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ESPECIAL: VIDA E MORTE DE JOHN STOTT
Alegria, alegria, por favor!
O TEÓLOGO QUE SE ENVOLVEU COM AS GRANDES QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS DO MUNDO E DA IGREJA
QUANDO MORRE UMA LÍNGUA... Setembro-Outubro, 2011
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SETEMBRO–OUTUBRO 2011 • ANO XLIV • Nº 332
BRÁULIA RIBEIRO
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A bertura
O primeiro vira-casaca do cristianismo
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os sete diáconos eleitos pela igreja em Jerusalém pouco depois da descida do Espírito Santo, o primeiro chamava-se Estêvão e o último, Nicolau (At 6.5). Estêvão morreu pouco depois da ordenação. Foi jogado fora da cidade e apedrejado impiedosamente. Lucas faz as melhores referências a ele: “um homem muito abençoado por Deus e cheio de poder”, um homem tão cheio de sabedoria que “ganhava todas as discussões”, um “homem que fazia grandes maravilhas e sinais entre o povo” (At 6.5-10). Já Nicolau, segundo os patriarcas da igreja, teria negado a fé cristã e fundado uma seita herética conhecida como os nicolaítas, “um grupo de pessoas que eram provavelmente dadas à idolatria e à imoralidade”, como se pode ver nas cartas às igrejas de Éfeso (Ap 2.6) e Pérgamo (Ap 2.14-15). Se os pais da igreja estão corretos, Nicolau de Antioquia era, com todo respeito, um vira-casaca religioso. Muitos escritores dos cinco primeiros séculos o acusam de ser o responsável pelo movimento herético e moralmente nocivo que surgiu na antiga Ásia Menor (hoje Turquia) em meados do primeiro século. Porque favorecia a idolatria e a imoralidade,
como o vidente Balaão (cujo nome aparece 66 vezes na Bíblia), os nicolaítas eram também chamados de seguidores de Balaão (Ap 2.15) ou “balaanitas” (em hebraico). Nicolau deixou o paganismo e converteu-se ao judaísmo (At 6.5). Depois, abandonou o judaísmo e converteu-se ao cristianismo. Mais tarde, afastou-se do cristianismo e tornou-se herético (caso se possa confirmar a acusação que há contra ele). Mudou três vezes de credo. Entrou na igreja militante e dela se retirou. O mesmo aconteceu com Demas, o cooperador de Paulo (Fm 24), que abandonou o apóstolo e a fé por ter se apaixonado por este mundo (2Tm 4.10). Porém, antes de acontecer com Nicolau e com Demas, aconteceu também com Judas Iscariotes, que foi mais do que diácono e missionário. Judas abandonou nada mais nada menos do que o ministério apostólico (At 1.25). De acordo com a tese de João — Judas, Nicolau, Demas e muitos outros daquela época e de épocas posteriores — “saíram de nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco” (1Jo 2.19).
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C arta
ao leitor
fundada em 1968 ISSN 1415-3165 Revista Ultimato – Ano XLIV – Nº 332 Setembro-Outubro 2011 www.ultimato.com.br Publicação evangélica destinada à evangelização e edificação, não denominacional, Ultimato relaciona Escritura com Escritura e acontecimentos com Escrituras. Visa contribuir para criar uma mentalidade bíblica e estimular a arte de encarar os acontecimentos sob uma perspectiva cristã. Pretende associar a teoria com a prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação social, a oração com a ação, a conversão com santidade de vida, o suor de hoje com a glória por vir. Circula em meses ímpares Diretor de redação e jornalista responsável: Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG Arte: Liz Valente Impressão: Plural Tiragem: 35.000 exemplares Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro Carlos “Catito” Grzybowski • Carlinhos Veiga Dagmar Fuchs Grzybowski • Ed René Kivitz • Jorge Barro Marcos Bontempo • Marina Silva • Paul Freston René Padilla • Ricardo Barbosa de Sousa Robinson Cavalcanti • Rubem Amorese Valdir Steuernagel Notícias: Lissânder Dias Participam desta edição: Jonathan Simões Juscelandia Caldeira • Lissânder Dias Publicidade: anuncio@ultimato.com.br Assinaturas e edições anteriores: atendimento@ultimato.com.br Reprodução permitida: Favor mencionar a fonte. Os artigos não assinados são de autoria da redação. Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro da Associação de Editores Cristãos (AsEC) Editora Ultimato Telefone: (31) 3611-8500 Caixa Postal 43 36570-000 — Viçosa, MG Administração/Marketing: Klênia Fassoni Ana Cláudia Nunes • Ariane dos Santos Daniela Cabral • Ivny Monteiro • Lucas Rolim Luiza Pacheco EDITORIAL/PRODUÇÃO/ULTIMATO ONLINE: Marcos Bontempo • Bernadete Ribeiro Djanira Momesso César • Gláucia Siqueira Lissânder Dias • Mariana Furst • Pabline Félix FINANÇAS/CIRCULAÇÃO: Emmanuel Bastos Aline Melo • Ana Paula Fernandes • Cristina Pereira Daniel César • Edson Ramos • Jair Avillez Luís Carlos Gonçalves • Rodrigo Duarte Solange dos Santos VENDAS: Lúcia Viana • Henife Oliveira Lucinéia Campos • Marcela Pimentel • Romilda Oliveira Tatiana Alves • Vanilda Costa ESTAGIÁRIOS: Bruno Menezes • Jaklene Batista Juliani Lenz • Raquel Bastos • Tércio Rodrigues 4 4 ULTIMATO 2011 ULTIMATO I I Setembro-Outubro, Setembro-Outubro, 2011
O direito de ser feliz
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ão só a Inglaterra, mas o mundo inteiro acaba de perder mais um dos notáveis pregadores ingleses cujo prenome é John. Trata-se de John Stott (1920–2011). Antes dele, em ordem cronológica de trás para frente estão: John Wycliffe (1329–1384), o pré-reformador; John Donne (1573–1631), considerado o nome mais importante da chamada terceira Reforma; John Milton (1608–1674), autor de Paraíso Perdido e Paraíso Recuperado; John Bunyan (1628–1688), pregador e escritor puritano, autor de O Peregrino, o livro mais lido depois da Bíblia; John Wesley (1703–1791), o metodista que “descongelou” a Igreja Anglicana; e John Newton (1725–1807), escritor de hinos sacros, inclusive Amazing grace (“Maravilhosa graça”). Na seção “Especial”, o leitor vai encontrar textos sobre John Stott, um dos pregadores mais cristocêntricos da história (p. 46). O lembrete de Jorge Henrique Barro precisa ser levado a sério: “A igreja é um centro de hospitalidade, de refúgio e abrigo, de misericórdia e esperança, e também um sinal para indicar o caminho para o reino de Deus” (p. 56). René Padilla acrescenta mais sobre o assunto: “Sem desconhecer e minimizar as grandes diferenças de tempo e espaço entre nós e Jesus, a igreja é chamada a continuar a missão do seu Senhor ao longo da história até que ele volte” (p. 42). Robinson Cavalcanti recorda que, “a princípio, as igrejas congregacionais, presbiterianas, batistas, episcopais e evangélicas, aqui no Brasil, partilhavam de uma herança e de uma teologia em comum, um legado que, vindo da Reforma Protestante do Século 16, incluía traços do puritanismo, pietismo, avivalismo e movimento missionário” (p. 52). Leonel quer saber se os pastores estão errados em pregar a teologia da prosperidade e Rosângela quer ficar por dentro do fundamentalismo. Ed René Kivitz responde a ambos (p. 38). Conhecida no Brasil e no mundo por sua pregação contra a poluição e o esgotamento do meio ambiente, Marina Silva escreve na seção “Meio ambiente e fé cristã” que “é tempo de trabalhar para reverter tanto a devastação das almas quanto a do planeta” (p. 36). O que dizer sobre o direito de ser feliz? A felicidade existe? A felicidade é mesmo possível? O que a felicidade não é? É possível que o leitor encontre respostas para essas perguntas existenciais na matéria de capa desta edição. Veja o artigo do missionário e missiólogo Ronaldo Lidório, Louvarei ao Senhor “em todo o tempo” (p. 30). Façamos um sério esforço para alcançar ou recuperar a felicidade — não nos bens seculares nem nas circunstâncias favoráveis! Elben César
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P astorais
76. O poderoso Herodes Agripa I é derrotado pela oração
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A igreja passou por um momento difícil no início de sua história. Herodes Agripa I (10 d.C.–44) governava a Judeia e a Samaria e moveu uma grande perseguição contra os cristãos: “prendeu alguns que pertenciam à igreja e mandou matar à espada Tiago, irmão de João” (At 12.2). Depois, prendeu também Pedro, com a intenção de fazer com ele o que havia feito com Tiago. Travava-se então de uma ferrenha batalha. De um lado, o Estado; de outro, a Igreja. Era o poder político contra o poder religioso, o poder das armas contra o da oração, o poder da arrogância contra o da fé, o poder temporal contra o eterno. Em última análise, era o velho conflito entre a serpente e o descendente da mulher. À esquerda ouvia-se a ingênua gritaria dos rebeldes: “Façamos em pedaços as suas correntes, lancemos de nós as suas algemas”. À direita, ouvia-se o riso do Todo-poderoso: “Do seu trono nos céus o Senhor põe-se a rir e caçoar deles” (Sl 2.3-4). Herodes Agripa I era como o avô, Herodes, o Grande (37–4 a.C.), que mandou matar os meninos de Belém (Mt 2.16). Era também como o tio-avô, Herodes Antipas (4 a.C.–39 d.C.), que mandou cortar a cabeça de João Batista (Mt 14.9). Porém, enquanto Pedro, preso com duas correntes e entre dois soldados, passava a noite dormindo, muitos
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cristãos estavam acordados orando fervorosamente em favor dele. Ele estava tranquilo e a igreja agitada, lançando mão de um recurso posto à disposição de qualquer cristão, em qualquer situação, lugar e tempo. Herodes Agripa I foi derrotado pela oração, pois, na véspera do dia em que Pedro deveria ser morto, na calada da noite, um anjo entrou no cárcere, provavelmente na Fortaleza de Antônia, e colocou o apóstolo na rua. Meio tonto, sem saber se era sonho ou realidade, Pedro se dirige à casa de Maria, mãe de João Marcos, onde a igreja reunida intercedia por ele. A porta da casa estava trancada. Pedro esperava à porta. A empregada de Maria viu que era o apóstolo e “ficou tão feliz que, em vez de abrir a porta, voltou correndo para contar que Pedro estava lá fora” (At 12.14). Ele continuou a bater. Finalmente abriram a porta e Pedro entrou. Entretanto, depois de contar toda a história, “saiu dali e foi para outro lugar” (At 12.12), escondendo-se temporariamente. Seguindo a tradição da família, Herodes Agripa I, por causa da estranha soltura de Pedro, mandou matar os guardas da segurança máxima da prisão. Não se sabe se todos os 16 foram mortos ou apenas os dois entre os quais o apóstolo dormia (At 12.19). Em nossa experiência pessoal, a oração de fato “torna possível o impossível e fácil o difícil”?
Nei Neves
S umário
CAPA 32 34 38 39 42 46 63 64 50 52 54 58 66
O caminho do coração
Olhando firmemente para Jesus Ricardo Barbosa de Sousa
Da linha de frente
Quando morre uma língua... Bráulia Ribeiro
Cotidiano
O leitor pergunta, Ed René Kivitz
Casamento e família
Amigos: nossa nova família, Carlos “Catito” Grzybowski e Dagmar Fuchs Grzybowski
Missão integral
A missão de Jesus e a nossa missão René Padilla
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Alegria, alegria, por favor!
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Felicidade para Freud e Lewis David Neff
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Louvarei ao Senhor — “em todo o tempo”, Ronaldo Lidório
Especial
Vida e morte de John Stott O cachorro imundo que salvou da morte uma adolescente de 16 anos
O Pai-Nosso e as bem-aventuranças para hoje: o verdadeiro “dando é que se recebe”, Paul Freston
Reflexão
O fim do Conselho Evangélico Robinson Cavalcanti
Redescobrindo a Palavra de Deus
Testemunho que nutre, Valdir Steuernagel
História
Role model: a importância de um conceito Alderi Souza de Matos
Ponto final
O poder do evangelho, Rubem Amorese
Um ponto de encontro www.ultimato.com.br
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O que a felicidade não é Jesus, a alegria desejada pelo homem Gente feliz, Ariovaldo Ramos Clamor pela alegria
SEÇÕES
Quando o medo de engordar supera o medo de morrer
Ética
A alegria cristã
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Abertura Carta ao leitor Pastorais Cartas Frases Números Mais do que notícias Notícias Meio ambiente e fé cristã De hoje em diante... Caminhos da missão Novos acordes Altos papos Cidade em foco Vamos ler! ABREVIAÇÕES:
AS21 - Almeida Século 21; BH - Bíblia Hebraica; BJ - A Bíblia de Jerusalém; BP - A Bíblia do Peregrino; BV - A Bíblia Viva; CNBB - Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; CT - Novo Testamento (Comunidade de Taizé); EP - Edição Pastoral; EPC Edição Pastoral - Catequética; HR – Tradução de Huberto Rohden; KJ - King James (Nova Tradução Atualizada dos Quatro Evangelhos); NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje; TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia. As referências bíblicas não seguidas de indicação foram retiradas da Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional
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C artas Assembleia de Deus — 100 anos
Pabline Felix
Muito interessante os artigos sobre o Centenário da Assembleia de Deus (julho/agosto de 2011). Faltou mencionar, e até mesmo destacar, a participação de Frida Vingren ao lado dos pioneiros. Frida abriu frentes de trabalho em muitos lugares. Era responsável, no início da obra no Rio de Janeiro, pela leitura devocional nas aberturas dos cultos e pela execução dos hinos — era organista e violonista. A Harpa Cristã contém cerca de 23 hinos de sua autoria. Quando Gunnar Vingren se ausentava da igreja, em visita ao campo missionário, Frida o substituía pregando e dirigindo os cultos e trabalhos oficiais. Ela exerceu a direção oficial das reuniões realizadas aos domingos na Casa de Detenção do Rio de Janeiro. Era excelente pregadora e tinha um grande carisma. Regina Mello, Barra da Tijuca, RJ — Por falta de espaço, Ultimato deixou de publicar o texto A não-ordenação feminina na história assembleiana, no qual Frida Vingren é citada. Para ler o artigo, acesse: www.ultimato.com.br Graças a Deus crescemos na graça e no conhecimento nestes 100 anos de Assembleia de Deus no Brasil. Fomos ensinados que apenas nós éramos salvos; mas isso foi há quase 50 anos. Éramos discriminados como pessoas
Cartas da prisão
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possessas e inúmeras publicações nos expunham ao ridículo. Nos anos 70, quando ainda estudava na Universidade Federal de Pernambuco, eu era discriminado por causa da minha fé. Na ocasião, algumas vezes encontrei alento nos artigos de Robinson Cavalcanti, que, então, liderava a nossa ABU. Clóvis Moura, Brasília, DF Excelentes as matérias sobre os 100 anos das Assembleias de Deus (julho/agosto de 2011) e o texto Deus chama quem quer, quando quer e como quer — principalmente a conclusão: “O certo é que Deus é soberano e fala ‘muitas vezes e de muitas maneiras’, até mesmo por meio de uma jumenta”. David Figueiredo, Guarapuava, PR Muito mais do que recuperar marginais e analfabetos, a Assembleia de Deus cooperou preventivamente com a estabilidade do casamento e com a educação de filhos; com o gerenciamento de conflitos sociais, ao primar pelo ensino das relações humanas pautado nos preceitos bíblicos; com a proposta da redenção social por meio do binômio trabalho e fé, ao promover esperança para aqueles que se consideravam excluídos, e muito mais. Enfim, não se pode resumir o que ela realizou em poucas linhas. Sérgio Sena, Campo Grande, MS
Ao ler Pérolas pentecostais (julho/agosto de 2011), os leitores escandinavos devem ter ficado horrorizados com a informação de que a capital da Finlândia foi mudada para a Dinamarca. Fez-me lembrar o caso de um colega de trabalho que procurava no mapa da Europa um país chamado Austrália... Ronald Brewer — Helsinque é capital da Finlândia e não da Dinamarca, como foi publicado.
de começar o meu trabalho ativo de pregação do Evangelho de Cristo, pudesse receber o dom do Espírito para habilitar-me para o trabalho, como ficaria feliz” (O Diário de Simonton, p. 145). Em seu sermão “O Consolador”, Simonton diz: “O Espírito Santo auxilia os fiéis nas dificuldades, nos apertos e nos perigos em que se acham. Saem vencedores dessas coisas, porque Jesus envia-lhes o poderoso auxílio do Espírito” (Mochila nas Costas e Diário na Mão, p. 150).
Os artigos de capa da edição julho/agosto de 2011 foram relevantes. Contudo, na comparação entre os pioneiros da Assembleia de Deus e o da Igreja Presbiteriana, percebe-se uma ponta de ciúmes. Há algumas semelhanças curiosas. Porém, a diferença fundamental está no resultado. Porque a plenitude do Espírito Santo, ao atuar na vida dos que dão lugar a ela, fez (e faz) a diferença. Se o pioneiro da Igreja Presbiteriana tivesse crido na mensagem do evangelho pleno, com certeza o resultado teria sido bem mais expressivo. Moizes Gomes, Iporá, GO — Ashbel Green Simonton, o pioneiro da Igreja Presbiteriana, buscava a plenitude do Espírito Santo e pregava sobre ele. No dia 20 de janeiro de 1861, ele registrou em seu diário: “Mais do que qualquer coisa, preciso do batismo do Espírito Santo. Se agora enquanto espero, na iminência
Geladeira estragada
Lamentável o comentário do assembleiano que chamou de geladeira a igreja do amigo presbiteriano (“Carta ao leitor”, julho/agosto de 2011). Mesmo sem maldade, é desnecessário. Sou assembleiano e só uma coisa justifica tal comportamento: falta de conhecimento da denominação irmã. Marcos Malheiros, Campinas, SP
Questão homossexual
É ótimo e oportuno o texto Evitar a promiscuidade na relação gay é bom, mas não é suficiente (“Mais que notícias”, julho/agosto de 2011). Ando preocupado com os pronunciamentos que tenho lido de alguns líderes evangélicos sobre a questão homossexual. Já vi de tudo, desde defesas apaixonadas aos “perseguidos homossexuais”,
passando por teses capengas e escandalosas de que o importante é que exista amor, a defensores ferrenhos de “igrejas para gays”. Não sei se o atual momento de defesa de direitos dos homossexuais motivou o surgimento de vozes antes insuspeitas, mas algumas opiniões têm causado perplexidade. Washington Barbosa, Duque de Caxias, RJ Que Ultimato continue mantendo de forma correta e bíblica sua posição em relação ao homossexualismo, apesar das críticas. Roniltom de Campos, Várzea Paulista, SP Por que os líderes evangélicos não levantam a bandeira, tão enfaticamente quanto o fazem em relação à questão da homofobia, contra o estado de miséria social e econômica em que vivem milhares de brasileiros? Contra a concentração aviltante de renda, que caracteriza o Brasil como um dos países mais desiguais do mundo? Contra a corrupção econômica e política presente em nosso contexto? Ou mesmo contra a degradação ambiental tão acelerada atualmente? André Martins, Campina Grande, PB
Ordenação feminina
Agradeço a vocês pela coragem em publicar a entrevista tão necessária, bíblica e sensata de Waldyr Carvalho Luz sobre a ordenação feminina (março/abril de 2011). Há meses venho tentando
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C artas estudar a posição igualitarista. Entretanto, o que achei foi argumentação sociológica e não bíblica. Mariana Duarte, Governador Valadares, MG Uma das poucas críticas que faço a Ultimato é em relação à entrevista com Waldyr Carvalho Luz sobre a ordenação feminina. A maioria das perguntas foi do tipo: “Por que você acha que está tão correto e os opositores tão enganados?”. Quando o assunto é controverso, o papel do entrevistador é “apertar” o entrevistado, a fim de que ele forneça os argumentos mais profundos. Infelizmente isso não ocorreu, o que empobreceu a entrevista. Luciano dos Santos, São Carlos, SP
Cartas da prisão
Muito obrigado pelas revistas e pelo livro Por Que (Sempre) Faço o Que Não Quero?. Estou crescendo cada vez mais com essas leituras e suportando melhor a situação em que me encontro. Glauco Machado, Balbinos, SP Agradeço Ultimato por se lembrar de nós presidiários, pois também somos criaturas de Deus, evangélicos e tivemos um encontro com Jesus. Portanto, além de criaturas, somos filhos de Deus e co-herdeiros com Cristo. Deus me tocou dentro do presídio, quebrando o meu ego,
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jogando por terra o meu orgulho. Não foi fácil tomar a atitude de confessar Jesus como meu único e suficiente Salvador, pois o crime era a minha vida. Porém, entreguei-me a Cristo, fui e estou sendo transformado a cada dia. Sérgio Lima, Flórida Paulista, SP Sou servo do Senhor Jesus. Estou em uma penitenciária, um lugar cheio de dificuldades. Contamos com a força do povo de Deus que está do lado de fora. Só há pessoas com semblante fechado onde estamos. Porém, quando elas olham para os servos do Deus Altíssimo, veem pessoas felizes que se encontram nas mesmas condições que elas. Adriano de Andrade, Casa Branca, SP — Nas últimas semanas, Ultimato recebeu 23 cartas de presidiários. O ministério que vários irmãos desenvolvem entre eles, e o deles próprios com os companheiros de prisão, é maravilhoso. Lembremo-nos de que Onésimo, ex-escravo de Filemon, converteu-se na cadeia, por influência de Paulo (Veja O e-mail de Filemon, na pág.)
88 anos
Peço o cancelamento da minha assinatura, pois, por motivo justo de enfermidade, aos 88 anos de idade, estou limitada em muitas atividades.
Agradeço a Deus as publicações de Ultimato, que muito me auxiliaram. Walkíria da Guia, Nilópolis, RJ
Diversidade
Leio Ultimato desde quando entrei na faculdade, em 2006. Nunca me decepcionei com a revista e sempre tinha vontade de escrever quando via alguém a criticando. Porém, nunca o fiz, pois percebi que ela não precisava de defensores. Daniela Nogueira, Belo Horizonte, MG Ultimato tem sido para mim uma fonte de aprendizado, crescimento e também uma oportunidade de divulgar a Palavra de Deus. É uma revista de leitura prazerosa, que apresenta assuntos atuais que me levam a refletir e questionar a trajetória do cristianismo como agente transformador em um mundo global e secularizado. Erika Herzog, Camaragibe, PE
Ricardo Gondim
Senti falta da coluna de Ricardo Gondim na edição de julho/agosto de 2011. Se ele sair da equipe de colunistas, vou lamentar muito. Entretanto, não lamentarei menos do que tenho lamentado pelo seu envolvimento com o teísmo aberto. Apesar desse envolvimento, gosto de suas palavras, com as devidas reservas. Aprendi a admirar esse aspecto
de Ultimato: a diversidade. Não a vejo como um compêndio teológico, mas como um cardápio da diversidade evangélica brasileira. Alexander Boechat, Cataguases, MG É uma pena que Ultimato tenha cortado a participação de Ricardo Gondim na revista. Ele era o escritor mais instigante. Talvez a intenção seja deixá-la mais homogênea, o que é compreensível. Lamento, pois fica acentuada a tendência de reafirmar as mesmas verdades, sem abertura para provocações que nos façam refletir sobre novas percepções sobre a fé. É interessante notar que não conseguimos lidar com diferenças quanto às questões sexuais. Mesmo que se argumente que há muito no pensamento de Gondim que não mais se encaixe na ortodoxia reformada, a gota d’água é o fato de ele defender a união civil homossexual. Não vou agir como a revista: continuo assinando-a, embora folheie as páginas com menos interesse. Henrique Ziller, Brasília, DF Erramos A notícia O que os missionários fazem nas férias? (julho/agosto de 2011) refere-se ao Fórum para o Cuidado Integral de Missionários, que aconteceu em março, e não à 6ª Consulta do Cuidado Integral do Missionário, ocorrida em maio, como publicamos.
Cartas 332 John Stott
Conheci John Stott ao ler o livro A Cruz de Cristo, em 1997. Desde então, mesmo sem ele saber, se tornou um companheiro de jornada... Seus livros foram leituras obrigatórias. O seu testemunho bem como sua influência em Lausanne fizeram com que nele eu pudesse contemplar um dos grandes instrumentos de Deus na vida da Igreja, na transição do Século 20 para o 21. As lágrimas de agradecimento a Deus por sua vida se misturam às de tristeza por sua partida. Klaus Friese, São Francisco do Sul, SC John Stott foi um mestre inesquecível da Palavra de Deus. Conseguia expô-la de maneira profunda e relevante e despertava em nós a sede por ela e pelo conhecimento do Senhor. Ele também me marcou pela sua acessibilidade. A primeira vez em que fui procurá-lo para uma breve conversa pessoal, fiquei impressionada ao ver que sabia meu nome e quando me disse que estava orando por mim (isso foi antes de ir à Angola). Uma vez recebi uma carta dele assinada “Tio Juan”. Continuarei lendo seus livros para aprender mais. Louvo a Deus pela vida desse servo fiel. Antonia van der Meer, Viçosa, MG Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/memorialjohn-stott/stott
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F RASES
Associação Evangelística Billy Graham. Usado com permissão.
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dólares foi o valor da multa imposta ao argeliano evangélico Siaghi Krimo por ter oferecido um CD cristão a um vizinho muçulmano, em Oram, a 470 quilômetros de Argel. Além da multa, Krimo foi condenado a cinco anos de prisão
“B
90%
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cristãos foram assassinados em episódios de violência religiosa ou política no Iraque desde 2002
500.000.000
de pessoas professam o ateísmo no mundo hoje (o número pode ser bem maior — 750 milhões). Se fosse uma religião, seria a quarta maior, logo após o hinduísmo (900 milhões), o islamismo (1,2 bilhão) e o cristianismo (2 bilhões)
2.500.000
páginas da internet em 2010 continham referências a um provável fim do mundo em dezembro de 2012 12
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”
“É
fácil pedir perdão aos africanos e aos índios por pecados que supostamente nossos ancestrais cometeram. O difícil é pedir perdão às pessoas que ofendemos hoje. Isaltino Gomes Coelho Filho, pastor batista
“N
”
”
“T
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emos a mania de criticar católicos pela religiosidade oca e vazia sem perceber que somos também sujeitos a tradições e práticas que não têm substância espiritual. Russell Shedd, autor do comentário da Bíblia Shedd
”
“O
s perdidos precisam de salvação, os salvos precisam de santificação, os santos precisam tornar efetiva em suas vidas a esperança da glória em Cristo. João Falcão Sobrinho, pastor batista
“N
”
ão podemos confundir carisma (revestimento pessoal com uma graça especial vinda do Espírito Santo) com personalismo ou personalidade autoexaltada, muitas vezes usada para formar grupos facciosos dentro de uma comunidade de fé. Oséias Silva dos Santos, pastor da Primeira Igreja Batista de Teixeira de Freitas, BA
ão é preciso fazer essa escolha (criacionismo ou evolucionismo), fé e ciência podem coexistir perfeitamente nas relações humanas. Não preciso justificar cientificamente a minha fé. E não preciso de uma fé para negar a ciência. Acredito que Deus criou todas as coisas e isso me basta. Marina Silva, candidata não-eleita à presidência da República
“A
eus não responde às nossas perguntas e nem resolve os nossos problemas com um “estalar de dedos”. Ele não é feiticeiro; não é um místico; não é um mágico que simplesmente diz: “Abracadabra”. O nosso Deus caminha conosco nos altos e baixos. Ele diz: “Não temas, crê somente. Eu estou contigo!”. Renato Luiz Becker, pastor luterano em Joinville, SC
”
união sexual é tão séria, tão envolvente, tão comprometedora, tão exclusiva, tão boa, que Deus a reservou para o casamento. Éber César, pastor da Igreja Presbiteriana do Bairro Imperial de São Cristóvão, RJ
“Q
”
uando a fé diminui, aumenta a superstição. Gary Thomas, pároco em Saratoga, Califórnia
”
Arquivo Pessoal
cristãos vivem na Indonésia, o país mais muçulmano do mundo (86% da população). Os católicos constituem 3% da população e os protestantes 6%
O missionário, como pessoa, é o primeiro destinatário da missão. Ele não nasce convertido, mas precisa se converter todos os dias. Se ele não se converter, não poderá converter os outros. Sávio Corinaldesi, da Pontifícia União Missionária
www.isaltino.com.br
28.500.000
“O
PIBATEF
dos habitantes do Sudão do Sul, o país mais pobre do mundo, vive com menos de um dólar por dia
oa hinódia, além de conter boa teologia, produz boa doxologia. Cliff Barrows, diretor musical das campanhas evangelísticas de Billy Graham
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+ DO QUE NOTí C IAS
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Arquivo pessoal
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ois homens cristãos, mas de igrejas diferentes, falam coisas semelhantes a respeito da Bíblia. Simon Kistemaker, protestante, é professor emérito de Novo Testamento do Reformed Theological Seminary (campus de Jackson, Mississipi, e de Orlando, Flórida) e Orlando Brandes, católico, é arcebispo de Londrina. Kistemaker — Em muitos lares, a Bíblia acumula poeira e é um livro esquecido. Brandes — A Bíblia ultimamente serve apenas de enfeite na maioria das residências. Kistemaker — A Bíblia continua a ocupar o topo da lista de bestsellers em todo o mundo. Mas ao mesmo tempo ela continua a ser o livro mais negligenciado na vida daqueles que possuem um exemplar. O desejo de possuí-la não se compara ao desejo de conhecer a sua mensagem. Brandes — Estamos muito afastados da Bíblia e até sofremos de um certo analfabetismo bíblico. Kistemarker — Durante o reinado de Josias, rei de Judá, o sumo sacerdote descobriu o Livro da Lei no templo do Senhor. Num canto esquecido do prédio, a Palavra de Deus tinha estado escondida da vista, fora esquecida e, consequentemente, não exer-
Simon Kistemaker
O bestseller mais comprado e mais negligenciado
Dom Brandes: em muitos lares a Bíblia serve apenas de enfeite
cia influência alguma sobre o povo. Brandes — Nosso povo, desde a catequese, tem um catecismo e não tem acesso à Bíblia. Em casa, nós não aprendemos com os nossos pais a abrir as Escrituras (…). Sabemos abrir a internet, sabemos abrir o computador, abrir o celular, mas o povão ainda não sabe abrir a Bíblia, não sabe interpretar a Palavra e tem dificuldade, claro, de vivenciá-la. Kistemaker — Quando as Escrituras foram descobertas, o rei Josias mudou literalmente o curso da história. Ele leu a Palavra de Deus ao povo e pediu que os adoradores prometessem renovada obediência à aliança que Deus fizera com eles, desviando assim a ira e o juízo de Deus. Brandes — Aqui em Londrina, graças a Deus, estamos incentivando muito e fazendo muitos exercícios de “leitura orante”. O povo está entusiasmado porque
Kistemaker: em muitos lares, a Bíblia acumula poeira
vai descobrindo esse tesouro que é a Palavra de Deus. Kistemaker — Devemos ler a Palavra de Deus juntos como família e meditar no seu significado. Ao mantermos o culto doméstico diário, seremos capazes de edificar famílias fortes que amem o Senhor. Brandes — Temos mais ou menos 3 mil grupos bíblicos de reflexão nas casas e ali a Bíblia tem prioridade. Kistemaker — Precisamos encorajar uns aos outros a decorar porções das Escrituras, de modo que tornemos a Palavra de Deus relevante em nossas vidas. Brandes — Devemos amar mais as Escrituras, dar à Bíblia a importância e a primazia que ela tem em nossa vida e a gente entrar definitivamente nesse santuário que é a Palavra de Deus, tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento. Kistemaker — Em nossos cultos de adoração, a Bíblia deve assumir a centralidade
e nossos pastores devem ensinar fielmente a Bíblia por inteiro e todas as suas doutrinas. Brandes — Estamos sempre incentivando cursos bíblicos e diversas paróquias já têm seu curso bíblico. Temos a experiência de sacerdotes que se reúnem para preparar a sua homilia dominical em grupo e isso é uma grande esperança. Kistemaker — Ao ler, aprender e conhecer a Bíblia temos comunhão com Deus e o ouvimos falar conosco. Por esta Palavra, ele nos instrui sobre como viver para ele. E quando, em oração, lhe dedicamos nossa vida, inúmeras bênçãos descem sobre nós. Brandes — O grande objetivo da mobilização bíblica [que estamos promovendo] é as pessoas se reencontrarem com Jesus Cristo. E uma pessoa que se reencontra com Jesus, que é fascinada por ele, é claro que vai se tornar cada vez mais participante da igreja e muito mais missionária. Sem a Bíblia o missionário é fraco. Assim, toda a Igreja Católica vai ter uma sacudidela, uma comoção, uma mexida grande a partir das Sagradas Escrituras. Fontes: Comentário do Novo Testamento — Atos, vol. 2 (Editora Cultura Cristã), Folha de Londrina, 6/05/2010.
+ DO QUE NOTí CIAS
A mãe do Verbo que se fez carne
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m sua oração a Maria, na capelinha das aparições marianas, em Fátima, Portugal, no dia 12 de maio de 2010, Bento 16 parece conceder à mãe de Jesus um atributo (a onisciência) que pertence exclusivamente a Deus: “Mãe amabilíssima, vós conheceis cada um pelo seu nome, com o seu rosto e a sua história, e a todos quereis com a benevolência maternal, que brota do próprio coração de Deus Amor. A todos confio e consagro a vós, Maria Santíssima, mãe de Deus e nossa mãe” (Boletim Mensal da CNBB, abril/maio de 2010, p. 54). Quanto à maneira católica de chamar Maria de mãe de Deus, é importante ler a explicação de Francisco de Assis B. Bezerra, postulante marista e pedagogo em Londrina, publicada na revista Mundo Jovem
(maio de 2011, p. 19): “Vale salientar e esclarecer que Maria não é Mãe de Deus em sentido restrito, porque uma criatura não pode ser mãe do Criador. Podemos dizer que ela é a ‘mãe do Filho de Deus encarnado’, compreendendo a maternidade de Maria no horizonte da teologia trinitária”. A posição protestante tenta equilibrar a posição de Maria: “É inegável o papel singular e importantíssimo de Maria na história da salvação. É perfeitamente possível apresentá-la como modelo de fé e obediência a Deus e sua soberana vontade, assim como Abraão e outros. Todavia seu culto e sua intercessão não encontram respaldo na Escritura nem na teologia do Novo Testamento” (Luiz Fernando dos Santos, pastor da Igreja Presbiteriana de Itapira, SP).
Alfredo Borges Teixeira em 1943
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m seu livro Meditações Cristãs, publicado há 68 anos, Alfredo Borges Teixeira, que foi professor do Seminário Teológico da Igreja Presbiteriana Independente, escreve coisas surpreendentemente atuais, como se pode ver logo abaixo. O livro é uma versão devocional de sua Dogmática Evangélica, o primeiro compêndio de teologia escrito por um autor brasileiro.
De igreja em igreja Quando os cristãos se apoiarem na igreja invisível, no lugar da igreja visível, tornar-se-á desnecessário “o expediente improfícuo de se mudarem os crentes de uma igreja para outra em busca de perfeições que não encontram na sua. Em vez disso, sabendo que as imperfeições são inevitáveis no cristianismo organizado, serão levados antes a reconhecer e combater seus próprios defeitos e, em vez de se afastarem dos irmãos faltosos, ajudá-los fraternalmente a corrigirem-se”.
O pastor piedoso e o pastor vaidoso “Quando o pastor é piedoso, humilde e consagrado e, agindo com simplicidade e modéstia, busca unicamente a glória de Cristo e o bem das almas confiadas aos seus cuidados, o seu trabalho resulta nas virtudes religiosas e morais do rebanho, que são coisas preciosas e imperecíveis [ouro, prata e pedras preciosas], porém se o ministro, embora pregando a Cristo, é vaidoso e busca também a própria glória, ainda que reúna em torno da sua eloquência grandes auditórios e, conseguindo vastos recursos financeiros, possa realizar, na estrutura social da igreja, obras que o façam famoso — tais obras de natureza secular, e sem real consagração ao Senhor — são o material combustível da figura apostólica [madeira, feno e palha]”. (Comentário de Alfredo Borges do trecho de 1 Coríntios 3.10-15) Setembro-Outubro, 2011
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pastor João Marcos Barreto Soares, diretor executivo de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira, está incomodado porque cada membro da denominação ofereceu em média apenas o equivalente a 66 centavos de real por semana para a obra missionária na coleta de 2009. Porém, o valor deve ser bem menor em outras denominações brasileiras. Um levantamento realizado nos Estados Unidos revela quanto as denominações separam para missões, de cada dólar doado. A Aliança Cristã Missionária é a que reserva mais, 11 centavos de dólar. Segundo uma nova pesquisa da Empty Tomb, Inc., entre 1916 e 1927 cerca de 7,9% das contribuições das igrejas eram destinadas a missões internacionais; hoje esse valor é de 2,1%. O montante da coleta para evangelização levantado em todas as paróquias católicas do Brasil em 2009 chegou a mais de 2,7 milhões de reais. O montante é muito alto, mas se dividido por 100 milhões de católicos (o número é bem maior), a contribuição per capita não chega a 3 centavos de real.
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e um robô feito por mãos humanas pode descer 4 mil metros de profundidade, achar e trazer as caixas pretas e alguns corpos de dentro do mar — por que Jesus não pode repreender o vento e a violência das águas (Lc 8.24)? Se o alemão Georg Friedrich Händel pôde compor o oratório O Messias em duas semanas, combinando solos de soprano, contralto, tenor e baixo com coro e orquestra — por que Jesus não pode transformar 480 litros de água em vinho da melhor qualidade (Jo 2.9)? Se o cirurgião pode retirar o coração do peito de uma pessoa, fazer nele o que for necessário e colocálo de novo em seu lugar — por que Jesus não pode fazer o coração de uma menina de dez anos voltar a bater (Lc 8.55)? Se uma pessoa pode ver, ouvir e falar com outra pessoa do outro lado do mundo — por que Jesus não pode falar com seu amigo Lázaro do outro lado da pedra que tampa o túmulo (Jo 11.43)? Se com um aparelhinho de 250 gramas eu posso
Mark Demel
Missões Se o ser humano à míngua pode, por que Jesus não pode?
fotografar, filmar, gravar, enviar e receber mensagens, assistir a um programa de rádio ou televisão, ler jornais e livros, armazenar nomes e endereços, agendar compromissos e ver filmes, acessar a internet e ainda me distrair com algum jogo — por que Jesus não pode fazer um mudo falar, um surdo ouvir e um cego ver? Se os cientistas dizem que a Terra nasceu há 4,5 bilhões de anos e sua superfície se solidificou em torno de 3,9 bilhões de anos — por que Jesus não pode estar além do espaço e do tempo? Se os geneticistas garantem que as esponjas (formas de vida multicelular mais antigas que conhecemos) podem ter entre 18 e 30 mil genes — por que Jesus não pode viver outra vez? Diante desse estranho quadro, seria bem melhor jogar a incredulidade no lixo e retirar da lata do lixo a fé que outrora tínhamos!
Dois mil anos depois do batismo de João Batista
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e João Batista fosse pregar o arrependimento às multidões e batizar os convertidos no rio Jordão — não no tempo de Jesus (ano 30 da era cristã) — mas nos últimos 40 anos, seus discípulos correriam o risco de morrer ou de ficar mutilados. Por uma única razão: desde 1970 até há poucos meses havia cerca de 40 minas terrestres exatamente no lugar tradicional do batismo de Jesus, perto de Jericó. Outras minas serão localizadas e retiradas para proteger a vida dos turistas, que chegam em número cada vez maior (60 mil em 2010 e 44 mil nos primeiros quatro meses de 2011). Só no ano passado foram retiradas cerca de 8 mil minas no vale do rio Jordão. A situação é tão séria que antigos monastérios estão rodeados de placas com a indicação: “Perigo! Minas!”.
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N OTíCIAS por Lissânder Dias
O fórum sobre Religião e Vida Pública do Pew Research Center — um instituto de pesquisas norte-americano — conduziu uma extensa pesquisa de opinião com 2.196 líderes evangélicos de 166 países durante o Congresso Lausanne 3, em outubro de 2010, na Cidade do Cabo, África do Sul. Os resultados foram divulgados em julho deste ano e ganharam repercussão em agências internacionais de notícias como Reuters e CNN. No Brasil, a revista Época dedicou um espaço com texto e gráficos para o que chamou de “credo dos evangélicos”.
Antropólogos cristãos disponibilizam conteúdo virtual O Instituto Antropos — fundado por missiólogos e antropólogos cristãos, entre eles o missionário Ronaldo Lidório — criou um espaço virtual para disponibilização de vasto material de estudo (livros, e-books, cursos, palestras em áudio e vídeo). Além do conteúdo à venda (a renda é destinada ao sustento do Instituto), há um bom acervo gratuito. Segundo Lidório, “a intenção do instituto é prover um bom acervo para a pesquisa, edificação e capacitação missionária. Vários outros materiais estão sendo preparados e 18
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A pesquisa mostrou que, no geral, a opinião dos líderes é conservadora no que diz respeito às crenças fundamentais. Dos entrevistados, 96% acreditam que o Cristianismo é a única e verdadeira fé que conduz à vida eterna. Quase todos (98%) afirmam que a Bíblia é a Palavra de Deus. No entanto, há divergências entre aqueles que dizem que a Bíblia deve ser lida literalmente (50%) e aqueles que não pensam assim (48%). Os entrevistados também possuem visões tradicionais sobre questões familiares e sociais. Por exemplo, mais de nove em cada dez dizem que o aborto é geralmente errado (45%) ou sempre errado (51%). Cerca de oito em cada dez pensam que a sociedade deve desencorajar a homossexualidade (84%) e que os homens devem servir como líderes espirituais no casamento e
na família (79%). Com relação à homossexualidade, os líderes da América do Sul e Central se dizem mais liberais: 51% aceitam a prática, enquanto que 87% dos líderes norteamericanos a desencorajam. Outro dado interessante está relacionado às experiências religiosas: 76% afirmam já ter experimentado ou testemunhado alguma cura divina, enquanto que 57% dizem já ter praticado oou testemunhado o exorcismo. Os líderes das regiões mais pobres (como América Latina, África e Oriente Médio) são mais otimistas (71%) quanto ao futuro do Cristianismo nos próximos cinco anos do que os das regiões mais ricas (44%), como Estados Unidos e Europa. Em termos de evangelização, os “sem-religião” (73%) são vistos com mais prioridade do que os muçulmanos (59%).
serão veiculados neste espaço nos próximos meses”. O foco do trabalho do Instituto Antropos é a pesquisa sociocultural e a missiologia aplicada. O site do Instituto é http://instituto. antropos.com.br.
trabalhos voltados para casais e famílias dentro das igrejas locais. Outra meta, mais imediata, é a realização de um congresso nacional em outubro de 2012. Pelo menos 19 ministérios estão sendo convidados para integrar a aliança. As pessoas do grupo poderão se envolver de três maneiras: como membros, apoiadores ou parceiros. “Esta aliança funcionará como uma espécie de confraria, sem personalidade jurídica nem muita burocracia, reunindo anualmente”— disse o psicólogo Carlos “Catito” Grzybowski, do EIRENE do Brasil. Outras organizações presentes na reunião de fundação da aliança foram: Ministério Oikos, Ministério Fortalecendo Famílias e Ministério Lar Cristão. O nome oficial da confraria será Aliança de Organizações Cristãs Pró-Família ou Aliança Pró-Família (APF). A próxima reunião da APF será no dia 20 de setembro.
Ministérios com famílias fundam aliança Ministérios e organizações evangélicas que trabalham com ênfase na família se reuniram no dia 12 de julho em São Paulo e aprovaram a formação de uma aliança que tem como objetivo principal estimular a formação e o fortalecimento de
Iwan Beijes
Pesquisa revela o que pensam os líderes evangélicos de 166 países
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Aliança Evangélica prepara fórum sobre unidade, identidade e missão De 24 a 26 de novembro acontece o 1º Fórum da Aliança Cristã Evangélica Brasileira (ACEB), em Brasília, DF. O evento terá como tema “Unidade, Identidade, Missão”. A Aliança foi criada em 30 de novembro com o objetivo de buscar a unidade entre evangélicos brasileiros para o cumprimento da missão de Deus. “A Aliança vem tomando jeito e forma”— diz Valdir Steuernagel, um dos líderes. “Estamos no processo de formar a membresia e gostaríamos de convidar as igrejas e instituições a se inscreverem como membros na mesma.”
Estudo indica que somos naturalmente religiosos O projeto Cognição, Religião e Teologia (CRT) da Universidade de Oxford, financiado pela Fundação John Templeton, traz interessantes conclusões sobre a hipótese de a religião ser inerente ao ser humano. O estudo, extenso e complexo, foi iniciado em 2007 e durou 3 anos. Ele nos oferece evidências mais claras de que: • Crianças e adultos (mesmo aqueles com educação científica avançada) têm a tendência de ver o mundo natural como tendo função e propósito. • Na primeira infância, temos a tendência natural de atribuir super 20
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A Aliança tem considerado em sua pauta a agenda do Movimento Lausanne para a Evangelização Mundial. Por isso, na ocasião do 1º Fórum será lançado em português o documento “Compromisso da Cidade do Cabo”, redigido a partir do Congresso Lausanne 3, realizado em outubro de 2010, na África do Sul. “Este documento está indicando muito a agenda do movimento para os próximos anos”, diz Steuernagel.
vai reunir mais de mil pessoas Até julho mais de mil pessoas já haviam feito suas inscrições para o 6º Congresso Brasileiro de Missões (CBM). O tradicional evento é o mais importante da igreja evangélica brasileira na área de missões e vai reunir missionários, pensadores
propriedades a outros humanos e deuses, incluindo super conhecimento, super percepção e imortalidade. • De fato, demora mais para a criança aprender sobre as limitações humanas do que sobre as super habilidades divinas. Crianças geralmente inventam amigos invisíveis e, em muitos casos, estes se parecem mais com Deus do que com amigos visíveis. • A ideia de que alguma parte de nós (nossa mente, alma ou espírito) não precisa de um corpo físico, e que continua existindo após a morte, pode ser algo altamente intuitivo. • Adolescentes e jovens podem achar mais fácil lembrar e usar ideias religiosas do que adultos. • Crenças e práticas religiosas
e líderes evangélicos nacionais e internacionais para discutir e refletir sobre temas contemporâneos como: globalização, pós-modernidade, crise financeira global, crise ambiental, perseguição religiosa, povos nãoalcançados e doenças mundiais, como a AIDS. Haverá preleções, oficinas, momentos de louvor e intercessão e relatos de experiências missionárias. O tema é “A Missão Transformadora para a Realidade Mundial”. A expectativa da coordenação é ter, pelo menos, 1.200 participantes e 80 estandes de agências missionárias e editoras evangélicas. As inscrições vão até 2 de outubro. O 6º CBM vai acontecer de 10 a 14 de outubro, em Caldas Novas, GO, e é realizado pela Associação de Missões Transculturais Brasileiras e pela Associação dos Professores de Missões do Brasil, com apoio da Comissão de Missões da Aliança Evangélica Mundial e do Comibam Internacional.
podem persistir em parte porque nos tornam mais cooperativos e generosos com os outros. Para analisar os resultados desse estudo, doze filósofos de várias partes do mundo se reuniram em Oxford em intensivas conferências. Eles concordaram que a nova pesquisa demonstra que as tendências religiosas fazem parte das mais básicas formas do funcionamento da mente humana. No entanto, também afirmaram que o “ateísmo é uma resposta tão sofisticada a este fato quanto a teologia”. Diante de um processo crescente de secularização, uma conclusão dos estudiosos torna-se muito importante: “A religião não pode ser descartada apenas como a preocupação particular de alguns. Respostas religiosas para o mundo, certas ou erradas, são parte do que é ser humano”.
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Fernando Weberich
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felicidade é um conceito — e uma aspiração — tão antigo como a história da humanidade. O clamor é geral: alegria, alegria, por favor! Esta é a angústia existencial básica. Porém, a despeito da busca frenética, tudo indica que não somos mais alegres (ou felizes) hoje. O assunto é mais complexo do que parece. Não é fácil definir o que é a felicidade, identificar suas causas e, muito menos, descobrir o “segredo da felicidade”. A felicidade seria a paz contemplativa ou a alegria ruidosa? Algo que nos acontece por acaso ou algo a ser buscado? Fruto de virtudes e contemplação ou da fruição do sofisticado cardápio de prazeres à disposição?
A partir de dentro “... não pense que estou infeliz. Afinal, o que a felicidade e a infelicidade significam? Elas dependem muito pouco das circunstâncias e muito mais do que se passa dentro de nós!” Dietrich Bonhoeffer, Cartas Inspirativas (à sua noiva, antes de ser executado, em abril de 1945)
Adoração, alegria e gratidão “A genuína adoração nasce de uma boca cheia de riso (Sl 126.1-3), contaminada pelo coração grato. Tenha ela o perfume das flores da alegria ou o aroma do incenso da dor, estará dizendo que tudo o que ele é e faz é bom. Cheiro suave ao Senhor.” Rubem Amorese
Algo que se relaciona à supressão ou contenção dos desejos e das aspirações? Algo a ser desfrutado apenas depois desta vida? Um direito da humanidade ou sorte e destino de alguns? Uma recompensa ou um presente? Resultado do mapeamento genético ou do equilíbrio bioquímico? Induzida ou natural? A felicidade tem sido cantada por poetas, literatos e músicos. E também dissecada por biólogos, neurologistas, psicólogos e economistas. Já em 1780, o filósofo Jeremy Bentham inventou o “cálculo felicífico”, uma fórmula matemática que tentava medir, sem muito sucesso, a felicidade resultante de uma ação qualquer. China e Reino Unido anunciaram neste ano a intenção de medir o grau de felicidade de seus habitantes.
A despeito dos avanços na compreensão dos aspectos fisiológicos e genéticos da felicidade e das ferramentas científicas para analisá-la, muita coisa continua em aberto, pois a felicidade possui dimensões relacionadas ao significado da vida. Não é incomum a sensação de que quanto mais se pensa ou se sistematiza a felicidade mais distante ela fica. O inglês Stuart Mill, que passou boa parte de sua vida estudando o tema, descobriu a certa altura que quando um homem se pergunta se é feliz ele deixa de sê-lo. O cristianismo explica a busca por felicidade como a aspiração da humanidade pela eternidade. Alienado de Deus, o homem procura a felicidade perdida. A esperança cristã é o caminho do reencontro. Setembro-Outubro, 2011
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A alegria cristã
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povo de Deus é alegre por definição. O cristão é alguém que foi encontrado por aquele que é feliz e recuperou a sua posição como filho. Para os cristãos, a alegria não é só uma opção de vida. É uma ordem de Deus ao seu povo; é um bom testemunho; é préevangelização; é coerência. O mandamento da alegria está espalhado nas Escrituras Sagradas: nos livros da lei (Dt 16.11), nos Salmos (Sl 32.11), nos profetas (Zc 9.9), nos Evangelhos (Lc 10.20), nas Epístolas (Fp 4.4) e no Apocalipse (Ap 19.7). A alegria é também fruto do Espírito (Gl 5.22), é consequência do perdão e da salvação (Lc 10.20), é promessa a ser totalmente contemplada no futuro (Hb 11.39-40), é combustível e celebração da missão (Sl 126.6; Lc 15.7). Certamente, algumas vezes terá de ser uma alegria disciplinada, baseada em promessas e em exercícios de fé. A despeito de ser — por natureza — feliz, cabe ao cristão desenvolver esta alegria. Isto pode ser feito por meio do exercício de um espírito grato (aqueles que julgam que a vida lhes deve alguma coisa são incapazes de ser felizes),
pela lembrança constante das promessas do Senhor, pelo encontro amoroso com os irmãos e irmãs, pela contemplação da Criação, pela memória de Cristo e de sua beleza, pela comunhão diária com Deus por meio da oração e da leitura bíblica, pela vivência do discipulado cristão, pelo “enchimento” do Espírito. Por causa do pecado, da depravação humana, da ordem política e social injusta, da incredulidade, da atuação satânica, do orgulho humano, da fome e da miséria, das vicissitudes naturais da vida, da enfermidade e da morte, da rejeição do evangelho — nem todo tempo é tempo de alegria. A Bíblia ressalta esta verdade: “[Há] tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de saltar de alegria” (Ec 3.4). Além disto, somos ainda seres incompletos, ambíguos, divididos. Um dos efeitos da queda é que nossas emoções nem sempre acompanham nossas certezas. A variação de humor que não dominamos continuará a ser nossa companheira até o final da vida. A plenitude da alegria não é para agora. A garantia de bem-estar permanente não é uma promessa cristã.
Fernando Weberich
A diferença “É possível que você veja duas pessoas levando exatamente a mesma sorte de vida, diante das mesmíssimas condições, sendo, contudo, muito diferentes. Uma é amarga e queixosa; outra é calma, tranquila, feliz e sossegada. A diferença não está nas condições nem naquilo que lhes sucede. É algo que está nelas: a diferença consiste nas duas pessoas propriamente ditas...”. Lloyd-Jones, Mensagens para Hoje
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Kamil Porembinski
O que a felicidade não é
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ideia errônea do que é a verdadeira felicidade pode vir a ser a principal causa da infelicidade. Convém apontar o que a felicidade não é: • A felicidade não tem ligação com a ausência de embaraços, dificuldades, imprevistos, oposição ou embates. Antes, a presença destas coisas exercita e valoriza a vida. Muitas vezes quebram a rotina e servem de degraus para que alcancemos posições mais altas. • A felicidade não depende de circunstâncias favoráveis. Se fosse circunstancial, ela seria instável, transitória, incerta. Ela não se apoia em fatores que nem sempre estão sob o controle humano. • A felicidade não é resultado da satisfação de todo desejo do coração. Os nossos desejos frequentemente são contraditórios e surgem de fontes opostas entre si. Qualquer pessoa descobre que a não satisfação de certos desejos, conquanto fortes e audaciosos, resulta em extraordinária felicidade. • A felicidade não significa uma aceitação silenciosa e compulsória das dificuldades existentes, como se fossem determinadas por Deus. A resignação é virtude cristã e preciosa, mas não deve ser confundida com a indisposição para a luta ou com o medo, com a covardia ou a falta de fé. • A felicidade nunca acontece em uma sala fechada em cuja porta, do lado de fora, uma tabuleta avisa: “Não entre sem ser chamado”. A felicidade não depende do isolamento, do silêncio, de calmarias, de acessórios e assessores, da ginástica do chamado “pensamento positivo”, da repetição mecânica de orações e de frases otimistas, de mentiras inteligentes e bem elaboradas. Ao contrário, a felicidade tem de conviver com a maldade, com o sofrimento, com a inimizade alheia, com a morte, com a realidade presente e histórica.
Alegria de águas profundas
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stabilidade emocional é uma conquista, um patrimônio sem medida. Esse estado de espírito elimina o entra-e-sai da tristeza e da alegria, do temor e da coragem, da depressão e da euforia, da dúvida e da certeza. Diminui as desgastantes variações de ânimo. A genuína estabilidade emocional não depende necessariamente das pessoas ao nosso redor nem de circunstâncias favoráveis. Ela suporta os imprevistos, a dor, o sofrimento e a distância. Ela se dá a despeito de tudo e de todos. De outra forma, não poderia ser chamada de estabilidade emocional. O cristão que põe o Senhor à sua frente dia após dia, momento após momento, além de não ser facilmente abalado, experimenta uma alegria preciosa e curiosa. Essa é a experiência do salmista: “[Porque sempre tenho o Senhor
diante de mim], o meu coração se alegra e no íntimo exulto” (Sl 16.9). Trata-se de uma alegria de águas profundas, nascida e preservada no âmago, no centro, na parte mais íntima do ser, na alma. Uma alegria, digamos, espiritual. Uma alegria interior e não facial. É a alegria teimosa — que nunca vai embora, que ninguém pode arrancar, que ladrão algum pode roubar — da qual falou Jesus (Jo 16.22). A mais famosa afirmação de estabilidade emocional foi feita pelo profeta Habacuque. Em tempos absurdamente difíceis, ele declarou: “Ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação” (Hc 3.18). É muito pobre a alegria que, ao primeiro susto, bate as asas. O cristão bem treinado e exercitado na alegria pode fazer a mesma declaração que Paulo fez: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fp 4.12). Setembro-Outubro, 2011
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Jesus, a alegria desejada pelo homem
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tradução mais literal para o título original da famosa composição de Bach “Jesus, alegria dos homens” (Jesus, joy of man’s desiring) seria “Jesus, a alegria que os homens desejam”. Dois trechos para coral1 indicam a força com que o compositor considerava Jesus como a resposta aos anseios de felicidade do homem: Bem-aventurado sou, porque tenho Jesus. Oh, quão firmemente eu o seguro, Para que traga refrigério ao meu coração, Quando estou triste e abatido. Eu tenho Jesus, que me ama e se confia a mim. Ah! Por isso não o deixarei, Mesmo que meu coração se quebre. Jesus continua sendo minha alegria, O conforto e a seiva do meu coração Jesus refreia a minha tristeza, Ele é a força da minha vida É o deleite e o sol dos meus olhos, O tesouro e a grande felicidade da minha alma, Por isso, eu não deixarei ir Jesus Do meu coração e da minha presença.
A redescoberta de que Jesus é a fonte de alegria fará de nós cristãos muito mais felizes e trará renovação na vida e no testemunho da Igreja. Esta reflexão não é nova. A resposta à primeira pergunta — Qual é o fim principal do homem? — do Catecismo de Westminster (1648) traz esta indicação: “O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. Jonathan Edwards, no início do século 18, dizia que a razão de nossa existência é glorificar a Deus à medida que nos deliciamos nele. Só glorificamos a Deus se somos realmente felizes. Na introdução de seu livro Ser É o Bastante, sobre as bemaventuranças, Carlos Queiroz diz: “A felicidade do discípulo consiste primeiramente no reencontro harmonioso com o Ser que é Feliz. [...] Fora da vocação humana, fora da filiação em Deus, qualquer ser humano viverá — ou melhor, morrerá — em demasiada tristeza”. “A salvação não significa apenas perdão de pecados, mas, acima de tudo, comunhão com Jesus. Se essa comunhão não for plenamente prazerosa, não haverá grande salvação”, é o que afirma John Piper, no capítulo “A alegria indestrutível”, do livro Um Homem Chamado Jesus Cristo. Jesus nunca foi triste. Um texto pouco conhecido das Escrituras revela Jesus alegre no início do mundo criado: “Eu estava ao seu lado, e era o seu arquiteto; dia após dia eu era o seu prazer e me alegrava continuamente com a sua presença” (Pv 8.30). Em Hebreus 1.8 e 9, Deus diz ao Filho: “Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros, ungindo-te com óleo de alegria”. No Salmo messiânico (16.8, 11) Cristo declara: “Eu sempre via o Senhor diante de mim. Porque ele está à minha direita, não serei abalado. Por isso o meu coração 26
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está alegre e a minha língua exulta [...] e me encherás de alegria na tua presença”. Embora Jesus tenha experimentado tristeza — uma das ocasiões foi no Getsêmani, quando declarou aos discípulos: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal” (Mt 26.38) —, ele é alegre por natureza. Ele chorou, sofreu fome, cansaço, abandono, morte, mas foi sustentado por uma alegria indestrutível. Foi “pela alegria que lhe estava proposta, [que] ele suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita de Deus” (Hb 12.2). Em suas palavras de despedida — em um momento de muita tristeza — Jesus promete aos discípulos: “Tenho lhes dito estas palavras para que minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa” (Jo 15.11; 17.13). Cristo comunica aos filhos de Deus a sua alegria por meio do Espírito Santo. Se Cristo fosse indiferente ou triste, a eternidade não passaria de um longo suspiro. Porém não é assim. As palavras de boas vindas que Jesus tem preparado para os seus são estas: “Muito bom, servo bom e fiel! [...] Venha e participe da alegria do seu senhor” (Mt 25.21). Oxalá Deus nos despertasse de nossa apatia, indiferença, tristeza ou de nossa “euforia mundana” e imprimisse com cores vivas e de forma constante a alegria de Cristo em nós! — uma oração a ser feita por cada cristão e pela Igreja. Isto nos levaria a apropriarmo-nos da promessa de Jesus: “Eu vim para que tenham vida e vida em abundância” (Jo 10.10). As pessoas que ainda não se aproximaram de Cristo — carentes que estão de alegria — se sentiriam atraídas à fonte de alegria por meio de nós. Nota 1. Coral nº 10 e n° 6 da Cantata BWV 147. Fonte: http://missoeseadoracao.net/2008/02/jesus-alegria-dos-homens-por-j-s-bach.html
A tirania da felicidade P ara Pascal Bruckner, romancista francês e autor do livro A Euforia Perpétua, a felicidade hoje se tornou uma tirania, “as pessoas vivem obcecadas em conquistá-la, como a uma propriedade. Já que as pessoas correm a vida inteira atrás dela, a felicidade vira uma inquietação permanente”, passa a fazer parte do território da angústia. Eliane Brum, escritora e jornalista, alerta: “Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. Existe a crença que a felicidade é um imperativo, que é possível viver
Abel Molina
Gente feliz Ariovaldo Ramos
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odo ser humano quer ser feliz, pois todos sabemos que não somos o que deveríamos ser e que não vivemos no ambiente onde deveríamos viver. Somos marcados pela maldade e vivemos em um ambiente de sofrimento. Somos infelizes. Sabemos disso por causa do testemunho que Deus dá de sua existência. Ele nos dá condições de vida e enche o nosso coração com a noção de significado e completude, permitindo que tenhamos momentos em que essas realidades estejam presentes em nossa experiência de vida (At 14.17). O testemunho de sua existência, além de chamar-nos a atenção para a probabilidade da transcendência, nos faz perceber o quão distantes estamos da abundância que, por vezes, de modo aparentemente aleatório experimentamos. Deus nos empresta a sua bondade para que a maldade não seja o único conteúdo a dar o tom de nossa existência (Tg 1.17) — o que nos dá uma noção da possibilidade da vida abundante, porque nos lega ordem moral.
Jesus veio para que tivéssemos vida abundante (Jo 10.10). Ter vida abundante é ser salvo. Vida abundante é vida plena de bondade e capaz de não sofrer a realidade de sofrimento que nos cerca, é vida feliz. Ser salvo é ser feliz. Felicidade, como um conjunto de circunstâncias prévias para que alguém seja feliz, não existe na Escritura. O que existe é gente feliz. Ser feliz é pessoal. Gente feliz, entretanto, afeta o ambiente para que este seja ambiente de felicidade (Mt 5.13-16). Felicidade, portanto, não é algo que se encontra, mas que se produz no ambiente para o bem de todos. Ainda que o ambiente não seja suficiente para fazer alguém feliz, é papel de todo o que é feliz reproduzir no ambiente as condições que demonstrem a possibilidade de cada ser humano ser feliz (Mt 5.16). Toda a Escritura revela Cristo como o portador da vida abundante. A escritura que o revela descreve o que é gente feliz. A chave para viver essa vida é sempre o Cristo. Porque todo aquele que invocá-lo será salvo (Jl 2.32). Ser salvo é ser feliz e produzir felicidade!
sem sofrer, que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia”. Isto torna os joven incapacitados para lidar com a frustração. A teologia da prosperidade igualmente apresenta o bem-estar como um imperativo e — pior — um imperativo decorrente da fé. No entanto, está muito claro, de acordo com Lloyd Jones, em seu livro Mensagem para Hoje, que “não há parte alguma da vida cristã isenta de perigos. Face ao ensino do Novo Testamento, nada é tão falso como dar a impressão de que no instante em que você crê e se converte, acabam-se todas as dificuldades”.
Morrer aos poucos “A alegria faz bem à saúde; estar sempre triste é morrer aos poucos.” Provérbios 17.22
Pleno e eterno prazer “Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita.” Salmos 16.11
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Elio Rocha
Clamor pela alegria
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Deus, estou confuso, desnorteado, inseguro, perturbado, triste. Pensei que esta crise iria acabar logo e ela não acabou. Sinto-me preso em uma cela sem janelas. Não vejo o sol há muitos dias. Só vejo sombras. A escuridão me rodeia. Não enxergo o que há de bom nesta vida. Minha memória está contra mim. Não consigo me lembrar dos acontecimentos bons do passado. Por outro lado, minha mente está catalogando todas as lembranças, até pormenores desagradáveis, de acontecimentos maus. Vejo sofrimento em toda parte, até onde ele não existe. Os maus sofrem e os bons também. Antes era assim, agora é assim e amanhã será assim. Ando preocupado demais com meus familiares. Estou com medo de um adoecer, do casamento de outro se acabar. Imagino — alarmista — acidentes de trânsito ou acidentes morais envolvendo algum querido. Estou sensível demais. Meu amor por meus familiares anda estranho. É um amor nervoso, cheio de apreensões e esquisitices. 28
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Tenho dificuldade de ler a Bíblia e de orar. A comunhão contigo, outrora fácil, está agora difícil. Aquela sensação de que tu me abençoavas dia após dia praticamente acabou. Estou vivendo pela fé e não por emoções. Minhas certezas estão em queda. Ainda me resta um pouco de bom senso, que estou segurando com ambas as mãos para que não se perca. Com esse resto de bom senso, estou lidando com minhas culpas. Estou resistindo, estou clamando, estou esperando. Ó Deus, perdoa-me por me encontrar desse jeito. No momento, eu não sou eu. Sou outro. Sou um estranho até para mim mesmo. Sem dúvida, estou doente. Preciso de tratamento. Tem misericórdia de mim, Senhor! Cura-me totalmente. Torna a dar-me alegria, estabilidade emocional, segurança pessoal. Livra-me desta dor apertada no peito, de quem está assustado e medroso. Aumenta as minhas certezas e a minha fé. Aumenta a minha esperança de cura e a minha esperança de novos céus e nova terra, onde não haverá tristeza nem dor, nem guerras, nem mortes. Socorre-me nesta hora, ó meu Senhor. Peço-te este livramento em nome de Jesus! Amém.
Egocentrismo e infelicidade “O cristianismo aumenta extraordinariamente o âmbito e área de nossa vida. Ele nos tira do egocentrismo e nos leva ao altruísmo. A conversão nos tira da introversão para a extroversão. (...) Não seja hipersensível à crítica, nem faça uma idéia exagerada de sua importância pessoal. Este é o segredo da infelicidade de muitos. Muita gente egocêntrica é vítima desta terrível doença mental.” Billy Graham, em O Segredo da Felicidade
Um dever cristão “Há grande bem em suportar pacientemente o sofrimento: não sei da existência de nenhuma virtude na tristeza em si... É um dever cristão todos serem tão felizes quando puderem.” C. S. Lewis em carta a Sheldon Vanauken, quando este perdeu a esposa. Cartas Inspirativas
“Alegrai-vos no Senhor, outra vez digo: alegrai-vos.” Filipenses 4.4
Felicidade para Freud e Lewis David Neff
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mbos [Freud e Lewis] sofriam de depressão clínica. Antes de se tornar cristão, em seu diário e cartas, Lewis parece irritável, pessimista, obscuro e sem esperança. Diz que seu ateísmo baseava-se na sua “visão muito pessimista da existência”. Depois da sua conversão, passou a dizer que a alegria se tornara a história central de sua vida.Seus amigos passaram a considerá-lo uma pessoa animada e sociável. Ele havia sido surpreendido pela alegria no relacionamento recém-estabelecido com o Criador. Lewis afirma que Deus não nos pode dar “felicidade alguma além de si mesmo, pois ela não existe fora dele”. A nova fé ajudou-o a superar a depressão. A pesquisa médica recente lançou bastante luz sobre os aspectos positivos da fé no tratamento da depressão. Freud, por sua vez, quando jovem, usou cocaína durante algum tempo como forma de melhorar o
ânimo. Ele relacionava a felicidade ao prazer, e para ele a maior fonte de prazer era a satisfação instintiva, o prazer sexual. E como isso só ocorre de vez em quando, ele conclui que está descartada qualquer chance de felicidade. Lewis divide a felicidade em várias categorias, mas diz que todas elas vêm da mesma fonte. Ele mostrava-se capaz de apreciar os pequenos prazeres da vida, como assistir ao pôr-do-sol, ouvir uma boa música ou tomar um banho quente. E dizia que metade de toda a felicidade vem das amizades. Já Freud parecia ter uma capacidade limitada de apreciar pequenos prazeres. E suas cartas não expressam muita felicidade. Certamente ele experimentou alegria em estar com os filhos e a família, mas a grande maioria dos seus escritos indica que ele não considerava a vida uma experiência particularmente feliz. Nota NEFF, David. Dois Gigantes Intelectuais frente a frente; entrevista com Armand Nicholi. Ultimato. set./out. 2005. ed. 296. p. 38.
Oscilações inevitáveis
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mesma pessoa que escreveu: “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro” (Sl 4.8) também declarou: “Estou cansado de tanto gemer; todas as noites faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o alago” (Sl 6.6). Ao registrar estes dois estados de alma, Davi expressou o que acontece com todos nós: as inevitáveis variações de ânimo. Em uma conversa fictícia descrita em Cartas de Um Diabo a Seu Aprendiz, de C. S. Lewis, o “demônio-mor” explica ao seu sobrinho aprendiz que estas oscilações seriam uma boa porta de entrada para a tentação, e assim descreve a natureza humana: “A maior aproximação a que
eles chegam da constância vem a ser a ondulação — a volta repetida a um certo nível do qual eles caem repetidas vezes como numa série de depressões e cristas [...] ondulação que se manifesta em todos os departamentos humanos — no interesse que dispensa ao trabalho, nas afeições para com os amigos, nos apetites fisiológicos, tudo nos homens oscila para cima e para baixo”. A advertência de Eugene Peterson em A Oração que Deus Ouve — “Os sentimentos são o flagelo da oração. Orar com base nos sentimentos é estar à mercê de glândulas, tempo e digestão” — e a sugestão de uma saudável displicência para com os nossos sentimentos no âmbito da oração podem servir a todas as áreas da vida.
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Louvarei ao Senhor — “em todo o Ronaldo Lidório
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nganoso é o nosso coração. Não é raro observar que, por vezes, mesmo tendo muito mais do que precisamos, permanecemos descontentes pelo que julgamos nos faltar. Outras vezes, mesmo tendo pouquíssimo, o pouco que temos se mostra suficiente para encher o coração de louvor e agradecimento a Deus. Isto nos leva a uma percepção bíblica de que o louvor a Deus não é definido pelas circunstâncias da existência, mas pela atitude do coração; e que nosso coração, essencialmente enganoso, é também ensinável, e deve aprender a louvar a Deus dentro de uma proposta bíblica radical — “todo o tempo”. O Salmo 34 é um convite ao louvor e à maturidade espiritual. Nele o salmista manifesta o compromisso de louvar ao Senhor em “todo o tempo”(v.1). Louvar ao Senhor ao receber o que tanto desejou, ou ao ser surpreendido por uma ótima notícia, é uma resposta natural dos sentidos, e não exige nada especial do nosso coração. A proposta bíblica, porém, é louvar a Deus em “todo o tempo”: no dia bom e também no dia mau; em plena saúde e nos dias de enfermidade; quando aplaudido ou criticado; ao receber uma resposta positiva do Senhor ou quando ele nos fecha um caminho que intensamente desejávamos seguir. Louvar a Deus em “todo o tempo” implica reconhecer que todos os planos do Pai são planos de amor. Que todas as coisas, de fato, cooperam de alguma forma, que pouco compreendemos, para o bem dos que sinceramente amam a Deus, e isto nos basta.
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Louvar a Deus em “todo o tempo” implica também reconhecer que as circunstâncias da vida, mesmo as mais complexas e difíceis, possuem algum motivo de gratidão. Neste salmo não encontramos um cenário de perfeição que nos leva naturalmente ao louvor, mas um louvor que é proferido na realidade por uma vida que possui desafios constantes. Os versos 4, 5 e 6 nos falam sobre temores, angústias e prisões. O verso 8 nos leva, entretanto, ao reconhecimento de que, além das cores que pintam o presente cenário da existência, Deus é bom. Somos conduzidos não apenas a compreender a sua bondade, mas a experimentá-la: “provai e vede que o Senhor é bom!”. Deus não é apresentado como aquele que realiza atos de bondade, mas como aquele que é bom em sua essência. É da natureza de Deus ser bom. Alguns passam por angústias e tornam-se murmuradores. Outros passam por tragédias e reconhecem a bondade do Senhor. A diferença parece estar na atitude do coração. Em seu edificante livro O Discípulo Radical, John Stott nos apresenta oito características de um discípulo: inconformismo, semelhança com Cristo, maturidade, cuidado com a criação, simplicidade, equilíbrio, dependência e morte. Em todas elas ele destaca a atitude do coração, e a diferença entre o que meramente conhecemos e aquilo que abraçamos como valor e prática de vida. O louvor a Deus não é simples assunto de exposição ou tão somente artigo de fé. Ele deve ser praticado, e praticado “todo o tempo”.
tempo” É certo também perceber que o louvor a Deus combate a ansiedade da alma. Depressões, ansiedades, fobias e temores são as enfermidades do século. Neste salmo vemos que, ao praticar o louvor, pacificamos nossos corações. No verso 1 ele nos fala sobre a alegria, no 2, sobre a libertação dos temores e, no 5, sobre a libertação das angústias. Louvar a Deus alegra o coração do Pai e também apazigua a nossa alma, uma vez que nos conduz a reconhecer que nossas vidas estão nas mãos daquele que, em todas as coisas, é bom. A declaração de louvor, lançada intencionalmente no futuro (“louvarei ao Senhor), é sem dúvida uma afirmação de fé para caminharmos com Deus, pois não conhecemos o amanhã. Não sabemos o que nos aguarda, se a alegria inesperada ou a tragédia mais temida. Diante deste cenário de fluida incerteza o salmista faz um compromisso e o declara: “amanhã... eu o louvarei”. O que pode parecer uma incoerência perante a inconstância da vida é, na verdade, uma afirmação de conhecimento e confiança. Não conhecemos o amanhã, mas conhecemos o Deus que controla o amanhã. Não sabemos se alegrias ou tragédias virão, mas estamos certos que nenhuma tragédia é maior que a sua bondade. Não conseguimos desvendar os mistérios da vida, mas sabemos que os planos do Pai são planos de amor. Desta forma, louvar a Deus é certamente um exercício de fe que apazigua as ansiedades da alma e nos dá paz. No amanhã — que desconheço — eu o louvarei. Em 1873 um navio francês, o Ville de Havre, seguia da costa leste americana para a Europa. Entre os passageiros
encontravam-se a senhora Spafford — esposa de um cristão piedoso, jovem advogado de Chicago — e seus quatro filhos. Nesta viagem o navio sofre um acidente e vem a naufragar, morrendo quase todos os tripulantes. Dias de desespero se seguem com a ausência de notícias para as famílias dos desaparecidos em alto mar. Finalmente o senhor Spafford recebe um telegrama comunicando que sua esposa foi encontrada ainda com vida, mas estava só. A mensagem sobre a perda de seus quatro filhos lhe aflige a alma. Ele chora e lamenta. Depois senta-se e escreve a letra de um hino que se tornaria conhecido em todo o mundo: “It is well with my soul” (Está bem a minha alma), conhecido como “Sou feliz com Jesus”. Assim, ele diz: Se paz a mais doce me deres gozar Se dor a mais forte sofrer Oh, seja o que for, tu me fazes saber Que feliz com Jesus sempre sou
O louvor a Deus não é definido pelos marcadores da nossa história, mas pela bondade do Senhor que vai além das linhas do horizonte do entendimento da vida. Louvar a Deus é reconhecer que a sua bondade será sempre maior do que qualquer acontecimento que possa se abater sobre nossos dias. É cantar a sua bondade nos dias de luz e alegria, e não deixar de fazê-lo nos dias de forte neblina e cores escuras. Sua bondade é maior que a vida. Um dia, em luz plena e eterna, cantaremos a sua bondade em “todo o tempo”. Não precisaremos de fatos da vida para fazê-lo. A sua presença nos bastará.
Riqueza e felicidade
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lguns economistas têm se deparado com o fato de que os países que enriqueceram nos últimos anos não aumentaram seu grau de felicidade em igual proporção. Darrin McMahon, autor do livro Felicidade — uma História, relacionou isto ao modo como os seres humanos se adaptam aos prazeres: “É algo que todo pai já observou nos seus filhos: logo que recebem um brinquedo novo, ficam contentíssimos, mas depois o entusiasmo esfria. Psicólogos chamam isto de ‘roleta hedônica’. Os filósofos — incluindo Adam Smith, o arquiteto intelectual do capitalismo —
sempre souberam que o dinheiro não compra a felicidade”. O escritor francês Pascal Bruckner, autor do livro A Euforia Perpétua, acrescenta: “Produto interno bruto alto não é sinônimo de povo feliz. A França, um dos países mais ricos do mundo, é também onde se consome uma grande quantidade de antidepressivos”. Ainda assim, uma pesquisa realizada pela FIESP em 2010 indicou que 64% dos homens brasileiros escolheram “ter dinheiro” como um dos fatores mais importantes para se sentir feliz.
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CAMINHO DO CORA çãO
Ricardo Barbosa
Olhando firmemente para Jesus
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ma característica de viver em uma cultura que oferece tantas possibilidades é perder o foco, não saber o que realmente importa. Vivemos de forma dispersa, seduzidos por uma infinidade de ofertas, criando uma ciranda de opções que mudam constantemente nosso olhar de direção. A perda da objetividade nos conduz a uma dificuldade na integração das diferentes realidades da vida. Somos seres distraídos, ansiosos e inquietos. A obsessão pela autorrealização, pela autossegurança e pela autoimagem surge da necessidade de dar nitidez a um cenário desfocado. Temos a tendência de pensar que nossos problemas são externos. Porém, se não temos um foco internamente seguiremos à deriva. Como diz o velho ditado: “Quando o piloto não sabe o destino do seu barco, qualquer vento sopra a favor”. As distrações externas apenas refletem a falta de integração interna. Na carta aos Hebreus, o autor dedica todo o capítulo 11 para descrever, em curtas biografias, a vida de homens e mulheres que viveram vidas focadas. Apesar das inúmeras possibilidades e pressões, mantiveram seus olhos fixos em promessas divinas ainda não cumpridas. Viveram e morreram por elas. O autor entra no capítulo 12 com um relato e um apelo. Todo aquele elenco de homens e mulheres que viveram vidas focadas tornou-se uma “nuvem de testemunhas”, ajudando e encorajando outros homens e mulheres a viverem da mesma forma. O que eles fizeram? Mantiveram seus olhos fixos em Jesus. 32
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Tenho pensado nas testemunhas que têm me ajudado a não perder o foco. Confesso que, às vezes, olho a minha volta e encontro muita gente que me incentiva com métodos, estratégias, técnicas, programas; no entanto, são poucos os que me ajudam a manter meus olhos focados em Jesus. Algumas destas testemunhas viveram séculos atrás. Agostinho é uma testemunha fiel que sempre me ajuda a olhar com honestidade para o meu
Todos os homens e mulheres que viveram vidas focadas tornaramse uma “nuvem de testemunhas” pecado e para a bondade de Deus. Ler as Confissões mantém meus olhos voltados para Jesus. Outra testemunha pela qual tenho grande apreço é Gregório Magno, que viveu no século 6. Sua obra Regra Pastoral tem me ajudado a manter o foco do ministério pastoral e evitado que me entregue às seduções dos atalhos. Os movimentos mendicantes do século 13 me ajudam a reconhecer o valor da simplicidade. Os reformadores me inspiram tanto na devoção como no estudo cuidadoso e reverente das Escrituras. Ao longo de minha vida algumas testemunhas fiéis e verdadeiras me ajudaram a manter meus olhos fixos em Jesus. Várias delas seguem ao meu lado, anonimamente, insistindo para que jamais perca Jesus de vista. Uma testemunha que teve grande influência em minha vida e pela qual
sempre nutri grande admiração é John Stott, que há pouco tempo deixou este “corpo corruptível” para receber “o corpo glorificado”. Ele, com seus sermões, livros e dedicação, me estimulou a amar a Bíblia, a igreja e o Salvador. A vida moderna, com suas múltiplas ofertas, intensifica o individualismo e acaba por produzir uma forma de ruptura entre a realidade interna e externa. Por outro lado, a revelação de Deus como Trindade, que tem a comunhão e a interdependência de um no ser do outro, forma a base da vida e da espiritualidade cristã. A consciência de que fomos criados por Deus e para Deus estabelece o eixo para vivermos de forma centrada. Existe um centro na vida: Jesus Cristo. Ele é o princípio e o fim. Aquele por meio de quem tudo existe e para quem todas as coisas convergem. Diante dele se dobrarão todos os joelhos no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua o confessará como Senhor e Deus. Ele é o que se encontra assentado no trono, em torno do qual nós nos colocamos em adoração e obediência. Precisamos de testemunhas. Nuvens de testemunhas. Precisamos de pessoas que nos ajudem a desembaraçar os nós do pecado e de tudo o que nos impede de caminhar em direção a Cristo. A vida moderna segue nos oferecendo muitas distrações. Manter os olhos fixos em Jesus nos possibilita viver de forma íntegra e centrada. Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do Coração.
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LI NHA DE F RENTE
Bráulia Ribeiro
Quando morre uma língua...
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cada 14 dias morre uma língua na Terra — grita o repórter em tom apocalíptico. Como linguista, acompanho há anos a tragédia da morte das línguas no mundo, e celebro este despertar tardio da mídia mundial para o problema. Saber que línguas estão desaparecendo deveria causar uma sensação de desespero e angústia pelo patrimônio humano de conhecimento, sabedoria e percepção única da realidade que morre com elas. A língua é uma codificação verbal da cultura. Esta, por sua vez, é o conjunto de conhecimentos adquiridos por um povo sobre todas as áreas da vida. Com a morte de uma língua, nossa condição humana se esvazia: a inteligência coletiva empobrece e enciclopédias inteiras de etnociência morrem com ela. O pragmatismo da cultura evangélica recente nos influencia a ver as línguas como barreiras para o cumprimento da Grande Comissão. Uma língua morta passa a significar menos uma a ser duramente aprendida, menos uma a isolar populações e evitar a entrada do evangelho. Nada mais errado de se pensar. O desaparecimento de uma cultura significa o desaparecimento de uma percepção peculiar de Deus e de suas revelações, que, uma vez assimiladas pelo Corpo de Cristo, certamente nos aproximariam mais dele. Cada vez que uma língua deixa de ser falada na Terra, ficamos espiritualmente mais pobres e limitados. No entanto, para se chegar ao ideal de transpolinização conceitual, chamado por Paulo de “mistério” (Ef 3.3-10), é necessário cruzar muitas barreiras, para além da língua: a do conceito
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de missão, que reduziu o evangelho a quatro leis e a ação missionária à pregação unilateral; a da conceituação dos povos indígenas, que os limitou a uma idealização folclorizada e inumana; a do comercialismo religioso e da pressão para se obter uma cristianização imediata e superficial do povo, sem se considerar a preservação de seu patrimônio linguístico. Recentemente visitei um pequeno país-ilha do Pacífico onde fui verificar “o pulso” de duas línguas nos estertores da agonia. O quadro não muda muito; na África, Ásia, Amazônia e Pacífico línguas morrem porque deixam de ser funcionais. Ninguém mata uma língua, ela morre por falta de uso.
Cada vez que uma língua deixa de ser falada na Terra, ficamos espiritualmente mais pobres e limitados O pequeno país chamado Palau tem dois outros idiomas além dos oficiais, inglês e palauan. Eles são falados por uma população muito pequena que povoa quatro ilhas distantes do arquipélago principal do país. Com eles se fala da flora e fauna marinha, do mundo místico de azul e espuma, das comidas que não são mais cozinhadas e das tecnologias raramente usadas hoje. Os que ainda falam a língua se entristecem ao ver os jovens serem educados em palauan e inglês, optando por não falar mais o idioma. O povo de Tobi, a menor das ilhas, considera como certa a morte da identidade Tobi; entristece-se, mas não tem como lutar
contra o inexorável. Não há mais espaço, no mundo em que vivem, para se ser Tobi. A língua tornou-se irrelevante no cenário sócioeconômico do arquipélago. O canto do povo que se vai é triste e seu clamor se perde na imensidão do oceano. Entretanto, na minha recente amizade com ele, ganhei esperança. Jovens católicos ativos compõem hinos de louvor em sua língua materna. Cânticos ricos em significado ressoam na paróquia aos domingos. A leitura bíblica da liturgia é feita em sonsorol e tobi. Nosso ser coletivo não é diferente do individual. Línguas morrem por falta de autoestima, porque se veem de repente sozinhas e sem valor. “Ninguém me utiliza, ninguém me estuda, ninguém precisa de mim.” Morrem por falta de amor. Como missionária da missão holística, espero que, ao se traduzir a Bíblia, traduza-se também viabilidade econômica, escolarização, documentação do patrimônio cultural. Espero que o quadro atual de morte seja revertido, e que, uma vez amadas por Deus, as duas línguas ouvidas nas ilhas distantes de Sonsorol e Tobi voltem à vida. Àqueles que de forma cruel e superficial julgam a missão cristã classificando-a de assassina de culturas, pergunto: Existe outra maneira de se encontrar o amor sem que seja através do amor? Missiono sim — o que para mim é a única forma prática para se amar o coletivo — ressuscitando línguas que para Deus têm ainda muito a dizer. Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua família e está envolvida em projetos internacionais de desenvolvimento na Ásia. É autora de Chamado Radical. braulia_ribeiro@yahoo.com
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AMBIENTE E fé cristã
Marina Silva
Jon Sullivan
A solução pela raiz
É tempo de trabalhar para reverter tanto a devastação das almas quanto a do planeta
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s circunstâncias históricas no capítulo 11 do livro do profeta Isaías mostramnos que aquela era uma época de degradação social e espiritual; um mundo à beira do abismo em todos os aspectos. Uma árvore cortada é a imagem metafórica usada pelo profeta para expressar a desoladora devastação daquele tempo. Porém, nessa mesma árvore cortada, pela misericórdia de Deus, havia a possibilidade de prosperar um pequeno broto, originado na força de suas raízes. Era a raiz de Jessé, um menino que traria renovo para o mundo degradado.
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O profeta faz uma analogia entre os processos biológicos de renovação das plantas e a oportunidade de resgate que Deus oferece à Criação como um todo. Embora Isaías tenha vivido quase oito séculos antes de Cristo, o capítulo é oportuno também para ilustrar as consequências da queda na parte natural da Criação, igualmente carente de resgate e restauração. Os recursos naturais do planeta já foram degradados a ponto de gerar um déficit quase irrecuperável. Estamos “no vermelho” em 30%, com a capacidade de reposição por meios naturais esgotada. É como se avançássemos em 30% do valor de nossos rendimentos mensais no uso do cheque especial. Essa é uma situação em que a árvore já foi cortada, o tronco está morrendo e só a misericórdia de Deus pode oferecer nova oportunidade — um renovo para os seres humanos e para os processos orgânicos e mecânicos do planeta. Lembremo-nos da exploração de petróleo sem os cuidados ambientais, no Golfo do México; dos desastres com energia nuclear em Chernobyl e no Japão; da destruição de rios, como o Tietê; da desertificação em muitas áreas, pela ausência de chuvas derivada da retirada das árvores. Pensemos na atmosfera irrespirável pelas emissões resultantes dos processos de transformação industrial. A lista é infindável e atinge a todos os sistemas existentes no planeta. Como restaurar o que destruímos? Como caminhar em direção às promessas de Isaías 11.6-9? Responderemos a essas perguntas quando formos capazes de fazê-las sinceramente. Veremos o que é possível conseguir quando nos dispusermos
ao resgate, à restauração de nossa vida espiritual de foma integral com Deus e à restauração de tudo o que ele criou, da forma como criou e da maneira como, a cada ato criativo, certificava-se de que tudo tinha ficado muito bom (Gn 1.3-31). Deus resgatou e restaurou não só no plano espiritual, mas também no campo físico — duro e extenuante —, tornando-se homem, deixando a condição de Verbo glorioso e fazendo-se carne, como profetizou Isaías. É tempo de trabalhar para reverter tanto a devastação das almas quanto a do planeta. É preciso sair do vermelho. Dispormo-nos ao trabalho, a exemplo do que fez Jesus. Uma grande oportunidade para nós — não só como brasileiros, mas como cidadãos do planeta — é a Rio+20 — Conferência das Nações Unidas em Desenvolvimento Sustentável, que será realizada em junho de 2012. Haverá, na ocasião, a oportunidade de pensarmos e propormos soluções para os temas econômicos, sociais e de governança. Alguns deles são: como produzir respeitando os ciclos de reposição da natureza; como organizar politicamente nossa vida na casa comum que Deus nos deu; como cuidar dos órfãos e das viúvas, que na Bíblia representam todos os desvalidos. Estes são temas com potencialidade fundante de toda uma nova civilização, de acordo com o estado de coisas em plenitude que Deus reafirma como parte de sua essência em 1 Coríntios 10.26.
Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC.
DE
HOJE EM DIANTE...
Não quero ser indeciso empreendimento, não posso ser indeciso. Exemplos não me faltam. A Bíblia me encoraja quando diz que Salomão resolveu edificar a casa ao nome do Senhor (2Cr 2.1), que Joás
Liz Valente
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ei que às vezes não estou suficientemente maduro para tomar uma decisão, pois não conheço bem os dois lados que chamam a minha atenção, que acenam para mim, que tentam me atrair. Porém, na maioria das vezes, a minha indecisão não é sinônimo de prudência. Ela existe por causa do medo, da tradição, do comodismo, da correnteza em sentido contrário, do engano, do acanhamento, da opinião pública, da preguiça. A história do filho pródigo, na parábola de Jesus, sempre me impressionou. O evangelho registra que, em uma terra distante, o rapaz reconheceu seu erro e tomou a decisão de voltar para casa. O versículo seguinte mostra que a decisão era para valer, pois “levantando-se, foi para seu pai” (Lc 15.20). Encanta-me a decisão tomada por Zaqueu logo após a conversa que Jesus teve com ele. Como o filho pródigo, o coletor de impostos se levantou e disse a Jesus: “Senhor, de agora em diante eu darei a metade da minha riqueza aos pobres” (Lc 19.8). Confesso que tenho uma ponta de inveja quando leio o discurso de Josué perante o povo indeciso quanto à escolha do caminho a seguir: “Quanto a mim, ouçam bem: Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.15). Para que haja alguma mudança, para iniciar qualquer
resolveu restaurar o mesmo templo (2Cr 24.4), que Daniel resolveu não contaminar-se com as iguarias da mesa de Nabucodonosor (Dn 1.8), que Paulo resolveu ir a Jerusalém, onde o esperavam sofrimentos e prisões (At 19.21). Os heróis da fé são pessoas que não ficam paradas, deixando o tempo e as oportunidades passarem por conta da eterna indecisão. Por misericórdia, não quero mais atrasar o que é necessário, o que é certo, o que é bom para mim e para os outros, inclusive para minha família. Não quero ser culpado de alguma dor, infelicidade ou tragédia por falta de decisão da minha parte. Abraão não ficou a vida inteira decidindo se sairia ou não de Ur dos caldeus e se ofereceria ou não seu único e amado filho em sacrifício ao Senhor. Pela fé, fez ambas as coisas sem perder tempo (Hb 11.8, 17). Entre dois caminhos opostos a tomar, Moisés fez logo a sua escolha: abandonar a casa de Faraó, os prazeres transitórios do pecado e os tesouros do Egito, para ser maltratado junto com o povo de Deus (Hb 11.24-26). Quero ter a firmeza de Paulo quando escreveu a Tito: “Resolvi passar o inverno lá [em Nicópolis]” (Tt 3.12). De hoje em diante, com o auxílio de Deus, será assim comigo.
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o leitor pergunta
Pastor, meu nome é Leonel e gostaria de saber se estou errado em interpretar passagens como Salmos 1.3 e Isaías 55.8-9, e testemunhos bíblicos como os de José no Egito e Jó, que teve tudo em dobro, como promessas de prosperidade para a minha vida. Os pastores estão errados em pregar esse tipo de promessas em suas igrejas? Caro Leonel, a utilização dos textos para dar fundamento à chamada teologia da prosperidade, também conhecida por confissão positiva, se explica pelo equívoco hermenêutico de não se fazer distinção entre a nação de Israel do Antigo Testamento e a Igreja de Jesus do Novo Testamento. Os propósitos e promessas de Deus para Israel não se aplicam à Igreja de Jesus. A nação de Israel se resumia a um povo (etnia) numa terra, Canaã, que seria protegido e abençoado por Deus sempre que permanecesse fiel à Lei de Moisés. O texto de Deuteronômio 28 é o mais emblemático de todos. Já a Igreja de Jesus é a comunhão de pessoas de toda tribo, raça, língua e nação, espalhadas por todos os lugares até alcançar os confins da Terra, vivendo sob a perseguição e o ódio do mundo. Basta perceber que, no Antigo Testamento, quanto mais fiel a Deus era o povo, maior era a sua prosperidade. No Novo Testamento, quanto mais fiel a Jesus é o povo, maiores as suas dificuldades: “Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes odiou a mim. Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia. Lembremse das palavras que eu lhes disse: nenhum escravo é maior do que o seu senhor. Se me perseguiram, também perseguirão vocês. Se obedeceram à minha palavra, também obedecerão à de vocês. Tratarão assim vocês por causa
Ed René Kivitz
Piotr Bizior
Cotidiano —
Envie sua pergunta para: edrenekivitz@ultimato.com.br do meu nome, pois não conhecem aquele que me enviou” (Jo 15.18-21). Os apóstolos assim ensinaram todos quantos desejaram seguir a Jesus: “É necessário que passemos por muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus” (At 14.22), pois “todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12). As recompensas de Deus para Israel estavam relacionadas à prosperidade material na história, enquanto as recompensas de Deus para a Igreja são espirituais e se consumam na eternidade: “Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês” (Mt 5.11-12). Ariovaldo Ramos resume essa distinção entre Israel e a Igreja dizendo que Israel tinha a missão de trazer o Messias para a história, e a Igreja tem a missão de levar testemunho a respeito do Messias até os confins da Terra. Propósitos distintos, promessas distintas, recompensas distintas.
Meu nome é Rosângela, sou estudante de teologia e gostaria que o senhor me explicasse o significado de fundamentalismo. Rosângela, o fundamentalismo, no contexto do cristianismo, tem pelo
menos três dimensões, ou formas de expressão: as crenças teológicas, a postura filosófica e a atitude social. Em relação às crenças teológicas, tem sua origem no início do século passado, quando a Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana Americana, em 1910, em resposta ao liberalismo teológico europeu, definiu uma declaração de cinco fundamentos considerados inegociáveis à fé evangélica: os milagres, o nascimento virginal, a morte expiatória e a ressurreição de Cristo, e a autoridade das Escrituras. Estes cinco pontos foram desdobrados em uma série de doze livretos chamados de Os Fundamentos (The Fundamentals). A partir de então, o fundamentalismo ficou associado a uma crença de que existem alguns conceitos religiosos que representam a verdade única sobre a humanidade e a divindade. A postura filosófica diz respeito à tensão entre racionalidade objetiva e subjetividade. Os fundamentalistas são pouco afeitos aos aspectos subjetivos da experiência de fé e favorecem as crenças racionalmente formuladas. Finalmente, o fundamentalismo está relacionado a uma atitude sectária e totalitária. Os fundamentalistas se consideram detentores da verdade, reivindicam para si um relacionamento especial com Deus e geralmente são hostis e implacáveis contra os que discordam de suas proposições doutrinais e éticas, considerando-os inimigos a serem combatidos e destruídos.
Ed René Kivitz é pastor da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo. É mestre em ciências da religião e autor de, entre outros, O Livro Mais Mal-Humorado da Bíblia. www.edrenekivitz.com
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Carlos “Catito” Grzybowski e Dagmar Fuchs Grzybowski
Casamento
e família
— E o que vocês fazem nos finais de semana? — perguntei ao jovem casal. — Vamos à casa de nossos pais almoçar e passamos a tarde lá! Um domingo na casa de cada pai. Aparentemente isso é muito bom — apenas aparentemente. Uma das questões com as quais frequentemente nos deparamos em nosso consultório é que muitas pessoas, principalmente os jovens, têm pouca ou nenhuma amizade profunda. É comum os jovens falarem que têm muitos amigos, mas verifico que a maioria destes são virtuais, se encontram nas redes sociais. Onde estão os amigos que frequentam a casa um do outro? Aqueles com os quais se pode ter conversas significativas? Atualmente veicula um comercial de bebida que compara a diversão de beber em casa com aquela em um bar. Ele induz o espectador à conclusão de que estar em um bar é muito melhor que ficar em casa. Esta é uma manobra de propaganda consumista, pois fora de casa as pessoas consomem mais do que em casa. Segundo esta lógica, para o capitalismo consumista é melhor não estabelecer amizades profundas, pois fazem mal à economia. No Salmo 133.1 lemos: “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união”. Pergunto-me: como será possível “viver em união” com alguém que encontro em bares? Alguém cuja casa não frequento? Ou mesmo, será que o contato rápido que temos após a celebração religiosa em nossas igrejas é suficiente para produzir uma amizade verdadeira? As famílias estão cada vez menores e mais isoladas. O casal trabalha a semana inteira, fica horas fora de casa e, nos finais de semana, não tem disposição para desenvolver amizades para si e para
os filhos. Correm para o “refúgio da casa dos avós”, que com alegria recebem filhos e netos, mas que mal sabem o dano que podem causar a longo prazo. Exceções acontecem quando a família sai para passear e gastar nos shopping centers e, se sobrar energia, ir à igreja. Todo relacionamento profundo e significativo demanda tempo, disposição e franqueza. É necessário tempo para conhecer quais valores o amigo preza e disposição para abrir a minha casa. Muitos escolhem ficar com os amigos virtuais, pois quando não há “olho no olho” é fácil esconder as caracteristícas que não são tão bonitas em nós e no outro, como ocorre nos chats e redes sociais. Não são pessoas reais, mas personagens criados. Quando abrimos nossa casa para os amigos estamos criando várias possibilidades para os nossos filhos. Damos a eles a oportunidade de desenvolver amizades com os filhos de pessoas que conhecemos, que têm valores semelhantes aos nossos e com as quais sabemos que nossos filhos estarão seguros. Por isso é tão importante desenvolvermos amizades que vão além daquelas virtuais. Quando tenho preguiça em desenvolver relacionamentos verdadeiros “abro a porta” para que meu filho busque as amizades que puder encontrar por conta própria, e estas nem sempre serão boas. Lembro-me de um casal de minha igreja quando convidei a filha deles de 6 anos para vir à minha casa brincar com minha filha, na época com a mesma idade. Disse-me que achava muito trabalhoso levar a menina lá em casa, pois ela poderia muito bem brincar com as crianças de seu condomínio. Infelizmente esta moça hoje encontrase fora da igreja. Provavelmente a falta de amigos cristãos não foi a única
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Amigos: nossa nova família
Todo relacionamento profundo demanda tempo, disposição e franqueza responsável pelo distanciamento, mas pode ter contribuído para que ela não desenvolvesse um sentido de pertencimento à igreja local. É necessário ter coragem para desenvolver padrões de vida diferentes dos que a sociedade quer nos impor. Fazer boas amizades pode ser custoso, mas as recompensas são grandes. É bom ter uma família extensa que podemos visitar nos finais de semana. Porém, é preciso mais que isso. Nos encontros de casais que costumamos dar, falamos, brincando, que Deus foi muito sábio ao estabelecer quatro finais de semana no mês: um para visitar os avós maternos; um para visitar os avós paternos; um para convidar/visitar os amigos e um para se curtir como família nuclear! Que Deus nos dê sabedoria neste equilíbrio e ousadia na busca de amizades verdadeiras. Carlos “Catito” e Dagmar são casados, ambos psicólogos e terapeutas de casais e de família. Catito é autor de Como se Livrar de um Mau Casamento e Macho e Fêmea os Criou, entre outros.
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C AMINHOS
DA MISSã O
Juscelandia Caldeira
Fui à China (Parte 1)
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uando eu era adolescente, (e isto não faz tanto tempo) os meus presentes prediletos eram os livros de histórias que minha mãe comprava. Lembro-me de um em especial, O Rouxinol do Imperador, que contava sobre um imperador chinês que possuía um rouxinol encantado preso em uma linda gaiola de ouro. Este era o meu livro predileto, especialmente pelos desenhos de colorido forte, com muito vermelho e dourado. Eu ficava pensando se as casas com aqueles telhados pontudos realmente existiam; mas, imaginava
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que fossem apenas desenhos de casas diferentes. Trinta anos depois, meu sonho foi realizado: fui ao país do rouxinol encantado. Não conheci o imperador, tampouco encontrei algum rouxinol. Do imperador hoje restam apenas os museus lotados de um passado de riquezas e glórias. A beleza e a modernidade dos grandes arranha-céus quase me fizeram esquecer que eu estava no país do meu velho livro. Até que entrei no templo budista de arquitetura milenar, com seu charmoso e exótico telhado de enormes e curvadas pontas, que nos fazem lembrar as ricas e elegantes sapatilhas
dos antigos marajás indianos. Fixei os olhos no telhado e agradeci a Deus a oportunidade de poder conhecer o país do imperador. Com minha câmera em outra direção, vi dezenas de fiéis — adultos e crianças pequenas — carregando grandes maços de incenso acesos; outros estavam ajoelhados com os rostos no chão diante da grande estátua do Buda. Observei os gestos repetitivos de cada adorador, em atitude de total reverência e fé. Então pensei: “Ah, se eles conhecessem a Jesus Cristo!”. Monges com roupas cor de açafrão completavam a cena de adoração; olhares serenos, gestos lentos e programados realizavam
o repetitivo ritual de milhares de anos, sem nenhuma novidade de vida. Nossos corações estavam carregados de tristeza por ver tantos à procura de paz e solução para suas vidas no grande Buda. Então resolvemos que já era o bastante para aquele dia e decidimos apenas andar pelas ruas e observar as pessoas. Parei meu olhar no idoso e maltrapilho chinês que caminhava lentamente. Os longos, lisos e brancos cabelos chegavam até a cintura, combinando com os lisos e longos fios da barba. Lembrei-me novamente do meu livro de histórias, pois, nele, o imperador tinha longos cabelos e longas barbas.
O velho chinês cantava uma música em seu dialeto. Comecei a pensar: “O que será que ele está cantando? Será uma velha e famosa canção chinesa? Será um lamento? Será que esta canção o faz relembrar tempos felizes? Ah, se eu pudesse conversar com ele e ouvir alguma história da China antiga! Poderia contar-lhe também a história do rei Jesus Cristo...”. O velho chinês passou por mim de cabeça baixa, sem esperanças, sem alvos, apenas vivendo aquele dia. A noite chegou e o frio aumentou, trazendo-me mais tristeza pelo velho chinês, que com certeza nada possuía, além do fôlego de vida, das calçadas, das marquises,
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Fixei os olhos no telhado e agradeci a Deus a oportunidade de poder conhecer o país do imperador
das sombras das árvores. Quem sabe ele podia até ouvir o canto de algum rouxinol chinês... Juscelandia Septimio Caldeira, casada com Jonatas Caldeira e mãe de Davi e Priscila, é missionária na Índia e nas Filipinas.
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M ISSã O
INTEGRAL
René Padilla
A missão de Jesus e a nossa missão significa ser e viver como ele. A missão da igreja é inseparável da missão de seu Senhor não só porque a igreja pertence a ele, mas também porque a vocação da igreja é que a Palavra que no primeiro século se fez carne e viveu entre nós (Jo 1.14) continue manifestando sua presença na sociedade no século 21 por meio dela. De todas as descrições de Jesus Cristo no Novo A missão da igreja é inseparável da Testamento, nenhuma missão de seu Senhor comunica com tanta força a natureza de sua missão como a descrição dele ponto de partida como “servo”, ou “escravo” (doulos). mais apropriado para Em Marcos 10.45, ele disse sobre si entender a natureza da mesmo: “o Filho do homem também missão que Deus nos não veio para ser servido, mas para delegou como igreja servir e dar a sua vida em resgate de é a missão que, segundo os quatro muitos”. Tal descrição combina duas evangelhos, Jesus Cristo levou a cabo figuras do Antigo Testamento: o durante seu ministério terreno. Quais glorioso Filho do homem de Daniel foram suas prioridades? Qual foi sua 7, que vem entre as nuvens do céu mensagem? Que elementos incluiu em para estabelecer seu domínio eterno sua missão? Qual foi sua motivação? As sobre todos os povos, nações e línguas, respostas a estas perguntas nos ajudarão e o Servo sofredor do cântico de a entender um fato fundamental da Isaías 53, que oferece sua vida em eclesiologia e missiologia bíblicas: sem expiação para justificar a muitos. Este desconhecer ou minimizar as grandes admirável paradoxo é uma maneira de diferenças de tempo e espaço entre nós afirmar que Jesus veio para estabelecer e Jesus, a igreja é chamada a continuar seu reinado universal tendo como base a missão do Senhor ao longo da o seu próprio sacrifício pelos pecadores, história até que ele volte. Em termos ou seja, como “o Cristo crucificado” gerais, o propósito de Deus é que a (1Co 1.23; 2.2). igreja se constitua em uma comunidade É claro que o sacrifício de Cristo de testemunhas de Jesus Cristo. Isto, — um sacrifício de eficácia redentora no entanto, significa muito mais do — nunca poderá ser repetido. Como que “dar testemunho” verbal sobre ele; afirma o autor da carta aos Hebreus,
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em virtude da vontade de Deus, “temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez” (10.10). No entanto, o Novo Testamento provê uma base sólida para afirmar que nós, os seguidores de Cristo, somos chamados a reproduzir em nossa própria experiência o mesmo tipo de entrega, inspirada pelo amor, que o levou à cruz. Nas palavras do apóstolo João: “Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1Jo 3.16). Para o apóstolo Paulo é clara a relação entre a entrega de Jesus Cristo na cruz e sua própria experiência como missionário. Nessa direção aponta um texto cuja interpretação sempre motivou muita reflexão entre os estudiosos: “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja” (Cl 1.24). Não se trata de que Paulo considere que os sofrimentos de Cristo tenham sido insuficientes para cumprir cabalmente seu propósito redentor. Trata-se, na verdade, de que o apóstolo considera que seu próprio sofrimento torna possível que a igreja chegue a ser o que Deus se propôs a fazer dela e ser aquilo pelo que Jesus Cristo deu sua vida. Se a igreja quer ser fiel ao seu chamado de prolongar a missão de Jesus Cristo ao longo da história, toda ela e, mais ainda, seus líderes, não podem esquivar-se do sacrifício que implica seguir o caminho de Jesus como o Servo sofredor do Senhor. C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de O Que É Missão Integral? .
Carlinhos Veiga
Palavras da vida
Lucélia Guedes
Há algum tempo era difícil ver surgir novas cantoras no cenário cristão nacional. Ainda bem que isso é história do passado. Lucélia Guedes é mais uma prova desse novo e rico momento. Ela é de Teresina, PI. Embora cante e componha há tempo, somente agora lança seu primeiro trabalho. A maioria das faixas do CD tem um estilo pop bem contemporâneo, com swings de bateria e baixo nos arranjos. Isso tem uma explicação: boa parte das composições é do baterista e percussionista da região, o Flipper; a maioria dos baixos é de Gabriel Araújo, marido de Lucélia. Tudo em casa e muito bonito! Destaque para as faixas “Quero seguir”, “Davi e Golias” e a regravação de “Veleiro”, de Janires, que por sinal ficou muito boa. A produção é de Gilson Barboza. Contatos: (86) 9938-78051.
Armas de distração em massa
Os Oitavos A banda é formada por Johnnie Haeuser (vocal, guitarra e piano), Ismael Daneluz (baixo), Lucas Daneluz (guitarra) e Ricardo Dini (bateria). Eles são de Caxias do Sul, RS. Em 2009 foram contemplados pelo Financiart, um projeto cultural da prefeitura local que possibilitou a gravação do CD. Armas de distração em massa é influenciado pelo Indie Rock. Os irmãos Ismael e Lucas beberam nesta fonte quando moraram em Londres. Entre as maiores influências da banda estão Radiohead, ColdPlay, Jars of Clay e U2. O CD foi gravado e mixado no Estúdio Soma, em Porto Alegre. A masterização é de Dave Locke, no JP Masters, Estados Unidos. Produção de Ray-Z (que também produziu Nenhum de Nós, Acústicos e Valvulados, entre outros) e arte gráfica de Lula Sonego. Para conhecer mais a banda, visite myspace.com/oitavos.
Tudo o que é bonito de viver
Jorge Camargo
N OVOS
ACORdES
Em todo tempo
Há mais de uma década Jorge Camargo não lançava um trabalho assim: um CD puro e simples, com canções autorais, fruto de suas experiências mais profundas. Produzido por Jorge e Maurício Caruso, conta com a participação especial de Gladir Cabral, João Alexandre, Gerson Borges, Marquito Cavalcante, Rique Pantoja, Misael Barros, Daniel Maia, Felipe Silveira, entre outros. Trata-se de um repertório diverso composto por onze belas canções, com destaque para o samba “Beija-flor”, “Valsa alegre” e as singelas “Ana Bia” e “Veja Vê”, feitas para as filhas. O CD foi gravado no Quarto da Bagunça, por Maurício Caruso, que também o mixou e masterizou na Tutti Produções. A arte final é de Daniel Brito sobre imagem de Paul Zollo. Para mais informações, www.jorgecamargo.com.br. Para adquirir, www.veroshop.com.
Primeira Igreja Batista de Brasília
A PIB Brasília nasceu quando a “nova capital” estava sendo levantada no Planalto Central. Hoje é uma igreja sólida que realiza diversos projetos, trilhando nos caminhos da missão integral e servindo aos interesses do reino de Deus. O ministério de louvor da igreja é uma das frentes. Em todo tempo foi gravado ao vivo em setembro de 2010 e reúne cânticos de adoração que expressam a trajetória da comunidade. A produção musical é de Isaac de Moraes e Hirion Júnior. Dezenas de músicos trabalharam com afinco nos arranjos e na execução das músicas selecionadas. O resultado é um CD que vem somarse aos demais do gênero, enriquecendo o repertório dos cânticos de adoração em nosso país. Contatos: 61 3386-7079.
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Lissânder Dias
E special
Vida e morte de John
Stott
É
difícil medir o impacto da vida do teólogo evangélico John Robert Walmsley Stott no mundo e na igreja evangélica. Sua morte — aos 90 anos, no dia 27 de julho, em Londres — gerou centenas de reações espontâneas em todo o mundo. No Brasil, a velocidade da internet possibilitou que vários leitores relembrassem as frases do teólogo, expressassem seus sentimentos diante da notícia e refletissem sobre seu legado. John Stott foi único em muitos aspectos. Com inteligência e produção acadêmica invejáveis, se envolveu efetivamente com as grandes questões contemporâneas do mundo e da igreja evangélica. Este envolvimento, no entanto, não o tornou sectário. É surpreendente perceber que diversas correntes do cristianismo lamentaram sua morte. Como Stott conseguiu manter o equilíbrio entre suas convicções e a disposição para o diálogo? Como, mesmo tão famoso e respeitado, ele conservou e cultivou a busca pela humildade? Como o labor para encontrar a verdade na revelação bíblica não o afastou das grandes e complexas questões da atualidade? Em um tipo de epitáfio, Stott revela no último livro, O Discípulo Radical, o fio condutor de sua vida e obra: “Gostaria de de compartilhar o que tem feito minha mente descansar ao me aproximar do fim de minha peregrinação pela terra. É o seguinte: Deus quer que seu povo se torne como Cristo, pois semelhança com Cristo é a vontade de Deus para o povo de Deus. [...] E a forma como ele faz isso é nos enchendo com o seu Espírito Santo”. Que assim seja com todos nós.
O que Stott pensava
sentido, ou absurda. Deus tem planos para nós hoje.”
E nos considerará responsáveis pelo conhecimento que temos.”
Igreja “O propósito de Deus não é salvar indivíduos e perpetuar seu isolamento. Deus se propôs a edificar a igreja, uma comunidade nova e redimida. A igreja está no centro do plano de salvação. Cristo morreu não só para nos redimir de toda iniquidade, mas também para reunir e purificar para si mesmo um povo entusiasmado pelas boas obras.”
Unidade “Hoje em dia muitos dos nossos cristãos evangélicos não hesitam em ceder à tendência patológica que temos de fragmentar-nos. Para tanto, nos refugiamos em nossas convicções sobre a unidade invisível da igreja, como se a sua manifestação visível não importasse. E o resultado disso é que o diabo acaba tendo maior sucesso na sua velha estratégia de ‘dividir e conquistar’. A nossa desunião continua sendo um grande empecilho para o nosso evangelismo.”
Amizade “Pergunto-me se valorizamos suficientemente a dádiva de Deus que é a amizade. Deus faz uso da necessidade humana da amizade para consolar-nos.”
História “A vida não acontece por acaso. Para muitos, o curso da história é semelhante a pegadas de uma mosca bêbada numa folha de papel em branco. Mas não é assim. A vida não é aleatória, sem
Mente “Deus nos constituiu como seres humanos que pensam. Ele nos tratou como tais, comunicando-se conosco com palavras. Ele nos renovou em Cristo e nos deu a mente de Cristo.
Cristo “Não nos envergonhamos de Jesus Cristo, que é o centro e o cerne do cristianismo.”
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Cruz “Deus revelou seu amor e sua justiça através da cruz. E ninguém é mais digno de confiança do que o Deus da cruz.” Discipulado “O fundamental em todo discipulado é a decisão de não somente tratar Jesus com títulos honrosos, mas seguir seu ensino e obedecer aos seus mandamentos.” Morte “A perspectiva do discípulo radical é ver a morte não como o término da vida, mas como a entrada para ela.”
John Stott (1921-2011)
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da do lão l e m eres p a a d a l í c h e l O a r r ra s . É ília ipa y G laterra o ado ne pa princ l . c m l a o: i a a c t f i B g m julh h15 des Lausan ial e o ne. itân om na In ngelis s de r c o s3 b 7 d n e d 2 re à ã, em m gresso Mun Lausa a-s a vez, o eva nga r r u t o É lo on M anh e m ão eir on m Enc prim sso co a uma de um ial. º C gelizaç acto d 1 da dres. i d r o a P n el rom te pa nt mun o a p e v d o E r p L n a im n o o o on l dat com seme o surg ionári nad a d e e r a d r a a j r u to eu foi zade e o miss É o a Igre . pas s, na q os, ça s livro, i o a t d n r l n n a e r m o e a L a o 5 um Sou istr glate vim ltim scípulo Ass ja All por 2 ria. ú mo min da In , o i e e ic igr anec ntado O D ical. Bás ssenta ões e m o s r e pe a apo ilh Rad nism e s stia mais d 2,5 m i té r a C ara e ica asce is d ubl zido p m ma didos. il: N r P b om a u o sC de obert tt. icerad as e c res ven n t e 27 o v nal o o m u R a t v l a o g i S t n p a o lín xem o, H ção Joh msley um ernati nts. au l livr trodu ores. ee É r a t d g : o n r d 3 t W pela I in scri 0 u e ei t a o e o pela a 0 S m d d b 2 o i e m l a e r c Até dente elica o p gem; u e seus Rec estre de ndi me com as i a e g i s c s n a i m É . a i rte ência pre f Eva de versid idge. Publ Mens ento esso aT o nve i a estam vist 100 p tes do p e i m Co dolesc r Un ambr h U oT as luen do. a C ows v ad f n na de Fell No um ais in mu m
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Repercussão Entre teólogos e líderes O mundo evangélico perdeu um de seus maiores porta-vozes. Eu perdi um amigo. Estou ansioso para vê-lo novamente quando eu for para o céu. Billy Graham, evangelista John Stott foi o mais modesto dos homens. Se soubesse antecipadamente do tema desta minha mensagem, certamente teria dito: “Concentre-se em Cristo, não em mim”. J. I. Packer, teólogo anglicano Dizer que devemos agradecer a Deus por ele é colocar em termos muito suaves. Todos nós somos enormemente beneficiados. Que possamos ser dignos desse legado. N. T. Wright, teólogo anglicano Deus me deu várias oportunidades para ouvir e conversar com John Stott. Sempre humilde (tomou lanche em nossa cozinha em São Paulo), sempre cordial, sempre pronto para expor um texto da Palavra de Deus. Ouvi-o pela primeira vez em Urbana, Illinois, Estados Unidos, expondo 2 Coríntios 2.14–6.11, perante onze mil jovens num congresso missionário, em 1964. Russell Shedd, teólogo batista Stott celebrou a santidade e uma vida simples, olhando para um universo completo e cheio da graça de Deus. Mauro Masters, pastor presbiteriano Sou parte da geração de líderes evangélicos latino-americanos que foi estimulada pelos textos de John Stott a pensar a fé de maneira integral e a compreender que o evangelho tinha dimensões extra-eclesiásticas. Harold Segura, teólogo colombiano Estou certo de que contarei à próxima geração... que um gigante andou na Terra em nossa época, e seu nome é John Robert Walmsley Stott. Rev. Canon Benjamin Twinamaani, Uganda, África Oriental [Stott] ensinou que o papel da teologia é participar dos grandes 48
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debates, crescer à proporção das respostas que deve à sociedade e se entender como serviço ao mundo. Antonio Carlos Ribeiro, teólogo, jornalista e pastor luterano John Stott transformou as palavras das frases bíblicas em janelas para a realidade da glória, ao explicá-las em sentenças claras, de forma persuasiva, completa, coerente, renovadora, livre de bobagens ou piadinhas espirituosas. John Piper, teólogo e pregador reformado Stott ficou célebre e respeitado no mundo porque soube equilibrar a academia com a simplicidade, a erudição teológica com a fé evangélica, preservou o saber da mente com o calor do coração. Ele continuará vivo através do legado dos seus escritos. Durvalina Bezerra, diretora do Instituo Bíblico Betel Brasileiro
Na mídia Stott mudou o cristianismo na Inglaterra mais do que reconhecemos. Matthew Cresswell, jornal The Guardian Stott foi um humilde estudioso cujos cinquenta livros aconselham os cristãos a emular a vida de Jesus — principalmente sua preocupação com os pobres e os oprimidos — e a se opor às mazelas sociais como a opressão racial e a poluição ambiental. Nicholas D. Kristof, The New York Times/ O Estado de São Paulo John Stott era considerado uma das grandes lideranças mundiais evangélicas, que influenciou pastores, teólogos e líderes cristãos em todo o mundo, especialmente na América Latina. Jornal O Globo
Entre os leitores Stott deixa para milhões de discípulos de Jesus espalhados pelo mundo uma obra completa, repleta de verdades do evangelho, ensinando o que é ser de fato um discípulo radical. Ele me ensinou a ser um pouco mais parecida com Cristo, a entender melhor os ensinamentos do mestre. Jacqueline Emerich Souza, Cuiabá, MT John Stott, mais do que qualquer pastor
O simples Stott
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incrível como a virtude da simplicidade está presente em muitas declarações sobre John Stott. Não somente opiniões, mas experiências concretas vividas com ele e que evidenciam que Stott era, de fato, um homem simples. No entanto, Stott não se conformou em apenas viver virtuosamente a simplicidade. Ele ajudou outros a compreenderem o valor desta virtude em um mundo injusto e egoísta. Como presidente do Grupo de Trabalho sobre Teologia
que conheci, me apresentou Jesus de Nazaré. Fez-me olhar para a cruz com outros olhos: como o palco da maior demonstração de amor que o mundo jamais viu. Kassio Flores Passos Lopes, Campo Grande, MS John Stott foi a maior influência do meu ministério pastoral e da minha formação cristã. Evandro Lutero, Fortaleza, CE Aos 20 anos fui surpreendida pelas palavras acolhedoras e verdadeiras de John Stott a respeito do “cão de caça do céu”. O Jesus próximo, amável, misericordioso e que há muito me procurava (mas que eu rechaçava sempre com a racionalidade ignorante comum aos universitários) enfim me encontrou, e usou as palavras bem escritas de Stott no livro Por Que Sou Cristão. Pabline Félix, Belo Horizonte, MG Fontes: Novos Diálogos, Edições Vida Nova e Christianity Today.
e Educação da Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial, Stott realizou em março de 1980 a Consulta Internacional sobre Estilo de Vida Simples, na Inglaterra, onde reuniu 85 líderes evangélicos de 27 países. A partir desse encontro, foi publicado o documento Compromisso Evangélico com um Estilo de Vida Simples, traduzido e publicado em português pela ABU Editora. Em seu último livro, O Discípulo Radical, Stott destaca oito características de um verdadeiro discípulo de Jesus. A simplicidade é uma delas. Ele lamentou que o impacto da Consulta Internacional tenha sido pequeno e o assunto não tenha recebido a devida atenção na época ou desde então. Leia a seguir alguns trechos do documento gerado pela consulta: “Jesus chama todos os seus seguidores a buscar uma liberdade interior em face da sedução das riquezas (pois é impossível servir a Deus e ao dinheiro) e a cultivar
uma generosidade sacrificial (‘sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir’, 1 Timóteo 6.18). De fato, a motivação e modelo da generosidade cristã é nada menos que o exemplo do próprio Jesus Cristo, que, embora rico, se tornou pobre para que, através de sua pobreza, pudéssemos nos tornar ricos (2Co 8.9).” “Só quando a nova comunidade se mostra mais claramente distinta do mundo em seus valores, padrões e estilo de vida é que ela apresenta ao mundo uma alternativa radicalmente atraente, e assim exerce sua maior influência por Cristo.” “Enquanto só alguns de nós fomos chamados a viver entre os pobres, e outros a abrir seus lares aos necessitados, todos estão determinados a desenvolver um estilo de vida simples. Tencionamos reexaminar nossa renda e nossos gastos, e fim de gastar menos, para que possamos doar mais.”
“O compromisso pessoal em termos de mudança de estilo de vida não será eficaz se não houver ação política, visando à mudança dos sistemas injustos. Mas a ação política sem compromisso pessoal é inadequada e incompleta”. “É impossível proclamar com integridade a salvação de Cristo se ele, evidentemente, não nos salvou da cobiça, ou proclamar seu senhorio se não somos bons mordomos de nossas posses; ou proclamar seu amor se fecharmos nossos corações para os necessitados. Quando os cristãos se importam uns com os outros, e com os pobres, Jesus Cristo se torna mais visivelmente atraente.” A teimosa ênfase de John Stott na simplicidade não apenas nos estimula a admirá-lo, mas também nos encoraja a sermos mais responsáveis e justos com os recursos de Deus. E resgata a sabedoria e beleza contidas nas coisas mais simples, como os lírios do campo e as aves do céu.
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Paul Freston
É TICA
O Pai-Nosso e as bem-aventuranças para hoje: o verdadeiro “dando é que se recebe”
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a edição de maio/ junho de 2011, falamos dos sermões de Gregório de Nissa (c. 380 d.C.) a respeito do Pai-Nosso e das bem-aventuranças. Mais uma vez relacionamos esses dois discursos de Jesus e enfocamos as exortações de “perdoar os devedores” e “ser misericordioso”. Novamente este autor patrístico nos surpreende com a ousadia e a atualidade com que aborda esses dois textos centrais da mensagem evangélica.
Mateus 6.12 — Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores. Gregório afirma que este pedido, no contexto do Pai-Nosso, nos leva ao cume da virtude, pois ensina que tipo de pessoa devemos ser se quisermos nos aproximar de Deus. Com sua costumeira ousadia, ele diz não só que devemos ser semelhantes a Deus, mas também que devemos ser “deuses”, pois perdoar as dívidas é prerrogativa especial de Deus. “Se um homem imita as características divinas, ele se torna, de alguma forma, aquilo que imita... Ele se torna, por assim dizer, um deus pelo seu próprio estilo de vida” e na esperança da imortalidade. Assim, Cristo transforma a natureza humana em divina! Com base nisso, Gregório diz que devemos dar a nós mesmos a sentença de absolvição, pois o juízo que fazemos do nosso próximo provocará a mesma sentença sobre nós. De nada adiantará 50
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pedir perdão, se nossa consciência não nos disser que é bom mostrar misericórdia e se nossas ações não corresponderem a isso. Não há base para a famosa frase atribuída ao poeta alemão Heinrich Heine, logo antes de sua morte: “Claro que Deus me perdoará; é o ofício dele!”. Espantado, Gregório exclama: “O que está sendo dito aqui? Em outros lugares da Bíblia, recomendase a imitação de Deus. Mas aqui, ele deseja que a sua disposição seja um bom exemplo para Deus! A ordem está invertida; ele nos dá a ousadia de esperar que Deus também nos imite”. Porém, a linguagem ousada não leva Gregório a se enganar quanto à realidade humana. “O homem se separou do seu Criador e desertou ao inimigo... Que mal pode ser maior do que não olhar a beleza do Criador, e desfigurar a imagem e destruir a marca divina em nós? Portanto, nunca devemos falar com demasiada ousadia diante de Deus, como se tivéssemos uma consciência pura. Ninguém vive um dia sequer sem mancha.” Mateus 5.7 — Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. A conexão dessa bem-aventurança com o Pai-Nosso é que “Jesus efetivamente deifica” quem a pratica. Pois, se o termo “misericordioso” é apropriado para Deus, Cristo “te convida a te tornares Deus... porque alcançou aquilo que caracteriza a natureza divina”.
Definindo a misericórdia como “uma aflição voluntária que se une aos sofrimentos dos outros” e “uma disposição intensamente amorosa, combinada com a tristeza, com a vontade de participar nos infortúnios do outro”, Gregório frisa que a misericórdia não tem a ver somente com o uso das coisas materiais, senão poderia ser exercitada apenas por quem tem os meios necessários. Antes, a misericórdia tem a ver com “a escolha da vontade”. Ele pinta, liricamente, o quadro de um mundo caracterizado pela misericórdia: Não existiria mais nem o excesso nem a privação. Todas as coisas seriam comuns a todos, e a vida de cada um como cidadão seria caracterizada pela completa igualdade perante a lei, e as pessoas responsáveis pelo governo se colocariam, de livre espontânea vontade, no mesmo nível de todos. Não haveria razão para a inimizade. A inveja seria fútil e o ódio desapareceria, junto com a mentira, a fraude e a guerra, todas as quais procedem da cobiça. Não teríamos mais que confiar em grades e fechaduras para garantir a nossa segurança, pois estaríamos seguros no cuidado uns dos outros. Que maior segurança poderíamos imaginar para as nossas vidas do que isso?
O mundo antigo, em que vivia Gregório, estava muito longe disso. O nosso mundo também não conseguiu abolir os contrastes de excesso e privação, nem as guerras e uma política de segurança baseada em “grades e
fechaduras”. Avançamos, sim, desde a antiguidade, em direção a uma cidadania caracterizada pela igualdade perante a lei e pela transparência dos governantes (mesmo que ainda falte muito que fazer). Entretanto, Gregório provavelmente se lamentaria de que os cristãos nem sempre apoiaram, e ainda hoje nem sempre apoiam, esses avanços. Contra as heresias da sua época (e da nossa), Gregório afirma que Deus, que fez o homem à sua própria imagem, o constituiu com “todos os princípios da bondade”. Portanto, “está em nós o poder de produzir o bem de dentro da nossa própria natureza”. O contrário
Cristo transforma a natureza humana em divina é igualmente válido: a inclinação ao mal também aparece sem compulsão externa. O mal passa a existir sempre que nós o escolhemos. Porém, não tem uma substância própria; fora da nossa escolha proposital, o mal não existe em lugar algum. O juízo divino segue a escolha que fizemos, e distribui a cada um aquilo que preparou para si mesmo, assim como os espelhos refletem os rostos do jeito que estão. Não se pode culpar o espelho pela depressão no rosto, se o original mostra depressão. Da mesma forma, o justo juízo de Deus se adapta às nossas próprias disposições. Aquele que desperdiçou a vida e não mostrou misericórdia se separou da misericórdia. O que um homem semear, colherá. Para terminar, Gregório acrescenta que a ideia de misericórdia também se aplica a nós mesmos, ou seja, devemos afligir-nos por termos caído da nossa dignidade original. É só pensar em como a nossa vida caiu sob a servidão de vários grandes
tiranos, em vez de levarmos uma vida livre e independente. Por exemplo, a ira é um déspota cruel, e a inveja também. O ódio e o orgulho são tiranos violentos. As paixões e as impurezas nos aprisionam. Mas o pior de todos os tiranos é a ganância, porque nunca se sacia. Portanto, se alguém verdadeiramente se conhece, nunca vai deixar de sentir piedade de si mesmo; e isso será seguido pela piedade divina. A abordagem de Gregório sobre esses trechos do Pai-Nosso e das bem-aventuranças nos desafia. Até que ponto minha vida é caracterizada pela consciência de que sou chamado a ser um “deus” para o meu próximo, mostrando o perdão e a misericórdia? Ao mesmo tempo, quanto a mim mesmo, sou chamado ao realismo, à percepção da imagem divina desfigurada em mim e da tragédia de não enxergar mais a beleza do Criador. Gregório une a visão de um mundo transformado com a necessidade de transformação pessoal; será que minha vida caminha em direção a essa combinação de idealismo social com amor intenso, aflito e ativo? A visão de Gregório também enfatiza a liberdade humana, em contraposição às ideias dualistas de uma luta cósmica entre o bem e o mal em que o ser humano é reduzido à vítima indefesa. Na roupagem de “guerra espiritual”, tais ideias permeiam o mundo evangélico de hoje, contribuindo para o enfraquecimento ético e a ausência de cultivo das virtudes. Até que ponto percebo a aplicação na minha vida do princípio da semeadura e da colheita, sobretudo com relação aos “tiranos” que me oprimem? Perguntas que valem a pena, já que a recompensa é alcançar, da parte de Deus, o perdão e a misericórdia. Paul Freston, inglês naturalizado brasileiro, é professor colaborador do programa de pós-graduação em sociologia na Universidade Federal de São Carlos e professor catedrático de religião e política em contexto global na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontário, Canadá. Setembro-Outubro, 2011
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R EFLEXÃO
Robinson Cavalcanti
O fim do Conselho Evangélico
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protestantismo brasileiro de missão (1855-1909) foi estabelecido com um alto grau de consenso, mantido por mais de um século. As igrejas congregacionais, presbiterianas, metodistas, batistas, episcopais e cristãs evangélicas partilhavam de uma herança e de uma teologia em comum; um legado que, vindo da Reforma Protestante do Século 16, incluía traços de puritanismo, pietismo, avivalismo e movimento missionário. Foi o médico escocês Robert R. Kalley quem fundou a Igreja Evangélica Fluminense, dando início a um protestantismo que era sinônimo de evangelicalismo, originado na Grã-Bretanha da primeira metade do século 19, e diferente do fenômeno localizado pós-fundamentalista dos Estados Unidos, que surgiu um
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século depois. Tratava-se de um evangelicalismo que tinha suas raízes em Wycliffe, na Reforma e nos seus desdobramentos — com uma ênfase na autoridade das Sagradas Escrituras, nas doutrinas credais e confessionais partilhadas pelo cristianismo reformado (nascimento virginal, milagres, morte expiatória, ressurreição, segunda vinda) —, na necessidade de conversão — seguida de um processo de santificação — e no mandato missionário da Igreja. A despeito das diferenças de governo eclesiástico, batismo, ceia do Senhor ou liturgia, as igrejas protestantes (evangélicas) brasileiras foram edificadas sobre esse sólido fundamento partilhado. Em quase toda a América Latina fomos um país de protestantes evangélicos (“evangelicais”), algo evidente, comprovável.
A chegada do movimento pentecostal (1909) introduziu elementos de dissenso no campo da pneumatologia (“dons espirituais”), da eclesiologia (isolacionismo), da liturgia (expressão de sons) e da moral (moralismo/legalismo); uma tendência mais fundamentalista do que evangélica, mas que não rompeu com o núcleo comum que unia ambas as correntes. O mesmo pode-se dizer das “ondas” pentecostais posteriores, como a dos “sinais e prodígios” e a do “movimento de renovação espiritual”. Mantivemo-nos ao largo das propostas das instituições internacionais ecumênicas — Conselho Mundial de Igrejas (liberal), Conselho Internacional de Igrejas Cristãs (fundamentalista) e Fraternidade Mundial Evangélica (evangelical) — nos anos 1940 a 1970. Vivemos trinta anos
(1934-1964) de fomento da unidade, com a Confederação Evangélica; atravessamos os conflitos entre “direita” e “esquerda” durante a Guerra Fria (1945-1989); mas, no fundo, éramos todos “crentes”. Apesar das diferenças secundárias e de nossas “cordiais” rivalidades, nos considerávamos parte de um mesmo povo: os evangélicos. Essa era a nossa identidade e sentido de pertencimento. Programas de rádio e televisão tinham um cunho evangelístico; e, se íamos a um culto de qualquer denominação, a pregação
e faculdades em algumas denominações e regiões, sem maior repercussão na massa dos fiéis. A teologia da libertação foi mais influente em sua ética social do que em suas premissas teológicas liberais. O dissenso protestante se agravou com a chegada da teologia da prosperidade e a teologia da batalha espiritual, e com o vertiginoso crescimento das igrejas ditas neo (iso/ pseudo/pós) pentecostais, carentes de vínculos históricos, doutrinários e teológicos com a herança reformada e evangélica; sociologicamente percebidas como seitas para-protestantes, cuja A despeito das diferenças, as mensagem nada tem a ver com o que se pregou desde igrejas protestantes brasileiras Kalley e o protestantismo foram edificadas sobre um (evangelicalismo brasileiro). O culto-aula deu lugar ao sólido fundamento partilhado culto-show. Debilitou-se a escola bíblica dominical era marcada pelas semelhanças e não e deixou-se de cantar hinos com pelas diferenças. Algumas “missões de conteúdo teológico — os quais foram fé” enfatizaram o fundamentalismo substituídos por vagas odes à divindade, e a escatologia dispensacionalista; que podem ser entoadas por qualquer e reduzidos núcleos de intelectuais monoteísta não-cristão. Com o de tendência teológica liberal se crescimento numérico da segunda e da estabeleceram em seminários (mais de terceira gerações, fomos além da velha igrejas de imigração do que de missão) dicotomia “membro comungante”
versus “membro desviado” e passamos a ter os nominais, os ocasionais, os bissextos, os migrantes e os “crentes de IBGE”, que confessam a fé a cada década do Censo, pois não se garante a conversão ou a ortodoxia de descendentes biológicos ou adotivos. Enquanto as elites seculares foram atingidas pela pós-modernidade e por seus filhotes ideológicos (secularismo, politicamente correto, multiculturalismo, agenda GLSBT), parcelas de nossas elites eclesiásticas foram atingidas pela teologia liberal revisionista. Nossa base social continua majoritariamente evangélica. Porém, o mesmo não se pode dizer, lamentavelmente, de alguns dos nossos líderes. Alguns, por razões intelectuais, emocionais ou morais renegaram até agressivamente o seu passado, abençoado e abençoador; mudaram de lado, deixando o povo órfão ou confuso, pois, quando trocaram de conteúdo não substituíram a etiqueta. Nem todo protestante é mais evangélico, mas nós somos crentes! Dom Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política — teoria bíblica e prática histórica, A Igreja, o País e o Mundo — desafios a uma fé engajada e Anglicanismo — identidade, relevância, desafios. www.dar.org.br
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A PALAVRA DE DEUS
Valdir Steuernagel
saurabh malhotra
R EDESCOBRINDO
Testemunho que nutre
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u viajo muito, e confesso que nem sempre é agradável. Muitas dessas viagens são monótonas e cansativas. Aeroportos caóticos, aviões lotados, conexões demoradas. E, ao chegar ao destino, quase sempre tenho de correr para o hotel, tomar um banho rápido e preparar-me para uma bateria de reuniões que acabam acontecendo em salas fechadas, longe da luz do sol. É tudo vapt-vupt. É chegar rápido e sair o mais depressa possível. Às vezes, porém, sai uma viagem diferente, com tempo para conversar e ver de perto um pouco do trabalho que realizamos como Visão Mundial. Há pouco tempo estive no norte da África e fui visitar, em um daqueles países, um centro comunitário em uma área totalmente muçulmana. Belas imagens dessa experiência ainda dançam diante dos meus olhos. Gente simples — a maioria mulheres e crianças — circula pelo local. Nos fundos há uma horta comunitária e à
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esquerda, um pequeno salão. Foi ali que ouvimos um claro recado da presidente da associação: “Vocês da Visão Mundial, ao concluírem o programa aqui, podem ir embora. Mas nós não iremos! E estamos preparados para dar continuidade ao trabalho”. Com essa palavra, grande parte do objetivo do nosso trabalho já havia sido alcançado. No entanto, o que mais chama minha atenção é uma tenda bem na entrada. Debaixo dela estão sentadas, diante de uma refeição recémpreparada, muitas mulheres. É tudo muito simples: mantas estendidas, bacias e pratos espalhados pelo chão em meio a mulheres com indumentárias coloridas e quase todas de cabeça coberta. Há crianças por todo canto! São elas que abrilhantam o lugar, ainda com a boca lambuzada da comida que acabaram de receber. Essas mães participam de um programa em que aprendem a preparar refeições nutritivas usando a matériaprima à qual têm acesso, para que seus filhos não vivam na subnutrição.
Em seguida elas são acompanhadas em casa, onde preparam o alimento, e o nível nutricional dos filhos é monitorado. Fantástico! A mãe fica grata ao ver os filhos bem nutridos, a criança fica feliz porque está bem alimentada e Deus se compraz no que está sendo feito em seu nome. Tenho procurado ler com mais atenção as passagens bíblicas nas quais Jesus encontra as crianças ou fala sobre elas. Cada vez mais me surpreende e encanta a forma como ele se relaciona com as crianças, o que diz a respeito delas e como podemos aprender sobre o reino de Deus com elas. Em um desses relatos, repetido nos três evangelhos sinóticos, Jesus pega um pequeno no colo e diz aos seus discípulos: “Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo; e quem me recebe, não está apenas me recebendo, mas também àquele que me enviou” (Mc 9.36-37). Para mim nunca foi fácil entender a relação entre “receber a criança” e “receber a Jesus”. Mas creio que ali,
parado debaixo daquela tenda e junto àquelas mães e seus pequeninos, captei um pouco da lógica dessa palavra de Jesus. Olhando para as crianças, lembrei que são fruto do amor de Deus e são por ele conhecidas “desde o ventre materno”, como bem expressa Davi no Salmo 139. Olho para nós, adultos, e vejo que não nos resta outra alternativa senão receber essas crianças, marcadas pela confiança e vulnerabilidade. Aqui vejo a vulnerabilidade da subnutrição e a confiança de que receberão um alimento nutritivo que lhes dê condições de crescer saudáveis,
Nosso serviço e nossa vida são o nosso testemunho segundo o desejo do coração de Deus. Jesus nos exorta a cuidarmos de cada criança, a recebê-las como vindas da mão de Deus e, em hipótese alguma, tornarmo-nos pedras de tropeço para elas. Deus conhece cada uma e quer ver todas elas cuidadas e amadas. A criança tem um coração voltado para Deus, e cabe a nós ajudá-la a nutrir esse anseio. Não sejamos autores de nenhum desvio de confiança no Deus que as criou e as ama. Com os pés naquele chão, tomo consciência de que aquele nosso trabalho acontece em um país islâmico, onde não há liberdade nem espaço para
o testemunho cristão verbal e aberto e onde a conversão é proibida por lei. Um lugar onde não se pode fazer uma oração em nome de Jesus ou ler uma história dos evangelhos para as crianças, como fazemos por aqui. Por isso vimos servindo àquelas crianças por muito tempo sem testemunho verbal. Como evangélicos que vivem em um país com liberdade de culto, o silêncio nos deixa nervosos e queremos logo ir abrindo a Bíblia. Ato falho! Isso é proibido e punido. Entretanto, isso não nos impede de continuar a servir àquelas famílias na busca de uma boa nutrição para as crianças. Nosso serviço e nossa vida são o nosso testemunho. Saí de lá pensando que é exatamente isso que devemos fazer em lugares assim. E devemos fazê-lo com alegria e com muito amor às pessoas que vivem nessas comunidades. Saí de lá agradecendo o privilégio de servir a Jesus naquele lugar, na oração de que o façamos como um gesto de “receber a Cristo” em nossas próprias vidas e como um testemunho de Jesus naquelas terras e junto àquela gente tão amada por ele. Quem sabe deveríamos aprender a fazer a “comidinha nutritiva” em muito mais lugares neste conflituoso mundo de Deus. Seria a boa nutrição um gesto de testemunho a Deus, cuja amorosa presença quer ser discernida no rosto de cada criança bem alimentada. Valdir Steuernagel é pastor luterano e trabalha com a Visão Mundial Internacional e com o Centro Pastoral e Missão, em Curitiba, PR. É autor de, entre outros, Para Falar das Flores... e Outras Crônicas.
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Jorge Henrique Barro
Constantin Jurcut
Cidade em foco
Uma igreja para a cidade
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que é ser uma igreja para a cidade: Um centro de hospitalidade. Um espaço onde todos são bem recebidos, inclusive o estrangeiro. Um local de boas vindas, onde as pessoas se sentem em casa. Isso não significa simplesmente ter uma boa equipe sorridente de recepção, mas ser uma comunidade do acolhimento, que demonstra atenção para com as pessoas; ser um lugar onde o solitário encontra amizade, e o confuso, direção. Um centro de refúgio e abrigo onde os de fora — estrangeiros, pobres, fracos, perseguidos e não-amados — encontram um santuário. Essa igreja é refúgio e abrigo para os que estão passando por situações de crise, sentemse solitários e sem amizades sólidas, confusos e sem quem os ouça, famintos e sedentos para achar o verdadeiro Deus. Como parte de um exercício prático de uma classe de missão urbana do
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Fuller Theological Seminary, na Califórnia, fomos visitar uma paróquia católica no centro de Los Angeles. Trata-se de uma comunidade urbana, especialmente entre as gangs. O sacerdote que nos recebeu contou-nos a seguinte história: Um ex-paroquiano, em visita à igreja, lhe disse que aquele lugar não parecia mais uma igreja: “Antes este lugar era organizado, limpo; agora é uma baderna, um entra-e-sai de gente. Isto mais parece uma rodoviária que uma igreja”. O padre chamou alguns daqueles miseráveis que ali estavam e lhes perguntou o que significava aquele lugar para ele: “Ah padre, este lugar é tudo para mim. Eu estava morrendo debaixo da ponte; quando me trouxeram para cá, eu encontrei uma família, a família que nunca tive”. A moça, que falou a seguir, contou como aquele lugar a salvou, pois estava grávida, correndo risco de vida, e ali encontrou refúgio e abrigo para poder se cuidar e depois dar a luz à criança que estava em seu ventre. Ao final da conversa, o padre declarou ao visitante: “Para todas estas pessoas que estão
aqui, esta é a única igreja e família que conhecem e possuem”.
Essa paróquia havia se tornado um centro de hospitalidade, de refúgio e abrigo, uma cidade santa para aqueles que haviam perdido a esperança de viver. Muitas pessoas vêm para a igreja como fruto de métodos de crescimento elaborados por ela e não como resultado das ações misericordiosas do seu povo. Quem foi alcançado como fruto da misericórdia não pode oferecer outra coisa, senão a própria misericórdia. Um centro de misericórdia, esperança e vida. Se existe uma comunidade no mundo que deve revelar o máximo valor da vida esta é a igreja. Nossos legalismos e tradicionalismos só existem porque a vida não é prioridade para nós. Quando ela está acima de tudo e ocupa o primeiro lugar nas nossas agendas, é possível colher espigas no sábado (Lc 6.1), curar um homem de mão atrofiada no mesmo sábado (Lc 6.6), e curar — também no sábado — a mulher encurvada há cerca de 20 anos
(Lc 13.11). A vida está em primeiro lugar, mesmo que o líder fique “indignado porque Jesus havia curado no sábado”. O dirigente da sinagoga disse ao povo: “Há seis dias em que se deve trabalhar. Venham para ser curados nesses dias, e não no sábado” (Lc 13.14). É triste ter que chegar a esta conclusão por causa das tradições: “Hoje é sábado, não lhe é permitido carregar a maca” (Jo 5.10). É necessário aceitar o convite de Jesus aos que eram contrários à sua participação com os pecadores: “Vão aprender o que significa isto: ‘desejo misericórdia, não sacrifícios’.
A única igreja que realmente brilha aos olhos de Deus é aquela que fielmente cumpre sua missão onde ele a coloca Pois eu não vim chamar justos, mas pecadores” (Mt 9.13; 12.7). É possível liderar a igreja de Deus sem misericórdia. Jesus disse: “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade.
Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas” (Mt 23.23). Um centro sinalizador do Reino. Assim como o farol está para o mar, a igreja está para a cidade. A igreja é convocada para ser “um sinal de contradição”, assim como foi Jesus (Lc 2.34). Isto significa desafiar as normas e valores deste mundo, como demonstrado no Sermão do Monte. É preciso ir contra as atitudes desumanas e apontar os valores do reino de Deus e de sua justiça; ser uma igreja inclusiva e aberta, unida na diversidade, uma comunidade de compaixão. A única igreja que realmente brilha aos olhos de Deus é aquela que fielmente cumpre sua missão onde ele a coloca. A que não cumpre também brilha: em seu nome colocado no letreiro. Assim como “não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte” (Mt 5.14), não se pode esconder uma igreja missionária, pois ela brilhará “diante dos homens [e mulheres], para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5.16). Esta igreja é como um farol que sinaliza o caminho. Ela é um centro de hospitalidade, refúgio e abrigo, misericórdia, esperança, sinal para indicar o caminho para o reino de Deus. Jorge Henrique Barro é diretor da Faculdade Teológica Sul Americana e vice-presidente da Fraternidade Teológica Latino Americana (continental).
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H ISTÓRI A
Alderi Souza de Matos
Role model
Martina Perhat
a importância de um conceito
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ma sociedade demonstra que determinado valor ou comportamento é importante para ela quando cria um termo para expressá-lo. É o caso do conceito de role model, expressão usual nos países de língua inglesa, mas que não possui um equivalente exato em português. O Dicionário Webster o define como “uma pessoa cujo comportamento em um papel específico é imitado por outros”. Seria algo como um “modelo de conduta”. Nos Estados Unidos, é comum uma personalidade pública ser chamada de role model, com o entendimento de que, pelo fato de exercer forte influência, principalmente sobre crianças, adolescentes e jovens, essa pessoa tem a obrigação de dar um exemplo positivo, construtivo. Na Bíblia, o role model mais notório e declarado é o apóstolo Paulo. Em diversas passagens de suas epístolas, ele se apresenta explicitamente como um modelo digno de ser imitado pelos cristãos do seu tempo (1Co 4.16; Fp 3.17; 2Ts 3.7-9; 1Tm 1.16). Acima de tudo, porém, Paulo coloca diante das pessoas o supremo role model — Jesus Cristo (1Co 11.1; 1Ts 1.6s; Fp 2.5). Numa época carente de bons exemplos, o grande apóstolo julgava ter a responsabilidade de servir de referencial para os cristãos que estavam sob seus cuidados pastorais. Essa é uma questão fundamental na sociedade brasileira 58
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contemporânea, na qual a conduta de muitas figuras públicas tem ficado aquém do desejável, com resultados funestos para a formação das novas gerações. O mundo artístico e desportivo Pelas atividades que exercem e pela grande exposição que recebem nos meios de comunicação, atletas e cantores estão entre as pessoas mais admiradas e imitadas que existem em nossa sociedade. Eles estão entre os principais “ídolos” da infância e da juventude, sempre atentas a todos os seus movimentos. Suas roupas, linguagem e estilo de vida influenciam inevitavelmente as mentes e caracteres em formação. Todavia, nessas categorias, são relativamente poucos os que têm consciência do poder que exercem e buscam intencionalmente ser bons role models para seus fãs. Como um exemplo negativo, pode ser citado o falecido cantor Tim Maia, dotado de uma belíssima voz, autor de grandes sucessos e artista de vasto apelo popular. Sua vida pessoal e seu comportamento ético estavam em total contraste com isso, como ele mesmo admitiu em diversas entrevistas. Um caso positivo é o do cantor Bono Vox (Paul David Hewson), principal vocalista da banda irlandesa U2, que tem se destacado por suas atividades humanitárias, principalmente em conexão com a África, e já esteve por
diversas vezes no Brasil. No âmbito do futebol, um exemplo de destaque é o jogador Kaká (Ricardo dos Santos Leite), conhecido não só por seu talento esportivo, mas por sua vida familiar íntegra e por sua participação em causas filantrópicas. A esfera política O ambiente político é, no Brasil contemporâneo, aquele em que os verdadeiros role models são mais difíceis de serem encontrados. Em nenhuma outra área da sociedade, indivíduos projetam uma imagem e exercem uma influência tão inversamente proporcionais à relevância das funções que desempenham. Por causa das falhas de nossa formação cultural, das deficiências da legislação eleitoral e da falta de preparo de considerável parte da população para o exercício consciente do voto, os poderes executivo e legislativo acabam abrigando um bom número de homens e mulheres carentes de qualificações morais e intelectuais para a atuação política. O Congresso Nacional é uma instituição desacreditada, palco de sucessivos escândalos. Seus “conselhos de ética e decoro parlamentar” são notórios por seu corporativismo e ineficácia. Felizmente, não é inevitável que seja assim. Não precisamos nos entregar ao ceticismo do antigo filósofo grego Diógenes, que andava pelas ruas durante o dia com uma lamparina, dizendo
estar à procura de um homem honesto. Já tivemos em nossa vida pública estadistas de escol como José Bonifácio de Andrada e Silva, Diogo Antônio Feijó, Saldanha Marinho, Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, homens que tanto fizeram pelo Brasil e que até hoje servem de inspiração para muitos, principalmente os mais jovens. Devemos lutar para que um dia a honradez, o interesse público e a competência não sejam a exceção, mas a regra em nosso mundo político; para que nossos mandatários vejam suas funções não como meio para a obtenção de vantagens pessoais e partidárias, e sim como instrumentos de serviço à coletividade.
e voltada para a formação do caráter, para uma vida de altruísmo e para o pleno exercício da cidadania. Esse processo educativo deve começar com a formação dos quadros dirigentes das próprias igrejas, para que sejam pautados pela integridade, sensatez e equilíbrio. A partir daí, eles poderão exercer uma influência salutar e transformadora sobre suas comunidades e sobre a sociedade como um todo.
Conclusão Nossa infância e juventude necessitam desesperadamente de role models, figuras exemplares de carne e osso que vão além do que se vê em livros, filmes e desenhos animados. As celebridades e as personalidades públicas precisam se conscientizar da responsabilidade As igrejas precisam associar que têm de servir de bons modelos ao evangelismo outra ênfase para aqueles que são influenciados suas palavras e ações. Que absolutamente essencial para por nossos artistas, desportistas, o futuro do país — a educação governantes, parlamentares, juízes, empresários, sacerdotes e pastores compreendam esse imperativo que O lugar das igrejas recai inevitavelmente sobre eles. Muitos cristãos acham que a solução Suas escolas, hospitais e outras para esses problemas é fazer um instituições dignificaram a vida de maior investimento na evangelização muitos indivíduos e comunidades. do povo brasileiro. Se as pessoas se O humanismo cristão centrado no converterem a Cristo, dizem eles, elas respeito, na solidariedade, na justiça automaticamente modificarão os seus e no amor tem permeado, mesmo valores e comportamentos e o Brasil que imperceptivelmente, a cultura, será um país melhor. Infelizmente, a legislação, as instituições públicas os fatos não têm corroborado essa e os valores éticos de muitas nações. expectativa. As igrejas evangélicas estão No entanto, o mundo pós-moderno, crescendo como nunca, mas isso não com seu relativismo subjetivista e seu tem se traduzido em uma elevação abandono de referenciais sólidos, corre dos padrões éticos da sociedade. A o risco de mergulhar novamente na atuação dos políticos evangélicos com barbárie, como tem sido vaticinado frequência tem sido decepcionante. por muitos observadores, inclusive Muitos líderes eclesiásticos têm tido seus seculares. Importa que os cristãos nomes associados à busca incessante não descansem sobre os louros do de prestígio, poder e prosperidade passado, mas renovem seu compromisso financeira, estando muito longe de com o evangelho, em todas as suas serem genuínos role models para os seus implicações, nos dias desafiadores em fiéis. que vivemos. As igrejas precisam associar ao Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela evangelismo outra ênfase absolutamente Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja essencial para o futuro do país — a Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na educação. Uma educação que seja História e Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil. integral, firmada em princípios bíblicos asdm@mackenzie.com.br Setembro-Outubro, 2011
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ler!
O Espiritismo Segundo Jesus Cristo
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Assim na Terra Como no Céu
Israel Belo de Azevedo 144 páginas Editora Vida Nova, 2010
Gínia César Bontempo (org.) 152 páginas Editora Ultimato, 2011
Minha primeira infância foi marcada por um contexto apologético, devido à conversão dos meus pais, provenientes do espiritismo. As relações familiares eram então permeadas pela tensão, pois cada parte queria legitimar como verdadeira sua compreensão de Deus, da fé e da vida. O vínculo familiar estabelecia algum limite para a temperatura do debate, e a compreensão geral de que toda religião era boa ajudava a preservar as relações. À medida que meus pais se tornavam mais instruídos na fé, as singularidades do evangelho colocavam o debate em outro patamar. Como cristãos, eles não eram obrigados a dizer que tudo o que o espiritismo ensinava era errado, mas se viam constrangidos a ressaltar os aspectos singulares do cristianismo que se chocavam com o ensino espírita. Muitas famílias ainda vivem esta tensão, pois, parece-me, a cosmovisão espírita é majoritária no Brasil. O Espiritismo Segundo Jesus Cristo, escrito de uma forma clara e respeitosa, é um convite a uma leitura simultânea. Cristãos e espíritas encontrarão neste livro um solo comum para o crescimento mútuo em direção ao que a Escritura Sagrada revela sobre Deus, o ser humano e, sobretudo, Jesus Cristo. Em minha igreja local estou encorajando cada membro a ler e a se envolver neste diálogo apologético
Os alunos frequentemente ensinam mais que os professores. Esta é, pelo menos, a minha experiência de trinta anos como professor de evangelismo e missões. Quantos projetos excelentes, “médios” e alguns não tão bons pude conhecer que transformaram a teoria em prática. Este é o valor de Assim na Terra Como no Céu. Há poucos anos a igreja evangélica começou a tomar conhecimento, ainda que timidamente, do seu papel socioambiental de resgate da criação de Deus — um papel bíblico e urgente que não podemos mais ignorar. Porém, o que fazer? Como fazer? E qual deve ser a nossa relação com os outros setores da sociedade? Finalmente temos em mãos um livro que apresenta modelos já implementados ou ainda em ação. Eles podem servir de inspiração igrejas que queiram impactar com a graça de Deus suas comunidades e seu ambiente.
Ziel Machado, membro da equipe pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo Editora Lexikon, 2010
Timóteo Carriker, missiólogo, autor de Trabalho, Descanso e Dinheiro e A Visão Missionária na Bíblia
John Wesley, o cavaleiro do Senhor
No Reino Unido, John Wesley é tido como a principal figura do reavivamento evangélico do século 17. Naquele tempo a Inglaterra era a maior potência mundial. Um dos dezenove filhos de uma família piedosa, Wesley começou a ser largamente usado por Deus aos 35 anos, depois de entender de forma clara o plano de salvação por meio de Cristo e de ter o “coração aquecido de modo estranho”. Essa experiência marcante aconteceu durante uma reunião na rua Aldersgate, em maio de 1738, quando ouviu a leitura do prefácio do Comentário da Epístola de Paulo ao Romanos, escrito por Lutero em 1515, dois anos antes da afixação das famosas 95 teses em Wittenberg.
A redescoberta e a pregação da salvação pela fé revolucionaram a Grã-Bretanha. Wesley começou a viajar por todo o país pregando e organizando as novas congregações que surgiam. Durante 50 anos, de 1738 até quase o ano de sua morte, ele foi o líder inconteste do avivamento que se espalhou pelas Ilhas Britânicas. Pregou cerca de 40 mil sermões e viajou aproximadamente 400 mil quilômetros no lombo de animais e em carruagens pela Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda. Morreu aos 88 anos, em 1791. John Wesley é considerado o pai dos metodistas. Recentemente O Diário de Wesley — o pai do metodismo ganhou nova edição pela Arte Editorial. Antes deste, foi publicada em 1952 pela Imprensa Metodista sua Autobiografia. Pode-se conhecer Wesley por meio de seu diário e de livros sobre sua obra e pensamento, publicados no Brasil principalmente pela Editeo. Alguns deles são: Wesley e o Mundo Atual, Wesley e Sua Bíblia, Viver a Graça de Deus — um compêndio de teologia wesleyana, João Wesley — sua vida e obra, Teologia de John Wesley, entre outros. Além dos livros, agora ele pode ser conhecido também pelo filme Wesley — um coração transformado pode mudar o mundo, recém-lançado pela Graça Editorial. O filme conta a história de um ministro da Igreja da Inglaterra, ordenado aos 25 anos, que, na década de 1730, e depois de um longo período de indecisão, ousou consertar suas convicções religiosas, colocando as boas obras como consequência da salvação e não como a causa dela. O filme prende a atenção do início ao fim, além de mostrar cenas e cenários de grande beleza. Elben César
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O cachorro imundo que salvou da morte uma adolescente de 16 anos Arquivo pessoal
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médica brasileira Cristiane Zambolim, 30 anos, participou do 21° Congresso Mundial de Cirurgia Cardio-Torácica, realizado em Berlim em junho de 2011. Ela apresentou dois trabalhos, um sobre ressincronização cardíaca em crianças com transposição corrigida de grandes artérias e outro sobre os 30 anos de cirurgia de estimulação artificial no Instituto do Coração em São Paulo. A jovem cardiologista é plantonista da UTI do Instituto do Câncer da Faculdade de Medicina da USP e está em treinamento no INCOR para ser cirurgiã de marcapasso, ressincronizador e cardio-desfibrilador implantável (dispositivos eletrônicos colocados no coração quando ele bate muito devagar, para tratar arritmia e insuficiência cardíaca). Quem olha para Cristiane e acompanha a sua caminhada bem-sucedida não pode nem imaginar que, há 17 anos, ela tinha poucas chances de continuar viva, por causa de uma rebelde anorexia nervosa. Seu estado era tão grave que foram necessárias duas internações hospitalares; a primeira, no Hospital da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, onde seus pais estudavam, e a segunda, no Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte. Mesmo com assistência especializada durante três meses, Cristiane não experimentava melhora alguma.
Cristiane no centro cirúrgico do Incor
Porém Deus não a deixou morrer. E o modo como ele a curou é curioso. O marco inicial de sua cura deu-se por meio de um cachorro imundo. E isso não é estranho para quem lê a Bíblia. São muito conhecidas as histórias da jumenta que falou a Balaão (Nm 22.28), dos corvos que levaram de manhã e à tarde pão e carne para Elias (1Rs 17.6), do grande peixe que engoliu e depois vomitou o profeta Jonas e daquele pequeno peixe de cuja barriga Pedro retirou um estáter para pagar o imposto do templo (Mt 17.27). (Veja essa história na pág. 64, contada pela própria Cristiane Zambolim.)
Todos comeram e ficaram satisfeitos
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mbora condene a gula, a Bíblia gasta muito mais tempo com notáveis providências alimentares. Os exemplos que chamam mais atenção são: a provisão do maná diário em quantidade farta durante os 40 anos de caminhada dos israelitas entre o Egito e a terra prometida — que “mana leite e mel”; a refeição (pão e carne) que era levada para o profeta Elias duas vezes por dia quando estava escondido de Jezabel numa caverna; as duas multiplicações de pães e peixes que Jesus realizou em benefício de grandes multidões — “todos comeram e ficaram satisfeitos”; e a refeição (churrasco de peixe e pão) que Jesus mesmo preparou e ofereceu aos discípulos em uma praia do mar
da Galileia, depois de uma noite de pescaria sem sucesso (Jo 21.1-14). Deve-se trazer ainda à memória o registro de que, logo após os 40 dias de jejum e tentação, os “anjos vieram a Jesus e o serviram” (Mt 4.11). Certamente, eles prepararam um banquete para Jesus, como o Bom Pastor fez para o salmista (Sl 23.5); e o pai da parábola, para o filho que retornou ao lar, quando estava morrendo de fome (Lc 15.17, 23). Todavia, o caso mais impressionante é a recomendação que Jesus fez a Jairo e a sua esposa para que providenciassem uma refeição para a filha de 12 anos que ele acabara de ressuscitar (Lc 8.55)! Setembro-Outubro, 2011
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Quando o medo de engordar supera o medo de morrer Cristiane Zambolim
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m 1994, eu estava com 16 anos, tinha 1 metro e 54 centímetros e pesava só 23 quilos. Sofria de anorexia nervosa, distúrbio alimentar cuja problemática principal gira em torno da imagem corporal. O medo de engordar era tão grande que superava o medo de morrer. Meu estado era tão grave que perdi a esperança de viver. Médicos inexperientes na área diziam que a morte era inevitável. Orava todos os dias, embora me parecesse que Deus estava muito distante. Pedia-lhe que me fizesse enxergar o quanto estava magra. Queixava-me da demora de Deus, pois a anorexia já durava dois anos e consumia a mim e a minha família. Certa ocasião, fomos visitar uma prima que tinha um cachorro da raça poodle, maravilhoso. Era o xodó da casa. O animal frequentava o “salão de beleza” toda semana e só comia carne de primeira. Tinha pêlos brancos, macios e sempre bem escovados, e dormia na cama da minha prima. Um dia, o cãozinho fugiu de casa e acabou acorrentado por um homem, que o deixou ao relento, sem água e sem comida. Atraído por uma recompensa, esse homem devolveu o cão à minha prima. Ele estava horrível: magro, esquelético, repleto de sarna e com os pêlos sujos e embolados; comia qualquer coisa que jogássemos para ele. O que mais me impressionou foi a aparência senil do cachorro, adquirida devido à tamanha caquexia.
Cristiane – a moça que Deus não deixou morrer
De repente, me vi naquele cão; como se ele fosse meu espelho. Senti-me como ele, enxerguei-me como ele: velha, magra, feia. Então, a minha cabeça deu uma reviravolta. A partir daquele momento comecei a melhorar. Deus usou um cachorro e me mostrou — e continua a mostrar — que o tempo dele é diferente do meu. Agora me lembro sempre daquela exortação de Jesus: “Não andeis ansiosos pela vossa vida [...] nem pelo vosso corpo” (Lc 12.22).
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Rubem Amorese
Bert Van ‘T Hul
O poder do evangelho N
este segundo semestre de 2011 participo, pela Passo a prestar atenção aos sinais à minha volta e décima vez, de um curso sobre Romanos. A percebo que, juntamente com os desânimos e descaminhos, primeira vez foi há uns 25 anos, com o pastor correm subterraneamente, quase imperceptíveis, muitas Dewey Mulholland, na Faculdade Teológica Batista de manifestações de poder: transformações tão profundas Brasília. Nessa oportunidade aprendi também a fazer que só posso chamá-las de “salvação”. Vidas renovadas “estudo indutivo”, método interpretativo ensinado por pelo poder do evangelho anunciado, compreendido, crido e Dewey para nos ajudar a caminhar com as próprias pernas vivido em fidelidade; salvação para todo o que crê. no estudo bíblico. Não sei se entendo bem, mas me parece que essas Depois disso, passei a formar turmas de estudo bíblico transformações têm uma medida: a medida da fé de quem em minha igreja conforme a necessidade. crê. Um evangelho light (baixos teores) tem Claro, estudamos outros livros da Bíblia. efeitos cosméticos. Quem pouco crê pouco Porém sempre volto a Romanos; agora na muda. Talvez por isso o evangelho chegue Quando o crente companhia do presbítero Alberto Diniz. mais “fraco” aos “judeus”, aos filhos da resolve crer com fé Minha motivação: cada vez mais acredito igreja, e mais “forte” aos desesperados operante e obediente, que o evangelho é “poder de Deus para a “gregos”, gente de fora. salvação de todo aquele que crê; primeiro A geração atual é, ao mesmo tempo, as transformações do judeu e também do grego” (Rm 1.16). consumidora, crítica e exigente. Talvez, por acontecem formando Essa convicção cresce na proporção inversa isso, tenha a tendência de “crer menos” uma escada de da aparente indiferença da sociedade em e de desanimar com as mazelas da igreja. santificação relação à igreja e da perplexidade da igreja Muitos perdem de vista o evangelho em relação à viabilidade de sua missão transformador e deixam de crer nele, evangelizadora. transformando-se, paradoxalmente, em Ouço vozes confusas. Há quem diga que a igreja cristã “crentes de igreja”. Triste rótulo. está com os dias contados; que sua mensagem tornouPorém, sou testemunha de que esse evangelho ainda se irrelevante para o homem pós-moderno; que ela se salva e transforma vidas e famílias inteiras. Quando o crente perdeu em seu “cristianismo”, em seu anseio por poder, (ou descrente) resolve crer (falo de mim) com fé operante prosperidade e sucesso (de audiência); e que na busca e obediente, crer em um evangelho genuíno (como este dessas coisas tornou-se sincrética e desprezível. Ouvi até exposto aos Romanos), então as transformações acontecem que ela quer responder a perguntas que não se fazem mais e se acumulam, formando uma escada de santificação. Sim, e que não tem respostas para as perguntas e os dilemas que de glória em glória. Até ser formada em nós a imagem do atormentam a alma moderna. Filho, a viver entre muitos irmãos (Rm 8.29). Não desejo contestar essas vozes. Concordo que vivemos dias difíceis. No entanto, quando volto a esse enunciado de Rubem Amorese é presbítero na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília, e foi professor na Faculdade Teológica Batista de Brasília por vinte anos. Antes de se aposentar, foi consultor Paulo, tudo se tranquiliza dentro de mim. E penso, em sã legislativo no Senado Federal e diretor de informática no Centro de Informática e Processamento consciência: sim, ainda hoje o evangelho é poder de Deus de Dados do Senado Federal. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e Liturgia e Fábrica de para a salvação. Missionários — nem leigos, nem santos. ruben@amorese.com.br
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