Abraphe On Air

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PILOTOS DE HELICÓPTERO

2ª EDIÇÃO | OUTUBRO - NOVEMBRO 2011

O NOVO

KAMOV NO BRASIL

MAIS + Entrevista exclusiva com Raphael Klein

abraphe.org.br



©Divulgação HELIPARK / KAMOV

ÍNDICE Editorial A PALAVRA DO PRESIDENTE HOT PRODUCTS CURTAS HELICÓPTEROS

03 04 05 06 07

Desmistificando os Experimentais

CAPA HISTÓRIAS DA AVIAÇÃO

09 12

Relato de um Acidente

HELIPONTOS E AEROPORTOS

14

Pista Cotia

PILOTOS

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Fator Vento e PNR

CURSOS

18

Treinamento Agusta

ENTREVISTA

09 KAMOV Ka-32A11BC Helipark e Guindastec lançam empresa especializada no transporte aéreo de cargas pesadas.

19

Raphael Klein

ESPECIAL

21

LABACE 2011

SEGURANÇA Fadiga

24


Editorial Os novos caminhos trilhados pela ABRAPHE estão fortalecendo os laços entre os legisladores, autoridades reguladoras, controle de espaço aéreo, investidores, fabricantes, oficinas, proprietários, escolas e pilotos.

DIRETORIA:

Ações de forma coordenada entre todos os envolvidos nas operações tendem a

Presidente: Rodrigo Duarte

direcionar as necessidades de mercado e formas de operação fazendo com que

Vice - Presidente: Hoel Carvalho

continuemos em busca do crescimento que temos visto nestes últimos anos.

Secretária - Geral: Vera Berthault Diretor Administrativo Financeiro: Luciano de

As lacunas deixadas por erros do passado, quando não ocorriam essas interações,

Oliveira

estão evidentes quando observamos o mercado de forma ampla. As oficinas estão

Diretor de Associados: Eduardo Seehagen

cheias, os hangares lotados, os aeroportos sem espaço e as autoridades não dão conta de cumprir os trâmites burocráticos exigidos em lei. Nosso papel, como entidade que representa os pilotos de helicóptero, é, principalmente, dar suporte tanto às autoridades como também para os nossos pilotos associados.

Diretor de Comunicação: Divaldo de Oliveira Diretor Técnico, Operações e Segurança de Voo: Isidoro Mekler Diretor de Instrução e Disciplina: Domingos de Souza Diretor de Relações Públicas: Ruy Flemming 1° Suplente: Marcelo Micchi

Nesse saudável relacionamento e troca de informações, temos a chance única de estar atuantes e de sempre antecipar demandas futuras que possam colocar em

CONSELHO FISCAL:

risco a Segurança de Voo (o nosso único objetivo).

Presidente: Geoci Leonar Barbosa 1° Conselheiro: Marco A. A. Infante

Boa leitura!

2° Conselheiro: André Danita Suplente: André Barão

EQUIPE: Felipe Dorta Mario Belvedere Suelen Leal Rita Santos

abraphe.org.br

Capa ASSESSORA DE IMPRENSA: Carolina Denardi

Fotografia: Divulgação Helipark / Kamov

REDAÇÃO E PRODUÇÃO: Rodrigo Duarte

Contato / Assinatura ABRAPHE - Assossiação Brasileira de Pilotos de Helicóptero Avenida Olavo Fontoura, 1078 - St. C - Lt. 07 Hangar da Go Air - Santana - São Paulo - SP - CEP 02012-021 Tel.: +55 11 2221-2681 | FAX: +55 11 2221-1348

03

DESIGN GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Lecode Studio - lecode.com.br IMPRESSÃO: Gráfica Josemar - graficajosemar.com.br


A PALAVRA DO PRESIDENTE “Nossos esforços são para entender o que fazer para que nem um único acidente aconteça.(...)” RODRIGO DUARTE PRESIDENTE DA ABRAPHE

Os últimos meses têm sido de muita atividade para a nossa

Estamos trabalhando e muito para entender o que fazer

associação.

O número crescente de novos sócios tem

para que nem um único acidente aconteça. Um dos

nos deixado muito confiantes na continuidade de nosso

ensinamentos da SIPAER : “Todo acidente aeronáutico

trabalho e nos estimula a dar seguimento em nossas ações.

pode e deve ser evitado!”.

Mas, infelizmente, também fomos surpreendidos por alguns

Iremos perseguir incansavelmente esse ensinamento

acidentes que sempre nos causam grande comoção. Nas

até que tenhamos seu resultado alcançado. Temos, por

últimas entrevistas, nas quais participei, todos os repórteres

obrigação, fazer isto acontecer.

foram unânimes em perguntar o por quê do aumento do número de acidentes. Infelizmente, não temos como dizer que, estatisticamente, esse número têm aumentado, pois não sabemos, de forma concreta, o crescimento absoluto da frota e nem o crescimento da quantidade de voos.

NA INTERNET

Todos os estudos levam em consideração a relação entre acidentes e horas de voo ou acidentes por milhão de

http://tiny.cc/kpo90

decolagens. A estatística é muito importante para a ABRAPHE, mas um único acidente, dentre milhões de horas voadas ou milhões de decolagens feitas, já é o suficiente para nos surpreender de forma negativa e sinaliza que algo está errado e precisa alguma correção, seja na manutenção criteriosa

dos

equipamentos ou em um maior aprimoramento técnico de

Confira na Internet o discurso do Cmte. Rodrigo Duarte na Câmara dos Deputados, ocorrido em 24/08/2011 sobre a reforma do CBAER.

nossos pilotos. Os meses de Agosto e Setembro/2011 foram trágicos para nós pilotos e para nossa aviação. Como Presidente da ABRAPHE tenho o dever de, junto com a nossa Diretoria, buscar incansavelmente entender o que está acontecendo e propor mudanças para que não tenhamos mais que passar por estes dolorosos acontecimentos.

04


HOT PRODUCTS

SPOT Satellite GPS Messenger A nova geração SPOT envia mensagens via satélite e comunicações de emergência com um equipamento menor, mais leve e de melhor performance.

05

Possui a função “SOS” para situações de risco que aciona

da Internet. Também é possível salvar os pontos pelos quais

serviços locais de emergência. Com base na exata localização e

passou para rever posteriormente sua rota. Ainda é possível a

informações pessoais, o Centro de Atendimento de Emergên-

criação de uma página compartilhada e sua rota é plotada em

cias notificará seus contatos cadastrados e as autoridades

mapa do Google Maps.

públicas informando a necessidade de resgate.

Ainda existem outras funções que podem ser conferidas no

Com a Função “Siga-me”, seus amigos, familiares e base de

site www.findmespot.com.

operações podem acompanhar seu percurso on-line através

Possui cobertura no Brasil e página da Internet em Português.


©EDSON KUMASAKA

CURTAS

Licenças Emitidas Segundo informações da ANAC, em 2010 foram emitidas 124 licenças de Piloto de Linha Aérea de Helicóptero - PLAH, 262 licenças de Piloto Comercial de Helicóptero – PCH e 410 licenças de Piloto Privado de Helicóptero – PPH. Isso é um recorde histórico. Até Setembro/2011 esse número já havia sido superado e foi batido outro recorde.

Processos de Cheque e Re-cheque Já está totalmente operacional o SISHAB na ABRAPHE. Com isso, os pilotos associados poderão dar entrada em seus processos de cheques iniciais ou revalidações diretamente em nossa associação que processará os pedidos para a ANAC. Mais informações na Seção Sala de Pilotos em nosso site. Essa ação é pioneira no Brasil e está servindo de exemplo para outras entidades servirem de elo entre seus associados e a autoridade aeronáutica.

Seguro de Vida para Pilotos de Helicóptero e perda da CCF A ABRAPHE firmou parceria com a corretora Good Winds para a contratação de Seguro de Vida e Seguro contra perda da CCF para pilotos de helicóptero. Com coberturas de até 350 mil reais, o seguro foi criado com base no seguro oferecido pela “IFALPA” (International Federation of Airline Pilots Associations) com sede em Londres. Mais informações na Sede da ABRAPHE.

Twitter e Facebook Frota no Brasil Segundo dados divulgados pela ABAG, em 2010 haviam 1495 helicópteros registrados no Brasil, representando 12% da frota de nossa aviação geral. O destaque é o número de registros nos Estados de SP (592), RJ (309) e MG (159). Por tipo de motor os números são: 583 monoturbinas, 381 biturbinas e 531 monomotores a pistão.

Siga a ABRAPHE no twitter @abraphe e no Facebook para se manter informado sobre nossas novidades e também para receber as comunicações de Notam’s ou checadores disponíveis.

Sagitário Está sendo implantado o novo sistema de controle de tráfego aéreo que integra dados de satélites e radares. O programa desenvolvido no Brasil permitirá uma substancial melhora no controle feito, aumentando os níveis de segurança operacional. Batizado de SAGITÁRIO – Sistema Avançado de Gerenciamento de Informações de Tráfego Aéreo e Relatório de Interesse Operacional será implantado em todos os CINDACTA’S e substituirá o sistema atual.

06


Por Michele Perrone - PPA e PPH

HELICÓPTEROS

Desmistificando

os experimentais A aviação experimental é um mercado que nos chama muito a atenção em suas diversas vertentes. Por definição, aviões e helicópteros experimentais são todos aqueles construídos por amadores ou empresas especializadas sob as diretrizes do RBHA 38.

No Brasil, segundo dados divulgados pela ANAC em seu

atividade desportiva seja cada vez mais segura e orga-

último anuário de 2009, registrava-se em voo cerca de

nizada, sendo exemplo hoje para muitas outras associa-

3764 aeronaves na categoria experimental. Porém, esti-

ções de categorias. Seu maior esforço está sempre em

ma-se que em 2011 existam cerca de 6000 delas espalha-

aumentar a segurança, tendo nos dias atuais feito um

das pelo país.

trabalho intenso junto às escolas de pilotagem voltadas

No passado, quando se falava em aeronave experimental, muitos torciam o nariz dado o amadorismo e a falta de recursos técnicos e de materiais para a construção. Nos dias de hoje, o cenário mudou muito, tendo engenheiros aeronáuticos envolvidos neste tipo de atividade seja por lazer ou profissão e aplicando tecnologias de ponta e muitas vezes, após determinado tempo, utilizando essa expertise na aviação “profissional”.

TECNOLOGIA Já existem algumas aeronaves de asa fixa de alta performance devidamente certificadas para vôos IFR com toda a segurança necessária. Para este tipo de voo, evidentemente o piloto tem que ser habilitado para tal com a devida experiência.

na formação de pilotos que hoje convivem com as demais aeronaves dividindo o mesmo espaço aéreo. Dentro deste universo interessante e menos caro que a aviação certificada, temos também os helicópteros experimentais que vão desde um “single place“ a pistão até alguns com turbinas e FADEC (também vale ressaltar que existem motores a pistão com FADEC) de dois e 4 lugares.

BRASIL No Brasil, os helicópteros ainda são poucos, pois o tipo de carteira exigida para voá-los tem de ser a mesma de um piloto de aeronave certificada. Outro fator que ainda dificulta é o medo por ser experimental. Esse segundo é o mais restritivo, pois por falta de informação, as pessoas

A ABUL (Associação Brasileira de Ultraleves) desempenha

deixam de se interessar em saber quão evoluídas estão

um importante papel neste contexto, pois além de rep-

essas máquinas.

resentar os interesses de seus mais de 2500 associados, colabora com as autoridades competentes para que essa

07

à categoria para que tenham um critério muito rigoroso


“BRINQUEDOS” Nos painéis desses “brinquedos“ maravilhosos encontramse instrumentos modernos em configuração “Glass Cockpit” com os mais sofisticados recursos de controle, monitoramento e navegação. De fato, não podemos ignorar essa categoria de aviação que muito contribui hoje em dia para a evolução em tecnologia e desenvolvimento. Nos Estados Unidos, existe uma associação com muita representatividade nos órgãos oficiais chamada EAA (Experimental Aviation Association) que simplesmente é a organizadora do famoso evento de Oshkosh. Cada vez mais as pessoas conseguem entender que num país como o Brasil, com distancias entre cidades muito grandes,

MODELOS

precisamos deste meio de transporte aéreo.

Nos Estados Unidos existem mais de dez modelos

uma realidade viável financeiramente com tecnologia e

diferentes, tendo todos eles muitas horas de voo

segurança.

acumuladas. Um exemplo é o TALON A 600 da Rotorway, configurado para dois passageiros (1+1), pistão com FADEC . A Aeronave desempenha uma velocidade de 80 kt com autonomia de 2:30h.

Seja por lazer ou por necessidade, os experimentais são

Desde que operados com critério e dentro das leis vigentes, podemos sim ter em nossos ares mais aeronaves deste tipo. Compete a nós pilotos, unidos às associações e as autoridades fomentarmos o crescimento de todas a categorias com segurança e disciplina, pois como em

Outro é o Canadense Aerocopter AK1-3 uma máquina

qualquer empresa privada, com o maior volume, menor

também para 2 passageiros.

serão os custos. Precisamos acabar com a velha e ultrapassada mentalidade que voar é luxo, pelo contrário, é uma necessidade cada vez mais próxima de todos. Nossas autoridades com o devido apoio das mais diferentes comunidades aeronáuticas deve manter um olhar atento a esses vetores de desenvolvimento e legislar a favor desse movimento, pois o País é quem cresce com isso.

O Mosquito, sendo um single place com motor a pistão de 3 cilindros ou uma Turbina SOLAR de 110 SHP com caixa de redução.

08


CAPA

KAMOV Ka-32A11BC

Helipark e Guindastec lançam empresa especializada no transporte aéreo de cargas pesadas Primeiro helicóptero russo Kamov Ka-32A11BC, capaz de transportar até 5 toneladas, chega ao país no início de 2012. De olho em um segmento pouco explorado no Brasil, o Helipark, maior centro de serviços para helicópteros da América Latina, e a Guindastec, especialista em içamento e movimentação de cargas, lançam a primeira empresa para transporte aéreo de cargas pesadas por meio de helicópteros do país. O Helicargo permitirá o deslocamento de peças e materiais de até 5 toneladas a locais de difícil acesso, atuando em grandes empreendimentos de infraestrutura, na construção civil, nas atividades petrolíferas onshore e offshore e no apoio às companhias hidrelétricas.

5 TON

©Divulgação HELIPARK / KAMOV

(...) o Helicargo atende às necessidades ambientais de um país em desenvolvimento.

O helicóptero escolhido para essa missão é o Ka-32A11BC,

09

fabricado pela Kamov, que faz parte da Russian Helicopters.

Helipark. Os preparativos para isso incluem o treinamento

As negociações com a holding russa começaram em 2009, e

das equipes e, para isso, quatro pilotos, dois operadores de

contemplam também o estabelecimento de um centro de

equipamentos e quatro mecânicos serão enviados à Rússia

manutenção para o helicóptero dentro das instalações do

em setembro.


©RODRIGO DUARTE

Painel ao “Estilo Russo” do Kamov com instrumentos analógicos

©RODRIGO DUARTE

No detalhe, mecânica realiza uma inspeção em um dos rotores e ao lado um Jet Ranger para comparar a diferença de tamanho entre as aeronaves. ©Divulgação HELIPARK / KAMOV

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CAPA Além de garantir maior agilidade e economia no desloca-

mesmo sob condições adversas, garantindo precisão a

mento de materiais pesados, o Helicargo atende às necessi-

tarefas que os helicópteros com rotor de cauda fariam com

dades ambientais de um país em desenvolvimento. Até hoje,

bastante dificuldade. O modelo KAMOV Ka-32A11BC é

o transporte de equipes, infraestrutura e equipamentos até

reconhecido mundialmente pela sua performance, e opera

pontos remotos, inacessíveis por rios ou estradas, depende

com sucesso em mais de 30 países.

exclusivamente da abertura de pequenas estradas vicinais, e essas tornam-se inevitáveis vetores de desmatamento. A

Em comparação com os helicópteros de construção

possibilidade de utilizar transporte aéreo para esse fim re-

tradicional, que possuem um único rotor principal e rotor de

duz sensivelmente o impacto ambiental na construção de

cauda, o Ka-32A11BC é equipado com dois rotores coaxiais

gasodutos, oleodutos e torres de transmissão.

principais, que giram em sentidos opostos, dois motores turboeixo Klimov TV3-117VMA com potência máxima de

KAMOV KA-32A11BC

2.400shp, o que proporciona uma maior capacidade de

O grande diferencial do Helicargo é o Ka-32A11BC, um

pairado como em voo de cruzeiro, devido à maior eficiência da

robusto helicóptero multifuncional capaz de transportar

configuração coaxial. A ausência do rotor de cauda também

5 toneladas de carga externa e 3,7 toneladas de carga

torna o KAMOV Ka-32A11BC mais compacto, ágil e preciso

interna. Utiliza rotor coaxial, que proporciona uma maior

nas manobras, permitindo sua operação em áreas restritas

estabilidade vertical nos voos pairados em áreas restritas,

de 22 metros de largura por 22 metros de comprimento.

elevação de carga e teto mais alto de operação, tanto no voo

Qualidade e segurança com o conforto que você merece.

Todos os serviços em único local, com as melhores condições operacionais de segurança e completa infra-estrutura de atendimento. Apoio à tripulação: Duas salas de descanso, salas para locação e ambiente wi-fi exclusivo ao lado do embarque. Única oficina Bell Platinum da América do Sul (apenas 14 entre os 120 CSFs no mundo)

11

www.helipark.com.br - 55 (11) 4186.9599


Por André Soares

HISTÓRIAS DA AVIAÇÃO

Relato de um

ACIDENTE

“Decolei para mais um voo corriqueiro no fim de tarde de 40 minutos, o tempo fechado, alternando entre chuvisco e chuva leve, no mínimo visual noturno quando regressasse para pouso...” Aproximadamente com 30 minutos de voo percebi os

passei a Estação da Luz, alinhado com a Av. Tiradentes e

instrumentos do motor indicando pressão do óleo um

subtamente o helicóptero dá um tranco com guinada e

pouco abaixo da faixa normal de operação e temperatura

silencia.

do óleo pouco acima, ambos ainda dentro da faixa verde, e prossegui monitorando os instrumentos.

Como já vinha preparado para a emergência desde poucos minutos antes, já entrei em autorrotação antes da buzina

Poucos minutos após, senti no helicóptero um chacoalho

de RPM tocar, a partir deste momento tudo passa rápido

rápido e sutil, o que não pude ter certeza se foi uma

mas como se fosse em câmera lenta. A visão periférica

batida de vento ou perda de potência, de qualquer

começa a ficar escurecida.

maneira, devido a condição do tempo, neste momento aproei o Campo de Marte para o retorno. Estava então sobre o Viaduto Grande São Paulo, seguindo para o Campo de Marte. Neste trajeto vinha com potência de cruzeiro, mas conseguindo somente 55 nós nivelado a 2900 pés. Percebi que estava com pane, sem potência, os instrumentos estavam ligeiramente alterados da condição anterior, mas ainda dentro da faixa verde de operação, helicóptero sem guinada, sem ruídos ou vibrações anormais, logo pensei que podia estar só com um magneto.

Automaticamente coloquei o coletivo embaixo. A primeira coisa que olhei foi o instrumento do rotor já extrapolando o vermelho superior, a segunda coisa a olhar foi o local do pouso, vinha sobre o sentido centrobairro da Tiradentes, totalmente travada em horário do “rush”, curvei para a contramão com quatro faixas livres de trânsito. Em meio a descida, naquela “câmera lenta” parecia que o tempo não passava, com dó do rotor pensei em calçar um pouco o coletivo para deixá-lo dentro do verde, logo pensei, deixa assim!

Fui levando o helicóptero seguindo o Expresso Tiradentes onde teria uma área “livre” para pouso se necessário, havia ainda terrenos grandes na Av. Pres. Wilson à minha direita. Avaliei a condição de voo do equipamento e prossegui, a condição da pane estava estável. Cruzei o Parque Dom Pedro, chamei a Torre Marte para pouso: -“Autorizado!”. Prossegui para ingressar no circuito ao sul,

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HISTÓRIAS DA AVIAÇÃO Relato de um

ACIDENTE Avisei a torre que estava em pane e ia pousar na Tiradentes, chegando ao ponto de toque a visão parece só focar ligeiramente à frente como se estivesse olhando por um tubo, matei velocidade, a pá bateu numa árvore, ouvi uma grande variação de RPM, desconfigurou meu flare, bati no asfalto molhado com força e o helicóptero

“(...) a partir deste momento tudo passa rápido mas como se fosse em câmera lenta, a visão periférica começa a ficar escurecida(..)”

girou para a esquerda. Nestes instantes finais, parece que tudo funciona no “automático”, não lembro de conscientemente ter puxado o coletivo mas estava lá todo para cima, ainda estava desorientado pelo impacto, pensei ter capotado, mas o helicóptero ficou “de pé”. Helicóptero no chão, rapidamente tirei o cinto, vi que meu passageiro também fazia o mesmo, abri a porta e sai, o passageiro com um pouco mais de dificuldade também saiu, nos afastamos do helicóptero, avaliei rapidamente as condições, tanques de gasolina inteiros sem vazamentos, chão molhado de óleo proveniente do cárter, voltei ao helicóptero desliguei a bateria e válvula de combustível. De pé na rua olhei para mim mesmo, se havia me machucado, o passageiro estava igualmente bem e eufórico ao telefone relatando o acontecido à sua rádio. Por estar em contato na ATZ, o socorro foi muito rápido, ainda mais porque pousei ao lado de uma viatura policial. Logo os bombeiros do aeroporto chegaram e

O sentimento a partir daí é de muita adrenalina correndo. Também por esse motivo podia não estar sentindo alguma fratura que houvesse sofrido, por precaução fomos ao hospital dar uma checada.

controlaram qualquer possibilidade de fogo ou explosão

Enfim, o helicóptero cumpriu seu papel de máquina

do helicóptero.

segura. Do impacto forte, a mim e ao meu passageiro, não ficou nenhuma sequela devido a absorção do trem de pouso e assento. O que pude comprovar na própria pele é que estando sempre bem treinado e executando o que determina o manual, nossas chances de sucesso em caso de pane aumentam muito.

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HELIPONTOS E AEROPORTOS Foi inaugurada no último dia 18 de Setembro uma nova pista privada próxima a São Paulo.

Pista Cotia Indicativo da Pista: SDNI

Foi inaugurada no último dia 18 de Setembro uma nova

Membros da diretoria da ABRAPHE estiveram prestigiando

pista privada próxima a São Paulo. Mesmo com o susto no

a festa e ofereceram todo apoio necessário para o Sr. Pau-

dia anterior à festa, aonde um ultraleve avançado modelo

lino Nascimento que idealizou e construiu o local. Em con-

RV-10 com 3 pessoas a bordo se acidentou durante o pouso

tra partida, nos foi oferecida a pista para que realizemos os

sem causar vítimas, o churrasco promovido pelos propri-

voos de cheque e re-cheque de nossas forças-tarefa, possi-

etários do local foi regado a muito leitão e costela num au-

bilitando que não ocupemos o espaço já saturado dos aero-

têntico “Fogo de Chão”.

portos como o Campo de Marte, Jundiaí ou Amarais. A ABRAPHE tem como filosofia apoiar toda e qualquer atitude que incremente e fomente o desenvolvimento de nossa aviação. Desejamos boa sorte e sucesso ao Sr. Paulino nesse projeto.

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Por Cmte. Divaldo de Oliveira e Cmte. Eduardo Seehagen

PILOTOS

FATOR VENTO E PNR

combustível suficiente para retornar ao local de partida. Pilotos

Com o início da operação de exploração de petróleo no

as condições meteorológicas no seu destino irão proporcionar

pré-sal, as plataformas, navios sondas, barcos de serviços,

uma aproximação segura.

etc., estão cada vez mais distantes da costa exigindo que o planejamento de cada voo seja cada vez mais preciso.

Como em operações offshore o seu destino é o local de onde você partiu a criação de PNR é baseada nas condições meteorológicas

Um dos grandes equívocos durante um planejamento de voo ad-

deste local, caso uma rápida degradação nas condições

equado é supor que o vento não influirá no seu voo pelo fato de

meteorológicas ocorra e você não deseje consumir o combustível

os voos off shore se constituírem de uma perna de ida e outra de volta, pois se caso o vento for desfavorável durante a ida ele será favorável na volta.

de sua reserva regulamentar, retorne imediatamente. A formula para criação de um PNR é relativamente simples: X = POH / O+H, onde,

Engano, pois o vento de cauda não compensa o vento de proa,

X é a distância da partida até o PNR,

como no exemplo: um voo partindo do ponto “A” para o “B” com

P é a alcance seguro (combustível consumido na potência de

uma distância de 240 Nm.

cruzeiro com a reserva regulamentar),

A

240 Nm

B

Caso você use uma aeronave que tenha uma velocidade de cruzeiro de 120 Kt de TAS e que o vento previsto para a rota seja calmo este voo terá a duração total de 04:00 horas, já que:

TAS = 120 kt Vento = 0 GS = 120 kt Distância(ida e volta) = 480 Nm Tempo total = 4 horas Portanto:

Ida = 240 / 100 = 2,4 horas = 144 minutos Volta = 240 / 140 = 1,7 horas = 102 minutos Total = 4,1 horas =246 minutos

O é a sua GS (Groundspeed), planejada, da partida para o destino (Outbound), e H é a sua GS (Groundspeed), planejada, que você irá ter no retorno (Home). Considere um voo de A para B com 200 Nm. Sua aeronave cruzará a 100 Kt. Durante a viajem de ida haverá um vento de 20 kt de cauda, portanto, O = 120 e H = 80. Você possui um alcance de 2,5 horas (mais reserva regulamentar). Portanto: X = 2.5 x 120 x 80 / 120 + 80 X = 24.000 / 200 X = 120 Nm. Se você passar deste ponto não terá combustível suficiente para retornar sem consumir de sua reserva regulamentar.

Este aumento no tempo de voo se deve ao tempo de exposição

Tenha sempre em mente o seguinte:

ao vento. Você estará exposto ao vento de proa por um tempo

1 – Para manter a fórmula consistente use a velocidade em Knots,

maior que ao vento de cauda, ou seja, você passa mais tempo

a distância em milhas náuticas e seu alcance deverá ser expresso

sendo segurado do que sendo empurrado pelo vento.

em decimais de horas, como no exemplo acima.

Portanto se você não deseja pousar com 14 minutos de reserva ao invés dos 20 minutos regulamentares é melhor realizar um planejamento adequado para o seu voo contando sempre com o vento.

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nunca devem passar do PNR a menos que estejam certos de que

2 – PNR será sempre antecipada se houver qualquer vento, de proa ou de cauda. No exemplo acima, se você retirar o vento o PNR será de 125 Nm, porém se o vento aumentar para 50 kt o PNR diminuirá para 93, 7 Nm.

Dependendo do tipo de operação e da distância do voo, outro

3 – Esta fórmula funciona somente para voos diretos de ida e

planejamento que faz parte da rotina é o da criação de um

volta, onde o vento permanecerá o mesmo e a sua velocidade de

PNR (Point of No Return) ou Ponto de Não Retorno. O PNR é

cruzeiros e consumo de combustível, também serão os mesmos

um determinado ponto além do qual a aeronave não terá mais

na ida e a volta.


CURSOS

Treinamento Agusta A AgustaWestland do Brasil promoveu um curso de familiarização. A AgustaWestland do Brasil promoveu um Curso de Familiarização em aeronaves AW109 series, “Agusta AW109 series (PW206 / PW207) Airframe Maintenance Type Training Course”, em suas instalações, e finalizado no mês de Setembro 2011. Somente funcionários da própria empresa participaram nesta primeira edição do programa. Outros cursos estão previstos e deverão estar disponíveis em breve para os interessados. O instrutor passou por um período de treinamento e preparação junto ao Centro de Treinamento da AgustaWestland em Sesto Calende, na Itália, no primeiro semestre de 2011. Este tem sido mais um investimento da AgustaWestland do Brasil com o objetivo de capacitação de mão-de-obra especializada, e melhor atender os operadores dos helicópteros da marca. Atualmente, existem mais de 120 helicópteros desse modelo em operação no país.


ENTREVISTA

RAPHAEL KLEIN O uso de aeronaves executivas está cada vez mais dissemi-

RK: O Agusta pertence à empresa. Pessoalmente, acredito que os

nado em grandes corporações que têm seus negócios em

cursos de atualização devem ser feitos constantemente porque

todo o território nacional e também fora do Brasil. Essa

isso promove uma reciclagem dos conhecimentos que temos. O

ferramenta é fundamental para empresas que têm o desen-

fato de fazer esses cursos na fábrica traz bons benefícios , como

volvimento socioeconômico por vocação. Aliar crescimento

por exemplo, um simulador Full, e o fato de eu poder debater

e desenvolvimento à aviação executiva é fácil quando se

pontos críticos com os engenheiros.

tem como exemplo Casas Bahia / Ponto Frio. Veja abaixo como o principal executivo da empresa hoje, Raphael Klein,

Aliás, como é ser o executivo, presidente de uma gigante no

concilia seu tempo de um dos principais empresários do

varejo, como as Casas Bahia e o comandante do helicóptero

país com a paixão por voar e a Segurança de Voo.

que o transporta? RK: Eu sou presidente da Globex, a holding que abriga as marcas

Onde começou sua história com os helicópteros e a vontade de

Casas Bahia e Ponto Frio. O dia a dia de trabalho é cheio de

pilotar sua própria aeronave?

desafios e é preciso uma boa equipe para tomar as decisões. O

RK: Minha história com avião começou nos Estados Unidos em

mundo corporativo é feito de pessoas e processos. Logo, somos

1996. Eu tirei meu PP lá nessa época. Em 2004, fui morar nos

um time onde tudo deve funcionar como uma grande e eficiente

Estados Unidos e aí comecei a me interessar por helicóptero e

engrenagem.

surgiu a vontade de aprender a pilotar .

Enquanto comandante do helicóptero, a realidade não muda muito, salvo a sensação de liberdade de você estar voando.... Eu

Você tem um Agusta A109 Power e em entrevista recente você

sou apaixonado por tudo que tenha motor, desde criança. Gosto

comentou que costuma ir para a Itália fazer curso de pilotagem

dessa adrenalina. A máquina tem que funcionar perfeitamente, e

com novos modelos da marca e reciclagem dos atuais. É uma

eu capacidade para dirigi-la... Eu me sinto bem nos dois papéis.

forma de se atualizar como piloto? Há muito tempo que o helicóptero é utilizado em seu grupo

19


“Ser piloto é poder ter liberdade, habilidade de se adaptar em condições adversas e estar sempre preparado para tudo.”

Em sua experiência como piloto, alguma vez você já teve que abortar algum voo por problemas técnicos ou meteorológicos? Como foi e o que sentiu? RK: As condições meteorológicas sempre tem que ser respeitadas. Já cancelamos voos e pousamos em lugares alternativos

por

problemas meteorológicos . Na questão mecânica, certa vez

a

luz de limalha acendeu e foi necessário um pouso em segurança empresarial. Qual é a importância dessa ferramenta em seus

no Hangar do Campo de Marte. Após checagem, era apenas um

negócios?

pequena condensação de vapor d’agua no sensor.

RK: Utilizamos helicópteros na nossa rotina de trabalho há vários anos. Eles são utilizados na nossa empresa como uma ferramenta de trabalho. Sem eles, talvez fosse impossível fazer frente aos vários compromissos que temos todos os dias. Nossos executivos

Em sua experiência como piloto, alguma vez você já enfrentou emergências? Como foi e o que sentiu? RK: Não.

usam o helicóptero para se locomover do trabalho até reuniões de negócio fora da empresa, para visitar os centros de Distribuição,

Qual sua maior preocupação antes de iniciar uma decolagem?

entrepostos ou filiais da companhia. , evitando assim a perda de

RK: Acredito que não existe decolagem de emergência, somente

tempo ocasionada pela pesada rotina do trânsito da cidade de

pousos. Como todo piloto, “um pré flight check” é essencial,

São Paulo. Neste sentido o helicóptero é um meio de locomoção

quando há algo anormal detectado por problemas técnicos ou

rápido, seguro e confortável que permite a todos que o utilizam

meteorológicos, não inicio a decolagem.

cumprir uma agenda de muitos compromissos diários. Alguma história interessante, que gostaria de dividir? O helicóptero é fundamental no dia a dia de sua empresa?

RK: Quando tirei meu PP, ainda com poucas horas de voo, no meu

RK: Com certeza. Como disse é uma ferramenta utilizada pelos

segundo voo noturno, x-country, a aproximadamente 40 minutos

executivos da empresa, dentro das necessidades de trabalho de

do meu ponto de partida, o alternador parou de funcionar.

cada um.

Conseguimos pousar, 15 minutos depois, em segurança em um aeroporto categoria G, praticamente sem bateria. Após esse

A partir de que momento isso ocorreu?

evento, descobri que realmente queria ser piloto.

RK: desde que a empresa adquiriu seu primeiro helicóptero, no ano de 1994.

Para você, o que é ser piloto de helicóptero? RK: É poder ter liberdade, habilidade de se adaptar em condições

E a administração do tempo para a segurança, a padronização das

adversas e estar sempre preparado para tudo.

doutrinas no seu dia a dia de piloto e a rotina de empresário? RK: São duas coisas diferentes. Quando estou a trabalho, viajo com

Como jovem, empresário e piloto de helicóptero, qual sua visão

outros executivos como passageiro. Pilotar é um hobby para mim.

do setor na atualidade em termos de desenvolvimento futuro, trafegabilidade e segurança?

É você que gerencia toda a operação aérea do grupo envolvendo

RK: O Brasil já é o país do futuro, porém alguns setores precisam

a sua frota de helicópteros, alguém o ajuda? Como?

evoluir mais. Acredito que temos que ter humildade de aprender

RK: A empresa conta com uma equipe específica, preparada e

com outros países e melhorar nossos sistemas de treinamento

rigidamente treinada, sob a gestão do Comandante João Lapenta.

(padronização do treinamento básico ) e infraestrutura

para

garantir a trafegabilidade com segurança. Estamos no caminho Fica mais fácil a rotina e o gerenciamento sendo piloto de

certo, mas ainda não na velocidade ideal.

helicóptero e conhecendo a operação? RK: Sim. É possível debater dados mais técnicos e boletins de serviço com maior ênfase. Atualmente você está com quantas horas de voo? RK: Atualmente estou com algo em torno de 350 horas de voo de helicóptero e de avião 250 horas.

20 08


ESPECIAL

LABACE2011 A aviação costuma ser um bom termômetro do que se

impressionam: 67 aeronaves na exposição estática; 170

passa na economia. Para se ter uma medida ainda mais

expositores nacionais e estrangeiros ligados à aviação

precisa do que acontece no mercado, a análise da aviação

executiva mostraram seus produtos e serviços para um

executiva pode indicar um panorama ainda mais preciso.

público de 16420 pessoas, nos três dias do evento. O

Baseados nesses preceitos estamos bem.

volume dos negócios estimados pela ABAG – Associação

A edição latino-americana, baseada no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, da mais importante feira de aviação executiva no mundo, que tem suas versões norteamericanas e européias, foi um retumbante sucesso. Os

13 21

Brasileira de Aviação Geral, promotora do evento, bateu a casa dos 600 milhões de dólares, o que aponta para a continuidade do crescimento que o setor vem apresentando já há alguns anos.

números da versão 2011 da LABACE – Latin American

A LABACE está consolidada como o principal evento

Business Aviation Conference & Exhibition falam por si e

aeronáutico da aviação executiva e tem cumprido o papel


Por Cmte. Ruy Flemming

NÚMEROS

67 aeronaves expostas 170 expositores 16.420 visitantes US$ 600 milhões negociados

Foto: ©EDSON KUMASAKA

Rodrigo e Juniti Saito

Foto: ©CEL. EDSON LUIS GASPAR

na região serrana do Rio de Janeiro. Na ocasião, diversas aeronaves civis atenderam prontamente ao chamado dos que necessitavam e, em conjunto com as forças públicas, puderam levar ajuda e apoio aos que mais necessitavam em áreas aonde somente se conseguia acesso por meio de helicópteros. O Comandante da Aeronáutica, Brigadeiro Juniti Saito entregou o prêmio para o Cmte. Rodrigo Duarte que representou os pilotos civis homenageados. O nosso stand também teve uma grande movimentação. Com o lançamente oficial da nossa nova revista e também de desenvolver o setor apresentando aos empresários

da campanha para que não se sobrevoe o Alto da Lapa,

opções seguras e confortáveis para reduzir distâncias,

nossos associados puderam ter o primeiro contato com a

ganhar tempo e multiplicar seus negócios e também

nossa nova identidade visual.

aproveitar a presença das mais altas autoridades aeronáuticas do país para que conheçam nossas necessidades e saibam dos gargalos que impedem um crescimento maior do setor e por consequência do país. Para a ABRAPHE, a LABACE 2011 também foi um grande sucesso. Nossa associação foi premiada na abertura do evento pela operação dos helicópteros civis na tragédia ocorrida

22


ESPECIAL Na sexta-feira, a ABRAPHE promoveu um workshop de segurança de voo na instrução. O evento, dirigido pelo nosso diretor Cmte. Isidoro Mekler, foi excelente. A estrutura do local, fornecida pelos organizadores e a oportunidade de se promover um evento de Segurança de Voo durante um evento desse porte fortalece a posição da ABRAPHE como elo SIPAER. O evento, sucesso entre os participantes e atendendo a pedidos de nossos associados, será repetido outras vezes. Esperamos agora a definição do local para a realização da próxima LABACE em 2012 e consideramos que o sucesso desse evento é permanente e nos coloca no calendário mundial

dos

grandes

acontecimentos

de

aviação

Movimentação na feira

mundial.

Aeronaves em exposição

23


Por Cmte. André Danita

SEGURANÇA

FADIGA Cada vez mais em voga, a discussão sobre os fatores humanos no gerenciamento da segurança operacional é a última fronteira a ser explorada na aviação, e também uma das mais complexas.

Enquanto as aeronaves e seus sistemas adquiriram redundâncias e confiabilidade suficientes para colocálas nas melhores posições no ranking da segurança, o ser humano continua o mesmo, falível, passível de variações no desempenho de suas atividades causadas por suas emoções, estado psicológico e sua própria fisiologia, entre outros fatores. Dentro desta seara, a fadiga é a bola da vez, tendo sido estudada no mundo desde a década de 80, resultando na recente criação de regras para melhor gerenciá-la. Acidentes, como o da Colgan Air em 2009 nos Estados Unidos, aceleraram o ritmo das discussões, e o Brasil passará a adotar o FRMS (Fatigue Risk Management System, aqui chamado de “Programa de Gerenciamento do Risco de Fadiga Humana”, ou PGRF) em breve para os operadores do RBAC 121, tendo como passo seguinte a adoção da regra no

mais uma noite de descanso. O “ajuste” desse relógio se dá por vários estímulos, sendo o principal a noção de dia e noite causada pela luz solar ou sua ausência. A rotina de atividades pessoais e o cronótipo (alguns indivíduos são matutinos ou vespertinos, ou seja, desempenham-se melhor no período da manhã ou noite respectivamente) são outros fatores que também influenciam os gráficos que determinam nossos melhores períodos de alerta.

ambiente do RBAC 135, integrando o SGSO. Mas você sabe

No mundo ideal, uma boa noite de sono (e cada indivíduo

realmente o que é fadiga?

tem uma definição particular disso) aliada a uma rotina fixa

A resposta da maioria de nós está certamente associada à ideia de longos períodos consecutivos de trabalho, entremeados por pouco descanso, e não raro vem temperada por estresse e preocupações que tiram nosso foco de atenção e drenam nossa melhor capacidade de produzir. A fadiga é resultado da ação de vários fatores estressores, e aparece quando tentamos contrariar a natureza do nosso relógio biológico ou, cientificamente falando, do nosso ritmo circadiano. Regulado no cérebro pelo hipotálamo, o ”funcionamento” do ser humano ao longo do dia obedece a uma programação pré-estabelecida,

e

que

não

pode

ser

modificada

de trabalho resultam na melhor produtividade e alerta. Porém, a falta de rotina para os profissionais de aviação é um grande complicador dessas equações, e mais do que nunca se faz necessário conhecer a realidade da fadiga e aprender a reduzir seus riscos. Estudos mostram que, independentemente do que se faça durante seu dia, 17 horas após ter despertado o ser humano mediano atinge um nível de respostas aos estímulos equivalente a quem consumiu bebidas e apresenta um índice de 0,05% de alcoolemia no sangue, suficiente para impedi-lo de dirigir na maioria dos países do mundo. Tudo isso, claro, supondo que a noite de

rapidamente. É o hipotálamo quem comanda a secreção de hormônios que regulam nossa temperatura corporal e, como resultado, nossa disposição para as atividades diárias ou aquela sensação de sonolência, que nos prepara para

24


SEGURANÇA

“(...)na hora em que algo sair do programa é que o raciocínio rápido e seu alerta farão mais falta.”

sono que antecedeu a este dia tenha sido perfeita dentro dos

caminhada pelo pátio, durante uma espera em solo, por

padrões individuais, sob pena de se atingir aquele nível crítico

exemplo. Outro fator de estímulo é a luz. Uma cabine bem

ainda mais cedo. Assim, a fadiga pode ocorrer não apenas pelo

iluminada durante a noite, principalmente a partir das 21:00h

acúmulo de várias noites mal dormidas ou longas jornadas

e de aí em diante durante o resto da jornada, causa inibição

de trabalho; ao contrário, ela pode estar lhe esperando bem

da secreção de melatonina, o hormônio que nos causa

ali, logo após o início de uma jornada de trabalho noturna,

sonolência. Experimente!

ainda que seu dia tenha sido de poucas atividades e esforço. Poucos empregadores admitiriam um piloto alcoolizado, mas

Alimente-se

estranhamente ignoram os riscos de um piloto fadigado.

Uma alimentação leve, evitando gorduras, aliada a uma

Outra grande armadilha da fadiga é o silêncio com que se instala, pois infelizmente a auto percepção não funciona para avaliação dos riscos. Se seu voo sai exatamente como previsto, com a aeronave e seus sistemas funcionando a contento, bom

constante hidratação contribuem para a redução da fadiga. Deixar de se alimentar, no entanto, piora a situação;

Cochile Além de uma boa noite de sono, pequenos “cochilos” de

tempo em rota e uma aproximação e pouso em condições

até 40 minutos durante uma jornada podem efetivamente

visuais, pouco de você está efetivamente sendo exigido. Mas,

aumentar seu nível de alerta, estendendo sua “autonomia”

na hora em que algo sair do programa é que o raciocínio rápido

para o trabalho. Descansos maiores podem acontecer, mas

e seu alerta farão mais falta. Acredite! Estudos apontam que

não assuma suas funções logo em seguida: a chamada inércia

pilotos em final de uma jornada durante a madrugada estão

do sono pode lhe pregar uma peça, e lhe causar ainda mais

quase 50% mais sujeitos a cometerem erros operacionais do

cansaço nos minutos seguintes ao despertar. Permita ao

que aqueles escalados dentro de seu horário normal de vigília.

menos 30 minutos de readaptação às atividades;

Abaixo algumas ferramentas práticas para gerenciar a fadiga:

Respeite sua natureza

Conheça-se Determinar

seu

cronótipo

Ainda que teimemos em reconhecer, o ser humano não é (matutino,

vespertino

ou

uma máquina, e só funciona mediante algumas condições

indiferente, este último correspondente a 80% da população)

que a natureza impõe. Se você não se sentir em condições de

pode ajuda-lo a melhor ajustar seus horários de trabalho ou,

assumir ou continuar uma programação, gerenciar a fadiga,

se esta não for uma opção, a conhecer os riscos e aumentar a

mais do que uma iniciativa regulatória, é uma questão de

vigilância quando assumir voos fora de seu horário de melhor

observação pessoal, criando estratégias próprias que melhor

desempenho. Passe a observar suas reações, e aprenda a

utilizem seu potencial de trabalho e diminuam os efeitos da

respeitá-las;

privação de sono. Ainda, o comprometimento daqueles que

Programe-se

decidem a rotina de um departamento de operações de voo é

Ao conhecer previamente uma programação extensa, ou que aconteça fora do seu ritmo circadiano, procure descansar adequadamente no ciclo de sono que a antecede. Encare esta preparação como parte integrante de uma jornada de trabalho;

Estimule-se Ao contrário do que se imagina, o exercício físico leve imediatamente antes ou durante uma jornada aumentam seu nível de alerta. Quando tiver oportunidade, faça uma

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de fundamental importância, criando um ambiente amigável para a discussão deste assunto, estimulando o recebimento de reportes de fadiga e respeitando as limitações do ser humano, em busca de uma aviação cada vez mais segura.



O Helicidade é o primeiro heliporto do Brasil a neutralizar e compensar a emissão de CO2 .

Tanto nos pousos e decolagens das aeronaves quanto em suas instalações. Esse é mais um exemplo do respeito da nossa empresa com a natureza e com as pessoas, desde que foi criada há 10 anos. No balanço social do Helicidade, você poderá ver essa e todas as outras ações.

Tratamento VIP para você, sua tripulação e seu helicóptero: Estacionamento coberto com manobristas. Sala VIP e de reuniões. Loja de conveniência, banco 24 horas e revistaria. Restaurante, sala de ginástica e suítes para pernoite. Sala de pilotos com TV, DVD e internet. Hangaragem. Serviços pré e pós-voo. Abastecimento. E muito mais.

VHF - 130,37 Av. Onófrio Milano, 186 - Jaguaré - www.helicidade.com.br - (11) 3767-3500 23o32’48”S / 046o44’13”W


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