Revista Auê #50 Dezembro

Page 1

CAPA






ll

l l 50

08 10 14 16 18 24 28 32 36 O OLHAR DO EMPREENDEDOR

LITERATURA

REFLEXÃO

RELACIONAMENTO

NA CAPA

POLÍTICA

SOCIEDADE

COMPORTAMENTO

CRÔNICA

Projeto gráfico: Douglas Augusto/ Rodrigo Holtermann Foto capa: Guilherme Bays Atendimento: Kleber José - 61 9 9975 0607

Kleber José

Circulação: Formosa GO e região

Editor chefe

@revistaaue /revistaaue

Revista Auê, um produto Cerrado Comunicação Avenida Shis Qd16 Nº4, St. Primavera Formosa-GO Fale conosco; sugestões, dúvidas e críticas: auerevista@gmail.com - 61 3642 1151 / 61 9 9975 0607 As informações e opiniões são de responsabilidade de seus idealizadores!



8

O OLHAR DO EMPREENDEDOR

A jornada do sucesso O sucesso não é uma singela corrida de quinhentos metros nem mesmo uma mera caminhada de trezentos passos ao final de uma tarde ensolarada. O sucesso não é Vapt Vupt. O sucesso é uma jornada, um projeto de vida. O sucesso significa realizar todas as metas pessoais planejadas. O sucesso é o resultado final de todos os esforços acumulados ao longo da existência. O sucesso é a plena realização pessoal. A jornada do sucesso tem no mínimo cinco etapas a serem percorridas sucessivamente. Tudo começa com o primeiro passo. O ponto de partida do sucesso é a capacidade pessoal de desejar e atrair. Atrai-se o sucesso através do pensamento positivo. A mente é o depósito magistral do pensamento positivo. Acreditar no próprio sonho é o passo inicial. Tomar consciência de que o sonho abstrato pode ser uma realidade concreta é fundamental. O invisível pode vir a ser visível. O projeto mental pode chegar a ser realidade material. Todo pensamento projetado pode vir a ser realidade. O sonho torna-se realidade pela fé e ação. Acreditar é atrair o sucesso pela fé. Agir é caminhar na direção da meta estabelecida, o sonho de ouro. A vida ideal pode se tornar a vida real. Atrair o sucesso não é tudo. Outro passo complementar na jornada é aprender a criar o sucesso. Cria-se sucesso estudando os segredos e adotando as estratégias dos mestres. Os mestres de sucesso são aqueles que já percorreram a jornada e, por isso, tornam-se modelos exemplares a serem seguidos na jornada do sucesso. As pessoas criadoras de riqueza são movidas por uma grande paixão, uma força interior capaz de suportar e superar todos os obstáculos. Os mestres criaram riqueza a partir de um sonho, um empreendimento de sucesso pessoal. Os criadores de sucesso estudaram e aprenderam as melhores estratégias para administrar e ampliar o negócio. Eles aprenderam a ganhar, poupar, investir e reinvestir os recursos bem administrados no desenvolvimento contínuo do próprio empreendimento. Os mestres de sucesso criaram um modelo exemplar de negócio e replicaram este mesmo modelo para outras localidades e, assim sucessivamente, até os confins da terra, até o céu. Resumindo, as pessoas de sucesso sabem atrair, criar, administrar, replicar e, finalmente, compartilhar a riqueza e abundância adquirida na jornada da vida com as instituições de caridade e as pessoas mais necessitadas.

Erofilho Lopes Cardoso Empreendedor, Filósofo, Teólogo Mestre em Teologia, Especialista em Educação.



10

LITERATURA

Não se acha a paz evitando a vida “Não se acha a paz evitando a vida”. A famosa frase é de Virginia Woolf. Uma escritora que, engolindo sua fragilidade emocional consequente de abusos sexuais e traumáticos, conseguiu deixar mensagens de coragem, força e esperança para seus leitores. Virginia era complexa. Suas obras mais ainda. Não tive o prazer de conhecer alguém que conseguisse ler Virgínia, sem antes, estudar sua personalidade. A forma como a autora via a vida e encarava seus traumas formavam a base de toda sua criação literária. Por isso, a necessidade de conhecer Virginia minuciosamente. Como a própria autora dizia: “cada um tem o seu passado fechado em si, tal como um livro que se conhece de cor, livro de que os amigos apenas levam o título”. Colocando a autora nos sites de busca, provavelmente, os resultados serão voltados para o suicídio cometido pela autora em 1941. Porém, limitar-se a essa informação como condição de conhecer as obras de Virgínia é como comer o chocolate granulado sem tocar no brigadeiro. As obras de Virginia carregam algo intrigante: apesar de escritas há anos, os temas continuam sendo atuais e marcantes. O grande problema é que, por possuir recursos narrativos complexos com mudanças rápidas de ponto de vista, muitos leitores desistem das obras por considerarem “incoerentes e cansativas”. Temos aqui duas linhas de pensamento: os que consideram Virginia “entediante” e os que a consideram atemporal diante dos temas abordados em suas obras. Um exemplo disso é “Um Teto Todo Seu (1929)” onde a autora revela seus pensamentos e ideias sobre o feminismo, através de questionamentos feitos para o próprio leitor: “Por que os homens bebem vinho e as mulheres água?” “Por que um sexo é tão próspero e o outro, tão pobre?” “Que efeito tem a pobreza sobre a ficção?” “Quais as condições necessárias para a criação de obras de arte?” “Vocês têm noção de quantos livros sobre mulheres são escritos no decorrer de um ano?” “Vocês têm noção de quantos são escritos por homens?” “Têm ciência de que vocês são talvez o animal mais debatido no universo?” (p. 41 e 43). Virginia fugia do estereótipo de submissa e doce (como era o “aceito” pela sociedade da época). Os temas de suas obras eram gritos de liberdade femininos em forma de versos: ““Não há barreira, fechadura ou ferrolho que possas impor à liberdade da minha mente”. Em Orlando de 1972, obra que descreve a história de um nobre rapaz que, um dia, acorda e se vê mulher, fica explícito a inconformidade de Virginia diante da crueldade a que as pessoas são expostas: “não imaginavam que o que chamamos “vida” e “realidade” estivesse relacionado com ignorância e brutalidade.” (p.207). Audaciosa, bipolar e corajosa. Essa seria a definição perfeita de Virginia se não fosse por um detalhe: a escritora não limitava-se. Sua coragem não permitia que as críticas a abalassem ou que mudassem sua forma de pensar. A verdade é que, considerada ou não uma boa escritora, para ela, pouco importava, afinal:” escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial”.

Retirado de: https://www.resilienciamag.com Pamela Camocardi Escritora colaborativa





14

REFLEXÃO

Quando é preciso desistir… Quando joguei no Google a palavra “Desista” para ilustrar um post do meu blogminissaia.com.br, não encontrei o que eu queria. Eu queria uma foto de desistência. Mas tudo o que apareceu no “Imagens” foram fotos pedindo para não desistir. Não desista dos seus sonhos, só desista de desistir e por aí vai. Aí que eu percebi como nos privamos desse recurso maravilhoso que é a desistência. Eu sempre fui muito persistente. Mas o passar dos anos me mostrou que errei sim, muitas vezes. Persisti em relacionamentos fracassados- amorosos ou de amizade. Persisti em tentar mudar as pessoas. Persisti em trabalhos que jamais me dariam nenhum retorno. Persisti em ser uma pessoa que eu não queria ser. Percebi a minha arrogância, a minha teimosia. Percebi que, algumas vezes, eu poderia ter sofrido a metade e ganho o dobro. Mas não fiz. Não porque sempre vi a desistência como algo assim, como o Google me mostrou. Coisa de gente fraca, indecisa. Coisa de gente que não sabe o que quer, que não tem força de vontade. Que não pega o touro à unha. Eu não, eu era diferente. Eu batalhava, eu fazia acontecer. Até quando o “acontecer” não era para realmente acontecer.

Então hoje eu estou abrindo um novo precedente. Sim, eu posso desistir. Sim eu posso recomeçar. Sim eu posso desapegar. Desapegar de velhas condutas, de pensamentos. De sensações, de maneiras de viver. Posso me refazer a hora que eu quiser. Não preciso ser sempre a mesma pessoa, a mesma coisa, com as mesmas manias. Camarão que dorme a onda leva. E dormir aqui é mesmo se manter na ignorância. Se manter achando que está certa, quando aquilo simplesmente já passou. Se você está infeliz com alguma coisa, simplesmente desista. Desista do relacionamento, desista das fantasias. Desista de ser desse ou daquele jeito. Desapegue das pessoas, se elas não vão mudar mesmo. Ou simplesmente aceite isso e fique em paz. Desista de ser perfeito, de manter a casa em ordem. Desista de perder aqueles dois quilos. Desista das dietas da moda, desista das amizades falsas. Desista de ser você. Só um pouquinho. Depois me diga o que está sentindo. Acredito que muito, muito mais leve.

Retirado de: https://www.resilienciamag.com Andrea Pavlovitsch Terapeuta porque adora ajudar as pessoas a se entenderem. Escritora pelo mesmo motivo.



16

RELACIONAMENTO

Mantenha distância de quem não torce por você

Já se disse que manter por perto as pessoas que nos tornam melhores será uma das atitudes mais acertadas que poderemos tomar nesta vida. Isso porque essa é uma forma certa de nos cercarmos de boas energias, de sentimentos verdadeiros, de sorrisos sinceros. Quem torce verdadeiramente por nós raramente irá nos decepcionar. Por outro lado, se prestarmos atenção, sempre existirá alguém que parece torcer contra os nossos sonhos, como se desejasse que nunca saíssemos do lugar. Trata-se daquela pessoa que joga baldes diários de água fria sobre nossas cabeças, sempre que sonhamos alto ou conquistamos algo. Em vez de parabenizar, já listam tudo o que pode vir a dar errado dali em diante. Infelizmente, existe muita maldade por aí, dentro de pessoas que jamais imaginávamos poder agir de uma forma cruel. Sim, há pessoas cruéis disfarçadas de bondade e companheirismo, mas que se mostram o oposto do que eram, a partir do momento em que avançamos na vida, ou mesmo traçamos sonhos maiores para nós. Não conseguem animar, motivar, muito pelo contrário. Talvez sejam pessoas infelizes demais e desejam jogar para fora de si aquele sentimento ruim, pois não conseguem respirar direito, não se aguentam. Não aceitam, com isso, que o outro consiga sorrir, sonhar, avançar e conquistar, uma vez que elas próprias não conseguem sair do lugar, de tanto que prestam atenção na vida alheia, deixando suas vidas passarem em branco. Pensar somente em si mesmo nunca será saudável para ninguém, porém, o excesso oposto também não. Quem se esquece de si mesmo, focando somente as vidas ao lado, fatalmente acabará se achando pior do que todo mundo. E, como esse tipo de gente nunca aprendeu a correr atrás dos seus desejos, somente poderá tentar atrapalhar o sucesso do outro, muitas vezes de maneira desumana, plantando fofoca e maldade. Sendo assim, o tipo de pessoa com quem convivermos de perto determinará o tanto de momentos felizes que pontuarão nossa jornada. Sempre será providencial nos afastarmos de gente invejosa, pois é assim que sobrará espaço para aconchegarmos aqueles que torcem pela nossa felicidade com verdade e amor. É isso que nos move, afinal.

Retirado de: © obvious: http://obviousmag.org Marcel Camargo Escritor colaborativo



CA


APA


CA


APA


CA


APA


24

POLÍTICA

Os intermediários Ao ser diplomado presidente eleito, Bolsonaro fez um discurso de união, alegando que governará para todos os brasileiros, sem distinção de origem social, raça, sexo, cor, idade ou religião. Foi uma sinalização boa, apesar da indelicadeza da ministra Rosa Weber, que achou prudente dar “aula” sobre direitos humanos e democracia àquele que teve quase 60 milhões de votos nas urnas. Mas, em outra fala, Bolsonaro deixou transparecer um viés populista: “As eleições revelaram uma realidade distinta das práticas do passado. O poder popular não precisa mais de intermediação. As novas tecnologias permitiram relação direta entre eleitor e seus representantes”. O futuro presidente tem um ponto: se dependesse só do establishment e da mídia tradicional, alguém como ele jamais teria vencido. Venceu, e justamente graças a um discurso contra a política tradicional, turbinado pelas redes sociais. A insatisfação popular com as instituições democráticas tem sido combustível para mudanças radicais mundo afora, como os fenômenos Trump e Brexit atestam. Não fosse um distanciamento cada vez maior entre governantes e governados, e um instrumento capaz de mobilizar os revoltados, isso não seria possível. Há, portanto, um lado positivo inegável no que Bolsonaro descreve. Mas há um lado negativo também, que não pode ser ignorado. Quase todo aquele que se colocou como representante direto do povo contra as elites poderosas descambou, historicamente, para um populismo autoritário, ou viu como resultado desse clima de revolta o surgimento de revoluções sangrentas. James Madison, nos escritos federalistas, reconhecia a importância da república para impedir brigas de facções. É um modelo imperfeito, sem dúvida. Mas isso não significa que alternativas sejam melhores. Se cada um falar direto com o Messias, poderemos terminar com uma tremenda cacofonia. Os intermediários servem para filtrar parte desse barulho e organizar a bagunça, definindo prioridades e, supostamente, agregando conhecimento específico aos temas debatidos. Ou alguém acha mesmo saudável um governo por meio de plebiscitos constantes sobre tudo que é pauta em discussão? Vamos decidir medidas econômicas complexas por meio de enquetes no Twitter? Essa é a própria definição de populismo. A democracia representativa, por sua vez, exige concessões e negociações entre os eleitos, o que pode até reduzir o dinamismo do processo, mas costuma ser mais pacífica e segura do que a “democracia direta” de um “déspota esclarecido”. Às redes sociais cabe a missão descrita por Paulo Guedes: dar uma “prensa” nos representantes eleitos. Ou seja: cobrar deles, mas não os substituir. Os intermediários, numa democracia, continuam sendo vitais.

Fonte: www.istoe.com.br Rodrigo Constantino Economista, escritor e um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.





28

SOCIEDADE

Não nasci para ser mãe, pastora Damares Quando será mesmo que muita gente no Brasil vai sair dos séculos 18, 19? Tomara que aproveitem a virada de 2018 para 2019 para entrarem logo no século 21. Não dá mais para aguentar pessoas como a pastora e advogada Damares Alves, provável ministra de Direitos Humanos, Família e Mulheres no governo do presidente eleito Jair Bolsonaro, insistindo na história de que lugar de mulher é em casa, cuidando de filho e marido. Não dá mais para tolerar a defesa da ideia de que o principal papel feminino é o de ser mãe e que o modelo “cristão” de vida implica que sejam elas as responsáveis pelo desenvolvimento afetivo, intelectual e social de seus filhos. Não dá mais para suportar o pensamento de que, nesse tal modelo, o marido sustenta e enche a esposa de jóias e presentes, como disse a pastora em entrevista meses atrás. “Esse seria o padrão ideal de sociedade. Mas temos que ir para o mercado de trabalho.” Não, pastora Damares. As mulheres não “têm” que ir para o mercado de trabalho quando, na verdade, desejariam estar em casa desfrutando dos proventos dos maridos. Isso pode ser verdade para uma pequena parcela da população feminina, mas por favor não generalize as coisas. Generalizar é o primeiro passo para erros grotescos. Generalizar quando se fala de um universo composto por mais de 105 milhões de mulheres, então, é um equívoco terrível. Está tudo certo se para essas mulheres a felicidade estiver em ficar em casa cuidando da família enquanto o marido leva o sustento. Mas está errado defender que esse seja o “padrão ideal” de sociedade, em pleno 2018, quando grande parte das mulheres já se livrou de pelo menos algumas das armadilhas que lhes foram impostas ao longo dos séculos. Entre elas a de que nasceram com a única finalidade de serem mães e esposas. Hoje, elas podem se dedicar ao casamento e à maternidade se assim quiserem, não porque devem fazer isso. Na verdade, o padrão ideal de sociedade é aquele no qual a mulher pode ser o que bem entender, sem precisar responder ou se adequar a figurinos ultrapassados. Não quer casar? Ok. Não quer ter filhos? Ok também. Deseja ter filhos sem se casar, quer dedicar a vida à carreira profissional, namorar outra mulher, descobrir que não se identifica com seu gênero e trocá-lo? Ok para todas as situações. A liberdade de ser o que quiser é a grande conquista das mulheres dos dois últimos séculos, obtida a custo de muita luta contra os preconceitos morais e religiosos que cercearam as escolhas femininas até hoje. A vitória ainda não é total e a briga será longa. Mas já foi aberto o caminho para uma sociedade que respeita a vontade individual, de homens e mulheres, e que prevê responsabilidades compartilhadas entre pais e mães em relação ao desenvolvimento saudável dos filhos. Lugar de mulher, pastora Damares, é onde ela quiser estar. A sociedade ideal, Damares, é a que oferece as condições para que isso seja possível.

Fonte: www.istoe.com.br Cilene Pereira Cilene Pereira é editora da Revista ISTOÉ e tem 30 anos de jornalismo. Antes de integrar a equipe da revista, trabalhou no Jornal do Brasil, no Jornal O Estado de S.Paulo e no Jornal O Globo.





32

COMPORTAMENTO

Quem se ama, se cuida Quem se ama, se basta. E se bastar já é o suficiente pra não aceitar metades ou qualquer outra coisa que chegue pra machucar.

Quem se ama, é capaz de amar incondicionalmente alguém, é capaz de se entregar por inteiro ao outro, mas jamais mendigar presença, conviver com ausência e receber metades. Quem se ama, entende que é preciso estar inteiro pra amar alguém, é preciso mergulhar por inteiro, se doar por inteiro, e jamais se acostumar ao desprezo, nem aceitar metades. Quem se ama, entende que desapegar vai ser preciso em algum momento, principalmente quando não existir mais sentido em ficar. Quem se ama, vai bater na porta do outro pra fazer uma surpresa sem hora nem data marcada, vai ligar quando achar que alguém é realmente importante, vai se preocupar quando for preciso, mas jamais vai procurar alguém que só se distancia, jamais vai correr atrás de alguém que corre em direção contrária. Quem se ama, dá a cara pra bater, mas não se mantém em pessoas que só decepcionam. Quem se ama, sabe que o amor tem que ser reciproco, e se não for, seguir será o melhor caminho. Quem se ama, vai abrir mão do que machuca, vai deixar que siga o que não mais protege. Quem se ama, perdoa, porque entende que ninguém é perfeito. Mas não tolera repetições. Quem se ama, entende que é melhor escolher esquecer alguém que não vale mais a pena, que esquecer de si mesmo. Quem se ama não entra em joguinhos, e não aceita o orgulho como forma de amor próprio. Quem se ama, se cuida. E quem cuida de si mesmo com tamanha dedicação é capaz de cuidar do outro com toda força que carrega, com todo esforço que o amor exige. Quem se ama, tolera atrasos, mas não aceita descaso. Tolera cansaço, mas não aceita desprezo. Tolera erros, mas não aceita mentiras. Quem se ama, é capaz de escolher outros caminhos e segui-los sozinho se for preciso. É capaz de sorrir sozinho e amar sem medida a si mesmo. É capaz de aceitar um fim, mesmo que isso doa, porque quem se ama, não fica em lugares que não é mais aceito, não permanece onde não é respeitado, muito menos, não caminha ao lado de alguém que só consegue dar tão pouco do que se pode receber em uma relação. Quem se ama, se basta. E se bastar já é o suficiente pra não aceitar metades ou qualquer outra coisa que chegue pra machucar.

Retirado de: © obvious: http://obviousmag.org Iandê Albuquerque Escritor colaborativo





36

CRÔNICA

Maria & Ronan: o nascimento de um filho Numa manhã chuvosa, em uma pequena casa de taipa, entre o barulho da chuva e o riacho que passava junto da casa, podia se ouvir os gritos da negra Maria, lá, nascia o seu primeiro filho. E vai se chamar José. Maria ainda lânguida olhava atentamente aquele pequeno ser. Nos olhos embaçados pelas lágrimas via-se alívio. A mãe que a assistiu como parteira percebeu que o alívio naquele olhar não era só por ter se livrado do esforço de parir [...]. Maria balbuciou “graças a Deus escurinho feito a noite”. A parteira olhou com o ar de repreensão e falou: “Pelo olhar dele não tem cara de José e sim de Benedito.” Maria com o olhar perdido, vagou o pensamento para certa noite no canavial pensando no seu amado. Queria ao menos sentir a sua voz animada chegando do trabalho ou do lazer, queria sentir as tuas mãos as minhas afagar, queria sentir a sua respiração junto a minha dizendo palavras de amor. Eu queria, já não tenho mais, só restam às lembranças dos bons momentos vividos, do caminho percorrido, das alianças trocadas, do vestido de noiva rasgado, do padre dizendo “amém”, dos infinitos beijos quase sempre roubados, dos sonhos que juntos sonhamos e se formou realidade, nasceu José.... O seu grande amor, era o filho da casa grande que apesar de amar plenamente Maria, jamais poderia com ela casar, ofereceu Maria para seu escravo pedindo que dela cuidasse como rainha. Ele foi embora para em terras distante estudar e um novo amor encontrar para aos pais apresentar... Mas seu coração chorava por ter Maria abandonado. Um novo amor encontrar para aos pais apresentar... Apesar de Maria ser a moça mais linda daquela região, seus pais jamais aceitariam que ela casasse com o Ronan, um belo moço de olhos azuis da cor do céu, de estirpe nobre e cobiçado pelas jovens solteiras da sociedade da época. Ronan descobriu através da amiga de Maria que o bebê era seu filho, ele chorou de tanta emoção, e mesmo Maria sabendo que ele estava noivo nunca perdeu a esperança de reencontrá-lo e contar toda a verdade. Certa manhã para sua surpresa, ele retorna, sai a procura de Maria e quando a encontra, num abraço apertado e cheio de saudades, diz que nenhuma distância e nem ninguém jamais os separariam novamente. Ambos foram felizes e mostraram ao mundo que pro amor não existe barreiras. Anos se passaram... A escravatura acabou e com a liberdade Ronan, cuja esposa morreu de tuberculose, agora que reencontrou a escrava casou-se, embora contra a vontade da sociedade, e dessa união nasceram duas lindas princesas que foram para o exterior e tiveram seu lugar naquela sociedade que apesar de as repudiarem nada podiam fazer contra a vontade do homem mais rico da região a não ser aceitar a chegada de novos tempos.

Padre Joacir D’Abadia Pároco de Alto Paraíso, filósofo, escritor, articulista, membro da ALANEG.




ARTECOR



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.