Revista Setor Agro&Negócios

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EDITORIAL

PARA FRENTE E AVANTE !

FOTO: PIXABAY

A

participação dos produtos do agronegócio nas exportações brasileiras chegou a 47,6% do volume total embarcado em 2019. Amparado em altos investimentos tecnológicos e pesquisa, o segmento eleva sua produção de forma estruturada e segura, conquistando novos mercados todos os anos, situação que não ocorre em outros setores da economia. Estados Unidos, União Europeia, Irã e Japão foram os principais destinos dos produtos agrícolas no decorrer dos últimos 12 meses, respondendo por 63% da comercialização internacional. Para alcançar mais um recorde previsto para 2020, novos mercados se abrem. É o agronegócio brasileiro em franca internacionalização. Ultrapassar fronteiras é motivo de comemoração para toda cadeia que vive um dos melhores momentos. E não era para menos. Enquanto produtores e indústria investem em modernização e qualidade, o Ministério da Agricultura busca novos parceiros comerciais. Nunca se viu tanto do que é produzido aqui chegar à mesa dos consumidores internacionais. E o resultado é uma expectativa de crescimento de 3% para o setor. Soja, trigo, milho, cacau e açúcar estão na mira dos importadores. É claro que nem tudo são flores. Ciclos biológicos como a estiagem, principalmente na região Sul do país podem reduzir os números. Outra situação que preocupa é a possibilidade de um acordo comercial entre Estados

Unidos e China, o que prejudicaria, à longo prazo, a venda de soja e carnes. Mas o que representam estes episódios diante de tamanha fortaleza construída pelo setor? A internacionalização do agronegócio brasileiro é o tema de capa da 8ª edição da Revista Setor Agro&Negócios. Um assunto de grande relevância e que traduz a potência que o segmento representa para o país. Como profissional e entusiasta de tudo que move o agro, me sinto orgulhosa em começar 2020, com notícias tão promissoras e expectativas que só demonstram este gigante da economia local. E por falar em coisas boas, lançamos nesta edição o Projeto Profissionalização no Agronegócio. O objetivo é mostrar que a educação é o alicerce para evolução do setor e fundamental para suprir a crescente demanda mundial por alimentos. Na primeira reportagem, conheça como o mestrado profissional pode agregar em sua carreira. Que as edições que circularão nos próximos meses venham carregadas de tantas boas energias. Que esta onda de progresso invada seu negócio e, que juntos, possamos comemorar. Dois mil e vinte já está sendo incrível e ao que tudo indica, os próximos capítulos serão ainda melhores. Lhe desejo uma excelente leitura.

Paula Canova . Editora

EXPEDIENTE ADMINISTRAÇÃO E REDAÇÃO RUA RUI BARBOSA, 1284-E CENTRO | CHAPECÓ (SC) CEP: 89.801-148 (49) 99975-2025 (49) 98418-9478 www.setoragroenegocios.com.br DIRETORA DE REDAÇÃO PAULA CANOVA MTB 02111 JP redacao@setoragroenegocios.com.br DIRETORA COMERCIAL RAFAELA MUNARETTO MTB 05726 JP comercial@ setoragroenegocios.com.br REPORTAGENS TAÍS TEIXEIRA TUANNY DE PAULA DIRETORA DE ARTE BIA GOMES PROJETO GRÁFICO DOGLISMAR MONTEIRO CAPA GERSON NASCIMENTO COLABORADORES DESTA EDIÇÃO ARI JARBAS SANDI , ADAUTO CANEDO, EDUARDO TERNUS , ELINTON WEINERT CARNEIRO , FELIPPE SERIGATI, JORGE KRACKER, JOSÉ ZEFERINO PEDROZO, MB COMUNICAÇÃO, NÁDIA SOLANGE SCHMIDT,PAULO AUGUSTO ESTEVES, RAQUEL T. PEREIRA, ROBERTA POSSAMAI, VIVIAN FEDDERN A Revista Setor Agro&Negócios é uma publicação quadrimestral, destinada ao segmento do agronegócio e abrange a cadeia produtiva desde as propriedades, instituições, universidades, entidades, até a indústria. Os artigos assinados e materiais publicitários não representam, necessariamente a opinião da editora. Não é permitida a reprodução total ou parcial dos conteúdos, sem prévia autorização.


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JANEIRO DE 2020

ILUSTRAÇÃO: GERSON NASCIMENTO

SUMÁRIO

CAPA

NA MIRA DA INTERNACIONALIZAÇÃO Em 2020, agronegócio conquista novos mercados e aumenta as exportações. O resultado são novos recordes e um crescimento que deve chegar a 3%.

SUÍNOS 18 MERCADO EM ALTA, MAS PSA PREOCUPA Brasil se mantém em alerta para evitar a doença 22 ARTIGO TÉCNICO Peste suína africana: o que estamos fazendo a respeito

AVES 26 ANEMIA AVIÁRIA De geração para geração

BOVINOS 28 LEITE O foco agora, é o pó

4 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020

30 OPINIÃO SC: novos horizontes para bovinocultura

PEIXES

OPINIÃO 70 CARNES Impactos do mercado internacional

34 EM ASCENSÃO Atividade aquícola cresceu mais de 130% nos últimos 12 anos

MERCADO 38 BIOCARNES Uma solução de futuro? 52 INDÚSTRIA FORTE O valor da carcaça 62 GRÃOS Novos recordes em 2020 64 AGRO NOVO, DE NOVO Economia em recuperação e muito a comemorar

44

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SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020 5


FEEDBACK FÓRUM INTERNACIONAL AGRO SEM FRONTEIRAS

FOTO: PAULA NAVARRO

A conexão entre Brasil, Paraguai e Argentina foi o foco principal do I Fórum Internacional Agro Sem Fronteiras. O evento organizado pela Revista Setor Agro&Negócios aconteceu no mês de novembro, em Chapecó (SC). Fomentar novos negócios, estimular pesquisas e intercâmbios, além de um grande avanço nas discussões sobre a implantação da Rota do Milho são alguns dos resultados do fórum. A segunda edição, que abordará os novos rumos para o Agronegócio do Mercosul já tem data marcada. Acontecerá no dia 17 de setembro, durante a Mercoagro 2020. Acompanhe nossos canais de comunicação e fique por dentro da programação.

BIBLIOTECA RURAL Recebemos a revista em nossa biblioteca e ficamos muito felizes. É uma publicação indispensável para nosso dia a dia. Mantemos e recebemos diariamente em torno de 10 leitores que são produtores rurais em nossa região. Romaldo Bitencourt

Engenheiro agrônomo e gestor rural - Ipiranga (PR)

A AGRO NÃO PARA! Nossa redação está sempre atenta a todos os acontecimentos do mundo agro. Para deixar nossos leitores bem informados, o conteúdo é dividido entre nossos canais: REVISTA IMPRESSA Grandes reportagens, artigos técnicos, análises de mercado e a palavra dos especialistas em uma seleção de assuntos que movimentam o setor PORTAL DE NOTÍCIAS As novidades do segmento em tempo real

FACEBOOK E INSTAGRAM Com linguagem dinâmica e rápida. Tudo na palma da mão! LINKEDIN Para os profissionais que precisam estar por dentro de tudo que acontece no segmento

Revista Setor Agro&Negócios

6 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020

SUCESSO NO FACEBOOK O assunto exportação é um dos mais acessados em nossas Redes Sociais e Portal de Notícias. A habilitação de novos frigoríficos ao mercado chinês esteve entre os assuntos mais comentados por nossos leitores !

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PRODUTOS

OURO FINO

Anti-inflamatório pioneiro

Desafios sanitários fazem parte da rotina de toda propriedade rural. Para diferentes tipos de doenças, a Ourofino Saúde Animal oferece o anti-inflamatório à base de Meloxicam, pioneiro no mercado brasileiro. O produto é indicado para uso em bovinos, equinos e suínos. O Maxicam 2% é injetável e de fácil aplicação, alivia a dor, não causa lesões gástricas e tem ação anti-inflamatória potente e duradoura.

INOBRAM

Sistema i-Allerta

Mais segurança, eficiência, conforto, bem-estar animal e maiores lucros. Estes são os impactos positivos que o novo Sistema i-Allerta da InoBram traz para as granjas de produção animal. Com interface amigável, pode ser instalado em qualquer tipo de granja, grande, média ou pequena. O Sistema i-Allerta funciona juntamente com o controlador que o produtor já tem instalado na granja, mas atua de forma independente, pois possui seu próprio conjunto de periféricos e sensores de medição, além de baterias internas que fazem com que o i-Allerta continue funcionando mesmo se faltar energia. Desta forma, a granja estará sempre segura e protegida, pois, se for detectada alguma falha relacionada a ambiência no interior do galpão, o produtor será imediatamente informado pelo sistema, através de alertas sonoros, visuais e emissão de sinais via aplicativo – InoBram APP – enviados diretamente para o celular.

SAFEEDS

Fungistop para controle de fungos Com intuito de aumentar a eficiência nos processos produtivos, a Safeeds lançou o Fungistop, um antifúngico de efeito conservante que contribui para redução da temperatura da dieta, além de inibir a proliferação de fungos, controlando desta forma a fermentação da dieta total (TMR). Em testes a campo, validou-se a redução do trato diário de 3 para 1, com o alimento permanecendo fresco por até 36 horas. “Quando fornecemos a comida fresca aos animais eles consomem mais e com isso chegamos a um aumento de aproximadamente 8,4% de produção de leite. Reduzindo o trato, melhoramos toda a logística da propriedade, otimização de equipamentos e funcionários, gerando melhores resultados financeiros”, explica o zootecnista e consultor, Paulo Mikulis.

CEVA

Muitas doenças são capazes de causar perdas econômicas importantes em lotes comerciais de frango. Mas, podemos destacar uma delas sendo a Doença de Marek. Isso porque, a doença é uma comum condição linfoproliferativa que afeta populações de aves no mundo todo. Aves acometidas pela doença apresentam baixos índices de produção. A fim de trazer mais proteção com menos manejo na hora de administrar vacinas no incubatório, a Ceva Saúde Animal lança no mercado brasileiro a vacina monovalente Cevac MD Rispens. Indicada para aves poedeiras e reprodutoras, reconhecida por sua elevada proteção contra a Doença de Marek. A nova vacina reforça a linha mais completa e inovadora para incubatórios, aumentando ainda mais as possibilidades de combinações entre inovadoras vacinas.

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FOTO: SHUTTERSTOCK

Vacina contra Doença de Marek


FOTO: FREEPIK

ALLTECH IMEVE

DBR Cálcio

O suplemento DBR Cálcio é composto de cálcio e magnésio, para vacas em pré e pós parto. Enriquecido com probiótico, auxilia na recomposição e antecipação da instalação das microbiotas ruminal e intestinal das vacas, mantendo-as equilibradas. Entre os benefícios está o auxílio na prevenção da hipocalcemia (febre do leite), preparação das vacas para a lactação, produção de bacteriocinas, estimulando o sistema imunológico, incremento a população bacteriana ruminal e intestinal, além de manter as microbiotas ruminal e intestinal equilibradas em momentos de estresse.

Camarão: soluções naturais podem aumentar peso em até 30% O setor de produção de camarões no Brasil vive um momento de recuperação nos últimos dois anos. Convivendo desde 2015 com os efeitos da incidência da Mancha Branca, síndrome que dizimou viveiros de camarão em todo o Nordeste do país, carcinicultores vêm encontrando na utilização de soluções orgânicas um caminho para melhorar parâmetros produtivos e, por consequência, a rentabilidade. Em estudos promovidos pela Alltech em três propriedades no estado do Rio Grande do Norte em 2019, o uso de soluções orgânicas para protocolos simbióticos na fertilização de viveiros em comparação ao uso de ração e fertilizantes inorgânicos mostrou resultados positivos em ganho de peso (aumento de 30%), taxa de sobrevivência nos viveiros (incremento de 102%) e redução de 24% na quantidade de matéria orgânica nos tanques. “Temos conseguido reduzir bastante o custo de produção e aumentar o desempenho dos viveiros. O aumento da produtividade agrega valor e para o produtor isso é ótimo, pois ele consegue se manter no mercado”, explica o coordenador de aquicultura da Alltech, Fabio Rodrigues.

NUTRON

FOTO: PIXABAY

Nova linha no mercado

A Nutron, marca de Nutrição Animal da Cargill, lança sua nova linha de núcleos para vacas em lactação: a NutronMilk - que já está disponível no mercado. Com um portfólio completo, a linha propõe uma revisão do atendimento das necessidades de macro e micro minerais, além de aditivos diferenciados no mercado, buscando sustentabilidade, bem-estar animal e ainda mais performance para o rebanho leiteiro. “A NutronMilk traz uma visão mais consciente da produção de alimentos de origem animal, o que vem de encontro com a estratégia da Cargill Nutrição Animal para os próximos anos. Conseguimos reunir em um portfólio enxuto núcleos focados no aumento do potencial produtivo para entregar uma maior rentabilidade aos nossos clientes”, conta Diego Langwinksi, Consultor Técnico Nacional de Bovinos de leite.

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CAPA

NA MIRA DA INTER

Dos dez principais produtos embarcados pelas empresas brasileiras para outros países, oito pertencem ao agronegócio. Amparado em altos investimentos tecnológicos e pesquisa, o segmento eleva sua produção de forma estruturada e segura, realidade que não se observa em outros setores da economia. por Taís Teixeira tros países. Nascido em Malta, atuou por 20 anos no país e conhece bem a realidade brasileira. “A liderança do Brasil como principal fornecedor do mundo de café, suco de laranja, carnes e grãos, às vezes, faz com que o país se acomode, achando que os mercados estão garantidos. Mas a demanda continua aumentando e a produção nos outros países também. Portanto, precisamos continuar trabalhando para garantir nossa participação no mercado mundial”, explica. Justamente essa é a finalidade do Brasil, por exemplo, em relação à China: continuar como o principal fornecedor de carnes e soja, mas também de outros itens. De acordo com o banco holandês Rabobank, referência global em análises do setor agrícola, em 2019, as importações chinesas de carne suína totalizaram 3,2 milhões de toneladas. Em 2020, esse número aumentará em 1 milhão de toneladas.

RANKING DOS PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS PELO BRASIL EM 2019 US$ 26,218 bilhões US$ 7,503 bilhões

SOJA EM GRÃOS

MILHO EM GRÃOS

US$ 6,488 bilhões

CARNE BOVINA

US$ 6,298 bilhões

US$ 5,770 bilhões

FARELO CARNE DE SOJA DE FRANGO

US$ 4.640 bilhões

US$ 4,535 bilhões

AÇÚCAR EM BRUTO

CAFÉ EM GRÃOS

Fonte: Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB)

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NÚMEROS QUE SÓ CRESCEM SUÍNOS

As exportações globais de carne suína para os países afetados pela Peste Suína Africana devem aumentar 35% em relação a 2019, 1 milhão de toneladas a mais, refletindo em um aumento de 20% nas exportações brasileiras dessa proteína.

BOVINOS

O volume exportado de carne bovina deve representar 25,5% do volume total produzido no Brasil, a maior participação da exportação na história.

FRANGO

Expectativa de incremento das exportações brasileiras de carne de frango para os países árabes que, em função da crise da Peste Suína Africana, que afeta a Ásia e o leste Europeu, aumentaram a preocupação em relação ao suprimento de alimentos para suas populações.

ANIMAIS VIVOS

A exportação de animais vivos influenciará positivamente nos preços praticados da arroba bovina. Com abertura de novos mercados, a expectativa é que se exporte mais de 600 mil animais. FONTE CNA

FOTO MONTAGEM: GERSON NASCIMENTO

U

ltrapassar fronteiras é motivo de comemoração para toda cadeia que vive um de seus melhores momentos. E não era para menos. Enquanto produtores e indústria investem em modernização e qualidade, o Ministério da Agricultura busca novos parceiros comerciais. Nunca se viu tanto do que é produzido aqui chegar à mesa dos consumidores estrangeiros. E o resultado é uma expectativa de crescimento de 3% para o setor em 2019. Um dos focos para comercialização é o continente asiático. Países como China, Japão, Vietnã, Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes são alvo do ministério. O objetivo é aumentar as negociações internacionais, incluindo novos itens na pauta de exportação. Para o analista de mercado, Steve Cachia, o país sempre teve dificuldades em se comunicar com o consumidor final e com ou-


NACIONALIZACAO

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CAPA

MÉXICO

US$ 12,3 bilhões CANADÁ US$ 3,8 bilhões

US$ 10,3 bilhões JAPÃO US$ 17,1 bilhões

O mundo islâmico seguirá em destaque na agenda internacional. A crescente demanda por bens agropecuários e a atração de investimentos para o setor serão temas de workshop com especialistas nesses mercados. *Com informações CNA

No Japão, os resultados de 2018 corroboram a dimensão das possibilidades na Ásia. No ano passado, a segunda maior potência econômica do mundo apontou o agronegócio como setor responsável por quase metade das exportações brasileiras para a “terra do sol nascente”. As vendas ultrapassaram R$ 2 bilhões, com a carne de frango liderando a lista. O interesse pelo mercado asiático foi estratégico. Com a mudança no governo brasileiro, parte do mundo desenvolvido ficou na defensiva, à espera dos primeiros sinais de como seria a nova gestão. Uma postura mais incisiva do Brasil em relação a alguns países compradores poderia criar uma animosidade e, consequentemente, uma possível restrição comercial. “A sorte do Brasil

Uma política agrícola transparente, dentro da conjuntura mundial de demanda, aliada a uma economia firme em um ambiente democrático, é a receita para o Brasil superar qualquer incerteza política e continuar buscando a sua supremacia no cenário internacional do agronegócio STEVE CACHIA

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FOTO: DIVULGAÇÃO

COREIA DO SUL

FOTO: PIXABAY

REDE INTERAGRO Em 2020, a relação do Brasil com o mercado internacional deve ficar ainda mais estreita. Os esforços para esta aproximação também vêm da Confederação Nacional de Agricultura (CNA). No documento em que relata as perspectivas para este ano, a entidade aponta a abertura de quatro Escritórios Regionais de Promoção e Comercialização da Rede InterAgro, para ampliar os negócios entre os produtores e exportadores do agro brasileiro e o mercado internacional, com foco no mercado asiático. Alinhados ao Escritório de Promoção Comercial da CNA na cidade de Xangai, na China, a Rede InterAgro irá estabelecer contato mais direto entre os produtores brasileiros e a Ásia para promover a realização concreta de negócios e o aumento da inserção internacional de pequenos e médios produtores. Essas ações fazem parte do Projeto de Internacionalização do Agro, iniciado em 2019. O segundo Escritório de Promoção Comercial na Ásia também tem previsão para ser inaugurado em 2020. A expectativa é de que o escritório seja sediado na cidade – estado de Singapura, polo comercial e logístico do sudeste asiático. As ações da Rede InterAgro para capacitação dos produtores para o mercado internacional serão intensificadas em 2020, com a estimativa de realização de dez seminários da Rede em todas as regiões do Brasil. A CNA e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) assinaram, no final de 2019, um convênio para parceria em ações de desenvolvimento da cultura exportadora no Agro. Ainda, no âmbito da parceria com a Apex-Brasil, serão realizadas ações de promoção comercial com produtores para mercados estratégicos para os produtos do Agro, como a América do Sul, a União Europeia, os Estados Unidos, os países árabes e a Coreia do Sul. Missões comerciais com foco na realização de negócios terão foco no mercado asiático, em especial na China. Nas negociações internacionais, a expectativa é que sejam concluídas as tratativas com a Coreia do Sul e com o Canadá. Além disso, devem ocorrer avanços no processo de ampliação do Acordo de Cooperação Econômica com o México (ACE53) e abertura das negociações com o Japão. Esses mercados possuem amplo potencial para as exportações brasileiras, podendo gerar ampliação de comércio nos montantes de:


BRASIL É UM PLAYER MUNDIAL, MAS NÃO É O ÚNICO

O analista destaca que o entendimento de que não se está só é vital para as tomadas de decisão do país e para evitar inimigos gratuitos por razões de política partidária, o que é improdutivo. Desse modo, é necessário ter capacidade para negociação e excelência na elaboração de acordos equilibrados para todos os participantes. “O Brasil é importante para a segurança alimentar no mundo, mas não deve ser arrogante ao ponto de não querer sentar na mesa de negociação. Tem que compreender o que o mercado consumidor quer, quais as

TRANSPARÊNCIA É A CHAVE PARA O CRESCIMENTO

Cachia avalia que a clareza dos mercados em expor os seus problemas, necessidades, exigências e condições é um facilitador para os países chegarem a um acordo atrativo para ambos e garantir ao Brasil a entrada em novos mercados. “Uma política agrícola transparente, dentro da conjuntura mundial de demanda, aliada a uma economia firme em um ambiente democrático, é a receita para o Brasil superar qualquer incerteza política e continuar buscando a sua supremacia no cenário internacional do agronegócio. Qualquer movimento fora dessas linhas pode tirar o país do trilho e migrar para o caminho das incertezas maiores, seja na formação dos preços, como também no planejamento para as próximas safras”, conclui.

BRASIL NO TOPO Em 2019, o país assumiu a liderança na produção e exportação de commodities: Maior produtor de canade-açúcar do mundo Maior exportador de soja do mundo; Maior exportador e consumidor de café do mundo; Maior produtor e exportador de suco de laranja do mundo; Maior exportador de carne bovina; Maior exportador de frango do mundo; Quarto maior produtor e exportador de suínos. Segundo maior exportador de milho.

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FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

foi que a ministra Tereza Cristina abraçou a vocação exportadora do agronegócio brasileiro e até agora está exercendo a altura seu papel de promotora das matérias-primas, subprodutos e produtos industrializados oriundos da agricultura brasileira. Se distanciando da política partidária, levantou a bandeira do comércio internacional globalizado e se dispôs a negociar diplomaticamente com os vários parceiros comerciais, inclusive com países como a China, Países Árabes e a União Europeia, independentemente das polêmicas anteriores provocadas pelo governo federal”, rechaça Cachia.

novas tendências de demanda e, se necessário, se adaptar aos padrões exigidos. O investidor estrangeiro, o importador e o consumidor final estão no mercado para fazer negócios e comprar, porém há de se considerar que onde tem uma política equivocada, pode existir entraves ao processo”. Os últimos acontecimentos, não somente no Brasil, mas em outros países da América do Sul, tem preocupado o mercado internacional, talvez mais sobre o ponto de vista político e de infraestrutura logística do que temores sobre a oferta propriamente dita. O quadro mundial de oferta de alimentos está em fase de abundância e, portanto, até certo ponto, fácil de se ajustar com outros países fornecedores, caso um ou outro país exportador fique momentaneamente ausente do mercado. Isso não significa que uma instabilidade política maior não seja preocupante. Após o caos dos últimos anos na Venezuela, os problemas na Argentina, os protestos no Chile e o golpe na Bolívia, o que o mercado menos deseja é ver o Brasil numa situação de extrema inconstância política.


VITRINE

WISIUM

Ovos premiados

A Granja Capixaba, que tem 450.000 aves e está localizada na cidade de Santa Maria de Jetiá (ES), foi um dos destaques do Concurso de Qualidade de Ovos Capixaba. O produtor Carlos Magnus Caliman Berger, diretor presidente da Granja Capixaba, recebeu dois prêmios: 1º lugar na categoria Qualidade Ovos Vermelhos e 3º lugar na categoria Qualidade Ovos Brancos. Berger, produtor há 19 anos, conta que diversos fatores contribuem para que a granja tenha uma produção premiada e de excelente qualidade. "Um dos principais é contar com o suporte da Wisium, uma empresa parceira que tem produtos de extrema qualidade e que oferece toda a assistência necessária". O produtor revela que utiliza o premix da Wisium em 100% da granja e que também aplica o B-Safe, aditivo que atua na microflora intestinal, controlando bactérias patogênicas, preservando as bactérias benéficas e favorecendo a saúde intestinal das aves. Com tecnologia exclusiva Wisium, o B-Safe ajuda, por exemplo, no controle da salmonela. KEMIN

Investimentos em Transformação Digital

O agronegócio mundial vem passando por uma série de mudanças e transformações em ritmo e velocidade jamais experimentados. Produzir cada vez mais proteína de origem animal com mais eficiência e custos competitivos seguem na liderança entre os desafios do produtor. Diante deste cenário, investimentos em Transformação Digital fazem parte da estratégia da Kemin para contribuir com o desenvolvimento da cadeia produtiva, causar grande impacto no setor e ajudar o produtor nestes desafios, anunciou o gerente de Marketing da Kemin para a América do Sul, Thiago Nannini. Na Kemin, os esforços deste processo vão na criação de possibilidades de maior interação com os diversos públicos da cadeia de produção e tomada de decisão, sejam operadores na fábrica, nutricionistas, veterinários, executivos ou empresários.

MCASSAB

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Convenção Nutrição e Saúde Animal

Executivos de vendas, técnicos e áreas corporativas participaram da Convenção Nutrição e Saúde Animal, promovida pela M Cassab. Sempre se destacando pela qualidade, inovação e equipe altamente qualificada, a área que completou 50 anos em 2019, reforçou o preparo para levar ainda mais tecnologias, inovações e conhecimentos para os clientes e parceiros. “O Grupo MCassab acredita nas projeções apontadas para o Brasil, que consolidam o país como grande fornecedor de alimentos ao mundo. Nós seguimos atentos à crescente demanda para a produção sustentável, segura e de qualidade, pilares que regem o nosso trabalho e guiam as nossas inovações”, compartilhou Otto Schumacher, Diretor da Nutrição e Saúde Animal.

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BASF

Novo vicepresidente na América Latina

Desde janeiro, Sergi Vizoso é o novo vice-presidente Sênior, responsável pela Divisão de Soluções para Agricultura da BASF na América Latina. O executivo nasceu em Barcelona (Espanha) e tem mais de 20 anos de atuação na empresa. Vizoso assume o cargo ocupado nos últimos dez anos por Eduardo Leduc que se aposenta depois da trajetória de 35 anos na BASF. Com formação na área de Química e Administração de Empresas, Vizoso atuava desde 2016 como vicepresidente da BASF na Europa Central, sediado na República Tcheca. Sua carreira na multinacional começou em 1997, na Espanha. O executivo já havia atuado pela empresa no Brasil entre 2003 a 2008, deixando o país como diretor regional de Marketing Estratégico para América Latina. Vizoso também desempenhou funções na BASF na Alemanha, nos Estados Unidos, na Itália e na Rússia.


SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020 15


VITRINE

ICC BRAZIL

3ª melhor empresa de Nutrição Animal

A ICC Brazil, empresa pioneira na produção de soluções inovadoras para a nutrição animal à base de aditivos de levedura, foi eleita a 3ª melhor empresa do setor Nutrição Animal, com base em critérios técnicos de avaliação de desempenho e gestão, do prêmio Melhores do Agronegócio 2019. A premiação, organizada pela Revista Globo Rural em parceria com a Serasa Experian, que faz a coleta, o processamento e a análise dos dados, faz parte da 15ª edição do Anuário do Agronegócio.

ZOETIS

Entre as 150 melhores empresas para trabalhar

Pelo quarto ano consecutivo, a Zoetis, líder mundial em saúde animal, figura entre as 150 melhores empresas para trabalhar no Brasil, ranking realizado pela Revista Você S/A. “Estamos muito orgulhosos pelo resultado pois reflete diretamente a opinião dos colegas da Zoetis, que nos mostram o que estamos fazendo bem e o que podemos melhorar”, Ana Cintia Avelar, diretora de Recursos Humanos.

EXPANSÃO

A Vaccinar – Nutrição e Saúde Animal, empresa 100% brasileira posicionada entre as líderes do setor no Brasil, anuncia expansão no Centro-Oeste brasileiro com a construção da sexta unidade produtiva. A cidade escolhida foi Goianira, localizada na região Metropolitana de Goiânia. Segundo o CEO da Vaccinar, Nelson Lopes, o investimento inicial previsto para a nova fábrica é de cerca de R$10 milhões e a construção da nova planta está prevista para ser iniciada em 2020. “Para investir no segmento de gado de corte, a Vaccinar adquiriu um terreno em Goiás com o objetivo de ampliar nossa atuação na região central do país, importante polo para o segmento, além de já possuir um centro de distribuição em Goiânia”, afirma Lopes.

16 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Vaccinar investe no Centro-Oeste


CONTRATAÇÃO

Yes com nova gerência técnica comercial

AVIAGEN

Certificado de compartimentação A unidade brasileira da Aviagen® obteve o certificado de compartimentação para suas unidades de produção nos estados de São Paulo e Minas Gerais. A entrega

da certificação oficial foi feita pela Ministra da Agricultura, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias. A compartimentação permite o envio de material genético, avós e matrizes, das unidades da Aviagen no Brasil durante surtos de doenças avícolas. O compartimento da Aviagen no Brasil é o maior entre as empresas de genética: 13 unidades foram aprovadas, o que garante uma segurança ainda maior no suprimento de material genético de qualidade.

A YES anunciou em dezembro a ampliação de sua equipe, com a contratação da veterinária Mariel Neves Tavares para o cargo de Gerente Técnico Comercial LATAM. Mariel chega à Yes com o desafio de conquistar os mercados da América Latina com as tecnologias e soluções da empresa, que começa 2020 com a reformulação da marca, a reorganização do portfólio e o lançamento de novas embalagens. São ações que objetivam manter o ritmo de crescimento constante da companhia.

VLN

Programa Visão 360º

Especializada em saúde e nutrição animal, a VLN Feed criou o Programa Visão 360º. O objetivo é apoiar clientes e parceiros de forma individual para que em conjunto sejam traçados caminhos a fim de alcançar os melhores resultados financeiros e produtivos dentro das propriedades rurais de forma sustentável. "O mercado de nutrição animal é exigente e requer não somente o fornecimento de soluções tecnológicas destinadas para o desenvolvimento eficiente e saudável dos animais, é necessário gerar valor", informa o Diretor da VLN Feed, Luis Pedrosa.

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020 17


SUINOCULTURA

MERCADO EM ALTA,

MAS PSA MANTÉM SETOR EM ALERTA De um lado, o aumento nas exportações, com expectativas ainda mais promissoras para 2020. Do outro, questões sanitárias que preocupam. Suinocultores brasileiros comemoram ao mesmo tempo que se mantêm em alerta para evitar a entrada da Peste Suína Africana (PSA) no país.

FOTOS: ASSESSORIA DE IMPRENSA

por Taís Teixeira

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egundo o diretor de relações de mercado da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) e presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acrisurs), Valdecir Folador, o governo federal está atuando para evitar a doença. “Nós, como entidades, estamos próximos ao governo federal cobrando e levando as necessidades do setor, pois compete ao Ministério da Agricultura realizar a fiscalização. Há uma tensão muito forte nos portos e aeroportos para cuidar, dificultar ou barrar a entrada da PSA no Brasil. Temos problemas de orçamento, o MAPA tem passado por essas dificuldades, mas faz, dentro do possível, essa fiscalização. É um ponto que preocupa

o setor porque tem fragilidades, principalmente orçamentárias, para ter uma estrutura mais robusta tanto nos portos como nos aeroportos, onde está o grande perigo para entrada da PSA”, relata. O analista de mercado da Scott Consultoria, Alcides Torres, endossa que os cuidados restringem-se aos tradicionais. “São os procedimentos fundamentais. Não existe ne-

Eu acredito que a chance é pequena, mas temos que ter cuidado, não dá para achar que não teremos problemas, não dá para ficar tranquilo, e sim, agir como setor cobrando do poder público, que é responsável pelo investimento nessa área VALDECIR FOLADOR, diretor de relações de mercado da ABCS e presidente da Acrisurs

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O QUE É PSA? A peste suína africana (PSA) é uma doença altamente contagiosa, causada por um vírus composto por DNA fita dupla, pertencente à família Asfarviridae.

FOTO: SHUTTERSTOCK

A doença não acomete o homem, sendo exclusiva de suídeos domésticos e asselvajados (javalis e cruzamentos com suínos domésticos).

nhuma medida a não ser fechar fronteiras e aumentar a fiscalização para evitar a importação de produtos de origem suína desses países com surtos. E aí que está o problema, pois o nosso corpo de fiscais está um tanto debilitado. O Brasil, como todas as nações, corre um certo risco e não tem muito o que ser feito. Vamos torcer para que nenhum incauto importe produtos desses países contaminados”, relata.

Por outro lado, o momento é favorável ao produtor, mas sempre considerando uma visão de médio e longo prazo. “Os produtores estão entusiasmados e aproveitando para vender, mas sempre com cuidado da sua defesa sanitária, cautela e precaução para que não estimule um crescimento desenfreado da suinocultura brasileira. No instante em que a China resolver o problema da PSA, ela vai voltar a

Essa doença vai atingir a Europa antes do Brasil e teremos uma pandemia. Vamos assistir se espalhar por todo o globo terrestre. É uma questão de tempo

ALCIDES TORRES, analista de mercado da Scott Consultoria

A PSA tem sido observada desde o início do século XX e era confundida com a peste suína clássica (PSC). Em setembro de 2018, o vírus da PSA foi detectado na China e na Romênia e em javalis na Bélgica. A fonte comum de infecção foram restos de alimentos crus derivados de suínos contaminados com o vírus. A PSA é uma doença de notificação obrigatória aos órgãos oficiais nacionais e internacionais de controle de saúde animal, com potencial para rápida disseminação. As consequências socioeconômicas são calculadas em cerca de 5,5 bilhões de dólares apenas no Brasil. Não existe vacina ou tratamento para PSA. Fonte: Embrapa

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SUINOCULTURA

MAPA DA EPIDEMIA 23 países notificaram novos surtos ou focos em andamento. EUROPA: Bulgária, Hungria, Letônia, Moldávia, Polônia, Romênia, Rússia, Sérvia, Eslováquia e Ucrânia informaram a incidência da doença. ÁSIA: China, Coreia do Norte, Indonésia, Coreia do Sul, Laos, Mianmar, Filipinas, Rússia, Vietnã e Timor Leste. ÁFRICA: Costa do Marfim, Quênia, África do Sul e Zimbábue. Fonte: OIE

produzir bem próximo do que produzia e a necessidade de importação será muito menor do que é hoje. Por isso, temos que cuidar para não criar um problema interno de mercado por excesso de produção, o que desequilibraria toda a cadeia pelo viés econômico”, pontua Alcides Torres. A prudência deste cenário justifica-se pelos números divulgados pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO): mais de seis milhões foram eliminados por PSA - Peste Suína Africana no dia 27 de setembro. Além desse número expressivo, a Organização Mundial de Saúde

Animal (OIE) informou que 507 novos focos da doença foram notificados no mundo entre 27 de setembro e 10 de outubro de 2019. Desses, 330 estavam na Europa e na China não se constatou novos casos no período. No levantamento anterior, 355 surtos foram verificados como novos, enquanto 9.280 casos estavam em andamento. O registros confirmam a gravidade maior da epidemia no solo asiático, mas já aponta países europeus afetados.

MAIOR EXPORTADOR DO MUNDO PRECISA IMPORTAR PARA CONSUMO INTERNO

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

A China, o maior produtor de suínos do planeta, começou a ser afetada pela PSA em meados de 2018. Desde então, estima-se que entre 150 milhões a 200 milhões de animais morreram. O Departamento de

Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indica que o país apresenta uma produção anual de R$ 54 milhões de toneladas, o que significa que cada chinês consome 40 quilos de carne suína por ano, o que equivale ao consumo de carne de frango pelo brasileiro. Essa situação gerou uma contradição, pois o elevado número de animais doentes sacrificados obrigou o gigante asiático a buscar soluções para alimentar os 1.384.688.986 habitantes, número que o torna o país mais populoso do mundo. “Do ponto de vista de mercado, o momento é vender tudo que pode para o mercado chinês, que está comprando proteína animal de todas as origens para manter o mercado interno abastecido”, comenta o presidente da ABCS. Folador garante que o momento é favorável e, inclusive, o produtor ampliou a estrutura para servir a esse aumento de demanda.

O Brasil já tomou e continua tomando medidas preventivas contra os riscos de disseminação da doença. TIAGO CHARÃO, adido agrícola do Brasil no Vietnã

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VIETNÃ: MAIS DE 5 MILHÕES DE SUÍNOS PERDIDOS PARA A PSA

A informação é do último relatório emitido pela FAO (Organização Mundial das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), que registrou um aumento de 1,23 milhão de animais eliminados em cerca de um mês. Com expressivas perdas, o Vietnã tem 95 milhões de habitantes e a carne suína corresponde a cerca de 75% da proteína animal consumida no país. O governo local tem encaminhado comunicados à Organização Mundial da Saúde Animal, que por sua vez tem mapeado o avanço da doença. Os primeiros focos apareceram na segunda quinzena de fevereiro de 2019, em Hu’ng Yên e Thái Bình, ambas províncias localizadas ao sudeste de Hanói, capital do Vietnã, no norte do país. Atualmente, a doença já se encontra em todas as 63 subdivisões regionais do país (58 províncias e 5 cidades com estatuto de província). Segundo o adido agrícola brasileiro que está no Vietnã, Tiago Charão, tan-

to o exército, como as forças policiais locais foram mobilizadas para auxiliar a conter o avanço da doença. “Além disto, o governo tem procurado auxiliar financeiramente os criadores, utilizando recursos das reservas nacionais para compensar as perdas dos animais abatidos. É uma luta árdua. As próprias autoridades sanitárias locais assumiram que muitas províncias têm dificuldade em detectar os focos adequadamente e depois não conseguem dispor as carcaças dos animais abatidos da forma recomendada”, salienta.

AUMENTO DE MAIS DE 100 % DE EXPORTAÇÃO BRASILEIRA

A repercussão para o suinocultor brasileiro é positiva. O Brasil tem o mercado aberto para a carne suína no Vietnã desde 2016, com a negociação do Certificado Sanitário para este produto. Em 2018, o Brasil exportou cerca de R$ 50 milhões em carne suína para o Vietnã. No total, de janeiro até outubro de 2019 foram vendidos mais de R$ 80

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28/11/2019

milhões. “Se considerarmos apenas os dez primeiros meses de 2019, tivemos um aumento de 107% somente nas exportações para o Vietnã. Atualmente, o Brasil possui 18 plantas habilitadas para a venda de carne suína ao país. Além destas, diversos outros estabelecimentos estão em diferentes estágios de habilitação. Assim, este número tende a crescer”, esclarece Charão. O governo local estima que cerca de 8% do rebanho suíno foi abatido em função da doença. A imprensa internacional trabalha com uma estimativa maior, 20% da criação nacional. Estas perdas já estão se refletindo no aumento das exportações do Brasil para o Vietnã. “O Brasil deve observar aqui que quase a totalidade do rebanho vietnamita pertence a pequenos suinocultores. Assim, mais do que econômico, há um problema humanitário. São criadores que tem uma pequena produção utilizada para o sustento de suas famílias. Ainda que o Governo do Vietnã busque auxiliares, as perdas têm aspectos sociais invisíveis aos grandes números do comércio internacional”, afirma.

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ARTIGO TÉCNICO

SUÍNOS

PESTE SUÍNA AFRICANA, O QUE ESTAMOS FAZENDO A RESPEITO

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

1. INTRODUÇÃO

Eduardo Ternus Médico Veterinário, com Mestrado em Ciência Animal, Coordenador Técnico – Suínos da Vetanco Brasil

A Peste Suína Africana (PSA) é uma doença viral hemorrágica altamente contagiosa que acomete suínos domésticos e selvagens, sendo responsável por graves perdas econômicas. É uma enfermidade listada no Código de Saúde Animal Terrestre da Organização Mundial para a Saúde Animal (OIE) e é uma enfermidade de notificação obrigatória aos órgãos oficiais nacionais e internacionais de controle de saúde animal, devido ao seu potencial para rápida disseminação e com significativas consequências socioeconômicas. Vale lembrar que não existe vacina ou tratamento para PSA. De acordo com o último relatório divulgado pela OIE (08 – 21/11) foram notificados 2.536 novos surtos. A China notificou três novos surtos em suínos de criação e encerrou três surtos de duas divisões administrativas. A Coreia notificou sete surtos em javalis. A Rússia notificou sete surtos que afetam suínos de criação e javalis. Além disso, o Vietnã atua-

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lizou as informações em todo o país, notificando 2.346 surtos que afetam os suínos de criação. A Europa notificou 180 surtos, 26 em suínos e 154 em javalis. Até o presente momento, o total de surtos notificados de PSA em todo o mundo somam 11.676, sendo que deste total, 8.273 surtos foram notificados pelo Vietnã. Um total de 2.033.405 de animais foram notificados como perdas (soma de animais mortos e eliminados nos surtos relatados). A Europa notificou 721 perdas, enquanto a Ásia, 2.032.684 (2.032.111 deles notificados no Vietnã). A África não notificou perdas neste período.

2. BIOSSEGURIDADE: A PRINCIPAL FERRAMENTA

A Biosseguridade é o pilar mais importante numa cadeia produtiva para manter a saúde dos animais e mitigar riscos de contaminação e disseminação de agentes infecciosos (MORÉS et al., 2017). Definida pela OIE (Organização Mundial de

Epizootias) como um conjunto de medidas que visam proteger uma população de agentes infecciosos transmissíveis e, segundo MAPA (IN44, 2017). Biosseguridade é o conjunto de procedimentos que visam prevenir, diminuir ou controlar de forma direta ou indireta os riscos da ocorrência de enfermidades que possam ter impacto na produtividade destes rebanhos. Qualquer vetor (humanos, roedores, insetos e outros animais, equipamentos, alimento, água, granjas vizinhas, sistema de dejetos, veículos, roupas, calçados, entre outros) que porta matéria orgânica de suínos é potencial transmissor de patógenos (MORÉS et al., 2017). A Biosseguridade pode ser dividida em externa e interna. A biosseguridade externa relacionada à proteção do rebanho contra o ingresso de agentes infecciosos, com o dever de reduzir a introdução de doenças endêmicas e impedir a introdução de doenças exóticas no sistema de produção. A biosseguridade interna relacionada à prevenção da multiplicação e disseminação de agentes no rebanho, deve reduzir a propagação das doenças e reduzir a pressão de infecção dentro do sistema de produção.

3. O QUE ESTÁ SENDO FEITO PARA PREVENIR A PSA 3.1 Órgãos Oficiais O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) intensificou a vigilância contra a peste suína africana (PSA) com a distribuição de material informativo sobre a doença. O objetivo é evitar que o vírus entre no país e afete a agropecuária brasileira. No Brasil, a PSA foi erradicada em 5 de dezem-


bro de 1984 e o país foi declarado área livre da doença. O MAPA tem orientado os serviços veterinários estaduais a fortalecerem a vigilância dos animais, com controle de acesso de suínos a lixões e aterros sanitários e proibição de alimentar os animais com resto de alimentos. Intensificou-se a fiscalização do descarte adequado de resíduos alimentares provenientes de aeronaves comerciais e navios reforçou-se a inspeção de bagagens de passageiros de voos internacionais, atenção ao cumprimento dos requisitos sanitários para importação de suínos vivos, material genético, produtos, subprodutos e insumos. De acordo com o Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro), foram distribuídos 88 banners para aeroportos e portos de fronteira para alertar o viajante, sendo 44 em português e 44 em inglês. Os profissionais do MAPA foram treinados em laboratórios internacionais de referência para aplicação dos conhecimentos na rede de laboratórios oficiais do Brasil. A secretaria de defesa agropecuária está revendo procedimentos e revisando os certificados sanitários internacionais necessários ao comércio de produtos de origem animal, foram atualizados todos os procedimentos de importação de produtos e animais e de riscos relacionados à doença, principalmente nas áreas com maior incidência. 3.2 Agroindústrias/Cooperativas/ Produtores Independentes Na suinocultura brasileira, apenas as granjas de suínos certificadas (GRSC) possuem normativa oficial, na qual constam critérios específicos de biosseguridade a serem seguidos, além de monitoramento de doenças específicas (IN 19 de 2002). Desta forma, os cuidados com biosseguridade desses rebanhos dependem, exclusivamente, das empresas integradoras e dos proprietários das granjas. Desta forma, todos estão implementando e/ou fortalecendo seus programas de biosseguridade com base em todos os itens comentados anteriormente. Dentre as ações que vem sendo fortalecidas temos:

Todas as empresas do setor estão focadas na prevenção da entrada da PSA ao Brasil 3.2.1 Visitas à Unidade Produtiva: qualquer pessoa que necessita fazer uma visita à granja, a trabalho ou não, deverá estar em vazio sanitário (sem contato com suínos de outra granja, abatedouro ou laboratório que trabalha com agentes infecciosos) por no mínimo 24 horas. 3.2.2 Visitante estrangeiro ou brasileiro em retorno de viagem internacional, independentemente de ter ou não visitado alguma granja, abatedouro ou laboratório com agentes infecciosos, deverá estar em vazio sanitário por pelo menos 72 horas. 3.2.3 Técnicos autônomos ou de empresa integradora (técnicos de assistência técnica e vacinadores) que assistem apenas granjas da mesma integração poderão visitar mais de uma granja por dia desde que sigam os procedimentos de troca de roupa, calçado e lavagem das mãos com produto germicida na entrada à granja. 3.2.4 A granja deverá documentar todas estas visitas, mantendo no escritório um caderno de registro com informações mínimas de data, identificação da pessoa, objetivo da visita e identificação da última visita por ele feita em outra granja, abatedouro ou laboratório que trabalha com agentes infecciosos.

3.2.5 Programas de capacitação continuada dos envolvidos no processo desde produtores, técnicos, extensionistas e fornecedores abrangendo as ações de biosseguridade. 3.2.6 Revisão/atualização dos Manuais com os procedimentos operacionais padronizados para realização das medidas de biosseguridade e manejo sanitário. 3.2.7 Foco na Rastreabilidade: as unidadesde produção devem manter registros que permitam a identificação e a rastreabilidade dos suínos. Rastreabilidade que vai desde a recepção de reprodutores e material de multiplicação animal até a elaboração do produto final do compartimento por no mínimo 3 (três) anos. 3.3 Empresas do setor/ prestadores de serviços Todas as empresas do setor estão focadas na prevenção da entrada da PSA ao Brasil. Todos os cuidados em relação a viagens internacionais e vazio sanitário estão sendo tomados. Estão sendo feitas campanhas de marketing e ações de conscientização com temas voltados à biosseguridade. A Vetanco, por exemplo, na semana do 07 a 11 de outubro de 2019, realizou uma rodada técnica no MT com algumas das principais cooperativas da região, na qual foram proferidas palestras com o tema principal de biosseguridade, abordando a importância e principais cuidados dentro e fora das granjas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para que um programa de biosseguridade tenha êxito, ou seja, para que sejamos efetivos em evitar a entrada da PSA no Brasil, é necessário acima de tudo que as pessoas envolvidas no processo entendam em sua plenitude todos os conceitos e o porquê deles, estejam comprometidas e engajadas no propósito e que tenham ciência das consequências das suas ações no processo produtivo.

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ARTIGO TÉCNICO

SUÍNOS

IMPACTO DE DON E FUMONISINAS NA

SAÚDE INTESTINAL DE SUÍNOS

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

O Por Raquel T. Pereira Gerente Técnico América do Sul, Olmix Brasil BSc Zootecnia – UFLA; MSc e PhD Nutrição Não Ruminantes – UFLA e Texas A&M Pós-Doutorado Avicultura – ESALQ USP

s suínos são considerados os animais mais sensíveis às micotoxinas, principalmente ao DON e às fumonisinas. De fato, a absorção de DON é muito rápida em suínos e atinge o pico de concentração plasmática dentro de 15 a 30 minutos após a administração (Prelusky et al., 1988). Além disso, até 55% da absorção sistêmica (Grenier e Applegate, 2013) ocorreu em suínos que receberam DON por via oral. A exposição aguda a altas doses de DON induz diarréia, vômito, leucocitose e hemorragia gastrointestinal (Pestka et al., 2005). A exposição à fumonisina em suínos é devida principalmente à ingestão de milho contaminado por Fusarium verticillioides. Suínos são os animais mais sensíveis às fumonisinas, mesmo que a absorção intestinal seja menor que 10% (Bouhet et al., 2007). A intoxicação aguda por fumonisina em suínos é caracterizada por danos pulmonares, cardiovasculares e hepáticos funcionais. Alto nível de fusariotoxinas geralmente leva a um menor crescimento de suínos devido à anorexia. Diminuição no consumo começa a ocorrer com dietas contendo 0,6 a 3 ppm de DON. No entanto, quando os níveis de DON

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atingem 12 ppm, a recusa completa de alimentos é comum (Bracarense et al., 2012). Com 20 ppm de DON na alimentação, também são esperados efeitos eméticos importantes, razão pela qual o DON também é chamado de "vomitoxina". Como as fumonisinas são menos absorvidas (<20%) no intestino, afetam menos a ingestão de ração e os maiores impactos estão na integridade intestinal. Com base na toxicidade aguda de micotoxinas, a Comissão Europeia determinou os níveis máximos recomendados de micotoxinas na alimentação de suínos da seguinte forma: 0,9 ppm de DON e 5 ppm de fumonisinas (B1 + B2). Entretanto, estudos recentes sugerem que o intestino é o primeiro órgão alvo de DON e fumonisinas e que danos significativos podem ocorrer mesmo em níveis inferiores às recomendações definidas pela União Europeia. O epitélio intestinal é uma camada única de células com funções duplas: filtro seletivo para absorção de nutrientes, água e eletrólitos, bem como a principal barreira contra patógenos e toxinas. Portanto, fica evidente que o DON e as fumonisinas podem afetar de forma individual e sinérgica essas duas funções, mesmo em baixos

níveis na ração (informações abaixo extraídas de 2 avaliações: Pierron et al., 2016; Pinton et al., 2014).

MENOR ABSORÇÃO DE NUTRIENTES

Demonstrou-se que DON e fumonisinas afetam a função de absorção no intestino. O DON altera a função do principal transportador ativo apical de glicose e água (SLGT-1), reduzindo a absorção de água e açúcares (glicose e frutose). A absorção de nutrientes no intestino é proporcional à superfície epitelial do contato. O epitélio intestinal é totalmente regenerado em aproximadamente uma semana para manter sua superfície íntegra. Na presença de DON, a síntese proteica é inibida, sendo observada uma redução do metabolismo lipídico na presença de fumonisinas, levando à redução na proliferação e sobrevivência das células epiteliais, reduzindo a superfície de absorção. DON e fumonisinas induzem danos intestinais, como redução da altura das vilosidades, lesões e edema que prejudicam significativamente a absorção de nutrientes. Como consequência, baixos níveis de contaminação que não provocam


redução na ingestão de ração podem reduzir significativamente a taxa de crescimento, alterando a absorção de nutrientes (aumento da taxa de conversão alimentar).

DANO NA BARREIRA INTESTINAL

FOTO: SHUTTERSTOCK

Está bem estabelecido que DON e fumonisinas em níveis baixos alteram a função da barreira intestinal modulando a função de junções firmes (tight junctions), que diminui a resistência elétrica transepitelial (TEER) no intestino. Além disso, o número de células caliciformes que sintetizam e secretam mucinas (constituinte principal da camada

protetora de muco) diminui significativamente quando os leitões são expostos ao DON. A regeneração contínua do epitélio intestinal descrita acima também permite manter uma função de barreira eficaz. Portanto, a redução da proliferação e sobrevivência de células epiteliais causada por DON e fumonisinas também afeta a função de barreira. Os efeitos negativos de DON e fumonisinas na barreira intestinal permitem que mais microorganismos e toxinas cheguem ao sistema sanguíneo e aos órgãos e aumentem a suscetibilidade a infecções entéricas. Aumentos significativos na translocação de bactérias através das células epiteliais intestinais foram demonstrados na presença de DON e fumonisinas em estudos nos últimos anos.

PIORA NA FUNÇÃO IMUNOLÓGICA

Setenta por cento dos tecidos imunológi-

cos dos animais estão localizados no intestino. Demonstrou-se que DON e fumonisinas afetam a imunidade inata e adaptativa. A concentração de toxinas em níves baixos e moderados desregulam a expressão de citocinas, quimiocinas e a expressão de genes. Em um modelo intestinal para suínos TNO-Holanda, foi demonstrado que o DON provoca uma resposta pró-inflamatória (aumento de TNF-α, IL-1 α, IL-1β e IL-8) e afeta a regulação dos linfócitos T (envolvidos na imunidade adaptativa). Foi demonstrado também que as fumonisinas afetam o recrutamento de citocinas inflamatórias (IL-1β, IL-6, IL-12, TNF-β e particularmente IL-8) no intestino no caso de uma infecção, aumentando assim a suscetibilidade a E. coli e outros patógenos. As fumonisinas também comprometem as células apresentadoras de antígenos intestinais (APC), a molécula principal do complexo de histocompatibilidade classe II e a capacidade estimuladora dos linfócitos T. Esses comprometimentos da função imune aumentam o risco de infecções intestinais e sistêmicas, levando a um desempenho mais baixo dos suínos.

Figura 1. Resumo do efeito sinérgico de DON e fumonisinas na saúde intestinal

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AVICULTURA

ANEMIA AVIÁRIA:

DE GERAÇÃO PARA GERAÇÃO Universidade mineira realiza pesquisa inédita sobre ocorrência e caracterização do vírus na avicultura familiar brasileira. por Taís Teixeira

O

agronegócio representa 1/3 do Produto Interno Bruto mineiro. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, a avicultura mineira respondeu por 7,3% da produção de carne de frango e 9,1% da produção de ovos do país. Em números mais expressivos, 100.358.819 aves foram abatidas. Segundo levantamento do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), vinculado à Secretaria de Agricultura, o Estado tem 1.751 granjas de corte, 208 granjas de postura de ovos de consumo,17 abatedouros com inspeção federal (SIF) e 9 com inspeção estadual (SIE).A Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig) estima que a atividade gere mais de 400 mil empregos diretos e indiretos. Este recorte específico demonstra que o setor aviário mineiro é representativo para o Estado. Dessa forma, as condições sanitárias e de segurança devem estar alinhadas com o propósito de produzir com qualidade. As granjas

Vírus diminui a imunidade das aves contaminadas. Num nível mais leve, pode causar problemas intestinais e impedir a produção e o desenvolvimento dos frangos. 26 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020


CHICKEN ANEMIA VIRUS • O vírus da Anemia Infecciosa das Galinhas foi primeiramente isolado e descrito no Japão em 1979 por Yuasa et al.;

• A Anemia Infeciosa das Galinhas (A.I.G) mundialmente conhecida como Chicken Anemia Agent (CAA) é causada por um vírus, inicialmente classificado como Parvovírus-like, recentemente incluído na família Circoviridae.

devem estar regularizadas conforme as mia e hemorragia. “O vírus é muito comum na avicultura comercial. Para evitar a contaexigências do Ministério da Agricultura, além de primar pelos cuidados rigorosos minação, é fundamental vacinar as aves e para evitar a proliferação de patologias gracriá-las em ambiente restrito e de alto conves. Uma dessas doenças é a anemia, catrole. A partir dessas estratégias, é possível paz de afetar a saúde e a produtividade dos reduzir a transmissão do vírus para as novas frangos e representar um problema sério gerações e permitir a passagem de anticorpara a avicultura industrial. pos das mães para os pintinhos”, esclarece. Causada pelo vírus Chicken Anemia Virus (CAV), focos da doença foram registrados em Minas Gerais. Com a finalidade de comPESQUISA INCLUI A PRESENÇA DE CONTAMINANTES preender como o CAV se disseminou no NAS VACINAS estado, pesquisadores da Escola Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais Os estudos baseados nos parâmetros de (UFMG) realizaram estudo para caracterizar ocorrência e caracterização do vírus da aneesse vírus. A análise teve apoio da Fundação mia são inéditos na avicultura familiar brade Amparo à Pesquisa do Estado de Minas sileira. A pesquisa tem como material de Gerais (Fapemig) e do Conselho Nacional de avaliação tecidos e fluidos de aves com CAV. Desenvolvimento Científico e Tecnológico As análises comparam a genética de dife(CNPq). A iniciativa desenvolvida pelo rentes famílias de frangos com as espécies CNPq deu maior acesso ao conhecimento de outros países. sobre a doença por meio de estudos moleEssa não é a primeira vez que o núcleo da UFMG investiga patologias em aves. Outros culares do vírus. O professor de Medicina Veterinária da agentes infecciosos que atacam as aves, UFMG e coordenador da pesquisa, Nelson como aviadenovirus, reovirus e rotavirus, Rodrigo Martins explica que, por todos inéditos na avicultura brasileira, também são objeto de pesmuitos anos, ocorrências de erros nas vacinas descritos quisa do grupo. A presença na avicultura mundial fode contaminantes nas ram associados à invacinas avícolas inteA imunização das reprodutoras fecção causada por gra o escopo de anádeve ser feita algumas semanas lise. “Os avanços CAV, já que o vírus antes do início da produção, diminui a imunidade conquistados pelo normalmente esta vacinação se faz das aves contamiestudo minucioso entre 10 e 18 semanas de idade. nadas. Num nível da nossa equipe Os efeitos negativos de uma mais leve, pode cauampliaram o coinfecção pelo CAV podem ser sar problemas intesnhecimento e têm controlados com sucesso pela tinais e impedir a provocado mudanvacinação e implementação de ças nas metodoloprodução e o desenprincípios corretos de volvimento dos frangos. gias de controle de biossegurança. Em níveis mas avançados, qualidade”, declara Nelpode levar a morte por aneson Martins.

FOTO: AGROSTOCK

COMO EVITAR

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FOTO: FREEPIK

• Desde então, o vírus (CAV) tem sido isolado em outros países e continentes, tais como: Alemanha (1983), Reino Unido (1987), Estados Unidos (1988) e Brasil (1991);


BOVINOCULTURA

O foco é o leite em

PÓ A comercialização do leite em pó para outros países pode equilibrar o mercado em momentos de crise.

FOTO: SHUTTERSTOCK

por Taís Teixeira

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O

assunto aqui é leite. Leite em pó. A cadeia leiteira do Brasil vive um momento de transição. O entendimento de que é preciso modernizar os elos do setor para repercutir em melhores resultados está expresso na busca pelo conhecimento de soluções tecnológicas que tornem o Brasil capaz de suprir a demanda interna e galgar mais espaço como exportador. O aumento de eficiência e melhoria da qualidade mediado pela adoção de tecnologias agronômicas e zootécnicas mais modernas sinaliza o empenho de produtores e laticínios para construir a competitividade e sustentabilidade da cadeia produtiva. Segundo o consultor Airton Spies, o caminho ainda é longo. “Ainda há muito dever de casa a ser feito para tornar o setor lácteo brasileiro competitivo no mercado global, para podermos exportar e assim aumentar a produção”, afirma. Para se internacionalizar, a aposta é o leite em pó. Este mercado começa a ganhar contornos na indústria brasileira, porém levará alguns anos para se consolidar. O vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri, está ciente dessa situação. “Temos poucas indústrias para produzir leite em pó”, resume. Além disso, é preciso expandir mercados para exportação, um segmento que é dominado pela Nova Zelândia. “O país é o maior exportador de derivados lácteos do mundo. O isolamento geográfico protege o rebanho de doenças, a condição climática adequada, o solo fértil, a abundância de água e tecnologia aliados à organização fazem o local ideal para a produção”, lembra.

PANORAMA BRASILEIRO: A IMPORTAÇÃO AINDA É UMA DEPENDÊNCIA

Antes de explorar o cenário do leite em pó, é importante refletir sobre o cenário brasileiro. Um estudo da Companhia Nacional de

Abastecimento (Conab) sobre esse mercado, desde maindica que o país é respeamento de países importaponsável por cerca dores e exportadores até de 7% do leite procondições do segmento duzido no munno país. do. É o quinto O vice-presidente da Confederação Naciomaior produtor mundial. Minas nal da Agricultura 17,4 mil toneladas, um aumento Gerais produz (CNA), José Zeferino de 13% no volume embarcado 27% da produPedrozo, diz que o em relação a 2018. ção nacional, leite em pó é o foco do Faturamento praticamente estável, setor lácteo. “Quereseguido dos esem US$ 39,96 milhões. tados do Rio Granmos tornar o mercado de do Sul, Paraná, internacional tranquilo *Dados até setembro de 2019 Goiás, Santa Catarina, para o produtor e não com o São Paulo e Bahia, todos efeito “serrote”, ou seja, sobe e com média anual superior a desce de preços conforme oferta e um bilhão de litros. demanda sem estabilidade tanto para o produtor, indústria e consumidor”. Mesmo com esses números, ainda precisamos importar leite na Argentina e Uruguai Spies concorda com a expansão de mer(maiores fornecedores), Nova Zelândia e cados. “Na situação atual, em que temos União Europeia. Atingir uma produção auquase só o mercado interno, estamos entossuficiente capaz de abastecer a demanda frentando de forma recorrente essa “moninterna e ainda garantir um excedente para tanha russa” dos preços do leite, o que não é bom para nenhum elo da cadeia produtiva, exportar, é um cenário que assegura lucratividade nos momentos de crise interna. nem para os consumidores”. Essa é uma meta do setor, nas palavras de Airton Spies. “Estamos produzindo 35 bilhões de litros por ano, o que está muito O CENÁRIO DO LEITE EM PÓ próximo do consumo interno que é de 170 Importar, exportar. A estratégia de equililitros por habitante por ano. Como a produbrar esses contrapesos da balança exige medidas governamentais que congreguem ção nos últimos 15 anos vem crescendo em preços acessíveis para quem produz, indusmédia a uma taxa de 4% ao ano enquanto o consumo cresce 2%, fica evidente que trializa e compra. sem exportação, não tem solução para aproveitar o grande potencial de produção que o país tem. A era de aumentar a produVALOR AGREGADO O mercado internacional apresenta melhoção no Brasil apenas para substituir as imras, os estoques estão menores e a demanportações está chegando ao fim”, enfatiza. da está forte. Para Spies, os preços flutuam conforme a oferta e a demanda mundial, ABERTURA DE MERCADOS sendo que para o leite em pó integral de A cadeia da bovinocultura brasileira passa 2013 até 2019 tivemos preços entre 5.500 por uma profissionalização no modo de proe 1.590 dólares por tonelada. dução. Para investir com mais assertividade As perspectivas futuras são muito positivas. é importante ter controle e conhecimento Barbieri acredita que o leite em pó precisa ter valor agregado. “Na Nova Zelândia, dona de um rebanho de quatro milhões de gado leiteiro, o leite em pó é visto com seriedade. O produto tem valor agregado. Sempre está acompanhado de uma vitamina, um diferencial. É destinado para um grupo específico, idosos, doentes. Isso que faz o país se destacar na fabricação do produto”, finaliza. Atingir o mercado internacional pode ser um longo e árduo trecho, mas os esforços de toda cadeia produtiva estão levando o Airton Spies Brasil para o caminho certo.

EXPORTAÇÕES DE PRODUTOS LÁCTEOS EM 2019

Exportações ajudarão a absorver as pressões de baixa do preço ao produtor, quando o consumo interno cai ou quando há um pico de produção que gera excesso de oferta

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OPINIÃO

Por José Zeferino Pedrozo

N

José Zeferino Pedrozo Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Conselho de Administração do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)

os últimos anos tem havido um esforço muito intenso de aperfeiçoamento da cadeia produtiva da bovinocultura catarinense para ampliar a produção de carne e de leite. No setor lácteo já somos a quarta maior bacia leiteira do País e a prioridade, agora, é elevar a qualidade. No setor cárneo, somos deficitários e importamos metade daquilo que a população catarinense consume de carne bovina. Desafios e oportunidades que se apresentam. Para atender a essas duas frentes, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) – com apoio do Sebrae, da CNA e da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faesc) – desenvolve há três anos o Programa de Assistência Técnica e Gerencial. Desde 2016, quando foi implantado em território barriga-verde, o programa atendeu – nas cadeias produtivas da bovinocultura de corte, bovinocultura de leite, ovinocultura de corte, apicultura,

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piscicultura, maricultura e olericultura – 5.426 produtores rurais organizados em 196 turmas. Uma das ações – destinada a melhoria genética dos rebanhos e ao aumento da produtividade – foi a inseminação artificial de 65.000 matrizes bovinas com protocolo IATF (inseminação em tempo fixo), durante a vigência do programa. O programa representa um avanço na capacitação dos produtores rurais, preparando-os para a condução das atividades com uma visão empresarial e o emprego de avançadas técnicas de gestão e controle. O primeiro passo é o diagnóstico da propriedade e a elaboração do planejamento estratégico. Com base nisso inicia-se o plano de ação para melhorar a produção, a renda e a qualidade de vida dos produtores. Os expressivos resultados obtidos estimularam a ampliação do programa que receberá investimentos da ordem de 22 milhões de reais para a capacitação de mais 5.000 produtores catarinenses nos próximos três

anos. Esses recursos adicionais serão aportados pelo Senar nacional (R$ 11 milhões) e pelo Senar de Santa Catarina (mais R$ 11 milhões). Paralelamente à ampliação dos investimentos em qualificação de alto nível, foi adotada uma estratégia de natureza mercadológica com o lançamento da marca coletiva de carnes do Estado de Santa Catarina. O projeto foi concebido como uma estratégia de diferenciação do produto catarinense, ou seja, busca agregar valor à carne aqui produzida. É uma demonstração de pioneirismo no desenvolvimento completo da cadeia produtiva da carne. Procura associar a carne bovina catarinense à preservação ambiental, à segurança de alimentos e à qualidade do produto. Simultaneamente, incentiva o consumo de carne bovina dentro e fora do Estado. A marca coletiva já tem nome: “Purpurata – carne catarinense certificada” em homenagem a Laélia purpurata, a flor-símbolo de Santa Catarina. Para implementar esse sistema, a Faesc fará a certificação de propriedades, habilitação de frigoríficos, desenvolvimento do sistema de identificação de produto, habilitação de varejistas e estratégias de marketing dentro e fora do território barriga-verde. Esse é um projeto do setor pecuário voltado ao produtor rural e à cadeia produtiva, mas quem ganhará é a sociedade catarinense.

FOTO: PIXABAY

SC: NOVOS HORIZONTES PARA A BOVINOCULTURA


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FALE COM O ESPECIALISTA Você tem dúvidas sobre manejo, nutrição ou sanidade em sua propriedade? Profissionais altamente capacitados podem lhe ajudar. Envie sua pergunta através de nossas redes sociais e ela poderá ser respondida neste espaço.

AVES ESPECIALISTA

Qual melhor período para começar uma criação de frangos? Chirli Aguiar - Arroio Grande/RS

Zootecnista, com pós-graduação em avicultura e mais de 25 anos de experiência na formulação e produção de rações. Zootecnista BTA Aditivos

Procedência dos pintinhos (pintainhos): Verifique na sua região um incubatório ou uma loja agropecuária que forneça aves de boa qualidade. Este aspecto é essencial, pois irá garantir uma boa genética e sanidade (saúde) e o bom desenvolvimento do lote. Pintinhos com genética superior terão desenvolvimento mais rápido e uniforme. Cuidados Iniciais: Para receber estas aves no aviário (independente do tamanho) é preciso ter condições mínimas para o bem-estar delas. O local onde ficarão deve ser fechado e sem possibilidade de entrada de predadores e outras aves. É preciso uma cama confortável que poderá ser de um material que absorva umidade e dê conforto as aves, podendo ser maravalha, ou outro material encontrado na sua região. É recomendado ter uma média de 4 cm de altura, dependendo da época do ano, mas no inverno é necessário que seja mais alta por causa do frio. Nesta fase inicial também deve-se observar a temperatura a fim de evitar amontoamento e possível mortalidade. A temperatura nos primeiros três dias deverá ser de aproximadamente 32°C. Posteriormente, muda com o passar do tempo: aos 7 dias = 28°C; aos 14 dias = 26°C; a partir de 21 dias = 24°C. Para a manutenção destas temperaturas, principalmente no sul do país, é necessário aquecimento por meio de campânulas elétricas ou a gás, que são as mais utilizadas. Importante também ter um termômetro para medir a temperatura próxima as aves. Ração: Deve-se fornecer ração inicial ou pré-inicial de boa qualidade. Da mesma forma, a água fornecida sem interrupção deve ser limpa e potável e ficar disposta em círculos de proteção, para evitar que se amontoem nos cantos do aviário. Com o passar dos dias, este círculo deverá ser aumentado até que eles possam ser espalhados por toda a área. Fase de crescimento/final: A partir dos 21 dias é considerada a fase de crescimento. Já o final de criação é a última

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semana de vida da ave. Para cada fase é preciso uma ração específica, adequada à necessidade nutricional e o objetivo da criação. Nestas fases elas precisam de mais espaço e geralmente se destina 1 m² para cada 15 aves, para um peso final em torno de 2 a 2,5 kg por ave. Também é importante controlar a ventilação do aviário através das cortinas laterais, abrindo e fechando quando necessário. Sistemas de nebulização e ventilação também ajudam a reduzir a temperatura interna da instalação, dando mais conforto as aves. CONSIDERAÇÕES FINAIS: • Busque com um bom profissional (zootecnista, veterinário) da sua região, um programa de vacinação para o seu lote, a fim de mantê-lo com saúde e não ter problemas severos de mortalidade. • Cuide bem da água que as aves vão beber para que seja fresca e potável. Mantenha sempre limpo os bebedouros. Lembre-se: as aves bebem, no mínimo, o dobro de água em relação ao que comem de ração. • As rações peletizadas (granuladas) proporcionam sempre uma conversão alimentar melhor. Ou seja, a quantidade que a ave come em relação ao seu peso final ou parcial. Exemplo: se um frango comer 5 kg de ração no perído de vida dele e pesar 5 kg, terá uma CA (conversão alimentar) de 2.

FOTO: PIXABAY E SHUTTERSTOCK

JORGE KRACKER

Se pensarmos na avicultura moderna, não é necessário levar em consideração para o início da criação de frango de corte, visto que o alojamento (criação) ocorre durante todo o ano. Além da condição climática e da região que esta criação for iniciada, outros aspectos são fundamentais para o bom desempenho da criação de aves de corte:


BOVINOS ESPECIALISTA

Vacas com mastite têm cura ou é algo 'crônico'? Donizete Marmentini Pomagerski - São Domingos/SC

ELINTON WEINERT CARNEIRO Médico Veterinário, possui Doutorado em Nutrição de Ruminantes. Coordenardor Técnico de Ruminantes da Agrifirm Brasil

Fatores determinantes para o aparecimento de mastite (ou a maioria das doenças) estão baseados no equilíbrio de três aspectos essenciais: a saúde do animal, o ambiente e o manejo. Desta maneira, quando um rebanho vem apresentando índices relevantes de mastite, o produtor deve ter parâmetros para analisar cada um destes. São fundamentais os dados do histórico do rebanho, que permitam fazer uma análise retrospectiva sobre a ocorrência de doenças (inclusive mastite), índices de reprodução, esquemas de vacinação e sanidade de um modo geral. O ambiente é fundamental e, desde as questões de conforto térmico à higiene propriamente dita, há uma série de fatores que devem ser observados e constantemente adaptados para a busca de melhorias. O manejo vem então conectar e reforçar a saúde do animal e a adequação ambiental, passando desde a formação do pessoal diretamente envolvido e que tem influência fundamental, chegando ao manejo nutricional adequado. De uma maneira simples, podemos dizer que devemos dar todas as condições para que o animal possa expressar ao máximo sua capacidade produtiva. E, se isto não está acontecendo, nos perguntarmos onde estamos errando. Diante disso, torna-se importante a elaboração de um checklist relacionando os principais fatores que estejam desequilibrando o sistema e, dessa forma passamos a estabelecer prioridades e providências a tomar. A mastite, especificamente, pode ser um ponto de

partida e um sinalizador excelente para estas avaliações. É indispensável a condução criteriosa do controle de dados do rebanho, das condições ambientais e do manejo, possibilitando estabelecer correlações com seu status epidemiológico (o tipo de mastite, variações na CCS, identificação do agente patogênico diretamente envolvido, histórico do sucesso dos tratamentos conforme o princípio ativo do antimicrobiano selecionado). Se a mastite é um problema crônico no seu rebanho, é uma pergunta que deve ser prontamente respondida. A conexão dos aspectos acima relacionados nos permitirá responder à maioria de nossas perguntas, no entanto, uma constante reavaliação das condutas e resultados deve ser acompanhado de muito perto. Conhecer o que temos em mãos, de onde partimos e onde queremos chegar, nos possibilitará traçar estratégias assertivas de controle e profilaxia. É fundamental ter bem definidos os parâmetros para estas avaliações, e o conhecimento compartilhado por produtores e técnicos da área é indispensável.

SUÍNOS ESPECIALISTA

Por que alguns mercados exigem que os suínos tenham rastreabilidade de origem e outros não? Por que essa exigência, qual o objetivo? Marc Gomes de Carvalho - Marau/RS

ADAUTO CANEDO Médico Veterinário. Diretor de Negócios & Marketing da Topigs Norsvin Brasil

A rastreabilidade é um processo cada vez mais exigido pelo mercado consumidor. Ela fornece mecanismos que permitem conferir origem, qualidade, sanidade e segurança à carne suína. Que apontam, a qualquer dia e a qualquer hora, as condições em que aquele animal foi produzido e abatido, como sua carne foi processada. Este recurso é aplicado na maioria dos países líderes na cadeia suinícola e para o Brasil se consolidar como potencial exportador para todos os mercados, incluindo a elite do consumo mundial, este caminho é fundamental.

De fato, hoje, nem todos os países exigem rastreabilidade. Mas a verdade é que os que não exigem esses atributos, são os que menos pagam. Os que remuneram melhor, são mais exigentes do ponto de vista de segurança alimentar e para eles, a rastreabilidade é essencial. Se a rastreabilidade é imprescindível para conquistarmos a elite dos mercados consumidores mundiais, o mesmo acontece também em relação ao mercado interno. A expansão do consumo de carne suína pelo gourmet brasileiro passa necessariamente pela generalização dos mecanismos de segurança alimentar, que tem na rastreabilidade seu maior avalista.

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FOTO: SHUTTERSTOCK

PISCICULTURA

PEIXE

!

À VISTA

A atividade aquícola brasileira cresceu mais de 130% nos últimos 12 anos. Em 2020, setor continua em franca expansão.

O

Brasil, que já é um dos líderes mundiais de produção de carnes, está em expansão na piscicultura. Dados da Associação Brasileira de Piscicultura (PEIXE BR) indicam que em 2018 foram produzidas 722.560 toneladas, um crescimento de 4,5% sobre as 691.700 toneladas do ano anterior. Os números são resultados de informações das empresas de todos os segmentos da cadeia produtiva, além de entidades de classe regionais. Diante do cenário socioeconômico brasileiro, esse crescimento, ainda que tímido, é significativo. O alto índice de desemprego faz com que a população reduza os gastos, inclusive nos itens alimentícios. A tendência da população é buscar alimentos de menores valores como a carne de frango. “O peixe também é barato. A tilápia e o tabaqui inteiro têm preços compatíveis com o frango in-

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teiro em todo o Brasil, lembrando que estamos falando de peixes de cultivo. A posta de tilápia tem preços semelhantes no atacarejo aos cortes de frango. Hoje, o file de tilápia é mais barato do que a carne bovina de primeira”, esclarece o presidente da Associação Brasileira de Piscicultura, Francisco Medeiros. Muitos fatores convergem para a expansão do mercado. Um deles é a estrutura geográfica do país, que dispõe de 12% da água doce de todo o planeta. Cerca de 25 mil espécies de peixes vivem nessas águas, como a tilápia. Em 2018, o Brasil produziu 400.280 toneladas de tilápia, um aumento de 11,9% em relação ao ano anterior (357.639 toneladas). A quantidade de recursos hídricos nacionais favorece essa entrega. Esse volume coloca o país como o quarto produtor mundial de tilápia, atrás da China, Indonésia e Egito.

VARIEDADES PARA TODOS OS GOSTOS

A atividade aquícola brasileira cresceu mais de 130% nos últimos 12 anos De 2017 para 2018 aumentou 8% De 2018 para 2019 aumentou 4,5% Para alcançar essas projeções de crescimento contínuo, todas as espécies de peixes produzidas em território nacional são autorizadas para o consumo, dentro dos padrões de qualidade e saúde alimentar. Algumas espécies agradam mais ao bolso e ao paladar dos brasileiros. “No Brasil, as principais espécies produzidas e comercializadas são: tilápia, tambaqui, tambatinga,


pacu, pirapitinga, pintado, pirarucu, matrinxa, piauçu e panga. Porém, são mais de 3 mil espécies, especialmente as nativas, cultivadas sobretudo na região Amazônica”, explica Medeiros. O lambari vem crescendo muito e o panga está mais forte no mercado de produção. Além disso, peixes marinhos como tainha, sardinha, polaca e salmão também estão nas casas dos brasileiros.

60% 6%

455.541 10,5% UNIDADES DE CRIAÇÃO 11%

ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO

FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA

No total, são 455.541 unidades de criação em todo o país. Devido ao perfil de pequenas propriedades rurais, a região Sul lidera com 273.015 estabelecimentos (60%), seguida por: Sudeste (57.074), Nordeste (48.881), Norte (48.286) e Centro-Oeste (28.285). A quantidade atende ao consumidor brasileiro, porém não é suficiente. Segundo a Associação Brasileira de Piscicultura, em 2018, o Brasil comprou 295.000 toneladas, o que equivale a cerca de R$ 4,1 bilhões em importação e ainda representa um recuo de

12,5%

SUL SUDESTE NORDESTE NORTE CENTRO-OESTE

Nos últimos anos, a piscicultura tem evoluído muito em todos os elos da cadeia produtiva, com reflexos positivos no aumento da participação no prato do consumidor. Temos muito o que conquistar, mas estamos direcionando esforços para solidificar a proteína de peixe de cultivo como uma importante atividade do agronegócio brasileiro. FRANCISCO MEDEIROS, presidente da PEIXE BR.

12% sobre o ano anterior. O destaque foi o salmão do Chile: 75 mil toneladas da espécie entraram no Brasil em 2018. Já nas exportações, o valor de venda é muito inferior em relação ao preço de compra: em torno de R$ 560 milhões, um desequilíbrio de quase oito vezes menor do que o país compra. Desse total, R$ 20 milhões são da venda de tilápia para os Estados Unidos. Embora o país norte-americano seja o maior produtor mundial da espécie, precisa comprar para suprir as necessidades da população. Essa dependência de compra dos outros mercados motiva novas modalidades de negócios para o peixe brasileiro com benefícios que tornam a atividade mais atrativa. “Atualmente, juntamente com a APEX, investimos


PISCICULTURA

RANKING DE PRODUÇÃO Líderes na produção de Tilápia íderes na produção de L espécies nativas RR

PA

MA

RO

BA

MG

MS SP PR SC Fonte: Associação Brasileira de Psicultura

num projeto setorial de internacionalização do peixe de cultivo brasileiro. Em 2018, houve a implantação do drawback da tilápia, política do governo federal que desonera de impostos federais os insumos gastos na produção da tilápia. Em 2019, 70% de toda exportação de tilápia já foi com drawback. Nossa expectativa é de aumento das vendas internacionais – que ainda são baixas. O Brasil tem potencial muito grande de produção e o pescado é uma proteína saudável, desejada no mundo todo”, afirma o presidente da PEIXE BR. Mesmo com o mercado interno em alta, o setor já se prepara, para em um futuro próximo, elevar o volume de exportações. “Nos últimos meses algumas empresas conseguiram o selo de exportação. Ainda não estão vendendo para fora devido à de-

manda interna, pois com a queda do dólar a importação diminuiu e a produção nacional manteve-se aquecida. Algumas empresas estão atentas à reação do mercado internacional para iniciar as exportações, pois é difícil competir com os preços do pescado oriundo da China e outros países asiáticos”, comenta o gerente nacional da Anhambi Alimentos, Rainer Fernandes. Essa deve ser a direção de 2020: acompanhar os movimentos do mercado e seguir garantindo vendas para os psicultores. “O estado do Paraná é o principal produtor brasileiro e continua nesta curva de crescimento, sem sinais de redução. Depois do Paraná, a região dos lagos de Ilha Solteira e Jupiá, na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul, é a segunda região mais importante, principalmente para tilápia. Na sequência temos região de Morada Nova (MG), Ariquemes (RO), Baixada Cuiabana (MT), Região do São Francisco (BA, PE, AL). Santa Catarina tem uma importante piscicultura e continua crescendo em todas as regiões do estado. Esta é uma atividade que se adequa perfeitamente bem em propriedades de médio e pequeno porte, características do estado e, por extensão, de toda a região Sul do Brasil”, destaca Medeiros.

DESAFIOS ENCORAJAM PARA O FUTURO

Atuar na piscicultura num país reconhecido internacionalmente pelo destaque na produção de carnes (bovinos, suínos e frangos) aumenta a responsabilidade com a qualidade da produção e exige um olhar analítico para entender a volatilidade do mercado. “Primeiro é preciso focar no aumento da produção e na melhoria da competitividade. Na sequência, é essencial ter a oferta de produtos prontos e semiprontos para um mercado cada dia mais crescente de pessoas que desejam praticidade, preço e qualidade. Estamos avançando na produção e no processamento. A piscicultura é uma cadeia produtiva em formação, mas está indo muito bem e os resultados

O Brasil tem mais de 200 mil criadores de peixes, sendo que 98% são de pequenos produtores. Fonte: PEIXE BR 36 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020

aparecem ano após ano”, aponta Francisco Medeiros. Para Rainer Fernandes, a produção brasileira continuará em franca expansão. “O potencial é enorme quando falamos em área de produção, pois temos muita água para exploração. É uma atividade que trabalha para aumentar a oferta de alimentos de qualidade, saudáveis que ajudam a nutrir a população mundial. É uma atividade que vem crescendo como cadeia produtiva, conquistando o respeito pelas demais atividades, instituições e órgãos governamentais”. Os rumos dos cenários estão se delineando para os mercados mundiais, o que vai ser decisivo para as relações de produção e comercialização. A atuação do Brasil na piscicultura foca na regulamentação dos piscicultores para ter excelência de produção e tornar esse mercado mais uma referência, com potencial competitivo.

ESPÉCIES MAIS CULTIVADAS CARPAS 119.916 propriedades; Destaque região Sul: 93%; Rio Grande do Sul: 47% do total.

TILÁPIA 110.072 propriedades; presente em todo o país; Destaque região Sul: 55,6% do total; Região Sudeste: 23% do total.

P EIXES NATIVOS (TAMBAQUI, PACU, PIRAPITINGA, TAMBACU E TAMBATINGA) Presentes em 76.376 propriedades; Regiões Norte, Sudeste e Centro-Oeste Fonte: Censo Agro IBGE 2017


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ARTIGO TÉCNICO

BIOCARNES: UMA SOLUÇÃO

DO FUTURO? Por Vivian Feddern1, Paulo Augusto Esteves1, Ari Jarbas Sandi2, Nádia Solange Schmidt2

INTRODUÇÃO

Os substitutos de proteínas animais, seja mediante crescimento celular em laboratório ou uso de proteínas vegetais conhecidas, estão ganhando cada vez mais atenção nos últimos anos. Na primeira situação, as proteínas são extraídas de células-tronco musculares de bovinos e suínos ou de penas de frangos, com o objetivo de realizar a multiplicação das células e o crescimento do tecido muscular em laboratório, sem a necessidade de sacrificar o animal para tal finalidade. Na segunda opção, proteínas vegetais (grão de bico e ervilha, por exemplo) são utilizadas na formulação de hambúrgueres vegetais, para substituir o hambúrguer de proteína animal. Essas novidades causam, muitas vezes, confusão na cabeça dos consumidores. Seria possível (e economicamente viável) a produção em massa desta “carne artificial”? Que impactos sociais e ambientais essa inovação causaria? Haveria alguma contraindicação com relação ao consumo deste tipo de alimento? Novas regulamentações de produção deste tipo de alimento deverão ser desenvolvidas? Haveria consumo? A produção de proteína sem a necessidade do abate de animais parece oferecer uma série de vantagens em termos de bem-estar dos animais e em termos ambientais, mas essas tendências, assim como as consequências da produção e consumo desses ali-

1 2

mentos devem, obviamente, ser extensiva e cuidadosamente avaliadas. O que fazer com os animais existentes se não for mais possível, dentro de alguns anos, abatê-los para consumo, devido a pressão da sociedade sobre a questão do bem-estar animal e preservação ambiental? Como ficará o emprego de milhares de trabalhadores que dependem destas indústrias para garantir o sustento da família? Quais seriam as alternativas fornecidas para auxiliar estas pessoas, reintegrando-as na sociedade produtiva e na redistribuição de renda? Em algumas regiões do Brasil, como nos grandes centros, longe da produção, talvez haja maior interesse e poder aquisitivo da sociedade para substituir a carne como a conhecemos por vegetais na sua totalidade. Muitos adolescentes e jovens, que desconhecem a produção tradicional e seus cuidados, podem seguir rumo aos padrões vegetariano e vegano. Mas, e a população das periferias dos grandes centros urbanos e cidades menos populosas, abandonariam seus hábitos e as suas tradições para adotar esse novo estilo de consumo, aparentemente estranho? É difícil de imaginar as atuais gerações mudando completamente os seus hábitos. Porém, há de se

Pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves, Concórdia, SC. E-mail: vivian.feddern@embrapa.br; paulo.esteves@embrapa.br Analistas da Embrapa Suínos e Aves, Concórdia, SC. E-mail: ari-jarbas.sandi@embrapa.br; nadia.schmidt@embrapa.br

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considerar as novas gerações: em aproximadamente duas décadas, estas estarão submetidas a um cenário sócio-político-econômico e ambiental, em que, se novos alimentos tiverem sua saudabilidade, gosto e preço acessíveis, virão a substituir os alimentos tradicionais (principalmente a carne), como uma das formas de garantir proteínas para uma população em crescente expansão. Apesar de todas essas incertezas, grandes indústrias já estão antenadas nesse mercado, não substituindo, mas sim incluindo esses novos produtos, como uma alternativa para atender a diferentes públicos.

CARNE A BASE DE PLANTAS (PLANT-BASED MEAT) E CARNE A BASE DE CÉLULAS ANIMAIS (CELL-BASED MEAT)

Na busca por produtos alternativos à carne (principalmente bovina), mas com as mesmas características sensoriais dela, há duas rotas: produção de carne em laboratório a partir de células-tronco (cell-based meat), também conhecida como in vitro, e produtos à base de proteínas vegetais que simulam a carne vermelha conhecidos como plant-based meat. O Quadro 1 mostra definição e constituição de ambos os tipos de substitutos da carne tradicional como se conhece hoje.

FOTO: SHUTTERSTOCK

Quadro 1. Comparativo entre as carnes vegetais e as cultivadas em laboratório.

TIPOS DE “CARNE”

“Carne” a base de plantas ou plant-based meat

Carne a base de células animais ou cell-based meat Sinônimos: clean meat = carne limpa cultured meat = carne cultivada em laboratório

O QUE É?

Combinação de proteínas, gorduras, minerais, água (todos componentes da carne animal, porém de fontes exclusivamente vegetais)

Carne produzida a partir de uma pequena amostra de células animais, replicadas fora do organismo animal

DO QUE É FEITO?

Plantas que substituam a proteína da carne convencional

Carne animal feita sem antibióticos, contaminação fecal e sem abate

Fonte: ELLEN (2018), da The Good Food Institute (GFI).

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ARTIGO TÉCNICO

“Carne” à base de plantas

O mercado voltado para produção de “carne” vegetariana e vegana, não é novidade nos Estados Unidos. Em 2016, a Beyond Meat (que tem como um dos investidores o Bill Gates) criou e disponibilizou no mercado um hambúrguer feito com proteínas de ervilha, arroz e feijão, óleo de canola, óleo de coco, manteiga de cacau, amido de batata, suco de limão e beterraba, entre outros ingredientes. A Beyond Burger foi a primeira empresa a ter seu hambúrguer à base de plantas vendido em redes de supermercados naquele país. Em 2019, tornou-se a primeira fabricante de carne vegetal com ações na bolsa norte-americana (Nasdaq). Além de hambúrguer, ela vende carne moída e salsicha preparadas mediante uma combinação de fontes proteicas vegetais (TUNES, 2019).

Outra empresa que entrou com tudo nesse mercado é a Impossible Foods, nascida no Vale do Silício em 2011, que fechou uma parceria para oferecer seu hambúrguer à base de proteínas de batata e soja em algumas lojas da rede Burger King nos Estados Unidos. O sucesso desses produtos levou outras companhias como a Nestlé a investir na linha de hambúrguer vegano (EXAME, 2019). Especialistas afirmam que o preço do hambúrguer a base de proteína vegetal ainda não é competitivo, considerando um nicho de mercado. De acordo com os mesmos, não vai ocorrer uma substituição da proteína animal pela vegetal, mas que será uma opção para o público; alegam ainda que faltam estudos sobre como produzir a carne propriamente dita, pois a maioria das empresas e startups estão focadas em produtos processados como almôndegas e hambúrgueres (CANAL RURAL, 2019).

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Estudos da Embrapa

A Embrapa Agroindústria Tropical, situada em Fortaleza (CE), desenvolveu hambúrgueres vegetais à base de fibra de caju e proteína texturizada de soja, que podem ser mantidos congelados por até 6 meses sem perder suas propriedades sensoriais e físico-químicas (LIMA et al., 2017). Mais recentemente, os mesmos pesquisadores, em conjunto com a Embrapa Agroindústria de Alimentos, do Rio de Janeiro (RJ), desenvolveram um hambúrguer vegetal utilizando o resíduo da extração do suco de caju (fibra) e de feijão caupi, abundantes na região Nordeste do Brasil (LIMA et al., 2018). A composição da formulação foi 29,3% de fibra de caju, 29,3% de pasta de caupi, 25,1% de tomate, 6,8% de cebola, 5,3% de pimentão, 1,3% de alho, 0,1% de pimenta do reino, 0,2% de salsinha desidratada, 1,2% de sal e 1,4% de óleo de milho. O período de armazenamento congelado também é até 6 meses e a aceitação geral do produto foi de 86% pelos avaliadores na análise sensorial. A Embrapa Arroz e Feijão, de Santo Antônio do Goiás (GO) criou um hambúrguer elaborado com tempeh de feijão comum, comparada de tempeh tradicional de soja (COLOMBO et al., 2017). Os tempehs foram fabricados a partir de grãos descascados de feijão carioca cv. Pérola, armazenado e escurecido. O hambúrguer de soja recebeu maior nota 6,40 e 5,28 respectivamente, apresentando melhor desempenho em todos os atributos, sendo que 40,24% comprariam o de soja e 30,48% comprariam o de feijão. Apesar da aparência e aroma terem sido atributos bem aceitos em ambas amostras, o sabor foi o fator que mais afetou negativamente a impressão global. Os autores concluem que o aprimoramento da técnica de produção de tempeh ou da formulação dos hambúrgueres podem contribuir para uma maior aceitabilidade deste novo produto.

Outras Empresas

A Fazenda Futuro, a primeira foodtech do Brasil, lançou o hambúrguer feito de proteína isolada de soja e de grão-de-bico, denominada Futuro Burger a partir de inteligência artificial para chegar a um produto que lembra carne bovina. A cor vermelha advém da beterraba e o “douradinho de grelha” vêm da reação de Maillard (reação química entre um aminoácido ou proteína com um carboidrato redutor). De acordo com a Fazenda Futuro, o alimento tem o mesmo nível proteico do que as carnes tradicionais, porém com menor teor de gordura (GALILEU, 2019).

A JBS-Friboi também lançou um hambúrguer diferenciado, Incrível Burger Seara Gourmet, para atrair o gosto dos vegetarianos, constituído de soja, beterraba, trigo, alho e cebola (CHAVES, 2019).

A Marfrig e ADM anunciaram em agosto de 2019 parceria para a produção de hambúrguer vegetal com sabor animal. O Diretor de Relações com Investidores da Marfrig, Marco Spada, disse que a produção dos primeiros hambúrgueres vegetais iniciará em Várzea Grande/MT, enquanto que a base vegetal sairá da ADM no mesmo Estado, diretamente para a planta da Marfrig (SPADA, 2019).

Carne a base de células animais

Outra alternativa para a substituição da carne bovina, são as técnicas de cultura de células-tronco oriundas do tecido muscular, para produção de carne de laboratório. O processo consiste, basicamente, em coletar células-tronco animais e fazê-las transformarem-se em fibras musculares, que são matéria-prima para criar tecido muscular e, efetivamente, um hambúrguer. Existem várias startups que iniciaram a produção de carne de laboratório, por considerarem uma oportunidade de mercado, como a Impossible Foods e a Beyond Meat,


entre outras, as quais investiram milhões de dólares para desenvolver uma técnica eficiente para a carne de laboratório se tornar similar à carne tradicional, ou nuggets de laboratório se parecerem com nuggets tradicionais, inclusive no sabor. Uma das dificuldades é reproduzir o marmoreio (carne com gordura entremeada) da carne em laboratório, uma vez que a proteína e gordura teriam que ser produzidas separadas e depois unidas de alguma forma. A startup californiana Impossible Foods deu um passo além, produzindo a cor vermelha de seu hambúrguer por engenharia genética, a partir de uma proteína similar à hemoglobina (grupo heme), que confere a cor vermelha de carne crua e o aroma cárneo característico exalado no cozimento. O grupo heme é obtido das raízes de plantas leguminosas, que possuem esse grupo em uma proteína de estrutura e função muito semelhantes à hemoglobina, a leg-hemoglobina (TUNES, 2019). No final de 2018, na Faculdade de Engenharia Biomédica do Instituto de Tecnologia de Israel (Technion), a Aleph Farms anunciou o primeiro bife cultivado em laboratório (TUNES, 2019). A tira era muito fina (4 mm de espessura), mas foi um avanço em relação ao primeiro hambúrguer de Maastricht, na Holanda. Para criar bife em laboratório, o processo é ainda mais complexo, pois requer que as células se organizem de forma tridimensional (3D), ganhando volume e, consequentemente, espessura. A novidade deve chegar ao mercado em até cinco anos. Algumas foodtechs, como as norte-americanas Just e Memphis Meats, investem para produzir carne em laboratório sem a necessidade de uma simples biópsia no animal. Elas usam células-tronco coletadas de penas para produzir carne de frango. A Just já comercializa alimentos vegetais alternativos aos de origem animal, como maionese. A Memphis Meats, por sua vez, dedica-se à pesquisa de diversos tipos de carne de laboratório, incluindo frango e pato.

A carne in vitro ainda apresenta o desafio de provar que é segura ao consumo humano. Os fabricantes precisam identificar claramente quais as substâncias usadas no processo de diferenciação celular, comprovando a segurança e a qualidade nutricional”, pondera a bioquímica Viviane Abreu Nunes Cerqueira Dantas, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (TUNES, 2019). Felipe Krelling, da GFI, informa que antibióticos podem ser utilizados por um período curto para minimizar riscos de contaminação ao separar uma linha celular de uma biópsia, caso ela esteja contaminada por alguma bactéria. “Não há nenhuma necessidade de se utilizar antibióticos em qualquer outro

processo de produção. Já existe tecnologia na indústria de bioprocessos que pode ser adotada por empresas cell-based para se obter um ambiente livre de antibiótico para a proliferação de células”, declara Krelling. Os conhecedores do processo de produção de carne em laboratório alegam ser impossível no presente momento, a produção celular sem antibiótico, uma vez que para o cultivo celular é usado soro bovino fetal (FBS), ingrediente básico e caro. Recentemente, a Universidade de Bath, no Reino Unido, desenvolveu bacon a partir de tecido suíno (Figura 1), sem necessidade de abater o animal (BRIGGS, 2019), conforme publicado pela BBC News.

Figura 1. Esquema de produção de bacon em laboratório.

A produção de carnes à base de plantas ou carne à base de células tronco, é um processo relativamente recente e ainda há muitos aspectos a serem testados e considerados, incluindo a aceitação do consumidor, o custo-benefício ambiental, a prospecção de mercado e a escalabilidade. SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020 41


ARTIGO TÉCNICO

A aceitação do consumidor

Pesquisadores da Bélgica e França publicaram um estudo exploratório realizado com 180 pessoas que discute as possíveis razões para os consumidores pararem de comer carne: 1) são contra as práticas tradicionais de produção de carne; 2) são a favor de consumir alimentos ecologicamente corretos; 3) consideram mais saudável não comer ou reduzir o consumo de carne para mudar o estilo de vida (VERBEKE; SANS; VAN LOO, 2015). Neste estudo, o conceito de carne cultivada em laboratório era conhecido por apenas 13% do público. Inicialmente, 9% dos entrevistados rejeitaram a ideia de provar “carne”, 67% hesitaram e 24% gostariam de provar. Após explicações sobre os possíveis benefícios ambientais e bem-estar animal de se consumir carne de laboratório, o percentual alterou para 7% de rejeição, 51% hesitaram em provar e 42% gostariam de provar (VERBEKE; SANS; VAN LOO, 2015). O artigo mostra que ainda existe muita desinformação por parte do público em geral, porém é um nicho a ser explorado pelas indústrias que tem intenção de investir neste segmento. O poder aquisitivo pode ser um fator determinante em algumas regiões, porém há de se pensar, será que os consumidores que concordam em provar para apenas experimentar, seguiriam comprando carne de laboratório? Ou seriam eles apenas motivados pela curiosidade e ao longo do tempo perderiam o interesse em consumi-la em detrimento do preço de aquisição?

Custos e benefícios ambientais

Estima-se no ano de 2050 um incremento populacional na ordem de 2 bilhões de pessoas. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a pecuária teria que aumentar em 70% a área de terras para suprir a demanda por fibras e alimentos. O volume total de carne produzida mundialmente é da ordem de 328 milhões de toneladas/ano, com uma perspectiva de atingir 364 milhões de toneladas/ano em 2028, segundo a Organização Mundial da Saúde. Comparativamente aos valores do final dos anos 80, de 166 milhões de toneladas/ano, o volume de carne consumida mundialmente praticamente dobrou nas últimas três décadas (OECD/FAO, 2019). Os favoráveis à produção de carne em laboratório alegam que a produção tradicional demanda muita água (1/3 do total de água consumida) e terra (80% do total de terra agricultável do planeta), além de emitir

42 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020

VOLUME TOTAL DE CARNE PRODUZIDA MUNDIALMENTE (toneladas/ano)

364

328

milhões

2019

2028

milhões

166

milhões

anos 80

mais gases de efeito estufa (GEE) do que a soma dos gases emitidos por trens, aviões e carros. Além disso são feitas projeções até 2035, onde se vislumbra a possibilidade da substituição total da carne por proteínas vegetais, além da redução em 60% das terras agricultáveis, redução de 70% do uso de água na produção, redução de 80% dos GEE, além da possibilidade de produzir sem colesterol, sem conservantes e sem antibióticos (BERNARDES, 2019). Os pesquisadores que são contra a produção de carne em laboratório alegam que não adianta repor proteína, pois há outros nutrientes importantes como minerais, vitaminas, entre outros. Além disso, os laboratórios precisarão de eletricidade de qualquer forma para produção da carne em laboratório, o que, dependendo da matriz energética, também emitiria GEE. Ainda, os bovinos também produzem leite, couro e outros derivados. Como seria impactada toda esta cadeia produtiva e como ficaria os empregos das pessoas que estão diretamente ligadas a este sistema? É difícil chegar a uma conclusão de como alimentar 9,8 bilhões de pessoas, de forma segura, em conformidade com o bem-estar animal (e dos seres humanos), sem danificar o planeta, nem esgotar os recursos naturais. É estimado que a demanda por proteína animal aumentará 20% até 2030. Segundo a FAO, o consumo mundial aumentará 1,4% ao ano até 2024 e isso demandará um incremento de produção de 3,8% no período, para atender a essa demanda.

Embora progressos consideráveis estão acontecendo, ainda há questões importantes a serem resolvidas como: restrições sociais e éticas, ajuste das condições de cultura, produção eficaz em grande escala e o desenvolvimento de meios de cultura econômicos e livres de produtos de origem animal (SANTOS, 2019). A produção de carne em laboratório tem como o principal apelo, reduzir o impacto ambiental da pecuária. Criando menos animais, haveria redução de GEE (CH4 e CO2). Estima-se que manter os atuais 1,5 bilhão de bovinos significa uma emissão comparada a todos os carros em circulação no mundo. Todavia, a quantidade de metano poupada pela produção de carne em laboratório, pode ser superada a longo prazo pelas emissões de CO2 que resultam do processo. Contudo, há de se considerar o efeito renda sobre o consumo total de alimentos e os aspectos culturais em cada nação. As vantagens da produção de carne em laboratório versus carne tradicional são estudadas por muitos pesquisadores. De acordo com cientistas da Universidade de Oxford, ainda que a pecuária convencional pareça mais prejudicial de imediato, suprir a demanda mundial por carne de laboratório poderia fazer com que a emissão de CO2 não compensasse o esforço (LYNCH; PIERREHUMBERT, 2019). Segundo os pesquisadores, a carne cultivada não é climaticamente menos impactante que o gado; seu impacto relativo, ao contrário, depende da disponibilidade de geração de energia descarbonizada e dos sistemas de produção específicos que são realizados. Um recente estudo veiculado pela CB Insights, uma plataforma de inteligência de mercado com sede em Nova York, EUA, mostrou que para a produção de 1 kg de carne por métodos tradicionais de produção, são gastos 6.809,95 litros de água, 7,26 kg de emissão de GEE e 24,15 m² de terra, com um custo de produção de $ 1,05. No entanto, para a produção do mesmo 1 kg de carne via laboratório, são estimados 1.226,47 litros de água, 1,6 kg de GEE, 0,24 m² de terra e o custo $ 12, ou seja, cerca de 11,5 vezes mais cara, porém com menos impacto ambiental (https://www.cbinsights.com/research/future-of-meat-industrial-farming/). Nesse estudo da CB Insights, não foi especificado o tipo de carne produzida, nem mesmo a metodologia de análise dos impactos ambientais e econômicos. Porém, segundo estatísticas brasileiras da Central de Inteligência de Aves e Suínos, CIAS/Embrapa (https://www.


embrapa.br/en/suinos-e-aves/cias/custos), o custo médio de produção de frangos de corte e de suínos, de janeiro a julho de 2019, convertido para a taxa média de câmbio, foi de $ 0,70/kg e $ 1,00/kg de peso vivo, respectivamente. Em relação ao uso da terra, essa foi de 1,2 m² e 1,98 m² de área de cultivo com cereais (milho e soja) para a produção de, respectivamente, 1 kg de peso vivo de frangos de corte e 1 kg de peso vivo de suínos. Esses resultados foram gerados a partir de índices de competitividade como a conversão alimentar e a composição das rações dessas espécies de animais, e a produtividade média das lavouras de milho e soja em uma safra na região Sul do Brasil. Todavia, há de se considerar a área de terra ocupada por ocasião do alojamento dos animais. Para a produção de frangos de corte e de suínos, foi considerado 35 kg e 110 kg de peso vivo/m² de área, respectivamente. Assim, a terra (em m² de área/kg de peso vivo) necessária à produção de frangos de corte e suínos, incluindo o consumo de milho, farelo de soja e o adensamento populacional, foi de 1,54 m² para frangos de corte e 3,08 m² para suínos. Nessa análise não foi computado o período que se estende desde a creche dos leitões até a fase de crescimento, ou seja, foi considerado apenas terminação. Também não foi levada em consideração a área de terra necessária a retenção e ao tratamento dos dejetos gerados durante a fase produtiva, nem tão pouco aos rejeitos oriundos do processo de abate e agro industrialização de ambas as proteínas.

Escalabilidade

As considerações de custo mencionadas no presente artigo são cruciais para escalar esses produtos para o consumo convencio-

nal. O custo e a escala são considerações imediatas ao mover esses produtos para itens básicos de cozinha. Nos próximos anos, provavelmente podemos esperar que o custo da carne cultivada em laboratório diminua consideravelmente. Segundo Santos (2019), para gerar um volume de carne suficiente para atender a demanda de consumo mundial, é preciso ajustar as condições para produção em grande escala. Para isso, há necessidade do uso de grandes biorreatores, seleção e aumento da produção de biomateriais específicos para meios de cultivo e um excelente controle de qualidade.

CONCLUSÃO

Independentemente dos obstáculos para um futuro sem carne de origem animal, já foi demonstrado que dispomos de tecnologia para a produção deste tipo de alimento, e o que atualmente é simplesmente uma tendência, pode se tornar uma realidade em nossas vidas, à medida em que tais produtos apresentarem características sensoriais pa-

latáveis aos gostos do consumidor, a preços competitivos, capturando a atenção de investidores e consumidores. Apesar das alegações de que restrições no consumo de carne poderiam minimizar e até mesmo reduzir o impacto ambiental, as inovações tecnológicas baseadas na produção de biocarnes a partir de células vegetais e animais, ainda tem muitas fronteiras de ordem ética-social, política e econômica a serem desmistificadas. Ressalta-se, contudo, que se trata de uma inovação radical e bastante complexa, com múltiplos interesses de ordem difusa e por vezes extremamente antagônicos. Por evidenciar um campo novo de aplicações, sugere-se pesquisas no âmbito da bioeconomia, abordando aspectos relativos à emergia, para avaliar a real sustentabilidade destes novos meios produtivos de proteínas animais e vegetais. *Referências bibliográficas:http://setoragroenegocios.com.br/editorias/biocarnes-uma-solucao-do-futuro

VIA LABORATÓRIO

FOTO: SHUTTERSTOCK

MÉTODOS TRADICIONAIS

PRODUÇÃO DE 1 KG DE CARNE USO DE ÁGUA

EMISSÃO DE GEE

USO DE TERRA

6.809,95 l

7,26 kg

24,15 m²

1.226,47 l

1,6 kg

0,24 m²

CUSTO

$ 1,05

$ 12 Fonte: CB Insights

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FOTO: SHUTTERSTOCK

ESPECIAL PROFISSIONALIZAÇÃO NO AGRO

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TRANSFORMAR PARA

EVOLUIR Na época em que o agronegócio brasileiro experimenta uma grande revolução tecnológica, a especialização oferece novas oportunidades aos profissionais, dinamiza e dá condições para acelerar ainda mais o desenvolvimento do setor. por Taís Teixeira

“É 21% dos produtores rurais têm curso superior ou pós-graduação, índice superior ao da média nacional de pessoas com curso superior.

no problema da educação que assenta o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade”. Já no século XIX, o filósofo, escritor e professor prussiano Immanuel Kant já verbalizava em livros e frases que um dos caminhos do despertar da humanidade é a educação. O conhecimento profundo e analítico atua como promotor da expansão da consciência, uma forma conjugada para acessar insights capazes de aperfeiçoar as construções humanas, sejam sociais, profissionais e pessoais. O tempo avançou e a educação não evoluiu como uma massa homogênea, mas caracterizada e valorizada de acordo com o modelo sociocultural e político de cada país. E no agronegócio, qual o papel da educação? Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Marketing Rural & Agronegócios mostra que 21% dos produtores rurais têm curso superior ou pós-graduação. O índice – superior inclusive ao da média nacional de pessoas com curso superior, que é de 14% – segue uma tendência de alta para os próximos anos. Em época de grande competividade, onde o nível de mecanização e emprego de tecnologias tem aumentado de forma exponencial, a qualificação é fator determinante para o crescimento de toda cadeia produtiva. Para mostrar que a educação é o alicerce da evolução do agronegócio e fundamental para suprir a crescente demanda mundial por alimentos, lançamos nesta edição, o Projeto Profissionalização no Agro: transformar para evoluir. Através das ferramentas que compõem nossa plataforma multimídia mostraremos a importância da educação para a evolução do setor.

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novas tendências e às necessidades do segmento, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) há dez anos, ofere ce o único Mestrado Profissional PERFIL DO ALUNO QUE BUSCA de AgroMESTRADO PROFISSIONAL negócio do Brasil. DE AGRONEGÓCIO Em uma • 40% tem mais de 10 anos de formado ; década, • 30% entre 5 e 10 anos de formado; 103 disser• 25% 1 a 5 anos de formado. tações foram Fonte: FGV defendidas. E m 2 02 0 , mais 20 alunos vão encarar dois anos, ou 450 horas de aulas presenciais para conquistar o título. MUITO ALÉM Para o coordenador do Mestrado DA PRÁTICA Profissional e professor da FGV, ÂngeO agronegócio brasileiro acompanha uma lo Costa Gurgel, essa escolha se explica modernidade contínua e pujante em muitos quando fizemos uma retrospectiva dos elos da cadeia. Está nos centros tecnológiprocessos agropecuários no Brasil. cos de pesquisa, nas máquinas agrícolas, “Se olharmos o Brasil 30, 40 anos atrás, no manejo das atividades agropecuárias, o país cresceu muito em tecnologia. Esse nos insumos, nos sistemas de gestão e nas ganho repercutiu em uma produção muito linhas industriais. As invenções agregaram forte, que conecta todas as cadeias, aproxiavanços, otimizam tempo, qualificam resulma o produtor rural, estimula o empreendetados e proporcionam receitas vigorosas. dorismo e qualifica a assertividade na tomaMas para integrar esta tecnologia, mais da de risco. Criamos muita tecnologia, ainda, para criar estes mecanismos que reúnem métodos, técnicas e pesquisa minuciosa é preciso mais do que disposição e interesse. É necessário buscar o espaço onde o conhecimento é rei: a educação e as instituições de ensino. Entre graduações, pós-graduações, MBA’s, mestrados acadêmicos e doutorados, há uma alternativa que se apresenta adequada à estrutura de funcionamento do agro brasileiro: o mestrado profissional. Atenta às mudanças de mercado, às

“O mercado exige líderes” ÂNGELO COSTA GURGEL, coordenador do Mestrado Profissional e professor da FGV

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presente, por exemplo, em sementes e variedades, insumos, fertilizantes, beneficiamento, agricultura de precisão, drones e sensores. Esse conjunto de técnicas está disperso, não houve um preparo dessas equipes, que hoje têm dificuldade de entender. Faltou investimento em capital humano para assimilar e operar a partir dessas novas possibilidades”, esclarece o coordenador. Outro ponto, é que essa ausência de profissionalização não está apenas na ponta da cadeia. “Falta capacitação geral e não apenas no operador, mas em toda a cadeia. No Brasil, a formação profissional é baixa. Está abaixo da média mundial, é um aspecto cultural. O qualificar e fazer não é o modus operandi no Brasil, e sim, apenas fazer”, pontua. Uma opção que é muito procurada são os MBA’s. Enquanto essa modalidade de capacitação atualiza e recicla informações sobre o setor, o mestrado profissional proporciona uma imersão mais analítica e profunda, o que propicia um conhecimento mais consolidado para atuar na gestão, por exemplo. “O mercado exige líderes. Muitos buscam isso, esse conhecimento para dar mais embasamento para assumir desafios das tomadas de decisão, ao assumir riscos, atuar com as questões socioambientais, estratégias de negociação, captação de clientes, gerenciamento de pessoas. É uma responsabilidade interdisciplinar que requer conhecimento e habilidade do profissional”, enfatiza o professor. É o caso do engenheiro agrônomo, Pedro Rodrigues Alves Silveira. No agronegócio desde 2010, hoje é gerente comercial de uma instituição financeira. Quando passou a coordenar um programa de monitoramento e avaliação de desempenho financeiro de empresas (cooperativas agropecuárias), sentiu que a capacitação era importante para esse novo momento. “Eu não me sentia confortável com o nível de conhecimento técnico que tinha, até então, para as discussões. Pesquisei entre as opções no mercado e achei que o programa do mestrado se encaixava com aquilo que eu precisava, indo além. Considero uma pós-graduação com um propósito interessante, diferente do foco profissional, como é o MBA, ou teórico como um

FOTOS: DIVULGAÇÃO

ESPECIAL PROFISSIONALIZAÇÃO NO AGRO


PERFIL DE CURSO DE GRADUAÇÃO QUE MAIS PROCURAM • 35% a 40% Administração ou Economia; • 25 % Agronomia; • 25% Engenharias; • 10%-15% Direito, Medicina Veterinária, Relações Internacionais, outras áreas. Fonte: FGV

mestrado acadêmico, uma vez que busca mesclar o conhecimento e abordagem profissional e científica ao mesmo tempo, sempre aplicada ao agronegócio”, conta o gerente comercial.

UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO É MAIS COMPLETA

“O profissional que investe na especialização do capital humano, investe numa visão dinâmica, estratégica e sistêmica. Adquire um conhecimento mais amplo e entende a área dos outros profissionais. Entende melhor a decisão do mercado. Tem mais bagagem, mais tempo de leitura, de discussões, de cases, de troca de informações. Por isso, em comparação a quem não se qualifica e acaba tendo o conhecimento depreciado, torna-se um profissional com vida longa e mais desejado. Ele explora e coloca em prática a versatilidade”, afirma Gurgel.

Isso se confirma nas palavras de Pedro. “No meu caso, uma das consequências foi, à medida que o conteúdo era apresentado e eu passava a dominá-lo, novos temas e oportunidades se abriram. Não é incomum pessoas com formação em agrárias, por exemplo, atuando em outros elos da cadeia que não "dentro da porteira", pelo contrário, quanto mais elos você PRINCIPAIS MOTIVAÇÕES dominar, maior • Mudar de área e entrar no agronegócio; o seu valor • Retornar ao mercado de trabalho; como profissio• Permanência/promoção no trabalho; nal para atuar no • Aprofundar os conhecimentos; agronegócio, e • Buscar outra empresa. uma das formas Fonte: FGV para isso é capacitar-se. O segmento do agronegócio tem muitas particularidades, tem muitos elos, é muito dinâmico e envolve muitos riscos”, conclui o futuro mestre.

O Mestrado Profissional de Agronegócio da FGV é presencial, seguindo determinação da Capes, e acontece na capital paulista. Um dos up-grades do curso é que não se restringe ao corpo docente da FGV: professores da Esalq/USP e Embrapa estão à frente da parte tecnológica, o que evidencia que o maior intuito é oferecer uma oportunidade de conhecimento com profissionais que são referência nas respectivas áreas.

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PESQUISA

ORÇAMENTO PELA METADE,

mas projetos mantidos

Respeitada internacionalmente por suas pesquisas, Embrapa poderá deixar de receber R$1,8 milhões do governo federal. Mesmo com o contingenciamento das despesas, nenhum dos 876 projetos em andamento será cancelado. por Taís Teixeira

FOTO: JORGE DUARTE/EMBRAPA

O

controle de pragas. A resistência à diversidade climática. A fertilização dos solos desnutridos. Novas variedades. Melhor aproveitamento do espaço com maior produtividade, mas sem aumento de área. No século XXI, esses exemplos soam com naturalidade diante do progresso tecnológico do agronegócio. Todavia, esse caminho de estudos já é trilhado desde o fim do século passado. A criação do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) que, num primeiro momento, foi denominado de Estação Agronômica de Campinas, em 1887, pelo imperador Dom Pedro II, foi o marco desse movimento. O modelo brasileiro de pesquisa agrícola pública nasceu com base na experiência alemã, na qual cabia ao Estado o financiamento para construção da estrutura laboratorial e a formação de docentes capacitados. Com o passar do tempo, aliado a esse sistema, surgiu em 1973, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A Embrapa é um dos centros de desenvolvimento e inovação tecnológica agropecuária mais respeitados do mundo. Ao longo da história da instituição, mais de 20 mil projetos foram desenvolvidos nos 43 centros de pesquisa em prol da produção rural. Para isso, a empresa conta com um orçamento governamental de apoio, condução e manutenção das atividades. Entretanto, o governo federal prevê um corte que deve reduzir pela metade o valor orçamentário de R$ 3,6 milhões. A proposta foi enviada ao Congresso Nacional. Caso seja aprovada, a Embrapa terá que cobrir os custos com 50% do valor, ou seja, R$ 1,8 milhões. O presidente da Embrapa, Celso Moretti, afirma que, mesmo com essa situação, os projetos não serão cancelados. “Hoje existem em andamento, na programação da Embrapa, 876 projetos. Mesmo com o contingenciamento das despesas discricionárias feito em 2019, nenhum desses projetos foi cancelado. As atividades foram reprogramadas de forma a minimizar riscos e prejuízos causados pelos contingenciamentos sofridos. A empresa também fez ajustes

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e cortes em outras despesas de custeio e de investimento, tais como serviços terceirizados, materiais de consumo, manutenção de infraestruturas físicas, gastos com diárias, passagens e deslocamento de pessoas. O que fizemos, ao longo dos últimos anos, foi dar mais foco a nossa programação de P&D, o que, em última análise, contribuiu para a redução do número de projetos. Isso não tem nenhuma relação com o orçamento”, esclarece. Nesses quase 900 projetos atuais, existem trabalhos em rede para manutenção de 78 programas de melhoramento genético de plantas, animais e microrganismos. São ao todo 34 portfólios organizados em temas estratégicos, tais como mudanças climáticas, agricultura irrigada, aquicultura, automação e agricultura de precisão, convivência com a seca, insumos biológicos, integração Lavoura-Pecuária-Floresta, inteligência e monitoramento territorial, nanotecnologia, sanidade animal e vegetal e serviços ambientais. Com base nesta programação, a Embrapa gera um número significativo de soluções para as diferentes cadeias produtivas do agro todos os anos, desde produtos (como cultivares, máquinas, equipamentos, aplicativos, raças de animais, etc), até processos (sistemas de plantio, cultivo, manejo, técnicas de colheita e armazenamento, etc) e serviços. “Do ponto de vista de cultivares, os materiais desenvolvidos pela Embrapa e parceiros ocu-


Cabe salientar que somente os trabalhos de pesquisa em quarentena vegetal analisaram mais de 800 mil amostras desde 1976, barrando a entrada no Brasil de 85 pragas. Dependendo da praga, bastaria apenas uma entrar no país para dizimar plantações. O valor deste trabalho é inestimável CELSO MORETTI, presidente da Embrapa

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020 49


PESQUISA

NÚMEROS DA INVESTIMENTOS EM 2018 Valor de receita própria:

R$ 3,7 bilhões

Valor do governo federal:

R$ 3,6 milhões

1

Cada R$ aplicado foi convertido em

R$ 12,16

para a sociedade brasileira;

Lucro social:

partir da adoção de

165 tecnologias e de cerca de 220 cultivares avaliadas.

pam significativa percentagem da área plantada com algumas espécies vegetais. Somente em pastagens, que ocupam 21% do território brasileiro (180 milhões de hectares), a genética Embrapa está presente em mais de 130 milhões de hectares. Outras espécies vegetais ocupam também o espaço rural brasileiro, como é o caso do feijão comum (49% da área plantada), trigo (19%) e sorgo (17%)”. Moretti destaca que dois dos portfólios de projetos estão diretamente ligados ao controle de pragas e de doenças: o de sanidade vegetal, com foco na redução significativa das perdas de produção e dos custos globais de manejo,

50 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020

e o de sanidade animal, atuando com diagnóstico, prevenção, controle e erradicação de doenças de grande impacto para a produção animal. Para alcançar estes resultados, além da estrutura física, do material genético e de todas as pessoas envolvidas na operacionalização de variados processos, um item é indispensável para o funcionamento dessa engrenagem: o “capital” humano e intelectual. Parte do orçamento anual é destinado para o pagamento desses profissionais, que são decisivos para dirigir as pesquisas e assegurar precisão aos resultados, que se desdobrarão em benefícios para a coletividade.

2,5

“Do salário de seus cientistas, analistas, técnicos e assistentes, passando pelos insumos e manutenção da infraestrutura, todo o recurso aportado na Embrapa é investido em pesquisa. Para melhor ilustrar, em várias partes do mundo, como França e Inglaterra, quando se negocia parcerias em projetos, por exemplo, os custos com pessoal que participará do projeto são inseridos nos cálculos. Seguindo-se esta lógica, a Embrapa investe por ano R$ 3,7 bilhões de reais em pesquisa. O investimento vale a pena e se paga várias vezes ao ano pela adoção das tecnologias desenvolvidas pela Embrapa”, finaliza o presidente.

84

São quase mil pesquisadores, % deles com doutorado ou pós-doutorado. Eles atuam em rede com o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, que envolve instituições públicas federais, estaduais, universidades, empresas privadas e fundações.

FOTO: FREEPIK

R$ 43,52 bilhões gerados a


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ESPECIAL INDÚSTRIA FORTE

O VALOR DA

CARCAÇA

Qualidade genética, nutrição, bem-estar e manejo são itens fundamentais para um produto de qualidade. por Taís Teixeira processo de abate e desossa no frigorífico. “Começa na genética de alta qualidade. Tem que ter uma vaca boa e um reprodutor de alta linhagem, aliados a uma nutrição e manejo adequados, além do bem-estar animal. Para isso, é fundamental que os funcionários estejam bem treinados, que não gritem, não maltratem durante o manejo com os animais, pois isso provoca estresse e compromete lá na frente”. E completa. “O transporte também é um momento importante. O motorista não pode dirigir muito rápido ou dar freadas bruscas que podem gerar contusões nos animais além de aumentar o estresse e consequentemente também afetar a qualidade da carne”, destaca o diretor. Essa visão contempla os aspectos físicos e a aptidão genética para ter animais constituídos dentro de um padrão de qualidade. Mas Galindo apresenta outro parâmetro que também baliza o conceito de qualidade de carcaça. “A pergunta que se deve fazer é: qualidade para quê ou para quem? Se o destino da

Além das exigências de mercados internacionais, as preferências e características regionais também ditam padrões para atender a diferentes demandas no mercado interno RENATO GALINDO, diretor da FSW Carnes.

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carne for para os mercados asiáticos e Oriente Médio, melhor que seja uma carcaça mais magra e pesada. Isso significa a formação de um plantel com alto desempenho em musculatura e pouca gordura. Se o foco é carne premium, então a cobertura de gordura, precocidade e grau de marmoreio é fundamental para o mercado food service especializado. E essa decisão do que produzir,

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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ovinos, suínos, aves. O mercado de carnes é pujante no país e envolve muitos procedimentos até chegar à mesa do consumidor. Uma dessas etapas é o abate, onde todo o trabalho de criação vai mostrar que compensou o investimento a partir da qualidade dos cortes. Seja qual for a carne, é no frigorífico que fica evidente o valor da carcaça para a comercialização. O abate de animais bem finalizado fornece carcaças com melhores cortes e matéria-prima mais apurada para a indústria de processamento. Para ter um plantel com animais de alto desempenho com resultados financeiros, o trabalho começa bem antes da chegada ao frigorífico. Muitos podem achar que atingir o padrão de uma boa conformação de carcaça concentra-se somente na criação. Esta fase é fundamental, porém existem outros fatores cruciais para se produzir um animal de qualidade. É o que explica o diretor da FSW Carnes, Renato Galindo. Ele afirma que qualidade de carcaça é muito mais que um


FOTO: PIXABAY

RENDIMENTO DA CARCAÇA

Acompanhe o processo da carne em um frigorífico. Vamos usar como referência o bovino.

PROCESSO 1 – ABATE Passo Retirada de couro e as vísceras Elas são separadas em miúdos brancos (tendões, cartilagens, pênis do macho, etc) e miúdos vermelhos (rins, fígado, rabo, coração).

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Passo A carcaça é colocada numa câmara fria Onde deve permanecer no mínimo por 24 horas para baixar a temperatura lentamente, num processo chamado de maturação sanitária, até que a temperatura fique entre 0º e 7 º. Após essa etapa, a carne já estará pronta para a próxima fase.

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Passo Triparia natural Os intestinos são limpos, higienizados, calibrados em tamanho e diâmetro e salgados; Neste estado, são enviados para a indústria de embutidos (produção de salsichas, linguiças, presuntos).

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Passo Carne Industrial São partes comestíveis que só podem ser comercializadas para industrialização (fábricas de embutidos, mortadela) pois precisam receber o tratamento térmico (cozimento).

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PROCESSO 2 – DESOSSA Passo A carcaça é separada em seis partes: dois traseiros, dois dianteiros e duas costelas Realiza-se os cortes de carnes nobres e depois retalhos de cortes. Sobram produtos não comestíveis (ossos e sebos), que são enviados para indústrias processadoras de resíduos e depois serão transformados em produtos de higiene e limpeza como sabonetes, detergentes (sebo) e fabricantes de ração para o mercado pet (ossos).

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ESPECIAL INDÚSTRIA FORTE

organolépticas - que são as perceptíveis aos sentidos humanos como sabor, odor e textura - um dos caminhos é pela conquista de uma certificação internacional. Esse processo tem foco no acompanhamento das fases de produção, controle das raças usadas, análises laboratoriais, industrialização, transporte, distribuição e comercialização de uma forma que estabeleça correlação entre a matéria original e o produto final. Certificações como ISO 9001 (qualidade técnica) e ISO 22000 (segurança alimentar) são alguns exemplos de normas.

FOTO: DIVULGAÇÃO

MAIS DE 70% DE APROVEITAMENTO DE CARCAÇA SUÍNA

Nós vendemos por mês 1,5 toneladas. Os preços estão em alta não apenas nas carcaças, mas também nos industrializados em função da lei de oferta e procura.

DIRCEU BAYER, presidente da Cooperativa Languiru. começa na escolha genética, na nutrição, na deposição certa de gordura”, explica. Além das exigências de mercados internacionais, as preferências e características regionais também ditam padrões para atender a diferentes demandas no mercado interno. “Se você oferece uma costela gorda para um paulista, ele não gosta. Se você oferece uma costela muito magra para o gaúcho, ele não gosta”, comenta Galindo.

A INFLUÊNCIA DA QUALIDADE GEOGRÁFICA NO RESULTADO

Com mais de 35 anos vivendo as mudanças e adaptações nos circuitos produtivos para obter carcaças de qualidade, Galindo ressalta outro aspecto que interfere: a capacidade do pecuarista de entender que a seleção depende da realidade geográfica e climática da fazenda. Ele dá um exemplo: “Imagine um animal da raça Angus Puro do Rio Grande do Sul, no Norte do Pará. O animal não teria um desempenho adequado, não conseguiria reproduzir no tempo certo, não seria a melhor

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opção para o pecuarista (o ideal seria fazer o cruzamento industrial, ½ Angus x Nelore). Outra situação é um animal de grande porte num local onde não haja disponibilidade de pastagem o ano todo. Para viver num lugar com restrição de alimentos é preciso criar uma raça mais rústica. Essa compreensão permite que o criador escolha a raça adequada para a condição climática da sua região e garanta mais produtividade com baixo custo, preservando a qualidade”. Nesse âmbito da qualidade, estão os sistemas governamentais, que controlam a produção no Brasil, como o Serviço de Inspeção Federal (SIF).

CERTIFICAÇÕES INTERNACIONAIS SÃO UMA ALTERNATIVA PARA EVIDENCIAR SEGURANÇA

Na produção de carne, como se trata de um item destinado ao consumo humano, o critério de qualidade é composto de mais exigências. Para garantir um produto seguro, saudável, palatável e com características

A qualidade da produção suína é atestada pelo percentual extraído de uma carcaça. Cuidados, controle sanitário, boas práticas, autorização do Serviço de Inspeção Federal também são requisitos para desenvolver a suinocultura de forma saudável e produtiva. A partir do rendimento da carcaça, uma longa linha de produtos é elaborada. Um dos modelos de produção é o tradicional cooperativismo, muito forte na Região Sul, que agrega criadores de pequena e média propriedade. A história da Languiru e da Dália Alimentos, ambas localizadas no Rio Grande do Sul, representa essa força de trabalho promissora, que aumenta a empregabilidade na cadeia de produção de alimentos. As duas marcas atendem internamente e também são exportadoras, o que demonstra o enquadramento dos padrões sanitários e a qualidade do Brasil na contribuição alimentar para o mundo. O presidente da Cooperativa Languiru, Dirceu Bayer sinaliza que o mercado de carcaças é rentável economicamente. “A comercialização de carcaças acontece a nível atacadista. Por exemplo, açougues compram e fazem seus próprios cortes. É um mercado importante para esse cliente (açougue) que, por sua vez, atende aos seus clientes (consumidores), após destrinchar a carcaça”. Bayer explica que a carcaça corresponde a 73% do peso do animal vivo e que o volume de venda é expressivo. “Nós vendemos por mês 1,5 toneladas. Os preços estão em alta não apenas nas carcaças, mas também nos industrializados em função da lei de oferta e procura. Estamos num momento de escassez devido à questão da China, onde os derivados das carnes, tanto de aves quanto de suínos e bovinos estão em alta porque a oferta é limitada e com isso os preços melhoram”, afirma.


A China, assolada pela Peste Suína Africana (PSA), teve que sacrificar em torno de 200 milhões de animais. De maior produtor de suínos do planeta, o país asiático passou a importador e está comprando ao máximo para reabastecer o mercado interno. Este cenário deve permanecer por mais tempo até voltar a estabilidade. “A projeção é satisfatória. A situação chinesa, que atingiu outros países do Oriente Médio, deve perdurar até 2023. Para o Brasil, sanitariamente perfeito e que produz alta qualidade, é uma excelente oportunidade. Além disso, estima-se que o Produto Interno Bruto (PIB) terá um aumento de 2%, um crescimento considerável”, avalia o presidente da Languiru.

INVESTIMENTO NOS CORTES TEMPERADOS

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Em 1947, foi fundada a Cosuel Cooperativa dos Suinocultores de Encantado Ltda, conhecida por Dália. O presidente executivo,

Carlos Alberto de Figueiredo Freitas, destaca o potencial produtivo. “O abate diário é de 2.700 suínos, com processamento de carne para produção de elaborados. Assim, 65% da produção é transformada e comercializada na forma de embutidos (presunto, linguiça, apresuntado, salsicha) e 35% sob a forma de carne suína. Não comercializamos carcaças suínas e os 35% comercializados sob a forma de cortes de carne suína são destinados aos mercados interno e externo”, apresenta o presidente da Dália. Ele mostra um dos focos de produção, que é a especialização em cortes temperados, embalados em pequenas porções para facilitar o consumo, pois são de fácil preparo, atendendo à tendência de autoconsumo. “O brasileiro é um grande consumidor de produtos suínos embutidos quando comparado ao consumo de carne. Porém, conforme fomos aprimorando os cortes temperados e embalados, constatamos um aumento progressivo no consumo desses produtos.

Acreditamos que à medida que a carne bovina apresente elevação em seu preço, o consumo de carne suína cresça na mesma proporção”, avalia. Para viabilizar esse objetivo, a produção de embutidos é programada. “Varia conforme a demanda, mas a média semanal é de 560 toneladas de carnes por semana, ou 2.240 toneladas por mês. Cada animal tem 76% de aproveitamento, considerando 125 kg de peso vivo”, informa. Já para 2020, avalia com cautela o cenário. “Acreditamos que o volume de carne processada (transformada em embutidos) se manterá estável em relação a 2019 e, se ocorrer variação, será pouco expressiva. Na verdade, para a indústria brasileira, quando falamos em mercado nacional, a venda de carne suína não apresenta rentabilidade, devido aos baixos preços praticados em razão da expressiva informalidade da produção. Assim, atualmente, ou se produz embutidos ou se exportam os cortes’, conclui.

Frigorífico Dália abate 2.700 suínos por dia

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ESPECIAL INDÚSTRIA FORTE

PROGRAMA ENCADEAR

CONTRIBUI COM O DESENVOLVIMENTO DA CADEIA DO AGRO Parceria entre Sebrae/ ACIC/Mercoagro disponibiliza diagnóstico gratuito do perfil empresarial.

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ara avaliar o nível de competitividade da empresa e possibilitar a identificação de necessidades em desenvolvimento por tema de gestão, o Sebrae/SC e a Associação Comercial e Industrial de Chapecó (ACIC) disponibilizam o Programa Encadear Mercoagro 2020 para as empresas expositoras da Feira Internacional de Negócios, Processamento e Industrialização da Carne (Mercoagro). A metodologia de avaliação é voltada às empresas de pequeno porte (que faturam de R$ 360 mil até R$ 4,8 milhões/ano), composta de consultoria individual e presencial com duração de uma hora com consultores especialistas do Sebrae/SC e de aplicação do Diagnóstico Empresarial. O propósito, segundo o gerente regional Oeste do Sebrae/SC, Enio Albérto Parmeggiani, é visualizar a empresa de maneira bem detalhada, considerando os pontos de melhorias e os gargalos que travam o desenvolvimento do negócio. Ao fim dessa etapa será elaborado um feedback com soluções adequadas para o aprimoramento da empresa. Entre os benefícios para as empresas participantes estão o recebimento de orientações voltadas para cinco temas de gestão: finanças, mercado, planejamento, qualidade e produtividade e pessoas. As orientações

repassadas presencialmente pelos consultores contribuem para tornar a gestão mais competitiva e eficaz para obtenção dos resultados almejados. O programa é exclusivo para empresas de pequeno porte. As inscrições para o diagnóstico empresarial podem ser feitas pelos telefones (49) 3330-2802 ou (49) 3330-2806 ou pelo e-mail eduardos@sc. sebrae.com.br.

A metodologia de avaliação é voltada às empresas de pequeno porte (que faturam de R$ 360 mil até R$ 4,8 milhões/ano) 56 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020

MERCOAGRO 2020

A Mercoagro está programada para o período de 15 a 18 de setembro, no Parque de Exposições Tancredo Neves, em Chapecó (SC). Contará com 205 estandes, 350 marcas representadas, público de 20 mil visitantes/compradores e previsão de negócios de US$ 200 milhões de dólares. A feira é promovida e organizada pela ACIC, com patrocínio da Aurora Alimentos, Unimed Chapecó e Sicredi, parceria da Prefeitura de Chapecó e apoio do BRDE, Nucleovet, Abrafrigo, Facisc, Unoesc, Embrapa, Sincravesc, Asgav/Ovos RS, Chapecó e Região Convention & Visitors Bureau, ABPA, Sihrbasc, Fiesc, Senai, Sesi, Unochapecó, Sebrae, Safetrading e Sicoob. A comercialização é da Enterprise Feiras e Eventos. Mais informações no site www.mercoagro.com.br.


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COOPERATIVAS

QUATRO GRANDES CONQUISTAS DA

AURORA ALIMENTOS EM 2019 Com 50 anos de história, a agroindústria continua construindo oportunidades e desbravando mercados.

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SISTEMA INTEGRADO DE PRODUÇÃO

3.500

produtores de suínos

65 mil famílias rurais

3.600 criadores de aves

4.500 produtores de leite

FOTOS: ASSESSORIA DE IMPRENSA

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e tornar o maior frigorífico de suínos do país não é para qualquer empresa. A Aurora Alimentos conseguiu realizar esse feito em 2019, depois de 50 anos de trabalho. Para chegar a esse patamar, foram investidos R$ 268 milhões, valor que dobrou a capacidade do Frigorífico Aurora Chapecó 1 (FACH 1). Nesta nova fase, o frigorífico passou a empregar cerca de 5,5 mil trabalhadores e a abater 10 mil cabeças por dia, gerando 221 produtos cárneos. Segundo o presidente Mário Lanznaster, a trajetória da cooperativa central só se destaca devido ao sistema integrado de produção que envolve 65 mil famílias rurais, entre elas 3.500 produtores de suínos, 3.600 criadores de aves e 4.500 produtores de leite. Tudo isso transformou a Aurora Alimentos na terceira maior empresa de proteína animal do Brasil. Além do frigorífico central, no ano de 2019 foram investidos em demais unidades de produção, processamento e comercialização de produtos.

Lanznaster avalia que 2019 foi um ano de excelentes resultados para a indústria brasileira da carne, em razão do sucesso das exportações

UNIDADE DE DISSEMINAÇÃO DE GENES 2 (UDG)

Em 2019, a empresa inaugurou a segunda Unidade de Disseminação de Genes (UDG II) que permitiu ampliar em 67% a produção de sêmen do complexo agroindustrial. Adotando o que há de mais avançado em genética suína, a UDG II absorveu investimentos da ordem de 17 milhões de reais.

NOVO CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO EM ARUJÁ, SÃO PAULO

O Centro de Distribuição da Aurora Alimentos em Arujá, São Paulo, recebe mensalmente mais de mil cargas, trazendo um volume de 25 mil toneladas de produtos acabados. Isso significa que diariamente chegam 40 carretas de produtos e, no contrafluxo, são expedidos 250 caminhões/dia de distribuição para atender mais de 25 mil clientes ativos da região.

Para suprir essa demanda, a empresa investiu em uma nova estrutura que foi entregue em 2019. O investimento na área foi de 130 milhões de reais, gerando 300 empregos diretos e 600 terceirizados.

NOVA UNIDADE DE VENDA E CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO EM PASSO FUNDO, RIO GRANDE DO SUL

A nova unidade da Aurora em Passo Fundo tem o objetivo de atender a parte da região Nordeste e Centro Oeste do Estado, com produtos expedidos e entregues diretamente pela unidade, que corresponde a 142 municípios. Grande parte das vendas da região Sudeste será expedida pela unidade e entregue pelos distribuidores, em 140 municípios. No total serão atendidos 242 municípios. A receita operacional bruta da unidade de vendas de Passo Fundo está prevista em R$137 milhões para 2019 e R$151 milhões para o ano de 2020.

A Aurora Alimentos exporta produtos para os Estados Unidos, China, Hong Kong, Japão, Coreia do Sul e Chile, totalizando cerca de 20 países. SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020 59


GUIA DE INVESTIMENTO

PLANO SAFRA

SAIBA COMO CONTROLAR OS INVESTIMENTOS PARA 2020

por Tuanny de Paula

60 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020

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Plano Safra completou em janeiro seis meses de vigência e já apresenta uma contratação no valor de R$ 108,5 bilhões. Desse valor, R$ 28,5 bilhões foram designados em operações de investimento e R$ 80 bilhões em operações de custeio, comercialização e industrialização. Tendo em vista essa grande procura, a Secretaria do Tesouro Nacional autorizou o remanejamento de recursos com juros equalizáveis, sobretudo de custeio, para investimentos. Foram beneficiados com recursos adicionais especialmente o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), com adicional de R$ 874 milhões e o Programa Nacional de Apoio aos Médios Produtores Rurais (Pronamp), com um acréscimo de R$ 614 milhões. A forte demanda em crédito rural dá a entender que os produtores estão confiantes para investir em suas safras 2019/20. Mas como planejar e controlar esses investimentos?

Para o especialista em crédito rural do Sicoob MaxiCrédito, Luiz Miguel Dal Piva, é de extrema importância que o produtor de pequeno e médio porte perceba que a sua propriedade não pode mais ser gerida como há dez anos. O mercado está mais competitivo e tecnológico e o produtor precisa ir atrás disso, isto é, utilizar-se de ferramentas que hoje estão disponíveis para a gestão da propriedade, para não correr o risco de ser "abocanhado" pelas chamadas "Empresas Agro", ou seja, os grandes produtores rurais.

NA PONTA DA CANETA

De uma maneira geral, qualquer decisão de investimento busca maximizar o lucro da propriedade, explica o Gerente de Ciclo de Crédito do Sicredi Região da Produção Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais, Thiago G. Salami.

FOTO: SHUTTERSTOCK

Saber para onde o dinheiro está sendo investido é um passo muito importante para o produtor rural. Através desse controle, ele sabe se está tendo ou não lucro na atividade desempenhada. Saiba como controlar esses investimentos com a orientação de especialistas.


Para isso, o produtor precisa levar em conta a realidade de sua propriedade em conjunto de sua capacidade de pagamento e gerenciamento de custos. "Por exemplo, imaginemos um agricultor que esteja precisando adquirir um novo trator e possua uma capacidade de pagamento significativa. No momento de decidir qual trator comprar, o produtor não precisa adquirir a melhor máquina disponível simplesmente por possuir capacidade de pagamento, mas sim aquela que seja capaz de exercer a mesma função ao menor custo. Dessa maneira, ele consegue tirar o máximo de valor de seu dinheiro e pode lhe restar ainda algum recurso para ser direcionado para outra necessidade", orienta Salami. Além disso, para um bom andamento da propriedade rural, é recomendável que o produtor faça a gestão como um empresário faz a gestão de uma empresa. "Isso implica em planejamento, organização, monitoramento dos custos fixos e variáveis e, não menos importante, ter o conhecimento da cultura a

Para um bom andamento da propriedade rural, é recomendável que o produtor faça a gestão como um empresário faz a gestão de uma empresa. ser desenvolvida, seja a que já é desenvolvida na propriedade ou mesmo algo novo", explica Dal Piva, especialista do Sicoob. Colocar no papel todas as despesas da atividade que está sendo cultivada, desde medicamento, suplemento, contratação de técnico agrícola, gastos na agropecuária, entre outros, é uma prática que auxilia o produtor a mensurar para onde os investimentos estão sendo colocados. "Muitas vezes pequenos gastos não são anotados e calculados, o que pode gerar uma grande diferença no fim do mês. Através de um fluxo de caixa o produtor consegue visualizar se o que está gastando na atividade está tendo retorno", explica Dal Piva.

COMO FAZER UM FLUXO DE CAIXA O fluxo de caixa na propriedade é uma prática importante para mensurar para onde os investimentos estão sendo colocados. Saiba como iniciar o seu:

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Levante todos os gastos da sua propriedade Defina o saldo inicial da sua conta

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Organize as despesas e receitas por categorias Registre semanalmente as entradas e saídas

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Saldo Atual Saldo Anterior Saldo Operacional

O produtor pode montar o fluxo de caixa da sua propriedade em um caderno ou até mesmo contratar softwares especializados.

PRA FICAR DE OLHO NO SETOR

Para 2020, o setor apresenta boas perspectivas. Segundo a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, o governo está empenhado para a melhora da imagem do agronegócio brasileiro. No que diz respeito a produção de grãos, o Brasil deve se tornar o maior produtor global de soja nesta temporada, com estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de 122,2 milhões de toneladas, 6,3% acima da temporada 2018/19. Já o milho deve ter uma retração de 1,3%, estimada em 98,7 milhões de toneladas, sendo a oferta da safrinha um fator de risco por conta do possível atraso no plantio e risco de geada no desenvolvimento das lavouras. Em relação às carnes, o aumento do consumo deve ser estimulado pela maior demanda asiática por conta do déficit de oferta provocado pela Peste Suína Africana e pela expectativa de intensificação da demanda interna, que responde por mais de 70% do consumo da carne produzida em solo brasileiro. Além disso, o contexto de continuidade da taxa de câmbio em patamar desvalorizado faz com que as commodities agropecuárias brasileiras continuem competitivas no mercado internacional, impactando positivamente o panorama de exportações brasileiras. Toda essa movimentação no agronegócio brasileiro estimula o produtor a procurar alternativas e soluções para o seu negócio. E para ter maior controle disso, é recomendado a utilização de um fluxo de caixa. Essa é uma forma muito eficiente de se ter um controle absoluto das despesas e receitas. "Sugiro o produtor criar seu próprio fluxo dia por dia, ou seja, anotar tudo o que é gasto referente a atividade agrícola e tudo o que é receita, e ao final do mês "fechar o caixa" e avaliar se obteve lucro ou prejuízo", aconselha o especialista em crédito rural, Dal Piva.

SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020 61


GRÃOS

NOVOS RECORDES EM

EM 2020

FOTO: AGROSTOCK

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estimativa da safra 2019/20 de grãos aponta uma produção de 248 milhões de toneladas, com aumento de 2,5% ou 6,1 milhões de toneladas em relação a 2018/19. Os números registram novo recorde da série histórica e foram divulgados no início do mês de janeiro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em seu quarto levantamento. A expectativa para a área semeada é que sejam cultivados 64,2 milhões de hectares ou o equivalente a uma variação positiva de 1,5% em comparação à da safra anterior. As condições climáticas, que apresentaram certa instabilidade no início do plantio de verão na maioria das regiões produtoras, tomaram agora um novo ritmo de normalização. A perspectiva é que os níveis de produtividade apresentem bom desempenho nessa etapa.

ALGODÃO A cultura da soja, que vem mantendo a tendência de crescimento na área, nesta temporada também deve crescer a produção em 2,6% em relação ao ciclo passado, chegando a 122,2 milhões de toneladas.

O algodão, apesar da tendência de crescimentos significativos de área nas duas últimas safras, apresentou uma variação positiva menor de 2,7%, atingindo 1,6 milhão de hectares. Já a produção do caroço deve chegar a 4,1 milhões de toneladas e a da pluma em 2,8 milhões de toneladas.

MILHO

FEIJÃO

SOJA

Quanto ao milho primeira safra, a previsão é de aumento em 1,1% na área semeada, totalizando 4,15 milhões de hectares e uma produção de 26,6 milhões de toneladas, com ganho de 3,8% sobre a de 2018/19. A favor desse desempenho, há fatores como o aumento nas exportações brasileiras do cereal e no mercado interno, derivados da demanda por confinamento e produção de etanol, mesmo a despeito da concorrência com a soja. No Rio Grande do Sul, lavouras de milho semeadas em setembro sofreram deficiência hídrica e indicam perdas do potencial produtivo, mas seguem dentro das estimativas iniciais da Conab.

62 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020

Os números do feijão primeira safra mostram redução de 1,9% na área em comparação com a temporada passada. A cultura também perde espaço para a soja e o milho que apresentam melhor rentabilidade. Também o trigo cuja safra está finalizada, deve alcançar 5,15 milhões de toneladas e redução de 5% em relação a 2018. O arroz é outro que sofre esta concorrência, com tendência para uma redução de 0,7% na área e produção de 10,5 milhões de toneladas. *COM INFORMAÇÕES CONAB


SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020 63


MERCADO

FOTOS: BANCO DE IMAGEM

AGRO NOVO, 64 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020


DE NOVO

Economia em recuperação, virada de ciclo pecuário e PSA estimulam novos recordes em 2020. por Taís Teixeira

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MERCADO

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ois mil e dezenove não deixou saudades em muitos aspectos. Em se tratando de Brasil, foi um ano marcado por turbulências na política e na economia, fatores que combinados contribuíram para o desemprego seguir como um problema grave para o brasileiro. A informalidade exigiu criatividade em todas as áreas. No agronegócio, não foi diferente. A instabilidade do mercado preocupou mais alguns setores e tranquilizou outros. Mas a pergunta é: 2020 vai ser um ano com outro rumo ou será uma espécie de “2019 parte 2”? A resposta é sim e não. “Sim” porque as ações em andamento terão continuidade. “Não” porque o ano deve ser melhor do que 2019. Algumas áreas com avanços, ainda que cautelosos, mas que são indicadores de crescimento. Entre os principais setores, a carne bovina deve manter o preço alto. Segundo a analista de mercado, Lygia Pimentel, a economia retraída, a antecipação da venda de animais e a Peste Suína Africana são os principais fatores que colaboram para esse resultado. “Têm três pilares que devem manter a sustentação desse movimento de alta. Primeiro temos uma economia que está em recuperação, meio tímida, mas está acontecendo. Ela não chegou ainda para quem está desempregado e vivemos um alto índice de desemprego, historicamente falando, que, apesar de estar recuando, ainda é alto. O endividamento também está elevado e não está simples contornar esse problema. Porém, a economia está dando bons sinais de recuperação, como o Índice Ibovespa, atingindo as máximas históricas, batendo recorde em novembro. O segundo ponto é que estamos vivendo o momento de virada de ciclo pecuário, fase de alta. Nos anos anteriores abatemos muitas fêmeas, com uma participação forte de novilhas, fêmeas que nunca reproduziram, esse bezerro não foi produzido e não está no mercado, e isso coloca uma pressão altista por menor disponibilidade de animais terminados. E o terceiro é a Peste Suína Africana na China. A demanda chinesa é bem volátil, porém o que aconteceu é que com essa alta forte que observamos durante novembro, principalmente, que elevou a arroba para R$ 230 em São Paulo, acabou fazendo com que o pecuarista antecipasse a engorda dos animais. Essa antecipação é comprovada não só pela observação de preço de mercado, mas pelo peso médio dos animais aba-

66 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020

SITUAÇÃO DA AUSTRÁLIA “Num curto prazo, aumenta mais a pressão de venda para a China, pois a Austrália também vende carne para o país. Porém, a Austrália tem alguns mercados de valor agregado que a gente não atinge, não atende, como Japão e Coreia do Sul. Então, no caso desses mercados, a gente não consegue competir. Aquece um pouco mais a pressão em cima dos mercados de menor valor agregado”, Lygia Pimentel, analista de mercado, sobre a repercussão para o Brasil do fogo que atingiu a Austrália e comprometeu também o rebanho bovino. Uma das principais economias do local, o país foi terceiro maior exportador de carne bovina do mundo em 2017.

tidos no último trimestre de 2019, ou seja, animais mais leves. Eles seriam mais pesados se tivessem sido abatidos na época habitual, bem terminados sem pressa nenhuma. Isso mostra que foram antecipados, numa tentativa do pecuarista tentar aproveitar os preços. Essa escolha culmina na falta de animais mais para frente, como em março e abril, o que traz uma pressão altista junto com a questão da China. Apesar de ser volátil, qualquer entrada chinesa causa um “tsunami” no preço e na saída também. A China reduziu a importação e o boi voltou para R$ 190. "Um boi que na metade do ano era negociado a R$ 150, agora está a R$ 190", esclarece Pimentel. Pressão altista, novos patamares, mercado bastante ajustado, estoques de carnes mundiais baixos, devem manter esses valores pressionados para cima. Quando consideramos concorrentes do Brasil, outras arrobas ao redor do mundo, o país é a terceira arroba mais barata, ficando atrás da Argentina e Paraguai. O pecuarista não vai ter alívio porque a reposição vai na mesma linha. Deve se manter cara, não vai ajudar muito a conta final, mas o preço deve se manter em alta. Há a oportunidade de negócios, se o produtor souber fazer a gestão, reduzir custos fixos, lotar a fazenda, ter uma produtividade adequada e gerir riscos de preço”, conclui.

Para o diretor executivo da Associação Gaúcha de Avicultura, José Eduardo do Santos, o ano de 2019, para avicultura gaúcha e brasileira, foi um ano de início de retomada de valorização dos produtos avícolas no mercado interno e externo. “No caso específico do RS, em 2018, caímos quase 200 mil toneladas nas exportações, mas em 2019, houve recuperação. Se continuarmos nesta linha de evolução da credibilidade do país no cenário mundial, evolução da estabilidade econômica e atendimento expressivo ao mercado externo, a tendência será de um ano que daremos mais um passo de desenvolvimento para avicultura gaúcha e brasileira, geração de divisas e empregos”, avalia.

BRASIL SE CONSOLIDARÁ COMO LIDERANÇA AGRÍCOLA EM 2020, PREVÊ MAPA ALGODÃO: crescimento de 47,8% nos próximos anos; exportação (sem as barreiras comerciais americanas) em mais de 68%; CAFÉ: crescimento de produção acima de 24%; venda para o comércio exterior crescerá em quase 46%; SOJA: crescimento de 36%; exportação em 39%; LEITE: crescimento de 50,5% (300 milhões de litros) MILHO: crescimento de 56,5% (14,3 milhões de toneladas) na comercialização; CARNE: crescimento de 24,6 milhões de toneladas de carne para 31,2 milhões de toneladas na produção da temporada de 2020/21 (aumento de 36,5%). Fonte: Mapa (projeção 2020)


POLÍTICA POSITIVA, MAS COM MODERAÇÃO Rio Grande do Sul e Santa Catarina, ambos com notório desenvolvimento agropecuário devem superar alguns percalços para dar continuidade a um crescimento equilibrado. Dois parlamentares com trajetória reconhecida no agronegócio fazem um resumo sobre a perspectiva do ponto de vista político.

SANTA CATARINA

O deputado estadual, Altair Silva explica que, embora 2019 tenha sido um ano exigente, a projeção é de que 2020 seja de avanço nos objetivos determinados. “Temos desafios claros e algumas metas já impostas para os próximos anos, como a manutenção do nosso status sanitário, o gargalo do milho e a permanência do jovem no campo”, enfatiza.

RIO GRANDE DO SUL SOJA Para a safra de soja 2019/20, a área plantada deve ter um aumento de 2% em relação à safra passada, com 686.512 hectares de área cultivada, com destaque para a produção no Planalto Norte, em cidades como Canoinhas, São Bento do Sul e Rio do Sul. Um fator interessante é o avanço no cultivo da soja também no Sul do Estado, sobre áreas antes ocupadas com feijão, milho e arroz.

MILHO O preço do milho em Santa Catarina, desde maio de 2019, se elevou em 25%, encarecendo ainda mais para quem compra. E nos últimos dois anos, os preços pagos ao produtor tiveram um aumento superior a 24% em SC, o que representaria um incentivo para o aumento da área plantada, mas que fica inviabilizado pela disposição. “No Estado não é produzido milho suficiente, precisando buscar mais da metade fora, o que fica inviável para o produtor. Para resolver esse impasse é necessário que a Rota do Milho, bandeira trabalhada por nós desde 2017 e ao longo de 2019, seja colocada em prática com urgência para baratear os custos logísticos”, pontua. Falando sobre 2020 a demanda interna por milho deverá se elevar em função das maiores exportações de carnes pelo Brasil, em especial para a China e também, devido à estiagem em alguns estados, o que causou atraso no plantio de soja, podendo repercutir na segunda safra de milho, do próximo ano.

No Rio Grande do Sul, o deputado estadual Ernani Polo, afirma que o Estado tem um crescimento agropecuário que corresponde ao cenário global, mesmo com alguns setores mais críticos. “Duas cadeias vão receber uma atenção especial, que é o arroz e o leite. Há anos esses segmentos sentem dificuldades e ,mesmo assim, temos uma produção de qualidade. Então, temos que entender onde está o problema”, salienta.

NOVO STATUS SANITÁRIO Para 2020, a conquista mais representativa do Estado é a mudança de status sanitário de zona livre de febre aftosa com vacinação para livre sem vacinação. “Com a finalização do processo, de retirada da vacina, em 2021, o Rio Grande do Sul pode receber o certificado de zona livre sem vacinação”, esclareceu Polo. Esse trâmite, que começou em 2019, deve incrementar as receitas”, comenta.

FALTA DE CHUVA, QUEBRA DE PRODUÇÃO Outro questão que vai influenciar é a estiagem durante o mês de janeiro, que vai comprometer o volume da safra e o rendimento. “Milho, soja, arroz, tabaco, todas as culturas estão sofrendo porque as chuvas estão desparelhas em todo o Estado. Praticamente em todas as partes têm perdas e ainda fica difícil de estimar o percentual em âmbito estadual porque a realidade é desuniforme, mas podemos afirmar que teremos um percentual de quebra da produção”, explicou.

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ANÁLISE DE MERCADO

AGROINDÚSTRIA

O ANO DE 2019 NÃO FOI PERDIDO, APESAR DO SETOR EXTERNO

A

pesar das dificuldades ao longo do ano, a economia brasileira já acumulou um crescimento de 1,0% até o terceiro trimestre de 2019. Contudo, a expansão do PIB poderia ter sido mais vigorosa caso o setor externo tivesse performado melhor. As exportações de bens e serviços registraram uma retração de 2,0%, no mesmo período. As vendas

externas brasileiras foram prejudicadas, sobretudo, pelos atritos comerciais entre Estados Unidos e China, que desaqueceu o fluxo comercial mundial, bem como pelas turbulências econômicas na Argentina. Assim como as exportações “tiraram” parte do crescimento da economia brasileira em 2019, para a agroindústria, a situação não foi diferente. De acordo com o Índice de

Produção Agroindustrial (PIMAgro), divulgado mensalmente pelo FGV Agro, o setor agroindustrial brasileiro acumulou, até outubro/2019, uma expansão de 0,4%. Embora, finalmente, desde a Greve dos Caminhoneiros em 2018, o setor tenha conseguido consolidar sua recuperação, esse crescimento não tem sido mais expressivo devido ao desempenho do setor externo.

A IMPORTÂNCIA DO SETOR EXTERNO PARA A AGROINDÚSTRIA

FELIPPE SERIGATI Doutor em Economia pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV), professor e pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro). felippe.serigati@fgv.br

ROBERTA POSSAMAI Mestre em Economia Agrícola pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV) e pesquisadora do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro). roberta.possamai@fgv.br

• Dentro do segmento de Produtos Não-Alimentícios, os principais setores da pauta exportadora são Papel e Celulose (responsável por 22,4% do total vendido externamente pela Agroindústria em 2019, até outubro) e Produtos Têxteis (5,4% do total exportado). Em relação ao setor de Papel e Celulose, enquanto a sua produção física registrou uma contração de 4,2% no acumulado até outubro/2019, suas exportações retraíram 3,9%. Já o setor de Produtos Têxteis, a queda de 0,6% na sua produção física foi acompanhada de uma queda de 10,1% em suas vendas externas, no período. • Dentro do segmento de Produtos Alimentícios e Bebidas, os setores mais representativos da pauta exportadora agroindustrial brasileira são Carne Suína e de Aves (responsável por 15,0% das vendas externas da Agroindústria em 2019, até outubro), Carne Bovina (13,3%), Refino de Açúcar (9,1%), Óleos e Gorduras – essencialmente, óleo e farelo de soja (12,1%) e Conservas e Sucos – basicamente, suco de laranja (4,6%). • Com exceção dos setores de Conservas e Sucos e Refino de Açúcar, os demais apresentaram a produção física variando no mesmo sentido das exportações. No caso do setor de Carne Suína e de Aves, ao mesmo tempo que as vendas externas registraram um crescimento de 11,6%, sua produção física se expandiu em 5,7%, no acumulado até outubro/2019. • No setor de Carne Bovina, a expansão das exportações, de 9,6% no período, foi acompanhada de um

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crescimento de 0,7% da sua produção física. No setor de Óleos e Gorduras, por sua vez, a retração de 2,2% na sua produção foi seguida de uma queda de 16,3% nas suas vendas externas. • Contudo, nos setores de Conservas e Sucos e Refino de Açúcar esse “sincronismo” de direção nas variações da produção e das exportações não se apresentou. No caso de Conservas e Sucos, enquanto a produção apresentou um crescimento de 28,5%, as exportações se retraíram em 11,6%. Essa divergência de sentido nas variações se deve, em parte, às diferenças do que é composto a produção e as exportações, isto é, enquanto o país exporta, dentro desse setor, basicamente suco de laranja, ele produz outros diversos produtos que não são exportados. Logo, a comparação entre produção e exportação desse setor não é direta. • Já o setor de Refino de Açúcar, no acumulado até outubro/2019, apresentou uma expansão de 2,2% de sua produção, enquanto suas vendas externas registraram uma queda de 22,1%. No entanto, até setembro/2019, o setor acumulava uma retração de produção de 2,0%, que foi revertida por conta do resultado bastante favorável em outubro/2019, de 37,6% na comparação com outubro do ano anterior. Ademais, é importante ressaltar que a queda das exportações do setor de Refino de Açúcar não foi por conta de problemas no setor externo, mas sim por causa da redução de oferta do produto brasileiro, motivada por questões climáticas.

FOTO: PIXABAY

Para diversos segmentos da agroindústria brasileira, apesar da dimensão do mercado interno, o setor exportador responde por fração relevante do seu desempenho. De forma mais desagregada:


EXPORTAÇÕES E PRODUÇÃO FÍSICA DOS PRINCIPAIS SETORES DA PAUTA EXPORTADORA DA AGROINDÚSTRIA BRASILEIRA (VARIAÇÃO ACUMULADA NO ANO, ATÉ OUTUBRO/2019) 28,5%

11,6% 5,7%

-3,9% -4,2%

9,6% 0,7%

2,2%

-0,6%

-2,2%

-10,1% -16,3%

-11,6%

-22,1%

Papel e Celulose

PRODUÇÃO

Produtos Têxteis

Carne Suína e de Aves

EXPORTAÇÃO

O ANO DE 2019 NÃO FOI RUIM, MAS 2020 ESTÁ COMEÇANDO BEM MELHOR

De forma sintética, os números anteriores deixam claro a importância do setor externo para o desempenho da agroindústria. De forma geral, os setores que expandiram sua produção foram aqueles que encontraram no setor externo uma fonte de demanda adicional para os seus bens. De forma análoga, aqueles setores que não tiveram um desempenho tão favorável foram, justamente, aqueles para os quais as exportações não trouxeram dinamismo. Diante desses números, alguns comentários adicionais são pertinentes:

Carne Bovina

Refino de Açúcar

Óleos e Gorduras

Conservas e Sucos

Fonte: Comex Stat e IBGE. Elaboração FGV Agro.

• A agroindústria brasileira está encerrando o ano de 2019 melhor do que começou lá em janeiro; • Esse desempenho teria sido ainda melhor se os ventos do setor externo tivessem sido mais favoráveis esse ano; • A pauta exportadora do agronegócio brasileiro não se resume às commodities primárias, tais quais soja em grão, café, milho e algodão (embora esses produtos tenham participação muito relevante). As manufaturas do universo agro brasileiro também acessam mercados externos.

Enfim, com a economia brasileira iniciando 2020 de forma mais aquecida, se o setor externo apresentar um cenário mais favorável, a agroindústria deve registrar uma expansão mais robusta, após dois anos de desempenho abaixo do esperado.

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OPINIÃO Por Eldemar Neitzke

A Eldemar Neitzke É formado em Administração, com Mestrado em Gestão Estratégica, MBA em Marketing Estratégico e pós-graduado em Gestão Empresarial, Diretor da N & N Gestão de Estratégias Comerciais

s recentes notícias do aumento de demandas internacionais das carnes de suínos, aves e bovinos, têm animado a cadeia do agronegócio. Afinal a lei da oferta e procura tem refletido diretamente nos valores pagos por estes alimentos. Os nossos produtores começam a enxergar uma luz no fim do túnel, isto é, a balança começa a voltar ao equilíbrio, pois nos últimos anos as margens dos negócios eram muito pequenas e ou até negativas, inviabilizando as atividades. Esses bons ventos se devem, em grande parte, aos problemas sanitários ocorridos na China e também pela recomposição do nosso PIB, que mesmo a passos lentos, vem crescendo e evitando maiores perdas econômicas como ocorreu nos anos de 2015 e 2016. As agroindústrias já iniciaram o aumento dos alojamentos de aves e suínos, e na cadeia de bovinos temos uma grande procura de animais em todas as fases de criação. Esse cenário tende a refletir no aumento dos custos de produção e no desafio sanitário, por isso temos que estar atentos as regras básicas dos negócios para evitar surpresas desnecessárias.

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A pergunta é simples: o que é possível fazer para evitar a exemplo do ocorrido na China, em questões de sanidade, e manter o negócio rentável e sustentável? A resposta também é simples e fácil de ser realizada. O fundamental é realizar todos os manejos e vacinações recomendados para cada atividade. Correto! Mas como isso deve ser efetuado na prática? Um aspecto fundamental dessa cadeia é a mão de obra, que necessita estar sempre treinada e motivada na realização das melhores práticas de manejo e sanidade. Infelizmente, o Brasil possui um grande contingente de desempregados, e temos uma demanda enorme de profissionais que não possuem conhecimento necessário e em muitas vezes atitudes para fazerem a diferença nas suas funções. Os empreendedores rurais que seguem as regras de gestão e desenvolvimento de suas equipes conseguem atingir os melhores resultados, seguindo o modelo utilizado em muitas empresas à exemplo do professor Vicente Falconi: definir processos, padronização de atividades críticas, treinamento contínuo, programas de melhorias contínuas, definição de indicadores e remuneração por desempenho.

Essas atividades nos permitem realizar a gerência da rotina básica, a qual poderá pelo crescimento de equipes multidisciplinares evoluir para a gerência da rotina avançada, com atingimento de resultados surpreendentes a todos, onde a equipe sabe o que tem que atingir e é motivada para fazer o seu melhor. A atenção deve estar na realização de manejos básicos, como seguir corretamente os programas sanitários, vacinações nas datas corretas, vacinas acondicionadas nas temperaturas adequadas, seringas limpas e higienizadas, minimização de estresse dos animais para evitar queda da imunidade. Afinal, sem a vacinação e o seguro das atividades, estamos à mercê do risco. Nossos negócios não podem ser gerenciados sem proteção, pois um problema sanitário pode acabar com nossas atividades, gerando prejuízo e quebra da empresa. As mudanças que estão ocorrendo no mundo em todas atividades, exigindo maior competitividade pelo surgimento de novas tecnologias, um mundo conectado e globalizado, exige ações e atitudes inovadoras para quem quiser se manter em qualquer atividade, garantindo sua perpetuidade e lucratividade.

FOTO: SHUTTERSTOCK

O IMPACTO DO MERCADO INTERNACIONAL NA PRODUÇÃO DE CARNES BRASILEIRAS


SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020 71


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ÚNICO MESTRADO PROFISSIONAL DO SETOR NO BRASIL.

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PRINCIPAIS TENDÊNCIAS EM SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS E DE INFRAESTRUTURA.

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VISÃO ESTRATÉGICA SOBRE POLÍTICAS AGRÍCOLAS E SUSTENTABILIDADE.

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PREPARAÇÃO PARA CARGOS DE GESTÃO E LIDERANÇA. 72 SETOR AGRO&NEGÓCIOS | JANEIRO 2020

Inscrições abertas a partir de julho. Saiba mais em w w w . e e s p . f g v. b r/


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