero e Horácio (primeiro século antes de Cristo), Machado de Assis e Joaquim Nabuco (século 19), Jackson de Figueiredo e Mário de Andrade (século 20). E, graças a Cartas a Ultimato, é também possível obter uma radiografia do cristianismo brasileiro, com suas luzes e sombras. Essa coletânea de cartas poderá ser útil para quem deseja e precisa fazer uma pesquisa sobre temas ligados à religião ou à natureza humana.

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informe

O Brasil tem se

“Porque o que se compadece deles os guiará e os levará mansamente aos mananciais das águas.” Is 49.10b O Brasil apresenta ao povo de Deus um grande desafio. A branca seara pronta para ser colhida é grande e desafiadora. As barreiras para o crescimento do Evangelho em nosso país são muito grandes, contudo não são maiores do que o poder do nosso Deus. Em nossa pátria existem aproximadamente 160 milhões de pessoas que ainda não reconhecem a Jesus Cristo como seu único e suficiente Salvador. Entre estes, 19 milhões de dependentes químicos, 10 milhões de crianças de rua, 500 mil meninas exploradas pela prostituição infantil. Anualmente são realizados 1,5 milhão de abortos. São 1515 cidades sem a presença evangélica, 102 tribos indígenas não alcançadas e uma enorme lacuna nos centros urbanos marcados pela violência, tráfico de drogas, prostituição e corrupção. A falta de esperança tem levado milhares de pessoas à tentativa de suicídio, a buscarem o fim de suas próprias vidas por não verem saída para suas angústias. Segundo as últimas estatísticas, no Rio Grande do Sul em 2007, a cada 50 minutos uma pessoa tentou o suicídio, que matou mais pessoas no estado do que os acidentes que aconteceram nas estradas da região. Outras religiões têm crescido em nosso país oferecendo aos perdidos caminhos errados, prometendo a salvação que não podem dar. Não estamos falando de algo fictício, nem tampouco de alguma situação futura, menos ainda sobre a realidade de um país geograficamente distante, mas estamos falando da nossa pátria de hoje.

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Quem terá c

O Brasil está sedento de Deus e nós, geração eleita, nação santa, povo adquirido, devemos sentir compaixão pelos perdidos e sem esperança e expressar tal sentimento assumindo a responsabilidade que realmente temos de mudar esta triste realidade. Por isso, devemos marchar unidos no único propósito de anunciar o nome de Jesus em toda a nossa pátria. Numa realidade em que a violência, o suicídio, as drogas, o alcoolismo, a prostituição, o homossexualismo, a exploração sexual de crianças, o trabalho escravo, a idolatria, o esoterismo e as seitas crescem vertiginosamente, podemos ver quão intensa é a sede de Deus da nossa sociedade. O único olhar que nos cabe nesta hora é aquele pleno de compaixão. O mesmo com o qual Deus olhou para nós e nos resgatou das trevas do pecado para a sua maravilhosa luz. É necessário que o povo de Deus, que já conhece a verdade que liberta e já vive a paz que excede a todo o entendimento, experimente e expresse a compaixão pelos perdidos. Olhe para o desespero das pessoas, sinta compaixão por elas a tal ponto de sentir o desejo de guiá-las até o manancial de águas que nunca vai secar: Jesus Cristo. O tema da campanha de Missões Nacionais de 2008 busca despertar o povo de Deus para a sede da Água Viva que marca a realidade de nossa pátria amada. A Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira completou em junho

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“Porque o que se compadece deles os guiará e os livrará mansamente aos mananciais das águas” Isaías 49:10b

sede de Deus.

á compaixão?

Cristo. Nossa meta é que todas as pessoas em nossa pátria sejam evangelizadas e discipuladas. Para tanto, almejamos iniciar 5 mil novos projetos missionários nos próximos 5 anos e distribuir 25 milhões de exemplares do Evangelho de João no mesmo período. Não há dúvidas de que a vontade de Deus é alcançar o Brasil com sua graça. Isso somente será possível a partir do comprometimento de todos, com oração, árduo trabalho e dedicação de suas vidas e bens em favor da obra salvadora que somente a igreja de Cristo pode fazer. Cada um assumindo sua responsabilidade viabilizará a profunda transformação ao nosso redor pelo poder de Deus atuando em nós e por intermédio de nossas vidas. Esperamos em Deus mobilizar o povo evangélico brasileiro de forma que caminhemos juntos, unidos pelo único propósito de ganhar nossa pátria para Cristo. O Brasil tem sede de Deus. Quem terá compaixão? O Brasil dos índios, dos surdos, das crianças em situação de risco, dos dependentes químicos, dos moradores de rua, dos idólatras, das etnias, das grandes cidades e dos mais distantes rincões, do pobre e do rico, do sertão e do agreste, da floresta e do asfalto e de toda diversidade continental aqui existente depende da multiforme graça de Deus, que já nos alcançou, nos libertou e nos transformou. Esta nação clama por compaixão! Sem compaixão por aqueles que estão sedentos da Palavra de Deus não faz senti-

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deve ser fruto do compromisso que temos com aquele que deu a sua vida por nós na cruz. Em missões precisamos fazer o melhor e dedicar nossas vidas sem reservas para o que o Senhor tem nos convocado. A motivação deve ser a paixão que arde no coração dos que foram tocados pelo Espírito Santo e compreenderam a dimensão da Grande Comissão. Se falharmos, milhões se perderão para sempre nas garras daquele que veio matar, roubar e destruir. A sociedade brasileira está esperando que eu e você tenhamos tamanha compaixão que nos leve a estender nossas mãos em sua direção levando a semente de esperança que pode mudar sua vida. Ore, trabalhe, dê sugestões, faça críticas, contribua e envolva-se nesta obra que há de transformar o Brasil de hoje e do futuro pela compaixão de um povo que serve ao Deus de Amor. É tempo de avançar por amor aos brasileiros! É hora de persistir no propósito de ganhar a nossa pátria para Cristo. Levantese, saia do seu lugar, consagre-se ao Senhor, comprometa-se com a obra salvadora, compartilhe a Água da Vida, que é Jesus Cristo, com aqueles que vivem sedentos de Deus em nosso amado Brasil. Pr. Davidson Pereira de Freitas Gerente de Planejamento e Estratégia Junta de Missões Nacionais. davidson@missoesnacionais.org.br

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Reflexão

A mui santa participação política Robinson Cavalcanti

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Fotomontagem/James Steidl/Regis Suzano da Costa

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omo cristãos, reformados, evangélicos, nascidos de novo, afirmamos a centralidade da pessoa e da obra de Jesus Cristo, como Senhor e Salvador, a autoridade das Sagradas Escrituras, a busca da santidade e a ênfase na missão integral da Igreja, de evangelismo, ensino, comunhão, serviço e profetismo. Uma questão, porém, nos desafia: o que fazer com a nossa vida entre a conversão e a morte/arrebatamento? O que fazer com o exercício dos nossos dons para a edificação do Corpo e com as nossas vocações para o testemunho do reino de Deus e seus valores, evidenciando a nossa fé pelas nossas obras? Deveríamos ser — como alguém afirmou — apenas “pré-cadáveres cantantes”? Ou há um mandato cultural entregue pelo Criador à humanidade e recuperado, primeiro, por Israel e, depois, pela Igreja? Esse projeto de vida, para os cristãos e para as comunidades de fé, tem sido condicionado pela corrente escatológica a que se filiam. O pós-milenismo a-tribulacionista, predominante no movimento missionário da segunda metade do século 19 e início do século 20, tendia a um engajamento, uma participação nos movimentos sociais, com certo otimismo quanto ao caráter

civilizatório da Igreja, culminando esse progresso com a volta de Cristo. O otimismo engajado dos pósmilenistas, a partir do início do século 20 (principalmente na América do Norte) deu lugar ao pré-milenismo pré-tribulacionista, bastante pessimista quanto ao impacto sociocultural da Igreja em sua missão, tendendo ao isolacionismo, à alienação, à adesão acrítica ao status quo. Entre os dois pólos, temos permanecido nós, os a-milenistas pós-tribulacionistas, herdeiros dos reformadores do século 16 em nossa participação crítica realista, procurando levar a sério o ser “sal e luz” e obedecer à oração sacerdotal — quando Jesus pede ao Pai que não nos

tire do mundo, mas nos livre do mal —, procurando seguir as pegadas de Jesus e encarnar o amor que é fruto do Espírito Santo. Para tanto, contamos com as ferramentas das ciências humanas para melhor entender a conjuntura e a estrutura, e melhor nos posicionarmos e influenciarmos. Na história não temos aliados (mas co-beligerantes, como ensinava Schaeffer), e nem sempre conseguimos o melhor, mas o menos ruim possível. Em 1822, o que faríamos, como cristãos, com a independência: apoio, oposição ou indiferença? E com a abolição, em 1888? E com a República, em 1889? E com o

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As sociedades altamente estratificadas dos poucos com muito e dos muitos com pouco, e os modos de produção que concentram propriedade, renda, poder e saber não são consentâneos com os valores do reino de Deus sindicalismo, nos anos 1920? E com a legislação trabalhista, nos anos 1930? E, mais recentemente, com a Constituinte e a redemocratização (1986-1989)? A família, a vizinhança, o trabalho, os sindicatos ou os partidos são canais sociais do nosso testemunho em favor do bem-comum, que passa pela defesa dos interesses nacionais contra as potestades imperiais, da democracia contra o totalitarismo e o autoritarismo (ditaduras, monarquias absolutas), da liberdade responsável contra a opressão ou a anarquia, da justiça social contra a espoliação, a exclusão, os privilégios, a marginalidade, a violência, as diferenças não-naturais. Para tanto, devemos dar de comer aos que têm fome, dar condição de trabalho e renda para quem não a tenha mais, e promover um sistema de leis que acolham a vontade geral e um modo econômico de produção que resulte em frutos para todos. Pode-se pagar um preço por procurar que a cidade dos homens reflita a cidade de Deus e não a cidade do diabo. Calvino, o reformador de Genebra, via o engajamento político (não necessariamente partidário, mas cidadão) dos cristãos como uma “sacrossanta vocação”. O mundo nunca será perfeito antes da Nova Jerusalém, mas pode estar muito pior em razão da nossa omissão ou do nosso apoio aos mais egoístas por interesses próprios. O engajamento obediente é um sinal de santidade ativa. Há a participação docente, intercessória e profética das

igrejas como instituições, a dos cristãos individuais como cidadãos e a participação orgânica dos movimentos e instituições cristãs, levando em conta a conjuntura, as estruturas, as necessidades, as possibilidades, os dons e as vocações. A ação política (cidadã) não deve se limitar ao partidário nem, muito menos, ao eleitoral, mas a uma atitude de responsabilidade, sensibilidade, disponibilidade e intervenção no cotidiano, que é obediência e testemunho. Cremos que a direita totalitária, a esquerda totalitária, a direita autoritária, a esquerda autoritária (ideológica ou fisiológica), as sociedades altamente estratificadas dos poucos com muito e dos muitos com pouco, e os modos de produção que concentram propriedade, renda, poder e saber não são consentâneos com os valores do reino de Deus, que professamos, encarnamos e promovemos. A soberania nacional, a solidariedade internacional, o Estado Democrático Laico de Direito, a igualdade perante a lei, o pluralismo ideológico e partidário, a soberania popular, a justiça social e a propriedade de e para todos são avanços possíveis contra os pecados sociais e estruturais. Assim, também, tornamos o evangelho relevante à nossa geração! Dom Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política – teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo – desafios a uma fé engajada. <www.dar.org.br>

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Petr Kovar

Reflexão

Ricardo Gondim

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ei a este texto o título em inglês de propósito. Quero comentar o filme Onde os Fracos Não Têm Vez, ganhador do Oscar 2008, produzido pelos irmãos Coen. Como não gostei da tradução, preferi o título original, que descreve melhor a trama dessa produção americana. Confesso que não gostei quando assisti ao filme. Saí do cinema com a sensação de que vira mais uma apologia de violência, parecida com tantas outras produções hollywoodianas, exageradas nas cenas explícitas de morte e de vingança. Porém, com o passar do tempo, quanto mais medito no filme, mais percebo sua mensagem metafórica. O enredo é simples. Um acerto de contas entre traficantes num canto escondido do Texas promove 42 ULTIMATO

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uma chacina em que todos morrem. Pela mala de dólares que sobrou, começa uma nova caça de gatos e ratos, envolvendo polícia, traficantes, mexicanos e pessoas comuns. Um xerife prestes a se aposentar, portanto, um “old man”, se vê obrigado a trabalhar no caso, mas seu cansaço é notório. Sem pique diante da maldade, o xerife se revela uma figura tão amargurada que em determinado momento desabafa: “Eu sempre achei que quando ficasse velho Deus entraria em minha vida de alguma forma. Mas ele não o fez. Eu não o culpo. Se eu fosse ele teria a mesma opinião sobre mim que ele tem”. O xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) simplesmente não tem mais forças para enfrentar a maldade que se mostra encarnada, renitente, perene.

Lembrei-me de que o xerife do filme representa todos os que lutam pelo bem e se sentem impotentes diante do avanço da maldade. A luta da polícia, dos investigadores, dos promotores é sem fim. Todo instante alguém tenta fazer o mal. Parece inesgotável a capacidade humana de inventar, imaginar, perversidades. Pedófilos se multiplicam e usam a internet para seduzir crianças. Traficantes se organizam em cartéis. Servidores públicos desviam verbas destinadas à compra de ambulâncias e merenda escolar. Recentemente, o mundo se horrorizou com um pai que por décadas escravizou e abusou sexualmente da própria filha. As organizações que advogam o direito das crianças, os ecologistas que defendem o meio ambiente, os juízes,

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Petr Kovar

os filantropos, os políticos do bem e o clero, semelhantes ao xerife, por mais que batalhem, acabam com a sensação de nunca terem sucesso algum. Quase diariamente lido com pastores evangélicos esgotados. A luta deles também parece inglória e seus esforços, pífios. Diante da avalanche de maldade que se avoluma, com recursos financeiros minguados e com dificuldade para mobilizar as pessoas para o trabalho voluntário, eles se unem aos outros que se sentem deprimidos. Não me atrevo, de forma simplista, a resolver esses dilemas. Minha intuição, entretanto, me diz que há caminhos alternativos que podem suavizar a desesperança que se espalhou. É possível abandonar a lógica dos grandes projetos, das megalomanias, dos messianismos. As antigas propostas globais de mudança precisam ser redimensionadas para pequenas iniciativas. Antes de querer mudar o planeta, devemos cuidar dos quintais. Para enfrentar o aquecimento global, precisamos mudar hábitos cotidianos, como poupar água com banhos rápidos, não abusar do automóvel e, sempre que possível, usar transporte público e até bicicleta. Na política, participar dos conselhos de bairro, envolver-se no chamado terceiro setor e nas pequenas ações de desenvolvimento comunitário. Há uma historinha interessante, bastante conhecida. Um homem caminhava e ao mesmo tempo devolvia para o mar peixes que a maré baixa deixara agonizando na praia. Alguém o repreendeu ao afirmar que seu esforço era inútil e tolo; não faria a menor diferença salvar tão poucos peixes. Ao que respondeu: “Realmente; mas para os que se salvaram fiz toda a diferença do mundo”. Oskar Schindler não acabou com o holocausto, mas fez toda a diferença para aqueles que resgatou dos fornos crematórios; Martin Luther King não viu o fim do racismo, mas deu dignidade para os

O antídoto para o desânimo pós-moderno é concentrar os esforços nas pessoas e não nos empreendimentos. Os projetos devem servir homens e mulheres, nunca o contrário que se inspiraram em sua vida e morte; Madre Teresa de Calcutá não resolveu a miséria da Índia, mas todos que morreram em sua clínica se sentiram amados. O antídoto para o desânimo pósmoderno é concentrar os esforços nas pessoas e não nos empreendimentos. Os projetos devem servir homens e mulheres, nunca o contrário. As pessoas não podem ser consumidas no fortalecimento das instituições. No caso das igrejas, nenhuma programação, nenhum evento, podem tornar-se um fim em si mesmos. Eles estão a serviço dos indivíduos e só adquirem sentido quando promovem a vida. Jesus de Nazaré amou pessoas, viveu numa pequena vila e não diluiu seus esforços com megaeventos. Ele se deu integralmente a doze homens, acolheu os excluídos e nunca se impressionou com o aceno do estrelato. Sua morte transformou-se no mais contundente triunfo. Assim, antes de terminarmos os dias desiludidos, cínicos, sem alma; antes de nos sentirmos derrotados pelo constante avanço da maldade e onipresente perversidade humana, todos precisamos aprender a nos contentar com atos singelos, com iniciativas despretensiosas, com feitos simples. Soli Deo Gloria. Ricardo Gondim é pastor da Assembléia de Deus Betesda no Brasil e mora em São Paulo. É autor de, entre outros, Eu Creio, mas Tenho Dúvidas. <www.ricardogondim.com.br> Julho-Agosto, 2008

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R edescobrindo a Palavra de Deus

Qualidade de vida e respeito ao

meio ambiente BSK

Valdir Steuernagel

Cara senadora Marina Silva,

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esculpe-me pela petulância, mas vou chamá-la de você e entendê-la como leitora de Ultimato, o que não significa que saiba que venho escrevendo sobre os Objetivos do Milênio, uma importante iniciativa da ONU que prioriza a busca do básico para os mais pobres do mundo. Desta vez, trato daquilo que você busca tanto: qualidade de vida e respeito ao meio ambiente. Algumas semanas se passaram desde a sua significativa demissão do Ministério do Meio Ambiente. A sua presença ali era uma mensagem clara da nossa responsabilidade individual e coletiva em relação ao meio ambiente; e a sua demissão, uma clara denúncia do nosso 44 ULTIMATO

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descuido e irresponsabilidade para com ele. Eu queria, com sua permissão, participar do seu compromisso e da sua denúncia, ainda que só a tenha encontrado em dois momentos de microfone. Mas uma memória que carrego é a sua palavra no Segundo Congresso Brasileiro de Evangelização, quando nos desafiou a não deixarmos a água correndo na torneira ao escovarmos os dentes. Sempre que enfrento esta tentação, lembro-me de você. Esta minha participação é pequena em relação à grandeza que você deu ao assunto com o seu próprio compromisso de vida. Mas ainda assim queria ser seu parceiro nessa caminhada e falar da minha conversão e indignação. Eu sou um daqueles convertidos ao evangelho e aos caminhos do reino de Deus na juventude. Conhecer o evangelho e despertar para a evangelização são coisas daquela época e permanecem comigo até hoje. Mas a conversão à qualidade de vida para todos só viria mais tarde, quando Deus me fez enxergar o mundo a partir do pobre e do oprimido. Então conheci a realidade do mundo

pobre, seja em São José da Tapera, no interior de Alagoas, ou no Haiti, de onde alguns irmãos me tiraram às pressas enquanto irrompiam os protestos de rua. Essa conversão foi não apenas social, mas também política, pois é a prática política que fará que os Objetivos do Milênio se tornem realidade ou uma fracassada memória. A conversão ao meio ambiente aconteceu no bojo desta caminhada, quando percebi a estreita relação existente entre a prática social, a política e o meio ambiente — algo que a sua demissão deixou tão claro e que você queria tanto que enxergássemos. Posso voltar ao Haiti? É que lá se vê esta relação com muita nitidez. O Haiti é um país pobre e devastado; e quanto mais devastado, mais pobre, e

O Haiti é um país pobre e devastado; e quanto mais devastado, mais pobre, e quanto mais pobre, mais devastado, num círculo gritante de pobreza, violência e morte

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www.objetivosdomilenio.org.br Em 2000, a ONU Organização das Nações Unidas, ao analisar os maiores problemas mundiais, estabeleceu 8 Objetivos do Milênio que são 8 Jeitos de Mudar o Mundo. Juntos nós podemos mudar a nossa rua, a nossa comunidade, a nossa cidade, o nosso país. quanto mais pobre, mais devastado, num círculo gritante de pobreza, violência e morte. A recuperação social, econômica e política desse país passa necessariamente pela sua recuperação ambiental. Nesse processo, vejo que o nosso Deus redentor é também o nosso Deus criador e que ele espera que nos preocupemos tanto com a sua redenção como com a sua criação. Hoje não consigo entender nem aceitar que a gente queira dividir Deus, colocando-o numa caixinha de redenção desencarnada à qual ele nunca se acomodará. Não entendo, nem quero aceitar que se leia a Bíblia sem ver nela um Deus que nos chama a lutar por uma qualidade de vida que respeite o meio ambiente e que não aceite nem a torneira aberta enquanto se escova os dentes, nem o desmatamento da Amazônia para a expansão da indústria ilegal da madeira ou da grande indústria agropastoril que só progride desmatando. A água desperdiçada na torneira tem tudo a ver com a árvore derrubada na Amazônia, e não consigo aceitar que não se veja a espiritualidade tanto de um gesto como do outro. Daí a minha raiva, que espero seja santa. A raiva vem acompanhada da tristeza decorrente da nossa tentativa de esquartejar Deus e explorar o pobre. Criamos um “deus” pequeno

e excluído da sua própria criação. Um deus que colocamos a serviço de uma mentalidade de progresso econômico típico da modernidade e de uma prosperidade individualista e irresponsável. Com esta carta quero dizer que a luta continua — e com intensidade, nestes dias de aumento do preço do petróleo, de um biocombustível que ameaça o prato do pobre e do forte aumento do preço dos alimentos, pois quando há menos comida no mundo falta primeiro na mesa do pobre. Confesso que andava até animado com o cumprimento, ainda que parcial, de alguns dos Objetivos do Milênio. Mas agora a temperatura da carência, da miséria e da violência está subindo e vitima de forma prioritária o pobre, a mulher e a criança. Preciso terminar. Mas antes queria lhe pedir que continue nos ajudando a acordar para Deus, para o pobre e para o meio ambiente, e que juntos caminhemos para um mundo onde os Objetivos do Milênio sejam uma prioridade evangélica e política. Lutemos por um mundo onde haja menos gente perdida, onde a colheita do pobre seja boa, o programa de recuperação no Haiti seja efetivado e onde nos comprometamos com caminhos de auto-sustentabilidade para as “Amazônias do nosso mundo”. Então entenderemos um pouco mais do chamado de Deus para sermos dele, para servi-lo no outro e juntos nos empenharmos por um mundo onde haja menos crianças com fome, menos mulheres abandonadas, menos pessoas exploradas, menos árvores destruídas e menos torneiras abertas enquanto escovamos os dentes. Aí seremos recompensados com o sorriso aprovador de Deus! Valdir Steuernagel é pastor luterano e trabalha com a Visão Mundial Internacional e com o Centro de Pastoral e Missão, em Curitiba, PR. É autor de, entre outros, Para Falar das Flores... e Outras Crônicas. Julho-Agosto, 2008

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História

Raízes históricas da teol

Alderi Souza de Matos

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evangelicalismo brasileiro apresenta características apreciáveis e preocupantes. Entre estas últimas está o gosto por novidades. Líderes e fiéis sentem que, para manter o interesse pelas coisas de Deus, é preciso que de tempos em tempos surja um ensino novo, uma nova ênfase ou experiência. Geralmente tais inovações têm sua origem nos Estados Unidos. Assim como outros países, o Brasil é um importador e consumidor de bens materiais e culturais norte-americanos. Isso ocorre também na área religiosa. Um movimento de origem americana que tem tido enorme receptividade no meio evangélico brasileiro desde os anos 80 é a chamada teologia da prosperidade. Também é conhecida como “confissão positiva”, “palavra da fé”, “movimento da fé” e “evangelho da saúde e da prosperidade”. A história das origens desse ensino revela aspectos questionáveis que devem servir de alerta para os que estão fascinados com ele. Ao contrário do que muitos imaginam, as idéias básicas da confissão positiva não surgiram no pentecostalismo, e sim em algumas seitas sincréticas da Nova Inglaterra, no início do século 20. Todavia, por causa de algumas afinidades com a cosmovisão pentecostal, como a crença em profecias, revelações e visões, foi em círculos pentecostais e carismáticos que a confissão positiva teve maior acolhida, tanto nos Estados Unidos como no Brasil. A história de seus dois grandes paladinos irá elucidar as raízes dessa teologia popular e mostrar por que ela é danosa para a integridade do evangelho.

Essek W. Kenyon, o pioneiro

Nikolai Sorokin

Embora os adeptos da teologia da prosperidade considerem Kenneth 46 ULTIMATO

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Hagin o pai desse movimento, pesquisas cuidadosas feitas por vários estudiosos, como D. R. McConnell, demonstraram conclusivamente que o verdadeiro originador da confissão positiva foi Essek William Kenyon (1867-1948). Esse evangelista de origem metodista nasceu no condado de Saratoga, Estado de Nova York, e se converteu na adolescência. Em 1892 mudou-se para Boston, onde estudou no Emerson College, conhecido por ser um centro do chamado movimento “transcendental” ou “metafísico”, que deu origem a várias seitas de orientação duvidosa. Uma das influências recebidas e reconhecidas por Kenyon nessa época foi a de Mary Baker Eddy, fundadora da Ciência Cristã. Kenyon iniciou o Instituto Bíblico Betel, que dirigiu até 1923. Transferiuse então para a Califórnia, onde fez inúmeras campanhas evangelísticas. Pregou diversas vezes no célebre Templo Angelus, em Los Angeles, da evangelista Aimee Semple McPherson, fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular. Pastoreou igrejas batistas independentes em Pasadena e Seattle e foi um pioneiro do evangelismo pelo rádio, com sua “Igreja do Ar”. As transcrições gravadas de seus programas serviram de base para muitos de seus escritos. Cunhou muitas expressões populares do movimento da fé, como “O que eu confesso, eu possuo”. Antes de morrer, em 1948, encarregou a

filha Ruth de dar continuidade ao seu ministério e publicar seus escritos. Quais eram as crenças dos tais grupos metafísicos? Eles ensinavam que a verdadeira realidade está além do âmbito físico. A esfera do espírito não só é superior ao mundo físico, mas controla cada um dos seus aspectos. Mais ainda, a mente humana pode controlar a esfera espiritual. Portanto, o ser humano tem a capacidade inata de controlar o mundo material por meio de sua influência sobre o espiritual, principalmente no que diz respeito à cura de enfermidades. Kenyon acreditava que essas idéias não somente eram compatíveis com o cristianismo, mas podiam aperfeiçoar a espiritualidade cristã tradicional. Mediante o uso correto da mente, o crente poderia reivindicar os plenos benefícios da salvação.

Kenneth Hagin, o divulgador O grande divulgador dos ensinos de Kenyon, a ponto de ser considerado o pai do movimento da fé, foi Kenneth Erwin Hagin (1917-2003). Ele nasceu em McKinney, Texas, com um sério problema cardíaco. Teve uma infância difícil, principalmente depois dos 6 anos, quando o pai abandonou a família. Pouco antes de completar 16 anos sua saúde piorou e ele ficou confinado a uma cama. Teve então algumas experiências marcantes. Após três visitas ao inferno e ao céu, converteuse a Cristo. Refletindo sobre Marcos 11.23-24, chegou à conclusão de que era necessário crer, declarar verbalmente a fé e agir como se já tivesse recebido a bênção (“creia no seu coração, decrete com a boca e será seu”). Pouco depois, obteve a cura de sua enfermidade. Em 1934 Hagin começou seu ministério como pregador batista e três anos depois se associou aos

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ologia da prosperidade pentecostais. Recebeu o batismo com o Espírito Santo e falou em línguas. No mesmo ano foi licenciado como pastor das Assembléias de Deus e pastoreou várias igrejas no Texas. Em 1949 começou a envolver-se com pregadores independentes de cura divina e em 1962 fundou seu próprio ministério. Finalmente, em 1966 fez da cidade de Tulsa, em Oklahoma, a sede de suas atividades. Ao longo dos anos, o Seminário Radiofônico da Fé, a Escola Bíblica por Correspondência Rhema, o Centro de Treinamento Bíblico Rhema e a revista Word of Faith (Palavra da Fé) alcançaram um imenso número de pessoas. Outros recursos utilizados foram fitas cassete e mais de cem livros e panfletos.

Hagin dizia ter recebido a unção divina para ser mestre e profeta. Em seu fascínio pelo sobrenatural, alegou ter tido oito visões de Jesus Cristo nos anos 50, bem como diversas outras experiências fora do corpo. Segundo ele, seus ensinos lhe foram transmitidos diretamente pelo próprio Deus mediante revelações especiais. Todavia, ficou comprovado posteriormente que ele se inspirou grandemente em Kenyon, a ponto de copiar, quase palavra por palavra, livros inteiros desse antecessor. Em uma tese de mestrado na Universidade Oral Roberts, D. R. McConnell demonstrou que muito do que Hagin afirmou ter recebido de Deus não passava de plágio dos escritos de Kenyon. A explicação bastante suspeita

dada por Hagin é que o Espírito Santo havia revelado as mesmas coisas aos dois.

Reflexos no Brasil Os ensinos de Hagin influenciaram um grande número de pregadores norteamericanos, a começar de Kenneth Copeland, seu herdeiro presuntivo. Outros seguidores seus foram Benny Hinn, Frederick Price, John Avanzini, Robert Tilton, Marilyn Hickey, Charles Capps, Hobart Freeman, Jerry Savelle e Paul (David) Yonggi Cho, entre outros. Em 1979, Doyle Harrison, genro de Hagin, fundou a Convenção Internacional de Igrejas e Ministros da Fé, uma virtual denominação. Nos anos 80, os ensinos da confissão positiva e do evangelho da prosperidade chegaram ao

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O intruso transcendental

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. S. Lewis tem toda razão quando se refere a Jesus como “um intruso transcendental”. De fato, Jesus chocou todo mundo ao se meter onde era chamado e onde não era chamado. Foi um intruso ao nascer de uma mulher virgem. Foi um intruso ao ocupar a manjedoura de Belém e a ampla sala do andar superior daquela casa de Jerusalém. Foi um intruso ao tomar emprestado meio compulsoriamente o jumentinho no qual fez a sua entrada triunfal. Foi um intruso ao invadir os domínios de satanás e expulsar os demônios daquele homem de Gerasa. Foi um intruso quando arrancou do Hades a filha de Jairo e o filho da viúva de Naim. Foi um intruso ao violar a sepultura de Lázaro. Foi um intruso quando curou aquela mulher que havia perdido todos os seus bens com os médicos. Foi um intruso quando denunciou a hipocrisia dos mestres da lei e dos fariseus que assentavam na cadeira de Moisés. Jesus foi especialmente intruso quando tomou sobre si os pecados que não eram dele, deixando escancarado para sempre o Santo dos Santos. Mas Jesus não foi um intruso vulgar: ele era “um intruso transcendental”, vindo do alto, da parte de Deus, na “plenitude do tempo” (Gl 4.4). 48 ULTIMATO

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Brasil. Um dos primeiros a difundi-lo foi Rex Humbard. Marilyn Hickey, John Avanzini e Benny Hinn participaram de conferências promovidas pela Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno (Adhonep). Outros visitantes foram Robert Tilton e Dave Robertson. Entre as primeiras manifestações do movimento estavam a Igreja do Verbo da Vida e o Seminário Verbo da Vida (Guarulhos), a Comunidade Rema (Morro Grande) e a Igreja Verbo Vivo (Belo Horizonte). Alguns líderes que abraçaram essa teologia foram Jorge Tadeu, das Igrejas Maná (Portugal); Cássio Colombo (“tio Cássio”), do Ministério Cristo Salva, em São Paulo; o “apóstolo” Miguel Ângelo da Silva Ferreira, da Igreja Evangélica Cristo Vive, no Rio de Janeiro, e R. R. Soares, responsável pela publicação da maior parte dos livros de Hagin no Brasil. Talvez a figura mais destacada dos primeiros tempos tenha sido a pastora Valnice Milhomens, líder do Ministério Palavra da Fé, que conheceu os ensinos da confissão positiva na África do Sul. As igrejas brasileiras sofreram o impacto de uma avalanche de livros, fitas e apostilas sobre confissão positiva. Ricardo Gondim observou em 1993: “Com livros extremamente simples, [Hagin] conseguiu influenciar os rumos da igreja no Brasil mais do que qualquer outro líder religioso nos últimos tempos”.

Conclusão Além de apresentar ensinos questionáveis sobre a fé, a oração e as prioridades da vida cristã, e de relativizar a importância das Escrituras por meio de novas revelações, a teologia da prosperidade, através dos escritos de seus expoentes, apresenta outras ênfases preocupantes no seu entendimento de Deus, de Jesus Cristo, do ser humano e da salvação. A partir dos anos 80, várias denominações pentecostais norte-americanas se posicionaram oficialmente contra os excessos desse movimento (Assembléias

Ao oferecerem às pessoas o que elas ambicionam, e não o que elas necessitam aos olhos de Deus, as igrejas comprometidas com o evangelho da prosperidade crescem de maneira impressionante, mas perdem a oportunidade de produzir um impacto transformador na sociedade de Deus, Evangelho Quadrangular e Igreja de Deus). Autores como Charles Farah, Gordon Fee, D. R. McConnell e Hank Hanegraaff, todos simpatizantes do movimento carismático, escreveram obras contestando a confissão positiva e suas implicações. Eles destacaram como, embora essa teologia pareça uma maneira empolgante de encarar a Bíblia, ela se distancia em pontos cruciais da fé cristã histórica. No Brasil, três obras significativas publicadas em 1993 — O Evangelho da Prosperidade, de Alan B. Pieratt; O Evangelho da Nova Era, de Ricardo Gondim; e Supercrentes, de Paulo Romeiro — alertaram solenemente as igrejas evangélicas para esses perigos. Tristemente, vários grupos, principalmente os que têm maior visibilidade na mídia, estão cada vez mais comprometidos com essa teologia desconhecida da maior parte da história da igreja. Ao defenderem e legitimarem os valores da sociedade secular (riqueza, poder e sucesso), e ao oferecerem às pessoas o que elas ambicionam, e não o que realmente necessitam aos olhos de Deus, tais igrejas crescem de maneira impressionante, mas perdem grande oportunidade de produzir um impacto salutar e transformador na sociedade brasileira. Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil. <asdm@mackenzie.com.br>

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ENTREVISTA Eli Ticuna, Henrique Terena, Márcia Suzuki e Ronaldo Lidório

Direitos fundamentais da criança com prioridade absoluta

Alyson Motrezol

Anita Fermin Vasques

Convivendo com indígenas há mais de 25 anos, missionária garante que o infanticídio não é uma prática pacífica nem para as famílias envolvidas nem para os povos que a praticam.

Tasha Bates

Eli Ticuna

Arquivo pessoal

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ntre os protestantes, os primeiros missionários que se dedicaram à evangelização dos indígenas brasileiros foram os que vieram para o Brasil por ocasião da invasão francesa, na metade do século 16. Menos de cem anos depois, alguns pastores da Igreja Cristã Reformada, organizada no Nordeste na época da ocupação holandesa (16301654), se dedicaram a esse ministério. Depois de um longo intervalo de 260 anos, começaram a chegar missionários anglo-saxões de diferentes missões. A inclusão de missionários nacionais tomou força na metade do século 20. Desde a organização do Instituto Bíblico Cades Barnéia, em 1980, indígenas evangélicos começaram a evangelizar seus próprios irmãos nativos. Como resultado, os próprios pastores e missionários indígenas organizaram o CONPLEI (Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas). Participam desta entrevista os indígenas Henrique Terena (casado, presidente do CONPLEI), Eli Ticuna (casado, vice-presidente do CONPLEI), e os não-indígenas Márcia Suzuki (casada, missionária metodista especializada em lingüística indígena, presidente da ATINI- voz pela vida) e Ronaldo Lidório (casado, foi missionário em Gana, na África, onde traduziu o Novo Testamento para uma das línguas dos Konkombas). Ultimato — As fotos aéreas de grupos indígenas autônomos nas proximidades da fronteira do Acre com o Peru, divulgadas pela Funai no início de junho, sugerem que ainda há ajuntamentos indígenas não conhecidos no país?

Edson e Márcia Suzuki e a filha Hakani

Ronaldo Lidório

E

Henrique Terena

Ronaldo Lidório — Há cerca de 258 etnias indígenas no Brasil e possivelmente mais de cinqüenta ainda sem contato com outros grupos, as

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isoladas. Entre estas certamente vários grupos permanecem desconhecidos. Normalmente trata-se de grupos que se distanciaram de outros em um passado remoto devido a conflitos ou em busca de melhor subsistência. Em alguns casos, por preferirem a reclusão, se afastam quando há alguma movimentação incomum em sua área de habitação. Como a região Amazônica é vastíssima e tais grupos são minoritários, há possibilidade de haver um número maior do que se imagina. Ultimato — Talvez pela primeira vez na história moderna do Brasil, diferentes grupos indígenas promoveram ações isoladas em pelo menos seis estados, em favor de seus direitos. Isso foi bom ou ruim?

Eli Ticuna — O indígena deve aprender a usar a arma do branco no processo de busca de seus direitos sem uso da violência; aquilo que está na mente deve ser transferido para a escrita. Reivindicar os direitos de forma oral não funciona para os brancos. Desde a colonização sempre houve uma disputa desigual. Enquanto o indígena usava o arco e a flecha para proteger seus direitos e se defender dos abusos, o colono português já usava a arma de fogo como instrumento de guerra e de domínio. É um avanço quando os indígenas assumem o protagonismo de seu destino. Ninguém melhor que os próprios índios para participarem da elaboração de projetos de leis, pois quem conhece melhor a realidade indígena é o próprio índio, daí a importância de

ele aprender o sistema da burocracia segundo a cultura ocidental. Ultimato — Como vocês avaliam e interpretam o pronunciamento do ex-presidente José Sarney, no artigo publicado na Folha de 6 de junho: “Talvez precisemos colocar em nossos corações o coração dos índios, para amá-los e entendê-los”? Eli Ticuna — É uma expressão de profundo significado, aliás, é um desejo do próprio ser humano. Pena que não é fácil praticá-la. Para entender a realidade do outro ou até mesmo para trazer para dentro de si o coração do próximo é necessário ter uma verdadeira experiência e um profundo mergulho na realidade do outro.

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Ultimato — Há quanto tempo foi organizado o Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas (CONPLEI)? O que ele pretende? Henrique Terena — Desde a sua primeira reunião até agora já são dezoito anos, mas apenas oito anos como entidade juridicamente reconhecida. O CONPLEI tem alguns alvos bem definidos: treinamento de lideranças indígenas, fórum de debates e fortalecimentos das igrejas indígenas. Ultimato — Parece que vocês estão esperando mais de 2 mil pessoas para o Congresso do CONPLEI a realizar-se em Manaus, em setembro, representando cerca de sessenta etnias brasileiras e 25 etnias de outros países. O que pretende essa grande assembléia? Henrique Terena — A razão principal é reunir o povo de Deus, indígena ou

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não, para uma celebração daquilo que Deus fez e está fazendo no meio das nações indígenas, e com isso chamar a uma responsabilidade da pregação do evangelho para aqueles que ainda estão na lista dos chamados não alcançados. Ultimato — Perante o confronto ético em relação ao infanticídio, qual a ação mais relevante: a preservação da cultura ou da vida? Márcia Suzuki — Esse conflito ético existe para quem? Em nossa experiência, de mais de 25 anos de convivência com os povos indígenas como missionários, lingüistas e etnoeducadores, ficamos marcados pelo sofrimento que acompanha a prática do infanticídio. O infanticídio não é uma prática pacífica nem para as famílias envolvidas nem para os povos que a praticam. Os pais de nossa filha adotiva Hakani, da etnia Suruwahá, preferiram se suicidar a sacrificá-la. Esse confronto

ético geralmente não existe na cabeça dos familiares envolvidos — existe mais na mentalidade e na ideologia dos não-índios. As mães indígenas são amorosas e sensíveis e só cedem a essa prática dolorosa por absoluta falta de alternativas. Nosso papel é oferecer a elas essas alternativas. A cultura é dinâmica e existe como um mapa que ajuda a ler a realidade. Quando surgem novos dados, qualquer sociedade, indígena ou não, é capaz de ler esses dados e usá-los para reinventar sua cultura. Aliás, esse aparente conflito entre preservação da cultura e proteção à vida não existe nem na lei — tanto a legislação brasileira quanto os acordos internacionais de direitos humanos garantem o direito à vida como cláusula pétrea, inegociável. O governo e a sociedade têm o dever de implementar a defesa dos direitos fundamentais da criança, com prioridade absoluta, independente da etnia.

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Ultimato — O que o deputado Henrique Afonso (PT-AC) pretende com o Projeto de Lei nº 1057, batizado de Lei Muwaji? Márcia Suzuki — A Lei Muwaji tem um papel simbólico muito importante. Se não fosse pelo projeto, esse assunto nunca seria abordado pela mídia e pela sociedade. As crianças e mães indígenas continuariam sofrendo no anonimato. O projeto, mesmo antes de ser votado, chamou atenção para o problema e isso é muito bom. Além disso, a lei vai ajudar a resolver o conflito ético na cabeça das pessoas que lidam com os povos indígenas (como já disse, o conflito está na cabeça delas). Com uma lei específica, fica claro para elas que defender os direitos dessas crianças não constitui um ato de ilegalidade. Pelo contrário, o ilegal é uma enfermeira, por exemplo, deixar uma criança ser enterrada viva e virar o rosto para não sofrer. A lei

criminaliza a omissão e força o governo a providenciar alternativas para ajudar os povos indígenas a superar a prática do infanticídio.

de acordo com a cidadania de seu proponente. É simplismo pensar que a cidadania do proponente define a autenticidade de suas ações.

Ultimato — Podemos avaliar as atuais críticas à presença estrangeira na Amazônia como fator negativo à preservação ambiental e cultural?

Ultimato — Os indígenas brasileiros se consideram brasileiros? Numa hipotética ocupação estrangeira da Amazônia, eles ficariam de que lado?

Ronaldo Lidório — A lei do estrangeiro precisa ser avaliada de acordo com as múltiplas realidades que temos no Brasil hoje. Se por um lado visa-se adequar a presença estrangeira e de instituições estrangeiras no Brasil, por outro é fato que há ótimas parcerias tanto do Estado quanto da iniciativa privada com instituições estrangeiras para o desenvolvimento social em áreas específicas de nosso país, com ótimos resultados comunitários. Os projetos propostos e desenvolvidos devem ser avaliados de acordo com seu valor, utilidade e integridade, e não apenas

Eli Ticuna — O indígena tem consciência de sua nacionalidade e o país é testemunha de que eles nunca foram agentes de divisão. O índio é um cidadão brasileiro, portanto é necessário que seus direitos e obrigações estejam bem definidos. A presença de ONG’s entre os indígenas deve-se à ausência do governo. Não fosse a ação dessas organizações a situação da sociedade indígena seria muito mais precária. Há ONG’s estrangeiras e nacionais sérias e com boas intenções, totalmente dedicadas à promoção da ajuda humanitária.

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A espiritualidade da vergonha

Ricardo Barbosa de Sousa

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cada dia mais rara entre nós: “A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós, o corar de vergonha” (Dn 9.7). Isto não acontece mais. Somos demasiadamente tolerantes para “corar de vergonha”. Mesmo diante de fatos trágicos e deploráveis que vemos todos os dias, o máximo que conseguimos é uma indignação passageira. Porém, é a possibilidade de corar de vergonha que não me permite rir da corrupção, achar normal a promiscuidade, conviver naturalmente com a maldade e a mentira, ou, ainda, achar graça da injustiça. Vivemos numa cultura que se orgulha do pecado, glamourizando-o através dos meios de comunicação, fazendo das tribunas públicas um palco de mentiras, organizando marchas para celebrá-lo, rindo da corrupção, exaltando a esperteza. E ninguém fica corado de vergonha. Daniel contrasta, de um lado, a natureza justa de Deus e, de outro, a corrupção e a injustiça do seu povo. Ele só é capaz de fazer isto porque sua ética e moral estão ancoradas em verdades absolutas sobre as quais não pode haver tolerância. A conclusão a que ele chega é que, diante da justiça divina e do quadro trágico de um povo que se orgulha de sua maldade, o que sobra é o “corar de vergonha”. Ele nos apresenta aqui a importância de uma vergonha saudável e essencial na preservação da dignidade

que separem o bem do mal, o justo do injusto; e, uma vez que não julgamos mais, poucas coisas nos chocam ou abalam e, quando o fazem, é por pouco tempo. Vivemos um estado de normalidade caótica, de paz frágil, de tranqüilidade tão relativa quanto os nossos valores. Na oração de confissão de Daniel há uma declaração que vem se tornando

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a sociedade moderna, a tolerância transformouse na maior de todas as virtudes. Aceita-se tudo, não se critica nada. O que mais me preocupa não é a capacidade de compaixão e paciência que a tolerância produz em nós, mas a ausência, cada vez maior, de valores e princípios absolutos que nos ajudam a separar o justo do injusto, o certo do errado. O sociólogo francês Gilles Lipovetsky, em seu livro A Sociedade Pós-Moralista, descreve assim a tolerância na cultura moderna: “A tolerância adquire uma maior fundamentação social não tanto pelo fortalecimento da compreensão dos deveres de cada um perante o próximo, mas em razão de uma nova dimensão cultural que rejeita os grandes projetos coletivos, exaurindo de sentido o moralismo autoritário, diluindo o conteúdo das discussões ideológicas, políticas e religiosas de toda a conotação de valor absoluto, orientando cada vez mais os indivíduos rumo à sua própria meta de realização pessoal”. Ou seja, a ausência de uma consciência coletiva, a rejeição a qualquer verdade que seja absoluta e a busca pela realização pessoal geram uma forma perigosa de tolerância. Entretanto, o perigo da rejeição a uma verdade absoluta está no fato de que ser tolerante hoje implica, necessariamente, não julgar, não ter mais critérios

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O “corar de vergonha” não acontece mais. Do contrário, não riríamos da corrupção, não acharíamos normal a promiscuidade, nem acharíamos graça da injustiça humana e espiritualidade cristã. A vergonha aqui é a virtude que nos ajuda a reconhecer nossos erros, limitações, faltas e pecados porque ainda somos capazes de perceber que existe algo melhor, mais belo, mais sublime, mais nobre, mais justo, mais santo e mais humano pelo qual vale a pena lutar. A vergonha nos impõe um limite. É por isto que o caminho para o crescimento e amadurecimento passa pela capacidade de ficar corado de vergonha diante de tudo aquilo que compromete a justiça e a santidade. No caminho da santidade lidamos com o amor, verdade, bondade, justiça, beleza, entrega, doação e cuidado. A falta de vergonha nos leva a negar este caminho e optar pela mentira, manipulação, engano, falsidade, hipocrisia e violência. “Corar de vergonha” é uma virtude que falta na experiência espiritual moderna, a virtude de olhar para o pecado que habita em nós, a mentira e o engano que residem nos porões da alma, a injustiça que se alimenta do egoísmo, a malícia que desperta os desejos mais mesquinhos, e se entristecer. Precisamos reconhecer que foram os nossos pecados que levaram o Santo Filho de Deus a sofrer a vergonha da cruz. Quando olhamos para a cruz e contemplamos nela a beleza e a pureza do amor, só nos resta “corar de vergonha”. Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do Coração.

Novos a co r des

Por Carlinhos Veiga cveiga@terra.com.br

Instrumento (lado A), Rodrigo Corrêa Rodrigo Corrêa é de Santos, SP. Instrumento é o seu segundo CD. Filho de pastor, cresceu ouvindo vários grupos e cantores e participando desde cedo das atividades musicais da igreja. Uma de suas maiores influências é o cantor e compositor Paulo César Baruk, que fez a direção e a produção musical deste CD. O trabalho é muito bem produzido e de excelente qualidade técnica. Os arranjos e a execução das cordas, gravadas nos Estados Unidos, são primorosos. Destaque para as canções “Instrumento”, com momentos de uma levada flamenca, e as pops “Bendito seja” e “Alegria do Senhor”. Para mais informações, ligue 11 8408-6857. Você pode ouvir uma amostra das canções pelo site www.rodrigocorrea.com.br.

30 Anos de Louvor e Adoração, Asaph Borba (DVD) Asaph é um dos mais respeitados compositores e músicos de louvor e adoração do nosso país. Com uma larga folha de serviços prestados de apoio a igrejas e ministérios em várias partes do mundo, comemora seus 30 anos de atividades com um DVD em que conta com a participação de alguns de seus amigos mais influentes: Adhemar de Campos, Fernandinho, Gerson Ortega e Daniel Souza. A gravação aconteceu em 2007, em Campos, RJ, e teve a produção de Fernandinho. No repertório há músicas de sua autoria bastante conhecidas, como “Jesus em tua presença”, “Graça, superabundante graça”, “Infinitamente mais” e “Eu sei que foi pago um alto preço”. No link “extras” Asaph e sua esposa, Rosana, revelam importantes detalhes de suas vidas e ministérios — um dos pontos altos do DVD. Para adquirir, ligue 51 3386-2406.

Viagens de Fé, Baixo e Voz Sérgio Pereira (baixo) e Marivone Lobo (voz) estão na estrada desde 1991. Esse é o quarto trabalho da dupla, que traz algumas novidades: a inserção de percussões acústicas em algumas faixas e a sonoridade do baixo explorada de maneira cada vez mais criativa. No repertório, um time de compositores de primeira linha: Guilherme Kerr, João Alexandre, Stênio Március, Jorge Camargo, Romero Fonseca, Reny Cruvinel, Sérgio Pimenta, Sílvia Mendonça, Gladir Cabral, entre outros. Marivone faz parceria em três canções. Perfeito o “suingue” do convidado Adriano Giffoni — um dos baixistas mais brasileiros que conheço — na faixa “Sertão do sal”. Nota 10 para a percussão do Magrão. A capa e a arte gráfica são assinadas por Ricardo Szuecs. Contatos pelo telefone 16 3624-0044 ou pelo e-mail sergio@baixoevoz.com.br. Julho-Agosto, 2008

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Da linha de frente

Messias MODERNOS

Bráulia Ribeiro

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Oliver Gruener

O

missionário que trabalha numa agência interdenominacional não traz o devido retorno à igreja ou igrejas que o enviaram. Algumas vezes, se ele está muito distante ou se comunica pouco, o relacionamento se descolore com o tempo e ele é mal compreendido. Torna-se quase uma culpa que alguns carregam, ou um peso financeiro, facilmente substituível pela necessidade de um projetor novo, mais cadeiras ou por um obreiro assalariado para a congregação. Conheço famílias que foram abandonadas no campo sem aviso prévio. De repente a mesada parou de chegar. Descobriram, depois, que uma decisão da hierarquia da denominação mudou as regras do jogo e decidiu cortálos da folha de ofertas. Por vergonha ou por falta de interesse, ninguém se deu ao trabalho de comunicar aos missionários. Alguns voltaram, outros ficaram porque a fonte é sempre o Senhor, e não faz parte de seu caráter desamparar ninguém. A igreja local empenhada cobra resultados espirituais “concretos”, números de convertidos, de batismos, de células de estudo. Há missionários que contam até as pedras do caminho para prestar contas. Outros gastam boa parte de seu tempo bolando maneiras de “comunicar” melhor, pintando de cores vivas demais o trabalho, traduzindo seu dia-a-dia em espiritualês (este é um dom que eu gostaria de ter). Outros, ainda, tentam educar os mantenedores falando a verdade: “Hoje passei o dia cozinhando e lavando panelas para que os índios de dez tribos diferentes que aqui estão possam ter aulas sobre cidadania”. Uma frase assim não rende dividendos. Nem cozinhar, nem lavar panelas nem cidadania é espiritualês.

Uma certa dramaticidade parece necessária. Muitos missionários escrevem cartas que são rosários de lágrimas — descrições infindáveis dos horrores do campo, das doenças, da impiedade do povo. A postura messiânica é essencial: “Se não fosse o meu trabalho ou de minha família, o que seria destes pobres selvagens, destas garotas prostitutas, destes perversos muçulmanos?”. A história do mês tem que ser a mais emocionante possível, extraída de um cotidiano tedioso. Bolsos também são abertos com lágrimas. É o evangelho jogando no mercado de capitais da pobreza. Infelizmente nem a missão nem a igreja (generalizando grosseiramente) têm consciência da importância do evangelho no contexto geopolítico atual. Se somos chamados ao amor e não ao proselitismo, nos tornamos produto único no mercado. Não temos time a defender a não ser a pessoa de Jesus, a compaixão dele, a cura dos ódios sociorreligiosos-raciais que só ele pode providenciar. Soube por uma pessoa que uma tradução do Evangelho

de Mateus feita dois séculos antes de Maomé foi encontrada em uma língua popular do Oriente. Muçulmanos ultra-radicais, sabendo disto, pediram: “Por favor, nos ajudem a recuperar o Jesus que o Ocidente nos tirou; queremos conhecê-lo”. O Jesus do mercado carrega marcas na camisa como jogadores de futebol; o verdadeiro fala com todas as línguas, culturas e religiões. A missão que tem consciência geopolítica sabe de sua função de linha de segurança que mantém num fino equilíbrio situações tão perigosas quanto uma granada sem pino. A igreja que tem esta consciência não consegue cobrar placas, ou prosélitos. Ela sabe que enviou uma ovelha ao meio de lobos, para “apenas” ensinar futebol, dar aulas, acalentar crianças, tratar malárias e HIV, andar de burca, atrás da cortina negra, para, quem sabe, com auto-sacrifício, trabalho e muita sabedoria, exercer o doce-azedo ministério da reconciliação. Bráulia Ribeiro, missionária em Porto Velho, RO, é autora de Chamado Radical (Ed. Ultimato). <braulia_ribeiro@yahoo.com>

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Gilber Mirândola

Arte e cultura

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á porque não resenhar um livro que li apenas pela metade? Acho que não. Afinal, já vi críticas de livros não lidos e opiniões estridentes de obras sobre as quais só se ouviu falar. Ler apenas metade é um mal menor, principalmente quando se trata de uma obra que vem sendo atacada por quem não leu nada. Não, não estou falando de nenhum livro de Brian McLaren. Até porque não poderia falar dele num espaço reservado para arte e cultura. Estou lendo um romance: The Shack (“O casebre”), o mais recente fenômeno editorial norteamericano do gênero “ficção cristã”. É uma raridade, um livro de editora desconhecida que ocupa o primeiro lugar das listas de best-sellers. Escrito por William P. Young, o livro já é considerado um caso extraordinário de marketing viral e prova de que é possível sobrepor os portais imaginários das editoras tradicionais para conquistar um público cada vez mais independente. A premissa do texto é simples. A pequena filha de Mack desaparece enquanto a família acampa longe de casa. A polícia descobre, dentro de um barraco abandonado, evidências de um crime violento cometido contra a menina. Ligam a morte à ação de um serial killer. Três anos mais tarde Mack recebe uma mensagem enigmática pedindo que ele volte ao casebre. O bilhete é assinado por “Deus”. Vítima de desespero e depressão, Mack conclui 58 ULTIMATO

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que não tem nada a perder. Decide arriscar e faz as malas. O que segue é uma narrativa que choca pela ousadia e pelo flerte com irreverência. Mack passa por uma experiência tão surreal que duvida até do seu estado de consciência. O que me espantou foi a naturalidade com a qual o autor conduz o leitor para uma terra paralela que lembra as loucuras de Alice no País das Maravilhas. Poucos editores teriam engolido o enredo, e por isto mesmo Young lançou o livro por uma minúscula editora artesanal. Não demorou para o boca-a-boca embalar a publicidade. Em questão de semanas, dezenas de pastores e celebridades cristãs passaram a defender a obra. Nem Eugene Peterson poupou elogios: “Este livro possui o potencial

Mark Carpenter

de fazer pela nossa geração o que O Peregrino, de John Bunyan, fez pela sua”. O texto ousado de Young começa a mobilizar também certa classe de fundamentalistas cristãos. Já surgem protestos de heresia, de falta de respeito com a Trindade, de liberdades indesculpáveis tomadas com o princípio da soberania de Deus. É possível que esses críticos sejam aqueles velhos conhecidos: os mesmos que não conseguem distinguir a diferença entre ficção e não-ficção, entre parábola e doutrina, entre imaginação e hermenêutica. Talvez sejam os mesmos que desconfiam da arte e que costumam ler livros munidos de canetas vermelhas e testas franzidas. Vou encarar a segunda metade do livro propenso a dar uma colher de chá à licença poética do autor. Mesmo assim, prometo ler com o cuidado de quem já tentou engolir a baboseira pseudoespiritual de um Paulo Coelho. Talvez minha indignação me force a juntar-me aos críticos mais carrancudos. Ou quem sabe aplaudirei ao lado de Peterson. Não sei. Tenho uma única certeza: tendo lido apenas metade do livro, não vejo a hora de terminar a leitura. Descobri que o livro será publicado no Brasil por uma editora que não costuma deixar escapar os grandes best-sellers internacionais. Até lá, prometo não dizer como termina a história. Mark Carpenter é diretor-presidente da Editora Mundo Cristão e mestre em letras modernas pela USP.

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Meio ambiente e fé cristã

Um mundo só para você! Se todas as pessoas do mundo tivessem o meu estilo de vida, precisaríamos dos recursos naturais de 1,4 planetas Terra. Só temos um!

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ocê já parou para pensar no seu estilo de vida e quão sustentável ele é? Existe um conceito chamado “pegada ecológica”, desenvolvido pela ONG internacional WWF, que mede como utilizamos os recursos naturais (água, terra e ar) e os impactos que provocamos sobre eles. O método avalia como você se alimenta, se locomove, como é a sua casa e quais equipamentos você usa, e gera um número que corresponde à quantidade de planetas que precisaríamos se todas as pessoas do mundo tivessem o mesmo estilo de vida que você. Ficou curioso? Você pode calcular a sua pegada ecológica no site http://www.pegadaecologica.org.br. Se você calculou o tamanho da sua pegada ecológica deve estar se perguntando: Por que o planeta ainda não entrou em colapso se eu preciso de uma quantidade maior de recursos naturais do que ele pode prover? Por dois motivos: primeiro, porque muita gente, principalmente na África e na Ásia e nas regiões mais pobres do Brasil, utiliza poucos recursos naturais para viver, levam uma vida simples, sem conforto. Segundo, porque o Brasil é um país abençoado e possui, atualmente, mais que o dobro dos recursos naturais de que nós, brasileiros, precisamos. Isto

aumenta nossa responsabilidade como cidadãos e como cristãos. Precisamos cuidar bem destes recursos; caso contrário, teremos sérios problemas de abastecimento de alimentos, de água e de energia no futuro. Este é o princípio da sustentabilidade, a capacidade de utilizarmos os recursos naturais, presente de Deus, sem comprometê-los por um período de tempo muito longo. A vontade de Deus para as nossas vidas é que cumpramos os seus mandamentos e guardemos as suas ordenanças (Dt 26.16). Dentro destas ordenanças está o cuidado e o cultivo do jardim do Éden, lugar reservado para o homem viver (Gn 2.15). Deus nos recomendou uma vida simples e nos prometeu que teríamos tudo de que precisássemos (1Tm 6.6-8). Alertounos que a riqueza (traduzida por nosso estilo de vida) “leva o homem à destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1Tm 6.9-10). Considerando a vontade de Deus para as nossas vidas, precisamos nos arrepender, rever nosso estilo de vida e simplificá-lo (2Cr 7.14). Será que precisamos de tudo o que temos? Ou de tudo o que queremos? Será que não nos preocupamos demasiadamente em acumular? E ainda por cima no lugar errado? (Mt 6.19-20). O que podemos fazer para simplificar a nossa vida? Coisas simples e que não custam nada: 1) guarde o essencial, doe o supérfluo; 2) compre somente o necessário; 3) caminhe.

Estas são pequenas sugestões que farão diferença em nossas vidas, em nosso país e em nosso planeta. Utilize-as para iniciar uma conversa sobre o amor de Deus, que salva as nossas vidas (Jo 3.16) e o cuidado dele com a criação (1Jo 3.1). “Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança” (Mt 5.5).

Sites com informações úteis Living Lightly http://www.livinglightly24-1.org.uk/ Site cristão com sugestões de como simplificar a sua vida na igreja, no trabalho, no lazer, nas compras etc. Planeta Sustentável http://planetasustentavel.abril.uol.com. br/home/ Site mantido pela Editora Abril com sugestões sobre sustentabilidade. Traz um interessante manual de etiqueta sustentável. Pegada Ecológica http://www.pegadaecologica.org.br/ Site brasileiro da rede global que desenvolve estudos sobre a pegada ecológica. Alexandre Uhlig é presbítero da Igreja Presbiteriana Independente do Ipiranga, em São Paulo. É físico e doutor em energia pela Universidade de São Paulo.

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Fotomontagem/Alvin Teo/Barun Patro

Alexandre Uhlig

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Prateleira Marcos Bontempo

Gilber Mirândola

mbontempo@ultimato.com.br

Imagino que o eventual leitor não está interessado em saber o que significa “pneumatologia”. Talvez tenha alguma dúvida sobre “teologia da prosperidade” ou, quem sabe, sobre algo mais prosaico como “batismo”. Não importa. Para perguntas sobre as três palavras entre aspas, o Google tem mais de 1 milhão de respostas. É o que levaria o autor de Eclesiastes a afirmar que “não há limites para fazer livros” (Ec 12.15). Livros digitais, diga-se de passagem. Não tenho pretensões a “guardião da sã doutrina” e me refiro apenas à canibalização da mensagem bíblica. A emergência das novas mídias, em especial na internet, com os penduricalhos de praxe, parece mudar a relação do cristão-consumidor com as Escrituras. Das muitas versões da Bíblia aos vídeos bizarros, são inúmeros os atores na comunicação do conteúdo cristão. Doutores da lei disputam espaço com neófitos. Ambos podem criar, transformar, dar voz local ou espalhar até os confins da terra cada conteúdo — original ou não. Desnecessário mencionar o ambiente plural, o supermercado de opções e os modernos vendilhões do templo. Embora nem sempre claramente identificáveis, todos a uma se acotovelam por cada bit das boas novas servidas nas gôndolas virtuais. Pastores e ovelhas se expõem como nunca antes e todos os dias “descobrimos” e “recomendamos” mensagens e artigos

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que não lemos e vídeos que não vimos, mas que fazem da vida cristã algo como “Religião para Colorir”. Tudo com a bênção e graças ao supremo canibal. Não. Não quero sugerir censura. Não sou contra a internet. Ao contrário, que o texto e os valores bíblicos sejam distribuídos a mancheias. E, especialmente, que a Bíblia seja aberta à moda de Beréia (At 17.10). Ou, ainda, que nossa alma não seja “customizada” como se fosse

Todos os dias “descobrimos” e “recomendamos” mensagens e artigos que não lemos e vídeos que não vimos, mas que fazem da vida cristã algo como “Religião para Colorir”

uma ovelha que não tem pastor. Na verdade, melhor seria um movimento antropofágico bereano, um movimento que perscruta, que desconfia e que côa aquilo que o “Grande Filtro” nos impõe. A facilidade do “copiar e colar” transformou, num piscar de olhos, não-leitores em escribas, “velhinhas caducas” em eruditos e até lobos em cordeiros midiáticos. Nada de novo, a não ser a versão do seu browser. Tenho minhas dúvidas de que os milhares de sites ou a fartura de

blogs possam aumentar a edificação ou o conhecimento bíblico. Talvez aumentem a “coceira nos ouvidos” (2Tm 4.3) ou, no máximo, parafraseando C. S. Lewis, os mecanismos de busca nos ajudem a “mostrar alguma eficácia quando necessários a uma nota de rodapé”. É fácil perceber que estamos entregues ao narcisismo virtual e aperfeiçoando a oração do fariseu, que “ora de si para si mesmo” (Lc 18.11). A novidade é que, ao contrário do fariseu, que era visto por uns gatos pingados em praça pública, nossa praça é o mundo, e contamos ansiosos cada segundo de “visualização”. Não ignoro as belas novidades do ciberespaço, as redes sociais, a construção colaborativa e as possibilidades de interação. No entanto, tais ferramentas não significam generosidade, inclusão social nem, menos ainda, misericórdia ou instrumentos de justiça. É verdade que nem sempre as relações pessoais — sem “interface”, sem uma tela ou uma máquina que faça a mediação da minha relação com o outro — são, de fato, pessoais. No entanto, embora pareça caduco falar em emissor e receptor, é preciso reafirmar o que ouvimos, o que nos contaram nossos pais, o que cremos. O canal de comunicação, as novas plataformas não são mais importantes do que a mensagem. To search, buscar, não é preciso. Discernir é preciso.

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Profissionais de saúde realizam Danielle Xavier

seu segundo congresso evangélico

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o dia 10 de maio deste ano as gêmeas siamesas Ana Clara e Ana Flávia, que nasceram unidas pelo abdome e compartilhavam o fígado, foram separadas por uma cirurgia bem-sucedida na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. As duas meninas, com oito meses Palestrantes do 2° CENPS de vida, depois de vinte (www.unesaude.hpg.com.br), Asas de dias internadas no CTI tiveram alta. A equipe que cuidou do caso era composta Socorro (www.asasdesocorro.org.br) e Aliança Evangélica para Saúde Integral de dez médicos e quinze profissionais (www.aesibr.com). da área de saúde, entre eles o doutor Essas organizações promoveram João Bosco Tibúrcio, que há 13 anos nos dias 22 a 24 de maio, no SESC operou Clara, neta de Elben César, Venda Nova, o 2º Congresso diretor-redator da revista Ultimato. Evangélico Nacional de Profissionais Clara nasceu com atresia de esôfago, da Saúde, com a presença de duzentos foi levada com três dias de vida para a participantes de dez estados. O Santa Casa e depois de quinze dias saiu congresso reuniu dezenas de ministérios de lá mamando na mãe. cristãos para discutir as ações em Em ocasiões como estas, percebemos favor da saúde integral e a vocação de os profissionais da área de saúde como estudantes e profissionais evangélicos salva-vidas. Contudo sua importância extrapola estas situações limites. Médicos, nessa área sob uma cosmovisão bíblicocristã. O tema do encontro foi Saúde enfermeiros, psicólogos, assistentes Integral para Todos: direito e missão. sociais, fisioterapeutas, paramédicos, Palestrantes de diversas áreas (29 agentes de saúde, promotores de políticas ao todo, entre os quais sete autores públicas, administradores, capelães, da Editora Ultimato) falaram sobre fonoaudiólogos e outros atuam de assuntos variados, demonstrando a diversas formas como protagonistas da complexidade e abrangência do tema: saúde. Neste contexto é louvável que Saúde integral e desigualdade social; tenhamos no Brasil diversas associações Tuberculose, malária e aids — metas e redes que reúnem estes profissionais, críticas para o milênio; Capelania; entre elas Médicos de Cristo Saúde mental e espiritual; Saúde (www.medicosdecristo.org), União integral no contexto do plano de saúde; Nacional Evangélica da Saúde

Klênia Fassoni

Sexualidade, mudanças culturais e direcionamentos bíblicos. A ênfase no evangelho de Jesus Cristo e a intenção de seguir modelos com base cristã ficaram evidentes nas palavras de muitos palestrantes. O doutor Chris Steyn, coordenador internacional da Healthcare Christian Fellowship International (www.hcfinternational.com) declarou: “Todo entendimento a respeito de ações na área de saúde integral tem que começar com Jesus no centro”. Os participantes produziram uma Carta Aberta à igreja brasileira, contendo, entre outras, as seguintes declarações: • Reafirmamos a necessidade de a igreja incentivar, ensinar e enviar os seus profissionais de saúde como verdadeiros missionários. • A Igreja é desafiada a apontar o melhor caminho frente a situações difíceis como é o caso do aborto provocado. • O modelo de Jesus sempre foi se aproximar dos que sofriam. Da mesma forma a igreja deve se aproximar dos que sofrem e proporcionar o bem-estar físico, psíquico, social e espiritual. A carta termina com uma oração: “Somos seus sacerdotes, chamados, capacitados e alimentados pelo Senhor para levar a saúde integral a um mundo sedento e faminto de relacionamentos com o Eterno Deus. Sabemos que quem não ama o próximo, não ama o Senhor”. Julho-Agosto, 2008

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Tour desco

Klênia Fassoni Praça da República com suas árvores, seus lagos e caminhos Perto de uma ponte, meninos se banham Roupas amontoadas na grama Nadam, brincam, se provocam Na água suja e poluída Imprópria para brincadeira ou para banho Sob os olhares curiosos de passantes Quem sabe também olhares cobiçosos Ou, daquele homem troncudo, olhar de extermínio? Rua 24 de maio com seu calçadão, suas lojas e galerias Meninos um pouco mais velhos deitados no chão Em cima de papelão, enrolados em cobertores sujos São oito e, no meio deles, mais oito cachorros Faz calor e são 10 da manhã Ainda assim, meninos e cachorros dormem pesado. Praça da Sé com sua Catedral imponente, suas escadas e árvores, seu calçadão e chafariz Gente sem eira nem beira Mulheres, homens idosos, crianças Famílias inteiras Pai e bebê deitados sobre um colchão no gramado 62 ULTIMATO

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Meninas e meninos correndo, brincando e se refrescando no chafariz, Policiais demarcando espaços. Praça transformada em casa, em lar Lavadas nos lagos Roupas secam ao sol, ou nos exaustores O armário, a parte de baixo dos bancos As marquises são abrigos da chuva de ontem e de amanhã Escadas são mesas onde se almoça Nas calçadas se vomita e se cai Sob as árvores, uma soneca Muros e gramados são camas na noite. Rua Vitória, estacionamento para carros Na calçada e no muro externos: lotação máxima Vinte pessoas de todas as idades Dormem ou acabam de acordar Restos de comida, garrafas, cobertores, bolsas, papelões Noite mal dormida e mal vivida. Próximo dali, cinemas abertos a partir das 9 da manhã Filmes para todos os gostos, promete o cartaz: “Hetero, travestis, animais, especiais” Outro anuncia: “filmes novos, todos os dias” Quem freqüenta estes cinemas?

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Délio Fassoni

confortável

Calçada em frente à Pinacoteca do Estado de São Paulo

Respeitáveis pais, mães de família? Como é permitido vender-se sexo tão abertamente? Pátio do Colégio, marco zero de São Paulo Colégio Anchieta, calçadão, áreas circunvizinhas Engravatados perfumados circulam na hora do almoço Nas ruas e calçadas malcheirosas Pedinte sem dignidade mendiga uma esmola Conta sua história e ri de si mesmo de tão estapafúrdia. Não muito longe dali lojas e importadoras Queijo: R$ 230,00 o quilo Garrafa de vinho a R$ 630,00 Refeição para dois: R$ 180,00 Diárias em hotel: R$ 800,00 Vestido em promoção: R$ 950,00 Coisas que só bacana pode comprar Os outros podem ver e cobiçar. Próximos dali estão também A Bovespa, vários bancos, casas financeiras A sede da OAB, o Tribunal de Justiça, faculdades, Também o Mosteiro de São Bento e mais catedrais

O Edifício Altino Arantes se destaca Inaugurado em 1947, durante 20 anos o prédio mais alto da cidade No saguão o lustre de cristal de 2 metros de diâmetro e 13 de altura, Com suas novecentas lâmpadas, pesa uma tonelada e meia Da torre do 35º andar, a 161 metros de altura, Avista-se a cidade num raio de até 40 quilômetros Vêem-se prédios, ruas, concreto, árvores As gentes não se vêem. Dentro do banco, um museu Abriga tapeçarias, esculturas e telas de artistas brasileiros Peças de alto valor Estão ali também dois São Francisco e um Cristo Crucificado Provavelmente, muito pouco à vontade. Eles certamente prefeririam estar lá fora Com aquelas gentes sem eira nem beira, Que têm nome, história e sonhos Afinal, “a glória de Deus é o homem em pé”. Julho-Agosto, 2008

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Agenda 4 a 9 de agosto

22 e 23 de agosto

Acontecerá o 13º Encontro de Restauração para Missionários, no Centro Evangélico de Missões, em Viçosa, MG. Telefone: 31 3891-3030 E-mail: info@cem.org.br Site: www.cem.org.br

25 a 28 de agosto

21 a 23 de agosto A Rede Evangélica Nacional de Ação Social realizará o Encontro RENAS 2008, com o tema “Ouvindo o Coração de Deus para com o Pobre”, em Curitiba, PR. Telefone: 11 4136-4777 E-mail: renas@renas.org.br

Espaço de oportunidades site • intercâmbios • aluguel de imóveis • relacionamentos necessidades e oferecimentos de voluntários ou estagiários • ços • cursos empregos • prestação de servi filmes, cd’s • • eventos • missões livros, redes e ONG’s

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O Centro Cristão de Estudos realizará o encontro Cosmovisão Cristã: vocação, trabalho e missão, em Brasília, DF, com a participação de Ziel Machado. Telefone: 61 3272-1970 Site: centrocristaodeestudos.com.br

Doe livros para seminários em Angola Apenas dois dos mais de doze seminários em Angola têm livros em número suficiente em suas bibliotecas, e a maioria não tem como comprar os livros de que precisa. Diante dessa situação, o Conselho

A SEPAL — Servindo aos Pastores e Líderes realizará o 4º Encontro SEPAL Sul para Pastores e Líderes, em Florianópolis, SC. Telefone: 43 3029-6215 E-mail: encontrosul@sepal.org.br Site: www.sepal.org.br

de Igrejas Cristãs de Angola solicita a doação de livros acadêmicos (em português), novos ou usados, teológicos ou não, para melhor capacitar os obreiros das igrejas angolanas. Uma empresa se disponibilizou a transportar os livros para Angola gratuitamente. Envie sua doação para: TWCS Trading Comercial LTDA (CNPJ: 05.204.457/0001-31, I. E.: 117.080.927.115) – Rua Francisco Marengo, 854, Tatuapé, 03313-000 São Paulo, SP, Fone/Fax: 11 6191-5481 (Irani). Mais informações: Hans Udo Fuchs – Projeto Prazer de Ler. E-mail: <ursulaehans@hotmail.com>.

11 a 14 de setembro Será comemorado o Jubileu de Prata da Assembléia de Deus de Laranjeiras, em Serra, ES. Telefone: 27 3328-6251 e-mail: iadljubileu@gmail.com.br

30 de setembro a 3 de outubro Acontecerá o 6º Congresso de Teologia Vida Nova, com o tema “A identidade da igreja evangélica brasileira e os desafios do reino de Deus”, em Águas de Lindóia, SP. Telefone: 11 5666-1911 Site: www.vidanova.com.br

A teologia contemporânea na América Latina e Caribe Entre os dias 30 de outubro e 2 de novembro de 2008, acontecerá na Universidade de Santiago do Chile o Congresso Internacional: Ciências, Tecnologias e Culturas. Haverá uma mesa que se preocupará especificamente com o fazer teológico na América Latina. Aceitam-se resumos de trabalhos científicos relacionados ao assunto. Inscrições e informações estão disponíveis em <http://www3.est.edu.br/nepp/geral/ eventos/congresso_chile/infos.htm>. E-mail: reblin_iar@yahoo.com.br (Iuri Andréas Reblin).

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Vamos ler!

Por que o cristianismo faz sentido Timóteo Carriker

anikasalsa

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nos satisfaz completamente? E responde: Porque somos ão é exagero. Tom Wright é simplesmente seres humanos criados por Deus e para Deus. Porque o meu autor favorito. Tenho mais de vinte somos filhos que esperam pelo nosso Pai. livros dele e li todos. Por eles, impressioneiCom estas perguntas em mente, na segunda parte o me profundamente, tanto em termos de autor nos leva numa jornada pela história da Bíblia ao aprendizagem intelectual quanto em termos de intensificar encontro dos temas Deus, Israel, a expectativa do reino a minha devoção a Jesus Cristo e confiança na Palavra de de Deus, Jesus, o Espírito e a vida pelo Espírito. É um Deus. Suas credenciais não deixam ninguém lhe colocar resumo fantástico e profundo! defeito: chamado ao ministério aos 8 Finalmente, na terceira parte o anos, professor de Novo Testamento durante anos na escola mais prestigiosa aautor apresenta a sua compreensão da vida humana debaixo do senhorio do mundo, a Universidade de Oxford, d de Jesus, uma vida vivida no aqui e na Inglaterra, bispo de Durham, o d maior estudioso do Novo Testamento aagora, solidária com a transformação do mundo em que vivemos, da atualidade e homem de fé com uma d um mundo já em processo de missão de transmiti-la com clareza. É u difícil recomendar um livro deste autor ttransformação pela ação de Deus na história humana por meio da morte e sem avisar o leitor da jóia que tem em h mãos. Agora, ao livro. Simplesmente rressurreição de Jesus. O autor insiste que a fé cristã se Cristão é simplesmente incrível. O maior estudioso do Novo Testamento bbaseia na história, e não em fábulas, condensa, sintetiza e comunica com iisto é, que Jesus viveu, morreu e clareza o conteúdo de uma vida de rressuscitou, e que a ressurreição é o estudo e dos seus mais de quarenta eevento central na recriação por Deus do nosso mundo caído. Insiste que livros. Dizem, e eu concordo com d entusiasmo, que este é o livro que oos cristãos são participantes ativos no desdrobramento futuro do plano substituirá o clássico da apologética n de Deus, cada um com o seu papel cristã de C. S. Lewis, Cristianismo Puro d Simplesmente Cristão N. T. Wright específico. Insiste na existência de e Simples (Martins Fontes), publicado Editora Ultimato (no prelo) um mundo espiritual que se cruza originalmente em 1952. Embora os com o mundo histórico por meio do livros de Lewis e Wright tenham o culto, da oração, da leitura da Bíblia e dos sacramentos. mesmo propósito — esclarecer os fundamentos da fé cristã Como cristãos, somos chamados para ser lugares onde —, Simplesmente Cristão adota uma estratégia diferente, estes dois mundos se cruzam, onde a luz de Jesus brilha. levando em conta o leitor pós-moderno. E Wright enfatiza o lugar essencial do perdão na vida Na primeira parte, Wright começa com uma série cristã, quando Deus perdoa o nosso pecado e nós de perguntas comuns a toda a perdoamos uns aos outros, como a oração do Pai-Nosso humanidade: ensina. Por que as pessoas Simplesmente Cristão comunica tudo isso sem o uso anseiam pela justiça? de chavões pouco conhecidos pelos não-cristãos. Não Por que temos sede conheço outro autor que consiga expressar de modo tão de espiritualidade? claro, profundo e belo a verdade da fé cristã. Por que desejamos relacionamentos? Timóteo Carriker é autor de Trabalho, Descanso e Dinheiro e a Visão Missionária na Bíblia Por que a beleza não (Ed. Ultimato). Julho-Agosto, 2008

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Ponto final

O eu, o nós e a auto-estima Rubem Amorese

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Não é difícil notar que toda essa ivemos um tempo em que preocupação com a saúde vem sendo as pessoas se amam. Um Temo que a incorporada pelas novas gerações fenômeno de dimensão se fortaleça às custas da como estilo de vida. Chega a assumir sem precedente na história a força de religião. Por exemplo, uma do Ocidente. , e que esse caminhada no parque, hoje, é uma A expressão “auto-estima”, como eu devore o amor altruísta desculpa aceitável para recusar uma justificativa politicamente correta ou que se faz “pão e vinho” e se hora extra. Já estava agendada. Já no objetivo universalmente aceito para derrama em serviço limite do aceitável, você pode justificar qualquer ação, está presente em cada a falta a um casamento dizendo que conversa de cafezinho, em programas tem trauma de casamentos à tarde. pedagógicos, no planejamento Bem, talvez compreendam que governamental, na boca de políticos você está cuidando de sua autoe até de quem não sabe o que dizer. estima. Você precisa de um bom motivo O lado saudável de tudo isso para justificar o que deseja fazer? Diga não deve, no entanto, nos encobrir que faz bem à sua auto-estima; que uma sutil ameaça ao cristianismo: você se ama. a confusão entre auto-estima e Entre os crentes, a expressão egoísmo. Nos dois casos, estou já foi justificada biblicamente investindo em mim mesmo. Mas o e aceita, sem receio de “ego-ismo”, significando “eu-ismo”, mundanismo: para amar o meu tende a me afastar dos outros, levandopróximo como a mim mesmo, me a um individualismo que separa, isola. preciso primeiro amar a mim Temo que, em poucos anos, se tivermos que mesmo. Amar ao próximo, escolher entre nós e eu, o eu ganhe todas. portanto, requer auto-estima. Temo que a auto-estima se fortaleça às custas Acho positiva essa moderna da solidariedade. E que esse eu se transforme em preocupação com a saúde do “eu”. um dragão que devore a caridade; devore aquele Em especial, quando ela se materializa na amor altruísta que se faz pão e vinho e se derrama cultura da saúde: na onda do fitness (malhação em em serviço, em lava-pés. academias) para qualquer idade, nas caminhadas, Talvez eu esteja exagerando em meus temores. na hidroginástica, na comida saudável, na dieta da Queira Deus! Mas tenho orado, nesse sentido, moda, nos spas, nas grelhas que eliminam a gordura, por nossa igreja. Peço que a hipertrofia do nosso nos cereais matinais, nos iogurtes com bacilos, nos eu não nos conduza à transgressão. Peço complexos vitamínicos, no consumo de fibras, na por discernimento. Peço que aprendamos a redução de colesterol, nos três litros de água por dia cuidar de nós mesmos sem esquecer o ensino etc. de Jesus: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se Essa moda traz também o cuidado com a mente negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16.24). e com o “eu espiritual”. Surgem, então, os livros de autoajuda, as revistas especializadas em bem-estar e forma física Rubem Amorese é consultor legislativo no Senado Federal e presbítero na Igreja e mental; os gurus do anti-estresse, os mentores espirituais, Presbiteriana do Planalto, em Brasília. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e os psicólogos pessoais (personal shrinks), conselheiros Liturgia e Icabode — da mente de Cristo à consciência moderna. financeiros etc. <ruben@amorese.com.br>

auto-estima

Fotomontagem/Maarten Uilenbroek/Gilber Mirândola

solidariedade

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