3º CONGRESSO LAUSANNE de Evangelização Mundial reúne mais de 4 mil pessoas na África do Sul
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FECHAMENTO AUTORIZADO. Pode ser aberto pelos Correios.
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NOVEMBRO-DEZEMBRO 2010 • ANO XLIII • Nº 327
SOFRIMENTO
“Quando não somos capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos”
RENÉ PADILLA MORDOMIA RESPONSÁVEL
PAUL FRESTON AÇÃO SOCIAL CRISTÃ: A HUMILDADE AMOROSA
RICARDO GONDIM SONHOS E UTOPIAS (IM)POSSÍVEIS Novembro-Dezembro, 2010
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A bertura
A obrigação
de levantar quem está indevidamente ajoelhado e de pôr de joelhos quem está indevidamente em pé
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uando Cornélio se encontrou com Pedro na entrada de Cesareia, o militar romano ajoelhou-se e curvou a cabeça diante do ex-pescador da Galileia. Imediatamente, Pedro fez com que ele se levantasse e disse: “Fique de pé, pois eu sou apenas um homem como você” (At 10.26). O ser humano não pode ser tratado como Deus por outro ser humano. Nem pode desejar tal coisa para si mesmo. Deus está acima de qualquer ser angelical e de qualquer pessoa. Está escrito: “Temam o Senhor, o seu Deus, e só a ele prestem culto” (Dt 6.13; Mt 4.11, NTLH). O verdadeiro cristão precisa aprender e executar duas artes gêmeas: a arte de levantar os que estão indevidamente ajoelhados e a arte de fazer ajoelhar os que estão indevidamente em pé. Ambas são difíceis e requerem sabedoria e coragem. Mesmo sob contínuas e exageradas palmas, o ser humano não pode esquecer-se de que é um ser humano. Mesmo gostando de colecionar muitos títulos e diplomas, muitas coroas e cetros, muita importância e dinheiro, ele não pode perder a cabeça nem aceitar qualquer tipo de veneração ou adoração reservada unicamente a Deus. A história bíblica e a história secular ensinam que as pessoas que se deixam glorificar como Deus podem ser vergonhosamente humilhadas, como aconteceu com Herodes Antipas I, que não sustou a impressão dos fenícios de que ele era um deus e não um
homem, provocando o juízo imediato de Deus. Esse Herodes, neto de Herodes, o Grande (que mandou matar as crianças de Belém), morreu comido de vermes dez anos depois da ressurreição de Jesus (At 12.23). O ensino bíblico é que ninguém deve se ajoelhar diante de qualquer figura, imagem, astro, anjo, ser humano canonizado, autoridade religiosa (como era o caso de Pedro) ou potestade do ar. A esperança cristã é que, pelo menos na plenitude da salvação, todos os joelhos se curvem diante de Jesus. Esse anelo percorre toda a Bíblia: “Todos os orgulhosos se curvarão na sua presença, e o adorarão todos os mortais, todos os que um dia vão morrer” (Sl 22.29). “Venham, fiquemos de joelhos e adoremos o Senhor. Vamos nos ajoelhar diante do nosso Criador” (Sl 95.6). “Juro pela minha vida, diz o Senhor, que todos se ajoelharão diante de mim e todos afirmarão que eu sou Deus” (Is 45.23 e Rm 14.11). “Deus deu a Jesus a mais alta honra e pôs nele o nome que é o mais importante de todos os nomes, para que, em homenagem ao nome de Jesus, todas as criaturas no céu, na terra e no mundo dos mortos, caiam de joelhos e declarem abertamente que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus, o Pai” (Fp 2.9-11). De ordem prática, nada é mais importante do que a obrigação de levantar quem está indevidamente ajoelhado e de pôr de joelhos quem está indevidamente em pé!
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ao leitor
fundada em 1968
ISSN 1415-3165 Revista Ultimato – Ano XLIII – Nº 327 Novembro-Dezembro 2010 www.ultimato.com.br Publicação evangélica destinada à evangelização e edificação, não denominacional, Ultimato relaciona Escritura com Escritura e acontecimentos com Escrituras. Visa contribuir para criar uma mentalidade bíblica e estimular a arte de encarar os acontecimentos sob uma perspectiva cristã. Pretende associar a teoria com a prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação social, a oração com a ação, a conversão com santidade de vida, o suor de hoje com a glória por vir. Circula em meses ímpares Diretor de redação e jornalista responsável: Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG Arte: Liz Valente Impressão: Plural Tiragem: 35.000 exemplares Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro Carlinhos Veiga • Marcos Bontempo Paul Freston • René Padilla Ricardo Barbosa de Sousa • Ricardo Gondim Robinson Cavalcanti • Rubem Amorese Valdir Steuernagel Notícias: Lissânder Dias Participa desta edição: Eunice Nalamele Chiquete Publicidade: anuncio@ultimato.com.br Assinaturas e edições anteriores: atendimento@ultimato.com.br Reprodução permitida: Favor mencionar a fonte. Os artigos não assinados são de autoria da redação. Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro da Associação de Editores Cristãos (AsEC) Editora Ultimato Telefone: (31) 3611-8500 Caixa Postal 43 36570-000 — Viçosa, MG Administração: Klênia Fassoni • Ana Cláudia Nunes Daniela Cabral • Ivny Monteiro • Lucas Rolim Menezes Luci Maria da Silva Editorial e Produção: Marcos Bontempo Bernadete Ribeiro • Djanira Momesso César Fernanda Brandão Lobato • Gláucia Siqueira Paula Mendes • Paulo Alexandre Lobato Finanças/Circulação: Emmanuel Bastos Aline Melo • Ana Paula Fernandes • Cristina Pereira Daniel César • Edson Ramos • Luís Carlos Gonçalves Rodrigo Duarte • Solange dos Santos Vendas: Lúcia Viana • Lucinéa Campos Romilda Oliveira • Sabrina Machado Tatiana Alves • Vanilda Costa Estagiárias: Jaklene Batista • Juliani Lenz 4
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Julien Hequembourg Bryan
A história pode ser perturbadora e terapêutica ao mesmo tempo
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té ler Em Busca de Sentido, quase nada sabia sobre Viktor Frankl. Agora, sinto-me impulsionado a tornar conhecida a experiência desse psiquiatra vienense em Auschwitz e em outros campos de concentração, de setembro de 1942 até o fim da Segunda Guerra Mundial, em abril de 1945. Sua história é ao mesmo tempo perturbadora e terapêutica. Perturbadora porque revela a extensão da maldade humana; terapêutica porque mostra o caminho da sobrevivência. Basta ler a declaração de Frankl, publicada em Who’s Who in America: “Vi o sentido da minha vida ajudando os outros a ver um sentido em suas próprias vidas”. Como prisioneiro, Frankl pergunta: “Como é possível que pessoas de carne e osso cheguem a infringir tamanho sofrimento a outros seres humanos?”. Como psiquiatra, ele responde: “Entre os guardas de um campo de concentração existiam sádicos por excelência, no sentido estritamente clínico, que eram escolhidos deliberadamente para compor os pelotões excepcionalmente rigorosos”. Os adultos e os jovens de hoje não conhecem a recente história dos horrores do antissemitismo e da Segunda Guerra Mundial. Os que dela participaram como causadores, vítimas ou expectadores, quase todos já morreram. Esse é o motivo da matéria de capa desta edição. Há exatamente 70 anos, entre o Natal e o Ano-Novo de 1940, a Alemanha nazista despejou 120 toneladas de explosivos de alta potência e 22 mil bombas incendiárias sobre Londres. Que neste ano, nossos votos de Feliz Natal e Feliz 2011 sejam mais honestos e agradecidos, e menos formais e secularizados. Tanto o nazismo na Alemanha na década de 1930 como o comunismo em Angola e Moçambique na década de 1970 transformaram o Natal numa festa nacional sem teor religioso. Hoje, a comemoração do nascimento de Jesus é muito mais consumista do que religiosa, independentemente de o governo ser de direita ou de esquerda. Tentemos resgatar a riqueza do cristianismo! Elben César Nota Com alegria, reafirmando o compromisso de Ultimato com a questão indígena, esta edição traz no exemplar do assinante o encarte Indígenas do Brasil. Há muitos dados novos sobre os desafios missionários para a igreja com relação aos indígenas. Se o seu exemplar não traz o encarte e você deseja recebê-lo, escreva para <indigena@amtb.org.br>.
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palavra “mas”, ou seus sinônimos (porém, contudo, todavia), é uma conjunção adversativa que liga dois termos ou duas orações estabelecendo uma ideia de contraste ou de oposição. Ela é muito usada pelos historiadores que contam um fato, logo a seguir contrabalançado por outro. De modo edificante e convincente, o médico e historiador Lucas, autor do Evangelho que leva o seu nome e do primeiro compêndio da história da igreja cristã, usa e abusa dessa conjunção, como vemos nos exemplos a seguir, retirados de Atos dos Apóstolos: Vocês mataram o Senhor, mas Deus o ressuscitou, livrando-o do poder da morte (2.23-24). Vocês prenderam os apóstolos e puseram guardas vigiando os portões, mas naquela mesma noite Deus abriu os portões e levou os apóstolos para o lado de fora da cadeia (5.17-26). Vocês crucificaram Jesus, mas o Deus dos nossos antepassados o ressuscitou e o colocou à sua direita como Senhor e Salvador (5.30-31). Vocês ficaram com tanta raiva dos apóstolos que resolveram matá-los, mas Deus levantou Galileu, um dos membros do Sinédrio e um mestre de grande respeito, que fez vocês mudarem de ideia (5.33-42). No passado, os irmãos de José o venderam para ser escravo no Egito, mas Deus estava com ele: livrou-o de todas as aflições e ainda usou esse acontecimento a bem do povo de Israel (7.9-16). Um de vocês, um moço chamado Saulo, muniuse de documentos oficiais e rumou para Damasco com autoridade para localizar e algemar homens e mulheres seguidores de Jesus e levá-los para as cadeias de Jerusalém; mas, próximo do trevo de Damasco,
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Jesus apareceu a ele e mudou repentinamente o rumo de sua vida (9.1-19). Vocês resolveram matar Saulo porque ele provava poderosamente que Jesus era o Messias. Assim, vocês colocaram vigias em todos os portões da cidade para ele não fugir com vida de Damasco, mas Deus frustrou os planos de vocês e Saulo escapou por uma abertura que havia na muralha (9.19-26). Por sua herança judaica, Pedro não podia fazer amizade com não-judeus e muito menos hospedar-se com eles, mas Deus lhe mostrou repetidamente que ele não deveria chamar de impuro aquilo e aqueles que ele havia purificado (10.1-48). Vocês mataram Jesus, pregando-o numa cruz, mas Deus o ressuscitou no terceiro dia e fez com que ele aparecesse a nós. E comemos e bebemos com ele (10.39-41). Vocês tiraram Jesus da cruz, o puseram num túmulo e ainda conseguiram que Pilatos mandasse uma guarda para impedir que alguns de nós violássemos a sepultura e roubássemos o corpo dele para simular uma ressurreição, mas Deus o ressuscitou e, durante muitos dias, Jesus apareceu a nós sem deixar dúvida de que estava vivo (13.27-31). Vocês sabem que Davi morreu, foi sepultado e apodreceu na sepultura, mas isso não aconteceu com aquele que Deus ressuscitou, nosso Senhor Jesus Cristo (13.33-37). Todas as passagens anteriores mostram sobejamente a soberania de Deus sobre tudo e sobre todos na história. Não só no passado, mas também no presente e no futuro. Não só com os primeiros seguidores de Jesus, mas também com os seguidores de hoje!
S umário
CAPA 20
Da linha de frente Sobre a dor, Bráulia Ribeiro
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O caminho do coração Simplicidade e permanência Ricardo Barbosa de Sousa
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Missão integral A formação de discípulos (parte 1) René Padilla
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Ética Ação social cristã: a humildade amorosa, Paul Freston
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Reflexão Brasil: um protestantismo neoanabatista?, Robinson Cavalcanti
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Sonhos e utopias (im)possíveis Ricardo Gondim Redescobrindo a Palavra de Deus Deus dá testemunho de si mesmo Valdir Steuernagel História Cristãos e política: uma relação imprescindível Alderi Souza de Matos Especial 3º Congresso Lausanne de Evangelização Mundial reúne mais de 4 mil pessoas na África do Sul Ponto final O veterinário, Rubem Amorese
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Como é possível sobreviver num campo de concentração?
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Viktor Emil Frankl: o salmista do século 20
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Uma palavra de Viktor Emil Frankl para animar os desalentados
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Galeria dos sobreviventes Mesmo à distância, fui obrigado a conviver com os horrores do antissemitismo e da Segunda Guerra Mundial
SEÇÕES 3 4 6 8 12 14 16 16 22 36 38 40 42 60
Abertura Carta ao leitor Pastorais Cartas Frases Mais do que notícias Números Notícias Nomes De hoje em diante... Novos acordes Altos papos Meio ambiente e fé cristã Caminhos da missão
ABREVIAÇÕES:
Leia mais
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AS21 - Almeida Século 21; BH - Bíblia Hebraica; BJ - A Bíblia de Jerusalém; BP - A Bíblia do Peregrino; BV - A Bíblia Viva; CNBB Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; CT - Novo Testamento (Comunidade de Taizé); EP - Edição Pastoral; EPC - Edição Pastoral - Catequética; HR – Tradução de Huberto Rohden; KJ - King James (Nova Tradução Atualizada dos Quatro Evangelhos); NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje; TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia. As referências bíblicas não seguidas de indicação foram retiradas da Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional.
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e crer que aqui “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que ama a Deus”. É urgente mostrar a eles a essência, o que realmente importa. Como diz Ricardo Gondim, “a juventude engana”. David Livingstone, Guarapuava, PR
Coração, juventude e fé Mais uma abençoada edição de Ultimato! Louvado seja Deus por esse trabalho. Muito interessante a pesquisa com os jovens, mostrando que, como igreja, precisamos dar respostas a eles. Infelizmente, vivemos respondendo perguntas que já não são mais feitas. A matéria abre os olhos para a importância de uma igreja que envolva essa moçada, contextualizando o evangelho de Cristo. Ensinar a essa geração o que diz a pastoral da mesma edição: focar sempre no final. Precisamos voltar a pregar sobre o futuro, sobre a esperança da vida eterna,
Achei interessante e de grande valor a edição de setembro/outubro de 2010. Como sempre, Ultimato traz assuntos importantes do meio evangélico. Como jovem, não pude deixar de dar uma atenção maior à matéria sobre a juventude evangélica atual. Fiquei motivado em saber que hoje muitos jovens têm assumido liderança em suas igrejas; isso é motivo de glorificação a Deus. A responsabilidade, o comprometimento com as coisas do reino de Deus é o melhor caminho a se trilhar para nos tornarmos cada vez mais santos e separados. Timóteo Santana, C. dos Goytacazes, RJ
Leonardo Boff Devemos orar muito pelo Boff. Ele é como uma pobre ovelha que se desviou do rebanho, não por causa da fome ou da sede, mas por causa da vaidade de sua sabedoria e acúmulo de
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conhecimentos que acabaram ofuscando sua fé, sua humildade e sua obediência. Ele se esqueceu que a sabedoria humana é fugaz e traiçoeira, que nos ensoberbece e envaidece. A Bíblia diz que “a sabedoria deste mundo é loucura aos olhos de Deus” (1Co 3.19). Se Boff compreendesse isso, ele seria não o Lutero do século 21, mas o Paulo de Tarso do século primeiro! É curioso notar que discursos como os de Boff brotam nos claustros dos mosteiros e nas celas dos conventos, onde se encontra terreno fértil e ocioso na mente de alguns intelectuais, ditos filósofos, teólogos, exegetas. Não surgem de um padre simples do interior, que faz o terço, se mortifica, faz novena, reza o ofício divino e ainda atende vinte ou trinta comunidades pobres. Em vez de críticas venenosas, precisamos subir o monte das Oliveiras para orar, parar junto ao poço de Jacó para ouvir e entrar na casa de Zaqueu para converter os pecadores. A igreja é uma instituição divina regida por homens pecadores. Quanto maior a instituição, maiores são as chances de perigos e abusos. Pe. Jaime Pinto, Barbacena, MG
Parabenizo Ultimato por publicar o artigo de Leonardo Boff. Concordo com a reflexão dele. É um chamamento feito à própria igreja, com a finalidade de nos fazer refletir e perceber que a verdadeira crise que a assola é interna. Infelizmente, os homens que detêm o poder e a governam fecham os olhos para isso. Está na hora de a igreja rever sua postura e sua forma de poder piramidal, pois não corresponde mais às necessidades do nosso tempo. Nesse sentido, é necessário à igreja dar um passo a mais, pois, do contrário, ela estará decretando sua falência. Sou religioso estigmatino. Pe. José de Amorim, Rio de Janeiro, RJ Gostei muito do artigo de Leonardo Boff — mais do que do infeliz comentário de Odayr Olivetti. A afirmação de que “ocasionalmente Deus levanta nas fileiras da Igreja Romana vultos assim [como os pregadores calvinistas fiéis]” cria um ar de superioridade, que o texto de Boff condena. Pedro Almeida, Itapecerica da serra, SP Fiquei impressionado com o comentário do historiador presbiteriano Alderi Souza de
Matos sobre o artigo de Boff. Todos que leem o teólogo “católico” sabem que ele não é muito alinhado às Escrituras. Porém, dizer que Boff é sincrético porque associa a fé cristã à ecologia é lamentável! As Escrituras, principalmente no Antigo Testamento, dão grande ênfase ao fato de que os hebreus associavam a fé à ecologia, isto é, ao cuidado com a terra. Será que Alderi pensa que a fé cristã é associável apenas aos credos, ritos, liturgias e instituições? Ora, toda a criação geme de dor pela manifestação dos filhos de Deus, quando ela mesma “será libertada da escravidão da decadência em que se encontra” (Rm 8.21). Fabiano Alves, Belo Horizonte, MG
Lugar de encontro Recebo Ultimato há vários anos. Sempre leio a revista toda e quero externar minha satisfação, especialmente com as últimas edições. Destaco a profundidade dos artigos e a abertura de mente, sem proselitismo e sem ataques às outras designações e opções religiosas. Ultimato está se tornando um espaço de debates e estudos para que haja mais
entendimento e uma busca sadia por mais união e ecumenismo. A edição de setembro/ outubro trouxe ótimos artigos, como o de Leonardo Boff, Robinson Cavalcanti, Ricardo Gondim, Valdir Steuernagel, Alderi Souza de Matos e Odayr Olivetti. Que a revista se torne um lugar de encontro das diversas tendências para a unidade cristã para um mundo melhor. Ernesto Casiraghi, Barra Mansa, RJ
Grande Comissão John Stott, em 1966, concordava que a exclusividade da missão era pregar, converter e ensinar. Dez anos depois, reconheceu que a ação social também faz parte da Grande Comissão. Jesus diz: “Como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21). Ele é o modelo. O Senhor não veio apenas buscar e salvar os perdidos (Lc 19.10), mas também servir no mundo. Ele alimentou famintos, curou enfermos, abençoou crianças, ajudou mulheres, ministrou a leprosos e até ressuscitou mortos. Richar Hoover, Pindamonhangaba, SP
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Voz do que clama no deserto Conheci Ultimato por meio do meu pastor e desde então sou assinante. A revista tem sido um canal de Deus para mim, pois sou um jovem presbítero de 33 anos e pastor de uma igreja Assembleia de Deus. Ultimato tem me ensinado sobre questões sociais, políticas e religiosas. Continuem sendo a voz do que clama no deserto. Alexandre Leonardo, Nova Iguaçu, RJ
Além do aborto A igreja brasileira não pode discutir nas eleições apenas o aborto. Não discutimos outros temas importantes para o país; parece que somos usados na época das eleições para “santificarmos” um candidato e “demonizarmos” outro. Infelizmente, isso é perceptível até em articulistas experientes. Parece que sabemos tocar apenas “samba de uma nota só”. Deixemos a ingenuidade para os tolos! Pr. Adauto Cangussu, Vinhedo, SP
O bem e o mal
A xenofobia é uma estratégia da oposição. Nos últimos meses, multiplicou-se uma onda de difamações contra as campanhas do PT e seus aliados. A oposição escolheu incluir nas redes ligadas aos sistemas religiosos, basicamente cristãos católicos e evangélicos, a velha disputa entre bem e mal. Para assombrar as massas religiosas, suscitam temas polêmicos à moral cristã, como aborto, homossexualismo, ateísmo, perda das liberdades e satanismo. Claro, nem todos os cristãos estão envolvidos. Em ambas as tradições há repúdios explícitos à desinformação e à proliferação de informações inverídicas nessas eleições. Não é a primeira vez e não será a última. O essencial é saber do agravante, a dose xenófoba, o medo do desconhecido mascarado de aversão e a difusão do preconceito no entorno das manifestações de líderes e igrejas cristãs. Há exemplos no passado: inquisições, nazi-fascismo, racismo,
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apartheid. É desnecessário descrever o que é verdade ou mentira, pois as calúnias sem sustentação se revelarão com o tempo, restando a vergonha aos que, em nome de Deus, serviramse desses artifícios. A xenofobia é abominável. É utilizar-se de uma suposta “pureza” para eliminar as “impurezas” de um determinado grupo ou sociedade, abstraindo-se de qualquer senso crítico, criando estereótipos e ódio na sociedade. Pr. Luis Sabanay, Brasília, DF
Pedófilos lá e cá Não é somente a Igreja Católica Romana que tem líderes religiosos pedófilos; a igreja evangélica também os tem. É preciso perguntar o que leva uma organização qualquer, que se diz seguidora de Cristo, a ter tantos predadores em seu meio. Como Ultimato é uma revista do meio evangélico, cabe a ela apresentar e discutir tal questão. Dilys Rees, Goiânia, GO
PT – O partido que nunca foi governo
O PT é governo sim. Há 8 anos governa com o patológico PMDB. O bispo Robinson logra o leitor separando o lulismo do petismo. Tal qual o peronismo, o chavismo e o castrismo, o lulismo é a mutação degenerada populista de um partido. Porém, ainda representa a essência partidária. Não sei como um artigo tão tendencioso foi parar na revista. Ou desejo não saber. Espero que no futuro Ultimato siga as instruções que o articulista escreve na última linha: “orar, discernir e intervir”. André Sena Pereira, Cachoeiro de Itapemirim, ES O termo lulista foi acertadíssimo, pois Lula é bem maior que o PT. Com a saída da liderança do PT, após sucessivos escândalos, seria natural o preenchimento dos espaços com a base aliada; só sobraram eles. A partir daí o que se viu foi a festa da democracia, em que os capitalistas mais flexíveis e adaptáveis às rápidas mudanças características de um mundo globalizado
ficaram mais ricos, os que não tiveram esse dinamismos ficaram mais pobres, os pobres compraram celular, comeram mais carne e compraram carros velhos, a classe média comprou carros zero e financiou suas casas; isso não podemos negar. Excelente texto. Victor Lux, Campo Grande, MG
Homônimas? O artigo Pesquisa revela luta de missionários contra pecados sexuais (“Notícias”, setembro/outubro de 2010) menciona que a Columbia Biblical Seminary and School of Missions pertence à Universidade de Columbia. Porém, a faculdade pertence à Columbia International University. Apesar do nome coincidente, não se trata da mesma instituição. Confira: www.ciu.edu. Bruno Ferreira, São Paulo, SP
Errata
— O nome correto do instituto citado no artigo Um retrato da juventude evangélica (setembro/outubro de 2010) é Bertelsmann Stifung.
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hipocrisia é um elemento intrínseco da dinâmica civilizada. Negar o caráter universal da hipocrisia é fundar um novo tipo de má-fé, mais falsa ainda, porque se traveste de pureza d’alma. Luiz Felipe Pondé
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tempo de conhecer o Deus que está mais interessado em nossos afetos do que em nossos feitos, mais atento ao nosso caráter do que aos nossos discursos. Osmar Ludovico da Silva
“O
”
“A
“A
”
”
recisamos nos lembrar sempre de que somos interdependentes. Ninguém é inteiramente autossuficiente. Desmond Tutu, arcebispo anglicano sul-africano
“O Matthias Asgeirsson
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ara o cristianismo, é impossível estruturar uma compreensão das origens, desenvolvimento ou destino humano sem alguma referência a Deus. Alister E. McGrath, teólogo e escritor, autor de O Delírio de Dawkins
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mídia é mantida por seres humanos e eles adoram dinheiro. O papelmoeda transmite a sensação de bem-estar, de felicidade. E a imprensa existe com o propósito maior de agradar, falar o que o povo quer ouvir. Lúcio Sant’Ana, jornalista
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dependente de crack deve receber apoio social e deve ser tratado com critérios semelhantes aos que usamos no caso dos hipertensos, dos diabéticos, dos portadores de câncer, Aids e outras doenças crônicas. Drauzio Varella, médico
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fato de ser humano significa ter e reconhecer limites e defeitos para, inclusive, tentar superá-los. Rosely Sayão
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fé é um dom que devemos agradecer a Deus. Ela nos faz superar a escuridão da vida e as dificuldades. Dom Eusébio Scheid, arcebispo emérito do Rio de Janeiro
orgulho científico entorpece a mente dos pesquisadores, fazendo-os desprezar aquilo que desconhecem. Marcus Zulian Teixeira, pesquisador da faculdade de medicina da USP desconfiança é o fermento do descompromisso. A confiança é fértil; a desconfiança, estéril. Emílio Odebrecht
“P
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Wagner Moraes
”
“D
o dia para a noite você consegue encher um templo ou um estádio de gente. Basta dizer o que a pessoas gostam de ouvir. O assunto pecado [por exemplo] é antipático e tem sido evitado, mas é real, assim como são reais o céu e o inferno. Antônio Gilberto da Silva, consultor teológico e doutrinário da CPAD
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“A
s águas correm em direção à separação [de um casal], e remar contra a maré é para a minoria. J. B. Libânio, teólogo jesuíta
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+ DO QUE NOTí C IAS
Embora amarrado, Jesus nunca esteve tão desamarrado 400 mil como na Sexta-Feira reais no da Paixão! pulso esquerdo
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uriosamente, Isaque foi amarrado no monte Moriá por Abraão e colocado sobre o altar (Gn 22.9), e Jesus foi amarrado no Getsêmani pelos soldados romanos (poder civil) e pelos guardas do templo (poder religioso), sob as ordens de um comandante militar (Jo 18.12). Isaque, após a intervenção de Deus, foi logo desamarrado. Jesus caminhou amarrado do jardim à casa de Anás e da casa de Anás à casa de Caifás (Jo 18.24). É provável que ele continuasse amarrado quando percorreu o caminho da casa de Caifás ao Pretório, do Pretório ao palácio de Herodes e do palácio outra vez ao Pretório. Ele teria se apresentado amarrado tanto a Pôncio Pilatos como a Herodes Antipas. Talvez o Senhor só tenha ficado livre das cordas quando, pouco antes das nove horas
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da manhã, precisou de mãos soltas para carregar a própria cruz, do Pretório ao Calvário. Porém, ao chegar ao Lugar da Caveira, suas mãos foram presas outra vez — não amarradas uma na outra como antes, mas pregadas ao madeiro. A julgar pelas aparências, todo o quadro, do jardim das Oliveiras ao jardim da casa de José de Arimateia, mostra Jesus amarrado e Satanás desamarrado. Porém, o que aconteceu naquela sexta-feira lúgubre foi exatamente o contrário. Jesus nunca esteve tão desamarrado e Satanás nunca esteve tão amarrado como naquele período de, no máximo, doze horas! A vitória de Jesus estava escondida por trás daquelas cordas. É por isso que ele havia dito poucos dias antes: “Quando eu for levantado (na cruz), atrairei todo o mundo a mim” (Jo 12.32, BV). Nesse dia, Jesus foi elevado
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e Satanás, abaixado, como se lê: “Agora o príncipe deste mundo será lançado abaixo” (Jo 12.31, BJ). Os cristãos apenas de tradição, que não conseguem crer na natureza divina de Jesus, na morte expiatória, na gloriosa ressurreição e no poder que ele tem de submeter todos os poderes aos seus pés — enxergam um Jesus física e figuradamente amarrado e o príncipe deste mundo completamente desamarrado. Nesse caso, não vale a pena alguém pensar ou afirmar que é cristão. E como a maior parte da pregação do evangelho feita hoje não tem o objetivo de gerar convicção do pecado, nem da justiça, nem do juízo (Jo 16.8), mas de prometer cura e prosperidade, aumentar o número de fiéis e arrecadar dízimos e similares — a quantidade de pseudo-cristãos tem aumentado como nunca.
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m junho de 2010, quarenta brasileiros da alta sociedade foram convidados pelo dono de uma joalheria do Rio de Janeiro para um jantar no Olympe, um dos restaurantes mais caros da cidade. Todos eram compradores em potencial de um relógio suíço que custa 400 mil reais. Se todos tiverem efetivado a compra, foram gastos 16 milhões de reais. A caixa do relógio é de ouro, com rubis na parte posterior. O alarme avisa horas, minutos e segundos, com sonoridades distintas.
+ DO QUE NOTí CIAS
Tempo para ver o sol se pôr e a maré subir!
Os que param no meio do caminho
A Patrizio Martorana
falta de continuidade, em qualquer área da vida, é um problema sério. No que diz respeito à escolaridade do eleitor brasileiro, a porcentagem dos que começaram o ensino fundamental e não terminaram é de 33,1 (contra 7,6). Os que começaram o ensino médio e não chegaram ao final é de 18,9 (contra 13,2). E os que começaram algum curso
mas não menos ocupados”. À vista disso, a psicanalista recomenda: “Proponho inverter o jogo: roubar o tempo poupado pelas máquinas para voltar ao ritmo da vida real. Sempre que possível, quero ver o sol se pondo. Não quero ser submetida ao pôr-do-sol editado. Quero esperar a maré subir. [...] Vamos roubar tempo para voltar a viver, um pouco que seja, a hora de 60 minutos, fazendo” (Folha de S. Paulo, caderno “Equilíbrio”, 08/06/2010.
Blas Lamagni
É
a psicanalista Anna Verônica Mautner, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, quem denuncia: “A economia quer que eu use muitos aparelhos para que o mercado fique aquecido e em movimento”. Entre eles, ela menciona o micro-ondas, o forninho, o liquidificador, a batedeira, a máquina de lavar louça, o freezer e a secretária eletrônica. Usamos tais aparelhos para trabalhar por nós e para que nos sobre tempo. Na prática, “ficamos mais passivos,
superior e não se formaram é de 2,7 (contra 3,8). Isso lembra a enorme quantidade de discípulos de Jesus que o abandonaram algum tempo depois de terem se aproximado dele — problema que faz parte da história do cristianismo. Costuma-se dizer que o número de ex-crentes é maior do que o número de crentes arrolados hoje em diferentes igrejas e denominações.
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N OTíCIAS Por Lissânder Dias
brasileiros ainda são pobres, com renda familiar per capita abaixo de 130 reais.
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caminhões cheios de mercadorias (televisores e máquinas de lavar) roubadas após o terremoto no Chile foram devolvidos “espontaneamente” depois da ameaça policial.
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habitantes da zona rural migram para os centros urbanos da Ásia a cada dia. A população urbana mundial deverá passar dos atuais 50% para 70% em quarenta anos.
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viúvas brasileiras entre 15 e 19 anos recebem pensão pela morte do esposo idoso ou aposentado. Segundo os especialistas, “os números levantam a suspeita de que podem estar ocorrendo casamentos forjados para assegurar às famílias a manutenção do benefício após a morte do aposentado”.
7.000.000
de dólares são gastos a cada ano pela prefeitura de Los Angeles na remoção de grafites.
300.000
bebês poderiam ser salvos da morte todos os anos com técnicas de reanimação neonatal. Só no Brasil, diariamente, quinze recém-nascidos morrem de asfixia na primeira semana de vida. 16
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Psicólogos e psiquiatras cristãos vão sentar-se no divã Quem se acostumou a aconselhar pessoas agora vai sentar-se no divã e avaliar sua própria atuação no uso do poder. O título “Subjetividade e poder nas relações humanas — a vida e atuação do profissional de ajuda”, reflete a principal temática do 17º Congresso Nacional do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC), que acontece de 21 a 24 de abril de 2011 em Brasília, DF. Paralelamente, ocorrerá um encontro latinoamericano de profissionais da área. “Escolhemos aliar o tema do poder com a situação de um ‘profissional de ajuda’, como é o caso de psicólogos, psiquiatras e também pastores, para investigar como as relações de poder traspassam as relações de ajuda, para bem e para mal”, explica o presidente do CPPC, Karl Kleper. O segundo dia do congresso será dedicado a seminários sobre os mais diversos assuntos, como: “Poder e misericórdia”, “Consumo de álcool e seus efeitos sobre a sexualidade”, “Cuidados no envelhecimento” e “A morte como dinâmica da vida”. A expectativa é receber pelo menos duzentas pessoas que poderão ouvir mais de vinte palestrantes. Entre eles os argentinos, doutores em psiquiatria, Carlos Hernandéz e Ricardo Zandrino. Qualquer pessoa pode participar. Informações: www.cppc.org.br.
Martinho Lutero terá jardim na Alemanha A Federação Luterana Mundial (FLM) apresentou em julho deste ano o projeto de construção do Jardim de Lutero, que será finalizado em 2017, por ocasião da comemoração dos 500 anos da Reforma Protestante. O projeto arquitetônico, marcado por referências a números da Bíblia e da Reforma, será um parque para caminhadas, passeios e lazer. Serão plantadas quinhentas árvores. No centro, o monumento Rosa de Lutero terá 40 metros de diâmetro e uma cruz como ponto de referência. Árvores provenientes de todos os continentes formarão um jardim oval, com uma elipse de 70 metros de largura e uma distância de 95 metros (as 95 teses de Lutero) de seu foco. O Jardim de Lutero está sendo construído onde no passado estavam as fortificações da cidade alemã de Wittenberg, local em que o monge fixou suas 95 teses no dia 31 de outubro de 1517. “As raízes das quinhentas árvores irão se firmar, seus galhos estender-se-ão mundo afora, como aconteceu com os ensinamentos de Lutero”, empolga-se o pastor luterano Heitor J. Meurer. Para conhecer o projeto na íntegra, acesse www.luthergarten.de.
Sarah Barth
29.900.000
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Indígenas assumem desafio de traduzir a Bíblia Mais de cem indígenas de 59 etnias brasileiras se reuniram de 29 de agosto a 3 de setembro, junto com outros cem missionários não-indígenas, no 1º Fórum Grupo de trabalho no 1º Brasileiro Sobre o Fórum Brasileiro Sobre o Uso Uso das Escrituras das Escrituras em Línguas Indígenas em Línguas Indígenas, em Anápolis, GO. No documento final intitulado “Carta de Anápolis”, os indígenas se comprometeram a “promover a tradução da Bíblia para todos os povos que não a possuem”. O Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas (CONPLEI) designou Leonízia Gama, da etnia Tukano, para liderar as ações de tradução. Os indígenas presentes no fórum também assumiram o esforço de apoiar a educação teológica e secular de indígenas e “de lutar por uma sociedade mais justa, democrática e igualitária”. Segundo o Relatório Etnias Indígenas Brasileiras, publicado em 2010, há 181 línguas indígenas no Brasil. Hoje, 58 delas possuem porções bíblicas, o Novo Testamento ou a Bíblia completa em seu próprio idioma — material que serve a 66 etnias.
Evangélicos fazem campanha contra resolução da ONU A campanha Free to Believe (livres para crer), da Missão Portas Abertas Internacional, está reunindo pela internet assinaturas de cristãos de todo o mundo contra a Resolução de Difamação Religiosa, que deve ser submetida à votação em dezembro deste ano na assembleia geral da ONU. Segundo a Portas Abertas, a resolução é uma estratégia da Organização da Conferência Islâmica, que pretende legitimar as ações de governos islâmicos contra minorias religiosas. A Conferência Islâmica, que compreende 57 países, lançou a proposta ainda em 1999 e insiste para que ela seja aprovada. “Os direitos humanos são exatamente isso — direitos pertencentes a indivíduos —, mas essa resolução procura dar esses direitos a uma religião específica. Ela vai contra a lei dos direitos básicos que existem para proteger os seres humanos, não as crenças religiosas ou os sistemas”, diz o texto da campanha. Citando exemplos de perseguição a cristãos pelos governos do Sudão e do Paquistão, a página da campanha Free to Believe na internet oferece recursos, como apresentação em PowerPoint, vídeos, arquivos para marca-página e adesivos. Os interessados podem participar até 22 de novembro. Informações: www. portasabertas.org.br/freetobelieve. 18
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LI N HA DE F R ENT E
Bráulia Ribeiro
Sobre a dor
Deus está no meio da dor. Porém, ele não se alegra nela nem a planejou
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nquanto o fagote avança no lúgubre primeiro movimento da Sinfonia 6 de Tchaikovsky, a melodia da dor vai se desenhando. A vida ainda se debate na valsa propositalmente desequilibrada do segundo movimento e na marcha do terceiro. Vida à procura de sentido, de equilíbrio. A vida na dor finalmente cede à morte no quarto movimento e vai se esvaindo até o silêncio. Picasso brinca com o rosto humano e o descobre torto, desconexo. Então pinta “Guernica”, o quadro da dor da guerra, no qual homens e animais, aos pedaços, se debatem no lençol negro da incompreensão. O sol é uma lâmpada sem força. Não há outra expressão além da dor soberana, e as gentes que se entregam à morte. A dor transforma o homem; porém, ainda
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bela, nos comove e vai comover as gerações que virão. Na intensa prova do Ironman em Kona, os corpos perfeitos das primeiras horas da chegada dão lugar à beleza da resistência. Os triatletas renomados chegam oito horas depois do início. Porém, não são eles os heróis. Até à meia-noite, dezessete horas depois do início da corrida, os vitoriosos são esperados. Alguns chegam mancando, mal conseguindo caminhar; outros, correndo com as forças finais que não sabiam que tinham. Coloco-me num lugar escuro do percurso, antes da virada dos últimos quatro quilômetros, e com a voz embargada grito “você vai chegar!” para o para-atleta com pernas mecânicas em cima de lâminas, ou para a velhinha claudicante. A pintura no chão diz: “compromisso são 260.3 quilômetros”. Eles finalmente passam pela chegada em estado de êxtase. O cansaço e a dor como uma droga os impulsionando para frente. Alguns desmaiam, vomitam. A voz do locutor grita: “Sandra Smith, de 58 anos, você é um Ironman!”. E ali, na intensidade da dor do máximo esforço, eles sabem que venceram. O importante no Ironman não é chegar primeiro. É simplesmente chegar. Cada um vencendo a si mesmo. O sobrevivente do câncer, o jovem que perdeu as pernas, a mulher obesa que perdeu quarenta quilos, o pai que perdeu o filho. Todos são campeões e celebrados como tais. E todos sabem que sem dor na vida não há vitória. Muitos creem em um Deus compatível com a dor. Seu plano superior justifica tudo e a dor como
um mal menor cede lugar à glória do final, a glória inescrutável do divino que triunfará. Deus está no meio da dor. Porém, ele não se alegra nela nem a planejou. A Bíblia não nos mostra um Deus impassível, mas o inspirador da “Guernica”. Seu coração se contorce em dores, diz o profeta chorão ao descrevêlo. Vem o Filho e encarna a descrição profética mostrando-nos o rosto, o corpo, o coração da dor na cruz. Não há dor maior do que a da rejeição suprema àquele que era o amor supremo. Como o Deus da cruz pode ser impassível? Mel Gibson criou no filme A paixão, a teologia visual do sofrimento. “Em toda a angústia deles, foi ele angustiado” (Is 63.9). A dor que a humanidade se autocausou em sua rebelião, sempre foi dele também. Todo o universo sofre nosso pecado. Porque Cristo dói, a dor humana é bela como a Sinfonia 6. Certa amiga perdeu dois de seus três filhos. Encontro com ela depois da morte do segundo, muda, sem saber o que dizer. Ela se queixa do abandono. Ninguém a visita. Além dos filhos, perdeu os amigos. A morte incomoda. Ela diz que as pessoas não sabem como se portar diante da dor que ela carrega e se afastam. Até os cristãos têm medo do contágio da dor, como uma lepra. — “Por quê? A dor é minha, não é deles”, ela diz. — “Não, amiga. Ela é de todos”. Mas um dia, como os Ironman, cruzaremos com dor a linha de chegada para contemplar a vitória de estar com ele. Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua família e está envolvida em projetos internacionais de desenvolvimento na Ásia. É autora de Chamado Radical. braulia.ribeiro@uol.com.br
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Arquivo pessoal
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A carta não enviada, mas publicada
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a década de 1970, Guilherme Luz era cercado por sete mulheres: a esposa e seis filhas. Ele precisava de uma memória de elefante para não trocar os nomes. A esposa chama-se Ivonete; as filhas, Luzia, Yonne, Ivete, Ionete, Iete e Inete. Além delas, havia os filhos Paulo, Afonso e Marcos. O cônego anglicano Benedito Guilherme Ferreira Luz, de 80 anos, e Ivonete, de 74, casaram-se em janeiro de 1957, há quase 54 anos. Por ocasião de seu 80º aniversário, em outubro, “pressentindo que se aproxima o dia da minha viagem para a cidade do repouso eterno”, escreveu, mas não enviou, uma carta à esposa e aos vários filhos, genros, netos e bisnetos. A carta começa com a citação do melhor texto sobre decrepitude e morte jamais escrito: “A vida vai se acabar como uma lamparina de ouro cai e quebra, quando a sua corrente de prata se arrebenta, ou como um pote de barro se despedaça quando a corda do poço se parte. Então o nosso corpo voltará para o pó da terra, de onde veio, e o nosso espírito voltará para Deus, que o deu” (Ec 12.6-7, NTLH). Em seguida, há um recado para Ivonete: “Como se passaram depressa os dias, desde quando constituímos família até os dias de hoje! Coisas tão bonitas aconteceram conosco e nós não nos apercebemos delas! Quantas vezes o Deus eterno falou aos nossos corações: ‘Descansem um pouco, separem um tempinho só para
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vocês! Eu não quero vocês cansados e estressados!’. Nós, porém, não obedecemos. Milhares de manhãs ensolaradas descortinaram belezas deslumbrantes de dias felizes que vivemos e nós não nos demos conta. Poucas vezes, porém, nuvens escuras toldaram nossos céus e entenebreceram nossos crepúsculos, nossos olhos de albinos se abriram no meio da noite e viram apenas as feiuras e os defeitos! Antes que a ‘lamparina de ouro’ caia e se quebre, quero te pedir perdão por todas as vezes que, mesmo sem querer, fui injusto contigo, te magoei, te feri, te fiz sofrer. Oh! Minha amada, minha esposa, minha companheira de mais de meio século de vida, eu te amo e sempre irei te amar!”. Depois dessas confissões e declarações de amor, o padre anglicano dirigiu-se aos descendentes da primeira, da segunda e da terceira gerações: “Lamento não ter sido um bom exemplo de esposo, pai, sogro, avô e bisavô. Deploro tê-los decepcionado tantas vezes. Tenho sido omisso ante a superficialidade da vida que alguns de vocês têm levado. Não os tenho incentivado à busca de uma vida plena, que só pode ser realizada no entendimento e na práxis do discurso de Cristo: ‘Eu vim para que tenham vida e vida com abundância’ (Jo 10.10). Vida em abundância é a disposição de rebentar os grilhões do egoísmo e da dureza de
coração que nos impedem de perdoar e de condescender. É o ato de romper com toda a soberba e orgulho que nos faz pensar que somos superiores, quando, na verdade, apenas escondem nossa inferioridade e mesquinhez. Estou convencido de que a vida abundante é muito difícil, talvez impossível de ser vivida plenamente aqui na terra, pois implica autodoação, renúncia, desprendimento, práticas de atos de justiça e ausência de erros. Não obstante, sua característica utópica deve ser sonhada, tentada e buscada. Não sou e nunca pretendi ser um santo. Também jamais fui um vilão. Apesar de meus esforços racionais, na busca e investigação constante da verdade, e embora desejasse ser justo, bom, puro e perfeito, senti minha incapacidade para tanto, vi em mim apenas erros, fraquezas, limitações e descobri não poder ser nada mais do que um homem. Antes que “o pote de barro se despeda[ce]”, necessito do doce perdão de vocês. Perdão por não saber expressar o grande amor que sempre cultivei por vocês. Perdão por todas as vezes que fui infiel, injusto, ingrato, intolerante, incapaz, egoísta, ausente, omisso e fraco. E na certeza de que já recebi o perdão de Deus e de vocês, sinto-me feliz em poder cantar, desde agora, com todas as forças, o Nunc Dimittis, do velho Simeão (Lc 2.29), e descansar em paz!”. Na internet Da descrença quase total para o ministério da Palavra, por Guilherme Luz. (Edição de julho/agosto de 2000.)
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Como é possível sobreviver num campo de concentração?
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omo é possível acomodar, em cada uma das três camas de tábua de um triliche, nove prisioneiros deitados de lado, um atrás do outro? (Qualquer metrô transporta, no horário de pico, no máximo 9,8 pessoas em pé por metro quadrado.) Como é possível manter o organismo vivo com 300 gramas de pão e um litro de sopa por dia durante meses a fio?
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Como é possível realizar trabalhos braçais ao relento, sem luvas e agasalhos apropriados, se o termômetro marca 20 graus abaixo de zero? Como é possível não explodir de raiva ao ver o capataz com luvas grossas e casaco de couro forrado de peles? Como é possível ficar mais de trinta meses sem escrever e receber cartas? Como é possível conviver, em barracos superlotados, com pessoas até então estranhas, de vários países da Europa, com idiomas e comportamentos diferentes e com profissões e níveis diversos? (Certa ocasião havia 1.100 prisioneiros numa cobertura que comportava, no máximo, duzentas pessoas.)
Como é possível suportar “a mais inconcebível falta de higiene” por causa do acúmulo de gente e da ausência ou escassez de vasos sanitários apropriados? Como é possível continuar vivo apesar da saudade de pessoas, coisas e acontecimentos, dentro de um cercado de arame farpado, com fios de alta tensão, torres de vigia e holofotes acesos a noite inteira? Como é possível não se desesperar por completo se, do lado de fora, em dois barracões, estão quatro grandes câmaras de gás venenoso e se quase todo o dia se vê a fumaça que sai da chaminé do forno crematório levando consigo as cinzas dos que ontem estavam no mesmo barracão? Como é possível lidar com a sensação de estar andando atrás de seu próprio
Samuelson, Lt. A. E.
cadáver, de ser um cadáver vivo, de ser uma partícula numa massa de carne humana cercada por todos os lados? Como é possível não ceder à tentação do suicídio, não satisfazer a vontade de “ir para o fio” (agarrar-se à cerca elétrica para morrer)? Como é possível sujeitar-se à morosidade do tempo se, num campo de concentração, “um dia demora uma semana”? Como é possível não perder a identidade própria depois de ser despojado de todos os documentos, de todos os bens e até de nome e sobrenome em troca de um mero e comprido número?
Como é possível não perder a autoestima sem ver o próprio rosto no espelho durante dois anos e meio? O austríaco Viktor Emil Frankl, nascido em Viena cinco anos depois do século 19 e morto na mesma cidade três anos antes do século 21, conseguiu passar por cima de todos esses impossíveis. Antes de ser levado para o campo de concentração de Theresienstadt em setembro de 1942, Frankl, aos 37 anos, já tinha um doutorado em medicina e era um conhecido e respeitado neurologista e psiquiatra. Depois de passar por outros campos de concentração, inclusive Auschwitz, e ser libertado pelo exército americano em abril de 1945, Frankl tornou-se chefe do Departamento de Neurologia do Hospital Policlínico de
Viena e doutorou-se em filosofia. Valendo-se de sua própria experiência, fundou a logoterapia, muitas vezes chamada de “terceira escola vienense de psicoterapia” (depois da psicanálise de Freud e da psicologia individual de Adler). Em seu mais famoso livro (Em Busca de Sentido, com mais de 9 milhões de exemplares vendidos), Viktor Frankl explica a razão de sua sobrevivência: “Não há dúvida de que o amor-próprio, quando ancorado em áreas mais profundas, espirituais, não pode ser abalado por uma situação de tremendo sofrimento”. Foi por isso que ele escreveu também o não menos famoso A Presença Ignorada de Deus. Novembro-Dezembro, 2010
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Viktor Emil Frankl
o salmista do século 20
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psicóloga clínica Izar Aparecida de Moraes Xausa, coordenadora da comissão científico-tecnológica do Serviço Interconfessional de Aconselhamento (SICA), em Porto Alegre, pode estar exagerando ao chamar o psiquiatra Viktor Emil Frankl de “o salmista do século 20”. Porém, ela tem diversas razões, já que há uma coincidência entre a sede de Deus expressa nos Salmos e a redescoberta dessa mesma dependência na experiência, nas abordagens psicológicas e nos livros de Frankl. Sem constrangimento algum, o salmista confessa sua sede interior de Deus. No Salmo 42 (Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo), no Salmo 63 (Ó Deus, tu és o meu Deus, eu te busco intensamente; a minha alma tem sede de ti! Todo o meu ser anseia por ti, numa terra seca, exausta e sem água), no salmo 84 (A minha alma anela, e até desfalece, pelos átrios do Senhor; o meu coração e o meu corpo cantam de alegria ao Deus vivo) e no Salmo 143 (Estendo as minhas mãos para ti; como a terra árida, tenho sede de ti). Viktor Frankl, por sua vez, garante que sobreviveu aos campos
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de concentração por causa de sua fé pessoal em Deus, que lhe dava e mostrava o sentido da vida. Izar lembra que, “num dos primeiros discursos públicos depois da guerra, Frankl testemunhou o poder sustentador da fé num Deus pessoal e vivo”. Ele poderia parafrasear Davi na situação difícil em que este se encontrava: “Todo o meu ser anseia por ti nesse campo de concentração, sem nome, sem família, sem consultório, sem cartas, sem livros, sem nada”. Outro comportamento coincidente entre o salmista do século 10 antes de Cristo e o salmista do século 20 depois de Cristo é que ambos olhavam para as alturas. O salmista da Bíblia proclama: “Levanto os meus olhos para os montes e pergunto: De onde me vem o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra” (Sl 121.1-2, NVI). Gordon W. Allport, ex-professor de psicologia de Harvard, ousa dizer que, por terem transformado tudo, em especial a psicologia profunda, em “psicologia das alturas”, os estudos de Viktor Frankl deram origem ao “movimento psicológico mais importante de nosso tempo”. Tanto os médicos como os pacientes têm de olhar para os montes, para cima, para as alturas, para Deus,
onde encontrarão a chave de tudo: o sentido da vida. Só assim será possível vencer o vazio existencial, que Frankl diz ter sido a neurose do século 20. Um dos livros escritos por ele chama-se Der Unbewusste Gott, que na verdade é sua tese de doutorado em filosofia (1948). Em vez de traduzir como O Deus Inconsciente, os tradutores brasileiros Walter O. Schlupp e Helga Reinhold deram ao livro o sugestivo título de A Presença Ignorada de Deus. O maior trunfo de Frankl é não se envergonhar de crer na existência de Deus como pessoa e mostrar que essa existência está arraigada no interior de qualquer um, em qualquer lugar e em qualquer tempo. Nesse sentido, mesmo não sendo cristão (era judeu), Frankl foi um pregador de Deus como os profetas do Antigo Testamento. Como psicólogo e psiquiatra, ele mostrava que “além do elemento instintivo, havia o elemento espiritual inconsciente”. Na logoterapia, fundada por Frankl e geralmente chamada de “a terceira escola vienense de psicoterapia”, “o homem é levado não tanto para fora de uma doença, como em direção a uma verdade” (Izar Aparecida). Na psicanálise, explica ele, “o paciente se deita num divã e conta ao médico
Chmouel at en.wikipedia
coisas que, às vezes, não são muito agradáveis de contar; na logoterapia, no entanto, o paciente pode ficar sentado normalmente, mas precisa ouvir coisas que, às vezes, são muito desagradáveis de se ouvir”. Para Frankl, “o ser humano não é impelido pelo impulso, mas puxado pelos valores”. Tudo isso se reveste de um valor muito maior se nos lembrarmos que, nas décadas de 1930 e 1940, o ambiente na Alemanha nazista não era nem um pouco favorável ao cristianismo. Hitler dizia que todas as religiões eram semelhantes e que nenhuma delas teria futuro. O alvo oculto do Führer era fazer o que Jesus fez com a figueira infrutífera: “despedaçar as raízes e os ramos do cristianismo”. Não seria necessário abrir guerra contra os cristãos, fossem católicos ou protestantes. Bastava impedir que as igrejas fizessem qualquer coisa diferente do que estavam fazendo, ou seja, perdendo terreno dia-adia. Naquele período, um dos mais sombrios da história, Hitler soube substituir a Páscoa e o Natal por festividades nacionais sem teor religioso, e a cruz pela suástica, o emblema nazista. Já que o credo do Cristo judeu ensinava uma “ética efeminada de piedade”, os pais foram desencorajados a mandar seus
Visão do campo de concentração de Auschwitz no inverno, onde Viktor Frankl foi aprisionado pelos nazistas
Prisioneiros judeus em campo de concentração nazista
filhos a qualquer escola religiosa. Para substituir o cristianismo, foi instituído “o culto do Führer, do sangue e do solo”. Em 1937, mais de 100 mil alemães abandonaram formalmente a igreja católica. Uma pequena porcentagem de católicos e protestantes era praticante. Apesar de ter sido irresponsavelmente chamado de ateu tanto por Freud quanto por um padre durante um ofício religioso na famosa Igreja Votiva de Viena, Frankl era um judeu religioso. Na infância,
ele e o irmão mais velho eram obrigados a ler poemas em hebraico ao pôr-do-sol de toda sexta-feira, quando começava o sábado judaico. O exemplo e as palmadas do pai fizeram de Viktor Emil Frankl um daqueles judeus ou não-judeus “tementes a Deus” de que fala o livro de Atos (10.2; 16.14; 18.7). Porém, aquele que é chamado “o salmista do século 20”, “o Copérnico da psicologia”, “o médico do vazio existencial” e “o psicólogo da religião humana” nunca se tornou seguidor ou discípulo de Jesus. Novembro-Dezembro, 2010
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Uma palavra de Vikto para animar os desal Q
uando Paulo e Barnabé, em cerca de 46 depois de Cristo, entraram num sábado na sinagoga de Perge, na costa sul da atual Turquia, os responsáveis lhes disseram: “Se vocês têm alguma palavra para animar o povo, podem falar agora” (At 13.15, NTLH). Paulo não perdeu a oportunidade. Ele discursou de tal modo que as pessoas “pediram com insistência que eles voltassem no sábado seguinte a fim de falarem sobre o mesmo assunto” (At 13.12, NTLH). A seguir, o leitor vai encontrar palavras, não de Paulo, mas de Viktor Frankl, o famoso psiquiatra austríaco que passou quase três anos em campos de concentração (veja Como é possível sobreviver num campo de concentração?, pág. 24.)
Sobre a arte de viver • Não procurem o sucesso. Quanto mais o procurarem e o transformarem num alvo, mais vocês vão errar. Porque o sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior do que 28
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or Emil Frankl lentados •
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a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser. A vontade de humor — a tentativa de enxergar as coisas numa perspectiva engraçada — constitui um truque útil para a arte de viver. Com o fim da incerteza chega também a incerteza do fim. Quem não consegue mais acreditar no futuro — seu futuro — está perdido num campo de concentração. O prazer é e deve permanecer efeito colateral ou produto secundário. Ele será anulado e comprometido à medida que se fizer um objetivo em si mesmo. O ser humano é um ser finito e sua liberdade é restrita.
Sobre o sentido da vida • Ouso dizer que nada no mundo contribui tão efetivamente para a sobrevivência, mesmo nas piores condições, como saber que a vida da gente tem um sentido. • O que o ser humano realmente precisa não é um estado livre de tensões, mas antes a busca e a luta por um objetivo que valha a pena, uma tarefa escolhida livremente. O que ele necessita não é a descarga de tensão a qualquer custo, mas antes o desafio de um sentido em potencial à espera de ser cumprido. • O sentido de vida difere de pessoa para pessoa, de um dia para o outro, de uma hora para outra. O que importa, por conseguinte, não é o sentido da vida de um modo geral,
mas antes o sentido específico da vida de uma pessoa em dado momento. • O sentimento de falta de sentido cumpre um papel sempre crescente na etiologia da neurose. • As pessoas têm o suficiente com o que viver, mas não têm nada por que viver; têm os meios, mas não têm o sentido. • O niilismo não afirma que não existe nada, mas afirma que tudo é desprovido de sentido.
encontra um sentido, como o sentido de um sacrifício. • O sofrimento desnecessário é masoquismo e não ato heroico.
Sobre o “nem tudo está perdido”
• Se houve um dia na vida em que a liberdade parecia um lindo sonho, virá também o dia em que toda a experiência sofrida no passado parecerá um mero pesadelo. • O ser humano é capaz de viver e até de morrer por seus ideais e valores. • O passado ainda pode ser alterado e Sobre a arte de sofrer corrigido. • Se é que a vida tem sentido, também • Quando já não somos capazes de o sofrimento necessariamente o mudar uma situação, somos desafiados terá. Afinal de contas, o sofrimento a mudar a nós próprios. faz parte da vida, de alguma forma, • Quando o paciente está sobre o chão do mesmo modo que o destino e a firme da fé religiosa, não se pode morte. Aflição e morte fazem parte da objetar ao uso do efeito terapêutico de existência como um todo. suas convicções espirituais. • Precisamos aprender e também • Uma das principais características da ensinar às pessoas em desespero que existência humana está na capacidade a rigor nunca e jamais importa o que de se elevar acima das condições nós ainda temos a esperar da vida, biológicas, psicológicas e sociológicas, mas sim exclusivamente o que a vida de crescer para além delas. espera de nós. • As pessoas decentes formam uma • Deus espera que não o decepcionemos minoria. Mais que isso, sempre serão e que saibamos sofrer e morrer, não uma minoria. Justamente por isso, o miseravelmente, mas com orgulho! desafio maior é que nos juntemos à • Ninguém tem o direito de praticar minoria. Porque o mundo está numa injustiça, nem mesmo aquele que situação ruim. E tudo vai piorar mais sofreu injustiça. se cada um de nós • Quanto mais uma pessoa esquecer-se não fizer o melhor de si mesma — dedicando-se a servir que puder. uma causa ou amar outra pessoa —, mais humana será e mais se realizará. Todas as frases foram retiradas do • Sofrimento, de certo modo, deixa de best-seller Em Busca de Sentido, ser sofrimento no instante em que se publicado em alemão em 1945. Novembro-Dezembro, 2010
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Private H. Miller.
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Prisioneiros do campo de concentração de Buchenwald, no leste da Alemanha. Um deles é Max Hamburger, que se tornou psiquiatra na Holanda, e outro é Elie Wiesel, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1986.
Galeria dos sobreviventes Jó antes de Habacuque Jó, o patriarca de Uz, de um dia para o outro, perdeu toda a riqueza (11.500 cabeças de gado) e quase todos os empregados (administradores, agricultores, boiadeiros, carreiros, cortadores de lã, guardas das torres de vigia, plantadores de capim, roçadores de pasto, tiradores de leite, tratadores de animais, vendedores de gado etc.). Perdeu os dez filhos quando a casa onde eles estavam comemorando o aniversário do irmão mais velho desabou e soterrou todos eles. No dia seguinte, havia dez caixões com defuntos para Jó enterrar. Pouco depois da perda dos bens e dos filhos, Jó perdeu a saúde — o mais precioso bem que alguém pode possuir. A doença era tão desgastante que o levava a desejar ansiosamente a morte. Poderia ser dermatose escamosa, elefantismo, eczema crônico, melanoma ou outra. Ele portava “feridas terríveis, da sola dos 30
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pés ao alto da cabeça”, raspava-se com caco de louça e ficou tão desfigurado que seus amigos não o reconheceram e começaram a chorar em alta voz diante daquele quadro aterrador (Jó 2.12-13). O mesmo fazendeiro perdeu a companhia religiosa e o aconchego da esposa, tão enlutada quanto ele. Ela se revoltava contra Deus e queria que o marido fizesse o mesmo (Jó 2.9). A esposa de Jó mantinhase à distância por questões de saúde: “Minha esposa não chega perto de mim por causa do mau cheiro que sai de minha boca quando falo” (Jó 19.17, BV). O incrível sofredor experimentou ainda a dor da solidão, após a ruína financeira e a nova e feia aparência: “Os meus parentes me abandonaram e os meus amigos esqueceram-se de mim” (Jó 19.14). Como se não bastasse todo esse sofrimento, Jó teve de enfrentar o juízo temerário de todos, especialmente dos amigos mais íntimos, que
interpretaram sua desgraça como castigo por algum pecado secreto que ele teria cometido. Apesar dessa inexplicável e incontida enxurrada de dores e de injustiças, o patriarca de Uz resistiu a tudo por todo o tempo, ancorado numa única pessoa e numa única esperança: “Eu sei que meu Redentor vive, e que no fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25).
Habacuque antes de Paulo Cerca de 2.500 anos antes da ameaça nazista, os judeus enfrentaram a ameaça babilônica. O grande império de Nabucodonosor estava dominando o mundo. Duas poderosas nações já haviam caído: a Assíria em 612 antes de Cristo, e o Egito, sete anos mais tarde, na famosa batalha de Carquemis (605 a. C.). A próxima nação a ser cercada, destruída e ocupada seria Israel, mais propriamente Judá, o reino do sul. A escassez de comida e a consequente
fome eram iminentes. Boa parte da população seria deslocada para longe de sua pátria e muitos sofreriam como escravos e trabalhadores forçados. A beleza de Jerusalém seria coisa do passado. Suas riquezas seriam pilhadas e levadas pelos invasores. Para continuar a viver, os que tinham algum bem o trocariam por comida (Lm 1.1-12). Crianças diriam às mães: “Estou com fome! Estou com sede!”. Sem pão para comer nem água para beber, as crianças cairiam pelas ruas e os bebês morreriam aos poucos nos braços das mães. Estas, por sua vez, por causa da fome, perderiam o controle e devorariam os filhinhos que tanto amavam. Os mortos, tanto jovens como velhos, seriam largados nas ruas (Lm 2.11-21). Os que haviam morrido no campo de batalha seriam considerados mais felizes do que os que morreriam depois, por causa do caos posterior à guerra (Lm 4.9). Não obstante, frente a essa situação catastrófica prestes a acontecer, um homem chamado Habacuque, que era profeta e poeta, explica como poderia sobreviver: “Ainda que as figueiras não produzam frutas, e as parreiras não deem uvas; ainda que não haja azeitonas para apanhar nem trigo para colher, ainda que não haja mais ovelhas nos campos nem gado nos currais, mesmo assim eu darei graças ao Senhor e louvarei a Deus, o meu Salvador. [Pois] o Senhor é a minha força. Ele torna o meu andar firme como o de uma corça e me leva para as montanhas, onde estarei seguro” (Hc 3.17-19, NTLH).
Paulo antes de Viktor Frankl Quando Jesus apareceu a Saulo no trevo da cidade de Damasco, capital da Síria, perto do final da primeira metade do século primeiro, ele não escondeu do futuro apóstolo que haveria sofrimento por causa do evangelho (At 9.16). De acordo com o relatório desse sofrimento, contido na Segunda Carta aos Coríntios, escrita em 55 depois de Cristo, Paulo foi apedrejado uma vez, espancado três vezes, chicoteado cinco vezes (cada uma com 39 açoites) e passou por três naufrágios
(num deles ficou 24 horas boiando no mar). Além disso, ele muitas vezes ficou sem dormir, sem comer, sem beber, sem se vestir e sem se agasalhar. Experimentou toda sorte de perigos (de morte, de enchentes, de assaltos), nas mãos de conterrâneos, de estrangeiros, de ladrões, de falsos irmãos etc., tanto na cidade como no deserto e em altomar. E como se não bastasse, Paulo foi preso várias vezes e passou muito tempo atrás das grades, em Filipos, Jerusalém, Cesareia e principalmente em Roma. Apesar de todas essas circunstâncias e acontecimentos adversos, o apóstolo sobreviveu sem maiores desgastes físicos ou emocionais. E ele explica o segredo: “Sei o que é estar necessitado e sei também o que é ter mais do que é preciso. Aprendi o segredo de me sentir contente em todo lugar e em qualquer situação, quer esteja alimentado ou com fome, quer tenha muito ou tenha pouco. Com a força que Cristo me dá, posso enfrentar qualquer situação” (Fp 4.12-13).
E hoje? A sobrevivência é um desafio também para o mundo contemporâneo. Antes do término da Segunda Guerra Mundial, ninguém sabia muito sobre os campos de concentração da Alemanha nazista e sobre o tamanho do holocausto — nem os próprios alemães. Hoje, não percebemos que também estamos dentro de outros campos de concentração, que tornam a sobrevivência da fé e da moral quase impossível. Quantos mortos o narcotráfico e o crime já deixaram no mundo todo desde o final da Segunda Guerra até hoje? A lei do mais forte prevalece, a cultura da corrupção é uma regra fixa, a determinação de destruir os ramos e raízes da fé cristã continua (seja pela perseguição e morte de cristãos em países islâmicos fechados ou pelos escândalos que os próprios cristãos cometem), a propaganda do ter em vez de ser é esmagadora, a chamada ao consumismo é praticamente irresistível, a defesa da homossexualidade e da não-durabilidade do casamento é crescente, a pornografia e a violência sexual generalizam-se, e assim por
diante. A mídia abraça e divulga todas essas coisas, das tirinhas aos editoriais, das novelas aos noticiários. Certamente, as características, os sintomas e os descaminhos contemporâneos podem ser vistos como um campo de concentração acentuadamente sutil. O excelente vídeo “Qualidade de vida do mundo contemporâneo”, da TV Cultura, do qual participam filósofos e educadores brasileiros, diz que estamos perdendo a capacidade de pensar, estamos perdendo a vitalidade e estamos sendo manipulados e conduzidos pela voz tirânica da prioridade do mercado, pelo ascetismo e pelo individualismo. Tudo isso leva à desgraça do tal vazio existencial, diagnosticado por Viktor Frankl como a neurose do século. Seriam essas coisas mais leves do que aquelas que Jó, Habacuque e Paulo sofreram? A Bíblia fala muito sobre a difícil arte da sobrevivência. Jesus chega a perguntar: “Quando o Filho do Homem vier, será que vai encontrar fé na terra?” (Lc 18.8, NTLH).
o cântico dos sobreviventes Jó
Apesar disso tudo Eu sei que o meu Redentor vive E finalmente aparecerá na terra.
Habacuque
Ainda que as figueiras não produzam frutas e as parreiras não deem uvas Ainda que não haja azeitonas para apanhar nem trigo para colher Ainda que não haja mais ovelhas nos campos nem gado nos currais Mesmo assim eu darei graças ao Senhor e louvarei a Deus, o meu Salvador.
Paulo
Aprendi o segredo de me sentir contente em todo lugar e em toda situação Quer esteja alimentado ou com fome, quer tenha muito, quer tenha pouco. Com a força que Cristo me dá, posso enfrentar qualquer situação.
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enho a impressão de que a brutalidade da Segunda Guerra Mundial, ocorrida na primeira metade do século passado, desde a invasão da Polônia (1º de setembro de 1939) até a assinatura do ato formal da rendição do Japão (2 de setembro de 1945), me fizeram algum mal. Durante minha infância e adolescência as notícias da guerra eram diárias. Não chegavam com a rapidez de hoje, mas chegavam. Quem não sabia ou não tinha idade para ler, ouvia a Rádio Mayrink Veiga ou a Rádio Tupi. Quem podia ler, ouvia o rádio e lia os jornais diários. Algumas fotos dramáticas da guerra, que eu via na primeira página do Correio da Manhã, que meu pai assinava, até hoje estão arquivadas em minha memória. Porém, houve também o lado “bom” da guerra. Eu e milhares de outras pessoas nos decepcionamos com o super-homem imaginado na mesma Europa, alguns anos antes das duas grandes guerras. Enquanto o sofrimento e a morte causados pelo ódio, pela prepotência e pela violência levavam alguns ao espanto, à descrença, ao desespero, ao suicídio e à liberdade de costumes — eu fui levado a conhecer a profundidade e a loucura da maldade humana (que prefiro chamar de pecado) e a esperar novos céus e nova terra, não por meio do homem, mas daquele que veio para consertar o que havia sido estragado. Há duas certezas que tenho agasalhado há mais tempo e com mais entusiasmo: uma diz respeito à queda e a outra à redenção. Dois textos bíblicos são esclarecedores e deles sempre me recordo: “Por um só homem entrou o pecado no mundo” (Rm 5.12) e “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).
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A seguir, em ordem cronológica, alguns dos lances mais importantes do antissemitismo e da Segunda Guerra Mundial. 1933 30 de janeiro
Fonte: Deutsches Bundesarchiv Bild 146-1990-048-29A
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Mesmo à distância, fui obrigado a conviver com os horrores do antissemitismo e da Segunda Guerra Mundial
Adolf Hitler
Sou uma criança de quase 3 anos. Tenho um sobrenome alemão. Minha avó paterna era filha de alemães. Nesse dia, o austríaco Adolf Hitler, que se dizia alemão, é empossado aos 44 anos como chanceler da Alemanha. O presidente Hindenburg termina seu discurso de posse com estas palavras: “E, agora, senhores, sigamos com Deus”.
1934 2 de agosto Falece o presidente Paul von Hindenburg, aos 87 anos. Hitler torna-se chefe de Estado. O exército presta juramento de lealdade ao Führer. 1935 15 de setembro O Reichstag (o parlamento alemão) aprova as leis de Nuremberg, que proíbem o casamento e todas as formas de relacionamento sexual entre judeus e alemães, privam os judeus da cidadania e fazem da suástica o emblema da Alemanha. 1936 17 de junho Heinrich Himmler torna-se chefe da polícia de toda a Alemanha, inclusive da Gestapo (polícia secreta do Estado). Hitler torna- se
responsável apenas perante si mesmo e mais ninguém, podendo remover qualquer limitação ao seu poder, dentro ou fora da lei. Sou apenas um menino de 6 anos.
1938 30 de outubro Curso a primeira série do primário. Na escola dominical, sou transferido do primário para o intermediário. Orson Welles transmite pelo rádio uma adaptação do romance A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, passando a real impressão de que o planeta estava sendo invadido por extraterrestres. 9 de novembro Membros de organizações nazistas armados de machados e marretas destroem 29 lojas de departamentos e residências judaicas, na Alemanha e na Áustria. Sinagogas e cemitérios judeus são profanados. Mais de 30 mil judeus são enviados para os campos de concentração. 1939 3 de agosto Físicos húngaros e o cientista alemão Albert Einstein, de 60 anos, alertam o presidente americano Franklin D. Roosevelt de que as pesquisas com energia nuclear realizadas na Alemanha poderiam levar os nazistas à construção de uma bomba nuclear. Einstein pergunta: “Devemos dar fim à raça humana ou a humanidade deve renunciar à guerra?”. Eu ainda não completei 10 anos. 3 de setembro Inglaterra e França declaram guerra à Alemanha. Dois dias antes, a Alemanha havia invadido a Polônia. 1940 10 de maio A Alemanha invade a Holanda e a Bélgica. 14 de junho A Alemanha toma Paris. 26 de setembro O filósofo Walter Benjamin, nascido em Berlim no seio de uma família judaica, comete suicídio aos 48 anos. Ele tentava, junto com outros refugiados, atravessar a fronteira entre França e Espanha para escapar dos nazistas que haviam ocupado Paris três meses antes. Benjamin era doutor em
Isa Morais
29 de dezembro Em um domingo entre o Natal e o Ano-Novo, a Alemanha, em três horas de fogo e terror, despeja 120 toneladas de explosivos de alta potência e 22 mil bombas Walter Benjamin incendiárias no centro de Londres. Oito igrejas são destruídas. 1941 7 de dezembro Torpedeiros e bombardeiros japoneses conseguem destruir ou danificar oito encouraçados, três cruzadores e três destroyers americanos que estavam em Pearl Habor. O ataque aéreo e naval durou apenas uma hora e meia e destruiu 188 aeronaves dos Estados Unidos, além de avariar outras 155. Os japoneses perderam só 29 aeronaves e cinco minissubmarinos. Morreram 1187 pessoas da marinha americana. 1942 20 de janeiro Na escola dominical, sou transferido do departamento intermediário para o secundário. Reinhard Heydrich, chefe dos serviços de segurança do Terceiro Reich, reforça o enrijecimento das medidas antissemitas e explica que, por conta da guerra e da escassez de recursos, os 11 milhões de judeus que ainda estavam na Europa não poderiam permanecer no continente nem emigrar. A solução final para o problema seria o assassinato em massa. Os judeus já haviam sido excluídos de todos os cargos públicos (o que significava a perda de direitos de pensão), das profissões (inclusive do magistério, da medicina e do direito), dos esportes e das artes. Cartazes com os dizeres “não queremos judeus aqui” já haviam sido afixados em estâncias de férias, restaurantes e hotéis. Qualquer nazista podia espancar, expulsar ou roubar um judeu impunemente. 23 de fevereiro Faltam dois meses para eu completar 12 anos. Começo a fazer o “ginásio” no Colégio Batista Fluminense. As rádios e os jornais anunciam o suicídio do casal Elizabeth e Stefan Zweig, acontecido no dia anterior em Petrópolis, Casal Zweig RJ. Zweig, de 60 anos, um judeu nascido em Viena, era famoso no mundo inteiro por seus romances (Amok, Casa Stefan Zweig
1937 13 de dezembro Tenho quase 8 anos. Meu pai é pastor das igrejas presbiterianas de Campos e Itaperuna, no norte fluminense, e comemora 36 anos. Nesse mesmo dia, tropas japonesas comandadas pelo general Iwane Matsui cometem atrocidades na China. Matam soldados e civis e estupram mulheres. Estima-se que cerca de 20 a 40 mil mulheres tenham sido violentadas, crianças e idosas. Houve fuzilamentos, decapitações e crucificações. Civis eram enterrados vivos ou pendurados pela língua. Bebês eram jogados ao ar e perfurados à baioneta.
filosofia e crítico de ideias e fatos. Deixou três livros e vários ensaios publicados em diversos periódicos.
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A Confusão dos Sentimentos) e biografias (Maria Antonieta, Erasmo de Rotterdan). Forçado pelos nazistas a deixar a Áustria, veio parar no Brasil em agosto de 1936. Não resistiu à depressão causada pelos problemas mundiais e matou-se. “Em boa hora e conduta ereta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a terra. Saúdo a todos os meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora desta longa noite. Eu, demasiadamente impaciente, vou me antes” (última frase da “declaração” deixada no leito de morte). 6 de junho Seis meses depois de Pearl Harbor, trava-se a batalha naval de Midway, nas proximidades do Havaí. Os japoneses perdem os quatro porta-aviões e mais de duzentas aeronaves, juntamente com suas tripulações. Os americanos perdem apenas um porta-aviões. 15 de agosto O submarino alemão U-507 afunda o navio brasileiro Baependy no litoral da Bahia, matando 270 das 306 pessoas que estavam a bordo. Entre os mortos há 142 militares brasileiros (um major, três capitães, cinco tenentes, oito sargentos e 125 cabos e soldados). O navio afundou em dois minutos. Dias antes, o mesmo submarino já havia posto a pique cinco navios brasileiros. Incluindo os 270 mortos do Baependy, o número de vítimas fatais chega a 607. Desde janeiro de 1941, o Brasil tinha rompido as relações diplomáticas com o Eixo. 1944 6 de junho Exatamente dois anos depois de Midway, os aliados têm outra vitória decisiva. Ao cair da noite desse dia, 125 mil soldados americanos, ingleses e canadenses, sob o comando do general Dwight Eisenhower, já haviam desembarcado ao longo dos 105 quilômetros da Normandia, na França, até então dominada pelos alemães. Foi o chamado Dia D. Começa o colapso do Terceiro Reich.
4 de agosto Exatamente um mês depois de minha pública profissão de fé na Igreja Presbiteriana de Campos, aos 14 anos, a menina judia-alemã Anne Frank, apenas um ano mais velha, é localizada no sótão secreto de um prédio comercial de Amsterdã e levada com outros sete judeus para o campo de concentração em Bergen Belsen. Ela não pôde levar consigo o diário escrito desde junho de 1942. 1945 27 de janeiro Estamos de férias na praia de Grussaí. Tomo conhecimento de que tropas soviéticas invadem um complexo de campos de concentração nos arredores de Oswiecim, na Polônia, e do que os nazistas faziam com os judeus. O major Anatoly Shapiro, que comandou a operação, teria dito: “Eu vi os rostos das pessoas que libertamos; elas passaram pelo inferno”. 14 de fevereiro Aviões da Força Aérea Inglesa (RAF) bombardeiam Dresden, na Alemanha, e 33 quilômetros quadrados da cidade são destruídos pelo incêndio causado por uma mistura de explosivos capaz de se perpetuar sozinha. Mais de 25 mil pessoas morrem. 9 de abril
Dietrich Bonhoeffer
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Preso desde 1943 por ajudar a introduzir clandestinamente quatorze judeus na Suíça, o pastor luterano alemão Dietrich Bonhoeffer, de apenas 39 anos, é enforcado sob a acusação de alta traição. Ex-aluno de Karl Barth, Bonhoeffer obteve o doutorado em teologia na Universidade
27 de abril O exército americano liberta os prisioneiros dos campos de concentração de Dachau. Entre eles estava o psiquiatra vienense Viktor Emil Frankl, de 40 anos. 30 de abril Uma semana depois de comemorar meu 15º aniversário, Adolf Hitler, aos 56 anos, e Eva Braun, 23 anos mais nova e com quem ele havia se casado na véspera, cometem suicídio depois de almoçar com seu nutricionista e seus secretários. Ela se envenenou e ele deu um tiro na boca. 7 de maio O coronel-general Alfred Jodl, do alto comando alemão, assina os termos de rendição incondicional da Alemanha no quartel general dos Aliados, situado em uma escola em Reims, na França. Após cinco anos, oito meses e sete dias, está encerrada a fase europeia da Segunda Guerra Mundial. 6 de agosto A Enola Gay, uma fortaleza voadora americana, lança sobre a cidade japonesa de Hiroshima o Little Boy — a primeira bomba nuclear do mundo. O artefato causou destruição em um raio de 1,6 quilômetro quadrado, além de arruinar e incendiar outros 11 quilômetros quadrados circundantes. Dos 255 mil habitantes, 70 mil morreram após a explosão.
IWMCollections IWM Photo No. BU 8604
de Berlim aos 21 anos. Ele foi um dos organizadores da chamada Igreja Confessante, que reunia cerca de um terço do clero protestante em oposição a Hitler. Por dois anos, Bonhoeffer dirigiu o seminário dessa igreja, fechado em 1937 por ordem do governo.
Cena de destruição em uma rua de Berlim em julho de 1945
2 de setembro A bordo de um navio americano, o governo e o alto comando militar japonês assinam o ato formal de rendição às tropas aliadas. Encerra-se a fase asiática da Segunda Guerra Mundial. Sou um adolescente. Começo a estudar clarineta para tocar na pequena orquestra da igreja presbiteriana. Publico no Jornal Mocidade meu primeiro artigo e no jornal O Puritano, minha primeira oração escrita. Inicio namoro com uma das moças que professaram a fé comigo. Fontes: • 1001 Dias que Abalaram o Mundo. Rio de Janeiro: Sextante, 2009. • História do Século 20, vol. 4. São Paulo: Abril Cultural, 1970. • Morte no Paraíso; a tragédia de Stefan Zweig. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
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HOJE EM DIANTE...
Não quero invejar nem os de dentro nem os de fora!
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partir de hoje, com a ajuda de Deus, vou enfrentar a inveja. Não vou mais mentir dizendo para mim que não sou invejoso. Confessarei o pecado da inveja e me porei contra ela, suficientemente convencido de que é uma doença capaz de me destruir e tão grave “como câncer” (Pv 14.30, NTLH). A inveja não é algo de pequena monta. Ela está sempre ao lado de outras coisas terríveis (as tais obras da carne de que fala Gálatas 5.19-21). A inveja não é passiva; não cruza os braços; não fica parada em momento algum. Ela é ativa, dinâmica e incontrolável. Se não for barrada na nascente, leva o invejoso automaticamente ao crime. Não foi a inveja de Caim que provocou o primeiro assassinato da história (Gn 4.8)? O livro de Gênesis conta que “Isaque tinha tantas ovelhas e cabras, tanto gado e tantos empregados, que os filisteus acabaram ficando com inveja dele”. A inveja dos vizinhos levou-os a entupir todos os poços dos quais o patriarca se 36
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servia para matar a sede do gado e regar a lavoura (Gn 26.14-15). Foi por inveja que os irmãos de José o venderam para ser escravo no Egito (At 7.9). A inveja no âmbito religioso é um problema sério na história passada e presente da igreja cristã. Porque Deus aceitou com agrado a oferta de Abel e não a de Caim, este “ficou furioso e fechou a cara”. E acabou matando o irmão (Gn 4.5, NTLH). Jesus foi entregue a Pilatos para ser condenado à morte por causa da inveja incontrolada dos chefes dos sacerdotes, como facilmente enxergou Pilatos (Mc 15.10). Poucas semanas depois, os saduceus ficaram com tanta inveja do sucesso dos apóstolos que os mandaram prender (At 5.17-18). Tanto em Antioquia como em Tessalônica, Paulo sofreu horrores por causa da inveja dos judeus (At 13.45; 17.5). Havia sérios problemas de inveja na igreja de Corinto, além de “brigas, manifestações de ira, divisões, calúnias, intrigas, arrogância e desordens” (2Co 12.20). Na igreja primitiva, Paulo foi obrigado a admitir que alguns pregavam Cristo “por inveja e discórdia” (Fp 1.15). Pedro também percebeu que Simão, o mago do Samaria, batizado
por Filipe, queria o batismo do Espírito Santo porque estava “cheio de inveja, uma inveja amarga como fel” (At 8.23). Diante dessas realidades, o que preciso fazer é mortificar a inveja no meu coração, onde ela mora — antes que ela saia de lá e cometa seus desatinos. Estou ciente de que posso invejar também os que estão do lado de fora da igreja. Dou graças a Deus pelo conselho, possivelmente de Davi: “Não se aborreça por causa dos maus, nem tenha inveja dos que praticam o mal. Pois eles vão desaparecer logo como a erva, que seca” (Sl 37.1-2, NTLH). Já tive inveja da prosperidade dos não-crentes (Sl 73.3), mas me curei quando Deus me mostrou a transitoriedade do sucesso deles e o seu destino final (Sl 73.16-19). Já decorei a insistente palavra do sábio dos sábios, que me diz: “Não inveje os pecadores em seu coração” (Pv 3.31; 23.17; 24.1). Os Provérbios de Salomão me garantem também que “os pecadores não têm futuro; [pois] são como uma luz que está se apagando” (Pv 24.20). Estou tomando uma grande decisão: a de sufocar a inveja. Mas não a tomo sozinho. Tomo-a na certeza do auxílio de cima! Que o Senhor me socorra!
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ACORdES
Carlinhos Veiga
De Todos os Ângulos
Jesus in Blues
Denis Campos é um garoto com pouco mais de 20 anos. Um cara dado a poesias. Cultiva um blog com suas criações literárias, sempre com novidades. De Todos os Ângulos é o seu primeiro CD e contém doze canções, todas de sua autoria. Partilha a criação de uma elas com Elly Aguiar e de outras duas com Jorge Ervolini. No contato com o material percebe-se que há uma unidade bem legal em toda concepção do trabalho, desde o material gráfico, passando pelas composições e arranjos. Ou seja, ele mostra a cara de Denis Campos. A direção musical e os arranjos são de Jorge Ervolini. A produção artística é de Denis e Ervolini. Uma banda de respeito mandou ver nas execuções. Participação especial dos intérpretes Diego Venâncio e Gerson Borges. Contatos pelo www.myspace.com/ denisscampos.
Essa é mais uma faceta do surpreendente, inquieto e criativo André de Oliveira. Ele já gravou vários trabalhos temáticos, como adoração e forró (gravado no Nordeste com músicos locais), sem falar na série de CDs de seu personagem Reverbério — uma mistura de humor com crítica pesada às bizarrices do meio evangélico. Agora, ele vive o seu momento blues. Reuniu uma banda que conhece bem a linguagem desse estilo musical e mandou ver. “Tudo blues”, “Kitsch”, “Contramão do tempo”, “Aqui” e “Jesus in blues” utilizam os clichês musicais característicos, incluindo gaitas e guitarras choradas. Participação do intérprete Caleb de Oliveira em três canções. A produção executiva é de Marcus Castro e ele foi gravado no Studio Scheffield por Claudiano Amorim e Joãozinho Costa. Contatos: andrereverberio@hotmail. com ou (31) 8691-9597.
Denis Campos
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André de Oliveira
Revolução do Amor
Transmitir
Os irmãos Matheus, Rafa e Pedro formam os Ortegas. Eles são filhos do conhecido Gerson Ortega, que desde o fim dos anos 70 traz significativas contribuições para a música cristã brasileira. E os meninos seguem a mesma trilha musical. Multi-instrumentistas, se revezam nas autorias das canções. Revolução do Amor é um álbum engajado. A faixa título foi composta na viagem que Matheus fez ao Haiti para apoiar a igreja sofrida daquele país, após o fatídico terremoto em janeiro de 2010. Ao todo são dez faixas, nas quais o pop predomina. Esbanjando tecnologia, Henrique Soares cuidou dos arranjos, gravações e mixagens. A master foi feita por Nike Fossenkemper, do Turtle Tone Studio, em Nova York. O resultado é uma sonoridade bem contemporânea e encorpada. Conheça mais pelo www.ortegas.com.br.
Transmitir é o segundo trabalho de Nando Padoan. Com influências marcantes da black music, traz um repertório de doze canções com letras voltadas para a adoração. Dentre elas, destacam-se “Louve ao Senhor”, “Transmitir” (com participação de Paulo César Baruk), “Cântaros” (canção de Edilson Botelho) e “Vem comigo” (um hit dançante e cheio de brincadeiras). Além de compositor, intérprete e instrumentista, Nando é também o produtor e arranjador musical do álbum. Em sua formação, passou pela Escola de Música e Tecnologia e estudou linguagem e estruturação musical. Transmitir mostra toda sua versatilidade musical e técnica. Para ouvir algumas canções e saber mais sobre o autor, visite www.myspace.com/ nandopadoan. No site é possível adquirir o CD.
Ortegas
Nando Padoan
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AMBIENTE E fé cristã
René Padilla
Manu Mohan
Mordomia responsável o fato de que Deus delegou aos seres humanos um papel único na criação. O texto mostra claramente que a criação da humanidade é um ato singular que se distingue de todos os demais atos da criação de Deus. Com efeito, no grande poema de Gênesis 1, a humanidade é a coroação de toda a obra criadora de Deus. Esta conclusão é reforçada pela referência à humanidade como imagem e semelhança de Deus. O que significa isto? Em que sentido se pode dizer que a humanidade se parece com Deus? A variedade de interpretações que se tem sugerido não deixa espaço para o Deus nos chamou como mordomos dogmatismo sobre o tema, mas parece de sua criação em um mundo onde que a interpretação mais apropriada é reinam dois males intimamente a que leva em conta o significado das ligados entre si: o abuso dos recursos imagens em tempos antigos no Oriente da criação e a injustiça social Médio. De acordo com a ideologia real, aceita amplamente nessa região geográfica e especialmente no Egito, o ós, evangélicos em geral, rei era considerado como a imagem de não temos dado ao tema Deus: representava a Deus diante de seus do meio ambiente a devida atenção. É urgente abordá-lo súditos. Ao mesmo tempo, a imagem do sob uma perspectiva bíblica rei o representava perante seus súditos em territórios conquistados. Aparentemente, e voltada para o cumprimento da missão estas ideias proveem uma boa base a que Deus nos chamou como mordomos de sua criação em um mundo onde reinam histórica para se pensar que a referência à humanidade como a imagem de Deus dois males intimamente ligados entre si: o significa que a humanidade representa a abuso dos recursos da criação e a injustiça Deus e foi revestida com sua autoridade na social. criação. Esse é o fundamento da dignidade A afirmação com que a Bíblia se inicia de todo ser humano, sem exceção. não dá lugar a dúvidas: “No princípio, Esta interpretação se ajusta muito criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Na bem à tarefa específica que Deus confia terra que surge do nada pelo poder de sua à humanidade segundo Gênesis 1.28. Palavra, Deus cria, em primeiro lugar, o À humanidade, por ser a imagem de cenário para a vida humana. Depois, sobre Deus — e a sua representante na criação —, este cenário, coloca o homem e a mulher, é delegada a autoridade de Deus: o criados à sua imagem e semelhança, e lhes comissiona o mandato cultural: “Frutificai, poder de procriar e de submeter a terra. Além da procriação, a vocação humana e multiplicai-vos, e enchei a terra, e fundamental é o controle da ordem do que sujeitai-a” (Gn 1.28a). foi criado em cumprimento ao mandato Como no caso da existência de Deus, cultural — cumprimento por meio do qual a revelação bíblica considera indiscutível
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a humanidade manifesta que é a imagem de Deus na criação. Esta é a base da mordomia responsável no uso e cuidado dos recursos naturais e também para o desenvolvimento científico e tecnológico, não em função do crescimento econômico, mas sim como o meio de cumprir o propósito de Deus para sua criação e, assim, dar glória ao Criador. Há quem afirme que a origem da situação atual, marcada por uma profunda crise ecológica, está na tradição judaicocristã, segundo a qual Deus destinou ao ser humano a tarefa de submeter a terra. A exploração destrutiva da natureza, se diz, é o resultado da arrogância humana com respeito à natureza. No entanto, não há nada na tradição judaico-cristã que sugira que o domínio que a humanidade é chamada a exercer sobre a terra tem de ser exercido independente de Deus e da criação, como se a humanidade fosse dona, e não apenas um mordomo da criação. Ao contrário, a raça humana é concebida como feita do “pó da terra”, formada por criaturas terrestres que dependem do fruto da terra para sua manutenção (Gn 1.29-30) e em total dependência do Deus de quem procede a vida (ver Gn 2.7). Em síntese, Deus, o Criador do universo, escolheu compartilhar sua soberania com criaturas que são sua imagem e semelhança, mas foram feitas do pó da terra e têm a vocação de reger sobre a terra como colaboradores de Deus em liberdade e obediência. A recuperação dessa vocação é um aspecto essencial de nossa missão no mundo. Na próxima edição, exploraremos o que isto significa em relação à crise ecológica atual, que se manifesta no aquecimento global. Traduzido por Wagner Guimarães
C. René Padilla escreve regularmente na coluna “missão integral” (veja pág. 47).
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CAMINHO DO CORA çãO
Ricardo Barbosa
Simplicidade e permanência
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Ove Tøpfer
De vez em quando gosto de reler Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, de C. S. Lewis. Sua habilidade em perscrutar os labirintos da tentação me impressionam. Ele nos ajuda a reconhecer nossa enorme ingenuidade e a profunda sagacidade do inimigo.
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“Uma nova filosofia brotou dessa Em uma dessas cartas, o Diabo nova cruz com respeito à vida cristã, reconhece que o verdadeiro e dessa nova filosofia surgiu uma problema dos cristãos é que eles são nova técnica evangélica — um novo “simplesmente” cristãos. O laço que tipo de reunião e uma nova espécie os une é a vida comum que eles têm de pregação. Esse novo evangelismo em Cristo. Ele então aconselha seu emprega a mesma linguagem que sobrinho: “O que nós desejamos, o velho, mas o seu conteúdo não se não houver mesmo jeito e os é o mesmo e sua ênfase difere da homens tiverem de tornar-se cristãos, anterior”. é mantê-los num estado de espírito O Diabo, na carta ao seu sobrinho que eu chamo de cristianismo e aprendiz, diz: “O horror pela mesma alguma outra coisa [...]. Substitua coisa de sempre é uma das mais a fé em si por alguma moda com preciosas paixões colorido cristão. que incutimos Faça com que no coração tenham horror Não importa o quanto humano — uma à Mesma Coisa nossas igrejas e ministérios fonte infinita de Sempre”. sejam sofisticados. Se no de conselhos A “mesma estúpidos, de coisa de final não encontrarmos infidelidade sempre” as mesmas coisas de conjugal e de nos deixa sempre, significa que nos inconstâncias entediados. Ser na amizade”. A “simplesmente” perdemos com o meio e lista poderia se cristão, para não alcançamos o fim estender, mas o muitos, não que se encontra é suficiente. por trás desse Precisamos “horror pela mesma coisa de sempre” de coisas novas. Sempre. Modelos é a grande atração pelo novo seguida novos de igreja, um jeito diferente de uma profunda distração pelo de cantar, formas inovadoras de essencial. O que a novidade faz é culto, estratégias sofisticadas de direcionar nossa atenção para outras crescimento, e por aí vai. Somos preocupações, dando mais valor aos movidos pelas novidades, não pela profundidade. Nosso interesse está na meios e não aos fins. A formação espiritual cristã variedade, não na densidade. sempre requereu, basicamente, O reverendo A. W. Tozer, num obediência a Cristo no seu chamado artigo intitulado “A velha e a nova a proclamar o evangelho, fazer cruz”, comenta o mesmo fenômeno:
discípulos, integrá-los numa comunidade trinitária e ensiná-los a guardar a sua palavra. Ensiná-los a se comprometerem com o serviço como expressão de amor para com o próximo e com o cultivo e a prática de disciplinas espirituais como oração, jejum, arrependimento, confissão, leitura e meditação nas Escrituras e contemplação. Não importa o quanto nossas igrejas e ministérios sejam sofisticados. Não importa o volume de novidades e tecnologias que oferecemos. Se no final não encontrarmos as mesmas coisas de sempre, significa que nos perdemos com o meio e não alcançamos o fim. Existem dois aspectos que considero fundamentais na experiência espiritual cristã: simplicidade e permanência. Quando perguntaram para Jesus como o reino de Deus viria, ele respondeu afirmando o seu caráter discreto. Não viria com grande estardalhaço. Se estabeleceria dentro daqueles
que o confessam como Senhor e Rei. Jesus apresenta um evangelho que transforma de dentro para fora. O que o vaso contém é infinitamente maior e mais valioso que o vaso. Ele cresce como uma pequena semente de mostarda. A simplicidade está na natureza própria do evangelho. A permanência define o caráter pessoal e relacional da fé. Permanecer em Cristo é permanecer ligado como galho na videira. É somente nessa permanência que recebemos de Cristo sua vida e a transmitimos aos outros. Permanecer é mais do que conhecer — é manter-se em constante e dinâmico relacionamento. As novidades não transformam o caráter; a permanência, sim. Para C. S. Lewis, a maturidade é algo que “todos alcançam na velocidade de sessenta minutos por hora, independentemente do que façam e de quem sejam”. Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do Coração.
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René Padilla
M ISS ãO
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A formação de discípulos
(parte 1)
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a essência da missão está a tarefa da evangelização. No entanto, não podemos considerar que todos os cristãos concordam com o significado de tal afirmação. Minha intenção é mostrar que a evangelização genuína está a serviço exclusivo do evangelho por meio do que é, do que faz e do que diz. Consequentemente, não visa apenas ganhar convertidos para aumentar o número de membros da igreja, mas também formar discípulos que aprendam a obedecer a tudo o que Jesus Cristo ordenou a seus seguidores (Mt 28.20). Neste artigo, e nos três subsequentes, proponho-me a desenvolver essa afirmação em quatro princípios. O primeiro é que a compreensão adequada do evangelho é um requisito básico para compreender a evangelização. Evangelizar é comunicar as boas novas, e as boas novas que como cristãos somos chamados a comunicar estão centradas em Jesus Cristo, incluindo sua encarnação, sua vida, sua morte, sua ressurreição, sua exaltação e sua segunda vinda. O evangelho completo inclui todos estes “eventos salvíficos”, como são chamados, e nenhum deles pode ser esquecido sem que nossa compreensão do evangelho seja afetada. Cresci num lar evangélico e dou graças a Deus por minha herança evangélica. Entretanto, com o passar do tempo, reconheci que minha compreensão do evangelho era inadequada: havia aprendido que a salvação é pela graça, por meio da fé, “é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9),
mas não havia aprendido que “somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (v. 10). Em outras palavras, havia recebido um evangelho que enfatizava os benefícios da salvação, mas deixava de lado A compreensão adequada do evangelho é um requisito o propósito básico para compreender a evangelização que Deus quer realizar por meio de de Deus, ficou claro que não fui seu povo, no qual eu me incluo. Na salvo para ser feliz, ou para ter prática, havia recebido um evangelho sucesso material, ou para livrarincompleto. me do sofrimento, mas com o fim Posteriormente, percebi que minha de cooperar com Deus, ainda que falta de uma compreensão adequada modestamente, no cumprimento de do evangelho resultava do tipo de seu propósito na história. E percebi a evangelização mais ou menos comum importância de me ver como membro nos círculos evangélicos do meu país: do Corpo de Cristo e, como tal, uma uma evangelização que se especializa pessoa chamada a participar na missão na salvação individual, entendida de transformar o mundo de modo que frequentemente como uma experiência reflita a glória de Deus, a justiça e a subjetiva de perdão de pecados, paz do reino que se fez uma realidade mas que tem pouco ou nada a dizer presente na pessoa e obra de Cristo sobre a vontade de Deus de conduzir Jesus. A evangelização integral só é a humanidade à comunhão com ele, possível sobre a base do evangelho reconciliar os membros da raça humana integral. entre si e restaurar toda sua criação, Traduzido por Wagner Guimarães conforme seu propósito original. C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, e Quando entendi minha própria membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana salvação à luz do propósito eterno e da Fundação Kairós. É autor de O Que É Missão Integral?
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É TICA
Ação social cristã a humildade amorosa*
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a edição anterior abordei a necessidade de realismo teológico e de realismo sociológico no exercício da ação social evangélica. Agora veremos o terceiro elemento: a humildade amorosa. Há anos leio os comentários dos autores patrísticos (os Pais da Igreja dos primeiros séculos da era cristã) sobre os evangelhos. Leio também os romances de um dos maiores escritores russos de todos os tempos, cuja visão de mundo é essencialmente cristã: Fiodor Dostoievski. Usarei frases de autores patrísticos e trechos de Dostoievski para uma melhor compreensão do texto dos evangelhos conhecido como “O Rico e Lázaro” (Lc 16.19-26). Gregório, o Grande, observa que “o Senhor menciona o nome do pobre, mas não o do rico; pois Deus conhece e aprova o humilde, mas não o orgulhoso”. Gregório associa “pobre” a “humilde” e “rico” a “orgulhoso”. Ambrósio, bispo de Milão, fala da “insolência e
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orgulho dos ricos, tão indiferentes à condição da humanidade, como se eles pairassem acima da natureza”. Ele ironiza o comportamento dos ricos que agem como se não fizessem parte da raça humana. Agostinho acrescenta que “a cobiça dos ricos é insaciável”. Há uma semelhança com a Teologia da Libertação. Crisóstomo, arcebispo de Constantinopla, exilado por não desistir de criticar a corte do imperador bizantino, comenta que “o rico morreu, como diz o texto, mas sua alma já havia morrido. Assim como deitar fora do portão do rico aumentou a aflição do pobre, o desespero do rico no inferno é maior porque ele vê a felicidade de Lázaro”. Há um paralelismo: em vida, Lázaro sofria ainda mais, pois via todos os dias o contraste entre sua situação e a do rico. Agora, porém, está tudo invertido. Os tormentos do rico são maiores porque ele consegue ver o bem-estar de Lázaro. Ou seja, é um inferno apropriado, feito sob medida. “Estando o rico
totalmente atormentado, somente os seus olhos estão livres”, diz Crisóstomo. E eles só conseguem ver a felicidade de Lázaro, o que apenas aumenta o tormento. “Veja agora o rico necessitando do pobre!” Evidentemente, estamos acostumados com outra situação. “E agora todos percebem quem era verdadeiramente rico e verdadeiramente pobre.” As máscaras foram tiradas e Crisóstomo faz até uma analogia: “Quando termina a peça, os atores retiram os trajes; da mesma forma, quando vem a morte, o espetáculo acaba e as máscaras da pobreza e da riqueza são tiradas, então os homens são julgados somente por suas ações”. Gregório diz ainda: “O rico no inferno busca uma gota d’água, ele que em vida nem queria dar uma migalha de pão. Porém, ele recebe uma retribuição justa — o fogo do desejo intenso”. Novamente a ideia de um inferno feito sob medida. Como frisa Crisóstomo, “ele não está no inferno porque era rico (afinal, Abraão era riquíssimo), mas porque não era misericordioso.
E como sua língua havia falado muitas coisas orgulhosas, ele pede que Lázaro seja enviado para refrescar a ponta dela com o dedo molhado em água”. E a conclusão de Crisóstomo é que “onde está o pecado, aí está o castigo”. Gregório de Nissa confirma essa perspectiva: “O juízo de Deus é adaptado às nossas disposições. Como o rico não teve piedade do pobre, ele não é ouvido quando precisa de misericórdia”. Porém, diz Gregório: “Quando você se lembra de ter feito uma boa ação, tenha cuidado, porque existe o perigo de que a recompensa presente seja tudo o que você vai receber de recompensa!”. E ainda: “O justo pode até receber coisas boas aqui, em troca da sua bondade (embora nem sempre aconteça). Porém, ele não as recebe como recompensa, pois busca algo melhor, que é a recompensa eterna”. Finalmente, o texto afirma que entre o rico e Lázaro há um grande abismo, que simboliza a distância entre o justo e o pecador, entre suas disposições interiores. E tal abismo
é descrito como “fixo”. É preciso entender a parábola como uma mensagem para a vida presente, não como uma descrição literal e detalhada da vida futura. Porém, como combinar isso com a crença num Deus que certamente é muito mais misericordioso do que nós? Se nós sabemos ser misericordiosos (às vezes e até certo ponto), quanto mais Deus! Além disso, ele é muito mais capaz de pesar os fatores psicológicos e sociológicos na biografia de cada pessoa. Ele conhece a fundo todos os fatores que influenciaram a vida de cada um e tiveram um peso em suas ações. Por isso, “o juiz de toda a terra fará justiça”. Há dois textos de Dostoievski em Os Irmãos Karamazov que também exemplificam isso. O primeiro é o comentário sobre essa parábola, feito por um dos personagens centrais do livro, que é um monge e conselheiro espiritual. Diz ele: “Eu pergunto a mim mesmo o que é o inferno. E defino assim: o inferno é o sofrimento por não poder mais amar. Uma vez [fazendo referência
ao rico da parábola] um ser teve a possibilidade de dizer “eu sou e eu amo”. Uma vez somente foi-lhe concedido um momento de amor ativo e vivo. Para isso lhe foi dada a vida terrestre [que bela descrição do sentido da vida!]. Porém, esse ser repeliu esse dom inestimável e ficou insensível. E esse ser, tendo deixado a terra, vê de longe o seio de Abraão. Ele contempla o paraíso de longe. Porém, o que o atormenta precisamente é que se apresenta sem ter amado. E diz: “Agora a minha sede ardente de amor espiritual me abrasa”. O que abrasa o rico é justamente o desejo de amar, mas a impossibilidade de fazê-lo porque passou o momento. Ele desdenhou a possibilidade de amar na terra, quando era a hora de amar. “A vida que se podia sacrificar pelo amor já decorreu.” O segundo texto é a lenda da cebolinha, um relato russo contado por uma das personagens femininas de Os Irmãos Karamazov: Era uma vez uma mulher muito má, que morreu sem deixar atrás de si uma única boa ação. Os demônios Novembro-Dezembro, 2010
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a pegaram e partiram em desabalada carreira para o lago de fogo. Porém, seu anjo da guarda pensava: “Se ao menos eu pudesse me lembrar de uma boa ação que ela tivesse feito, iria contar a Deus!”. Recordou-se e disse a Deus: “Ela arrancou uma cebola na horta e a deu a uma pedinte”. Deus lhe respondeu: “Tente dar-lhe essa cebola no lago para que ela a agarre; se você a retirar, concordo que entre no paraíso; mas, se a cebola romper-se, então que fique onde está”. O anjo correu em direção à mulher e lhe apresentou a cebola: “Pegue-a”, disse ele, “e segure bem!”. Pôs-se a puxar com cuidado e a mulher emergia toda. Os outros culpados que estavam no lago, vendo que ela estava sendo retirada, agarraram-se a ela para poder sair também. Porém,
a mulher era muito má e debateu-se para dar-lhes pontapés: “Sou eu que
A humildade é a chave; nada vale possuir todas as outras virtudes sem ela
estou sendo retirada, não vocês!”. No mesmo instante em que lhes lançava essa observação, a cebola rompeu-se. A mulher caiu no lago e ainda está queimando. O anjo foi-se chorando.
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Certo livro acadêmico, ao comentar a obra de Dostoievski, diz que, “em última análise, o que selou o destino da mulher não foi a longa série de transgressões pessoais, mas seu egoísmo e o fato de ter se colocado contra os outros pecadores, ou seja, seu desejo de alcançar uma salvação individual, que abrangesse apenas ela e não os outros”. O autor ainda diz que Dostoievski iguala a mulher má da lenda e o monge citado, que era um grande santo. Pois o monge, já morto, aparece em sonho a um dos irmãos Karamazov e lhe diz que está no paraíso somente porque um dia ele também “deu uma cebolinha”.
Walter Hilton, um grande místico cristão inglês do século 14, fala muito sobre humildade e amor. Sobre humildade, ele diz: “Quem possui essa única virtude, possui todas as outras”. A humildade é a chave; nada vale possuir todas as outras virtudes sem ela. Aliás, a ênfase nas virtudes soa estranha aos nossos ouvidos. Os pregadores dificilmente abordam a questão, e é por isso que a igreja evangélica nos causa tanta vergonha, pois não ensinamos o cultivo das virtudes. Walter Hilton acrescenta: “Se quiser construir um edifício alto de virtudes, coloque primeiro um alicerce profundo de humildade. Ela preserva e guarda todas as outras virtudes”. Ou seja, se não houver humildade, você pode até construir um edifício alto de virtudes; porém, no primeiro tremor de terra, seu edifício
ruirá. Já vimos muitos exemplos disso e muitas vezes percebemos a mesma tendência em nós. “Sem a humildade, quem tenta servir a Deus tropeçará como um cego”. Há aqui uma mensagem para o cristão envolvido em ação social: “Meditar constantemente na humildade de Cristo ajuda a destruir os pecados graves e implantar as virtudes”. Isto é, ler constantemente sobre a humanidade humilde de Cristo nos evangelhos. “Vista a semelhança de Cristo, ou seja, a humildade e o amor. Sem isso, nenhuma obra o fará semelhante ao Senhor.” “Aprenda comigo”, diz Cristo, “não a andar descalço, ou a jejuar quarenta dias no deserto, ou a escolher discípulos, mas aprenda comigo a humildade. Este é o meu mandamento, que se amem uns aos outros como eu os amei. Nisso os homens saberão que vocês são
meus discípulos, não porque operam milagres, expulsam demônios ou pregam e ensinam.” Concluindo, mais uma frase do monge de Dostoievski: “Pergunta-se por vezes, sobretudo em presença do pecado: ‘É preciso recorrer à força ou ao amor humilde?’. Não empregueis jamais senão esse amor; podereis assim submeter o mundo inteiro. A humildade cheia de amor é uma força tremenda, sem nenhuma outra igual”. O alicerce profundo da humildade amorosa é uma força tremenda! Que a identidade evangélica seja cada vez mais marcada por essa característica. Nota * 2ª parte da palestra apresentada no 5º Congresso Nacional RENAS, em Recife, em agosto de 2010.
Paul Freston, inglês naturalizado brasileiro, é professor colaborador do programa de pós-graduação em sociologia na Universidade Federal de São Carlos e professor catedrático de religião e política em contexto global na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontário, Canadá.
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R EFLE XÃO
Robinson Cavalcanti
Brasil: um protestantismo George Crux
neoanabatista?
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amuel Escobar, um dos fundadores da Fraternidade Teológica Latino Americana (FTL), escreveu sobre a “anabatistização” do protestantismo do nosso continente, não importando a denominação. Não é só o fato de apenas aqui as igrejas evangélicas rebatizarem católicos romanos e ortodoxos orientais, contrariando os reformadores e sua prática em outros continentes. Trata-se do anabatismo como ideologia, formada a partir da Reforma Radical, com desdobramentos históricos. Vejamos suas marcas. 1. A “apostasia da igreja” como leitura histórica. Da morte de João ao nascimento de Lutero, tudo o que a igreja fez foi errado e a fez se afastar de sua “pureza” original. Isso se chocava com a Primeira Reforma (Lutero, 52
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Cranmer) e a Segunda (Calvino), que consideravam os velhos corpos cristãos não-reformados, a despeito de seus “erros, desvios e superstições”, autênticas expressões do Corpo de Cristo. Essa ideologia desqualifica quinze séculos de história e retira dela a presença do Espírito Santo. 2. O “restauracionismo” como princípio re-fundante. Se todo o passado foi de erros, o novo grupo vai “restaurar” a pureza da igreja, segundo entende (séculos depois) o que era a igreja primitiva. Temos tido ciclos de expressões restauracionistas, dentro do espectro da igreja, na fronteira (adventismo) e fora dela (Testemunhas de Jeová). 3. O “presentismo”. C. S. Lewis denuncia as gerações que, movidas por um sentimento anti-histórico, não levam em conta a tradição
apostólica nem o consenso dos fiéis, e querem reinventar a roda, em sua superficialidade. 4. Uma eclesiologia dualista e minimalista. Um dualismo neoplatônico entre organismo (bom, de Deus) e instituição (má, dos homens), entre “igreja invisível” e “igreja visível” que, em uma concepção minimalista, é a “igreja local” (congregação), crendo em uma Igreja de Jerusalém regida pelas regras parlamentares de Westminster. Um conjunto dessas “igrejas locais”, com suas peculiaridades, forma uma “denominação” (conceito novo e extrabíblico), com a demonização das organizações históricas, a negação dos sacramentos e o desprezo pela hierarquia ministerial. 5. Iconoclastia. Rejeição de toda a arte sacra: arquitetura, escultura, pintura, símbolos, vestes, ritos. O inestético
é o espiritual; a informalidade, a recuperação da pureza. A psicanálise tem estudado a relação entre neuroses e rejeição à arte, por repressão ao prazer. O “teológico” como fachada para o psicológico. A ideologia anabatista perpassou vários momentos na história da igreja, desde os “entusiastas”, encontrados (e combatidos) no luteranismo e no anglicanismo do século 16, ao menonismo de vários matizes (Amish, huteritas), o pietismo, os Quackers, os Irmãos Livres (Irmãos de Plymouth), o
liberalismo: tornar o evangelho palatável para o homem pós-moderno, como aqueles pretendiam fazer para o moderno. A cultura secular termina por impor a agenda da igreja, na linguagem, nos métodos, nas abordagens e no próprio conteúdo. “O homem pós-moderno não aceita essas coisas. Não faz sentido.” Um setor tem a preocupação em estabelecer “igrejas locais” para as tribos urbanas. E se esses jovens amadurecerem? Billy Graham, sem menosprezar a importância da comunicação transcultural, diz que atrás de qualquer “casca” está um pecador que O neoanabatismo é um necessita se arrepender e fenômeno crescente, que depositar a sua fé em Jesus Cristo, e que para todas atinge, mais ou menos, todas as culturas há um eterno as denominações, como evangelho a ser anunciado. Será que as pessoas mais rolo compressor em nosso refinadas, artisticamente continente e nosso país sensíveis, terão de ficar presas aos extremos “Pequeno Rebanho” (Watchman Nee/ da idolatria e da iconoclastia, sem Witness Lee) e suas “igrejas locais”, lugar para uma igreja reformada “igrejas sem nome”, “comunidades valorizadora da história, do consenso evangélicas”, “igrejas nos lares” (House dos fiéis, da reverência e da beleza Churches), igrejas emergentes e novas na adoração, incluindo os símbolos iniciativas. Algumas dessas expressões e a liturgia? Quem rejeita a idolatria se pretendem pós-denominacionais, está condenado ao empobrecimento ou não-denominacionais (são apenas estético, à iconoclastia do presentismo variações de igrejas batistas e/ou informalista? O pretensamente “novo” pentecostais), sem usar esse título, não é apenas um remake de velhas outras mantêm vínculos mínimos, iniciativas. O neoanabatismo é um ou estão “hospedadas” nas igrejas fenômeno crescente, que atinge, mais históricas ligadas a movimentos ou ou menos, todas as denominações, redes de ideologia de fundo anabatista, como rolo compressor em nosso que poderíamos denominar de continente e nosso país. Os históriconeoanabatismo. Algumas mantêm uma estéticos, porém, insistem em sua ênfase nas doutrinas históricas, outras identidade. As outras expressões afirmam que “as pessoas querem saber do protestantismo, históricode vida e não de doutrinas”, havendo estéticas, continuam a afirmar outras até quem negue o apóstolo Paulo alternativas para a fé reformada. e se resuma à pretensa radicalidade Dom Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese do do reino, aos ensinos de Jesus. Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política — Uma das marcas do neoanabatismo teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo — contemporâneo foi herdada do desafios a uma fé engajada. www.dar.org.br Novembro-Dezembro, 2010
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Ricardo Gondim
Alessandro Paiva
Sonhos e utopias (im)possíveis
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orre mais um ano. Parecidíssimo com os demais, os meses desta década vieram marcados por tragédias que se misturaram com poucas alegrias. Rio de Janeiro e Haiti se misturaram às dores dos alagoanos. O sofrimento de tantos miseráveis clamou em alto e bom tom: a humanidade não pode esquecer-se de que o preço de um possível descontrole ambiental será altíssimo. O conflito iniciado pelo Ocidente, que tenta esvaziar a agenda fundamentalista muçulmana, parece não ter fim. Mais uma vez a história lembra que é mais fácil começar uma guerra que terminar. Com a queda de alguns mitos da modernidade, o mundo padece de uma enxaqueca histórica. Não se acredita mais no progresso sem limite nem na agenda consumista do neoliberalismo. Sobrou uma ressaca, que imobiliza os ideais e as ações transformadoras da história; ressaca que alguns chamam de pós54
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modernidade. Se a alternativa da alienação não convém, parece que não há vigor para sonhar na reconstrução de outro mundo possível. Porém, sonhar é preciso. Nossos filhos e filhas não merecem herdar um mundo onde impera o desdém. Trabalhemos pelo alvorecer de um novo dia em que os rios não poluam os oceanos; os peixes não morram asfixiados em águas podres; o raiar do sol seja menos abrasador, pois homens e mulheres conscientes restauraram as camadas estratosféricas porque adquiriram uma nova consciência ecológica. Aguardemos o dia em que novas leituras do Gênesis devolvam a humanidade à sacralidade do jardim e todos se comprometam a cuidar da criação, recompondo a natureza, que geme devido à insanidade do pecado. Trabalhemos pelo despontar de um novo tempo em que se acabarão as fronteiras entre países, os muros étnicos e as cancelas rodoviárias; em que nos guichês de passaporte o pobre não seja impedido de procurar fugir de sistemas iníquos e o doente
encontre o hospital que salvará a sua vida. Trabalhemos pelo futuro quando espadas serão transformadas em arados. Procuremos ressignificar a esperança de que os bilhões de dólares gastos com armas e bombas sejam relocados em tratamento de esgoto, que aumenta a expectativa de vida de milhões de crianças. Repitamos: é possível acreditar que as fortunas desperdiçadas em cassinos sejam úteis em pesquisa pela erradicação da malária. Esforcemo-nos por esboçar outra realidade, em que se considera inadmissível uma bolsa custar mais que dois anos de salário de um operário. Trabalhemos para que surjam muitas Madres Teresa de Calcutá em diversos continentes, todas empenhadas em acolher os moribundos. Sonhemos com mais profetas como Martin Luther King — e que eles não sejam exceção rara. Concebamos que as penitenciárias políticas serão implodidas e que ninguém jamais seja preso por pensar
diferente. Criemos um mundo em que os instrumentos de tortura se tornem peças macabras de museu e que não reste nenhuma ilha onde se maltrata outro ser humano em nome de ideologia, religião ou regime político. Trabalhemos para que deixem de existir corregedorias, grampos telefônicos e espiões e que seja proibido bisbilhotar a privacidade das pessoas. Contribuamos para que o mundo se liberte das delações
tetraplégicos sejam curados e saltem como gazelas pela vida. Incentivemos quem trabalha no Projeto Genoma; e que eles terminem de mapear a estrutura da vida biológica para que se reduza o número de crianças com doenças genéticas. Trabalhemos para que o turismo sexual seja banido e extinto entre os povos; que a pedofilia se torne um anacronismo; que se desarticulem os cartéis de droga — o tóxico tem que parar de ceifar vidas, já que, um dia, pouquíssimas pessoas precisarão entorpecer a mente para tolerar a vida; os êxtases virão do encontro com a beleza, a bondade e a solidariedade. Trabalhemos por um novo céu e uma nova terra. Todavia, reconheçamos que esse porvir não acontecerá enquanto a humanidade tolerar o pressuposto da sobrevivência do mais forte, ou da exclusão racial e da discriminação social. Optemos pelo legado de sabedoria que nossos pais nos deixaram, que nos convoca a construir a história. Incumbidos por Deus de promover o bem, represar o mal e disseminar a justiça, acreditemos que o futuro chegará de acordo com a semente que plantarmos no presente. O futuro que ansiamos nascerá tanto de nossas mãos como de nossos ouvidos. Primeiro, ouçamos as verdades e os princípios eternos que Jesus nos ensinou. Depois, arregacemos as mangas. A vida espera por nós. Nossos filhos e netos não podem correr o risco de sermos negligentes ou apáticos. Qualquer hesitação pode redundar em desastre. Já é tarde! Soli Deo Gloria.
O futuro chegará de acordo com a semente que plantarmos no presente traiçoeiras contra o próximo. Convençamos os nossos filhos que é dever de todo homem e de toda mulher proteger o seu irmão. Esforcemo-nos para que os orfanatos não precisem manter as crianças por muito tempo porque as filas de adoção se multiplicaram; também, que os idosos nunca fiquem esquecidos em clínicas, à espera da morte. Trabalhemos para que se multipliquem as orquestras e que os prefeitos construam coretos em todas as praças; e que as famílias se reúnam nos fins de semana para ouvir a apresentação vespertina de música. Não deveria ser considerado um delírio esperar que se projetem bons filmes em vilarejos e em cidades remotas. Oxalá bibliotecas ambulantes distribuam poesia para os tristes e boa literatura para os sonhadores; que escolas treinem bons malabaristas para a alegria das sextas-feiras e que mais trapezistas desafiem a gravidade nos picadeiros. Trabalhemos para que os experimentos com células-tronco deem certo, e que muito em breve os
Ricardo Gondim é pastor da Assembleia de Deus Betesda no Brasil e mora em São Paulo. É autor de, entre outros, Eu Creio, mas Tenho Dúvidas. www.ricardogondim.com.br Novembro-Dezembro, 2010
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R EDESCOBRINDO
A PALAVRA DE DEUS
Deus dá testemunho de si mesmo
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a sala pequena a conversa é intensa. Em pouco tempo chegamos a assuntos profundos. “Você não faz ideia do que este país passou e do que o regime comunista e ateu fez com esta gente!”, diz o missionário inglês, com a firmeza e a espontaneidade de quem se sente em casa em Esbalan, no nordeste da Albânia. E ele tem razão. Fico tentando entender o drama pelo qual o país passou em sua história recente e o seu
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Valdir Steuernagel
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processo de transformação nestas duas últimas décadas. A história da Albânia é antiga. Só em 1912 eles se libertaram da longa ocupação otomana que transformara o país cristão em muçulmano. Porém, em 1944, eles voltavam a outro império, dessa vez o soviético. Sob a liderança de Enver Hoxha, que ficou no poder até falecer, em 1985, a Albânia passou a ser uma “ilha” totalitária na qual nem o bloco soviético, com o qual rompeu em 1967, nem a China, com a qual rompeu
em 1978, eram suficientemente radicais em sua vivência do comunismo. Foi Hoxha quem suprimiu toda e qualquer estrutura e expressão religiosa no país, declarando-o o primeiro estado ateu do mundo. A liderança que o substituiu procurou introduzir algumas medidas liberalizadoras, mas não subsistiu às consequências e à influência da queda do império soviético e à mediática queda do muro de Berlim. Assim, quando as fronteiras foram abertas, em 1991, instituiu-se um novo regime
Há sinais do interesse de Deus em político e a população vivenciou níveis se dar a conhecer e em dar às pessoas a desconhecidos de liberdade. oportunidade de descobrir que aquilo O mais intrigante é que, apesar de décadas de ensino e controle ateísta e do que anelavam e buscavam está no aniquilamento radical de qualquer sinal conhecimento e na relação de amor com religioso, hoje a população é descrita em ele mesmo. No último domingo que Silêda e termos religiosos, embora com dados antigos e desatualizados. Assim, 70% da eu passamos na Albânia, fomos a uma população é muçulmana, 20% ortodoxa igreja no sul do país, acompanhados por duas funcionárias da Visão Mundial. e 10% católica. Já a igreja evangélica, com expressões diversas, é bem pequena Erisa era uma delas — uma jovem bonita e inteligente. Quando perguntei e tem menos de 20 anos de idade. a ela como havia chegado à fé cristã, Onde estão os ateus? Os convertidos ao ela me disse com ateísmo por um estado naturalidade: “Eu tive forte, controlador e um sonho!”. Claro que a violento? Eles existem, Deus é o maior minha racionalidade e a é claro. No entanto, o interessado em se bem alimentada suspeita anseio e a necessidade dar a conhecer e ele estranhou: “O quê?”. espiritual vieram à tona faz isso de formas “Eu tive um sonho”, ela assim que possível. repetiu. E nos contou a Eclesiastes 3.11 diz que ricas e diversas história. Deus “pôs no coração Nascida numa família do homem o anseio pela nominalmente muçulmana, praticante eternidade”; e o homem, quando pode, de um islamismo típico do país, ela expressa sua busca por Deus de várias sofria com pesadelos noturnos. Um maneiras e formas religiosas. Por algum dia alguém que visitava sua casa lhe tempo, a inexistência de Deus pode até ser declarada, imposta e proclamada por sussurrou ao ouvido, para que seu pai regimes, instituições e filosofias; porém, não ouvisse, que ela invocasse o sangue de Jesus ao ter pesadelos. Erisa começou assim que uma janela se abre ou uma a fazer isso e certa noite sonhou que porta deixa fresta, as pessoas saem em busca de conhecer e pertencer, como nós alguém, cujo rosto ela não via, lhe cristãos dizemos, ao Deus que nos criou, estendia as mãos e dizia que a amava. Quando acordou, na manhã seguinte, nos sustenta e se revela com amor em Jesus Cristo. Deus é o maior interessado ela saiu correndo pela casa, dizendo a todo mundo que era cristã. Ela tinha 8 em revelar-se a nós, pois sabe que necessitamos dele de forma existencial e anos e por um bom tempo continuou a afirmar sua identidade cristã, apesar dos visceral. Ele é a nossa vida e a razão da protestos e da suspeita dos pais. Foi só nossa coexistência comunitária.
aos 14 anos que, escondida, ela começou a frequentar uma igreja. E só mais tarde, já universitária, começou a aproximarse da Bíblia de forma mais inteira e compreensiva. De queixo caído e com o coração palpitando de alegria, eu disse: “Você é uma menina bem-aventurada!”. Estava impactado pela forma como Deus se revela e como ele faz isso com graça, amor e convicção. Eu tinha ouvido falar de revelações de Deus em sonho, mas nunca havia encontrado alguém com tal experiência. Agora, porém, diante do testemunho de Erisa, eu só queria e podia ficar encantado com o próprio Deus. Claro que nem sempre é assim. Aliás, isso é raro. Normalmente, Deus usa gente como você e eu para dar-se a conhecer e o faz pelo encontro com o evangelho de Jesus Cristo, intermediado pelo Espírito Santo. Porém, é muito bom saber que ele não depende de nós para se revelar onde e como quiser. Há algum tempo venho escrevendo sobre o chamado de Jesus para sermos testemunhas dele. Durante a viagem à Albânia, vi um pouco mais de como Deus é o maior interessado em se dar a conhecer a todos nós e como ele faz isso de formas ricas e diversas. Graças a Deus, ele dá testemunho de si mesmo e o faz com muita beleza, intensidade e clareza. Valdir Steuernagel é pastor luterano e trabalha com a Visão Mundial Internacional e com o Centro Pastoral e Missão, em Curitiba, PR. É autor de, entre outros, Para Falar das Flores... e Outras Crônicas.
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H ISTÓRIA
Alderi Souza de Matos
Cristãos e política: uma relação imprescindível
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cabamos de sair de um processo eleitoral que impactou intensamente a opinião pública. Deixando de lado certas posições históricas, os evangélicos brasileiros se envolveram de modo inusitado com os grandes temas em debate. A internet foi palco de manifestações profusas e candentes por parte dos mais diversos líderes e grupos religiosos. A igreja católica adotou posturas firmes e incisivas em relação a certos valores essenciais que considera ameaçados. Em meio às grandes diferenças nos posicionamentos, surgiu um consenso muito evidente. Não é mais possível ficar indiferente ao debate político e ao processo político, porque ele produz consequências que afetam a todos. Os acontecimentos dos últimos meses têm levado os cristãos de todos os matizes a uma reflexão séria sobre a relação entre igreja e estado, fé e política. Quando se olha para a história, é possível ver algumas posições bastante distintas quanto a essa questão. 58
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Afastamento
Ao longo dos séculos, muitos cristãos têm optado por se distanciar da esfera pública, dos círculos de poder e influência relacionados com o estado e a atividade governamental. No período antigo e na Idade Média, um bom exemplo disso foi o monasticismo. Aqueles que abraçavam a chamada vida consagrada renunciavam explicitamente ao envolvimento político para se dedicar a atividades contemplativas. No período da Reforma, houve o caso dos anabatistas, que tinham entre seus princípios fundamentais o não envolvimento com a esfera política. Os partidários desse movimento protestante não exerciam cargos públicos, não faziam juramentos cívicos, não participavam das forças armadas e defendiam a mais absoluta separação entre a igreja e o estado. Monges e anabatistas justificavam a sua posição isolacionista afirmando que o envolvimento político era corruptor e prejudicial para a verdadeira espiritualidade. Os cristãos fariam bem em se manter distantes de um terreno em que a venalidade,
as intrigas e as lutas pelo poder eram quase inevitáveis. O problema é que, com esse afastamento, eles perdiam a oportunidade de exercer sua influência cristã nessa área tão decisiva. A Escritura certamente não autoriza essa atitude de isolamento, exortando os crentes a participarem ativamente da vida de suas comunidades. Alguns dos personagens bíblicos mais destacados foram homens e mulheres públicos notáveis que deram valiosas contribuições às suas sociedades. José, Débora, Davi, Salomão, Josias, Daniel, Ester e Neemias são bons exemplos.
Subserviência
Ao longo da história da igreja, os cristãos muitas vezes têm se envolvido com os poderes constituídos ou se submetido a eles, por interesse ou por imposição. No antigo Império Bizantino, os soberanos controlavam fortemente a igreja oriental ou ortodoxa, situação essa conhecida como “cesaropapismo”. Quem tentava resistir a isso, como o destemido bispo João Crisóstomo, que viveu em Constantinopla na passagem do quarto
para o quinto século, podia sofrer graves consequências. Na época da Reforma, houve o fenômeno do erastianismo (de Tomás Erasto, seu defensor), que se manifestou no forte controle da igreja pelo estado em diversas nações protestantes. Em países católicos ocorreram os fenômenos paralelos do padroado e do regalismo. Com sua ênfase na separação das esferas civil e religiosa
A voz dos cristãos somente será ouvida se saírem de seus guetos eclesiásticos e participarem corajosamente das lutas de uma sociedade e sua grande reverência pelos governantes seculares, os protestantes alemães correram por vezes o risco de ficar passivos diante da tirania, como ocorreu no período nazista. O pastor Dietrich Bonhoeffer e outros líderes pagaram com a perda da liberdade ou da vida a sua resistência contra esse sistema iníquo e diabólico. A subserviência ao estado ou ao poder político pode adquirir formas sutis e perigosas. Em contextos altamente ideológicos, como a América Latina contemporânea, muitos cristãos têm assumido compromissos questionáveis com partidos e regimes políticos marcados por tendências autoritárias e violações das liberdades democráticas. Os cristãos precisam entender que contrair vínculos sem reservas com qualquer grupo ou líder político é uma forma de idolatria que viola a integridade do evangelho. Só Jesus Cristo é Senhor supremo da vida e da consciência. Esse é um alerta necessário numa época em que lideranças messiânicas e populistas novamente seduzem as massas de muitos países, fazendo com que se esqueçam das lições da história.
Envolvimento crítico
Muitos cristãos de diferentes persuasões confessionais têm adotado uma posição intermediária e mais saudável em contraste com as anteriores. Evitando tanto o isolamento quanto o servilismo, eles têm procurado viver plenamente as suas vidas em sociedade, participar das oportunidades e angústias da atuação cívica e política, mas ao mesmo tempo mantendo suficiente espírito crítico que lhes permita um posicionamento profético em relação a qualquer partido, sistema ou regime vigente. O exemplo do bispo João Crisóstomo já foi mencionado. Essa também foi a postura do reformador João Calvino. Havia forte interação entre igreja e estado na Genebra do século 16; todavia, quando esse líder religioso sentiu que os governantes estavam violando princípios claros da Escritura e da fé cristã, ele não se intimidou em censurá-los. No início da sua carreira, tal atitude resultou na sua expulsão daquela cidade suíça. O envolvimento dos cristãos com a esfera política e partidária sempre será uma faca de dois gumes. A tentação de obter vantagens pessoais e corporativas em detrimento do bem coletivo está sempre presente. A possibilidade de usar o poder político e econômico como instrumento de dominação e manipulação é uma constante. Por outro lado, existem maravilhosas oportunidades de trazer sanidade, integridade e altruísmo a um campo tão marcado pela corrupção humana. Multiplicam-se na história exemplos de cristãos que fizeram de sua atuação pública um verdadeiro sacerdócio, beneficiando grandemente os seus contemporâneos. Foi o caso do parlamentar William Wilberforce em sua luta contra o tráfico escravagista na Inglaterra do século 18. Foi o caso do primeiro-ministro Abraham Kuyper na Holanda do início do século 20. Foi também o caso do pastor Martin Luther King em sua defesa dos direitos civis dos afroamericanos.
Conclusão
Neste período de transição governamental, o Brasil vive dias de expectativa e apreensão. Ao lado de valiosas conquistas sociais, da estabilidade e pujança da economia e de maior presença no cenário internacional, alguns comportamentos da administração que se encerra, alguns objetivos programáticos do partido no poder e alguns projetos de lei em debate no Congresso Nacional têm produzido motivos justos de preocupação, tanto para os cristãos, como para a coletividade em geral. É necessário que haja a continuação e aprofundamento do debate sobre temas candentes, como o aborto, a homofobia, a ética na política, as relações internacionais e as liberdades de consciência e de expressão, sem jamais esquecer-se da luta em prol da justiça social, da criação de uma sociedade mais fraterna.
É necessário que haja a continuação e aprofundamento do debate sobre temas candentes, sem jamais esquecer-se da luta em prol da justiça social, da criação de uma sociedade mais fraterna Os cristãos têm muito a dizer sobre essas questões porque elas fazem parte das suas preocupações desde o início e dizem respeito às convicções e valores mais profundos de sua fé. Todavia, sua voz somente será ouvida se saírem de seus guetos eclesiásticos e participarem corajosamente das lutas de uma sociedade em transformação, correndo riscos sim, mas crendo no poder transformador do evangelho não só para os indivíduos, mas para as nações. Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil. asdm@mackenzie.com.br Novembro-Dezembro, 2010
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C AMINHOS
DA MISSã O
Eunice Nalamele Alberto Chiquete
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eologia para pastores e teólogos, missiologia para missionários. Essa “separação” entre a teologia e a missiologia ou formação missionária tem sido comum. Na verdade, esse tem sido um pensamento equivocado em relação às duas áreas — ensino e prática. Bárbara Burns diz que “o missionário que não experimentou formação do caráter no lar e na igreja, e que não teve a oportunidade de passar por um currículo abrangente numa escola de treinamento teológico e missiológico, tem desvantagens a superar no campo”.¹ Por outro lado, líderes e pastores que não tiveram uma preparação adequada em missiologia têm dificuldades em considerar como parte de seu ministério os projetos de despertamento missionário, apoio emocional, espiritual e financeiro a membros que se dispõem a servir a Deus como missionários de forma parcial ou integral. A teologia e a missiologia estão casadas pela mesma causa, estão alicerçadas sobre a Bíblia e existem não apenas para proporcionar boas reflexões, mas também para que, acima de tudo, a Boa Nova seja proclama a toda criatura. A teologia que usamos define o Deus que levamos e pregamos. O Deus que pregamos e levamos define a nossa teologia. A nossa soteriologia define a maneira como levaremos a questão da salvação para os povos e
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isso tem implicações na maneira de tratar questões culturais, tradições e crenças que interagem intimamente com o dia-a-dia das pessoas. O mesmo acontece com a eclesiologia e com a teologia sacramental. Missionários bem capacitados precisam de uma base sólida na teologia, que determina o conteúdo que será levado, e teólogos aprimorados precisam de uma formação missiológica, que os orientará em como e quando o conteúdo deve ser oferecido. Essas concepções ou doutrinas determinam a base de nossa missiologia, que consequentemente norteia a missão. “Se queremos enviar missionários cristãos, eles devem conhecer e viver o verdadeiro cristianismo revelado por Deus na Palavra. Com esta finalidade, a Bíblia deve se tornar o foco e o fator integrante de todo o ensino teológico e missiológico.”² A teologia certamente intermedia a mensagem evangélica para os homens em todos os tempos. No entanto, ela não pode exercer essa mensagem com excelência sem utilizar os recursos que a missiologia oferece, pois esta é como as sandálias que a teologia calça, é como a voz na boca da teologia. Assim, concordamos com a natureza eclesiástica da teologia. E que a teologia é o autoexame da igreja e a missiologia rege a prática da igreja, ou seja, o que fazemos em relação à Missio Dei (Missão de Deus)!
John Nyberg
Pela mesma causa
A teologia que usamos define o Deus que levamos e pregamos. O Deus que pregamos e levamos define a nossa teologia
Por essa razão, todo o treinamento ou formação para pastores, teólogos, missiólogos e missionários deve envolver a teologia e a missiologia, pois ambas existem primeiro para a glória de Deus, e depois como ferramentas em nossas mãos para uma boa, eficiente e contextual proclamação da Palavra de Deus. ...a fim de que toda língua declare que Jesus é Rei, para a glória do seu nome! Notas 1. BURNS, Bárbara. Capacitando para Missões Transculturais, n. 6, p. 3. 2. Idem, n. 1, p. 62.
Eunice Nalamele Alberto Chiquete, casada, duas filhas, é angolana e cursa mestrado em missiologia em Viçosa, MG.
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E s p e ci a l
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º Congresso Lausanne de Evangelização Mundial
reúne mais de 4 mil pessoas na África do Sul por Lissânder Dias com colaboração de Klênia Fassoni
Coral de vozes africanas canta na abertura do congresso
Lausanne 3 em números 198 países representados 100.000 espectadores e 700 sites
retransmitindo o evento ao vivo em 96 países
8 idiomas contemplados na tradução de todo o material do congresso 70% dos participantes provenientes da África, Ásia e América Latina
30% dos participantes provenientes da América Anglo-saxônica e Europa 40% dos participantes com idade de 20 a 40 anos
1/3 dos participantes são mulheres 1.200 missionários 1.200 pastores 1.200 acadêmicos ou leigos 600 participantes ligados a empresas, governo, ministérios e meios de comunicação
50% dos participantes receberam algum tipo de bolsa 16,5 milhões de dólares foi o custo do congresso Fonte: www.virtueonline.org
O maior congresso O maior congresso evangélico, com 4.200 participantes e mais de 100 mil pessoas acompanhando pela internet, começou na tarde de domingo, 17 de outubro, na Cidade do Cabo, na África do Sul. A audiência via internet foi maior do que na Copa do Mundo de Futebol, que aconteceu entre 11 de junho e 11 de julho. O tema “Deus reconciliando consigo o mundo”, baseado em 2 Coríntios 5.19, estava estampado em oito idiomas nos cadernos dos participantes, nas faixas e nos telões. A palavra introdutória foi do presidente executivo do Movimento Lausanne, Doug Birdsall. À noite, na abertura oficial, houve apresentações de dança, teatro e música dirigidas por artistas africanos. Os hinos entoados enfatizaram o senhorio de Cristo, o teatro mostrou situações de dificuldades na evangelização em cada continente e um documentário em vídeo contou a história resumida do cristianismo, do Pentecostes ao Congresso de Edimburgo, em 1910. A novidade do Congresso foi a plateia. Organizados em 650 grupos de seis pessoas, os milhares de presentes reuniram-se de forma mais pessoal por quase 2 horas diariamente. Compartilharam suas histórias e expectativas e oraram juntos durante toda a semana. Esta foi a tônica metodológica do evento: não um grupo seleto de preletores, mas centenas de diálogos intencionais e programados sobre o
conteúdo apresentado. Muitos líderes de mesa (pequenos grupos) ficaram impressionados com a comunhão entre os participantes. As expectativas sobre o congresso eram diferentes para cada um. Os comitês encarregados da seleção dos participantes tiveram de seguir à risca os critérios. Assim, havia a presença não só dos líderes, mas também de jovens, mulheres, leigos e homens de negócios. A delegação do Brasil era composta por cerca de noventa pessoas de diferentes denominações e regiões do país. Além destes, outros sete brasileiros estavam entre os voluntários e cerca de vinte, que moram em outros países, vieram com suas comitivas. O bispo anglicano Robinson Cavalcanti foi o único brasileiro que participou dos três Congressos Lausanne. John Stott e Billy Graham enviaram suas saudações pessoais, comprometendose a orar todos os dias do evento. Ao refletir sobre as imensas mudanças que ocorrem no mundo, Billy Graham escreveu de sua casa, na Carolina do Norte, Estados Unidos: “Uma das tarefas que terão durante o Congresso será analisar essas mudanças e avaliar o impacto delas na missão para a qual Deus nos chama hoje”. Verdade e perseguição religiosa O segundo dia do congresso teve como ênfase a importância da verdade frente à tendência ao relativismo na sociedade contemporânea. O teólogo chinês Carver Yu reconheceu a pluralidade, Novembro-Dezembro, 2010
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Participantes organizados em mesas de diálogo
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mas combateu o pluralismo: “O pluralismo é uma ideologia que proclama que a verdade é uma construção cultural válida somente para a cultura que a construiu”. O teólogo alemão Michael Herbst lembrou que a verdade é uma pessoa: “Olhar para Jesus é buscar a verdade”. O escritor Os Guinness ressaltou que, embora o conteúdo da Bíblia pareça indecente para o mundo moderno, ele é fundamental pelas seguintes razões: honra ao Deus da verdade, equilibra emoção e razão, avança em favor da humanidade, fundamenta a proclamação da fé, combate a hipocrisia e o mal e nos ajuda a crescer na transformação em Jesus Cristo. Os cânticos em várias línguas marcaram os momentos diários de louvor comunitário. Para Carlinhos Veiga, foi “uma pequena mostra do que será a eternidade, com pessoas de vários países, cada qual com suas vestes típicas e características culturais. Um grande coro de adoração se formou naturalmente — isso me fez lembrar como a música é um elemento comum ao povo de Deus em todo o mundo, como é a linguagem dessa família de fé”. O expositor da manhã foi o teólogo de Sri Lanka, Ajith Fernando, que a partir de Efésios 1 afirmou que a salvação traz um conceito mais completo sobre Deus do que normalmente compreendemos. “Ver Cristo como alguém que supre as necessidades pessoais é um ponto inicial, mas não é tudo. Deus está marchando para a vitória final. Ele tem um plano, um propósito para o mundo. O evangelho é mais profundo, mais rico e maior do que a ideia de Deus suprindo as necessidades imediatas.” Nos pequenos grupos, os participantes puderam estudar o texto de forma indutiva. Todas as tardes os participantes podiam escolher vários seminários, com mais de um preletor cada, chamados “multiplex”. Eram oferecidas também dezenas de sessões específicas de diálogo (mais de 120 em todo o congresso). Tudo isso fez com que as temáticas diárias ganhassem abrangência e participação. O que foi um ponto forte para alguns, foi o contrário para outros, que lamentaram o não-aprofundamento dos temas. A noite foi dedicada a uma visão panorâmica de como Deus está movendo a igreja no mundo, em especial em contextos de perseguição e violência religiosa. Documentários em vídeo trouxeram histórias de perseguição a cristãos na Colômbia, na África Ocidental, no Oriente Médio, no Vietnã, no Uzbequistão, no Turcomenistão e no México. “Policiais vieram à igreja, esperando descobrir algo errado. Identificaram no conteúdo do sermão. Fui preso, mas pude compartilhar o evangelho na prisão.
Trinta presos se converteram a Cristo”, disse, em vídeo, um pastor vietnamita. Os congressistas oraram juntos pela situação da igreja na China. Muitos chineses que participariam do congresso foram impedidos de sair do seu país. Reconciliação global e integral A reconciliação aplicada não somente à dimensão individual, mas também à global e integral foi a mais importante contribuição teológica do terceiro dia do Congresso na Cidade do Cabo — uma cidade ainda marcada pela recente história de discriminação racial da África do Sul. Ruth Padilla, presidente da Fraternidade Teológica LatinoAmericana (FTL), enfatizou em sua exposição de Efésios 2 a obra de Jesus Cristo como base para a reconciliação e para a construção de uma comunidade reconciliadora: “Em Jesus Cristo, Deus cria uma comunidade. Os romanos classificavam as pessoas por categorias, por status, mas na obra reconciliadora de Deus todos somos da mesma comunidade. Somos templo santo de Deus”. Foi desafiador ouvir Joseph D’souza, Pranitha Timothy e Brenda Salter. Joseph falou sobre as castas na Índia e sobre as mulheres como vítimas da discriminação. Pranitha, uma jovem indiana de voz e porte físico frágeis, contou como lidera a International Justice Mission (IJM), organização que trabalha para libertar escravos, defendê-los judicialmente e oferecer ajuda emocional. “Deus quer trazer luz, por meio do seu Corpo, diante da escuridão dos donos de escravos. Devemos mostrar que nosso Deus é justo. Que ele abençoe os escravos.” (Veja uma entrevista exclusiva com Pranitha em www.ultimato.com.br.) A norte-americana Brenda fez uma autocrítica afirmando que o cristianismo nos Estados Unidos tem um problema de credibilidade. A palestina Shadia Qubtim e o judeu Daniel Sered relataram em seus testemunhos a dificuldade de vencer o ódio entre seus povos, mas demonstraram esperança. “A reconciliação tem me transformado, e transforma o meu inimigo”, disse Shadia em meio aos aplausos. “A única esperança para a paz no Oriente Médio é Jesus. Ore por isso”, pediu Sered. A segunda plenária do dia ficou a cargo de Antonie Rutaysire. Ele refletiu teologicamente sobre os erros das igrejas cristãs que contribuíram para a tragédia do genocídio em seu país, Ruanda, em 1994, quando 1 milhão de pessoas foram mortas em apenas 100 dias devido ao conflito entre etnias. Ele lembrou que o massacre aconteceu num país com 90% de cristãos e numa época em que a igreja estava crescendo. À noite, a programação foi dedicada à região do Oriente Médio e foi dirigida pelo pastor brasileiro Valdir Steuernagel. Líderes de países como Irã, Líbano, Palestina e Egito relataram como está a caminhada do cristianismo em suas regiões. A boa notícia é que o evangelho tem crescido em toda a região. A má notícia é que a perseguição religiosa também cresce, o que tem forçado muitos convertidos a fugirem de seus países, enfraquecendo assim o testemunho cristão. Os participantes viram e ouviram em vídeo a história de uma mulher explorada sexualmente no Camboja, mas que encontrou no cristianismo o caminho para o resgate de sua vida e dignidade. Em seguida, o público emocionou-se com a história de vida de uma moça da Zâmbia e de um homem da África do Sul. Ambos são soropositivos e contaram como Deus os tem ajudado a enfrentar a doença e o preconceito, e como eles têm
lutado em favor de outros contra o flagelo do HIV/aids. Ao final do dia, Steuernagel reconheceu: “Não foi um dia fácil. Deus nos chamou para percorrer um mundo ferido”. Evangelismo e relacionamento com outras crenças O quarto dia do Congresso trouxe “A teologia da prosperidade à tona o relacionamento com surgiu como resposta ao outras crenças. O evangelismo vácuo deixado pela falta da foi a ênfase e nela o islamismo missão integral. Os pobres ganhou destaque. precisam saber como Para o arcebispo anglicano sobreviver até chegarem Benjamin Argak Kwashi, ao céu. Se não há missão nigeriano, “o evangelho é integral, eles precisam da poderoso como uma dinamite”. teologia da prosperidade” Mesmo assim, o risco da morte Pastor ugandense faz parte do trabalho de anunciar esse evangelho, como provou o emocionante testemunho de Libbie Little, viúva do missionário norte-americano Tom. Ele e seu “O pluralismo é a mais grupo (incluindo dois afegãos) dogmática de todas as foram mortos em agosto no ideologias” Afeganistão. Ele deixou notas do seu último sermão, no qual fala Carver Yu, teólogo chinês sobre o aroma do amor de Cristo, manchadas de sangue. Uma mulher convertida do islamismo testemunhou sobre como “o amor abundante de Jesus está trazendo os muçulmanos “O cinema é a nova e, em especial as mulheres, para igreja” Deus”. Outros dois testemunhos Quentin Tarantino, relataram conversões do islamismo citado no multiplex sobre ao cristianismo. mídia e missões O apologeta Michael Ramsden falou sobre o exemplo de Paulo ao pregar aos gentios. Já Ziya Meral abordou as falhas que atrapalham a igreja ao lidar com o Islã. Falta entender corretamente o “Muitas igrejas são pensamento do mundo moderno como um ônibus. Têm e o tempo de transição do século um motorista, um 20 para o 21. “A igreja global tem cobrador e o resto” de dar testemunho de que ama a Vaughan Roberts Deus.” O pregador John Piper fez a exposição bíblica do terceiro capítulo de Efésios. Ele destacou a necessidade de a igreja não “Os dons do Espírito se preocupar apenas como o são para todos, sofrimento de agora, mas também homens e mulheres. com o da eternidade, referindoA evangelização é se aos que serão separados de responsabilidade de Deus. Enfatizou a grandeza do todos” propósito de Deus para o mundo Elke Werner e sua multiforme sabedoria para a igreja. “Deus não é tribal. Ele é universal.” A programação da noite foi dedicada ao continente latinoamericano e à questão das megacidades. O ponto alto foi a Novembro-Dezembro, 2010
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Darcy Caires Jr
Brasileiros que participaram do congresso
conversa entre René Padilla e Samuel Escobar. Eles relembraram Lausanne 1 (1974) e apontaram três preocupações que deveriam ser mais bem exploradas no congresso: 1) o evangelismo como a tarefa de fazer discípulos e não simplesmente convertidos; 2) a globalização e seus efeitos sobre milhões de pobres; 3) e o sistema econômico e sua destruição do meio ambiente. Quanto ao tema das megacidades, a reflexão ficou a cargo do norte-americano Tim Keller, pastor da Redeemer Presbyterian Church em Nova York e autor do best-seller The Reason for God. Definição de prioridades Após um dia de descanso para os participantes, a proposta do sexto dia era responder quais as prioridades da evangelização. Os vídeos e os testemunhos pessoais mostraram alguns problemas sérios desta geração (drogas, aids, violência etc.) e como as igrejas têm enfrentado tais questões. Vaughan Roberts, do Reino Unido, explorando o texto de Efésios 4.116, refletiu sobre o significado da unidade da igreja: “A unidade de Cristo não pode ser criada, é uma ação do Espírito. Por meio da verdade do evangelho, do Espírito, somos o Corpo de Cristo. Deus pede que vivamos de maneira digna da vocação a que fomos chamados. As divisões não são por diferenças teológicas, mas por orgulho”. Paul Eshleman, dos Estados Unidos, enfatizou estatísticas de grupos etnolinguísticos sem acesso às Escrituras. “Ainda há grupos entre os quais a igreja não está presente, nem se planeja estar. É absolutamente errado. Até quando vamos esperar? Podemos dizer 64
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que já basta.” A evangelização por meio de contadores de histórias foi a estratégia mais divulgada pelos preletores. À noite, o destaque foi a evangelização de crianças e jovens. Vídeos e apresentações teatrais mostraram a importância teológica da criança e a necessidade de anunciar as boas novas aos jovens. Integridade No sétimo dia o destaque foi a integridade como virtude essencial para a igreja cumprir a missão. O pastor queniano Calisto Odebe destacou os verbos levantar, sentar e andar no texto bíblico de Efésios 4.17–6.9 como expressão prática da vida cristã. Ele chamou a atenção também para a incoerência atual dos cristãos. “Alguns ministros tornaram-se artistas e vendem produtos sem relevância. Devemos ser autênticos, senão seremos confundidos com vuvuzelas, que só fazem barulho.” Já Chris Wright fez uma autocrítica da caminhada da igreja no mundo e destacou três virtudes essenciais: integridade, humildade e simplicidade. O contrário delas — sucesso, poder e ganância — ele considera idolatria. “Desde Abraão, Deus promete criar o seu povo para viver no caminho do Senhor, como testemunho para todas as nações. Muitos obstáculos prejudicaram isso. O maior, no entanto, foi o próprio povo, e não as outras religiões. Antes de buscar os povos nãoalcançados, devemos nos ajoelhar e buscar a Deus”. No restante do dia, houve muitas críticas à Teologia da Prosperidade. À noite, a Eurásia foi a região em destaque. Ouvir que, depois de 20 anos, o evangelho está crescendo na Rússia foi uma surpreendente notícia.
E agora? Em todo o congresso, os participantes foram desafiados a reproduzir o seu conteúdo e a participar da obra de reconciliação em Cristo em seus países. Você pode acompanhar no site www.ultimato.com.br novos artigos e notícias sobre os desdobramentos do evento. E a próxima edição de Ultimato (janeiro-fevereiro) trará como matéria de capa mais informação e muita reflexão sobre Lausanne 3.
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Encerramento e documento final O culto de encerramento do 3º Congresso Lausanne, na Cidade do Cabo, foi marcado pela forte tradição litúrgica anglicana, pela celebração musical e pela ênfase cristocêntrica. Cristãos de quase duzentos países foram, no último momento, mais uma vez comissionados para cumprir o chamado de Deus no mundo. A celebração da Santa Ceia, dirigida pelo arcebispo da Igreja Anglicana de Uganda, Henry Luke Orombi, marcou a busca por unidade — tema recorrente nos cinco dias do congresso. Os seis grandes temas — verdade, reconciliação, relacionamento com outras crenças, definição de prioridades, integridade e parceria — foram lembrados transversalmente no sermão de encerramento ministrado por Lindsay Brown, diretor internacional do Movimento Lausanne. Em sua homilia, ele deixou claro qual foi o centro de referência dos esforços do Congresso Lausanne: “Cristo é o centro da mensagem. Ele não é apenas um salvador, mas o único Salvador”. A liturgia contou com mais de vinte cânticos intercalados com orações e leituras comunitárias, e o culto foi encerrado com a Santa Ceia. Ver homens e mulheres com as faces e vestes diversas participando, em comunhão singela, do pão mergulhado no vinho deu aos presentes o sentimento de gratidão a Deus pelo privilégio de participar desse momento e perceber que a igreja global é maior e mais complexa do que podemos mensurar. O resultado concreto do 3º Congresso Lausanne é o “Compromisso da Cidade do Cabo”. O documento é uma declaração final do Movimento Lausanne a partir do congresso. A primeira parte é uma declaração de fé intitulada “Para o Senhor que amamos: o nosso compromisso de fé”. Com versão ainda provisória, enfatiza o verbo amar e compõe-se de introdução e dez seções. “Esta declaração foi firmada na linguagem do amor. O amor é a linguagem da aliança. As alianças bíblicas, antigas e novas, são expressão do amor redentor de Deus e da graça que alcança a humanidade perdida e a criação deteriorada. Em troca, elas pedem o nosso amor. O nosso amor se manifesta por meio da confiança, obediência e do compromisso apaixonado com a aliança do Senhor. O Pacto de Lausanne definiu a evangelização desta forma: ‘toda a igreja levando todo o evangelho para todo o mundo’. Esta continua sendo nossa paixão.” A segunda parte — o chamado — ainda está em fase de elaboração. Um grupo formado por oito pessoas (entre elas os brasileiros Valdir Steuernagel e Rosalee Veloso) vai trabalhar na redação do documento a partir das reflexões feitas no congresso.
O discípulo radical Se John Stott fosse conhecido no mundo todo apenas como teólogo, escritor e evangelista, já seria surpreendente. Porém, além disso e de ter sido indicado pela revista Time como uma das cem personalidades mais influentes do mundo, ele é também o presidente honorário do Movimento Lausanne e um de seus pioneiros. Aos 88 anos e com a saúde debilitada, Stott não pôde comparecer ao congresso. Mas fez questão de enviar uma mensagem a todos os participantes, que foi publicada em oito idiomas no informativo do congresso: “Tenho agradecido a Deus, durante todos esses anos, pelo crescimento do Movimento Lausanne desde 1974 e pela maneira como ele o tem usado para a sua glória. Agradeço ainda mais a Deus pelo crescimento da igreja mundial durante esses anos, principalmente nos grandes continentes do mundo em desenvolvimento. Alegro-me com a realização do Congresso na África e oro para que vocês partilhem ricamente a bênção de Deus sobre a igreja nesse continente, assim como a dor e o sofrimento do seu povo.” Apesar das limitações, John Stott mantém uma invejável lucidez e senso de humor — e realiza suas atividades com a ajuda de Frances Whitehead, sua secretária por mais de cinquenta anos. Após marcar gerações com livros como Ouça o Espírito, Ouça o Mundo (ABU editora), escreveu suas “palavras de despedida” em seu mais novo (e, segundo ele mesmo, o último) livro: The Radical Disciple: some neglected aspects of our calling (InterVasity Press, 2010). No Brasil, o livro será publicado pela editora Ultimato, em março de 2011, com o título O Discípulo Radical. Stott explica o que significa ser um discípulo radical de Jesus e explora oito aspectos importantes, mas negligenciados, do discipulado cristão: nãoconformidade, semelhança com Cristo, maturidade, cuidado com a criação, simplicidade, equilíbrio, dependência e morte. Ele reflete sobre o significado de servir a Jesus sem reservas e deixá-lo dirigir nossa vida, cumprindo assim a tarefa de levar adiante o espírito Lausanne. Novembro-Dezembro, 2010
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Rubem Amorese
O veterinário
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Giane Portal
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uando pequeno, eu sonhava em ser tratado por um veterinário — um médico muito especial, que consegue descobrir e curar as doenças dos animais sem que eles falem uma só palavra. Que descobre sozinho o que há de errado com o paciente. Ah, que sonho! Eu tinha consciência da dificuldade em dizer o que havia de errado comigo. Mesmo para meus pais. Sabia apenas que havia coisas doentes e doendo. Porém, como explicá-las? Com que palavras? Como fazer isso se meu vocabulário era o de um menino de oito anos? Era melhor subir numa árvore bem alta e ficar por lá. Ou nadar para minha Ilha Rasa e passar boa parte do dia “longe dos problemas”, em meio às gaivotas. Fuga, claro. Com o tempo, percebi que as dores iam comigo para a ilha. No entanto, a felicidade da solidão e do calor do sol ajudavam, como hoje Deus nos deixou o modelo para o ministério ajuda um banho quente. Meu sonho era um dia ser apresentado a um que reconcilia os cacos da alma e pacifica os adulto bondoso, vestido de branco e com um corações internamente conflagrados estetoscópio especial. Com olhar profundo, ele se colocaria de joelhos e, com toda a calma, me emocional com a qual eu sonhava. Não teria esperado olharia bondosamente nos olhos. Sem necessidade de cinquenta anos para conseguir discernir minhas próprias palavras, me examinaria o corpo, como os veterinários faltas, dores e necessidades, invariavelmente traduzidas examinam os animais. Talvez então esse veterinário por culpa. entrasse em minha alma (uma palavra que só aprendi Hoje contemplo a encarnação do Verbo e vejo ali a mais tarde) e seu estetoscópio gentilmente revelaria meus origem dessa ordem sacerdotal “veterinária”. Descubro que segredos. Deus, em Cristo, se ajoelhou e nos olhou bondosamente Ele me ajudaria a compreender meus próprios nos olhos. E nomeou nossos pecados. E nos prescreveu sentimentos. Só compreendê-los já seria bom. Porém, a receita do arrependimento e do perdão. se ele pudesse explicá-los para mim, numa linguagem E nos deixou o modelo para esse ministério que acessível... Para isso, talvez começássemos uma longa e reconcilia os cacos da alma e pacifica os corações profunda conversa. Ele me ensinaria as palavras certas internamente conflagrados. Um ministério que nasce do para nomear e descrever meus problemas. Elas me (e no) amor de Deus; que vê e se compadece; que para permitiriam “olhar” para eles e falar deles para meus pais e, dadivosamente, despende o tempo necessário para e pessoas de confiança. Eu iniciaria um bom período de compreender, junto com o “paciente”, o que até então convalescença. só se expressava por silêncios e solidão (Lc 10.33-35). De repente, o doutor me daria algumas receitas que Restabelecendo o diálogo vital, esse ministério lança abrandariam os desconfortos, sanariam a culpa, os luz sobre as almas em trevas. “E nos deu o ministério da medos e as angústias infantis. Sim, ele me prescreveria reconciliação” — também entre as crianças. remédios para o coração (ou alma). Teria sido tão bom se eu tivesse sido alvo de um lavaRubem Amorese é consultor legislativo no Senado Federal e presbítero na Igreja pés infantil, executado por um missionário com chamado, Presbiteriana do Planalto, em Brasília. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e Liturgia e Fábrica de Missionários — nem leigos, nem santos. ruben@amorese.com.br unção e poder de Deus para exercer a delicada missão
AnĂşncio
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