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Revista

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DO

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ISSN 1809-466X

R$ 12,00

Editora Círios

Ano 8 Número 39 2013 R$ 12,00 5,00

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ESPECIAL

CAÇÃO LI

Ano 8 Nº 39 Julho/Agosto 2013

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As queimadas destroem com facilidade tudo por onde passam: árvores, animais e as torres de transmissão. Assim, hospitais, escolas, fábricas e residências acabam sofrendo com a falta de energia. APAGUE ESSA PRÁTICA.

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REVISTA AMAZテ年IA 3


Revista

Editora Círios

Usando uma técnica inovadora de satélite, cientistas chefiados por Doug Morton, do Centro Espacial Goddard, em Mayland (EUA), da NASA, descobriram que ocorrem queimadas nos arbustos e nas plantas que crescem abaixo das copas das árvores...

A solenidade de abertura da 65ª Reunião Anual da Sociedade para o Progresso da Ciência (SBPC), no Centro de Convenção da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), iniciou-se com uma apresentação de frevo por um renomado grupo de dança local, e, após a cerimônia, houve a apresentação de uma orquestra de música regional...

a Jornada Mundial da Juventude 2013 O Sumo Pontífice, bem disposto desceu as escadas do avião sorridente

acenou para o público efoi recepcionado pela presidente Dilma Rousseff, pelo governador Sérgio Cabral, pelo prefeito Eduardo Paes, várias autoridades e pelo arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta...

48 Enfim, o linhão

Tucuruí-Macapá-Manaus Após quatro anos de obras, entrou em operação a linha de transmissão linha de Transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus permitindo a integração dos estados do Amazonas, Amapá e do oeste do Pará ao Sistema Interligado Nacional (SIN), encerrando o isolamento energético das duas capitais...

58 O futuro das cidades

Como é a cidade do futuro? Quais os desafios das cidades? Como formular um futuro urbano mais positivo? São algumas das questões que foram discutidas durante o New Cities Summit (ou Cúpula das Novas Cidades), evento que ocorreu na capital paulista. O seminário foi dedicado à construção de cidades globais mais sustentáveis, criativas, justas e dinâmicas...

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DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn

CIC

FOTOGRAFIAS Antoninho Perri, Arquivo Ibama, Ascom – Unicamp, Daniel Castro/PNUD Brasil, Daniel Jordano, Divulgação, Divulgação/Ascom MPOG, Divulgação Ibama, Doug Morton, Eduardo Magalhães, Eric Pfeiffer , Fernanda Farias, Fábio Arantes/Secom, Fernando Frazão/ABr, Greenpeace, Isolux Corsán, Josiane Santos, Juliana Gueiros, Leonardo Tomas,Marcelino Guedes, Marcelo Camargo/ABr, Marcelo Garcia, Márcio Castro, NASA’s Earth Observatory, Nelson Feitosa, Pasieka / SPL, Tânia Rêgo/ABr, Tomaz Silva/ABr, UC Irvine / Yang Chen, Wilsom Dias/ABr EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA DESKTOP Mequias Pinheiro NOSSA CAPA Bombeiros lutando contra o fogo Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Mais conteúdo verde

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DO

[10] Risco de Incêndio na Floresta Amazônica [12] NASA divulga imagens de queimadas no mundo [14] Grupo revela que queimadas lançam 12 t de mercúrio por ano na atmosfera [18] Queimadas na Amazônia aumentam frequência de chuvas ácidas na região [29] FAO premia o Brasil e mais 37 países por reduzir a fome pela metade [36] O futuro construído pelas marcas [39] TGoverno lança estudo sobre recursos hídricos fronteiriços [40] Fundo Amazônia começa a distribuir recursos para projetos de uso sustentável das florestas [42] Bolsa de Valores Socioambientais capta recursos para projetos de ONGs [44] 7º Encontro de Jornalistas da Amazônia [52] Fórum Mundial de Meio Ambiente, defende conscientização ambiental [56] IBEF certifica e premia cases em Sustentabilidade [62] Prêmio Vale-Capes de Ciência e Sustentabilidade [64] Sustentabilidade Proteger os oceanos é questão crítica para a sobrevivência humana [66] Calor liberado por oceanos pode agravar efeito estufa [70] Uma em cada dez pessoas vão viver em zonas quentes até 2100 [81] Preservando a Amazônia

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O agro brasileiro é extremamente complexo e diversificado. Dos 850 milhões de hectares do nosso território, a agricultura ocupa cerca de 80 milhões de ha e as pastagens 180 milhões de ha. A maior parte do território brasileiro é ocupado por florestas/áreas de conservação...

I LE ESTA REV

ARTICULISTAS/COLABORADORES Camillo Martins Vianna, Daniel Barbosa, Daniel Scheschkewitz, Dulcivânia Freitas, Fernando Badô, Janara Nicoletti, José Otavio Menten, Juan Carlos Tejedor, Ricardo Garcia, Rúbia Piancastelli, Silvio Anunciação, Wallace Abreu

78 Profissionais do Agro brasileiro

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FAVOR POR

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30 O papa Francisco e

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científico do país

XPEDIENTE

PUBLICAÇÃO Período (julho/agosto) Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil

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24 65ª SBPC, o maior evento

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determinam risco de incêndio na Amazônia

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06 Condições climáticas

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Cadastro Ambiental Rural

O Governo do Estado quer saber mais para fazer mais por você. O Pará tem agora o seu Cadastro Ambiental Rural, o CAR, um sistema de identificação de propriedades rurais que reúne todos os dados do imóvel rural: tamanho, áreas de e Mais d de s preservação permanente, e õ 30 milh dastrados a localização geográfica, c s hectare odo o Pará. qualificação do proprieem t seu Faça o iental Rural tário e outros. ro Amb ite as t s a Com essas informações, d a C e e aprov de ser um o Governo do Pará pode ens vantag r legalizado. fazer muito por quem o produt produz produz. Pode regularizar as Unidades de Produção Familiar (UPF), dar o licenciamento ambiental, levar crédito, melhorar a produtividade, fazer a regularização fundiária e possibilitar o acesso a novos mercados. Em todo o Pará, já são mais de 30 milhões de hectares cadastrados e até o final deste ano o cadastro chegará a 30 mil propriedades rurais. O CAR também contribui diretamente com a redução do desmatamento e para a utilização ordenada dos recursos naturais. Faça o seu CAR, aproveite as muitas RURAL: vantagens que o Governo do Estado tem para você e entre para um dos setores mais rentáveis da economia mundial: a economia verde.

TAL ASTRO AMBIEN D A C U E S A Ç A F r

GRIFFO

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Condições climáticas determinam risco de incêndio na Amazônia Pequenos incêndios destruíram 2,8% da Amazônia em 11 anos, diz Nasa Incêndios na vegetação rasteira - e que ficam “escondidos” dos satélites pela copas das árvores queimaram mais de 85 mil km2 da Amazônia entre 1999 e 2010, mostra estudo de Doug Morton, cientista da Nasa

Fotos: Arquivo Ibama, Doug Morton, Greenpeace, Leonardo Tomas, Márcio Castro, NASA’s Earth Observatory, Nelson Feitosa, UC Irvine

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sando uma técnica inovadora de satélite, cientistas chefiados por Doug Morton, do Centro Espacial Goddard, em Mayland (EUA), da NASA, descobriram que ocorrem queimadas nos arbustos e nas plantas que crescem abaixo das copas das árvores. E que elas não

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Doug Morton, do Centro Espacial Goddard, em Mayland (EUA), da NASA

estão ligadas ao desmatamento, determinando que um tipo anteriormente não mapeada de incêndios na floresta amazônica é responsável por destruir várias vezes mais floresta do que foi perdido através do desmatamento nos últimos anos. O estudo aponta a mudança climática como principal causador desse tipo de “incêndio silencioso e lento”. Com pouca umidade à noite, a floresta tropical “acostumada” com água fica suscetível à pegar fogo a partir de acampamentos, pessoas cozinhando, cigarros, carros, queima de dejetos agrícolas e uma variedade de ações humanas, dizem os pesquisadores. revistaamazonia.com.br


Incêndios na Amazônia nunca registrados por satélites foram responsáveis por destruir uma grande área da floresta tropical durante uma década, segundo a Nasa

O estudo vai mais longe e cita as condições climáticas não desmatamento - como o fator mais importante na determinação do risco de incêndio na Amazônia em uma escala regional.

Vista aérea de área de desmatamento em Tomé Açú, Pará

Descobrindo a história dos incêndios silenciosos Incêndios em áreas de cerrado da Amazônia podem queimar rapidamente, espalhando-se até 330 pés (100 metros) por minuto. Gramíneas e arbustos nestes ecossistemas tipicos, sobrevivem a incêndios de superfície de baixa intensidade. Em contraste, os fogos silenciosos na fronteira, parecem: “banal quando você vê-los queimando”, disse Morton.

“As florestas da Amazônia são muito vulneráveis ao fogo, dada a freqüência de ignições para desmatamento e manejo da terra na fronteira da floresta, mas nunca sabem a extensão regional ou frequência destes incêndios “silenciosos e lento”, disse Doug Morton, principal autor do estudo. Nos últimos anos, com a maior atividade desse fogo, como 2005, 2007 e 2010, a área de floresta afetada pelo fogo silencioso, foi várias vezes maior que a área de desmatamento para expansão da agricultura, de acordo com Morton. revistaamazonia.com.br

Floresta derrubada em Anapu, com madeira ilegal empilhada perto de Anapu, a 600 quilômetros de Belém, no Pará REVISTA AMAZÔNIA 07


Imagem de desmate na operação Onda Verde em Novo Progresso, no Pará

Chamas atingem, em média, apenas alguns metros de altura, visível a partir do ar, como fitas de fumaça que a fuga através do dossel. Eles podem queimar por semanas em um momento, espalhando-se apenas a alguns pés (0,5 metros) por minuto. Incêndios silenciosos, no entanto, podem danificar grandes áreas porque as árvores da Amazônia não estão adaptados ao fogo. A longa, queima devagar, dá lugar a uma morte insidiosa, em qualquer lugar, de 10 a 50 por cento das árvores da área queimada. A recuperação também é um longo e lento, mas observável, processo. Para identificar incêndios silenciosos, Morton e seus colegas usaram observações desde o início da estação seca,

de junho a agosto, coletados pelo Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer, ou MODIS, instrumento no satélite Terra, da NASA. Eles seguiram o sincronismo de dano de fogo e de recuperação, o qual varia dependendo do tipo de perturbação da floresta. Áreas de desmatamento, por exemplo, aparecem em imagens de satélite como a terra que continua a falta sinais de recuperação por pelo menos dois anos consecutivos. Por outro lado, os sinais de degradação da floresta contra os incêndios silenciosos, visível no ano após a queimadura, se dissipam rapidamente com o crescimento florestail. Este padrão de danos e recuperação ao longo de vá-

rios anos fornece uma impressão digital única de danos causados pelo fogo silenciosos em florestas amazônicas. O estudo mostra que, entre 1999 e 2010, os incêndios florestais silenciosos queimaram mais de 33.000 milhas quadradas (85.500 km quadrados), ou 2,8 por cento da floresta. Os resultados também mostram nenhuma correlação entre queimadas e desmatamento silenciosos. Como a pressão para compensação levou às maiores taxas de desmatamento de 2003 a 2004, as florestas adjacentes tiveram algumas das taxas mais baixas de incêndios. “Você poderia pensar que a atividade de desmatamento aumentaria significativamente o risco de incêndios na

Floresta derrubada e desmatada em Mato Grosso

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Incêndio em floresta na região de Apiau

Queimadas nos arbustos e nas plantas que crescem abaixo das copas das árvores…

área florestal adjacente porque queimadas de desmatamento são enormes, imponentes infernos”, disse Morton. “Você faz uma fogueira que é um quilômetro quadrado de tamanho, lançando cinzas e cinzas ao vivo e pré-aquecimento da floresta adjacente. Porque não temos incêndios silenciosos em 2003 e 2004, quando as taxas de desmatamento foram tão alta?” Os pesquisadores apontam o clima como o motivo que o fogo-dirigido não queimaram A partir do mais florestas circundantes nestes anos. Freconhecimento destas queimadas é qüente atividade de fogo silencioso, coincipossível recalcular as de com a baixa umidade noturna, medida estimativas de emissão de carbono da floresta pelo Infrared Atmospheric Sounder, ou AIRS, instrumento a bordo do satélite do Aqua da NASA. Os cientistas dizem que os pontos de conexão são um forte controle do clima sobre incêndios na Amazônia. “Você pode olhar dentro de uma reserva indígena onde não há desmatamento e ver enormes incêndios silenciosos”, disse Morton. “A presença humana na fronteira de desmatamento leva a um risco de incêndios florestais, quando as condições climáticas são adequadas para a queima, com ou sem atividade de desmatamento.” Ignição poderia vir de cozinhar, camping, cigarros, carros, queima de resíduos agrícolas, ou qualquer número de fontes humanas. O novo conhecimento sobre o alcance dos incêndios silenciosos pode ter implicações para as estimativas de emissões de carbono de florestas perturbadas. Como especialistas responsáveis por essas emissões depende o destino da floresta - como ele é perturbado e como ela se recupera. “Nós ainda não temos uma estimativa sólida do que as emissões líquidas de carbono são de incêndios silenciosos, mas os danos generalizados sugerem que eles são uma importante fonte de emissões que devemos considerar”, disse Morton.

Vista aérea de área de preservação permanente com enorme parte desmatada em Nova Ubiratã, região médio-norte de Mato Grosso

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Risco de Incêndio na Floresta Amazônica Fotos/Ilustrações: Doug Morton, NASA / Earth Observatory, UC Irvine / Yang Chen

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esquisadores da NASA prevêem que a severidade da época de incêndios de 2013 será consideravelmente maior do que em 2011 e 2012, para muitas florestas da Amazônia no hemisfério sul. A perspectiva é baseada em um modelo de severidade do fogo, que produziu a primeira previsão de sucesso em 2012. Nas ilustração acima, mostradores indicam regiões do sul da floresta amazônica previsto para ter atividade fogo abaixo da média (verde) e atividade acima da média (laranja e vermelho) durante a estação seca de 2013, em relação à média 2001-2012. O modelo, produzido por um grupo liderado por Jim Randerson da Universidade da Califórnia, em Irvine, considera os dados históricos de incêndios satélite Terra, da NASA, juntamente com os dados de temperatura da superfície do mar do NOAA. Pesquisas anteriores já haviam mostrado que as temperaturas da superfície do mar no Pacífico tropical e oceanos Atlântico pode ser usado para prever o pendente Amazon fogo temporada gravidade três a seis meses antes do início da estação seca. Em março de 2013, as águas superficiais do Oceano Atlântico tropical norte permaneceram mais quente do que a média, enquanto que as temperaturas do Oceano Pacífico cairam de um pico no final do outono. Estas condições são consistentes com o aumento do risco de Superfície com restos carbonizados na sequência de um incêndio em Roraima

Melhorias para o modelo é possível através da incorporação de dados do instrumento MODIS no satélite Terra, da NASA, responsável por incêndios que ocorrem no período da tarde, quando as condições são mais quente e seco

Um satélite da NASA capturou esta imagem de incêndios ativos ao longo do rio Madeira, no Brasil, em 2010, um ano que teve atividade anormalmente elevado de incêndio. Incêndios são mostrados em vermelho e nuvens de fumaça cinza são visíveis

incêndio em toda a porção sul da Amazônia no final deste verão e início do outono. Principais estados de incêndio do Brasil, Mato Grosso e Pará, responsáveis pela maioria de toda a atividade queima na região amazônica. Para a temporada de 2013, o modelo mostra que a atividade de fogo nestes dois estados é projetada para ser acima da média em comparação com 2001-2012. Outras regiões importantes queiman10 REVISTA AMAZÔNIA

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Abaixo da média (verde) e atividade acima da média (laranja e vermelho) durante a estação seca de 2013, em relação à média 2001-2012

Previsão de Incêndio na Floresta Amazônica. As linhas sólidas pretas são as observações dos anos anteriores, e as linhas horizontais tracejadas pretas representam o ano de todos os valores médios observados. As linhas laranja são FSS derivado do modelo empírico. Os tons de laranja indicam a gama de FSS previstos em 2013 para cada região. Os números entre parêntesis representam o coeficiente de determinação (r2). Informações sobre as temperaturas da superfície do mar a abril de 2013, foram avaliados para essas previsões. FSS é a soma das contagens de incêndio ativos (FC) durante a época de incêndios. Incêndios ativos são as anomalias de radiação térmica criadas pelos incêndios que são detectados por satélites.

do no sul da Amazônia, como os estados de Rondônia e Acre, e os departamentos bolivianos de Santa Cruz e Pando, também são projetados para ter atividade média ou acima da média incêndio em 2013. A confluência de clima e as pessoas nessas áreas aumenta o risco de atividade incêndio generalizado quando a temporada gravidade incêndio é elevado”, disse Doug Morton do Goddard Space Flight Center da NASA em Greenbelt, Maryland, que trabalha com Randerson e colegas sobre a previsão . Em 2012, as condições climáticas foram menos favoráveis para a gravação. Temperaturas da superfície do mar no Pacífico Central e Atlântico Norte eram mais frias do que o normal, o que levou ao aumento das chuvas em todo o sul da Amazônia nos meses que antecederam a época de incêndios. O inverso ocorreu em 1997 e 1998, quando as águas superficiais quentes no Oceano Pacífico provocada por El Niño empurrado chuvas sistemas norte, deixando partes do sul e leste da Amazônia, floresta seca e propensa a incêndios. “O El Niño 1997-1998 foi um dos mais importantes anos de fogo, e colocou fogo no mapa de todos para os potenciais impactos de desmatamento e degradação da floresta tropical das atividades humanas”, disse Morton. A temporada também estimulou Randerson e colegas para prosseguir a investigação sobre o impacto global das emissões de fogo. Motivado por subseqüentes anos de alta-fogo em 2005, 2007 e 2010, a equipe próxima desenvolveu o modelo de gravidade época de incêndios. Com o apoio da Fundação Gordon e Betty Moore, Randerson, Morton e seus colegas pretendem continuar a fazer as previsões para os próximos cinco anos. Em fevereiro e março deste ano, Morton se reuniu com os ministros do Brasil e do Peru para discutir o desempenho do modelo 2012 e 2013, as previsões preliminares de fogo, e para examinar os usos potenciais da informação de previsão pelos gestores florestais da área. “Desde 2005, a Amazônia sofre alternando anos secos e molhados, com anos de alto fogo seguido por condições de inundação”, disse Morton. “Com este sistema de previsão que estamos esperando para construir algum aviso antecipado sobre se a Amazônia está enfrentando um ano de fogo ou um ano de inundações”, disse Morton.

Um novo modelo utiliza as temperaturas da superfície do mar para prever com sucesso a atividade de fogo nos meses de antecedência da Amazônia. O diagrama acima mostra as previsões do modelo e uma representação do lado real observações a lado. As altas temporadas de incêndios de 2005, 2007 e 2010 são apresentados à direita do diagrama. As baixas temporadas de incêndios de 2001, 2008 e 2009 são mostrados à esquerda

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Imagem da Floresta Amazônica tirada pelo Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) a bordo de vôo por instrumentos via satélite Aqua da NASA em 19 de agosto de 2009

NASA divulga imagens de queimadas no mundo

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agência espacial americana (NASA) lançou recentemente, uma série de novas visualizações de dados por satélites que mostram dezenas de milhões de focos de fogos detectados em todo o mundo a partir do espaço desde 2002. As visualizações mostram as observações de fogo feito pelo Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer, ou MODIS, Terra, a bordo da NASA e dos satélites Aqua. A NASA mantém um programa de pesquisa abrangente utilizando os recursos satélites, aeronaves e terreno para observar e analisar incêndios em todo o mundo. A pesquisa ajuda os cientistas a entender como o fogo afeta o nosso meio ambiente em escalas local, regional e global. “O que você vê aqui é uma representação muito boa dos dados de satélite que os cientistas usam para entender a distribuição global de incêndios e para determinar onde e como a distribuição de incêndio está respondendo às mudanças climáticas e o crescimento da população”, disse Chris Justiça da Universidade de Maryland, College Park, um cientista que lidera os esforços da NASA para uso de dados MODIS para o estudo de incêndios do 12 REVISTA AMAZÔNIA

Imagem da Floresta Amazônica tirada pelo Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) em 01 de julho de 2002

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Fogos de savana na África Central impulsionado principalmente pelas atividades agrícolas, mas também impulsionado por queda de raios

mundo, detectados entre julho de 2002 e julho de 2011. Os dados fogo é combinado com imagens de satélite da vegetação e cobertura de neve para mostrar como os incêndios se relacionam com as mudanças sazonais. Os satélites Terra e Aqua foram lançados em 1999 e 2002, respectivamente. Os dados globais mostram que o fogo África tem queima mais abundante do que qualquer outro continente. MODIS observações têm mostrado que 70 por cento de fogos do mundo ocorrem na África. Durante a temporada de julho à setembro de 2006, as visualizações mostram um surto enorme de fogos de savana na África Central impulsionado principalmente pelas atividades agrícolas, mas também impulsionado por queda de raios. Os incêndios são relativamente raros na América do Norte, tornando-se a apenas 2 por cento de área ardida do mundo a cada ano. A NASA mantém vários instrumentos de satélite capaz de detectar incêndios e suporta uma ampla gama de fogo relacionadas pesquisa. O Programa de Ciências Aplicada da NASA, procura benefícios inovadoras e práticas que resultam do estudo de incêndios. Os dados MODIS são processados pelo Sistema de Processamento Avançados em Goddard. A validação algoritmo e produto é feito por cientistas da Universidade de Maryland. As visualizações foram criados no Studio Goddard Visualização Científica. Os dados de vegetação, fogo e neve vêm de todos os instrumentos na MODIS Terra e Aqua.

Incêndios queimam ao longo da orla sudeste da Floresta Amazônica nesta imagem, tirada pelo MODIS, no satélite Aqua da NASA em 17 de agosto de 2010. Véus de fumaça na densa floresta verde escuro à cinza

Queimada amazônica vista do espaço

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Esta fotografia ilustra o desmatamento da floresta ao longo do rio Xingu (rio Xingu) no estado de Mato Grasso, Brasil. A foto foi tirada da Estação Espacial Internacional, uma plataforma de onde os astronautas podem capturar imagens da Terra a partir de uma variedade de ângulos de visão. A perspectiva acima mostra tanto a posição horizontal e a extensão das linhas de fogo ao lado do rio, ao mesmo tempo, proporcionando uma sensação de a estrutura vertical das nuvens de fumaça. Luz áreas coloridas dentro do canal do rio são as barras de areia, que mostram que o rio está em seu estágio anual. Para uma noção de escala, o canal do rio é de aproximadamente 63 km (39 milhas) de comprimento nesta vista. Rios são as estradas naturais na Amazônia, o que pode explicar por que a queima está ocorrendo mesmo ao lado do rio Xingu, um dos maiores da Amazônia. Fotografia tirada em 17 de setembro de 2011, com uma câmera digital Nikon D2Xs usando uma lente de 200 mm, fornecido pela tripulação do Terra ISS Observações e Image Science & Analysis Laboratory, Johnson Space Center. REVISTA AMAZÔNIA 13


Grupo revela que queimadas lançam 12 t de mercúrio por ano na atmosfera por Silvio Anunciação* Fotos: Antoninho Perri – Ascom – Unicamp e Divulgação

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desmatamento provocado por queimadas na região amazônica brasileira pode gerar um agravante ainda desconhecido. A ameaça acaba de ser esclarecida por uma pesquisa inédita da Unicamp. O estudo revelou que, além da destruição do bioma, as queimadas na região provocam elevadas emissões de mercúrio na atmosfera, elemento altamente tóxico aos seres vivos.

A investigação demonstrou que são liberados, anualmente, 12 toneladas de mercúrio com a queima da vegetação e do solo superficial da floresta. O cálculo considerou a taxa anual de desmatamento da região, estimada em 1,7 milhão de hectares no período entre 2000 e 2010. O trabalho foi coordenado pela oceanógrafa Anne Hélène Fostier, docente do Instituto de Química (IQ) da Unicamp. “O mercúrio emitido pela ação das queimadas pode ser transportado em escala local, regional ou mesmo global. Isso acontece porque o elemento possui um longo tempo de residência na atmosfera, onde permanece, em média,

um ano. Durante este tempo, ele é capaz de ‘rodar’ todo o planeta, razão pela qual é considerado como um poluente global”, alerta a pesquisadora. Ela desenvolve estudos nesta área há mais de uma década. As primeiras investigações sobre o assunto foram realizadas no final dos anos de 1990 no Estado do Amapá. O último trabalhou de campo na floresta aconteceu em setembro de 2011, em uma estação experimental da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), localizada no Acre. Anne Hélène Fostier adverte que, uma vez lançado na atmosfera, o mercúrio pode ir para o solo ou para os corpos

Anne Hélène Fostier, professora e oceanógrafa em seu trabalho de campo 14 REVISTA AMAZÔNIA

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A queima da floresta emite de volta para a atmosfera o mercúrio contido no solo e na vegetação

aquáticos. Nos rios, lagos e oceanos o elemento nocivo passa por um processo de metilação, que o torna ainda mais tóxico. “A metilação acontece no meio ambiente por via biológica e transforma o mercúrio inorgânico em orgânico, principalmente em metilmercúrio, uma das formas mais

tóxicas deste elemento. Quando o metilmercúrio é incorporado pela cadeia alimentar, os riscos de intoxicação são muito grandes. É uma ameaça, sobretudo, para as populações ribeirinhas, que encontram nos peixes a sua principal fonte proteínica”, expõe a docente. Ainda de acordo com ela, qualquer processo que favore-

ça a incorporação de mercúrio na cadeia alimentar eleva os riscos imediatos de intoxicações para a população, tornando-se um problema local e regional. Em âmbito global, a preocupação com o poluente impulsionou a assinatura de um tratado em fevereiro último. Conhecido como Convenção de Minamata, o acordo A floresta é um sumidouro do mercúrio presente na atmosfera, proveniente tanto de fontes naturais, como antrópicas.

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José Javier Melendez Pérez, engenheiro químico, e sua orientadora Anne Hélène Fostier: transporte em escala real

objetiva reduzir as fontes de emissão de mercúrio do planeta. O Brasil é um dos signatários desta convenção. Para entrar em vigor, o acordo necessita da aprovação de 50 países. O nome do tratado é uma referência ao desastre na cidade de Minamata, no Japão, que intoxicou, por meio do mercúrio na água, centenas de pessoas. A tragédia ocorrida na década de 1920 deu origem à Doença de Minamata, uma síndrome neurológica causada pela intoxicação com o elemento químico. “A assinatura desta convenção internacional mostra o quanto a problemática das emissões de mercúrio na atmosfera continua sendo uma questão extremamente importante para a qualidade do meio ambiente”, sublinha a docente da Unicamp. Ela cita pesquisas internacionais que mostram uma multiplicação por três das concentrações de mercúrio na atmosfera no século passado em relação àquelas existentes na era pré-industrial. “Isso aconteceu devido a todas as emissões geradas pela ação do homem”, aponta Anne Hélène Fostier.

Remoção A floresta amazônica tem papel imprescindível na remoção global do mercúrio da atmosfera, considera a cientista da Unicamp. Ela esclarece que as partículas de mercúrio presentes no ar são retidas na copa das árvores da floresta, que possuem uma grande área superficial. Outra parte do mercúrio é incorporada pelas folhas, por 16 REVISTA AMAZÔNIA

meio de troca gasosa com o ambiente. O elemento químico é pouco solúvel em água e possui alta volatilidade na temperatura ambiente. “A floresta é um sumidouro do mercúrio presente na atmosfera, proveniente tanto de fontes naturais, como antrópicas. Hoje, as maiores fontes antrópicas – aquelas geradas pela ação do homem – são a queima de combustíveis fósseis e as atividades de mineração, sobretudo a extração do ouro. O mercúrio está presente, naturalmente, nos oceanos e no solo”, explica. A queima da floresta emite de volta para a atmosfera o mercúrio contido no solo e na vegetação. Conforme Anne Hélène Fostier, pesquisas mundiais mostram que esta é a segunda maior fonte de emissão de mercúrio entre aquelas consideradas naturais. A ação dos oceanos é tida como a primeira. “Atualmente existem informações sobre a emissão pela queima de florestas em várias regiões do mundo. Porém, na Amazônia brasileira, os dados ainda são escassos, embora a região corresponda a 10% de toda a área coberta por floresta no mundo”, dimensiona a professora da Unicamp. Ela orientou estudo de mestrado que permitiu um refinamento dos dados obtidos nos últimos anos. A dissertação foi defendida em fevereiro de 2013 pelo engenheiro químico José Javier Melendez Pérez. Entre os principais resultados do trabalho, está o que calcula em oito toneladas a taxa anual de emissão de mercúrio na atmosfera devido à queima da floresta amazônica.

Os dados empregados neste estudo foram adquiridos a partir de experimentos com queimadas programadas realizadas na estação da Embrapa na cidade de Rio Branco, capital do Acre. Foram coletadas e analisadas amostras de solos e vegetação da área experimental.

Solo A queima da floresta potencializa em pelo menos 50% a transferência do mercúrio para a atmosfera. Tal propagação ocorre no primeiro ano depois do desmatamento. Este é outro resultado importante das investigações coordenadas por Anne Hélène Fostier. O processo seria responsável por lançar mais quatro toneladas de mercúrio por ano na atmosfera, totalizando a emissão de 12 mil quilos do elemento tóxico no ambiente. O aumento desta transferência acontece porque o solo fica mais exposto à radiação solar devido à queima da floresta. Com isso, a troca gasosa do mercúrio presente no solo para a atmosfera torna-se mais favorável. “Por ser um elemento muito volátil, o mercúrio é liberado como consequência da queima da vegetação e do solo superficial. Mas isso acontece também após a queimada porque o solo está sem cobertura vegetal. Esta falta de vegetação favorece a troca gasosa entre o solo e a atmosfera. Quanto maior a intensidade luminosa, maiores são as emissões de mercúrio pelo solo quando este não está coberto por floresta”, explica. Estes resultados foram obtidos pelo pesquisador norte-americano Anthony Carpi, professor do John Jay Collerevistaamazonia.com.br


ge, da Universidade da Cidade de New York (Cuny), nos Estados Unidos. O norte-americano passou seis meses no Instituto de Química da Unicamp como pesquisador visitante. Ele contou com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Seu objetivo foi quantificar o mercúrio emitido pelo solo da floresta antes e depois de ter sido desmatada. A quantificação de mercúrio realizada por Anthony Carpi confirmou indícios de outra investigação realizada no início de 2000 por Anne Hélène Fostier na Bacia do Rio Negro, também na região amazônica. O estudo apontou que uma área desmatada do solo, independentemente se foi por queimada ou não, emite até 20 vezes mais mercúrio do que uma área coberta por vegetação. O mercúrio presente no solo pode ser originário de depósitos minerais naturais, mas também das partículas absorvidas da atmosfera pelas folhas das árvores. “Nesta época calculamos que cerca de 30 toneladas de mercúrio por ano podiam ser removidas da atmosfera somente por florestas da região da Bacia do Rio Negro. O atual estudo, desenvolvido pelo Javier Perez, veio justamente refinar todos estes dados. A região amazônica é uma área extremamente diversificada. Torna-se necessário, portanto, realizar investigações em vários lugares ao longo do tempo”, fundamenta Anne Hélène Fostier.

Projeto Temático Os resultados das pesquisas coordenadas por Anne Hélène Fostier integram amplo programa de estudos destina-

do a quantificar as principais emissões provenientes das queimadas da floresta amazônica. O objetivo é dimensionar o impacto sobre as emissões atmosféricas, bem como estudar os parâmetros de combustão da mata. O projeto temático financiado pela Fapesp conta com a participação de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal do Acre (Ufac), Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Brasília (UNB), Universidade de Taubaté (Unitau) e Universidade Federal do Rio Grande (Furg). O programa é coordenado pelo docente João Andrade de Carvalho Jr., da Faculdade de Engenharia da Unesp de Guaratinguetá (SP). “Há ainda, neste amplo projeto, outros estudos sobre a regeneração da floresta depois de uma queimada, além de formas de propagação do fogo. O projeto temático foi muito importante para nos dar o suporte logístico e de infraestrutura que uma pesquisa deste porte exige”, retribui a oceanógrafa. Ela também informa que obteve financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Técnica A determinação do elemento químico presente nas amostras coletadas na área experimental da Embrapa foi realizada por meio de um analisador direto de mercúrio. Conforme José Javier Pérez, o equipamento permite uma quantificação mais precisa, rápida e segura em relação aos métodos convencionais, executados por meio de

reação química. “Esta técnica é mais robusta, o que permite a obtenção de resultados cada vez mais exatos. Infelizmente, ainda são escassos os dados sobre emissões de mercúrio decorrentes de queimas de florestas na região da Amazônia. Acredito que outros estudos similares deveriam ser realizados para aumentar a representatividade das informações obtidas”, observa. “Também estamos trabalhando com investigações visando obter mais dados sobre as concentrações de mercúrio em regiões industriais. O hemisfério norte possui levantamentos densos sobre isso. Em contrapartida, o hemisfério sul – Brasil em particular – tem poucos dados. E se o Brasil quiser, realmente, participar desta nova Convenção de Minamata, mostrando que está reduzindo suas emissões, primeiro vai ter que saber o quanto está emitindo”, completa a orientadora. Com a entrada em vigor do tratado, ela espera que os países signatários promovam ações de redução, principalmente nas atividades relacionadas à mineração e queima de carvão pelas termelétricas. Anne Hélène Fostier também aponta a necessidade de substituição de equipamentos que ainda utilizam o elemento químico, como termômetros, barômetros, lâmpadas fluorescentes, pilhas e baterias.

[*] Em Unicamp Notícias

Os experimentos com queimadas programadas foram realizadas na estação da Embrapa na cidade de Rio Branco, capital do Acre

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Queimadas na Amazônia no período com clima mais seco

Queimadas na Amazônia aumentam frequência de chuvas ácidas na região

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om a chegada do período com clima mais seco na Amazônia, especialistas alertam para o crescimento no índice de chuvas ácidas na região. A diretora do Instituto Nacional de Meteorologia no Amazonas, Lúcia Gularte, alerta para os perigos que estas chuvas podem trazer para a saúde humana, além de apontar as principais causas deste fenômeno natural. A meteorologista explicou que as chuvas ácidas tendem a se intensificar na Amazônia, principalmente no segundo semestre do ano, por conta da diminuição no número de chuvas. “Esse fator, associado às altas temperaturas alcançadas neste período, causam a baixa umidade relativa do ar, que por consequência, gera também incêndios florestais naturais, um dos principais causadores de chuvas ácidas”, disse. 18 REVISTA AMAZÔNIA

por Wallace Abreu Outro ponto destacado por Lúcia Gularte como causador deste fenômeno são as grandes concentrações e movimentações de veículos automotivos em centros urbanos. Para a meteorologista, todas as capitais da Amazônia estão sujeitas a ocorrência de chuvas ácidas. “Com essa grande concentração de carros, há uma maior ‘residência’ de partículas de gases do ar, como enxofre, dióxidos e monóxidos em geral. Esses gases, em contato com o vapor de água na atmosfera, geram o que chamamos de fotólise, processo que dá origem a chuva ácida”, destacou a especialista. Ainda nos grandes centros urbanos, outro fator que contribui para a formação de chuvas ácidas é a queima de óleo diesel ou carvão vegetal, principalmente em grande escala, como ainda é feito nas usinas termelétricas. A especialista alerta para os impactos diversos de chuvas

ácidas sobre a floresta amazônica como um todo, devido aos baixos níveis de PH (índice que indica a acidez, neutralidade, ou alcalinidade de um meio qualquer), sobre a água doce e o solo. “Como consequência, há casos de mortandade de peixes, insetos, anfíbios e plânctons devido a falta de oxigênio na água. As chuvas causam também efeitos negativos sobre a saúde humana, além de corrosão em equipamentos expostos ao ar, como estruturas metálicas, edifícios e carros”, finalizou a meteorologista.

Como identificar uma chuva ácida? A meteorologista apontou que as chuvas ácidas ocorrem na região amazônica principalmente no período da tarde. Mais especificamente em torno das 15h. As chuvas revistaamazonia.com.br


ácidas acontecem nesse horário devido as temperaturas girarem entre os níveis mais altos do dia. Os meses “secos” na Amazônia apresentam índices pluviométricos que variam entre 40 e 150 milímetros (mm) de chuva, dependendo da localidade. Em Manaus, Lúcia destacou que no mês de agosto a média de chuvas gira em torno apenas de 47,3 mm. Além disso, também há uma diminuição no número de dias com chuvas, o que aumenta a quantidade de gases que se concentram na atmosfera. Em anos de fenômeno El Nino, a meteorologista ressaltou que já ocorreram secas na Amazônia que deixaram áreas de Manaus com mais de 70 dias sem chuva. “Isso causou índices de umidade relativa abaixo de 30%, o que facilita a ocorrência de chuvas mais ácidas”, concluiu.

Chuva ácida e a Amazônia O termo chuva ácida foi empregado pela primeira vez em 1952 por um cientísta inglês, R. A. Smith, em sua monografia O Ar e a Chuva: O Início da Climatologia Química, a Chuva Ácida. Embora a chuva ácida, formada por substâncias que as chaminés das indústrias e os escapamentos dos automóveis despejam na atmosfera, tenha surgido, provavelmente, em meados do século XIX, em decorrência da Revolução Industrial, somente no final do século XX o fenômeno começou a inquietar os ecologistas. A precipitação ácida ocorre quando aumenta a concentração de dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NO, NO2, N2O5), que produzem ácidos quando em contato com a própria água da chuva. Geralmente, esses compostos são liberados na combustão de materiais fóssil, como petróleo e o carvão. Portanto, durante uma combustão não somente monóxido e dióxido de carbono são formados. As reações abaixo mostram como são formados os ácidos que fazem parte de uma chuva ácida: Durante as queimadas na floresta Amazônica esses gases são liberados para fomarem os ácidos que compõem as chuvas ácidas a região. Por outro lado, naturalmente as chuvas na Amazônia são ácidas devido à presença de ou-

Chuva ácida na Amazônia

SO2(g) + H2O(l) --------> H2SO3(l) SO3(g) + H2O(l) --------> H2SO4(l) 2NO2(g) + H2O(l) --------> HNO3(l) + HNO2(l) CO2(g) + H2O(l) --------> H2CO3(g)

Fonte: Fornaro (2006) revistaamazonia.com.br

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Chuvas ácidas devido aos baixos níveis de PH

tros componentes, principalmente substâncias orgânicas como os ácidos pirúvico (C3H4O3), acético (H3CCOOH) e fórmico (HCOOH). Anualmente, é possível detectar grandes quantidades desses dois ácidos, destaca-se o ácido acético. As fontes naturais que podem contribuir para o aumento dos níveis de ácidos orgânicos na atmosfera são aquelas provenientes de processos de biossíntese por bactérias, fungos, insetos e plantas. Os produtos do metabolismo de microorganismos, por exemplo bactérias, e plantas são os responsáveis pela ocorrência de ácidos orgânicos no solo. A contribuição do solo como fonte dos ácidos orgânicos na atmosfera não está ainda bem esclarecida e estudos mais detalhados são necessários. Estima-se que o fluxo de emissão destes ácidos em regiões tropicais, como a floresta Amazônica, seja de 9,8 x 109, 4,6 x 109, 9,8 x 108 moléculas/cm2s1 para os ácidos fórmico, acético e pirúvico, respectivamente. 20 REVISTA AMAZÔNIA

Queimadas na Amazônia aumentam frequência de chuvas ácidas na região

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O risco de fogo é acumulativo, ou seja, quanto mais dias de tempo seco, maior é o número de queimadas a região vai registrar

Número de queimadas caiu 25% no primeiro semestre deste ano em relação a 2012

Chuvas prolongadas desse ano contribuíram para reduzir os focos de calor

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om o início do período seco no interior do Brasil a partir do outono, o número de queimadas aumenta no país nessa época do ano. No entanto, o volume e a frequencia de chuvas na estação anterior reduz ou aumenta a ocorrência de focos de calor nos Estados. No verão de 2011/2012, o volume de chuva ficou abaixo da média e o período das águas também cortou mais cedo. Já no verão deste ano, as chuvas foram até abril e

a vegetação teve menos dias de tempo seco. “O risco de fogo é acumulativo, ou seja, quanto mais dias de tempo seco, maior é o número de queimadas a região vai registrar”, explica o meteorologista da Somar Celso Oliveira. E é justamente por conta do verão 2012/2013 ter sido mais chuvoso que no ano anterior que o número de queimadas caiu 25% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2012. Segundo o Monitoramento de Queimadas e Incêndios do INPE (Institu-

to Nacional de Pesquisas Espaciais), de janeiro a junho de 2012 foram registrados 17.310 queimadas em todo Brasil e este ano o número caiu para 13.047. A partir de agora os focos de calor tende a aumentar, mas mesmo assim, o segundo semestre também deve registrar um número de queimadas menor que no ano passado. Primeiro porque o período seco foi menor que no ano passado, conforme já mencionado, e segundo porque as previsões indicam o retorno das chuvas a partir de setembro.

De janeiro a junho de 2012 foram registrados 17.310 queimadas em todo Brasil

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65ª SBPC, o maior evento científico do país Ciência para o novo Brasil

Mesa oficial na solenidade de abertura da 65ª SBPC

Fotos: Daniel Jordano, Fernanda Farias, Josiane Santos, Marcelo Garcia

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solenidade de abertura da 65ª Reunião Anual da Sociedade para o Progresso da Ciência (SBPC), no Centro de Convenção da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), iniciou-se com uma apresentação de frevo por um renomado grupo de dança local, e, após a cerimônia, houve a apresentação de uma orquestra de música regional e teve como principal tema debatido, a importância do conhecimento científico para o desenvolvimento do país de maneira sustentável. A mesa de abertura contou com a presença do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, da presidente da SBPC, Helena Nader, do reitor da UFPE, Anisio Brasileiro de Freitas Dourado, e representantes do governo do estado de Pernambuco; da Marinha; do Legislativo; do CNPq; da Capes; e da ABC. Ao ser chamado para compor a mesa, o secretário de Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Marcelino Granja, foi vaiado pelos presentes. Ele participava do evento representando o governador Eduardo Campos. Lembrando que, apesar das dificuldades, o Brasil conseguiu avançar nos últimos anos, Helena Nader apontou que ciência e lei estão em descompasso no país. “A legislação brasileira é anticiência, antitecnológica e anti-inovação. Ela quase que coíbe a pessoa de querer continuar fazendo. Os pesquisadores brasileiros com as condições que eles têm de obter materiais e equipamentos, eles são verdadeiros heróis. Quando o pessoal do exterior vê as dificuldades que a gente tem para poder ter

acesso aos insumos necessários, fica assustado”, afirmou a presidente da SBPC. O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, destacou a importância da educação científica para se ter desenvolvimento de um país de forma que utilize os seus recurso naturais sem destruí-los. “Se você quer usar os recursos naturais sem destruí-los, você precisa ter conhecimento, saber quais são as condições que precisam ser preenchidas para que possa Raupp visita estandes da ExpoT&C e conhece pesquisas do Inpa

ser sustentável, e isso se faz através do conhecimento científico. A sustentabilidade social é baseada, principalmente, em uma coisa chamada educação para toda a sociedade, incluí-la nos benefícios desse desenvolvimento. E educação se faz por meio da ciência, processos de aprendizado onde a ciência é fundamental. Qualquer condição que você olhe para o desenvolvimento do país, você vê que tem a ciência como elemento fundamental. As reuniões são sempre importante”, destacou o minisImpacto e avaliação da pesquisa em discussão na SBPC

Frutas da Amazônia em exposição 24 REVISTA AMAZÔNIA

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Helena Nader, presidente da SBPC, falou sobre o Programa Ciência sem Fronteira, do Governo Federal

Conferência que abordou o tema do aborto recebeu grande público. Ataques de tubarões, células tronco e diversos outros temas também chamaram a atenção dos participantes

tro. Marco Antonio Raupp destacou a importância da reunião da SBPC na luta para a mudança da legislação. “Estamos junto com a SPBC e academia de ciência para realmente ter ganho de competitividade. Para competir no mercado global, é preciso ter o aporte de tecnologia e inovação. Então [é preciso] trabalhar junto, ter toda uma infraestrutura básica e também elementos de ligação da infraestrutura”, defendeu o ministro. Raupp chamou a atenção que não adianta pensar apenas em laboratórios e grandes centros. Para ele, não há ciência sem investimento humano. “Precisamos sempre pensar em recursos humanos, não adianta se não tivermos cientistas. Para estabelecer ciência, tecnologia e inovação como paradigma de desenvolvimento, é preciso aumentar e qualificar a nossa rede. Nós queremos a melhor ciência comparada internacionalmente. Os melhores exemplos dos países que desenvolveram no mundo é que empresas também precisam fazer pesquisa”. Raupp citou ainda alguns números que, segundo ele, irão aumentar com certeza, entre eles, o do Programa Ciência sem Fronteiras, que já conta com 101 mil bolsas de estudos no exterior e os investimentos das bolsas CNPq, que teve um reajuste médio de 25% em julho 2013 nas bolsas de mestrado, doutorado e pós-doc. O reitor da UFPE, Anísio Brasileiro, disse esperar mudança nessa situação. “Atualmente é muito difícil para nós conseguirmos trazer equipamentos de fora do país, de fazer reformas na universidade. Precisamos de um marco regulatório próprio, que entenda as nossas necessidades, já estamos lutando por isso”, explicou. Durante o evento, a SBPC homenageou quatro cientistas que faleceram recentemente: Paulo Vanzolini, Bertha Becker, Maria Laura Mouzinho Leite Lopes e Maria Léa Salgado Labourian. O reconhecimento à contribuição destes grandes cientistas para o País foi destacado nos discursos da cerimônia de abertura além da entrega de placas comemorativas. Também foi entregue o Prêmio José Reis de Divulgação Científica, do CNPq, que neste ano foi concedido ao físico Ildeu de Castro Moreira, pelo trabalho como divulgador científico, sobretudo na idealização e realização das Semanas Nacionais de Ciência e Tecnologia. Para Helena Nader , sua presidente, “A SBPC tem a função de aproximar a sociedade da ciência tentando traduzir para a sociedade como é que a ciência está acontecendo, como é que ela influência a vida dela e onde ela está presente”. revistaamazonia.com.br

ExpoT&C Com aproximadamente 250 expositores, a ExpoT&C (amostra de ciência, tecnologia e inovação que reunindo centenas de expositores ligados a universidades, institutos de pesquisa, entidades governamentais, entre outros) teve experimentos, oficinas, vídeos institucionais e educativos, planetário e jogos interativos que também integravam as atividades. A novidade deste ano era o auditório-arena onde foi apresentada uma série de palestras sobre temas e trabalhos desenvolvidos pelas unidades do MCTI. O estande institucional mostravar pesquisas com energia solar, óleos, biodiversidade, pequenos objetos de madeira, papéis alternativos e degustação interativa de geleias, sucos e licores, além de sopa de piranha desidratada e peixes processados. Houve ainda mostra de livros, divulgação de atividades da pós-graduação e projetos de responsabilidades socioambientais. Outra novidade – Curso de atualização por meio de palestras para cerca de 7 mil professores da rede estadual de ensino nas cidades de as cidades de pernambucanas:

Caruaru, Petrolina, Garanhuns e Serra Talhada. A reunião anual teve uma agenda cheia de atividades voltada para crianças, jovem e adultos, além de atividades específicas para cientistas. No espaço destinado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) há 30 estantes das Instituições de pesquisa, ciência e tecnologia ligadas ao ministério. “A ExpoT&C progrediu bastante com novas exposições e com novas instituições participando proporcionando um alcance maior. Cada vez que a ExpoT&C apresenta melhor qualidade é um meio de atrair mais públicos”, avaliou o ministro.

INPA O Inpa promoveu palestras visando à divulgação de pesquisas científicas da Amazônia, abordando os temas: educação ambiental, cultura regional, tecnologias sociais, saúde para o interior do Amazonas, o Inpa como Instituto estratégico para geração de ciência e tecnologias na Amazônia e formação de pessoal especializado e criação de peixes em canais de igarapés na Amazônia foram algumas das palestras ministradas por pesquisadores do Instituto, socializando as informações para o uso sustentado da Amazônia, no contexto economia verde, erradicação da pobreza e valorização dos conhecimentos tradicionais.

Jovens Dentro da programação da 65ª SBPC foi montada uma feira focada em despertar o interesse dos jovens pela

Painel cerâmico ‘Ciência e Consciência’, da artista Anna Brotto, na Fiocruz/ Recife

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Ciência sem Fronteiras terá bolsas específicas para a área espacial ciência e tecnologia. A SBPC Jovem contou com oficinas, palestras, rodas de conversas e apresentações culturais, além de 50 trabalhos científico, enviados por estudantes e professores do ensino básico de todo o país. Entre as atividades do espaço estavam salas com temáticas, como planetário, o Circo da Ciência - projeto que faz parte da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC) e exposições de 25 de centros de ciências do Brasil.

Astronomia atrai jovens a planetário inflável Um planetário inflável atraiu milhares de jovens em busca de conhecimentos sobre astronomia na 65ª SBPC. A atração lúdica fazia parte da exposição do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), que durante meia hora projetava imagens virtuais do céu noturno para explicar os movimentos dos planetas e a posição das estrelas. “A demonstração era, muitas vezes, o primeiro contato que as pessoas têm com o tema astronomia. Em média, mil pessoas passam pelo planetário todos os dias”, disse a representante do museu, Márcia Cristina Alves. A demonstração aborda as 88 constelações, áreas forma-

Público da ExpoT&C conheceu tecnologia de criação de peixes em canais de igarapés na Amazônia 26 REVISTA AMAZÔNIA

O programa federal Ciência sem Fronteiras (CsF) vai oferecer vagas específicas para atender aos interessados na área espacial. Serão 300 bolsas de estudo voltadas para diversas modalidades, desde graduação sanduíche, doutorado e pós-doc, além das modalidades Jovem Talento e Pesquisador

Visitante. Desse total, 150 serão destinadas a brasileiros e 150 para pesquisadores estrangeiros que quiserem atuar em instituições de ensino e pesquisa do Brasil. O anúncio foi feito pelo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI), Glaucius Oliva, em encontro com bolsistas do programa, durante a 65ª SBPC. O evento contou com a presença do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, do presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Coelho, da presidente da SBPC, Helena Nader e de Jorge Guimarães, presidente da Coordenação Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC), que executa o CsF em conjunto com o CNPq.

das por estrelas, reconhecidas pela União Astronômica Internacional, e também cita as 13 representações do Zodíaco – mais conhecidos pelas pessoas pela orientação de signos. Os corpos celestes – como a posição dos planetas do Sistema Solar e as quatro estrelas gigantes que transitam na circunferência do Sol: Aldebaran, Spica, Regulus e Antares – também são demonstradas na apresentação. O planetário inflável faz parte da ExpoT&C, uma das atrações da SBPC.

É nossa função fazer ponte entre ciência e sociedade A diretora de Jornalismo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Nereide Beirão, apresentou a missão da Empresa Brasil de Comunicação e destacou a importância da cobertura dos temas de ciência, tecnologia e inovação como parte do princípio de contribuir para formação crítica do cidadão brasileiro. “O cidadão tem de ter conhecimento daquilo que está sendo desenvolvido no país. A EBC tem um papel importantíssimo nessa área de divulgação científica. É função nossa fazer essa ponte entre ciência e sociedade”, explicou. Nereide Beirão abordou a pesquisa Ciência, Tecnologia & Inovação na Mídia Brasileira, feita pela Rede Andi, que avaliou a abordagem do tema por 62 veículos impressos brasileiros entre 2007 e 2008. Segundo a publicação, quase 40% da população demonstram pouco interesse por assuntos de ciência e tecnologia por não entenderem do que se trata. “O volume de notícias ligadas à ciência, tecnologia e inovação estão muito voltadas para o factual e têm alguns temas que são mais tratados, como saúde e medicina. Outros são simplesmente ignorados, não existem no

Encontro de Jornalismo Científico com o intuito de incentivar uma cobertura mais acessível ao que diz respeito a divulgação das pesquisas e dos eventos científicos Carlos Bueno, pesquisador do Inpa/ MCTI, apresentou na SBPC as atividades educacionais e ações ambientais

Inpa realizou lançamento de 24 livros na ExpoT&C, como forma de criar oportunidades para pessoas de outros estados conhecerem os trabalhos do Instituto

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mentas para saber se existem vidas como a nossa em outros planetas. Mas, mesmo sem o homem, a vida na Terra vai continuar em qualquer circunstância. Falar em cenário fatal para o planeta é mentiroso, só serve para gerar medo”, concluiu.

Vencedores dos Prêmios Jovem Cientista e destaque do ano participaram da SBPC

A energia brasileira Inpa apresenta protótipo de filtragem de água que será comercializado, o “Água Box”, mecanismo utilizado para purificar a água

Cenbam/Inpa apresentou trabalhos sobre a biodiversidade amazônica Inpa apresenta coleção científica ao público na ExpoT&C

noticiário. Esse fato dificulta a valorização do trabalho científico. As pessoas ainda não têm noção do impacto da ciência e da tecnologia na vida delas”, analisou.

Fim da vida na Terra é mentiroso Há 350 milhões de anos o planeta Terra enfrentava mudanças climáticas semelhantes às vividas atualmente, disse o pesquisador alemão Ulrich Glasmacher, da Universidade de Heidelberg. “[Mudanças climáticas] não são fenômenos novos na história. No passado, há 350 milhões de anos tivemos os mesmos problemas de hoje. Estamos no mesmo ponto daquela época”, explicou durante palestra na 65ª SBPC. Segundo o pesquisador, a temperatura do planeta não está aumentando se comparada com a de outros períodos, mas oscilando. “As temperaturas estão flutuando – sobem e descem – neste momento que vivemos. Mas estamos muito influenciados pela mídia e diretamente pensamos em efeito estufa [como causa de aumento]”. “Precisamos pensar também que até agora somos os únicos no universo. Não sabemos e nem temos ferrarevistaamazonia.com.br

Um país tropical, abençoado por Deus e rico em energia por natureza – e que, por isso mesmo, deveria fazer mais para aproveitar um de seus mais preciosos recursos naturais: a luz do Sol. Foi o que mostrou o físico da Universidade Federal de Pernambuco e ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, em conferência promovida pelo Instituto Ciência Hoje durante a SBPC. Ao derrubar mitos sobre a geração desse tipo de energia, Rezende discutiu as possibilidades de exploração dessa fonte no Brasil e destacou que o avanço da área passa pela adoção de políticas públicas eficientes.

Inpa coordenará sessão paralela sobre a Amazônia durante Fórum Mundial de Ciência A participação foi confirmada pelo presidente da Academia Brasileira de Ciência (ABC), Jacob Palis, durante sessão especial sobre o fórum na 65ª SBPC, quando apresentou a programação do evento que contará com

a participação de cientistas brasileiros e estrangeiros discutindo e trocando experiência nas áreas em que atuam. O diretor do Inpa, Adalberto Val, considera a participação

do Instituto no FMC um motivo de orgulho para o Brasil e em particular para a Amazônia, que mereceu uma sessão sobre o tema. “É um momento extremamente importante porque pela primeira vez na história o fórum vai ser realizado fora do nicho original que é em Budapeste, na Hungria. É uma sessão paralela sobre a Amazônia com a participação de diferentes países não só da América do Sul, mas também da Europa, que vão discutir sobre diferentes assuntos relacionados à região”, explicou o diretor.

Término/Balanço Helena Nader, presidente da SBPC, afirmou durante entrevista à imprensa que a Reunião Anual da SBPC é uma forma de prestação de contas à sociedade, de divulgar o que o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e outras instituições estão fazendo para melhoria da sociedade. “As 110 sociedades científicas afiliadas participam dessa reunião, mostrando ao público tudo o que é realizado lá dentro”, explicou Nader e o reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Anísio Brasileiro, apresentaram em um balanço preliminar da 65ª SBPC. Já Anísio Brasileiro, que também participou da coletiva de imprensa, demonstrou gratidão a todos os envolvidos e destacou a importância de eventos científicos, como a SBPC, para o desenvolvimento do país. “Antes e durante a

Helena Nader pede agilidade do Congresso A presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, pediu agilidade do Congresso Nacional na aprovação dos dispositivos que vão integrar o novo marco regulatório das atividades de pesquisa e desenvolvimento no país. Atualmente pelo menos cinco propostas tratam do assunto. “O Brasil está perdendo muito tempo. Ou a gente reverte isso logo ou vamos ter um descompasso muito grande”, disse Nader Helena Nader disse que uma das características do Novo Brasil, tema da reunião deste ano, é a mobilização da sociedade, mas destacou que ainda falta pressão da população sobre os parlamentares com propostas claras e específicas. “A gente tem que pressionar. Não precisa sair nesse quebra-quebra, acho que a manifestação foi boa, mas a gente não pode continuar quebrando as coisas. Temos que agora ter pautas e levar documentos”, concluiu. REVISTA AMAZÔNIA 27


Helena Nader, presidente da SBPC e Anísio Brasileiro, reitor da UFPE, durante entrevista à imprensa

SBPC são discutidos vários temas que estão presentes no cotidiano da população, como os problemas de saúde. Isso é fundamental para os jovens que participam desse congresso”, declarou. Durante esses cinco dias, foram desenvolvidas mais de 260 atividades, entre mesas-redondas, conferências, sessões especiais e minicursos. No total, o evento teve mais de 23 mil inscritos. Na avaliação da presidente da SBPC, Helena Nader, o saldo da reunião é muito positivo. Segundo ela, mais importante que os números foi a qualidade científica da programação. “Reunimos aqui o que existe de melhor na ciência brasileira”, disse, em entrevista coletiva, ontem. “Nós trouxemos para o Recife os expoentes, os melhores pesquisadores, de cada um dos temas discutidos durante a Reunião.” Nader destacou ainda mais a participação dos jovens em bate-papo com

os egressos do Programa Ciência sem Fronteiras: “Um congresso dessa magnitude muda a visão das pessoas. Vários jovens vieram falar comigo após as palestras dos estudantes que participaram do Ciência sem Fronteira e percebi o real interesse deles em participar do programa. E isso é maravilhoso, porque percebemos que a SBCP realmente muda a vida das pessoas”. No final da coletiva, a presidente anunciou a cidade de Rio Branco, no Acre, como sede da 66ª Reunião Anual da SBPC, que começará dia 20 de julho de 2014, por conta dos jogos da Copa do Mundo da Fifa, que acontecerão em várias capitais brasileiras. O evento é promovido desde 1948, com a participação de representantes de sociedades científicas, autoridades e gestores do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia para difundir os avanços da ciência e debater políticas públicas para área.

Região amazônica terá plano de ciência e tecnologia

O

governo federal prepara um plano de ciência e tecnologia para a região amazônica. Prevista para ser lançada em setembro, a medida foi anunciada pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marco Antonio Raupp, durante a 65° SBPC. “A proposta é um plano de desenvolvimento sustentável da região amazônica com a utilização de seus recursos naturais. [O plano é construído] com a participação de instituições de ciência e tecnologia da região, governos estaduais e federal”, descreveu Raupp. Segundo o presidente do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), órgão ligado ao MCTI e responsável pela coordenação do plano, Mariano Laplane, a proposta foi elaborada de forma colaborativa, com estrito enfoque nas necessidades locais. “O plano é arrojado, e parte de uma pergunta básica: como é que ciência, tecnologia e a inovação devem se estruturar, orientar seus esforços para promover o desenvolvimento da região amazônica?”. A iniciativa é baseada em três eixos: perfis de pesquisadores mais adequados para o trabalho na região, infraestrutura de laboratórios e ambientes de inovação. “Procuramos respostas em três questões fundamentais, como a necessidade de recursos humanos, qual a quantidade e o perfil que a ciência brasileira deve mobilizar na região. Quais as áreas de conhecimento devemos concentrar nossos esforços para alavancar o desenvolvimento sustentável e quais são os recursos laboratoriais, a infraesturura, que junto com o esforço humano vai conseguir fazer com que o conhecimento avance”, aponta Laplane. O presidente do CGEE explica que o ministério ainda está definindo os recursos que serão aplicados e quantos pesquisadores serão contratados para implementação da iniciativa. Outro plano voltado para a Região Nordeste já começou a ser construído, com a mesma filosofia adotada para a região amazônica, mas ainda não tem previsão para ser lançado.

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Marco Raupp diz que plano Amazônia vai ser lançado em setembro

“A região [amazônica] tem uma vocação muito forte com sua biodiversidade. O que falta é um instrumento de desenvolvimento pensando na sustentabilidade. Temos que fugir do pensamento que é preciso destruir a natureza para conseguir riqueza e o contrário também não é verdadeiro. Não é suficiente gerar conhecimento, ele deve chegar à sociedade, à população, às empresas para se transformar em riqueza, gerar bem-estar”, concluiu Lapane. Em outro anúncio, o ministro Marco Antonio Raupp divulgou a aquisição do navio de pesquisas hidroceanográficas para ampliar a presença da ciência nacional no Atlântico Sul e Tropical. A embarcação faz parte do projeto do Instituto Nacional de Pesquisas Oceanográficas e Hidroviárias (Inpoh), que prevê uma série de ações em áreas como a conservação da biodiversidade marinha, a melhoria de processos associados à pesca, proteção e adaptação de zonas costeiras para as mudanças climáticas, realização de estudos sobre vias fluviais, hidráulica fluvial e portuária, além de formação de recursos humanos para o setor. De acordo com o ministério, a compra, no valor de R$ 162 milhões, é resultado de um acordo de cooperação entre a pasta, a Marinha, Petrobras e a empresa Vale. O navio terá capacidade para 146 tripulantes, dos quais 60 pesquisadores, e contribuirá para o avanço de pesquisas nas áreas de química, geologia, biologia e de física marinha. “O plano Amazônia vai ser lançado em setembro deste ano, e pretendemos propagar o desenvolvimento da região especialmente por meio da utilização de seus recursos naturais”, disse o ministro. revistaamazonia.com.br


FAO premia o Brasil e mais 37 países por reduzir a fome pela metade Brasil premiado por ter reduzido a fome pela metade bem antes do prazo de 2015

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Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) premiou 38 países, entre eles o Brasil, por terem reduzido a fome pela metade bem antes do prazo de 2015, estabelecido pela ONU nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. A meta número 1 dos Objetivos do Milênio estabelece a redução, pela metade, da proporção de pessoas com fome até 2015. O cumprimento da meta pelos países premiados considerou a diferença do número de famintos entre 1990 e 1992 e entre 2010 e 2012. Além do Brasil, já cumpriram a meta, segundo a FAO: Armênia, Azerbaijão, Cuba, Djibuti, Geórgia, Gana, Guiana, Kuwait, Quirguistão, Nicarágua, Peru, São Vicente e Granadinas, Samoa, São Tomé e Príncipe, Tailândia, Turcomenistão, Venezuela, Vietnã, Argélia, Angola, Bangladesh, Benin, Camboja, Camarões, Chile, República Dominicana, Fiji, Honduras, Indonésia, Jordânia, Malawi, Maldivas, Níger, Nigéria, Panamá, Togo e Uruguai. O diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano, elogiou as nações que já atingiram a meta de re-

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A meta número 1 dos Objetivos do Milênio estabelece a redução, pela metade, da proporção de pessoas com fome até 2015

vontade em ações concretas e resultados”, disse, segundo comunicado oficial da entidade. Segundo Graziano, os países que já chegaram à meta, devem manter os esforços para alcançar objetivos mais ambiciosos de combate à fome, até a completa eliminação do problema. “Somos a primeira geração que pode acabar com a fome, que tem atormentado a humanidade desde o nascimento da civilização. Vamos aproveitar esta oportunidade”, acrescentou. A premiação foi entregue em cerimônia na sede da FAO, em Roma, e teve a participação de vários chefes de Estado, entre eles os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, de Honduras, Porfirio Lobo, e do Panamá, Ricardo Martinelli.

duzir a fome pela metade e destacou as iniciativas regionais para garantir o acesso à alimentação. “Para todos e a cada um de vocês, eu quero dizer que vocês são a prova viva de que quando as sociedades decidem pôr fim à fome, e quando há o compromisso político dos governos, podemos transformar essa REVISTA AMAZÔNIA 29


O papa Francisco e a Jornada Mundial da Juventude 2013 Fotos: Fernando Frazão/ABr; Marcelo Camargo/ABr; Tomaz Silva/ABr; Tânia Rêgo/ABr

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Sumo Pontífice, bem disposto desceu as escadas do avião sorridente acenou para o público efoi recepcionado pela presidente Dilma Rousseff, pelo governador Sérgio Cabral, pelo prefeito Eduardo Paes, várias autoridades e pelo arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta. Ambos conversaram por alguns segundos. Em seguida, ele ganhou dois buquês de flores de uma jovem e, ao lado de Dilma e do arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, cumprimentou um a um os integrantes da comitiva que o aguardavam. Um coral com crianças e jovens de três paróquias do Rio saudou o líder maior da Igreja Católica com o hino da atual edição da Jornada Mundial da Juventude. Depois, cantaram uma música, em português, espanhol e inglês, com o refrão “Abençoa, abençoa, abençoa este povo que te ama, abençoa, abençoa, papa Francisco o teu povo abençoa”. O papa agradeceu o coral, que em seguida cantou a marchinha “Cidade Maravilhosa”. Por volta das 17h, o papa chegou à Catedral Metropolitana do Rio de 30 REVISTA AMAZÔNIA

Janeiro, onde trocou o veículo fechado em que estava pelo papamóvel. Pelo menos 10 mil pessoas aguardavam a chegada do papa. Enquanto Francisco trocava de veículo, fiéis o cercaram e gritavam “papa, eu te amo” e “a juventude é do papa”, entre outras coisas. De papamóvel, Francisco circulou por várias vias do centro, em meio à multidão de fiéis. Na avenida Graça Aranha, o pontífice beijou outra criança. A comitiva do papa Francisco é acompanhada por carros da Polícia Federal, da Guarda Municipal do Rio e da Polícia Militar No Largo do Machado, uma longa fila se formou para quem decidiu conhecer o Cristo Redentor. “Chegamos às 10h30, e já são 14h. Mas está valendo a pena”, dizia a estudante paranaense Bruna Rodrigues Brito, 17 anos. Choro, gritinhos e músicas católicas. Para um grupo de jovens jornalistas, que trabalharam como voluntários na cobertura da recepção do Papa, foi impossível conter a emoção ao vê-lo, pela TV de um celular, desembarcar em solo carioca. “Há um ano trabalhamos para esse momento. Me sinto abençoada por estar aqui”, disse Bárbara Mello.

No Palácio, lição de fé e humildade Uma lição de humildade e serenidade. Foi assim o primeiro pronunciamento do Papa Francisco em solo

A presidenta Dilma Rousseff recebe o papa Francisco, na Base Aérea do Galeão

brasileiro, numa cerimônia para 650 convidados no Palácio Guanabara, em Laranjeiras. O Santo Padre evitou polêmicas e direcionou sua fala aos jovens, sugerindo fé e esperança. “Cristo bota fé nos jovens, e os jovens botam fé na Igreja. A juventude é a janela pela qual o futuro entra. Ide e fazei discípulos”, disse o Pontífice, arrancando aplausos da revistaamazonia.com.br


Missa celebrada por dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, abriu a Jornada Mundial da Juventude, na praia de Copacabana

plateia. Antes de agradecer às autoridades presentes - a comitiva que a presidenta apresentou tinha mais de 15 integrantes dos governos federal, estadual e municipal -, o Papa deu seu recado: “Não tenho ouro nem prata, mas trago o que há de mais precioso: Jesus. Não quero outra coisa senão continuar esta missão”. O governador Sérgio Cabral não discursou, limitando-se apenas a cumprimentar o Papa e a presidenta. E o ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa não apertou a mão de Dilma. A cerimônia manteve a simplicidade, como fora pedido pelo Santo Padre. No palco, apenas duas poltronas, para ele e Dilma, além das bandeiras do Brasil e do Vaticano. O papa Francisco afirmou que Jesus Cristo abre espaço para os jovens porque eles “não têm medo de arriscar a única vida que possuem”. A declaração foi feita ao lado da presidente da República, Dilma Rousseff, no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro. No início do discurso, o pontífice argentino referiu-se aos brasileiros. “Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso bater no portal de seu coração”, afirmou Francisco, que disse ter vindo ao Rio “nos braços abertos do Cristo Redentor.” “Cristo abre espaço para eles [jovens], pois sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que desprende do coração dos jovens quando conquistados

Entrada dos símbolos da Jornada marcaram o inicio da cerimônia

pela experiência da sua amizade. Cristo ‘bota fé’ nos jovens e confia-lhes o futuro de sua própria causa: ‘ide, fazei discípulos”. Ide para além das fronteiras do que é humanamente possível e criem um mundo de irmãos. Também os jovens ‘botam fé’ em Cristo. Eles não têm medo de arriscar a única vida que possuem porque sabem que não serão desiludidos”, declarou o pontífice. O papa disse também que “a juventude é a janela pela qual o futuro entre pelo mundo” e se colocou na posição

Sob chuva fina e a temperatura baixa

Dom Orani e o Papa Francisco

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Falando em português, papa Francisco discursa no Palácio Guanabara

Recebendo a chave da cidade do Rio de Janeiro

O ministro do Turismo, Gastão Vieira, saúda o Papa Francisco

de “amigo” dos brasileiros. “Peço a todos a delicadeza da atenção para estabelecer um diálogo de amigos, e os braços do papa se alongam para abraçar a nação brasileira.” No final do discurso, o sumo pontífice citou expressões tipicamente brasileiras, como “menina dos olhos” e referiu-se a locais do país, como o Pantanal. O Papa enviou pelo Twitter mensagem de agradecimento pela maneira como foi recebido em “terra carioca”. “Obrigado! Obrigado! Obrigado a vocês todos e a todas as autoridade pela magnífica acolhida em terra carioca”.

O papa Francisco beija o pequeno Miguel enquanto circula a bordo do papamóvel pelas ruas do centro do Rio

Vim suplicar a Maria o êxito da Jornada Mundial da Juventude

A abertura da JMJ em Copacabana Na quarta-feira, 23, o início oficial da Jornada Mundial da Juventude, 400 mil pessoas se reuniram na Cerimônia de Acolhida, em Copacabana. A missa teve início às 19h30, logo após a cruz peregrina e a imagem de Nossa Senhora terem sido levadas ao altar. “Celebro na intenção daqueles que aceitam a mão estendida da igreja que quer lutar por um mundo novo”. “Rezo pelos jovens de

Santa Maria, pedindo mais segurança para todos”. Dom Orani também falou das chacinas da Candelária, em que crianças e adolescentes moradores de rua foram mortos no centro do Rio de Janeiro, e de Vigário Geral. “Pelos jovens exterminados pelo vício, pela violência e pela exclusão”, disse, deixando uma mensagem esperançosa: “Celebro por todos os que acreditam que um mundo O papa Francisco desfila no papamóvel pelas ruas de Aparecida

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novo é possível”. “Somos chamados a ser protagonistas de um mundo novo, um mundo que necessita de jovens como vocês”, disse dom Orani, que enfatizou: “Jesus Cristo é sempre atual, sobretudo para os jovens que buscam a verdade, a justiça e a paz.” “Vocês são chamados por uma sociedade que espera que sua crise de valores tenha uma solução.” A abertura foi inspirada no tema “Vinde e sigamos o mestre”. Depois da missa, o cardeal Stanislaw Rylko, presidente do Pontifício Conselho para Leigo, responsável pela organização das Jornadas Mundiais da Juventude, leu uma mensagem em português. “Cristo precisa de vós, jovens. Precisa da vossa fé jovem, cheia de alegria e de entusiasmo missionário. Cristo conta com cada um de vós”. Ele também deu as boas-vindas aos peregrinos. “Caríssimos jovens de todo o mundo. A JMJ do Rio começou. Digo mais uma vez a todos vós: bem-vindos ao Rio de Janeiro”. Disse ainda aos presentes que têm pela frente “dias inesquecíveis, dias de importantes descobertas, dias de escolhas decisivas”. Após a missa, os Correios lançaram o selo comemorativo da visita do papa Francisco. Ele traz o rosto do pontífice ao lado da paisagem do Rio de Janeiro, além da bandeira brasileira e do símbolo da JMJ. O secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, representou o papa no lançamento do selo. Ele estava acompanhado do arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, e do presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Wagner Pinheiro de Oliveira. revistaamazonia.com.br


10ª ExpoCatólica Aconteceu paralelamente à JMJ Rio 2013 contando com exposições, feiras e músicas religiosas. Eram mais de 100 mil m², em três grandes eventos – a feira católica, o turismo religioso e o Bote Fé. È a maior feira católica do País. O ministro do Turismo, Gastão Vieira, fez uma visita à Cidade da Fé – ExpoCatólica, sendo recebido pela diretoria da CNBB e pelo presidente do Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Turismo, Ronald Ázaro. Visitou os pavilhões da feira e foi homenageado pela CNBB pelo apoio e promoção ao turismo religioso no Brasil. Fez também um balanço sobre o turismo religioso no Brasil: “O Turismo Religioso merece atenção especial e apoio total do MTur. Este segmento também está presente nos 7% de crescimento do PIB do Turismo no país”. A visita terminou com uma visita aos 17 estandes dos estados com produtos voltados para o turismo religioso. Durante a visita Gastão Vieira, recebeu do nosso diretor Rodrigo Hühn, a revista Círios, disse que já a conhecia, fazendo os maiores e melhores elogios sobre a mesma. É belíssima – orgulha a todos nós brasileiros, aonde há homenagens à Nossa Senhora, em todo mundo.

Em Aparecida Na quarta-feira, 24, Antes da missa, no Santuário Nacional de Aparecida, o papa Francisco se dirigiu para a Capela dos Apóstolos, localizada atrás da imagem de Nossa Senhora Aparecida, onde fez uma pequena oração acompanhado de sacerdotes redentoristas e diocesanos, além da comitiva papal. Na primeira homília no Brasil, o papa Francisco trouxe três mensagens aos milhares de fiéis que acompanham sua visita ao país. “Devemos seguir três simples posturas: conservar a esperança, deixar se surpreender por Deus e viver na alegria”, disse o pontífice que reza a missa em português. A leitura escolhida para a celebração foi a passagem em que Jesus faz o seu primeiro milagre, ao transformar água em vinho. O pontífice destacou que diante das dificuldades enfrentadas é preciso seguir confiante da presença de Deus. Ele ressaltou ainda o fascínio que “o dinheiro, o poder, o sucesso e o prazer” exercem na vida, especialmente dos mais jovens. “Nossos jovens não precisam de coisas, mas, sobretudo, de valores imateriais, que são a memória de um povo, o coração de um povo”, declarou. O papa falou ainda da força da juventude como motor para a sociedade e para a Igreja. O santo padre citou a passagem lida no evangelho e a O papa Francisco abençoa a imagem de Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, em Aparecida (SP)

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história de Nossa Senhora Aparecida para destacar a importância de se deixar surpreender por Deus. Por fim, papa Francisco falou sobre a alegria que devem emanar os cristãos. “Os cristãos nunca devem estar tristes. Deus nos acompanha e temos uma Mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos. Se estivermos verdadeiramente próximos de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, isso contagiará quem estiver do nosso lado”, declarou. Lá o pontífice surpreendeu ao prometer voltar ao Brasil em 2017 – quando serão celebrados os 300 anos da descoberta da imagem de Nossa Senhora Aparecida no rio Paraíba.

Festa de Acolhida Na quinta-feira, 25, o papa discursou para um público estimado em 1 milhão de pessoas na Festa de Acolhida, na Praia de Copacabana, e elogiou : “Sempre ouvi dizer que os cariocas não gostam do frio e da chuva. Vocês estão mostrando que a fé de vocês é mais forte que o frio e que a chuva. Parabéns, vocês são verdadeiros guerreiros” O papa chamou a atenção para que os jovens não coloquem o dinheiro no centro de suas vidas e não acreditem que só o dinheiro e o poder trazem felicidade. Uma encenação que contou a história da evangelização católica no Brasil e uma mostra do Círio de Nazaré, começou, após o discurso de saudação do papa Francisco. Francisco viu a imagem de Nossa Senhora de Nazaré dentro da berlinda, além de um pedaço da corda, maior símbolo dos promesseiros que acompanham o Círio. Os jovens usaram roupas e objetos como tijolos, maquetes de casas e barcos para representar os devotos. Fafá emocionou o público ao interpretar “Eu sou de lá”, composição do padre Fábio de Melo sobre a maior festa religiosa do mundo e a padroeira dos paraenses, Nossa Senhora de Nazaré

Papa Francisco recebendo a réplica da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, no final da 10ª ExpoCatólica

O Ministro do Turismo Gastão Vieira, com a revista Círios, o jornalista Claudio Magnavita, membro do Conselho Nacional de Turismo e subsecretário de Turismo do Rio de Janeiro e o nosso diretor Rodrigo Hühn

No Palácio Guanabara, a presidente Dilma Rousseff presenteou o papa com uma pintura retratando a paisagem do Rio de Janeiro e com uma escultura de São Francisco de Assis

Antes de encerrar a participação na festa, o papa pediu que os jovens tenham fé. “Bote fé, que a vida terá um novo sabor. Bote fé, bote a esperança e bote amor, tudo junto”. Em seguida, visitou a Favela da Varginha, em Manguinhos, onde fez um dos discursos de cunho social mais importantes de seu pontificado. Lá, o papa atacou a estratégia de “pacificação” das favelas no Rio, alertando que, enquanto a desigualdade social não for resolvida, “não há paz duradoura” e convocou os Festa da Acolhida, na orla de Copacabana

Mostra do Círio para o Papa ver

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jovens a continuar pressionando por melhorias, em um sinal de seu apoio aos manifestantes que tomaram as ruas do Brasil desde junho. Depois, se reuniu com peregrinos argentinos.

Fafá de Belém canta a religiosidade do Pará para o Papa Francisco

Na sexta-feira, 26, pela manhã, ouviu a confissão de cinco jovens participantes da Jornada Mundial da Juventude, na Quinta da Boa Vista, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Três brasileiros, um venezuelano e um italiano se confessaram para o pontífice em um confessionário montado especialmente para o evento. Após se reuniu com menores infratores. No encontro, no Palácio São Joaquim, Francisco fez um alerta forte contra a

Ao encontrar Francisco, Oscar lhe deu a mão e se ajoelhou. O Papa então tocou em sua cabeça e lhe deu uma bênção

Fernando Frazão/ABR

Confissões e Via-Sacra

Jovens do mundo na Jornada Mundial da Juventude

de onde o papa Francisco presidia a cerimônia. A Via-Sacra reproduzida numa linguagem atual e abordando temas modernos agradou aos jovens - falou em namoro “do jeito certo” e de redes sociais, “uma possibilidade para construir relações verdadeiras”.

Vigília de Oração Papa abençoa a bandeira da Olimpíada de 2016

violência da polícia no Brasil. “Candelária nunca mais”, declarou, referindo-se à chacina cometida por policiais que deixou oito mortos em 1993. À noite, o papa deu início à celebração da Via-Sacra (simboliza o caminho percorrido por Jesus Cristo até ser sacrificado na cruz ), na Praia de Copacabana, Francisco cobrou jovens a mudar o mundo e confrontar políticos e desafios sociais. “Você é o que lava as mãos e vira para o outro lado?”, questionou o papa à multidão. A Via-Sacra foi encenada ao longo de 14 estações, sendo 13 delas montadas em cerca de um quilômetro no canteiro central da avenida Atlântica, retratados em cenários cariocas, como a Pedra do Arpoador e a Escadaria Selarón, na Lapa. A última estação foi apresentada no palco,

No sábado,27, a Vigília de Oração – considerada o ápice da programação oficial. Os jovens, ao longo do dia fizeram uma caminhada de 9,5 km, da Central do Brasil, no centro da capital, até a praia de Copacabana. A estimativa foi que 3 milhões de fiéis acompanharam a vigília. O ator Toni Ramos abriu a cerimônia da Vígilia de Oração da Jornada Mundial da Juventude, na Praia de Copacabana, com uma citação sobre a pessoa de São Francisco de Assis. Ele disse que São Francisco “respondeu a Cristo, em seu tempo, naquela época, e reconstruiu a Igreja Católica, criando um novo Petencostes. Os jovens, juntos ao Pontí-

A benção do Papa à Fafá

fice, se reuniram na noite de adoração, acompanhada ao vivo em dioceses do mundo inteiro por outros jovens que uniram-se espiritualmente na mesma oração. O papa Francisco chamou, em discurso, os jovens para serem “atletas de Cristo” e “protagonistas da mudança”.

Missa de envio Na manhã de domingo, 28, também na Praia de Copacabana, a missa de encerramento da Jornada, e público estimado em 3 milhões de pessoas. O Santo Padre, no papamóvel, passando entre as pessoas, num percurso que durou cerca de 50 minutos, acenou para os fiéis, beijou crianças, abençoou peregrinos e bebeu chimarrão após receber a cuia de um dos participantes da jornada. Antes da cerimônia, já sentado no palco, o Papa Francisco assistiu ao maior flash mob do mundo, preparado pela organização da Jornada Mundial da Juventude. Os passos da dança rapidamente se espalharam pela multidão e foram seguidos pelos bispos e cardeais no palco. Durante a celebração eucarística, que foi acompanhada

Chegando para a Vigília de Oração

Ex-dependente químico abraça o papa Francisco após discurso no Hospital São Francisco da Providência Divina, na Tijuca, Rio de Janeiro. O santo padre foi ao local para inaugurar ala de tratamento a pessoas que sofrem de dependência de drogas . Lá, condenou a liberalização do uso de drogas, chaga que favorece à violência e que semeia a dor e a morte e que exige da inteira sociedade um ato de coragem 34 REVISTA AMAZÔNIA

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pelos chefes de Estado Evo Morales, da Bolívia, Cristina Kirchner, da Argentina, e Dilma Rousseff, do Brasil, o Papa estimulou os jovens a levarem pelo mundo a experiência vivida durante a JMJ. “Foi bom participar nesta Jornada Mundial da Juventude, vivenciar a fé junto com jovens vindos dos quatro cantos da terra, mas agora você deve ir e transmitir esta experiência aos demais. Jesus lhe chama a ser um discípulo em missão! Hoje, à luz da Palavra de Deus que acabamos de ouvir, o que nos diz o Senhor? Três palavras: Ide, sem medo, para servir”, afirmou. Durante a missa de envio, como tradicionalmente ocorre nas JMJs, o Santo Padre anunciou a sede da próxima Jornada, que será realizada em Cracóvia, na Polônia, no ano de 2016. Terra natal do beato João Paulo II, Cracóvia é considerada a capital espiritual da Polônia, sendo um destino popular para peregrinos de todo o mundo. Já em encontro com o Comitê de Coordenação do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), atacou o abuso de poder na Igreja, a mentalidade de “príncipes” entre os cardeais, a inclusão de ideologias sociais no Evangelho tanto marxista como liberal - e fez uma denúncia frontal contra o carreirismo e contra a distância imposta pelos bispos aos fiéis. O papa Francisco apelou por uma Igreja “atual” e apresentou um raio X dos problemas que, segundo ele, estão impedindo o crescimento da Igreja e fazendo proliferar sua “imaturidade”. Antes de embarcar para Roma, o papa disse que continuará “a nutrir uma esperança imensa nos jovens do Brasil e do mundo”. O pontífice, que prometeu voltar ao País em 2017, concluiu o discurso com um “até breve”. O Papa Francisco, encerrou assim a primeira viagem internacional do seu pontificado.

A despedida do papa Francisco Na tarde do domingo, 28. “Parto com a alma cheia de recordações felizes; essas – estou certo – tornar-se-ão oração”, disse o Santo Padre em seu retorno a Roma. Após

O papa Francisco com Dom Orani, na despedida, “Até breve”

sete dias em terras brasileiras, em meio aos jovens, aos abraços em crianças e idosos, em meio aos sorrisos de alegria e olhares atentos dos que o viram, Papa Francisco deixou o Brasil, Um clima de evidente emoção tomou conta dos brasileiros durante a despedida do Sucessor de Pedro, que visitou o país em virtude da 28º Jornada Mundial da Juventude na cidade do Rio de Janeiro. “Neste momento, já começo a sentir saudades. Saudades do Brasil, este povo tão grande e de grande coração, este povo tão amoroso. Saudades do sorriso aberto e sincero que vi em tantas pessoas, saudades do entusiasmo dos voluntários. Saudades da esperança no olhar dos jovens no Hospital São Francisco. Saudades da fé e da alegria em meio à adversidade dos moradores de Varginha”, disse o Santo Padre. O Papa classificou como uma “semana inesquecível” os dias que passou no Brasil e agradeceu a todos os envolvidos na JMJ pela acolhida e pelo trabalho realizado. “Agradeço, enfim, a todas as pessoas que, de um modo ou de outro, souberam acudir as necessidades de aco-

lhida e gestão de uma multidão imensa de jovens, sem esquecer de tantas pessoas que, no silêncio e na simplicidade, rezaram para que esta Jornada Mundial da Juventude fosse uma verdadeira experiência de crescimento na fé. Que Deus recompense a todos, como só Ele sabe fazer!”. Durante a cerimônia, Francisco voltou a mencionar sua devoção a Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, e confirmou suas orações à Virgem Maria a favor da humanidade e dos brasileiros. “Pedi a Maria que robusteça em vocês a fé cristã, que é parte da nobre alma do Brasil, como também de muitos outros países.” Na cerimônia de despedida, estiveram presente o Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta; o Presidente da CNBB, Dom Raymundo Damasceno; o representante do Governo Federal e Vice-presidente da República, Michel Temer; o Governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral; o Prefeito da cidade do Rio, Eduardo Paes, além de outras autoridades. O voo com o Sumo Pontífice decolou do Aeroporto Internacional do Galeão.

Selo comemorativo do papa na JMJ

O selo traz a imagem do papa sorrindo e dando a bênção, tendo ao fundo as imagens da baía da Guanabara com destaque para o Cristo Redentor, do lado esquerdo. Do lado direito do papa está registrado o símbolo da JMJ 2013. Uma bandeira do Brasil tremula ao lado do papa, em primeiro plano. A arte do selo é de Fernando Lopes, que utilizou aquarela sobre papel para confeccionar a obra. Foram emitidos 1,2 milhão de selos, ao preço de R$ 1,80 cada, que podem ser adquiridos nas agências dos Correios ou na loja virtual da estatal.

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O futuro construído pelas marcas

Realizada pela primeira vez no Brasil, a conferência Sustainable Brands Rio apresentou casos concretos da força das corporações para promover transformações para um futuro sustentável por Rúbia Piancastelli e Fernando Badô

Fotos: Eduardo Magalhães

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roca de experiências, aprendizado, reflexões e inspiração. Ao longo de dois dias, profissionais de sustentabilidade e representantes de mais de 150 empresas nacionais e internacionais se reuniram no Rio de Janeiro na conferência Sustainable Brands Rio 2013. Entre 8 e 9 de maio, algumas das principais lideranças corporativas apresentaram iniciativas de transformação dos negócios por meio de empreendedorismo, engajamento, branding, mudanças de culturas, tecnologias limpas e outras inovações. O objetivo? Mostrar como o valor das marcas pode impulsionar um mundo mais sustentável. Foi a primeira vez que uma conferência da rede Sustainable Brands ocorreu no Brasil (leia mais no box a baixo). Cerca de 350 pessoas participaram de 16 palestras e 18 sessões temáticas, que contaram com 84 painelistas – 13 deles internacionais - que indicaram o rumo futuro dos negócios no Brasil e no mundo. “Conseguimos transmitir pela primeira vez, aos líderes de sustentabilidade no Brasil, o espírito dessa rede que Álvaro Almeida (Report Sustentabilidade), abre o SB Rio 2013

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Área expositiva, que reuniu participantes e stands de empresas participantes do SB Rio 2013

reúne milhares de profissionais de todo mundo dedicados a melhorar o jeito de se fazer negócios”, afirma Álvaro Almeida, organizador da SB Rio 2013 e diretor de Planejamento da Report Sustentabilidade, realizadora da Conferência. Os trabalhos foram marcados por um debate construCarol Piccin fala sobre a Matéria Brasil, presente na área expositiva da conferência

tivo de ideias, pela criação de conexões colaborativas e aprendizado a partir de experiências reais. “Nesse ano de estreia brilhou o poder da proposta: apresentar casos concretos de empresas e organizações que estão transformando a forma de se fazer negócios e construindo as marcas do futuro”, complementa Almeida. KoAnn Vikoren Skrzyniarz, fundadora do Sustainable Brands, no encerramento da conferência

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Da esq. para dir., Judi Cavalcante (Report Sustentabilidade), Dhaval Chadah (CriaPipa), Murilo Farah (Benfeitoria), Eduardo Ferreira (Itaú Unibanco)

Pessoas, planeta, prosperidade...e presença Um novo “P” deve ser adicionado à definição clássica de sustentabilidade: além de pessoas, planeta e prosperidade, a presença deve fazer parte do conceito, pois contextualiza melhor os tempos atuais. Essa é a opinião do cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, Silvio Meira, que também é presidente do Porto Digital, um pólo de desenvolvimento e economia criativa que agrega investimentos públicos, iniciativa privada e universidades, localizado em Recife. Meira se refere a participação ativa das organizações em redes sociais. Para ele, tal postura ativa, aliada a performance contínua nos outros três “Ps”, é o que permite

Denise Alves apresenta cases da Natura

Palestra de Fred Gelli (Tátil Design de Ideias) revistaamazonia.com.br

Da esq. para a dir., Solitaire Townsend (Futerra), Denise Hills (Itaú Unibanco), Susana Arbex (ATMA) e Priscilla Navarrette (Lume)

a construção da reputação. “O pensamento sistêmico funciona para a sustentabilidade e para as redes sociais”, afirma. Quem faz eco às ideias de Meira é Matthew Yeomans, diretor da Custom Communication, que esteve na SB Rio 2013 para lançar o estudo que avalia a comunicação da sustentabilidade por meios virtuais colaborativos, o Sustainability Social Media Index. “Quando se une sustentabilidade, redes sociais e comunicação, se consegue algo muito poderoso”.

Chaves para a nova economia Só há marcas sustentáveis em empresas sustentáveis, e isso está movendo as pessoas a buscar inovação, colaboração e empreendedorismo, pontos-chave para viabilizar oportunidades em uma nova economia e evoluir processos produtivos e modelos de negócios. A inovação pode estar ao nosso redor, em exemplos milenares. “O maior e mais rico departamento de pesquisa e desenvol-

vimento que conhecemos é a natureza”, afirmou o especialista em biomimética Fred Gelli, fundador da Tátil Design de Ideias. Desta fonte bebeu a TerpenOil, empresa que buscou uma base 100% orgânica para a fabricação de produtos de limpeza para indústrias e organizações a partir de substâncias naturais e fontes renováveis, desenvolvidas em parceria com a Universidade Federal do Ceará. “Fomos observar o funcionamento desses mecanismos para produzir produtos naturais. Nossa inspiração é o que deu certo na natureza”, afirmou Marcelo Ebert, CEO da empresa. Inovações também fazem parte da Natura há quase 10 anos, com o sucesso da linha Ekos, que transformou os ativos da biodiversidade brasileira na principal plataforma tecnológica da companhia e promoveu uma onda de transformação em todo o negócio. Dando um passo além, a empresa pré-lançou na SB Rio a nova linha SOU, composta por produtos concebidos com o mínimo de ingredientes (baixa ecotoxidade) e o máximo de aproveitamento (embalagens recicláveis que permitem o uso até a “última gota”), disseminando ainda o conceito do consumo consciente nas consultoras e consumidoras. Já empreender de forma colaborativa é uma tendência clara dos novos tempos, que promove desenvolvimento igualmente lucrativo e sustentável em termos sociais e

Bento Koike apresenta o case da Tecsis REVISTA AMAZÔNIA 37


O que é a rede SB? A conferência Sustainable Brands acontece desde 2004 nos Estados Unidos, sendo carro-chefe da comunidade internacional de aprendizagem e de ativação SB. O foco desta rede é compreender e alavancar o papel da marca na construção de um futuro próspero através do intercâmbio de conhecimento entre seus líderes. “Acreditamos que as marcas têm a capacidade única de disseminar ideias por meio da discussão de novas tendências culturais e pela sugestão de soluções que poderão responder efetivamente às novas demandas da sociedade”, completa KoAnn Skrzyniarz, Fundadora & CEO da Sustainable Brands Worldwide. Além do Brasil, a Turquia também sediou a conferência da rede em 2013, em Istambul. Também sediam conferências San Diego (EUA) e Londres. Para conhecer e participar, acesse www.reportsustentabilidade.com.br/sb ambientais. A Coca-Cola, com o case Projeto Coletivo, conecta atualmente 50 mil pessoas por todo o Brasil, 150 ONGs e 300 cooperativas, e tem crença na oportunidade existente nos processos de co-criação, experiências transformadoras e valores compartilhados, drives que norteiam o trabalho. “O que temos de legal neste projeto são as pessoas que participam dele e o valor que elas geram ao se conectar”, afirma Claudia Lorenzo, Diretora de Negócios Sociais da empresa e Diretora executiva do Instituto Coca-Cola Brasil. E claro, nada começa se não houver empreendedorismo, como mostrou Bento Koike, fundador da Tecsis, segunda maior produtora global de pás eólicas, que contribuiu com a viabilização econômica dessa fonte de energia. Realidade essa que possibilitou à empresa de bebidas

Brasil Kirin a anunciar o investimento em um parque eólico que irá suprir um terço da energia necessária para todas as fábricas da companhia no País.

Engajamento que gera soluções Tão importante quanto buscar novas tecnologias é engajar e formar arranjos que permitam o ganha-ganha. A HP, por exemplo, aproveitou a Conferência para apoiar o lançamento da Sinctronics, empresa que transformou a reciclagem de eletroeletrônicos em negócio, permitindo a ampliação de programas de reciclagem para outras corporações. Este é mais um ótimo exemplo de economia circular, chamada também de “cradle-to-cradle”. “Lixo é o resíduo que nós maltratamos”, resumiu o CEO da Novozymes, Pe-

Palestra de Fernando Chacon, do Itaú

Cláudia Lorenzo apresenta o case Coletivo Coca-Cola

Marcelo Ebert apresenta a Terpen Oil, empresa de base tecnológica orgânica

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dro Luiz Fernandes. É a conhecida máxima de que nada se perde, tudo de transforma. A novidade também está nessa transformação sendo pensada desde o início. Possibilidade de mudanças como essas abrilhantam os olhos de todos, principalmente dos jovens, ávidos por “propósito e transparência”, como mostrou Carla Mayumi, sócia-diretora da Box1824, agência que produziu e divulgou o estudo “O sonho brasileiro”, que procurou identificar a visão e o comportamento do jovem com relação ao país. Para ela, esses “jovens-ponte” questionam códigos que não fazem mais sentido, carregam nas veias a ideia de coletivo e fazem parte de uma sociedade que, junto das empresas, podem pautar o que está por vir. E o que está por vir certamente será assunto da já confirmada SB Rio 2014.

Kelly Semrau, CSO da SC Johnson

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Governo lança estudo inédito sobre recursos hídricos fronteiriços

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ono de 12% de toda água doce do planeta, o Brasil faz fronteira com dez países com os quais divide 83 rios, em oito bacias hidrográficas comuns. Para estudar melhor este patrimônio natural, a Secretaria de Assuntos estratégicos (SAE) da Presidência da República lançou a primeira publicação da Série Estudos Estratégicos, intitulada Água e Desenvolvimento Sustentável – Recursos Hídricos Fronteiriços e Transfronteiriços do Brasil. O trabalho foi apresentado pelo assessor de Desenvolvimento Sustentável da SAE, Bruno de Carvalho, durante o Seminário Green Rio, voltado para a produção orgânica, no Jardim Botânico do Rio. “O estudo trata do arcabouço legal e de tratados ratificados pelo Brasil em suas áreas de fronteira. Nós compartilhamos recursos hídricos com dez países. O objetivo é subsidiar o trabalho da Câmara Técnica de Gestão de Recursos Transfronteiriços, que vem se dedicando ao desenvolvimento de uma proposta de estratégia regioBruno de Carvalho, durante o Seminário Green Rio

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Durante o Seminário Green Rio, organizado pelo Planeta Orgânico

nal, para que se possa fazer o planejamento, gerenciamento e monitoramento dos recursos hídricos da fronteira”, disse. Segundo Carvalho, o Brasil busca a formulação de uma estratégia regional para melhor utilização dos recursos hídricos. “É um estudo pioneiro, porque agrupa todas as informações históricas e legais em um documento apropriado. Esta informação estava todo pulverizada e a SAE decidiu unir os dados e subsidiar o setor.” Carvalho disse que a intenção é fazer a tradução da publicação para o espanhol, para possa ser disseminada entre os demais países da região. “No Norte do Brasil estamos à jusante, ou seja, recebemos a água dos países vizinhos. E no Sul do país, estamos à montante, os países vizinhos é que recebem as nossas águas. Se não houver um esforço comum para se trabalhar esta questão, haverá um preço por isso.” A publicação teve colaboração do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), com apoio da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e da Agência Nacional de Águas (ANA). Ela pode ser lida ou baixada gratuitamente no endereço da SAE na internet: www. sae.gov.br REVISTA AMAZÔNIA 39


Fundo Amazônia começa a distribuir recursos para projetos de uso sustentável das florestas O objetivo é agrerar valor às atividades tradicionais realizadas na Amazônia e equilibrar desenvolvimento econômico e preservação dos recursos naturais

U

m ano após parceria firmada na Rio+20 para operacionalizar recursos do Fundo Amazônia, a Fundação Banco do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) firmaram recentemente, no Palácio do Planalto, os primeiros convênios com entidades da sociedade civil para a execução de projetos. O Fundo Amazônia capta doações para investimentos não reembolsáveis em projetos que auxiliem na proteção, conservação

e no uso sustentável das florestas no Bioma Amazônia. Ao todo, foram formalizados 18 projetos, no valor de R$ 15,4 milhões, em oito estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Mato Grosso e Tocantins. Entre os beneficiados estão agricultores familiares, extrativistas e povos indígenas. Participaram da cerimônia os ministros Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, e Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República. Segundo o presidente da Fundação Banco do Brasil, Jorge

Os ministros, Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, e o cacique Raoni 40 REVISTA AMAZÔNIA

Streit, a meta é aplicar R$ 100 milhões em projetos sustentáveis na Amazônia até 2016. Streit aponta a dificuldade para conseguir licença ambiental como um dos principais gargalos para a obtenção de recursos pelas associações. Para tentar resolver o problema, a fundação está abrindo um escritório em Manaus para atender a toda a região, com engenheiros ambientais e especialistas que vão assessorar as entidades na elaboração dos projetos. “Algumas vezes, os projetos não atendem a requisitos técnicos, e as associações tentam fazer ao seu modo. Em outros casos, elas [associações] não têm internet. O escritório vai ajudar associações de toda a região a resolver problemas no projeto e obter informações sobre licenciamento mais facilmente nos próprios estados”, disse Streit. Patxon Metuktire, do Instituto Raoni, que teve um projeto de aproximadamente R$ 1 milhão aprovado na área de extrativismo para a produção sustentável de artesanato, além de pequi, mel e óleo de copaíba em Mato Grosso, explicou que o projeto pretende capacitar e gerar renda própria para cerca de cinco etnias, com aproximadamente 5 mil índios no estado. Para ele, no entanto, o objetivo do Fundo Amazônia deve ser maior. “É preciso fortalecer o fundo para que ele possa, na prática, preservar a floresta e, principalmente, os rios. Queremos proporcionar renda à nossa população para não permitir, por exemplo, a entrada de madeireiros, que derrubam a floresta ilegalmente”, disse Patxon. A Cooperativa de Produtores Rurais Organizados para Ajuda Mútua (Coocaram) de Ji-Paraná, em Rondônia, que comercializa café e guaraná, tem 336 cooperados e receberá R$ 3 milhões para compra de veículos, equipamentos, construção de terreiros de secagem, assistência técnica, marketing e capacitações. Com os recursos, eles também vão trabalhar com castanha do Brasil, em parceria com povos indígenas e seringueiros. revistaamazonia.com.br


Raoni, assinando o convênio

“Com os recursos do fundo vamos consolidar a proposta do café orgânico na Amazônia ou do café sombreado, como é mais conhecido aqui. Vamos trabalhar as especificações, estruturar as cadeias produtivas e consolidar no mercado, além de levar o nome da Amazônia e do agricultor familiar para todos os países”, disse Leandro Dias Martins, gerente comercial da Coocaram, que desde 2010 exporta café para a Alemanha e a Itália. A escolha dos projetos pela parceria da Fundação Banco do Brasil com o BNDES foi feita por seleção pública. O principal requisito é a comprovação de sustentabilidade por meio da licença ambiental. Os projetos têm prazo de execução definidos e são acompanhados pelo Fundo Amazônia, que tem entre suas principais fontes de recursos o governo da Noruega, o Banco de Desenvolvimento da Alemanha e a Petrobras.

Durante o encontro Diálogos Governo - Sociedade Civil Patxon Metuktire, do Instituto Raoni, assinando o convênio

Programa Mesa Brasil completa 10 anos de atuação no Amazonas

O

Programa Mesa Brasil, no Sesc Amazonas, completa 10 anos de atuação em 2013 e celebra a data com resultados positivos no que diz respeito ao combate ao desperdício de alimentos. Durante esse período, foram mais de 8 mil toneladas de alimentos doadas às instituições beneficiadas. O Mesa Brasil é um programa de segurança alimentar e nutricional, que tem o objetivo de combater o desperdício de alimentos. É uma ponte, buscando alimentos onde sobra e doando aonde falta. Através de instituições parceiras, o programa recolhe doações e encaminha para instituições beneficentes do Estado, além de promover palestras e oficinas de combate ao desperdício de alimentos e atividades de incentivo à geração de renda. Durante os dez anos, mais de 9 mil pessoas foram atingidas pelas ações educativas no Amazonas. Atualmente, o Mesa Brasil atende a mais de 200 instituições distribuídas em Manaus, Manacapuru, Iranduba e Rio Preto da Eva. Uma das instituições parceiras de destaque do programa é a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), que através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) fornece alimentos oriundos da agricultura familiar no Estado. A parceria entre o programa e a Conab foi firmada em 2005. A companhia faz a doação de hortifrutis como banana, macaxeira, abacaxi, coco, abóbora, manga, pepino, cheiro-verde e feijão de metro. Também estão entre os principais parceiros do programa as empresas Danone, Churrascaria Gaúchos e Carrefour. O Mesa Brasil SESC é uma rede nacional de bancos de alimentos contra a fome e o desperdício. O programa está presente em todo o País. Seu objetivo é contribuir para a promoção da cidadania e a melhoria da qualidade de vida de pessoas em situação de pobreza, em uma perspectiva de inclusão social. No Amazonas, o programa foi criado no dia 22 de setembro de 2003. Através de instituições parceiras, o programa recolhe doações e encaminha para instituições beneficentes do Estado

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Oficinas de combate ao desperdício de alimentos e atividades de incentivo à geração de renda

Recolhendo as doações

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Bolsa de Valores Socioambientais capta recursos para projetos de ONGs A Bolsa de Valores Socioambientais (BVSA), programa da BM&FBovespa, apresenta em seu portal (www.bvsa.org.br) projetos de ONGs brasileiras, selecionados rigorosamente, para captação de recursos financeiros. Entre eles, o projeto: ASPRAVI Associação dos Produtores Agroextrativistas do Vale do Índio Carbono Neutro: Recuperando Áreas de Proteção Permanente com Sistemas Agroflorestaís O projeto deve recuperar 10 hectares de áreas de proteção permanente no projeto agroextrativista Novo Horiente, em Humaitá/AM, utilizando 4 mil mudas agroflorestais produzidas pela associação em viveiro próprio. Também pretende contribuir para a geração de renda de famílias assentadas no local por meio da produção de Açaí, Jatobá, Cumaru, Castanha do Brasil, Taperebá, Pupunha, Andiroba, Copaíba, Pequi, Cupuaçú e Cacau, entre outros produtos de valor comercial. O projeto agroextrativista Novo Horiente está localizado entre dois relevantes centros consumidores da região: Humaitá/AM e Porto Velho/RO. As famílias assentadas em Humaitá dependem hoje de culturas de subsistência e enfrentam sérias restrições de serviços e infraestruturas públicas, como escolas e postos de saúde. A região passa ainda por transformações significativas por causa da construção das hidrelétricas do rio Madeira e a recuperação da BR 319, atribuindo uma relevância adicional ao projeto ao apresentar uma alternativa econômica de baixo carbono que pode se converter em modelo para outras iniciativas na região. Além de recuperar áreas relevantes de florestas, o projeto contribuirá para melhorar a qualidade de vida das famílias que vivem no local ao proporcionar uma alternativa 42 REVISTA AMAZÔNIA

Carbono Neutro: Recuperando Áreas de Proteção Permanente com Sistemas Agroflorestais

Áreas degradadas sendo recuperadas com as seguintes espécies agroflorestais: Caju (Anacardium occidentale), Cumaru (Dipteryx odorata), Buriti (Mauritia flexuosa) e Castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa) revistaamazonia.com.br


de renda. Para atingir seus objetivos, a organização irá também realizar ações de educação ambiental e de divulgação da experiência. Número estimado de beneficiários diretos: 40 famílias assentadas Número estimado de beneficiários indiretos: 120 Local onde o projeto será implantado: município de Humaitá/AM A Aspravi - Associação dos Produtores Agroextrativistas do Vale do Índio Fundada em 2007, a ASPRAVI atua na área do projeto agroextrativista (PAE) Novo Horiente, iniciado em dezembro de 2007, no município de Humaitá/Amazonas. A organização busca ampliar o acesso a serviços públicos e infraestrutura no assentamento e implanta projetos próprios para geração de renda e melhoria da qualidade de vida das 40 famílias associadas. Missão: Promover a educação e preservação ambiental, com

Área degradada em recuperação com as espécies Andiroba (Carapa guianensis) e Açaí (Euterpe sp.) com recursos patrocinados pela Petrobras Ambiental Oficinas sobre Educação Ambiental realizadas com os assentados do PAE Novo Horiente

A Petrobras Ambiental irá patrocinar a Fase II do Projeto Casa de Vegetação, para que mais áreas sejam recuperadas. Além disso, a Bolsa de Valores Socioambientais – BVSA, também estará contribuindo na recuperação das áreas degradadas, garantindo assim a Sustentabilidade Ambiental no PAE Novo Horiente, no município de Humaitá/AM. Segue abaixo uma imagem de áreas que necessitam ser recuperadas

sustentabilidade, através do agroextrativismo, buscando sempre melhorar a qualidade de vida dos associados, com muita responsabilidade, e respeitando as leis ambientais. Equipe Técnica Presidente da Aspravi: José Dias; Coordenador Geral de Projetos: Murilo Leite Maciel; Coordenador de Campo: Andreson Oliveira Cardoso; Colaborador: José Martins Gomes Outros parceiros e financiadores: Petrobrás Ambiental, Bolsa de Valores Socioambientais BVSA, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas - IDAM, Universidade Federal do Amazonas (UFAM)/Instituto de Educação, Agronomia e Ambiente – IEAA. revistaamazonia.com.br

Coordenador Geral de Projetos da ASPRAVI vistoriando as mudas do viveiro do projeto Casa de Vegetação, com a presença do Presidente da associação

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7º Encontro de Jornalistas da Amazônia

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Fundação Banco do Brasil (FBB) promoveu recentemente na cidade de Manaus, no Estado do Amazonas, o 7º Encontro de Jornalistas da Amazônia, reunindo cerca de 100 profissionais da imprensa e dentre outras mídias das regiões Centro-Oeste, Sudeste e principalmente da região amazônica param debater a “Comunicação e Perspectivas do Desenvolvimento Sustentável”, tema central dessa edição, discutindo ainda, políticas públicas, inclusão sócioprodutiva, educação, juventude, protagonismo social, desenvolvimento territorial sustentável na Amazônia.

Panorâmica do evento Após a abertura oficial do evento foi exibido o vídeo “Encauchados de Vegetais da Amazônia”, Tecnologia Social vencedora do Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social em 2007. O vídeo mostra uma combinação, um mix de técnicas de saber popular, com tecnologias de uso industrial, simplificadas, que permite recuperar a importância econômica dos seringais. E assim, oferecer condições de sustentabilidade para as comunidades extrativistas da Amazônia, tecnologias como estas são de fundamental importância para conter os desmatamentos e o avanço da agricultura intensiva sobre a região. Iniciativas de conservação ambiental precisam levar em conta as populações e suas carências, de modo a incentivar cadeias produtivas seguras que não venham interferir no meio ambiente onde estas comunidades vivem. A técnica consiste na pré-vulcanização artesanal do látex e na adição de substratos naturais, formando um composto homogêneo que pode ser utilizado na fabricação. De bolsas, toalhas de mesa, embalagens, pinturas a mão com látex pigmentado em camisetas e artesanato, além de uma variedade de produtos e pequenos objetos. São implantadas unidades de produção, coletivas ou familiares, com toda a estrutura necessária, além de qualificação profissional e assistência técnica\tecnológica e comercial aos comunitários. Com tecnologias sociais como estas de caráter não-excludente, que melhoram a autoestima das populações locais, que desta forma conseguem gerar mais renda. E assim, resgatam o sentimento de respeito pela floresta e pela natureza. A tecnologia social Encauchados de vegetais da Amazônia, desenvolvida pelo Polo de Proteção da Biodiver44 REVISTA AMAZÔNIA

por Daniel Barbosa sidade e Uso Sustentável dos Recursos Naturais – POLOPROBIO também está sendo implantada em Terras Indígenas e Unidades de Conservação de Uso Sustentável. Os Encauchados de Vegetais são uma tecnologia de fácil transferência, pois utilizam técnicas artesanais e de saber popular. Os custos de produção são baixos e não é necessário uso de energia elétrica. E o mais importante desta tecnologia, é que ela está disponível para qualquer comunidade da Amazônia, pois ela pode ser reaplicada para aumentar a renda das famílias e ainda valorizar e proteger a floresta e a cultura local. Alguns dos resultados da reaplicabilidade desta Tecnologia Social, que é um dos principais fatores que estimulam sua divulgação pela Fundação Banco do Brasil: *1.225 postos de trabalhos gerados. 1.225 seringueiros residentes em Unidades de Conservação de Uso Sustentável, Projetos de Assentamentos da Agricultura Familiar e Reservas Particulares;

De acordo com Jorge Streit – Presidente da Fundação BB, o conceito de tecnologia social faz parte da agenda do governo e de outros setores da sociedade, como os movimentos sociais. Ele citou o papel da Fundação BB na identificação, certificação e reaplicação dessas tecnologias

Durante o 7º Encontro de Jornalistas da Amazônia

*625 Índios das Etnias: Baniwa, Desana, Kaxarari, Kaxinawá, Sateré – Mawé y Apurinhã, Shanenawa, Tapuya e Tukano; *48 unidades produtivas implantadas nos Estados do Acre, Amazonas, Rondônia e Pará; *30 novos produtos elaborados por meio de processos artesanais saudáveis; *25 vezes mais agregação de valor do que a borracha fabricada pelo processo tradicional. No dia seguinte, foi realizada uma visita às tecnologias sociais “Meliponicultura¨ e ¨ Criação de Peixes – em Canal de Igarapé Alterado”, que são aplicadas na localidade de Iranduba, situada na região metropolitana de Manaus. A tecnologia social da Meliponicultura consiste na produção de Mel, de abelhas brasileiras, desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Segundo Hélio Vilasboas, técnico do INPA, estas abelhas sem ferrão, produzem um mel de altíssima qualidade e são inofensivas. Na visita realizada a criação de peixes (Matrinxã e Tambaqui) em canais de Igarapés, chamado Canal Igarapé Alterado que permite manter os cardumes em pequenos canais, garantindo produção suficiente para suprir a necessidade anual de proteína e a geração de renda das famílias que utilizam o sistema. A técnica tem ajudado a despoluir os rios e foi certificada como tecnologia social em 2009. revistaamazonia.com.br


À tarde, debates em duas mesas temáticas, com diferentes entidades sociais representando o primeiro, segundo e terceiro setor. A primeira rodada discutiu as Tecnologias Sociais no Foco das Políticas Públicas, com a participação de Jorge Streit – Presidente da Fundação BB, Raimundo Nonato, representante da Secretaria Geral da Presidência da República e Denise Gutierrez, representante do INPA. Foi mediado pelo jornalista Silvio Caccia Bava, diretor do periódico Le Monde Diplomatique Brasil.

Os debatedores falaram de suas experiências sobre os temas propostos, apresentando aos jornalistas presentes, os diversos olhares sobre o desenvolvimento sustentável e a inclusão sócioprodutiva. Para o presidente da FBB, Jorge Streit, as tecnologias sociais também precisam ser mais exploradas pelos meios de comunicação. “O assunto começa a ser tratado em algumas esferas da sociedade que já se deram conta de que existe um modelo alternativo para solução Produtos produzidos pelo projeto Encauchados de Vegetais da Amazônia

Jorge Streit, presidente da Fundação BB, recebe do nosso diretor Rodrigo Hühn, uma edição da revista Amazônia

Na criação de Peixes, em Canal de Igarapé Alterado”, na localidade de Iranduba

de problemas. Nesse sentido, as tecnologias sociais são uma saída eficiente, fáceis de reaplicação e que podem, inclusive, se tornar políticas públicas”, afirmou. A professora Denise Gutierrez, do INPA, fez apresentação das várias tecnologias sociais que estão sendo aplicadas na Amazônia e, que estão contribuindo para o desenvolvimento sustentável da região. Além da geração de trabalho e renda para as populações do meio rural e urbano e da inclusão sócioprodutiva destas comunidades. A segunda mesa abordou o tema: Águas, Resíduos Sólidos e a Inclusão Sócioprodutiva, formaram à mesa: Wagner de Siqueira Pinto-Gerente executivo da Unidade de Desenvolvimento Sustentável do Banco do Brasil, Ary Moraes, do Ministério Trabalho e Emprego (MTE), Marcela Gonçalves – Assessora Técnica e Articuladora do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis no Estado do Amazonas, foi mediador da mesa Silvio Caccia Bava, diretor do Le Monde Diplomatique no Brasil. As Tecnologias Sociais aplicadas no aproveitamento sustentável dos recursos hídricos captados por intermédio da água da chuva – cisternas de placas, têm ajudado a minimizar os efeitos da seca e melhorado a vida das pessoas em algumas regiões do país, principalmente no

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O Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social foi criado em 2001, promovido a cada dois anos, a premiação certifica tecnologias sociais selecionadas segundo critérios de reaplicabilidade, efetividade da transformação social e interação com a comunidade. As tecnologias sociais certificadas pela FBB integram o Banco de Tecnologias Sociais (BTS), base de dados on-line disponível em www.fbb.org. br\tecnologiasocial, contendo informações sobre as tecnologias e instituições que as desenvolveram.

Jornalistas participantes do 7º Encontro de Jornalistas da Amazônia, da FBB

semiárido brasileiro. Os reservatórios cilíndricos captam a água da chuva no telhado das casas, caindo por gravidade nas cisternas – garantindo água potável e melhorando a qualidade de vida. A técnica foi certificada como tecnologia social em 2001 pela Fundação Banco do Brasil. O palestrante Dal Marcondes, criador do Portal Envolverde, falou à reportagem da revista Amazônia, sobre Questão Fundiária na Amazônia e sobre Resíduos Sólidos: “As questões fundiárias na Amazônia, os conflitos fundiários na Amazônia, estão entravadas pelo jogo de interesses na região, cujos vários atores envolvidos nestas questões têm suas prioridades, dificultando assim o apaziguamento nestas áreas”. Com relação aos Resíduos Sólidos, Dal Marcondes, comentou que até o final de 2012, todas as prefeituras tinham que ter apresentado um plano de manejo, porém poucas prefeituras fizeram isso. Até o final de 2014, as prefeituras têm que acabar os lixões, e substituir por aterros sanitários. A questão é perguntar às prefeituras: cadê seu plano de manejo? Cadê os recursos para eliminar os lixões? Existem recursos disponíveis no Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDS) e no Ministério do Meio Ambiente, caso não cumpram, as prefeituras serão penalizadas, ficando sem poder receber recursos e investimentos federais, até que cumpram o que ficou estabelecido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos. No último dia pela manhã, ocorreram duas mesas temáticas com as seguintes pautas: Educação, Juventude e 46 REVISTA AMAZÔNIA

Na mesa temática, Agenda Social e a Cobertura Jornalística os expositores Bráulio Costa Ribeiro – Gerente Regional de Rádios da Amazônia, Amélia Gonzalez – Portal G1, Ney Hugo – Fora do Eixo, mediador. Dal Marcondes – Elvolverde. Acerca desta temática o jornalista Dal Marcondes, deu sua opinião sobre o tema. “A discussão sobre o próprio desenvolvimento sustentável na Amazônia ainda passa muito pouco pela mídia. É preciso construir as pautas de tal maneira que chamem atenção desses veículos”, afirmou. A última mesa temática: Desenvolvimento Territorial Sustentável na Amazônia, teve os seguintes expositores. Gilberto Maia, Fundo Amazônia FBB|BNDS – Manaus, Carlos Durigan – Diretor do Programa Amazônia, WCS – Brasil, mediador Dal Marcondes, Envolverde, convidado: Eugênio Scannavino Neto, coordenador geral – Projeto Saúde e Alegria de Santarém (PA). Em seguida, o encerramento do evento. Gilberto Maia, coordenador do Fundo Amazônia em Manaus

Sérgio Sousa presidente da Associação de Criadores de Abelha do Amazonas também falou sobre a “Meliponilcultura” e da importância da soma de renda às famílias que trabalham com abelhas em Manaus

Protagonismo Social, com os expositores, Emerson Welber – Gerente de Comunicação da Fundação Banco do Brasil, Elisa Castro – Secretaria Nacional da Juventude e Tarcísio Ferreira – Coletivo Poraquê – Pará, e o mediador: Vitor Santana da ONG Contato de Minas Gerais.

O Polo de Proteção da Biodiversidade e Uso Sustentável dos Recursos Naturais – POLOPROBIO está sendo implantada em Terras Indígenas e Unidades de Conservação de Uso Sustentável revistaamazonia.com.br


Código de Mineração deve ter amplo debate com sociedade

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s comissões de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (CINDRA) e de Minas e Energia (CME) promoveram audiência pública na quarta-feira (7/8), para discutir o novo Código de Mineração (PL 5807/13). A proposta tramita com pedido de urgência constitucional e tranca a pauta de votações do Plenário. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse durante o encontro que a presidente Dilma Rousseff deve confirmar a retirada do pedido de urgência para que a proposta possa ser mais discutida com toda a sociedade. Na oportunidade, defendi que os debates sobre o Código de Mineração devem ser levados para as principais regiões produtoras de minérios. No meu estado, por exemplo, devemos trabalhar em parceria com a Assembleia Legislativa gaúcha para interiorizar as audiências públicas, proporcionando debates técnicos com especialistas no assunto.

CINDRA

Comissão da Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia

E assim deve ser em outras regiões, em especial na Amazônia, cujo subsolo nos reserva uma riqueza sem precedentes. O projeto de código, enviado pelo Executivo em junho, substitui a atual legislação, considerada ultrapassada, burocrática e centralizadora. A proposta recebeu 372 sugestões de emendas dos deputados. Ouvimos do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que a nova legislação vai criar ambiente favorável para os investimentos e a competitividade do setor. O texto cria o Conselho Nacional de Política Mineral e transforma o Departamento Nacional de Produção Mineral em Agência Nacional de Mineração. Questionado por deputados quanto a eventuais riscos às atuais concessões do setor, Lobão foi enfático ao garantir o respeito aos contratos vigentes. Não há porque mudar a decisão legal dos marcos regulatórios existentes. Haverá uma transição sem ferir contratos assinados. A expectativa é de que a arrecadação da contribuição vai dobrar com o novo código, mas será mantida a distribuição de 65% para os municípios onde ocorre a lavra, 23% para os estados, e 12% para a União. Temos o dever de diversificar a exploração dos nossos minérios. Hoje, apesar da mineração responder por 25% das exportações brasileiras, o setor está muito concentrado no minério de ferro, que responde por 90% da pauta exportadora. Com o novo Código de Mineração, esperamos diversificar e ampliar essas exportações. Deputado Jerônimo Goergen, presidente da Comissão Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (CINDRA, no plénário da Câmara dos Deputados, em Brasília

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Enfim, o linhão Tucuruí-MacapáManaus A operação conecta a capital do Amazonas ao sistema interligado nacional Fotos: Divulgação/Ascom MPOG, Divulgação Ibama, Isolux Corsán

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pós quatro anos de obras, entrou em operação a linha de transmissão linha de Transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus permitindo a integração dos estados do Amazonas, Amapá e do oeste do Pará ao Sistema Interligado Nacional (SIN), encerrando o isolamento energético das duas capitais e deve se traduzir em alívio para o bolso de todos os brasileiros. Com aproximadamente 1.800 quilômetros de extensão total em tensões de 500 e 230 kV em circuito duplo, passando por trechos de florestas e atravessando o Rio Amazonas, foi energizada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Já este ano, a economia com a redução do consumo de diesel por térmicas na região deverá ser de R$ 1,9 bilhão. Por se tratar de uma obra complexa e realizada predominantemente na floresta amazônica o projeto foi compatibilizado com as orientações do órgão ambiental, buscando mitigar os impactos ambientais decorrentes, tais como alteamento de torres, uso de estruturas autoportantes e adoção de apenas picada para lançamento de cabos. Foram avaliadas várias alternativas para o traçado da linha para encontrar a que ofereceria menor impacto ambiental. Inicialmente foram consideradas seis opções. O tipo de vegetação e o uso do solo foram pontos decisivos na escolha.

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Torre com 280 metros de altura

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Quando havia interferência em áreas legalmente protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação, foi feita mudança no traçado. Outro ponto importante do projeto foi a travessia de rios. O Amazonas, por exemplo, chega a ter até dez quilômetros de largura em alguns pontos. O sistema permite acrescentar um terceiro circuito à linha no futuro, usando o mesmo corredor. Conhecido no mercado como Linhão de Tucuruí, o sistema foi licitado em 2009 e as primeiras torres de transmissão instaladas em 2011. Seu início de operações, recentemente, põe fim ao sistema isolado de Manaus, que era abastecido por usinas térmicas movidas a combustíveis fósseis e com custo subsidiado por todos os

Mitigando os impactos ambientais

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consumidores de energia brasileiros. O primeiro e mais importante impacto é uma diminuição considerável dos gastos com térmicas. O projeto da interligação faz parte do Programa de

Expansão de Transmissão (PET) 2008-2012, desenvolvido com o objetivo de levantar as obras necessárias à expansão da rede básica. O “linhão” integra o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. No ano passado, o país gastou R$ 4,7 bilhões com o subsídio à geração de energia em sistemas isolados. Para este ano, já considerando o início das operações do Linhão, a conta cai para R$ 2,84 bilhões. A tendência, segundo especialistas, é de queda nos próximos anos, uma vez que o cálculo de 2013 considera Manaus isolada por seis meses. Agora conectada, a região metropolitana da capital do Amazonas era responsável por 60% do consumo de energia por sistemas isolados no Brasil. O custo da geração térmica nesses sistemas é pago por meio da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) que, no início do ano, foi absorvida pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), outro encargo cobrado nas contas de luz. Atualmente, o Tesouro tem antecipado parte dos recursos ao setor, como forma de compensação pela redução no preço da energia estabelecido por lei no início do ano. Além da economia, há ganho do ponto de vista ambiental, com a substituição da geração a combustíveis fósseis por energia renovável, gerada por hidrelétricas em outras regiões do país. “A conclusão das obras representa um grande salto de qualidade no fornecimento de energia para a região”, diz o professor Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ (Gesel). O sistema energético brasileiro funciona como uma grande rede, com linhas de transmissão ligando todas as regiões e permitindo a troca de energia de acordo com as condições de segurança dos reservatórios de hidrelétricas. Com a conexão de Manaus ao Sistema

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Quase do tamanho da Torre Eiffel

Para atravessar os 2,5 quilômetros de largura do Rio Amazonas

Interligado Nacional (SIN), o Plano Anual de Operação dos Sistemas Isolados da Eletrobras prevê a desativação este ano de quatro térmicas movidas a óleo. A tendência é que novas usinas sejam desligadas nos próximos anos, de acordo com a evolução da capacidade do linhão de Tucuruí e do vencimento de contratos. Com abundância de gás natural, o estado manterá em operação usinas movidas por esse combustível. Historicamente, havia dois grandes sistemas isolados: Acre/Rondônia, que foi interligado em 2009; e Manaus/ Macapá, que começa a ser conectado agora. De acordo

com o ONS, no primeiro dia de operação, a região metropolitana de Manaus teve um consumo médio de 897 MW, que passam a fazer parte das estatísticas do consumo de energia do SIN. Além disso, o sistema passa a contar também com a capacidade de geração da região, que conta com sete térmicas a gás natural e óleo, com 778 MW de capacidade, e com a usina hidrelétrica de Balbina, com 250 MW. Além de Manaus, foram interligados ao sistema também os municípios amazonenses de Presidente Figueiredo, Iranduba, Manacapuru e Rio Preto da Eva, segundo o boletim diário de operação do ONS. Com a travessia de centenas de quilômetros de mata fechada e de rios como o Amazonas, as obras do Linhão foram dificultadas por restrições de acesso - torres tiveram que ser levadas de helicóptero aos locais onde seriam instaladas - e de licenciamento ambiental. Para conseguir atravessar os 2,5 quilômetros de largura do Rio Amazonas, foram construídas duas torres com 280 metros de altura, quase do tamanho da Torre Eiffel, em Paris. As torres sobre a floresta

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Fórum Mundial de Meio Ambiente, defende conscientização ambiental Em Foz do Iguaçu, ativistas ambientais, autoridades, pesquisadores, representantes de ONGs e empresários defenderam maior reflexão sobre os hábitos de consumo com o objetivo de proteger o meio ambiente

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Fórum Mundial de Meio Ambiente, realizado pelo LIDE – Grupo de Líderes Empresariais, em Foz do Iguaçu, foi palco de debates intensos e um claro convite à sociedade para repensar os atuais hábitos de consumo em busca da preservação do meio ambiente. Sob o tema “2013: Ano Internacional da Cooperação pela Água” foram realizados quatro painéis e seis workshops, com a participação de 405 empresários, além de ativistas ambientais, autoridades, pesquisadores e representantes meio de um programa de incentivo financeiro, com pagamento por resultados. O objetivo do pacto é promover a de ONGs. Na abertura do Fórum, Roberto Klabin, presidente do LIDE articulação entre União e estados pelo uso sustentável dos Sustentabilidade, e Pedro Passos, presidente do SOS Mata recursos hídricos do País. Atlântica, entregaram um manifesto pró Parque do Iguaçu Para o governador do Paraná, Beto Richa, “a escolha da para Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, e para cidade-sede, Foz do Iguaçu, famosa por suas espetacuBeto Richa, governador do Paraná. A ministra se colocou lares cataratas, foi a mais acertada para discutir a coopetotalmente contra a reabertura da Estrada do Colono, que ração em torno da conservação de água”. Richa também corta o Parque Nacional do Iguaçu. “Não preciso reabrir a apresentou projetos de preservação do meio ambiente estrada para promover o desenvolvimento sustentável do por meio de uma “agenda verde”, entre eles o investiParaná”, afirmou, complementando que um dos parques mento de R$ 53 milhões em um sistema de prevenção mais importantes do planeta e referência do País, além de de desastres naturais que possibilitará uma previsão de protegido internacionalmente como Patrimônio Natural três dias de adiantamento. da Humanidade, não deveria ser exposto a uma agressão como essa. Em seguida, João Doria Jr., presidente do LIDE, convidou Luiz Eduardo Cheida, secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Paraná, Vicente Andreu, presidente da ANA – Agência Nacional de Águas, o governador Beto Richa e a ministra Izabella Teixeira a assinarem o Pacto Nacional pela Gestão das Águas, uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente e da ANA em prol do fortalecimento da gestão das águas nos estados brasileiros, por Na abertura do Fórum,

Segurança hídrica No painel “A crise global da água”, o presidente do Conselho Nacional da Água, Benedito Braga, falou sobre a necessidade de se garantir a segurança hídrica no País, nas esferas humana, socieconômica e ecológica, dando acesso a uma água de qualidade e em quantidades imprescindíveis para os seres humanos. “Prover segurança hídrica à população é obrigação do Estado. As soluções técnicas nós temos, mas a questão é política, necessita de recursos financeiros”, ressaltou Braga. Ele também frisou a importância da articulação entre vários setores da sociedade para se traçar uma política eficiente sobre as águas, que ajude a melhorar a qualidade de produção, a distribuição e a redução do risco de catástrofes. Para Robert F. Kennedy, ativista e advogado especializado em direito ambiental, que participou do painel “Gestão da água no Brasil e no mundo”, a privatização é a pior questão que enfrentamos atualmente. “A água deveria ser um direito para todos os seres humanos, mesmo para quem não tem condições de pagá-la”, afirmou. Ele acredita que o capitalismo de livre

em Foz do Iguaçu

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João Doria Jr., Beto Richa, Gov. do Paraná, Izabella Teixeira e Fábio Feldmann

mercado é a melhor solução, mas tem que ser manejado com um interesse social, senão as futuras gerações vão pagar pelos nossos erros e exageros. E defende: “Devemos encorajar o uso mais racional da água, mas não podemos restringir o uso pela população mais pobre por meio de taxações”. Jean-Michel Cousteau, oceanógrafo, ambientalista, ecologista, educador, fundador e presidente da Ocean Futures Society, chamou a atenção dos presentes sobre o fato de que há apenas um sistema de água no mundo e todos dependem dele. “O momento é crítico. Precisamos encontrar soluções para proteger os seres vivos do planeta”, afirmou durante o painel “Serviços Ambientais dos Oceanos”. Costeau vê boas oportunidades de negócios ao se gerenciar o planeta da mesma forma como gerenciamos empresas. O Brasil, segundo ele, tem a chance de ser o grande exemplo, o líder a convencer outras nações a proteger o meio ambiente.

Crise civilizatória A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, defendeu as recentes manifestações populares e afirmou que “está surgindo um novo sujeito político, fruto de uma atualização da comunicação, do uso das tecnologias”. Para ela, a internet está contribuindo para revolucionar a cultura, os negócios, a informação e não

Ex-ministra e ex-senadora Marina Silva, Marina Silva disse que o Brasil reúne as melhores possibilidades para enfrentar essa crise e fazer a quebra de paradigmas, uma vez que é um País industrializado, com uma base de conhecimento tecnológico, detentor de 22% das espécies vivas do planeta, 11% da água doce do mundo e 45% de matriz energética limpa revistaamazonia.com.br

forma explícita as ruas. “Aqueles que foram contra Belo Monte e contra o Código Florestal certamente estão nessas manifestações”, diz. A Carta de Foz do Iguaçu, produzida pelos participantes e lida no encerramento do evento, reuniu as conclusões gerais do Fórum, está na íntegra na página ao lado. “Fico muito satisfeito com as discussões que tivemos durante este Fórum, de um nível ainda mais elevado do que nas edições anteriores, e deixamos como legado recomendações concretas para caminharmos rumo a um Brasil mais sustentável”, afirmou ao término, João Doria Jr., presidente do LIDE.

Fórum encerra com a Carta de Foz do Iguaçu

Izabella Teixeira, ministra de Meio Ambiente, se colocou totalmente contra a reabertura da Estrada do Colono, que corta o Parque Nacional do Iguaçu

seria possível creditar que a política continuaria a ser feita da mesma forma. “Tentaram desqualificar os movimentos virtuais dizendo que eles ficariam restritos à internet, mas era só uma questão de tempo para ele transbordar para o presencial, como ocorreu recentemente”. Segundo ela, essa crise política nada mais é do que a necessidade de uma atualização. As pessoas não querem mais ficar no lugar de impotência em que foram colocadas. Na palestra “Os desafios do desenvolvimento sustentável e não sustentado”, Marina Silva disse que o Brasil reúne as melhores possibilidades para enfrentar essa crise e fazer a quebra de paradigmas, uma vez que é um País industrializado, com uma base de conhecimento tecnológico, detentor de 22% das espécies vivas do planeta, 11% da água doce do mundo e 45% de matriz energética limpa. Pode, portanto, fazer essa transformação de uma maneira produtiva, criativa e livre e pensar novos projetos identificatórios. Quando questionada sobre a ausência de reinvindicações relacionadas ao meio ambiente durante as manifestações, Marina respondeu que a ideia da defesa do meio ambiente já é um conceito intrínseco a esses grupos, por isso eles não vão incluir essa questão de uma

Como resultado dos debates realizados, os participantes manifestaram o seguinte: Considerando o preocupante estado ambiental do Planeta, que alcança níveis alarmantes de degradação e que já ultrapassou ou está prestes a ultrapassar os limites ecológicos e a capacidade de recuperação e resiliência dos oceanos, florestas e rios; Considerando a alarmante situação da maior parte dos biomas, cuja degradação põe em risco o provimento de serviços ambientais essenciais para a prosperidade das sociedades humanas, incluindo tanto o crescimento econômico quanto a redução da pobreza e da desigualdade social; Considerando a crescente escassez e poluição de recursos hídricos, vitais às grandes cidades, à produção agropecuária e à preservação da saúde humana; Considerando o crescente engajamento de toda a sociedade global na agenda de sustentabilidade, incluindo a sociedade civil, os consumidores, as empresas, as organizações não governamentais, as instituições de pesquisa e ensino e os órgãos de governo; Fico muito satisfeito com as discussões que tivemos durante este Fórum, afirmou ao término, João Doria Jr., presidente do LIDE Benedito Braga, Presidente do Conselho Mundial das Águas

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Nelton Friedrich, diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu, apresentou o bem-sucedido modelo de gestão dos recursos hídricos na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná

Na opinião de Robert F. Kennedy Jr., a privatização é a pior questão que enfrentamos em relação à água atualmente

Jean-Michel Cousteau, deseja passar o máximo de informações para os mais jovens, para que eles façam melhores escolhas para o futuro

Benedito Braga, Presidente do Conselho Mundial das Águas

Considerando a necessidade de mudanças radicais nos atuais padrões de produção e consumo, com o objetivo de reduzir a pegada ecológica e promover a inclusão social; Considerando que a velocidade das mudanças ainda está lenta, diante da urgência de mudança radical no estilo de desenvolvimento dos países, estados e municípios; bem como das empresas privadas e sociedade civil. A partir dessas considerações, o Fórum Mundial de Meio Ambiente propõe: 1. Uma profunda reflexão a toda a sociedade global, acerca dos seus hábitos e padrões de produção e consumo, visando ao apoio a sistemas de produção de menor impacto ecológico e com maiores benefícios para a redução da pobreza e da desigualdade social. 2. A adoção de boas práticas socioambientais por empresas, empreendedores e produtores privados, com o objetivo de reduzir o impacto ecológico e aumentar os benefícios sociais dos seus sistemas de produção. 3. A proteção a estuários marinhos, manguezais e oceanos, por meio de políticas públicas, campanhas de educação e legislação específica no âmbito federal, estadual e municipal. 4. A formulação e implementação de políticas públicas inovadoras e ousadas por parte dos governos nacional 54 REVISTA AMAZÔNIA

(federal) e subnacionais(distrital, estadual e municipal), que garantam a proteção de mananciais, distribuição eficiente e equitativa de recursos hídricos e o acesso integral à água e a saneamento para toda a população do País em curto prazo. 5. O fomento à inovação tecnológica, voltada para catalisar mudanças nos atuais sistemas de produção e consumo, em todas as escalas; do global ao nacional e subnacional. 6. O estímulo ao engajamento de todas as sociedades do Planeta, nas diferentes escalas, voltadoao desenvolvimento e implementaçãode soluções criativas para a promoção do desenvolvimento sustentável. 7. O apoio para a definição e adoção dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, aprovados na Rio+20 pela ONU, e que devem servir de bússola para a humanidade se orientar quanto aos caminhos do seu desenvolvimento no período de 2015 a 2030. 8. Que o empresariado brasileiro, a sociedade civil e seus representantes políticos envidem os esforços necessários para a urgente aprovação da legislação sobre pagamento por serviços ambientais, bem como a consolidação e fortalecimento da agenda ambiental e de proteção dos direitos das minorias – inclusive dos indígenas. 9. Que o Paraná, como sede do evento, amplie seus compromissos com a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável, alinhando todas suas políticas setoriais com esse objetivo. 10. Que os países vizinhos ao local desse evento - Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil -ampliem a cooperação técnica, financeira e institucional, com o objetivo de implementar programas e projetos voltados à conservação ambiental e ao desenvolvimento sustentável.

Recomendações complementares Considerando a gravidade das mudanças climáticas e a urgência de adoção de medidas para mitigação e adaptação; Considerando a importância deste Fórum Mundial de Meio

Ambiente para o avanço da agenda ambiental brasileira; Plataforma de Ações Imediatas do Fórum Mundial de Meio Ambiente: 1. Não criação da Estrada Parque entre Serranópolis e Capanema, cruzando o Parque Nacional do Iguaçu, e a manutenção da vazão constante do Rio Iguaçu, por meio de uma operação integrada entre as cinco hidrelétricas já implantadas e a UHE Baixo Iguaçu; 2. Aprovação no Congresso Nacional do projeto de lei de Pagamento por Serviços Ambientais antes da Copa do Mundo de 2014, constituindo uma força tarefa para identificar mecanismos de financiamento de PSA envolvendo o LIDE Sustentabilidade, o LIDE Agronegócios e o LIDE Economia; 3. Criação de incentivos tributários para os serviços de saneamento, incluindo a retirada da cobrança do PIS e Cofins; 4. Estabelecimento de uma aliança pelos oceanos, congregando empresas, governos e a sociedade civil, com a meta de ampliar as ações de conservação marinha e educação da sociedade em geral sobre as ameaças aos oceanos; 5. Desenvolvimento e adoção de métricas claras e objetivas para melhoria constante da gestão ambiental e da sustentabilidade nas esferas privada e pública; 6. Aceleração da implantação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, dando especial atenção à eliminação dos lixões até 2014 e à inclusão das cooperativas de catadores de lixo nos processos de logística reversa; 7. Estimular sistemas de produção agropecuária que reduzam o uso de agrotóxicos e sua toxicidade; 8. Estabelecimento de um mecanismo claro de relacionamento econômico entre a conservação e a ampliação de florestas e a geração e o consumo de água; 9. Estabelecimento de um diálogo nacional sobre as obras do setor elétrico no País, em especial no que tange à construção de novas barragens na Amazônia; 10. Diálogo com os movimentos de protestos que ocupam as ruas brasileiras, visando à valorização política da agenda ambiental. Foz do Iguaçu, junho de 2013 revistaamazonia.com.br


Práticas exemplares no alcance dos objetivos do milênio serão premiadas Fotos: Daniel de Castro/PNUD Brasil e Wilson Dias/Abr

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s Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), apesar de serem de âmbito global, precisam do envolvimento direto dos atores sociais locais para seu cumprimento. No Brasil, esta ideia foi assimilada e traduzida em diversas iniciativas, tanto de organizações sociais quanto do poder público, que atuaram dentro das particularidades de cada região na busca coletiva do cumprimento das metas assumidas com os ODM. Dentre as inúmeras iniciativas, aquelas que mais impactaram na sociedade são distinguidas com o Prêmio ODM, que está em sua 5ª edição. Coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência da República, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Movimento Nós Podemos, o Prêmio ODM foi o primeiro no mundo a destacar as ações diferenciadas de governos locais e organizações da sociedade civil. Até a última edição do Prêmio, em 2011, mais de 5 mil projetos foram apresentados, dos quais 80 foram premiados. A premiação nasceu não apenas para reconhecer e valorizar as práticas diferenciadas na esfera dos ODM, mas também para a criação de um banco de ações que reúna os melhores exemplos espalhados pelo país, visando incentivar a sociedade e os gestores públicos a reproduzir, adaptar e disseminar estas ações. Durante a evolução do Prêmio, foram criados núcleos catalisadores dos ODM em todos os estados do país. Na úlNo lançamento da 5ª edição do Prêmio Objetivos do Milênio (ODM) Brasil

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tima edição, em 2011, foram criados os núcleos municipais do Movimento Nós Podemos na maioria dos estados brasileiros, com destaque para Rondônia, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Alagoas, Pará, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Pernambuco, Ceará e Espírito Santo.

5ª Edição A caravana pelos 27 estados para a promoção da 5ª edição do Prêmio ODM teve início em maio e se estendeu até meados de julho. Durante estas visitas, a equipe organizadora do Prêmio rodou o país realizando seminários de divulgação em todas as capitais e também em outros cinco municípios do país. É a primeira vez que os

seminários de divulgação do Prêmio sairam das capitais dos estados, uma iniciativa que busca reforçar a necessidade de municipalização dos Objetivos do Milênio. Muito embora o Brasil, na média nacional, esteja alcançando as metas, ainda há desequilíbrio de metas a serem atingidas nos níveis regionais e municipais. Dentre todas as práticas que se inscreverem nesta 5ª edição, 60 delas serão escolhidas e destacadas como semifinalistas e receberão a visita de técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e de representantes de Ministérios. Destas 60, as 30 melhores iniciativas em prol dos ODM serão escolhidas e premiadas. Os critérios utilizados nesta escolha são: a contribuição para o alcance dos ODM; o impacto no público atendido; a participação da comunidade; a existência de parcerias; o potencial de replicabilidade; a complementaridade e/ ou articulação e integração com outras políticas públicas. Todas as 60 selecionadas receberão um certificado que comprova sua contribuição para as metas dos ODM, enquanto as 30 finalistas receberão um troféu e entrarão para a galeria de práticas vencedoras do Prêmio ODM. Toda e qualquer organização social, pública ou privada, ou entidade municipal, podia inscrever sua experiência no Prêmio. Para concorrer, era necessário preencher a ficha de inscrição no site do prêmio. O prêmio é dividido em duas categorias: Governos Municipais – para destacar as melhores políticas públicas que contribuem com os ODM implantadas por prefeituras – e Organizações – para prestigiar práticas que colaborem para alcançar os ODM implantadas por associações da sociedade civil, setor privado, fundações e universidades.

Seminário ODM realizado em Manaus (AM), com presença de representantes da sociedade civil, de prefeituras e do governo estadual

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IBEF certifica e premia cases em Sustentabilidade Em sua terceira edição, o projeto recebeu o maior número de cases de empresas que adotam práticas sustentáveis Fotos: Juliana Gueiros

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conteceu no último dia 30/07, em evento no Jockey Club Brasileiro, no Rio, premiação e certificação das empresas vencedoras do Prêmio IBEF de Sustentabilidade, criado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF), em parceria com a Petrobras, SEBRAE, Deloitte e Oi, para laurear empresas que se destacam pela adoção de práticas sustentáveis. As empresas que receberam o prêmio em cada categoria foram: Petrobras Distribuidora, na categoria Administração de Conflitos; Grupo Segurador Banco do Brasil e MAPFRE em Estrutura da Operação; na categoria Gestão, Sá Cavalcante levou o prêmio; Votorantim Industrial (VID) ganhou na categoria Governança; e em Valorização, Correios levou o prêmio. As vencedoras como micro e pequenas empresas foram: AgroTools (Administração de Conflitos), Sáude Criança (Estrutura da Operação), i9Brasil (Gestão), E-Ambiental (Governança), Reserva Real (Valorização). A Banca Examinadora do projeto, formada por executivos e acadêmicos de reconhecida atuação em suas respectivas áreas, analisou os 82 cases recebidos levando em consideração os requisitos da Metodologia do Pentágono em Sustentabilidade, com base no livro “Avaliação Na solenidade de premiação das empresas que adotam práticas sustentáveis

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Marcos Varejão, vicepresidente IBEF Nacional

de Investimentos Sustentáveis”, de autoria de Marcos Rechtman e Carlos Eduardo Frickmann, Professor da UFRJ. Foram selecionados 25, todos certificados durante o evento. A premiação contou com a participação de cerca de 350 convidados, entre autoridades, empresários, executivos, homens públicos, acadêmicos, profissionais liberais e jornalistas. Durante a oportunidade, o público conferiu um espetáculo, cujo tema ressaltou a importância da IBEF em confraternização com os vencedores

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Durante o Prêmio IBEF de Sustentabilidade no Jockey Club Brasileiro

Vencedor categoria Administração de Conflitos: Petrobras Distribuidora

Vencedor categoria Estrutura da Operação: Grupo Segurador Banco do Brasil e MAPFRE

Vencedor categoria Gestão: Sá Cavalcante

Vencedor categoria Governança Corporativa: Votorantim Industrial (VID)

Vencedor categoria Valorização: Correios

mudança de hábitos para melhorar o planeta. Dentre os 82 cases inscritos nas cinco categorias, 25 foram selecionados por uma equipe técnica, que, na oportunidade, também foram certificados.

gurador Banco do Brasil e MAPFRE; GRupo Pão de Açúcar; INFRAPREV; INVEPAR; Sáude Criança. *Gestão: AMATA; I9 Brasil; Sá Cavalcante. *Governaça/ Governança Corporativa: ALL- América Latina Logística; E-Ambiental; SulAmérica S.A.; Votorantim Industrial (VID). *Valorização: Atlas Táxi Aéreo; Correios; Ipiranga; L’oreal Brasil; Precon Engenharia; Reserva Real; Excelsior; Valid S.A.

As micro e pequenas empresas Vencedoras: AgroTools (Administração de Conflitos), Sáude Criança (Estrutura da Operação), i9Brasil (Gestão), E-Ambiental (Governança), Reserva Real (Valorização)

Abaixo a relação dos 25 cases certificados: *Administração de Conflitos: AgroTools; COMTEX; Petrobras Distribuidora; TAESA. *Estrutura da Operação: Drogaria São Bento; Grupo SeA bela decoração

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O IBEF Criado em 1971, o Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças – IBEF Nacional é uma entidade de utilidade pública federal, estadual e municipal, sem fins lucrativos, apartidária e que reúne os principais executivos e empresários do país. No início de sua criação o IBEF era formado por executivos financeiros, mas abriu as portas para profissionais de diversos setores em função da abrangência dos assuntos em que se envolveu ao longo desses anos. Hoje, além de executivos de diversos setores e empresários, fazem parte do quadro de associados homens públicos, acadêmicos e profissionais liberais. O IBEF-Rio realiza atividades nas áreas de treinamento, pesquisa, estudos e projetos em diversos segmentos de nossa economia, com discussão dos importantes temas nacionais e regionais, além de promover inúmeros congressos e seminários organizados com a participação de autoridades e personalidades da iniciativa privada. REVISTA AMAZÔNIA 57


A Cidade Humana foi o tema central da New Cities Summit 2013

O futuro das cidades Fotos: Fábio Arantes/SECOM

A Cidade Humana Como é a cidade do futuro? Quais os desafios das cidades? Como formular um futuro urbano mais positivo? São algumas das questões que foram discutidas durante o New Cities Summit (ou Cúpula das Novas Cidades), evento que ocorreu na capital paulista. O seminário foi dedicado à construção de cidades globais mais sustentáveis, criativas, justas e dinâmicas. Até 2030 mais de 5 bilhões de pessoas – o que corresNa discussão sobre o futuro da mobilidade urbana

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ponde a cerca de 60% da população mundial – viverá nas cidades, o evento pretende incentivar uma mudança urbana positiva em escala global, apresentando, compartilhando e divulgando as melhores ideias sobre a cidade do futuro. Na abertura do New Cities Summit, o prefeito Fernando Haddad, falou para mais de 700 pessoas de 37 países, que São Paulo será a cidade que mais irá incrementar seu potencial de competitividade no mundo nos próximos 12 anos, de acordo com o estudo Hotspots 2025, da Economist Intelligence Unit (EIU), unidade de pesquisas do grupo inglês The Economist. “São Paulo não será só a mais bem posicionada entre todas as cidades latinoamericanas, mas também aquela que mais crescerá no que diz respeito à competitividade”, disse. De acordo com o

relatório, a metrópole ganhará 25 posições e ocupará o 36º lugar. Nova York, que hoje é a segunda cidade mais competitiva, deve assumir a liderança em 2025. Singapura, por sua vez, deve cair da primeira para a terceira posição. Haddad chamou atenção para os alicerces que sustentam as economias das grandes cidades. “Hoje a economia está ancorada em duas variáveis muito importantes: a produção cultural e a produção científica e tecnológica aplicada ao processo produtivo e à resolução de problemas. Essas duas variáveis, por sua vez, estão fortemente fundidas em uma terceira, que é a razão de ser das cidades, o intercâmbio entre pessoas”, afirmou Haddad. Em meio a esse contexto, o prefeito afirmou que um dos maiores desafios de São Paulo é justamente proporcionar tempo para que os cidadãos possam melhor aproveitá-lo e interagir face a face. “Nós temos muitos empreendimentos, sedes das principais empresas do mundo e a principal universidade da América Latina. Agora precisamos traduzir isso em qualidade de vida para os cidadãos comuns, sobretudo para os menos favorecidos.

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Durante o New Cities Summit, em São Paulo

Hotspots 2025 O estudo realizado pela Economist Intelligence Unit, que foi apresentado na íntegra, se dá pelo exame de 32 indicadores de cada cidade para avaliar a capacidade futura de atração de capital, negócios, talentos e turistas. Força econômica, capital físico e humano, maturidade financeira, caráter institucional, social e cultural, apelo global e riscos ambientais estão entre os critérios avaliados pela pesquisa. A pesquisa aponta que São Paulo, na 36ª posição, estará bem a frente de outras cidades da América Latina, entre as mais competitivas em 2025. Santiago do Chile, na 60ª colocação e cidade do Panamá, em 65º lugar, serão as melhores colocadas na região. O resultado da pesquisa mostra que esse é o grande momento, a grande oportunidade e grande desafio para

Cidades (site da Universidade de São Paulo que trata de questões urbanas) , mudar São Paulo e torná-la uma cidade menos desigual e mais sustentável, por exemplo, vai exigir investimento, principalmente da iniciativa privada. “É caro sim [planejar e fazer mudanças para São Paulo] e Mathieu Lefevre, diretor executivo da New Cities Foundation, em pronunciamento de abertura

pouco discutida pelas pessoas que planejam, mas ela é fundamental”, disse Maria Teresa. Criado este ano, o USP Cidades é um núcleo de estudos que tem como foco fazer pesquisas aplicadas sobre temas relacionados à gestão urbana. “Também estamos montando um curso de especialização na USP para planejamento e gestão de cidades voltado para um perfil de aluno que já trabalhe no Poder Público ou que queira trabalhar com estas questões públicas”, explicou Este ano, o tema específico do New Cities Summit foi A Cidade Humana, tendo como objetivo discutir os impactos da cidade sobre os indivíduos e dos indivíduos sobre o meio em que vivem. Temas como mobilidade urbana, o futuro do trabalho, grandes eventos e segurança urbana foram alguns dos pontos discutidos durante o evento. Nomes internacionais estiveram no New Cities Summit para falar de soluções como: jornada flexível, não concentração de empresas numa só área, bikes e veículos compartilhados

Transporte público e mobilidade urbana a cidade de São Paulo, que tem potencial, segue investindo em infra-estrutura, educação, capacitação e simplificação para empreendedores para superar as expectativas, pois a força econômica da cidade é indiscutível.

O Futuro do Trabalho Segundo o arquiteto Edo Rocha, a cidade do futuro será mais concentrada e sustentável. “A cidade do futuro, a meu ver, volta a conceitos antigos de concentração das pessoas. São pequenos bairros ou grandes bairros ou bairros com grande capacidade, todos eles resolvidos e integrados”, declarou. Na mesa de debates, chamada O Futuro do Trabalho, o arquiteto apresentou uma proposta de criação de um site para abrigar, por exemplo, uma fonte de pesquisas de projetos em cidades pelo o mundo. “Seria como uma enciclopédia de soluções e de boas experiências”, disse Rocha, citando que um dos temas que pode ser incluído envolvem projetos na área de educação e até como se evitar o desperdício de energia. Para Maria Teresa Diniz, coordenadora executiva do USP revistaamazonia.com.br

o Poder Público sozinho não consegue atingir todo esse desafio porque o passivo acumulado é enorme. Uma das pesquisas que nos interessa [dentro do USP Cidades] é a de orçamento e planejamento e de como atrair o recurso privado de forma que haja interesse de se investir em projetos de interesse público. Essa coisa do orçamento é

Moderado por Susan Shaheen, pesquisadora da Universidade da Califórnia, o debate apontou problemas e alternativas não apenas sobre assuntos de infraestrutura e meios de transporte, como também sobre questões comportamentais da população. Para Carlos Aranha, executivo do Google Brasil, por exemplo, é preciso conscientizar tanto motoristas quanto Haddad mencionou o estudo do The Economist, que coloca São Paulo como uma das cidades que ganhará mais competitividade até 2025

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Mobilidade urbana

Espaços para bicicletas no metrô de Copenhagen

Colab, um aplicativo móvel brasileiro projetado para encorajar uma melhor cidadania, foi o vencedor do 2013 AppMyCity! Prêmio de melhor aplicativo urbana do ano

pedestres a respeitar os limites no trânsito. Mas para isso, ele não acredita em campanhas. “Não podemos só pedir, temos de fazer leis mais duras”, disse. Carlos ainda afirmou que as preocupações sobre mobilidade deveriam estar voltadas para formas de diminuir as distâncias e a necessidade das pessoas de se mobilizar. Nesse sentido, aponta a importância das empresas, cujas jornadas de trabalho são responsáveis pela grande demanda de deslocamentos diários. MarySue Barret, presidente do Conselho de Planejamento Metropolitano de Chicago, concordou e acrescentou que as companhias deveriam se distribuir de forma menos centralizada nas cidades. Para ela, no entanto, a questão do deslocamento vai além da rotina de trabalho.”A necessidade de criar conexões continua crescendo”, explicou. Segundo Tania Conte Cosentino, presidente da Schneider Electric na América do Sul, o planejamento de transportes deve começar pela infraestrutura, o que não significa a construção de rodovias e túneis. “É preciso agregar inteligência no sistema”. Tania sugeriu a implementação de um sistema integrado, em que informações personalizadas e 60 REVISTA AMAZÔNIA

As bicicletas contribuem para a atração dos centros urbanos, diminuindo os congestionamentos e o número de carros, garantem autonomia e facilidade de deslocamento e aumentam a qualidade de vida de quem opta por esse meio de transporte. Para garantir que esses benefícios não sejam em vão, é preciso pedalar com segurança e consciência.

diferentes modais fossem conectados e interligados. Na opinião de Eduardo Saccaro, diretor da Bombardier Transportation, além dos transportes, também é preciso investir na restauração dos meios de acesso ao sistema. “Não consigo enxergar um bom exemplo de calçada em São Paulo”, exemplificou Eduardo, que apontou como ponto positivo a separação do espaço para carros e transporte público, nos chamados corredores de ônibus. Para Romi Roy, vice-diretora de uma unidade do Centro de Planejamento e Engenharia de Trânsito e Infraestrutura de Transporte (UTTIPEC) em Deli, na Índia, o mais importante é focar na igualdade no transporte público. De acordo com ela, a população utiliza os meios de transporte, mas não tem voz de tomar decisões a respeito de temas urbanos. No encerramento da palestra, Susan citou como a grande aposta para o futuro da mobilidade urbana os sistemas de compartilhamento, tanto de bicicletas quanto de carros e caronas. O conceito, que ela chamou de Economia do Compartilhamento, já existe em muitas cidades, inclusive em São Paulo, o que indica que não estamos tão distantes de um modelo de transporte e mobilidade eficaz. Parafraseado o escritor William Gibson, Susan afirmou: “O futuro está aqui, é apenas mal distribuído”

Em busca da “cidade humana” O futuro do mundo está em nossas cidades. Pense no que acontecerá até 2030. Haverá 5 bilhões de pessoas vivendo em áreas urbanas: mais de 60% do total da população do nosso planeta. Cidades que hoje podem ser desconhecidas para muitos de nós - Qingdao, Fortaleza ou Surat - terão crescido em prósperas áreas metropolitanas com mais de 5 milhões de pessoas. Algumas megacidades - principalmente na Ásia, apesar de São Paulo estar entre elas - terão uma população de 20 milhões ou mais de habitantes. Em 2030, 1,2 milhões

Tania Conte Cosentino, Romi Roy e Eduardo Saccaro, durante o evento na Oca, do Parque Ibirapuera

de quilômetros quadrados de terra - uma área do tamanho da África do Sul - estarão ocupados por novo desenvolvimento urbano. Os desafios que enfrentamos são enormes. Como um “planeta urbano” altera a experiência humana? O que isso significa para as pessoas e para as organizações? Como essa grande transformação muda nossas vidas como cidadãos, como profissionais, como membros de nossas famílias, como amigos, como parte conectada a um ecossistema natural, social e econômico, como consumidores e produtores, como viajantes e como pensadores? Com quais questões específicas “nós, a população urbana” podemos lidar hoje para garantirmos que as cidades de amanhã sejam um lugar bom e positivo para se viver? Onde é que vamos precisar de mais inovação urbana e como podemos acelerar nossa capacidade de inovar? Acima de tudo, como podemos fazer as cidades de amanhã cidades verdadeiramente humanas? Futuro da mobilidade está no compartilhamento

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Prêmio Vale-Capes de Ciência e Sustentabilidade

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Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a empresa VALE S.A. concederam oPrêmio Vale-Capes de Ciência e Sustentabilidade (à teses de doutorado e dissertações de mestrado ) à tese de doutorado Síntese de nanotubos de carbono a partir do reaproveitamento de resíduos sólidos carbonosos, de autoria do pesquisador Joner Oliveira Alves e orientação do professor Jorge Alberto Soares Tenório. A tese defendida em 2011 no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica (Poli) da USP foi eleita o melhor trabalho na área de “Aproveitamento, reaproveitamento e reciclagem de resíduos e/ou rejeitos”. O trabalho desenvolvido teve como objetivo a produção de nanomateriais a partir do reaproveitamento dos gases gerados pela queima do bagaço da cana, resíduo de milho, garrafas PET pós-consumo e pneus inservíveis. Parte do trabalho foi desenvolvida durante o estágio de um O estudo de Joner mostra que os gases resultantes da queima do bagaço de cana apresentaram os melhores resultados ao gerar mais nanotubos e com mais pureza

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ano que o pesquisador realizou no College of Engineering da Northeastern University, em Boston (EUA). Esta é a quinta distinção conferida a trabalhos referentes à pesquisa de doutorado de Joner Alves. Anteriormente foram outorgados o Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia (UNESCO), Prêmio Antonio Mourão Guimarães (ABM/Magnesita) e menções honrosas no Prêmio AEA de Meio Ambiente (AEA) e Prêmio Capes de Tese (CAPES).

Síntese de nanotubos de carbono a partir do reaproveitamento de resíduos sólidos carbonosos Fumaça se transformará em nanotubos de carbono Os gases emitidos pela queima do bagaço de cana de açúcar, resíduos de milho, pneus velhos e garrafas PET podem ser usados na fabricação de nanotubos de carbono. O avanço que une as áreas de sustentabilidade e nanotecnologia foi descoberto pelo físico brasileiro Joner de Oliveira Alves. Durante sua tese de doutorado, Joner fez testes em laboratório com os quatro tipos de resíduos. O processo de queima diminui a quantidade de gases poluentes emitidos na atmosfera do planeta e ainda cria nanotubos. O material que costuma ser exportado pelo país é usado como reforço em materiais poliméricos e cerâmicos e tem um vasto campo de potenciais aplicações, que vai desde dispositivos médicos, implantes e peças de eletrônicos. Os nanotubos de carbono tem um diâmetro corresponde a um nanômetro, ou seja, um bilionésimo de metro (10-9 metros). Apesar do vasto campo de potenciais aplicações, ainda não existem no Brasil empresas que produzem esses materiais em larga escala. A indústria cosmética é a que mais tem investido nesse tipo de material. “Como os nanatubos são partículas muito pequenas, conseguem penetrar em camadas da pele que outras substâncias não alcançam”, afirmou Joner. Os resíduos são incinerados em um forno e depois filtrados, o que resulta apenas em gases. Depois, um catalisador quebra os hidrocarbonetos dos gases em carbono e hidrogênio. O carbono fica retido na forma de carbono sólido, como um pó de grafite, onde são encontrados os nanotubos. Já o hidrogênio é lançado na atmosfera, mas é um gás limpo, que não polui o ar. O estudo de Joner mostra que os gases resultantes da revistaamazonia.com.br


queima do bagaço de cana apresentaram os melhores resultados ao gerar mais nanotubos e com mais pureza. A queima desses resíduos também pode reduzir em até 90% a quantidade de detrito gerado, o que evita a deposição em lixões. O bagaço de cana, por exemplo, é atualmente utilizado pela maioria das usinas para a geração de energia capaz de suprir todo o processo de produção de cana e etanol. “Sempre tentei ao máximo fazer pesquisa aplicada, ou seja, que possa sair do meio acadêmico. Esses resíduos já são queimados pra gerar energia, como o bagaço da cana”, diz Joner. Na técnica desenvolvida por Joner, os resíduos são primeiro aproveitados para a geração de energia. A diferença é o aproveitamento dos gases resultantes da saída do processo. Isso ocorre porque o carbono encontrado nos gases foi usado para a fabricação dos nanotubos. O que resta do processo é o hidrogênio, um gás não poluente

Processo siderúrgico transforma poluição em riqueza. Imagem de infravermelho destacando as zonas de aquecimento dos fornos do Laboratório de Combustão da Northeastern University

Joner de Oliveira Alves, físico brasileiro, que descobriu o avanço que une as áreas de sustentabilidade e nanotecnologia

Entrega do Prêmio Vale-Capes de Ciência e Sustentabilidade: Joner Oliveira Alves, Lívio Amaral (Diretor de Avaliação da Capes), Luiz Eugênio Araújo Moraes Mello (Diretor Global de Tecnologia da Vale) e Jorge Almeida Guimarães (Presidente da Capes)

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que pode ser liberado na atmosfera. A pesquisa, então, não abre apenas possibilidade para a redução do valor desses produtos, apresenta também um importante aspecto ligado à sustentabilidade. “Essa tecnologia evita que os gases poluentes sejam lançados na atmosfera. A ideia é valorizar a cadeia energética porque o Brasil precisa de fontes energéticas limpas sem usar recursos naturais não renováveis. E ainda atinge outra cadeia, que é a indústria de nanotecnologia”.

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Sustentabilidade: Proteger os oceanos é questão crítica para a sobrevivência humana

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s oceanos cobrem mais de 70% da superfície terrestre, somam 97% da água do planeta, concentram um número imenso de espécies, mantêm um grande estoque de alimentos e guardam reservas minerais. Para o pesquisador José Luiz Azevedo, coordenador do curso de oceanologia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), o mais antigo no país, a proteção dos oceanos é crítica para a sobrevivência da espécie humana. “Está muito claro que os oceanos têm uma grande importância ecológica, econômica, política e sociocultural. Os oceanos são um ponto crítico até para a sobrevivência da espécie humana e de todos os seres vivos no nosso planeta. Os oceanos são fundamentais. Eles regulam o clima, nos proporcionam alimentação. E grande parte da população mundial vive na zona costeira. As grandes cidades do mundo estão todas na costa, em contato direto com o oceano”, disse. E, ao longo de centenas de anos sofrendo com a ação humana, os oceanos já começam a dar sinais de des-

Os oceanos são responsáveis pela maior parte do oxigênio na atmosfera. Além disso, têm papel fundamental na biodiversidade, clima, alimentação, economia e até mesmo na arqueologia, entre outras áreas

Os oceanos cobrem mais de 70% da superfície terrestre, somam 97% da água do planeta 64 REVISTA AMAZÔNIA

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gaste. No Brasil, por exemplo, a acidificação da água do mar, provocada pelo excesso de dióxido de carbono na atmosfera (e sua absorção pelas águas), tem provocado a morte de corais. “Com os oceanos ficando cada vez mais ácidos, os bancos de corais da costa brasileira têm sofrido bastante. A comunidade oceanográfica tem observado que esses bancos estão perdendo área. Os corais estão morrendo, eles não estão mais com aquela taxa de crescimento que tinham”, ressaltou Azevedo. Segundo o especialista, nos últimos anos os oceanos passaram a receber atenção especial no mundo por causa das mudanças climáticas e da consequente elevação do nível dos mares. No Brasil, em especial, a pesquisa oceanográfica também recebeu um impulso com as grandes descobertas de petróleo na camada pré-sal. Azevedo explica que a preocupação com licenças ambientais para empresas que atuam na costa brasileira também aumentou nos últimos anos. Além disso, o fundo dos oceanos poderá ser a principal fonte de areia para a construção civil nos próximos anos no país.

Segundo a ONU a importância dos oceanos vai da biodiversidade à arqueologia (principalmente pelo estudo de navios naufragados), passando pelo aquecimento global, erradicação da pobreza e segurança alimentar Os oceanos são um ponto crítico até para a sobrevivência da espécie humana e de todos os seres vivos no nosso planeta

Carlos Nobre enfatizou a importância do oceano para o desenvolvimento do Brasil e da ciência e da tecnologia nacional

as pesquisas da área. “Este instituto, dividido em centros de pesquisa espalhados pelo território brasileiro, terá laboratórios nacionais com tecnologia de ponta servindo à comunidade científica e ao sistema universitário, para o aprimoramento de ciência e tecnologia, e as empresas e indústrias inovadoras, para o fortalecimento de pesquisa, desenvolvimento e inovação na cadeia produtiva”, observou. Ele apontou, ainda, que o instituto também vai gerir navios e outros meios embarcados que vão multiplicar muitíssimo a capacidade de fazer pesquisas no oceano. “Quer dizer, não se trata apenas de um instituto virtual que integra as pesquisas de diferentes áreas, ele agrega, complementa e aumenta a escala de investimentos governamentais, cria facilidades para o desenvolvimento de pesquisas hidroviárias e oceânicas. Ele começa com quatro centros, mas tende a aumentar este número”, afirmou.

Lideranças da comunidade científica, do governo durante a cerimonia de criação Instituto Nacional de Pesquisas Oceanográficas e Hidroviárias (INPOH)

Criação do INPOH Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), na sede da Academia Brasileira de Ciências, informou à lideranças da comunidade científica, do setor privado e do governo, a criação do Instituto Nacional de Pesquisas Oceanográficas e Hidroviárias (INPOH), que reunirá quatro centros de pesquisa: Centro de Oceanografia do Atlântico Tropical, Centro de Oceanografia do Atlântico Sul, Centro de Portos e Hidrovias e Centro de Pesquisa Marinha em Pesca e Aquicultura. Segundo o secretário, o Brasil começa a entrar numa nova era ao disponibilizar meios para a superação do déficit em pesquisas na área. Na visão de Carlos Nobre é possível antever os benefícios que o instituto trará para a ciência brasileira e para revistaamazonia.com.br

Com os oceanos ficando cada vez mais ácidos, os bancos de corais da costa brasileira têm sofrido bastante

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Calor liberado por oceanos pode agravar efeito estufa Pesquisadores dizem que aquecimento global foi reduzido temporariamente pelos mares. Mas liberação do calor absorvido pode acirrar mudanças no clima.

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s efeitos da mudança climática podem se intensificar rapidamente se grandes quantidades de calor absorvidas pelos oceanos forem liberadas de volta para a atmosfera, afirmaram cientistas, depois de apresentarem uma nova pesquisa, apontando que os oceanos têm ajudado a mitigar os efeitos do aquecimento global desde o ano 2000. Gases de efeito estufa vêm sendo emitidos para a atmosfera em ritmo cada vez mais rápido. E os dez anos mais quentes desde que os registros de temperatura começaram a ser realizados ocorreram todos de 1998 em diante. Mas a taxa na qual a superfície da Terra está se aquecendo diminuiu um pouco desde o ano 2000, levando os cientistas a procurarem uma explicação para o fenômeno. Especialistas de França e Espanha afirmaram recentemente, que os oceanos absorveram mais calor da atmosfera em torno do ano 2000. Isso ajudaria explicar a desaceleração do aquecimento global, ao mesmo tempo que sugere que a pausa pode ser apenas temporária. “A maior parte desse excesso de energia foi absorvida na camada submarina que vai até os 700 metros de

profundidade na fase inicial desta pausa de aquecimento, 65% tendo sido absorvidos nas regiões tropicais dos oceanos Pacífico e Atlântico”, escreveram os pesquisadores. A chefe da equipe de pesquisa, Virginie Guemas, do Instituto Catalão de Ciências de Clima – IC3, disse que o calor absorvido pode voltar à atmosfera na próxima década, acelerando novamente o aquecimento do planeta. “Se depender apenas das variações naturais, a taxa de aquecimento logo poderá aumentar”, alertou. Caroline Katsman, do Instituto Real de Meteorologia da Holanda, especialista que não esteve envolvida no estudo, afirmou que o calor absorvido pelo oceano vai voltar para a atmosfera como parte dos ciclos dos oceanos, como os fenômenos de aquecimento e de resfriamento do Pacífico, respectivamente chamados de “El Niño” e “La Niña”.

Implicações econômicas Ela ressalta que o estudo confirmou pesquisas anteriores realizadas por seu instituto, mas que é improvável que seja a única explicação para a pausa do aquecimento, já que só se aplica ao período inicial da desaceleração, em

torno do ano 2000. O ritmo da mudança climática tem grandes implicações econômicas, já que quase 200 Estados concordaram em 2010 em limitar o aquecendo global para menos de 2 graus celsius acima dos níveis pré-industriais, principalmente através de medidas para limitar a queima de combustíveis fósseis. As temperaturas já subiram 0,8 grau. Dois graus já são amplamente reconhecidos como um limite que poderá causar mudanças perigosas,como mais secas, deslizamentos de terra, inundações e elevação dos mares. Alguns governos e os céticos do clima argumentam que a desaceleração da tendência de aquecimento é uma prova de que há menos urgência em agir. Os governos concordaram em cooperar para fechar até o final de 2015 um acordo global para combater as mudanças climáticas. O ano passado foi o nono mais quente desde que os registros começaram, em 1850, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial da ONU, e 2010 foi o mais quente, à frente de 1998. Fora 1998, os dez anos mais quentes ocorreram todos a partir de 2000. O estudo, baseado em observações e modelos de computador, demonstrou que os eventos climáticos naturais do fenômeno “La Niña” no Pacífico por volta do ano 2000 levaram águas frias à superfície que absorveram mais o calor do ar. Num outro conjunto de variações naturais, o Atlântico também absorveu mais calor.

Turbulências

Aquecimento global poderá conturbar ainda mais voos transatlânticos 66 REVISTA AMAZÔNIA

Outra pesquisa, realizada por cientistas britânicos, indica que as alterações do clima poderão provocar um aumento de turbulências em viagens transatlânticas. Segundo escrevem Paul Williams (University of Reading) e Manoj Joshi (University of East Anglia), a partir de meados deste século pode aumentar a ocorrência das chamadas “turbulências de ar claro”, ou seja, aquelas que ocorrem em um céu sem nuvens. Ao contrário das ocorridas perto de zonas atingidas por tempestades, tais turbulências são muito difíceis de serem previstas. Elas são causadas por correntes opostas de vento, através das quais até avirevistaamazonia.com.br


O resumo sugere que os oceanos Pacífico e Atlântico são responsáveis por 65% do aquecimento de conteúdo global de calor do oceano para as profundezas de 0-700 metros desde 2000. No entanto, os mais ajustados dados de calor de conteúdo para o Pacífico tropical (Figura 1) mostra um declínio no conteúdo de calor do oceano desde 2000, e o conteúdo de calor do oceano para o Atlântico (Figura 2) tem sido estável desde 2005.

O resumo também menciona uma habilidade recém-descoberta para prever lentidão no aquecimento. Mas o aquecimento do conteúdo de calor tropical do Oceano Pacífico é dependente dos três anos eventos de La Niña de 1954-1957, 19731976 e 1998-1901 e no bizarro 1995-1996 La Niña, Figura 3. O aquecimento das temperaturas da superfície do mar no Atlântico, Índico e Pacífico Ocidental, Figura 4, depende de fortes eventos de El Niño.

ões de grande porte podem ser puxados abruptamente para cima ou para baixo. Em sua análise, os pesquisadores se limitaram à zona de voo sobre a metade norte do Atlântico Norte nos meses

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de inverno de dezembro a fevereiro. Usando simulações de modelos climáticos, eles calcularam que a ocorrência de turbulências na região poderá aumentar de 40% a 170% nos próximos 40 anos. Além de poderem se tornar

de 10% a 40% mais fortes. Como consequência, empresas aéreas podem ser obrigadas a planejar novas rotas para seus voos, aumentando o consumo de combustíveis e a duração das viagens.

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Vai ser mais difícil trabalhar em um mundo mais quente Redução da capacidade de trabalho sob efeito do aquecimento do clima

O

s seus funcionários estão trabalhando pouco? Possivelmente a culpa é das alterações climáticas. E prepare-se: a situação vai piorar. O aumento da humidade devido à subida na temperatura global pode reduzir a quase dois terços (63%) a capacidade de trabalho actual até 2100 e a apenas 39% em 2200, nos meses mais quentes do ano. Estes são os piores cenários identificados num estudo de três cientistas da agência norte-americana para a atmosfera e os oceanos (NOAA, na sigla em inglês). É uma primeira aproximação a um efeito ainda pouco analisado do aquecimento global. Há já muitos estudos sobre extremos climáticos, como ondas de calor, e as suas consequências sobre a mortalidade. Mas não há quase nada quanto ao impacto constante, no quotidiano das pessoas, de dias de calor e humidade intensos, em que basta sair à rua para se sentir logo cansado. Em 2009, cientistas da Austrália, Nova Zelândia e Suécia já

por Ricardo Garcia

diziam que este era “um efeito “negligenciado” das alterações climáticas”. O trabalho faz uma retrospectiva deste efeito no passado, bem como a projeção do que pode acontecer no futuro.

Nos piores cenários, toda a faixa que inclui as médias latitudes e os trópicos terá vários meses de stress de calor

As alterações climáticas provocarão em ambiente mais quente e úmido para os trópicos e latitudes médias, resultando em aumento dos custos econômicos da capacidade de trabalho reduzida, devido ao estresse térmico. O estudo realizado por cientistas da NOAA diz que a capacidade de trabalho já reduziu em 10 por cento devido ao calor extremo nos meses de verão. Este deverá dobrar para 20 por cento até 2050. 68 REVISTA AMAZÔNIA

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Trabalhadores sentirão mais o calor

A base de comparação são as normas criadas pela indústria e pelas instituições militares dos Estados Unidos para evitar que os trabalhadores corram o risco de uma crise de hipertermia durante a jornada de trabalho. Os limites são expressos através de um índice medido em graus Celsius, mas que não é a temperatura lida num termometro normal. Trata-se antes de uma combinação de duas temperaturas obtidas com outro tipo de termometros e que de certa forma reflete elementos essenciais para o conforto térmico, como a humidade e o movimento do ar, entre outros. Este índice – conhecido pela sigla inglesa WBGT (wet-bulb globe temperature) – está normalmente alguns graus abaixo da temperatura normal do ar. Quanto mais próximos ambos estiverem, mais húmido é o ambiente que está sendo medido. Com base em modelos de simulação do clima, os cientistas concluem que o aumento da temperatura média global nas últimas décadas já reduziu em 10% a capacidade de trabalho. Dito por outras palavras, os valores aceitáveis de conforto térmico ocorrem em 90% do tempo laboral de todos os trabalhadores, em média. Para o futuro, a situação complica-se. Num cenário moderado, de aumento de 1,6 graus Celsius da temperatura média global até 2100, perde-se um quarto da capacidade de trabalho, que fica nos 75%. É mais um dado a sugerir que o limite político fixado pela comunidade

Estudo avança com previsões preocupantes sobre o impacto do calor na capacidade de trabalho

internacional para a subida do termómetro mundial – dois graus Celsius até 2100 – não está isento de efeitos negativos e irá exigir medidas de adaptação. Num futuro mais pessimista, com 3,4 graus Celsius a mais, o impacto é mais acentuado, com a capacidade de trabalho caindo até ficar nos 63%. Projetando este último cenário para mais cem anos, o trabalho em boas condições térmicas fica reduzido a 39%.

A fadiga vai invadir o mundo

Valores – TLV, através de representação contínua (capacidade de trabalho = 100 - 25 x max (0, WBGT - 25) 2/3, com um limite superior de 100, a linha preta em detalhe) revistaamazonia.com.br

O estudo mostra também que a fadiga em função do calor húmido, hoje já um elemento do dia-a-dia das regiões tropicais, vai alargar-se a outras partes do mundo. Nos piores cenários, toda a faixa que inclui as médias latitudes e os trópicos terá vários meses de stress de calor. Segundo o estudo, a cidade de Washington terá condições parecidas com as atuais em Nova Orleães, Nova Orleães será mais húmida e quente do que o Bahrain de hoje, e o Bahrein terá um WBGT de 31,5 graus Celsius – uma marca desaconselhada mesmo para quem executa trabalhos leves. Sobre o pano de fundo das alterações climáticas a reação à humidade e à temperatura, dizem os autores do estudo, “coloca severas e crescentes limitações ambientais à capacidade individual de trabalho, segundo as normas de exposição ocupacional, nas próximas décadas”. Embora não o diga, o estudo permite concluir que ou se tomam medidas para minimizar as alterações climáticas e garantir a adaptação aos seus efeitos, ou o melhor é fechar o mundo para férias de Verão. REVISTA AMAZÔNIA 69


TECNOLOGIA

Uma em cada dez pessoas vão viver em zonas quentes até 2100 Zonas quentes vão concentrar-se sobretudo no sul do Amazonas, indica um estudo

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ma em cada dez pessoas no mundo vão viver, até 2100, num local onde as alterações climáticas terão um impacto negativo em, pelo menos, setores como a agricultura, água, ecossistemas ou saúde, segundo um estudo publicado recentemente, da Proceedings of the National Academy of Sciences. Os chamados hotspots (zonas quentes) climáticos vão concentrar-se sobretudo no sul da Amazonia, com «alterações extremas» na disponibilidade de água, produtividade agrícola e ecossistemas, indica o estudo. A segunda maior região de hotspots será o sul da Europa, onde a falta de água e a escassez das colheitas podem criar dificuldades às populações, refere o estudo liderado por Franziska Piontek do Instituto Potsdam para a Investigação do Impacto Climático. «A sobreposição de impactos das alterações climáticas nos diferentes setores tem potencial para interagir e, por isso, multiplicar as pressões sobre os meios de subsistência das populações das regiões afetadas», afirmou Piontek. A investigação contou com especialistas em alterações

Franziska Piontek do Instituto Potsdam para a Investigação do Impacto Climático 70 REVISTA AMAZÔNIA

climáticas do Japão, Estados Unidos, China e Europa e usou programas de modelos matemáticos para prever como é que o aquecimento global vai afetar a população mundial.

Vista aérea de São João da Barra, no rio Juruena, Parque Nacional Juruena. Uma em cada 10 pessoas em todo o mundo vai viver em um lugar onde a mudança climática é prejudicial, pelo menos em dois grandes sectores, tais como o rendimento das culturas, a água, os ecossistemas ou a saúde, segundo o estudo

As mudanças climáticas podem trazer grandes mudanças nos ecossistemas – Sensibilidade ecológica no século 21 revistaamazonia.com.br


Regiões da África Oriental são potenciais focos de impactos climáticos hotspots

Foram analisados diferentes níveis de aquecimento, com a sobreposição multissetorial a começar a aparecer «de forma robusta» quando se atinge uma média de aquecimento global de três graus Celsius acima da média 1980-2010, acrescentou a cientista. Quando este valor aumenta para quatro graus Celsius acima da média 1980-2010, 11 por cento da população mundial ficava «sujeita a graves impactos em, pelo menos, dois dos quatro setores com impacto», explicou. Outros hotspots incluem as regiões tropicais da América Central e África, bem como as terras altas da Etiópia devido à conjugação da malária, colheitas reduzidas e alterações nos ecossistemas. Os pesquisadores disseram que os dados devem ajudar

Alex Ruane do Instituto NASA Goddard para Estudos Espaciais

a planejar as nações para mudanças significativas nas próximas décadas, seja por excesso de velocidade estratégias de adaptação ou motivar decisões para frear a mudança climática. “Isso permite uma perspectiva de gerenciamento de risco”, disse o co-autor Alex Ruane do Instituto NASA Goddard para Estudos Espaciais. “Nas partes hotspots da África, por exemplo, até mesmo pequenos aumentos de temperatura podem levar a perdas adicionais que muitos pequenos agricultores simplesmente não podem pagar.” “O que hoje é considerado extremo pode tornar-se o novo normal”, disse o co-autor Qiuhong Tang, da Academia Chinesa de Ciências.

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Biomassa tem potencial para diversificar matriz energética

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ico em fontes de geração de energia por meio da biomassa, Brasil ainda carece de investimentos e tecnologias para desenvolver o setor. A demanda mundial por energias renováveis aumentou no último ano, e quase metade do consumo foi atendido por fontes de biomassa tradicional, como combustão direta de madeira, carvão vegetal, resíduos agrícolas, entre outros. Estudo divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em parceria com a Escola de Administração e Finanças de Frankfurt indicou que foram investidos 244 milhões de dólares em energias renováveis no mundo em 2012. Países em desenvolvimento, como China, Brasil e países africanos, são citados como destaque nos investimentos e na geração de empregos no setor. O Brasil se destaca mundialmente pela geração de energia renovável, principalmente devido à energia hidroelétrica, que responde por mais de 64% da produção nacional. Já a energia de biomassa corresponde a apenas 8% do total, ficando atrás ainda do gás e do petróleo, que, juntos, representam quase 16% da matriz energética. Especialistas defendem que é preciso investir em tecnologias para diversificar o aproveitamento de resíduos da biomassa no país. A adoção deste tipo de energia ajuda a reduzir a pressão sobre as fontes tradicionais e também oferece um destino sustentável para resíduos agropecu-

A energia de biomassa corresponde a apenas 8% do total da geração de energia renovável 72 REVISTA AMAZÔNIA

por Janara Nicoletti Cana-de-açúcar é a principal matéria-prima geradora de energia através de biomassa no Brasil

ários e urbanos. Os setores sucroalcooleiro e de papel e celulose são os que melhor aproveitam os resíduos de biomassa, segundo Suani Teixeira Coelho, coordenadora Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio). “Eles conseguem aproveitar quase 100% dos resíduos gerados. Já nos setores madeireiro e de resíduos sólidos urbanos, ainda há muito potencial para expandir”, comenta a pesquisadora.

Bagaço da cana A principal fonte de energia através de resíduos da biomassa no Brasil é a cana-de-açúcar. De cada tonelada do produto, 250 kg é bagaco e outros 204 kg, palha e pontas. Tudo pode ser reaproveitado para geração de energia elétrica. “Em São Paulo, toda a colheita precisará ser mecânica a partir de 2014. Isto significa que deve ser aproveitado aproximadamente 98% da casca e folha, e a produção de energia deve aumentar entre 40% e 50%”, destaca o vice-presidente da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), Leonardo Calabró. Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a energia elétrica gerada pelas usinas beneficiadoras da planta é suficiente para atender a toda a demanda da produção de etanol e açúcar durante a safra. Das 370 usinas existentes, 160 também fornecem energia para o Sistema Interligado Nacional (SIN). Juntas, elas levaram à rede 1.381 Megawatts (MW) médios em 2012, o que corresponde, por exemplo, a 45% do consumo de energia da cidade de São Paulo. A capacidade instalada dos resíduos da cana hoje é de 8.974 MW, ou 6,77% da produção nacional. O Plano Decenal de Expansão de Energia do Ministério de revistaamazonia.com.br

MA CO ES


Expansão da energia vinda dos resíduos da biomassa precisa de política de longo prazo, defendem especialistas

Minas e Energia indica que, até 2021, o setor poderá oferecer ao SIN 10 Gigawatts (GW) médios, se todo o bagaço produzido for aproveitado. “Para estimular este incremento, tem que dobrar a produção e precisa de uma política setorial de longo prazo. Quando as primeiras usinas foram montadas, há 30/40 anos, elas foram equipadas com caldeiras de baixa pressão. Para ampliar a oferta de energia, é preciso trocar estes equipamentos”, afirma Zilmar José de Souza, gerente de Bioeletricidade da Unica.

Expansão esbarra na falta de incentivo Apesar de o Brasil ocupar uma posição de destaque mundial na geração de bioenergia, o país ainda está aquém de outras nações no que diz respeito ao aproveitamento dos resíduos da biomassa. “É necessário fazer muitas inovações neste setor, para garantir eficiência na geração”, explica o pesquisador da Embrapa Agroenergia José Dilcio Rocha. De acordo com um estudo desenvolvido pelo Cenbio a pedido do governo alemão, o Brasil contava com 7.005.125 hectares de área plantada, em 2012. No documento com os resultados preliminares, apresentado em Berlim, em julho, os cientistas destacam que a produção de paletes (biomassa compactada), por exemplo, é incipiente e atinge a apenas 25% da capacidade total de produção.

MANAUS JÁ PODE CONTAR COM AS VANTAGENS DE UM ESCRITÓRIO COMPARTILHADO.

O cenário de outras fontes energéticas, como a casca de arroz, é parecido. Hoje, existem no país nove usinas que transformam o resíduo em energia. Juntas, elas geram 36,4 MW de potência, ou seja, 0,03% da produção nacional. Coelho comenta que, se toda a capacidade instalada existente no Brasil fosse aproveitada, seria possível produzir cerca de 200 MW de potência. Para a pesquisadora, isso só pode ser atingido com uma política de governo que amplie os investimentos e incentive a adoção de fontes alternativas de geração de energia por meio de biomassa. Ela sugere introduzir novas tecnologias e aumentar as ofertas de leilões específicos para este tipo de energia. Rocha ressalta ainda que, se implementar novos processos, a indústria pode ampliar a produção e também agregar valor aos resíduos agrícolas, agroindustriais e agroflorestais.

Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), as fontes renováveis não hidrelétricas, como eólica, solar, bioenergia e geotérmica, dobrarão, subindo dos 4% de 2011 para 8% em 2018. Em 2006, essa participação era de apenas 2%. Para se ter uma ideia do crescimento das energias renováveis não hidrelétricas, elas devem contribuir para um aumento de 11% na geração dos países em desenvolvimento até 2018, em relação ao crescimento de 7% em 2012. Só a China deve aumentar 310 GW, ou 40% de todo o crescimento na capacidade de renováveis durante esse período.

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Materiais feitos de dióxido de titânio podem armazenar enormes quantidades de energia, abrindo a porta para a inovação nas áreas de energia renovável, carros elétricos, mesmo espaço à tecnologias de defesa

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TECNOLOGIA

Armazenamento de energia encontrada em química comum O dióxido de titânio (TiO2), uma substância química vulgarmente utilizada nas indústrias, pode ajudar a armazenar a energia produzida por fontes renováveis

E

sta substância usada, por exemplo, como pigmento branco em pastas de dente, plásticos e protetores solares, pode servir para a construção de dispositivos de armazenamento de energias renováveis, segundo a química Yun Liu da Universidade Nacional Australiana. As fontes renováveis, como a solar ou eólica, produzem eletricidade intermitentemente, e por isso a sua integração à rede elétrica representa um grande desafio. Mas o armazenamento desta energia, com a ajuda desta substância química, poderia contribuir para equilibrar a quantidade de energia que alimenta a rede, acrescentou a cientista. Liu e os seus companheiros tentaram durante vários anos encontrar o material perfeito para incluí-lo nos condensadores elétricos, dispositivos passivos utilizados para armazenar energia. Para isso, os cientistas propuseram construir estes condensadores mediante a separação de dois elétrodos metálicos com um isolante (material dielétrico). Para armazenar energia de fontes renováveis

“Se duas moedas forem separadas com um pedaço de papel já se tem um condensador elétrico, embora o papel tenha uma mínima capacidade de armazenamento de energia”, explicou Liu. A química australiana explicou que a sua equipe procurava um material que tivesse três características: uma constante dielétrica muito elevada para que possa armazenar muita energia, uma baixa perda dielétrica para não desperdiçá-la e a capacidade de resistir a uma grande gama de níveis de temperatura. Encontrar este material não foi fácil porque geralmente podiam ter uma grande constante dielétrica, mas não capacidade de evitar a perda de energia ou de resistir a diversas temperaturas. Após cinco anos de trabalho, a equipe científica formada também por Ray Withers, descobriu que o também chamado óxido de titânio, manipulado a nível molecular, cumpre com todos os requisitos. “É um sonho que se tornou realidade”, afirmou a cientista da universidade australiana, considerando que este

Dióxido de titânio (TiO2)

material que se encontra em estado natural no mundo todo também pode ser utilizado em tecnologia militar e espacial. Com o desenvolvimento, o material poderia ser usado em “supercapacitores”, que armazenam enormes quantidades de energia, eliminando as limitações de armazenamento de energia atuais, abrindo a porta para a inovação nas áreas de energia renovável, os carros elétricos e tecnologias de defesa. “É um material simples e abundante, e a Austrália atualmente domina o mercado exportador deste produto”, avaliou Liu, que espera trabalhar em breve nas aplicações do dióxido de titânio.

Ray Withers e Yun Liu, com o modelo químico do novo material revistaamazonia.com.br

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Barco solar é uso da tecnologia como benefício social

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egundo o secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Secis/MCTI), Oswaldo Duarte Filho, o projeto do barco solar fotovoltaico desenvolvido como alternativa ao transporte fluvial na Amazônia é um “exemplo típico” do que a tecnologia pode fazer para melhorar a qualidade de vida da população. “Nosso papel na Secis é justamente levar o conhecimento desenvolvido por nossas instituições de pesquisa às comunidades mais carentes. A parceria entre as universidades e as empresas privadas é extremamente importante para o país e contribui, principalmente, para o desenvolvimento da região Norte”, disse, durante o lançamento oficial da embarcação, que integra o projeto ‘Energia Solar Fotovoltaica Aplicada ao Transporte e a Atividades Produtivas na Amazônia’. Financiado pelo MCTI e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI), o barco foi projetado considerando as condições climáticas e geográficas da Amazônia. O objetivo principal é transportar estudantes no trajeto casa-escola, e também ajudar a levar suprimentos aos moradores de comunidades ribeirinhas. Para o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Energias Renováveis e Eficiência Energética da Amazônia e professor titular da Universidade Federal do Pará (UFPA), João Tavares Pinho, a questão da energia é extremamente importante para O barco está ancorado na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro

Com capacidade para transportar 22 pessoas e meia tonelada de carga, o barco também, tem o objetivo de possibilitar a geração de renda para comunidades amazônicas

a população local. “Há uma necessidade naquela região e nós, da universidade, temos um débito social com essa população. Não adianta só fazer pesquisas de ponta que sirvam para estrangeiros e não para nós, brasileiros”, avaliou. Até meados de agosto, o barco ficará ancorado na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Com o apoio da Universidade Federal do Pará, deve ser levado, até o final do ano, à comunidade de Santa Rosa, no município de Barcarena, situado a quatro quilômetros de Belém. Atualmente, o trajeto escolar no local é realizado por pequenas embarcações movidas a diesel, que poluem os leitos dos rios e estressam os animais por causa do ruído.

O projeto A embarcação foi desenvolvida pelo grupo de pesquisa estratégica em energia solar da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).“O MCTI está levando tecnologia para as camadas mais desassistidas da população e contribuindo a economia local, já que, além de transportar as crianças, o barco também vai transportar cargas”, afirmou o responsável pelo projeto, o professor da UFSC Ricardo Rüter. A Eletrobrás prestou apoio técnico ao projeto. “Temos trabalhado muito no conceito de cidades inteligentes, onde a questão da mobilidade eficiente é muito importante”, disse o gerente do Departamento de Projetos de Eficiência Energética da empresa, Fernando Perrone. “Esse é um projeto bastante emblemático e pode ser aplicado não só em regiões mais afastadas, mas, também, para otimizar a questão da energia”.

Mercado Atualmente, o trajeto escolar no local é realizado por pequenas embarcações movidas a diesel, que poluem os leitos dos rios e estressam os animais por causa do ruído. Segundo Ricardo Rüter, professor da UFSC, o próximo passo será fabricar outros barcos para que eles possam chegar ao mercado como uma alternativa de transporte, não apenas para o Norte, mas para outros locais do país. A USP (Universidade de São Paulo) também já construiu seu barco solar, uma versão não tripulada voltada para o monitoramento ambiental. 76 REVISTA AMAZÔNIA

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Práticas ambientais têm contribuição da nanotecnologia A tecnologia dispensa o uso do petróleo na produção do plástico e o material degrada-se mais depressa

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lásticos biodegradáveis para uso em sacolinhas, copos descartáveis, embalagens e materiais para a agropecuária. Essas são algumas das funcionalidades da nanotecnologia já identificadas por pesquisadores brasileiros. A tecnologia dispensa o uso do petróleo na produção do plástico e o material degrada-se mais depressa. Enquanto o produto tradicional demora até 400 anos para ser absorvido no meio ambiente, o plástico biodegradável leva 18 semanas, em média. Estudo liderado pela Embrapa Instrumentação aponta que o bioplástico pode ser misturado ao solo, a restos de alimentos e folhas, tornando-se adubo, princípio utilizado na compostagem. A utilização da nanociência permite que o material seja degradado por bactérias e fungos na água, gás carbônico e materiais biológicos. O pesquisador da Embrapa, José Manoel Morconcini, explica que o plástico biodegradável pode ser produzido a partir do amido de alimentos como milho, mandioca, trigo e arroz, ou mesmo de materiais convencionais. O que vai definir o produto como biodegradável é a sua capacidade de se decompor no contato com a natureza. “Os pré-requisitos fundamentais para um plástico biodegradar-se é ter a presença de micro-organismos vivos

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no ambiente em que ele será descartado, além da temperatura e da umidade adequadas. Nesse processo, fungos e bactérias vão se alimentar do plástico que for biodegradável”, diz Morconcini. Segundo o pesquisador, o alto valor do plástico biodegradável em relação ao material tradicional é um dos fatores que dificultam a produção. “Ainda é muito caro o plástico biodegradável, comparando com plásticos comerciais que a gente conhece no cotidiano. É um gargalo a gente não ter grandes produções de peças com material biodegradável”, assinala. Outro fator que distancia o bioplástico do consumidor é a ausência de um órgão que certifique a origem do material. “É necessário criar uma rede de institutos que certifique que o plástico é realmente biodegradável e compostável, para que o consumidor tenha segurança no uso desses novos materiais”. O plástico O estudo de plásticos biodegrabiodegradável pode dáveis é feito no Laboratório Naser produzido a partir do amido de cional de Nanotecnologia para o alimentos como Agronegócio, criado com invesmilho, mandioca, trigo e arroz timentos de mais de R$ 10 milhões e mantido com recursos da Agência Brasileira de Inovação – antiga Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) –, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). As linhas de pesquisa englobam desde nanobiossensores e sen-

sores eletroquímicos para monitorar processos e produtos agropecuários, até nanofilmes comestíveis, produção de fertilizantes, pesticidas e remédios para animais. Desde 2006, a Embrapa coordena a Rede de Nanotecnologia Aplicada ao Agronegócio, que tem sede na unidade de São Carlos e conta com a participação de 150 pesquisadores, sendo 70 do quadro da Embrapa e 80 de instituições parceiras.

José Manoel Marconcini, pesquisador da Embrapa Instrumentação Agropecuária REVISTA AMAZÔNIA 77


Profissionais do Agro brasileiro O por José Otavio Menten*

agro brasileiro é extremamente complexo e diversificado. Dos 850 milhões de hectares do nosso território, a agricultura ocupa cerca de 80 milhões de ha e as pastagens 180 milhões de ha. A maior parte do território brasileiro é ocupado por florestas/áreas de conservação. 85% da população brasileira é urbana, estando apenas 15% nas áreas rurais. O agro é responsável por 25% do PIB brasileiro, por 35% da PEA (População Economicamente Ativa)- isto significa cerca de 17 milhões de empregos- e por 36% das exportações- responsável pelo saldo positivo de nossa balança comercial. O agro envolve atividades antes da porteira (maquinas e equipamentos agrícolas, insumos, como sementes, fertilizantes e defensivos, planejamento, financiamento e seguro agrícolas) com 10 % do PIB agrícola, dentro da porteira (administração, assistência técnica e extensão rural, produção de vegetais-alimentos, biomassa, fibras), com 25% do PIB agrícola e depois da porteira (logística, armazenamento, transporte, processamento de matérias primas vegetais e animais /agroindústria, comercialização), com 65% do PIB agrícola. São cerca de 5 milhões de propriedades rurais, 60 mil agroindústrias e 300.000 estabelecimentos comerciais. Os profissionais envolvidos nestas atividades são bastante diversificados. 78 REVISTA AMAZÔNIA

O trabalho no agro é desenvolvido por profissionais com diversos níveis de formação/educação, desde os que contribuem com a mão-de-obra (peões) até cientistas/técnicos altamente especializados. Dependendo da complexidade das atividades desempenhadas, atuam no agro técnico agropecuário (execução, manutenção), tecnólogos (fiscalização, orçamento) e profissionais de nível superior pleno - Engenheiros, Médicos Veterinários, Zootecnistas, Economistas, Advogados, etc. ( projetos, coordenação, estudos, consultorias, ensino, pesquisa, extensão). As principais áreas de atuação dos profissionais do agro são: 1. recursos naturais e manejo ambiental (solos, água, biodiversidade/ecossistemas, bacias hidrográficas, recuperação de áreas degradadas); 2. engenharia de biossistemas (climatologia, energia agrícola, irrigação/drenagem, máquinas e equipamentos agrícolas, topografia/georreferenciamento, construções e estradas rurais); 3. biotecnologia (melhoramento de plantas e animais por métodos convencionais e moleculares/transgênicos); 4. produção vegetal (sistemas de produção de alimentos, culturas energéticas, fibras, fertilidade de solos/ nutrição vegetal , proteção de plantas/ fitossanidade, floricultura, parques e jardins); 5. produção animal (carne de boi, frango, suíno, peixes/frutos do mar, pequenos animais); 6. processamento de produtos

agropecuários (industrialização de carnes, farinhas, óleos, leite, sucos, açúcar, álcool, celulose, papel, madeira); 7. economia, administração e sociologia rural (política e desenvolvimento rural, marketing do agro, planejamento/projetos, financiamento e seguro rural, gestão da produção, comercialização de produtos agropecuários, logística, preços agrícolas). Entre os profissionais do agro, podemos destacar os Engenheiros Agrônomos, Engenheiros Florestais, Engenheiros Agrícolas, Engenheiros de Pesca/ Aquicultura, Meteorologistas, Médicos Veterinários, Zootecnistas, Biólogos, Engenheiros Ambientais, Engenheiros de Alimentos, Engenheiros de Produção, Engenheiros Químicos, Engenheiros Agrimensores, Químicos, Nutricionistas, Cientistas de Alimentos, Engenheiros Civis, Engenheiros Mecânicos, Economistas, Administradores, Advogados, Ecólogos, Geógrafos, Médicos, Publicitários, Comunicadores, Jornalistas, etc. Estes profissionais podem atuar em empresas/instituições públicas e privadas. Recente reportagem sobre as 100 personalidades mais influentes do agro brasileiro mostrou que a maioria é constituída de Engenheiros Agrônomos, seguida por economistas, outros engenheiros, advogados, médicos veterinários, zootecnistas, biólogos, administradores, químicos, cientistas sociais e jornalistas. Estes profissiorevistaamazonia.com.br


Em homenagem aos profissionais do Agro brasileiro

Atualmente, produzimos muito mais em menor espaço de terra, resultado da ação dos nossos agricultores, orientados pelos Engenheiros Agrônomos

nais atuam, principalmente, na produção de animais e vegetais, processamento de produtos agropecuários, entidades/ associações, insumos agrícolas (defensivos, sementes, fertilizantes, medicamentos animais), cooperativas, financiamento agrícola, pesquisa agropecuária, governo/política, agroenergia, ensino agrícola, máquinas e implementos agrícolas, consultores e tecnologia da informação maioria é constituída por homens, mas a presença de mulheres é cada vez maior. Pesquisa apresentada recentemente pela ESPM/ABAG/IPESO sobre a percepção da população dos grandes centros urbanos sobre o agronegócio brasileiro, ouvindo 600 moradores das 12 maiores capitais do Brasil, mostrou que os profissionais mais relacionados ao agro são Engenheiros Agrônomos (75%), Engenheiros Ambientais (51%), peões (45%), Médicos Veterinários (37%), Administradores (27%), Nutricionistas (25%) e Químicos e Economistas (22%). Importante ressaltar que os profissionais demandados pelo agro brasileiro atual devem apresentar qualidades pessoais satisfatórias (ética, liderança, responsabilidade, espírito de equipe, empreendedorismo), boa comunicação e expressão, conhecimentos sólidos em economia/ gestão e métodos quantitativos computacionais/tecnologia da informação, além da tecnologia de produção. [*] Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da USP/ESALQ revistaamazonia.com.br

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Pesquisador reúne obra completa em livro sobre manejo ambiental

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pesquisador aposentado da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP) Odo Primavesi acaba de lançar o livro “Manejo Ambiental Agrícola - para agricultura tropical agronômica e sociedade”, pela Editora Agronômica Ceres. A obra é uma contribuição do agrônomo para o equilíbrio entre ciência agronômica, agricultura e sociedade. Ricas em detalhes do ambiente natural e agrícola do Brasil, as 840 páginas reúnem todos os resultados e ideias publicados pelo autor em suas duas décadas como pesquisador da Embrapa. O livro aborda de forma global e integrada os aspectos ambientais mais importantes para os cidadãos rurais e urbanos, e traz aspectos ecológicos de manejo (solo, água e árvores) que servem tanto para áreas urbanas como rurais. Primavesi argumenta no livro em favor do desenvolvimento construtivo, um caminho para chegar ao sucesso socioeconômico por meio de boas práticas de manejo ambiental. “Todo leitor encontrará algum aspecto de interesse para sua vida e atividade diária, de forma holística e integrada, e que afeta seu ambiente e, com isso, seu modo de agir”, afirma o autor. A obra traz informações essenciais tanto para empresários rurais que praticam os sistemas de produção intensivos de alta tecnologia, como para a agricultura familiar produtiva e os sistemas agroflorestais, ou para a agricultura urbana. Também dá suporte ao programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), do Ministério da Agricultura, e estimula também o cidadão urbano a repensar seu ambiente e a forma de manejá-lo.

Em sintonia com as novidades na área ambiental, Primavesi aborda conceitos como os de pegada ecológica, de água, de carbono e de nitrogênio; mudanças climáticas e aquecimento global, economia verde e azul; desenvolvimento construtivo; entre outros. Traz também diversos exemplos práticos, que podem servir de referência para novas ações nas diversas áreas relacionadas. O livro apresenta ainda alternativas de manejo ambiental, dentro do conceito de boas práticas, com base em conhecimentos agronômicos e ecológicos, criando a possibilidade de se montar sistemas de produção duradouros, praticáveis em pequena e em grande escala. Possui 840 páginas, 139 tabelas, 36 figuras sendo 21 coloridas, e mais de 3.300 referências bibliográficas.

O autor Odo Primavesi é engenheiro agrônomo formado na Universidade Federal de Santa Maria, com mestrado e doutorado na Universidade da São Paulo/Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, na área de solos e nutrição de plantas. De 1990 a 2008, foi pesquisador na Embrapa Pecuária Sudeste na área de forragicultura, tendo desenvolvido estudos sobre levantamento de impactos ambientais da pecuária bovina de leite e de corte e os produtos gerados, e identificação de indicadores de qualidade ambiental. Em 2000 iniciou medições pioneiras na América Latina,

EXPRESSO VAMOS + LONGE POR VOCÊ ! 80 REVISTA AMAZÔNIA

em condições de campo, da emissão de gás metano (CH4) ruminal, relacionada às mudanças climáticas. Ficha Técnica Título: Manejo ambiental agrícola: para agricultura tropical agronômica e sociedade Autor: Odo Primavesi Editora: Ceres - www.livroceres.com.br (vendas online)

MATRIZ: ANANINDEUA-PA BR 316 - KM 5, S/N - ANEXO AO POSTO UBN EXPRESS ÁGUAS LINDAS - CEP: 67020-000 FONE: (91) 3321-5200

FILIAIS:

GUARULHOS-SP FONE: (11) 2303-1745

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Preservando a Amazônia

Nosso querido Paraíso Verde

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ão resta a menor dúvida que a Amazônia vem enfrentando verdadeira batalha campal destacadamente no que diz respeito às forças que atuam na luta da presevação ambiental de um lado contra a da devastação de outro e no meio disso tudo, parece que a mídia faz uma barafunda terrível sobre a situação pois ora a notícia é uma e em seguida é outra com contorno completamente distinto e fica-se sem saber onde está a bendita da verdade, ou seja, o que realmente está acontecendo no nosso querido Paraíso Verde. Alguns jornais dos considerados centros mais importantes da federação, como Rio de Janeiro e São Paulo, apresentam o Pará como o principal causador de toda a destruição que ocorre na região, seguido de perto por Rondônia, e logo depois por Mato Grosso. No entanto, em decorrência da troca de posição constante entre esses mesmos estados no que se refere a danos ambientais, os “louros da vitória” mudam uma vez mais de dono. Na realidade estamos participando de verdadeira bagunça organizada onde alguns mestres faladores que dizem entender de tudo, entram de cabeça, corpo e alma nessa balbúrdia, puxando cada um, a sardinha para sua brasa, e dane-se o papagaio da amassadeira, como diziam os paraenses mais antigos.Os historiadores do presente e do futuro vão comer o pão que o diabo amassou para explicar essa confusão toda e mesmo assim correm o risco de não serem devidamente compreendidos pelos seus leitores. Volta e meia, equipes treinadas e armadas de argumentos mil, ocupam as primeiras páginas dos periódicos daqui mesmo do Pará, alardeando aos quatro ventos que agora sim tudo será resolvido definitivamente. Quem quiser apostar e perder, que o faça pois muita coisa aparentemente estranha mas muito bem intencionada por puro interesse de determinados setores locais, nacionais e internacionais, irá acontecer para garantir que tudo

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por Camillo Martins Vianna* permaneça como dantes no quartel de Abrantes e seja lá como Deus quiser. No passado, sobrevoos realizados sobre a floresta amazônica identificavam que após a passagem de máquinas pesadas utilizadas na aberturas de grandes rodovias, bem como, as de menor envergadura e em dezenas de ramais de variadas extensões, principalmente no Pará e no Amapá, acabavam criando, na verdade, condições adequadas para o ataque sem dó nem piedade de aventureiros aos recursos naturais mantidos intactos pela própria natureza até aquele momento. Quase ao mesmo tempo, as atividades pecuárias trazidas pelos fazendeiros de outras regiões do Brasil contribuiram generosamente para ampliar os problemas ambientais na Amazônia onde o maior inimigo era a vegetação exuberante e diversificada, mas mesmo assim foi colocada abaixo não importando se era uma floresta situada em terra firme ou às margens de inúmeros rios e igarapés, tudo isso com o propósito único de implantar imensas áreas de pastos para servir de alimento para o gado que em passado recente foi chamado de pirata por ilustre membro do governo federal. Igualmente para a formação de capineiras, outras máquinas de efeito devastador, inclusive aviões de pequeno

porte eram utilizados para aspergir produtos químicos de alta toxidade, na limpeza extensas áreas dessa vez para alimentar o boi destinado à exportação para países como Venezuela e Líbano. Pequenos instrumentos saudados atualmente com título de nobreza ( a propaganda na televisão trata como Majestade cercada de súditos) mas também com poder destruidor e em número incalculável são utilizadas há decadas para a eliminação da vegetação ainda verde mas implacavelmente posta abaixo. Por outro lado, a agricultura tradicional praticada por moradores das margens de rios e igarapés chamados de ribeirinhos, também têm uma pequena parcela de contribição na situação caótica em que se encontra a Amazônia. Como foi dito anteriormente, considerando os diversos agentes que participam dessa verdadeira batalha campal entre os paraticantes da devastação e da preservação ambiental na exuberante região amazônica, é muito difícil prever quem será o vencedor. No entanto, parece não existir dúvidas, que atualmente os adeptos do primeiro time levam alguma vantagem. [*] Sobrames, Sopren

Sobrevoos realizados sobre a floresta amazônica identificavam…

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Pesquisa da Embrapa com produtos florestais não-madeireiros valoriza conhecimento tradicional por Dulcivânia Freitas * Foto: Marcelino Guedes

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contribuição do conhecimento dos extrativistas nos resultados bem sucedidos da pesquisa agroflorestal com castanha-do-brasil, andiroba e copaíba, foi destacada pela pesquisadora Lúcia Wadt, da Embrapa Acre, durante a abertura do 2º Seminário / Workshop do Projeto Kamukaia, no auditório da Embrapa Amapá. O eventoreuniu pesquisadores da Embrapa, gestores, técnicos e acadêmicos vinculados a atividades do setor florestal. “Temos a percepção de que não fazemos manejo sustentável sem conhecermos aspectos ecológicos das espécies de interesse da pesquisa. É importante trabalharmos com as comunidades tradicionais, porque elas têm o conhecimento empírico fundamental para estudos básicos e definição de técnicas de manejo”, afirmou a pesquisadora, coordenadora da Rede Kamukaia, que reúne atualmente 68 participantes de 12 instituições. O Projeto Kamukaia é uma rede de pesquisa coordenada pela Embrapa Acre e conta com equipes da Embrapa de todos os estados da região Norte. O termo Kamukaia é derivado das palavras de língua indígena Wapixana: kamuk e aka, que significam produtos da floresta. Iniciado em 2005, o Projeto Kamukaia “Manejo Sustentável de Produtos Florestais não Madeireiros na Amazônia” tem como objetivo consolidar informações da ecologia e manejo de espécies florestais com uso não-madeireiro que auxiliem na recomendação de práticas de manejo

Projeto Kamukaia. Bolsista na coleta de castanha

sustentável para a Amazônia. Os resultados estão organizados e disponibilizados por meio de 21 artigos científicos, 13 publicações técnicas, 59 resumos publicados em eventos científicos, 13 monografias de graduação e Iniciação Científica, 27 dissertações de mestrado e teses de doutorado e um livro. “Tudo isso é resultado de muito trabalho de campo. Um dos desafios da pesquisa agora é estimar o valor e o potencial de produção da floresta”, observou Lúcia Wadt. Um dos objetivos 2º Seminário / Workshop do Projeto Kamukaia, realizado em parceria da Embrapa com o Instituto Estadual de Florestas do Amapá (IEF), foi apresentar os resultados de pesquisas desenvolvidas nos últimos sete anos, incluindo a primeira e segunda fase do projeto. Durante a abertura do evento, o chefe-geral da Embrapa Amapá, Silas Mochiuti, enfatizou a necessidade de que a próxima etapa do Kamukaia direcione investimentos em tecnologias e ações de desenvolvimento para as comunidades extrativistas. “Nosso grande desafio agora é transformar estes dados, que são importantes, em benefícios reais para nossos extrativistas a fim de que seja reduzida,

por exemplo, sua condição de vulnerabilidade no custo de produção dos produtos derivados das espécies florestais”, acrescentou Mochiutti. O Projeto Kamukaia foi criado para aumentar as possibilidades de manejo de produtos florestais não-madeireiros na região Norte. Para as espécies principais – castanha-do-brasil, andiroba e copaíba - têm sido realizados estudos consistentes com resultados úteis na definição de diretrizes técnicas para o manejo dessas espécies no plano nacional que visa promover as cadeias produtivas da sociobiodiversidade. Os resultados também servem de base para projetos e políticas públicas de desenvolvimento local nos estados. Entre os impactos das pesquisas no Amapá estão o Projeto Carbono Cajari, voltado para o desenvolvimento de comunidades de castanheiros da Reserva Extrativista do Cajari (Laranjal do Jari/AP). Dados gerados pelas pesquisas do Kamukaia também contribuem para o Programa Pró-Extrativismo, do Governo do Estado. O coordenador do Pró-Extrativismo, Madson Rocha Alan de Sousa, enfatizou a parceria do IEF com a Embrapa como uma estratégia a ser consolidada. “O Pró-Extrativismo é voltado ao fomento da cadeia produtiva do açaí, castanha-da-amazônia e cipó-titica com iniciativas de apoio ao manejo e comercialização desses produtos. Existe todo interesse do Governo, do IEF, em atuarmos juntos para o desenvolvimento das comunidades extrativistas”, disse Madson Sousa. A próxima etapa do Projeto Kamukaia está sendo articulada na forma de arranjo de projetos, voltados ao manejo para uso múltiplo da floresta, sendo aberta a oportunidade de estudos com outras espécies potenciais para o desenvolvimento da região Amazônica. Nessa fase, também espera-se consolidar e validar as diretrizes de manejo para as espécies principais, além de fortalecer aspectos de pós coleta, para geração de produtos beneficiados com maior valor agregado. [*] Os produtos artesanais podem ser encontrados nas lojas de souvenirs dentro da RDSA. As encomendas são realizadas

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Ano 8 Número 39 2013 R$ 12,00 5,00

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Ano 8 Nº 39 Julho/Agosto 2013

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