Revista setor Agro&Negócios

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2 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019


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EDITORIAL EQUILÍBRIO PARA CRESCER

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ono do oitavo maior PIB do mundo, o Brasil causa inveja a muitos outros países quando o assunto é agronegócio. Apenas atrás dos Estados Unidos no ranking da produção mundial, caminhamos em passos acelerados para, em pouco tempo, dominar este mercado. Quando pensamos na forma como o agro nacional está estruturado, não temos dúvidas que logo atingiremos o topo. O Brasil é o único que tem condições de dobrar a produção e suprir as necessidades por alimentos de ricos e dependentes mercados como China e Índia. Experiência e inovação, temos para dar e vender. Somos precursores no plantio direto, instituímos de forma inédita a segunda safra, criamos alternativas para explorar terras de forma mais eficiente e diversificada, temos um status sanitário referência, sem falar na revolução digital, que começa a ser experimentada pelos produtores brasileiros. Diante de todo este cenário, não há dúvidas que conquistaremos a liderança. Há sim, e muitas. Nosso potencial é incomparável, porém o setor enfrenta inúmeros e árduos obstáculos, que vão desde rodovias em degradantes condições de tráfego, passam pelas dificuldades de internacionalização de mercado e esbarram ainda em questões diplomáticas. Os problemas, soluções e prospecções desta realidade você confere na reportagem de capa “O Brasil está preparado para crescer?”. Investigamos, buscamos dados, contrapontos e conversamos com profissionais

que são referência no setor e revelam o futuro do agro brasileiro. Esta edição também é especial pois nos unimos a grandes cooperativas do Brasil e do Paraguai para falar sobre sustentabilidade. O porta copos que acompanha esta edição convida você a deixar o mundo mais colorido. Confeccionado em papel semente, basta plantá-lo e regá-lo para em pouco tempo acompanhar o desabrochar de lindas flores. Uma iniciativa inédita, que nos enche de orgulho e integra o projeto “Juntos para Transformar” onde mostramos a força do cooperativismo e sua participação na evolução do agronegócio. Álias, por falar em projeto, o “Agro Sem Fronteiras” continua a todo vapor. Recentemente, nossa equipe foi muito bem recebida na região de Alto Paraná – Paraguay, onde conhecemos o grande potencial agrícola, e nos sentimos em casa, pois assim como no Brasil, é através da força do produtor rural aliada a eficiência de cooperativas, que o agronegócio paraguaio ganha força. Em breve, anunciaremos o I Fórum Internacional Agro Sem Fronteiras, que discutirá a integração entre Paraguai, Brasil e Argentina no Agronegócio. Como veículo de comunicação temos a missão de contribuir para a evolução do setor, e o projeto “Agro Sem Fronteiras” chega para reforçar as ações, que a cadeia executa incansavelmente para elevar o agronegócio ao topo. Lhe desejo uma excelente leitura !

Paula Canova . Editora

EXPEDIENTE ADMINISTRAÇÃO E REDAÇÃO RUA RUI BARBOSA, 1284-E CENTRO | CHAPECÓ (SC) CEP: 89.801-148 (49) 99975-2025 (49) 98418-9478 www.setoragroenegocios.com.br DIRETORA DE REDAÇÃO PAULA CANOVA MTB 02111 JP redacao@setoragroenegocios.com.br DIRETORA COMERCIAL RAFAELA MUNARETTO MTB 05726 JP comercial@ setoragroenegocios.com.br C

REPORTAGENS BRUNO PACE DORI ANGELICA DEZEM TUANNY DE PAULA DIRETORA DE ARTE BIA GOMES PROJETO GRÁFICO DOGLISMAR MONTEIRO

FOTO: DIVULGAÇÃO

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CAPA GERSON NASCIMENTO PROJETOS ESPECIAIS VERUSKA TASCA COLABORADORES DESTA EDIÇÃO BRUNO SALDIVIA, CARINA MORAES, CRISTIANE SOARES DA SILVA ARAÚJO, ELDEMAR NEITZKE, FELIPPE SERIGATI, GERSON HERTER, HENRIQUE BRAGA OLIVEIRA, KARINA FERREIRA DUARTE, LÚCIO FRANCELINO ARAÚJO, MARCELO LARA, MB COMUNICAÇÃO, OSCAR MERSAN DE GASPERI, PAULO BENNEMANN, RODRIGO ANSELMO, ROBERTA POSSAMAI

A Revista Setor Agro&Negócios s é uma publicação quadrimestral, destinada ao segmento do agronegócio e abrange a cadeia produtiva desde as propriedades, instituições, universidades, entidades, até a indústria. Os artigos assinados e materiais publicitários não representam, necessariamente a opinião da editora. Não é permitida a reprodução total ou parcial dos conteúdos, sem prévia autorização.

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FOTO: SHUTTERSTOCK

SUMÁRIO

ARTIGO TÉCNICO

MAIO DE 2019

Imunonutrição em aves Página 36

SUÍNOS 26 TECNOLOGIA Genômica aumenta eficiência e rentabilidade

ILUSTRAÇÃO: GERSON NASCIMENTO

28 GESTAÇÃO Boas práticas para a saúde e bem-estar dos animais

AVES 32 COBERTURA SBSA 2019 tem público recorde 38 OVOS Como o mercado vem se preparando para exportar

14

CAPA

O BRASIL ESTÁ PREPARADO PARA CRESCER?

FOTO: FERNANDO NAVARRO

De um lado safras recordes, exportações em alta e abertura de mercados. De outro, falta de silos para armazenagem e precariedade no transporte. Para chegar ao topo, é preciso equilíbrio.

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ANTIBIÓTICOS MENOS É MAIS

Gerente do laboratório espanhol da Hipra Saúde Animal, Daniel Zalduendo, explica que o caminho é longo, mas já começa a ser trilhado

BOVINOS 42 FALE COM O ESPECIALISTA Quais as doenças mais comuns na bovinocultura leiteira?

AGRO SEM FRONTEIRAS 64 PARAGUAI Confira dicas para investidores 65 ARGENTINA Trigo no Mercosul, uma prova de eficiência

MERCADO 68 TENDÊNCIA Para onde vai a indústria em 2019?

56

JUNTOS PARA TRANSFORMAR Poder do cooperativismo transformando o agronegócio

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70 FUSÕES E AQUISIÇÕES A grande oportunidade láctea do Sul do país

OPINIÃO 72 CARNES Autocontrole é aliado de uma inspeção rigorosa 74 CARREIRA Cenário econômico positivo garante o meu sucesso?


Cooperativismo e

acreditar em um futuro melhor!

Rede de Lojas; Auto Posto de Combustível; Grupos Geradores; Painéis Fotovoltaícos; Geração e Distribuição de Energia Elétrica;

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QR CODE REPORTAGENS EM VÍDEOS Inovação é palavra de ordem na redação da Setor Agro&Negócios. A partir desta edição, você poderá acompanhar os bastidores da produção de reportagens, informações complementares e repercussão de conteúdos através de vídeos. As matérias com conteúdo extra apresentam QR Code, que pode ser acessado com facilidade através de seu smartphone. Acesse e conte pra gente o que achou da novidade.

FOTOS: ASSESSORIA DE IMPRENSA ACCS

O Projeto Agro Sem Fronteiras, realizado pela Revista Setor Agro&Negócios está a todo vapor. Desde o mês de janeiro, percorremos milhares de quilômetros para mostrar a conexão entre Brasil, Paraguay e Argentina no agronegócio. No mês de março, integramos uma missão empresarial que visitou a Agroshow Copronar, realizada em Naranjal Alto Paraná – Paraguay. O evento apresentou as potencialidades da região, altamente produtiva e repleta de oportunidades para quem quer empreender e evoluir no agronegócio. Acompanhe nosso portal de notícias e redes sociais e fique por dentro das novidades desta grande iniciativa!

MOMENTO AGRO

O amor pela profissão é o que define esta foto. A médica veterinária Marcella Troncarelli é professora no curso de Medicina Veterinária do Instituto Federal Catarinense Campus Concórdia (SC) e coordenadora do Grupo de Estudos Pro Latte.

SUCESSO NO FACEBOOK

Nossa equipe realizou a cobertura completa do Itaipu Rural Show, que aconteceu em Pinhalzinhjo (SC). Um dos conteúdos de maior repercussão mostrou o funcionamento do robô para ordenha da Ordemilk. Leitores atentos às novidades tecnológicas.

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FOTO: ARQUIVO PESSOAL

FEEDBACK


O Programa Nacional de Encadeamento Produ vo do SEBRAE é uma estratégia para aumentar a compe vidade por meio de relacionamentos coopera vos estabelecidos entre grandes companhias e pequenos negócios. O Projeto Encadeamento Produ vo Coopera va Alimentos: suínos, aves e leite, prepara os pequenos negócios, fornecedores destas cadeias. A Coopera va Central Aurora Alimentos é a empresa âncora e parceira do projeto.


PRODUTOS

OUROFINO

Qualidade em pastagens com SilageSeal®

FOTO: PIXABAY

O custo com a alimentação dos bovinos é um dos mais representativos da cadeia pecuária, entre 60% e 70% nos sistemas de produção mais intensos, segundo Luiz Orcirio de Oliveira, pesquisador especialista em nutrição da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) Gado de Corte de Campo Grande (MS). Para ajudar a tornar o processo mais qualitativo e evitar perdas na silagem, a Ourofino Saúde Animal disponibiliza ao mercado o SilageSeal®. À base de poliamida protegida, o produto é um filme multicamadas que barra de maneira eficaz a entrada de oxigênio na matéria seca a ser ofertada aos animais, fator que impacta positivamente na qualidade nutricional do alimento. “Com o SilageSeal® é possível diminuir o descarte da silagem, melhorar o retorno econômico dos pecuaristas e preservar a capacidade nutricional do alimento, entre outras vantagens”, explica Janielen da Silva, analista técnica da Ourofino Saúde Animal.

EVONIK

INATA PRODUTOS BIOLÓGICOS

Vacina Matrivac 3 A Inata Produtos Biológicos lança sua mais nova vacina inativada comercial, a Mavitrac 3. Trata-se de uma vacina polivalente contra Doença de Newcastle (cepa La Sota), Bronquite Infecciosa das Aves (cepa M41) e Doença de Gumboro (cepa Winterfield 2512). José Branco, Gerente Técnico de Aves da Inata, fala sobre essa nova ferramenta disponível aos produtores: “as vacinas da linha Matrivac têm como objetivo proteger os lotes de reprodutoras pesadas contra as principais doenças que acometem esses plantéis. A Matrivac 3 é uma vacina com cepas clássicas, e abre porta para vacinas mais completas, com cepas nacionais”.

Ecobiol® para qualidade intestinal

O destaque da Evonik é o Ecobiol®,um probiótico (Bacillus amyloliquefaciens) que melhora a qualidade intestinal da microbiota animal e, consequentemente, auxilia os produtores na eficiência da qualidade e rentabilidade dos seus produtos, com a vantagem de tornar suas operações mais sustentáveis. A suplementação das dietas com Ecobiol® promove o balanço microbiano no intestino. Entre suas vantagens: é estável sob temperaturas de granulação da alimentação, alta umidade e condições de armazenamento; é fácil de manusear por funcionários em fábricas de alimentos e fazendas, e, é compatível com outros aditivos alimentares, tais como coccidiostáticos, promotores de crescimento, ácidos orgânicos, fornecendo a base para um produto eficaz e garantido.

NOVIDADE

Após ser adquirida pela britânica Dechra Pharmaceuticals, o laboratório Venco Saúde Animal anunciou a mudança de sua marca corporativa. Ao longo deste ano, a marca Venco passará a ser, gradualmente, substituída pela marca Dechra. A mudança representa um marco importante na trajetória da empresa que, agora, passa a estar inteiramente alinhada às estratégias futuras do grupo internacional da Dechra. Este novo posicionamento reflete os planos ambiciosos de, efetivamente, consolidar um novo começo e uma nova história no mercado de saúde animal em toda a América Latina.

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FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

Venco agora é Dechra


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PRODUTOS

BASF

Ecossistema AgroStart

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA CESCAGE

Novidade para os profissionais de Agtechs. É o Ecossistema AgroStart, uma iniciativa liderada pela BASF, com parcerias de grandes empresas. O objetivo é oferecer experiências, ferramentas e visibilidade aos empreendedores que buscam criar soluções competitivas para a agricultura. As primeiras grandes empresas parceiras do Ecossistema AgroStart são a Bosch e a Samsung, que vão contribuir com suas expertises para impulsionar o empreendedorismo agtech. “As mentorias, os treinamentos e toda a infraestrutura disponibilizada por esses parceiros vão potencializar os resultados das startups“, comenta Almir Araújo, responsável pela área de Agricultura Digital da BASF para América Latina. O AgroStart é o programa de aceleração de startups da BASF, realizado em parceria com a ACE. Desde 2016, mais de 350 startups já se registraram no programa, que foi pioneiro na América Latina.

VETANCO

Uniwall MOS 25 O Uniwall MOS 25 é um dos carros-chefe do portfólio da Vetanco. O aditivo prebiótico apresenta uma combinação estratégica de três componentes: ácidos orgânicos, parede celular de levedura associados a um carrier mineral. Alternativa ao uso de antimicrobianos, o produto é voltado ao controle de desafios causados por bactérias gram negativas nas aves e no ambiente. Presente há mais de 10 anos no mercado brasileiro, é muito utilizado por exportadores de carne de frango e por gestores do processo de produção focados em segurança alimentar (Food Safety nas plantas frigoríficas). “Dessa forma, reforçamos aos nossos clientes a importância em manter o status de saúde e bem-estar dos plantéis avícolas com uma solução realmente eficaz”. A explicação é do médico veterinárioMauro Renan Felin, Gerente Comercial Aves – Sul na Vetanco Brasil.

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CESCAGE GENÉTICA E OBP VACINAS

Nova fábrica de vacinas

O Centro de Biotecnologia e Reprodução Animal – Cescage Genética, assinou termo de convênio com a OBP Vacinas (Onderstepoort Biological Products). A OBP Vacinas é a maior empresa do planeta de produtos veterinários, com sede na África do Sul. O Cescage Genética construirá uma fábrica de vacinas para animais em Ponta Grossa (PR) e fornecerá remédios e vacinas desta empresa em todo o Brasil. Todo o trabalho será desenvolvido no Parque Tecnológico Agro Inovação Sustentável Cescage Genética com matriz na região dos Campos Gerais, no Paraná. “Esse é um dos maiores projetos em andamento do Parque Tecnológico. Inicialmente seremos os representantes da empresa e logo vamos começar o projeto para construir essa fábrica. Estamos investindo no que há de mais moderno no mercado genético e reprodutor e esse acordo só vem a acrescentar esse grande trabalho”, explicou o Fundador do Cescage Genética, Desembargador do TJ-PR, Prof. Pós PhD, José Sebastião Fagundes Cunha.


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- Capacidade de 96 ovos; - Dimensões: 590x325x23mm;

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CAPA

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?

O BRASIL ESTÁ

PREPARADO PARA

CRESCER Pilar da economia que corresponde por quase 50% das exportações e um quarto do PIB, o agronegócio brasileiro continua batendo recordes. A expectativa é de que os Estados Unidos, atual líder mundial de mercado, seja ultrapassado pelo Brasil em pouquíssimo tempo. Mas diante de tantos entraves, o país conseguirá alcançar o topo do ranking?

ILUSTRAÇÃO: GERSON NASCIENTO

Por Bruno Pace Dori

O

cenário é otimista e promissor. Os números do agronegócio empolgam e a previsão de crescimento é ainda mais animadora. O Brasil tem a maior receita líquida em exportações do agro mundial, lidera vendas em setores como carne de frango, bovino, café e açúcar e está entre os primeiros em cadeias produtivas como carne suína, soja e milho. E a perspectiva é de mais crescimento: 40%

até 2030! Entre as vantagens, estão as condições de solo e de clima, o domínio do uso da tecnologia e as configurações das plantas industriais dos frigoríficos. O documento Visão 2030: o Futuro da Agricultura Brasileira, elaborado pela Embrapa em 2018, aponta que em função da urbanização e do crescimento populacional, haverá um aumento de 35% na demanda mundial por alimentos, 40% por

energia e 50% por água. E o Brasil é a nação melhor preparada para absorver este aumento. Apesar do desenho esperançoso, há questões que preocupam o agronegócio: o Brasil está preparado para este crescimento? Problemas históricos precisam ser enfrentados. Na área da logística, por exemplo, cerca de 10% da produção agrícola é desperdiçada durante o transporte.

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CAPA

DESPERDÍCIO DE GRÃOS CHEGA A R$1 BILHÃO

O diretor-executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Luiz Cornacchioni, ressalta que o prejuízo causado pelo desperdício na safra de grãos é de mais de R$ 1 bilhão, anualmente. Para ele, as más condições e a dependência das rodovias, aliada à falta de investimentos em ferrovias e hidrovias, resultam em custos mais elevados. “As distâncias de transporte no Brasil são longas e a demanda é maior que a oferta, o que encarece o frete. Além disso, também há demora em embarques das mercadorias nos portos”, comenta. Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), afirma que o país acumula recordes de produtividade no campo, ampliou a capacidade agroindustrial instalada e se tornou líder em exportações. Por outro lado, estradas, trilhos e silos estão sufocados. “O agronegócio brasileiro cresceu como poucos setores da economia mundial, em um curto intervalo de tempo, insuficiente para que a logística acompanhasse. A defasagem foi inevitável. Porém, durante um bom tempo, não houve priorização da estruturação do agro”.

DIAGNÓSTICO

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) lançou no ano passado o documento “O futuro é Agro 2018-2030”. Nele, aponta que logística e infraestrutura são os maiores gargalos do agronegócio brasileiro, sendo necessários investimentos urgentes. Antes somente costeira, houve a expansão do agronegócio para as regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, entretanto, a logística e a infraestrutura não acompanharam essa mudança e evolução.

15% 10%

RAIO-X da produção agrícola é desperdiçada todos os anos no Brasil;

é perdido nas lavouras, no transporte e em pátios dos portos;

22,8 milhões R$ 1 bilhão

Valor corresponde a cerca de de toneladas de grãos;

O desperdício de grãos causa prejuízo anual de mais de

5%

dos grãos são descartados no período em que ficam estocados.

Brasil ampliou a capacidade agroindustrial instalada e se tornou líder em exportações. Por outro lado, estradas, trilhos e silos estão sufocados.

PRINCIPAIS PROBLEMAS ENFRENTADOS Dependência e má conservação das rodovias; Falta de investimentos em ferrovias e hidrovias; Insuficiência da infraestrutura de armazenagem.

OUTROS GARGALOS QUE PREJUDICAM Falta de acordos comerciais bilaterais; Demora nas operações realizadas nos portos; Ausência de incentivo fiscal e de crédito;

FOTO: RAWPIXEL

Modelo de seguro agrícola ultrapassado; Excesso de burocracia e de legislações.

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;


FOTO: PIXABAY

FOTO: MB COMUNICAÇÃO

Para agilizar e baratear custos com o transporte, o ideal seria que o modal ferroviário pouco mais que dobrasse sua capacidade, indo para 32% do total transportado

FERROVIÁRIO 356,8 bilhões de TKU

DEPENDÊNCIA DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO PREOCUPA

A dependência do Brasil do meio rodoviário para transporte de cargas é consequência de um longo processo histórico. De acordo com o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT), de 2015, até 65% do transporte de cargas no país é realizado por caminhões. Conforme o PNLT, o ideal seria que o modal ferroviário pouco mais que dobrasse sua capacidade, indo para 32% do total transportado, e o aquaviário (cabotagem e hidroviário) passasse da soma de 16% para 29% das toneladas de quilômetros úteis transportadas (TKU). Se isso ocorrer, o transporte rodoviário de carga poderia diminuir para 33% – ao invés dos 65% atuais, trazendo uma série de benefícios, como menos desperdício das cargas e diminuição nos custos de transporte. Atualmente, o Brasil conta com cerca de 30 mil quilômetros de ferrovias, sendo esse modelo caracterizado pela capacidade de transportar grandes volumes de cargas, principalmente em deslocamento de média

CABOTAGEM 249,9 bilhões de TKU

15% RODOVIÁRIO 1.548,0 bilhões de TKU

65%

DIVISÃO DO MODAL DO TRANSPORTE DE CARGA NO BRASIL TKU: toneladas versus quilômetros úteis

11%

5%

HIDROVIÁRIO 125,3 bilhões de TKU

4% DUTOVIÁRIO 106,1 bilhões de TKU

Fonte: Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT)

0% AEROVIÁRIO 0,6 bilhão de TKU

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CAPA

CAPACIDADE DE ARMAZENAGEM É INSUFICIENTE

A falta de estrutura de armazenagem da produção agrícola é outro grande problema do agronegócio. Para a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), o ideal é que a estrutura de silos e armazéns seja, no mínimo, 20% maior que a produção, porém, no Brasil há um grande déficit.

Capacidade de estoque de grãos no 2º semestre de 2017 Total da Safra 2017/2018

166,9

milhões

de toneladas

226,5 milhões

de toneladas

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Estrutura de silos e armazéns deve ser no mínimo, 20% maior que a produção, realidade ainda distante no Brasil

FOTO: PIXABAY

e longa distância, ao contrário do rodoviário, indicado para transporte entre distâncias de até 300 ou 400 quilômetros. “A ferrovia traz vantagens na segurança, com a diminuição de acidentes e menor quantidade de furtos e roubos, sendo ideal para transporte de produtos a granel, como soja, milho e trigo”, ressalta Luiz Cornacchioni. Já o sistema aquaviário tem 13 mil quilômetros de vias utilizadas economicamente e 29 mil quilômetros de vias disponíveis que, com investimentos, podem ser usadas para transporte, podendo chegar a 44 mil km. Esse modelo tem baixo custo de operação e enorme capacidade de carga, além de pouco gasto de manutenção, embora as construções de obras como eclusas, canais e barragens custem caro. O agronegócio brasileiro cresceu de forma exponencial nas últimas décadas, entretanto, a capacidade de armazenagem e escoamento pouco progrediu. “Infelizmente, a infraestrutura do país não seguiu o mesmo ritmo de crescimento”, explica Francisco Turra. Para ele, a chamada Rota do Milho, que visa trazer grãos do Paraguai, através de trem, para abastecer as criações de suínos, aves e bovinos na região Sul, deve ser viabilizada de modo urgente para atender a demanda e permitir que o agronegócio tenha condições de seguir produzindo.

REDE ARMAZENADORA SILOS 78,7 milhões de toneladas

ARMAZÉNS GRANELEIROS E GRANELIZADOS 63,1 milhões de toneladas

37,8% 47,2% 15%

Fonte: IBGE, segundo semestre de 2017

A deficiência de infraestrutura de armazenagem, que em muitos casos não existe ou são distantes da produção, faz com que o produtor tenha que negociar seu trabalho durante a safra, quando os preços ainda não são os ideais. Inevitavelmente, a construção de mais silos e armazéns é fundamental. A associação em cooperativas é alternativa apontada para baratear custos e ter melhor escoamento da produção, já que cobram menores valores de estocagem. Outra questão é o local de armazenagem. Estudo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostra que, do total, apenas 15% da capacidade armazenadora brasileira fica dentro da fazenda. Este índice é muito abaixo, se comparado aos Estados Unidos, por exemplo, onde 55% da

ARMAZÉNS CONVENCIONAIS, ESTRUTURAIS E INFLÁVEIS 25,1 milhões de toneladas

armazenagem está nas fazendas, e da Europa, com 35%. Aproximadamente 5% da produção agrícola acaba sendo descartada durante o período em que os grãos ficam estocados. Isso se deve a diversos fatores, como umidade, apodrecimento, micotoxinas, fungos, insetos e roedores.

USO DA TECNOLOGIA PRECISA DAR UM SALTO

A estimativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é que hoje o Brasil tem 7% do seu território ocupado com a agricultura e 22% com a pecuária. Nos últimos 20 anos, os avanços da tecnologia e da inovação conseguiram elevar a capacidade de produção das principais cadeias produtivas em


quase três vezes, como as carnes suína, bovina e frango, e na produção de soja, milho, algodão, café, açúcar, álcool e suco de laranja. Isso proporcionou que a ampliação da produção de alimentos acompanhasse o aumento populacional do país. A Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão (CBAP) levantou que 67% das propriedades agrícolas do Brasil já utilizam algum tipo de tecnologia na produção, nas mais variadas áreas. Mas para Bruno Lucchi, investimentos em inovação ainda são necessários, considerando a imensa onda de conectividade e TI que vem chegando ao campo, além da preocupação com insumos cada vez mais sustentáveis e menos agressivos ao meio ambiente.

O QUE O AGRO PRECISA PARA CRESCER Diante de números extraordinários, mas também de cenários preocupantes, líderes das maiores entidades que representam o setor, apontam as necessidades urgentes para que o Brasil continue liderando o ranking do agronegócio mundial.

ABPA

Abertura de novos mercados; iabilização de oportunidades em diversos destinos de V exportação de aves, suínos e ovos; n Ajustes na oferta de crédito; n E xpansão dos recursos para construção de armazéns; n M odernização de portos, melhoria de acesso rodoviário e ampliação da capacidade ferroviária para escoamento de insumos internamente, como a Rota do Milho; n A abertura ao investimento estrangeiro, com melhor regulamentação e segurança jurídica; n M elhorias no seguro agrícola e fundos garantidores. n

Francisco Turra, presidente da ABPA

FOTO: TONY OLIVEIRA/TRILUX

CNA

Ampliação da capacidade de escoamento da produção; n Eficiência para negociações de acordos bilaterais ou birregionais relevantes; n Redução do pico e a escalada tarifária, que inibem a agregação de valor nas commodities e matérias-primas. n

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA ABAG

Bruno Lucchi, superintendente técnico da CNA

ABAG

elhores condições para a iniciativa privada atuar na M área de infraestrutura; n Criação de mecanismos jurídicos seguros para a concessão de ferrovias e portos n Estabilidade econômica e segurança jurídica para atrair investidores. n

Luiz Cornacchioni, Diretorexecutivo da ABAG

EM BUSCA DO EQUILÍBRIO

A recuperação econômica do país, tão aguardada pelos brasileiros desde o início do ano, ainda caminha em passos lentos. Mais uma vez, o agronegócio deve ser o pilar que sustentará toda uma nação, amenizando, e até impedindo novas crises. Recordes de safra, exportações de proteína animal em alta, abertura de mercados que não só elevam o volume de vendas, mas também diversificam a pauta de importações. O cenário demonstra que é possível ir além, mas dar uma guinada de 180 graus, em um curto prazo de tempo, não será fácil. O agronegócio do Brasil está preparado para crescer, mas os bons ventos só continuarão soprando se houver um forte engajamento de todos os setores, com atenção redobrada às questões diplomáticas. Ser bem-vindo em qualquer país é essencial para manter compradores e indispensável na exploração de novos mercados. O Brasil tem terras, tecnologia, recursos hídricos e força de trabalho. A cadeia produtiva executa brilhantemente sua parte. Agora é aguardar que mercado e governo estejam em equilíbrio, tenham sintonia, parceria e cumplicidade para manter o agronegócio brasileiro no topo mundial. FOTO: SHUTTERSTOCK

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

n

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VITRINE

GSI

GEAPS Exchange

Equipe técnica e comercial da GSI participou da GEAPS Exchange, realizada em Nova Orleans, no estado de Louisiana, Estados Unidos, em março. A feira é considerada uma das maiores do mundo no segmento da indústria de movimentação e processamento de grãos.

VACCINAR

Investimentos até 2020

Além das novas fábricas em Nova Ponte, Minas Gerais (produção de gordura protegida) e a unidade em Toledo (PR), destinada a ração, a Vaccinar, se prepara para inaugurar, até o final de 2020, uma nova fábrica em Goianira, em Goiás, no Centro-Oeste do país. “Nosso objetivo é estar cada vez mais próximos dos nossos clientes, oferecendo a eles os melhores produtos e serviços, capazes de trazer maior produtividade”, destaca o presidente da Vaccinar, Nelson Lopes.

BIOVET VAXXINOVA

Plano estratégico

Referência de inovação e qualidade em saúde animal, a Biovet Vaxxinova divulgou seu novo plano estratégico. Fazem parte das metas traçadas para os próximos cinco anos o desenvolvimento de novos conhecimentos, tecnologias e geração contínua de valor para todos os públicos de interesse. Nesse sentido, a proposta é fazer a diferença no campo por meio de um portfólio cada vez mais robusto, fruto de investimentos sustentáveis em P&D, produtividade e infraestrutura.

SAFEEDS

A Safeeds Aditivos de Produção Animal inaugurou em março o novo centro administrativo e o complexo industrial. As duas fábricas, uma de aditivos sólidos e outra de líquidos, somadas ao centro administrativo, um prédio de 3 andares, amplo e com modernas instalações, dentro de um conceito de sustentabilidade e tecnologia, representa um novo marco na empresa, iniciado em 2014, e aponta para um novo ciclo, com outros investimentos que começam a ser projetados, visando atender com excelência e tecnologia um novo tempo no mercado mundial, que busca alimentos mais saudáveis.

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

Novo complexo industrial


SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 21


VITRINE Frente Parlamentar da Suinocultura

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

O deputado estadual Altair Silva é o coordenador da Frente Parlamentar da Suinocultura, instalada na Assembleia Legislativa de Santa Catarina no final do mês de abril. Com mais de 13 mil produtores, a atividade gera 65.000 empregos diretos e 145.000 indiretos somente no território barriga-verde. "Sabemos que os desafios da suinocultura são grandes, mas vamos trabalhar nas demandas para fortalecer ainda mais o setor. A viabilização da Rota do Milho e a manutenção do status sanitário de Santa Catarina como estado livre de aftosa são os primeiros passos", comenta Altair Silva, propositor da frente. Através da Frente Parlamentar, também serão discutidas, a proteção sanitária do rebanho catarinense, com a melhora do controle nas barreiras sanitárias do Estado, uma inspeção que atenda a legislação nacional, e o controle da recolha de animais mortos dentro das condições sanitárias. O fortalecimento da relação com o mercado importador e das pequenas cooperativas que compram, vendem e buscam operacionalizar ou integrar a suinocultura independente será outro grande desafio dos deputados que integram a frente.

Chapecó (SC) foi o palco de importantes discussões sobre avanços, tecnologias e descobertas no setor avícola. Entre os dias 02 e 04 de abril, a cidade foi sede do 20º Simpósio Brasil Sul de Avicultura. O evento reuniu mais de 2 mil profissionais de toda a América Latina, que conferiram a programação técnica com 16 palestras de alto nível e 11ª Poultry Fair. Grandes empresas do setor marcaram presença. Confira:

WISIUM

Segurança alimentar

O B-SAFE® foi o destaque no estande da Wisium, aditivo de tecnologia exclusiva e inovadora, aliado da segurança alimentar das aves. Os detalhes sobre o produto foram apresentados pela equipe da companhia: Marcos Vinicius Borges, Alexandre Pereira, Paulo Osório, Raquel Andrade, Guilherme Pasquali e Telmo Kitzig.

EVANCE

Marcelo Ziani, Caio Salomão, Melissa Meinhardt, Rodrigo Bevilaqua, Denoir Graciolli e Edson Klein representaram a Evance que levou ao SBSA o Gentomicin, antimicrobiano injetável à base de gentamicina (sulfato) a 4%, que possui amplo espectro de ação contra os principais desafios entéricos e respiratórios da avicultura.

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FOTOS: FERNANDO NAVARRO

Novidade em antimicrobiano


14a FEIRA INTERNACIONAL DE TECNOLOGIA PARA A INDUSTRIA DA PROTEÍNA ANIMAL

A REFERÊNCIA da indústria de PROCESSAMENTO da proteína ANIMAL

06-08

DAS 13H ÀS 20H SÃO PAULO EXPO - SP | BRASIL

AGOSTO

2019

/TECNO.CARNE TECNOCARNE.COM.BR SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 23


FALE COM O ESPECIALISTA

SUÍNOS

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Você tem dúvidas sobre manejo, nutrição ou sanidade em sua propriedade? Profissionais altamente capacitados podem lhe ajudar. Envie sua pergunta através de nossas redes sociais e ela poderá ser respondida neste espaço. ESPECIALISTA

PAULO BENNEMANN Médico Veterinário, Doutor em Reprodução de Animal (Suínos) e professor da Unoesc Xanxerê.

Sou criadora de suínos e gostaria de saber se o fato de entortarem o focinho pode caracterizar uma doença? Eva Alves Barbura – Bandeirantes - MS

O fato dos leitões entortarem o focinho pode estar ou não associado a problemas de doenças. Há necessidade de avaliarmos outras características como o desenvolvimento dos animais (bom ou ruim), ambiente (ventilação, qualidade do ar, limpeza das baias) onde os mesmos são criados e a idade dos mesmos. A Rinite Atrófica Progressiva é a principal doença relacionada ao entortamento e encurtamento do focinho. É causada por uma bactéria que produz uma toxina que destrói a estrutura óssea presente no focinho e com isso prejudica um dos sistemas de defesa do leitão contra problemas respiratórios predispondo ao aparecimento de pneumonias. Da mesma forma, um animal com Rinite Atrófica pode apresentar sangramento pelo nariz. Esta doença também está associada ao baixo desempenho

Alimento meus leitões somente com milho, mas quero introduzir ração. O que não pode faltar nesta dieta? Maria Genilda – São Leopoldo – RS A nutrição correta dos leitões é um ponto importante para o bom desenvolvimento. Uma boa dieta deve ser constituída por ingredientes que atendam as necessidades dos leitões nas diferentes fases de crescimento, ou seja, leitões na fase de creche possuem necessidades nutricionais diferentes de leitões na fase final de engorda. É importante que a ração, além de milho (ingrediente rico em energia) contenha farelo de soja (ingrediente rico em proteína), vitaminas (premix vitamínico) e minerais (premix mineral) além de um

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como baixo ganho de peso dos animais (um animal normal ganha, em média, de 800 a 950 g/dia na terminação) e na piora do aproveitamento dos nutrientes fazendo com que os animais comam mais e demorem mais para ganhar peso. Por se tratar de uma doença que sofre influência de vários fatores como tipo do ambiente no qual estes leitões estão alojados, ventilação, espaço por animal na baia e outras doenças intercorrentes, a correção destes fatores também deve ser considerada no tratamento da doença e não somente a utilização de medicamentos. Dentre os outros problemas relacionados ao entortamento ou encurtamento do focinho é importante que seja verificada a existência de problemas dentários, traumas na região do focinho, má formação do mesmo ou problemas de calcificação (formação óssea).

equilíbrio de cálcio e fósforo. A mistura de todos estes ingredientes irá compor uma dieta equilibrada e que proporciona um bom crescimento dos animais. Rações balanceadas normalmente são constituídas, aproximadamente, de 75% de milho moído, 21% de farelo de soja, 4% de premix vitamínico e mineral. Uma alimentação desbalanceada é capaz de causar problemas relacionados a má formação óssea dos animais, deixando os mesmos com os ossos mais fracos, crescimento mais demorado entre outros. Animais bem nutridos, além de crescerem mais rápido são menos afetados por problemas relacionados a doenças. Todos os ingredientes para a composição de uma ração balanceada podem ser facilmente encontrados no mercado agropecuário. Em caso de dúvidas, o auxílio de um profissional médico veterinário ou zootecnista pode ser interessante para uma melhor orientação sobre a formulação de rações que atendam as diferentes fases de crescimento.


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SUÍNOS

Genômica

aumenta

EFICIÊNCIA E RENTABILIDADE Melhoramento genético vem diminuindo a incidência de doenças e aumentando a competitividade de mercado dos criadores. Hoje já é possível mapear e utilizar a proporção real de genes que os animais candidatos à reprodução têm em comum. O zootecnista Marcos Lopes, gerente de Genética Global da Topigs Norsvin, explica que o melhoramento genético de suínos consiste na seleção dos melhores animais da população atual para serem os progenitores da geração seguinte e assim garantir o progresso genético da população a cada geração. Para que essa seleção possa ser realizada, é necessária a estimação do valor genético de todos os animais e as características de interesse de melhoramento genético. O valor genético representa o mérito genético de cada animal como progenitor.

Valor genético representa o mérito genético de cada animal como progenitor MARCOS LOPES, gerente de Genética Global da Topigs Norsvin

26 AGRO&NEGÓCIOS SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 | MAIO 2019

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA TOPIGS NORSVIN

O

melhoramento genético é uma área fundamental na cadeia produtiva da carne suína. Nos últimos anos observamos avanços rápidos e contínuos de ferramentas e novas técnicas, utilizadas de forma rotineira. Nesta nova era da genética é possível alcançar resultados cada vez melhores de desempenho e eficiência. Um exemplo recente deste crescimento é o aprimoramento cada vez maior dos programas de melhoramento genético de suínos, através da intensificação do uso dos dados genômicos. Através da genômica, que é o estudo completo de um organismo, é possível obter maior precisão na identificação dos animais de maior potencial genético, aumentando a eficiência, a competitividade e a rentabilidade


Brasil a iniciar a seleção direta para valores de cortes nobres e maciez da carne. Natalia salienta que a melhoria dessas características, além de tornar os cortes de suínos frescos mais suculentos e tenros, aumentando a aceitação e satisfação do consumidor final, permite assegurar maior qualidade e valor aos produtos processados de suínos. O salto excepcional no trabalho de melhoramento genético voltado às qualidades físicas e sensoriais da carne suína vai ao encontro das preferências dos consumidores, que têm passado por mudanças significativas nos últimos anos. O mercado brasileiro enxergava a carne suína como um ingrediente para fabricação de embutidos, porém, recentemente é percebida uma tendência da indústria de aumentar a oferta de carne in natura com lançamento de suas linhas premium e gourmet, com seleção direta para valores de cortes nobres e maciez da carne.

Após a estimação dos valores genéticos, é calculado o índice de seleção que agrupará os valores genéticos e seus respectivos pesos econômicos de todas as características incluídas no objetivo de seleção do programa de melhoramento genético. Com o índice de seleção em mãos, que é chamado pela Topigs Norsvin de TSI (índice de seleção da Topigs Norsvin), Lopes salienta que então são selecionados os animais de mais alto índice para garantir o progresso genético. Segunda maior empresa de genética suína do mundo, a Topigs Norsvin investe 21 milhões de euros por ano em pesquisa e desenvolvimento, resultando nos últimos anos em avanços na implantação em larga escala da seleção genômica. A adoção da tecnologia tem revolucionado o melhoramento genético de suínos da empresa com um aumento de 30% a 50% do progresso genético anual. Os marcadores moleculares são utilizados para estimar valores genéticos dos candidatos à seleção, o que resulta em um maior progresso genético da população de suínos.

SEQUENCIAMENTO DE GENOMA

A coordenadora de Serviços Genéticos da Agroceres PIC, geneticista Natalia Irano explica que além da genômica, estão sendo utilizadas outras tecnologias genéticas, como é o caso do sequenciamento completo do genoma suíno e a edição de genes (esta última, tecnologia exclusiva da Agroceres PIC). A empresa está utilizando a edi-

ção genética para produzir animais totalmente resistentes ao vírus da PRRS, enfermidade que provoca enormes prejuízos em vários países do mundo e que tem um impacto muito alto na mortalidade. Além das características de carcaça e de eficiência de crescimento dos suínos, observa Natalia, outro ponto importante para garantir maior eficiência aos sistemas de produção comercial é a robustez dos animais. O objetivo é usar o melhoramento genético para produzir o máximo em quantidade e qualidade de quilos de carne suína. Para isso, é importante que as características sejam mensuradas em condições de produção comercial e incluídas no programa como objetivo de seleção. A Agroceres PIC utiliza um programa específico para obter esses dados. O GNxBred avalia mais de 220 mil suínos por ano, em unidades de produção comercial. Com esses dados, combinados ao rápido avanço da genômica e da edição de genes no sistema de avaliação genética, a empresa pode selecionar as linhas genéticas para maior robustez e identificar os animais que possuem maior probabilidade de sobreviver até o final da produção e que, ao mesmo tempo, vão apresentar eficientes taxas de crescimento e um alto rendimento de carne. Um exemplo positivo disso é o incremento do peso médio dos leitões ao nascimento. Com o desenvolvimento de novas tecnologias e o refinamento das técnicas de seleção, a Agroceres PIC se tornou, em junho de 2018, a única empresa de genética suína no

FOTOS: ASSESSORIA DE IMPRENSA AGROCERES PIC

CAMBOROUGH AGROCERES PIC

Natalia Irano revela que Agroceres PIC se tornou a única empresa de genética suína no Brasil a iniciar a seleção direta para valores de cortes nobres e maciez da carne

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ARTIGO TÉCNICO

SUÍNOS

GESTAÇÃO DE SUÍNOS BOAS PRÁTICAS PARA A SAÚDE E BEM-ESTAR DOS ANIMAIS FOTO: ARQUIVO PESSOAL

O Por Karina Ferreira Duarte Especialista em Nutrição de Suínos da Vaccinar

bem-estar animal tem se tornado um dos temas mais discutidos pela indústria produtora de proteína animal nos últimos 20 anos. Alterações nas normativas de proteção e de bem-estar animal estão levando a mudanças do manejo da gestação individual para sistemas de alojamento coletivo. As vantagens são muitas. Mas especialmente sobre a gestação de suínos, a adoção de boas práticas possibilita a oferta de alimentos mais seguros para os consumidores e torna esses sistemas de produção mais rentáveis e competitivos.

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ENTRE AS BOAS PRÁTICAS DA GESTAÇÃO DE MATRIZES SUÍNAS, ESTÃO: superfície livre com área sem obstáculos para o movimento do suíno; climatização, com uso de ventilação por pressão negativa e conforto das fêmeas; pisos adequados, com qualidade e resistência.


Nas porcas, para a fecundação do óvulo utiliza-se preferencialmente a inseminação artificial em detrimento à monta natural, uma vez que ela possibilita o uso de sêmen de machos geneticamente superiores. As fêmeas que forem cobertas devem ficar em isolamento e observação até que se tenha certeza se estão prenhas. A observação de cada uma das matrizes deve ser feita diariamente, a fim de verificar se não houve o retorno do cio, abortos, alguma enfermidade ou presença de secreções. Após constatar a ausência de anormalidades até o 42º dia de gestação, é possível garantir que a fêmea está, de fato, em gestação. Existe também a alternativa do exame de ultrassom, que pode comprovar com grande precisão a gestação — desde que seja feito, pelo menos, 30 dias após a cobertura. As gestações duram, em média, 115 a 120 dias. Ou seja: três meses, três semanas e três dias, embora haja casos de até 140 dias — ou partos prematuros de 108 dias. Essa variação pode estar diretamente relacionada à genética utilizada.

COMO EVITAR PERDAS EMBRIONÁRIAS

Para se evitar perdas embrionárias, é importante que as porcas não sofram nenhum estresse desnecessário durante a gestação, principalmente até 30 dias após a fecundação, período considerado um dos mais críticos. Nesse sentido, o mais indicado é manter as porcas isoladas e em locais tranquilos e silenciosos, longe de possíveis fontes de estresse. Outro cuidado essencial a ser tomado com as fêmeas antes de serem levadas para a maternidade é a higienização do úbere e ventre, utilizando água morna e sabão. Isso ajuda a reduzir bactérias e outros agentes patogênicos que possam vir a causar infecções e diarreias nos leitões.

FOTO: BANCO DE IMAGEM

O PARTO NA GESTAÇÃO DE SUÍNOS

A duração média de um parto é de três a quatro horas e as placentas podem ser expulsas juntamente com cada leitão, entre os intervalos de nascimento ou ao final do parto — sem que isso seja considerado um problema. O intervalo fisiológico entre a expulsão de

Um dos cuidados essenciais a ser tomado com as fêmeas antes de serem levadas para a maternidade é a higienização do úbere e ventre, utilizando água morna e sabão leitões não é fixo. É necessário observar o comportamento da matriz para definir a necessidade de intervenção. De toda forma, qualquer intervenção por parte do criador só deve acontecer em caso de extrema necessidade. É muito importante saber reconhecer esses momentos para não realizar intromissões desnecessárias e, ao mesmo tempo, evitar a perda de leitões e fêmeas por negligências em relação ao parto. A fadiga no momento do parto é uma das possíveis causas para a ocorrência de distocias e natimortalidade. O fato de o estômago e intestino estarem repletos de alimentos são agravantes dessa situação. Por isso, sinais como matrizes vomitando ou defecando durante o parto são indícios de que o manejo de alimentação no pré-parto não está adequado e precisa ser revisto. Depois de finalizados os trabalhos de parto, aplicam-se os manejos indispensáveis com leitões recém-nascidos, para reduzir a perda de calor corporal, e deve-se direcionar os animais o mais rápido possível para a ingestão de colostro.

CUIDADOS COM A HIGIENE E ALOJAMENTO

Durante a gestação, devem ser realizados procedimentos de higiene e controle de parasitoses. Isso garante fêmeas saudáveis na maternidade e um controle sanitário mais eficiente. Banhos sarnicidas e controle de verminoses são indicados, quando necessário. Existem diferentes opções de sistemas para o alojamento das matrizes como gaiolas de gestação individual, sistema misto gaiola e baia, sistema de baias coletivas com alimentação no piso ou comedouros e baias coletivas com estação de alimentação. A escolha do sistema a ser utilizado depende do objetivo da criação, do mercado consumidor cuja produção será destinada e, por fim, da competitividade do produto final. Hoje, costuma-se usar o sistema confinado na criação de suínos em todo o mundo. Nes-

se cenário, os animais são mantidos dentro de instalações cobertas, sem acesso ao ambiente externo ou natural. Essa prática trouxe diversos benefícios para a produção, a exemplo do melhor controle zootécnico e sanitário dos animais, além da melhoria na produtividade e redução do custo de produção. Atualmente, existem alternativas economicamente viáveis para alojar as gestantes em grupos. As vantagens são melhoria da eficiência reprodutiva e da longevidade das matrizes, desde que manejadas de forma correta. Afinal, animais em equilíbrio social podem ser mais produtivos do que quando alojados em sistemas de gaiolas.

NUTRIÇÃO: ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS DURANTE A GESTAÇÃO

A alimentação durante a gestação de suínos e especialmente no período de pré-parto é um ponto de atenção. A nutrição contribui para que seja alcançada uma excelente condição corporal da porca na entrada para a maternidade e possibilita, assim, a obtenção de leitões de elevado peso e grande vitalidade, logo ao nascimento. Para tal, é indicado o fornecimento, uma ou duas vezes ao dia, de rações que contenham fibras — com balanço ideal de vitaminas e sais minerais. Além disso, devem ser utilizadas fontes de proteína de boa qualidade e que forneçam todos os aminoácidos essenciais para a formação do feto. Outra questão importante é o controle do ganho de peso durante a gestação de suínos. Esse fator prejudica a produção de leite e dificulta o parto e o ciclo produtivo, como um todo. Uma alimentação adequada da porca ao longo da sua vida produtiva resultará em melhor taxa de partos; prolificidade e maior longevidade. Outra vantagem é a obtenção de melhores resultados produtivos — maior número de leitões desmamados por porca ao ano e maior número de quilograma de carne ao ano. Confira outros artigos em https://nutricaoesaudeanimal.com.br

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AVES

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ESPECIALISTA

CARINA MORAES

FOTO: BANCO DE IMAGEM

Médica Veterinária com especialização em Nutrição de Aves e Suínos. Gerente de Negócios da BTA Aditivos

Quais os cuidados que devo ter com a água que ofereço às aves? Eurides Portela, Carazinho (RS) CUIDADOS FUNDAMENTAIS PARA UMA ÁGUA DE QUALIDADE Antes de ser utilizada é importante conhecermos a qualidade da água. Uma amostra dela deve ser encaminhada ao laboratório de análise para determinar contaminantes químicos e biológicos avaliando as condições como coloração, turbidez, dureza, ferro, pH, sólidos totais, nitrogênio, metais pesados e bactérias. LIMPEZA DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA Os bebedouros devem ser limpos diariamente utilizando uma escova. A água antiga deve ser removida, adicionando à escova um desinfetante para facilitar a remoção de su-

30 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019

jidades e micro-organismos e prevenir o desenvolvimento de fungos. A adoção de programas regulares de monitoria, limpeza e sanitização das linhas de distribuição de água é medida fundamental. Esses programas devem contemplar a proteção dos pontos de captação de água, com ações que evitem a contaminação das reservas subterrâneas e superficiais, a promoção e a manutenção da qualidade da água utilizada para as várias finalidades na granja. Assim sendo, recomenda-se que seja realizada: • Monitoria sistemática da qualidade microbiológica (duas vezes ao ano). Recomenda-se que sejam contempladas as colheitas de amostras da água do poço, reservatório e dos vários setores da granja; • Monitoria da qualidade química da água da fonte de captação (uma vez ao ano); • Limpeza e desinfecção das linhas de distribuição de água (duas vezes ao ano); • Limpeza e desinfecção nas linhas de distribuição dos galpões a cada saída de lote e, se necessário, com a presença de aves;

• Instalação e manutenção do funcionamento do sistema de purificação de água; • Instalação e manutenção do funcionamento do sistema de cloração de água, após a purificação; • Correção do pH para realização de vacinação, administração de medicamentos e nutrientes. MEDIDAS DE ELIMINAÇÃO DE CONTAMINANTES DA ÁGUA Toda água utilizada nos aviários, independente do aspecto julgado a olho nu, deve receber pelo menos dois tratamentos básicos antes de chegar ao bico das aves: filtração e desinfecção. Deve também ser considerado o tipo de fonte de abastecimento de água, superficial ou subterrânea, o que provoca variações do sistema de tratamento, já que as características da água bruta influenciam as técnicas de tratamento. A água de boa qualidade é de extrema importância para o bom desenvolvimento das aves, manutenção da saúde, e assim bons resultados de produtividade finais.


Trabalho com frangos de corte e pretendo migrar para postura. Vale a pena investir nesse mercado?

HENRIQUE BRAGA OLIVEIRA Zootecnista e Gerente Comercial da Nutron

Renato Souza – Jesuítas (PR) A migração de uma cadeia produtiva para outra deve ser baseada em uma avaliação do mercado onde o criador está inserido, tamanho de produção e mercado consumidor. Ambas as cadeias apresentam tendência de crescimento. O ovo está em plena expansão. Já o segmento de frango é um mercado mais competitivo de forma geral, com produtos diferenciados e formado por grandes players, mas também com espaço para o setor regionalizado. A análise para iniciar um novo negócio, não deve levar em conta somente a rentabilidade, mas uma avaliação criteriosa de mercado. Ambos têm um apelo semelhante, que é a transformação do grão em proteína nobre. É preciso analisar também expectativas de mercado, público consumidor, possibilidade de agregação de valor ao produto e concorrência.

FOTO: FREEPIK

ESPECIALISTA

Vestibular e Seletivo

acesse o site e inscreva-se

vestibular.unoesc.edu.br

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COBERTURA

SBSA TEM PÚBLICO

RECORDE Palco de importantes discussões sobre os avanços tecnológicos e descobertas do segmento, o evento reuniu mais de 2 mil profissionais de toda América Latina.

As expectativas foram superadas ao registrar público recorde. “O evento desse ano foi fantástico, com lotação máxima. Houve também número recorde de patrocinadores, com 80 empresas patrocinando o evento e 44 expositores. Cria agora um desafio para o próximo ano, para avaliarmos de que maneira podemos evoluir na próxima edição”, afirmou o presidente do Nucleovet, Rodrigo Santana Toledo.

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

C

om fatores climáticos e características geográficas altamente favoráveis, o Brasil é referência na produção de alimentos. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal mostram que mais de 150 mercados são importadores da carne de frango made in Brazil. O setor de avicultura movimenta entre produtores, funcionários de empresas e profissionais vinculados direta e indiretamente ao segmento, mais de 3,5 milhões de trabalhadores. Por ser um mercado bastante competitivo, as diferentes cadeias produtivas passam por constantes atualizações, que visam a melhora de resultados, não só em produtividade, mas também no desempenho econômico, já que o setor contribui de forma significativa para a economia do país. “O mercado mundial e brasileiro de carnes” foi o tema proferido pelo consultor Gordon Butland, diretor da G&S Agriconsultants, durante o 20º Simpósio Brasil Sul de Avicultura, realizado entre os dias 2 e 4 de abril, em Chapecó-SC. O evento reuniu mais de 2 mil profissionais de toda a América Latina, que conferiram a programação técnica com 16 palestras de alto nível e a 11ª Poultry Fair. Realizado pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas/ SC (Nucleovet), o SBSA tem como propósito crescente nessas duas décadas reunir e apresentar as principais novidades do segmento, com os mais relevantes assuntos de sanidade, nutricionais e de mercado, sendo palco de importantes avanços tecnológicos e descobertas. Veja mais sobre o SBSA 2019 assistindo ao vídeo

POULTRY FAIR A 11ª Poultry Fair reuniu renomados profissionais, que representaram as grandes empresas do segmento. Confira:

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VETANCO

SUIAVES

Cinthia, Fabio, Caola, André, Gilmara, Santiago, Mauro, Igor, David, Neimar, Adair, Caroline, Vidal, Rodrigo, Liezer, Fabrizio, Bruno, Felipe, Santana e Thiago.

Fernando, Paula, Thiago, Luiz Eduardo, Marcos, Maycon, Pedro e Gabriela


SBSA NA VISÃO DOS PROFISSIONAIS DSM

Soluções técnicas

“Acreditamos muito no evento, pois promove o networking entre indústria, área técnica e universidades. Nós apoiamos o simpósio desde o início e recebemos o prêmio de 15 anos de participação como patrocinador. O SBSA permite conversarmos com os clientes e entendermos a problemática deles. O evento traz soluções técnicas e nós também somos uma empresa de inovação e soluções, então vamos caminhando juntos”. RODOLFO PEREYRA, diretor de negócios de nutrição animal DSM – Paraguai, Uruguai e Brasil

FARMABASE

FOTOS: FERNANDO NAVARRO

Referência técnica

“O SBSA é um evento que participamos há bastante tempo, desde o segundo ano, como apoiador e patrocinador. Se consolidou como uma referência técnica na avicultura nacional e permite agregar não só fornecedores, mas produtores e todas as pessoas que tomam decisões na cadeia da avicultura, em um ambiente descontraído e acessível. Para nós é uma satisfação apoiar uma iniciativa que surge a partir de médicos veterinários que fizeram o evento se tornar uma realidade”.

EUROTEC NUTRITION

Integração com o mercado

“O simpósio estreita o contato com os fornecedores e com o mercado de forma geral, principalmente por reunir todo esse público em um só local. É um evento de grande magnitude no Brasil. A Eurotec é uma das patrocinadoras oficiais. Acreditamos no simpósio e sabemos que integrar a iniciativa é um grande diferencial para a empresa”. VINICIUS AMARAL, coordenador de marketing da Eurotec Nutrition

VITOR FRANCESCHINI, diretor comercial da Farmabase

KEMIN

BIOCAMP

AVIAGEN

Thiago Nannini, Nilo Costa, Leonardo Silva, Francisco Bolejal, Patrícia Aristimunha, Márcio Rocha, Natália Vicentini e Fabrício Fanti

Adriano dos Santos, Ivan Lee, Jaqueline Boldrin, Luiz Caron, Teresa Ruocco, Bauer Alvarenga e Paulo Martins

Bárbara Vargas, Fábio Carnevale, Luiz Mansano, Marco Aurélio Araújo e Felipe Kroetz

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COBERTURA NOVIDADES DAS INDÚSTRIAS YES

ZOETIS

Vacina contra Salmonella

Análise de toxinas

A principal novidade que trouxemos para o simpósio é o fortalecimento do trabalho do projeto YES MycoNIR, que é a análise de toxinas através do equipamento de NIR.A iniciativa vem conferindo muita agilidade nas formas de avaliação dos riscos e dos desafios de micotoxinas”. LEONARDO MARQUES RIBEIRO, gerente regional de vendas da Yes - Sul, Norte e Nordeste

PHIBRO

Apresentamos a Poulvac ST, vacina viva contra a salmonella. Vivemos um momento de redução da aplicação de antibióticos e a Zoetis fomenta esse uso responsável através de prescrição, na dosagem certa, pelo período certo. Com o crescimento do uso de vacinas de salmonella, principalmente por conta da liberação em matrizes, essa vacina viva ganhou maior visibilidade no mercado. Temos crescido muito no setor de frango de corte, é nossa grande aposta, e a vacina é uma das principais ferramentas de controle, aliada ao programa de biossegurança”. EVA HUNKA, gerente de produtos Zoetis

Realidade virtual

Durante o simpósio trabalhamos nosso novo treinamento, o AVIS - Assistência Veterinária e Integralidade Sanitária, construído em realidade virtual e pensado para o bem-estar dos animais. A Phibro preza pela saúde intestinal e os produtos da marca têm como foco esta necessidade. A proposta do AVIS é apresentarmos as partes teórica e prática, em realidade virtual, analisando, por exemplo, necropsia e lesões”. THACIANE SOARES, gerente de serviço de marketing e inteligência de negócios da Phibro

ELANCO

BOEHRINGER INGELHEIM

TECTRON

Marcos Kipper, Alan Klein, Priscilla Koerich, Deyse Galle, Leticia Dal Berto, Fernando Miguel, Thaís Kievitsbosch, Leticia Gutierrez, Jéssica Reple, Ronaldo Oliveira, Arita Postal, Sthefanie Dassi e Ricardo Bellaz

Alencar Muller, Lourenço Sausen, Abilio Alessandri, Emerson Godinho e Leandro Selau

Romilton, Marlene, Andreia, Daniel, Edson, Antônio, Matias e Sebastião

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PRODUTOS ELANCO

AviPro™Salmonella Duo

O produto destaque da Elanco durante o SBSA foi a vacina AviPro™Salmonella Duo, uma vacina viva inovadora, e já consagrada no exterior, que garante proteção precoce e duradoura às matrizes do primeiro dia de vida até o fim do ciclo de produção. Graças ao seu exclusivo processo de co-fermentação, a AviPro™Salmonella Duo é a única vacina do mercado capaz de conferir proteção homóloga contra Salmonella Enteritidis e Salmonella Typhimurium. "Esses são os patógenos alimentares mais prevalentes em todo o mundo no caso de infecções alimentares. Com a AviPro™Salmonella Duo, em uma única vacina você protege contra ambas. Trata-se de uma ferramenta importante para o controle da Salmonella no Brasil", afirma Deyse Galle, gerente de Marketing e Serviços Técnicos para Avicultura da Elanco Brasil. "Por proteger contra os dois patógenos na mesma dose, dispensa um manejo vacinal. Além de ser a única associação com eficiência comprovada contra estes dois sorovares". A AviPro™Salmonella Duo é uma vacina viva, que se diferencia de seus concorrentes por possuir período de carência de apenas 21 dias. As vacinas vivas são muito eficientes por estimularem tanto a imunidade mediada por célula quanto a imunidade humoral de mucosas. As vacinas AviPro™, além de sua resposta imune, são facilmente administráveis (água de bebida) e garantem proteção a partir de 24 horas após a sua administração.

BTA

Tecnologia antissalmonella

Em sua primeira vez no evento, a BTA levou soluções para os desafios sanitários e apresentou seu lançamento no combate aos micro-organismos. A grande novidade foi o antissalmonela Saltech Sani Pró, solução com elevado poder de ação antimicrobiana e alta eficiência contra bactérias, fungos e leveduras. Sua formulação é indicada para redução e controle da salmonella em rações e matérias-primas de origem animal e vegetal, e atua também com alta efetividade no controle sanitário dentro das fábricas. Sua fácil aplicação e ausência de riscos de corrosão ou incrustação não permitem a contaminação cruzada após o fim do seu efeito. Desenvolvido à base de sais orgânicos, Saltech Sani Pró é produzido através de um processo de microencapsulação. Sua rápida evaporação permite que se tenha um efeito residual no ambiente tratado. “Saltech Sani Pró traz um resultado incrível contra micro-organismos. Nossos resultados comprovam sua eficiência e fácil aplicabilidade”, destaca o zootecnista Jorge Kracker, gerente técnico da BTA.

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 35


ARTIGO TÉCNICO

AVES

Imunonutrição FOTO: ARQUIVO PESSOAL

P Lúcio Francelino Araújo e Cristiane Soares da Silva Araújo Universidade de São Paulo Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Pirassununga - SP

EM AVES

or muito tempo era comum afirmar que a produção de aves era mantida sobre três princípios básicos: a genética, a nutrição e o manejo, sendo que o manejo compreendia todas as práticas relacionadas à criação das aves, bem como o seu manejo sanitário. Um fato interessante é que tratávamos estes princípios como fatores independentes e com pouca ligação entre eles. Com o passar dos anos, a avicultura se tornou ainda mais especializada. Novos conceitos, como o de biosseguridade e de bem-estar animal, surgiram. Foi necessário associar os princípios, anteriormente citados, com estes novos conceitos. Quando falávamos em imunidade, o conceito básico era a produção de um status sanitário através da proteção vacinal. A nutrição, por outro lado, tinha como único objetivo o desenvolvimento do animal para alcançar melhor ganho de peso e conversão alimentar. Entretanto, neste ponto, podemos fazer o seguinte questionamento: seria possível associarmos estes dois princípios para garantir o melhor desempenho das aves? Para alguns colegas, esta possibilidade seria um mito, por acreditarem não existir qualquer relação entre estes princípios. Para outros, embora seja possível, esta associação se torna inviável, já que o custo nutricional para estimular a imunidade dos animais é muito alto. Por outro lado, há aqueles que têm demonstrado, através de trabalhos de pesquisa, que sim, é possível melhorar a resposta imunológica dos animais através do aporte nutricional de uma dieta. Inicialmente, para discorrermos sobre os efeitos da nutrição sobre a resposta imunológica das aves, devemos lembrar que a nutrição não é, e não será, a varinha mágica que irá resolver todos os problemas sanitários da avicultura. Isto requer um esforço integrado envolvendo a fisiologia, o metabolismo, a genética e a imunologia. As aves possuem um sistema imunológico funcionalmente imaturo à eclosão, com baixa resposta humoral, uma sucessiva colonização intestinal por mi-

Através da nutrição, podemos diminuir a presença de patógenos, assegurando um menor estímulo do sistema imune, melhorando a saúde intestinal e proporcionando melhor desempenho 36 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019

crorganismos patogênicos, sendo que os anticorpos maternais e o sistema imune inato fornecem proteção para as aves somente nos primeiros dias de vida. Esta informação é particularmente importante, e preocupante, para a criação de frangos de corte, o qual apresenta um ciclo de criação curto e que a primeira semana de idade representa cerca de 20% do seu período de criação. Desta forma, o que pode ser feito para assegurarmos um desenvolvimento adequado dos animais? Existem vários mecanismos de modulação nutricional que podem influenciar na resposta imune dos animais, conforme descrito no Quadro 1. QUADRO 1 - MECANISMOS DE MODULAÇÃO NUTRICIONAL DA RESPOSTA IMUNE (KLASING, 1998)

MECANISMO

NUTRIENTES

Desenvolvimento do SI

Ácido linoléico, Fe, Vit A

Fornecimento de substratos para o SI

Todos nutrientes

Imunidade Nutricional

Fe e biotina

Mudanças do meio hormonal

Energia, proteina

Ações diretas no SI

Vit A, D, E, AGI

Redução de patologias

Vit E

Ações físico-químicas Fibra, lipídeos de alimento no intestino peroxidados, lecitinas

Um aspecto importante a ser considerado quando o assunto é imunonutrição seria a diminuição da produção de citocinas. As citocinas são produzidas pelo próprio organismo em resposta à presença de um antígeno. A produção de citocinas resulta na inibição da síntese proteica muscular, no aumento da degradação protéica, estimula a síntese de proteína de fase aguda e a produção hormonal por células gordurosas. Diante deste contexto, é necessário a degradação de 1.900 mg de proteína para fornecer a quantidade suficiente de fenilalanina para suportar a síntese de proteína de fase aguda. Em outras palavras, a produção de citocinas é antagonista à deposição protéica nas aves, resultando em prejuízos econômicos (Tabela 1). Desta forma, a biosseguridade de uma granja se inter-relaciona com o conceito de imunonutrição já que quanto melhor for a biosseguridade de uma granja menor será a presença de antígenos que irão desencadear a produção de citocinas pelo sistema imunológico dos animais.


TABELA 1 - EFEITOS IMUNOLÓGICOS E METABÓLICOS DAS CITOCINAS PRODUZIDAS PELOS MACRÓFAGOS (JOHNSON ET AL., 2010).

IL - 1

IL - 2

Fator - α

EFEITOS IMUNOLÓGICOS Ativação dos linfócitos

Ativação dos linfócitos

Inflamação

Produção de anticorpos Síntese de proteína de fase aguda EFEITOS METABÓLICOS Degradação da proteína muscular

Degradação da proteína muscular

Degradação da proteína muscular

Redução da síntese proteica muscular

Redução da síntese proteica muscular

Redução da síntese proteica muscular

Febre

Febre

Febre

Anorexia

Síntese de proteína fase aguda

Anorexia

Zn, Fe, Cu

FOTO: SHUTTERSTOCK

Devemos considerar também a importância do microbioma intestinal e sua interação com o ambiente, a ave e a dieta (Figura 1). Assim, através da nutrição, podemos diminuir a presença de patógenos, assegurando um menor estímulo do sistema imune, melhorando a saúde intestinal e proporcionando melhor desempenho dos animais, através de diferentes alternativas (Tabela 2). FIGURA 1 - MICROBIOMA INTESTINAL E SUA INTERAÇÃO COM A AVE E A DIETA

DIETA

• Componentes da dieta e promotores de crescimento modulam o microbioma intestinal • Prebióticos favorecem o crescimento de bactérias benéficas

MICROBIOMA CAMA

AVE

• Interação entre microbioma intestinal e sistema imune • Microbioma influencia morfologia e fisiologia intestinal • Interação nutricional entre ave e o microbioma intestinal

MICROBIOMA INTESTINAL

• Microbioma da cama afeta o microbioma intestinal das aves quando aves ingerem microrganismos da cama • Bactérias intestinais influenciam os microrganismos da cama

• Competição por nutrientes e sítios de ligação • Produção de substâncias bactericidas e bacteriostáticas

TABELA 2 - ALTERNATIVAS PARA IMUNONUTRIÇÃO

Antibióticos melhoradores do desempenho

Palatabilizantes

Ácidos orgânicos

Vitaminas

Plasma sanguíneo

Minerais

Leveduras

Fontes protéicas

Extratos vegetais

Probióticos

Enzimas

Prebióticos

Adsorventes

Simbióticos

Fibras

Aminoácidos

Ácidos graxos

etc.

Desta forma, a imunonutrição representa uma ferramenta importante que pode auxiliar a avicultura a produzir animais mais saudáveis, com melhor desenvolvimento e, ao contrário do que se imagina, com menor custo de produção. Existem várias possibilidades nesta área. Desta maneira, procure aquela que melhor se adeque à sua realidade.

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 37


AVICULTURA

OVOS DE

OURO

Ainda tímidos perante outros produtos exportados pelo agronegócio, os ovos estão se mostrando mais valiosos a cada ano. E o resultado disso é a parcial de exportação em 2018, que chegou a 13,08 mil toneladas, uma alta de 29,5% em relação ao ano de 2017.

Por Tuanny de Paula

O

alto valor não está apenas em suas características nutricionais, mas também na movimentação econômica gerada pelas produção de ovos. Em alta escala no Brasil, principalmente na região Sudeste, a atividade está em franca expansão. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) voltados para a Produção de Ovos de Galinha, entre os meses de janeiro e outubro de 2018, a exportação do produto chegou a 54 milhões de dólares, apresentando um crescimento de 30,1% em relação ao ano anterior. Em termos de embarques, o país embarcou na parcial do ano passado 13,08 mil toneladas de ovos, uma alta de 29,5% frente ao ritmo de embarques apurado até outubro de 2017. Porém, analisando de maneira geral em relação as outras exportações realizadas pelo Brasil, os números de exportações de ovos ainda representam menos de 1%. De

acordo com o último relatório - de 2016 publicado pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o mercado interno ainda concentra 99,57% do destino da produção de ovos e apenas 0,43% segue para o mercado externo. Mas isso não é um problema, segundo a analista técnica da ABPA, Tabatha Silvia Rosini Lacerda, pois o país é um grande produtor do segmento. “Estamos em 6º lugar na produção mundial e temos muito espaço para crescimento”, afirma. Prova disso são os números dos últimos dez anos. Em 2008 a produção de ovos era de 27.495.600.000 bilhões e em 2018 esse número saltou para 44.487.496.586 bilhões de unidades. Em 2017, a região Sudeste foi responsável por 44,8% do total produzido, seguida pelo Sul, com participação de 24,1% na produção nacional. O estado de São Paulo concentrou 26,4% do total de ovos.

FOTO: SHUTTERSTOCK

38 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019


2018

2017

99,57% mercado interno

54

milhões de dólares

30,1%

de crescimento

DESTINO DA PRODUÇÃO DE OVOS 13,08

mil toneladas de ovos

29,5%

de crescimento

0,43% mercado externo

OVO COMO FONTE NUTRICIONAL E DE RENDA

Tabatha Lacerda também atua no Instituto Ovos Brasil, entidade sem fins lucrativos criada em 2007 com objetivo de esclarecer a população sobre as propriedades nutricionais do ovo, os benefícios que este alimento proporciona à saúde, além de desfazer mitos sobre seu consumo. A técnica explica que somente nos últimos quatro anos, registrou-se um aumento de Em 2018, o valor pelo menos 50% nos preços de dos ovos exportados comercialização. “O setor tem pelo Brasil seguiu como desafio o crescimento relativamente estável. sustentável ligado ao aumento O preço do ovo foi de, de lucratividade para os proem média, dutores e o aumento no consumo do ovo por parte da por quilo, valor apenas população. Além de beneficiar 0,5% superior à média toda a cadeia produtiva, o obde preços no mesmo jetivo de aumentar o consumo período de 2017. tem grande impacto na qualidade da nutrição do brasileiro”, comenta.

US$4,13

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 39


“Estamos em 6º lugar na produção mundial e temos muito espaço para crescimento”, Tabatha Silvia Rosini Lacerda, analista técnica da ABPA.

MANTIQUEIRA: A MAIOR GRANJA DO BRASIL E DA AMÉRICA DO SUL

linhagens brancas e 10% de linhagens vermelhas, totalizando 11,5 milhões de aves. Todo esse número de animais fez com que a granja produzisse aproximadamente 2,4 bilhões de ovos em 2018. da distribuição de seus

Como se trata de um produto muito frágil, a Mantiqueira é a responsável por mais de

Com mais de 30 anos de atividades, o Grupo Mantiqueira é atualmente o maior produtor de ovos do Brasil e da Améprodutos, com uma frota rica do Sul. A Mantiqueira moderna de mais de também é uma das 12 200 caminhões. maiores granjas do mundo, produzindo mais de 2 bilhões de ovos por ano e exportando para seis países, principalmente do Oriente Médio, África e Ásia. A sua trajetória começou na Serra da Mantiqueira e hoje o grupo conta com quatro produtoras nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Rio de Janeiro, abastecendo 25 estados brasileiros com seus produtos. O exponencial crescimento fez com que em 2002, a Mantiqueira adquirisse a granja Santa Clara. Com o objetivo de se tornar a granja mais admirada do agronegócio do País, a Mantiqueira conta com diversas linhagens específicas de galinhas poedeiras. O plantel atual é composto por 90% de galinhas de

90%

11,5

milhões de aves

2,4

bilhões de ovos em 2018

40 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019

E os resultados positivos são consequência da colaboração de diversas pessoas. Segundo o presidente do Grupo Mantiqueira, Leandro Pinto, a empresa conta com um corpo técnico composto por profissionais especializados, como médicos veterinários e Zootecnistas, que constantemente promove melhorias para o desenvolvimento das aves e maior alcance de resultados por meio da produção da ração, que é elaborada internamente para cada fase de vida das galinhas. A granja atua com diversos métodos de produção que vão desde o convencional até os sistemas Cage Free e Caipira. Cada um deles possui necessidades específicas que são todas atendidas conforme normas regulatórias e boas práticas do segmento. Além disso, o Grupo possui um amplo programa de vacinação objetivando prevenir diversas doenças nas aves. Nos últimos anos, a empresa realizou investimentos em equipamentos para melhoria da climatização nos ambientes de alojamento das aves, visando atingir um alto padrão no cuidado com as galinhas e consequentemente, na qualidade dos ovos produzidos.

Conheça mais sobre a Granja Mantiqueira neste vídeo:

“A Mantiqueira foi a primeira a desenvolver granjas totalmente automatizadas, mudando o cenário da avicultura no Brasil através da implantação de novas tecnologias”, Leandro Pinto, presidente do Grupo Mantiqueira.

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA MANTIQUEIRA

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA ABPA

AVICULTURA


SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 41


FALE COM O ESPECIALISTA

BOVINOS

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Você tem dúvidas sobre manejo, nutrição ou sanidade em sua propriedade? Profissionais altamente capacitados podem lhe ajudar. Envie sua pergunta através de nossas redes sociais e ela poderá ser respondida neste espaço. ESPECIALISTA

RODRIGO ANSELMO

FOTO: RAWPIXEL

Zootecnista e diretor técnico da Nutratta Nutrição Animal

Qual a doença mais comum que acomete bovinos de leite? Mariana dos Santos Ribeiro – Chapecó – SC É difícil dizer a “doença que mais acomete bovinos leiteiros (vacas em lactação)”, mas as principais, sem dúvida, são:

1

Doenças da glândula mamária: geralmente causadas por microrganismos (bactérias) e desencadeadas por problemas de como a ordenha é feita ou no local onde as vacas permanecem. Tem como sintoma úbere inchado, avermelhado, afetando a qualidade do leite com presença de grumos. O maior prejuízo desta enfermidade é na redução direta da produção de leite do animal.

2

Claudicação ou enfermidades do casco: podem ser causadas por problemas do piso onde o animal passa a maior parte do tempo, ou seja, por trauma ou abrasão. Como também pode ser causada por um agente biológico (microrganismo), infecciosa. Tem como característica prejuízo na locomoção da vaca com reflexos desde a reprodução até à produção de leite.

3

Doenças metabólicas: as mais comuns são a hipocalcemia e a cetose. A primeira, também conhecida como "febre do leite" é muito comum ocorrer no início da lactação em decorrência da não manutenção da homeostase do cálcio levando a um quadro de ba-

42 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019

lanço negativo desse mineral que pode perdurar por meses. Isso diminui a função muscular aumentando o risco de lesões (animal tende a ficar deitado) e pode culminar com um quadro de torção de abomaso. Já a cetose, ocorre devido a uma desordem do metabolismo energético da gordura durante momentos de aumento de sua utilização pelo fígado impactando diretamente na produção de leite, podendo culminar com sua morte.

4

Retenção de placenta: é caracterizada pela não liberação da placenta em até 12 horas após o parto ou nascimento da bezerra(o) podendo chegar à 30% dos partos normais numa propriedade leiteira. As origens do problema são diversas, desde o estresse térmico à distocia de parto. Também podendo sofrer influência de ordem nutricional. O prejuízo dessa enfermidade vai impactar por toda a lactação da vaca com sérios prejuízos econômicos.

5

Metrite: é uma infecção uterina que ocorre nos primeiros dias após o parto com sintomas que vão desde toxemia, febre, depressão de consumo e queda na produção de leite. Geralmente a vaca apresenta um corrimento uterino de odor fétido. O diagnóstico exato, bem como o tratamento devem ser discutidos com o médico veterinário que acompanha a propriedade.


SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 43


BOVINOS “A sociedade está cada vez mais preocupada com o uso de antibióticos e cada vez se exige mais das indústrias e dos governos que se controle esse uso”, Daniel Zalduendo, médico veterinário e gerente do laboratório espanhol da Hipra Saúde Animal.

ANTIBIÓTICOS: MENOS É

MAIS

A redução do uso de antibióticos no mercado lácteo já é um assunto apontado por diversos países e até mesmo pela Organização Mundial de Saúde. O caminho para essa atitude é longo, mas já conta com ações de conscientização.

44 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019


J

á diz o velho ditado: menos é mais. E se engana quem pensa que ele se aplica somente nas ações humanas. Na produção animal, muitas vezes, a utilização de menos substâncias, como os antibióticos, resulta em uma melhor qualidade no produto final. Nos últimos anos, o agronegócio tem se voltado para esse assunto. Isso porque, a alta utilização de antibióticos para tratar doenças acaba refletindo na detecção de bactérias e outros patógenos prejudiciais para a saúde humana. Na cadeia produtiva do leite, os antibióticos são utilizados no tratamento das principais doenças. Segundo o médico veterinário e gerente do laboratório espanhol da Hipra Saúde Animal, Daniel Zalduendo, dentre essas enfermidades, a mastite é a principal, sendo a mais custosa e de maior uso de antibióticos. “Setenta por cento desses medicamentos produzidos são destinados para o tratamento de mastites e são a principal causa de resíduos no leite”, revela. No entanto, além da via intramamária, o uso de antibióticos acontece por via oral (dieta), intramuscular e intra-uterina, podendo resultar também em resíduos no produto final. Após a aplicação, os antibióticos são absorvidos pela corrente sanguínea, e posteriormente, podem ser liberados no leite, de acordo com a característica de cada remédio. Por isso, durante o uso dos medicamentos, o pecuarista precisa cumprir os protocolos de qualidade e descartar o leite no período de tratamento. Em 2013, pesquisas apontaram que a estimativa de prejuízo com o tratamento de mastites nos Estados Unidos se aproximava de 1,8 bilhão/ano de dólares. Já no Brasil, a alta prevalência da enfermidade nos rebanhos causava um prejuízo na produção de 12% a 15%, ou seja, 2,8 bilhões de litros/ano.

MOVIMENTO DE REDUÇÃO POR MAIS QUALIDADE DO LEITE

FOTO: FERNANDO NAVARRO

Os antibióticos não devem ser utilizados para manutenção da sanidade e bem-estar animal, mas sim exclusivamente para tratar enfermidades. Porém, principalmente em períodos

Em alguns países, aproximadamente

de seca, o produto é apliem vacinas. "Temos o cado para prevenir infeccompromisso de reduzir ções causadas pelas o uso de antibióticos. do consumo total de mudanças climáticas. Para este fim, o trabaantibióticos importantes Nos últimos anos, lho está sendo realizaestá no setor animal, um movimento para a do em fazendas, proem grande parte redução do uso de antimovendo a qualidade para promoção do bióticos na produção leido leite e reduzindo o crescimento em teira começou na Europa. uso desses medicamenanimais saudáveis. Os países desse continente tos, sempre pensando em prevenção. Um exemplo desse são considerados pioneiros quando se trata do assunto, pois percompromisso é a vacina contra ceberam que o controle do uso desses medimastite Topvac", explica Zalduendo. camentos eleva a produtividade do animal, Ele também ressalta que programas de gerando resultados positivos. incentivo para reduzir o uso de antibióticos, Segundo Zalduendo, outro fator levado que possam premiar produtores que eleem conta foram as opiniões dos consumivam a produção e seguem as diretrizes de dores. “A sociedade está cada vez mais prequalidade do leite, assim como multar ocupada com o uso de antibióticos e cada aqueles que não seguem, tornam o sistema vez se exige mais das indústrias e dos gomais justo. vernos que se controle esse uso”. “A redução é importante porque, primeiro há uma preocupação do consumidor com o Quem também chamou a atenção para o que ele se alimenta. Segundo pela saúde dos assunto foi a Organização Mundial de Saúanimais, pois se abusarmos do uso de antide (OMS), ao declarar que os produtores e a indústria alimentar precisam reduzir o uso bióticos, podemos criar resistências que não de antibióticos rotineiramente para promoirão mais curar os animais. E terceiro, pelo ver o crescimento e prevenir doenças em próprio benefício econômico. Se conseguiranimais saudáveis. mos prevenir essas enfermidades, a vantagem econômica aumenta, porque enfermidades, como as mastites, impactam na EXEMPLO DE SUCESSO produção dos animais”. Na Holanda, foram implementadas leis para reduzir o uso de antibióticos. Em três anos já foram reduzidos em torno de 50% dos ECONOMIA ATRAVÉS DA PREVENÇÃO medicamentos para tratar os animais. Zalduendo explica que isso aconteceu após um Por isso, o primeiro passo ao verificar a exiscompromisso entre governo, produtores, tência de enfermidades no rebanho é sepamédicos veterinários e empresas privadas. rar os animais saudáveis dos doentes. Ao “Agora cada tratamento prescrito tem de iniciar o tratamento com antibióticos é neser registrado em um sistema central que é cessário descartar o leite, pois estarão aprecontrolado pelo governo holandês. Com sentando resíduos da medicação. Normalmente o período de tratamento dura em isso, se tem acesso as médias de uso e é possível pensar em estratégias de prevenção torno de três a cinco dias. e qualidade de vida do animal e do produto”. Zalduendo ressalta que os esforços e inNo Brasil, o caminho para essa redução vestimentos destinados ao tratamento e a ainda é longo. Porém, iniciativas de indúsprevenção, evitam as doenças e diminuem trias privadas já começam a aparecer no o impacto econômico. “Se trata de mudar cenário leiteiro. Um exemplo é o laboratório um tratamento reativo para um modelo preventivo, evitando que mastites e demais Hipra. Especializada em prevenção, mais de 80% do faturamento da empresa é baseado afecções surpreendam a produção láctea”.

80%

Na Holanda, foram implementadas leis para reduzir o uso de antibióticos. Em três anos já foram reduzidos em torno de 50% dos medicamentos para tratar os animais.

Confira a visita de Daniel Zalduendo a uma propriedade em Guatambu (SC) e os bastidores da produção deste conteúdo

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 45


ARTIGO TÉCNICO

O estresse oxidativo e o METABOLISMO ANTIOXIDANTE Por Garros Fontinhas, Adisseo América do Sul e Pierre-André Geraert, Adisseo França

P

ara acompanhar as demandas de um mercado cada vez mais exigente em custo e qualidade, as cadeias produtivas de proteína animal precisam se superar a todo momento. É nesse ambiente que a eficiência da produção ganha destaque, evitando desperdícios e maximizando o desempenho animal. Os modelos atuais de produção, nutrição e sanidade precisam estar alinhadas com o desafio produtivo ao qual os animais estão submetidos. O estresse oxidativo é o resultado do desbalanço entre produção de radicais livres e a capacidade do metabolismo antioxidante. Os radicais livres são produzidos a todo momento no metabolismo celular (respiração) e são essenciais à eficiência da respos-

46 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019

ta imunológica, pois o bombardeamento de radicais livres sobre os patógenos é uma etapa comum aos agentes imunológicos, sejam eles de resposta inata ou adaptada. Quanto maior o desafio fisiológico de ganho de peso, assim como o desafio sanitário, maior será a produção de radicais livres. Se o animal não tiver capacidade antioxidante à altura desse desafio oxidante, a eficiência produtiva e a qualidade do produto final são comprometidos, causando perdas de conversão alimentar, ganho de peso, reduzindo o tempo de prateleira de carnes e ovos e ainda deteriorando características organolépticas dos produtos finais. A eclosão dos ovos, o desmame e as primeiras fases da vida são períodos de desa-

fios para os animais jovens, resultando frequentemente em um estado de estresse oxidativo, o que significa que os animais estão mais suscetíveis a doenças. Na maioria dos casos, o estresse oxidativo tem sido observado pelo seu efeito na oxidação lipídica. Todas as células são cobertas por uma dupla camada fosfolipídica e dessa maneira, reduzir a oxidação lipídica irá ajudar a manter a integridade celular, aumentado a resistência a um ambiente agressivo. Entretanto, as proteínas também são alvos das espécies reativas de oxigênio (ERO), e mesmo uma leve oxidação de uma enzima irá acarretar em perda de sua função, afetando o desenvolvimento muscular e também a qualidade da carne ou de ovos.

FOTOS: PIXABAY E PXHERE

O selênio orgânico se torna mais efetivo à medida que novas moléculas puras de selênio chegam ao mercado.


O metabolismo antioxidante atua por meio de diversas moléculas e mecanismos, dentre eles os ciclos da vitamina E e C, sistemas enzimáticos de glutationa, superóxido dismutase e catalase e ainda enzimas seleno-dependentes como glutationa peroxidase, metionina sulfoxi redutase. Dentre esses sistemas, se destacam as enzimas seleno-dependentes, ou selenoproteínas, pois otimizam os demais ciclos antioxidantes, pelo reaproveitamento das vitamina E e C, da glutationa, além de capturar radicais livres evitando assim a oxidação de proteínas e lipídios.

MAS O QUE É SELÊNIO?

Na tabela periódica, o selênio (Se) está alocado na família dos calcogênios, mesma família do oxigênio e do enxofre, porém possui massa atômica maior e maior facilidade em doar elétrons. Devido a essa facilidade em doar elétrons é um elemento bastante reativo quando na forma livre, e por isso também é bastante tóxico aos animais e plantas. O Se está presente no solo nas formas inorgânicas (livre), como selenito e selenato de sódio. Os vegetais o absorvem pelo sistema radicular nessas formas livres, reativas, e como não possuem mecanismo de excreção de Se, metabolizam esse Se livre em uma forma orgânica e estável, denominada

Selenometionina (SeMet), onde o Se substitui o enxofre no interior do esqueleto carbônico da metionina. A SeMet é a única forma estável e armazenável de Se, seja nos vegetais ou nos animais. No metabolismo animal, ela pode substituir a metionina em todos os metabolismos, podendo inclusive ser incorporada às proteínas corporais, gerando assim um estoque de Se. Já as moléculas antioxidantes seleno-dependentes utilizam a selenocisteína (SeCys) em seus sítios ativos, justamente porque a selenocisteína possui uma alta reatividade, inclusive superior à da cisteína. Quando a SeCys substitui uma cisteína no sítio ativo de uma molécula antioxidante, a capacidade antioxidante desta molécula é potencializada. Diferentemente da SeMet, a SeCys possui alta

reatividade e por isso não é encontrada livre no organismo animal. A SeMet só é transformada em SeCys em uma enzima antioxidante. Quando o animal recebe dieta com suplementação de Se inorgânico, selenito ou selenato, ambas as formas são imediatamente transformadas em seleneto de hidrogênio (H2Se), uma forma extremamente tóxica e reativa, precursora da excreção, mas que possibilita uma pequena produção de SeCys dentro das moléculas antioxidantes. Porém, por ser tóxico e reativo, o H2Se é excretado muito rapidamente, sendo útil à produção de enzimas durante um curto período de tempo. O resultado da suplementação de Se inorgânico é a produção sub-ótima de enzimas seleno-dependentes e a ausência de armazenamento de Selênio. Logo a taxa de aproveitamento (retenção) do selenito pode ficar abaixo de 1%.

A eclosão dos ovos, o desmame e as primeiras fases da vida são períodos de desafios para os animais jovens, resultando frequentemente em um estado de estresse oxidativo, o que significa que os animais estão mais suscetíveis a doenças. SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 47


ARTIGO TÉCNICO

100% EFICIENTE

FIGURA 2 - Deposição de Se na musculatura, medida em frangos de 42 dias alimentados com HMSeBA (Selisseo®,SO) ou Se-levedura (SL) – Briens et al., 2014

1.40 SL Concentração de Se na musculatura (mg/kg de matéria seca)

Para refinar os mecanismos antioxidantes, é essencial ter uma fonte constante de Selenometionina (SeMet), possibilitando assim um armazenamento de Selênio (Se) nas proteínas corporais. Por meio do turn-over proteico, a SeMet depositada nos músculos é mobilizada e serve de matéria prima para a produção de enzimas antioxidantes seleno-dependentes sempre que necessário. Produtos comerciais a base de Se-leveduras estão disponíveis há muitos anos e são fontes importantes de Se, já que uma levedura selenizada pode conter por volta de 98% de selênio orgânico; entretanto apenas 55-65% deste Se orgânico está na forma de Selenometionina (SeMet). Todos os outros compostos de Se presentes na levedura precisam ser convertidos a seleneto de hidrogênio (H2Se), para assim serem usados pelo metabolismo; da mesma forma que a fonte inorgânica, selenito de sódio, possui uma taxa baixíssima de aproveitamento. Assim, uma Se-levedura dificilmente fornece teores específicos e garantidos de Selenometionina. A Adisseo desenvolveu uma nova forma química: o ácido 2-hidróxi-4-metil selebutanoico (HMSeBA), Selisseo®, uma Seleno-hidróxi-metionina, onde o enxofre (S) foi substituído pelo Se. O Selisseo® é 100% Seleno-hidróxi-metionina.

y = 2.7791X + 0.2579

SO

1.20 1.00 0.80

y = 1.8792X + 0.2579 0.60 0.40 0.20 0.00 0

0.05

0.1

0.15

O HMSeBA é obtido por meio de um processo químico específico que garante a pureza do produto. Quando se compara o HMSeBA com uma Se-levedura, a deposição de Se nos tecidos

FIGURA 3 - Deposição de Se na musculatura do peito, em frangos de 7 dias alimentados com HMSeBA (Selisseo®), Se-levedura (SL) ou L-SeMet pura

1.60

y = 3,87X + 0.28 R2 = 0.92

1.40 Concentração de Se na musculatura mg/kg de matéria seca

0.2

0.25

0.3

0.35

Concentração de Se na ração (mg Se/kg de ração)

y = 3,83X + 0.28 R2 = 0.97

1.20

é aumentada em mais de 40% nos frangos (Briens et al. 2013, 2014 - Figura 2), em poedeiras (Jlali et al., 2013) e em suínos (Jlali et al., 2014). Uma comparação entre o HMSeBA, uma Se-leveduras e uma L-SeMet pura, demonstrou que a diferença no teor de Se armazenado é resultado direto da concentração do princípio ativo: a SeMet (Figura 3). Um artigo publicado no simpósio EggMeat 2013, na Itália, comprovou que a eficiência da Se-levedura está relacionada ao seu teor de SeMet. Assim, o HMSeBA apresenta 100% de SeMet enquanto as leveduras selenizadas contém somente cerca de 55-65% de SeMet como descrito anteriormente.

MAIS SELÊNIO DISPONÍVEL PARA O METABOLISMO ANTIOXIDANTE

1.00 0.80 0.60

y = 2,17X + 0.28 R2 = 0.93

0.40 0.20 Selisseo

SL

L-SeMet

0.00 0

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

Teor de Se na ração (mg/kg de matéria seca)

48 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019

0.30

Experimentos recentes têm mostrado que alimentar os animais com HMSeBA não irá apenas aumentar o total de Se depositado e a quantidade de SeMet nos músculos, mas também a quantidade de SeCys como enzimas seleno-dependentes. Assim como a hidroxi-metionina tem mostrado ser significativamente mais trans-sulfurada em cisteína que outras fontes de metionina, o HMSeBA parece ter duplo benefício: aumento na quantidade SeCys incorporada em selenoproteínas, bem como maior deposição de SeMet muscular.


Baseada na estrutura química da hidroxi-metionina, o HMSeBA se beneficia de sua estabilidade. De fato, dietas tratadas termicamente, peletizadas ou extrusadas, como rações de pets ou rações para peixes, foram testadas e mostraram 100% de recuperação em condições de até 130ºC e 130 bars. Alimentar aves jovens com dietas peletizadas contendo HMSeBA demostrou a biodisponibilidade e a estabilidade total dessa nova forma de Se orgânico. O potencial antioxidante do HMSeBA foi amplamente demonstrado por melhora no desempenho produtivo sob condições de estresse oxidativo (por exemplo estresse calórico, desbalanços dietéticos) ou oxidação da carne reduzida pela melhor trans-sulfuração em cisteína. Assim, a Seleno-hidróxi-metionina combina 100% de eficiência com um potencial antioxidante que não pode ser alcançado por outras formas de Se. Desde que o produto foi lançado ao mercado, a Adisseo tem desenvolvido projetos junto a instituições de pesquisa e universidades para comprovar os efeitos de Selisseo® no fortalecimento das defesas antioxidantes e melhora do desempenho reprodutivo e produtivo dos animais de produção. Em aves, diversos trabalhos apresentaram os benefícios do uso da Seleno-hidróxi-metionina. Um trabalho apresentado durante o PSA Latin America Scientific Conference em 2016 avaliou o efeito da suplementação de diferentes fontes de Se em matrizes pesadas em sua progênie, Zorzetto et al. (2016) concluíram que os frangos provenientes das matrizes alimentadas com Selisseo® apresentaram melhor conversão alimentar quando comparados ao grupo tratado com selênio inorgânico (Tabela 1). Já o trabalho realizado por Zhao et al. (2017), publicado no Journal of Nutrition, demonstrou que Selisseo® foi mais efetivo na expressão das selenoproteínas em nível de mRNA, sendo assim capaz de gerar proteção extra em

Experimentos recentes têm mostrado que alimentar os animais com HMSeBA não irá apenas aumentar o total de Se depositado e a quantidade de SeMet nos músculos, mas também a quantidade de SeCys como enzimas seleno-dependentes. FIUGURA 5 - Ocorrência de diarreia (%) em leitões pós-desmame suplementados com fontes distintas de selênio. 5 inclusões crescentes de Selisseo® (SO 0,1 a 0,5 ppm) foram comparadas ao controle negatico (CN) sem inclusão de Se e um tratamento com Selenito (SS)

13,08 10,79

10,92 * 7,57

CN

SS 0,3

SO 0,1

SO 0,2

* 7,75

* 6,41

* 6,36

SO 0,3

SO 0,4

SO 0,5 *p<0,05

momentos de maior estresse oxidativo, quando a expressão das enzimas seleno-dependentes é mais demandada. Trabalhos realizados em poedeiras têm evidenciado o potencial do Selisseo® em melhorar características relacionadas à qualidade da casca (espessura e resistên-

TABELA 1 - Resultados zootécnicos de frangos de 42 dias provenientes de matrizes suplementadas com diferentes fontes de selênio

CONSUMO ALIMENTAR (g)

GANHO DE PESO (g)

CONVERSÃO ALIMENTAR

Selenito

4.711

2.608!

1.810a

Selisseo

4.572

2.654!

1.726b

*Referências bibliográficas disponíveis sob demanda

cia à quebra), aumentar as concentrações de Se na gema e no albúmen além de mostrar-se capaz de amenizar o declínio de postura pós-pico produtivo. Em suínos, a Seleno-hidróxi-metionina mostrou ser também uma fonte eficaz para melhorar o status antioxidante e índices reprodutivos de matrizes, além de melhorar o desempenho de leitões provenientes dessas reprodutoras. Na fase pós-desmame, Selisseo® reduziu a ocorrência de diarreia nos leitões. Em 2017, Sun et al. ainda demonstraram maior absorção com uso de Selisseo® em vacas em lactação. A suplementação da Seleno-hidróxi-metionina promoveu maiores índices de Se plasmático e lácteo, além de aumentar a capacidade antioxidante e melhorar a imunidade das vacas.

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 49


JUNTOS PARA TRANSFORMAR

Unidos pela

Para comemorar o mês do Cooperativismo, em julho, produzimos conteúdos especiais que você confere neste Especial. O projeto Juntos para Transformar também contempla ações em nossas redes sociais e portal de notícias. Veja mais em

www.setoragroenegocios.com.br

SUSTENTA

BILIDADE

Quando falamos em sustentabilidade, a primeira ideia que temos em mente é preservação ambiental. Correto? Em partes. Quem veste esta camisa, vai muito além e promove ações que contemplam o equilíbrio de fatores econômicos, sociais e ambientais.

O

movimento também tornou-se estratégico para empresas e indústrias, se transformando em uma preocupação do negócio, não limitado a um setor, mas integrando toda a organização. No cooperativismo, a situação não é diferente. Dirigentes e representantes cooperativistas discutem, cada vez mais, a necessidade de estarem integrados em uma economia colaborativa impulsionada por novas tecnologias, se adaptando e inovando para proporcionar cases sustentáveis à sociedade em geral. Conforme a Embrapa, o Brasil preserva 66% do seu território, sendo que 25% das matas nativas estão nas propriedades rurais. Na safra 2016/2017, por exemplo, o agro produziu 35 milhões de hectares de soja sem aplicar adubo nitrogenado, resultando em uma economia de US$ 13 bilhões. Confira grandes ações de sustentabilidade desenvolvidas por Cooperativas do Sul do país:

50 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019

SICOOB SUSTENTABILIDADE

A sustentabilidade econômica é a base para uma sociedade mais justa, igualitária e estável, além de abrir possibilidades dentro de todos os setores da comunidade. Essa prática não está relacionada somente ao desenvolvimento econômico, mas também visa garantir o futuro das próximas gerações. Pensando nisso, o Sicoob MaxiCrédito criou em 2018 uma linha de crédito para que seus associados invistam em práticas mais sustentáveis, sejam elas em suas residências ou em suas empresas. Com o Sicoob Sustentabilidade, os cooperados podem adquirir desde sistemas de geração de energia solar fotovoltaica, sistema de drenagem de águas pluviais (cisternas), filtros para purificação de água para reuso, substituição da iluminação convencional por lâmpadas de LED, bombas d'água movidas a energia solar, aquecimento solar da água, kits para irrigação por gotejamento, e sistemas para o tratamento de água e esgoto (biodigestores e composteiras), com taxa de juros abaixo do mercado e prazos extensos (até 10 anos). Além disso, é uma linha acessível e sem burocracia, o que facilita o acesso do cooperado. Essa é a preocupação da instituição financeira cooperativa: promover o desenvolvimento econômico e sustentável, mas de forma prática e fácil, para que os projetos sejam implementados.


REAPROVEITAMENTO DAS CASCAS DE ARROZ Produtora de arroz, a cooperativa Juriti, de Massaranduba (SC), enfrentava problemas com o descarte da casca do produto. Com o projeto Briquetes, 100% da casca de arroz passou a ser reaproveitada. Briquetes são as cascas de arroz compactadas para utilização como combustível nos processos industriais. Além do retorno sustentável, a mudança significou ainda grande retorno econômico, uma vez que o custo anual com lenha era de R$ 491.400, passando para R$ 151.017 com os briquetes. A gestora Social e de Recursos Humanos da Cooper Juriti, Leila Estrowispi, comenta que a utilização desse combustível evita o desmatamento, contribuindo para a preservação da mata nativa e dos recursos naturais. Ela diz que para a alimentação do processo industrial seriam necessários aproximadamente 9.450 m³ de lenha. Considerando-se que uma árvore de eucalipto rende, em média, de 0,20 m³ a 0,25 m³ de lenha, precisariam ser utilizadas aproximadamente 37.800 árvores por ano para produzir a energia que move a cooperativa. As ações impactaram positivamente em benefício à cooperativa. Com a compra de uma máquina (briquetadeira) para compactar a casca úmida transformando em um tubo roliço (semelhante à lenha) e o investimento de um galpão para armazenagem dos briquetes, houve redução de custos.

EDIFICAÇÃO SUSTENTÁVEL

A Cooperativa Sicredi Região da Produção RS/SC/MG tem 244 colaboradores e mais de 56 mil associados. Ela foi fundada em 1983 em Sarandi, Rio Grande do Sul. A nova sede regional e agência é modelo de sustentabilidade. O prédio, inaugurado em maio de 2017, tem cinco andares e abriga 80 colaboradores. Com uma fachada contemporânea e estrutura sofisticada, o projeto tem geração de energia solar, sistema de ventilação que economiza luz e estação de tratamento de água no subsolo. “Nós pensamos no futuro quando tomamos a decisão de construir a nova sede”, diz o presidente do Conselho de Administração, Saul João Rovadoscki. Os investimentos em tecnologia de sustentabilidade já começam a dar resultados financeiros. Os painéis solares, por exemplo, custaram R$ 250 mil, só no primeiro semestre de 2018, o gasto com energia foi reduzido em 16%, uma economia de quase R$ 13 mil. A previsão é de que neste ano esse índice atinja os 25%. “A nossa expectativa é recuperar o valor total empregado nas placas fotovoltaicas em sete anos”, projeta Rovadoscki. É importante destacar que este tipo de equipamento tem 25 anos de vida útil e produz energia limpa e renovável. O prédio possui um complexo de ventilação VFR, que diminui a demanda de energia. De acordo com Rovadoscki, essa tecnologia funciona da seguinte forma: é um sistema centralizado de ar-condicionado que fica permanentemente ligado. Com isso, o colaborador pode refrigerar o ambiente sem acionar o motor que liga o aparelho. Parece um paradoxo, mas não é: o movimento de ligar e desligar o motor é o que aumenta o gasto com eletricidade. “A gente buscou arquitetos e engenheiros que respirassem sustentabilidade”, conta ele. A sede também conta com brises de proteção solar, um dispositivo arquitetônico utilizado para impedir a incidência direta de radiação solar nos interiores de um edifício. Ou seja, o calor do sol não penetra no ambiente com tanta intensidade, o que gera economia no sistema de refrigeração. Sobre a estação de tratamento de água no subsolo, são nove tanques que têm como função tornar potável a água lançada no esgoto fluvial da cidade. Só no primeiro semestre, foram tratados 180 mil litros.

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JUNTOS PARA TRANSFORMAR DO PLANTIO DE ÁRVORES AO RECOLHIMENTO DE EMBALAGENS

ENERGIA RENOVÁVEL

A Cooperalfa foi fundada em 1967 em Chapecó e hoje tem mais de 20 mil famílias associadas e 3,3 mil funcionários, com unidades de atendimento espalhadas por Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul. Desenvolve diversas atividades em prol do meio ambiente. Em 2017, para marcar os 50 anos da Alfa, houve o plantio de 100 mil árvores nativas pelos associados. Em 2018, iniciou a implantação do laboratório ambiental, que vai atender demandas de monitoramento, requisito para licenciar a operações de suas unidades. Os projetos civis e edificações da cooperativa preveem o uso da água da chuva e iluminação solar, além de equipamentos com o mínimo de consumo energético. A Unidade de Produção de Leitões (UPL) em Palma Sola, Santa Catarina, possui sistema de tratamento de efluentes para a captação do Gás Metano, que gera biogás. O combustível substitui o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) no aquecimento da água, preparo de alimentos na cozinha e aquecimento em leitões na creche. O excedente do biogás vira energia elétrica para consumo na unidade. O Programa Ambiental de Resíduos Alfa (PARA), criado em 2012, separa resíduos sólidos na fonte geradora e dispõe de uma central de acondicionamento temporário na Matriz da cooperativa, atendendo às exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos. O “PARA” conscientiza funcionários e aprimora o cuidado com a correta segregação e classificação dos rejeitos, até o destino adequado. Todos os resíduos gerados nas atividades internas da Cooperalfa são controlados, reduzidos, reciclados e destinados de modo correto. Já o Programa Ambiental Pecuário Alfa (PAPAsab) prevê a segregação e acondicionamento, coleta e destinação final para os resíduos de saúde animal. Desde o ano de 2011, foram absorvidas 241 toneladas. O Programa PARA Agroquímicos, de recolhimento de embalagens, conta com o apoio dos agricultores e em seis anos processou 700 toneladas de embalagens vazias. E o programa PARA Lâmpadas destinou corretamente, nos últimos quatro anos, 100.048 unidades de lâmpadas recebidas em suas lojas, das integrações e de sua manutenção. A Cooperalfa atua fortemente também na doação de materiais recicláveis, como papel e plástico. Desde 2000 colabora com a ONG Verde Vida, de Chapecó, instituição que realiza a triagem e venda desse material. São aproximadamente 600 quilos por mês. No Verde Vida, são acolhidos jovens desprovidos de maior sorte, e preparados para a vida profissional. São mais de 100 envolvidos. Desde o início, já foram repassados mais de duas toneladas de papel e plástico à ONG. O Verde Vida recicla aproximadamente 300 toneladas/ mês de resíduos.

A Agrária é uma cooperativa agroindustrial localizada em Guarapuava, Paraná, tem 650 associados e 1,5 mil colaboradores. A empresa nasceu em um contexto de sustentabilidade, visto que foi criada em função da fundação de uma colônia de refugiados da 2ª Guerra, os Suábios do Danúbio. Desde o início, o objetivo era sustentar essa comunidade, preservando sua língua e sua cultura, pensando também na conservação do solo e da água, que são os principais meios de produção, para que as futuras gerações possam viver ali. Como parte das iniciativas voltadas à sustentabilidade, a Agrária tem apostado na utilização de fonte de energia renovável. Através da biomassa, matéria orgânica vegetal ou animal, utilizada na produção de energia, a Agrária tem investido no reflorestamento. São 4,5 mil hectares de cultivo de matriz energética, usada na geração da energia usada nas indústrias da cooperativa.

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COPRONAR E O MEIO AMBIENTE

Cooperativas paraguaias também levantam a bandeira da sustentabilidade. Um grande exemplo é a Copronar. Localizada na cidade de Naranjal, Alto Paraná, concentra investimentos em ações como: • Manejo integrado de solo e água; • Coberturas Verdes • Recuperação de nascentes • Rotação de culturas.


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JUNTOS PARA TRANSFORMAR

Cooperar é unir forças Mesmo diante de dificuldades econômicas, cooperativas brasileiras devem registrar novos recordes de crescimento em 2019, alcançando a casa de dois dígitos. Nesta entrevista exclusiva, o presidente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Márcio Lopes de Freitas revela as perspectivas para o setor .

O mais recente cenário político e econômico traçado desde o início de janeiro tem gerado novas perspectivas para as cooperativas agrícolas? O início de um novo governo sempre abre novas perspectivas para todos os setores econômicos e, como o movimento cooperativista faz parte de vários desses segmentos, há, sim, boas perspectivas para todas as cooperativas do país. Falando especificamente sobre as cooperativas agropecuárias, elas têm muito a contribuir, economicamente falando, pois são responsáveis por integrar diversos elos do setor produtivo. Aliás, a industrialização é uma das grandes oportunidades que essas cooperativas têm diante de si. E, para isso, a OCB tem atuado junto ao Ministério da Agricultura para mostrar as necessidades e características do nosso modelo de negócios. No dia 12/4, por exemplo, apresentamos à ministra Tereza Cristina, as nossas expectativas com relação ao crédito agrícola. Entregamos as Propostas do Sistema Cooperativista ao Plano Agrícola e Pecuário e ao Plano Safra da Agricultura Familiar - 2019/2020 abordando os pontos: Plano Agrícola e Pecuário, Plano Safra da Agricultura Familiar e as prioridades do setor. A cada ano, as cooperativas de produção agropecuária registram novos recordes de crescimento. Qual o segredo do sucesso do setor? Sem dúvida alguma, o nosso segredo – que nem é tão segredo assim – é o cooperado. Como a administração da cooperativa é compartilhada desde o início de qualquer

54 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019

operação, é possível participar, dar opinião, contribuir com o planejamento dos passos que conduzirão a cooperativa ao futuro. E um elemento essencial nessa dinâmica é, sem dúvida, a confiança que reúne numa mesma cooperativa produtores grandes, médios e pequenos. Todos têm o mesmo valor dentro da cooperativa e cada um contribui com o que tem pelo desenvolvimento do empreendimento coletivo. Cooperar, como sempre dizemos, é unir forças para trabalhar por um mesmo objetivo: o desenvolvimento social e econômico daqueles que já sabem que cooperar vale a pena.

presentação das cooperativas, a fim de que seus interesses sejam defendidos no âmbito dos Três Poderes. Por enquanto, estamos aguardando essas informações. O que podemos dizer é que as cooperativas, historicamente, têm mantido seu ritmo de crescimento, apesar dos tempos de crise econômica. Embora sintamos os efeitos das dificuldades econômicas do país, a união dos cooperados acaba sendo um elemento a mais na gestão delas e isso nos faz acreditar que, em 2019, continuaremos crescendo algo em torno dos dois dígitos.

Quais as perspectivas para expansão do setor em 2019? Por lei, as cooperativas têm até o fim de abril para realizar suas assembleias gerais ordinárias, quando são aprovadas as contas, o plano de trabalho para o exercício seguinte e, ainda, comunicados os resultados do ano anterior. Após esse período, as cooperativas informam seus números às nossas unidades estaduais e, depois de tratadas, essas informações são repassadas à unidade nacional, para que se possa realizar o trabalho de re-

Podemos afirmar que o cooperativismo sustenta o agronegócio brasileiro? As cooperativas têm, sim, um importante papel no agronegócio do país. Elas organizam a cadeia produtiva de muitas culturas, realizam feiras de transferência de tecnologia (algumas delas referências nacionais, como a Tecnoshow Comigo e a Expodireto Cotrijal), nas quais além do volume de negócios gerados também são diretamente responsáveis pela divulgação de novidades, pela disseminação de tecnologia e propagação de

Todos têm o mesmo valor dentro da cooperativa e cada um contribui com o que tem pelo desenvolvimento do empreendimento coletivo


FOTO: FLORA EGÉCIA

grande parte da assistência técnica rural, graças ao seu alto número de extensionistas. Também são elas que, em centenas de localidades, funcionam como verdadeiros balizadores dos preços do mercado. Falar que as cooperativas agro sustentam esse pilar econômico fundamental à nação brasileira é muita ousadia de nossa parte, mesmo quando elas representam mais de 1 milhão de cooperados, presentes em todas as regiões do país. O que posso dizer a esse respeito, é que nós estamos fazendo o nosso dever de casa para conquistar novos espaços nos mercados interno e externo. Como as cooperativas estão trabalhando para incentivar a permanência do homem no campo? As cooperativas se preocupam muito com a sustentabilidade de seu negócio. Por isso, elas desenvolvem projetos que valorizam a participação do jovem e das mulheres, empoderando esses públicos para que também assumam seu papel como protagonistas do próprio futuro. Temos, ainda, diversas ações promovidas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), que faz parte do Sistema OCB, com a finalidade de disseminar a cultura da cooperação, formar mão-de-obra, desenvolver profissionalmente as pessoas que assumirão cargos administrativos, fiscais e de gestão. A questão da sucessão familiar, por exemplo, é uma pauta que sempre está nas nossas discussões, afinal, sabemos que ainda existe o êxodo rural de jovens e, por isso, temos trabalhado muito para mudar essa realidade. O jovem tem um papel essencial na modernização do empreendimento familiar. Ao utilizar as novas tecnologias eles trabalham com mais conforto para produzir mais e garantir um futuro melhor, tanto para si, quanto seus pais e, claro, para a própria cooperativa. O jovem quer ser ouvido e, por isso, temos que desenvolver suas habilidades, oferecendo a ele a possibilidade de prosperar no meio rural, preservando suas bases e, ainda, aproveitando o melhor que a cidade grande pode oferecer.

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JUNTOS PARA TRANSFORMAR

O PODER

DAS COOPERATIVAS Com mais de 1 milhão de associados e gerando 198 mil empregos, cooperativas de produção agropecuária correspondem a 50% do PIB agrícola brasileiro.

O

agronegócio brasileiro ocupa a terceira colocação no ranking mundial de exportações. Parte deste desempenho corresponde a comercialização internacional realizada através das cooperativas. De acordo com a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), foram US$ 6,16 bilhões em 2017, 20,07% a mais que em 2016. Grande parte deste resultado se deve à modernização da gestão e o investimento na agroindustrialização. Muitas cooperativas deixaram de ser empresas regionais para se tornarem gigantes de atuação global, disputando mercado com multinacionais. Isso demonstra que o cooperativismo, quando bem conduzido, pode ser uma excelente ferramenta para se combinar crescimento econômico com desenvolvimento social, sendo um sistema mais eficiente e justo para se produzir e distribuir riquezas, ampliando renda e empregos.

56 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019

MUITO ALÉM DAS EXPORTAÇÕES Expectativa de público é de 15 mil pessoas

48% da produção

agropecuária nacional percorre, de alguma maneira, por alguma cooperativa

1.618

cooperativas em atividade no país

Mais de

1 milhão de associados

198

mil empregos

Fonte: Censo Agropecuário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

FATURAMENTO CRESCE MAIS DE 22% NO PARANÁ

A movimentação econômica do setor do agronegócio representa cerca de 18% de toda a riqueza produzida no Paraná. O superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), José Roberto Ricken revela que em mais de 120 municípios paranaenses, a cooperativa é a mais importante empresa econômica, maior empregadora e geradora de receitas. Estima-se que 77% dos associados às cooperativas agropecuárias são pequenos e médios produtores (área de até 50 hectares). Para Ricken, o modelo de negócio das cooperativas é ligado de forma indissociável aos valores do cooperativismo – responsabilidade, democracia, igualdade, equidade, honestidade, transparência e solidariedade – mas o desenvolvimento está atrelado à atuação profissional do setor, a gestão moderna e a visão de futuro. “O cooperativismo busca expandir as atividades, por meio da verticalização da produção, investimentos em tecnologia e novos mercados. O planejamento estratégico tem como meta levar o setor a R$ 100 bilhões em faturamento”.


Cooperativismo é uma excelente ferramenta para combinar crescimento econômico e desenvolvimento social.

GESTÃO EFICIENTE

A Cooperativa C.Vale é exemplo na adoção de novos modelos e ferramentas de gestão. Com sede em Palotina, região Oeste do Paraná, a cooperativa tem 21 mil associados, 10 mil funcionários, 150 unidades de negócio e faturou R$ 8,5 bilhões em 2018. Além do Paraná, atua no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraguai. Para o presidente da C.Vale, Alfredo Lang, foi necessário apostar na competitividade de suas atividades e na eficiência da gestão para disputar o mercado, através da agroindustrialização. Dados de 2017 apontam a C.Vale em 4º lugar no ranking das cooperativas que mais cresceram no Brasil. Lang explica que a estratégia foi amparada em dois eixos: ampliação da área de atuação, com a expansão da área de abrangência, com isso, ampliando o recebimento de grãos, chegando ao equivalente a 67 milhões de sacas em 2018. A outra linha de ação foi a agroindustrialização, com foco na transformação de grãos em carnes, passando a produzir frangos e peixes, resultando na agregação de valor aos grãos e gerando novas fontes de renda.

50 ANOS DE FRANCO CRESCIMENTO

A Cooperativa Central Aurora Alimentos, que este ano completou 50 anos de fundação, é referência internacional quando o assunto é cooperativismo. Terceiro maior conglomerado industrial do setor de carnes do Brasil, somou em 2018, receita bruta de R$ 9,1 bilhões, um crescimento de 2,5% em relação ao ano anterior. O mercado interno representou 76% das receitas e, o mercado externo, 24%. O presidente da Aurora, Mário Lanznaster salienta que o desempenho econômico da cooperativa produz ótimos efeitos sociais nos Estados onde atua - Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul - dinamizando a economia regional e gerando R$ 1,1 bilhão somente em remuneração e encargos sobre a folha de pagamento.

NÚMEROS DA

Laznaster salienta que “as perspectivas para 2019 são estimulantes em face da decisão da nova administração federal em manter uma política econômica ortodoxa e priorizar a aprovação de reformas estruturais, que podem promover o reequilíbrio fiscal, abrindo espaço para recuperação mais rápida da economia. A agenda liberal do novo governo e a pauta de franco apoio à produção são positivas e influenciam a retomada da confiança e a volta dos investimentos”. Com sede em Chapecó, Santa Catarina, a Aurora tem atuado também como difusora do conhecimento científico, assegurando o acesso do pequeno produtor aos avanços da pesquisa agropecuária. A proteção econômica, a atualização tecnológica e a defesa política que a cooperativa proporciona ao seu universo de cooperados são faces da doutrina cooperativista.

“As perspectivas para 2019 são estimulantes”, Mário Lanznaster, presidente da Aurora

104 mil famílias

10.200

colaboradores

28 mil

colaboradores diretos

11

cooperativas agropecuárias integrantes

65.500

famílias rurais cooperadas

42

estabelecimentos de suínos, aves e rações

FOTO: MB COMUNICAÇÃO

300

municípios

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JUNTOS PARA TRANSFORMAR

CRÉDITO IMPULSIONA AGRONEGÓCIO Cooperativas de crédito estão por todo Brasil, operando em pequenos municípios, aonde as instituições financeiras tradicionais muitas vezes não chegam.

A

modernização dos sistemas e a incorporação de novas tecnologias, aliadas a crescente profissionalização do setor transformaram o agronegócio brasileiro nos últimos anos, ampliando cada vez mais sua participação na economia nacional. Em 2019, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio deve aumentar 2%, em comparação ao ano anterior. Para crescer é preciso investir e entre as principais ferramentas utilizadas para promover esta expansão estão as cooperativas de crédito, que ganharam força a

partir dos anos 1980 e 1990. Estas instituições têm sido alternativa aos bancos na hora de contratar crédito. Embora ainda representem 3% do crédito no Brasil, elas cresceram 20% ao ano em operações. De acordo com o Relatório de Economia Bancária do Banco Central, o principal motivo é justamente a expansão das operações de crédito voltadas para empresas do agronegócio nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil. Dados de 2018 apontam que o número de cooperados pes-

soas jurídicas cresceu 80% e chegou a 1,1 milhão nos últimos cinco anos. Os principais atrativos das cooperativas de crédito são as taxas de juros. Se comparadas aos bancos, podem registrar diferença de até 50%. As cooperativas têm juros menores porque distribuem seu resultado para os próprios cooperados, ao contrário dos bancos, que devolvem o lucro aos seus acionistas. Hoje, o Brasil tem quase 1 mil cooperativas de crédito e pouco mais de seis mil pontos de atendimento.

COOPERATIVAS DE CRÉDITO Ganham, em média

60 mil novos

de

associados por ano COOPERADOS

MAURO ZOLETI DE MORAIS, diretor financeiro do Sicoob MaxiCrédito

58 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019

6,2

milhões

8% 9,6

milhões 2017

2013

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

Contratando crédito rural em uma instituição financeira cooperativa, os produtores rurais participam da distribuição dos resultados

Crescimento

DEPÓSITO

R$ 67,6 bilhões

R$ 95,8 bilhões 2017

2014 Fonte: Dados da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar)


As maiores cooperativas de crédito do País são a Unicred, Sicredi, Sicoob e Cresol. Com exceção da Unicred, as outras três têm forte presença no agronegócio.

O Sicoob surgiu para suprir as demandas de crédito do agronegócio brasileiro e da agricultura familiar. Mesmo se consolidando como uma instituição financeira cooperativa de livre admissão, onde tanto pessoas físicas quanto jurídicas podem manter uma conta corrente, a cooperativa nunca deixou de atender o agronegócio. Hoje o Sicoob tem 4,2 milhões de cooperados e 2,8 mil agências espalhadas por todos os estados brasileiros. É composta por 16 cooperativas centrais e 460 cooperativas singulares, sendo essa a maior rede no Brasil. Além de linhas com taxas de juros abaixo das praticadas em linhas comerciais, os prazos de pagamento também são diferenciados. O Sicoob preserva linhas de crédito específicas para o setor do agronegócio. “Não atender esta área é não olhar para o todo, pois muitos outros setores também sobrevivem do que é produzido no campo. É um círculo virtuoso e as cooperativas tem papel fundamental nessa engrenagem, quando disponibilizam crédito de forma acessível”, ressalta o diretor financeiro do Sicoob MaxiCrédito, Mauro Zoleti de Morais. Com o Sicoob, os produtores rurais conseguem prazo de até 2 anos de pagamento para custear as despesas normais dos ciclos produtivos e de até 10 anos para investimentos de longo prazo, podendo assim se organizar financeiramente, evitando a descapitalização. “Contratando crédito rural em uma instituição financeira cooperativa, os produtores rurais ao final do ano também participam da distribuição dos resultados, o que gera mais renda e contribui com o desenvolvimento local, em um círculo de crescimento sustentável”, explica Morais.

VANTAGENS EM ADQUIRIR CRÉDITO COM COOPERATIVAS

Primeira instituição financeira cooperativa do Brasil, o Sicredi mantém forte ligação com o agronegócio. Cerca de 600 mil associados têm relação direta com o agro. No total, o Sicredi possui 4 milhões de associados e 1,6 mil agências espalhadas por 22

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

PRAZOS DE PAGAMENTO TAMBÉM SÃO DIFERENCIAIS

Marcos Roberto Dorigon, diretor executivo do Sicredi Região da Produção RS/SC/MG diz que os desafios são ampliar o uso da tecnologia digital e aumentar a atuação da cooperativa estados e Distrito Federal. Em 2018, fechou o ano com o resultado de R$ 2,7 bilhões. Marcos Roberto Dorigon, diretor executivo do Sicredi Região da Produção RS/SC/ MG, comenta que os produtores rurais associados possuem vantagens na hora de acessar linhas de crédito. No Sicredi, os associados rurais com renda de até R$ 415 mil anual e que têm Declaração Ativa ao Pronaf (DAP), no site do Ministério da Agricultura, podem acessar o crédito rural através da linha do Pronaf, tendo disponíveis taxas de 2,5% a 4,6% ao ano. Nas linhas de custeio, o prazo de pagamento é de um ano e nas linhas de investimento têm prazo de até 10 anos para pagar. Os associados produtores rurais com renda de até R$ 2 milhões anual podem acessar o crédito rural através da linha do Pronamp, tendo disponíveis taxas de 5,25% até 7% ao

ano e prazo de pagamento de até dois anos em custeios pecuários, um ano em custeios agrícolas e até 15 anos em investimentos. Os associados rurais que não se enquadram no Pronaf ou no Pronamp, podem acessar o crédito rural através da linha Demais Produtores, com taxa de 5,25% até 7% ao ano, e prazo de até dois anos para custeios em geral e até 15 anos para investimentos. Estar próximo de seus associados é um grande diferencial das cooperativas de crédito. O Sul do país é a região que possui maior concentração destas instituições. Cerca de 50% dos cooperados residem em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. E as vantagens em ser associado vem agradando também aos moradores de metrópoles, como São Paulo, região projetada para expansões do setor. Esta é a prova de que o setor continuará em franco crescimento.

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 59


JUNTOS PARA TRANSFORMAR

AGRO CONECTADO

O uso de drones e a agricultura de precisão fazem parte do cotidiano de muitos produtores. É através das cooperativas que muitas propriedades passaram a integrar o mundo digital.

D

localizada no município de Campos Novos, Santa Catarina. A Agricultura de Precisão (AP) está resultando em lavouras mais uniformes e produtivas, garantindo não apenas bons resultados, mas também economia aos produtores. O coordenador do Departamento Técnico da Copercampos, o engenheiro agrônomo Marcos Schlegel, diz que a utilização da AP iniciou tímida na região nos anos de 2010 e 2011, com correções de solo, porém, com o avanço da tecnologia, os produtores investiram mais para conhecer cada parte da sua lavoura, identificando as necessidades de nutrientes e corrigindo o solo. A fertilidade de solo uniforme, explica Schlegel, tem gerado uma produtividade maior de grãos. Além da economia em fertilizantes, a correção de solo possibilita lucratividade. “Temos casos de produtores que aumentaram a produtividade em 5 a 6 sacos/ha. Além disso, as manchas que muitas vezes o produtor acredita ser por deficiência de calcário, por exemplo, são solucionadas com informações precisas, como excesso ou deficiência do nutriente. A AP dá um diagnóstico de toda a área e, com isso, quem ganha é o produtor”. Com a Agricultura de Precisão, o produtor consegue elevar a sua média de produção entre 5 a 10 sacos a mais por hectare na soja. Nesta safra, por exemplo, produtores que

já implantaram a Agricultura de Precisão registraram uma média de 85 sacos/ha na cultura da soja. Isso em uma área de 600 hectares. Aproximadamente 25% dos 1,4 mil associados já utilizam a tecnologia. “O objetivo da Copercampos agora é possibilitar que os pequenos produtores, com menos de 200 hectares, também invistam na tecnologia, para que se eleve a produtividade geral de grãos”, diz ele.

COMO AS COOPERATIVAS PODEM CONTRIBUIR PARA LEVAR TECNOLOGIA AO CAMPO Através de cursos, capacitações, dias de campo e até subsídios financeiros, muitas cooperativas têm facilitado, e muito o acesso, à tecnologia. Enquanto cooperativas de crédito ofertam linhas especiais para modernização da propriedade, aquisição de veículos, colheitadeiras e equipamentos altamente tecnológicos, as instituições do ramo agropecuário, em parceria com startups, ou até de forma independente, incentivam o uso de ferramentas para análise e melhoramento da produtividade.

FOTO: SHUTTERSTOCK

a época em que animais puxavam arados de madeira até o recente uso de aviões e drones para pulverização, muita coisa mudou no campo. As novas ferramentas digitais, incluindo a biotecnologia e a alta conectividade estão modificando e otimizando o ciclo de produção. O resultado? Mais produtividade e agilidade, custos reduzidos e segurança alimentar. Mas sabemos que nem todo produtor rural têm acesso ao mundo digital. Em 2008, apenas 4% das propriedades rurais tinham acesso à internet. Em 2017, este índice pulou para 34%, um grande aumento, mas que dá origem a um número ainda muito limitante. É neste contexto que as cooperativas entram em cena. Com expertise e profissionais capacitados, estas instituições oferecem aos associados, acesso facilitado aos produtos, serviços e informações. Este aporte é fundamental, pois a demanda cada vez mais crescente por alimentos tem exigido agilidade nas operações, da propriedade rural à agroindústria. A recente realidade, vem abrindo caminho para introdução da chamada Agricultura 4.0, onde um conjunto de tecnologias de ponta, conectadas através de softwares, sistemas e equipamentos otimiza a produção agrícola. Um exemplo do uso da tecnologia no meio rural é a Copercampos, cooperativa

60 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019


SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 61


JUNTOS PARA TRANSFORMAR

COOPERATIVAS

ALAVANCAM

agronegócio no Paraguai O Paraguai tem apresentado nesta década um crescimento econômico acima da média na América do Sul. Grande parte desta evolução deve-se ao agronegócio. Desde 2010, o país registra crescimento econômico médio acima de 5%, enquanto a participação do agronegócio no PIB (Produto Interno Bruto) paraguaio já é de 15%, conforme estudo da Bain & Co.

A

ssim como no Brasil, o sistema cooperativista é muito importante para o agronegócio do Paraguai. Regiões altamente produtivas e que têm na agricultura sua base econômica, Alto Paraná, Itapúa e Canindeyú , concentram importantes cooperativas do país, que juntas, formam a Central Nacional de Cooperativas Ltda (Unicoop). São oito cooperativas filiadas que somam cerca de 5,8 mil cooperados e uma superfície agrícola de aproximadamente 350 mil hectares, com uma produção anual de 1,8 milhão de toneladas de soja, trigo, milho, girassol e canola. O presidente da Unicoop, Rubén Zoz, explica que os principais objetivos da Central são canalizar as compras de insumos e a venda da produção de forma conjunta, a fim de conseguir melhores preços; instalar estrutura agroindustrial com o objetivo de transformar a matéria prima produzida; e obter recursos econômicos de instituições públicas ou privadas, nacionais e internacionais, para o financiamento de programas de produção agropecuária e agroindustrial.

62 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019

COOPERATIVAS QUE FORMAM A UNICOOP COOPERATIVA

ESTADO

ASSOCIADOS

Colonias Unidas

Itapúa

3.637

Pindó

Alto Paraná

661

Naranjito

Itapúa

472

Coopasam

Alto Paraná

297

Raúl Peña

Alto Paraná

261

Copronar

Alto Paraná

235

Unión Curupayty

Alto Paraná

177

Cooperalba

Canindeyú

150

Fonte: Unicoop (Central Nacional de Cooperativas Ltda)


Com área de produção de 22 mil hectares, faturamento anual da Copronar chega a U$ 70 milhões

FOTOS: ASSESSORIA DE IMPRENSA COPRONAR

COPRONAR EM FRANCO CRESCIMENTO

Uma das cooperativas paraguaias que tem apresentado grande desenvolvimento é a Cooperativa de Producción Agropecuaria Naranjal Ltda (Copronar). Fundada em fevereiro de 1992 em Naranjal, município de 10 mil habitantes no Departamento de Alto Paraná, há pouco mais de 100 km da fronteira com o Brasil, a Copronar está localizada no epicentro de uma das novas ordens econômicas mundiais, a ligação do Atlântico ao Pacífico, um grande corredor logístico que nasceu para proporcionar muitas oportunidades. Os imigrantes estão cada vez mais presentes na região e Naranjal tem potencial para ser o centro do novo polo econômico. O presidente da Copronar, Darci Bortoloso comenta que a cooperativa é formada por 235 associados e 140 funcionários, e comercializa, principalmente, soja, milho, trigo, aveia e canola. A área de produção da cooperativa é de 22 mil hectares e o faturamento anual gira em torno de U$ 70 milhões. “No Paraguai, as cooperativas apresentam crescimento constante, ajudando no desenvolvimento das agroindústrias”, resume ele. A consolidação da Rota do Milho, que vai integrar Brasil, Argentina e Paraguai, através da desburocratização das fronteiras, empolga a Copronar. O objetivo da cooperativa é produzir com qualidade e melhor preço e também com sustentabilidade. “Nosso maior desafio é a transformação da matéria prima em um produto final”, ressalta. Com isso, a Copronar inaugurou, em 2017, a Indústria de Óleo de Canola Copordini S.A., que tem capacidade de processamento anual de 20 mil toneladas de canola, da qual se extrai 8 mil toneladas de óleo. O produto é comercializado nos países do Mercosul, enquanto outras 13 mil toneladas de farelo são vendidas internamente. Bortoloso explica que as cooperativas no Paraguai estão desenvolvendo uma contribuição positiva ao crescimento econômico do país, com o objetivo de torná-lo mais igualitário e

Nosso sistema é de justiça social mais participativa, com destaque ao bem-estar dos sócios

DARCI BORTOLOSO, presidente da Copronar

PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS PELOS PARAGUAIOS Algodão

Tabaco

Cana

Mandioca

Soja

Frutas

Milho

DESTINOS Brasil

Rússia

Argentina

Itália

estável. “Nosso sistema é de justiça social mais participativa, com destaque ao bem-estar de seus sócios, alcançando um equilíbrio do meio ambiente. Somos umas das maiores criadoras de postos de trabalho, tanto diretos como indiretos”, finaliza.

PINDÓ – SEGUNDA MAIOR COOPERATIVA DO PARAGUAI

Localizada em San Cristóbal, Alto Paraná, a Cooperativa de Producción Agropecuaria Pindó Ltda. foi fundada em agosto de 1981, produz e processa soja, milho, trigo e canola. Romualdo Zocche, presidente da Pindó, explica que as cooperativas representam 60% da produção agropecuária do país. Com quase 700 associados, 2 mil clientes e 300 funcionários, os esforços da cooperativa são para difundir tecnologias e qualidade de vida nos âmbitos econômico, social e ambiental, e desenvolver a logística nas áreas de atuação e abrangência da empresa. Segunda maior cooperativa do Paraguai, a Pindó tem uma área cultivada de 50 mil hectares, chegando a 300 mil toneladas de soja, 140 mil toneladas de milho, 60 mil toneladas de trigo e 5 mil toneladas de canola processadas por ano. Zocche ressalta que a cooperativa tem a missão de proporcionar desenvolvimento na região e aos associados, conquistando clientes com a qualidade de seus produtos. “A Pindó busca trazer progresso aos seus associados e crescimento para toda a região, sempre primando pela ajuda mútua entre os associados”.

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 63


INVESTIR NO PARAGUAI.

FOTO: FREEPIK

Por onde começar?

Por OSCAR MERSAN DE GASPERI Advogado especializado em Tributação. É diretor presidente da M360 e Advogado Associado em Mersan Advogados.

A

cada 10 indústrias instaladas no Paraguai, 7 são de brasileiros. Muitos empresários buscam no país vizinho a retomada da competividade. A carga tributária e encargos trabalhistas são dois importantes fatores que determinam o avanço na fronteira. Para dar continuidade as ações do projeto Agro Sem Fronteiras, convidamos o advogado paraguaio, especialista em Tributação, Oscar Mersan de Gasperi, para orientar investidores que pretendem iniciar operações estrangeiras. Tire agora suas dúvidas: QUAIS SÃO OS TIPOS DE SOCIEDADES EXISTENTES NO PARAGUAI? As formas jurídicas mais utilizadas são as sociedades anônimas e as empresas de responsabilidade limitada. Há também a opção de empresas serem constituídas como filiais de suas matrizes localizadas no exterior, situação em que devem adquirir a forma jurídica nacional idêntica ou mais semelhante à de sua matriz.

64 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019

QUANTOS SÓCIOS SÃO NECESSÁRIOS PARA CONSTITUIR UMA EMPRESA? São necessários dois sócios (sem importar a proporção de suas participações), portanto, pode existir um sócio com 99,9% de ações e outro com o 0,1%. QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS ENTRE UMA S.A. E UMA S.R.L.? • LIMITE DOS MEMBROS: nas S.R.L existe um limite de 25 membros enquanto nas S.A. não há limitação de acionistas; • INTEGRAÇÃO DO CAPITAL: nas S.R.L. as contribuições em dinheiro que se realizem para a integração do capital devem estar 50% depositadas em um banco oficial no momento da constituição da sociedade. O 50% restante deverá ser integralizado em um prazo de dois anos. Nas S.A. não têm exigência, somente é necessário colocar um prazo de integralização. • TRANSFERÊNCIA DE AÇÕES

(S.A.) OU QUOTAS DE PARTICIPAÇÃO (S.R.L).: quando a S.R.L. está formada por um número de até 5 sócios requer que exista unanimidade de votos para que um deles transfira suas quotas a terceiras pessoas. Em caso de mais de 5 sócios, se requererá o consentimento das 2/3 partes. Nas S.A. não existe obrigação legal para a transferência de ações. • FORMALIDADES: as transferências das quotas de participação das S.R.L. devem ser executadas unicamente mediante escritura pública, enquanto os títulos de ação das S.A. podem ser transmitidos também mediante endosso simples. Nas S.A. são realizadas por assembléias. As S.R.L. (a diferença das S.A.) não requerem a realização de assembléias anuais para a aprovação do balanço e designações de autoridades, sem embargo. Toda mundança da diretoria na S.R.L deve ser feita por escritura pública. OS ACCIONISTAS OU SÓCIOS DA SOCIEDADE PARAGUAIA PODEM SER EMPRESAS ESTRANGEIRAS? Sim. Para a constituição serão necessários todos os documentos da empresa do exterior (Estatutos Sociais e suas modificações, atas em que são nomeados os atuais representantes legais). Todos os documentos devem ser legalizados ou apostilados. Para a assinatura do contrato social da empresa, deverá concorrer o representante legal da empresa ou um apoderado. OS ACIONISTAS OU SÓCIOS DEVEM TER CIDADANIA PARAGUAIA? Os acionistas da empresa não precisam ter cidadania no país. As pessoas que fizerem parte da diretoria da empresa, sim, deverão ter um cartão de cidadania permanente ou carteira de identidade paraguaia. QUAL O PRAZO PARA CONSTITUIÇÃO DA EMPRESA? O tempo de constituição é de 30 dias. Este conteúdo está dividido em 8 capítulos que você acompanha na revista impressa/digital e também em nosso portal de notícias.


TRIGO NO MERCOSUL,

uma prova de eficiência Por GERSON HERTER Engenheiro Agrônomo, com MBA em Ecofisiologia de cultivos agrícolas. Diretor da Suporte Corretora de Mercadorias

A

cultura do trigo e o seu consumo, tem uma estreita relação dentro do bloco do Mercosul. Se por um lado há um excesso de produção de trigo na Argentina, ele jamais existiria se não houvesse uma demanda certa pelo lado brasileiro, já que é seu maior cliente. Por outro lado, por incrível que pareça, o Brasil vende tecnologia (genética) para a cultura do trigo à Argentina. Vinte e cinco por cento do trigo semeado na Argentina tem genética brasileira, que também vende para Uruguai, Paraguai, Bolívia e EUA. O Brasil conta com a produção argentina e a Argentina conta com a demanda brasileira. Paraguai exporta praticamente todo seu excedente de trigo ao Brasil, só que esta quantidade é muito errática. Mas porque o Brasil, já que detém muita tecnologia, não produz seu próprio trigo? A resposta

é que a produção de trigo sem irrigação está concentrada em dois estados, Paraná e Rio Grande do Sul e para atender os estados mais distantes, tem que fazê-lo por via marítima. O custo Brasil é muito alto e coloca em xeque sua eficiência já que a região mais “trigueira” da Argentina está próxima aos portos do Sul de Buenos Aires. É uma região que tem, por questões ambientais, produtividade superior, um solo muito fértil e uma menor severidade de doenças fúngicas (menores custos). Tudo isto faz com que o Brasil tenha pouca competitividade em relação a esta região particular da Argentina. Por outro lado, quando o trigo argentino entra no Brasil, ainda mais nos moinhos gaúchos e paranaenses, tem que enfrentar o problema do custo Brasil, tornando-se mais caro que o brasileiro. Para os triticultores brasileiros, o preço do trigo importado é uma ótima referência, pois sempre é mais caro. Concluindo, o trigo argentino só se justifica se tiver uma qualidade superior ao brasileiro. Ter trigo de má qua-

lidade não é mérito só brasileiro, já que por muitas vezes os trigos argentinos, russos e até franceses já tiveram problemas, por conta de clima adverso. Ninguém está imune a desastres naturais. Cada ente tem que fazer o melhor. Porque a Argentina tem um trigo mais padronizado? Tradição do melhoramento genético de pesquisar sempre na mesma direção (panificação) e organização de cadeia. O Brasil não tem nenhum dos dois. De qualquer forma há oportunidades para todos. Produtores brasileiros de trigo tem a seu favor o custo de internalização do produto importado, devendo para serem competitivos, baixar seu custo de produção e melhorar o padrão de qualidade. Os paraguaios e argentinos têm um mercado cativo e próximo as suas fronteiras para poder produzir excedentes exportáveis. A produção e comercialização do trigo é uma prova de eficiência de todos os envolvidos na cadeia e cabe a cada um, no seu canto do continente, fazer bem feito a sua parte e aproveitar os mercados disponíveis.

FOTO: PIXABAY

25%

do trigo semeado na Argentina tem genética brasileira, que também vende para Uruguai, Paraguai, Bolívia e EUA. SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 65


GRÃOS

COPERAGUAS

INVESTE EM FEIJÃO PARA EXPORTAÇÃO

Projeto pionieiro desenvolveu três variedades de feijão cultivadas e voltadas ao mercado externo.

AZUKI 4 Ajuda a regular a diabetes; 4 É rico em antioxidantes; 4 Melhora a massa muscular e a digestão; 4 Promove ossos mais fortes; 4 Impulsiona a saúde do coração; 4 Contribui com o gerenciamento do peso saudável; 4 Proporciona a desintoxicação e saúde do fígado; 4 Previne defeitos congênitos, pois ajuda no crescimento saudável dos bebês; 4 Reduz os sintomas da TPM.

66 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019


MUNGO

4E xcelente fonte de proteína, contendo de 20% a 24% de aminoácidos; 4É imensamente rico em fibras, o que ajuda a diminuir o colesterol LDL. O alto índice de fibras ajuda ainda no processo digestivo, fazendo com que se reduza a indigestão e acidez; 4P ossui um baixo índice glicêmico, o que permite regular os níveis de açúcar no sangue de forma saudável; 4R ico em lecitina, reduz a gordura no fígado e regula o seu funcionamento; 4R ico em ferro, o que auxilia no transporte de oxigênio no sangue, processo que aumenta a concentração e memorização; 4C ontém nutrientes considerados antimicrobianos e anti-inflamatórios, que ajudam a aumentar a imunidade do corpo, combatendo as bactérias nocivas e vírus.

tificar os melhores mercados, com o objetivo de remunerar melhor o produtor cooperado. Hoje, o Brasil já é um potencial exportador do produto, apresentando uma das melhores qualidades do mundo nestas variedades. Três variedades de feijão foram trabalhadas pela cooperativa. O Mungo e o Azuki têm como destino principal a China, mercado extremamente exigente quando o assunto é qualidade. Por isso, a Coperaguas investe constantemente em tecnologia de produção, processos e máquinas de última geração para a seleção dos melhores grãos. Já o feijão Vermelho, além da Ásia, é vendido na Europa, regiões que também primam pela excelência dos produtos. Conheça os benefícios dos feijões exportados pela Coperaguas:

VERMELHO

A

través de um grande trabalho de pesquisa de mercado, a Coperaguas, cooperativa instalada na cidade de Águas Frias, Santa Catarina, identificou em outros países, mercados promissores para produtos que não são consumidos no Brasil. Maior exportadora de feijão do Brasil, esse projeto pioneiro desenvolveu três variedades de feijão cultivadas e voltadas ao mercado externo, conforme explica o gerente comercial de exportação da cooperativa, Julio Mariucci. Para ofertar produtos de qualidade, os agrônomos da Coperaguas foram buscar conhecimento da tecnologia em outros países para aprender como plantar e como produzir esses grãos. Já na área comercial, os profissionais trabalharam alinhados para iden-

4 Contribui no controle e perda de peso; 4 Diminui os níveis de colesterol; 4 É uma fonte de antioxidantes, substâncias que combatem os radicais livres; 4 Evita o envelhecimento precoce; 4 Beneficia o coração e a circulação; 4 Protege contra doenças cardiovasculares; 4 Previne o desenvolvimento e aparecimento de tumores.

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 67


ANÁLISE DE MERCADO

PARA ONDE VAI A

AGROINDÚSTRIA

EM 2019?

FELIPPE SERIGATI Doutor em Economia pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV), professor e pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro).

ROBERTA POSSAMAI Mestre em Economia Agrícola pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV) e pesquisadora do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro).

68 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019

FOTO: CÉSAR MACHADO/AGROSTOCK

D

e acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), em 2018, a agroindústria brasileira, respondeu por 34.7% do PIB do agronegócio brasileiro. Porém, apesar da importância desse setor, seja para o universo agro, seja para a economia como um todo, não havia um indicador que acompanhasse a evolução da agroindústria de forma periódica e que permitisse a comparação do seu desempenho com os resultado dos demais segmentos da indústria nacional. Visando preencher essa lacuna e fornecer à sociedade informações sobre esse elo fundamental do agronegócio brasileiro, o FGV Agro lançou o Índice de Produção Agroindustrial (PIMAgro). Para construir o PIMAgro, o FGV Agro utilizou os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), do IBGE, em seu nível mais desagregado. Com isso, esse novo indicador, além de ser publicado mensalmente e no mesmo dia que o IBGE anunciar os novos números da PIM, dialogará com as estatísticas que o IBGE divulga sobre a produção física da indústria brasileira – ou seja, será possível comparar o desempenho da agroindústria brasileira e de seus segmentos mais importantes com o do restante da indústria nacional. Além de dialogar com os números de IBGE, o PIMAgro também foi construído de forma coerente com o conceito de agronegócio, amplamente utilizado na realidade do universo agro brasileiro. Com isso, o PIMAgro integra dois segmentos principais: de um lado, os produtos alimentícios e bebidas e, de outro, os produtos não-

-alimentícios. A partir dos pesos aplicados pelo IBGE na PIM, ficou claro que, embora o segmento de produtos alimentícios e bebidas responda a 51.6% de todo o valor produzido pela agroindústria, os produtos não-alimentícios respondem pelos 48,4% restantes, claramente, uma fração que está longe de ser marginal ou desprezível.

O QUE EXPLICA O MOVIMENTO DA AGROINDÚSTRIA?

Uma vez sintetizados os dados que compõem a agroindústria em um índice, o PIMAgro, logo ficou claro que: •O desempenho da agroindústria segue de forma muito próxima aos movimentos da indústria geral, bem como, da atividade econômica brasi-

leira. Ou seja, apesar da agroindústria ter características próprias (como uma demanda mais inelástica, seja a preço, e seja a renda, devido à grande participação dos produtos alimentícios e bebidas), ela responde na mesma direção aos choques que afetam a indústria como um todo (porém, com intensidade distinta); • Derivado do ponto anterior, também merece destaque que os movimentos da agroindústria parecem estar muito mais associados à dinâmica da indústria do que das atividades agropecuárias. Por exemplo, as expectativas são um componente fundamental na atividade econômica, entretanto, o desempenho da agroindústria responde muito mais às mundanças da confiança do empresário industrial do que do produtor agrícola;


Evolução da agroindústria, da indústria geral e do índice de atividade econômica (IBC-br) entre Dez/2013 e Fev/2019: variação acumulada em 12 meses (% a.a.) 6

PROJEÇÕES PARA A AGROINDÚSTRIA E SEUS PRINCIPAIS SEGMENTOS EM 2019 Pessimista

4 2

Base 3,3

0 -2 -4

Agroindústria Indústria Geral IBC-Br

-6

Agroindústria

2,8 Dez-18

Ago-18

Abri-18

Dez-17

Ago-17

Abri-17

Dez-16

Ago-16

Abri-16

Dez-15

Ago-15

Abri-15

Dez-14

Ago-14

-10 Abri-14

4,4

0,0

-8 Dez-13

Otimista

3,3

0,5 Prod. Alimentícios e Bebidas

Fonte: FGV Agro, IBGE e Banco Central.

6.9

Dessa forma, dado que os números da agroindústria agora estão disponíveis, e sabendo que o setor caminha de forma alinhada à conjuntura econômica nacional e às expectativas do empresário industrial, é possível realizar diversas análises, como, explicar seu desempenho passado, correlacioná-lo com os movimentos de outras variáveis ou projetar cenários futuros.

AGROINDÚSTRIA EM 2019: DESEMPENHO CONDICIONADO AO FORTALECIMENTO DA ECONOMIA BRASILEIRA

Uma vez construído um índice que permita acompanhar a evolução da agroindústria no Brasil, foi possível estimar um conjunto de modelos para projetar cenários para o setor em 2019. A partir dos modelos estimados, ficou claro que o desempenho da agroindústria responde aos movimentos de três variáveis principais: • Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br); • Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (ICI-FGV); e • Taxa de câmbio (R$/US$). Dessa forma, para realizar as projeções para o desempenho da produção agroindustrial em 2019, foram utilizados como pressupostos para “alimentar” os modelos estimados as projeções para o final do ano do Boletim Focus para o PIB (para o qual o IBC-Br é uma proxy) e para a taxa de câmbio – essa opção foi feita porque os números do Boletim Focus são amplamente utilizados como referência pelo mercado. Por fim, os pressupostos para a variação do ICI-FGV no ano foram determinados pelos próprios pes-

quisadores do FGV Agro, uma vez que não foram encontradas estimativas do mercado para essa variável. As projeções para a agroindústria refletem a conjuntura de três cenários distintos: • Cenário base: apesar das turbulências do lado político, o governo consegue aprovar as reformas necessárias, mesmo que essas sofram alguma desidratação; • Cenário otimista: o governo consiga aprovar a agenda de reformas com relativa facilidade, o que impulsionaria a economia de forma mais substancial e confere à equipe do Presidente Jair Bolsonaro um capital político mais duradouro; e • Cenário pessimista: dadas as dificuldades de formar maiorias e articular a sua base de apoio junto ao Congresso, o governo perde capital político de forma mais acelerada e aprova um conjunto muito limitado de reformas e em versões bastante desidratadas. A partir do modelo estimado e considerando as premissas adotadas, projeta-se que, no cenário base, a produção da agroindústria deverá apresentar um crescimento de 3,3% no ano de 2019, em comparação com o ano anterior. Contudo, em um cenário pessimista, a agroindústria poderá ficar estagnada este ano (0,0%); porém, em um cenário otimista, a projeção é de forte crescimento (4,4%).

4,8

-0,8 Prod. Não-Alimentícios Fonte: FGV Agro

A IMPORTÂNCIA DE TER UM TERMÔMETRO PARA O DESEMPENHO DA AGROINDÚSTRIA

As análises apresentadas nos parágrafos anteriores deixam clara a importância de ter um termômetro que acompanhe regularmente o desempenho da agroindústria e que permita avaliar sua evolução comparando com os movimentos de outros setores e de outras variáveis econômicas. Com o objetivo de preencher essa lacuna, o FGV Agro passa a disponibilizar em seu site (https://gvagro.fgv. br/) o Índice de Produção Agroindustrial (PIMAgro). Esse indicador será atualizado mensalmente, seguindo o mesmo calendário do PIM do IBGE, todos os dados serão públicos, podendo ser acessados gratuitamente, e, na mesma página do FGV Agro, também estarão disponíveis análises e comentários sobre a conjuntura para o setor.

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 69


FUSÕES & AQUISIÇÕES

Por Bruno Saldivia

Bruno Saldivia, executivo de negócios da Nello Investimentos, traz as informações sobre investimentos, tratativas e acordos que movimentam o agronegócio. Confira novos artigos em www.setoragroenegocios.com.br

A GRANDE

OPORTUNIDADE

LÁCTEA DO SUL DO PAÍS FOTO: SHUTTERSTOCK

Se a demanda interna por produtos lácteos ainda se encontra em recuperação, um novo horizonte se apresenta como promissor: a exportação.

70 AGRO&NEGÓCIOS SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 | MAIO 2019

O

Brasil se destaca no volume de vários alimentos. É o segundo maior exportador mundial de alimentos processados. É o primeiro produtor e exportador mundial de suco de laranja. É o primeiro produtor e exportador mundial de açúcar; primeiro produtor e segundo exportador mundial de carne bovina; segundo exportador mundial de bombons e doces; segundo exportador mundial de café solúvel; segundo produtor mundial e primeiro exportador de carne de aves; e quarto produtor mundial e segundo exportador de óleo de soja!


E o leite? A Nova Zelândia exporta 97% do leite que produz, o Brasil exporta míseros 0,1%. O Brasil possui um custo de produção por litro um pouco superior ao da Nova Zelândia mas ainda um dos mais baixos do mundo. Os Estados Unidos, o maior produtor mundial possui um custo de produção de 33% a 70% maior que o nosso ou da Nova Zelândia. A oportunidade para suprir o mercado interno que é gigantesco se soma à oportunidade de exportação brasileira no futuro. Naturalmente, muitos passos serão necessários para alcançar estes mercados, mas temos vantagens comparativas importantes e o acesso ao leite e derivados será chave para atender os consumidores aqui e lá fora. A disputa pela captação de leite no Brasil está ao alcance dos olhos de quem quiser ver e os mais atentos já conseguiram entender que os olhares estão virados para o Sul do país e sua segunda maior bacia leiteira. Nos últimos 3 a 4 anos evidenciou-se um novo ciclo de consolidação no setor de laticínios, e o avanço de grupos internacionais que até então estavam fora do ambiente competitivo ou pelo menos atuavam de forma bastante tímida. Um dos movimentos que deixa bastante claro esse processo, é a disputa pelo controle da Itambé pelas multinacionais Lala com sede no México, e a Francesa Lactalis. Esses dois grupos travam inclusive uma disputa no tribunal arbitral pelo controle da Itambé após um desacordo gerado em 2017 quando a Lala fez a aquisição da Vigor do Grupo J&F - em meio as turbulências da Lava-jato - que detinha 50% do capital da Itambé, porém a CCPR (detentora dos 50% restantes) exerceu uma opção de recompra dessa participação. Logo após efetuar a recompra, a Itambé foi vendida para a Lactalis, tornando a companhia francesa a líder nacional em captação de leite.

Ainda falando sobre capital internacional no setor, a Suíça Emmi adquiriu em 2017 o laticínio Porto Alegre, de Minas Gerais. O fundo americano Arlon que entrou no capital da Betânia tem mostrado apetite para mais aquisições. De olho nesse movimento, alguns fundos de investimentos e grupos lácteos menores tem promovido um novo ciclo de consolidação, e esse processo tem saído cada vez mais do eixo MG<>SP. A gestora brasileira de fundos de participação Aqua Capital que é focada no setor do agronegócio entrou no setor lácteo através de aquisição parcial da catarinense Lac Lélo, onde promoveu uma ampliação na sua capacidade produtiva e a incorporação da Cruzília. O fundo de investimentos caminha na direção de faturar R$ 1 bilhão em lácteos e esse resultado se dará em cima de uma mistura de crescimento orgânico e inorgânico. Novos avanços têm sido feitos em laticínios situados no Sul do Brasil, e nossa previsão é que nos próximos 2 a 3 anos o ambiente competitivo seja bastante modificado. No Sul do país, a estrutura de cooperativas de produtores ainda é bastante relevante e acaba se tornando um desafio ao capital intensivo e as necessidades de entregas de resultados e margens para as empresas de capital aberto, fundos de investimentos e grupos empresariais. A Aurora Alimentos, segundo ranking da Leite Brasil, captou mais de 520 milhões de litros de leite em 2018, contando com 4.900 produtores. Dados que colocam a Aurora em 5º lugar no ranking. Estrutura de processamento e análise do leite, capacidade instalada, organização contábil e governança corporativa serão fatores decisivos para indústrias que queiram aproveitar o ciclo de investimentos no setor e promover um crescimento sustentável. Aqui ou lá fora.

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | MAIO 2019 71


OPINIÃO

AUTOCONTROLE

É ALIADO

DE UMA INSPEÇÃO RIGOROSA

S

FOTO: SHUTTERSTOCK

Por Marcelo Lara Jornalista Especializado em Agronegócio

empre costumo dizer que expressões e palavras selecionadas para definir projetos, programas ou ferramentas têm a força da interpretação que a sociedade impõe. Quando a expressão "autocontrole” ganhou o centro das atenções, especialmente este ano, soou como um fim da inspeção, relaxamento das regras, insegurança para os consumidores, isso tudo para os ouvidos desinformados ou bombardeados de teorias conspiratórias. "Autocontrole" sempre existiu em toda empresa que tem SIF (Serviço de Inspeção Federal) é uma prática obrigatória. Esta ferramenta precisa ser explicada com o devido histórico e de uma forma clara para sociedade. A cadeia da carne ficou vulnerável perante a opinião pública com o desfecho da operação "Carne Fraca", mas ao mesmo tempo serviu para dar um suporte e mobilizar as autoridades para reforçar a credibilidade de todo sistema que é robusto.

OS CONCORRENTES INTERNACIONAIS NÃO PERDEM TEMPO

A imagem ainda está muito abalada no mercado mundial e os concorrentes não vão esquecer o evento “Carne Fraca”. Basta ver o resultado da

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visita do Presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos abrindo espaço para uma missão nos frigoríficos brasileiros. A Associação dos Criadores de Gado dos Estados Unidos (USCA) manifestou sua oposição frente a possibilidade de retomada da compra de carne bovina in natura brasileira por parte dos americanos classificando o Brasil como um mau ator no mercado onde a sanidade animal coloca em risco a saúde do rebanho local. O Brasil tem muito trabalho pela frente. Por isso a comunicação com o consumidor brasileiro é tão importante. Implementar um sistema de informações gerenciais entre iniciativa privada e o governo faz parte deste esforço para recuperar credibilidade. Dentro do que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento está trabalhando tem pontos que ficam claros desde o princípio para evitar novas polêmicas. A ministra Tereza Cristina sempre que pode reforça que, no caso dos frigoríficos, a regulamentação da ferramenta autocontrole não envolve as etapas anterior e posterior ao abate de animais. A presença permanente de auditores fiscais agropecuários para acompanhar esses processos é prevista em lei e condição exigida por

países importadores. O programa de autocontrole não é terceirizar a administração pública. Não é flexibilizar as normas ou passar as responsabilidades que são do governo e muito menos afrouxar os controles por parte das indústrias. O programa vai direto para satisfazer consumidores. Tecnicamente é o chamado preventivo de não conformidades, com base nos dados das operações segundo padrões prévios para demonstração, permanente e documentada pelas empresas de que as especificações e as garantias dos alimentos por eles produzidos foram efetivamente observadas. Análise dos perigos e pontos críticos de controle APPCC é uma estratégia universal, estruturada documentada, preventiva de perigos biológicos, químicos, físicos e da probabilidade de ocorrência em todas as etapas da produção de alimentos que define medidas para o seu controle. Tem como garantir alimentos 100% seguros.

PROGRAMA DE AUTOCONTROLE NÃO É NOVIDADE PARA O SIF

O coordenador técnico da comissão de defesa agropecuária da FPA, Enio Marques fez uma pesquisa profunda


ENTIDADES ENVOLVIDAS

FOTO: SCHUTTERSTOCK

na história. Aproveito o embasamento histórico para dar luz nessa discussão. O programa de autocontrole tem mais de 60 anos na história da produção de alimentos e quase 50 anos na inspeção. Surgiu com base nas teorias de Gestão Total da Qualidade (TQM) com a adaptação das boas práticas usadas na indústria farmacêutica com ênfase nos processos. A Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle (AAPPCC) a sigla em inglês é HACCP foi adotado pelos Estados Unidos em 1973, nas regulamentações de alimentos enlatados de baixa acidez, foi a resposta para um incidente de botulismo envolvendo a sopa “BON VINANT VICHYSSOISE” na época.

Em resumo, o processo avalia os riscos potenciais da operação definindo quais áreas são críticas para a segurança do consumidor e estabelece os pontos críticos de controle que serão monitorados para as ações corretivas, se necessárias. Esse processo representou uma resposta mundial para crises de confiança dos consumidores nos anos 80 e 90. Em 1993, nos Estados Unidos, ocorreu um dos surtos mais marcantes de doenças transmitidas por alimentos envolvendo a contaminação de hambúrguer, da rede Jack In the Box, por bactéria. Foram 700 pessoas contaminadas sendo que quatro morreram. O autocontrole é uma política pública mundial consagrada, estratégia do alimento seguro do campo à mesa. O conjunto envolvendo as 3 etapas (Avaliação, Gerenciamento e Comunicação dos Riscos) entende-se como a Análise dos Riscos. Observando a história envolvendo credibilidade de quem produz e a segurança gerada para os consumidores podemos falar novamente da “Carne Fraca” que mexeu com a reputação das empresas e até do governo. Os produtos envolvidos nas investigações não geraram riscos sistêmicos para a saúde dos consumidores como aconteceu nos surtos já ocorridos no mundo.

Um workshop da Comissão de Defesa Agropecuária foi realizado no Instituto Pensar Agro, na Frente Parlamentar da Agropecuária, com a participação de entidades que estão acompanhando de perto o processo de alinhamento do programa oficial do Mapa. Reunião direcionada pelo coordenador técnico da comissão de defesa agropecuária da FPA, Enio Marques. Estão alinhando uma série de entendimentos para contribuir com o programa do Ministério. A mudança vem na forma de atuação dos agentes responsáveis pelo serviço de inspeção com visitas não agendadas, o período entre uma visita e outra vai depender do nível de segurança de cada empresa.

Na prática, o SIF (Serviço de Inspeção Federal estabeleceu um regime especial de controle, analisou minuciosamente os registros dos "autocontroles", checou as amostras de lotes produzidos no período investigado pela operação da polícia federal e nada encontrou em relação à riscos de contaminação. Vários países consumidores enviaram missões de verificação e também não encontraram situação que pudesse gerar evidência de risco. Foram identificados fatos graves de não conformidades dos produtos em relação as especificações contratadas. Isso demonstrou a eficiência e relevância do "autocontrole", o sistema de garantia da qualidade, mas mostrou também a necessidade de ajustes no modelo. A crise identificou aparelhamento político nas decisões e a falta de cumprimento, de controle das normas da Secretaria de Defesa Agropecuária. O governo vai atuar como controle do autocontrole. Os estabelecimentos de produtos de origem animal têm de cumprir normas e exigências brasileiras para atender tanto mercado interno quanto externo, uma prática centenária que vai continuar. O controle dos controles é um programa oficial para que as indústrias possam garantir e demonstrar que seus produtos cumprem os requisitos sanitários e fitossanitários com a vigilância do governo. Para a gestão desse processo, a Secretaria de Defesa Agropecuária criou o Comitê Técnico para o Programa do Autocontrole (Portaria 24/19)9, com representantes dos departamentos da SDA e a participação da CNA, CNI e OCB. Para promover a articulação dos órgãos e entidades para implementar programas de autocontrole nos estabelecimentos regulados pela legislação de defesa agropecuária.

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OPINIÃO Por Eldemar Neitzke

Eldemar Neitzke É formado em Administração, com Mestrado em Gestão Estratégica, MBA em Marketing Estratégico e pós-graduado em Gestão Empresarial Diretor da N & N Gestão de Estratégias Comerciais

O

Brasil passou por diversas mudanças econômicas nas últimas décadas, alternando crescimento do PIB, deflações, inflações, a estabilidade econômica, mudanças de moedas e globalização. Aprendemos e nos adaptamos a esses modelos, por necessidade de sobrevivência e perpetuação dos negócios e empresa. É nesse cenário que está nosso produtor rural, procurando moldar-se as novas e constantes realidades do mercado e clientes. Um fator que difere muito no mercado hoje, sendo mais importante e seletivo, é a globalização e as mídias sociais. Em poucos minutos pode acontecer o consumo expressivo de um determinado produto ou a sua banalização. Assim, produzimos produtos do setor primário, que sofrem ações de

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mercado, oferta e procura, protecionismos e barreiras sanitárias. A pergunta a ser feita é: a melhoria de quais fatores estão ao nosso alcance para termos progresso e busca por eficiência? É fundamental que a análise de cada atividade desenvolvida seja minuciosa, a exemplo da atividade de produção de leite. • Qual é o plantel total de animais em lactação? • Qual é o plantel improdutivo? • Qual é a taxa de prenhes e parição? • Qual é o período de intervalo entre partos? • Existe programa sanitário? Atende as necessidades do plantel? • Tem produção de silagem? É feito a sua inoculação? • Qual é a incidência de mastite? Existe reincidência da doença?

• Realização de pré e pós dipping? • Quais aspectos posso e devo evoluir do manejo? • Quais são os pontos críticos no padrão operacional de rotina? Enfim, esses são alguns dos muitos aspectos importantes da atividade a qual temos ação, para reduzir custos e melhorar a nossa lucratividade, aproveitando os momentos de preços altos, para fazer uma reserva para os tempos de baixa lucratividade. As atividades que trabalhamos, que são commodities, sofrem tendências de altas e baixas, isso é cíclico, cabe ao produtor, que é o gestor de sua empresa, atuar com fatos e dados nos desvios que se fazem presentes em seu negócio. Deve-se minimizar os riscos de problemas com animais para que possam expressar seu potencial genético. A proteção por um programa sanitário protegendo o rebanho das doenças que mais importam na região em que vivem. Ex: a vacinação para as doenças reprodutivas, clostridiais, (presente de norte a sul), leptospirose, entre outras doenças que se fazem necessário proteger o rebanho. Vacinação é como “fazer seguro de um automóvel, você faz para não usar”, porém se precisar, estará lá para te proteger. O agronegócio, deve ser encarado como uma grande oportunidade gerenciada com indicadores, ter referência os “benchmarking”, que possam auxiliar no maior desempenho e aumento da lucratividade, para que todos possam ter perenidade em suas empresas.

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