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Novos sentidos para a dança

Tese propõe metodologias sensoriais e inclusivas

Muitos sentidos são utilizados na produção de uma obra artística. Na dança, por exemplo, a visão, a audição e o tato auxiliam na composição e montagem de uma performance. Então, como pensar o desenvolvimento da dança de maneira inclusiva? Essa é a pergunta que norteia a tese Dança Sensorial: metodologias de ensino e aprendizagem e sua aplicação em um processo de criação em dança para pessoa com deficiência visual, de Marina Alves Mota. Ao longo de seu trabalho, Marina propõe a criação de metodologias sensoriais para o ensino e a aprendizagem da dança com dançarinos que possuem deficiência visual e, a partir desse processo, apresenta os resultados dessa experimentação no espetáculo Corpus Sensorialis.

No Brasil, pessoas com alguma deficiência visual representam 18,6% da população. Uma porcentagem alta de pessoas que não são consideradas durante produções artísticas como a dança. A tese apresentada no Programa de Pós-Graduação em Artes (PPGArtes/ICA), com orientação do professor Cesário Augusto Pimentel de Alencar, pensa as pessoas com deficiência para além das barreiras impostas culturalmente aos seus corpos, além de valorizar suas vivências na pauta da produção artística.

“Sempre tive um olhar sensível às questões sociais, e a primeira vez que tive contato com pessoas com deficiência visual foi na Unidade Educacional Especializada José Álvares de Azevedo, em que percebi que esses corpos poderiam usufruir da dança, não só com fins terapêuticos, mas também como artistas, intérpretes e criadores.

Percebi nesses corpos um potencial criativo. Eles são capazes de propor estéticas dançantes possíveis, baseadas nas suas experiências”, afirma Marina Alves Mota.

Pesquisadora utilizou metodologias sensoriais para que pessoas com deficiência visual possam atuar no palco

A tese foi desenvolvida na linha de pesquisa Poéticas e Processos de Atuação em Artes, que contempla estudos práticos e teóricos. Iniciando com a parte prática, foi-se pensando a utilização do tato e da audição para que os dançarinos estivessem em cena com autonomia.

A parte teórica foi construída com a análise das experimentações desenvolvidas durante o espetáculo e um estudo de caso com entrevistas semiestruturadas, depoimentos gravados e registros visuais fotográficos.

Laboratórios exploram tato, cinestesia e audição

O espetáculo Corpus Sensorialis foi desenvolvido em dois laboratórios de experimentação. O primeiro, sobre a Dança Háptica, explorou o tato e o processo de aprendizagem da dança pelos indivíduos que não veem. Esse laboratório apresentou três metodologias que se complementam: em “Corpo Trajeto”, aplicaram-se orientações táteis no chão. As texturas mapearam o espaço da performance, adequando-o aos bailarinos: ele apresenta cegueira e ela tem baixa visão. “Corpo Contíguo” pensa a relação dos corpos no momento da dança: próximos, mas não se tocam.

A bailarina utiliza o resíduo visual e o bailarino percebe o calor e a vibração do corpo da parceira. A terceira metodologia é “Corpo Escala”: um boneco articulado de madeira, com 30 centímetros, foi usado para exemplificar os movimentos da coreografia. Com as três metodologias, pôde-se desenvolver a performance de dança de maneira inclusiva e em tempo hábil.

O segundo laboratório, Corpo Sonoro, foi pensado para a audição dos dançarinos. A metodologia utilizou o som para que os dançarinos pudessem se locomover pelo palco, de maneira autônoma.

O resultado foi uma orientação segura, já que, aos dançarinos, passaram a ordenar a localização do som, dos espaços de silêncio e dos espaços de abafamento, que indicavam a presença de obstáculos.

“Os laboratórios oportunizaram pensar e propor a dança para além da visualidade, com a exploração do tato, da cinestesia e da audição. Emergiram dessas experiências algumas metodologias sensoriais para o ‘fazer dança’ com pessoas com deficiência visual, todas pautadas nas experiências corporais dos sujeitos dançarinos desta pesquisa”, revela Marina Alves Mota. Para os bailarinos participantes, é importante pensar a deficiência não como limitadora, mas como espaços de criação diferenciados.

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