FECHAMENTO AUTORIZADO. Pode ser aberto pelos Correios.
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Islamismo e democracia não são compatíveis
Entrevista: Ramez Atallah
A espiritualidade cristã e a cultura narcisista Maio-Junho, 2011 I
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MAIO–JUNHO 2011 • ANO XLIV • Nº 330
no pensamento de Blaise Pascal
Ricardo Barbosa
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A bertura
O prolongamento
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uanto tempo vai durar a dor daqueles que tiveram de enterrar seus próprios parentes, por não poderem mais suportar o cheiro do apodrecimento natural de seus corpos, como aconteceu na região serrana do Rio de Janeiro? Quanto tempo vai durar a dor daqueles que perderam tudo: casa, móveis, roupas, documentos e recordações familiares? Quanto tempo vai durar a dor provocada pelos surtos psicóticos e depressivos que vieram à tona quando as vítimas começaram a tomar conhecimento das verdadeiras proporções da tragédia fluminense? Nem sempre a alegria rompe de manhã cedo, depois de uma noite de choro (Sl 30.5). A dor pode durar mais de um dia, mais de uma semana, mais de um mês, mais de um ano. A outra boca do túnel, que dá para a claridade, pode estar a uma distância muito grande. A caminhada dos filhos de Israel do Egito à terra de Canaã durou quarenta anos (Dt 8.2). O exílio babilônico de Israel se estendeu por setenta (Jr 25.11). Por quarenta anos, o Egito sofreu humilhação e destruição até saber que Deus é o Senhor (Ez 29.12). Nabucodonozor passou sete “tempos” andando de quatro e comendo a grama do palácio até tomar consciência de que Deus é quem “destrona reis e os estabelece” (Dn 4.32-33). O rei Davi provavelmente passou cerca de dez anos sofrendo as consequências do seu adultério. Jó perdeu todos os filhos em um mesmo dia, por causa de um desabamento semelhante ao de Friburgo e Teresópolis. Ele foi privado de 11.500 cabeças de gado e de todos os empregados da fazenda; perdeu a coroa (Jó 19.9), a saúde e a solidariedade religiosa da esposa. Recuperou tudo, mas não foi repentinamente. Em
Satendra Mhatre
da dor
meio à dor, o homem da terra de Uz questionou: “Por que esperar, se já não tenho forças? Por que prolongar a vida, se o meu fim é certo?” (Jó 6.11). Tanto a dor quanto o seu prolongamento, em última análise, são mistérios. Porque todos sofrem: as crianças e os idosos, os bons e os maus, os cristãos e os não-cristãos, os ricos e os miseráveis. Uns sofrem mais, outros menos. Em alguns casos, a dor prolongada é uma fábrica de revoltosos e incrédulos. Em outros, é uma fábrica de santos e de pessoas disponíveis aos outros. A dor prolongada tanto pode ser uma tentação como uma provação. Se ela me afastar de Deus, é uma tentação; se ela me aproximar dele, é uma provação (e uma bênção). Por mais misteriosa que seja a dor prolongada, a pior maneira de lidar com ela é perder a comunhão com Deus, perder a fé, perder a esperança. Esse foi o conselho da mulher de Jó ao marido: “Amaldiçoa a Deus, e morre!”. Ela obteve a resposta certa: “Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?” (Jó 2.9-10). O sofrido Jó suportou a dor prolongada por meio da esperança: “Eu sei que o meu Redentor vive e que no fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25). Dificilmente a dor prolongada dura a vida inteira. Porém, se durar muito tempo ou o tempo todo, os cristãos em comunhão com Deus sabem que “no fim [o Redentor] se levantará sobre a terra” (Jó 19.25). Esse mesmo Redentor “enxugará dos seus olhos toda lágrima. Então não haverá tristeza, nem choro, nem dor [muito menos a dor prolongada], pois a antiga ordem já passou”. Assim, aquele que reina sobre tudo e sobre todos e que está sentado no trono dirá: “Estou fazendo novas todas as coisas!” (Ap 21.4-5).
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C arta
ao leitor
ISSN 1415-3165 Revista Ultimato – Ano XLIV – Nº 330 Maio-Junho 2011 www.ultimato.com.br Publicação evangélica destinada à evangelização e edificação, não denominacional, Ultimato relaciona Escritura com Escritura e acontecimentos com Escrituras. Visa contribuir para criar uma mentalidade bíblica e estimular a arte de encarar os acontecimentos sob uma perspectiva cristã. Pretende associar a teoria com a prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação social, a oração com a ação, a conversão com santidade de vida, o suor de hoje com a glória por vir. Circula em meses ímpares
Deve-se orar a respeito de tudo, a qualquer hora, em qualquer lugar
Ralph Aichinger
fundada em 1968
Diretor de redação e jornalista responsável: Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG Arte: Liz Valente Impressão: Plural Tiragem: 35.000 exemplares Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro Carlos “Catito” Grzybowski • Carlinhos Veiga Dagmar Fuchs Grzybowski • Ed René Kivitz • Jorge Barro Marcos Bontempo • Marina Silva • Paul Freston René Padilla • Ricardo Barbosa de Sousa Ricardo Gondim • Robinson Cavalcanti • Rubem Amorese Valdir Steuernagel Notícias: Lissânder Dias Participam desta edição: Ivny Monteiro Noemia Cessito • Odayr Olivetti Publicidade: anuncio@ultimato.com.br Assinaturas e edições anteriores: atendimento@ultimato.com.br Reprodução permitida: Favor mencionar a fonte. Os artigos não assinados são de autoria da redação. Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro da Associação de Editores Cristãos (AsEC) Editora Ultimato Telefone: (31) 3611-8500 Caixa Postal 43 36570-000 — Viçosa, MG Administração/Marketing: Klênia Fassoni Ana Cláudia Nunes • Ariane Gomes dos Santos Daniela Cabral • Ivny Monteiro • Lucas Rolim Menezes Editorial e Produção: Marcos Bontempo Bernadete Ribeiro • Djanira Momesso César Fernanda Brandão Lobato • Gláucia Siqueira Mariana Furst • Paula Mendes Finanças/Circulação: Emmanuel Bastos Aline Melo • Ana Paula Fernandes • Cristina Pereira Daniel César • Edson Ramos • Jair Avillez Luís Carlos Gonçalves • Rodrigo Duarte Solange dos Santos Vendas: Lúcia Viana • Henife Oliveira • Lucinéia Campos Romilda Oliveira • Tatiana Alves • Vanilda Costa Estagiários: Bruno Menezes • Cláudia Alvarenga Jaklene Batista • Juliani Lenz 4 4 ULTIMATO 2011 ULTIMATO I I Maio-Junho, Maio-Junho, 2011
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emos um recado para o leitor sobre oração. Na página 56, Valdir Steuernagel diz que “a oração é o fôlego que nos é dado por Deus, que nos envolve e alimenta a nossa vida, é a graça divina que alimenta o pulmão de nossa relação vital com Deus”. Já Ed René Kivitz, nos ajuda quando escreve “que se deve orar a respeito de tudo, por qualquer motivo, a qualquer hora, em qualquer lugar, sempre que o coração não estiver em paz” (p. 38). Em um artigo sobre a espiritualidade cristã e a cultura narcisista, Ricardo Barbosa explica que “o narcisismo como expressão do egoísmo e da autoglorificação é tão velho quanto o pecado original” (p. 32). Assim como Jesus acusou o maligno de roubar a boa semente do coração humano (Mt 13.19), os terapeutas de casais Carlos e Dagmar Grzybowski afirmam que, “nos dias atuais, a televisão e o computador são os maiores ladrões do diálogo conjugal e familiar”. Eles insistem que “existe muito lixo no espaço cibernético e nas programações televisivas que sorrateiramente se acumula nos cantos da mente e produz, em médio prazo, um fedor comportamental que infecta os relacionamentos” (p. 31). E falando de Jesus, seu ministério terreno se concentrou em Israel, mas “os não-judeus não foram totalmente excluídos dos benefícios de seu poder redentor”. A prova disso é que “a comissão dada aos discípulos tem uma óbvia conotação global”, pois ele ordenou: “Ide, fazei discípulos de todas as nações” (Veja O alcance global da missão cristã, do missiólogo hispanoamericano René Padilla, na página 36). A esse respeito, Bráulia Ribeiro, brasileira que mora no Havaí e está envolvida em projetos internacionais de desenvolvimento na Ásia, queixa-se que “já passou da hora de homens de negócios e capacidade empreendedora abraçarem o chamado da missão integral, pois o mundo de missões precisa deles” (p. 34). A reflexão do bispo Robinson Cavalcanti sobre cristianismo, secularismo e cidadania é muito séria. “O multiculturalismo, o politicamente correto, a cultura da morte (aborto, não-procriação, homossexualismo, eutanásia), a agenda GLSTB lastram uma pós-modernidade que, negadora de qualquer verdade, afirma o individualismo, o subjetivismo e o relativismo” (p. 52). A matéria de capa relata o testemunho de fé do famoso matemático francês Blaise Pascal. Isso e muito mais Ultimato oferece ao leitor neste terceiro bimestre do ano.
Elben César
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A beleza dos joelhos dobrados
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eus criou o ser humano ereto, mas ele precisa aprender a se curvar, sobretudo, diante do Criador e diante de seu semelhante. Ele não tem facilidade para fazer isso. Em vez disso, ele é naturalmente resistente a qualquer curvatura. Uma das acusações feitas por Deus a Israel era a de que “os tendões de seu pescoço eram de ferro, a sua testa era de bronze” (Is 48.4; Êx 32.9). Essa criatura incurvável não se dobra, não se ajoelha, não coloca o rosto no mesmo lugar onde estão os seus pés. Ela é dura, teimosa, orgulhosa e obstinada. O ser humano precisa descobrir a beleza dos joelhos. Eles substituem os pés na prática da oração. Quando dobrados, os joelhos diminuem a altura do que ora e aumenta a altura daquele a quem se ora. É uma reverência aceita por Deus que pode facilitar a oração e a comunhão com ele, desde que o espírito também esteja dobrado. Pessoas extremamente necessitadas aproximavam-se de Jesus e punham-se de joelhos diante dele para suplicar a graça desejada. É o caso do leproso que pediu ao Senhor: “Se quiseres, podes purificar-me” (Mc 1.40); do pai do garoto epilético que suplicou: “Senhor, tem misericórdia do meu filho [pois] ele tem ataques e está sofrendo muito” (Mt 17.14-15); e também do jovem rico que se ajoelhou em plena rua e perguntou: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (Mc 10.17). Precisamos voltar aos joelhos. Para orar, vários personagens da Bíblia punham-se de joelhos. Na dedicação do templo de Jerusalém, “Salomão ficou em pé na plataforma e depois ajoelhou-se diante de toda a assembleia de Israel, levantou as mãos para o céu e orou” (2Cr 6.13). O escriba Esdras nos conta que “na hora do sacrifício da tarde, eu saí do meu abatimento, com a túnica e o manto rasgados, e caí de joelhos com as mãos estendidas para o Senhor, o meu Deus, e orei” (Ed 9.5).
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No caso do profeta Daniel, lê-se que a mão de alguém o colocou sobre as suas próprias mãos e joelhos, indicando uma curvatura maior (Dn 10.10). Pouco antes de morrer apedrejado, Estêvão caiu de joelhos e bradou: “Senhor não os considere culpados deste pecado” (At 7.60). Em Mileto, Paulo mandou chamar os presbíteros da igreja de Éfeso e, depois de os entregar a Deus, “ajoelhou-se com todos eles e orou” (At 20.36). Cena ainda mais bela aconteceu pouco depois, na cidade de Tiro, a caminho de Jerusalém. Os cristãos da cidade, suas esposas e seus filhos acompanharam Paulo até a praia e todos se ajoelharam para orar, antes de o apóstolo embarcar no navio (At 21.5). Na Epístola escrita aos efésios, o mesmo Paulo revela: “Por essa razão, ajoelhome diante do Pai” e oro para que “ele os fortaleça com poder, por meio do seu Espírito” (Ef 3.14-16). Passagem curiosa é quando Elias “subiu o alto do Carmelo, dobrou-se até o chão e pôs o rosto entre os joelhos”. Com a cabeça, o peito e o ventre totalmente dobrados em cima dos joelhos, o profeta pediu chuva e ela veio (1Rs 18.42; Tg 5.18). Na agonia do Getsêmani, Jesus “se afastou [dos discípulos] a uma pequena distância [de mais ou menos trinta metros], ajoelhou-se e começou a orar” (Lc 22.41). Na versão de Mateus, o Senhor “prostrou-se com o rosto em terra e orou” (Mt 26.39). No que diz respeito à arte da oração e da adoração, os joelhos estão ociosos. Eles foram feitos também para se dobrarem diante do Todo-poderoso. Daí o convite: “Venham! Adoremos prostrados e ajoelhemos diante do Senhor, o nosso Criador” (Sl 95.6). Precisamos aprender a fazer isso para que, na plenitude da salvação, “ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fp 2.10-11).
S umário
CAPA 31 32 34 36 38 45 48 50 52 54 56 60 63 66
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Fé, razão, pecado e redenção no pensamento de Blaise Pascal
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O homem está dividido dentro de si mesmo
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O home enjoa de tudo porque a felicidade não está nas coisas exteriores
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A morte é o começo da beatitude do corpo
O alcance global da missão cristã René Padilla
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Jesus Cristo é o centro para onde tudo converge
Cotidiano
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Especial
O cristianismo tem algo de espantoso
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Excluir a razão e não admitir senão a razão são dois extremos a evitar
Casamento e família
Cuidado com os ladrões Carlos “Catito” Grzybowski e Dagmar Fuchs Grzybowski
O caminho do coração
A espiritualidade cristã e a cultura narcisista, Ricardo Barbosa de Sousa
Da linha de frente
O mandato econômico Bráulia Ribeiro
Missão integral
O leitor pergunta, Ed René Kivitz Ponto de encontro
Entrevista
Ramez Atallah Islamismo e democracia não são compatíveis
Ética
O Pai-Nosso e as bem-aventuranças para hoje, num texto do ano 380, Paul Freston
Reflexão
Cristianismo, secularismo e cidadania Robinson Cavalcanti Um caso de amor Ricardo Gondim
Redescobrindo a Palavra de Deus
A vocação dos discípulos e o ministério da oração, Valdir Steuernagel
História
Em defesa da teologia Alderi Souza de Matos
Especial
Visão bíblica das calamidades Odayr Olivetti
Ponto final
Discípulos do amor, Rubem Amorese
Leia mais
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SEÇÕES 3 4 6 8 12 12 14 18 30 39 40 42 43 58
Abertura Carta ao leitor Pastorais Cartas Frases Números Mais do que notícias Notícias De hoje em diante... Novos acordes Altos papos Meio ambiente e fé cristã Caminhos da missão Cidade em foco ABREVIAÇÕES:
AS21 - Almeida Século 21; BH - Bíblia Hebraica; BJ - A Bíblia de Jerusalém; BP - A Bíblia do Peregrino; BV - A Bíblia Viva; CNBB - Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; CT Novo Testamento (Comunidade de Taizé); EP - Edição Pastoral; EPC - Edição Pastoral - Catequética; HR – Tradução de Huberto Rohden; KJ - King James (Nova Tradução Atualizada dos Quatro Evangelhos); NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje; TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia. As referências bíblicas não seguidas de indicação foram retiradas da Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional.
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C artas Excelente o artigo Reflexões a partir da Lagoinha (março/abril de 2011). Gostaria, entretanto, de sugerir uma reportagem sobre as pequenas igrejas. Há congregações pequenas, esquecidas, que estão na luta pelo evangelho. Existem nelas bons projetos que nunca aparecem na mídia. Geraldo Diniz, Irecê, BA
Aborto
Paul Freston acha irrelevante o fato de a descriminalização do aborto fazer parte do programa de governo de alguns partidos. Porém, evangélicos e católicos convictos da inerrância da Palavra de Deus estão convencidos de que lançar um filho pela janela do apartamento ou arrancá-lo do útero e jogá-lo no vaso sanitário é praticar infanticídio. O agente deve responder juridicamente pelo ato. O autor de Sobre a participação evangélica na campanha eleitoral 2010 (“Ética”, janeiro/ fevereiro de 2011) também minimiza o peso eleitoral dos cristãos. O fato é que a presidente Dilma se comprometeu com os mesmos a não enviar ao Congresso um projeto alterando a legislação atual sobre o aborto. Jesus Silveira Leite, Sorocaba, SP
Unidos com Cristo
Entendo o raciocínio de Elben César em Unidos com Cristo (“Abertura”, março/abril de 2011). Porém, não acredito que exista a categoria “cristãos carnais”. Estes são conhecidos como “ímpios” ou “o joio”. O verdadeiro cristão se constrange com o pecado, arrepende-se e luta com toda sua força para não pecar mais. Se ele continua pecando, torna-se um caso preocupante Wagner Fróes, Limeira, SP — É lamentável que haja “crentes carnais”. Entretanto, nem todos são necessariamente joio. Paulo se queixa de alguns irmãos da igreja de Corinto chamando-os de carnais, crianças em Cristo e mundanos (1Co 3.1-3). Eles não deveriam ser carnais, pois são santuários do Espírito Santo (1Co 3.16-17).
Lagoinha
O artigo sobre a Igreja Batista da Lagoinha (“Especial”, março/abril de 2011) mostra uma igreja com um alvo ambicioso, um líder nãopersonalista — apesar de ter se autonomeado apóstolo — e uma comunidade que tem feito muito pelo progresso do evangelho. Muitas pessoas têm sido edificadas, abençoadas e salvas a partir do trabalho realizado por ela. Carlos Caldas Filho, São Paulo, SP
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Ordenação feminina
Jesus viveu em uma época machista, mas nem por isso se submeteu aos ditames de seu tempo. Antes, quebrou paradigmas ao conversar com prostitutas e samaritanas e ao conceder às mulheres o privilégio de serem as primeiras a divulgar a ressurreição. Foram elas que sustentaram o ministério de Jesus; contudo, ele não as ordenou “apóstolas”. A inexistência de pastoras, bispas e diaconisas na igreja primitiva não pode ser justificada pelo argumento culturalista. Pois Deus, ao instituir a sua igreja, não se limitaria às invenções humanas. Dessa forma, somente a própria Escritura pode explicar o chamado de homens idôneos para o cargo de pastores, bispos e diáconos. A ordenação destes tem como base um mandamento divino claro que não dá margem a erros. Não há autorização para a ordenação feminina e, se confiamos na Bíblia, não devemos achar que o não-preenchimento de tais cargos pelas mulheres nos diminui. Homens e mulheres ocupam papéis diferentes dentro de casa e da igreja. Assim sendo, não se trata de ter ou não uma atitude passiva. Kalline Gonçalves, Juiz de Fora, MG A entrevista com Waldyr Carvalho Luz sobre a ordenação feminina (março/abril de 2011) pareceu-me um dos mais completos questionamentos à ordenação. Trata-se de uma análise sóbria e culta. Porém, o argumento de que a cultura impedia a mulher de ocupar uma função de liderança na época de Jesus, não é convincente. Jesus tinha poder e autoridade para interferir na cultura. Ele fez muito em benefício da mulher. Poderia ter incluído algumas no círculo apostólico. Por que não o fez? Não foram as mulheres as primeiras a proclamarem a ressurreição de Jesus? E a quem levaram inicialmente a grande nova? Aos apóstolos! Cumpriram o papel de idôneas cooperadoras. Não posso imaginar a vida cristã sem a participação das mulheres. Entretanto, parece-me estranho que elas ocupem a função pastoral. Não sou contra aquelas que afirmam ser vocacionadas para a obra. Porém, Deus criou a mulher para ser uma auxiliadora idônea e a vocacionou para ser mãe, como também
determinou que o homem fosse pai e cabeça do lar, de acordo com Efésios 6. Já fui convidado para integrar um concílio de ordenação feminina para o ministério pastoral, mas não me senti à vontade para participar. Todavia, peço ao Senhor que abençoe as vidas que anelam por servi-lo nesse tempo em que a apostasia é uma cruel realidade. Pr. Helmuth Matschulat, Curitiba, PR Gostei da entrevista sobre a ordenação feminina (março/abril de 2011). É bom ver uma mentalidade nova e aberta. Sou pastor da Igreja Presbiteriana Independente de Poços de Caldas, MG, e temos uma experiência feliz com a ordenação feminina. A Igreja Presbiteriana Independente do Brasil realiza a ordenação de mulheres ao diaconato há mais de 50 anos e os ministérios diaconais funcionam muito bem. Desde 1999, as mulheres têm acesso também ao presbiterato e ao pastorado, o que tem trazido um clima leve e equilibrado às reuniões dos concílios. Walter Scherrer, Poços de Caldas, MG Deus nos chamou à unidade (Jo 17), não à uniformidade. Sendo assim, temos mais de uma maneira de abordar as Escrituras e firmarmos nossas convicções. Na entrevista com Waldyr Carvalho Luz (março/abril de 2011), Ultimato apresentou apenas parte do pensamento cristão. Se não houver um representante de outra posição com o mesmo espaço, Ultimato se mostrará engajada e parcial. Também considero desnecessário, em que pese a erudição de Carvalho Luz, um linguajar tão rebuscado, quando temos tantos iletrados e incultos em nosso meio. Antonio Carlos da Silva, São Bernardo do Campo, SP — Para enriquecimento do assunto, disponibilizamos o artigo Ordenação feminina: o que o Novo Testamento tem a dizer?, de Augustus Nicodemus Lopes, em www.ultimato.com.br.
Ponto final
Cumprimento Rubem Amorese pelo excelente artigo Presciência e eternidade (“Ponto final”, março/abril de 2011), por oferecer uma perspectiva do tempo de Deus (kairós), que tem toda a linha da história (kronos) diante de seus olhos, conhecendo de antemão todos os meus dias: do nascimento à morte, e também o dia da minha redenção. Afinal, “Ele não é Deus de mortos, mas de vivos, pois para ele todos vivem” (Lc 20.38). Paulo Henrique Costa, São Paulo, SP
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C artas Pensando fora da caixa
Ao ler o texto de Ricardo Gondim, Pensando fora da caixa (“Reflexão”, março/abril de 2011), concordei com quase tudo o que foi dito. Certamente, o fundamentalismo que não admite o diálogo e não está aberto ao desenvolvimento de ideias pautadas na Palavra de Deus, deve ser evitado como um comportamento irracional. Entretanto, considero equivocada a afirmação de que Jesus Cristo foi relativista. O relativismo é contrário ao cristianismo ortodoxo, baseado na verdade absoluta. O mestre dos mestres afirmou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida...”. Melhor seria dizer que Jesus foi o maior subversivo, como afirma Eugene H. Peterson. Jesus condena a religiosidade vazia sendo subversivo, vanguardista e revolucionário, de acordo com próprio Gondim. Precisamos ser subversivos à moda de Cristo, que agiu em submissão ao Pai. Plínio Alessi Jr, Nova Andradina, MS
Bem-vindos ao cristianismo
Ao ler a edição de março/abril, tive a surpresa de ver a expressão em árabe “Bem-vindos ao cristianismo” (“Mais do que notícias”) escrita ao contrário! Convém que se faça uma nota de correção no próximo número. Marcos Amado,São Paulo, SP
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Homossexualidade
Parem de fazer campanha de ódio contra os homossexuais. Nós já somos marginalizados. Não precisamos da igreja fazendo oposição. João Kouffi Se combatemos com base bíblica a doutrina neopentecostal, a pedofilia, o homicídio, o roubo e o adultério como pecados abomináveis diante de Deus, devemos combater também a homossexualidade. Lembrando que quem mostra o pecado também é obrigado a mostrar ao pecador a graça de Deus. Por isso amo a história da mulher adúltera. Jesus não a condena, mas afirma: “não peques mais”. Ou seja, ele expõe o pecado e ao mesmo tempo mostra a graça. Em se tratando da homossexualidade, deve ser do mesmo jeito. Caline Galvão, João Pessoa, PB
Cartas da prisão
Estou de mãos estendidas para pegar a próxima Ultimato. Nestes quatro anos de prisão, vivi dois anos e meio em carceragens. Nos últimos 18 meses ingressei no sistema penitenciário. Convivo
com 1.700 presos, embora haja celas e galerias. Minha progressão está prevista para 2013, quando completarei seis anos de regime fechado. Cinco anos depois, Ultimato comemorará seu cinquentenário. Temo que, com toda a tecnologia, a revista deixe de ser papel e se torne virtual. A leitura ficaria difícil para mim, que tenho compromisso judicial até 2022. Samuel Lourenço Filho (Unidade Prisional Evaristo de Moraes, Rio de Janeiro, RJ) Comecei minha vida no crime aos 15 anos, envolvendo-me com o tráfico de drogas. Induzido por Satanás e com a ajuda de alguns “amigos”, matei um jovem usuário por motivos banais. Aos 16 anos, ainda no tráfico, me envolvi com um grupo de pichação e, em uma briga, acabei sendo baleado com três tiros no braço, no peito e nas costas (os mesmos lugares onde acertei e matei aquele rapaz). Por um milagre de Deus, não morri. Por causa desse livramento, prometi não matar, não traficar, não roubar, não usar drogas. O problema é que não cumpri com a promessa. Na prisão, observei o comportamento de alguns presos que haviam se convertido. Em junho de 2010, aceitei o Senhor Jesus como
meu único e suficiente Salvador. Deixei tudo, inclusive o meu ego. Hoje faço parte do corpo de Cristo dentro do presídio. Sérgio Augusto Lima (Penitenciária de Flórida Paulista, SP) O curso básico de missões oferecido pela Missão Amide, em Brasília, já alcançou mais de trezentos presidiários em muitos estados do Brasil. Ele pode ser solicitado por presidiários e pessoas que trabalham em penitenciárias à Associação Missionária para Difusão do Evangelho. Rodovia DF 250 – KM 6,5 – Bairro Sobradinho – Brasília/DF, Caixa Postal 729 – CEP: 71510-970. Adail Sandoval, Brasília, DF
Alimento espiritual
Há dez anos a editora católica onde minha irmã trabalha recebe Ultimato. Ela sempre traz a revista para mim e eu a devoro. Ultimato me alimenta espiritualmente. Há seis anos eu e minha irmã nos convertemos. Congregamos na Assembleia de Deus em Belém. Carolina Mendes, Vargem Grande Paulista, SP
Descompromissada com o proselitismo
Quero externar publicamente o valioso serviço que Ultimato tem oferecido à nação. Os artigos, matérias e entrevistas são de uma grandeza intelectual inenarrável. Ultimato é uma revista descompromissada com o proselitismo, tão desenfreado. Por seu caráter ecumênico, coloca de lado a intolerância e o desrespeito à prática de fé alheia. Precisamos de uma imprensa cristã voltada não a grupos denominacionais excludentes, mas à unidade, à reintegração dos que professam e acreditam em Cristo Jesus. O que nos une (Cristo), é maior do que o que nos separa (intolerância). Olegário Silva, Chã Preta, AL
Para a Glória de Deus
Escrevi um livro chamado Para a Glória de Deus. Nele há páginas comemorativas para todas as datas festejadas nas igrejas evangélicas. São poemas, diálogos, jograis, meditações e pequenas peças. Os exemplares não estão à venda — serão doados para as igrejas. Peço aos pastores e líderes interessados que entrem em contato comigo pelo e-mail: nelialins@terra.com.br, e informe o endereço da igreja para que possamos enviar o livro. Neli Silva, São Paulo, SP
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N ÚMEROS
F RASES
Interpress
60%
dos cristãos brasileiros são mulheres, de acordo com pesquisas realizadas pela SEPAL.
21.141.000
exemplares da Bíblia foram produzidos pela Imprensa Bíblica Brasileira em 70 anos, desde a sua fundação em 1940 até o ano de 2009.
500
“U
ma vez em Faluya, no Iraque, vi um menino de apenas quatro anos perder nove membros da família, além de perder o braço e a perna esquerdos, vítima de um ataque aéreo. Karen Marón, jornalista argentina
missionários voluntários passaram a última quinzena de janeiro pregando o evangelho em quatro cidades do Rio Grande do Sul, numa iniciativa da Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira.
3.000 adultos foram batizados na Semana Santa de 2010, na igreja católica de Hong Kong.
3.500.000.000 de pessoas ainda não entraram em
contato com a Bíblia (mais da metade da população mundial).
77.000 armas de fogo foram apreendidas
entre janeiro e setembro de 2010 só em Luanda, capital angolana.
400
é o número de membros da primeira das nove igrejas e dezesseis congregações batistas de Juazeiro do Norte, CE, a cidade do padre Cícero. O trabalho começou há 22 anos.
170
congregações religiosas católicas fazem questão de mencionar seu vínculo ao coração de Jesus, ao de Maria ou a ambos. 12
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”
“N
ão nos tornamos ministros da reconciliação porque fazemos um curso de teologia, ou porque temos habilidade para falar e convencer as pessoas. Somos ministros da reconciliação porque nós mesmos experimentamos reconciliação com Deus. Bispo João Carlos Lopes, da Igreja Metodista do Brasil
”
“P
erdão se dá e se pede. Se dá e se pede ao próximo. Se pede a Deus. A Deus não se dá perdão, não há o que perdoar em Deus. Egon Hilário Musskopf, jornalista
”
“S
empre que um pastor quebra os princípios éticos do evangelho na sua conduta, as mais trágicas consequências acabam-se abatendo sobre a igreja de Jesus. O povo perde o seu fervor espiritual. Deus extingue a unção sacerdotal que desonrou seu nome. O pastor perde totalmente seu poder espiritual e começa a apelar para a energia carnal. João Falcão Sobrinho, pastor batista
”
“É
melhor escutar o padre Marcelo Rossi do que escutar a Xuxa. Mas é a mesma coisa. Eles são animadores de auditório. Isso não leva ninguém à transformação. É um Lexotan. É uma evangelização desgarrada da vida concreta. Leonardo Boff
”
“O
s países mais católicos de antes — a França, “primogênita da Igreja”, ou o Canadá, francês ultracatólico — deram uma guinada de 180° e caíram no ateísmo, no anticlericalismo, no agnosticismo e na indiferença. Pe. Henri Boulad, jesuíta egípcio-libanês do rito melquita, em carta ao Papa Bento 16
”
“Q
uando tinha todos os motivos para abortar, por ser solteira, jovem, imatura, por estar correndo risco de ter o casamento cancelado, sob acusação de traição, Maria abortou a ideia. Márlon Hüther Antunes, pastor da Igreja Evangélica Luterana em Maceió, AL
”
“O
vaticano II foi um grande concílio presidido por um grande Papa, mas roído pela Cúria Romana. Dom Clemente Isnard, por ocasião de seu cinquentenário episcopal em Recife
”
“C
reio que a soma dos milhares e milhões de pequenos atos de obediência à voz do Espírito Santo, praticados ao redor do mundo por todos os nascidos do Espírito, começará a produzir um cataclismo de efeitos desproporcionais, incomodando os poderes religiosos e políticos deste mundo tenebroso. Harold Walker, do conselho editorial da revista Impacto
”
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Mais da metade dos cristãos do Oriente O fantástico corpo Médio vivem em humano de Jesus outros países
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difícil visitar a exposição O Fantástico Corpo Humano sem se lembrar do prólogo do Evangelho de João: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14). Vista em vários países e em algumas capitais brasileiras por mais de 11 milhões de pessoas, a exposição oferece um mergulho tridimensional por dentro do corpo humano e de seus sistemas (cardiovascular, digestório, endócrino, nervoso, reprodutor/urinário e respiratório). Em nove galerias é possível ver peles, ossos e todos os órgãos, desde o ventre materno, preservados por um moderno processo de plastinação. O cristão que sabe que Jesus não é Deus disfarçado de homem nem homem disfarçado de Deus, mas perfeitamente homem e perfeitamente Deus, consegue ver ali o corpo do Verbo feito carne,
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igual a nós. Entre outras maravilhas do corpo humano, ele saberá que o coração de Jesus batia em média a 72 pulsações por minuto (100 mil por dia), para impulsionar 7.975 litros de sangue vital em 145 mil quilômetros de artérias, veias e vasos capilares. Se Jesus tivesse pulado do pináculo do templo, ele poderia quebrar alguns dos seus 206 ossos, embora “mais fortes do que o aço e mais leves do que o alumínio”. Se os órgãos e os tubos do aparelho digestivo (nove metros de comprimento) não estivessem enrolados no abdome, Jesus seria tão alto como uma casa de dois andares. Não há como um cristão sair do local da exposição sem se maravilhar com o Jesus que, embora sendo Deus, esvaziou-se de si mesmo, tornando-se semelhante aos homens. Desde a concepção (sobrenatural), desde o parto (natural), até a morte, até a ressurreição, até a ascensão e até hoje (Fp 2.5-8)!
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raticamente não há católicos romanos no Oriente Médio. Todavia, há pelo menos sete grupos de católicos nãoromanos na região que foi o berço do cristianismo e na qual congregam mais de 9 milhões de fiéis. Cada um tem o seu patriarca (chefe da igreja). Por ordem decrescente, esses grupos são os católicos maronitas (5 milhões), os católicos greco-melquitas (2 milhões), os católicos caldeus (1 milhão), os católicos armênios (600 mil),
Flávio Takemoto
Oliver Gruener
+ DO QUE NOTí C IAS
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lgo novo aconteceu em Nova Floresta, no estado do Mato Grosso. Além de construir seu novo templo de mais de mil metros quadrados, a Igreja Presbiteriana Renovada construiu um templo menor só para as crianças. O prédio, que comporta quinhentas crianças, possui salas para a Escola
os católicos coptas (250 mil), os católicos sírios (170 mil) e os católicos latinos (70 mil). Eles se encontram espalhados em dez países do Oriente Médio: Armênia, Chipre, Egito, Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Líbano, Palestina, Síria, Sudão e Turquia. Mais da metade desses fiéis estão na diáspora por motivos políticos ou religiosos. É principalmente o caso dos maronitas: cerca de 4 milhões vivem fora do Líbano, de Israel e da Síria. Fonte: Mundo e Missão, 3/2011.
O reino de Deus é das crianças Dominical, além de cozinha e banheiros independentes para os menores. Para cuidar do departamento infantil, há uma equipe de trinta pessoas, entre coordenadores, professores e auxiliares. A inauguração dos dois templos aconteceu em novembro de 2010.
+ DO QUE NOTí CIA S
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ais de 1 milhão de pessoas morreram devido aos trabalhos forçados, doenças, fome ou câmaras de gás no campo de concentração de Auschwitz e no campo satélite de Birkenau. Os campos tinham capacidade para comportar até 400 mil pessoas. No entanto, quando as forças soviéticas chegaram ao local, em 27 de janeiro de 1945, restavam somente 7 mil prisioneiros. Há vários anos, o local virou ponto turístico e é visitado por mais de 1 milhão de pessoas a cada ano. Acontece, porém, que os alojamentos, as câmaras de gás e outros prédios estão se deteriorando e Auschwitz corre o risco de desaparecer. Para que tal fato não ocorra, criou-se um fundo de preservação, que necessitará de 120 milhões de euros (o equivalente a 270,2 milhões de reais). Até agora, os maiores contribuintes são a Alemanha (com 60 milhões de euros), os Estados Unidos (com 15 milhões) e a Áustria (com 6 milhões). Outros países, como Holanda, Noruega, Suécia, Suíça, República Tcheca, Turquia e Estônia prometeram ajudar. Essa providência parece contrastar com algumas passagens bíblicas contrárias ao armazenamento de lembranças passadas. Um dos amigos
de Jó disse-lhe: “Você esquecerá suas desgraças, lembrando-as apenas como águas passadas” (Jó 11.16). A exortação contida em Isaías é mais enfática: “Esqueçam o que se foi; não vivam no passado” (Is 43.18). Todavia, no caso do Holocausto, o campo de Auschwitz deve continuar como uma amarga lembrança da maldade e impiedade humanas. Guido Westerwelle, ministro das relações exteriores, diz que “a Alemanha reconhece a sua responsabilidade histórica para manter viva a memória do Holocausto e passá-la para as gerações futuras”. O Credo Apostólico não esconde que Jesus “padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos”. Repetimos isso em todos os lugares e em todo o tempo. Os Evangelhos não escondem a tríplice negação de Pedro, assim como o livro de Atos não deixa de lado o furor de Saulo contra os cristãos antes de sua conversão. Nem Auschwitz nem Pôncio Pilatos serão lembrados por ocasião dos novos céus e nova terra: “Criarei novos céus e nova terra, e as coisas passadas não serão lembradas. Jamais virão à mente!” (Is 65.17, NVI). Por enquanto, Auschwitz, como museu do mal, tem o seu lugar!
Nunca se produziu tantas canções como hoje
Emiliano Hernandez
A reconstrução de Auschwitz
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m sua palestra sobre O que é música sacra ou hino sacro? — proferida no Quarto Encontro de Músicos no Seminário Concórdia de São Leopoldo, RS, da Igreja Evangélica Luterana do Brasil — o professor de música Raul Blum disse que “jamais, em toda história da música sacra, foram produzidas tantas canções novas como em nossos dias”. Para ele, “um hino sacro é aquele que transmite a palavra de Deus fundamentada na Escritura, com a clareza da Lei e do evangelho, sem divagações pessoais que contradigam a iniciativa de Deus em nos oferecer gratuitamente a salvação”. No final da palestra, acrescentou: “No culto não somos apresentadores de espetáculo; somos condutores da proclamação da palavra e do louvor a Deus. E a apresentação do louvor a Deus é de toda a congregação. Portanto, quer sejamos organistas, tecladistas, guitarristas ou bateristas, o volume de nossos instrumentos não pode sufocar o canto congregacional”. Maio-Junho, 2011
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Os três olhos do conhecimento
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ara a pedagoga e poetisa baiana Zuleide Cardoso Araújo, a vida é bela, o mar é belo, as flores são belas, a amizade é bela e assim por diante. Mesmo sendo como uma planta que “nasce, cresce e floresce, mas logo seca-se e cai”, a vida continua bela. O mar é belo porque “nele habitam miríades de criaturas, de peixinhos multicores ao gigante tubarão”. Todas as flores são belas, mas não têm a mesma sorte, porque “umas enfeitam a vida, outras ornamentam a morte”. A amizade é bela porque “é uma linda flor que perfuma o coração”. Todavia, a veia poética de Zuleide não poupa nem a solidão nem a ingratidão. A solidão não pode ser bela porque ela “maltrata, entristece e sufoca”. A ingratidão não pode ser bela porque ela é “a mais vil das atitudes”. Zuleide escreveu dois livros de poesia: Raios de Esperança e A Vida é Bela!. Ela nasceu em um lar evangélico e professou a fé aos 13 anos, na Igreja Presbiteriana da Bahia, da qual é membro até hoje.
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tal; o terceiro vai além dos sentidos e da razão, permitindo o acesso às realidades mais profundas, transcendentes, místicas e holísticas. Bem que Jesus disse: “Os olhos são como uma luz para o corpo: quando os olhos de vocês são bons, todo o seu corpo fica cheio de luz” (Mt 6.22, NTLH). Fonte: Revista Itaici (6/2010), p. 86.
O dom do Espírito é muito mais do que habilidade humana
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m livro que trata exclusivamente de dons espirituais é vendável? A resposta positiva e a prova disso é Quem é Você no Corpo de Cristo?, que já alcançou três edições e a tiragem de 12 mil exemplares. A autora do livro é a missionária americana Lida E. Knight, radicada no Brasil há 54 anos, depois de trabalhar no Egito por quatro. É difícil dizer se Lida é mais conhecida pelo Louvor Perene, um jornal de música sacra fundado e dirigido por ela de 1959 a 1980, ou pelas palestras que ministrou por todo o Brasil sobre os dons do Espírito. A terceira edição, com 4 mil exemplares, foi lançada em novembro. O livro é vendável exatamente porque trata
Lida Knight
A vida é bela!
enneth E. Wilber Jr., o famoso pastor americano de 62 anos que criou a psicologia integral, costuma falar dos três olhos do conhecimento: o da carne (pré-pessoal), o da mente (pessoal) e o do espírito (transpessoal). O primeiro olhar é puramente físico, por só conhecer a realidade externa; o segundo é racional e men-
de um assunto de grande importância prática. Lida diz que “toda pessoa salva por Cristo recebe de Deus pelo menos um dom espiritual para o ministério. A interação, a complementação e a união dos dons, através dos membros do corpo, resultam no bem de todos e no alcance de outros para Cristo”. Ao mesmo tempo, a autora lembra que “qualquer dom espiritual, se não for exercido no poder do Espírito e no amor, não passa de uma habilidade meramente humana”. Entre os dons do Espírito abordados por Lida estão o dom do serviço, de ajuda, de misericórdia, do repartir, de profecia, de ensino, de pastorear, de intercessão etc. Falar em línguas e fazer sinais e prodígios levam muitos cristãos sinceros a desejar e buscar esses dons em detrimento de tantos outros. Em sua sabedoria, Lida afirma: “Deus não deixou a bel-prazer de cada um escolher seus dons, mas ‘dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve’” (1Co 12.18). Quem é Você no Corpo de Cristo? foi publicado pela Editora Visão Ministerial.
Reprodução
Crianças assassinadas
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Larissa dos Santos Atanásio, 13 anos, uma das meninas assassinadas, professou a fé no Senhor Jesus em 2010, na Igreja Presbiteriana
m ocasiões diferentes, separadas por um longo espaço de tempo, mas em circunstâncias parecidas, as seguintes crianças foram barbaramente assassinadas, para vergonha do gênero humano: No início do ano 4 a.C. (ou no final do ano 5 a.C., talvez no dia 29 de dezembro) — Palu, Jemuel, Jaquim, Hamul, Tola, Esbom, Berias, Belá, Jezer, Zera, Asbel, Malquiel e Serede (treze crianças de três meses a dois anos, todas do sexo masculino).1 No dia 7 de abril de 2011 — Larissa, Samira, Laryssa, Bianca, Luiza, Mariana, Karine, Milene, Géssica, Ana Carolina, Rafael, Igor e Luan Vitor (treze crianças de 13 a 15 anos, dez do sexo feminino e três do masculino). A primeira matança aconteceu em Belém da Judeia (Israel). A segunda, na Escola Municipal Tasso de Oliveira, no Rio de Janeiro. As crianças do primeiro massacre foram mortas (provavelmente à espada) por ordem do rei Herodes, o Grande, que morreu poucos dias depois, aos 41 anos. As crianças do segundo massacre foram mortas (a tiros de revólver) por Wellington Menezes de Oliveira, que morreu minutos depois, aos 23 anos. Por pouco, o recém-nascido Jesus não perde a vida na primeira tragédia. Para escapar, ele foi levado por Maria
e José para o Egito, voltando apenas depois da morte de Herodes (4 de abril do ano 4 a.C.). Antes de ordenar a matança dos bebês de Belém, Herodes havia assassinado uma de suas dez esposas (Mariana), dois de seus doze filhos (Alexandre e Antípater) e um cunhado (Aristóbulo). Ao narrar a fuga de José, Maria e Jesus, e a matança das crianças, Mateus transcreve para seu Evangelho a passagem profética de Jeremias: “Ouviu-se um som de Ramá, o som de um choro amargo. Era Raquel chorando pelos seus filhos; ela não quis ser consolada, pois todos estavam mortos” (Mt 2.18; Jr 31.15, NTLH). Era uma referência ao choro copioso e doloroso das mães dos meninos assassinados em Belém. O mesmo choro das mães das treze crianças assassinadas no Rio de Janeiro. Diante dessas duas tragédias e de um número infindável de outras, o cristão precisa repetir conscientemente a primeira súplica do Pai-Nosso: “Venha o teu reino” (Mt 6.10)! Nota 1. O número de crianças mortas no primeiro massacre citado não era tão alto quanto se diz. Por ser Belém uma cidade muito pequena, o comentarista William Hendriksen estima que o número das vítimas de Herodes estava entre quinze e vinte (listamos apenas treze para fazer paralelo com os mortos da segunda chacina). Os nomes dos meninos mortos em Belém são fictícios. Porém, são nomes judaicos. Foram retirados aleatoriamente da lista dos netos de Jacó, quando a família emigrou para o Egito (Gn 46). Maio-Junho, 2011
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N OTíCIAS por Lissânder Dias
Morre líder de Evangélicos ministério com marcham contra homossexuais a exploração Carlos Henrique Bertilac sexual de da Silva morreu no dia 10 de março, aos 53 anos, de ataque crianças cardíaco, logo após voltar de um retiro em Suzano, SP. Ele era missionário do Projeto Água Viva em Niterói, RJ. Dedicou mais de 20 anos ao “Grupo de Amigos” (GA) — um ministério com o objetivo de acolher e apoiar pessoas que desejam deixar a homossexualidade. Ao longo dos anos, Carlos Henrique transformou sua própria casa em um lugar comunitário — a Casa Hebrom — onde recebia pessoas necessitadas de refúgio e amor. Hoje são oito casas comunitárias espalhadas pelo sudeste e Distrito Federal. Há inúmeros locais para prontoatendimento e grupos de ajuda mútua em diferentes igrejas no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. Carlos foi homossexual ativo por anos. Segundo sua esposa Ruth Bedilac — com quem se casou em 1989 e teve uma filha — ele foi inserido em relacionamentos homossexuais aos 9 anos, por um abusador. Aos 25, se converteu a Jesus Cristo na Comunidade Cristã S8, em São Gonçalo, RJ, umas das poucas igrejas da época que acolhia um público mais urbano e alternativo. “Carlos Henrique foi incansável na obra do Senhor. Morreu fazendo o que mais amava: resgatar vidas para o Senhor, anunciar as boas novas e oferecer o abraço paterno de um amor intenso aos órfãos espalhados pelo Brasil”, disse Ruth Bertilac. 18
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Redes, organizações e igrejas evangélicas vão realizar marchas contra a exploração sexual de crianças no dia 18 de maio (Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes). O esforço é para que as marchas aconteçam nas 12 cidadessede da Copa do Mundo de 2014: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. O evento quer chamar a atenção da sociedade para o risco de aumento da exploração sexual de crianças, com a
Religião pode ser extinta em nove países Austrália, Áustria, Canadá, República Tcheca, Finlândia, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia e Suíça. Nesses nove países ricos a religião pode praticamente deixar de existir. É o que projeta uma pesquisa baseada
Morre o padre José Comblin Uma semana após completar 88 anos, morreu em Salvador, BA, o padre José Comblin. De origem belga, ele trabalhou por mais de 50 anos no Brasil. Teve forte participação em movimentos populares na luta pelos mais pobres, de modo especial em Pernambuco, na Paraíba e na Bahia. O padre belga participou do primeiro grupo da
vinda de turistas estrangeiros durante a Copa. Junto com a marcha, a ideia é realizar uma manifestação, em que a cada 15 segundos uma vela é acendida, simbolizando o número de crianças que foram abusadas durante o evento. Segundo os organizadores, a cada 15 segundos uma criança é abusada no mundo. Em São Paulo, a marcha começará às 20 horas, na Praça da Sé. A Marcha contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes é organizada pela ONG Makanudos de Javeh, e é a primeira iniciativa da Campanha de Enfrentamento ao Turismo Sexual da Criança e do Adolescente Copa 2014. Para se envolver, acesse www.15segundos. net. Participam da promoção da campanha: Rede Evangélica Nacional de Ação Social, Visão Mundial, Rede Mãos Dadas, Rede Fale, Exército de Salvação, AEBVB e Programa Claves.
em dados de censos colhidos desde o século 19. O estudo, divulgado em março pela American Physical Society, nos Estados Unidos, é baseado em um modelo de progressão matemática que tenta levar em conta fatores sociais que influenciam uma pessoa a fazer parte de um grupo não-religioso. Na Holanda, por exemplo, até 2050, 70% dos holandeses não estarão seguindo religião alguma.
Teologia da Libertação, foi perseguido pelo regime militar e escreveu, dentre outros livros, A Ideologia da Segurança Nacional: o poder militar na América Latina (Civilização Brasileira, 1978). Em janeiro, Comblin criticou duramente a Igreja Católica. “A repressão foi muito forte, terrível, e a ditadura do Papa aqui na América Latina é total e global. Aqui, pode-se criticar Deus, mas não o Papa. O Papa é mais divino do que Deus”.
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Evangélicos fazem jejum contra cortes no orçamento nos Estados Unidos O Congresso Nacional dos Estados Unidos quer aprovar um corte de 9% no orçamento federal na área social e dar um aumento de 2% para despesas militares. Por causa disso, organizações religiosas e evangélicas, como a Sojourners, lançaram em abril o Compromisso de Orar, Jejuar e Agir em favor de um Orçamento Justo. Segundo os organizadores, o Congresso quer fazer cortes significativos no orçamento
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de muitos programas, que vão afetar diretamente a sobrevivência dos mais pobres nos Estados Unidos e em outros países (como os programas que fornecem nutrição básica, saúde e oportunidade para as crianças pobres, e programas de ajuda internacional). “Teologicamente, isso é um assalto contra as pessoas a quem Deus nos ensina a proteger, e cujo bem-estar é a prova bíblica da justiça de uma nação. No livro de Ester, vemos um exemplo de oração, jejum e petições aos poderes políticos para mudar ações injustas por parte do governo. Nós queremos seguir esse modelo”, diz o comunicado da campanha. “O conceito é simples: estamos convocando pessoas para que se abstenham de almoço às segundas-feiras no mês de abril e usem esse tempo para orar e agir.”
Templo metodista vira patrimônio histórico no Rio de Janeiro A Igreja Metodista que começou em 1895 no Jardim Botânico, RJ, foi tombada pela prefeitura do Rio de Janeiro e se tornou patrimônio cultural da cidade. O prédio, de estilo gótico, começou a ser construído em 1907. A madeira (pinho e riga) e as telhas vieram da Europa. Segundo o pastor titular, Jorge Cruz, o material era trazido por missionários e o estilo foi copiado da arquitetura de países frios da Europa. Ele explica que o tombamento do templo é de suma importância para manter as características arquitetônicas. “Vai proteger a estrutura. E mesmo que ocorram mudanças no bairro, a igreja está protegida”, disse o pastor para o jornal Expositor Cristão.
Exigindo reformas na Igreja Católica, 144 professores de teologia católicos residentes na Alemanha, Suíça e Áustria assinaram um manifesto. As propostas incluem o fim do celibato, a ordenação de mulheres e a participação popular na escolha de bispos. O manifesto desconstrói a suposta autoridade de Roma, critica o “rigorismo” da Igreja Católica e denuncia que a falta de sacerdotes força a exigência de paróquias cada vez maiores. Tendo como pano de fundo a crise dos escândalos de pedofilia em dioceses e paróquias da Igreja
Tribunal europeu aprova crucifixos em escolas na Itália O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos decidiu em março que a exibição de crucifixos nas escolas da Itália não fere os direitos dos estudantes nãocatólicos e de suas famílias. O parecer, em resposta a um recurso, invalida uma decisão anterior, anunciada pelo mesmo tribunal em 2009. No novo parecer, os magistrados concluíram que não há evidência de que crucifixos em salas de
Pam Roth
Teólogos católicos exigem fim de celibato e ordenação de mulheres
Católica ao redor do mundo, o texto elogia o chamamento dos bispos a um diálogo aberto e defende a tese central de que a igreja só “pode anunciar o libertador e amoroso Deus, Jesus Cristo” quando ela mesma “for um lugar e um testemunho crível da mensagem de libertação do evangelho”.
aula influenciariam os estudantes. “A decisão ressalta, acima de tudo, os direitos dos cidadãos de defender seus próprios valores e identidades”, disse o ministro das relações exteriores italiano, Franco Frattini, no jornal La Repubblica. O uso de crucifixos nas escolas do país não é obrigatório, mas é um costume comum. Fontes: BBC Brasil, Expositor Cristão e ALC Notícias.
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, o , é F ã z a r cado e pe redenção no pensamento de Blaise Pascal
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Nascido em Clermont-Ferrand, na região central da França, em 19 de junho de 1628 — um ano antes do cardeal Richelieu assumir o poder em nome de Luís 13 — e órfão de mãe aos 3 anos, Blaise Pascal era, a princípio, um notável matemático e físico. Seu primeiro livro científico foi escrito em 1640, quando ele tinha 17 anos (Ensaio Sobre os Cones). Deve-se a ele a chamada Lei de Pascal, a teoria das probabilidades, a invenção de uma máquina capaz de fazer as quatro operações (a Pascalina) e do carrinho de mão de uma roda só. A linguagem de programação
Jean Domat, c. 1649. Bibliothèque Nationale, Paris.
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Entro em pânico todas as vezes que eu vejo a cegueira e a miséria do homem, sem luz, abandonado a si mesmo, perdido neste canto do universo, sem saber quem aqui o colocou, o que vai fazer e o que acontecerá quando morrer.
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Pascal, publicada em 1970, e usada até hoje, recebeu esse nome em homenagem ao ao matemático, mesmo não sendo desenvolvida por ele. Com a sua conversão a Cristo em 1654, aos 31 anos de idade, pouco depois de um acidente de carruagem em uma das pontes de Paris, Pascal tornou-se uma testemunha laica proeminente do cristianismo, mais ligado a Cristo do que à tradição e à própria igreja. Sua noção de pecado e seu cristianismo são dignos de atenção. Dizia ele que “a fé cristã não visa senão a estabelecer estas duas coisas: a corrupção da natureza humana e a redenção de Jesus Cristo”. Para ele, Jesus era “a pedrinha de Daniel” — aquele que “seria pequeno no começo e cresceria em seguida”. É uma referência à pedra que se soltou da montanha, “sem auxílio de mãos”, e esmigalhou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro da estátua do sonho de Nabucodonozor (Dn 2.45). Dentre as muitas declarações sobre Jesus, a mais enfática talvez seja: “Sem Jesus Cristo, o homem permanece no vício e na miséria. Com Jesus Cristo, o homem está imune ao vício e à miséria”. Pascal conheceu o evangelho por influência do jansenismo: um movimento dentro da igreja, fundado pelo bispo holandês Cornelius Jansen (1585–1638), que preconizava uma reforma católica
com base na igreja primitiva e uma espiritualidade interior. No caso dele, a conversão se deu em uma data precisa (23 de novembro de 1654, numa segunda-feira à noite, “das dez e meia da noite, mais ou menos, até cerca de meia-noite e meia”) e em um lugar determinado (em seu quarto, enquanto lia a sós a oração sacerdotal de Jesus, em João 17). Na mesma ocasião, ele registrou essa experiência em um pedaço de pergaminho. Como esse escrito estava costurado no forro do seu casaco, quando morreu, oito anos depois, supõe-se que Pascal o tenha carregado na roupa o tempo todo. Depois de sua conversão, o ainda jovem matemático (31 anos) dedicou-se devotamente ao Senhor, sem colocar a ciência de lado (três anos depois, ele compôs Elementos da Geometria). Percebe-se a sua verdadeira espiritualidade, por exemplo, no título dado a um dos seus textos religiosos: Oração para pedir a Deus a graça de fazer bom uso das enfermidades e outras obras. Ele mesmo não tinha saúde e morreu cedo de um tumor maligno primeiramente no estômago e depois no cérebro, em 19 de agosto de 1662, um mês antes de completar 39 anos. Ele dizia que “nós podemos tudo com Aquele sem o qual não podemos nada”. Pascal tinha 23 anos quando o também matemático e filósofo René Descartes morreu (1650).
Por ter dado muito espaço para a razão e para a ciência e pouco espaço para a fé e para Deus, Descartes não gozava da admiração de Pascal. Em um dos seus pensamentos, Pascal diz que “não vale a pena perder tempo com a filosofia de Descartes”. Pascal, por sua vez, valoriza a razão sem desvalorizar a fé. O livro Pensamentos, de Pascal, foi escrito com o propósito de persuadir os céticos, numa época em que predominavam o racionalismo de Descartes (1596–1650), o reducionismo de Montaigne (1533–1592) e o ceticismo do ex-monge italiano Lucilio Vanini (1585–1619). Ao surgir uma ideia, Pascal a anotava em qualquer pedaço de papel, deixando para colocar em ordem os escritos quando tivesse tempo. Entretanto, isso foi feito depois de sua morte, por familiares e amigos. O livro, obra prima da literatura francesa, tem também outro título: Apologia da Religião Cristã. O que ele fez no século 17 pode ser feito no século 21! Leia nas páginas seguintes os pensamentos de Blaise Pascal sobre a instabilidade humana, a fé e a razão, a morte, Jesus Cristo, o cristianismo e o homem caído em pecado. As frases foram retiradas de três versões de Pensamentos: da Abba Press (2002), da Editora Palavra (2007) e da Folha de São Paulo (2010). Maio-Junho, 2011
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o homem está dividido dentro de si mesmo
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Quem não se conhece cheio de soberba, de ambição, de concupiscência, de fraqueza e de injustiça é bastante cego.
Diz o Eclesiastes que “o coração dos homens está cheio de maldade e de loucura durante toda a vida” (Ec 9.3). Pascal sabia muito bem disso!
Precisamos baixar os olhos para a terra para nos vermos como míseros vermes, e olhar para as feras das quais somos companheiros. A encarnação de Jesus mostra ao homem a grandeza de sua miséria pela grandeza do remédio que ele precisa. Estamos cheios de concupiscências; portanto, cheios de mal. Assim, deveríamos odiar a nós mesmos e a tudo o que nos excita a outro vínculo que não seja somente Deus.
Friedrich Eduard Bilz (1842–1922)
Existe uma guerra interior no homem, entre a razão e as paixões. Sem a razão haveria só paixão. Mas existem uma e outra e elas não podem existir sem guerra. O homem está dividido dentro de si mesmo.
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Poucos falam humildemente sobre humildade. Poucos falam castamente sobre castidade. Somos mentirosos, temos duas caras e vivemos sob disfarces na tentativa de ocultar dos outros o que realmente somos.
Como o coração do homem é oco e cheio de baixeza! Se o homem se eleva, eu o rebaixo; se ele se abaixa, eu o levanto e o contradigo sempre até que ele se compenetre de que é um monstro incompreensível. Sem a graça de Deus o homem não é senão um sujeito cheio de erros inapagáveis. Nós não somos senão mentiras, duplicidades, contrariedades. Nós nos escondemos e nos destruímos a nós mesmos. Somos tão presunçosos que gostaríamos de ser conhecidos em toda a Terra e também daqueles que virão quando não estivermos mais aqui. Somos tão vaidosos que a estima que nos rodeia nos ilude e nos deixa contentes. Nascemos injustos e depravados. Perdemo-nos nos vícios e não vemos mais a virtude. Os inimigos dos homens não são os babilônios, mas as suas paixões. Hoje o homem se tornou semelhante aos animais, num tal afastamento de Deus que apenas lhe resta uma luz confusa de seu Criador.
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Não era psicólogo, mas poucas pessoas conheceram tão bem a natureza humana como Pascal. Ele conhecia-se a si mesmo e aos outros.
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A única vergonha é não ter vergonha. É uma coisa terrível sentir escoar tudo o que se possui. Muito barulho assusta, muita luz ofusca, muito prazer incomoda, muita mocidade ou muita velhice embota o espírito. Muita instrução bestifica. Trabalhamos incessantemente para embelezar e conservar nosso ser imaginário, negligenciando o verdadeiro. O homem não passa de um caniço, o mais débil da natureza. Porém, é um caniço pensante. A grandeza do homem é grande na medida em que ele se considera miserável.
Somos capazes de passar rapidamente da presunção desmedida para um horrível abatimento de coração. Se os plebeus tivessem sido todos convertidos por Jesus Cristo, só teríamos testemunhas suspeitas. Se tivessem sido todos exterminados, não teríamos testemunhas. Os homens instruídos — os filósofos — espantam os homens comuns. Os cristãos, por sua vez, espantam os filósofos. A grandeza tem necessidade de ser perdida para ser sentida. A continuidade em tudo é desagradável. O homem não é anjo, mas animal. Quem pretende ser anjo precisa, primeiro, saber que é animal. Somos cheios de coisas que nos empurram para fora de nós mesmos. A fim de que a paixão não nos seja nociva, façamos de conta que temos apenas oito horas de vida. É perigoso conhecer Deus sem conhecer a própria miséria e conhecer a própria miséria sem conhecer Deus.
Robert Fludd, Mind and Consciousness, século 17
o homem enjoa de tudo porque a felicidade não está nas coisas exteriores Os eleitos ignorarão suas virtudes e os reprovados ignorarão a grandeza de seus crimes. Queremos a simetria apenas em largura e não em altura nem em profundidade. A vontade nunca se satisfaz enquanto não tenha tudo o que almeja. Mas ela se satisfaz no instante em que a tudo renuncia. É supersticioso quem coloca suas esperanças nas formalidades e cerimônias religiosas. Mas é soberbo não querer a elas se submeter. É um grande mal seguir a exceção no lugar da regra. É preciso ser severo e contrário à exceção. Se a misericórdia de Deus é tão grande que ela se esconde, o que devemos esperar quando ela não mais se esconder? Afastemos a impiedade e a alegria ficará sem mancha.
”
Não há tão grande desproporção entre a unidade e o infinito senão entre a nossa justiça e a justiça de Deus. Reconheçamos nossas forças: somos alguma coisa e não tudo. Maio-Junho, 2011
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a morte é o começo da beatitude do corpo De saúde frágil e mais perto da morte do que muitos, Pascal via a morte não como o término da vida, mas como a entrada para ela.
”
Enfrentemos a morte com Jesus Cristo e não sem Jesus Cristo. Sem Jesus Cristo a morte é terrível, detestável e o horror da natureza. Em Jesus Cristo, a morte é toda outra, toda amável, toda santa e a alegria do crente. Tudo é doce em Jesus Cristo, até a morte e isso porque ele sofreu e foi morto para santificar a morte e o seu sofrimento. Anelamos pela verdade e só encontramos a incerteza. Buscamos a felicidade e não encontramos senão miséria e morte. Somos incapazes de não desejar a verdade e a felicidade e, ao mesmo tempo, incapazes de alcançá-las.
Os crentes que morreram na graça de Deus não cessaram de viver, como a natureza sugere. Ao contrário, eles começaram a viver, como a verdade assegura. Suas almas não estão perdidas, nem reduzidas a nada, mas vivificadas e unidas no soberano viver. A morte é mais fácil de suportar quando não pensamos nela, embora o pensamento da morte não nos traga nenhum perigo. A negligência dos que passam a vida sem pensar no fim derradeiro da existência irrita-me mais do que me comove e me espanta mais do que me aterroriza. Não existe outro bem na vida senão a esperança de sermos felizes à medida que nos aproximamos de outra vida, quando não haverá mais desgraças. Não tendo conseguido curar a morte, a miséria e a ignorância, os homens procuram não pensar nisso tudo para serem felizes.
Em 1659, aos 36 anos, cinco anos depois de se converter, Blaise Pascal adoeceu gravemente. O alívio só veio em junho do ano seguinte. Provavelmente foi nesse período que ele compôs A oração para pedir a Deus a graça de fazer bom uso das enfermidades. Ela mostra a grandeza de sua fé e é uma das mais consoladoras peças para encorajar quem está na mesma situação de doença. Dessa formidável oração retiramos as frases ao lado: 26
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Assim se escoa a vida toda: procuramos o repouso combatendo alguns obstáculos, e quando estes são superados, o repouso torna-se insuportável por causa do tédio que ele faz nascer. Então é preciso abandonar o sossego e mendigar a agitação. Apesar de suas misérias, o homem quer ser feliz, não deseja outra coisa senão a felicidade e não pode deixar de ser feliz. Mas como o fará? Era preciso tornar-se imortal, mas como conseguiu, lembrou-se de não pensar nisso.
”
Quem me colocou aqui? Por ordem e obra de quem este lugar e este momento foram destinados a mim?
A alma é jogada no corpo para fazer aí uma estada de certa duração. Entre nós e o inferno ou o céu, há apenas uma vida, assim mesmo extremamente frágil.
Dor e consolação
”
Tu não és menos Deus quando estás me afligindo e punindo do que quando estás me consolando e mostrando compaixão por mim. Possa o teu cajado me confortar, possa eu agora provar da celestial doçura de tua graça por meio destas aflições que permitiste virem sobre mim.
Ó Senhor, tira de mim aquela autopiedade que o amor próprio tão prontamente produz e a frustração de não ser bem sucedido no mundo como eu naturalmente desejaria, pois esse sucesso não tem consideração por tua glória.
Jesus Cristo é o centro para onde tudo converge Poucos cristãos são tão cristocêntricos quanto Pascal. Para ele, Jesus não é o Grande, como Alexandre, mas o Único. O Senhor não tem rival nem sucessor.
”
Da cegueira provocada pela queda, o ser humano só pode sair através de Jesus Cristo. Sem Jesus, qualquer comunicação entre Deus e o homem é impossível. Jesus Cristo é o objeto de tudo e o centro para onde tudo converge. Quem o conhece sabe a razão de todas as coisas. Todo conhecimento da existência de Deus, da Trindade, da imortalidade da alma e de qualquer outra coisa dessa natureza é inútil e estéril sem Jesus Cristo.
Não só conhecemos Deus apenas por Jesus Cristo, mas ainda nos conhecemos apenas por Jesus Cristo. Só conhecemos a vida e a morte apenas por Jesus Cristo. Fora de Jesus Cristo não sabemos o que é a nossa vida, nem a nossa morte, nem Deus, nem nós mesmos. Jesus Cristo é aquele do qual nos aproximamos sem orgulho e perante o qual nos humilhamos sem desespero. Jesus Cristo não é simplesmente Deus, mas um Deus reparador das nossas misérias. Sem Jesus Cristo é certo que o homem está no vício e na miséria. Com Jesus Cristo o homem é isento de um e de outro. Em Jesus está nossa felicidade, nossa vontade, nossa vida, nossa luz, nossa esperança. Fora dele, não haverá senão vício, miséria, trevas, desespero e nós não veremos senão a obscuridade e a confusão na natureza de Deus e na nossa própria natureza.
em conjunto Não oro por saúde ou doença, vida ou morte, mas oro para que a tua vontade use a minha saúde, a minha enfermidade, a minha vida e a minha morte para a tua glória, para a minha salvação, para o benefício de tua Igreja e dos santos.
Que eu jamais sinta a dor sem o conforto! Mas que eu possa sentir a dor e a consolação em conjunto e, mais tarde, possa lograr sentir apenas o teu conforto sem qualquer dor! Concede-me, ó Senhor, graça para unir as tuas consolações aos meus sofrimentos e que possa sofrer como cristão.
Une-me a ti, preenche-me com a tua presença e com teu Espírito. Entra em meu coração e em minha alma. Lá, alivia as minhas aflições e preserva em mim o que permanece de tua paixão! Fonte: Mente em chamas — fé para o cético e indiferente, Editora Palavra, p. 323-331.
”
Jesus veio dizer aos homens que eles não têm outros inimigos senão eles mesmos. Jesus Cristo não fez outra coisa senão ensinar aos homens que eles são amantes de si mesmos, escravos, cegos, doentes, infelizes e pecadores. Se Maomé escolheu o caminho de triunfar humanamente, Jesus Cristo tomou o de morrer humanamente. Todos que procuram Deus fora de Jesus Cristo caem no ateísmo ou no deísmo, duas coisas que a religião cristã abomina quase de igual forma. O conhecimento de Deus sem o da própria miséria produz orgulho. O conhecimento da própria miséria sem o de Deus produz desespero. O conhecimento de Jesus Cristo gera o meio-termo, pois nele encontramos Deus e nossa miséria. Jesus esteve num jardim não de delícias, como aquele em que o primeiro Adão se perdeu e com ele todo o gênero humano, mas num jardim de suplícios, do qual ele se salvou e com ele todo o gênero humano. Na terra, Jesus Cristo só pôde descansar no sepulcro.
”
Jesus Cristo veio a fim de que vissem aqueles que nada viam e que se tornassem cegos aqueles que viam. Veio para combater as doenças e deixar morrer os sadios. Veio para chamar os pecadores à penitência e à justificação e deixar de lado os que se acreditavam justos em seus pecados. Veio para encher os indignos e deixar vazios os ricos. Em Jesus Cristo todas as contradições entram em acordo. Maio-Junho, 2011
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o cristianismo tem algo de espantoso Enquanto um monge (Lucílio Vanini) abandona o cristianismo, perde a fé e se envolve com bruxaria, um matemático (Pascal) faz o caminho inverso e torna-se um dos leigos mais apaixonados pelo cristianismo.
”
Mil vezes o cristianismo esteve na iminência de ser destruído. Em todas as vezes que corria esse perigo, Deus o levantava com golpes extraordinários de seu poder. É assombroso que assim seja e que o cristianismo se mantenha sem se dobrar ou se curvar sob à vontade dos tiranos. Há prazer em estarmos em um barco abatido pela tempestade quando temos a certeza de que ele não naufragará. As perseguições contra a igreja são assim.
Ninguém é feliz, virtuoso ou amável como os verdadeiros cristãos. A fé cristã parece estabelecer duas coisas: a corrupção da natureza humana e a redenção operada por Jesus Cristo. Digam o que quiserem, mas é preciso confessar que a religião cristã tem algo de espantoso. O cristianismo é estranho. Ordena ao homem que reconheça o quanto é vil e abominável e, ao mesmo tempo, gera nele o desejo de ser semelhante a Deus. Salvo o cristianismo, nenhuma religião ensina que o homem nasce em pecado. Nenhuma escola filosófica o afirma. Nenhuma, pois, diz a verdade. A religião cristã é sábia e louca. Sábia não só por ser a que mais sabe, mas também por ser a mais fundada em milagres, profecias etc. Louca, porque não é isso tudo que faz com que pertençamos a ela. O que nos faz crer é a cruz.
Nicodemos e Pascal A
relação entre o Nicodemos do Evangelho de João e o Pascal dos Pensamentos é que ambos eram pessoas importantes e se envolveram com Jesus. Isso é notável porque para muitos o evangelho “é uma coisa que nenhuma pessoa instruída e razoável pode aceitar ou crer”, como observa Martyn Lloyd-Jones.
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Vejo multidões de religiões em muitos lugares do mundo e em todos os tempos. Mas elas não têm nem moral que me pudesse agradar nem provas capazes de me convencer. Toda religião que não reconhecer agora Jesus Cristo é notoriamente falsa e os milagres que ela faz não podem servir para nada. O cristianismo consiste propriamente no mistério do Redentor, que reuniu em si as duas naturezas, a divina e a humana, e tirou os homens da corrupção dos pecados para reconciliá-los com Deus em sua pessoa divina.
”
A verdadeira religião ensina nossos deveres e nossa incapacidade (orgulho e concupiscência) e fornece os remédios (humilhação e mortificação).
Ama-se porque se é membro do corpo do qual Jesus Cristo é o cabeça. Ama-se Jesus Cristo porque é o cabeça do corpo do que se é membro.
Nicodemos era “uma autoridade entre os judeus” (Jo 8.31) por ser um dos 71 membros do Sinédrio; a suprema corte de justiça e o corpo governante do povo judeu. Jesus o chamou de “mestre em Israel” (Jo 3.10). Provavelmente era um homem instruído, poderoso e rico. A Bíblia faz questão de registrar duas vezes que o primeiro encontro de Nicodemos com Jesus deu-se à noite, isto é, clandestinamente (Jo 3.2; 19.39). Nessa ocasião, ele ouviu Jesus falar sobre o novo nascimento, o levantamento da serpente no deserto e seu próprio levantamento na cruz “para que todo o que nele crê tenha a vida eterna” (Jo 3.15). É provável que Nicodemos tenha sido a primeira pessoa a ouvir o mais conhecido versículo da Bíblia: “Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito...” (Jo 3.16). Num segundo
excluir a razão e não admitir senão a razão são dois extremos a evitar Uma das tragédias da religião é a renúncia da razão em fortalecimento da fé. Poucas pessoas foram tão equilibradas como Pascal a esse respeito.
”
É preciso saber duvidar quando necessário, afirmar quando necessário e submeter-se quando necessário. Quem não faz assim não entende a força da razão. Se se submete tudo à razão, o cristianismo nada terá de misterioso nem de sobrenatural. Se se contrariam os princípios da razão, o cristianismo será absurdo e ridículo. A religião não é absolutamente contrária à razão.
O coração tem razões que a razão desconhece. Sente-se isso em mil coisas. É o coração que sente Deus e não a razão. Eis o que é a fé: Deus sensível ao coração e não à razão. Esforcem-se para se convencerem da existência de Deus não por argumentação, mas pela diminuição de suas paixões carnais. Por serem bastante infelizes, devemos mostrar piedade para com os que não querem ou não conseguem crer. Não há nada tão conforme a razão do que a retratação da razão. Submissão e uso da razão — eis em que consiste o verdadeiro cristianismo. O último passo da razão é reconhecer que existe uma infinidade de coisas que a supera. Se a razão não reconhece isso, ela é fraca. Se as coisas naturais a superam, o que se dirá das sobrenaturais?
momento, Nicodemos teve a coragem de levantar sua voz no Sinédrio a favor de Jesus: “De acordo com a nossa lei não podemos condenar um homem sem ouvi-lo primeiro e descobrir o que ele fez” (Jo 7.51, NTLH). Finalmente, Nicodemos foi corajoso ao se associar, de dia e não de noite, a José de Arimateia, outro membro do Sinédrio, para tirar Jesus da cruz, embalsamar e dar sepultura ao seu corpo. Para tanto, ele mesmo levou 34 quilos de especiarias (Jo 19.38-42). Nada mais se fala sobre Nicodemos, mas é provável que ele tenha se tornado um cristão professo. Segundo a tradição, ele teria sido batizado por Pedro e João, sofrido perseguições, perdido seu lugar no Sinédrio e obrigado a deixar Jerusalém!
Se Deus se descobrisse mais continuamente, não haveria mérito em acreditar nele. Se ele não se descobrisse, não haveria nem um pouco de fé. Mas ele se esconde constantemente e se descobre raramente para aqueles que desejam se colocar ao seu serviço. Não é de se admirar ver pessoas simples crerem sem raciocínio. Deus lhes dá o amor a ele, e o ódio a si mesmas. Dizem que somos incapazes de conhecer se existe mesmo um Deus. Entretanto, o certo é que Deus existe ou não existe. Não há meio termo nessa questão. O homem é naturalmente crédulo e incrédulo, tímido e temerário. Não tire de seu aprendizado a conclusão de que você sabe tudo, mas sim a certeza de que ainda resta muito a saber. Se o homem não foi feito para Deus por que só é feliz em Deus? Se o homem é feito para Deus, por que é tão contrário a Deus?
”
Não tenho palavras para qualificar aquele que duvida e não corre atrás da certeza, aquele que, ao mesmo tempo, é sumamente infeliz e injusto, e ainda se sente tranquilo e satisfeito e se vangloria disso tudo.
É uma estranha inversão a sensibilidade do homem às pequenas coisas e a insensibilidade dele às grandes coisas. Maio-Junho, 2011
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HOJE EM DIANTE...
Quero valorizar mais as qualidades do que os defeitos dos outros
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ão preciso de lentes de aumento para enxergar os defeitos dos outros. Nem de óculos para ver as minhas virtudes. Foi Jesus quem me acusou dessa hipocrisia. Ele denunciou a minha
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capacidade de me preocupar com um cisco no olho de meu irmão e da capacidade de não me preocupar com um pedaço de madeira no meu (Mt 7.3-4). Estou envergonhado! De hoje em diante, com o auxílio de Deus, me darei ao trabalho de catar as coisas boas nos outros e as más em mim! Não estou me comprometendo a pôr uma venda nos meus olhos para não ver o meu pecado nos outros. Nem a colocar uma venda nos olhos para não ver a virtude dos outros em mim. Quero me esforçar para ver a maldade alheia com misericórdia e ver a minha bondade com humildade. Que Deus tenha pena de mim e me ajude. Não perderei de vista o que os sábios têm dito. Vou ser humilde como Goethe, o filósofo alemão que confessou: “Não vejo falta cometida [por outra pessoa] que eu não pudesse ter cometido”. Vou ser coerente como C. S. Lewis, o catedrático de Oxford e Cambridge, que revelou: “Pela primeira vez, examinei a mim mesmo com o propósito seriamente prático, e
ali encontrei o que me assustou: um bestiário de luxúrias, um hospício de ambições, uma centena de medos, um harém de ódios minados”. Vou aceitar a palavra de Vidosav Stevanovic, o escritor sérvio, que aconselhou: “Antes de combater o mal nos demais, cada um de nós deve combatê-lo no interior de si mesmo”. Vou ouvir a voz de Agostinho, o bispo de Hipona, que indagou: “Que poderá haver de mais miserável do que um mísero que não enxerga sua própria miséria?”. Vou guardar sempre o conselho de William Saroyan, escritor americano, que disse: “O homem mal deve ser perdoado e amado todos os dias porque alguma coisa de cada um de nós está no pior homem e alguma coisa dele está em nós”. O motoboy acusado de violentar e matar nove mulheres no Parque do Estado, em São Paulo, disse uma verdade: “Eu tenho um lado bom e outro ruim, que se sobrepõe ao bom”. Tentarei enxergar o lado bom dos maus e o lado mau dos bons, para afastar de mim o espírito de superioridade, a ingenuidade e o juízo temerário!
Carlos “Catito” Grzybowski e Dagmar Fuchs Grzybowski
Casamento
e família
H
á algum tempo, dei uma palestra sobre relacionamento familiar em Rondonópolis, MT. Depois da palestra, fui convidado por um grupo para ir jantar um delicioso peixe na brasa. Em meio a conversas e risadas, um casal de noivos que estava sentado ao meu lado me fez a seguinte pergunta: “Professor, vamos nos casar no mês que vem. Sabemos que não existe mágica para um casamento funcionar. Porém, queríamos saber se o senhor teria alguma dica para nos dar. Gostaríamos de cultivar um bom relacionamento desde o começo”. Pensei por alguns segundos antes de responder e depois olhei bem para eles e disse: “Tenho sim!”. O casal ajeitou-se na cadeira como se fosse participar de um momento especial, arregalou os olhos e aproximou-se para ouvir-me melhor. Então eu disse: “Se vocês querem ter um casamento harmônico desde o início, não tenham nem televisor nem computador em casa nos primeiros dois anos de casado!”. Eles se entreolharam, com um esboço de sorriso e uma expressão de interrogação, perguntando-se se eu estava falando sério ou se era apenas uma piada, entre as muitas que eu havia contado durante a palestra. Então eu continuei, solene: “Bem, me digam uma coisa, se vocês não tiverem televisão nem computador nos dois primeiros anos de casado, no final do expediente irão chegar em casa, jantar e em seguida farão o que?”. Novamente o casal se entreolhou com um sorriso maroto. Eu complementei:
“Tudo bem, além disso, vão fazer o que?”. Eles soltaram uma gargalhada e responderam: “Conversar!”. Realmente não há fórmulas mágicas para um sucesso no casamento, senão o diálogo. Nos dias atuais, a televisão e o computador são os maiores ladrões do diálogo conjugal e familiar. As pessoas chegam em casa cansadas de expedientes muitas vezes torturantes e querem “não pensar”. Apenas se jogam em frente à televisão ou ao computador e ali deixam a mente vagar pelos espaços cibernéticos, sem fazer esforço algum, senão o de mexer os dedos para zapear ou o de teclar e clicar o mouse. Muito cuidado com esse relax! Existe muito lixo no espaço cibernético e nas programações televisivas que sorrateiramente se acumula nos cantos da mente e produz, em médio prazo, um fedor comportamental que infecta os relacionamentos. Não poucas vezes ouvi comentários de distintas senhoras cristãs, muitas vezes em encontros de casais, afirmando que estavam torcendo para que uma determinada personagem da novela abandonasse o marido e ficasse com o amante, pois o primeiro era nefasto, enquanto o segundo era adorável. Esse lixo entra silenciosamente nas mentes e vai distorcendo os valores. Ao consultório nos chegam inúmeros casos de homens e mulheres com uma vasta bagagem cristã, mas que, de um momento para o outro, se veem envolvidos em pornografia pela internet. Isso por terem “inocentemente” entrado em salas de bate-papo e, paradoxalmente, não terem mais espaço de diálogo com o cônjuge.
Yosep Sugiarto
Cuidado com os ladrões
Aproveitar o tempo para um fecundo diálogo conjugal e familiar é, sem dúvida, sinal de maturidade espiritual
Jesus alerta: “O ladrão só vem para roubar, matar e destruir; mas eu vim para que as ovelhas tenham vida, a vida completa” (Jo 10.10, NTLH). Cuidemos então de cultivar o diálogo conjugal e familiar e de manter os ladrões distantes de nossa casa. Talvez você não precise desfazer-se de sua televisão ou computador, mas precise orar a Deus para desenvolver o fruto do Espírito Santo, que inclui o domínio próprio (Gl 5.22). Dominar o impulso de chegar em casa e ligar a televisão ou o computador e aproveitar o tempo para um fecundo diálogo conjugal e familiar é, sem dúvida, sinal de maturidade espiritual. Carlos “Catito” e Dagmar são casados, ambos psicólogos e terapeutas de casais e de família. Catito é autor de Como se Livrar de um Mau Casamento e Macho e Fêmea os Criou, entre outros.
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CAMINHO DO CORA çãO
Ricardo Barbosa
A espiritualidade cristã e a cultura narcisista
A
próxima edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), prevista para maio de 2013, propõe a eliminação da desordem de personalidade narcisista, entre outros transtornos de sua lista. Não se sabe ao certo os motivos. O fato é que, quando um “transtorno” se torna padrão de comportamento de uma cultura, ele deixa de ser patológico. O comportamento narcisista é definido por um sentimento de autoestima elevado, autoabsorvido, com fantasias de ilimitado sucesso, poder, inteligência, beleza e amor ideal; além da crença de ser “especial” frente aos outros. O narcisista costuma explorar relacionamentos interpessoais e tem uma grande necessidade de ser admirado. Guarda sempre fantasias de grandeza e possui dificuldades de empatia. Para um narcisista, a realidade é concebida apenas dentro de seu universo fechado e egoísta. A internet tem proporcionado uma infinidade de recursos que promovem o exibicionismo e os falsos relacionamentos. Isso tem mudado o comportamento das crianças e dos jovens. Nesses espaços, enquanto muitos se orgulham dos milhares de “seguidores” (admiradores) em sites de relacionamento, outros têm a oportunidade de tornarem-se celebridades. A nudez, seja das emoções ou do corpo, pode ser exibida para quem quiser ver. Tudo isso eleva o senso de importância e o valor que cada indivíduo acredita ter. No mundo religioso não é diferente. Líderes precisam ter o “seu” ministério, a “sua” visão, o “seu” projeto. É comum encontrarmos pastores frustrados
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porque a igreja não comprou a “sua visão”. Uma conversão tem maior valor quando narrada por uma celebridade. A identidade cristã ganha mais credibilidade quando estamos vinculados a uma igreja ou a um ministério que leva o nome de alguém famoso. O espaço para a consciência do outro é cada vez menor, uma vez que sou absorvido com a “minha” necessidade de realização. O narcisismo como expressão do egoísmo e da autoglorificação é tão velho quanto o pecado original — “e sereis
A identidade cristã repousa no batismo. Fomos batizados em um “corpo”. O “eu” solitário e egoísta deu lugar a um “nós” solidário como Deus…”. Logo depois, o ciúme leva Caim a assassinar seu irmão Abel. A cultura narcisista, fortalecida pelo individualismo, pelo consumismo e pela “divinização” do ser, torna-nos temerosos em relação ao “outro”. Achamos possível criar uma compreensão da existência humana a partir de nós. A realidade passa a ser aquilo que concebemos em nossa consciência, absorvida por nossas carências e fantasias. Muitos chegam a admitir que Deus é um inibidor e um repressor da liberdade e da realização humanas. Porém, a afirmação divina de que fomos criados à imagem e semelhança de Deus revela a mais completa e perfeita compreensão do ser humano. Ela reflete o mistério da Trindade, por meio do qual
encontramos tanto a singularidade como a pluralidade. Embora cada pessoa divina seja singular, a identidade de cada uma encontra-se íntima e indivisivelmente ligada ao “outro”. O outro é uma realidade constitutiva do ser humano. O narcisismo da cultura moderna reflete a realidade do pecado. Muitas desordens mentais têm sua origem no esforço humano de querer viver sem Deus — de ser seu próprio deus. O apóstolo Paulo descreve assim este quadro: “Porque, mesmo tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; pelo contrário, tornaram-se fúteis nas suas especulações, e o seu coração insensato se obscureceu” (Rm 1.21, AS21). Essas pessoas tornaram-se cheias de si, passaram a se admirar mais do que ao Criador, substituíram a verdade pela mentira, e acabaram sendo entregues a toda sorte de desordens mentais e emocionais. A identidade cristã repousa no batismo. Fomos batizados em um “corpo”. O “eu” solitário e egoísta deu lugar a um “nós” solidário. Não me realizo em mim mesmo, mas no outro, na medida em que me entrego em amor e serviço abnegados. Nenhum membro do corpo existe ou sobrevive por si — “o olho não pode dizer à mão: não tenho necessidade de ti” (1Co 12.21). Jesus afirmou: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36). Nossa segurança e liberdade não são encontradas no ser autônomo, mas no reconhecimento de Cristo como Senhor e cabeça da sua igreja e na submissão ao seu governo e ao seu povo. Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do Coração.
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LI NHA DE F R ENTE
Bráulia Ribeiro
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O mandato econômico
Já passou da hora de homens de negócios e capacidade empreendedora abraçarem o chamado da missão integral
S
em deixar de cair no lugar-comum das entrevistas, perguntei a Don Richardson qual foi a área mais negligenciada na sua geração no panorama missionário entre os povos não-alcançados. Ele não se fez de rogado e me deu uma boa aula sobre a questão econômica e sobre missões. A negligência em olhar o desenvolvimento como parte do processo de “evangelização” condenou muitas tribos à dor da exclusão sócioeconômica e à falta total de perspectiva de um futuro diferente para seus filhos. Steve Saint é o filho de Nate Saint, o piloto das selvas, assassinado na década de 50 nas selvas do Equador pelos índios então conhecidos como Auca, cujo verdadeiro nome é Waurani. Steve foi criado na selva, pois sua mãe assumiu o trabalho após
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a morte do pai. Junto com a irmã de seu pai, Rachel Saint,1 e outras esposas de pilotos mortos, eles conseguiram conquistar os Waurani e levar-lhes o evangelho. O perdão e o amor que fez com que as esposas dos missionários martirizados voltassem à terra dos índios assassinos escreveu uma das mais belas histórias de missões modernas. Steve, criado na tribo, voltou aos Estados Unidos, onde fez faculdade e se casou. Anos depois, visitando a tribo por ocasião da morte de sua tia Rachel, os Waurani lhe deram um ultimato: — Você é nosso filho, e sabe tudo do mundo de fora. Estudou, entende o mundo, agora precisa ajudar a gente a sair da pobreza. Steve entendeu o chamado diferenciado que os índios lhe propuseram e começou uma série de iniciativas de desenvolvimento econômico para a tribo. O mais interessante dos projetos é uma fábrica de ultraleves super modernos. Nada de pensar apenas em latrinas e água potável. Steve Saint construiu uma fábrica de montagem de kits da avioneta RV10 e convidou os interessados em comprá-lo, por mais de 200 mil dólares, a irem ao Equador e aprenderem com os Waurani a montá-lo para nele voar em três semanas.2 Se fosse no Brasil, ele certamente teria sido barrado pelo governo brasileiro, que condena as tribos do país à miséria eterna em nome da preservação cultural. Steve considera a falta de ênfase no problema econômico o maior ponto cego de missões no último século.
Na minha experiência de 30 anos na Amazônia, vi muitos de nossos trabalhos missionários, implantados com muito suor e oração, serem derrotados por nossa incapacidade de ir além da pregação. Enganados por uma visão cristã falsa de mundo, que separa o trabalho espiritual do “secular”, alguns de nossos projetos focalizaram apenas as “almas” e não o ser humano como um todo. Por todos os lados vemos a consequência dessa falácia cristã. A África é o continente mais evangelizado do mundo e também o mais pobre. Apesar do despertamento que as discussões de Lausanne trouxeram à igreja, ainda temos de trabalhar muito para mudar a cosmovisão que propõe uma missão para a igreja desassociada da realidade sócio-econômica. Já passou da hora de homens de negócios e capacidade empreendedora abraçarem o chamado da missão integral. O mundo de missões precisa deles. Pessoas que não deixam tudo para servir como nós, jesuítas do evangelho, mas que servem com seu aparato empresarial e seu tino para criar riquezas. Só assim vamos conseguir tirar os povos tribais do mundo da miséria degradante, que os condena a pensar que o amor de Deus é abstrato e inócuo, como o evangelho que levamos até eles. Notas 1. História narrada no livro Through Gates of Splendor, de Elizabeth Elliot. 2. www.saintaviation.com/index.htm.
Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua família e está envolvida em projetos internacionais de desenvolvimento na Ásia. É autora de Chamado Radical.
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M ISS ã O
INTEG R AL
René Padilla
Kristin Smith
O alcance global da missão cristã
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ão é necessário destacar que o ministério terreno de Jesus se concentrou em Israel, o povo escolhido de Deus. Seus contatos com os gentios ao longo do ministério, relatados pela Bíblia, são poucos. Entre eles se destacam dois casos. O primeiro é seu encontro em Cafarnaum com um centurião romano que vai até ele em busca de ajuda para a paralisia que mantém seu servo prostrado (Mt 8.5-13; Lc 7.1-10). Quando Jesus se dispõe a ir a sua casa, o centurião lhe diz: “Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de sarar” (Mt 8.8). Tal resposta surpreende Jesus e o leva a comentar com os discípulos: “Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé” (v. 10). O segundo caso é seu encontro com uma mulher siro-fenícia na região de Tiro e Sidom (cidades gentias), a qual lhe roga que expulse um demônio de sua filha (Mt 15.10-20). A resposta de Jesus é desconcertante: silêncio. Ante a insistência da mulher e a intervenção dos discípulos que lhe pedem que a dispense, Jesus comenta: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (v. 24). A mulher insiste e ele afirma: “Não é bom pegar o pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos” (v. 26). Ela não se dá por vencida e responde: “Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que
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caem da mesa dos seus senhores” (v. 27). É uma resposta de fé que rende bom fruto, porque Jesus lhe contesta: “Ó mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito para contigo, como tu desejas” (v. 28). Poderiam ser citados outros casos de contato de Jesus com representantes do mundo gentio, mas esses dois bastam para afirmar que, ainda que seu ministério terreno tenha se concentrado em Israel, os não-judeus não foram totalmente excluídos dos benefícios de seu poder redentor. Assim, é válido lembrar que no começo do Evangelho de Mateus (2.1-12) encontramos o relato da visita de “uns magos que vieram do oriente” para ver o recémnascido Jesus. Já era uma mostra da importância que o menino judeu teria para os povos não-judeus. Apesar da escassez de referências ao ministério terreno de Jesus Cristo como algo que transcende as fronteiras de Israel, é notável que a comissão dada aos discípulos tenha uma óbvia conotação global: “Ide, fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.19). O mesmo alcance universal está presente nas versões da Grande Comissão de Marcos 16.15, Lucas 24.47 e Atos 1.8. Evidentemente, o propósito de Jesus Cristo é que em todas as nações da terra (panta ta ethne) haja discípulos que o confessem como Senhor sob cuja soberania Deus colocou a totalidade de sua criação, e que vivam sob a luz dessa confissão. Cabe, então, a pergunta: se Jesus Cristo tinha a intenção de que o
anúncio do evangelho chegasse a todas as nações, por que limitou seu ministério quase exclusivamente ao povo de Israel? A resposta mais provável é que sua concentração em Israel foi coerente com o propósito de Deus de usar o povo de Israel como “luz das nações”. Com efeito, para isso é que ele foi escolhido! A promessa do pacto que Deus fez com Abraão não foi só de bênção para ele e seus descendentes: “E far-te-ei uma grande nação, e abençoarte-ei” (Gn 12.2). Foi ao mesmo tempo uma comissão: “E em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3). A particularidade da eleição tinha um propósito universal. O particular e o universal se unem em Jesus Cristo: ele concentra seu ministério terreno em Israel como o povo escolhido de Deus, mas na Grande Comissão demonstra que seu propósito redentor, em conformidade com a vontade de Deus, tem um alcance global. E essa é a origem das missões transculturais que vão tomando forma depois da ressurreição e exaltação de Jesus Cristo, como relatado em Atos, em cumprimento a promessa do Senhor a seus discípulos: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra” (At 1.8). Traduzido por Wagner Guimarães
C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de O Que É Missão Integral? .
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Cotidiano —
o l e i t o r p e rg u n t a
Ed René Kivitz
Prezado Daniel, a Bíblia Sagrada ensina que se deve orar a respeito de tudo. Orar por qualquer motivo, a qualquer hora, em qualquer lugar, sempre que o coração não estiver em paz. O apóstolo Paulo nos ensina a orar (Fp 4.6, 7) dizendo que não precisamos andar ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e pelas súplicas, com ações de graças, devemos apresentar nossos pedidos a Deus. A expressão “coisa alguma” nos leva a orar sem censura filosófica ou teológica, sem se perguntar “é legítimo pedir isso a Deus?” ou “será que Deus se envolve nesse tipo de coisa?”. Devemos simplesmente orar, e de maneira simples. Por outro lado, a Bíblia não garante que Deus atenderá nossos pedidos exatamente como foram feitos. Deus não prometeu dizer sim a todos eles. O maior fruto da oração não é a resposta, mas a maturidade crescente da pessoa que ora. Na verdade, a estatura espiritual de uma pessoa pode ser medida pelo conteúdo de suas orações. Assim como sabemos se nossos filhos estão crescendo ao observar o que nos pedem e o que esperam de nós, podemos avaliar nosso próprio crescimento espiritual por meio de nossos pedidos e súplicas a Deus. As orações revelam o que realmente ocupa nosso coração, o que realmente é objeto do nosso desejo, o que nos amedronta, nos mobiliza e/ ou desestabiliza, e nos rouba a paz.
pa a t n u g r e p Envie sua
edrenekivitz@ultimato.com.br O apóstolo Paulo diz que quando era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Mas quando se tornou homem, deixou para trás as coisas de menino (1Co 13.11). Não existe oração certa e errada. Porém, existe oração de menino e oração de homem. Oração de menina e oração de mulher. A diferença está no coração: coração de criança, menino ou menina, ora como criança. A nossa certeza é que Deus também gosta de crianças.
Sou Sara Magalhães, tenho 26 anos, e estou no último ano do seminário. Meu trabalho de conclusão de curso trata da missão da igreja e eu gostaria de saber sua opinião a respeito desse tema. Sara, acredito que o tema do seu trabalho é dos mais relevantes. A compreensão mais comum diz que a missão da igreja é “fazer discípulos”, o que, em sentido reduzido, significa “ganhar almas” ou popularmente “povoar o céu”. Esse conceito está baseado na chamada Grande Comissão de Mateus 28.18-20. Porém, existem outros textos do Novo Testamento
que podem servir de base para o entendimento da missão da igreja, como, por exemplo, João 17.18 e 20.21: “Assim como o Pai me enviou ao mundo, eu também os envio”, o que nos leva a considerar a missão da igreja como extensão da missão de Jesus. Também em Lucas 4.18-21, podemos encontrar uma referência à missão, quando Jesus diz que foi ungido pelo Espírito do Senhor e enviado para pregar boas novas aos pobres, proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, libertar os oprimidos, e proclamar o ano da graça do Senhor. Esse texto pode ser resumido nas expressões salvação, libertação e restauração. Como último exemplo, podemos olhar para Efésios 1.22, 23, em que o apóstolo Paulo diz que pela igreja Jesus exerce sua autoridade sobre todas as coisas. Nesse caso, a igreja é responsável por fazer com que Jesus seja Senhor, de fato, sobre tudo quanto é de direito. Todos esses textos, e muitos outros, apontam para o conceito da missão integral da igreja, resumido em Lausanne como “levar o evangelho todo para o homem todo”.
Ed René Kivitz é pastor da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo. É mestre em ciências da religião e autor de, entre outros, O Livro Mais Mal-Humorado da Bíblia.
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Graur Codrin
Meu nome é Daniel Torres, tenho 36 anos, e gostaria de saber qual a sua posição, à luz da Bíblia, acerca da oração. Devo orar a Deus por questões “básicas” do dia-a-dia? Orar por emprego, por prosperidade, por um cônjuge, pela conversão de alguma pessoa, por cura?
Carlinhos Veiga
O que realmente importa
Aline Pignaton
Esse é o terceiro trabalho da capixaba Aline Pignaton. No entanto, segundo ela, tem um gostinho de primeiro, pois marca uma nova fase em sua carreira — mais amadurecida e com um novo estilo musical. O que realmente importa mostra uma produção coesa, moderna e bem cuidada. A voz de Aline está perfeitamente colocada, limpa e sem os excessos característicos das cantoras gospel tupiniquins. Rodolfo Simor, produtor e arranjador, conduziu o trabalho pelas vias da nova MPB, mesclando música eletrônica, jazz e world music. Vale a pena ouvir e ouvir, sem cansar. A cada audição, novas descobertas, certamente satisfazendo aos ouvidos mais exigentes. No repertório músicas dos excelentes Gladir Cabral, Paulo Nazareth, Jorge Camargo e Edivan Freitas. Aline assina também uma das canções, em parceria com Karine Lessa. Para adquirir o CD, acesse www.alinepignaton.com.br.
Na Kombi
Nações
Nos anos 90 uma campanha entre amigos presenteou a Mocidade Para Cristo em Goiânia com uma Kombi nova. Como o Expresso é um dos ministérios dessa missão, as viagens feitas dentro do “kombão” foram frequentes. O velho veículo foi substituído por um mais novo, mas nesse novo CD o grupo relembra os momentos vividos pelas estradas desses brasis. Desde 2003, com Tempo bom, o Expresso não produzia um trabalho apresentando músicas inéditas. Agora ele mescla novidades com novas versões de “Viajar” (Pimenta), “Na kombi” (Veiga e Pinheiro), “Canção das estrelas” (Janires) e “Sol na janela” (Mesquita). É a primeira produção de Bruno Rejan para o grupo, dividindo os arranjos com Dimar Viana. O CD foi gravado e mixado no Zero Db, em Goiânia, por Olemir Cândido e Marcelo Nogueira. Para contatos, www.expressoluz.com.br ou (62) 3285-2355.
Agnaldo Melo é pastor presbiteriano em João Pessoa, na Paraíba. Desde muito tempo desenvolveu um carinho especial pela obra missionária, que o levou a se tornar um dos membros da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais. Sempre que havia um intervalo entre as reuniões da APMT, ele pegava um violão e mostrava aos seus companheiros as novas canções feitas com temáticas missionárias. Assim, foi convidado a gravar um CD com cânticos congregacionais que desafiassem as igrejas a cumprir o seu mandato de ir às nações levando o evangelho. O resultado foi o álbum Nações. São doze canções, todas de sua autoria, acompanhadas de seis playbacks. Nele encontramos ritmos variados e canções fáceis de ser assimiladas pelas comunidades. A produção executiva é de AD Souto e Cristiano Borges. Para adquirir, escreva para apmt@apmt. org.br ou ligue para (11) 3207-2139.
Expresso Luz
Agnaldo Melo
N OVOS
ACORdES
Brilhe tua luz em nós
Luciano Manga
Manga tem uma longa trajetória musical. Nos velhos tempos frequentou a Igreja do Tio Cássio, ao lado de Janires, Cintia e Silvia e Silvestre Khulmann. Anos depois estudou teologia em faculdades batistas e metodistas, mas não abandonou a música. Foi vocalista da Oficina G3 por 12 anos, fazendo parte da primeira formação. Assim que deixou a banda, percorreu o mundo com suas canções e pregações. Hoje pastoreia a Comunidade Vineyard do Rio de Janeiro. Brilhe tua luz em nós é o seu primeiro CD solo. Ele foi gravado ao vivo e traz cânticos congregacionais bem no estilo Vineyard — rock pop pulsante, contagiante e algumas baladas. Participações especiais de Fabiano Alves, Greta Lira, Marcelino Cardoso e Fernandinho. Amauri Muniz é o produtor musical do trabalho, que tem uma banda muito boa. Para mais informações, visite o site www.lucianomanga.com.br. Maio-Junho, 2011
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AMBIENTE E fé cristã
Marina Silva
Babel de ilusões
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mundo assiste mais uma vez a um grave acidente nuclear. As consequências não podem ainda ser mensuradas e estão longe de terminar. Desta vez a crise é nos complexos de Fukushima e Onagawa, no Japão, país que sofreu, em março deste ano, um grande terremoto e um subsequente tsunami. Não podemos, a partir de eventos como esse, deixar de aprender algumas lições. Os riscos envolvidos no funcionamento das usinas nucleares, no armazenamento dos resíduos radioativos e as consequências da radiação para o meio ambiente e para a saúde das pessoas são desconhecidos da sociedade. Falta transparência, acesso à informação e disseminação de conhecimentos sobre a atividade. Eisaku Sato, ex-prefeito de Fukushima, disse para um jornal francês que o grande problema da energia nuclear é a falta de controle democrático dos processos de decisão governamental. Algo que ocorre em todo o mundo, inclusive no Brasil. Em decorrência do desastre japonês, ficamos sabendo pela imprensa que a usina de Angra 2, por exemplo, em funcionamento desde 2000, não tem licença operacional definitiva até hoje — um documento certificando que as condições de segurança estão sendo atendidas. Descobrimos que há quatro reatores nucleares, que não são monitorados, instalados em três universidades. Por fim, que dos 470 milhões de
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reais destinados à manutenção das instalações das usinas de Angra 1 e 2, apenas 35% foram aplicados entre 2003 e 2010. Sempre fui contra a produção de energia nuclear: uma tecnologia cara e altamente danosa. Até hoje não existe tratamento seguro dos resíduos nucleares, cujos efeitos contaminantes podem durar mais de cinco séculos. Uma herança maldita deixada para as futuras gerações. Em artigo recente afirmei que a questão não está só no mérito da tecnologia nuclear, mas no seu entorno, naquilo que o
Um dos grandes ensinamentos a tirar da catástrofe japonesa é a necessidade de nos reconectar com a nossa fragilidade aprendizado das últimas décadas nos ensinou, ou seja, é mais importante o olhar abrangente, para as cadeias de causas e consequências, do que para um ponto fixo. Diferente do Japão, o Brasil tem opções energéticas mais eficientes e limpas: energia eólica, hidráulica, solar e de biomassa. Ainda assim, setores do governo defendem a instalação de dezenas de usinas nuclares no país nos próximos 50 anos. Políticas como essa não podem passar ao largo da sociedade. Tenho defendido a realização de um plebiscito, precedido de um amplo e profundo debate, para
que as pessoas sejam esclarecidas e possam decidir pela instalação ou não. Talvez um dos grandes ensinamentos a tirar de toda essa catástrofe seja o da necessidade de nos reconectar com a nossa fragilidade, percebendo como somos dependentes de Deus, uns dos outros e da natureza. Somos seres que, não por acaso, chegamos apenas a ser potentes, cientes e presentes, e essa graça nos basta. A ilusão do controle revela o quão desmesurado é o apego à obra de nossas mãos. Pois cria em nós uma espécie de negação da realidade, num círculo vicioso que nos condena a continuar construindo nossa Babel de ilusões: onipotência, onisciência e onipresença — e os saltos tecnológicos lhes emprestam contornos de realidade. Que o sábio e atualíssimo ensinamento paulino em Romanos 12.2, que diz que não devemos nos conformar com este mundo, nos mova a uma renovação do sentir para melhor entender, do entender para melhor pensar, do pensar para melhor agir e do agir para melhor ser. Vamos iniciar esse debate em nossas comunidades cristãs, em nossos locais de moradia e de trabalho, como pessoas com dupla cidadania, que desejam ardentemente que Deus reine nos céus e também aqui, sobretudo no lugar em que temos mais dificuldade de deixá-lo reinar: nas obras de nossas mãos. Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV/AC.
Noemia Cessito
C AMINHOS
DA MISSã O
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oje ri muito com meus adolescentes do grupo Vangana Va Jesus (Amigos de Jesus). E fiquei pensando em como me fazem sorrir e também chorar. Choro quando ouço que uma das nossas meninas engravidou, foi levada por um parente casado, perdeu-se pela vida, e não posso fazer nada. Ontem sorri, e muito, quando vi Stela, Noêmia e Oto andando como gente grande. Sorri por causa dos seus passos inseguros, das calcinhas aparecendo pelo vestido curto. Ano passado eram ainda bebês da creche, carregados no colo. Ontem andavam ao meu lado, correndo de um lado para o outro, e tentando repetir as frases que gritava para eles enquanto caminhávamos com todo o grupo. Porém anteontem chorei. Pelos pais de Maída, de apenas três anos, cheios de vida. Eles a chamavam carinhosamente de “chefe”. Dias atrás, ardia de febre na escola, enquanto as outras crianças faziam educação física. Ela até que tentou, mas não conseguiu. Medicamos e, quando a febre passou, lá estava ela, brincando, correndo novamente com as outras crianças. Quando chegamos à casa de Maída, só havia dor. A professora entrou na casa e a mãe dela se agarrou ao seu pescoço e começou a gritar. Maída estava conosco na terça-feira; na quinta, morreu. Deixou um vazio no seu
lugar marcado na escola e uma cratera sem fim no coração de sua família. Sorri com o Léo. Ele tentava esconder seus braços enquanto a professora falava sobre os amigos de Jesus: “Quem anda com Jesus e é amigo dele, obedece a ele, não vai ao curandeiro, procura obedecer a seus pais”. Um lá atrás gritou: “Tia, eu quero ser amigo de Jesus”. A outra disse: “Quem vai ao curandeiro é amarrado, e não pode ser amigo de Jesus, não é mesmo?”. A professora não tinha percebido que já tinham “descoberto” o Léo. Ele tinha um amuleto de proteção no braço. As crianças se aproximaram e ele já não tinha como esconder: “Léo, você não é amigo de Jesus. Tira isso. Amigo de Jesus não usa isso. Amigo de Jesus é protegido por ele”. “Tia, fala para o Léo tirar.” A professora tentou acalmar a turma. Ela não tinha autoridade para tirar o amuleto. Somente quem o coloca é que pode tirá-lo sem maiores problemas. Léo foi para a casa, assim como as outras crianças. Foi o primeiro a chegar no dia seguinte e logo pediu: “Tia, posso ajudar a arranjar a sala?”. A professora disse que sim. Léo estava diferente, feliz: “Eu já posso, não é?”. “Pode, pode trazer as cadeiras”, respondeu a professora. Ele as trouxe. “E agora, eu já posso?”, perguntou de novo. Foi então que ela parou para lhe dar a devida atenção e notou que em seu braço já não havia amuleto. Ele se
Jonatas Gabriel Cessito
Entre sorrisos e lágrimas
Noemia Cessito
Vale a pena estar no meio das crianças, chorar por elas, rir com elas e até delas. Assim é o nosso ministério, nossa vida, nosso trabalho aproximou e disse: “Eu agora já posso ser amigo de Jesus, não é mesmo?”. Ela o abraçou. Vale a pena estar no meio das crianças, chorar por elas, rir com elas e até delas. Assim é o nosso ministério, nossa vida, nosso trabalho. Entre sorrisos e lágrimas, e muita alegria, pois servimos a um Deus que nos ama. Noemia Cessito, casada, dois filhos, é missionária da JMM no Dondo, em Moçambique.
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James Gilbert
{Informe}
Por que não orarmos juntos?
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ocê tem a grande chance de não orar sozinho. Participe do 16º Mutirão de Oração pelas Crianças e Adolescentes em Vulnerabilidade, no primeiro fim de semana de junho (dias 3, 4 e 5). Reúna seu amigo de oração, a família, a comunidade, funcionários do projeto social da sua cidade e outros para que dobrem os joelhos e estendam as mãos em favor da infância ameaçada. Cristãos do mundo todo farão o mesmo. Com ênfase na unidade, a campanha deste ano nos encoraja a ver a oração coletiva como uma arma fundamental contra as mazelas vividas pelas crianças. O tema é: “Rogo para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti” (Jo 17.21).
Como orar? Você pode obter gratuitamente todo o material de apoio para sua mobilização de oração. Basta acessar o site www. maosdadas.org/mmo, escolher o menu “Sobre o mutirão” e depois, “Material de apoio”. Então é só fazer o download dos arquivos e imprimir. Você terá em mãos cartões de oração, um guia detalhado e muitas informações sobre a infância. Se quiser cartazes de divulgação, escreva para mmo@maosdadas.org. Comece a orar na sexta-feira, 3 de junho, em sua organização social ou empresa. No sábado (dia 4) e no domingo (dia 5), continue organizando 44
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momentos de oração em casa, na igreja e em seu bairro. Sensibilize e envolva crianças, jovens e adultos. Divulgue o evento com antecedência. Espalhe cartazes e folhetos, fale na rádio e na televisão. Organize eventos em espaços públicos, com informação, arte e oração.
Por quais motivos orar? Todos os anos a campanha seleciona assuntos e motivos de oração para que você ore com seriedade pela causa da criança. Para 2011, eles são os seguintes: 1. Família e educação Vamos orar juntos para que as crianças que vivem sem família ou em famílias frágeis sejam protegidas e cuidadas. Oremos também para que mais crianças sejam incluídas nas escolas e que a educação oferecida seja realmente de qualidade. 2. Comércio e governo Vamos orar juntos para que comércios justos prosperem e para que haja retidão nas políticas e legislações governamentais. 3. Mídia, artes e indústria de entretenimento Vamos orar juntos para que, nesta geração tecnológica, as crianças sejam tratadas com dignidade e respeito, e para que a criatividade seja usada para a glória de Deus.
4. Religião Vamos orar juntos para que as igrejas locais sejam expressão do amor de Deus em suas comunidades e que as crianças tornem-se exemplo espiritual e parceiras dos adultos na expansão do reino de Deus. 5. Combate à exploração sexual na Copa 2014 Com a Copa do Mundo sediada no Brasil em 2014, há um grande risco de aumento da exploração sexual de crianças, especialmente o turismo sexual. Estima-se a vinda de 500 mil turistas. Vamos orar para que os sistemas de exploração sexual sejam derrubados e que as crianças não sejam obrigadas a entregar seus corpos para adultos. Ore também para que a campanha Copa 2014, organizada por redes evangélicas, seja bem-sucedida e consiga sensibilizar governos e igrejas.
Participe no primeiro fim de semana de junho (3, 4 e 5 de junho) do 16º Mutirão de Oração pelas Crianças e Adolescentes em Vulnerabilidade. Veja mais no site www.maosdadas.org/mmo
Especial
Ponto de encontro
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ara que você conheça um pouco mais dos bastidores da Editora Ultimato, aqui estão algumas de nossas ações ministeriais. Muitas delas contam com o apoio de organizações e de assinantes da revista Ultimato. - Durante todo o ano de 2010, 2 mil líderes receberam a revista Ultimato por meio do Paralelo 10, projeto da editora Ultimato em parceria com a Tearfund (organização cristã sediada no Reino Unido que atua na área de desenvolvimento comunitário). Além da revista, alguns líderes receberam também o livro O Que É Missão Integral?, de René Padilla. Três alunos vindos das regiões Norte e Nordeste receberam bolsa de estudos do Paralelo 10 e, depois de dois anos em Viçosa, MG, formaram-se na Escola de Missões do Centro Evangélico de Missões (também parceiro do Paralelo 10). - Desde 2009 a editora Ultimato realiza várias ações específicas voltadas para a edificação da juventude evangélica: blog Ultimato Jovem, com notícias, agenda de eventos, artigos e outros materiais; boletim interativo para jovens de todo o Brasil; publicação e distribuição de 40 mil exemplares do Caderno Jovem, com Maio-Junho, 2011
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a divulgação dos resultados da pesquisa “Juventude evangélica: crenças, valores, atitudes e sonhos”; assinaturas promocionais da revista Ultimato; apoio a eventos e muito mais. - 154 presidiários evangélicos receberam gratuitamente o livro Refeições Diárias com Jesus no final do ano passado, numa iniciativa da editora Ultimato em parceria com a União Missionária Brasileira (UMBET). - Em 2010 foram enviados 14.781 exemplares da revista Ultimato (de diferentes edições) a endereços de católicos: em média 2.463 exemplares por edição. Os destinatários incluem paróquias, organismos da CNBB, seminários, padres casados e todos os bispos católicos.
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Concurso Imagens e Palavras Reconciliadas anuncia os vencedores O concurso Imagens e Palavras Reconciliadas, promovido pela editora Ultimato, teve como objetivo celebrar a mensagem e a missão da reconciliação, marcando também a nova identidade visual da editora. Deus, em Cristo, restabelecendo o vínculo de amizade com o homem e toda a criação: mensagem central do evangelho expressa na letra e na imagem. Os cinco melhores na categoria “Imagens Reconciliadas” e os dez melhores na categoria “Palavras Reconciliadas” receberam o livro O Discípulo Radical, de John Stott. Os vencedores em cada categoria receberam como prêmio um Ipod Touch e um Ipod Nano, respectivamente.
Melhor Imagem Reconciliada
Autor: Lucas Pedro Melhor Palavra Reconciliada Cristo crucificado eu reconciliado Autor: Kenan da Silva Bernardes
Muito + conteúdo online www.ultimato.com.br Em 2010 o site Ultimato foi reformulado e multiplicou seu conteúdo: são onze blogs associados, novas “Palavras do leitor” a cada semana e o conteúdo de mais de 10 anos da revista Ultimato. Desde abril de 2011 os assinantes de Ultimato têm acesso exclusivo à edição mais recente da revista. De acordo com a pesquisa feita com os leitores em novembro de 2010, 76% dos que acessam o site o fazem com a finalidade de pesquisa. Estamos também no Twitter, com quase 7 mil seguidores.
“Práticas Devocionais”. Acesse www.ultimato.com.br/estudobiblico.
Estudos bíblicos no site Ultimato Você pediu, a gente atendeu! A cada bimestre pelo menos oito novos estudos bíblicos disponibilizados no site. Começamos pela série
• Atalhos: feito em parceria com a Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS), traz um retrato da ação social de evangélicos no Brasil.
Ultimatoonline produz alguns boletins periódicos. A remessa é gratuita. Para assinar, basta cadastrar-se no site e selecionar os boletins que deseja receber. • Últimas: newsletter editorial • Ultimato Jovem: feito por jovens para jovens e de interesse para pastores e líderes. • Conversa Paralela: notícias, agenda e testemunhos que evidenciam a atuação da igreja do Norte e Nordeste e visam integrar as regiões brasileiras.
Vamos juntos? Se você se identifica com a proposta da editora Ultimato e gostaria de apoiar um de nossos projetos ministeriais, escreva para paralelo10@ultimato.com.br e peça mais informações. Você pode patrocinar assinaturas para jovens, líderes do Norte e Nordeste, católicos, presidiários ou missionários brasileiros.
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E NTRE V IST A
Ramez Atallah
Islamismo e democracia não são compatíveis
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ara fugir da fome, Jacó e sua família mudaram-se para o Egito, onde os seus descendentes permaneceram por 400 anos. Jesus, ora nos braços de Maria, ora nos de José, fugiu para este país a fim de escapar da matança dos meninos menores de dois anos, ordenada por Herodes, o Grande. Segundo a profecia de Ezequiel, o Egito, depois de se tornar por 40 anos um “deserto arrasado”, tornou-se “o mais humilde dos reinos” (Ez 29). Os cristãos têm certa familiaridade com ele por causa de cerca de seiscentas referências ao país encontradas nas Escrituras. No tempo das vacas gordas e das vacas magras, o “homem forte” do Egito era um judeu temente a Deus, não um egípcio. Moisés nasceu no meio deste povo e foi criado na casa de Faraó. 48
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Por tudo isso, é um privilégio entrevistar um egípcio nascido no Cairo, a propósito dos acontecimentos que estão se desenrolando no norte da África e no Oriente Médio. Desde 1990, Ramez Atallah é secretário geral da Sociedade Bíblica do Egito. Por ter trabalhado durante muitos anos com universitários, ele é hoje presidente honorário da International Fellowship of Evangelical Students (IFES). Devido a sua experiência de 20 anos no Comitê de Lausanne, Ramez liderou a comissão organizadora do 3° Congresso de Evangelização Mundial (Lausanne 3), realizado em outubro de 2010 na Cidade do Cabo. Ele é casado com Rebeca Atallah e tem dois filhos. Qual é a sua avaliação dos protestos no Oriente Médio e no Norte da África? Os protestos ocorridos nesses lugares refletem uma rejeição ao regime
ditatorial de seus líderes. Uma parcela significativa da população de cada país considera o regime corrupto e antidemocrático. Tratase de uma revolução típica, mas na maior parte das vezes feita por meio de protestos pacíficos. Somente quando os governos em questão atiraram em civis inocentes, geralmente desarmados, é que houve derramamento de sangue. A situação na Líbia é diferente. Temse um confronto entre o governo e os grupos rebeldes, os quais têm obtido apoio de grande parte da população. Bishara Khader, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas sobre o Mundo Árabe Contemporâneo, está certo ao dizer que “nenhum país árabe está livre [de ter ondas de protestos], porque encontram-se na maior parte deles os mesmos ‘ingredientes
explosivos’, notadamente um sistema político esclerosado e repressivo e uma corrupção generalizada” (La Croix, 21/02/2011)? Certamente Bishara está correto, pois não há país nessa região que esteja imune aos protestos. Eles acontecem em quase todos os lugares. O grau de ameaça que enfrentam, as possibilidades e o grau de corrupção em cada país variam muito. Quais são os perigos e as oportunidades que esses eventos representam? A grande oportunidade é a consolidação de um Estado democrático secular. O perigo é que, como está acontecendo atualmente no Egito, as intenções dos manifestantes pró-democráticos seculares sejam usurpadas por grupos muçulmanos de direita, que terão também uma
Ramez Atallah
As igrejas devem se preocupar tanto com o destino dos muçulmanos quanto com o dos cristãos
ampla gama de seguidores e podem tornar esses países ainda mais radicais. Islamismo e democracia são compatíveis? Não acredito que islamismo e democracia sejam compatíveis. Para não complicar mais a atual situação do mundo árabe, o que os Estados Unidos e as nações europeias não devem fazer? É uma pergunta difícil, em vários sentidos, e seria necessária uma resposta específica para cada país, o que não é possível neste espaço. Qual o papel da igreja nesses países? As igrejas ao redor do mundo devem orar pelo que está acontecendo no Oriente Médio e se preocupar tanto com o destino dos muçulmanos quanto com o dos cristãos. No passado, as igrejas
oravam apenas pela minoria cristã e não estavam realmente preocupadas com os países em si. As igrejas devem se preocupar com todos os cidadãos e orar por eles. Qual o papel da igreja global em relação a esses eventos? A “igreja global”, o que quer que esse termo signifique, deveria estar fazendo o mesmo que mencionei na pergunta anterior. É provável que o extremismo muçulmano se espalhe pela região? Não só é provável, mas há uma forte probabilidade de isso acontecer. Os governos que estavam à frente de alguns países árabes que estão enfrentando os protestos tinham acordos com o Ocidente. Considerando a situação atual, o que vai acontecer com esses acordos? Muitos deles serão renegociados. Maio-Junho, 2011
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O Pai-Nosso
e as bem-aventuranças para hoje, num texto do ano 380
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or volta do ano 380, um grande teólogo chamado Gregório — que vivia em Nissa, na Capadócia, hoje parte da Turquia — escreveu sermões surpreendentemente modernos sobre o Pai-Nosso e as bem-aventuranças. Numa linguagem lírica, ele comenta a exortação de Jesus de não orar com “vãs repetições”, o sentido de incluir em sua brevíssima oração-modelo o pedido pelo pão nosso e o tipo de fome que será a do bem-aventurado. O resultado é uma mensagem clara para os nossos dias e para a nossa igreja. “Orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos” (Mt 6.7) No original grego, vãs repetições é battalogia. Gregório explica: a palavra sensata e racional é chamada logos, mas aquilo que é jorrado pelo desejo vão, por prazeres vazios, não é logos, mas battalogia. Portanto, na oração, não devemos permitir tais coisas. Por exemplo, diz Gregório, pessoas infantis imaginam coisas maravilhosas para si. Sonham com riquezas, casamentos e reinos, e imaginam que estejam de fato 50
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realizando suas ideias tolas. E há pessoas ainda mais possuídas por essa loucura. Indo além dos limites da natureza, desenvolvem asas, brilham como estrelas ou carregam montanhas nas mãos. Tornam-se jovens novamente na velhice ou cultivam ilusões infantis. Em seguida, Gregório faz uma crítica arrasadora a esse tipo de cristão. Se alguém durante a oração não se concentrar naquilo que beneficia a alma, mas preferir que Deus se adapte às incertezas emocionais da própria mente, ele é como um battalogos ridículo que pede que Deus se torne um servo das suas próprias idiotices. Ele não quer se elevar à altura do doador, mas quer que o poder divino desça ao nível medíocre dos seus desejos. Com suas vontades desmedidas, ele quase grita: “Ó Deus, que a minha própria cobiça esteja em ti!”. Não pede para ser liberto da doença que o aprisiona, mas ora para que ela chegue ao auge, implorando que Deus seja também acometido dessa doença mental. Porém, Gregório sabe que há toda uma teologia por trás da oração das vãs repetições. Alguém dirá, diz ele, que algumas pessoas que desejavam postos, honrarias e riquezas, e os obtiveram por meio da oração, eram vistas como
amadas por Deus por causa da sua boa fortuna. Por que, então, proibir que nós também oremos a Deus por tais coisas? A resposta de Gregório é nuançada. De fato, tudo depende da vontade divina, mas há outras razões para o sucesso de tais pedidos. Deus assim procedeu para que, por meio disso, a fé dos fracos fosse confirmada. Ou seja, para Gregório, essa é uma teologia para os fracos, e não um sinal de uma fé excepcionalmente forte. Assim, diz ele, aprenderão aos poucos que Deus os ouve, para que então subam ao desejo de dons mais altos e mais dignos de Deus. E se alguém por meio da divina providência obteve altos postos ou riquezas ou fama, devemos considerar o propósito dessas coisas. Deus manifesta assim o seu amor para que, uma vez obtidos esses brinquedos infantis, ofereçamos a Deus pedidos de coisas maiores e mais perfeitas. “Brinquedos infantis” — eis a perspectiva de Gregório sobre a riqueza, a fama, o poder e outras ilusões que constituem o cerne da oração do battalogos. “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” (Mt 6.11) Gregório comenta que Jesus nos autoriza a pedir a Deus pão. Não guloseimas,
nem riquezas, nem trajes magníficos ou pedras preciosas. Nem latifúndios ou postos militares ou liderança política. Não dizemos: “Dá-nos uma posição proeminente ou estátuas em praça pública ou uma vida de luxo” — mas somente pão! “Quanta doutrina está contida nessa sentença curta!”, exclama Gregório. De fato, há várias coisas a dizer sobre o pão. Em primeiro lugar, que é válido pedi-lo. Peça o pão, diz Gregório, porque a vida precisa dele e você o deve ao seu corpo. Na fé cristã (ao contrário das heresias cristãs), a
Pedir o pão é válido, mas as coisas supérfluas são como pragas. Os luxos são como o joio semeado pelo inimigo existência corpórea e a inserção num mundo material nunca são vistas como um mal. Gregório não espiritualiza o pão que é lícito pedir. Em segundo lugar, ele não entende o pão num sentido apenas literal. Pão corresponde ao necessário para a vida, o que é mutável e socialmente condicionado. Já na sociedade avançada e sofisticada em que Gregório vivia, precisava-se de muito mais do que o pão para viver. Porém, em terceiro lugar, o perigo é não entendermos a escolha da palavra “pão”. O resto da exortação de Gregório sobre o versículo tem a ver com esse ponto. Diz ele: “Não se deixem mais distrair, cobiçando vaidades”. Pedir o pão é válido, mas as coisas supérfluas são como pragas. Os luxos são como o joio semeado pelo inimigo. Em seguida, Gregório faz uma interpretação interessante do relato da queda do ser humano no pecado. Moisés, diz ele (referindo-se a Gênesis 3), ensina algo semelhante por meio de símbolos, quando apresenta a
serpente como conselheira de Eva em questões de gosto. Se a “conselheira de Eva” conversar com você, você buscará além do que é necessário. Introduzirá o desejo, e logo a serpente irá se arrastando em direção à cobiça. E tudo isso serve apenas para alimentar mais ainda o desejo. E aí, necessita-se uma renda adequada para tudo isso! E quando a serpente tiver se enroscado em todas essas coisas e se saciado, se arrastará até o frenesi ilimitado. Para que nada disso aconteça, conclui Gregório, a vida é definida na oração pelo pão. Dá-me pão, ou seja, o alimento (e outras coisas necessárias) por meio do trabalho justo. A pessoa que procura comida por meio da cobiça não pode receber de Deus o seu pão. Pois o pão de Deus é, acima de tudo, o fruto da justiça. Mas se você praticar a injustiça, pode até dizer a Deus: “Dá-me pão”. Porém, outro ouvirá o seu pedido, e não Deus. A pessoa que cultiva a iniquidade é alimentada pelo pai da iniquidade. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mt 5.6) Passando para uma das bemaventuranças, Gregório afirma que precisamos de discernimento na questão da fome. O Senhor Jesus aceitou passar pela experiência da fome. No deserto, após quarenta dias sem alimento, estava faminto. No entanto, quando o diabo percebeu que até Jesus podia sentir fome, ele o aconselhou a satisfazer esse desejo com “pedras”. Isso significa perverter o desejo pelo alimento natural em algo fora da natureza, como se Deus não alimentasse corretamente a humanidade com grãos! O diabo incita o apetite para coisas além dos limites da natureza. Daí a pergunta de Gregório: o que é a fome saudável? É o desejo da comida que necessitamos. Se alguém busca coisas que não pode comer, em vez de buscar o verdadeiro alimento, está se preocupando com
pedras. Enquanto a natureza busca uma coisa, ele está ocupado em encontrar outra. Gregório termina perguntando: “Você escuta aquele que o aconselha a se preocupar com pedras?”. Diz a bem-aventurança: “Porque serão fartos”. Gregório analisa a verdadeira fartura que Jesus promete, em contraste com as promessas ocas do mundo. Nenhuma das coisas cobiçadas com vistas ao prazer nos satisfará. O desejo é um abismo. Todo tipo de prazer do corpo desaparece quase imediatamente após a sua satisfação. A única coisa realmente sólida e duradoura é o zelo pela virtude, porque aí a própria prática trará junto o gozo. A virtude não é limitada pelo tempo nem pela saciedade. É uma experiência sempre renovada, cheia de gozo. Por isso, Deus promete que serão fartos e, ao serem fartos, o seu desejo não será embotado. A realização desse desejo não leva à aversão, mas a um desejo intensificado. Não traz alegria somente momentânea, mas em todo instante. Pois, se alguém viveu corretamente, encontra gozo na memória do passado, na conduta virtuosa do presente e na expectativa da recompensa futura. Gregório, então, nos desafia em várias frentes. Até que ponto sou um battalogos, um vão repetidor na minha oração? Procuro aprisionar Deus nas minhas próprias patologias ou busco erguer-me (ou deixar que Deus me erga) em direção à verdadeira maturidade humana? E se tenho, mesmo modestamente, poder ou recursos ou fama, percebo o processo educativo que Deus deseja para mim por meio desses “brinquedos”? Até que ponto a “conselheira de Eva” me tem em suas pinças? E quanto da minha vida (e da minha oração) é gasta em buscar pedras em vez de pães? Paul Freston, inglês naturalizado brasileiro, é professor colaborador do programa de pós-graduação em sociologia na Universidade Federal de São Carlos e professor catedrático de religião e política em contexto global na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontário, Canadá. Maio-Junho, 2011
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Robinson Cavalcanti
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R EFLEXÃO
Cristianismo, secularismo e cidadania
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realidade do século 21 é que a democracia não é um valor ou uma prática universal, e a liberdade religiosa é uma exceção nos Estados teocráticos, confessionais ou ateus. As restrições, discriminações, violências e migrações forçadas atingem milhões de cristãos sob a dominação do islamismo, do budismo, do bramanismo ou do comunismo. O Ocidente silencia diante das violações aos direitos humanos. Os interesses políticos e econômicos falam mais alto. A única ação política possível para os cristãos é a luta pela sobrevivência. O sonho de uma era de liberdade após a queda do Muro de Berlim ficou distante. O fato novo — e inesperado — tem sido o surgimento 52
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de uma nova onda de intolerância, discriminação e perseguição religiosa contra as expressões do monoteísmo de revelação (particularmente o cristianismo) no Ocidente pós-cristão, no mundo dito civilizado, no qual o cristianismo foi uma inegável variável histórica e cultural. Na Europa, o secularismo avançou rapidamente, como desdobramento do iluminismo e do racionalismo, e do vazio existencial trazido pelo liberalismo teológico, enquanto imigrantes nãocristãos e sem tradição democrática ocupavam o lugar dos nacionais que não nascem. Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia vão abjurando do seu passado cristão. O multiculturalismo, o politicamente correto, a cultura da morte (aborto,
não-procriação, homossexualismo, eutanásia), a agenda GLSTB lastreiam uma pós-modernidade que, negadora de qualquer verdade, afirma o individualismo, o subjetivismo e o relativismo. O único absoluto é o relativo, na licitude da “diversidade” ilimitada. Sob a falsa retórica da defesa de um desejável laicismo, minorias organizadas no aparelho do Estado, na academia e na mídia — de fato partidária e leninista — promovem essa ideologia nos aparelhos ideológicos (imprensa, entretenimento, educação) e coercitivos (legislação, judiciário, polícia). No Reino Unido, alguém recentemente afirmou: “Trocamos uma cultura religiosa de tolerância por uma cultura não-religiosa de intolerância”. Essa ideologia impõe o Estado contra
a nação, e a lei contra a cultura. O argumento religioso é desqualificado — vedada sua expressão no espaço público ou sua influência na formulação das políticas públicas — empurrado “sob varas” para a irrelevância social das subjetividades ou para o espaço privado dos lares e dos templos. Afirmar os valores cristãos vai se tornando um ato de delinquência, e, dos direitos civis dos homossexuais, se passa para a obrigatoriedade da sua normalidade. Em uma globalização assimétrica e
esfera pública sem reflexão bíblicoteológica ou conhecimento dos fatos e pensamentos sociais da igreja, pois o moralismo-legalismo substituiu a ética social, e a concepção de pecados sociais e estruturais. Com uma visão corporativista e clientelista, participam do mundano realismo (“é dando que se recebe”), com episódios escandalosos. Há quem salte de Davi à Dilma, presos aos paradigmas do antigo Israel, não escondendo uma tentação teocrática, “como cabeça e não como calda” (um rei ou um aiatolá evangélico...), carentes de humildade e de contribuições das ciências humanas. Históricos e pentecostais sérios, porém atingidos pelo pessimismo anabatista ou pré-milenista/ pré-tribulacionista, ou pelo comodismoconsumismo, se esqueceram da visão de participação construtiva de uma cidadania responsável e promotora dos valores do reino de Deus, dos missionários pioneiros e de gerações de protestantes brasileiros; ou da visão de uma missão integral no mundo, onde, dentro das regras democráticas, devemos defender nossos lícitos interesses, e travar lícitos embates políticos pela preservação dos valores da nossa cultura, dos direitos naturais e do bem comum, tendo as instituições eclesiásticas, os indivíduos e os movimentos de inspiração cristã papéis diferenciados e complementares. O divisionismo e a desorganização dos evangélicos, contudo, apenas agravam o problema; mas, sob a Providência, uma nova realidade poderá surgir, para a relevância da igreja e o bem do país.
O fato novo tem sido o surgimento de uma nova onda de intolerância contra as expressões do monoteísmo de revelação unilateral, com um centro e várias periferias, a intolerante ideologia do secularismo chega até nós, e já é uma realidade no Brasil, com militantes em todos os partidos e esferas do poder. A existência de uma expressiva população católico-romana e o crescimento de uma população protestante (ambas com convicções e líderes articulados) se manifestou nas reações necessárias — embora muitas vezes desordenadas, incoerentes ou interesseiras — nas últimas eleições presidenciais, no conflito com o secularismo que distorce o laicismo e tenta, mais uma vez, colocar o Estado contra a nação. O desafio está diante de nós, cada vez mais ameaçador, e de desdobramentos imprevisíveis. Enquanto isso, uma parcela do protestantismo, em guetos, ainda cultiva o isolacionismo, a alienação política e a irresponsabilidade cívica, a ascese individual e a busca do além-mundo. Uma parcela crescente busca o poder e a prosperidade já nesse mundo. Grupos que, por muito tempo, cultivaram a alienação, chegaram à
Dom Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política — teoria bíblica e prática histórica, A Igreja, o País e o Mundo — desafios a uma fé engajada e Anglicanismo — identidade, relevância, desafios. www.dar.org.br Maio-Junho, 2011
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Ricardo Gondim
Um caso de amor
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medida que amadureço (sim, um eufemismo para envelheço) descubro um novo amor: a literatura. Desde meus verdes anos, testemunhei meu pai sempre com um livro na mão. E desde que me entendo por gente, nunca negligenciei o hábito de ler. Porém, devido a minha vocação pastoral, por longos anos debruceime apenas sobre livros teológicos, filosóficos. Encarei-os como instrumentos que me auxiliariam a exercer bem minhas atividades; eu precisava fundamentar o meu ministério. Passei anos sem ler um romance, uma novela. Poesia, nem pensar. Pouco antes de completar 40 anos, percebi que conhecia pouquíssimo de literatura brasileira, e que a maioria dos autores não passavam de pessoas famosas da história. Sem ter folheado uma obra de José Lins 54
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do Rego ou Rachel de Queiróz, eu sabia nomear apenas alguns livros de Machado de Assis e Jorge Amado. Resolvi abrir Fogo Morto, de José Lins do Rego, e encanteime com o regionalismo de sua pena — já devorei quase toda a obra. Logo, vi-me sedento. De uma sentada li O Quinze, que Rachel de Queiroz escreveu ainda adolescente, deitada de bruços no mosaico frio da sala de sua casa. Aquiesci. Minha antipatia por Graciliano Ramos era sem motivo. Vidas Secas havia sido reduzido por mim a uma tarefa escolar odiosa no “ginásio”. Reli a obra prima e depois tudo o que ele produziu. Confesso, viciei-me em literatura. Parece cascata, mas não consigo mais parar. A pena de autores fenomenais me deslumbra. Ainda procuro não me distanciar dos livros técnicos, lógicos, com pensamentos bem estratificados. Porém, minha nova paixão está na literatura. Quando terminei de ler Os miseráveis, de Victor Hugo,
suspirei e disse em voz alta: — Não acho justo que alguém passe pela vida sem ter lido esta obra, que é um libelo sobre perdão, graça e amor. Seu personagem, Jean Valjean, talvez seja uma das mais belas representações de Jesus Cristo. De igual modo, encantei-me com Crime e Castigo, de Dostoievski. Em uma Rússia miserável, o livro flui de um pessimismo — que trata homens e mulheres comuns como “piolhos” — para a redenção, só possível no amor. Eu poderia mencionar o elenco que me embasbacou nesses últimos dez anos: Alexandre Dumas, Mario Benedetti, Mia Couto, John Updike, Franz Kafka, Miguel Torga, Lev Tolstói, Albert Camus, Gabriel Garcia Márquez, Thomas Mann, Philip Roth, J. M. Coetzee, Milan Kundera, Primo Levi, João Ubaldo Ribeiro e tantos outros. Com a literatura aprendi que posso viajar pelos meandros da alma humana.
Descer até os porões escuros da maldade e reconhecer a extensão da iniquidade que se universalizou. Acompanhar o caminho de heróis e heroínas e também reconhecer que a imagem de Deus foi graciosamente distribuída por toda a humanidade. Machado de Assis trabalha seus personagens sem dourá-los com lantejoulas falsas. Bentinho e Capitu, bem como outros protagonistas, ficaram parecidos com personagens bíblicos, com sombras e luzes. Com a literatura aprendi a
Com a literatura aprendi a amar a Bíblia desdobrar a vida para além das engrenagens do dia-a-dia. Mundos fantásticos, como o de Gabriel Garcia Márquez, são criados para que possamos sonhar para além da realidade crua. Essa capacidade de sonhar, tão comum entre os profetas, nos leva à inconformidade com o mundo do jeito que é. Os profetas
narram cenas em que leão e boi pastam juntos e crianças enfiam a mão na toca das serpentes para que nos mobilizemos na direção dessa utopia. O que existe pode ser mudado de acordo com outra maquete. Quem viu outra realidade, mesmo em sonho, passa a desejá-la. Com a literatura aprendi como é importante sair dos pensamentos concretos e abstrair. Sutilezas da linguagem metafórica passam batidas por quem só sabe pensar no rigor da letra. Jesus tentou comunicar-se com Nicodemos, mas ele não adquirira essa sensibilidade no treinamento de fariseu. Era simplório interpretar a ideia de nascer de novo como voltar ao ventre da mãe. Com a literatura aprendi que a vida não pode ser avaliada pelos critérios de desempenho que passaram a vigorar no pragmatismo ocidental. O imensurável da alma humana não tolera ser confinado a desempenho, eficácia ou mérito. Ao ler duas obras de Tolstói, A morte de Ivan Ilitch e Anna Karenina, despertei-me para o
valor do tempo, das relações humanas e, principalmente, do cuidado que devemos ter com o universo de subjetividade que é a alma humana. Com a literatura aprendi a amar a Bíblia. Antes, eu fazia das Escrituras um manual de “verdades práticas que deveria saber usar proveitosamente”. Só agora aprendo a vê-la como uma coleção de textos em que o Espírito Santo comunica o amor de Deus. A Bíblia é uma carta amorosa de Deus. Portanto, sem a pretensão de fazer análise gramatical ou dissecação das palavras, deixo-me inundar pelas narrativas, conceitos, princípios, poesia, ensinos. Tento meditar, numa mastigação lenta, nas mensagens que me animam, exortam, consolam. Deixo-me vazar pelo inaudível até que o coração capte o que ficará obscuro se eu me apressar. Leio e releio com o desejo de me render à sabedoria, à beleza e à verdade do maior de todos os autores: o meu Senhor. Soli Deo Gloria. Ricardo Gondim é pastor da Assembleia de Deus Betesda no Brasil e mora em São Paulo. É autor de, entre outros, Eu Creio, mas Tenho Dúvidas. www.ricardogondim.com.br
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A PALAVRA DE DEUS
Valdir Steuernagel
Billy Alexandre
R EDESCOBRINDO
A vocação dos discípulos e o ministério da oração
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ma das coisas que aprendi há algum tempo é que o discípulo dificilmente vai além do seu mestre. Aliás, Jesus mesmo advertiu seus discípulos quando lhes lavou os pés: “Nenhum escravo é maior do que o seu senhor” (Jo 13.16). Ele não lhes pediu nada que ele próprio não tivesse feito ou vivido. Estava sempre ensinando a boa nova às multidões, curando os enfermos e libertando as pessoas da possessão demoníaca. E é isso que ele requer dos seus seguidores. Queremos neste artigo olhar para a vida de oração de Jesus e para o seu convite aos discípulos para que façam o mesmo. Nos Evangelhos, a vida de oração de Jesus é retratada de diferentes maneiras e em diferentes situações. Mas todas têm em comum o fato de que ele orava e ensinava os discípulos a orar. Nos momentos mais importantes da sua vida, parece que uma janela se abre e vislumbramos uma intensa intimidade entre ele e o Pai. No batismo, a palavra do Pai o alcança com a amorosa afirmação: “Tu és o meu filho amado; 56
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em ti me agrado” (Mc 1.11). Antes da crucificação, é ele quem procura o Pai e, com a alma angustiada, pede-lhe que, se possível, poupe-o do cálice da morte (Mc 14.36). A escolha dos discípulos parece ter sido um desses momentos centrais na vida de Jesus. Conta o evangelista Lucas que antes de escolhê-los ele “saiu para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze deles, a quem também designou apóstolos” (Lc 6.12-13). A oração era mais do que algo “funcional” na vida de Jesus; era uma expressão de profunda intimidade com o Pai. A oração é o espaço nobre no qual se nutre a relação entre Pai e Filho. É dessa relação de intimidade entre os dois que brota a afirmação de pertencimento (batismo), a oferta da sua entrega sacrificial (crucificação) e a própria escolha dos discípulos. Segundo o comentarista Howard Marshall, com a oração preparatória
e a designação apostólica dos doze, Jesus dá um passo importante na fundação da igreja. Os discípulos são chamados para a oração e a igreja nasce pela oração. O Evangelho de João torna isso ainda mais explícito e amplo ao dizer que Jesus orou, não apenas pelos doze, mas também por todos os que viessem a crer nele. Assim, ele orou por você e por mim em nosso desejo e esforço por segui-lo: “Minha oração não é apenas por eles, diz Jesus. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles” (Jo 17.20). Desde tempos imemoráveis, diz Ole Hallesby, a oração “foi considerada o fôlego da alma”. Assim como o ar nos envolve e temos livre acesso a ele — dele dependemos e nunca o possuímos, mas somos possuídos por ele — a oração é o fôlego que nos é dado por Deus, que nos envolve e alimenta a nossa vida. A oração é a graça divina que alimenta o pulmão da nossa relação vital com Deus, do sentido da nossa existência e do cultivo da nossa vida comunitária e missional.
A oração é o alimento da nossa relação com Deus — Pai, Filho e Espírito Santo. Quando Jesus ora, ele se alimenta da Trindade e alimenta a Trindade. E quando a Trindade se reúne, o amor flui, a salvação é desenhada e a eternidade, gestada. Quando oramos, somos batizados no amor, tornamo-nos partícipes do plano
A oração é o alimento da nossa relação com Deus de salvação e somos agraciados com o gosto da eternidade que passa a balizar os nossos caminhos de obediência e os nossos sonhos para o amanhã. Oramos porque simplesmente não há outra maneira de viver a nossa fé. O caminho da oração não é óbvio nem fácil. Os discípulos nos deixam entrever as dificuldades e os desafios inerentes a uma vida de oração. Quando, no Getsêmani, diante da morte iminente, Jesus lhes pede que vigiem com ele em oração, os discípulos dormem (Mc 14.32-37). E quando eles tentam, em vão, expulsar os demônios de um menino possesso, Jesus lhes diz que isso só seria possível pela oração (Mc 9.14-29).
Se a oração é o reconhecimento da nossa dependência de Deus, a sua ausência é a manifestação da nossa insuficiência e pseudossuficiência. Enquanto a oração é o atestado da suficiente graça de Deus, a ausência dela é o atestado da nossa fraqueza e limitação. Assim, é necessário não apenas que oremos, mas também que Deus nos ensine a orar. Eis um grande mistério: o mesmo Deus que nos convoca a orar sem cessar afirma que só podemos orar quando o Espírito nos capacita e conclama a fazê-lo. E mais belo ainda se faz o mistério quando lemos no livro de Isaías (65.24), na descrição dos novos céus e da nova terra que, ainda antes de clamarmos, Deus responderá e antes de falarmos Deus já nos terá ouvido! Graças a Deus. Ele não apenas nos exorta a orar, mas também ora por nós. Ele não apenas nos convoca a orar, mas também nos ensina a orar: Quando vocês orarem, digam: Pai! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano. Perdoa-nos os nossos pecados, Pois também perdoamos a todos os que nos devem, E não nos deixes cair em tentação. Lucas 11.2-4 Valdir Steuernagel é pastor luterano e trabalha com a Visão Mundial Internacional e com o Centro Pastoral e Missão, em Curitiba, PR. É autor de, entre outros, Para Falar das Flores... e Outras Crônicas.
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Jorge Henrique Barro
Andre Bogaert
Cidade em foc o
Vá à grande cidade...
Esperança para as cidades condenadas
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ínive foi uma das cidades mais antigas da Mesopotâmia, à margem do Rio Tigre. “Ninrode, o primeiro homem poderoso na terra” (Gn 10.8), parte para a Assíria e funda a cidade. As cidades conquistadas e construídas por Ninrode tornaram-se centros de poder militar e foram conhecidas como sanguinárias. Esse homem, cujo nome significa rebelde, tinha um espírito de caçador e matador. No tempo de Jonas, Nínive já possuía 120 mil habitantes (Jn 4.11a). De acordo com o profeta Sofonias, Nínive era uma cidade orgulhosa: “Essa é a cidade que exultava, vivendo despreocupada, e dizia para si mesma: ‘Eu, e mais ninguém!’” (Sf 2.15). Nínive era um grande centro cultural e religioso, especialmente em função do templo construído para Ishtar, a deusa da fertilidade, do amor e da guerra. É para esse contexto e cidade que Deus diz: “Vá depressa à grande cidade de Nínive e pregue contra ela...” (Jn 1.2a). Um duplo desafio: ir e pregar contra. Uma coisa é ser convidado para pregar em uma cidade, em uma conferência missionária; outra é pregar contra a cidade, sabendo do enfrentamento e do confronto com os poderes desse povo rebelde.
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Da narrativa de Jonas aprendemos que Nínive era uma grande cidade (1.2; 3.2; 4.11), cheia de maldade (1.2; 3.8), violenta (3.8) e constituída de cidadãos que não distinguiam o certo do errado (4.11). Diante de tais realidades, Deus não se cala. Nínive fica debaixo da ameaça de destruição (3.10) e, por isso, a convocação: “Vá à grande cidade e pregue contra ela...”. Sim, Deus é contra situações que conspiram contra a dignidade da vida. O Antigo Testamento revela pelo menos cinco motivos condenatórios da cidade: Opressão: o tratamento injusto do pobre pelo rico, do fraco pelo forte, dos governantes que oprimem seus cidadãos; a violência, o suborno, a extorsão dos opressores dominando as cidades (Sf 3.1; Am 4.1; Ez 22.6-13; Jr 6.6). Idolatria: centros de adoração aos ídolos, sincretismo religioso, culto aos bens materiais, corpolatria, magias, feitiçarias, pactos malignos. Jeremias imaginou pessoas andando nas ruínas de Jerusalém e perguntou: “Por que o Senhor fez uma coisa dessas a esta grande cidade?” (22.8). A resposta: “Foi porque abandonaram a aliança do Senhor, do seu Deus, e adoraram outros deuses e prestaram-lhes culto” (22.9) (Mq 5.11-14; Na 1.14; Jr 22.8-9).
Derramamento de sangue inocente: cidades são lugares onde a violência é nítida. Gente que morre por causa da insanidade no trânsito, meninosaviãozinho que são exterminados como queima de arquivo; assaltos, morte por balas perdidas. Duas vezes Ezequiel fala: “Ai da cidade sanguinária” (24.6, 9) e declara que “o sangue que ela derramou está no meio dela; ela o derramou na rocha nua; não o derramou no chão, onde o pó o cobriria” (Ez 24.7). Seria aqui um eco do sangue de Abel clamando contra os primeiros construtores das cidades? (Hc 2.12; Ez 22:3 e 4; 24.6-9; Jr 26.15). Imoralidade: Sodoma e Gomorra são conhecidas pela perversão sexual, assim como outras cidades que se tornaram centros de promiscuidade (Corinto). Em um dos capítulos mais chocantes da Bíblia, Ezequiel (16) compara a imoralidade de Jerusalém ao comportamento de Sodoma. É valioso notar neste capítulo que o pecado da injustiça e da imoralidade são expostos e condenados juntos (Na 3.4; Ez 16:1-63; 22.6-13). Orgulho: arrogância, altivez e dureza da cidade em relação a Deus. Sofonias captura o espírito da cidade de modo perfeito quando escreve a respeito de Nínive: “Essa é a cidade que exultava,
esperou para ver o que aconteceria vivendo despreocupada, e dizia para si com a cidade” (4.5). Já que ele estava mesma: ‘Eu, e mais ninguém!’”. Essa é esperando para ver o que aconteceria, a linguagem da divindade e do orgulho teria tempo suficiente para refletir sobre excedente (Sf 2.15; Ez 16:49; 27.3; algumas coisas. Deus então lhe dá um 28.2; Is 3.9). tema: “Não deveria eu ter pena dessa Jonas sabia para onde ia. Porém, grande cidade?” (4.11). ele se esqueceu com quem ia — Mesmo não concordando com com o Senhor e sua Palavra — “a Deus, Jonas nos fez o favor de revelar palavra do Senhor veio a Jonas” as atitudes necessárias para proclamar a (1.1; 3.1). Depois de suas dramáticas esperança para as cidades condenadas: experiências de recusa, “Jonas entrou misericórdia, compaixão, paciência, na cidade e percorreu durante um dia, amor e a oferta de novas proclamando...” (3.4). chances (“que prometes Eram necessários três Jonas nos fez o castigar, mas depois te dias para percorrer a favor de revelar arrependes”). cidade. No entanto, Sim, Deus detesta ele vira recordista, e as atitudes os pecados da maldade faz o trajeto em apenas necessárias e a violência da cidade. um (3.3-4), numa para proclamar Entretanto, a boa possível demonstração a esperança notícia é que ele ama de insatisfação e para as cidades em vez de abandonar a desinteresse. Como “a condenadas cidade. A proclamação salvação vem de Deus” é contra o pecado e (2.9c), prova evidente sempre a favor da vida. da Missio Dei, o milagre É importante descobrirmos o equilíbrio acontece e toda a cidade se arrepende do tratamento bíblico para a cidade, (homens e animais cobrem-se de pano pois, ou vamos odiá-la ou justificar de saco — 3.9). Isso faz Jonas trazer seus pecados. Existe esperança para a do fundo do coração a justificativa sua cidade? A resposta depende de duas da fuga missionária: “Foi por isso que atitudes: sentar em um lugar da cidade me apressei em fugir para Társis. Eu e esperar para ver o que vai acontecer sabia que tu és Deus misericordioso com ela ou proclamar esperança e e compassivo, muito paciente, cheio provocar mudanças de atitudes, porque de amor e que prometes castigar, mas “a salvação vem de Deus” (2.9c). Deus depois te arrependes” (4.2). É nesse teve pena de Nínive. Você e sua igreja momento que ele pede a Deus para tirar a sua vida! O que deveria ser têm da sua cidade? motivo de alegria tornou-se em motivo Jorge Henrique Barro é diretor da Faculdade Teológica Sul de desgosto e desilusão. Assim, “sentouAmericana e vice-presidente da Fraternidade Teológica Latino se num lugar a leste da cidade [...] e Americana (continental).
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H ISTÓRI A
Alderi Souza de Matos
Em defesa da
teologia E
m meados do segundo século, um cristão procedente do Ponto, na Ásia Menor, chegou a Roma com uma mensagem atraente. Márcion, que era filho de um bispo, acreditava na radicalidade do amor de Deus. Para ele, a bondade era o atributo supremo da divindade, que se mostrava sempre, em todas as circunstâncias, um Deus generoso, misericordioso e perdoador. Como alguém poderia discordar de conceitos tão nobres e belos? Pois bem, pouco tempo depois, ao compreender as implicações mais amplas desse ensino, a igreja romana expulsou Márcion e o considerou um herege. Para ele, o amor divino era tão exclusivo que eliminava a noção de justiça. Deus perdoa a todos, até mesmo os pecadores impenitentes, porque não pode agir de outra forma. Assim, não há condenação de qualquer espécie, e todos irão se salvar. O Deus verdadeiro, dizia ele, é o amoroso pai de Jesus Cristo, e não a divindade justiceira e vingativa do Antigo Testamento, o criador do mundo material. A doutrina de Márcion se mostrou tão cativante que ele atraiu um grande número de seguidores. Chegou a surgir uma igreja marcionita, que subsistiu por vários séculos.
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Nem tudo que reluz O caso de Márcion ilustra o fato de que não basta uma doutrina ou teologia ser atraente e popular. Não é suficiente que ela seja “lógica” e satisfaça as expectativas e preferências das pessoas. É preciso que ela seja verdadeira, coerente com a revelação dada por Deus nas Escrituras. Apesar de todo o seu aparente encanto, a teologia de Márcion se revelou falsa, uma perversão da mensagem bíblica. Esse fenômeno tem se repetido inúmeras vezes ao longo da história e continua a ocorrer nos dias atuais. Os ensinos são outros, os personagens são diferentes, mas o mecanismo é o mesmo. Qual a origem dessas distorções? Em primeiro lugar, a tendência humana para o subjetivismo. A teologia é, por sua própria natureza, um empreendimento humano. Sua tarefa é refletir sobre os dados da revelação em busca de uma compreensão mais clara de Deus, do ser humano, da salvação e de todos os grandes temas da Escritura. No entanto, ela corre o risco de se tornar um esforço excessivamente personalista, gerando desvios antigos e novos bem conhecidos. Os reformadores do século 16 estavam conscientes desse perigo, ao insistirem que a teologia se apoiasse
explicitamente na Palavra de Deus, corretamente lida e interpretada. Para tanto, elaboraram métodos saudáveis e equilibrados de exegese bíblica. Respeito pela história Mesmo que uma teologia seja bíblica, podem existir problemas. A Bíblia já foi utilizada, por exemplo, para defender a poligamia e a escravidão. A hermenêutica da Escritura pode ser excessivamente condicionada por estreitos pressupostos ideológicos. Daí a preocupação dos reformadores em valorizar a experiência teológica e exegética da igreja, acumulada ao longo das gerações. Ao mesmo tempo em que rejeitaram os dogmas para os quais não encontravam suporte na Palavra de Deus, Lutero, Calvino e seus colegas não hesitaram em acolher e utilizar tudo aquilo que viam de positivo no passado cristão. O que tem acontecido com frequência no decorrer dos séculos, e também em nossos dias, é que muitos pensadores desprezam solenemente as contribuições do passado e a maneira como os cristãos têm entendido seu legado espiritual — a chamada “fé cristã histórica”. Um bom exemplo é a própria doutrina de Deus, que tem experimentado as mais diferentes
reinterpretações nos últimos tempos. Sob o pretexto de que a própria Bíblia ou a reflexão da igreja antiga foi contaminada pelo pensamento filosófico grego, são feitas reavaliações radicais acerca do ser divino. Um exemplo recente é o chamado teísmo aberto, que se afasta da compreensão cristã tradicional de Deus — e do testemunho claro das Escrituras — ao questionar as ideias da soberania e da providência divinas, e ao dar à liberdade humana uma dimensão e uma autonomia que o pensamento cristão majoritário jamais reconheceu. Cuidado com as motivações O marcionismo tinha motivações muito nobres: ressaltar a grandeza do amor de Deus e sensibilizar o mundo pagão com a mensagem cristã. O mesmo se pode dizer de outra heterodoxia cristã da antiguidade — o pelagianismo. Pelágio queria que os cristãos vivessem vidas consagradas e santificadas. Quem poderia ser contra isso? No entanto, logo ficou evidente o fosso que havia entre suas ideias e o testemunho da Escritura. Para ele, o ser humano é moralmente neutro, tendo a plena capacidade, sem qualquer auxílio especial de Deus, de viver uma vida virtuosa, isenta de pecado. Muito bonito, muito empolgante, mas muito errôneo, como bem demonstrou o ilustre bispo Agostinho de Hipona.
Hoje, as motivações de muitas teologias vão do nobre ao questionável. No caso da nefasta teologia da prosperidade, o que ocorre é simplesmente uma sujeição da Escritura aos valores materialistas e hedonistas da sociedade de consumo. Já o teísmo aberto e os outros movimentos de
A teologia é uma tarefa imprescindível e absolutamente essencial para o povo de Deus
inspiração semelhante são motivados pela necessidade legítima de lidar com uma realidade aflitiva — o mal e o sofrimento no mundo de um Deus bom. O problema está, utilizando um chavão bem conhecido, em “jogar fora o bebê junto com a água do banho”. Em outras palavras, no esforço de explicar ao homem moderno uma questão espinhosa, são desprezados valores importantes da herança cristã. Procurase alcançar um objetivo importante mediante o sacrifício da verdade bíblica.
Conclusão A teologia é uma tarefa imprescindível e absolutamente essencial para o povo de Deus. Como a Escritura não apresenta formulações precisas e sistemáticas, coube à igreja se debruçar sobre os dados da revelação e organizar de forma coerente e harmônica suas verdades centrais. Sem a boa teologia, calcada numa exegese criteriosa do texto sagrado, os cristãos ficam à deriva em um mar de opiniões conflitantes a respeito de tudo. A fim de que seja benéfica para a igreja e para o testemunho cristão, a reflexão teológica tem de observar certos parâmetros, a começar de uma profunda reverência por Deus e sua Palavra. Além disso, ela não deve ser um exercício individualista, mas um esforço conjunto de cristãos que dialogam ao mesmo tempo com seus contemporâneos e com a “nuvem de testemunhas” do passado. Finalmente, o objetivo primário da teologia não é satisfazer os anseios ou dirimir as angústias do homem contemporâneo, mas ser fiel àquele que, em sua Palavra e em seu Filho, vem a nós em julgamento e graça. Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil. asdm@mackenzie.com.br
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Odayr Olivetti
Especial
Zsuzsanna Kilian
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ivemos em uma época em que as melhores igrejas se debilitaram nas crenças mais profundas, influenciadas por correntes chamadas “progressistas” e “liberais”. Na verdade, cederam ao pensamento naturalista e materialista que predomina. A violência e a corrupção crescentes, e os acidentes naturais frequentes, despertam perguntas sobre as causas desses males. As respostas que prevalecem, mesmo em certos meios evangélicos, não chegam à raiz do problema. Tempestades violentas, terremotos e maremotos (tsunamis) têm destruído vidas e posto abaixo realizações da tecnologia e de uma indústria e comércio fomentadores do consumismo. Há poucos dias me perguntaram se as calamidades mencionadas na Bíblia têm relação com as atuais. Comecei respondendo: “Claro que têm!”. Em face das situações críticas atuais, procurei, buscando a iluminação do Espírito Santo, dar uma palavra para atender às inquietações sobre as calamidades passadas e presentes. Implicações escatológicas Há textos bíblicos que são advertências aos homens e às igrejas para que se preparem para o fim dos tempos. Geralmente tais passagens falam em juízos ou visitações da ira de Deus, e incluem palavras esperançosas quanto a
uma nova realidade. Uma das passagens mais claras sobre esses aspectos é a de 2 Pedro 3.7-13. Vejamos alguns pontos desse texto: 3.7 — Anúncio da destruição da presente ordem: “Ora, os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o dia do juízo e destruição dos homens ímpios”. 3.8 — As nossas medidas de tempo nada são em contraste com a infinidade e a eternidade de Deus: “Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia”. 3.9 — Deus tem o seu tempo e a sua hora. Deus não retarda, não se atrasa no cumprimento dos seus propósitos. O que para nós é demora, é, na verdade, “demora” programada: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento”. 3.10 — Apesar de todos os avisos e advertências feitos na Bíblia e na história, a destruição será repentina: “Virá, entretanto, como ladrão, o dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas”.
3.11 — O terrível anúncio feito no versículo 10 é um aviso e uma advertência para que os homens acordem, rendam-se a Deus e procurem viver como ele quer que vivam: “Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade”. 3.12 — A mensagem inclui apelo para que esperemos o dia final e apressemos a sua vinda — no sentido de fazermos o que está ao nosso alcance para que o mundo dos salvos e dos perdidos esteja pronto para a destruição final: “Esperando e apressando a vinda do dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão”. 3.13 — O apóstolo Pedro declara a sua fé, e a dos crentes a quem ele escreve, na criação de novos céus e nova terra: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça”. A Bíblia fala em sinais, que incluem destruições trágicas. Os que Jesus Cristo fala em Mateus 24.4-8 e em outras passagens são recorrentes. Isto é, são sinais dados a cada geração lembrando a realidade da vinda de Cristo e do juízo final. Eles não dizem: “O fim é já!”. Mas dizem: “Alerta! O fim vem! Este é o princípio das dores”. Um sério e importante aspecto escatológico das calamidades é que elas são pálidas antecipações da terribilidade Maio-Junho, 2011
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do juízo final e da condenação eterna dos réprobos. Sobre isso há numerosas passagens bíblicas: Mateus 7.22 e 23; Mateus 25.31-46; Marcos 9.44; Lucas 16.24 e 25; 1 Pedro 4.17 e 18; Apocalipse 21.8; 22.15. Deus e as calamidades Alguns têm dito que Deus nada tem a ver com as calamidades. Ora, esse pensamento revela ou incompreensão ou rejeição dos ensinos da Escritura Sagrada sobre a gravidade do pecado (Gn 3.17) e sobre a soberania de Deus. Para o incrédulo, toda essa argumentação é nula, mas para o cristão bastaria perguntar: Você acha que, se Deus não quisesse que ocorresse esta ou aquela tragédia, ele não poderia impedi-la? Deus é o soberano Criador de todas as coisas, e governa tudo e todos ao ponto de Jesus dizer: “Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados” (Lc 12.7). Deus planejou a criação do universo e o criou. Fez tudo bem feito (Gn 1.31). Misteriosamente, para nós, o mal estava incluído no plano dele. No entanto, o ser humano tinha todas as possibilidades de vencê-lo (Gn 4.6 e 7). O homem se rebelou contra Deus e trouxe terríveis consequências para a humanidade e para o universo físico (Gn 2.17; 3.17; Rm 8.19-22). A bênção de Deus (Gn 1.28) cedeu lugar à maldição (3.17), e todos ficaram sujeitos à ira de Deus (Ef 2.3; Rm 1.18-32). O profeta Isaías descreve o poder e o governo de Deus, e o apóstolo Paulo eleva um glorioso hino de louvor ao Deus soberano e inescrutável (Is 40.10-15; Rm 11.33-36). Corolários desafiadores Diante da calamidade o incrédulo exclama: “Se Deus existisse, não aconteceria isso!”. Mas o cristão humildemente exalta o poder de Deus e clama pela misericórdia dele, agradecendo-lhe a maravilha da redenção pela fé em Jesus Cristo. 64
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Calamidades na Bíblia Quanto ao mundo ímpio: A destruição da humanidade pelas águas do dilúvio (Gn 6- 9); a destruição da torre de Babel e a confusão das línguas (Gn 11.1-9); a destruição de Sodoma e Gomorra (Gn 18.20-33; 19.23-28); as pragas contra o Egito (Êx 7–12); e a destruição do poderoso exército do orgulhoso e blasfemo rei Senaqueribe (2Rs 19.35-37). Quanto ao povo de Deus: A peregrinação no deserto durante quarenta anos (Êx 16.35; Nm 14.28-33); a destruição quase completa da tribo de Benjamim. Como acontece à nossa sociedade, aquela tribo fechou os olhos para a gravidade do pecado do homossexualismo e Deus autorizou a sua destruição (Jz 19 e 20); o cativeiro na Assíria: Israel, reino do Norte, sofreu esse cativeiro e nunca mais se restabeleceu; os 70 anos do cativeiro babilônico; o penoso sítio e a destruição de Jerusalém, no ano 70 (Lc 19.41-44). Calamidades na história secular Gloriosas civilizações antigas foram destruídas por terremotos, vulcões ou guerras, como a de Creta; cidades muito corrompidas, como Pompeia, pelas lavas e cinzas de um vulcão; a “Invencível Armada” espanhola, que partira com o objetivo de subjugar a Inglaterra e destruir a Reforma Protestante na Inglaterra e na Escócia (1588), foi destruída sem conflito armado; o poderoso Titanic naufragou em 1912. Em nossos dias, as tragédias se multiplicam: algumas pela mão direta de Deus, outras pelas mãos dos homens. O Salmo 107 é uma chave para o discernimento de um dos métodos de Deus. Ele usa a própria maldade dos homens e seus efeitos. Pode-se dizer que Deus aplica o princípio do jui-jítsu: o lutador aproveita a força do adversário para derrubá-lo.
Das numerosas tragédias que têm ocorrido, destaco o que aconteceu com as torres gêmeas, na cidade de Nova York. Edifícios destruídos em poucos minutos, com um morticínio terrível. Mais terrível ainda foi o que aconteceu há poucos dias no Japão! A alta tecnologia revela-se frágil ante o poder da natureza física. No Brasil, as tragédias em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, em São Paulo, na região Serrana do Rio de Janeiro e em outros lugares deveriam chamar a atenção para as advertências e exortações bíblicas e para o convite feito pelos profetas e por Jesus Cristo, no passado, e pelos pregadores fiéis, atualmente, para que as pessoas se arrependam e creiam no evangelho (Mc 1.15). Nas calamidades morrem crentes fiéis Deus não os livrou? De certa maneira a resposta a essa pergunta está implícita nas declarações feitas anteriormente. Deus trata de modo diferente pessoas moral e espiritualmente iguais ou semelhantes (aos nossos olhos), tanto ímpios como cristãos. Alguns exemplos: Deus não livrou Abel, de quem ele tinha se agradado (Gn 4.4); Enoque e Noé “andaram com Deus”. Enoque, entretanto, teve o privilégio de ser arrebatado com cerca de um terço da idade com que Noé morreu (Gn 5.22 e 23; 6.9; 9.29); Caim teve a sua vida preservada por Deus (Gn 4.15) e como ele muitos ímpios têm tido vida longa e socialmente feliz, ao passo que muitos fiéis servos de Deus sofreram e sofrem terrivelmente. Os propósitos inescrutáveis de Deus visam, principalmente, ao bem último e supremo dos seus filhos. O bem relativo e passageiro deste mundo é deixado em seu próprio lugar; em lugar secundário. Alguns servos de Deus têm o privilégio de ser levados antes de um mal maior do que a morte. Existem muitas coisas piores do que a morte. Não é preciso argumentar. Só para
os materialistas a vida atual é o bem máximo. O profeta Isaías fala sobre isso (57.1): “Perece o justo [...] e os homens piedosos são arrebatados sem que alguém considere nesse fato; pois o justo é levado antes que venha o mal”. O salmista, no Antigo Testamento, já dizia a Deus: “A tua graça é melhor do que a vida; os meus lábios te louvam” (Sl 63.3). Lembremos o diálogo de Jesus e Pedro sobre o destino dele próprio e de João (Jo 21.18-21). Jesus deu a entender a Pedro que ele seria martirizado. Pedro lhe perguntou: E quanto a João? A resposta de Jesus Cristo deveria ser suficiente para atender a todas as questões tratadas. Disse ele: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Quanto a ti, segue-me”.
Atitude que se espera das igrejas cristãs e dos cristãos Quando ocorrem tragédias que envolvem a destruição de bens materiais e de vidas humanas, o que as igrejas e os crentes devem fazer? Demonstrar a compaixão de Jesus: “Viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E passou a ensinar-lhes muitas coisas” (Mt 6.34). Ele não ficou só no sentimento, ensinou-os. Viver o real cristianismo como sal da terra (que tempera e saneia) e como luz do mundo (que ilumina e purifica), levando o próximo a glorificar a Deus (Mt 5.13-16). Fazer o que fez o profeta Habacuque. Vendo só desolação ao seu redor, ele orou a Deus: “Aviva a tua obra, ó Senhor!” (Hc 3.2).
Ensinar a Escritura Sagrada, que é a Palavra de Deus, a verdade revelada é a única forma de preparar o ser humano para vencer a tragédia interior do pecado e encarar as calamidades exteriores da vida: “A tua palavra é a verdade” (Jo 17.17); “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.32). Disse Jesus: “Eu sou a verdade [...] Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 14.6; 8.36). Seja qual for o espinho, contentemo-nos, como o apóstolo Paulo se contentou, com a declaração de Deus: “A minha graça te basta”. Odayr Olivetti é escritor e tradutor, foi missionário no Chile e professor de teologia sistemática no Seminário Presbiteriano de Campinas.
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Piotr Lewandowski
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tema do amor cristão me parece um desafio em ou seja, sem considerar as emoções (se gosta ou dois andares: o da ortodoxia, em cima, e o da não). Apenas amando: abençoando, fazendo o bem, “ortopraxia”, no térreo. permitindo o bem, ensejando o bem a amigos e a No andar de cima, encontro o ensinamento de Jesus inimigos. Já no andar de baixo, aprende-se a amar sendo e de seus apóstolos, inspiradores e desafiadores. Nesse amado. Sim, é uma dimensão passiva da pedagogia divina. âmbito, ouço Jesus dizer que seremos reconhecidos É aqui, me parece, que a experiência do amor de Cristo como seus discípulos se tivermos amor uns pelos outros “excede todo entendimento”. É onde aprendo sobre a (Jo 13.35); ouço Paulo orar por nós, graça e o afeto, sobre a segurança para que, pela fé, tenhamos raízes que o amor de Deus traz, sobre e alicerces no amor (Ef 3.17); ou a incrível sensação de ser amado, então João, a dizer que aquele que apesar de ser conhecido como O discípulo de não ama não sabe nada de Deus realmente sou. Cristo precisa (1Jo 4). Que conflito! Meu maior sonho é conhecer o que No andar de baixo, encontro ao mesmo tempo meu maior temor: seu mestre o desafio da prática desse ser conhecido. Na transparência (que espera dele mandamento de Jesus, acrescido advém da proximidade e que permite do entendimento apostólico de a comunhão) posso encontrar que fazer discípulos significa descanso e paz. Entretanto, posso também ensinar a amar (Mt 28.19). encontrar, também, rejeição. O Nas palavras de René Padilla: temor é que, quando descobrirem “Efetivamente, a experiência do amor de Cristo, que meus defeitos, passem a me odiar. segundo Paulo ‘excede todo entendimento’, só é possível Porém, João nos exorta a, pela fé, vencermos nossos ‘com todos os santos’. Só é possível na igreja, ‘a família medos e aprendermos, com sabedoria e oração, a “andar de Deus’, onde os discípulos aprendem a amar...”. na luz”. As palavras que ele usa para “luz” são: verdade, O discípulo de Cristo precisa conhecer o que seu confissão, perdão e purificação (1Jo 1.1-10). mestre espera dele. Para isso, observa as palavras e — Transparência? Confessar tudo? Na minha igreja? atitudes do mestre. Considera o que os apóstolos Me colocam na rua! Talvez nos falte um pouco do andar ensinaram e como eles vivenciaram o ensino e o exemplo de baixo. que Cristo lhes deu. Por outro lado, o “discípulo do Procuram-se “mestres do amor”: gente que aprendeu amor” precisa manifestar em sua vida comunitária esse a amar porque foi muito amada — apesar do seu pecado. sinal, essa marca da nova vida que recebeu do Espírito Incondicionalmente, portanto. Oferecem-se “discípulos Santo. do amor”: gente desconfiada, que não crê mais nisso — Eis o desafio dialético: precisamos aprender e ensinar mas que está disposta a tentar uma última vez. a amar — nos dois andares! Não basta abrir a Bíblia e Nota aprender sobre o amor. O ensino fica incompleto. É 1. “A formação de discípulos”, Ultimato, janeiro/fevereiro de 2001. preciso coerência com o térreo, com a “ortopraxia”: a prática correta; uma escada ligando os dois andares. Rubem Amorese é consultor legislativo no Senado Federal e presbítero na Igreja Surge, assim, a questão inevitável: como se aprende a Presbiteriana do Planalto, em Brasília. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e Liturgia e Fábrica de Missionários — nem leigos, nem santos. ruben@amorese.com.br amar? Minha resposta: no andar de cima, obedecendo;
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