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ISSN 1809-466X
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Ano 15 Número 98 outubro/2021 R$ 29,99 €
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TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS PARA A AMAZÔNIA CORTAR O METANO: OBJETIVO CHAVE DA COP26 SATÉLITE MOSTRAM QUE NUVENS VÃO AMPLIFICAR O AQUECIMENTO GLOBAL capa individual.indd 1
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Desenvolvimento sustentavel Em parceria com Representante Autorizado
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O sistema é alimentado com resíduos orgânicos
Bactérias decompõem o resíduo orgânico no biodigestor
O fertilizante líquido pode ser usado em jardins e plantações
O biogás é armazenado no reservatório de gás para ser usado em um fogão
O sistema tem capacidade de receber até 12 Litros de resíduos por dia.
O equipamento produz biogás e fertilizante líquido diariamente.
Totalmente fechado mantendo pragas afastadas.
Em um ano, o sistema deixa de enviar 1 tonelada de resíduos orgânicos para aterros e impede a liberação de 6 toneladas de gases de efeito estufa (GEE) para atmosfera.
O QUE COLOCAR NO SISTEMA
O QUE NÃO COLOCAR NO SISTEMA
Carne, frutas, verduras, legumes e restos de comida. OBS: Máximo de duas cascas de cítricos por dia.
Resíduos de jardinagem, materiais não orgânicos (vidro, papel, plástico, metais). Resíduos de banheiro, produtos químicos em geral.
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homebiogasamazonia
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Brasil precisa preservar ao menos 80% da Amazônia
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse em Dubai que o Brasil precisa garantir a preservação de pelo menos 80% da Amazônia, para mostrar à comunidade internacional seu compromisso com o bioma. Segundo ele, estima-se que cerca de 85% da floresta ainda mantêm vegetação natural, o que limita seu desmatamento a 5%, no máximo. “Para mostrar à comunidade internacional que não estamos desistindo da nossa responsabilidade, de que vamos trabalhar duro para manter a floresta, se formos levar...
Cortar o metano deve ser um objetivo chave da COP26
Cortes bruscos no metano de vazamentos de plataformas de perfuração de gás e locais de produção podem desempenhar um papel importante nas reduções de emissões de gases de efeito estufa necessárias para cumprir o acordo climático de Paris , e deve ser um objetivo-chave para as negociações climáticas da COP26 da ONU , sugere uma nova pesquisa. É possível reduzir as emissões globais de metano em 40% até 2030, com a maioria dos cortes possíveis a baixo custo ou mesmo com lucro para...
Satélite mostram que nuvens vão amplificar o aquecimento global Uma nova abordagem para analisar medições de satélite da cobertura de nuvens da Terra revela que as nuvens têm grande probabilidade de aumentar o aquecimento global. A pesquisa, feita por cientistas do Imperial College London e da University of East Anglia, é a evidência mais forte de que as nuvens vão amplificar o aquecimento global a longo prazo, agravando ainda mais as mudanças climáticas. Os resultados, publicados em Proceedings of the National Academy of Sciences , também sugerem que...
Como o desenvolvimento sustentável pode ser alcançado para todos ao mesmo tempo em que se trata da mudança climática global?
EDITORA CÍRIOS
DIRETOR Rodrigo Barbosa Hühn PRODUTOR E EDITOR Ronaldo Gilberto Hühn COMERCIAL Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn ARTICULISTAS/COLABORADORES Akanksha Khatri, Agência FAPESP, ANU, David Duong, Divulgação, Duke University, Gabriel Farias, Gapminder, INARAE, IPBES, IPCC, IPCC 2021, Klaus Schwab, Lena Chan, Matthias Berninger, Mauricio Rodas Espinel, Mestre Riya, Monika Mondal, Neha Rana, ONU, Princeton University, Ronaldo Gilberto Hühn, Universidade de Montreal, University of Leeds,WEF; FOTOGRAFIAS Bullit Marquez, ESA, ESA / CLS / LEGOS, ESA / USGS / Deimos Imaging, Imperial College London, M. Seifert, Jeffrey C. Chase / University of Delaware, Marcelo Camargo/Ag.Brasil, Met Office, MIT News, NFCC, OCEANIX / BIG-Bjarke Ingels Group, Panmao Zhai, copresidente do Grupo de Trabalho I do IPCC, Pixabay / CC0 Public Domain, Ronaldo Rosa, SCoPEx, Stefano Boeri Architetti, Unicef, Tomaki Energy, Universidade de Bonn, Universidade de Delaware, UNEP, Universidade de Birmingham, Universidade de Harvard, Unsplash, Unsplash / NASA, VCG, WGEB, Wikimedia Commons; EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA DESKTOP Rodolph Pyle
FAVOR POR
NOSSA CAPA
Tucano com mandíbula castanha. Nos trópicos da América do Sul, a biodiversidade é muito maior do que na África. Um dos exemplos de como a geologia e o clima moldam a biodiversidade Foto: Andy Morffew/Wikimedia Commons
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O Tec Amazônia é um novo aplicativo para smartphone lançado pela Embrapa, que oferece 131 soluções tecnológicas para 50 produtos agropecuários desse bioma, números que devem crescer até o fim deste ano. A ferramenta funciona off-line e conta também com uma plataforma web de acesso gratuito e permite fazer buscas de tecnologias por produto agropecuário ou por municípios e regiões, a partir de um mapa interativo.Um dos recursos oferecidos ao usuário do aplicativo é utilizar o GPS do celular para obter dados sobre os produtos, processos e serviços disponíveis por localidade...
Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 www.revistaamazonia.com.br E-mail: amazonia@revistaamazonia.com.br CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil
ST A
Tecnologias sustentáveis para a Amazônia
I LE ESTA REV
As emissões de GEE diminuíram de um crescimento médio anual de 2,6% durante a primeira década deste século para 1,1% durante 2012 a 2019. A recessão da Covid reduziu as emissões em 6 a 7%, mas espera- -se que seja maior em 2022 do que em 2019; portanto, não estamos no caminho para alcançar emissões líquidas zero até 2050. 2020 empatou com 2016 como o ano mais...
Imagens de satélite que mostram a rapidez com que nosso planeta está mudando
Você provavelmente já viu imagens de satélite do planeta por meio de aplicativos como o Google Earth. Eles fornecem uma visão fascinante da superfície do planeta de um ponto de vista exclusivo e podem ser bonitos de se ver e auxiliares de planejamento. Mas as observações de satélite podem fornecer muito mais informações do que isso. Na verdade, eles são essenciais para entender como nosso planeta está mudando e respondendo ao aquecimento global e podem fazer muito...
MAIS CONTEÚDO [14] Mudança climática generalizada, rápida e intensificada – IPCC [17] A mudança climática está tornando a Terra mais escura [21] A mudança climática está tornando a Terra mais escura [23] Podemos impedir o aquecimento da Terra? [27] Aumento sem precedentes de extremos de calor e precipitação em dados observacionais [30] O maior centro de energia renovável do mundo gerará mais de 50 gigawatts de energia [31] Árvores maduras podem aumentar a quantidade de dióxido de carbono que absorvem [33] A “demanda verde” pode nos ajudar a atingir nossos objetivos climáticos [38] Retirada controlada: uma obrigação na guerra contra as mudanças climáticas [45] O aquecimento global gera mais aquecimento, segundo um novo estudo do paleoclima [48] Enchentes e tempestades dominaram os desastres naturais nos últimos 50 anos [50] Mudanças climáticas e outras ideias potencialmente ambíguas [52] Degelo do permafrost libera gases de efeito estufa do subsolo [54] Sol artificial que poderia fornecer energia ao nosso planeta é criado por uma start-up britânica [57] Derretimento do gelo: Limitar o aquecimento global a 1,5° C pode reduzir o aumento do nível do mar em 50% [60] A maioria dos rios e riachos seca todos os anos
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Tecnologias sustentáveis para a Amazônia O Tec Amazônia é um novo aplicativo para smartphone lançado pela Embrapa, que oferece 131 soluções tecnológicas para 50 produtos agropecuários desse bioma, números que devem crescer até o fim deste ano. A ferramenta funciona off-line e conta também com uma plataforma web de acesso gratuito e permite fazer buscas de tecnologias por produto agropecuário ou por municípios e regiões, a partir de um mapa interativo.Um dos recursos oferecidos ao usuário do aplicativo é utilizar o GPS do celular para obter dados sobre os produtos, processos e serviços disponíveis por localidade por *Vivian Chies
Fotos: Ronaldo Rosa
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Embrapa lançou um aplicativo para smartphone (para os sistemas iOS e Android) e uma plataforma web de acesso gratuito com informações sobre soluções tecnológicas sustentáveis da Empresa para aplicação no bioma Amazônia. Desenvolvidas pela Embrapa Territorial (SP) no âmbito do Fundo Amazônia, as ferramentas permitem fazer buscas por município ou conjunto de municípios e visualizar espacialmente as tecnologias, em um mapa interativo. No caso do aplicativo, batizado como Tec Amazônia, é possível utilizar o GPS do celular para identificar a localização do usuário e exibir os produtos, processos e serviços disponíveis para a região onde ele está. A tecnologia funciona inclusive off-line, para facilitar o acesso de produtores e extensionistas agropecuários.
No caso do Tec Amazônia, é possível utilizar o GPS do celular para identificar a localização do usuário e exibir tecnologias disponíveis para sua região
De açaí a tambaqui, as ferramentas mostram, atualmente, 131 soluções tecnológicas para 50 produtos agropecuários presentes no bioma. A analista Daniela Maciel, da Embrapa Territorial, conta que, para chegar a essa lista, foram levantados os produtos presentes de forma recorrente em cada um dos municípios da Amazônia, de 2014 a 2018, nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Maciel explica que há restrições territoriais para a aplicação de tecnologias, por isso foi preciso, primeiramente, visualizar a ocorrência das atividades agropecuárias para, só então, associar produtos, processos e serviços desenvolvidos pelas nove Unidades da Embrapa presentes no bioma. “Precisamos entender onde está a prática para depois associá-la à tecnologia”, resume. Produtos regionais como o açaí estão contemplados na plataforma revistaamazonia.com.br
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Tecnologias sustentáveis para a agricultura e pecuária na Amazônia (Assista no: www.youtube.com/watch?v=ukyDIAnZ3qM )
Outras soluções tecnológicas para o bioma já estão sendo mapeadas pela equipe e devem ser integradas às ferramentas até o fim do ano.
Filtros facilitam a busca de soluções tecnológicas A busca de tecnologias por produto agropecuário é uma das possibilidades das ferramentas, que também permitem filtros por tipo de solução e o cruzamento de dados referentes a produtos e localidade. Por exemplo, ao selecionar “madeira”, na plataforma web, o usuário obtém 11 soluções tecnológicas. Para encontrar mais facilmente o que procura, pode acionar o filtro de “Práticas Agropecuárias” e marcar, no mapa, o município de Uiramutã (RR). Ficará, assim, com um conjunto menor, de oito tecnologias, para escolher aquela que melhor atende a sua necessidade. Na plataforma web, é possível fazer download dos dados em planilhas, documentos PDF e outros formatos. As duas ferramentas também permitem iniciar a busca a partir de um município. No aplicativo, ao selecionar ou localizar com o GPS o município de Xambioá (TO), por exemplo, é exibida uma grande lista de soluções tecnológicas disponíveis. Se o interesse é o cultivo de feijão, o usuário pode selecionar apenas esse produto para encontrar o que deseja. O aplicativo Tec Amazônia pode ser acessado mesmo sem conexão com a internet e tem recurso para avaliar cada tecnologia.
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A busca de tecnologias por produto agropecuário é uma das possibilidades das ferramentas
Tecnologia é crucial para a preservação da Amazônia Para cada uma das soluções, as ferramentas exibem uma descrição, informações de onde encontrar e links para download de materiais. “Com essas ferramentas, buscamos facilitar o processo de identificação e aplicação das tecnologias pelo produtor rural, pelo extensionista, pelos agentes públicos, por todos os interessados em saber de que soluções a Empresa dispõe para adoção no bioma Amazônia”, afirma Maciel.
Na plataforma web, a página inicial da pesquisa por municípios ilustra, em uma espécie de “colcha de retalhos”, os produtos para os quais há maior número de soluções tecnológicas disponíveis. Os bovinos são campeões, seguidos de café canéfora e peixes, mandioca e madeira. Outros itens da mesa de todos os brasileiros também ganham destaque: arroz, feijão, banana, milho e leite. E os produtos regionais não ficam de fora: castanha-do-pará, açaí, tambaqui e copaíba.
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De acordo com o Balanço Social 2020 da Embrapa, as tecnologias desenvolvidas pelos centros de pesquisa localizados na Amazônia estão em 9,47 milhões de hectares na região. Para a analista da Embrapa Territorial, “a tecnologia é o único meio capaz, atualmente, de gerar renda, melhorar a produtividade e preservar o bioma Amazônia”. Maciel diz que as ferramentas também podem apoiar a gestão da carteira de projetos de pesquisa e de transferência de tecnologias da Embrapa e seus parceiros. “Por meio dessas ferramentas, somos capazes de observar quais produtos dispõem de mais soluções e aqueles que ainda carecem de desenvolvimento tecnológico”, detalha. A pesquisadora Michelliny Bentes, da Embrapa Amazônia Oriental (PA), compartilha da opinião de que a visualização territorial das cadeias produtivas e das tecnologias existentes contribuem para a gestão de projetos e diz que, se existissem antes, as ferramentas teriam facilitado o próprio planejamento do Projeto Integrado da Amazônia - PIAmz (veja quadro abaixo). “É uma plataforma que agrega informações e tenho certeza de que será muito útil para os técnicos, pesquisadores, gestores e parceiros institucionais”, avalia.
Apoio à extensão rural A expectativa é que as ferramentas sejam utilizadas não só por produtores rurais, mas também por equipes da extensão agropecuária. Antes do lançamento, elas foram testadas por 15 extensionistas dos estados do Acre, Pará e Rondônia. Um deles foi o biólogo Reginaldo da Silva, da Emater-RO. Ele conta que a busca de informações sobre tecnologias é constante para quem atua na extensão, de forma a conseguir atender à diversidade de produtos na agropecuária da região.
Plataforma e aplicativo Tec Amazônia ( Assista no Youtube: www.youtube.com/watch?v=94ADyuaglko )
“Não conseguimos nos especializar em uma única atividade, então, precisamos estar sempre pesquisando para sermos capazes de oferecer a assistência técnica adequada para todas as culturas”, detalha. Silva avalia que as ferramentas vão facilitar essas pesquisas e que os produtores rurais de sua região também terão interesse em utilizá-las diretamente. O extensionista entende que a ideia é inovadora e destaca, como ponto forte, a possibilidade de uso off-line. “O programa é bem intuitivo, achei fácil encontrar as informações”, complementa o técnico agrícola Antonio Santiago, que atua na extensão rural no Acre. Para a engenheira agrônoma Liliam Soares, extensionista da Secretaria de Agricultura do município de Bom Jesus do Tocantins, na região sudeste do Pará, o aplicativo permite ao técnico ter acesso a uma base de conhecimento e informação que otimiza o tempo de quem está no campo diariamente. “A atualização profissional constante dos técnicos da extensão não é fácil, então essa ferramenta, além de possibilitar mais agilidade no trabalho, preenche a lacuna da falta de acesso à informação e capacitação do técnico”, comenta.
Ela, que trabalha com cerca de 250 a 300 famílias de Bom Jesus do Tocantins, afirma que a produção familiar do município passa por um momento de transição da pecuária para a agricultura, e a tecnologia nesse processo é importante para recuperar áreas degradadas, produzir com mais sustentabilidade e fugir da agricultura tradicional de corte e queima. “O fogo e a pastagem extensiva estão entre as principais causas da degradação ambiental da região”, acrescenta Liliam.
Vitrine na Amazônia A plataforma web e o aplicativo Tec Amazônia são resultados do projeto Interação, intercâmbio e construção do conhecimento e comunicação nos projetos do Fundo Amazônia (Amazocom), um dos 19 projetos executados pela Embrapa que compõem o Projeto Integrado da Amazônia (PIAmz). O PIAmz é financiado pelo Fundo Amazônia e operacionalizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente. A engenheira florestal e pesquisadora Michelliny Bentes, coordenadora do PIAmz, explica que o Fundo Amazônia tem como principal foco a redução do desmatamento e da degradação ambiental na região. “Para isso foi preciso adentrar na questão tecnológica e produtiva buscando alternativas e práticas que pudessem diminuir as perdas ambientais, o desmatamento, aumentar a produtividade, diversificar a produção e reduzir o uso do fogo no preparo de áreas”, conta a pesquisadora. O PIAmz atua por meio de 19 projetos de transferência de tecnologias em quatro grandes eixos temáticos:monitoramento do desmatamento, da degradação florestal e dos serviços ecossistêmicos; manejo florestal e extrativismo; tecnologias sustentáveis para a Amazônia; e aquicultura e pesca.
Adubação sem fogo - mandioca revistaamazonia.com.br
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Os públicos do projeto, explica a pesquisadora, são os extrativistas, pescadores, assentados, agricultores tradicionais e toda a rede de técnicos e multiplicadores que se relacionam com esses públicos no dia a dia. Ela ressalta que o desafio foi aliar as necessidades do projeto e da região às das comunidades locais. “Como restaurar uma área de reserva legal combinando também o desejo do produtor para acessar o mercado local e a vocação da região?”, exemplifica Michelliny. “Não se tratou simplesmente de reunir tecnologias e levar para o campo, foi um processo de diálogo, construção conjunta, um percurso”, comenta. O jornalista e pesquisador Antônio Heberlê, coordenador do projeto Amazocom, diz que as ações de interação social e comunicação são estratégicas para o PIAmz, em função dos seus objetivos, voltados para transferência de tecnologia.
Peixes (aquicultura e pesca, um dos quatro eixos do PIAmz)
“O desafio para a Embrapa foi de apresentar os resultados em dois anos e esse curto prazo impõe inserir metodologias adequadas, das áreas da sociologia e da antropologia, e foi isso que aplicamos, com boa repercussão em todos os demais projetos do PIAmz”.
Para o agrônomo e pesquisador Haron Abrahim Xaud, da Embrapa Roraima (RR), “a mudança só é possível se você consegue ter uma presença forte em um território que é continental”. O Projeto Integrado da Amazônia envolve uma equipe de 1.700 profissionais, entre empregados da Embrapa e colaboradores externos. “São mais de 600 atividades, entre capacitações, ações de campo e 150 Unidades de Referência Tecnológica em todos os estados da Amazônia Legal. A ação com o público é intensa. É uma grande vitrine da Embrapa na região”, afirma.
Trabalho integrado Baseado em uma plataforma semelhante construída para a região do Matopiba (área de expansão entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o trabalho foi extenso. “Demandou muitas ações de levantamento, mineração, análise, validação e visualização de dados, o que não foi simples, uma vez que, mesmo lançando mão de muitas ações automatizadas, existem outras em que precisamos da checagem manual”, detalha a analista da Embrapa Territorial Daniela Maciel. Os 246 produtos, processos e serviços exibidos na plataforma e no aplicativo foram desenvolvidos pelos nove centros de pesquisa que a Embrapa mantém na região amazônica: Embrapa Acre (AC), Embrapa Agrossilvipastoril(MT), Embrapa Amapá (AP), Embrapa Amazônia Ocidental (MA), Embrapa Amazônia Oriental (PA), Embrapa Cocais(MA), Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), Embrapa Rondônia (RO) e Embrapa Roraima (RR). Todas participaram do desenvolvimento das ferramentas, com suas equipes de Transferência de Tecnologias. “Existem tecnologias geradas por outras Unidades e para outros contextos que podem ser aplicadas ao território. Essas tecnologias serão objeto de estudo numa próxima oportunidade”, explica Maciel. Matopiba
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Cardápio de tecnologias da Embrapa se ajusta no campo Segundo o IBGE, na Amazônia estão 970 mil estabelecimentos agropecuários, e 82% deles são de produção familiar. É nesse contexto que o Fundo Amazônia, como explica o pesquisador Everaldo Nascimento, da Embrapa Amazônia Oriental, busca, com o apoio da tecnologia, recuperar áreas degradadas, diminuir passivos ambientais e melhorar a produção e a renda das famílias. A Embrapa oferece um cardápio de tecnologias, mas é o ajuste no campo, a adaptação às condições locais, que podem garantir o sucesso da adoção, segundo o pesquisador. “Área de agricultor não é campo experimental, é produção real, tem seca, tem praga, o produtor não tem recursos para comprar o adubo. Então o papel do técnico é, junto com o produtor, ajustar esse sistema, essa tecnologia, em função do seu próprio conhecimento e da necessidade da família. O projeto acaba, mas o processo não”, acrescenta. O aplicativo Tec Amazônia vem apoiar as ações no campo, continua Nascimento. “Por exemplo, se o técnico quiser saber sobre a BRS Pará, cultivar de açaizeiro para terra firme, ele pode saber onde está implantada, encontrar cursos de capacitação, informações tecnológicas, acessar publicações, vídeos e cartilhas no momento da ação no campo”, exemplifica.
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Açaí de terra firme
“É tudo o que se busca em uma tecnologia: é fácil, barata e pode ser acessada em poucos cliques. Isso é revolução na agricultura”, acredita. Para Haron Xaud, da Embrapa Roraima, “as ferramentas facilitam o trabalho de ’pescaria‘ das informações”. Ele acredita que se o agricultor percebe que, além daquela cartilha, existe uma equipe por trás, um plantio na região, uma ação de capacitação
e sabe que tem uma rede de pessoas envolvidas na ação, isso começa a fechar um elo de crédito na tecnologia. “O elo da publicação, o elo da equipe, o elo da presença entre os diferentes projetos. Tudo isso somado fortalece toda a rede de entrega do PIAmz”, finaliza. [*] Embrapa Territorial
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Expo Dubai 2020
Brasil precisa preservar ao menos 80% da Amazônia
O Brasil é um dos 192 países que marcam presença no evento, que será realizado até março de 2022. A estrutura, que tem o formato de um imenso cubo branco, custou US$ 25 milhões para ser construída
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vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse em Dubai que o Brasil precisa garantir a preservação de pelo menos 80% da Amazônia, para mostrar à comunidade internacional seu compromisso com o bioma. Segundo ele, estima-se que cerca de 85% da floresta ainda mantêm vegetação natural, o que limita seu desmatamento a 5%, no máximo. “Para mostrar à comunidade internacional que não estamos desistindo da nossa responsabilidade, de que vamos trabalhar duro para manter a floresta, se formos levar em consideração um mero cálculo matemático, nós ainda temos 5% para desmatar, nada além disso. Dos outros 80%, as árvores não podem ser cortadas”, disse Mourão. A afirmação foi feita durante uma palestra, proferida em inglês, no pavilhão da Sustentabilidade, da Expo 2020, em Dubai. Ele também defendeu que o país seja pago, em créditos de carbono, pela preservação da floresta.
Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O Vice-Presidente da República, acompanhado do Ministro do Turismo, Gilson Machado, e demais autoridades brasileiras, cortou a fita de inauguração do Pavilhão Brasil na Expo Dubai 2020 simbolizando a abertura oficial do local ao público
O vice-presidente Hamilton Mourão durante palestra, proferida em inglês, no pavilhão da Sustentabilidade, da Expo 2020
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Para o vice-presidente, o governo precisa garantir que as leis ambientais sejam cumpridas e que, para isso, é necessário fortalecer os órgãos de fiscalização do meio ambiente. “Agência ambientais do Brasil têm sofrido com pessoal insuficiente e cortes orçamentários, o que se traduziu em menos eficácia na luta contra corte de madeira ilegal e incêndios criminosos. Como parte do compromisso do governo federal em reconstruir a capacidade do Estado na Amazônia, o Ibama foi autorizado a contratar 500 novos servidores”. Segundo dados mostrados por Mourão, nos últimos 32 anos, os menores índices de desmatamento na Amazônia foram registrados em 2012. Entre 2018 e 2020, no entanto, as taxas cresceram. No ano passado, a taxa cresceu 7% em relação ao ano anterior, por exemplo. As maiores pressões ocorrem, segundo ele, em Rondônia, Mato Grosso e Pará. Ele destacou, no entanto, que os dados de agosto deste ano mostraram uma queda de 32% em relação ao mesmo período de 2020.
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A estrutura brasileira fica logo na entrada do distrito da Sustentabilidade e atraiu muitos visitantes em busca de refresco ao calor do deserto, já que tem como principal atração uma lâmina d’água por onde é possível caminhar. Centenas de pessoas tiraram seus calçados e entraram no imenso lago, com profundidade suficiente apenas para molhar a parte baixa da canela
Bioeconomia O vice-presidente voltou a destacar a necessidade de investimentos da iniciativa privada em projetos de desenvolvimento sustentável da Amazônia, a fim de que se possa evitar uma exploração predatória da região. “Governos têm a maior responsabilidade em proteger o meio ambiente nos nossos países. Mas o desenvolvimento sustentável, particularmente na Amazônia só vai ser bem-sucedido com uma maior participação do setor privado e outros atores”.Segundo ele, a bioeconomia, que seria o uso sustentável da biodiversidade, pode proporcionar negócios que combinam preservação ambiental, crescimento econômico e inclusão social. “Empresas, investidores, produtores e empreendedores devem liderar um novo ciclo de crescimento verde e inclusivo na Amazônia”, disse Mourão. Além de ter buscado mostrar à comunidade internacional a imagem de um Brasil que está empenhado em proteger a Amazônia, Mourão tem tentado, desde que chegou aos Emirados Árabes, divulgar a investidores internacionais que a região tem grande potencial para um uso econômico sustentável. O Pavilhão do Brasil, organizado pela Agência Brasileira de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil), tem quase 4 mil metros quadrados e está instalado no distrito Sustentabilidade – um entre os três distritos temáticos da Expo (os outros são Oportunidade e Mobilidade).
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Pavilhão neutralizado Em linha com a temática da Expo Dubai – clima e biodiversidade, a Unica irá neutralizar as emissões de CO 2 do pavilhão brasileiro nessa primeira semana. Volume que deverá ser superior a 1,3 mil toneladas de CO 2 . Um descarbonômetro mostrará aos visitantes, em tempo real, a quantidade de emissões compensadas. A neutralização das emissões será com os Créditos de Descarbonização (CBios). Cada crédito representa uma tonelada de CO 2 equivalente que deixou de ser emitida. O CBio pode ser considerado o principal ativo brasileiro para a redução das emissões de gases que intensificam o efeito estufa.
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Cortar o metano deve ser um objetivo chave da COP26 Os produtores de petróleo e gás poderiam reduzir as emissões a baixo custo ou mesmo com lucro estancando os vazamentos
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ortes bruscos no metano de vazamentos de plataformas de perfuração de gás e locais de produção podem desempenhar um papel importante nas reduções de emissões de gases de efeito estufa necessárias para cumprir o acordo climático de Paris , e deve ser um objetivo-chave para as negociações climáticas da COP26 da ONU , sugere uma nova pesquisa. É possível reduzir as emissões globais de metano em 40% até 2030, com a maioria dos cortes possíveis a baixo custo ou mesmo com lucro para empresas como produtores de petróleo e gás. Isso compensaria grande parte do déficit nos planos de redução de emissões dos governos nacionais, de acordo com o grupo de estudos da Comissão de Transições de Energia. Antes da Cop26, altos funcionários da ONU e do Reino Unido admitiram privadamente que o objetivo principal da conferência - que todos os países formulem planos chamados contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) , que somariam um corte global de 45% nas emissões até 2030 - não ser atendido. No entanto, o Reino Unido, como anfitrião da cúpula, a ser realizada em Glasgow em novembro, ainda espera progresso suficiente para mostrar que o mundo ainda pode limitar o aquecimento global a 1,5ºC , a aspiração do acordo climático de Paris de 2015. O metano é um poderoso gás de efeito estufa , cerca de 80 vezes mais potente do que o dióxido de carbono no aquecimento do planeta. É o maior componente do gás natural, usado como combustível, e os vazamentos podem ser causados por operações
Fotos: NFCC, UNEP, Unsplash
O metano é cerca de 80 vezes mais potente do que o dióxido de carbono no aquecimento do planeta
de perfuração convencionais mal construídas, poços de gás de xisto, gasodutos e outras infraestruturas de combustível fóssil. O metano também é queimado em alguns locais de produção de petróleo. Estancar esses vazamentos ou capturar o metano pode ser feito a um custo baixo e pode até ser lucrativo para os produtores de gás, especialmente agora que o preço internacional do gás dispara. Apenas alguns produtores importantes - Rússia , Estados Unidos, China e Canadá - poderiam causar um impacto enorme.
Incêndio florestal na ilha de Evia, Grécia – a região enfrenta sua pior onda de calor em décadas, especialistas associam à crise climática
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Lord Adair Turner, presidente do ETC, disse: “É claro que, se você somar os NDCs, eles não são grandes o suficiente para nos manter a 1,5ºC. Resta uma grande lacuna. Mas existem algumas ações que você pode imaginar grupos de países realizando que poderiam fechar essa lacuna”. Os EUA e a UE anunciaram recentemente uma parceria com o objetivo de reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, mas Turner disse que mais poderia ser alcançado e isso ajudaria a compensar os PADs relativamente pouco ambiciosos que muitos países têm. “Não nos concentramos o suficiente no metano, mas pode ser uma alavanca realmente importante, e cortá-lo tem um impacto [no aquecimento global] mais cedo ou mais tarde, o que importa se houver ciclos de feedback no sistema climático”, acrescentou. Turner também apontou outras ações importantes que poderiam ser tomadas na Cop26 que, segundo ele, ajudariam substancialmente os esforços globais para enfrentar a crise climática.
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Mantendo 1,5°C vivo: ações para a década de 2020 As atuais promessas nacionais de descarbonização (Nationally Determined Contributions, ou NDCs), feitas como parte do Acordo de Paris, estão longe de manter o aumento médio da temperatura do planeta em 1,5°C. Uma redução adicional de 17-20 Gt de CO2 e uma redução de 40% nas emissões de metano seriam necessárias para atingir esse objetivo. O relatório do ETC descreve ações tecnologicamente viáveis que poderiam fechar essa lacuna para um caminho de 1,5°C. O relatório concentra-se em ações que são claramente viáveis do ponto de vista técnico e implicam um custo mínimo. Todas as ações identificadas poderiam ser levadas a cabo inicialmente por meio de compromissos de países e empresas líderes, sem a necessidade de um acordo internacional abrangente. Mas duas ações de alta prioridade - acabar com o desmatamento e reduzir as emissões das usinas de carvão existentes - precisarão ser apoiadas por fluxos de financiamento climático de países ricos desenvolvidos. As medidas identificadas pela ETC incluem: Reduções significativas e rápidas nas emissões de metano. Ações de baixo custo poderiam reduzir as emissões relacionadas aos combustíveis fósseis em 60% até 2030, enquanto as emissões provenientes da agricultura e da gestão de resíduos poderiam ser reduzidas em 30%. Parando o desmatamento e começando o reflorestamento. Interromper o desmatamento, iniciar o reflorestamento e melhorar outras práticas de uso da terra poderia reduzir as emissões em 6,5 Gt por ano até 2030. Alcançar isso exigirá apoio financeiro de países desenvolvidos ricos e deve ser um uso prioritário de financiamento climático comprometido. Descarbonização do setor de energia e aceleração da eliminação do carvão. Uma proibição imediata da construção de novas usinas movidas a carvão, combinada com a eliminação das usinas a carvão existentes, poderia resultar em 3,5 Gt de reduções de emissões adicionais até 2030. Os países ricos desenvolvidos devem se comprometer com a eliminação total até 2030 e os fluxos de financiamento do clima das economias desenvolvidas deve apoiar uma eliminação gradual nos países em desenvolvimento. Acelerar a eletrificação do transporte rodoviário. A proibição da venda de veículos leves com motor de combustão interna, instituída em 2035, consolidaria a mudança já iniciada para veículos elétricos. Os compromissos dos principais operadores de frotas de eletrificar totalmente suas frotas de veículos em datas ainda anteriores seriam um poderoso impulsionador da mudança. Um adicional de 2,3 Gt por ano de reduções de emissões poderia resultar de tais ações até 2030. Acelerar a descarbonização do fornecimento em edifícios, indústria pesada e transporte pesado. A redução suficiente das emissões desses setores se estenderá além de 2030. No entanto, os avanços em eletrificação, hidrogênio com baixo teor de carbono e captura e armazenamento de carbono já estão impulsionando esse esforço. Acordos setoriais, como o comércio apenas de bens de baixo carbono, podem ser estabelecidos na COP26 e, assim, acelerar essa transição.
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Por exemplo, ajudar os países em desenvolvimento a eliminar gradualmente suas usinas elétricas a carvão existentes foi uma forma importante de reduzir a dependência do carvão. Na Índia, por exemplo, as novas usinas a carvão são agora mais caras do que as alternativas renováveis, mas o custo marginal da geração de eletricidade a partir de usinas a carvão existentes ainda é mais barato do que a eólica ou solar. Isso significa que as empresas têm um incentivo para manter em funcionamento as antigas usinas movidas a carvão, mas se pudessem ser pagos para eliminar as mais antigas, isso aceleraria o afastamento do país do carvão. “Os países em desenvolvimento precisam de apoio financeiro para fazer isso”, disse Turner. O aço deve ser outro foco, de acordo com Turner. As empresas siderúrgicas poderiam passar para a produção de aço “verde” , usando hidrogênio, com muito mais facilidade do que há alguns anos, disse ele.
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Cortar o metano deve ser um objetivo chave da COP26.indd 13
Um acordo global entre produtores de aço na Cop26 poderia conseguir isso, e acordos globais semelhantes foram possíveis entre produtores de cimento, a indústria naval e outros setores de alto carbono. Muitos países, acrescentou Turner, estavam enviando
NDCs que eram muito cautelosos ou não refletiam a rapidez com que as empresas já estavam cortando as emissões e mudando para energia verde e tecnologia limpa. “Os NDCs não perceberam o que é possível e o que realmente está acontecendo”, disse ele.
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Mudança climática generalizada, rápida e intensificada – IPCC Fotos: Panmao Zhai, copresidente do Grupo de Trabalho I do IPCC
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ientistas estão observando mudanças no clima da Terra em todas as regiões e em todo o sistema climático, de acordo com o último Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado recentemente.
Muitas das mudanças observadas no clima não têm precedentes em milhares, senão centenas de milhares de anos, e algumas das mudanças já postas em movimento - como o aumento contínuo do nível do mar - são irreversíveis ao longo de centenas a milhares de anos. No entanto, reduções fortes e sustentadas nas emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa limitariam as mudanças climáticas. Embora os benefícios para a qualidade do ar venham a surgir rapidamente, pode levar de 20 a 30 anos para que as temperaturas globais se estabilizem, de acordo com o relatório do Grupo de Trabalho I do IPCC, Mudanças Climáticas 2021: a Base das Ciências Físicas , aprovado por 195 governos membros do IPCC , por meio de uma sessão de aprovação virtual que durou duas semanas, a partir de 26 de julho. O relatório do Grupo de Trabalho I é a primeira parte do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC (AR6), que será concluído em 2022. “Este relatório reflete esforços extraordinários em circunstâncias excepcionais”, disse Hoesung Lee, presidente do IPCC. “As inovações neste relatório e os avanços na ciência do clima que ele reflete fornecem uma contribuição inestimável para as negociações e tomadas de decisão sobre o clima”.
Aquecimento mais rápido O relatório fornece novas estimativas das chances de ultrapassar o nível de aquecimento global de 1,5 °C nas próximas décadas e constata que, a menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, o aquecimento deve ser limitado a cerca de 1,5 °C ou mesmo 2 °C estará fora de alcance. O relatório mostra que as emissões de gases de efeito estufa das atividades humanas são responsáveis por aproximadamente 1,1 °C de aquecimento desde 1850-1900, e conclui que, em média, nos próximos 20 anos, a temperatura global deverá atingir ou ultrapassar 1,5 °C de aquecimento. Esta avaliação é baseada em conjuntos de dados observacionais aprimorados para avaliar o aquecimento histórico, bem como o progresso na compreensão científica da resposta do sistema climático às emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem. “Este relatório é uma verificação da realidade”, disse Valérie Masson-Delmotte do Grupo de Trabalho I do IPCC. “Agora temos uma imagem muito mais clara do clima do passado, presente e futuro, o que é essencial para entender para onde estamos indo, o que pode ser feito e como podemos nos preparar”.
Estimativas das chances de ultrapassar o nível de aquecimento global de 1,5 ° C nas próximas décadas
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Eventos climáticos extremos aumentarão rapidamente e é apenas o começo
Mas não se trata apenas de temperatura. A mudança climática está trazendo várias mudanças diferentes em diferentes regiões - que irão aumentar com o aquecimento adicional. Isso inclui mudanças na umidade e seca, nos ventos, neve e gelo, áreas costeiras e oceanos. Por exemplo:
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As mudanças climáticas estão intensificando o ciclo da água. Isso traz chuvas mais intensas e inundações associadas, bem como secas mais intensas em muitas regiões.
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A mudança climática está afetando os padrões de precipitação. Em altas latitudes, é provável que a precipitação aumente, enquanto se prevê que diminua em grandes partes das regiões subtropicais. Esperam-se mudanças na precipitação das monções, que variam de acordo com a região.
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As áreas costeiras verão o aumento contínuo do nível do mar ao longo do século 21, contribuindo para inundações costeiras mais frequentes e severas em áreas baixas e erosão costeira. Eventos extremos ao nível do mar, que anteriormente ocorriam uma vez a cada 100 anos, poderiam acontecer todos os anos até o final deste século.
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O aquecimento adicional amplificará o degelo do permafrost e a perda da cobertura de neve sazonal, derretimento das geleiras e mantos de gelo e perda do gelo do mar Ártico no verão.
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Mudanças no oceano, incluindo aquecimento, ondas de calor marinhas mais frequentes, acidificação dos oceanos e níveis reduzidos de oxigênio têm sido claramente relacionadas à influência humana. Essas mudanças afetam os ecossistemas oceânicos e as pessoas que dependem deles e continuarão pelo menos até o final deste século.
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Para as cidades, alguns aspectos da mudança climática podem ser amplificados, incluindo o calor (já que as áreas urbanas são geralmente mais quentes do que seus arredores), enchentes devido a eventos de forte precipitação e aumento do nível do mar nas cidades costeiras.
O ciclone Tauktae atingiu a costa de Gujarat em Goa, recentemente revistaamazonia.com.br
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Cada região enfrenta mudanças crescentes Muitas características das mudanças climáticas dependem diretamente do nível de aquecimento global, mas o que as pessoas vivenciam costuma ser muito diferente da média global. costeiras e oceanos. Por exemplo, o aquecimento da terra é maior do que a média global e é mais de duas vezes maior no Ártico. “A mudança climática já está afetando todas as regiões da Terra, de várias maneiras. As mudanças que experimentamos aumentarão com o aquecimento adicional ”, disse Panmao Zhai, copresidente do Grupo de Trabalho I do IPCC. O relatório projeta que nas próximas décadas as mudanças climáticas aumentarão em todas as regiões. Para 1,5 °C de aquecimento global, haverá ondas de calor crescentes, estações quentes mais longas e estações frias mais curtas. A 2 °C de aquecimento global, os extremos de calor atingiriam mais frequentemente os limites de tolerância críticos para a agricultura e saúde, mostra o relatório. Pela primeira vez, o Sexto Relatório de Avaliação fornece uma avaliação regional mais detalhada da mudança climática, incluindo um foco em informações úteis que podem informar a avaliação de risco, adaptação e outras tomadas de decisão, e uma nova estrutura que ajuda a traduzir as mudanças físicas no clima - calor, frio, chuva, seca, neve, vento, inundações costeiras e muito mais - no que eles significam para a sociedade e os ecossistemas.
A região do Ártico está esquentando mais rápido do que outras partes do globo
Essas informações regionais podem ser exploradas em detalhes no recém-desenvolvido Interactive Atlas interativo-atlas.ipcc. ch , bem como nas fichas técnicas regionais, no resumo técnico e no relatório subjacente.
Influência humana no clima passado e futuro “Há décadas está claro que o clima da Terra está mudando e o papel da influência humana no sistema climático é indiscutível”, disse Masson-Delmotte. No entanto, o novo relatório também reflete os principais avanços na ciência da atribuição - compreender o papel da mudança climática na intensificação de eventos climáticos e meteorológicos
específicos, como ondas de calor extremas e chuvas intensas. O relatório também mostra que as ações humanas ainda têm o potencial de determinar o futuro curso do clima. A evidência é clara de que o dióxido de carbono (CO2) é o principal impulsionador das mudanças climáticas, mesmo que outros gases de efeito estufa e poluentes atmosféricos também afetem o clima. “A estabilização do clima exigirá reduções fortes, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa e alcançar emissões líquidas zero de CO2. Limitar outros gases de efeito estufa e poluentes do ar, especialmente o metano, pode trazer benefícios tanto para a saúde quanto para o clima ”, disse Zhai.
Atlas interativo - uma ferramenta visual para apoiar as avaliações nos capítulos AR6-WG1
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A mudança climática está tornando a Terra mais escura por *Meghan Bartels
Fotos: Earth-Copernicus-Sentinel-2, Geophysical Research Letters, NASA Earth Observatory
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Terra está refletindo menos luz à medida que seu clima continua a mudar, sugerem novas pesquisas. Um belo fenômeno conecta clima e brilho: as nuvens. As nuvens são uma peça notoriamente complicada do quebra-cabeça do clima - os cientistas lutam para modelar como as nuvens responderão às mudanças climáticas e como essas respostas, por sua vez, moldarão o clima futuro. Mas os cientistas por trás do novo estudo acham que a refletividade encontrada depende da dinâmica das nuvens sobre o Oceano Pacífico. A pesquisa se baseia em observações de duas décadas de um fenômeno chamado “ brilho da terra “ , que é a luz que a Terra reflete na superfície do lado escuro da lua, combinada com observações de satélite da refletividade da Terra, ou albedo, e do sol brilho.
Uma imagem tirada da Estação Espacial Internacional em 2011 mostra o brilho da Terra na lua
A luz solar líquida que atinge o sistema climático da Terra depende da irradiância solar e da refletância da Terra (albedo). Observamos a luz da terra do Observatório Solar de Big Bear para medir o albedo terrestre. Para o brilho da terra, medimos a luz do sol refletida da Terra para a parte escura da face lunar e de volta para o observador noturno, produzindo uma refletância instantânea em grande escala da Terra. Nessas medidas relativas, também observamos a parte brilhante da face lunar iluminada pelo sol. Relatamos aqui dados de refletância (mensal, sazonal e anual) cobrindo duas décadas, 1998–2017. O albedo mostra um declínio correspondente a uma forçante climática líquida de cerca de 0,5 W/m² . Não encontramos correlação entre as medidas das variações do ciclo solar e as variações do albedo. As primeiras medidas de satélite precisas do albedo terrestre vieram com o CERES. Os dados de albedo global da CERES (2001-) mostram uma diminuição no forçamento que é cerca de duas vezes maior do que as medições de luz da terra. As mudanças evolutivas no albedo motivam observações contínuas do brilho da terra como um complemento às medições absolutas do satélite, especialmente porque as medições do brilho da terra e CERES são sensíveis a partes distintas da refletividade angular. A recente queda no albedo é atribuída ao aquecimento do Pacífico oriental, que é medido para reduzir a cobertura de nuvens baixas e, portanto, o albedo. revistaamazonia.com.br
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Diferentes características na Terra refletem diferentes quantidades de luz: os oceanos muito pouco, pousam cerca de duas vezes mais. Enquanto isso, as nuvens refletem cerca de metade da luz do sol que as atinge, e a neve e o gelo refletem a maior parte da luz que recebem. Cientistas do Big Bear Solar Observatory, no sul da Califórnia, têm estudado como a luz da terra flutua desde 1998, procurando mudanças em escalas de tempo de diárias a decadais. (Os pesquisadores observam que essas medições são apenas relativas e exigem observações mais robustas, talvez até mesmo de Cubosats ou de um observatório lunar.) Na nova pesquisa, os cientistas combinaram esses dados com observações do projeto Nuvens e Sistema de Energia Radiante da Terra (CERES) da NASA, que opera desde 1997 com instrumentos em uma série de satélites da NASA e da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA). Os pesquisadores juntaram os dois conjuntos de dados para ter uma ideia de se e como o brilho da Terra está mudando. Ao longo do período completo de duas décadas, a quantidade de luz refletida da Terra caiu cerca de 0,5% - ou cerca de meio watt menos luz por metro quadrado. (Um metro quadrado é um pouco menos de 11 pés quadrados).
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A crise climática está diminuindo a luz da Terra. Às vezes, a face escura da Lua capta o brilho refletido da Terra e retorna essa luz
A maior parte da mudança ocorre nos últimos três anos do conjunto de dados da terra, que os pesquisadores analisaram até 2017; os dados do CERES continuam até 2019 e mostram um declínio ainda mais acentuado em seu final. E durante esse tempo, os pesquisadores determinaram, o brilho do sol - que passou por dois períodos de atividade máxima e um período de silêncio durante o curso do estudo - não se
conectou significativamente ao mergulho na refletância. Portanto, uma mudança na quantidade de luz que a Terra está refletindo deve vir de uma mudança na própria Terra, raciocinaram os cientistas. Em particular, os dados do CERES observaram uma perda de nuvens brilhantes de baixa altitude no leste do Oceano Pacífico, na costa oeste das Américas, onde os cientistas também estão registrando
aumentos acentuados de temperatura na superfície do oceano. E como a luz não refletida para o espaço fica presa no sistema terrestre, a mudança no brilho também tem implicações para o futuro do clima, aumentando potencialmente o ritmo das mudanças climáticas causadas pelo homem. [*] Em Live Science
A Terra está escurecendo - é devido à mudança climática
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Satélite mostram que nuvens vão amplificar o aquecimento global Os resultados do estudo também sugerem que, com o dobro das concentrações de CO2, é improvável que o clima aqueça abaixo de 2°C, e é mais provável que aqueça mais de 3°C em média por *Imperial College London
Fotos: Imperial College London, Pixabay / CC0 Public Domain, Wikimedia Commons
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ma nova abordagem para analisar medições de satélite da cobertura de nuvens da Terra revela que as nuvens têm grande probabilidade de aumentar o aquecimento global. A pesquisa, feita por cientistas do Imperial College London e da University of East Anglia, é a evidência mais forte de que as nuvens vão amplificar o aquecimento global a longo prazo, agravando ainda mais as mudanças climáticas. Os resultados, publicados em Proceedings of the National Academy of Sciences , também sugerem que em concentrações de dióxido de carbono (CO2 ) atmosférico duplo acima dos níveis pré-industriais, é improvável que o clima aqueça abaixo de 2°C, e é mais provável em média para aquecer mais de 3° C.
Cobertura de nuvens da Terra. Elas amplificariam o aquecimento global
As nuvens têm grande probabilidade de aumentar o aquecimento global
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Dados globais de satélite mostram que nuvens vão amplificar o aquecimento global.indd 19
Os níveis de CO2 pré-industrial estavam em torno de 280 ppm (partes por milhão), mas os níveis atuais estão se aproximando de 420 ppm e podem se aproximar do dobro da quantidade pré-industrial em meados do século se cortes significativos de emissões não forem feitos. A quantidade de aquecimento do clima prevista pela duplicação dos níveis pré-industriais de CO2 é conhecida como ‘sensibilidade climática’ - uma medida de quão fortemente nosso clima reagirá a tal mudança. A maior incerteza nas previsões de sensibilidade ao clima é a influência das nuvens e como elas podem mudar no futuro. Isso ocorre porque as nuvens, dependendo de propriedades como densidade e altura na atmosfera, podem aumentar ou diminuir o aquecimento.
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O co-autor, Dr. Paulo Ceppi, do Grantham Institute — Climate Change and the Environment at Imperial, disse: “O valor da sensibilidade ao clima é altamente incerto, e isso se traduz em incerteza nas projeções de aquecimento global futuras e no carbono restante orçamento ‘- quanto podemos emitir antes de atingirmos as metas comuns de 1,5 ° C ou 2 ° C de aquecimento global. “Há, portanto, uma necessidade crítica de quantificar com mais precisão como as nuvens afetarão o aquecimento global futuro. Nossos resultados significarão que estamos mais confiantes nas projeções climáticas e podemos ter uma imagem mais clara da gravidade das mudanças climáticas futuras. Isso deve nos ajudar a saber nossos limites e agir para permanecer dentro deles”. Nuvens baixas tendem a ter um efeito de resfriamento , pois impedem o sol de atingir o solo. Nuvens altas, no entanto, têm um efeito de aquecimento, pois embora deixem a energia solar atingir o solo, a energia emitida de volta da Terra é diferente. Essa energia pode ficar presa pelas nuvens, aumentando o efeito estufa. Portanto, o tipo e a quantidade de nuvem em um mundo em aquecimento produzirão impactos ainda mais no potencial de aquecimento. Inspirados por ideias da comunidade de inteligência artificial, os pesquisadores desenvolveram um novo método para quantificar as relações entre o estado da arte em observações globais de nuvens por satélite e as condições associadas de temperatura, umidade e vento.
Cobertura de nuvens da Terra está potencialmente exacerbando a intensidade do aquecimento global em todo o mundo
A partir dessas relações observadas, eles foram capazes de restringir melhor como as nuvens mudarão com o aquecimento da Terra. Eles descobriram que é muito provável (mais de 97,5% de probabilidade) que as nuvens ampliem o aquecimento global, refletindo menos radiação solar e aumentando o efeito estufa. Esses resultados também sugerem que uma duplicação das concentrações de CO2 levará a cerca de 3,2 ° C de aquecimento. Esta é a maior confiança de qualquer estudo até agora e é baseada em dados de observações globais, em vez de regiões locais ou tipos de nuvem específicos. O coautor Dr. Peer Nowack, da Escola de Ciências Ambientais e Unidade de Pesquisa Climática da Universidade de East Anglia e do Instituto Grantham e Instituto de
Ciência de Dados Imperial, disse: “Nos últimos anos, tem havido uma quantidade crescente de evidências de que as nuvens provavelmente têm um efeito amplificador sobre o aquecimento global . No entanto, nossa nova abordagem nos permitiu, pela primeira vez, derivar um valor global para esse efeito de feedback usando apenas os dados de satélite da mais alta qualidade como nossa linha de evidência preferida. “Nosso artigo dá um grande passo para reduzir o fator de incerteza mais importante nas projeções de sensibilidade ao clima. Como tal, nosso trabalho também destaca um novo caminho no qual os métodos de aprendizado de máquina podem nos ajudar a restringir os principais fatores de incerteza remanescentes na ciência do clima”.
Dados de satélite mostram como as nuvens realmente pioram o aquecimento global. Na foto nuvens noctilucentes em Laboe , Alemanha
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Prêmio Nobel de Física de 2021
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Real Academia Sueca de Ciências anunciou recentemente os ganhadores do Prêmio Nobel de física 2021, os cientistas Syukuro Manabe, Klaus Hasselmann e Giorgio Parisi. O prêmio vale 10 milhões de coroas suecas (US $ 1,1 milhão). Manabe e Hasselmann dividirão metade do prêmio e Parisi fica com a outra metade. Por causa da pandemia COVID-19, não haverá uma cerimônia de premiação em Estocolmo em 2021 e os laureados receberão suas medalhas Nobel em seus países de origem. Parisi arrematou sua metade do prêmio “pela descoberta da interação da desordem e das flutuações nos sistemas físicos das escalas atômicas às planetárias”. Manabe e Hasselmann dividem sua metade do prêmio igualmente “pela modelagem física do clima da Terra, quantificando a variabilidade e prevendo o aquecimento global de forma confiável”.
Representantes da Real Academia Sueca de Ciências anúnciando que os três cientistas ganhavam o Nobel por trabalho sobre mudanças climáticas
Durante o início dos anos 1970, Parisi começou a trabalhar na teoria das transições de fase nos sólidos. Ele foi particularmente atraído pela aplicação de técnicas da teoria de campo da física de alta energia à física da matéria condensada.
de vidros de spin e outros sistemas complexos. Seu trabalho teve um impacto de longo alcance em uma grande variedade de outros campos, incluindo física de partículas, teoria quântica de campos, teoria de redes neurais e outros métodos matemáticos. A profundidade e amplitude dessas conquistas são notáveis, e é fantástico ver todo esse trabalho reconhecido pelo Comitê do Nobel”.
COVID-19 e inscrições de conferências
Vencedores do Nobel (da esquerda para a direita) Syukuro Manabe, Klaus Hasselmann e Giorgio Parisi
Discussão comum Embora a pesquisa de Parisi seja muito diferente daquela de Manabe e Hasselmann, o traço comum no prêmio deste ano é o estudo da desordem e das flutuações em sistemas complexos. Ao anunciar o prêmio, o secretário-geral da Real Academia de Ciências da Suécia, Göran Hansson, explicou: “desordem, flutuações e como desordem e flutuações juntas, se você entender bem, podem dar origem a algo que você pode prever”.
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Na verdade, é nesta área que Parisi diz que deu sua contribuição científica mais importante - ajudando a formar a teoria física por trás dos óculos de spin. São ímãs com interações “frustradas” causadas por desordem, o que lhes confere um rico conjunto de comportamentos. Steven Thomson, que estuda vidros de spin no Centro Dahlem para Sistemas Quânticos Complexos da Universidade Livre de Berlim, diz: “Parisi ajudou a inventar alguns dos mais poderosos e importantes maquinários teóricos que temos para entender o comportamento
Falando a jornalistas minutos após o anúncio do prêmio, Parisi disse que atualmente está estudando a dinâmica de como o COVID-19 se espalha. Na verdade, ele examinou uma ampla gama de sistemas complexos e, em 2007, foi coautor de uma carta na Nature Physics que identificou um comportamento universal na dinâmica de como as pessoas se registram em conferências e mostrou como o número final de participantes poderia ser previsto de registros anteriores. Quando questionado sobre como se sentia em relação à vitória, Parisi disse: “Fiquei muito feliz. Eu não esperava o telefonema, mas sabia que havia uma possibilidade não desprezível [de ganhar]”. Comentando sobre o trabalho de Hasselmann e Manabe, ele disse: “É urgente que tomemos uma decisão forte sobre o clima. Estamos em uma situação em que temos feedback positivo e aumento acelerado de temperatura. Temos que agir com rapidez e sem demora”.
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Pioneiro na pesquisa climática Manabe é um pioneiro no desenvolvimento de modelos físicos do clima da Terra. Na década de 1960, ele foi o primeiro a estudar como o equilíbrio da energia absorvida e emitida pela Terra interage com o transporte vertical de massas de ar. Esta pesquisa continua a desempenhar um papel crucial no desenvolvimento de modelos climáticos. Em um artigo inovador publicado em 1967, Manabe e seu colega Richard Wetherald mostraram que uma duplicação do conteúdo de dióxido de carbono da atmosfera resultaria em um aumento de 2°C na temperatura da baixa atmosfera. De acordo com o membro do comitê do Prêmio Nobel de Física John Wettlaufer, Manabe ficou “pasmo” quando soube que havia ganhado. “Sou apenas um cientista do clima!” protestou Manabe. Cerca de 10 anos depois, Hasselmann criou um modelo que conecta clima e tempo, mostrando que o clima pode ser modelado de forma confiável, apesar do fato de que o tempo é mutável e caótico. Ele mostrou, por exemplo, que a variação do tempo em uma escala de tempo de dias pode influenciar o oceano em uma escala de tempo de anos. Hasselmann também desenvolveu técnicas para identificar sinais, ou impressões digitais, que fenômenos naturais e atividades humanas criam em dados climáticos. Essas técnicas têm sido usadas para provar que o aumento da temperatura da atmosfera é o resultado da emissão humana de dióxido de carbono.
Compreensão essencial James Hansen, diretor de ciência, consciência e soluções climáticas do Earth Institute da Columbia University, diz que a Fundação Nobel fez uma boa escolha ao conceder o prêmio a Manabe e Hasselman.
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A projeção bem-sucedida da distribuição da mudança da temperatura da superfície aumenta nossa confiança nos modelos climáticos. Aqui, avaliamos as projeções do aquecimento global de quase 30 anos atrás, usando as observações feitas durante o último meio século. Syukuro Manabe realizou estudos pioneiros sobre mudanças climáticas usando modelos climáticos 3D
“Seu prêmio é muito bem merecido - seus modelos climáticos fornecem a base essencial para nossa compreensão do aquecimento global”, diz ele.Hansen, que foi pioneiro no trabalho na década de 1980 sobre sensibilidade e feedback do clima e ex-diretor do
A projeção bem-sucedida da distribuição da mudança da temperatura da superfície aumenta nossa confiança nos modelos climáticos. Aqui, avaliamos as projeções do aquecimento global de quase 30 anos atrás, usando as observações feitas durante o último meio século. Syukuro Manabe realizou estudos pioneiros sobre mudanças climáticas usando modelos climáticos 3D REVISTA AMAZÔNIA
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Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA, acrescenta que Wallace Broecker, que morreu em 2019, também teria sido um possível recebedor, dado seu trabalho fundamental no estudos paleoclima e oceanográficos. “É uma pena que ele não viveu para fazer parte do prêmio”, acrescenta Hansen. Tim Palmer, Professor de Física do Clima da Royal Society Research da Universidade de Oxford, diz que o prêmio deste ano é “bem merecido”. “[Manabe] realizou estudos pioneiros sobre mudanças climáticas usando modelos climáticos 3D”, diz Palmer. “Eles previram o resfriamento da estratosfera, o ponto quente do Ártico e também o aquecimento global”. Palmer acrescenta que também existem fortes ligações entre a obra de Hasselman e Parisi. “Como você representa eventos de pequena escala, como nuvens e redemoinhos turbulentos em um modelo climático que não pode resolver esses processos?” pergunta Palmer. “Parisi realizou um trabalho fundamental nesta área e Hasselmann foi pioneiro no uso de modelos estocásticos para estudar o clima”.
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Uma ideia para evitar que o planeta esquente é semear uma camada superior da atmosfera com aerossóis que refletem uma parte da energia do sol de volta para o espaço
Podemos impedir o aquecimento da Terra? Uma missão de balão de alta altitude investigaria uma forma controversa de reduzir as temperaturas globais por *David Hone
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Fotos: Bullit Marquez, Met Office, SCoPEx, Universidade de Harvard
m 2021, a Terra atingiu um marco desolador: a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera atingiu 150% de seu valor em tempos pré-industriais, de acordo com o UK Met Office. Para evitar os piores efeitos da mudança climática, o mundo precisa reduzir as emissões líquidas de dióxido de carbono a zero até 2050. Mas, mesmo que alcancemos essa meta, isso não poria um freio repentino no aumento da temperatura, porque leva tempo para ver os efeitos das reduções de CO2 nas temperaturas globais; os impactos negativos do aquecimento global continuarão por décadas. Mas há mais alguma coisa que possamos fazer para reduzir as temperaturas mais rapidamente?
Um grupo de pesquisa da Universidade de Harvard acredita que pode ser possível alcançar uma redução temporária nas temperaturas globais ajustando a composição da parte superior da atmosfera da Terra . Os pesquisadores esperavam testar parte dessa tecnologia - e a viabilidade de sua teoria - neste verão, no que eles chamam de Experimento de Perturbação Controlada Estratosférica (SCoPEx). Embora o trabalho tenha sido suspenso, a equipe ainda espera que o experimento prossiga em um futuro não muito distante. A última fonte de calor da Terra é o sol, que banha o lado diurno do planeta em um fluxo constante de radiação infravermelha.
Cerca de 30% disso é refletido de volta para o espaço pela atmosfera, enquanto o resto aquece o planeta durante o dia e é irradiado de volta para o espaço à noite. No delicado equilíbrio que prevalecia nos tempos pré-industriais, o calor que entrava era exatamente compensado pela quantidade perdida no espaço, garantindo que as temperaturas globais médias permanecessem constantes. O problema hoje é que as emissões de CO2 interrompem esse equilíbrio ao absorver parte do calor que deveria ser irradiado de volta ao espaço, prendendo-o na atmosfera. Quanto mais dióxido de carbono houver na atmosfera, mais a temperatura sobe. A longo prazo, os humanos devem reduzir a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera para evitar os piores efeitos das mudanças climáticas. Mas outros processos podem produzir reduções de curto prazo na temperatura global. As erupções vulcânicas, por exemplo, lançam nuvens de partículas de poeira no alto da estratosfera, uma camada superior da atmosfera, formando um escudo protetor que impede que parte do calor do sol alcance a superfície da Terra. A erupção do Monte Pinatubo em 1991 nas Filipinas, por exemplo, fez com que a temperatura média no Hemisfério Norte caísse cerca de 1 grau Fahrenheit (mais de meio grau Celsius) nos 15 meses seguintes.
Concentrações atmosféricas globais de CO2 de 1700 a 2021 revistaamazonia.com.br
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A equipe do SCoPEx quer aproveitar essas erupções injetando partículas na atmosfera superior para baixar as temperaturas. A ideia básica - chamada injeção de aerossol estratosférico, ou SAI - é simples. Uma aeronave voando alto ou balão de hélio dispensaria lotes de partículas microscópicas chamadas aerossóis na estratosfera em altitudes de 12,4 milhas (20 quilômetros) ou mais - muito mais altas do que os aviões normalmente voam. Os aerossóis permaneceriam suspensos no ar, pequenos demais para serem visíveis como nuvens do solo, mas opacos o suficiente para refletir uma fração da energia do sol de volta ao espaço. Em simulações, o SAI parece ser um conceito viável. O relatório A2018 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) concluiu que uma frota de aeronaves voando alto poderia depositar aerossóis suficientes para compensar os níveis atuais de aquecimento global. Mas os aerossóis teriam de ser reabastecidos a cada poucos anos, e o método aborda apenas um dos sintomas da mudança climática, em vez de abordar sua causa raiz, o efeito estufa . Na melhor das hipóteses, é uma medida paliativa, combatendo o aumento das temperaturas enquanto os países reduzem simultaneamente os níveis de dióxido de carbono. Até agora, a pesquisa sobre SAI tem sido teórica, complementada por uma quantidade limitada de dados do mundo real de erupções vulcânicas. O SCoPEx deseja fazer medições do mundo real sob condições cuidadosamente controladas, permitindo uma melhor calibração dos modelos de computador.
Durante lançamento de balão no Centro Espacial Esrange perto de Kiruna, onde o primeiro vôo SCoPEx teria ocorrido
“Se estamos a fornecer aos decisores políticos com a informação útil sobre se isso poderia funcionar, precisamos rés-do-verdade nossos modelos”, o investigador principal do projeto, Frank Keutsch, no Departamento de Química e Biologia Química da Universidade de Harvard, disse. Os vulcões expelem principalmente compostos à base de enxofre. Mas esses compostos não apenas resfriam a atmosfera, mas também danificam a camada protetora de ozônio da Terra , que nos protege da radiação ultravioleta prejudicial. Portanto, a equipe do SCoPEx está se concentrando em um aerossol menos prejudicial, o carbonato de cálcio - poeira de giz, em outras palavras - que os pesquisadores esperam que produza o efeito de resfriamento desejado sem prejudicar a camada de ozônio.
Experimento proposto A equipe quer implantar um grande balão de hélio desenroscado que seria semelhante a um balão meteorológico padrão, exceto que seria equipado com hélices para permitir que a equipe no solo manobrasse de forma controlada. Com a ajuda da Swedish Space Corporation, os cientistas planejavam lançar o balão perto de Kiruna, na Suécia. Em seu primeiro vôo, que está provisoriamente planejado para o próximo ano, o balão não lançaria nada na estratosfera. Em vez disso, ele subiria a uma altitude de 12,4 milhas, onde a equipe testaria o sistema de manobras e verificaria se todos os instrumentos científicos e comunicações funcionam corretamente.
O objetivo é simplesmente melhorar nossos modelos de formação de aerossóis na estratosfera
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O vulcão Mayon entra em erupção ao anoitecer de quinta-feira, 25 de janeiro de 2018 na província de Albay, cerca de 200 milhas (340 quilômetros) a sudeste de Manila, nas Filipinas.
Sementeira de nuvens é uma técnica real e é usada para induzir chuva ou neve nas nuvens. Isso geralmente é obtido jogando partículas específicas em nuvens que contêm água super-resfriada, para tentar fazer com que as nuvens se dissipem, modificar sua estrutura ou alterar a intensidade de fenômenos como a velocidade do vento ou granizo. A semeadura da nuvem pode ser feita por geradores de solo, avião ou foguete
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Se o teste fosse bem-sucedido, um segundo vôo realizaria uma liberação controlada de 2,2 a 4,4 libras (1 a 2 quilogramas) de carbonato de cálcio na mesma altitude. O balão estaria se movendo continuamente em linha reta durante a liberação, de modo que as partículas de aerossol formariam uma coluna estreita com cerca de 1 km de comprimento. O balão então voltaria pela pluma, observando como as partículas se dispersam com o tempo e até que ponto refletem a luz do sol, de acordo com o site SCoPEx. Por mais valioso que seja o voo de teste do SCoPEx para nossa compreensão da SAI, é importante ver o projeto em perspectiva. “O objetivo não é mudar o clima ou mesmo ver se você pode refletir alguma luz solar”, disse anteriormente ao HowStuffWorks um dos cientistas do projeto, David Keith, professor de Física Aplicada em Harvard . “O objetivo é simplesmente melhorar nossos modelos de formação de aerossóis na estratosfera”. Pelo menos mais uma década de pesquisa será necessária antes de uma liberação de aerossol em grande escala, disse Keith. A liberação “pode envolver a injeção de cerca de 1,5 milhão de toneladas [1,4 milhão de toneladas] na estratosfera por ano”, disse ele. “Aproximadamente cem aeronaves precisariam voar continuamente com cargas úteis até cerca de 12 milhas [20 km] de altitude”.
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O possível método de resfriamento do planeta envolveria a liberação de aerossóis na estratosfera para refletir a luz solar. Um grupo de pesquisadores de Harvard quer pesquisar esse conceito estudando uma quantidade muito pequena de carbonato de cálcio usando um balão de alta altitude
A controvérsia SAI permanece altamente controverso, no entanto. Uma preocupação é que os humanos criaram a crise climática em primeiro lugar ao bombear gases de efeito estufa na atmosfera, então como as pessoas podem ter certeza de que injetar aerossóis nele tornará as coisas melhores? Embora a modelagem por computador sugira que o SAI é seguro, ainda existe a possibilidade de que possa ter efeitos colaterais imprevistos. Existe a possibilidade de perturbar os padrões climáticos, prejudicar as safras ao reduzir a quantidade de luz solar que recebem e - se aerossóis de sulfeto forem usados - danificar a camada de ozônio. Na verdade, alguns cientistas têm medo de seguir a rota do SAI. “Que possamos realmente tentar controlar todo o clima é uma ideia bastante assustadora”, disse Douglas MacMartin, pesquisador
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associado sênior e professor sênior de engenharia mecânica e aeroespacial na Cornell University e professor pesquisador em ciências computacionais e matemáticas no California Institute of Tecnologia. E o IPCC, em uma discussão de 2018 sobre o que o painel se referiu como modificação da radiação solar (SRM), concluiu que “as incertezas combinadas, incluindo maturidade tecnológica, compreensão física, impactos potenciais e desafios de governança, restringem a capacidade de implementar SRM no futuro próximo”. Por causa dessas preocupações, a equipe do SCoPEx adiou a viagem inaugural de seu balão de hélio “até que um processo de engajamento social mais completo possa ser conduzido para tratar de questões relacionadas à pesquisa de geoengenharia solar na Suécia”. Mas Keith argumentou que o perigo real reside em algumas organizações independentes que implementam o SAI sem o tipo de
dados científicos que o SCoPEX deseja obter. A segunda grande objeção à pesquisa da SAI é que governos e corporações que já estão relutantes em reduzir as emissões de dióxido de carbono se agarrarão à SAI como prova de que tais reduções são desnecessárias. Essa situação pode anular quaisquer benefícios potenciais do SAI. Mesmo se a missão SCoPEx for bem-sucedida e o SAI for totalmente implementado, ele apenas complementará, não substituirá, a redução do dióxido de carbono. Lizzie Burns, diretora-gerente do Programa de Pesquisa Solar de Geoengenharia de Harvard, ofereceu uma analogia vívida: “É como um analgésico. Se você precisa de cirurgia e toma analgésicos, isso não significa que não precisa mais de cirurgia. [*]Conselheiro Chefe de Mudanças Climáticas Shell International Ltd.
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Aumento sem precedentes de extremos de calor e precipitação em dados observacionais
Este ano, o La Niña, que tem um efeito de resfriar um pouco a temperatura global, se comportou diferente e não foi suficiente para conter o calor em 2020
Tendências em extremos climáticos a: Porcentagem da área terrestre global com temperaturas mensais acima de diferentes limiares sigma em qualquer mês (média ao longo do ano). b: Série média anual global (1880-2020) da proporção dos registros locais de temperatura mensal observada em terra em comparação com aqueles esperados em um clima estacionário. A linha preta espessa mostra a tendência com uma janela de suavização de 10 anos, e a linha magenta e o sombreamento mostram a mediana e o intervalo de confiança de 90% para o modelo estatístico impulsionado pela tendência de aquecimento global de longo prazo sobre a terra e o ruído gaussiano. c: Série de desvio (1950–2016) do número observado de registros locais de precipitação diária agregados ao longo do ano e áreas globais (em porcentagem em relação ao esperado em um clima estacionário). A linha preta mostra a tendência de longo prazo. O sombreado azul mostra o intervalo de confiança de 90% para um clima estacionário.
Na última década, o mundo aqueceu 0,25°C, em linha com a tendência quase linear desde os anos 1970. Aqui, apresentamos análises atualizadas mostrando que essa mudança aparentemente pequena levou ao surgimento de extremos de calor que seriam virtualmente impossíveis sem o aquecimento global antropogênico. Além disso, os extremos recorde de chuvas continuaram a aumentar em todo o mundo e, em média, 1 em cada 4 registros de chuvas na última década podem ser atribuídos às mudanças climáticas. As regiões tropicais, compostas por países vulneráveis que normalmente menos contribuíram para a mudança climática antropogênica, continuam a ver o maior aumento nos extremos.
Fotos: M. Seifert/Wikimedia Commons, Universidade Complutense de Madri, Unsplash
U
m aumento de 90 vezes na frequência de extremos de calor mensais nos últimos dez anos em comparação com 1951-1980 foi encontrado por cientistas em dados de observação.
Sua análise revela que os chamados eventos de calor 3-sigma, que se desviam fortemente do normal em uma determinada região, agora afetam em média cerca de 9% de toda a área terrestre a qualquer momento.
Os eventos recordes de chuvas diárias induzidos pelas mudanças climáticas têm aumentado em frequência, como a enchente na Alemanha Ocidental no verão de 2021
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Extremos e registros da última década Calor crescente e extremos de chuva agora muito fora do clima histórico Painel superior: anomalias de temperatura média anual (unidades de σ) para 2011–2020. Painel do meio: número total de registros mensais de temperatura para 2011–2020 (o valor máximo possível em cada ponto da grade é 120 = 12 meses × 10 anos). Painel inferior: Desvio dos registros de precipitação diária observados daqueles esperados em um clima estacionário (em%), agregados para regiões SREX e média entre 1980 e 2016. Regiões com desvios estatisticamente significativos de um clima estacionário são destacadas com quadros em negrito. revistaamazonia.com.br 28 REVISTA AMAZÔNIA
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Tempestades intensas e aridez moldam a vida no Sahel. Os gases de efeito estufa e o aquecimento dos oceanos estão forçando um clima ainda mais extremo à frente
Os registros diários de chuvas também aumentaram de forma não linear - em média, 1 em cada 4 registros de chuvas na última década podem ser atribuídos às mudanças climáticas. Já hoje, os eventos extremos ligados às mudanças climáticas causadas pelo homem estão em níveis sem precedentes, dizem os cientistas, e deve-se esperar que aumentem ainda mais. “Para extremos extremos, o que chamamos de eventos 4-sigma que estavam virtualmente ausentes antes, vemos até um aumento de cerca de 1000 vezes em comparação com o período de referência. Eles afetaram cerca de 3% da área global em 2011-20 em qualquer mês”, diz o autor principal Alexander Robinson, da Universidade Complutense de Madri, na Espanha, e do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, na Alemanha. “Isso confirma as descobertas anteriores, mas com números cada vez maiores. Estamos vendo extremos agora que são virtualmente impossíveis sem a influência do aquecimento global causado pelas emissões de gases de efeito estufa da queima de combustíveis fósseis”. O termo ‘sigma’ refere-se ao que os cientistas chamam de desvio padrão. Por exemplo, 2020 trouxe ondas de calor prolongadas para a Sibéria e Austrália,
contribuindo para o surgimento de incêndios florestais devastadores em ambas as regiões. Ambos os eventos levaram à declaração do estado de emergência local. As temperaturas em níveis de risco de vida atingiram partes dos EUA e Canadá em 2021, chegando a quase 50°C. Globalmente, os extremos de calor recordes aumentaram mais nas regiões tropicais, uma vez que normalmente têm uma baixa variabilidade de temperaturas mensais. À medida que as temperaturas continuam a subir, no entanto, o calor recorde também se tornará muito mais comum nas regiões de latitude média e alta. 1 em cada 4 registros de chuva é atribuível à mudança climática Os registros diários de chuvas também aumentaram. Comparado ao que seria esperado em um clima sem aquecimento global, o número de registros úmidos aumentou cerca de 30%. Isso implica que 1 em cada 4 registros é atribuível a mudanças climáticas causadas pelo homem. O pano de fundo da física para isso é a relação Clausius-Clapeyron, que afirma que o ar pode reter 7% a mais de umidade por grau Celsius de aquecimento. É importante ressaltar que regiões já secas, como oeste da América do Norte e África do Sul, viram uma redução nos registros
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de precipitação, enquanto regiões úmidas, como centro e norte da Europa, tiveram um forte aumento. Geralmente, o aumento dos extremos de chuva não ajuda a aliviar os problemas de seca. Pequeno aumento de temperatura, consequências desproporcionalmente grandes Comparando os novos dados com a já extrema década anterior de 2000-2010, os dados mostram que a área de terra afetada por extremos de calor da categoria 3-sigma praticamente dobrou. Esses desvios que são tão fortes que antes estavam essencialmente ausentes, os eventos 4-sigma, surgiram recentemente nas observações. Os registros de precipitação aumentaram mais 5 pontos percentuais na última década. A quantidade aparentemente pequena de aquecimento nos últimos dez anos, apenas 0,25 ° C, elevou substancialmente os extremos climáticos. “Esses dados mostram que os extremos estão muito além da experiência histórica. O calor extremo e as chuvas extremas estão aumentando desproporcionalmente”, diz o coautor Stefan Rahmstorf, do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático. “Nossa análise confirma mais uma vez que, para os impactos do aquecimento global em nós, humanos, cada décimo de grau importa”.
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O maior centro de energia renovável do mundo gerará mais de 50 gigawatts de energia Terreno do tamanho de Sydney para converter energia eólica e solar em combustíveis verdes
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m consórcio internacional propôs construir o maior centro de energia renovável do mundo perto de Merredin, Austrália Ocidental. A proposta inclui gastar US $ 100 bilhões no desenvolvimento de um local no sudoeste da Austrália com aproximadamente 6.000 mi ², que irá gerar mais de 50 GigaWatts (GW) de energia na forma de hidrogênio e amônia usando energia solar e eólica, ao custo de US $ 100 bilhões. A capacidade projetada do hub está próxima da capacidade atual de geração de energia de 54 GW, movida a carvão, gás e energia renovável. Chamado de Western Green Energy Hub (WGEB), o consórcio é formado pela InterContinental Energy, CWP Global e Mirning Green Energy Limited. A última empresa é subsidiária da Mirning Traditional Lands Aboriginal Corp e tem um assento permanente no conselho do WGEH.
Fotos: WGEB
Armazenamento de energia
WGEB anunciou complexo de usina eólica e solar de até 6 gigawatts de capacidade na região de Pilbara Oriental da Austrália Ocidental que exportará eletricidade para a Indonésia
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O maior centro de energia renovável do mundo gerará mais de 50 gigawatts de energia.indd 30
“Estamos trabalhando com o Povo Mirning, os proprietários originais da terra, para criar uma parceria multigeracional verdadeiramente sustentável e de longo prazo que oferece enormes benefícios socioeconômicos para a comunidade”, disse Brendan Hammond, presidente do conselho do WGEH. Em nota, o consórcio disse que planeja trabalhar em três fases e produzir até 3,5 milhões de toneladas de hidrogênio verde ou 20 milhões de toneladas de amônia verde a cada ano. O hidrogênio e a amônia produzidos serão usados em usinas elétricas, indústrias pesadas e aviação . O consórcio também construirá uma instalação off-shore para transferir combustível para navios após a produção que deve começar em 2030. O hub planeja gerar mais de 30 GW de energia através do vento, enquanto o restante será gerado com energia solar. A proposta vem logo depois que o Ministério do Meio Ambiente Australiano rejeitou uma proposta semelhante, porém menor, no mês passado, citando danos às áreas úmidas e uma ameaça às espécies de pássaros. É importante notar que dois em cada três membros deste consórcio, InternContinental Energy e CWP Global, faziam parte da equipa que apresentou a proposta anterior. Se aprovada, a proposta deixará para trás o projeto de energia renovável de 45 GW anunciado para ser construído no Cazaquistão por uma empresa alemã, a Svevind Energy, que é atualmente o maior projeto do segmento.
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Árvores maduras podem aumentar a quantidade de dióxido de carbono que absorvem Os pesquisadores usaram mastros gigantes para emitir dióxido de carbono (CO2) extra sobre a floresta. Carvalhos de 175 anos responderam aumentando muito sua taxa de fotossíntese Fotos: Universidade de Birmingham
O
s ecossistemas florestais cobrem cerca de 30% da superfície terrestre da Terra, representando ~ 50% do carbono armazenado terrestre e respondem por cerca de 60% do fluxo total de CO2 terrestre no ciclo global do carbono ( Luyssaert et al. 2008 , Pan et al. 2011). O aumento contínuo do CO2 atmosférico , principalmente devido à atividade antropogênica ( Friedlingstein et al. 2019 ), aumenta a necessidade de entender os feedbacks do carbono terrestre das florestas no ciclo global do carbono. Como o impulsionador fundamental do ciclo do carbono das florestas (por exemplo, Bonan 2008 ), a resposta fotossintética à mudança do CO2 atmosféricoé um processo necessário para que as florestas atuem como depósitos de carbono de longa duração com reservatórios de carbono (C) de vida relativamente longa, como madeira ( Körner 2017 ) e solo ( Ostle et al. 2009 ). A quantidade de absorção de C pela floresta no futuro e o subsequente sequestro de C serão determinantes cruciais das futuras concentrações de CO2 atmosférico. Portanto, quantificar a resposta fotossintética sob elevado CO2 (eCO2 ), especialmente para árvores maduras, é fundamental para compreender a absorção de carbono por florestas sob alteração da composição atmosférica.
Ecossistemas florestais e recursos florestais
Enormes mastros bombeiam dióxido de carbono em 25 hectares de floresta, que serão analisados para ver como reage ao gás de efeito estufa. Vista aérea do BIFoR FACE Facility
Bem no coração da zona rural de Staffordshire, os cientistas construíram um elaborado laboratório para imitar o futuro do aquecimento global
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Foi amplamente observado que o eCO2 pode ter um efeito estimulador na fotossíntese da planta, conhecido como aumento fotossintético, pelo menos no curto prazo (semanas-meses) com disponibilidade adequada de nutrientes e água permitindo ( Brodribb et al. 2020). Cientistas especialistas da Universidade de Birmingham, conduziram um experimento gigante ao ar livre em carvalhos na Inglaterra rural que havia atingido a ‘meia-idade’, o que significa que eles pararam de crescer. Os cientistas descobriram que as árvores aumentaram sua taxa de fotossíntese em até um terço quando expostas a níveis elevados de CO2 do ar.
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O fato de que as árvores maduras são tão abundantes em todo o mundo pode dar à humanidade ‘espaço extra’ para lutar contra as mudanças climáticas. As florestas são amplamente reconhecidas como importantes “sumidouros de carbono” - ecossistemas que são capazes de capturar e armazenar grandes quantidades de CO2. A resposta dinâmica das florestas às mudanças ambientais, incluindo as mudanças climáticas, é apenas parcialmente entendida. Para aumentar a compreensão, construímos um experimento de Enriquecimento com Dióxido de Carbono no Ar Livre ( FACE ), realizado em florestas temperadas maduras e não gerenciadas. Ele está localizado em um terreno privado em Staffordshire (cerca de 1 hora de carro do campus principal da Universidade). A pesquisa foi conduzida em árvores em Staffordshire no Instituto de Pesquisa Florestal de Birmingham (BIFoR) e publicada na Tree Physiology. “Agora temos certeza de que as velhas árvores estão respondendo aos níveis futuros de dióxido de carbono”, disse o professor Rob MacKenzie, diretor fundador do BIFoR.
O FACE, localizado na zona rural de Staffordshire, consiste em uma rede de mastros altos que emitem CO2 para as árvores ao redor
Como todo o ecossistema da floresta responde é uma questão muito maior que requer muitas investigações mais detalhadas. Agora estamos avançando com essas investigações. Os experimentos foram baseados no Enriquecimento de Dióxido de Carbono do Ar Livre (FACE), uma instalação de pesquisa situada em uma floresta madura e não gerenciada, localizada a cerca de uma hora de carro do campus principal da Universidade de Birmingham.
Para o estudo, os carvalhos de 175 anos em Staffordshire foram banhados pelo ar com 37 por cento a mais de CO2 do que o normal - imitando os níveis que são esperados no ar em 2050
A pesquisadora Anna Gardner, realizando trabalho das medições de campo na copa da floresta
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O FACE consiste em uma rede de mastros altos, que se parecem um pouco com postes de eletricidade, que emitem CO2 para as árvores ao redor. As folhas no topo do dossel foram então analisadas por sua resposta fotossintética, por pesquisadores em arreios a até 25 metros do solo. Durante os primeiros três anos de seu projeto de 10 anos, os pesquisadores descobriram que os carvalhos aumentaram sua taxa de fotossíntese em até 33 por cento. Os pesquisadores agora estão medindo folhas, madeira, raízes e solo para descobrir onde termina o carbono extra capturado e por quanto tempo permanece preso na floresta. O professor Mackenzie disse que o estudo está em um estágio inicial, mas até agora são “boas notícias”, disse ele, em parte porque as árvores maduras constituem a maior parte das florestas do mundo. As florestas absorvem 25 a 30 por cento do CO2 extra liberado no ar pela atividade humana e podem ser capazes de manter uma porcentagem semelhante à medida que os níveis aumentam. ‘Talvez a floresta do mundo continue entregando essa redução de carbono e isso nos dará alguns anos ... de espaço extra em nossa mitigação climática’, disse o professor Mackenzie. ‘Isso é tudo que podemos esperar - não faz o problema desaparecer.’ Curiosamente, o equilíbrio geral dos principais elementos nutrientes, carbono e nitrogênio, não mudou nas folhas. Manter a proporção de carbono para nitrogênio constante sugere que as árvores antigas encontraram maneiras de redirecionar seus elementos, ou encontraram maneiras de trazer mais nitrogênio do solo para equilibrar o carbono que estão obtendo do ar. A pesquisa foi realizada em colaboração com colegas da Western Sydney University que realizaram um experimento muito semelhante em uma antiga floresta de eucalipto (EucFACE) a noroeste da cidade australiana.
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A “demanda verde” pode nos ajudar a atingir nossos objetivos climáticos Ao nosso alcance: Aumentar a demanda por produtos verdes será vital para atingir as metas climáticas. Há esperança de limitar os aumentos de temperatura a 1,5 grau Celsius - mas apenas se agirmos agora. Parcerias, aumento da conscientização e inovação tecnológica, todos têm um papel a desempenhar na promoção da redução de emissões. por *Joe Myers
“Estamos perigosamente atrasados”
O transporte marítimo é um setor onde as emissões são mais difíceis de cortar
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A corrida começou, disse o secretário Kerry, conclamando o mundo a ‘acelerar tudo’ em um esforço para reduzir as emissões e restringir o aquecimento a 1,5 graus Celsius. “Estamos atrás, perigosamente atrás”, disse ele. Não sou eu a falar, disse ele. “São os cientistas”. “Todo este desafio é definido pela aritmética e pela física. Conhecemos os números e devemos ser guiados por eles”. E 50% da redução nas emissões de que precisamos virá de tecnologias que ainda não estão em escala, disse Kerry. “Precisamos aumentar a demanda por produtos verdes”, explica. Fazendo isso, trabalhando juntos, “com mais rapidez e eficácia podemos atingir as metas climáticas”.
ma Edição Especial Diálogos da Agenda ocorreu em 29 de setembro de 2021 às 16:00 CEST, examinando os desafios de restringir o aquecimento global e o papel da tecnologia e dos negócios - particularmente em setores difíceis de reduzir. Participaram: Secretário John Kerry, enviado presidencial especial dos EUA para o clima Antonia Gawel, chefe da Plataforma de Ação Climática, Fórum Econômico Mundial, Soren Skou, CEO, AP Møller-Maersk A / S, Jan Jenisch, CEO da Holcim. Como Co-anfitriões: Børge Brende, presidente, Fórum Econômico Mundial, Adrian Monck, Diretor Executivo, Chefe de Engajamento Público, Fórum Econômico Mundial
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Setores difíceis de descarbonizar Existem setores da economia onde é mais difícil avançar, explicou o secretário Kerry o transporte marítimo, por exemplo. “Estamos tentando resolver um problema do ovo e da galinha”, disse Soren Skou. “Ninguém está produzindo combustíveis verdes para o transporte marítimo, porque nenhum navio o está usando.” Maesrk está assumindo compromissos nesta área com pedidos recentes de navios mais verdes, no entanto. Skou espera que isso crie demanda e um mercado para combustíveis verdes. “Estamos convencidos de que temos uma crise climática”, explicou. “Estamos cientes de que somos parte do problema em termos de nossas emissões. Mas também acreditamos que somos parte da solução.” Você tem que chegar lá, definir seu objetivo e começar a trabalhar nele, disse ele. “Todos nós temos a obrigação de trabalhar neste projeto”.
Construindo parcerias e aumentando a conscientização “Para tornar a descarbonização uma realidade, temos de cooperar muito mais”, disse Jan Jenisch. A Holcim já está trabalhando com cidades, com a academia e com clientes, disse ele. E isso é vital para aumentar a conscientização sobre tecnologias e produtos que já existem ao longo desse caminho. Os clientes precisam saber que já têm uma escolha, disse ele. Há também uma pressão e uma conscientização crescentes entre os funcionários, explicou ele - “temos 70.000 funcionários que desejam que nossa empresa seja parte da solução”. O dimensionamento das tecnologias existentes precisa fazer parte do plano, concordou Antonia Gawel, além de direcionar o investimento e os compromissos para soluções emergentes. Ela também concordou com a necessidade de estabelecer e construir parcerias entre grandes empresas para definir metas e agir sobre elas.
Hora de ação urgente Essas parcerias são vitais, explicou o secretário Kerry. Mas o desafio é enorme e precisamos nos concentrar nos próximos 10 anos e na ação, não apenas nas palavras. Manter o aquecimento a 1,5 graus Celsius é possível, acredita ele. “O frustrante é que isso é alcançável, não está além do alcance”, disse ele. “Mas, precisamos de mais força de vontade”.
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Como o desenvolvimento sustentável pode ser alcançado para todos ao mesmo tempo em que se trata da mudança climática global? A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2021 na Escócia desencadeou estratégias nacionais aprimoradas para reduzir mais rapidamente as emissões de gases de efeito estufa e pesquisas sobre como reduzir o CO2 que já está na atmosfera
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s emissões de GEE diminuíram de um crescimento médio anual de 2,6% durante a primeira década deste século para 1,1% durante 2012 a 2019. A recessão da Covid reduziu as emissões em 6 a 7%, mas espera-se que seja maior em 2022 do que em 2019; portanto, não estamos no caminho para alcançar emissões líquidas zero até 2050. 2020 empatou com 2016 como o ano mais quente já registrado; a última década foi a mais quente da história registrada, e continuamos a emitir mais carbono a cada ano do que a natureza pode sequestrar. Quando as emissões líquidas zero são alcançadas, o aumento das temperaturas e dos níveis dos oceanos provavelmente continuará a subir por várias décadas antes que um novo equilíbrio ambiental seja alcançado. O público não está preparado para a severidade das mudanças climáticas futuras.
Há cerca de 252 milhões de anos, o aquecimento global devido ao aumento do CO2 atmosférico levou a mudanças oceânicas que aumentaram o crescimento de um microrganismo que emite sulfato de hidrogênio (H2S) quando morre, além da redução do ozônio, matou 97% da vida durante o Extinção do Permiano. Isso pode acontecer novamente, a menos que aprendamos como reverter as crescentes emissões de gases de efeito estufa e reduzir o volume que já está na atmosfera . Junto com energia, transporte e agricultura, o aquecimento da atmosfera também pode reduzir a cobertura de nuvens, aquecendo ainda mais a Terra, juntamente com o derretimento do gelo, reduzindo a reflexão solar e o derretimento da tundra liberando metano. Se as tendências continuarem, então em algum momento após 2100 CO2 atmosférico poderia chegar a 1000 ppm, levando a algo como a extinção do Permiano.
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“Os principais problemas ambientais são egoísmo, ganância e apatia”, disse Gus Speth, ex-Administrador do PNUD; no entanto, um estudo recente mostrou uma tendência global de instituições financeiras investindo cada vez mais nas prioridades de sustentabilidade. A reversão das emissões de GEE exigirá esforços globais sem precedentes, uma vez que se espera que a população mundial de hoje 7,9 bilhões cresça mais 2 bilhões até 2050 e que a economia global triplique durante o mesmo período. Os EUA e a Europa planejam se tornar neutros em carbono até 2050 e a China até 2060. De acordo com a NASA, a temperatura global já aumentou 0,94 °C (1,7 °F) desde 1880 e os níveis do mar subiram 8–9 polegadas durante o mesmo período. Se as tendências atuais continuarem, as temperaturas médias globais podem aumentar 1,4 °C (2,5 °F) no melhor caso e 4,4 °C (8 °F) no pior caso até 2100.
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O nível do mar pode subir 1 metro (3,3 pés) até 2050 e, possivelmente, mais de 2 metros até 2010. Prevê-se que a acidez do oceano aumente de 100 a 150% em relação aos níveis pré-industriais até o final deste século. Embora o equivalente de CO2 a 450 ppm seja o limite politicamente aceitável, alguns argumentam que deveria ser 350 ppm, uma vez que já vemos impactos massivos hoje com 410 ppm, então por que 450 seria sustentável? Temos que reduzir não apenas as emissões de GEE, mas também o volume de GEE que já está na atmosfera hoje. As promessas de mudança climática dos países devem ser executadas por meio de boicotes, sanções e outros meios. Os cidadãos globais devem entender que a Terra não possui recursos infinitos; que a Terra é um sistema de circuito fechado que deve ser aplicado a vários sistemas de gestão econômica, política e ambiental; que a gestão do consumo e dos resíduos terá de mudar; e que a sustentabilidade ambiental é um importante valor econômico, social e político. Os líderes mundiais concordaram em alcançar 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU com 169 sub-objetivos até 2030. O Banco Mundial estima que serão necessários mais de US $ 60 trilhões para atingir os ODS. Cerca de 80% dos quase US $ 400 trilhões do mundo são controlados por instituições financeiras, enquanto os estados-nação controlam apenas 20%. Conseqüentemente, os Estados Membros da
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ONU não são capazes de fornecer os investimentos financeiros necessários para atingir os ODS, mas as instituições financeiras
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são e devem se tornar uma força financeira para o bem como parte das estratégias da ONU para atingir os ODS.
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Ações para enfrentar o desafio global: Estabeleça uma meta semelhante à da Apollo entre os Estados Unidos e a China, com um programa de P&D *semelhante ao da NASA para alcançá-la em outros países, corporações. e as universidades podem aderir. As grandes instituições financeiras devem criar instrumentos financeiros para investimentos maciços *que acelerem as soluções tecnológicas. Produza carne, leite, couro e outros produtos de origem animal diretamente de materiais genéticos sem *animais em crescimento: Economiza energia, terra, água, custos com saúde e gases de efeito estufa .
*Investir na agricultura de água do mar / água salgada. *Aumente as dietas vegetarianas. empresas devem desenvolver metas ESG (ambientais, sociais e de governança corporativa) que atrai*rãoAsinvestidores financeiros. Transforme as cidades mais antigas em Cidades Eco-inteligentes e construa novas adições como *Cidades Eco-inteligentes. Estabelecer estruturas de dados para prestação de contas pelo monitoramento público dos compro*missos nacionais e corporativos,
*Continuar as políticas que reduzem as taxas de fertilidade em áreas de alto crescimento populacional. *Reduza a energia por unidade do PIB. *Acelere o planejamento de árvores com métodos inovadores, como o plantio de árvores com drones . Facilite a transição de fontes de energia fóssil para renováveis (consulte o Desafio Global 13 para obter *mais detalhes e www.go100re.net/map para obter o status global atual). *Desinvestir em combustíveis fósseis *Expanda os sistemas cap-and-trade. *Estabeleça taxas de carbono. Envolva artes / mídia / entretenimento para promover mudanças no trabalho / estilo de vida.
*Treine equipes de resiliência da comunidade. *Faça planos de evacuação e migração costeira de longo alcance. *Avalie as opções de geoengenharia. *Desenvolva a economia digital e verde (pagamento móvel, realidade virtual, fábricas digitais).
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Retirada controlada: uma obrigação na guerra contra as mudanças climáticas Fotos: CC0 (domínio público), Jeffrey C. Chase / University of Delaware Mach, Siders, OCEANIX / BIG-Bjarke Ingels Group, Stefano Boeri Architetti, Universidade de Delaware
por *Universidade de Delaware
O
pesquisador de desastres da Universidade de Delaware, AR Siders, disse que é hora de colocar todas as opções na mesa quando se trata de discutir a adaptação às mudanças climáticas. O recuo gerenciado - o movimento proposital de pessoas, edifícios e outros ativos de áreas vulneráveis a perigos - muitas vezes foi considerado o último recurso. Mas Siders disse que pode ser uma ferramenta poderosa para expandir o leque de soluções possíveis para lidar com o aumento do nível do mar, inundações e outros efeitos da mudança climática, quando usado de forma proativa ou em combinação com outras medidas. Siders, um membro do corpo docente do Centro de Pesquisa de Desastres da UD, e Katharine J. Mach, professora associada da Escola de Ciências Marinhas e Atmosféricas da Universidade de Miami Rosenstiel, fornecem um roteiro prospectivo para reconceituar o futuro usando retiro gerenciado em um novo artigo publicado online em Ciência em 17 de junho de 2021. “A mudança climática está afetando pessoas em todo o mundo e todos estão tentando descobrir o que fazer a respeito.
Uma estratégia potencial, afastar-se dos perigos, pode ser muito eficaz, mas muitas vezes é esquecida”, disse Siders, professor assistente na Escola de Políticas Públicas e Administração Joseph R. Biden, Jr. e no Departamento de Geografia e Ciências Espaciais. “Estamos examinando as diferentes maneiras pelas quais a sociedade pode sonhar mais alto ao planejar a mudança
Recuo gerenciado é o movimento proposital de pessoas, edifícios e infraestrutura para longe de áreas vulneráveis a inundações, aumento do nível do mar ou outros perigos da mudança climática. Usado estrategicamente, pode abrir portas para novas possibilidades
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climática e como os valores e prioridades da comunidade desempenham um papel nisso”.
Recuar não significa derrota O recuo controlado vem acontecendo há décadas em todos os Estados Unidos, em uma escala muito pequena, com apoio estadual e / ou federal. Siders apontou os furacões Harvey e Florence como eventos climáticos que levaram os proprietários de casas perto do Golfo do México a buscar apoio do governo para a relocação. Localmente, cidades como Bowers Beach, perto da costa de Delaware, usaram aquisições para remover casas e famílias de áreas sujeitas a inundações, uma ideia que Southbridge em Wilmington também está explorando. As pessoas costumam se opor à ideia de deixar suas casas, mas Siders disse que pensar seriamente em um retiro gerenciado mais cedo e no contexto com outras ferramentas disponíveis pode reforçar as decisões, levando a conversas difíceis. Mesmo que as comunidades decidam permanecer no local, identificar as coisas que os membros da comunidade valorizam pode ajudá-los a decidir o que desejam manter e o que intencionalmente desejam mudar.
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(Embaixo, à esquerda) Um assentamento atual hipotético (cidade densa, comunidades suburbanas e periurbanas e áreas rurais). (Certo) Seis futuros possíveis. Os caminhos adaptativos entre o presente e o futuro serão moldados pelos riscos climáticos, limites à adaptação e objetivos sociais. O retiro estratégico e gerenciado (verde) terá alguma função em cada futuro, junto com outras categorias de resposta. O grau de recuo varia entre os cenários (por exemplo, remoção de algumas estruturas para criar espaço para tanques de retenção e bombeamento no cenário híbrido ou realocações em grande escala no cenário consolidado ou flutuante). A decisão de não se envolver em um recuo estratégico e administrado complica a busca por esses futuros e pode eliminar certos futuros como opções.
“Se as únicas ferramentas em que você pensa são a alimentação da praia e a construção de paredes, você está limitando o que pode fazer, mas se começar a adicionar todo o kit de ferramentas e combinar as opções de maneiras diferentes, poderá criar uma gama muito mais ampla de futuros,” ela disse. No artigo, Siders e Mach argumentam que a adaptação a longo prazo envolverá um retrocesso. Mesmo as visões de futuro tradicionalmente aceitas, como construir paredes de inundação e elevar estruturas ameaçadas, envolverão um recuo em pequena escala para abrir espaço para diques e drenagem. Um retiro em larga escala pode ser necessário para transformações mais ambiciosas, como construir bairros ou cidades flutuantes, transformar estradas em canais em um esforço para viver com a água ou construir cidades mais densas e compactas em terrenos mais elevados. Alguns, mas não todos esses futuros existem atualmente.
Uma nova pesquisa da AR Siders da University of Delaware e Katharine Mach, da University of Miami, descobriu que a retirada controlada não pode ser vista como um último recurso - deve ser combinada com as existentes (paredes de inundação) ou futuras (cidades flutuantes) medidas para serem eficazes. Assista o Vídeo: bit.ly/AR_Siders
Na Holanda, o município de Rotterdam instalou casas flutuantes no porto de Nassau que se movem com as marés, proporcionando uma visão sustentável da orla para os proprietários, enquanto abre espaço para espaços verdes públicos ao longo da água.
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Na cidade de Nova York, uma ideia em consideração é construir no East River para acomodar uma inundação. Ambas as cidades estão usando estratégias de combinação que alavancam mais de uma ferramenta de adaptação.
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É hora de colocar todas as opções na mesa quando se trata de discutir a adaptação às mudanças climáticas
“O recuo gerenciado pode ser mais eficaz na redução do risco, de maneiras socialmente equitativas e economicamente eficientes, se for um componente proativo das transformações impulsionadas pelo clima”, disse Mach. “Ele pode ser usado para lidar com os riscos climáticos, junto com outros tipos de respostas, como a construção de paredões ou a limitação de novos desenvolvimentos em regiões propensas a perigos”.
udança cmática
As decisões de adaptação não precisam ser decisões ou / ou. No entanto, é importante lembrar que esses esforços levam tempo, portanto, o planejamento deve começar agora. “Comunidades, vilas e cidades estão tomando decisões agora que afetam o futuro”, disse Siders. “Localmente, Delaware está construindo mais rápido dentro da planície de inundação do que fora dela. Estamos fazendo planos para a alimentação das praias e onde construir paredões. Estamos tomando essas decisões agora, então devemos considerar todas as opções
disponíveis agora, não apenas aqueles que mantêm as pessoas no lugar”. De acordo com Siders, o jornal é um ponto de partida para pesquisadores, legisladores, comunidades e residentes que estão investindo em ajudar as comunidades a prosperar em meio a mudanças climáticas. Essas discussões, disse ela, não devem se concentrar apenas em onde precisamos mudar, mas também onde devemos evitar construir, onde novas construções devem ser incentivadas e como devemos construir de forma diferente.
Globalmente, Siders disse que os EUA estão em uma posição privilegiada, em termos de espaço, dinheiro e recursos disponíveis, em relação a outros países que enfrentam futuros mais complicados. A República de Kiribati, uma cadeia de ilhas no Oceano Pacífico central, por exemplo, deverá estar submersa no futuro. Algumas de suas ilhas já são inabitáveis. O governo de Kiribati comprou terras em Fiji para realocação e está desenvolvendo programas com a Austrália e a Nova Zelândia para fornecer treinamento de mão de obra qualificada para que o povo de Kiribati possa migrar com dignidade quando chegar a hora. Os desafios permanecem, porém, uma vez que nem todos concordam com a mudança.
As Ilhas Salomão produzem menos de um centésimo de 1% dos gases de efeito estufa globais. Mas será uma das primeiras a desaparecer
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Visões futuras para o retrocesso na adaptação transformacional Uma metrópole flutuante
Espaço verde urbano
Essas fotos ilustram a criatividade que pode ser utilizada para imaginar relacionamentos totalmente diferentes entre pessoas e locais Em uma edição especial recente do Journal of Environmental Studies and Sciences , editado e apresentado por Siders e Idowu (Jola) Ajibade na Portland State University, pesquisadores examinaram as implicações de justiça social da retirada controlada em exemplos de vários países, incluindo os EUA, Marshall Ilhas, Nova Zelândia, Peru, Suécia, Taiwan, Áustria e Inglaterra.
Os cientistas exploraram como o recuo afeta grupos de pessoas e, nos EUA, consideraram especificamente como o recuo afeta as populações marginalizadas. Então, como a sociedade pode fazer melhor? De acordo com Siders, tudo começa com um pensamento de longo prazo. “É difícil tomar boas decisões sobre as mudanças climáticas se estivermos
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pensando em 5-10 anos”, disse Siders. “Estamos construindo uma infraestrutura que dura de 50 a 100 anos; nossa escala de planejamento deve ser igualmente longa”. Os participantes farão um discurso de abertura e uma apresentação de pesquisa sobre o tópico em uma conferência de retiro gerenciado virtual na Universidade de Columbia, de 22 a 25 de junho de 2021.
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Dados de observação da Terra de imagens de satélite explicam como nosso planeta está mudando
Imagens de satélite que mostram a rapidez com que nosso planeta está mudando As imagens de satélite podem fornecer percepções vitais sobre como nosso planeta está mudando e respondendo ao aquecimento global. Eles podem medir as mudanças no nível do mar até um mililitro ou a temperatura da terra e do oceano, para que os cientistas possam fazer um “exame de saúde”. Abaixo estão imagens de satélite reveladoras que mostram como nosso planeta está mudando. Essas informações são essenciais para proteger nosso planeta e os sistemas dos quais dependemos para sobreviver. por *Jonathan Bamber
Fotos: ESA, ESA / CLS / LEGOS, ESA / USGS / Deimos Imaging,, CC BY-AS, Unsplash / NASA
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ocê provavelmente já viu imagens de satélite do planeta por meio de aplicativos como o Google Earth. Eles fornecem uma visão fascinante da superfície do planeta de um ponto de vista exclusivo e podem ser bonitos de se ver e auxiliares de planejamento. Mas as observações de satélite podem fornecer muito mais informações do que isso. Na verdade, eles são essenciais para entender como nosso planeta está mudando e respondendo ao aquecimento global e podem fazer muito mais do que apenas “tirar fotos”. É realmente uma ciência espacial e o tipo de informação que podemos obter agora dos chamados satélites de observação da Terra está revolucionando nossa capacidade de realizar um exame de saúde abrangente e oportuno nos sistemas planetários dos quais dependemos para nossa sobrevivência. Podemos medir as mudanças no nível do mar até um único milímetro, as mudanças na quantidade de água armazenada nas rochas subterrâneas, a temperatura da terra e do oceano e a propagação de poluentes atmosféricos e gases de efeito estufa, tudo a partir do espaço.
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O mar está subindo rapidamente - mas não de maneira uniforme
Aqui, selecionei cinco imagens impressionantes que ilustram como os dados de observação da Terra estão
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informando os cientistas do clima sobre as características mutáveis do planeta que chamamos de lar.
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O nível do mar está subindo - mas onde? Prevê-se que a elevação do nível do mar seja uma das consequências mais sérias do aquecimento global: no cenário mais extremo de “negócios como de costume”, uma elevação de dois metros inundaria 600 milhões de pessoas até o final deste século . O padrão de mudança da altura da superfície do mar, no entanto, não é uniforme entre os oceanos. Esta imagem mostra tendências médias do nível do mar ao longo de 13 anos, nos quais o aumento médio global foi de cerca de 3,2 mm por ano. Mas a taxa foi três ou quatro vezes mais rápida em alguns lugares, como o sudoeste do Pacífico a leste da Indonésia e Nova Zelândia, onde existem inúmeras pequenas ilhas e atóis que já são muito vulneráveis ao aumento do nível do mar. Enquanto isso, em outras partes do oceano, o nível do mar quase não mudou, como no Pacífico a oeste da América do Norte.
O permafrost está descongelando O permafrost é solo permanentemente congelado e a grande maioria dele fica no Ártico. Ele armazena grandes quantidades
Quando o permafrost descongela, o carbono e o metano são liberados
de carbono, mas quando descongela, esse carbono é liberado como CO2 e um gás de efeito estufa ainda mais potente: o metano. O Permafrost armazena cerca de 1.500 bilhões de toneladas de carbono - o dobro de toda a atmosfera - e é extremamente importante que o carbono permaneça no solo.
Esta animação combina medições de satélite terrestres da temperatura do solo e modelagem de computador para mapear a temperatura do permafrost em profundidade no Ártico e como ela está mudando com o tempo, dando uma indicação de onde está descongelando.
Esta animação mostra que o bloqueio diminuiu as concentrações de CO2
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O bloqueio limpa os céus da Europa O dióxido de nitrogênio é um poluente atmosférico que pode ter sérios impactos à saúde, especialmente para aqueles que são asmáticos ou têm função pulmonar enfraquecida, e pode aumentar a acidez da chuva com efeitos prejudiciais sobre ecossistemas sensíveis e a saúde das plantas. Uma das principais fontes são os motores de combustão interna encontrados em carros e outros veículos. Esta animação mostra a diferença nas concentrações de NO2 na Europa antes do início dos bloqueios nacionais relacionados à pandemia em março de 2020 e logo depois. Este último mostra uma redução dramática na concentração em grandes conurbações como Madrid, Milão e Paris.
Desmatamento na Amazônia As florestas tropicais têm sido descritas como os pulmões do planeta, respirando CO2 e armazenando-o na biomassa lenhosa enquanto exala oxigênio.
Esta é a dramática perda de floresta tropical no estado de Rondônia, no oeste do Brasil, entre 1986 e 2010 ( * Período que o Brasil foi Governado por Esquerdistas (NR))
O desmatamento na Amazônia tem sido notícia recentemente por causa da desregulamentação e do aumento do desmatamento de florestas no Brasil, mas vinha ocorrendo, talvez não tão rapidamente, por décadas. Esta animação mostra uma perda dramática de floresta tropical no estado de Rondônia, no oeste do Brasil, entre 1986 e 2010, observada por satélites.
Esta animação mostra a quebra de um enorme iceberg apelidado de A-74, capturado por imagens de radar de satélite
Um iceberg do tamanho de uma megacidade O manto de gelo da Antártica contém água congelada suficiente para elevar o nível global do mar em 58 metros se tudo acabasse no oceano. As plataformas de gelo flutuantes que circundam o continente agem como um amortecedor e barreira entre o oceano quente e o gelo interior, mas são vulneráveis ao aquecimento oceânico e atmosférico. Esta animação mostra a quebra de um enorme iceberg apelidado de A-74, capturado por imagens de radar de satélite que têm a vantagem de poder “ver” através das nuvens e operar dia ou noite e, portanto, não são afetadas pelas 24 horas de escuridão que ocorrem durante o inverno antártico. O iceberg que se forma tem 1.270 km² de área, quase do mesmo tamanho da Grande Londres. Esses exemplos ilustram apenas algumas maneiras pelas quais os dados de satélite estão fornecendo observações globais únicas de componentes-chave do sistema climático e da biosfera que são essenciais para nossa compreensão de como o planeta está mudando. Podemos usar esses dados para monitorar essas mudanças e melhorar os modelos usados para prever mudanças futuras. Na corrida para a importantíssima conferência climática da ONU, COP26 em Glasgow em novembro, meus colegas e eu produzimos um documento informativo para destacar o papel que os satélites de observação da Terra desempenharão na proteção do clima e de outros sistemas dos quais dependemos para torná-lo lindo , planeta frágil habitável. [*] Professor de Geografia Física, University of Bristol [**] As opiniões expressas neste artigo são exclusivamente do autor e não do Fórum Econômico Mundial.
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O aquecimento global gera mais aquecimento, segundo um novo estudo do paleoclima Os pesquisadores observam um “viés de aquecimento” nos últimos 66 milhões de anos, que pode retornar se as camadas de gelo desaparecerem por *MIT
Fotos: MIT News, Science Advances , Unsplash
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stá cada vez mais claro que as condições de seca prolongada, calor recorde, incêndios florestais sustentados e tempestades frequentes e mais extremas experimentadas nos últimos anos são um resultado direto do aumento das temperaturas globais causado pela adição humana de dióxido de carbono à atmosfera. E um novo estudo do MIT sobre eventos climáticos extremos na história antiga da Terra sugere que o planeta de hoje pode se tornar mais volátil à medida que continua a aquecer. O estudo, que aparece hoje na Science Advances , examina o registro paleoclimático dos últimos 66 milhões de anos, durante a era Cenozóica, que começou logo após a extinção dos dinossauros. Os cientistas descobriram que, durante este período, as flutuações no clima da Terra experimentaram um “viés de aquecimento” surpreendente. Em outras palavras, houve muito mais eventos de aquecimento - períodos de aquecimento global prolongado, com duração de milhares a dezenas de milhares de anos - do que eventos de resfriamento. Além do mais, os eventos de aquecimento tendem a ser mais extremos, com maiores mudanças de temperatura, do que os eventos de resfriamento.
O aquecimento global gera mais, aquecimento extremo. Pesquisadores do Paleoclima do MIT descobrem “tendência ao aquecimento”
Os pesquisadores dizem que uma possível explicação para esse viés de aquecimento pode estar em um “efeito multiplicador”, pelo qual um grau modesto de aquecimento - por exemplo, de vulcões liberando dióxido de carbono na atmosfera - naturalmente acelera certos processos biológicos e químicos que aumentam essas flutuações, levando, em média, a ainda mais aquecimento.
As condições de seca prolongada, calor sem precedentes, incêndios florestais sustentados e tempestades frequentes e mais extremas experimentadas nos últimos anos são o resultado direto do aumento das temperaturas globais
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Curiosamente, a equipe observou que esse viés de aquecimento desapareceu há cerca de 5 milhões de anos, na época em que as camadas de gelo começaram a se formar no hemisfério norte. Não está claro que efeito o gelo teve na resposta da Terra às mudanças climáticas. Mas, à medida que o gelo do Ártico atual diminui, o novo estudo sugere que um efeito multiplicador pode voltar, e o resultado pode ser uma amplificação adicional do aquecimento global induzido pelo homem. “As camadas de gelo do hemisfério norte estão encolhendo e podem desaparecer como uma consequência de longo prazo das ações humanas”, disse o principal autor do estudo, Constantin Arnscheidt, um estudante graduado do Departamento de Ciências da Terra, Atmosféricas e Planetárias do MIT. “Nossa pesquisa sugere que isso pode tornar o clima da Terra fundamentalmente mais suscetível a eventos de aquecimento global extremos e de longo prazo, como aqueles vistos no passado geológico.” O co-autor do estudo de Arnscheidt é Daniel Rothman, professor de geofísica do MIT e co-fundador e co-diretor do Lorenz Center do MIT.
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Um empurrão volátil Para sua análise, a equipe consultou grandes bancos de dados de sedimentos contendo foraminíferos bentônicos do fundo do mar - organismos unicelulares que existem há centenas de milhões de anos e cujas cascas duras são preservadas nos sedimentos. A composição dessas conchas é afetada pela temperatura do oceano à medida que os organismos crescem; as conchas são, portanto, consideradas um proxy confiável para as temperaturas antigas da Terra. Por décadas, os cientistas analisaram a composição dessas conchas, coletadas em todo o mundo e datadas de vários períodos de tempo, para rastrear como a temperatura da Terra flutuou ao longo de milhões de anos. “Ao usar esses dados para estudar eventos climáticos extremos, a maioria dos estudos se concentrou em grandes picos individuais de temperatura, normalmente de alguns graus Celsius de aquecimento”, diz Arnscheidt. “Em vez disso, tentamos olhar para as estatísticas gerais e considerar todas as flutuações envolvidas, em vez de escolher as grandes”. A equipe primeiro realizou uma análise estatística dos dados e observou que, nos últimos 66 milhões de anos, a distribuição das flutuações da temperatura global não se assemelhava a uma curva de sino padrão, com caudas simétricas representando uma probabilidade igual de calor extremo e frio extremo flutuações.
O derretimento do gelo pode levar a picos imprevisíveis nas temperaturas mundiais?
Em vez disso, a curva era visivelmente torta, enviesada em direção a eventos mais quentes do que frios. A curva também exibiu uma cauda notavelmente mais longa, representando eventos quentes que eram mais extremos, ou de temperatura mais alta, do que os eventos frios mais extremos. “Isso indica que há algum tipo de amplificação em relação ao que você esperaria de outra forma”, diz Arnscheidt.
Rupturas do ciclo do carbono-clima no início do Eoceno, conforme registrado em dados foraminíferos bentônicos
Uma média contínua de 1 Ma foi subtraída para isolar as flutuações abaixo de um milhão de anos. ( A e B ) Séries temporais e ( C e D ) histogramas dos pontos de dados. Os maiores hipertérmicos se manifestam como eventos extremos em uma distribuição de probabilidade empírica com uma cauda não gaussiana assimétrica [próximo aos asteriscos em (C) e (D)]. Essa assimetria quantifica um viés aparente em direção a eventos extremos envolvendo o aquecimento global e a oxidação do carbono orgânico. Observe que os eixos verticais diminuem para cima.
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“Tudo aponta para algo fundamental que está causando esse impulso, ou tendência para eventos de aquecimento.” “É justo dizer que o sistema terrestre se torna mais volátil, no sentido do aquecimento”, acrescenta Rothman.
Um multiplicador de aquecimento A equipe se perguntou se esse viés de aquecimento pode ter sido resultado de “ruído multiplicativo” no ciclo do carbono-clima. Os cientistas há muito entenderam que temperaturas mais altas, até certo ponto, tendem a acelerar os processos biológicos e químicos. Como o ciclo do carbono, que é um fator-chave para as flutuações climáticas de longo prazo, é ele próprio composto de tais processos, os aumentos de temperatura podem levar a flutuações maiores, enviesando o sistema para eventos de aquecimento extremo. Na matemática, existe um conjunto de equações que descreve esses efeitos amplificadores gerais ou multiplicativos. Os pesquisadores aplicaram essa teoria multiplicativa à sua análise para ver se as equações poderiam prever a distribuição assimétrica, incluindo o grau de inclinação e o comprimento de suas caudas. No final, eles descobriram que os dados e o viés observado para o aquecimento poderiam ser explicados pela teoria multiplicativa. Em outras palavras, é muito provável que, nos últimos 66 milhões de anos, períodos de aquecimento modesto tenham sido, em média, ainda mais intensificados por efeitos multiplicadores, como a resposta de processos biológicos e químicos que aqueceram ainda mais o planeta.
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Resultados do modelo numérico
( A ) Conjunto de 100 trajetórias obtidas forçando o modelo estocástico do ciclo do clima-carbono com variações de excentricidade de 400 ka. Uma única trajetória é destacada em preto. O modelo gera um espectro completo de variabilidade com eventos extremos do tipo hipertérmico ( excursões negativas emparelhadas de δ 18 O e δ 13 C) que têm uma tendência a ocorrer perto de máximos de excentricidade, consistente com as observações. ( B ) Valores de assimetria e curtose para as diferentes trajetórias de conjunto, juntamente com o limite para funções de densidade de probabilidade unimodal, o limite de ruído CAM multivariável, e a relação para a distribuição lognormal; observamos um comportamento semelhante às observações do pré-Plioceno. ( C ) Gráfico de dispersão de δ 18 O versus δ 13 C de toda a saída do modelo junto com uma regressão linear e as linhas de regressão correspondentes para as observações pré-Plioceno; há novamente um bom acordo.
Como parte do estudo, os pesquisadores também analisaram a correlação entre os eventos de aquecimento anteriores e as mudanças na órbita da Terra. Ao longo de centenas de milhares de anos, a órbita da Terra em torno do Sol torna-se regularmente mais ou menos elíptica. Mas os cientistas se perguntam por que muitos eventos anteriores de aquecimento parecem coincidir com essas mudanças, e por que esses eventos apresentam um aquecimento descomunal em comparação com o que a mudança na órbita da Terra poderia ter causado por conta própria. Assim, Arnscheidt e Rothman incorporaram as mudanças orbitais da Terra ao modelo multiplicativo e sua análise das mudanças de temperatura da Terra, e descobriram que efeitos multiplicadores poderiam amplificar previsivelmente, em média, os aumentos modestos de temperatura devido a mudanças na órbita da Terra. “O clima aquece e esfria em sincronia com as mudanças orbitais, mas os próprios ciclos orbitais prevêem apenas mudanças modestas no clima”, diz Rothman. “Mas se considerarmos um modelo multiplicativo, o aquecimento modesto, emparelhado com esse efeito multiplicador, pode resultar em eventos extremos que tendem a ocorrer ao mesmo tempo que essas mudanças orbitais”. “Os humanos estão forçando o sistema de uma nova maneira”, acrescenta Arnscheidt. “E este estudo está mostrando que, quando aumentamos a temperatura, provavelmente iremos interagir com esses efeitos amplificadores naturais.” Esta pesquisa foi apoiada, em parte, pela Escola de Ciências do MIT.
Eles descobriram uma tendência de aquecimento desconhecida na história da Terra
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Enchentes e tempestades dominaram os desastres naturais nos últimos 50 anos Fotos: Unicef/Patrick Brown, Unsplash/Alex Mertz, Unsplash/Claudio Schwarz
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nálise da Organização Meteorológica Mundial mostra que perdas econômicas ultrapassaram US$ 630 bilhões; província da China registrou em poucos dias um volume de chuvas esperado para o ano todo. Uma análise da Organização Meteorológica Mundial, OMM, mostra que enchentes e tempestades dominaram a lista de desastres naturais nos últimos 50 anos. O impacto é histórico tanto em relação às mortes quanto aos prejuízos econômicos. Os desastres que mais ceifaram vidas foram as secas, com 605 mil. A seguir estão as tempestades que causaram mais de 577 mil óbitos, as enchentes com 58,7 mil, e as temperaturas extremas com 55,7 mil óbitos.
Equipes de resgate retiram moradores das águas das enchentes na província chinesa de Henan
Economia O Atlas da Mortalidade e das Perdas Econômicas devido ao Clima traz dados de 1970 a 2019. Neste período, as tempestades causaram prejuízos na ordem dos US$ 521 bilhões. As perdas com as cheias chegaram a US$ 115 bilhões. A OMM destaca que no período analisado, os desastres ligados ao clima e aos perigos da água foram responsáveis por 45% das mortes e de 74% dos prejuízos econômicos em nível global. Ao lançar o relatório, em Genebra, o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, mencionou “as chuvas torrenciais e as enchentes destruidoras que causaram, recentemente, mortes tanto na Europa como na China”.
Menino carregando àgua em Cox’s Bazar. As chuvas já deixaram milhares de desabrigados
Moçambique é o terceiro país africano mais vulnerável a desastres naturais ocorrido no caso de chuvas de grande proporção que provoquem risco de inundações
Onda de Calor Taalas também destacou as ondas de calor na América do Norte, que estão ligadas ao aquecimento global. O chefe da OMM explicou que a atmosfera tem ficado mais quente, com mais umidade. Como consequência, chove mais forte e os riscos de enchentes aumentam. De acordo com Taalas, nenhum país está imune, pois a “mudança climática está aqui e acontecendo agora”. A OMM destaca alguns eventos extremos que aconteceram recentemente na Europa e na Ásia.
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Alemanha e China Na Alemanha, o volume de chuvas registrado entre os dias 14 e 15 de julho foi o equivalente a dois meses de precipitação. Além da Alemanha, as enchentes atingiram Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Suíça, causando dezenas de mortes. Nesta semana, as cheias causaram estragos na China. Na província de Zhengzhou caiu no espaço de seis horas uma quantidade de chuvas geralmente registrada em seis meses.Entre os dias 17 e 21 de julho, o acúmulo de chuvas na província chinesa de Henan foi maior do que a média anual, causando enchentes. Segundo a OMM, 600 estações meteorológicas registraram um volume recorde de chuvas na China.
Estudos nos EUA apontam para a influência de mudanças climáticas nas recentes ondas de calor
As inundações afetaram cidades em toda a Europa, incluindo Zurique, na Suíça
Balanço Europeu Segundo a agência, vários estudos confirmam a influência humana nesses eventos chuvosos extremos. Mas apesar das tragédias serem recorrentes, o total de mortes por desastres naturais está caindo no geral, graças a melhorias nos sistemas de alerta e de resposta aos desastres. A Europa, por exemplo, registrou 1,672 desastres e mais de 159 mil mortes entre 1970 e 2019. Os prejuízos causados por enchentes, tempestades e temperaturas extremas bateram os US$ 476,5 bilhões. Duas grandes ondas de calor em 2003 e 2019 foram responsáveis quase 128 mil mortes no continente europeu. Esta imagem tirada na sexta-feira, 16 de julho de 2021, mostra um enorme sumidouro causado por inundações no distrito de Blessem de Erftstadt, Alemanha
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[*] Em ONU News
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Mudanças climáticas e outras ideias potencialmente ambíguas Desambiguação: Em uma redação descomplicada e fácil de subestimar, desambiguar significa tornar claro por *Alan Kandel Ao longo de bilhões de anos de história da Terra, o clima tem sido tudo menos estável
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omo a maioria, já fui educado em questões de como escrever, formar uma frase, partes de frases, pontuação, gramática e assim por diante. Sem o contexto adequado ou um quadro de referência adequado a esse respeito, as coisas podem ficar bastante confusas, muito rapidamente, como descobri durante meus muitos anos de instrução pública. Em relação às especificidades de disciplinas matemáticas, médicas, científicas, sociológicas, tecnológicas e até mesmo de história, pode ser difícil compreender algumas ideias associadas a essas áreas de estudo.
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O mesmo pode ser dito em relação à noção de mudança climática. Peça às pessoas que forneçam sua definição do que é mudança climática - outra maneira de dizer a mesma coisa é perguntar aos indivíduos o que a mudança climática significa para eles - e provavelmente, na maioria das vezes, a resposta dada terá algo a ver com o aquecimento global ou talvez, em segundo lugar, uma mudança nas condições climáticas causada pelo homem. E, sem dúvida, no mundo que existe hoje, isso certamente seria esperado.
Se essas mesmas perguntas tivessem sido feitas 200 anos atrás, a resposta universal, sem dúvida, teria sido decididamente diferente. Um como uma mudança nas condições climáticas ou estado climatológico. A diferença entre as definições “então” e “agora” é, senão outra coisa, distinta. Todos nós temos nossas próprias ideias sobre o que é o clima. Chame isso de condições climáticas de estado estacionário com variabilidade leve a moderada. Na realidade, ao longo de bilhões de anos de história da Terra, o clima tem sido tudo menos estável. O que pode ter sido considerado estável ou estável durante a última era glacial, está muito longe do que a humanidade experimentou de cerca de 10.000 anos atrás (quando a última era glacial terminou) até hoje. Desde o início das eras glaciais até o seu fim, historicamente, há muita variabilidade não apenas no clima, mas também na temperatura e no tempo. Nem é preciso dizer que clima, temperatura e tempo são ideias distintas. Depois, há essa construção da tão citada crise climática. Essa referência, na verdade, com referência ao uso comum, é um termo impróprio, pois tem mais a ver com uma crise relacionada a um clima em mudança do que apenas com o próprio clima. Todos nós sabemos o significado de crise - ou emergência - portanto, não há necessidade de entrar em detalhes sobre isso. Isso traz essa discussão para a noção de clima descontrolado. Existe uma coisa dessas? A Terra tem 4,5 bilhões de anos. Períodos ou, mais especificamente, divisões de tempo geológico, foram identificados. Em ordem cronológica, do mais antigo ao mais recente, são os Pré-cambrianos, Paleozóico, Mesozóico e Cenozóico. Cerca de 65 milhões de anos atrás foi quando o Mesozóico fez a transição para a era Cenozóica. Foi também nessa época que um asteróide de tamanho considerável atingiu a Terra na área da Península de Yucatán, no México. O impacto teria sido responsável pela criação de uma cratera de 160 quilômetros de diâmetro.
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As divisões de tempo geológico
Como resultado, os destroços encheram o céu em grande parte do mundo, a atmosfera esfriou e grande parte do reino dos dinossauros foi extinto, após o que os mamíferos começaram sua ascensão e proliferaram. Em nenhum momento neste período de desenvolvimento geológico a Terra já experimentou um clima descontrolado ou aquecimento global descontrolado ou resfriamento, pelo que sabemos. Pode acontecer um aquecimento global descontrolado ou resfriamento global descontrolado? A resposta é, claro, sim. O consenso científico é que um dia nosso Sol se extinguirá.
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Climatologista, meteorologista e engenheiro Pode haver alguma confusão em relação a cada um desses títulos: climatologista, meteorologista e engenheiro. Climatologia é o estudo dos climas ou condições climáticas. Portanto, um climatologista é aquele que estudou extensivamente a climatologia. Isso não deve ser confundido com a meteorologia, que é o estudo do clima, do tempo e da atmosfera.
Portanto, um meteorologista é aquele que estudou extensivamente a meteorologia. Depois, há engenharia. Esta é a aplicação prática da matemática e da ciência, uma das definições da engenharia. E, então, por definição, um engenheiro é aquele que estudou extensivamente a engenharia. Interessante e ao mesmo tempo estranho é que a palavra motor tem referência limitada, pois tem a ver com engenheiro. Em um contexto relacionado, você pode imaginar se o termo “aplicador prático” tivesse se tornado o título aceito para engenheiro? Uh, pessoalmente, não.
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Degelo do permafrost libera gases de efeito estufa do subsolo Liberação de metano de formações rochosas de carbonato na área de permafrost da Sibéria durante e após a onda de calor de 2020 por *Universidade de Bonn Fotos: GHGSat / © N. Froitzheim & D. Zastrozhnov, usando dados do GHGSat, (Imagem de satélite (ArcGIS World Imagery).
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uais os efeitos da onda de calor do verão de 2020 na Sibéria? Em um estudo conduzido pela Universidade de Bonn (Alemanha), geólogos compararam a distribuição espacial e temporal das concentrações de metano no ar do norte da Sibéria com mapas geológicos. Resultado: as concentrações de metano no ar após a onda de calor do ano passado indicam que o aumento das emissões de gases veio de formações calcárias. O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Solos permafrost permanentemente congelados cobrem grandes áreas do hemisfério norte, especialmente no norte da Ásia e na América do Norte. Se eles descongelarem em um mundo em aquecimento, isso pode representar perigos, porque CO2 e metano são liberados durante o descongelamento - e amplificam o efeito antropogênico de gases de efeito estufa. “O metano é particularmente perigoso aqui porque seu potencial de aquecimento é muitas vezes maior do que o do CO2, ”Explica o Prof. Dr. Nikolaus Froitzheim do Instituto de Geociências da Universidade de Bonn.
Esquerda: Imagem de satélite do Norte da Sibéria. Duas áreas de calcário paleozóico são marcadas com linhas tracejadas amarelas. Superior direito: concentração de metano medida por satélite em maio de 2020; inferior direito: em agosto de 2020.
Os pessimistas, portanto, já falaram de uma “bomba de metano” iminente. No entanto, a maioria das projeções anteriores mostrou que os gases de efeito estufa
Concentrações atmosféricas de metano no norte da Sibéria durante 2020–2021, do mapa PULSE (pulse.ghgsat.com/ ). Observe dois máximos alongados de concentração de metano (setas) coincidindo com áreas de afloramento de carbonato e aumento da concentração em toda a região de março a abril de 2021. A curva mostra médias mensais de temperatura de 2m na Sibéria (55° N – 76° N, 70° E – 180° E) durante o período de estudo (climatereanalyzer.org/).
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do degelo do permafrost contribuirão com “apenas” cerca de 0,2 graus Celsius para o aquecimento global em 2100. Essa suposição foi agora contestada por um novo estudo de Nikolaus Froitzheim e seus colegas Jaroslaw Majka (Cracóvia / Uppsala) e Dmitry Zastrozhnov (São Petersburgo). A maioria dos estudos anteriores tratou apenas das emissões da decomposição de restos de plantas e animais nos próprios solos permafrost. Em seu estudo atual, pesquisadores liderados por Nikolaus Froitzheim fizeram uma comparação entre as concentrações de metano no ar da Sibéria, determinadas por espectroscopia baseada em satélite, e mapas geológicos. Eles encontraram concentrações significativamente elevadas em duas áreas do norte da Sibéria - o Cinturão de Dobra de Taymyr e a borda da Plataforma Siberiana. O que é surpreendente nessas duas áreas alongadas é que a rocha-mãe é formada por formações calcárias da era Paleozóica (o período de cerca de 541 milhões de anos atrás até cerca de 251,9 milhões de anos atrás).
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Os cientistas agora planejam investigar essa hipótese por meio de medições e cálculos de modelo para descobrir quanto e com que rapidez o gás natural pode ser liberado. “As quantidades estimadas de gás natural na subsuperfície do Norte da Sibéria são enormes. Quando partes disso forem adicionadas à atmosfera após o degelo do permafrost, isso pode ter impactos dramáticos no clima global já superaquecido ”, enfatiza Niko Froitzheim.
Instituições participantes: Geologia da Península de Taymyr, no norte da Sibéria. (A) Imagem de satélite (ArcGIS World Imagery). Formações rochosas de carbonato em ambos os lados da Bacia Yenisey-Khatanga visíveis como faixas de cores claras. Contornos de anomalias de concentração de metano na atmosfera indicados como linhas tracejadas amarelas. ( B ) Mapa geológico simplificado. Observe a estreita coincidência de formações de carbonato e anomalias de metano.
Em ambas as áreas, as concentrações elevadas apareceram durante a onda de calor extrema no verão de 2020 e persistiram por meses depois. Mas como o metano adicional ocorreu em primeiro lugar? “As formações de solo nas áreas observadas são muito finas ou inexistentes, tornando improvável a emissão de metano a partir da decomposição da matéria orgânica do solo”, diz Niko Froitzheim. Ele e seus colegas, portanto, sugerem que os sistemas de fratura e cavidade no calcário, que haviam sido obstruídos por uma mistura de gelo e hidrato de gás, tornaram-se permeáveis com o aquecimento. “Como resultado, o gás natural sendo principalmente metano de reservatórios dentro e abaixo do permafrost pode atingir a superfície da Terra”, diz ele.
As universidades de Bonn, Uppsala e AGH Cracóvia, bem como o Instituto Russo de Pesquisa Geológica Karpinsky em São Petersburgo, estiveram envolvidas no estudo.
O permafrost ártico não está descongelando gradualmente, como os cientistas previram. Geologicamente falando, está derretendo quase da noite para o dia. À medida que solos como os de Duvanny Yar amolecem e diminuem, eles estão liberando vestígios de vida antiga - e massas de carbono - que ficaram presos em terra congelada por milênios
A onda de calor do verão de 2020 na Sibéria levou a um aumento nas emissões de gás metano dos calcários, o que poderia resultar em uma ‘bomba de metano’
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Sol artificial que poderia fornecer energia ao nosso planeta é criado por uma start-up britânica A Tokamak Energy, em Oxfordshire (competindo contra a Amazon e a Lockheed Martin) está tentando recriar a fusão nuclear, o processo que faz as estrelas queimarem - um objetivo no qual as empresas de energia vêm trabalhando há décadas. A eletricidade fornecida seria limpa, barata e imune às mudanças climáticas
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entenas de vezes por mês, um cientista britânico sentado em uma sala de controle de alta tecnologia em um parque industrial no Vale do Tamisa, perto de Didcot, clica no mouse do computador. Cada vez que ele faz isso, um feixe de partículas subatômicas de alta energia é disparado em uma nuvem escura e rodopiante de gás hidrogênio superaquecido, conhecido como plasma, contido em um tanque esférico de aço de cerca de 2 metros de diâmetro. O plasma imediatamente acende e brilha e naquele ponto acaba de se tornar o lugar mais quente do sistema solar, mais quente ainda que o núcleo do sol - ou seja, mais de 15 milhões de graus centígrados. Apenas um sistema de eletroímãs imensamente poderosos impede que o recipiente que contém o plasma seja vaporizado instantaneamente. O cientista, que trabalha para a startup de alta tecnologia Tokamak Energy, faz parte de uma equipe de especialistas líderes mundiais que tenta recriar a fusão nuclear, o processo que faz as estrelas queimarem - para a fusão de dois átomos de hidrogênio para formar um de hélio, libera grandes quantidades de energia. Acelerando o desenvolvimento da fusão potência, desenvolvendo a última geração de alta temperatura ímãs supercondutores. O tokamak é um de vários tipos de dispositivo de confinamento magnético, e de longe o mais pesquisado classe para a produção de energia de fusão controlada
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Fotos: Tokamak Energy
Aproveitar a fusão em escala comercial tem sido o santo graal do setor de tecnologia de energia desde os anos 1930. Agora, esse objetivo não é mais fantasia de ficção científica, mas um fato científico que se aproxima rapidamente. E a boa notícia é que a Tokamak Energy, uma empresa britânica, é líder mundial na corrida para desenvolver um dispositivo de fusão comercialmente viável que revolucionará o setor de geração de energia. Ao contrário de um reator de fissão nuclear convencional - no qual a energia é liberada pela divisão de átomos de urânio - uma usina de fusão nunca poderia derreter como o reator no horrível drama de TV da vida real de 2019 sobre o desastre de Chernobyl em 1986, que liberou uma pluma radioativa que tornou a paisagem circundante insegura para habitação humana por décadas. revistaamazonia.com.br
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Um reator de fusão que não funcionasse bem simplesmente esfriaria à medida que o processo de fusão acabasse. Além disso, o combustível de um reator de fusão seria inesgotável e inimaginavelmente barato, pois sua matéria-prima, o hidrogênio, pode ser derivado da água do mar. Também teria benefícios ambientais incalculáveis. Para começar, soaria o toque de morte para o motor de combustão interna e os gases nocivos do efeito estufa que ele expele. E versões menores e portáteis poderiam até mesmo ser usadas para fornecer energia a aviões comerciais e navios porta-contêineres, eliminando outra fonte importante de emissões de CO2. O calor produzido por um reator de fusão pode ser aproveitado por um dispositivo - inventado por uma equipe da Autoridade de Energia Atômica do Reino Unido, também com sede em Oxfordshire - chamado de divertor. Isso seria usado para aquecer o vapor para acionar uma turbina e, assim, gerar eletricidade que acionaria as hélices. A eletricidade produzida pela fusão não seria apenas carbono zero, mas - ao contrário da energia eólica e dos painéis solares - imune às mudanças climáticas.
A gaiola magnética controla a forma e a posição do plasma quente
Cortes transversais do dispositivo ST40 construído pela Tokamak Energy, com diferentes partes destacadas: bobinas poloidais (esquerda), bobinas toroidais (centro) e região de confinamento de plasma (direita)
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O plasma em um reator de fusão em Oxfordshire pode ficar mais quente do que o centro do Sol - ou seja, mais de 15 milhões de graus centígrados
Tanto para o sonho. Mas como os céticos da fusão adoram zombar, por maior que seja o esforço científico e o progresso aparente, o poder da fusão sempre permanece a pelo menos ‘50 anos de distância’. De acordo com o co-fundador e vice-presidente da Tokamak Energy, Dr. David Kingham, essa afirmação negativa não é mais verdadeira. Dentro de alguns meses, diz ele, o atual reator Didcot - conhecido como ST 40 passará por um marco importante, quando seu plasma atingir os surpreendentes 100 milhões de graus centígrados - mais de seis vezes mais quente que o coração do sol. Ele insiste que a empresa está a caminho de entregar as primeiras usinas de fusão nuclear comerciais do mundo até o final dos anos 2030. Não apenas um, mas muitos deles, a serem “implantados globalmente” usando a ciência pioneira na Grã-Bretanha e feita em uma linha de produção britânica, cada máquina capaz de uma produção constante de 150 MW - o suficiente para abastecer uma cidade de 150.000 pessoas, como nas proximidades Oxford. O otimismo do Dr. Kingham está sendo levado a sério, tanto por governos quanto por investidores. O secretário de Negócios, Energia e Estratégia Industrial, Kwasi Kwarteng, deve visitar a fábrica de Didcot hoje e anunciará que o Tokamak - apoiado até hoje por £ 150 milhões de investidores privados e um recente subsídio do governo de £ 10 milhões - está prestes a se expandir dramaticamente. Sua força de trabalho atual de 165 - que inclui cientistas de renome da Grã-Bretanha e de todo o mundo - deve dobrar até o final do ano que vem, com a inauguração de novos laboratórios e workshops. Recentemente, o Dr. Kingham deu um tour exclusivo da fábrica da empresa e do reator de 100 milhões de graus, uma embarcação de aço com o dobro da altura de um homem cercada por uma série de tubos, cabos e sensores.
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Enquanto caminhávamos, ele explicou que a chave para o sucesso da empresa são duas inovações críticas.
Outros reatores usam eletroímãs para conter o plasma. Eles são feitos com supercondutores - materiais que não oferecem resistência à corrente elétrica quando resfriados a quase zero absoluto, menos 273c. Mas sustentar essas temperaturas baixas consome uma quantidade enorme de energia - tanto que é provável que consuma grande parte da produção do reator. Para combater este problema, a Tokamak Energy desenvolveu e patenteou ímãs supercondutores de alta temperatura que consomem apenas um décimo da energia, usando uma substância conhecida como Óxido de Cobre de Bário de Terras Raras. Sua segunda inovação é o formato do reator - como uma maçã sem caroço. Projetos anteriores eram donuts vazados. Essa mudança torna os projetos da empresa muito mais eficientes.
Este ímã HTS atingiu um campo magnético recorde de 24,4 T a uma temperatura de 21K
A Tokamak Energy está na terceira etapa, aprimorado o ST40, visa atingir temperaturas de fusão de 100 milhões de graus
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Derretimento do gelo: Limitar o aquecimento global a 1,5° C pode reduzir o aumento do nível do mar em 50% Contribuições projetadas do gelo terrestre para o aumento do nível do mar no século XXI
A
contribuição do gelo terrestre para o aumento global médio do nível do mar ainda não foi prevista usando mantos de gelo e modelos de geleira para o último conjunto de cenários socioeconômicos, nem usando exploração coordenada de incertezas decorrentes dos vários modelos de computador envolvidos. Dois projetos internacionais recentes geraram um grande conjunto de projeções usando vários modelos, mas usaram principalmente cenários e modelos climáticos da geração anterior e não puderam explorar totalmente as incertezas conhecidas. Limitar o aquecimento global a 1,5 C poderia reduzir pela metade o aumento do nível do mar devido ao derretimento dos mantos de gelo neste século, de acordo com um novo estudo importante que modelou como os espaços congelados da Terra responderão às crescentes emissões de gases do efeito estufa. Desde 1993, o derretimento do gelo terrestre contribuiu para pelo menos metade do aumento global do nível do mar e os cientistas já haviam alertado que as vastas camadas de gelo da Antártica estavam desaparecendo mais rápido do que o pior cenário.
Fotos: Henrique Setim / Unsplash, Nature, VCG
Pontos da grade oceânica envolvidos no forçamento de água doce pelo tercil do fluxo integrado de água doce (colorido), outros pontos da grade oceânica (cinza) e pontos da grade terrestre (branco)
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Anomalias DSL (cm) sob o cenário de derretimento de gelo HE e para condições de linha de base pré-industrial, em média ao longo dos anos 2000-2099. As anomalias são relativas ao período simultâneo do controle de filtro passa-baixa.
Painel (a): média das três simulações forçadas. Os painéis (b), (c) e (d) mostram as três simulações separadamente. As regiões coloridas mostram onde as anomalias são maiores que 2 σ da distribuição da simulação de controle. Um critério mais estrito é aplicado a (a): Observe que os padrões mostrados são anomalias em dois sentidos: primeiro, porque são relativos ao período simultâneo do controle filtrado de passagem baixa e, segundo, porque excluem qualquer alteração no nível médio global do mar.
Uma equipe internacional de mais de 50 cientistas do clima combinou centenas de simulações de derretimento das camadas de gelo da Antártica e da Groenlândia, que contêm água congelada suficiente para elevar os mares do mundo a cerca de 65 metros. Eles também incluíram modelagem de derretimento de mais de 220.000 geleiras da Terra, que representam apenas 1% do gelo do planeta, mas contribuem com até um quinto do aumento do nível do mar.
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A equipe analisou os modelos para chegar a estimativas de probabilidade de quanto gelo derretido aumentaria os oceanos sob uma variedade de vias de emissões. Eles descobriram que se a humanidade limitar com sucesso o aquecimento a 1,5 C - a meta estabelecida no acordo climático de Paris - poderia reduzir pela metade a contribuição do gelo para o aumento do nível do mar até 2100. Isso é comparado com os cerca de 3 C
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de aquecimento que a Terra sofreria se os países ‘ as atuais promessas de corte de emissões foram cumpridas. “O nível global do mar vai continuar subindo”, disse o principal autor do estudo, Tamsin Edwards, do departamento de geografia do King’s College London. “Mas poderíamos reduzir pela metade essa contribuição do derretimento do gelo se limitarmos o aquecimento a 1,5 graus C, em relação às promessas atuais”.
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O estudo (Projected land ice contributions to twenty-first-century sea level rise) , publicado na revista Nature, descobriu que a contribuição média para o aumento do nível do mar do gelo derretido a 1,5 C era de 13 centímetros em 2100, em comparação com os 25 centímetros projetados atualmente. A análise mostrou que o aumento do nível do mar atribuído ao manto de gelo da Groenlândia cairia 70 por cento se a meta de 1,5 C fosse atingida, e a contribuição das geleiras terrestres cairia aproximadamente pela metade. No entanto, as projeções eram menos claras e variavam amplamente quando se tratava da Antártica. A co-autora Sophie Nowicki, do Goddard Flight Center da NASA, disse que a incerteza nos modelos é em grande parte reduzida até que ponto o aumento da neve em um continente em aquecimento compensaria o derretimento das plataformas de gelo. “A Groenlândia é realmente sensível às mudanças atmosféricas e, portanto, em um mundo mais quente, há mais derretimento na superfície das camadas de gelo”, disse Nowicki. “Na Antártida é muito complexo. Um mundo mais quente pode significar mais neve, mas também pode significar mais derretimento na lateral do manto de gelo.” Os cálculos mostraram uma chance de 95 por cento de que a Antártica contribuiria com menos de 56 centímetros para o aumento do nível do mar até 2100. A contribuição antártica projetada não mostra uma resposta clara ao cenário de emissões, devido às incertezas nos processos concorrentes de aumento da perda de gelo e acúmulo de neve em um clima de aquecimento. No entanto, sob suposições de aversão ao risco (pessimista), a perda de gelo da Antártica poderia ser cinco vezes maior, aumentando a contribuição do gelo terrestre
As mudanças em torno da Antártica da temperatura média do oceano (cor) e função do fluxo barotrópico (contornos em Sv). As anomalias são a média do conjunto de derretimento do gelo nos últimos 40 anos, como referência aos anos equivalentes de suas simulações de controle não forçadas
mediano para 42 centímetros SLE sob as políticas e promessas atuais, com a projeção do percentil 95 excedendo meio metro, mesmo
abaixo de 1,5 graus Celsius aquecimento. Isso limitaria severamente a possibilidade de mitigar futuras inundações costeiras.
O filhote de urso polar brinca com uma folha de plástico em Svalbard, um arquipélago norueguês a meio caminho entre o continente e o Pólo Nortennn
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Rios de fluxo livre do mundo
A maioria dos rios e riachos seca todos os anos
Mais da metade dos rios do mundo param de fluir por pelo menos um dia por ano em média por *Kristin L. Jaeger
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m modelo dos rios e riachos do mundo foi desenvolvido para prever quais desses cursos d’água fluem durante todo o ano e quais secam. A análise mostra que os rios e riachos que secam são onipresentes em todo o mundo. As águas correntes dos rios de superfície e riachos transportam com eficiência sedimentos, matéria orgânica e
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Fotos: Bertrand Launay, INRAE. McGill University, Nature
nutrientes, entre outras coisas, das encostas e áreas terrestres para lagos a jusante, reservatórios e o oceano. Ao longo do caminho, rios e riachos (doravante referidos coletivamente como riachos) fornecem recursos importantes para nossas comunidades e sustentam ecossistemas ricos e complexos. Riachos não perenes, que não fluem o ano todo, são cruciais neste contexto. No entanto,
como os riachos não perenes são fontes menos confiáveis de água de superfície do que os perenes, eles são menos bem estudados do que seus correspondentes perenes. Escrevendo na Nature , Messager et al, forneçem uma estimativa muito necessária da proporção total da rede de rios do mundo, por extensão, que não é perene - e descubra que a maioria se enquadra nesta categoria.
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Distribuição espacial e magnitude dos indicadores de pressão a – f Indicadores individuais dentro de sua faixa de ocorrência, entre 0% e 100%. Os esquemas de cores não são lineares e variam entre os indicadores. Os tons de azul representam a magnitude da vazão do rio para trechos do rio com valores de pressão de 0% (ou seja, tons mais escuros para rios maiores).
Messager e colegas combinaram dados de fluxo de rios de locais ao redor do mundo com informações que descrevem a hidrologia, clima, geografia física e cobertura da terra nesses locais, para modelar a probabilidade de que a água não flua por pelo menos um dia por ano. Eles então expandiram suas previsões para todos os segmentos de riachos registrados em um banco de dados de rede de riachos global (RiverATLAS). Os autores relatam que 5160% dos riachos do mundo não fluem por
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pelo menos um dia por ano, e que 44-53% do comprimento global do rio fica seco por pelo menos um mês (cerca de 30 dias) a cada ano. Sua modelagem mostra que riachos não perenes ocorrem em todos os climas e biomas em todos os continentes (ver Fig. 1 do artigo 1) O modelo também mostra que 95% da rede de riachos em regiões quentes e secas - que representam 10% da massa terrestre global - seca a cada ano (Fig. 1). Surpreendentemente, até mesmo segmentos de grandes rios, como o rio
Níger na África Ocidental, estão previstos para secar nessas regiões áridas. A vasta prevalência de riachos não perenes em tais locais destaca como até mesmo riachos que não fluem continuamente afetam substancialmente a disponibilidade e a qualidade da água. Os resultados enfatizam a necessidade de mapas mais detalhados de fluxos perenes e não perenes em escalas regionais e locais, e para estudos adicionais de como os riachos não perenes afetam a disponibilidade e qualidade geral da água.
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Ingresso. Rio seco
Pequenos riachos de cabeceira (aqueles que não têm afluentes) representam 70–80% do comprimento do rio em todo o mundo, semelhante à maneira como o comprimento coletivo dos dedos de uma pessoa é muito maior do que o comprimento da palma da mão. O modelo de Messager e colegas de trabalho prevê que, mesmo nas regiões mais úmidas, como a bacia do rio Amazonas e partes da África central e sudeste da Ásia, até 35% desses córregos de cabeceira param de fluir em algum momento do ano. No entanto, deve-se notar que os riachos de cabeceira são monitorados por relativamente poucos medidores de riachos, que tendem a estar localizados em rios perenes maiores a jusante.
O modelo pode, portanto, fornecem estimativas altamente incertas para as regiões a montante das redes de fluxo. A falta de dados de fluxo de água é um problema comum para a modelagem de córregos de cabeceira e, portanto, esforços de coleta de dados estão sendo implementados para preencher essa lacuna de conhecimento. Por exemplo, a França desenvolveu a rede Observatoire National des Étiages (ONDE), que complementa a rede de medição de fluxo nacional, mas se concentra em fluxos de cabeceira. No entanto, esses programas são caros e requerem um investimento considerável de recurso. Medidores de fluxo também são escassos para fluxos não perenes em geral.
Na análise de Messager e colegas, por exemplo, não havia medidores em riachos não perenes na Argentina; apenas um na Nova Zelândia; e 10 no Noroeste do Pacífico dos Estados Unidos, em uma rede de 250 medidores. Para melhorar os modelos que mapeiam fluxos perenes e não perenes, observações de campo de baixo custo serão necessárias, juntamente com o desenvolvimento de tecnologia de sensoriamento remoto de alta resolução que detecta frequentemente - ou pelo menos prevê - o fluxo de superfície em fluxos. A análise de Messager e colegas de trabalho fornece uma confirmação quantitativa robusta da onipresença dos rios não perenes.
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O mesmo rio durante o período de seca
Seus resultados indicam a necessidade de uma mudança fundamental nos campos de ciência e gestão de rios e riachos, nos quais riachos não perenes foram amplamente negligenciados. Em regiões áridas, a predominância de riachos não perenes pode ser um grande impulsionador da disponibilidade e qualidade da água. E em áreas onde os serviços desenvolvidos por humanos não estão prontamente disponíveis, os serviços ecossistêmicos, como água corrente em riachos, são
usados para atender às necessidades básicas e irão, em parte, determinar o bem-estar e a prosperidade das pessoas nessa área. As novas descobertas, portanto, apontam para a necessidade de contabilidade global de ambos os rios perenes e não perenes. Além disso, mudanças na distribuição dos riachos podem ter impactos de longo alcance nos ciclos do carbono e biogeoquímicos em escalas globais e continentais, e na sobrevivência de organismos que vivem nos
riachos, incluindo muitas espécies ameaçadas de extinção. Uma referência global da prevalência de riachos perenes e não perenes é, portanto, crucial para avaliar os efeitos de mudanças futuras em sua distribuição associadas às mudanças climáticas e do uso da terra. Finalmente, modelos regionais e locais de riachos são necessários, bem como melhores dados para cabeceiras e porções não perenes da rede de riachos, para aumentar ainda mais o valor dos modelos globais.
Rios perenes e não perenes. Rios e riachos que não fluem o ano todo ocorrem em todos os climas e em todos os continentes, sejam eles riachos alimentados por neve do Himalaia, wadis do Saara que apenas ocasionalmente se enchem de água, rios de quilômetros de largura no subcontinente indiano ou pequenas florestas córregos da Colúmbia Britânica
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