Amazônia 97

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25 Ano 15 Número 97 setembro/2021

A BIOREVOLUÇÃO ESTÁ COMEÇANDO ESTRUTURA GLOBAL PARA GERENCIAR A NATUREZA BIODIVERSIDADE E CRISES CLIMÁTICAS DEVEM SER ENFRENTADAS EM CONJUNTO capa individual.indd 1

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Telemedicina Iniciativa da Norte Energia fortalece a saúde indígena no médio Xingu. Os povos indígenas da Volta Grande do Xingu contam agora com o projeto Telemedicina nas Aldeias, da Norte Energia, empresa privada concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte.

Saiba mais em norteenergiasa.com.br

Executado em parceria com a Secretaria Especial de Saúde Indígena e o Distrito Sanitário Especial Indígena, o projeto de atendimento médico remoto reforça o Programa Integrado de Saúde Indígena, compromisso do licenciamento ambiental da Usina. Os equipamentos do Telemedicina nas Aldeias já estão sendo entregues às Unidades Básicas de Saúde Indígena construídas pela empresa na Volta Grande do Xingu, e utilizam a internet ofertada pelo projeto Conecta Xingu, por outra iniciativa da concessionária de Belo Monte. revistaamazonia.com.br

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EXPEDIENTE PUBLICAÇÃO

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Nova estrutura global para gerenciar a Natureza Falha na ação climática, perda de biodiversidade e doenças infecciosas contadas como os três principais riscos no Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial. É imperativo que líderes e cidadãos adotem uma visão sistêmica para a transformação econômica e social necessária hoje, para que possamos construir o mundo que queremos habitar em 2030. Em 2015, os líderes mundiais se uniram em um compromisso ambicioso de combater...

A biorrevolução está começando

Sete dos últimos dez prêmios Nobel de Química foram atribuídos a avanços na bioquímica: o estudo de processos químicos dentro e relacionados a organismos vivos. Nosso conhecimento de genômica, motores moleculares e edição de genes, junto com os avanços em nanotecnologia e IA estão em um ponto mais alto. Adicione a isso os custos em rápida queda da mesma tecnologia e você terá uma combinação potente. Esta combinação está prestes a ser transformadora e altamente disruptiva em muitas partes de nossas vidas. Assim como a ascensão da química...

ONU: relatório sobre clima é “alerta vermelho” O relatório fornece novas estimativas das chances de ultrapassar o nível de aquecimento global de 1,5°C nas próximas décadas e constata que, a menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, o aquecimento deve ser limitado a cerca de 1,5° C. ou mesmo 2 ° C estará fora de alcance. O relatório mostra que as emissões de gases de efeito estufa das atividades humanas são responsáveis por aproximadamente 1,1°C de aquecimento desde 1850-1900 e conclui que, em média, nos próximos 20 anos, a temperatura global deve atingir ou ultrapassar 1,5°C...

O ar limpo se tornará uma nova moeda global?

EDITORA CÍRIOS

DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Akanksha Khatri, Agência FAPESP, ANU, David Duong, Divulgação, Duke University, Gabriel Farias, Gapminder, INARAE, IPBES, IPCC, IPCC 2021, Klaus Schwab, Lena Chan, Matthias Berninger, Mauricio Rodas Espinel, Mestre Riya, Monika Mondal, Neha Rana, ONU, Princeton University, Ronaldo Gilberto Hühn, Universidade de Montreal, University of Leeds,WEF; FOTOGRAFIAS A Business For Nature, Agência Espacial Europeia, Amilcare Porporato, ANU, Bayer, Bio-Rer, CDB, CPC, Darpan Sharma no Unsplash, Duke University, Earth Observatory, Fateme Alaie / Unsplash, Fórum Econômico Mundial, Gabriel Farias, ICRISAT, IHME/Carga Global de Doenças-Nosso mundo em dados, IPCC 2021, National Cancer Institute, NASA, NASA / ASU, Our World in Data baseado no Global Carbon Project, SYNBIOBET, State of Finance for Nature, TNFD, University of Leeds, Unsplash, 3deluxe, WEF, Wikimedia Commons, Woods Hole Research Institute; EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA DESKTOP Rodolph Pyle

FAVOR POR

NOSSA CAPA

Estudo da NASA descobre que a capacidade das florestas tropicais de absorver dióxido de carbono está diminuindo. Matéria nas Pág’s 65 e 66 Foto: Diego Perez/Serviço Florestal USDA

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Neste Dia da Amazônia (05 de setembro), o manto que dificulta o entendimento da necessidade do desenvolvimento sustentável da Amazônia deve ser retirado, mostrando a todos a realidade enfrentada pela população da maior e mais preservada floresta tropical do mundo. Após a promulgação da Constituição de 88, momento em que direitos e deveres foram assinalados, aliado à crescente evolução científico- tecnológica, o país já poderia ter alcançado melhores resultados sustentáveis, ocupação ordenada e uso adequado do solo, subsolo e biodiversidade naquela região...

Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil

ST A

E Viva a nossa Amazônia!

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A poluição do ar é um assassino silencioso. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 9 em cada 10 pessoas respiram ar contendo altos níveis de poluentes, resultando em 7 milhões de mortes por ano. Embora muitos países tenham feito esforços ativos na última década para reduzir as emissões nocivas, a crise do ar limpo destacou uma realidade sombria: os maiores poluidores são os menos afetados por seus resíduos ambientais. À medida que continuam a colher os benefícios econômicos das indústrias poluentes, as comunidades mal atendidas e subrepresentadas enfrentam o impacto das consequências...

Estudo da NASA descobre que a capacidade das florestas tropicais de absorver dióxido de carbono está diminuindo As árvores e plantas da Terra retiram grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera durante a fotossíntese, incorporando parte desse carbono em estruturas como a madeira. As áreas que absorvem mais carbono do que emitem são chamadas de sumidouros de carbono. Mas as plantas também podem emitir o gás de efeito estufa durante processos como a respiração, quando as plantas mortas decompõem...

MAIS CONTEÚDO [06] Barreira dos rios influenciou, mas não foi decisiva para criar a alta biodiversidade vegetal amazônica [14] Biodiversidade e Crises Climáticas devem ser enfrentadas em conjunto [22] Os jovens são a chave para criar um futuro melhor [25] Nova geração de jovens está colocando o planeta em primeiro lugar [31] Plantar florestas pode esfriar o planeta mais do que se pensava [34] A busca por culturas resistentes ao clima [38] Sistemas ILPF têm menores perdas de solo, água e nutrientes [47] Com as mudanças climáticas, mudanças aparentemente pequenas têm grandes consequências [50] Pesquisadores australianos estabeleceram novo recorde de eficiência na busca por hidrogênio solar de baixo custo [52] Hidrelétricas “poluidoras” [54] Reimaginar nossas cidades como centros para a conservação da biodiversidade e resiliência climática [60] Coletando água potável da umidade o tempo todo [63] Rede global transformando pesquisa em florestas tropicais da Terra

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E Viva a nossa Amazônia! por *Hamilton Mourão

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este Dia da Amazônia (05 de setembro), o manto que dificulta o entendimento da necessidade do desenvolvimento sustentável da Amazônia deve ser retirado, mostrando a todos a realidade enfrentada pela população da maior e mais preservada floresta tropical do mundo. Após a promulgação da Constituição de 88, momento em que direitos e deveres foram assinalados, aliado à crescente evolução científico-tecnológica, o país já poderia ter alcançado melhores resultados sustentáveis, ocupação ordenada e uso adequado do solo, subsolo e biodiversidade naquela região. Tendo sido injustificadamente abandonados, os projetos de assentamento e colonização agrícola da Amazônia foram deixados à própria sorte e à mercê de grileiros, posseiros e grandes latifundiários, gerando assim uma ocupação desordenada e predatória da região, particularmente nos eixos das grandes estradas, que por sua vez também foram largadas, deixando a região em isolamento e clima de abandono, abrindo espaço para uma corrida desenfreada pela posse, grilagem e ocupação ilegal. É tempo de retomada, de modificarmos este cenário, seja no campo das ações e implementação de projetos, seja na substituição da narrativa enviesada, internacional e nacional, pela narrativa pró-Amazônia. revistaamazonia.com.br

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Fotos: VPR

A proposta é ambiciosa e desafiadora, mas factível. É o que busca o Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), o qual presido, fazendo valer as 3 vertentes que balizam os trabalhos do Conselho: Proteger, Preservar e Desenvolver a região, de forma continuada e sustentável. Nosso Governo não merece mais, inveridicamente, ser rotulado de vilão ambiental por conta de erros cometidos na gestão ambiental do passado, habilmente orquestrados por grupos políticos e econômicos a quem convém manter o Brasil na defensiva, tentando justificar suas

ações na região como se fôssemos maus inquilinos da propriedade alheia ou não soubéssemos cuidar do que é nosso. A Amazônia Brasileira não é o jardim zoológico do mundo, mas sim um local habitado que busca encontrar o desenvolvimento sustentável. Mais de 25 milhões de brasileiros vivem na Amazônia Legal, com baixos índices de desenvolvimento humano. Nosso foco não deve ser apenas a repressão aos ilícitos ambientais, ao contrário, devemos intensificar a regularização fundiária, o zoneamento ecológico-econômico e a agregação de valor às produções, melhorando e ampliando as infraestruturas necessárias para proporcionar ganhos de qualidade de vida para aquelas populações locais. Proteção, Preservação e Desenvolvimento podem coexistir harmonicamente em prol de um Brasil cada vez melhor e mais justo. Tudo isso pode e deve ser feito com os necessários cuidados com o meio ambiente. Mas para que essa agenda nacional seja posta em prática, um pré-requisito fundamental será deixar de lado os mitos e a histeria sobre a região. A proposta é ambiciosa e exige fôlego, vontade política e esforço coordenado do Governo Federal, dos governos estaduais e municipais e de toda sociedade, conseguindo unir os 3 eixos de trabalho do Conselho Nacional da Amazônia Legal e atendendo às reais necessidades levantadas pelos moradores da região, sempre tendo em vista o seu bem-estar. Tudo pela Amazônia. SELVA! [*] Vice-Presidente da República e Presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal

Durante reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal REVISTA AMAZÔNIA

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Barreira dos rios influenciou, mas não foi decisiva para criar a alta biodiversidade vegetal amazônica por Daniel Scheschkewitz

Fotos: Agência FAPESP, Divulgação, Unsplash

Quadro genômico da paisagem ribeirinha para avaliar se os modos distintos de dispersão de sementes (ou seja, hidrocoria, anemocoria e zoocoria) têm um efeito consistente no nível de conectividade genética histórica e contemporânea (ou seja, passado versus presente) entre populações de ribeirinhos espécies de plantas. Locais de amostragem ao longo das margens do Rio Branco na bacia do Amazonas, Brasil. Os locais marcados 1L-7L e 1R-7R denotam as margens do rio “Esquerda” e “Direita”, respectivamente, das seguintes espécies (1) Tanaecium pyramidatum , (2) Bignonia aequinoctialis , (3) Adenocalymma schomburgkii , (4) Pachyptera kerere , (5) Anemopaegma paraense , (6) Psychotria lupulina , (7) Passiflora spinosa e (8) Amphirrhox longifólia

A dispersão das sementes é crucial para o fluxo gênico entre as populações de plantas. Embora os efeitos da distância geográfica e das barreiras ao fluxo gênico sejam bem estudados em muitos sistemas, não está claro como a dispersão de sementes medeia o fluxo gênico em conjunto com os efeitos de interação da distância geográfica e das barreiras. Para testar se os modos distintos de dispersão de sementes (ou seja, hidrocoria, anemocoria e zoocoria) têm um efeito consistente no nível de conectividade genética (ou seja, fluxo gênico) entre populações de espécies de plantas ribeirinhas, usamos polimorfismos de nucleotídeo único desvinculados (SNPs) para oito espécies de plantas co-distribuídas amostradas em todo o Rio Branco, uma barreira biogeográfica putativa na bacia amazônica. Descobrimos que as espécies de plantas dispersas por animais exibiam níveis mais altos de diversidade genética e falta de endogamia como resultado da conectividade genética mais forte do que as espécies de plantas cujas sementes são dispersas pela água ou pelo vento. Curiosamente, nossos resultados também indicaram que o Rio Branco facilita a dispersão de genes para todas as espécies de plantas analisadas, independentemente de seu modo de dispersão. Mesmo em uma pequena escala espacial, nossas descobertas sugerem que a ecologia, em vez da geografia, desempenha um papel fundamental na formação da história evolutiva das plantas na bacia amazônica. Esses resultados podem ajudar a melhorar as políticas de conservação e manejo nas matas ciliares amazônicas, onde as taxas de degradação e desmatamento são altas. nossos resultados também indicaram que o Rio Branco facilita a dispersão de genes para todas as espécies de plantas analisadas, independentemente de seu modo de dispersão. Mesmo em uma pequena escala espacial, nossas descobertas sugerem que a ecologia, em vez da geografia, desempenha um papel fundamental na formação da história evolutiva das plantas na bacia amazônica. Esses resultados podem ajudar a melhorar as políticas de conservação e manejo nas matas ciliares amazônicas, onde as taxas de degradação e desmatamento são altas. nossos resultados também indicaram que o Rio Branco facilita a dispersão de genes para todas as espécies de plantas analisadas, independentemente de seu modo de dispersão. Mesmo em uma pequena escala espacial, nossas descobertas sugerem que a ecologia, em vez da geografia, desempenha um papel fundamental na formação da história evolutiva das plantas na bacia amazônica. Esses resultados podem ajudar a melhorar as políticas de conservação e manejo nas matas ciliares amazônicas, onde as taxas de degradação e desmatamento são altas.

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stima-se que aproximadamente 50 mil espécies diferentes de plantas ocorram na Amazônia. Um único hectare, isto é, uma área de 100 metros por 100 metros, apresenta tantas espécies vegetais diferentes quanto a Europa inteira. E isto é apenas uma estimativa preliminar. Por exemplo, apenas há poucos anos foram descobertos angelins (Diniza excelsa), árvores que podem alcançar mais de 80 metros de altura. Se vegetais desse porte gigantesco permaneceram desconhecidos pela ciência acadêmica por tanto tempo, o que se dirá de plantas pequenas? Um dos fatores que podem ter contribuído para produzir essa extraordinária biodiversidade vegetal na Amazônia é a barreira natural constituída pelos rios de grande porte, impedindo que algumas espécies existentes no território situado ao longo de uma das margens se difundam pela margem oposta. Essa antiga hipótese, proposta em meados do século 19 por Alfred Russel Wallace (1823-1913) para tentar explicar a distribuição de espécies de primatas na Amazônia, poderia explicar também o padrão de distribuição geográfica e os processos de diversificação de espécies vegetais? “Fizemos um estudo que, em termos genéticos, é uma reinterpretação da hipótese de Wallace. Segundo essa reinterpretação, grandes rios, como os da bacia amazônica, poderão reduzir ou impedir o fluxo gênico entre as populações de plantas nas margens opostas dos rios, acarretando alopatria [diferenciação de espécies em decorrência do isolamento geográfico] e restringindo as espécies a regiões interfluviais específicas”, conta Alison Nazareno, professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), à Agência FAPESP. O estudo realizado por Nazareno e colaboradores e coordenado por Lúcia Lohmann, professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), investigou essa possibilidade. Os resultados foram divulgados no periódico Frontiers in Plant Science. A pesquisa recebeu apoio da FAPESP por meio de quatro projetos (13/126338, 15/07141-4, 17/02302-5 e 12/50260-6) e foi conduzida no âmbito do Programa BIOTA-FAPESP. O artigo atual dá sequência a quatro estudos sobre o tema anteriormente publicados por Nazareno e Lohmann em janeiro de 2017, em abril do mesmo ano, em novembro de 2018 e em dezembro de 2019.

Comparação da partição da estrutura genética entre as espécies de plantas dispersas pelo vento (1- T. pyramidatum , 2- B. aequinoctialis e 3- A. schomburgkii), água (4- P. kerere e 5- A. paraense) e animais (6- P. lupulina , 7- P. spinosa e 8- A. longifolia), conforme revelado pela Análise de Variância Molecular (AMOVA), onde F ST , F SC e F CT representam a estrutura genética entre as margens do rio, entre os locais de amostragem dentro das margens e dentro dos locais de amostragem, respectivamente

“Nós estudamos a influência de dois rios na diferenciação das espécies: o Negro, que é muito antigo e extremamente largo em algumas porções, e o Branco, um rio bem mais recente e estreito. Verificamos que o

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Branco não constituiu barreira para o fluxo gênico. Mas o Negro, para algumas espécies, a exemplo da Amphirrhox longifolia, da família das violáceas, constituiu uma barreira sim”, diz Lohmann à Agência FAPESP.

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O Rio Branco facilita a dispersão de genes para todas as espécies de plantas analisadas, independentemente de seu modo de dispersão

A pesquisadora explica que a espécie Amphirrhox longifolia é disseminada por peixes. Mesmo assim, o Negro representou uma eficiente barreira para a dispersão gênica. “É preciso considerar que, em certos trechos, o Negro chega a ter dezenas de quilômetros de largura entre uma margem e outra, representando uma barreira extraordinária. Os próprios peixes que dispersam sementes desta espécie frequentemente apresentam nichos restritos e não alcançam a margem oposta do rio”, informa Lohmann. “Surpreendentemente, observamos uma forte estruturação genética entre populações da espécie Buchenavia oxycarpa, da família vegetal Combretaceae, localizadas nas margens opostas do rio Negro – um padrão inesperado para espécies que são dispersadas por primatas”, acrescenta Nazareno. Os pesquisadores ressaltam que os estudos no rio Negro foram um dos primeiros a usar espécies

Pesquisadores estudam a influência da barreira dos rios na biodiversidade vegetal amazônica

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vegetais para testar a hipótese de Wallace, que já era muito bem assentada no caso dos animais vertebrados, com diversos estudos documentando a importância dessa barreira para aves e primatas. No rio Branco, os pesquisadores investigaram representantes de quatro famílias vegetais: as bignoniáceas (à qual pertencem os ipês, os jacarandás e diversas lianas), as passifloráceas (à qual pertence o maracujá), as rubiáceas (à qual pertence o café) e as violáceas (à qual pertencem algumas violetas). E consideraram espécies com três tipos de dispersão: pelo vento, pela água e por animais. No artigo, os autores explicam que, para testar se os modos distintos de dispersão de

sementes têm um efeito similar no nível de conectividade genética (ou seja, no fluxo gênico) entre populações de diferentes espécies de plantas ribeirinhas, foi usado um tipo de marcador genético conhecido como polimorfismo de nucleotídeo único não ligado (SNP, da expressão em inglês single nucleotide polymorphism) para oito espécies de plantas. Vale lembrar que SNP é uma variação no DNA que afeta somente uma base – adenina (A), timina (T), citosina (C) ou guanina (G) – na sequência do genoma. Ou seja, é um marcador molecular bastante promissor em estudos de genômica de populações. “Embora as partes mais largas do Negro tenham efetivamente servido como barreira

para o fluxo gênico em algumas espécies, nossos resultados indicam que o Branco não representou uma barreira para a dispersão gênica para nenhuma das plantas analisadas, independentemente de seu modo de dispersão”, comenta Lohmann. Isso sugere que foram fatores ecológicos e não geográficos que desempenharam papel fundamental na história evolutiva das plantas na bacia amazônica. “Esses resultados podem ajudar a melhorar as políticas de conservação e manejo nas matas ciliares amazônicas, onde as taxas de degradação e desmatamento são tão altas”, sublinham os autores: Alison G. Nazareno, L. Lacey Knowles, Christopher W. Dick e Lúcia G. Lohmann.

O Rio Branco não representou uma barreira para a dispersão gênica para nenhuma das plantas analisadas

Oct 4 - 6, 2021 PTA Congress Centre, Amsterdam, revistaamazonia.com.br The Netherlands

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A biodiversidade está ameaçada em todo o mundo

Nova estrutura global para gerenciar a Natureza O Secretariado da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica divulgou o primeiro esboço de seu novo Quadro de Biodiversidade Global Pós-2020. Ele traça planos de ação para proteger, restaurar e gerenciar a natureza de forma sustentável e transformar a relação da sociedade com o mundo natural. por *Akanksha Khatri

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alha na ação climática, perda de biodiversidade e doenças infecciosas contadas como os três principais riscos no Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial. É imperativo que líderes e cidadãos adotem uma visão sistêmica para a transformação econômica e social necessária hoje, para que possamos construir o mundo que queremos habitar em 2030. Em 2015, os líderes mundiais se uniram em um compromisso ambicioso de combater as mudanças climáticas para manter o mundo no caminho de 1,5 ° C.

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Fotos: A Business For Nature, CDB, State of Finance for Nature, TNFD, Unsplash, WEF

Além dos governos que se comprometeram com o Acordo de Paris, as empresas alinharam seus planos e compromissos a essa visão. Empresas com uma receita combinada de mais de US $ 11,4 trilhões (equivalente a mais da metade do PIB dos EUA), agora buscam emissões líquidas zero até o final do século, a maioria até 2050. Uma ambição público-privada semelhante é necessária à medida que os líderes se reúnem em Kunming, China, para chegar a um acordo sobre a Estrutura de Biodiversidade Global pós-2020.

Na semana passada, o Secretariado da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB) lançou sua primeira versão preliminar da estrutura , convidando a contribuição e o envolvimento de todos os setores da sociedade. As empresas têm um papel especialmente importante a desempenhar no combate à perda de biodiversidade e na garantia de serviços ecossistêmicos contínuos, como sequestro de carbono, água potável, segurança alimentar, etc. Aqui estão cinco coisas que você precisa saber:

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1.

O que é a Estrutura de Biodiversidade Global pós-2020?

Plano Aichi 2011-2020

O Plano Aichi 2011-2020 não conseguiu atingir uma única meta de biodiversidade. Nos últimos dois anos, cientistas, especialistas e funcionários do governo têm trabalhado em uma estrutura a ser adotada em Kunming China na UN CBD COP15 que definirá metas sobre como administrar a natureza até 2030. Enquanto as metas, como o Acordo de Paris, não são vinculantes para as empresas - sinalizam a ambição do governo e a priorização de atividades para combater a crise de perda da biodiversidade. Ao alinhar sua estratégia e operações à estrutura, as empresas garantem seu futuro, pois todas dependem da natureza e de seus serviços ecossistêmicos. Por exemplo, de acordo com a Organização para Alimentos e Agricultura, mais de três quartos das safras mundiais de alimentos dependem, pelo menos parcialmente, da polinização, e a produção agrícola global, com um valor de mercado anual entre US $ 235 bilhões e US $ 577 bilhões, está em risco.

2.

Impedir o uso de dinheiro público para prejudicar bens públicos Os governos em todo o mundo forneceram aproximadamente US $ 530 bilhões por ano em subsídios públicos e apoio ao preço de mercado para os agricultores, mas apenas 15% desses incentivos apoiam resultados sustentáveis , enquanto a maioria pode estimular o uso excessivo de fertilizantes, entre outros efeitos perversos. A meta 18 da Estrutura compromete os governos a redirecionar, reaproveitar, reformar ou eliminar incentivos prejudiciais à biodiversidade de maneira justa em pelo menos $ 500 bilhões por ano em todos os setores.

3.

Impacto nos negócios e dependência da natureza

A meta 15 da estrutura pede que todas as empresas avaliem e relatem suas dependências e impactos sobre a biodiversidade, reduzindo seus impactos negativos pelo menos pela metade. Os ministros das finanças do G7 endossaram o lançamento da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD), que fez com que muitos grandes serviços financeiros e empresas investidoras reforçassem os relatórios sobre biodiversidade semelhantes ao clima exigidos pelo TCFD. O que significa que o custo de capital para qualquer negócio que não esteja conduzindo uma avaliação de materialidade contra a natureza será significativamente afetado.

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Uma abordagem de gerenciamento de risco baseada na natureza adequada ao propósito. 12

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Por que a crise que envolve a natureza é importante para os negócios e a economia Para enfrentar a tripla crise planetária de mudança climática, perda da natureza e degradação da terra

4.

Financiamento para a natureza

A meta 19 da estrutura pede mais recursos financeiros para pelo menos US $ 200 bilhões por ano, com pelo menos US $ 10 bilhões de aumento para os países em desenvolvimento. De acordo com o relatório State of Finance for Nature , um investimento total na natureza de US $ 8,1 trilhões é necessário até 2050 para enfrentar a tripla crise planetária de mudança climática, perda da natureza e degradação da terra. Atualmente, o financiamento privado representa apenas 14% das soluções baseadas na natureza. Existe a necessidade e o potencial de aumentar isso, valorizando o capital natural da mesma forma que avaliamos o capital financeiro, físico e humano. Fortalecendo os mecanismos de mercado para ajudar a combater as mudanças climáticas e a perda da natureza, a China lançou recentemente seu esquema nacional de comércio de emissões de carbono, com US $ 32 milhões mudando de mãos. Outro exemplo é o lançamento de um empreendimento de gestão de ativos pelo HSBC com a ambição de criar a maior empresa de gestão de ativos de capital natural dedicada do mundo. A Unilever anunciou seu fundo Natureza e Clima de 1 bilhão de euros. É necessária uma grande inovação do setor empresarial e um ambiente regulatório consistente que apoie os mecanismos de mercado com salvaguardas justas para proteger e gerir de forma sustentável a natureza.

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5.

Ciclo de ambição positiva de políticas governamentais e liderança empresarial A estrutura é um primeiro rascunho e há espaço para ser mais ambicioso e criar uma estrutura verdadeiramente transformadora, incluindo a adoção de uma meta global clara e ambiciosa para a natureza de parar e reverter a perda de natureza até 2030 e criar um mundo positivo para a natureza. Essa meta global está sendo reivindicada por muitos atores não-estatais e reconhecida por mais de 88 chefes de estado no Compromisso dos Líderes pela Natureza. Se adotado na estrutura, enviaria um forte sinal para a comunidade empresarial de que a mudança regulatória está chegando e os negócios normais não são mais uma opção, portanto, incentivando a adoção de modelos de negócios positivos para a

natureza e o redirecionamento de investimentos e decisões de negócios. fazer processos em torno da proteção, restauração e uso sustentável da natureza e dos recursos naturais. O Secretariado da ONU CBD está agora solicitando contribuições de empresas e organizações da sociedade civil para garantir que tenha um plano de implementação intersetorial e recursos público-privados. A Business For Nature está trabalhando para reunir empresas de vários setores e geografias para contribuir com o primeiro rascunho . Mais de 900 empresas se inscreveram para a chamada à ação “A Natureza é um Negócio de Todos ”, sinalizando aos governos para avançarem com políticas ambiciosas para uma economia positiva para a natureza líquida zero. [*] Chefe, Natureza e Biodiversidade, Fórum Econômico Mundial

A Natureza é um Negócio de Todos

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Biodiversidade e Crises Climáticas devem ser enfrentadas em conjunto Especialistas globais identificam opções-chave para soluções. Colaboração inédita entre o IPBES e os cientistas selecionados do IPCC

Fotos: CSIRO ScienceImage, IPBES, IPCC, Kerstin Langenberger, ODS, Sandesh Kadur, Seth Perlman - Arquivo, Siam Cement, Sumatran Orangutan Conservation

A salinidade das terras secas faz com que as árvores morram e induz a séria ravina e erosão da folha na base da paisagem de Mesa, a oeste de Charters Towers Northern

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audanças sem precedentes no clima e na biodiversidade, impulsionadas pelas atividades humanas, combinaram e ameaçam cada vez mais a natureza, vidas humanas, meios de subsistência e bem-estar em todo o mundo. A perda de biodiversidade e as mudanças climáticas são motivadas pelas atividades econômicas humanas e se reforçam mutuamente. Nenhum dos dois será resolvido com sucesso, a menos que ambos sejam enfrentados juntos. Esta é a mensagem de um relatório de workshop, publicado hoje por 50 dos maiores especialistas em biodiversidade e clima do mundo. O relatório do workshop revisado por pares é o produto de um workshop virtual de quatro dias entre especialistas selecionados por um Comitê Diretor Científico de 12 pessoas reunido pela Plataforma de Política Científica Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) - a primeira colaboração entre esses dois órgãos intergovernamentais. O relatório conclui que as políticas anteriores abordaram amplamente a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas de forma independente umas das outras, e que abordar as sinergias entre mitigar a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas, enquanto considera seus impactos sociais, oferece a oportunidade de maximizar os benefícios e cumprir as metas de desenvolvimento global“. 14

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“As mudanças nas mudanças climáticas causadas pelo homem estão ameaçando cada vez mais a natureza e suas contribuições para as pessoas, incluindo sua capacidade de ajudar a mitigar as mudanças climáticas. Quanto mais quente o mundo fica, menos comida, água potável e outras

contribuições importantes a natureza pode fazer para nossas vidas, em muitas regiões”, disse o Prof. Hans-Otto Pörtner, copresidente do Comitê Científico Biodiversidade, por sua vez, afetam o clima, principalmente por meio de impactos nos ciclos do nitrogênio, carbono e água”, afirmou. “A evidência é clara: um futuro global sustentável para as pessoas e a natureza ainda é alcançável, mas requer mudanças transformadoras com ações rápidas e de longo alcance de um tipo nunca antes tentado, com base em reduções ambiciosas de emissões. Resolver alguns dos trade-offs fortes e aparentemente inevitáveis entre o clima e a biodiversidade implicará em uma profunda mudança coletiva de valores individuais e compartilhados em relação à natureza - como o afastamento da concepção de progresso econômico baseado apenas no crescimento do PIB, para um que equilibra os seres humanos desenvolvimento com múltiplos valores da natureza para uma boa qualidade de vida, sem ultrapassar os limites biofísicos e sociais”.

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Diagrama esquemático que ilustra o conceito de cascatas, efeitos hierárquicos e iterativos nas interações clima-biodiversidade-social. As interações entre cascatas, feedbacks e efeitos hierárquicos das mudanças climáticas, biodiversidade conservação e mudanças sociais é o que define o nexo biodiversidade-clima-social enquadrado no âmbito mais amplo sistema sócio-ecológico.

Os autores também alertam que ações estreitas para combater as mudanças climáticas podem prejudicar direta e indiretamente a natureza e vice-versa, mas existem muitas medidas que podem trazer contribuições positivas significativas em ambas as áreas. Entre as ações disponíveis mais importantes identificadas no relatório estão:

Ecossistemas ricos em carbono

Parar a perda e degradação de ecossistemas ricos em carbono e espécies na terra e no oceano, especialmente florestas, pântanos, turfeiras, pastagens e savanas; ecossistemas costeiros, como manguezais, pântanos salgados, florestas de algas e prados de ervas marinhas; bem como habitats de carbono em águas profundas e azul polar. O relatório destaca que a redução do desmatamento e da degradação florestal pode contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem em uma ampla faixa de 0,4 a 5,8 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente a cada ano.

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Tratamentos aplicados na área em Itu, São Paulo, Brasil

Restaurando ecossistemas ricos em carbono e espécies. Os autores apontam evidências de que a restauração está entre as medidas de mitigação do clima baseadas na natureza mais baratas e rápidas para implementar - oferecendo habitat muito necessário para plantas e animais, aumentando assim a resiliência da biodiversidade em face das mudanças climáticas, com muitos outros benefícios, como regulação de cheias, proteção costeira, melhoria da qualidade da água, redução da erosão do solo e garantia da polinização. A restauração de ecossistemas também pode gerar empregos e renda, especialmente quando se leva em consideração as necessidades e os direitos de acesso dos povos indígenas e comunidades locais. A perda de biodiversidade e as mudanças climáticas, tradicionalmente são tratadas como crises separadas mas que se reforçam mutuamente

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Aumentar as práticas agrícolas e florestais sustentáveis para melhorar a capacidade de adaptação às mudanças climáticas, aumentar a biodiversidade, aumentar o armazenamento de carbono e reduzir as emissões. Isso inclui medidas como diversificação de culturas plantadas e espécies florestais, sistemas agroflorestais e agroecologia. O gerenciamento aprimorado de terras agrícolas e sistemas de pastagem, como a conservação do solo e a redução do uso de fertilizantes, é estimado em conjunto pelo relatório para oferecer potencial anual de mitigação das mudanças climáticas de 3-6 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente.

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Aprimorar e direcionar as ações de conservação, coordenadas e apoiadas por uma forte adaptação e inovação ao clima. As áreas protegidas representam atualmente cerca de 15% da terra e 7,5% do oceano. Resultados positivos são esperados com o aumento substancial de áreas intactas e efetivamente protegidas. As estimativas globais dos requisitos exatos para áreas efetivamente protegidas e conservadas para garantir um clima habitável, biodiversidade autossustentável e uma boa qualidade de vida ainda não estão bem estabelecidas, mas variam de 30 a 50 por cento de todas as áreas oceânicas e terrestres. As opções para melhorar os impactos positivos das áreas protegidas incluem mais recursos, melhor gestão e fiscalização e melhor distribuição com maior interconectividade entre essas áreas. As medidas de conservação além das áreas protegidas também são destacadas - incluindo corredores de migração e planejamento para mudanças climáticas, bem como uma melhor integração das pessoas com a natureza para garantir a equidade de acesso e uso das contribuições da natureza para as pessoas.

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Desmatamento de floresta de turfa para dar lugar a uma plantação de óleo de palma na Indonésia, habitat do orangotango de Sumatra. Lá os orangotangos estão à beira da extinção como resultado do desmatamento e da caça ilegal

Eliminar subsídios que apoiam atividades locais e nacionais prejudiciais à biodiversidade - como desmatamento, fertilização excessiva e pesca excessiva, também pode apoiar a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, juntamente com a mudança dos padrões de consumo individual, redução de

perdas e desperdícios e mudanças nas dietas, especialmente em países ricos, em direção a mais opções baseadas em plantas. Algumas medidas focadas de mitigação e adaptação do clima identificadas pelo relatório como prejudiciais à biodiversidade e as contribuições da natureza para as pessoas incluem:

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Plantar safras de bioenergia em monoculturas em uma grande parte das áreas de terra. Essas safras são prejudiciais para os ecossistemas quando implantadas em escalas muito grandes, reduzindo as contribuições da natureza para as pessoas e impedindo a realização de muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Em pequena escala, junto com reduções pronunciadas e rápidas nas emissões de combustíveis fósseis, plantações de bioenergia dedicadas à produção de eletricidade ou combustíveis podem fornecer Co benefícios para a adaptação climática e a biodiversidade.

Foto de 19 de março de 2019, as pás giram em um parque eólico no topo de uma colina atrás de uma grande árvore em Canton, Maine

Plantio de árvores em ecossistemas que historicamente não são florestas e reflorestamento com monoculturas - especialmente com espécies de árvores exóticas. Isso pode contribuir para a mitigação das mudanças climáticas, mas muitas vezes é prejudicial para a biodiversidade, produção de alimentos e outras contribuições da natureza para as pessoas, não tem benefícios claros para a adaptação climática e pode deslocar a população local através da competição pela terra.

(a) Agosto de 2012: mina de calcário da Siam Cement na província de Lampang, norte da Tailândia. (b) Abril de 2013: após espalhar o local com solo superficial (60 cm de profundidade), 14 espécies de árvores estruturais foram plantadas, incluindo vários Ficus espécies e leguminosas nativas, para melhorar as condições do solo. Também foram aplicadas esteiras de cobertura morta de papelão ondulado. (c) Fevereiro de 2015: ao final da terceira estação chuvosa, foi realizado o fechamento do dossel e macacos passaram a visitar a parcela para comer figos, no processo dispersando naturalmente sementes de outras espécies por defecação. A sobrevivência média entre as espécies foi de 64% e a taxa de crescimento anual relativo foi de 91%

Aumentar a capacidade de irrigação. Uma resposta comum para adaptar os sistemas agrícolas à seca que frequentemente leva a conflitos de água, construção de barragens e degradação do solo a longo prazo devido à salinização.

Quaisquer medidas que se concentrem muito estreitamente na mitigação das mudanças climáticas devem ser avaliadas em termos de seus benefícios e riscos gerais, como algumas energias renováveis gerando surtos de atividade de mineração ou consumindo grandes quantidades de terra.

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O mesmo se aplica a algumas medidas técnicas muito estreitamente focadas na adaptação, como a construção de barragens e quebra-mares. Embora existam opções importantes para mitigar e se adaptar às mudanças climáticas, elas podem ter grandes impactos ambientais e sociais negativos - como interferência com espécies migratórias e fragmentação de habitat. Esses impactos podem ser minimizados, por exemplo, desenvolvendo baterias alternativas e produtos de longa duração, sistemas de reciclagem eficientes para recursos minerais e abordagens de mineração que incluam fortes considerações para a sustentabilidade ambiental e social.

Resolvam a natureza e o clima juntos, ou haverá mais ursos polares famintos em Svalbard

As intervenções de conservação aderem às normas e princípios de conservação. Existe um domínio da conservação que se concentra na salvaguarda da biodiversidade pelo seu valor insubstituível. Outro domínio se concentra em salvaguardar a sociedade, ao mesmo tempo em que segue essas normas de conservação e princípios. Estas últimas são conhecidas como Soluções baseadas na Natureza. Embora haja alguma sobreposição, nem todas intervenções de conservação são soluções baseadas na natureza

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Os autores do relatório enfatizam que, embora a natureza ofereça maneiras eficazes de ajudar a mitigar as mudanças climáticas, essas soluções só podem ser eficazes se forem construídas com base em reduções ambiciosas em todas as emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem. “A terra e o oceano já estão fazendo muito - absorvendo quase 50% do CO2 das emissões humanas - mas a natureza não pode fazer tudo”, disse Ana María Hernández Salgar, Presidente do IPBES. “Mudanças transformadoras em todas as partes da sociedade e nossa economia são necessárias para estabilizar nosso clima, parar a perda de biodiversidade e traçar um caminho para o futuro sustentável que desejamos. Isso também exigirá que abordemos as duas crises juntos, de maneiras complementares”. A biodiversidade e as crises climáticas colocam em risco a realização dos ODS da ONU, bem como colocam um bem-estar humano e um desenvolvimento cada vez mais equitativos fora de alcance. As perspectivas negativas de esforços insuficientes para colocar o mundo no caminho certo para atingir os objetivos climáticos e de biodiversidade são lançadas em uma onda de pessimismo, especialmente entre os jovens cujo futuro está ameaçado. A atual pandemia de COVID-19 não apenas agrava e desafia as ações atuais (insuficientes), mas também destaca a urgência de repensar as mudanças climáticas e as estratégias de biodiversidade no futuro. A narrativa de interseção e aumento de riscos é importante, mas também pode ser contrabalançada por uma ênfase na implantação de soluções que constroem um roteiro de futuro alternativo, que inspira esperança de que um futuro sustentável é possível.

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Existem soluções potenciais que fornecem Co benefícios para o clima e a biodiversidade, bem como possíveis impactos e compensações. A biodiversidade e as mudanças climáticas são problemas graves com grande incerteza, valores contestados e caminhos políticos pouco claros, mas com grande urgência de ação. Reconhecer as interações entre as metas de clima, biodiversidade e boa qualidade de vida para todos pode ajudar a identificar soluções que proporcionem os mais altos Co benefícios para o clima e a biodiversidade, incluindo NbS, bem como maior conscientização sobre os riscos de compensações que irão precisar ser gerenciado. Para evitar respostas mal adaptativas, as decisões que seguem um procedimento iterativo e flexível que leva em conta a complexidade e a dinâmica de poder desigual entre os atores e as escalas são provavelmente mais bem-sucedidas.

Isso argumenta a favor de abordagens para a perda de biodiversidade e adaptação ao clima que colocam uma forte ênfase na gestão de risco e na capacidade de evoluir ao longo do tempo, em oposição à implementação de estratégias que se concentram continuamente na gestão para um cenário futuro específico e que carece de flexibilidade uma vez implementado. Alcançar um futuro sustentável baseia-se em uma visão a ser cocriada, permitindo que vários atores projetem uma diversidade de objetivos e metas flexíveis e iterativas. A integração da biodiversidade no clima e vice-versa tem sido promovida como uma forma de alcançar a integração do clima e da biodiversidade para objetivos múltiplos. No entanto, não existem soluções únicas e vários problemas importantes aguardam para serem resolvidos, como dependência excessiva de medidas voluntárias ou economistas, financiamento inadequado, dificuldades em contextualizar metas quantitativas e mecanismos de responsabilização inadequados.

Visão a ser cocriada

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Os mecanismos que podem contribuir para o sucesso no cumprimento das metas ou na obtenção de soluções políticas eficazes incluem governança policêntrica, atenção à equidade e modos de participação, gestão integrada e adaptativa, avaliação e aprendizagem reflexivas e financiamento adequado. Com a expansão do envolvimento de atores não estatais na governança, as oportunidades e os desafios em torno da legitimidade, justiça e eficácia

podem aumentar a consciência de visões e valores alternativos da natureza. O espaço participativo ampliado para além dos estados inclui governos locais e regionais, comunidades, grupos indígenas, o setor privado e outras organizações não governamentais. Isso exige parcerias aprofundadas e coprodução de conhecimento, indicadores para monitoramento de impactos, mecanismos de eficácia, avanços em tecnologias e novos modelos de financiamento.

Uma ciência da biodiversidade para sustentar o bem-estar humano

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Esta seção apontou que o uso de pontos de alavancagem na governança atual e nos sistemas socioecológicos pode ajudar a promover as mudanças em direção à governança transformadora, que envolve abraçar visões alternativas de boa qualidade de vida para todos, repensar o consumo e o desperdício, mudar valores, reconhecer diferentes sistemas de conhecimento, reduzindo a desigualdade e promovendo a educação e a aprendizagem. Para atingir as metas de longo prazo de cumprimento dos ODS, metas do Acordo de Paris e a agenda de biodiversidade pós-2020 e colocar a sociedade no caminho para mudanças transformadoras dependerá de atenção apropriada e planejamento de caminhos resilientes ao clima e à biodiversidade que permitem diferentes maneiras de medir o progresso da sociedade; em melhores ferramentas para planejamento e modelagem de cenários multissetoriais que reconhecem diferentes visões de uma vida boa e possíveis futuros para a natureza e o clima; e em uma relação refeita entre ciência e prática. Todas essas abordagens ajudarão a promover mudanças transformadoras para um futuro sustentável e resiliente para a natureza e as pessoas. É importante notar que o relatório do workshop não foi submetido ao IPBES ou revisão do IPCC, e que o co-patrocínio do IPBES e do IPCC do workshop não implica em endosso ou aprovação do IPBES ou do IPCC do workshop ou de suas conclusões.

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Os jovens são a chave para criar um futuro melhor

Os jovens são os mais afetados pelas crises que nosso mundo enfrenta. Eles também são aqueles com as ideias mais inovadoras e energia para construir uma sociedade melhor para amanhã por *Klaus Schwab

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s jovens de hoje estão envelhecendo em um mundo assolado por crises. Mesmo antes de a pandemia COVID-19 devastar vidas e meios de subsistência em todo o mundo, os sistemas socioeconômicos do passado colocaram em risco a subsistência do planeta e erodiram o caminho para vidas saudáveis, felizes e plenas de muitos. A mesma prosperidade que possibilitou o progresso global e a democracia após a Segunda Guerra Mundial está agora criando a desigualdade, a discórdia social e a mudança climática que vemos hoje - junto com um crescente hiato de riqueza geracional e também o peso da dívida da juventude. Para a geração do milênio, a crise financeira de 2008 e a Grande Recessão resultaram em desemprego significativo, enorme dívida estudantil e falta de empregos significativos. Agora, para a Geração Z, COVID-19 causou fechamentos de escolas, agravamento do desemprego e protestos em massa. Os jovens têm razão em estar profundamente preocupados e zangados, vendo esses desafios como uma traição ao seu futuro. Mas não podemos deixar que essas crises convergentes nos sufoquem. Devemos permanecer otimistas - e devemos agir. A próxima geração são as partes interessadas mais importantes e mais afetadas quando se fala sobre nosso futuro global - e devemos a eles mais do que isso.

Fotos: Fateme Alaie / Unsplash, Fórum Econômico Mundial

A próxima geração são as partes interessadas mais importantes e mais afetadas quando se fala sobre nosso futuro global

Os jovens são os mais afetados pelas crises que nosso mundo enfrenta

O ano de 2021 é o momento de começar a pensar e agir a longo prazo para tornar a paridade intergeracional a norma e projetar uma sociedade, economia e comunidade internacional que cuida de todas as pessoas.

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Os jovens também são os mais bem colocados para liderar essa transformação. Nos últimos 10 anos trabalhando com a Comunidade Global Shapers do Fórum Econômico Mundial, uma rede de pessoas com idades entre 20 e 30 anos trabalhando para resolver problemas em mais de 450 cidades ao redor do mundo, eu vi em primeira mão que eles estão aqueles com as ideias mais inovadoras e energia para construir uma sociedade melhor para amanhã. No ano passado, Global Shapers organizou diálogos sobre as questões mais urgentes enfrentadas pela sociedade, governo e negócios em 146 cidades, atingindo um público de mais de 2 milhões.

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Davos Lab: Plano de Recuperação Juvenil

O resultado desse esforço global de múltiplas partes interessadas, “ Davos Labs: Plano de Recuperação Juvenil ”, apresenta um lembrete gritante de nossa necessidade urgente de agir e percepções convincentes para criar um mundo mais resiliente, sustentável e inclusivo. Um dos temas unificadores das discussões foi a falta de confiança dos jovens nos sistemas políticos, econômicos e sociais existentes. Eles estão fartos de preocupações constantes com a corrupção e liderança política obsoleta, bem como com a constante ameaça à segurança física causada pela vigilância e policiamento militarizado contra ativistas e pessoas de cor. Na verdade, mais jovens acreditam na governança pelo sistema de inteligência artificial do que por outro ser humano. Enfrentando um mercado de trabalho frágil e um sistema de seguridade social quase falido, quase metade dos entrevistados disse que achava que tinha habilidades inadequadas para a força de trabalho atual e futura, e quase um quarto disse que correria o risco de se endividar se enfrentasse uma despesa médica inesperada. O fato de metade da população global permanecer sem acesso à Internet apresenta obstáculos adicionais. Ondas de bloqueios e o estresse de encontrar trabalho ou retornar ao local de trabalho exacerbaram a crise existencial e muitas vezes silenciosa de saúde mental.

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Então, o que a geração Y e a geração Z fariam de forma diferente? Imediatamente, eles estão pedindo à comunidade internacional para salvaguardar a equidade da vacina para responder ao COVID-19 e prevenir futuras crises de saúde. Os jovens estão se unindo em torno de um imposto global sobre a riqueza para ajudar a financiar redes de segurança mais resilientes e administrar o aumento alarmante da desigualdade de riqueza.

Eles estão pedindo para direcionar maiores investimentos para programas que ajudem jovens vozes progressistas a ingressar no governo e se tornarem formuladores de políticas.

Sinto-me inspirado pelos inúmeros exemplos de jovens em ação coletiva, reunindo diversas vozes para cuidar de suas comunidades. Klaus Schwab. REVISTA AMAZÔNIA

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Para limitar o aquecimento global, os jovens estão exigindo a suspensão da exploração, desenvolvimento e financiamento de carvão, petróleo e gás, bem como pedindo às empresas que substituam quaisquer diretores corporativos que não estejam dispostos a fazer a transição para fontes de energia mais limpas. Eles estão defendendo uma internet aberta e um plano de acesso digital de US $ 2 trilhões para colocar o mundo online e evitar o desligamento da internet, e estão apresentando novas maneiras de minimizar a disseminação de desinformação e combater as perigosas visões extremistas. Ao mesmo tempo, eles estão falando sobre saúde mental e pedindo investimentos para prevenir e combater o estigma associado a ela. Transparência, responsabilidade, confiança e foco no capitalismo das partes interessadas serão a chave para atender às ambições e expectativas desta geração. Devemos também confiar a eles o poder de assumir a liderança para criar mudanças significativas. Sinto-me inspirado pelos inúmeros exemplos de jovens em ação coletiva, reunindo diversas vozes para cuidar de suas comunidades. Desde a prestação de assistência humanitária aos refugiados até a ajuda aos mais afetados pela pandemia para impulsionar a ação climática local, seus exemplos fornecem os planos de que precisamos para construir uma

Em 2050, haverá cerca de 3,7 milhões de centenários, um aumento dos 451.000 em 2015

sociedade e economia mais resilientes, inclusivas e sustentáveis de que precisamos no mundo pós-COVID-19. Estamos vivendo juntos em uma aldeia global e é

somente por meio do diálogo interativo, nos entendendo e nos respeitando que podemos criar o clima necessário para um mundo pacífico e sustentável.

[*] Fundador e Presidente Executivo, Fórum Econômico Mundial [**]As opiniões expressas neste artigo são exclusivamente do autor e não do Fórum Econômico Mundial.

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Nova geração de jovens está colocando o planeta em primeiro lugar por *Florent Kaiser

Fotos: Luis Torres para ECOAN, UN, Unsplash), WEF,

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ma nova geração de jovens e ecopreneurs conhecida como Generation Restoration está colocando a saúde do planeta em primeiro lugar. Este movimento liderado por jovens mostra o poder de uma geração ambientalmente experiente para trazer mudanças reais e concretas em direção a um planeta saudável. Para apoiar seus esforços, o Fórum Econômico Mundial está lançando o #GenerationRestoration Youth Challenge para apoiar jovens ecopreneurs. Estamos testemunhando mudanças monumentais no equilíbrio do mundo natural e como o mundo humano, responsável por essas mudanças, está respondendo. O impacto das mudanças climáticas está coincidindo com o amadurecimento de uma geração de jovens ecopreneurs - Geração Restauração - que estão optando por construir suas vidas em torno da restauração do planeta e de nosso relacionamento com ele. No centro de sua motivação e energia está uma poderosa mudança de mentalidade. Eles cresceram à medida que os avisos sobre as mudanças climáticas e o esgotamento das maravilhas da Terra se tornaram cada vez mais terríveis.

Uma muda de Polylepis se enraizando no solo dos Andes peruanos

As consequências do crescimento desenfreado no meio ambiente, na vida selvagem e em nós mesmos estão levando um número cada vez maior de jovens ao redor do mundo a apresentar soluções criativas, esperançosas e transformadoras baseadas nos princípios da restauração.

Esses princípios exigem que você se afaste de uma mentalidade extrativista - isto é, tirar o máximo que puder da Terra para obter um lucro rápido. Em vez disso, o objetivo é o que é do melhor interesse de longo prazo para todos nós, as comunidades humanas e não humanas que compartilham nosso planeta.

A cada ano, grupos de residentes locais participam de um esforço organizado de plantio de árvores na bacia hidrográfica de Lares e no Vale Sagrado dos Andes peruanos

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A abordagem regenerativa respeita a natureza e aprende com a natureza. A abordagem regenerativa é esperançosa, inspirada pela capacidade de renovação da natureza, quando dada a liberdade e oportunidade necessárias. A restauração do ecossistema e as ações regenerativas estão abrindo caminho para o mainstream com o impulso para o progresso vindo da Restauração de Geração. Os jovens estão pensando grande e aproveitando as oportunidades de colaboração para consertar o que está quebrado em nossas interações com a natureza. Novos projetos e start-ups estão surgindo em todo o mundo. A dedicação feroz à proteção de nosso planeta é a poderosa luz que guia, inspirando os jovens a buscar oportunidades e carreiras significativas para fazer o bem fazendo o bem. A forma desses esforços é incrivelmente diversa. Alguns estão restaurando florestas no Sahel por meio da semeadura de árvores nativas e combate à desertificação. Outros estão ajudando a rejuvenescer nossos oceanos por meio da construção de recifes artificiais que atuam como base para os ecossistemas subaquáticos. E a chave para muitos são as tecnologias emergentes que estão sendo usadas para desenvolver tecnologias que aumentam a confiança para permitir o trabalho sustentável para comunidades florestais ou facilitar o investimento em capital natural para reunir proprietários de terras, investidores credenciados e corporações. Muitas ideias excelentes de Restauração de Geração são inicialmente implementadas localmente, onde têm um efeito transformador imediato.

Colocando a saúde do planeta em primeiro lugar

Quando outras pessoas aprendem sobre essas inovações, elas podem ser replicadas regional e globalmente e aumentar exponencialmente os resultados positivos. Por exemplo, os esforços bem-sucedidos de

reflorestamento de base entre as comunidades indígenas da Asociación Ecosistemas Andinos (ECOAN) de conservação peruana sem fins lucrativos foram a inspiração para a Acción Andina.

Esforços bem-sucedidos de reflorestamento de base entre as comunidades indígenas da ECOAN

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Este projeto é uma iniciativa de restauração liderada pela Global Forest Generation para proteger a água, a biodiversidade e os meios de subsistência da comunidade ao longo dos altos Andes. É um projeto de restauração de várias gerações, em última análise, em 7 países, e deve levar 25 anos. Restaurando, regenerando, renovando, reutilizando, reenvolvendo, rewilding. Esses são os mantras poderosos desta geração. E com essa nova mentalidade, seus sonhos, estilos de vida e padrões de consumo mudaram, fazendo com que empresas, investidores e formuladores de políticas ouçam e mudem de rumo lenta mas cada vez mais com eles. O lançamento da Década das Nações Unidas para a Restauração do Ecossistema (2021-2030) em 5 de junho será um catalisador global para uma cascata de ações transformadoras que resultarão em ações restaurativas mundiais significativas.

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Generation Restoration tem uma grande oportunidade de desempenhar um papel desproporcional neste esforço. O que está claro é que nunca foi tão importante promover e apoiar a energia, o talento e o impulso da geração que será mais afetada pelas mudanças climáticas, mas também está mais bem posicionada para enfrentar os desafios de uma vida. Para que o ecopreno se torne a nova norma, precisamos repensar o treinamento, a educação, as políticas, a capacitação e a promoção de negócios e habilidades técnicas. Precisamos desenvolver coortes locais de jovens empreendedores, mentores e investidores. Nós da Global Forest Generation temos o orgulho de servir no conselho consultivo do 1t.org do Fórum , que junto com a Uplink , está lançando o #GenerationRestoration Youth Challenge. O Desafio é uma chamada global para soluções lideradas por jovens para conservar e restaurar ecossistemas e está buscando soluções impactantes

e inspiradoras de jovens ecopreneurs e agentes de mudança. Este Desafio quer trazer à tona novas ideias ousadas, apoiá-las e celebrar o ecopreno ecológico liderado por jovens, promovendo seu crescimento. Em última análise, o sucesso da Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas não deve ser medido apenas pelo número de árvores e florestas cultivadas, mas por quantos jovens foram capazes de construir profissões, organizações e meios de subsistência bem-sucedidos em torno da restauração de ecossistemas. A tarefa que temos pela frente é imensa, mas nosso futuro coletivo depende disso. Se você tem uma ideia para ajudar a capacitar o movimento global de restauração da juventude, nós o encorajamos a participar do #GenerationRestoration Youth Challenge. [*] Diretor Executivo, Global Forest Generation, em WEF

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A biorrevolução está começando A biotecnologia tem um grande potencial além da criação de vacinas e pode ser usada para alimentos, energia e materiais de vestuário em grande escala. Seu potencial não pode ser alcançado sem colaboração global, inclusive em nível político. A regulamentação é desesperadamente necessária para permitir e acelerar o progresso científico nesta área por *Naturalis Biodiversity Center

Fotos: Lisette Mekkes, Naturalis, Katja Peijnenburg, Naturalis

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ete dos últimos dez prêmios Nobel de Química foram atribuídos a avanços na bioquímica: o estudo de processos químicos dentro e relacionados a organismos vivos. Nosso conhecimento de genômica, motores moleculares e edição de genes, junto com os avanços em nanotecnologia e IA estão em um ponto mais alto. Adicione a isso os custos em rápida queda da mesma tecnologia e você terá uma combinação potente. Esta combinação está prestes a ser transformadora e altamente disruptiva em muitas partes de nossas vidas. Assim como a ascensão da química orgânica na virada dos 19º século, nossa maior focada em proteínas agora está criando a biorevolução. Sentimos o quanto a biorevolução avançou durante a pandemia; primeiro, por meio da velocidade com que entendemos como o vírus estava perturbando nossas sociedades e, depois, por testemunhar o desenvolvimento de vacinas em níveis de velocidade e eficácia sem precedentes. Nossa esperança de derrotar o COVID-19 teria sido drasticamente reduzida sem a existência de grandes avanços nas ciências biológicas —Matthias Berninger

Estima-se que as inovações baseadas na biologia gerem cerca de US $ 4 trilhões em impacto econômico nas próximas décadas

Em todo o mundo, milhões de pessoas já se beneficiaram com pesquisas e campanhas de vacinação, o que nos permite dar passos importantes para superar essa terrível pandemia. Sem dúvida, devemos isso aos cientistas em um grau substancial. Eles usaram vacinas de mRNA - também chamadas de vacinas

A biorrevolução poderia abordar cerca de 45% das doenças globais usando ciência e tecnologia já existentes —Matthias Berninger

genéticas - para ajudar as células a formarem uma proteína de pico semelhante à que existe na superfície dos patógenos COVID-19. A tecnologia disponível permitiu que os cientistas criassem vacinas seguras e eficazes que eventualmente nos permitirão retomar nossa vida normal - ou pelo menos alguma nova versão dela. Colocado sem rodeios, nossa esperança de derrotar COVID-19 teria sido drasticamente reduzida sem a existência desses avanços nas ciências biológicas. O desenvolvimento de vacinas COVID-19 é um exemplo de transformação biológica que impactou muito o mundo e nossas vidas, mas as vacinas de mRNA e o sequenciamento de genes são apenas a ponta do iceberg para a biorevolução.

Além de ser o pára-quedas de resgate do COVID-19 A biorevolução tem o potencial de ajudar a enfrentar alguns dos desafios globais mais urgentes , desde mudanças climáticas a pandemias, doenças crônicas e segurança alimentar para nossa crescente população mundial.

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Biologia, ciências biológicas e digitalização estão cada vez mais próximas umas das outras, permitindo novas invenções que impactam significativamente nossas vidas diárias. A lista continua enquanto o rápido aumento no poder de computação e o surgimento de novos recursos em IA, automação e análise de dados estão acelerando ainda mais o ritmo da inovação e a promessa de maior produtividade de P&D nas ciências biológicas.

Usando a biorrevolução para construir um mundo melhor Não acho exagero afirmar que, com as intenções certas e níveis significativos de investimento, a biorevolução poderia ser o veículo desta geração em direção a um mundo melhor. Os cientistas biológicos têm conduzido descobertas e avanços científicos revolucionários durante anos. O McKinsey Global Institute (MGI) estima que 60% dos “insumos físicos”, incluindo alimentos, energia e até mesmo os materiais para roupas, poderiam ser produzidos por meio da biotecnologia . Suas estimativas também mostram que as inovações baseadas na biologia gerarão US $ 4 trilhões em impacto econômico nas próximas décadas. Este não é um conceito para um futuro distante; Semelhante à tecnologia de mRNA que ajudou a identificar e sequenciar COVID-19, a biorevolução poderia abordar cerca de 45% das doenças globais usando ciência e tecnologia já existentes.

Ferramentas biológicas

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Assistir no: www.youtu.be/g3oMe1tPmp8

A bioeconomia global está prestes a decolar à medida que os fabricantes escolhem a biologia como o método de escolha para produzir com eficiência produtos sustentáveis de alto desempenho. A biologia sintética está na vanguarda dessa corrida do ouro de US $ 4 trilhões

Na convergência da ciência e da tecnologia, os avanços na biotecnologia já estão trazendo progresso nos testes clínicos de vacinas, inspirando uma busca por terapias genéticas e de microbioma e dando aos cientistas insights inestimáveis sobre como os vírus funcionam. A Bayer pretende desempenhar um papel central na biorevolução, aproveitando o poder dessas inovações. Nosso braço de investimento, “ Leaps by Bayer ”, colabora e investe em empresas pioneiras na edição de genes e no avanço de terapias para curar câncer e doenças genéticas. Recentemente, anunciamos resultados iniciais promissores alcançados pela BlueRock Therapeutics, uma subsidiária da Bayer que iniciou testes clínicos com uma nova abordagem terapêutica para a doença de Parkinson. Esperamos que as provações pavimentem o caminho para grandes avanços na batalha contra essa doença debilitante.

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O ângulo agrícola O tratamento e a prevenção de doenças não são importantes apenas para a vida humana, mas também para a vida das plantas. Na agricultura, as ferramentas biológicas e as tecnologias de edição de genes originadas do CRISPR (“repetições palíndrômicas curtas regularmente interespaçadas” - uma família de sequências de DNA) podem tornar as safras mais resistentes ao clima ou a doenças. Isso ajuda os agricultores a cultivar mais alimentos e a perseverar em condições adversas ou mutáveis. Além disso, a biotecnologia pode ajudar os agricultores a produzir um suprimento de alimentos mais sustentável e reduzir significativamente a pegada ambiental global da agricultura. Na Bayer, nossos investimentos em biotecnologia para sua aplicação no setor agrícola são amplos e impulsionados por nossa firme convicção de seu potencial. Eles incluem o uso de tecnologia genética para contribuir para o aumento da produtividade e a redução da quantidade de terra necessária para a agricultura, graças ao desenvolvimento de sementes. Por meio do Leaps, estamos trabalhando com outras empresas como a Joyn Bio, que estão usando a biotecnologia agrícola para reduzir o impacto ambiental do nitrogênio sintético. Isso pode ser grande: fertilizantes à base de amônio hoje não são apenas o maior custo de insumo para os agricultores, mas também contribuem significativamente para as emissões de gases de efeito estufa. Inovações transformando economias, sociedades e nossas vidas

Para produzir biologicamente

Esses desafios são ainda mais complicados pelo fato de que a biorevolução está começando a ganhar força em tempos em que o mundo está divergindo. Parcerias globais para lidar com os desafios éticos e regulatórios urgentes serão a chave para liberar o potencial de uma era focada não em bytes, mas em proteínas. Isto é verdade para as relações entre o Oriente e o Ocidente, mas também para a forma como a União Europeia se abre para alavancar as possibilidades para a saúde e as explorações agrícolas.

Aumento da compreensão da bioevolução Empresas, inovadores e cientistas devem ser transparentes sobre os avanços e os usos da biotecnologia.

Além do mais, para promover a inovação e garantir a segurança da biotecnologia globalmente, precisamos urgentemente de regulamentação que não apenas permita, mas facilite, o ritmo acelerado do progresso científico. Ainda estamos muito longe de compreender totalmente o potencial da bioevolução. Uma grande virada de jogo seria a colaboração e coordenação global entre reguladores, setor privado, governos, associações e instituições, a fim de abraçar os benefícios, mas também gerenciar os riscos. Você pode imaginar um mundo sem fome, em que os humanos pudessem viver mais com menos doenças e os agricultores pudessem produzir mais alimentos com menos recursos? Estamos convencidos de que a bioevolução guarda a promessa de nos aproximar dela.

[*] Vice-presidente sênior de Assuntos Públicos e Governamentais Globais da Bayer, Bayer

Uma biorevolução de sucesso requer colaboração Estamos convencidos de que a biorevolução tem o potencial de promover indústrias, interromper as cadeias de suprimentos como as conhecemos e criar oportunidades de negócios e inovação. Mas, como acontece com muitas inovações com grande potencial, existem desafios.

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Transparentes sobre os avanços e os usos da biotecnologia

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Plantar florestas pode esfriar o planeta mais do que se pensava Plantar árvores e restaurar florestas estão entre as soluções climáticas naturais mais simples e atraentes, mas o impacto das árvores na temperatura atmosférica é mais complexo do que parece por *Princeton University

Fotos: Agência Espacial Europeia, Amilcare Porporato, NASA / ASU

Os pesquisadores usaram imagens de satélite para calcular a cobertura de nuvens de longo prazo sobre regiões na faixa latitudinal de 30-45 graus com base em como diferentes tipos de vegetação interagem com o limite atmosférico. Eles descobriram que as nuvens se formam com mais frequência em áreas florestadas e têm um maior efeito de resfriamento na atmosfera da Terra. Nesta imagem, os pontos pretos representam áreas de floresta, enquanto os pontos verdes representam pastagens e outra vegetação rasteira. As áreas são sombreadas do mais nublado (branco) ao menos nublado (marrom)

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ma questão entre os cientistas é se o reflorestamento em locais de latitudes médias, como a América do Norte ou a Europa, poderia de fato tornar o planeta mais quente. As florestas absorvem grandes quantidades de radiação solar como resultado de terem um baixo albedo, que é a medida da capacidade de uma superfície de refletir a luz solar. Nos trópicos, o baixo albedo é compensado pela maior absorção de dióxido de carbono pela densa vegetação o ano todo. Mas em climas temperados, a preocupação é que o calor do sol possa neutralizar qualquer efeito de resfriamento que as florestas proporcionariam ao remover o dióxido de carbono da atmosfera. Mas um novo estudo de pesquisadores da Universidade de Princeton descobriu que essas preocupações

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podem estar negligenciando um componente crucial - as nuvens. Eles relatam no Proceedings of the National Academy of Sciences que as formações de nuvens mais densas

associadas às áreas florestadas significam que o reflorestamento provavelmente seria mais eficaz no resfriamento da atmosfera da Terra do que se pensava anteriormente.

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“O principal é que ninguém sabe se plantar árvores em latitudes médias é bom ou ruim por causa do problema do albedo”, disse o autor correspondente Amilcare Porporato, Thomas J. Wu ‘94 de Princeton, Professor de Engenharia Civil e Ambiental e do Instituto Ambiental de High Meadows . “Mostramos que, se considerarmos que as nuvens tendem a se formar com mais frequência em áreas florestadas, o plantio de árvores em grandes áreas é vantajoso e deve ser feito para fins climáticos”. Como qualquer pessoa que já sentiu uma nuvem passar sobre o Sol em um dia quente sabe, as nuvens diurnas têm um efeito de resfriamento - embora transitório - na Terra. Além de bloquear diretamente o sol, as nuvens têm um alto albedo, semelhante ao gelo e à neve. As nuvens, no entanto, são notoriamente difíceis de estudar e foram amplamente desconsideradas de muitos estudos que examinam a eficácia da mitigação natural da mudança climática, incluindo o reflorestamento, disse Porporato. Para considerar o reflorestamento no contexto da cobertura de nuvens, Porporato trabalhou com a autora principal Sara Cerasoli,

O reflorestamento é uma das soluções climáticas naturais mais simples e atraentes, mas o efeito das árvores na temperatura atmosférica é mais complexo do que parece.

uma estudante de graduação em engenharia civil e ambiental de Princeton, e Jun Ying, um professor assistente na Universidade de Ciência da Informação e Tecnologia de Nanjing, que anteriormente era pós-doutorado em Grupo de pesquisa de Porporato. Seu trabalho foi apoiado pela Iniciativa de Mitigação de Carbono com base no HMEI.

O efeito do florestamento na cobertura de nuvens fracionadas para diferentes tipos de floresta. Uma primeira avaliação global usando observações de satélite mostra que, para dois terços do mundo, o florestamento aumenta a cobertura de nuvens de baixo nível. Os satélites revelam como as florestas aumentam as nuvens e resfriam o clima

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Porporato e Yin relataram anteriormente que os modelos climáticos subestimam o efeito de resfriamento do ciclo diário das nuvens. Eles também relataram no ano passado que as mudanças climáticas podem resultar no aumento da cobertura diária de nuvens em regiões áridas , como o sudoeste americano, que atualmente são ideais para a produção de energia solar. Para o estudo mais recente, Cerasoli, Porporato e Yin investigaram a influência da vegetação na formação de nuvens em regiões de latitudes médias, combinando dados de satélite de cobertura de nuvens de 2001-10 com modelos relacionados à interação entre as plantas e a atmosfera. Os pesquisadores modelaram as interações entre diferentes tipos de vegetação e a camada limite atmosférica - que é a camada mais baixa da atmosfera e interage diretamente com a superfície da Terra - para determinar se a formação de nuvens é afetada diferencialmente pelo tipo de vegetação. Eles se concentraram em regiões na faixa latitudinal de 30-45 graus, aproximadamente das zonas subtropicais às zonas hemiboreais, como o norte do meio-oeste dos Estados Unidos. Eles consideraram os efeitos tanto do reflorestamento - restaurando a cobertura arbórea perdida - quanto do florestamento, que envolve o plantio de florestas em áreas que antes eram sem árvores, embora isso possa acarretar outros custos ambientais. A equipe descobriu que, para regiões de latitudes médias, o efeito de resfriamento das nuvens - em combinação com o sequestro de carbono - superou a radiação solar que as áreas florestadas absorveram. Os modelos mostraram que as nuvens se formam com mais frequência em áreas florestadas do que em pastagens e outras áreas com vegetação rasteira, e que essa formação de nuvens intensificada teve um efeito de resfriamento na atmosfera da Terra.

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As florestas também oferecem benefícios climáticos por meio do resfriamento localizado, aumentando a cobertura de nuvens e gerando chuvas. Na foto da Nasa, nuvens da tarde sobre a floresta amazônica

Os pesquisadores observaram a partir dos dados de satélite que as nuvens também tendem a se formar no início da tarde sobre áreas florestais, o que resulta em uma duração mais longa da cobertura de nuvens e mais tempo para as nuvens refletirem a radiação solar longe da Terra. As descobertas podem ajudar a desenvolver políticas de alocação de terras para reflorestamento e agricultura - áreas latitudinais mais úmidas, como o leste dos Estados Unidos ou o sudeste da China, são adequadas para reflorestamento e florestamento, mas também são atraentes para a

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agricultura. Uma abordagem seria combinar o reflorestamento de latitude média com a distribuição de safras tolerantes à seca para regiões menos adequadas ao reflorestamento, relataram os autores do estudo. No entanto, os autores recomendaram que devemos ser cautelosos ao dar o salto da ciência para a política. “Não podemos considerar apenas as mudanças climáticas, mas também outros fatores, como a biodiversidade e o fato de que a terra também é necessária para a produção de alimentos”, disse Cerasoli. “Estudos futuros devem continuar a considerar o papel das nuvens, mas devem

se concentrar em regiões mais específicas e levar em consideração suas economias.” “A primeira coisa é não piorar as coisas”, acrescentou Porporato. “Tantas coisas estão conectadas no sistema terrestre. A natureza das interações entre, por exemplo, o ciclo da água e o clima significa que se você mudar alguma coisa, é muito difícil prever como outras partes do sistema serão afetadas.” O artigo, “Efeitos de resfriamento das nuvens do florestamento e reflorestamento em latitudes médias”, foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences .

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A busca por culturas resistentes ao clima por *Monika Mondal

Fotos: Darpan Sharma no Unsplash, ICRISAT, Rao Gulab Singh Lodhi / O Ecologista

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colapso do clima prejudicará as culturas alimentares essenciais. Cientistas e agricultores indianos estão trabalhando juntos para encontrar uma solução para o grão-de-bico. “A evidência da degradação climática é clara e seu impacto na agricultura e na segurança alimentar é generalizado”, disse o professor Rajeev Varshney, diretor do programa de pesquisa do Programa de Melhoria Acelerada de Culturas do Instituto Internacional de Pesquisa de Culturas para o Trópico Semi-Árido (ICRISAT). Varshney tem passado muito tempo estudando plantações de leguminosas, e grão de bico em particular, desde 2005. Ele disse ao The Ecologist : “Na mudança do clima, as plantações de leguminosas como o grão de bico têm um potencial imenso para ajudar os marginalizados.”

Rao Gulab Singh Lodhi, um agricultor de Madhya Pradesh, uma região semi-árida na Índia central, cultivou uma variedade de grão-de-bico em uma pequena porção de sua terra na temporada 2019-2020

O grão de bico é uma cultura alimentar básica cultivada e consumida em todo o sul da Ásia, notadamente na India

O grão de bico é uma fonte barata de proteína, micronutrientes e fibras e tem um significado especial entre os vegetarianos e em países da Ásia e da África - onde cerca de 75 por cento do grão de bico é cultivado.

Variedades Mas, adverte Varshney, “com o aumento da frequência de ondas de calor, indisponibilidade de água, enchentes e secas imprevistas, a produção e a produtividade da cultura tiveram um impacto negativo, como qualquer outra”. Apesar da importância da cultura na Ásia e na África, o foco nas lavouras de leguminosas, como o grão-de-bico, foi insignificante até 2005. A equipe do ICRISAT se tornou a primeira no mundo a explorar a cultura para encontrar variedades resistentes ao clima - e encontrou aquelas com produtividade 10% maior. Além disso, as variedades foram desenvolvidas na metade do tempo previsto, agilizando as pesquisas com tecnologia avançada. “Não é apenas importante tornar o clima da agricultura inteligente, mas também torná-lo disponível para os marginalizados o mais rápido possível”, acrescenta Varshney.

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O desenvolvimento típico de qualquer nova variedade de cultivo pode levar de oito a 10 anos para chegar aos produtores desde os laboratórios. A pesquisa do ICRISAT visa reduzir esse tempo.

Atlas genético do grão-de-bico na India

Atlas A Índia é o maior produtor e consumidor de grão de bico. A cultura pode ser cultivada em quase todas as partes do país. No entanto, existem disparidades regionais. Com o advento da revolução verde na década de 1960, os estados do norte da Índia, com boa umidade do solo e acesso à água, se inclinaram mais para a produção de culturas como arroz e trigo. Isso moveu a produção de grão-de-bico para as regiões semi-áridas do centro e sul da Índia. “Uma vez que a produção do grão-de-bico precisa de uma umidade razoável do solo, tornou-se difícil para os agricultores manter o rendimento da safra com as secas recorrentes, ondas de calor e mudanças climáticas”, disse Varshney. Embora a Índia seja o maior produtor de grão-de-bico, a produção não aumentou muito se comparada a outras safras. Foi em 2005 que o grão-de-bico chamou a atenção dos cientistas do ICRISAT e eles começaram a desenhar um atlas genético do grão-de-bico.

Tecnologias Os especialistas reuniram informações sobre os diversos tipos de variedades de grão-de-bico cultivadas em diversas partes do mundo. Linhas de plantas de mais de sessenta países foram coletadas. Este se tornou um dos primeiros passos no processo de desenvolvimento da variedade de grão de bico resistente ao clima.

O banco de genes do ICRISAT hospeda mais de 20.000 acessos, ou linhagens de grão de bico, que possuem uma variedade de propriedades genéticas, com uma variedade de características agronômicas. “Uma vez que a informação genética estava disponível para nós, o processo tornou-se mais curto”, acrescentou Varshney.

Os genes que deram às plantas uma maior tolerância à seca foram escolhidos e, em seguida, criados para desenvolver as sementes de grão-de-bico desejadas. Esse método, conhecido como tecnologia de marcadores genéticos, difere dos métodos convencionais e também de outras tecnologias, como a modificação genética de variedades vegetais.

Cultivado

O banco de genes do ICRISAT hospeda mais de 20.000 acessos, ou linhagens de grão de bico, que possuem uma variedade de propriedades genéticas, com uma variedade de características agronômicas

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“Os processos de reprodução convencionais para desenvolver tolerância à seca são bastante extensos, caros e incertos”, diz a Dra. Chellapilla Bhardwaj, cientista do Conselho Indiano de Pesquisa Agrícola que desenvolveu a variedade de grão de bico tolerante à seca em parceria com o ICRISAT. O melhoramento convencional é um processo de acerto e teste de várias etapas, no qual duas plantas são cultivadas e, posteriormente, os melhores desempenhos são escolhidos dependendo da produção durante as fases de teste. “Isso também tem outros problemas. Se houver chuvas imprevisíveis, os criadores deixarão de realizar seus experimentos de seleção por seca nas condições certas.

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O avanço da geração de uma temporada de longo prazo também não é possível “, acrescenta Bhardwaj. A tecnologia de marcadores genéticos elimina quaisquer desafios inesperados de clima e mudanças climáticas. O desenvolvimento de sementes resistentes à seca do grão de bico, que de outra forma levaria mais de oito anos, foi concluído em apenas três anos. Rao Gulab Singh Lodhi, um agricultor de Madhya Pradesh, uma região semi-árida na Índia central, cultivou uma variedade de grão-de-bico em uma pequena porção de sua terra na temporada 2019-2020.

Desenvolvimento Ele disse ao The Ecologist : “Meus colegas me informaram sobre essa nova variedade de grão de bico. Fiquei curioso e ganhei um punhado de sementes, apenas para experimentar. Não estou apenas satisfeito, mas extremamente feliz com a produção e a qualidade”.

Variedade de grão de bico tolerante à seca

Lodhi desenvolveu 55-60 kg de sementes a partir de 0,5 g de seu produto experimental. Além de distribuir essas sementes aos agricultores locais, Lodhi também pretende plantar grão-de-bico em seus 20 acres de campo na próxima temporada. Ele estima que será capaz de obter cerca de 150 quintais por acre.

Embora a importância da cultura na Índia e em vários países africanos para alimentação e nutrição seja bem conhecida, a cultura não foi totalmente pesquisada antes do trabalho no ICRISAT. Varshey disse: “Culturas como essas não são muito importantes ou populares no mundo ocidental - e, portanto, não conseguem atrair atenção de pesquisa suficiente.” O grão-de-bico é referido como uma das culturas órfãs : as leguminosas, como o grão-de-bico, não são comercializadas tanto quanto outras culturas no mercado internacional e não recebem o mesmo tipo de atenção em pesquisa e desenvolvimento.

Comida segura

Grão de bico

Produção de variedades de culturas de grão de bico resistentes ao clima

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Embora a Índia e esta pesquisa sejam as primeiras de seu tipo, o grão-de-bico não é uma exceção. “Tecnologias avançadas para a produção de variedades de culturas resistentes ao clima já foram usadas em outras culturas, como arroz, vegetais, etc. no oeste”, disse Varshney. “No entanto, os incentivos para empresas privadas investirem na pesquisa de culturas de polinização aberta são limitados. Consequentemente, a pesquisa pública deve ser desenvolvida para o benefício maior dos pequenos agricultores marginais, como os da Ásia e da África. “É importante para um país como a Índia acelerar o processo de desenvolvimento de novas variedades tolerantes à seca - onde os efeitos das mudanças climáticas são graves e visíveis”, conclui Varshney. De acordo com a FAO, as mudanças climáticas afetarão os agricultores de países pobres e em desenvolvimento de maneira desproporcional. Usando tecnologias avançadas, como a usada pelo cientista do ICRISAT, variedades de alto rendimento com boa resiliência para se adaptar às mudanças climáticas têm imenso potencial para proteger os agricultores de desafios climáticos invisíveis, além de garantir a segurança alimentar e nutricional. [*] Em The Ecologist

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Desenvolvimento sustentavel Em parceria com Representante Autorizado

O sistema é alimentado com resíduos orgânicos

Bactérias decompõem o resíduo orgânico no biodigestor

O fertilizante líquido pode ser usado em jardins e plantações

O biogás é armazenado no reservatório de gás para ser usado em um fogão

O sistema tem capacidade de receber até 12 Litros de resíduos por dia.

O equipamento produz biogás e fertilizante líquido diariamente.

Totalmente fechado mantendo pragas afastadas.

Em um ano, o sistema deixa de enviar 1 tonelada de resíduos orgânicos para aterros e impede a liberação de 6 toneladas de gases de efeito estufa (GEE) para atmosfera.

O QUE COLOCAR NO SISTEMA

O QUE NÃO COLOCAR NO SISTEMA

Carne, frutas, verduras, legumes e restos de comida. OBS: Máximo de duas cascas de cítricos por dia.

Resíduos de jardinagem, materiais não orgânicos (vidro, papel, plástico, metais). Resíduos de banheiro, produtos químicos em geral.

homebiogasamazonia

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Estudo da NASA descobre que a capacidade das florestas tropicais de absorver dióxido de carbono está diminuindo.indd 65 GUIAS PARA+.indd 5

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Sistemas ILPF têm menores perdas de solo, água e nutrientes ILPF teve menor perda de solo, água, carbono e nitrogênio do que sistema de plantio direto com sucessão soja-milho, pecuária tradicional, floresta plantada e solo nu. Pesquisa realizada em Mato Grosso, uma das principais regiões produtoras de grãos do País, mostra que ILPF pode ser uma alternativa de produção mais conservacionista. Menores perdas podem significar maior resiliência do sistema produtivo, melhor produtividade e redução de custos para o produtor. ILPF pesquisada contava com árvores ainda pequenas, com apenas um ano de plantio. Isso mostra esse sistema como uma alternativa conservacionista com efeitos já a curto prazo. Pesquisa contou com participação de cientista vencedor dos prêmios Food Prize em 2020 e Nobel da Paz em 2007 (via IPCC). por *Gabriel Faria

Fotos: Gabriel Faria

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s perdas de solo, água e nutrientes devido à erosão são menores em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) do que em áreas de rotação de culturas agrícolas. A constatação foi feita por meio de uma pesquisa realizada em Sinop (MT), em uma das principais regiões produtoras de grãos do País. O trabalho foi conduzido por pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril (MT) e Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e contou com participação de Rattan Lal, vencedor dos prêmios Food Prize (2020) e Nobel da Paz (via IPCC em 2007) e professor da Ohio State University, nos Estados Unidos. A pesquisa mediu a perda de água e solo pelo escoamento superficial causado pelas chuvas e as quantidades de carbono e nitrogênio nos sedimentos desse escoamento em áreas com ILPF, lavoura de soja e milho em sistema de plantio direto, pastagem de braquiária, floresta de eucalipto em crescimento e no solo descoberto. Os dados mostraram que o sistema ILPF teve as menores perdas.

O Brasil é pioneiro na tecnologia para os solos

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Pesquisa realizada em Sinop (MT mostra perdas de solo, água e nutrientes devido à erosão menores em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF)

No momento da avaliação, o sistema integrado contava com árvores de eucalipto com um ano de plantio, lavoura de soja na safra e de milho com braquiária na segunda safra.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Cornélio Zolin, as avaliações mostraram que, mesmo com as árvores ainda pequenas, a ILPF se mostrou como uma alternativa mais eficiente em termos de conservação de água e solo, elementos determinantes para o sucesso da produção agropecuária. “A escolha pela conservação do solo, e consequentemente da água, favorece o maior aproveitamento dos nutrientes e redução de custos ao produtor. Para que essa região tão importante tenha longevidade, frente a cenários climáticos cada vez mais adversos, o olhar atento para a conservação do solo, da água e manutenção dos nutrientes no solo será imperativo”, afirma Zolin. Outro aspecto importante é a possibilidade de melhorar as práticas de conservação do solo a curto prazo. Com apenas um ano de instalação do sistema, com as árvores ainda em pequeno porte, a ILPF já se mostrou mais conservacionista que as demais formas de uso do solo estudadas.

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Localização da área de estudo no estado de Mato Grosso, Brasil e imagem aérea da área de estudo na fazenda experimental da Embrapa Agrossilvipastoril, município de Sinop, mostrando as parcelas experimentais de diferentes sistemas de produção para avaliação de curto prazo solo, água e perda de nutrientes. Abaixo segue um desenho esquemático do sistema coletor de água e sedimentos instalado em cada parcela experimental (retângulos pretos na imagem aérea) para a medição do escoamento superficial e erosão do solo. ICF - sistema integrado lavoura-floresta; PAST - sistema de pastagem; EUC - plantação de eucalipto; CS - sistema plantio direto com sucessão de culturas; BS - solo descoberto Os resultados do estudo foram publicados no periódico Acta Amazonica, no artigo Short-term effect of a crop-livestock-forestry system on soil, water and nutrient loss in the Cerrado- Amazon ecotone (Efeito da integração lavoura-pecuária-floresta em fase inicial sobre as perdas de solo, água e nutrientes no ecótono Cerrado-Amazônia). Assinam o artigo os pesquisadores da Embrapa Cornélio Zolin, Eduardo Matos, Ciro Magalhães, Sílvio Spera e Maurel Behling; a professora da UFMT Janaína Paulino; e Rattan Lal, da Universidade do Estado de Ohio. A mensuração foi feita por meio de um sistema de calhas que direcionava o escoamento superficial para caixas d’água instaladas em trincheiras. Sacos de algodão filtravam os sedimentos, nos quais foram mensuradas as quantidades de carbono e de nitrogênio perdidas. Nesse quesito, a ILPF também se saiu melhor que a lavoura.

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Foram perdidos 0,36 kg de nitrogênio (N) e 4,27 kg de carbono (C) por hectare, contra 1,34kg de N e 20,48 kg de C na rotação soja e milho. Os dados da pastagem e da silvicultura não diferiram estatisticamente da ILPF. Já o solo nu teve perdas de 29,23 kg de N e 428,17 kg de C. “Observamos na ILPF uma redução da perda de carbono de quase 99% em relação ao solo descoberto e cerca de quatro vezes menor comparada com o plantio direto. Isso significa que o sistema tem capacidade de evitar perdas e, aliado ao maior potencial de aportar mais carbono por meio dos resíduos gerados pelo sistema, contribui para manter ou mesmo aumentar o conteúdo de matéria orgânica no solo”, analisa o pesquisador da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa (Sire) Eduardo Matos.

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ILPF com menores perdas Os resultados da pesquisa mostraram que, em relação às perdas de solo, os números da ILPF foram estatisticamente semelhantes aos da pastagem e da silvicultura, porém, foram melhores que os da lavoura. A ILPF perdeu 238 kg de solo por hectare, enquanto a rotação de soja e milho perdeu 856 kg. A perda do solo exposto, sem qualquer tipo de cobertura, foi de 16 toneladas por hectare. Já em relação às perdas de água pelo escoamento superficial, a ILPF obteve o melhor resultado, perdendo 34,5 litros por hectare. A lavoura perdeu 48,1 litros, índice estatisticamente semelhante ao da pastagem e da silvicultura. O solo nu, por sua vez, chegou a perder 675 litros por hectare. “Os sistemas que conservam mais água no solo são mais resilientes, uma vez que as plantas poderão explorar melhor o ’

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adicional‘ de água armazenada, deixando as lavouras menos sensíveis a situações de veranicos e consequentemente às quedas de produtividade decorrentes do déficit de água no solo”, explica o pesquisador.

As avaliações sobre as perdas de água ocorreram de 2012 a 2015

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Parceria científica Os dados da pesquisa foram coletados em um experimento de longa duração instalado na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT). O trabalho multidisciplinar teve início em 2011 e as avaliações sobre as perdas de água ocorreram de 2012 a 2015. Em 2016 o premiado cientista Rattan Lal ministrou um curso de duas semanas na Embrapa Agrossilvipastoril e ficou entusiasmado com as pesquisas com sistemas ILPF. Desde então, vem colaborando na interpretação dos dados relacionados à conservação de solo. Recentemente, Lal fez a palestra de abertura do II Congresso Mundial sobre sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta. Na ocasião, ele reforçou o papel da ILPF para a produção sustentável, dizendo que a agricultura precisa ser uma solução para as questões de meio ambiente e que os sistemas integrados são as opções para isso. [*] Embrapa Agrossilvipastoril

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The Bioeconomy Celebrates Nature

World BioEconomy Forum goes to Brazil – live from Belém! 18 – 20 October 2021

The World BioEconomy Forum is a think-tank initiative which provides a global platform for key stakeholders of the circular bioeconomy to share ideas and promote bio-based solutions. Our annual Forum brings together companies, policy makers, and academics within circular bioeconomy to one event, this time in Brazil. Read more about our themes, our partners and the Forum happening 18–20 October 2021 at www.wcbef.com.

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Estudo da NASA descobre que a capacidade das florestas tropicais de absorver dióxido de carbono está diminuindo.indd 65 wcbef_2021_ad_205x270_032021.indd 1

MANUAL DE IDENTIDADE VISUAL

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“Este relatório reflete esforços extraordinários em circunstâncias excepcionais”, disse Hoesung Lee, presidente do IPCC. “As inovações neste relatório e os avanços na ciência do clima que ele reflete fornecem uma contribuição inestimável para as negociações e tomadas de decisão sobre o clima”.

ONU: relatório sobre clima é “alerta vermelho” O relatório do Grupo de Trabalho I é a primeira parte do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC (AR6), que será concluído em 2022 Aquecimento mais rápido

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relatório fornece novas estimativas das chances de ultrapassar o nível de aquecimento global de 1,5°C nas próximas décadas e constata que, a menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, o aquecimento deve ser limitado a cerca de 1,5° C. ou mesmo 2 ° C estará fora de alcance. O relatório mostra que as emissões de gases de efeito estufa das atividades humanas são responsáveis por aproximadamente 1,1°C de aquecimento desde 1850-1900 e conclui que, em média, nos próximos 20 anos, a temperatura global deve atingir ou ultrapassar 1,5°C de aquecimento. Esta avaliação é baseada em conjuntos de dados observacionais aprimorados para avaliar o aquecimento histórico, bem como o progresso na compreensão científica da resposta do sistema climático às emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem.

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Fotos: IPCC 2021, Nasa, Unsplash

“Este relatório é uma verificação da realidade”, disse Valérie Masson-Delmotte do Grupo de Trabalho I do IPCC. “Agora temos uma imagem muito mais clara

do clima do passado, presente e futuro, o que é essencial para entender para onde estamos indo, o que pode ser feito e como podemos nos preparar”.

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Cada região enfrenta mudanças crescentes Muitas características das mudanças climáticas dependem diretamente do nível de aquecimento global, mas o que as pessoas vivenciam costuma ser muito diferente da média global. Por exemplo, o aquecimento da terra é maior do que a média global e é mais de duas vezes maior no Ártico. “A mudança climática já está afetando todas as regiões da Terra, de várias maneiras. As mudanças que experimentamos aumentarão com o aquecimento adicional ”, disse Panmao Zhai, copresidente do Grupo de Trabalho I do IPCC. O relatório projeta que nas próximas décadas as mudanças climáticas aumentarão em todas as regiões. Para 1,5°C de aquecimento global, haverá aumento

A evidência é clara. Os humanos aquecem o planeta, e todas as partes do planeta já são afetadas pela crise climática

das ondas de calor, estações quentes mais longas e estações frias mais curtas. A 2°C de aquecimento global, os extremos de

calor atingiriam mais frequentemente os limites de tolerância críticos para a agricultura e saúde, mostra o relatório.

Mas não se trata apenas de temperatura. A mudança climática está trazendo várias mudanças diferentes em diferentes regiões - que irão aumentar com o aquecimento adicional. Isso inclui mudanças na umidade e seca, nos ventos, neve e gelo, áreas costeiras e oceanos. Por exemplo: *As mudanças climáticas estão intensificando o ciclo da água. Isso traz chuvas mais intensas e inundações associadas, bem como secas mais intensas em muitas regiões. *A mudança climática está afetando os padrões de precipitação. Em altas latitudes, é provável que a precipitação aumente, enquanto se prevê que diminua em grandes partes das regiões subtropicais. Esperam-se mudanças na precipitação das monções, que variam de acordo com a região. *As áreas costeiras verão o aumento contínuo do nível do mar ao longo do século 21, contribuindo para inundações costeiras mais frequentes e severas em áreas baixas e erosão costeira. Eventos extremos ao nível do mar, que ocorriam anteriormente uma vez a cada 100 anos, poderiam ocorrer todos os anos até o final deste século. *O aquecimento adicional aumentará o degelo do permafrost e a perda da cobertura de neve sazonal, derretimento das geleiras e mantos de gelo e perda do gelo do mar Ártico no verão. *Mudanças no oceano, incluindo aquecimento, ondas de calor marinhas mais frequentes, acidificação dos oceanos e redução dos níveis de oxigênio, foram claramente relacionadas à influência humana. Essas mudanças afetam tanto os ecossistemas oceânicos quanto as pessoas que deles dependem, e continuarão pelo menos até o final deste século. *Para as cidades, alguns aspectos da mudança climática podem ser amplificados, incluindo o calor (já que as áreas urbanas são geralmente mais quentes do que seus arredores), enchentes devido a eventos de forte precipitação e aumento do nível do mar nas cidades costeiras.

Recém-desenvolvido Interactive Atlas interativo-atlas.ipcc.ch

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Pela primeira vez, o Sexto Relatório de Avaliação fornece uma avaliação regional mais detalhada da mudança climática, incluindo um foco em informações úteis que podem informar a avaliação de risco, adaptação e outras tomadas de decisão, e uma nova estrutura que ajuda a traduzir as mudanças físicas no clima - calor, frio, chuva, seca, neve, vento, inundações costeiras e muito mais - no que eles significam para a sociedade e os ecossistemas. Essas informações regionais podem ser exploradas em detalhes no recém-desenvolvido Interactive Atlas interativo-atlas.ipcc.ch , bem como nas fichas técnicas regionais, no resumo técnico e no relatório subjacente.

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Um cervo vagueia pela fumaça pesada em frente a carros queimados no incêndio Dixie em Greenville, Califórnia, em 6 de agosto. O enorme incêndio florestal está queimando desde meados de julho. Incêndios florestais varrem a Califórnia e os estados do oeste como onda de calor recorde e seca continuam

Influência humana no clima passado e futuro “Há décadas está claro que o clima da Terra está mudando e o papel da influência humana no sistema climático é indiscutível”, disse Masson-Delmotte. No entanto, o novo relatório também reflete os principais avanços na ciência da atribuição compreender o papel da mudança climática na intensificação de eventos climáticos e meteorológicos específicos, como ondas de calor extremas e chuvas intensas. O relatório também mostra que as ações humanas ainda têm o potencial de determinar o futuro curso do clima. A evidência é clara de que o dióxido de carbono (CO2) é o principal impulsionador das mudanças climáticas, mesmo que outros gases de efeito estufa e poluentes atmosféricos também afetem o clima. “A estabilização do clima exigirá reduções fortes, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa e alcançar emissões líquidas zero de CO2 .

Ko Barrett, vice-presidente sênior do IPCC

Limitar outros gases de efeito estufa e poluentes do ar, especialmente o metano, pode trazer benefícios tanto para a saúde quanto para o clima ”, disse Zhai.

As ondas de calor na terra e nos oceanos também são mais comuns agora, ocorrendo cinco vezes mais do que na década de 1950

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Incêndios recordes , inundações históricas , secas intensas e ondas de calor devastadoras dominaram as manchetes nos últimos meses, e se você está se perguntando se esses eventos extremos estão ligados às mudanças climáticas - e se os humanos são os responsáveis - um novo relatório de centenas de climas especialistas confirmam que este é realmente o caso. Na verdade, é “inequívoco” que a atividade humana está impulsionando a mudança climática e está afetando os oceanos, a atmosfera, o gelo e a biosfera da Terra de maneiras “generalizadas e rápidas”, de acordo com o relatório. Na segunda-feira (9 de agosto), o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU para avaliação da ciência do clima, divulgou a primeira parte do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC em um evento para a imprensa virtual. No relatório, os autores revisaram mais de 14.000 estudos que: documentam evidências de mudanças climáticas; registrar a influência das atividades humanas no aquecimento global; e modelos de previsões de nosso futuro caso não consigamos reduzir o dióxido de carbono (CO2) e outras emissões de gases de efeito estufa que estão causando a mudança climática hoje. “O fato de o IPCC ter concordado - com o acordo de todos os 195 países membros - que é inequívoco que a atividade humana está causando as mudanças climáticas, é a declaração mais forte que o IPCC já fez”, Ko Barrett, vice-presidente e sênior do IPCC . O Conselheiro para o Clima da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), disse em um briefing em 8 de agosto. Produzido pelo Grupo de Trabalho I do IPCC, este relatório aborda as evidências científicas de como o clima da Terra está mudando e como a atividade humana está impulsionando essa mudança, resumindo as descobertas para líderes globais e formuladores de políticas.

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Relatórios de mais dois grupos de trabalho serão entregues até 2022; esses relatórios abordarão a vulnerabilidade climática, os impactos e a adaptação em comunidades ao redor do mundo, e as estratégias potenciais de mitigação, de acordo com o IPCC . Mais de 200 cientistas escreveram e editaram o novo relatório e descobriram que a atividade humana, principalmente a produção de CO2 atmosférico a partir da queima de combustíveis fósseis, causou o aquecimento global a uma taxa sem precedentes nos últimos 2.000 anos. Devido às mudanças climáticas, as comunidades humanas em toda a Terra são afetadas por eventos climáticos extremos que são mais longos, mais intensos e mais frequentes. Se o aquecimento atual continuar, a Terra excederá 2,7 graus Fahrenheit (1,5 graus Celsius) de aquecimento e alcançará 3,6 F (2C) em 2050, o que intensificará ainda mais a severidade do clima extremo. Em todos os cenários de emissões futuras considerados no relatório, “as temperaturas da superfície continuarão a aumentar até pelo menos meados do século”, escreveram os autores.

Devido às mudanças climáticas, as comunidades humanas em toda a Terra são afetadas por eventos climáticos extremos que são mais longos, mais intensos e mais frequentes

Mudanças incrementais

Furacões poderosos...

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Os níveis de CO2 que retém o calor atmosférico estão agora mais altos do que em 2 milhões de anos; O gelo marinho do Ártico está em seu ponto mais baixo em 1.000 anos; e o recuo das geleiras atingiu um nível sem precedentes nos últimos 2.000 anos ou mais, de acordo com o relatório. Os mares subiram mais no século passado do que nos 3.000 anos anteriores, a uma taxa de cerca de 0,15 polegadas (4 milímetros) por ano, e os eventos de inundação em áreas costeiras dobraram desde 1960, disse Bob Kopp, um IPCC co-autor e diretor do Instituto Rutgers de Ciências da Terra, Oceanos e Atmosféricas As ondas de calor na terra e nos oceanos também são mais comuns agora, ocorrendo cinco vezes mais do que na década de 1950. As secas severas que costumavam ocorrer uma vez por década aumentaram em frequência em 70% - e esse número pode dobrar se as temperaturas globais aquecerem em 3,6 F, disse a coautora do IPCC Paola Andrea Arias Gómez, professora associada da Universidade de Antioquia em Medellín, Colômbia. Furacões poderosos também estão se formando com mais frequência - e depositam mais chuva - do que há décadas; e a maioria das áreas terrestres está tendo eventos de precipitação que são mais frequentes e intensos, de acordo com o relatório.

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“Com cada incremento adicional do aquecimento global, as mudanças nos extremos continuam a se tornar maiores”, escreveram os autores. Por exemplo, ondas de calor extremas que costumavam acontecer uma vez por década agora ocorrem cerca de três vezes em 10 anos. Com um aumento de apenas 0,9 F (0,5 C) nas temperaturas médias globais, essas ondas de calor aconteceriam quatro vezes por década, e as temperaturas resultantes seriam quase 3,6 F (2 C) mais altas. Os eventos recordes de chuvas pesadas e secas aumentariam de forma semelhante em frequência e intensidade, caso a Terra continuasse a aquecer, relataram os cientistas.

Sem volta A mudança climática não é uniforme e proporcional ao nível de aquecimento global e terá impactos diferentes em diferentes partes do globo

Sem reduções em grande escala nas emissões que atualmente estão aquecendo o planeta, a meta “estará além do alcance”

“Não há como voltar” ao clima que persistiu na Terra por milhares de anos, disse Ko Barrett no briefing do IPCC. No entanto, algumas das mudanças que estamos vendo agora podem ser desaceleradas ou mesmo interrompidas se pudermos limitar o aumento das médias da temperatura global a não mais que 2,7 F acima dos níveis pré-industriais, disse Barrett. Mas sem reduções em grande escala nas emissões que atualmente estão aquecendo o planeta, essa meta “estará além do alcance”, acrescentou ela. “Alcançar emissões líquidas zero globais de CO2 é um requisito para estabilizar o aumento da temperatura global da superfície induzido pelo CO2”, escreveram os pesquisadores no relatório.

O relatório sobre o clima, publicado recentemente pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), é um “alerta vermelho” que deve fazer soar os alarmes sobre as energias fósseis que “destroem o planeta”. A afirmação foi feita pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres. O relatório mostra uma avaliação científica dos últimos sete anos e “deve significar o fim do uso do carvão e dos combustíveis fósseis, antes que destruam o planeta”, segundo avaliação de Guterres, em comunicado. O relatório estima que o limiar do aquecimento global (de + 1,5° centígrado), em comparação com o da era pré-industrial, vai ser atingido em 2030, dez anos antes do que tinha sido projetado anteriormente, “ameaçando a humanidade com novos desastres sem precedentes”. “Trata-se de um alerta vermelho para a humanidade”, disse António Guterres. “Os alarmes são ensurdecedores: as emissões de gases de efeito estufa provocadas por combustíveis fósseis e o desmatamento estão sufocando o nosso planeta”, disse o secretário. No mesmo documento, ele pede igualmente aos dirigentes mundiais, que se vão reunir na Conferência do Clima (COP26) em Glasgow, na Escócia, no próximo mês de novembro, que alcancem “sucessos” na redução das emissões de gases de efeito estufa. “Se unirmos forças agora, podemos evitar a catástrofe climática. Mas, como o relatório de hoje indica claramente, não há tempo e Conferência do Clima (COP26) em Glasgow, na Escócia não há lugar para desculpas”, apelou Guterres. Alerta vermelho

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Com as mudanças climáticas, mudanças aparentemente pequenas têm grandes consequências

O relatório do Grupo de Trabalho I é a primeira parte do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC (AR6), que será concluído em 2022

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mudança climática vem se acumulando lenta, mas implacavelmente, há décadas. As mudanças podem parecer pequenas quando você ouve falar delas - outro décimo de grau mais quente , outro centímetro de aumento do nível do mar - mas mudanças aparentemente pequenas podem ter grandes efeitos no mundo ao nosso redor, especialmente regionalmente. O problema é que, embora os efeitos sejam pequenos a qualquer momento, eles se acumulam. Esses efeitos agora se acumularam ao ponto de sua influência estar contribuindo para ondas de calor prejudiciais , secas e chuvas extremas que não podem ser ignoradas. O relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas é mais enfático do que nunca: as mudanças climáticas, causadas por atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis , estão tendo efeitos prejudiciais sobre o clima como o conhecemos, e esses efeitos estão aumentando rapidamente pior.

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Fotos: Cheng et al - 2021, Kevin Trenberth, NASA Earth Observatory

Desequilíbrio de energia da Terra Um excelente exemplo de como a mudança climática se acumula é o desequilíbrio de energia da Terra.

Sou um cientista do clima e tenho um novo livro sobre o assunto prestes a ser publicado pela Cambridge University Press. O Sol bombardeia a Terra com um fluxo constante de cerca de 173.600 terawatts (ou seja, 12 zeros) de energia na forma de radiação solar.

Julho de 2021 foi o mês mais quente já registrado na Terra e foi marcado por desastres, incluindo tempestades extremas, inundações e incêndios florestais. A imagem na Alemanha mostra as piores enchentes em décadas causando devastação

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Cerca de 30% dessa energia é refletida de volta para o espaço por nuvens e superfícies reflexivas, como gelo e neve, deixando 122.100 terawatts para conduzir todos os sistemas meteorológicos e climáticos ao nosso redor, incluindo o ciclo da água. Quase toda essa energia volta ao espaço - exceto por cerca de 460 TW. Os 460 TW restantes são o problema que enfrentamos. Esse excesso de energia , aprisionado pelos gases de efeito estufa na atmosfera, está esquentando o planeta. Esse é o desequilíbrio de energia da Terra, ou em outras palavras, o aquecimento global. Em comparação com o fluxo natural de energia através do sistema climático, 460 TW parece pequeno - é apenas uma fração de 1 por cento. Consequentemente, não podemos sair e sentir a energia extra. Mas o calor se acumula e agora está tendo consequências. Para colocar isso em perspectiva, a quantidade total de eletricidade gerada em todo o mundo em 2018 foi de cerca de 2,6 TW. Se você olhar para toda a energia usada em todo o mundo , incluindo aquecimento, indústria e veículos, é cerca de 19,5 TW. O desequilíbrio de energia da Terra é enorme em comparação.Interferir no fluxo natural de energia através do sistema climático é onde os humanos deixam sua marca. Ao queimar combustíveis fósseis, derrubar florestas e liberar gases de efeito estufa de outras maneiras, os humanos estão enviando gases como dióxido de carbono e metano para a atmosfera que retêm mais dessa energia que chega, em vez de deixá-la irradiar de volta. Antes de as primeiras indústrias começarem a queimar grandes quantidades de combustíveis fósseis em 1800, a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera era estimada em cerca de 280 partes por milhão de volume. Em 1958, quando Dave Keeling começou a medir as concentrações atmosféricas em Mauna Loa, no Havaí , esse nível era de 310 partes por milhão. Hoje, esses valores subiram para cerca de 415 partes por milhão, um aumento de 48%.

Energia na forma de radiação solar

A mudança média da temperatura global em diferentes profundidades do oceano, em zetajoules, de 1958 a 2020. O gráfico superior mostra os 2.000 metros superiores (6.561 pés) em comparação com a média de 1981-2010. A parte inferior mostra o aumento em diferentes profundidades. Os vermelhos são mais quentes do que a média, os azuis são mais frios

O dióxido de carbono é um gás de efeito estufa, e quantidades maiores causam aquecimento. Nesse caso, o incremento humano não é pequeno.

Para onde vai a energia extra?

Mais de 90% dessa energia extra vai para os oceanos

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As medições ao longo do tempo mostram que mais de 90% dessa energia extra vai para os oceanos, onde faz com que a água se expanda e o nível do mar suba. A camada superior dos oceanos começou a aquecer por volta dos anos 1970.

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No início da década de 1990, o calor atingia 500 a 1.000 metros (1.640 a 3.280 pés) de profundidade. Em 2005, ele estava aquecendo o oceano abaixo de 1.500 metros (quase 5.000 pés). O nível global do mar , medido por voos e satélites, estava subindo a uma taxa de cerca de 3 milímetros por ano de 1992 a 2012. Desde então, tem aumentado cerca de 4 milímetros por ano. Em 29 anos, cresceu mais de 90 milímetros (3,5 polegadas). Se 3,5 polegadas não parece muito, converse com as comunidades costeiras que existem alguns metros acima do nível do mar. Em algumas regiões, esses efeitos levaram a inundações crônicas em dias ensolarados durante as marés altas, como Miami , São Francisco e Veneza, Itália. As ondas de tempestades costeiras são maiores e muito mais destrutivas, especialmente por causa dos furacões. É uma ameaça existencial para algumas nações insulares de baixa altitude e uma despesa crescente para as cidades costeiras dos Estados Unidos. Parte dessa energia extra, cerca de 13 terawatts, vai para o derretimento do gelo. O gelo do mar Ártico no verão diminuiu mais de 40% desde 1979.

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Parte do excesso de energia derrete o gelo terrestre , como geleiras e permafrost na Groenlândia e na Antártica, o que coloca mais água no oceano e contribui para o aumento do nível do mar. Alguma energia penetra na terra, cerca de 14 TW. Mas, enquanto a terra está molhada, uma grande quantidade de energia se transforma em

evapotranspiração - evaporação e transpiração nas plantas - que umedece a atmosfera e abastece os sistemas climáticos. É quando ocorre uma seca ou durante a estação seca que os efeitos se acumulam na terra, através da secagem e murcha das plantas, elevando as temperaturas e aumentando muito o risco de ondas de calor e incêndios florestais.

O ciclone Yasa segue para Fiji em dezembro de 2020. Foi o quarto ciclone tropical mais intenso já registrado no Pacífico Sul

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Pesquisadores australianos estabeleceram novo recorde de eficiência na busca por hidrogênio solar de baixo custo Novo conjunto de registro de eficiência para produção de hidrogênio solar

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ma equipe de pesquisadores australianos estabeleceu um novo recorde mundial de eficiência para a produção direta de hidrogênio renovável a partir da energia solar usando materiais de baixo custo, combinando inovações cultivadas na Austrália em células solares de próxima geração e eletrólise. O marco foi alcançado por pesquisadores da Australian National University e da University of New South Wales, e está sendo saudado como um grande passo para reduzir o custo da produção de hidrogênio renovável. A pesquisa foi publicada na revista Advanced Energy Materials e detalha como os pesquisadores usaram inovações de ponta em células solares ‘tandem’ de próxima geração, combinadas com avanços nas técnicas de eletrólise para alcançar uma eficiência de conversão solar em hidrogênio superior a 20 por cent. Os pesquisadores usaram células solares ‘tandem’ de silício-perovskita de baixo custo otimizadas para a produção de hidrogênio, que combinaram dois tipos de células solares em camadas uma sobre a outra para atingir uma eficiência combinada de 24,3 por cento - uma eficiência maior do que a maioria do silício convencional células solares. A equipe então combinou as células solares em tandem de alta eficiência com materiais catalisadores de baixo custo para dividir a água em hidrogênio e oxigênio por meio da eletrólise.

Fotos: ANU, Dr. Karuturi

Produção direta de hidrogênio renovável a partir da energia solar

Utilizando materiais de baixo custo para produzir o dispositivo solar direto para hidrogênio, os pesquisadores conseguiram alcançar uma eficiência de conversão de mais de 20 por cento. Os pesquisadores disseram que conseguiram atingir uma meta de eficiência de conversão definida pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos como parte dos esforços para reduzir o custo de produção de hidrogênio renovável.

Para superar a meta do governo de Morrison de produzir hidrogênio a um custo inferior a US $ 2 por quilo

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A equipe também está confiante de que novas pesquisas poderão, em última instância, superar a meta do governo de Morrison de produzir hidrogênio a um custo inferior a US $ 2 por quilo. “Os sistemas de separação solar direta de água de alta eficiência feitos de absorvedores de luz e catalisadores de baixo custo são um caminho promissor para permitir a comercialização de tecnologias de hidrogênio solar”, diz o artigo de pesquisa. “Demonstramos um sistema de divisão solar direta de água com eficiência de 20% [solar para hidrogênio], acoplando eletrodos de catalisador abundantes em terra com células tandem de perovskita-Si de alto desempenho, cumprindo a meta de eficiência [solar para hidrogênio] definida pelo DOE para o ano de 2020. ” Embora o custo atual de produção de hidrogênio o torne não competitivo para uma variedade de usos, particularmente aqueles relacionados ao uso no sistema de energia - a queda rápida dos custos pode fazer com que o hidrogênio se torne uma alternativa acessível para muitas fontes derivadas

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de combustíveis fósseis, incluindo combustíveis para transporte e energia usada como uma fonte de calor industrial. O co-autor da pesquisa, Dr. Siva Karuturi, da Australian National University, disse ao RenewEconomy que combinando células solares com eletrolisadores de hidrogênio em uma única unidade, melhorias na eficiência de produção e reduções de custo poderiam ser alcançadas muito além das técnicas atuais de produção de hidrogênio renovável. “Em um eletrolisador centralizado que geralmente funciona com eletricidade da rede, a membrana e os eletrodos são empilhados em vários números - muitas vezes centenas deles - para atingir a capacidade de produção desejada, o que resulta em um sistema complexo”, disse o Dr. Karuturi. “Na eletrólise PV direta, conforme demonstrado em nosso trabalho, uma única unidade de eletrodos e membrana pode ser integrada diretamente com células PV em um módulo de hidrogênio solar simplificado. Essa abordagem elimina a necessidade de infraestrutura de energia e eletrolisadores e, portanto, pode resultar em maior eficiência de conversão de energia e baixo custo”. A equipe já está esperançosa de aumentar essa eficiência para 25 por cento, fazendo melhorias no projeto e aproveitando mais avanços nos projetos de células solares em tandem - e estima que isso poderia reduzir o

Impressão de um artista da tecnologia de conversão direta de energia solar em hidrogênio

custo da produção de hidrogênio renovável para US $ 2,30 por quilograma. “O desafio está em encontrar uma combinação ideal de PV e catalisadores que permita alta eficiência de conversão solar em hidrogênio”, disse o Dr. Karuturi. “A energia gerada pelas células fotovoltaicas deve corresponder à necessária para os eletrodos catalisadores. Além disso, precisamos fazer isso usando materiais que não são caros para escalar.

Domicílios e empresas em áreas remotas e sujeitas a desastres em breve poderão receber sistemas solares e de armazenamento independentes

Nosso trabalho empregou células fotovoltaicas em tandem de perovskita / Si e catalisadores à base de Ni que satisfazem muito bem esses critérios”. A equipe de pesquisa disse que os fortes resultados mostram o potencial para combinar inovações em tecnologias de produção de hidrogênio e solar para produzir hidrogênio renovável de baixo custo, e espera que isso possa desempenhar um papel significativo na descarbonização do sistema de energia mais amplo. “O hidrogênio tem um papel crítico a desempenhar em nosso esforço para fazer a transição para emissões líquidas zero até 2050. Se tivermos que atender à demanda esperada de hidrogênio verde nos próximos anos e a um custo competitivo, precisamos de abordagens disruptivas. A produção direta de hidrogênio solar tem um grande potencial ”, disse o Dr. Karuturi.“Nosso trabalho futuro se concentra na ampliação e na melhoria do desempenho e robustez do sistema.” A pesquisa foi apoiada por fundos fornecidos pelo Australian Research Council e pela Australian Renewable Energy Agency. [*]Em Renew Economy

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Hidrelétricas “poluidoras” Texto *Engº José Maria da Costa Mendonça Fotos Divulgação, LabTrans/UFSC, Unsplash, Wikipedia

A UHE Bem Querer está prevista para ser implantada em Roraima, no rio Branco, abrangendo áreas dos municípios de Boa Vista, Bonfim, Cantá, Caracaraí, Iracema e Mucajaí

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título deste artigo é uma heterodoxia, escrito após a leitura de um relatório feito por alguns alienígenas que desconhecem a Amazônia, publicado em janeiro de 2016 com o título: “Hidrelétricas na Amazônia podem emitir mais gases de efeito estufa que usinas a carvão, óleo e gás”. A publicação desse relatório, neste ano de 2021, ressurge pela necessidade de o Brasil voltar a construir grandes complexos hidrelétricos. É um relatório capcioso, a começar pelo título, quando utilizam o termo “podem”, próprio dos enganadores, pois, na verdade, quando dizem “podem”, nada afirmam – simplesmente pode, mas também não pode. Também constatei que nada fizeram em termos de pesquisa, quando citam que as seis hidrelétricas cujos reservatórios que mais emitem gases de efeito estufa são as hidrelétricas de Bem Querer, Cachoeira do Cai, Cachoeira dos Patos, Colider, Marabá e Sinop. A hidrelétrica de Bem Querer, situada no Rio Branco, Estado de Roraima, é estratégica, pois o regime das águas é diferenciado das demais hidrelétricas nacionais.

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Está prevista com uma potência de 1049 MW e um reservatório de 624 Km², em fase de estudos de viabilidade econômico/ambiental, ou seja, ainda não existe reservatório. A hidrelétrica de Marabá fica no rio Tocantins, Estado do Pará. Prevista com uma potência de 2.160 MW e um reservatório de 1.350 Km², em fase de licenciamento ambiental. Ainda não existe reservatório. As outras quatro, Cachoeira do Cai, Cachoeira dos Patos, Colider e Sinop, são todas da bacia do rio Tapajós. As duas primeiras no rio Jamanxim, ainda em fase de planejamento; as outras duas no rio Teles Pires, em 2016 ainda estavam em construção. Na época da pseudopesquisa não existia um único reservatório. Continuando a leitura desse estudo fantasioso, me deparei com este absurdo: “Foram realizadas 10 mil simulações estatísticas para cada reservatório”. Cabendo aqui uma simples pergunta: qual reservatório? pois quando o estudo foi realizado não existia nenhum. Como se vê, este “relatório” contém um floreado de dados sem fundamentos, tentando criar mais uma narrativa contra a construção de hidrelétricas na Amazônia.

A hidrelétrica de Marabá fica no rio Tocantins

Sabemos que, ao modificarmos de alguma forma o ambiente natural, algo se modificará, e precisa realmente ser aferido com responsabilidade. Exemplificando, quando fazemos o processo da geração de energia elétrica, é emitido para a atmosfera uma quantidade de quilos de carbono equivalente por megawatt de potência usado em uma hora – MWh, na energia solar varia de 10 a 30, na eólica de 40 a 60, na hidráulica de 60 a 100, algo desprezível. Nas fósseis a gás de 400 a 600, a óleo de 700 a 900 e a carvão de 1000 a 1100. Cito esses dados só para enfatizar o quanto esse “relatório” aqui comentado é enganoso e mal-intencionado, pois sou cético e não supervalorizo a participação do dióxido de carbono no clima da terra. Defendo sempre a utilização da energia mais econômica, que varia dependendo da disponibilidade de cada região. Para o Brasil a natureza foi bastante generosa, pois temos em abundância: água, vento e sol. Por que insisto em afirmar que a base de nosso sistema elétrico tem de ser a hidráulica? - Por ser, dentre essas três formas, a única que é constante; a fotovoltaica e a eólica são intermitentes.

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Ainda mais, as Sociedades do entorno desses parques hidráulicos exigem a utilização destas águas de outras formas, como na utilização domiciliar, na pesca comercial e artesanal, na criação de peixes em gaiolas, na navegação, na irrigação das lavouras etc. O certo é que temos que incentivar a exploração elétrica de nossos rios com grandes reservatórios, pois a água, além de ser nossa maior riqueza, é o nosso diferencial do resto do mundo. Afirmo que essas falsas narrativas são criadas para obstar nosso desenvolvimento, pois sabem que a maioria de nossos dirigentes, quando pressionados, tomam decisões contra os interesses nacionais. Basta pontuarmos o que aconteceu quando da construção do complexo hidrelétrico de Belo Monte ao ser diminuído o reservatório, jogamos pelo ralo da incompetência 2000 MW de energia firme por mês; algo que nenhuma outra Nação no mundo tomaria uma decisão tão estapafúrdica. Essas decisões equivocadas têm como efeito direto o preço que a Sociedade Brasileira paga pela energia elétrica em seus domicílios e, como efeito colateral, a diminuição do parque industrial do País. UHE Cachoeira do Cai, Cachoeira dos Patos, Colider e Sinop, são todas da bacia do rio Tapajós

Daí a necessidade de, ao construirmos parques de geração de energia elétrica através do sol e do vento, aumentarmos o tamanho dos reservatórios de acumulação das águas de nossos parques de geração hidrelétrica, que funcionarão como baterias para segurança dos demais sistemas. Vejamos o que nos diz Franceli Jodas da KPMG, uma consultoria a nível mundial: “Com as hidrelétricas, consegue-se guardar água para quando não houver vento ou sol. Elas estão sendo usadas como baterias. O que se questiona é se, no futuro, a inovação tecnológica poderá desenvolver baterias que substituam as hidrelétricas”. Acrescento, a necessidade da construção de complexos hidrelétricos com grandes lagos de acumulação de águas. Repito, isso permitirá um crescimento no País da geração elétrica através do sol e dos ventos, pois os grandes reservatórios serão a sua garantia.

(*) Presidente do Centro das Indústrias do Pará-CIP

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A água, é nossa maior riqueza

Franceli Jodas da KPMG

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Espaços verdes nas cidades ajudam a compensar as mudanças climáticas e fornecem bem-estar físico e mental para seus cidadãos

Reimaginar nossas cidades como centros para a conservação da biodiversidade e resiliência climática por *Mauricio Rodas Espinel **Lena Chan

Fotos: CPG, Plano Verde de Cingapura, Unsplash / Sergio Sala, WEF

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biodiversidade - todos os organismos vivos, incluindo plantas, animais e microrganismos - é essencial para a existência humana. No entanto, quando pensamos sobre biodiversidade, raramente imaginamos uma cidade em nossas mentes. A natureza tem sido freqüentemente associada como uma característica puramente das paisagens rurais, quando na verdade as áreas urbanas abrigam uma miríade de ecossistemas e riquezas naturais, abrigando uma rica biodiversidade. Estamos inseridos na natureza, mas sabemos muito pouco sobre ela. Recentemente foi feito o lançamento da Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas, que serve como um lembrete de que devemos mobilizar os tomadores de decisão e cidadãos urbanos para colocar a natureza no centro da vida urbana.

Temos uma oportunidade única de garantir que as cidades se tornem verdadeiros motores de crescimento, resiliência e bem-estar que operam dentro de fronteiras sociais e planetárias saudáveis. As cidades desempenham um papel único no mundo de hoje. A COVID-19 os colocou, mais uma vez, na vanguarda do tratamento de algumas das questões globais

Cingapura é líder global na integração de espaços verdes com arquitetura e design urbano

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mais urgentes que colocam o bem-estar e a prosperidade em risco, incluindo as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade. Mas imagine uma cidade onde comprar seus produtos favoritos leva a mais natureza, não menos, e onde seu trabalho pode resistir a choques ambientais e econômicos; onde o ar que você respira é puro e fresco, e onde o canto dos pássaros não precisa mais competir com o rugido do tráfego. A maioria das cidades do mundo está mal equipada para lidar com as ameaças que a urbanização representa para os habitats naturais. Em 1800, apenas 3% da população global vivia em áreas urbanas. Hoje, atingimos 55%, e o número está projetado para chegar a mais de dois terços até 2050. Enquanto as cidades continuam a se expandir a taxas sem precedentes, o mesmo acontece com a pressão que colocam sobre os recursos naturais, os ecossistemas e o clima. Se não for controlado, isso colocará nossos meios de subsistência, sustento e o próprio ar que respiramos sob ameaça real.

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Felizmente, existem soluções para permitir que as cidades minimizem esses riscos e se reinventem em benefício da natureza, da economia e da sociedade.

“Em comparação com o surto da pandemia COVID 19, as crises de mudança climática e perda de biodiversidade se desenvolvem mais lentamente e é mais difícil revertê-las.” Liu Zhenmin, Subsecretário-Geral da ONU Algumas cidades compreenderam as oportunidades que o enfrentamento da perda de biodiversidade e as mudanças climáticas apresentam e mostraram liderança no desenvolvimento de soluções inovadoras. Apesar de seu pequeno território, Cingapura abriga 4% das espécies de pássaros do mundo, sinalizando claramente o quão rica pode ser a biodiversidade urbana. Em resposta à crescente urbanização e aos efeitos da mudança climática, Cingapura se transformou de uma cidade-jardim em uma cidade em um jardim e, em seguida, deu um passo ousado para evoluir ainda mais para uma cidade na natureza .

Cingapura aplicou soluções baseadas na natureza para alcançar resiliência climática, ecológica e social com tecnologia moderna e inovadora. Essa mudança de paradigma se concentra em restaurar a natureza na cidade para torná-la mais habitável e sustentável. Esses exemplos inspiradores não podem mais ser histórias de sucesso isoladas. COVID-19 nos ensinou como somos vulneráveis a eventos imprevisíveis e a consequente necessidade de nos proteger de choques futuros. A conservação da biodiversidade urbana é um componente importante de tais esforços, bem como para garantir o bem-estar geral das pessoas. Isso pode ser alcançado conservando, criando, restaurando e aprimorando um espectro diversificado de ecossistemas dentro da cidade e conectando-os a corredores ecológicos. Regulamentos, políticas e ações em uma cidade podem resolver o problema com eficácia. Por exemplo, as cidades podem contribuir significativamente para reduzir a perda de biodiversidade por meio de políticas de uso do solo, ao mesmo tempo que proporcionam um estilo de vida mais saudável e resiliente a seus habitantes. As reservas naturais, parques urbanos e áreas verdes, por definição, contribuem para a manutenção da vida selvagem natural dentro das fronteiras das cidades, bem como proporcionam benefícios de saúde física e mental para os moradores das cidades.

“Os investimentos verdes estão gerando lucros a curto e longo prazo e são motores poderosos de criação de empregos”. Virginijus Sinkevicius, Comissário da UE para o Meio Ambiente, Oceanos e Pesca Da mesma forma, as políticas que estabelecem bacias hidrográficas e restringem a construção em áreas úmidas não apenas mantêm os ecossistemas naturais e conservam a biodiversidade, mas também evitam riscos naturais. A Cidade do Cabo, por exemplo, evitou uma grande escassez de água investindo na proteção de sua bacia hidrográfica usando soluções baseadas na natureza que restauram a vegetação e terras degradadas. A agricultura urbana é outra abordagem que pode abordar simultaneamente as questões sociais e ambientais. A agricultura urbana sustentável tem o potencial de conservar o solo, aumentar a segurança alimentar e reduzir o impacto das cadeias de abastecimento de longa distância sobre o clima e a perda de biodiversidade.

Cingapura liderou o caminho na preservação e ampliação dos ecossistemas urbanos

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Para melhorar a qualidade de vida dos moradores das cidades, os tomadores de decisão urbanos devem se tornar os campeões da biodiversidade urbana e deixar de ver a perda de biodiversidade como uma preocupação rural. Além da implementação de tecnologias inovadoras, os mecanismos financeiros que fomentam investimentos públicos e privados em projetos relacionados à biodiversidade urbana são um recurso central para a transição para cidades com valor líquido zero e positivo para a natureza. Parcerias fortes e diversificadas também são uma base necessária para dar aos tomadores de decisão a confiança para agir com base nas melhores práticas e fazer investimentos impactantes em escala. As contribuições do governo nacional, de organizações internacionais, do setor privado, da sociedade civil e da academia são necessárias para impulsionar a mudança tão necessária. Abordar adequadamente a conservação e restauração da biodiversidade nas cidades exige uma abordagem multissetorial abrangente para alinhar as ambições em direção a etapas e soluções responsáveis. A proteção dos ecossistemas urbanos não deve ser vista apenas como parte de uma agenda verde, mas, de forma mais ampla, como um impulsionador da prosperidade humana e da criação de empregos.

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De acordo com o The Future of Nature and Business Report do Fórum Econômico Mundial , um caminho positivo para a natureza na infraestrutura e no ambiente

construído poderia criar mais de US $ 3 trilhões em oportunidades de negócios e criar 117 milhões de empregos até 2030. Portanto, há um grande potencial para a economia crescer e se tornar mais resiliente, protegendo a biodiversidade em áreas urbanas. Com esse objetivo em mente, a Comissão Global sobre BiodiverCidades até 2030 foi lançada no mês passado, como parte da iniciativa BiodiverCidades até 2030 . A comissão é composta por um grupo diversificado de especialistas em cidades e profissionais dos setores público e privado, sociedade civil e academia, cuja paixão e experiência em conservação da biodiversidade e mudanças climáticas orientarão seus objetivos de tornar as cidades mais seguras, mais satisfatórias e mais limpas. viver. A comissão é presidida por Lena Chan, Diretora Sênior da Divisão Internacional de Conservação da Biodiversidade do Conselho de Parques Nacionais de Cingapura, e Mauricio Rodas Espinel, ex-prefeito de Quito e Visiting Scholar da Universidade da Pensilvânia. A iniciativa BiodiverCities até 2030 desenvolverá uma estrutura para uma “BiodiverCidade” e fornecerá uma plataforma para este grupo de líderes comprometidos sintetizar novos conhecimentos e explorar maneiras inovadoras de desenvolver cidades positivas para a natureza zero. Esse é o momento. Este é o lugar. Tanto o setor público quanto o privado devem assumir a liderança em conjunto.

[*] Prefeito de Quito (2014-2019) e Visiting Scholar, University of Pennsylvania [**]Diretora Sênior, Divisão Internacional de Conservação da Biodiversidade, Conselho de Parques

BiodiverCities até 2030

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O ar limpo se tornará uma nova moeda global?

A crescente crise de ar puro está exacerbando as desigualdades existentes, incluindo disparidades de saúde, entre diferentes grupos socioeconômicos em todo o mundo. A distribuição desigual de poluentes atmosféricos em comunidades marginalizadas significa que os pobres devem respirar um ar mais sujo. Indivíduos e governos têm o dever de trabalhar juntos para resolver esse desequilíbrio e garantir que o ar puro não se torne monetizado. por *David Duong **Neha Rana ***Mestre Riya

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poluição do ar é um assassino silencioso. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 9 em cada 10 pessoas respiram ar contendo altos níveis de poluentes, resultando em 7 milhões de mortes por ano. Embora muitos países tenham feito esforços ativos na última década para reduzir as emissões nocivas, a crise do ar limpo destacou uma realidade sombria: os maiores poluidores são os menos afetados por seus resíduos ambientais. À medida que continuam a colher os benefícios econômicos das indústrias poluentes, as comunidades mal atendidas e sub-representadas enfrentam o impacto das consequências.

O ar puro é uma comodidade cada vez mais cara A poluição do ar agrava as desigualdades existentes, incluindo as disparidades de saúde.

Fotos:

IHME/Carga Global de Doenças-Nosso mundo em dados, Our World in Data baseado no Global Carbon Project; Gapminder e ONU, Unsplash / @veeterzy

Uma crise de ar puro está exacerbando a desigualdade global existente, já que as pessoas em áreas carentes são forçadas a respirar ar sujo

De fato, de acordo com a pesquisa da OMS , mais de 90% das mortes causadas pela poluição do ar ocorrem em países de baixa e média renda, enquanto o acesso ao ar limpo está fortemente concentrado no topo da pirâmide socioeconômica. Em outras palavras, os pobres respiram um ar mais sujo.

Além disso, os impactos das mudanças climáticas costumam ser menos imediatos para os países com as maiores emissões de gases de efeito estufa (GEE). A pesquisa mostra que, dos 36 países com maiores emissões, 20 estão entre os menos vulneráveis às mudanças climáticas. Enquanto isso, 11 dos 17 países com as menores emissões de GEE estão entre os mais vulneráveis às mudanças climáticas. À medida que mais atenção é dada aos efeitos prejudiciais da poluição do ar e das mudanças climáticas, a qualidade do ar começa a melhorar - mas apenas para certas comunidades. Isso não se deve às inadequações de um grupo ou à superioridade de outro, mas à distribuição desigual dos poluentes atmosféricos nas comunidades marginalizadas.

Certas comunidades estão lutando para respirar Nos Estados Unidos, uma linha rígida entre raça e poluição do ar pode ser traçada. A pesquisa mostrou que os americanos brancos são os maiores contribuintes para as emissões, mas experimentam 17% menos poluição do ar em comparação com seu consumo.

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9 em cada 10 pessoas em todo o mundo respiram ar poluído

De forma mais geral, 20% das disparidades de saúde auto-relatadas na Europa estão relacionadas à falta de espaços verdes, condições de vizinhança e poluição do ar. A OMS credita a formação dessa chamada “subclasse ambiental” à combinação de iniquidade na saúde ambiental e outras pressões negativas sobre a saúde. À medida que mais meios de comunicação e organizações relatam os efeitos prejudiciais da poluição do ar e das mudanças climáticas, a qualidade do ar começa a melhorar - mas apenas para certas comunidades. — David B. Duong, Mestre Riya, Neha Rana, Harvard Medical School

Por outro lado, as populações negra e hispânica, respectivamente, experimentam 56% e 63% mais poluição do ar em relação ao seu consumo. Isso pode ser em grande parte devido à segregação racial e às fontes de poluição localizadas perto de comunidades historicamente marginalizadas.

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Este é certamente o caso em algumas partes da Europa. No País Basco espanhol, por exemplo, bairros com baixo status socioeconômico têm seis vezes mais probabilidade do que seus homólogos de alta renda de estar mais próximos de indústrias poluentes.

Outras partes do mundo apresentam exemplos semelhantes de acesso desigual ao ar puro. Na África Subsaariana, por exemplo, o uso de combustíveis sólidos como madeira e carvão para aquecimento, iluminação e cozinhar entre famílias de baixa renda resulta em altas taxas de poluição do ar em casas mal ventiladas. Aproximadamente dois terços das crianças da região crescem em lares que dependem de combustíveis sólidos. A alta exposição a partículas emitidas por esses combustíveis pode causar morte prematura por doenças cardíacas, derrame, pneumonia e câncer.

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estritos às companhias de petróleo, limitar os gases que as grandes corporações podem emitir anualmente e defender subsídios aos combustíveis para residências sem gás e eletricidade. Os países mais ricos e aqueles com uma pegada de carbono maior precisam ajudar os países com recursos limitados. Indivíduos devem entrar em contato com seus representantes para pressionar por mais iniciativas verdes e responsabilizar os governos pela qualidade do ar em casa e em todo o mundo. Respirar ar puro é um direito humano e o ar puro não deve ser monetizado. Nosso mundo e o ar que respiramos são um recurso compartilhado por todos. Não deve haver hesitação em agir ou custos muito altos para proteger e restaurar nosso ar e nosso meio ambiente. Temos menos de uma década para salvar nosso planeta e o momento de agir é agora.

Como enfrentar a crise do ar limpo Precisamos enfrentar os aspectos ambientais, de saúde e sociais dessa questão multifacetada. Sem um progresso real e equitativo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e conter as mudanças climáticas, apenas os ricos terão o direito econômico de respirar ar puro. Em 2050, o ar puro pode realmente se tornar a nova moeda global. Tanto os indivíduos como as instituições podem fazer muito para combater este problema. Fazer mudanças no estilo de vida diário, como andar de transporte público ou ir de bicicleta para o trabalho, pode contribuir para reduzir as emissões de GEE. Recusar plásticos descartáveis também pode ajudar. Complementar esses esforços com mudanças na dieta, como reduzir o consumo de carne e laticínios e comer alimentos cultivados localmente, leva a solução um passo adiante. Sem um progresso real e equitativo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e conter as mudanças climáticas, apenas os ricos terão o direito econômico de respirar ar puro.— David B. Duong, Mestre Riya, Neha Rana, Harvard Medical School No entanto, essas escolhas individuais de estilo de vida devem ser atendidas com uma ação nacional e internacional forte e coordenada para aliviar a carga injusta da poluição do ar nas comunidades socioeconômicas mais baixas. Governos e nações soberanas precisam impor limites

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Governos e nações soberanas precisam impor limites [*] Diretor, Programa de Atenção Básica Global e Mudança Social, Harvard Medical School; [**} Harvard Medical School; [***] Bolsista de Pesquisa de Graduação, Harvard Medical School

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Coletando água potável da umidade o tempo todo Pesquisadores da ETH Zurich (a universidade que formou Albert Einstein) desenvolveram um condensador para países onde a água é escassa. Deles é a primeira solução de energia zero para coletar água da atmosfera ao longo do ciclo diário de 24 horas, sem gastar energia. Ele se baseia em uma superfície de resfriamento automático e um escudo especial de radiação. por *Fabio Bergamin

Fotos: ETH Zurique / Iwan Hächler, Haechler I et al. Science Advances 2021, editado, Nasa Earth Observation, Science Advances, Tobias Gulich

Vapor de água A água está constantemente circulando pela atmosfera. A água evapora da superfície da Terra e sobe em correntes ascendentes quentes para a atmosfera. Dependendo de sua temperatura, a água vem em três formas diferentes: sólida (gelo), líquida (gotas de chuva) e gasosa (invisível aos olhos humanos). Conforme a água fica mais quente, ela eventualmente muda de um líquido para um gás. Este gás é chamado de vapor de água. O vapor de água é uma parte muito importante da atmosfera da Terra porque retém o calor perto da superfície e mantém o nosso planeta aquecido. O vapor de água também é importante porque, à medida que sobe para a atmosfera, ele esfria e se transforma em gotículas de água. À medida que mais gotas de água aparecem, elas eventualmente formam uma nuvem. Algumas nuvens produzem chuva e neve, trazendo água doce de volta à superfície. Portanto, os cientistas monitoram o vapor d’água porque ele influencia os padrões climáticos da Terra e porque é uma parte muito importante do sistema climático mundial. Esses mapas mostram medições de vapor d’água por satélite em um determinado dia ou em um intervalo de dias. Estes ciclos são uma forma importante pela qual o calor e a energia são transferidos da superfície da Terra para a Visualização por satélite Maio de 2021 atmosfera e transportados de um lugar para outro em nosso planeta. O vapor de água atmosférico é onipresente e representa uma alternativa promissora para lidar com a escassez global de água limpa. A colheita sustentável deste recurso requer neutralidade energética, produção contínua e facilidade de uso. No entanto, a captação de água atmosférica de 24 horas totalmente passiva e ininterrupta permanece um desafio. Aqui, é demonstrado um sistema projetado racionalmente que combina sinergicamente blindagem radiativa e resfriamento - dissipando o calor latente de condensação radiativamente para o espaço sideral - com um coletor de condensado superhidrofóbico totalmente passivo, trabalhando com um mecanismo de remoção de água induzida por coalescência. Um escudo projetado racionalmente, levando em conta o calor radiativo atmosférico, facilita a coleta de água atmosférica durante o dia sob irradiação solar em níveis realistas de umidade relativa, próximo aos recursos finais de tais sistemas. Os resultados demonstram que o rendimento das tecnologias relacionadas pode ser pelo menos dobrado, o resfriamento e a coleta permanecem passivos, avançando substancialmente o estado da arte. revistaamazonia.com.br 60enquanto REVISTA AMAZÔNIA

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O condensador piloto no topo de um edifício ETH Zurique

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A água doce é escassa em muitas partes do mundo e deve ser obtida com muito custo. As comunidades próximas ao oceano podem dessalinizar a água do mar para esse propósito, mas isso requer uma grande quantidade de energia. Mais longe da costa, quase sempre a única opção que resta é condensar a umidade atmosférica por meio do resfriamento, seja por processos que também requerem alta entrada de energia, seja pelo uso de tecnologias “passivas” que exploram as oscilações de temperatura entre o dia e a noite.

No entanto, com as tecnologias passivas atuais, como as folhas de coleta de orvalho, a água pode ser extraída apenas à noite. Isso porque o sol aquece as películas durante o dia, o que impossibilita a condensação.

Auto-resfriamento e proteção contra radiação Os pesquisadores da ETH Zurique desenvolveram agora uma tecnologia que, pela primeira vez, lhes permite coletar água 24 horas por dia, sem entrada de energia, mesmo sob o sol escaldante.

O novo dispositivo consiste essencialmente em um painel de vidro especialmente revestido, que reflete a radiação solar e também irradia seu próprio calor através da atmosfera para o espaço sideral. Assim, ele se resfria até 15 graus Celsius abaixo da temperatura ambiente. Na parte inferior deste painel, o vapor de água do ar se condensa em água. O processo é o mesmo que pode ser observado em janelas mal isoladas no inverno. Os cientistas revestiram o vidro com camadas de polímero e prata especificamente projetadas. Esta abordagem de revestimento especial faz com que a vidraça emita radiação infravermelha em uma janela de comprimento de onda específico para o espaço sideral, sem absorção pela atmosfera nem reflexão de volta para a vidraça. Outro elemento chave do dispositivo é um novo escudo de radiação em forma de cone. Ele desvia amplamente a radiação de calor da atmosfera e protege a vidraça da radiação solar que entra, enquanto permite que o dispositivo irradie o calor mencionado para fora e, assim, resfrie a si mesmo de forma totalmente passiva.

Perto do ótimo teórico

( A ) Princípio de funcionamento com radiação separada e lado de condensação. O escudo de radiação otimizado levando em consideração o ambiente radiativo circundante - permite melhorar substancialmente o potencial de coleta de orvalho do sistema e pode ser aplicado para qualquer emissor seletivo. ( B ) Estrutura do emissor seletivo. É composto por PDMS e prata, revestido em um substrato de vidro transparente (o cromo é usado para proteção contra oxidação e adesão). ( C ) Absortividade / emissividade espectral medida do emissor seletivo. A emissividade média na janela de transparência atmosférica é muito alta, enquanto a absortividade média na faixa do espectro solar é muito baixa

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Como os testes do novo dispositivo em condições reais no telhado de um prédio da ETH em Zurique mostraram, a nova tecnologia pode produzir pelo menos o dobro de água por área por dia do que as melhores tecnologias passivas atuais baseadas em folhas: o pequeno piloto sistema com um diâmetro de painel de 10 centímetros distribuiu 4,6 mililitros de água por dia em condições do mundo real.

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Aumento do potencial de sub-resfriamento e coleta de orvalho através do escudo de radiação O objetivo dos pesquisadores era desenvolver uma tecnologia para países com escassez de água e, em particular, para países em desenvolvimento e emergentes. Agora, dizem eles, outros cientistas têm a oportunidade de desenvolver ainda mais essa tecnologia ou combiná-la com outros métodos, como a dessalinização de água, para aumentar seu rendimento. A produção dos painéis revestidos é relativamente simples e deve ser possível construir condensadores de água maiores do que o sistema piloto atual. Semelhante ao modo como as células solares apresentam vários módulos instalados lado a lado, vários condensadores de água também podem ser posicionados lado a lado para montar um sistema em grande escala. [*]ETH Zurique

(A) Análise termodinâmica do escudo de radiação e fluxos de calor envolvidos. O isopor bloqueia o lado da condensação, consequentemente Q orvalho= 0. A dependência angular da emissividade atmosférica é representada em azul. (B) Desempenho de sub-resfriamento de OPUR, emissor seletivo com (β = 30 °) e sem (β = 90 °) proteção contra radiação. (C) Potencial teórico de coleta de orvalho. O emissor seletivo, trabalhando em colaboração com o escudo de radiação, estende a janela de colheita por mais de 2 horas e para condições com UR <50% e 808 W, irradiação solar (intervalos de 10 min). (D) Melhoria do estado da arte. O emissor seletivo, trabalhando em colaboração com o escudo de radiação, supera as tecnologias de coleta de orvalho existentes por um fator 2 a 3, dependendo da UR.

Dispositivos maiores com painéis maiores produziriam mais água de acordo. Os cientistas conseguiram mostrar que, em condições ideais, eles podiam colher até 0,53 decilitros de água por metro quadrado de superfície do painel por hora. “Isso está perto do valor máximo teórico de 0,6 decilitros por hora, que é fisicamente impossível de ser excedido”, diz Iwan Hächler. É doutorando no grupo de Dimos Poulikakos, Professor de Termodinâmica da ETH Zurique. Outras tecnologias geralmente exigem que a água condensada seja removida de uma superfície, o que requer energia. Sem esta etapa, uma porção significativa da água condensada se agarraria à superfície e permaneceria inutilizável, impedindo a condensação adicional. Os pesquisadores da ETH Zurich aplicaram um novo revestimento super-hidrofóbico (extremamente repelente de água) na parte inferior do painel em seu condensador de água. Isso faz com que a água condensada goteje e corra ou pule sozinha. “Em contraste com outras tecnologias, a nossa pode realmente funcionar sem nenhuma energia adicional, o que é uma vantagem importante”, disse Hächler.

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Experimentos de colheita de orvalho

(A) Imagens qualitativas de coleta de orvalho sob radiação solar direta. (B) Formação de orvalho sob irradiação solar, 90 min após o emissor ser exposto a vários (95 a 65%) níveis de UR constante. (C) Fluxo de massa de orvalho e irradiação solar durante 24 horas a UR> 90%. (D) Fluxo médio de massa de orvalho e irradiação média para cinco execuções experimentais, demonstrando ampla capacidade operacional. revistaamazonia.com.br

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Rede global transformando pesquisa em florestas tropicais da Terra por * University of Leeds

Fotos: Pauline Kindler, Universidade de Rouen (França), Peter van der Sleen, Simon Lewis, University of Leeds

Medição de árvores, Parque Nacional de Salonga, República Democrática do Congo

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ma enorme rede global de pesquisadores está trabalhando em conjunto para tomar o pulso de nossas florestas tropicais globais. O ForestPlots.net, coordenado pela University of Leeds, reúne mais de 2.500 cientistas que examinaram milhões de árvores para explorar o efeito das mudanças climáticas nas florestas e na biodiversidade. Um novo artigo de pesquisa publicado na Biological Conservation explica as origens da rede e como o poder da colaboração está transformando a pesquisa florestal na África, América do Sul e Ásia.

Dossel da floresta amazônica ao amanhecer no Brasil

Medir e identificar com precisão árvores em florestas tropicais remotas requer dedicação, habilidade e coragem. Para medir o diâmetro desta árvore gigante de Ceiba (Malvaceae) na Reserva Amargal (Chocó da Colômbia), três pesquisadores da rede COL-TREE precisaram escalar cada um> 10 m. Essas técnicas podem ser as opções mais práticas e precisas para medir árvores grandes. Aqui, como muitos de nossos sites, não há energia elétrica, muito menos uma estação de campo, e a insegurança crônica devido a conflitos políticos e sociais e ao narcotráfico significa que aeronaves e scanners a laser não podem ser implantados

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O artigo inclui 551 pesquisadores e descreve 25 anos de descobertas no carbono, na biodiversidade e na dinâmica das florestas tropicais. O professor Oliver Phillips, da Escola de Geografia de Leeds, disse: “Nosso novo artigo mostra como estamos vinculando estudantes, botânicos, engenheiros florestais e formuladores de políticas à tecnologia ForestPlots.net desenvolvida em Leeds. “Isso impulsiona um novo modelo de pesquisa coletiva. Isso está ajudando a transformar a compreensão científica de como as florestas tropicais funcionam - e como elas estão ajudando a desacelerar as mudanças climáticas.

“Nesta nova síntese, delineamos como essa colaboração foi construída e rastreamos o potencial estimulante da ciência colaborativa que atinge as florestas tropicais do mundo para incluir colegas de todos os países e origens”. ForestPlots.net oferece um lugar único para medir, monitorar e compreender as florestas do mundo, especialmente as florestas tropicais. Fundada em 2009, cresceu rapidamente para rastrear 5.138 lotes em 59 países, com uma rede de 2.512 pessoas. A colaboração, financiada pelo UK NERC e pela Royal Society, visa promover a cooperação entre países e continentes e permitir que os parceiros acessem, analisem e gerenciem as informações de seus lotes de longo prazo. O professor Phillips diz que sua “abordagem central conecta pesquisadores de base de longo prazo para gerar resultados robustos em larga escala”.

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Densidade de amostragem de parcela pantropical por 2,5 graus quadrados com os 4062 lotes de inventário único e múltiplos hospedados em ForestPlots.net. Cobertura florestal baseada na base de dados Global Land Cover 2000 (JRC, 2003) com categorias de cobertura de árvores: perenifólia de folhas largas; tipo de folha mista; e regularmente inundado. Nossas parcelas também se estendem por savanas neotropicais e africanas; Abaixo: A mesma amostra de gráfico, mas exibida em resolução mais alta (células de grade de 1 grau) para cada continente focal, América do Sul, África e Sudeste Asiático e Austrália. “Esta comunidade global diversificada está medindo milhares de florestas árvore por árvore em lotes de longo prazo”. “Ao conectar pesquisadores tropicais e valorizar o papel-chave do criador dos dados na descoberta científica, nosso modelo de Rede de Pesquisa Social busca apoiar os principais trabalhadores que tornam a ciência de big data possível”. ForestPlots.net hospeda dados de muitos pesquisadores e redes individuais, incluindo AfriTRON, ECOFOR, PPBio, RAINFOR, TROBIT e T-FORCES.

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Trabalhando juntos de forma equitativa, a rede mostrou que o monitoramento de longo prazo das florestas no local é insubstituível, fazendo descobertas científicas em todo o mundo. Por meio de análises em grande escala, os pesquisadores do ForestPlots.net descobrem onde e por que o carbono florestal e a biodiversidade respondem às mudanças climáticas e como ajudam a controlá-las com um sumidouro de carbono anual de um bilhão de toneladas.

O novo documento de pesquisa, “Tomando o pulso das florestas tropicais da Terra” usando redes de parcelas altamente distribuídas, fornece uma visão para o monitoramento mais integrado e equitativo dos ecossistemas mais preciosos da Terra. O artigo colaborativo é particularmente oportuno, pois também destaca o impacto que Leeds e seus parceiros de pesquisa tiveram na compreensão da dinâmica do carbono em florestas tropicais antes da conferência climática global COP26, que ocorre em Glasgow em novembro.

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Estudo da NASA descobre que a capacidade das florestas tropicais de absorver dióxido de carbono está diminuindo A descoberta surge de um esforço para mapear onde a vegetação está emitindo e absorvendo dióxido de carbono da atmosfera

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s árvores e plantas da Terra retiram grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera durante a fotossíntese, incorporando parte desse carbono em estruturas como a madeira. As áreas que absorvem mais carbono do que emitem são chamadas de sumidouros de carbono. Mas as plantas também podem emitir o gás de efeito estufa durante processos como a respiração, quando as plantas mortas se decompõem ou durante a combustão, no caso de incêndios. Os pesquisadores estão particularmente interessados em saber se - e como - as plantas na escala de um ecossistema como uma floresta agem como fontes ou sumidouros em um mundo cada vez mais quente. Um estudo recente liderado por cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA no sul da Califórnia identificou se áreas com vegetação, como florestas e savanas ao redor do mundo, eram fontes ou sumidouros de carbono todos os anos de 2000 a 2019. A pesquisa descobriu que, ao longo dessas duas décadas, viver plantas

Fotos: NASA / JPL-Caltech A floresta amazônica costuma ser chamada de “o pulmão do mundo”. Produz oxigênio e armazena bilhões de toneladas de carbono todos os anos

lenhosas foram responsáveis por mais de 80% das fontes e sumidouros na terra, com solo, serapilheira e matéria orgânica em decomposição constituindo o resto. Mas eles também viram que a vegetação retinha uma fração muito menor do carbono do que os cientistas pensavam originalmente.

Emissões de derrubada de floresta e incêndios de 2000–2019: ( A ) distribuição espacial das emissões médias do desmatamento, ( B ) emissões anuais médias adicionais de incêndios florestais e não florestais não incluídos no desmatamento, ( C ) emissões anuais médias [gigagramas de carbono (GgC) ano –1 ] da degradação florestal estimada para regiões pantropicais e séries temporais de emissões anuais e incerteza de ( D ) desmatamento florestal, ( E ) incêndio florestal, ( F ) incêndio não florestal e ( G ) degradação florestal. revistaamazonia.com.br

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Além disso, os pesquisadores descobriram que a quantidade total de carbono emitido e absorvido nos trópicos era quatro vezes maior do que nas regiões temperadas e áreas boreais (as florestas do extremo norte) combinadas, mas que a capacidade das florestas tropicais de absorver grandes quantidades de carbono tem diminuiu nos últimos anos. O declínio dessa capacidade é devido ao desmatamento em grande escala, degradação do habitat e efeitos das mudanças climáticas, como secas e incêndios mais frequentes. Na verdade, o estudo, publicado na Science Advances , mostrou que 90% do carbono que as florestas ao redor do mundo absorvem da atmosfera é compensado pela quantidade de carbono liberado por distúrbios como desmatamento e secas. Os cientistas criaram mapas de fontes e sumidouros de carbono de mudanças no uso da terra, como desmatamento, degradação de habitat e plantio de florestas, bem como crescimento de florestas. Eles fizeram isso analisando dados sobre a vegetação global coletados do espaço usando instrumentos como o Geoscience Laser Altimeter System ( GLAS ) da NASA a bordo do ICESat e o Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer ( MODIS ) a bordo dos satélites Terra e Aqua, respectivamente. A análise usou um algoritmo de aprendizado de máquina que os pesquisadores primeiro treinaram usando dados de vegetação coletados no solo e no ar usando instrumentos de varredura a laser. REVISTA AMAZÔNIA

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Fazendo o inventário “Muitas pesquisas anteriores não foram espacialmente explícitas - não tivemos um mapa de onde os fluxos de carbono estavam ocorrendo”, disse Nancy Harris, diretora de pesquisa do programa florestal do World Resources Institute em Washington e um dos autores do estudo. Outras maneiras de estimar quanto carbono é trocado entre áreas com vegetação e a atmosfera incluem observar quantas plantas ou florestas existem em uma determinada região e estudar as mudanças no uso da terra, combinando essas informações com estimativas de emissão de carbono. Mas esses métodos têm limitações espaciais ou temporais que os autores do estudo tentaram resolver com seu método de aprendizado de máquina. Saber onde as plantas estão absorvendo carbono e onde estão emitindo é importante para monitorar como as florestas e outras regiões com vegetação respondem às mudanças climáticas. “A Amazônia foi considerada um grande sumidouro de carbono por causa de grandes extensões de floresta intocada que absorvem dióxido de carbono”, disse Sassan Saatchi, cientista principal do JPL e investigador principal do estudo. “No entanto, nossos resultados mostram que, de maneira geral, a Bacia Amazônica está se tornando quase neutra em termos de balanço de carbono porque o desmatamento, a degradação e os impactos do aquecimento, secas frequentes e incêndios nas últimas duas décadas liberam dióxido de carbono na atmosfera”. Saatchi e seus colegas desenvolveram suas análises para que seja mais fácil rastrear mudanças em áreas com vegetação

O dióxido de carbono (CO2 ) é um importante gás que retém o calor (efeito estufa), que é liberado por meio de atividades humanas, como desmatamento e queima de combustíveis fósseis, e também por processos naturais, como respiração e erupções vulcânicas. O primeiro gráfico mostra os níveis de CO2 atmosférico medidos no Observatório Mauna Loa, Havaí, nos últimos anos, com o ciclo sazonal médio removido. O gráfico mostra a última medição é de 10 de setembro de 2021 ( este mês )

com base em dados coletados tanto no solo quanto remotamente. “Nossa abordagem foi projetada para garantir que possamos equilibrar sistematicamente o orçamento global de carbono a cada ano e que os países possam usar os resultados e a metodologia para a gestão de carbono e suas próprias necessidades de relatórios”, disse ele. Essa análise de orçamento ajudou os pesquisadores a entender melhor a dinâmica de como as florestas e outras áreas com vegetação ao redor do mundo armazenam o carbono que estão absorvendo da atmosfera. “Muitos estudos anteriores descobriram que a vegetação ao redor do mundo absorve uma grande quantidade de dióxido de carbono atmosférico”, disse o principal autor do estudo, Alan Xu, pesquisador de carbono do JPL e da UCLA. “Dá a impressão de que as florestas globais estão crescendo e ficando maiores em todos os lugares, mas não é o caso”.

Mapa de classificação de seca derivado de dados de precipitação 66 REVISTA AMAZÔNIA

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Peças faltando Este estudo ajuda a preencher o quadro de onde e como as árvores e plantas estão absorvendo ou emitindo carbono, mas há mais trabalho a ser feito. Os mapas de carbono baseados em satélite neste estudo cobriram cerca de 39 milhas quadradas (100 quilômetros quadrados) de cada vez, mas não podiam necessariamente captar as mudanças que aconteciam em escalas menores. E havia algumas informações sobre como as florestas armazenavam e emitiam carbono nesses mapas que não eram necessariamente consideradas nos cálculos de fonte-sumidouro dos pesquisadores. Algumas dessas lacunas de informação devem ser remediadas por mapas de carbono de alta resolução fornecidos por satélites mais novos já em órbita, bem como por missões futuras como o NISAR da NASA-Organização de Pesquisa Espacial Indiana. É importante entender como as regiões ao redor do mundo absorvem e emitem dióxido de carbono, disse Harris. “Se não estivermos acertando esses padrões, podemos estar perdendo alguns desses ecossistemas e como eles estão afetando o ciclo do carbono”. Mas ela é encorajada pela grande quantidade de dados que se tornam disponíveis para cientistas do clima sobre como o gás de efeito estufa se move entre a atmosfera e as florestas, pastagens e outras áreas de vegetação da Terra. Saatchi tem esperança de que ter uma abordagem mais sistemática e consistente para acompanhar quais partes do mundo estão agindo como fontes ou sumidouros de carbono permitirá um melhor monitoramento entre regiões e países. “Isso poderia permitir que países ao redor do mundo usassem os dados como orientação para cumprir seus compromissos nacionais com o Acordo do Clima de Paris”.

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